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Natasha Midori Suguihiro
Processos de Precipitação na Liga Supersaturada
Cu-10at.%Co e sua Influência nas Propriedades
Magnéticas e de Magneto-Transporte
Tese de Doutorado
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Materiais e de Processos Químicos e Metalúrgicos do Departamento de Engenharia de Materiais da PUC-Rio.
Orientador: Prof. Ivan Guillermo Solórzano-Naranjo
Rio de Janeiro Julho de 2013
Natasha Midori Suguihiro
Processos de Precipitação na Liga Supersaturada
Cu-10at.%Co e sua Influência nas Propriedades
Magnéticas e de Magneto-Transporte
Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia de Materiais e de Processos Químicos e Metalúrgicos do Departamento de Engenharia de Materiais da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.
Prof. Ivan Guillermo Solórzano-Naranjo Orientador
Departamento de Engenharia de Materiais - PUC-Rio
Prof. Roberto Ribeiro de Avillez Departamento de Engenharia de Materiais - PUC-Rio
Profª. Elisa Maria Baggio Saitovitch Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF
Prof. André Luiz Pinto Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF
Prof. Yutao Xing Departamento de Física – UFF
Prof. José Eugênio Leal
Coordenador Setorial de Pós-Graduação do Centro Técnico Científico da PUC-Rio
Rio de Janeiro, 12 de julho de 2013
Todos os direitos reservados. É proibida a
reprodução total ou parcial do trabalho sem
autorização da universidade, do autor e do
orientador.
Natasha Midori Suguihiro
Bacharel (2002) e Mestre (2004) em Física pela
Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Ficha Catalográfica
CDD: 620.11
Suguihiro, Natasha Midori Processos de precipitação na liga supersaturada Cu-10at.%Co e sua influência nas propriedades magnéticas e de magneto-transporte / Natasha Midori Suguihiro ; orientador: Ivan Guillermo Solórzano-Naranjo. – 2013. 124 f. ; 30 cm Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia de Materiais, 2013. Inclui bibliografia 1. Engenharia de materiais – Teses. 2. Cu-Co. 3. Processos de precipitação. 4. Precipitação descontínua. 5. Coalescimento descontínuo. 6. GMR. 7. Microscopia eletrônica de transmissão. I. Solórzano-Naranjo, Ivan Guillermo. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia de Materiais. III. Título.
Agradecimentos
Agradeço ao meu orientador, Guillermo Solórzano, pela sugestão do tema e apoio
incondicional durante a execução desta pesquisa.
Ao Prof. Wolfgang Jaeger, da Christian-Albrecht-Universität zu Kiel (Kiel,
Alemanha) pelo apoio e pelas valiosas discussões.
Às agências financiadoras CAPES, CNPq e FAPERJ, assim como à PUC-Rio
pelos auxílios concedidos sem os quais este trabalho não poderia ter sido
realizado.
À Prof. Elisa Saitovitch e aos pesquisadores do Grupo Férmions Pesados,
Supercondutores e Sistemas Nanoestruturados do Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas (CBPF), em especial ao Justiniano Q. Marcatoma pelo apoio na realização
das medidas magnéticas.
Ao Prof. Yutao Xing da Universidade Federal Fluminense (UFF) pelo apoio
durante o desenvolvimento da pesquisa e nas medidas e análises magnéticas.
Ao Prof. André L. Pinto e ao Laboratório Multiusúário de Nanociências e
Nanotecnologia (LabNano/CBPF), pelo treinamento e acesso irrestrito ao
Microscópio Eletrônico de Varredura JEOL JSM-6490LV, Microscópio
Eletrônico de Transmissão JEOL JEM-2100F, além de toda a infraestrutura de
preparação de amostras. Um agradecimento especial às pesquisadoras Lis Melo e
Cilene Labre.
Ao Laboratório de Cristalografia e Difração de Raios X do CBPF pelo acesso ao
sistema gerador/difratômetro de raios X X’Pert PRO (Phillips/Panalytical).
Ao Prof. João Paulo Sinnecker e ao CBPF pelo acesso e apoio para a realização
dos tratamentos térmicos a vácuo.
Ao laboratório de Metais Amorfos e Nanocristalinos da Universidade Federal de
São Carlos e ao Prof. Walter José Botta Filho por gentilmente permitir a utilização
do melt-spinner para solidificação da liga.
Ao Prof. Norbert F. Miekeley (in memoriam) por gentilmente realizar a
análise composicional da liga após a produção.
Ao Prof. David J. Smith, da Arizona State University, pela assistência nas análises
de Microscopia Eletrônica de Alta Resolução.
Ao Centro de Microscopia da UFMG e em especial à Prof. Karla Balzuweit e ao
MSc. Wesller Schmidt pela preparação das amostras para TEM no Microscópio
de Feixe Duplo (FIB).
Aos colegas do Laboratório de Materiais Nanoestruturados/PUC-Rio, em especial
à Liying Liu pela amizade e apoio.
Aos Professores, funcionários e colegas da PUC pelos ensinamentos e suporte
para a realização das discussões teóricas e dos experimentos.
Um agradecimento especial aos meus familiares que me deram tanto o suporte
emocional quanto intelectual, sem os quais não seria possível a realização desse
trabalho.
Resumo
Suguihiro, Natasha Midori; Solórzano-Naranjo, Ivan Guillermo
(Orientador). Processos de Precipitação na Liga Supersaturada Cu-
10at.%Co e sua Influência nas Propriedades Magnéticas e de
Magneto-Transporte. Rio de Janeiro, 2013. 124p. Tese de Doutorado -
Departamento de Engenharia de Materiais, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.
Nesta pesquisa foram avaliados os diferentes modos de precipitação
ocorrendo na liga Cu-10at.%Co, com atenção especial para as reações
descontínuas. A liga homogênea supersaturada foi solidificada por melt-spinning.
As amostras foram submetidas a envelhecimento isotérmico a temperaturas entre
450 e 650°C, durante vários períodos de tempo, de modo a produzir diferentes
frações volumétricas de precipitados. Uma caracterização detalhada da
microestrutura foi realizada por TEM / STEM / HREM. Espectrometria de raios X
por dispersão em energia (EDXS) foi utilizada para avaliar a distribuição e
tamanho dos precipitados. Os resultados demonstram que o modo descontínuo de
precipitação é predominante. Todos os contornos de grão exibiram um
crescimento cooperativo de bastonetes de Co, com diâmetro e espaçamento de
alguns nanômetros. Durante o envelhecimento, as colônias de precipitação
descontínua (PD) coalescem, sendo substituídas por bastonetes grosseiros em um
processo conhecido como coalescimento descontínuo (CD). Devido à morfologia
dos grãos colunares, os bastonetes de Co crescem alinhados no plano da fita. Foi
verificado que este alinhamento, associado a um ótimo desenvolvimento da PD,
induz anisotropia magnética no plano, relacionada com o comportamento
magnético incomum descrito na literatura, assim como à máxima GMR. Do
mesmo modo, sua redução está associada ao coalescimento dos produtos de DP.
Palavras-chave
Cu-Co; processos de precipitação; precipitação descontínua; coalescimento
descontínuo; GMR; microscopia eletrônica de transmissão.
Abstract
Suguihiro, Natasha Midori; Solórzano-Naranjo, Ivan Guillermo (Advisor).
Precipitation Processes in Supersaturated Cu-10at.%Co Alloy and its
Influence in the Magnetic and Magnetotransport Properties. Rio de
Janeiro, 2013. 124p. Doctoral Thesis – Departamento de Engenharia de
Materiais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
In this research we evaluated the occurrence of the different types of
precipitation in Cu-10at.%Co, but mainly the discontinuous reactions. The
supersaturated homogeneous alloy was solidified by melt-spinning technique.
Samples were submitted to isothermal annealing, at temperatures ranging from
450 to 650°C for several periods of time, aiming at producing different volume
fractions of the Co-rich precipitates. Detailed microstructure characterization was
performed by conventional, scanning and high resolution transmission electron
microscopy (TEM/STEM/HRTEM). Energy dispersive X-ray spectrometry
(EDXS) was used to evaluate the precipitates sizes and distribution. Results
demonstrate that in melt-spun Cu-Co alloys the discontinuous mode of
precipitation is predominant. All grain boundaries exhibited the cooperative
growth of Co rod-like precipitates with diameter and interspacing of few
nanometers. Under aging, DP colonies exhibit a coarsening effect being replaced
by wider inter-spaced Co-rich aggregates in a process referred as discontinuous
coarsening (DC). Due to the columnar morphology of the grains, the Co rods
grown aligned in the ribbon length. We have verified that this alignment, together
with an optimum DP development, generates an axis of easy magnetization which
is related to the unusual magnetic behavior described in literature as well as to
highest GMR. In addition, its vanishing is accompanied by the coarsening of the
DP products.
Keywords
Cu-Co; precipitation processes; discontinuous precipitation; discontinuous
coarsening; GMR; transmission electron microscopy.
Sumário
1. Introdução 20
2. Considerações Teóricas e Revisão da Literatura 23
2.1. O Sistema Cu-Co 23
2.2. Transformações de Precipitação no Sistema Cu-Co 24
2.2.1. Precipitação Homogênea e Heterogênea em Contornos de
Grão Estáticos – Ocorrência no Sistema Cu-Co 25
2.2.2. Precipitação Heterogênea em Contornos de Grão em
Movimento: A Precipitação Descontínua 30
2.3. Propriedades Magnéticas e de Magneto-Transporte no
Sistema Cu-Co 40
2.3.1. Propriedades Magnéticas 40
2.3.2. A Magnetoresistência Gigante 42
3. Motivação 48
4. Procedimento Experimental 49
4.1. Produção Da Liga Por Solidificação Ultrarrápida Via Melt-
Spinning 49
4.2. Tratamentos Térmicos de Envelhecimento 50
4.3. Técnicas de Caracterização Microestrutural 51
4.3.1. Difração de Raios X 51
4.3.2. Microscopia Eletrônica de Varredura 52
4.3.3. Microscopia Eletrônica de Transmissão 53
4.3.3.1. Preparação das Amostras 56
4.4. Caracterização Magnética e de Magneto-Transporte 58
5. Resultados e Discussão 60
5.1. Evolução da Microestrutura 60
5.1.1. Caracterização da liga Cu-10at.%Co como solidificada 60
5.1.2. Caracterização microestrutural após envelhecimentos
isotérmicos 65
5.1.2.1. Envelhecimentos a 450°C 65
5.1.2.2. Envelhecimentos a 500°C 72
5.1.2.3. Envelhecimentos a 550°C 74
5.1.2.4. Envelhecimentos a 600°C 81
5.1.2.5. Envelhecimentos a 650°C 83
5.2. Diagrama Isotérmico de início das reações descontínuas em
ligas Cu-10at.%Co 90
5.3. Mecanismos para início e desenvolvimento das reações
descontínuas 92
5.4. Mecanismo para precipitação homogênea e competição com
as reações descontínuas 96
5.5. Caracterização das propriedades magnéticas e de magneto-
transporte 98
5.5.1. Medidas de Magnetização 98
5.5.2. Magneto-Transporte (GMR) 110
6. Conclusões 118
7. Proposta para Trabalhos Futuros 120
8. Referências Bibliográficas 121
Lista de Figuras
Figura 1 – Diagrama de fases Cu-Co [7]. 23
Figura 2 – Simulação computacional da microestrutura de uma liga
binária no início da separação de fases via decomposição espinodal
[11]. 25
Figura 3 – (a) Contraste de Ashby e Brown em precipitados
homogêneos de Co [23]. A seta vermelha indica a linha de não
contraste. (b) Representação da distorção na rede cristalina da matriz
na presença do precipitado homogêneo coerente, responsável pela
formação da linha de não contraste [24]. 29
Figura 4 – (a) Precipitados octaédricos e (b) Precipitados coerentes
alinhados na direção [100] da matriz [25]. 30
Figura 5 – Esquemas representativos da (a) PD, (b) CD e (c) DD [28]. 31
Figura 6 – Início da PD em ligas Pb-Sn, segundo Tu e Turnbull. Em 1
e 2 precipitados heterogêneos forma-se na forma de placa. Em 3 o
contorno migra na direção da interface de maior energia, deixando
para trás o arranjo de precipitados ordenados (em 4). 37
Figura 7 - Modelo de Fournelle e Clark para formação da PD. Em 1, o
contorno de grão livre de precipitação inicia o movimento na matriz
supersaturada (). Em 2, após percorrer uma dada distância, formam-
se precipitados heterogêneos, que em 3 e 4 vem a formar
lamelas/bastonetes de precipitação descontínua (). Em 5 está
ilustrado a formação de novos bastonetes [44]. 38
Figura 8– Modelo de início da PD devido a DIGM em ligas Al-Zn. Em
1, o contorno movimenta-se sob ação da força química. Em 2 formam-
se os primeiros precipitados. Em 3 e 4, formação e crescimento da
PD, precipitados regularmente ordenados [45]. 39
Figura 9 – Diagrama de fases magnéticas para ligas Cu-Co [46]. 40
Figura 10– Representação de um sistema multicamada composto de
material ferromagnético (azul) e não magnético (amarelo). Em (a) com
magnetização antiparalela o espalhamento ocorre com a mesma
probabilidade para os dois canais da corrente e (b) com a aplicação
de um campo magnético a magnetização das camadas
ferromagnéticas é paralela entre si e o espalhamento ocorre em maior
proporção para um dos canais da corrente, diminuindo a resistividade
total do sistema [50]. 43
Figura 11 – Esquema da GMR em ligas heterogêneas (GMR
granular). 44
Figura 12 – Melt-spinner utilizado para a produção das fitas de Cu-
10at.%Co juntamente com o esquema do processo de produção. 50
Figura 13– Difratograma de uma amostra de Cu em pó, sem textura
cristalográfica. 52
Figura 14 – Padrão de difração de uma amostra Cu-10at.%Co com
sua respectiva indexação, realizada no JEMS. Além da precisão no
ajuste são apresentadas informações como o eixo de zona (ZA, do
inglês zone axis) na direção 013, a zona de Laue (zero) e o ângulo
entre os spots (46,5°). 55
Figura 15 – Sequência de etapas da preparação de amostras para
TEM no microscópio de feixe duplo. A seta na figura (e) aponta para a
amostra já fixa na grade. Ver a explicação no texto. 57
Figura 16 – Configurações para as medidas de magnetização (a)
campo aplicado na direção do comprimento da fita, (b) campo
perpendicular ao plano da fita. (c) configuração para medidas de
transporte elétrico sob aplicação de um campo magnético. 59
Figura 17 – Imagem de SEM da liga como solidificada (a) do plano da
fita e (b) da seção transversal, onde a superfície de solidificação em
contato com a roda é a inferior. 61
Figura 18–Imagem de STEM/campo claro de uma amostra como
solidificada. MET JEOL JEM-2100 (200kV). 62
Figura 19 – Imagem de HRSTEM da região central de um grão de
uma amostra como solidificada no eixo de zona [100]. 62
Figura 20 – Difratograma de raios X de uma amostra como
solidificada utilizando refinamento Rietveld (a) considerando
orientação aleatória e (b) considerando textura segundo o modelo de
harmônicos esféricos de quarta ordem. A linha preta é o resultado
experimental, a linha vermelha o ajuste e a linha cinza a diferença
entre o experimental e o ajuste. 64
Figura 21– (a) Imagem de HRTEM de uma amostra envelhecida a
450°C por 10min. (b) Imagem processada da região marcada em (a).
(c) Perfil de intensidade da região marcada em azul em (b).
Microscópio JEOL JEM-4000EX (400kV). 66
Figura 22 – Imagem em contraste de fase da atividade em um
contorno de grão de baixo ângulo após envelhecimento a 450°C por
10min. Microscópio JEOL JEM-4000EX (400kV). Para explicação da
área demarcada e a seta, veja o texto. 67
Figura 23 – Imagem de STEM/campo claro de após envelhecimento a
450°C por 10min. Baixo aumento mostrando o início da DP em vários
grãos. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 68
Figura 24 – Imagens de STEM/campo claro de após envelhecimento a
450°C por 10min. (a) Movimentação de todos os contornos de um
grão. (b) colônia de PD marcada em (a). A velocidade média de
crescimento da PD foi de aproximadamente 13nm/min, calculada
como a razão entre o deslocamento do contorno e o tempo de
envelhecimento. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 68
Figura 25 – (a) Imagem de STEM/campo claro e (b) mapa do Co por
EDXS. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 69
Figura 26 – Imagem de STEM/campo claro PD em amostras
envelhecidas por 60min a 450°C. Microscópio JEOL JEM-2100F. 70
Figura 27 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de
uma amostra envelhecida a 450°C por 60min. Note que devido ao
formato colunar dos grãos, os contornos se movimentam induzindo
um crescimento dos bastonetes de Co fortemente orientados no plano
da fita, como representado no esquema inserido na imagem. 70
Figura 28 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de
uma amostra envelhecida a 450°C por 60min. As setas vermelhas na
imagem apontam regiões de abaulamento dos contornos de grão. O
esquema indica a direção de movimentação dos contornos de grão
acompanhado do desenvolvimento de PD. Microscópio JEOL JEM-
2100F (200kV). 71
Figura 29 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de
uma amostra envelhecida a 450°C por 60min, onde ocorre o encontro
(choque) de duas colônias de PD. MET JEOL JEM-2100F. À direita
está ilustrado o processo de esferoidização, segundo Perovic e Purdy
[30]. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 71
Figura 30 – Imagem de STEM/campo claro de uma amostra
envelhecida a 500°C por 60min. Note a espessura dos bastonetes de
Co desenvolvidos na movimentação dos contornos de grão (CD). A
seta vermelha indica a linha de varredura na análise de EDXS,
apresentada na Figura 31. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 72
Figura 31 – EDXS -Varredura em linha da seta marcada na Figura 30
(região de CD). A linha verde representa a intensidade do Cu
enquanto a vermelha a do Co. Note que o diâmetro dos bastonetes é
de dezenas de nanômetros. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 73
Figura 32 – Imagem de TEM em Contraste de fase na região central
de um grão após 5min de envelhecimento a 550°C. Microscópio FEI
Tecnai G2 F30 (300kV). 74
Figura 33 – Imagem de STEM/campo claro de amostra envelhecida a
550°C por 5min evidenciando a PD em todos os contornos de grão.
Os pontos escuros são precipitados superficiais, provenientes do
dano do feixe de íon na amostra durante o afinamento. Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV). 75
Figura 34 – Imagem de STEM/campo claro de colônias de PD em
amostra envelhecida a 550°C por 5min. Microscópio JEOL JEM-
2100F (200kV). 75
Figura 35 – (a) Imagem de STEM/campo claro de colônia de PD após
5min a 550°C e (b) mapeamento do Co por EDXS. A seta marca a
linha de varredura por EDXS apresentada na Figura 36. Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV). 76
Figura 36 – Perfil de intensidade da linha de varredura por EDXS em
uma colônia de PD marcada na Figura 35a. Note que o diâmetro dos
bastonetes é de aproximadamente 5nm. Microscópio JEOL JEM-
2100F (200kV). 76
Figura 37 – Imagem de TEM/campo claro de PD e CD após
envelhecimento a 550°C por 30min. As setas indicam a
movimentação dos contornos de grão. Microscópio FEI Tecnai F30
(300kV). 77
Figura 38 – Imagem de TEM/campo claro de PD e CD após
envelhecimento a 550°C por 30min. As setas indicam a
movimentação dos contornos de grão. Microscópio FEI Tecnai F30
(300kV). 78
Figura 39 – Par campo claro/escuro (spot 200) de uma amostra
envelhecida a 550°C por 30min, evidenciando a DP em um contorno
de grão e a precipitação homogênea. Difração no eixo de zona [013] e
g na direção [200]. Microscópio FEI Tecnai F20 (200kV). 78
Figura 40 – Par de imagens de TEM em campo claro/escuro (spot
200) de uma amostra envelhecida a 550°C por 30min, evidenciando a
precipitação homogênea além das várias colônias de CD nos
contornos de grão. Difração no eixo de zona [013] e g na direção
[200]. O padrão de difração está inserido na imagem. Microscópio FEI
Tecnai F20 (200kV). 79
Figura 41 – Imagem de TEM/campo claro. (a) Visão global de uma
amostra envelhecida a 550°C por 60min e (b) CD apresentando
bastonetes irregulares, como mostrado pela seta preta. Microscópio
FEI Tecnai G2 F30 (300 kV). 80
Figura 42 – Imagem de STEM/campo claro de uma amostra
envelhecida a 600°C por 5min. Microscópio JEOL JEM-2100F
(200kV). 81
Figura 43 – Imagem de STEM/campo claro de amostra envelhecida a
600°C por 60min. O mapeamento do Co da região delimitada está
inserido. Em vermelho estão as zonas ricas em Co. As setas indicam
a direção da migração do contorno de grão, acompanhada de PD. A
precipitação homogênea no interior do grão está indicada por suas
iniciais (PH). Os grandes precipitados heterogêneos estão
claramente definidos, como por exemplo o indicado pela seta (PHet).
Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 82
Figura 44 – STEM/campo claro após 60min a 600°C, onde estão
marcadas as regiões analisadas: precipitados homogêneos coerentes,
região livre de precipitação (PFZ, do inglês precipitate free zone) nas
vizinhas do contorno de grão, e precipitado heterogêneo. Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV). 83
Figura 45 – Análise qualitativa composicional de uma amostra
envelhecida a 650°C por 5min. (a) TEM/campo escuro. (b)
Mapeamento do Co e (c) do Cu. Microscópio FEI Titan 80-200 /
ChemiSTEM (200kV). 84
Figura 46 – Análise por EDXS de uma amostra envelhecida a 650°C
por 5min. (a) Campo escuro anular em alto ângulo (HAADF). (b)
Mapeamento do Cu e (c) do Co. Microscópio FEI Titan 80-200 /
ChemiSTEM (200kV). 84
Figura 47 – (a) Imagem de TEM/campo escuro de um grão no eixo de
zona [011], utilizando o spot 11-1, indicado no padrão de difração. (b)
e (c) são mapeamentos do Co por EDXS, em duas diferentes
inclinações: -22° e +24,6°, respectivamente, comprovando que os
precipitados tem simetria cilíndrica. Microscópio FEI Titan 80-200 /
ChemiSTEM (200kV). 85
Figura 48 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de
uma amostra envelhecida a 650°C por 5min. Note que o CD se
desenvolve perpendicular aos contornos de grão, assim como descrito
para a PD. 86
Figura 49 – STEM/campo claro de uma colônia de CD, após 5min a
650°C. Note que os bastonetes originais podem ser identificados pela
malha de discordâncias interfaciais. Eventualmente podem se formar
precipitados completamente incoerentes. Microscópio JEOL JEM-
2100F. 87
Figura 50 – Imagem STEM/campo claro e seu respectivo
mapeamento do Co, por EDXS. Microscópio JEOL JEM-2100F. 87
Figura 51 – Decomposição espinodal após 5min de envelhecimento a
650°C. (a) TEM/campo escuro de um grão orientado na direção [100].
Na sequência, o mapeamento de Cu e de Co da região central do
grão, marcada em (a). (b) Cu e Co sobrepostos, (c) Co e (d) Cu.
Microscópio FEI Titan 80-200 / ChemiSTEM (200kV). 88
Figura 52 – Visão global em campo claro após envelhecimento a
650°C por 60min. (b) e (c) são o mapeamento do Co por EDXS das
regiões marcadas em (a). Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 89
Figura 53 – Diagrama representando o início das RD de acordo com a
caracterização por TEM. No diagrama estão indicadas algumas
microestruturas desenvolvidas durante o envelhecimento, enquanto
abaixo estão representadas as microestruturas após 60min de
envelhecimento para as temperaturas estudadas. 90
Figura 54 – Liga envelhecida a 550°C por 30min. (a) Forma dos
contornos de grão na transição da PD para CD, (b) Imagem de
STEM/campo claro e (c) mapeamento do Co por EDXS. Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV). 94
Figura 55 – Formação de um precipitado grosseiro oriundo de CD em
amostra envelhecida a 550°C por 30min. (a) Imagem STEM/campo
claro e (b) mapeamento do Co por EDXS da região marcada em (a).
Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV). 94
Figura 56 – Modelo para ocorrência das reações descontínuas nas
ligas Cu-10at.%Co. 95
Figura 57 – Decomposição espinodal (a) HRTEM após 10min a 450°C
e (b) HRSTEM após 5min a 650°C. 97
Figura 58 – Magnetização em função do campo externo (a 300K) para
uma amostra como solidificada. Uma ampliação da região central da
curva foi inserida para melhor visualização da Mr e Hc. 98
Figura 59 – Magnetização em função do campo externo para as
amostra envelhecidas a 450°C por 5, 10, 30 e 60 min. O sinal de
paralelo ( // ) na curva em vermelho representa que o campo foi no
plano da fita, enquanto o sinal ( ) representa a aplicação do campo
perpendicular ao plano. 99
Figura 60 – Ampliação da região central das curvas de magnetização
da Figura 59 (envelhecimentos a 450°C) para melhor visualização da
sua dependência com a direção de aplicação do campo, com um
esquema das respectivas microestruturas desenvolvidas durante o
envelhecimento. 101
Figura 61 – Esquema representando a seção transversal das fitas e a
anisotropia magnética após os tratamentos térmicos. Em (a) é
representada a seção tranversal da amostra, como ilustrado na
imagem de SEM mostrada na Figura 17b. Em (b), após
envelhecimento, a PD tem início uma anisotropia magnética é
induzida no plano da fita devido ao crescimento dos bastonetes de
Co. 101
Figura 62 – Magnetização em função do campo magnético aplicado
para amostras envelhecidas a 500°C por 5, 10, 30 e 60min. 102
Figura 63 – Ampliação da região central das curvas de magnetização
da Figura x (envelhecimentos a 500°C) para melhor visualização da
sua dependência com a direção de aplicação do campo. 103
Figura 64 – Magnetização em função do campo magnético aplicado
para amostras envelhecidas a 550°C por 5, 10, 30 e 60min. 104
Figura 65 – Ampliação da região central das curvas de magnetização
da Figura 64 (envelhecimentos a 550°C) para melhor visualização da
sua dependência com a direção de aplicação do campo. 104
Figura 66 – Magnetização em função do campo magnético aplicado
para amostras envelhecidas a 600°C por 5, 10, 30 e 60min. 105
Figura 67 – Ampliação da região central das curvas de magnetização
da Figura x (envelhecimentos a 550°C) para melhor visualização da
sua dependência com a direção de aplicação do campo. 105
Figura 68 – Magnetização em função do campo magnético aplicado
para amostras envelhecidas a 650°C por 5, 10, 30 e 60min. 106
Figura 69 – Ampliação da região central das curvas de magnetização
da Figura x (envelhecimentos a 650°C) para melhor visualização da
sua dependência com a direção de aplicação do campo. 106
Figura 70 – (a), (b) e (c) Razão Mr/Ms, e (d), (e) e (f) Hc em função do
tempo de envelhecimento para as amostras submetidas a tratamentos
térmicos de envelhecimento. 108
Figura 71 – GMR em função da temperatura das amostras
envelhecidas a 450°C. Note que nenhuma curva satura, um
comportamento similar ao da magnetização. 110
Figura 72 – GMR em função da temperatura das amostras
envelhecidas a 500°C. 111
Figura 73 – GMR em função da temperatura das amostras
envelhecidas a 550°C. 111
Figura 74 – GMR em função da temperatura das amostras
envelhecidas a 600°C. 112
Figura 75 – GMR em função do tempo de envelhecimento para as
amostras envelhecidas a 450, 500, 550 e 600°C. 113
Figura 76 – (a) GMR em função do campo aplicado e (b) em função
do tempo de envelhecimento, após envelhecimentos a 550°C. A linha
azul é apenas um guia para ilustrar as oscilações. 114
Figura 77 – Configuração das medidas de GMR em relação à
microestrutura desenvolvida pelas RD. 115
1.
Introdução
A descoberta da magnetoresistência gigante (GMR) em filmes
multicamada [1, 2] deu início à revolução tecnológica que levou à miniaturização
de dispositivos eletrônicos e da capacidade de armazenamentos de dados de
discos rígidos. Este fenômeno consiste em uma redução da resistividade elétrica
devido à aplicação de campos magnéticos em sistemas multicamadas, compostos
por camadas alternadas de materiais magnéticos e não magnéticos. A GMR ocorre
porque, na ausência do campo, as camadas magnéticas tendem a orientar sua
magnetização em direção oposta, antiparalelamente, espalhando tanto os elétrons
com “spin up” como os elétrons com “spin down”. Na aplicação do campo, a
magnetização das camadas é alinhada em uma mesma direção, paralelamente, de
modo que apenas os elétrons com spin oposto ao sentido da magnetização são
espalhados. Como consequência, a resistividade diminui consideravelmente.
Apesar da primeira manifestação da GMR ter sido verificada no sistema
multicamada Fe/Cr, em 1991 Mosca e colaboradores [3] mostraram que o sistema
Co/Cu apresenta maior GMR, com o fenômeno se estendendo até a temperatura
ambiente. Desde então, o sistema Co/Cu passou a ser o sistema de grande
interesse da comunidade científica. Contudo, em 1992, Berkovitz e colaboradores
[4] demonstraram que a GMR também ocorre em ligas heterogêneas Cu-Co, com
o espalhamento dos elétrons ocorrendo nas interfaces e volume dos precipitados
de Co. Este efeito chama a atenção, pois abre a possibilidade de se utilizar
materiais de baixo custo para diferentes aplicações, como por exemplo, sensores
de campo magnético. Além disso, o efeito em ligas heterogêneas ocorre em
diferente escala, mas principalmente, à temperatura ambiente. Desde então, vários
pesquisadores têm estudado estas ligas na tentativa de otimização da GMR. O
procedimento geralmente consiste na produção da liga homogênea,
posteriormente submetida a tratamentos térmicos de precipitação. Curiosamente,
entre as diversas técnicas utilizadas para sua produção (solidificação ultrarrápida,
deformação mecânica severa, mechanical alloying e deposição atômica), o melhor
21
resultado foi verificado em ligas produzidas por solidificação ultrarrápida via
melt-spinning [5].
O primeiro relato de GMR na liga Cu-10at.%Co produzida por melt-
spinning foi feito por Wecker e colaboradores [5], que indicavam a importância da
microestrutura após envelhecimento isotérmico. Uma vez que nenhuma
investigação microscópica foi efetuada para determinação desta correlação, eles
assumiram que a fração volumétrica e tamanho dos precipitados ocorriam no
mesmo modo relatado em ligas diluídas Cu-Co [6], e atribuiram a ocorrência da
GMR à decomposição espinodal. Posteriormente, Busch e colaboradores [7]
caracterizaram a microestrutura destas ligas corroborando a teoria da
decomposição espinodal como o principal responsável pela alta GMR. Porém,
Panissod e colaboradores [8] demonstraram por ressonância magnética nuclear
(NMR, do inglês Nuclear Magnetic Resonance) que os alomerados ricos em Co
provenientes da modulação da microestrutura por decomposição espinodal não
apresentam reorientação magnética mesmo sob aplicação de altos campos
magnéticos (da ordem de 60kOe), descartando a possibilidade destes aglomerados
influenciarem a GMR uma vez que não respondem à aplicação de campos
magnéticos externos.
Neste contexto, o objetivo desta pesquisa é analisar em detalhe a
microestrutura proveniente das transformações de fase na liga Cu-10at.%Co
produzida por melt-spinning e avaliar sua influência nas propriedades magnéticas
e de magneto-transporte (GMR). Em todos os casos revisados, pesquisadores
tentam correlacionar a GMR de ligas heterogêneas com sua microestrutura, mas
nenhum destes estudos leva em consideração simultaneamente todos os possíveis
modos de decomposição do Co no Cu. Principalmente, nenhum trabalho foi
realizado considerando a possibilidade de desenvolvimento de reações
descontínuas, de modo que este vem a ser o foco desta tese.
Reações descontínuas (RD) no estado sólido são transformações de
precipitação nas quais a formação da nova fase é controlada por contornos de grão
em movimento que atuam como caminho de alta difusividade. O tipo mais
comum de RD é a precipitação descontínua (PD), onde o contorno de grão migra
sob a ação de forças químicas ou de capilaridade, dragando os átomos de soluto e
22
deixando para trás um agregado de precipitados ordenados que crescem
cooperativamente a partir da matriz supersaturada. Em ligas diluídas Cu-Co, estes
precipitados têm a forma de bastonetes de Co, com poucos nanômetros tanto de
diâmetro quanto de espaçamento entre eles. Deve-se reconhecer que, uma vez que
estas dimensões são menores que o comprimento de difusão do spin no Co
(~40nm [9]), o desenvolvimento da PD pode contribuir para o aumento da GMR.
Porém, se a ocorrência da GMR estiver relacionada com as transformações
contínuas, como a precipitação homogênea e a decomposição espinodal, a PD
deve ter efeito prejudicial, do mesmo modo que sua ocorrência afeta as
propriedades mecânicas da liga.
Nesta tese, a liga Cu-10at.%Co foi produzida por melt-spinning e
submetida a tratamentos isotérmicos de envelhecimento por diferentes tempos e
temperaturas. A microestrutura formada foi caracterizada e a ocorrência das
reações descontínuas assim como os mecanismos responsáveis por seu
desenvolvimento foram estabelecidos. As propriedades magnéticas e de magneto-
transporte foram caracterizadas qualitativamente, de modo a se estabelecer uma
correlação entre elas. Os procedimentos experimentais e técnicas de
caracterização utilizadas estão apresentadas no capítulo 3. Como base teórica para
os resultados que são apresentados e discutidos no capítulo 4, no capítulo 2 são
discutidos os diversos estudos de precipitação em ligas Cu-Co discutidos na
literatura. No capítulo 5 são apresentadas as conclusões. Para finalizar, com base
nos resultados obtidos, no capítulo 6 são apresentadas sugestões para trabalhos
futuros de modo o esclarecer de forma completa os fenômenos aqui discutidos.
2.
Considerações teóricas e revisão da literatura
2.1.
O Sistema Cu-Co
O diagrama de fases binário do sistema Cu-Co exibe na região rica em Cu
uma reação peritética e uma limitada solubilidade sólida de Co.
Consequentemente, ligas diluídas em Co são suscetíveis a tratamentos de
precipitação no estado sólido, quando no resfriamento, a solução sólida
supersaturada atravessa o limite de solubilidade, como pode ser visto no diagrama
de fases ilustrado na Figura 1. Até a temperatura de 422°C os precipitados ricos
em Co apresentam como estrutura cristalina estável a hexagonal compacta (hcp).
Acima desta temperatura, os precipitados são estáveis com estrutura cúbica de
faces centrada (cfc).
Figura 1 – Diagrama de fases Cu-Co [7].
24
2.2.
Transformações de Precipitação no Sistema Cu-Co
A precipitação em ligas metálicas binárias é uma transformação de fase
difusional, na qual no resfriamento de um sistema metaestável ’, ao cruzar o
limite de solubilidade, decompõe-se em duas fases mais estáveis e com diferentes
composições, uma fase precipitada e uma fase , que mantém a mesma
estrutura cristalina de 0 masempobrecida de soluto, com composição mais
próxima do equilíbrio, segundo a equação 1.
(1)
Do ponto de vista termodinâmico, esta transformação ocorre de modo a
reduzir a energia de Gibbs total do sistema devido à formação de um dado volume
de precipitado.
De um modo geral, as reações de precipitação são classificadas em dois
grupos dependendo do sítio de nucleação dos precipitados: homogênea quando
ocorre no interior da matriz cristalina e livre de interfaces, ou heterogênea, quando
o precipitado nucleia e cresce em alguma interface pré-existente,
predominantemente nos contornos de grão. Como o processo requer a criação de
uma interface matriz/precipitado (/), este custo energético leva à necessidade
de superação de uma barreira de energia (∆G*), o que beneficia a formação de
precipitados heterogêneos, uma vez que a área total da interface / a ser criada é
menor. Como consequência, a precipitação homogênea ocorre apenas em poucos
sistemas, gerando interfaces / coerentes e de baixa energia.
Cu-Co está entre as ligas metálicas nas quais ocorre a precipitação
homogênea (além da heterogênea), motivo pelo qual foi profundamente explorado
em estudos experimentais comparativos das teorias de nucleação. Além disso,
pesquisadores relataram a ocorrência de um modo muito particular de precipitação
heterogênea neste sistema, a precipitação descontínua (PD). Deste modo, neste
capítulo são discutidos os diversos modos de separação de fases no sistema Cu-Co
25
descritos na literatura como base para comparações com os resultados obtidos
experimentalmente nesta pesquisa.
2.2.1.
Precipitação homogênea e heterogênea em contornos de grão
estáticos – ocorrência no sistema Cu-Co
Existem dois possíveis mecanismos para o início da separação de fases na
precipitação homogênea: via decomposição espinodal ou via nucleação e
crescimento. Segundo a teoria de Cahn-Hilliard [11], a decomposição espinodal
ocorre como flutuações composicionais de pequenas amplitudes quando o super-
resfriamento leva a uma região de instabilidade, que no diagrama de fases é
delimitada como a região do espinodo. Estas flutuações composicionais se
estendem por toda a microestrutura formando regiões mais ricas e outras mais
pobres de soluto, tornando-se cada vez maiores até atingir a composição de
equilíbrio. Nesta condição a energia de Gibbs total é mínima. Na Figura 2 é
apresentada a simulação computacional de uma microestrutura característica da
decomposição espinodal modelada segundo a teoria de Cahn-Hilliard.
Figura 2 – Simulação computacional da microestrutura de uma liga binária no
início da separação de fases via decomposição espinodal [11].
26
Por outro lado, a nucleação segundo a teoria clássica de Gibbs [12] ocorre
na região bifásica do diagrama de fases, fora da região do espinodo. Neste caso, as
flutuações composicionais devem levar à formação de núcleos estáveis da fase β,
de composição xβ e interface (/) bem definida. Se as flutuações atingem um
dado raio crítico (r*), a barreira energética (∆G*) para criação da interface é
superada e um precipitado energeticamente estável é formado. Caso contrário o
embrião se dissolve.
Como citado anteriormente, pequenos desajustes entre as redes cristalinas
do precipitado e da matriz favorecem a formação de interfaces coerentes de baixa
energia, consequentemente favorecendo a ocorrência da precipitação homogênea.
Este é o caso do sistema Cu-Co. Transformações no sistema Cu-Co a
temperaturas maiores que 422°C formam precipitados ricos em Co com estrutura
cúbica de corpo centrado (cfc), com um desajuste de aproximadamente 1,8% [13,
14] com a rede cfc da matriz.
Entre os inúmeros estudos de precipitação em ligas diluídas Cu-Co, as
pesquisas de Servi e Turnbull [13] e Tanner e Servi [15] estão entre as referências
mais aceitas em estudos comparativos da teoria da nucleação clássica de Gibbs
com experimentos de nucleação homogênea. Servi e Turnbull estudaram a
cinética da precipitação em ligas com concentração variando de 1 a 2,69 wt.%Co,
para sub-resfriamentos (DT) entre 65 e 165°C abaixo da linha solvus do diagrama
de fases. As amostras foram homogenizadas na região monofásica e
posteriormente envelhecidas nas temperaturas de interesse. A fração volumétrica
de precipitação foi avaliada por medidas de resistividade elétrica A.C., segundo a
equação 2:
(2)
onde f é a fração volumétrica transformada, R0 a resistividade inicial e R1 a
resistividade da liga totalmente transformada. Apesar de toda a coerência do
método utilizado, o resultado é uma equação não integrável. Deste modo, para
relacionar esta fração com o tempo de reação isotérmico, muitas aproximações
foram necessárias, gerando uma redução na precisão dos resultados.
27
Os valores de fração volumétrica medidos por Servi e Turnbull levaram a
estimar uma grande variação na densidade de precipitação, de 1011,5
a 1017,5
precipitados/cm3, para todo o intervalo de concentrações e temperaturas avaliado.
A energia interfacial destes precipitados foi avaliada segundo os dados
experimentais sendo igual a 0,20 J.m-2
, enquanto por simulação computacional
utilizando a teoria clássica da nucleação foi de 0,23 J.m-2
, valores bastante
similares. Comparado com a energia livre interfacial de precipitados homogêneos
metálicos, que varia de 0,02 a 0,6 J.m-2
[16], conclui-se que a energia dos
precipitados de Co caracteriza um valor intermediário pois apesar do pequeno
desajuste da rede, existe uma grande contribuição química, proveniente da
diferença de concentração entre os precipitados ricos em Co e a matriz rica em
Cu. Estas mesmas amostras foram avaliadas por Tanner e Servi por microscopia
eletrônica de transmissão (TEM, do inglês Transmission Electron Microscopy),
que mediram a mesma ordem de magnitude para a fração volumétrica dos
precipitados, mas com valores um tanto subestimados. Como principal resultado,
verificaram que a precipitação é coerente ao menos para os primeiros estágios da
transformação.
Outro estudo comparando as teorias de nucleação com dados
experimentais de precipitação homogênea em ligas Cu-Co com concentração
máxima de 1at.%Co foi realizada por LeGoues e Aaronson [17]. Nesta série de
publicações os autores compararam os resultados de fração volumétrica e
diâmetro dos precipitados medidos por TEM com a teoria clássica da nucleação
(de Gibbs) [12] e a teoria da decomposição contínua de Cahn-Hilliard
(decomposição espinodal) [11]. Os resultados apresentados ajustaram-se bem a
todas as teorias, apesar de apresentarem uma maior confiabilidade quando
comparados com a teoria clássica da nucleação de Gibbs.
No entanto, com o desenvolvimento de técnicas de caracterização atômica
de alta precisão, como é o caso do espalhamento de nêutrons em baixo ângulo
(SANS, do inglês Small Angle Neutron Scattering) e da microscopia iônica de
campo (FIM, do inglês Field Ion Microscopy), pesquisadores encontraram
evidências de que a decomposição espinodal é o mecanismo precursor,
responsável pela precipitação homogênea em ligas Cu-Co. Em 1986, Wendt e
28
Haasen [18] analisaram a liga Cu-2,8wt.%Co por FIM verificando várias
inconsistências com a teoria clássica de nucleação (como o fato de as interfaces
matriz/precipitado não serem discretas, mas difusas). Eles concluíram que o
mecanismo inicial de separação de fases em ligas Cu-Co é mais complicado que o
proposto classicamente para a nucleação e crescimento de precipitados. Mas foi
utilizando a técnica de SANS que Wagner [19] verificou as oscilações
composicionais características da decomposição espinodal, mesmo em ligas
diluídas, com composição máxima de 0,8wt.%Co, após envelhecimento a 510 e
560°C.
Por outro lado, em ligas Cu-Co altamente supersaturadas, Busch e
colaboradores [7] comprovaram que o mecanismo de separação de fases para
precipitação homogênea é a decomposição espinodal. Eles utilizaram as técnicas
de FIM e TEM para analisar a separação de fases em ligas Cu-10at.%Co
submetidas a envelhecimentos a 440°C. Apesar de verificar por FIM as oscilações
composicionais e a formação de zonas mais ricas em Co (aglomerados) com
concentração aproximada de 50at.%Co, a visualização destes aglomerados por
TEM não foi possível. Além destas oscilações composicionais, após 300min de
envelhecimento os autores descrevem a formação de zonas empobrecidas de
soluto nas vizinhanças dos contornos de grão, com a consequente formação de
precipitados homogêneos e heterogêneos. A partir de dados teóricos da literatura,
Busch calculou o diagrama de fases contendo a região do espinodo químico e
coerente, ilustrado na Figura 1.
Deixando de lado os estudos dos mecanismos de precipitação homogênea,
uma característica bem estabelecida do sistema Cu-Co é seu endurecimento por
precipitação. Neste contexto, Phillips [20] verificou por TEM em ligas Cu-
3,1wt.%Co, a inexistência de uma relação direta entre o tamanho crítico dos
precipitados de Co e sua máxima dureza. Também verificou que os precipitados
homogêneos são esféricos e coerentes, e que na condição de difração de dois
feixes (two beam condition) apresentam o contraste tipo “grão de café”, com uma
linha de não contraste perpendicular ao vetor difrator utilizado, devido aos
campos de deformação elásticos, conforme a descrição de Ashby e Brown [21] e
constantemente relatados na literatura [22], como pode ser visto na Figura 3. Após
29
longos tempos de envelhecimento a altas temperaturas, verificou a formação de
grandes precipitados homogêneos incoerentes com forma octaédrica,
desenvolvendo faces {111}.
Figura 3 – (a) Contraste de Ashby e Brown em precipitados homogêneos de Co
[23]. A seta vermelha indica a linha de não contraste. (b) Representação da
distorção na rede cristalina da matriz na presença do precipitado homogêneo
coerente, responsável pela formação da linha de não contraste [24].
Apesar da teoria de Ashby e Brown ser uma das mais bem estabelecidas
no que se refere à análise de precipitação homogênea coerente por TEM, o
formato dos precipitados homogêneos em ligas Cu-Co é outro ponto de
controvérsias. Como estes precipitados são muito pequenos, da ordem de poucos
nanômetros, alguns autores acreditam que estes têm forma octaédrica, e não
esférica. Este erro é atribuído ao fato que os campos de deformação mascaram o
formato real das partículas nas análises de TEM por contraste de difração na
condição de dois feixes. Takeda e colaboradores [25, 26] publicaram uma série de
trabalhos nos quais analisaram ligas Cu-2,9wt.%Co por TEM no modo campo
claro em eixo de zona (BFZA, do inglês Bright Field Zone Axis), descrevendo a
formação de precipitados homogêneos na forma octaedros, alinhados na direção
[100] e com faces {110} com a rede cfc da matriz. Após longos tempos de
envelhecimento, simultaneamente com seu crescimento, os precipitados perdem
coerência e sofrem uma transição, apresentando faces {111} com a estrutura da
matriz. Devido aos planos {111} de estruturas cfc apresentarem maior densidade
atômica, espera-se que precipitados octaédricos apresentem faces {111}. Segundo
30
Takeda, somando esta evidência ao alinhamento em pares dos precipitados
coerentes na direção [100], esta transição deve-se a efeitos de interação magnética
sempre que estes configuram monodomínios magnéticos, ou seja, quando são
pequenos e coerentes. Acredita-se que este alinhamento dos precipitados ocorra na
configuração antiferromagnética, de modo a reduzir a energia total do sistema. Na
Figura 4a são ilustradas as orientações dos precipitados octaédricos coerentes e
incoerentes reportados por Takeda. A Figura 4b apresenta o alinhamento dos
precipitados coerentes na direção [100].
Figura 4 – (a) Precipitados octaédricos e (b) Precipitados coerentes alinhados na
direção [100] da matriz [25].
2.2.2.
Precipitação heterogênea em contornos de grão em movimento: a
precipitação descontínua
Além da precipitação homogênea e heterogênea convencional, um modo
de precipitação particular que ocorre no sistema Cu-Co é a precipitação
descontínua (PD). A PD ocorre durante o envelhecimento de ligas supersaturadas
na região bifásica do diagrama de fases, em condições nas quais o contorno de
grão se movimenta arrastando soluto, que é então decomposto de forma
cooperativa deixando em seu caminho arranjos de precipitados ordenados
paralelamente entre si, mas perpendiculares ao contorno de grão. O formato destes
31
precipitados depende das forças atuantes no contorno de grão, assim como da
relação cristalográfica entre a matriz e precipitado, podendo ter a forma de
lamelas ou bastonetes.
Se a energia interfacial entre os produtos da PD for muito alta, ou ainda
existir supersaturação remanente na matriz, após longos períodos de
envelhecimentos isotérmicos, os produtos primários da PD podem ser substituídos
por produtos similares, mas grosseiros. Este processo também ocorre devido à
movimentação dos contornos de grão, por este motivo chamado coalescimento
descontínuo (CD) [27]. É identificado devido ao aumento da distância entre
lamelas, ou pelo fato de a matriz entre os precipitados apresentar composição mais
próxima do equilíbrio.
Alguns sistemas que sofreram PD, ao serem submetidos a re-aquecimento
a temperaturas próximas ou acima da temperatura solvus, sofrem um retorno do
contorno de grão que se movimentou, com consequente dissolução dos produtos
da PD. Como resultado, no exato lugar dos precipitados pode-se visualizar as
chamadas “imagens fantasmas”, como se tivessem deixado uma marca de sua
existência, além da formação de discordâncias. Este processo é chamado
dissolução descontínua (DD). Na Figura 5 estão ilustrados esquemas
representativos da PD, CD e DD.
Figura 5 – Esquemas representativos da (a) PD, (b) CD e (c) DD [28].
32
Os primeiros relatos da ocorrência de PD no sistema Cu-Co foram feitos
por Phillips [20], durante estudos de endurecimento por precipitação, e por Kreye
e Hornbogen [29], durante estudos de recristalização. Ambos os autores
descrevem ainda a presença de precipitados homogêneos alinhados, explicados
por Philips como precipitação em discordâncias, e por Kreye e Hornbogen como
resultado do coalescimento de precipitados. Mas foram Perovic e Purdy [30] que
estudaram em detalhes a morfologia, cinética e termodinâmica da PD em ligas
diluídas Cu-Co. Como produto da PD, eles descreveram a formação de bastonetes
de Co alinhados paralelamente entre si e perpendiculares ao contorno de grão,
com diâmetro e espaçamento de poucos nanômetros. Explicaram ainda que os
precipitados homogêneos alinhados, descritos por Philips e por Kreye e
Hornbogen são, na verdade, consequência do processo de esferoidização dos
bastonetes de Co devido à instabilidade Rayleigh. A ocorrência da PD em todos
os casos descritos foi limitada a poucos contornos de grão, não influenciando nas
propriedades mecânicas da liga. Nenhum caso de CD ou DD foi relatado para
estas ligas.
Como a PD é um dos pontos de interesse desta pesquisa, a seguir serão
descritos os pontos cruciais para sua ocorrência, que são:
i. Quais forças podem atuar para iniciar a movimentação de um
contorno de grão.
ii. Quais os critérios para ocorrência de PD em ligas metálicas.
iii. Quais os modelos para crescimento de PD propostos na
literatura.
i. Forças motrizes para movimentação dos contornos de grão
As forças que atuam para movimentação de um contorno de grão podem
ter diversas origens, podendo atuar como força motriz, ou então retardar sua
movimentação. Geralmente classificam-se de acordo com sua origem, como
forças de capilaridade, químicas, mecânicas e de tração.
A força de capilaridade para crescimento de grão é a mais comum, e
ocorre motivada pela redução de sua energia interfacial. Considerando que os
33
contornos de grãos são curvados, a força de tensão que atua na direção de seu
centro de curvatura por unidade de área é definida como sendo a variação de
energia livre por unidade de volume, segundo as equações 3 e 4 [31]
[3]
pois
[4]
onde ∆G é a variação da energia livre devido à redução da energia interfacial, a
energia interfacial, Vm o volume molar e r o raio de curvatura do contorno de grão.
A força química atuando para migração dos contornos de grão tem origem
na diferença de potencial químico entre dois grãos com diferentes graus de
saturação: devido a esta diferença, o sistema tende a reduzir sua energia química
pela difusão de átomos através da interface, fazendo com que o contorno se
movimente. Neste caso, a migração do contorno de grão é chamada migração do
contorno de grão induzida quimicamente (CIGM, do inglês Chemically Induced
Grain boundary Migration) [32] ou por difusão (DIGM, do inglês Diffusion
Induced Grain boundary Migration) [33]. Segundo Hillert [34], a força química é
dada pela diferença de energia livre através dos contornos, segundo a equação 5
[5]
onde x é a fração atômica de soluto na matriz, x’ a fração atômica de soluto na
matriz empobrecida, R a constante dos gases, T a temperatura de envelhecimento
e Vm o volume molar.
Porém, a ocorrência de precipitação homogênea em frente aos contornos
de grãos, além de reduzir a sua mobilidade fisicamente, reduz a força química de
um termo exp (Sv/2Dv) [34], onde S é o espaçamento entre os precipitados, v a
velocidade do contorno de grão e Dv a difusividade volumétrica.
34
As forças mecânicas compreendem as forças de deformação elástica e de
resposta plástica. A força de deformação elástica surge devido à diferença
composicional entre dois grãos adjacentes com diferentes concentrações de soluto.
Esta diferença composicional promove uma diferença no parâmetro de rede a0.
Segundo Cahn [35], a força atuante nos contornos devido a esta energia é definida
pela equação 6,
[6]
onde =(1/a0) (a/c) representa a diferença no parâmetro de rede, ∆c é a
diferença composicional e Y uma combinação de constantes elásticas que depende
das direções cristalográficas dos grãos adjacentes. Já a resposta plástica ocorre
para redução ou aniquilação de discordâncias, como no caso da recuperação e
recristalização.
As forças de fricção ocorrem devido à força de arraste do soluto durante a
difusão pelos contornos de grão e também devido à precipitação homogênea em
frente aos contornos, impedindo a sua movimentação. A intensidade destas forças
depende do material e da configuração do contorno de grão com o precipitado
homogêneo.
ii. Critérios de ocorrência da PD
É muito difícil se estabelecer critérios gerais para ocorrência de PD. O
único fator comum a todas as ligas é que devem estar em solução sólida
supersaturada. Na tentativa de se estabelecer critérios gerais, diversos
pesquisadores tentaram avaliar as condições favoráveis a vários sistemas
simultaneamente.
Os primeiros relatos sugerem que um desajuste mínimo de 1% entre as
redes cristalinas matriz/precipitado [36] ou que a diferença de tamanho entre os
átomos do soluto e do solvente de no mínimo 11% [37] seriam condições
necessárias. Mas a ocorrência de PD em ligas Ni-Ti (desajuste matriz/precipitado
de 0,8% [38]) e Ni-Al (0,3% [39]) invalida a primeira sugestão. Do mesmo modo,
35
a ocorrência em ligas Cu-Co, cuja diferença de tamanho entre os átomos é de
0,015% (rCu=128pm e rCo=126pm), invalida a segunda teoria.
Por outro lado, Meyrick [40] considera a diferença na força química
atuando nos contornos de grão em movimento para formação de precipitados
descontínuos. Ele propôs um modelo calculado com base na diferença de
concentração de soluto de um contorno de grão em movimento. Considerando
uma seção do contorno, com comprimento 2r, que migra uma dada distância x, a
condição para que a PD ocorra é dada pela equação 7
[7]
onde é a energia do contorno, /C é a taxa com que a energia do contorno
diminui à medida que arrasta soluto, e C1 e C2, as concentrações inicial e final do
volume varrido.
No entanto, em uma excelente revisão sobre a ocorrência de PD em
inúmeros sistemas metálicos, Williams e Butler [41] verificaram a ineficácia deste
modelo provando que não se aplica a vários dos sistemas metálicos testados,
como é o caso do Cu-Sn. Neste mesmo trabalho, os autores apontam a
importância de outro parâmetro para a ocorrência da PD, que é a característica
estrutural individual de cada contorno de grão. Este fato é um tanto óbvio se
considerarmos que na maioria dos sistemas a PD não ocorre em todos os
contornos, além de apresentar diferentes tempos de incubação para início da
decomposição.
De um modo geral, a conclusão que se pode chegar é que cada sistema
deve ser avaliado sob condições termodinâmicas e cinéticas apropriadas, e que
devido a suas particularidades, é impossível o estabelecimento de um critério
geral para ocorrência da PD. Além dos parâmetros descritos, diferentes sistemas
metálicos apresentam diferentes modos de desenvolvimento da PD, como será
explicado na seção a seguir.
36
iii. Modelos para desenvolvimento de PD
Existem diferentes teorias para o início da PD podendo ser classificadas
em 2 grupos principais, de acordo com o início da movimentação do contorno de
grão:
I. Quando a movimentação dos contornos de grão é induzida por
precipitação
II. Quando alguma outra força ordinária do sistema induz a movimentação
do contorno livre de precipitação
Ou seja, no tipo I primeiro ocorre a precipitação, que então induz a
movimentação do contorno, enquanto no tipo II o contorno de grão livre de
precipitação inicia seu movimento, e então serve como caminho de alta difusão de
soluto, até atingir um estado de saturação e iniciar a PD.
Em 1967, Tu e Turnbull [42] estudando bicristais de Pb-Sn concluíram que
nestas ligas a movimentação do contorno é induzida pela precipitação. O modelo
proposto está ilustrado na Figura 6. Em um estágio inicial, um precipitado
heterogêneo forma-se ao longo do CG e cresce na forma de placas. Este
crescimento ocorre de modo que uma das faces do precipitado cresce seguindo a
direção [110] de um dos grãos. Esta face então mantém coerência, enquanto a face
do precipitado em contato com o outro grão é semi-coerente ou incoerente.
Consequentemente, o contorno migra na direção da interface de maior energia
(incoerente) de modo a reduzir a energia total do sistema, incorporando o
precipitado. Durante este processo outros precipitados heterogêneos formam-se
igualmente espaçados nos contornos, e seguindo este processo forma-se uma
colônia de lamelas de precipitação descontínua. Neste caso, a força motriz para
migração do CG é a redução da energia interfacial /.
37
Figura 6 – Início da PD em ligas Pb-Sn, segundo Tu e Turnbull. Em 1 e 2
precipitados heterogêneos forma-se na forma de placa. Em 3 o contorno migra na
direção da interface de maior energia, deixando para trás o arranjo de precipitados
ordenados (em 4).
É fácil identificar se a PD pode ou não seguir o modelo proposto por Tu e
Turnbull, uma vez que existe sempre uma relação de orientação entre os
precipitados e o grão pelo qual foi incorporado.
Aaronson e Aaron [43] propuseram um modelo similar ao de Tu e
Turnbull, mas com algumas modificações para incluir que a formação de um
núcleo não precisa ocorrer necessariamente na forma de placas, mas sim com
formato de menor energia.
Fournelle e Clark [44] estudaram ligas Cu-In, concluindo que nas
condições apresentadas, o início da movimentação dos contornos de grão ocorre
livre de precipitação, devido a forças de capilaridade (Figura 7). Os contornos
então se movem, e após percorrer uma dada distância formam precipitados
heterogêneos. A partir deste ponto, se ainda existir força motriz para
movimentação do contorno, formam-se lamelas de precipitação descontínua. O
gradiente do potencial químico entre a matriz e a região empobrecida de soluto
entre as lamelas faz com que o grão continue a ter mobilidade.
38
Figura 7 - Modelo de Fournelle e Clark para formação da PD. Em 1, o contorno
de grão livre de precipitação inicia o movimento na matriz supersaturada (). Em
2, após percorrer uma dada distância, formam-se precipitados heterogêneos, que
em 3 e 4 vem a formar lamelas/bastonetes de precipitação descontínua (). Em 5
está ilustrado a formação de novos bastonetes [44].
Em 1984, Purdy e Lange [32] propuseram um mecanismo para
movimentação de contornos de grão puramente por influência de uma força
química (CIGM). O contorno de grão arrasta soluto, criando um degrau de
concentração. Este degrau dá origem a uma força química, que atua como força
motriz para sua movimentação. Neste caso, os contornos de grão podem migrar
contra forças de capilaridade. Em 1987, Solórzano e Lopes [45] descreveram um
modelo para início da PD em ligas Al-Zn baseado no mecanismo proposto por
Purdy e Lange para início da movimentação do contorno de grão livre de
precipitação e induzido por difusão (DIGM). Este modelo está ilustrado na Figura
8. Primeiramente, o contorno de grão arrasta soluto e sua movimentação é
induzida pela força química. Durante o processo, precipitados heterogêneos
formam-se no contorno, e são deixados para trás, formando um arranjo de
precipitados regularmente espaçados, na forma de placas.
39
Figura 8– Modelo de início da PD devido a DIGM em ligas Al-Zn. Em 1, o
contorno movimenta-se sob ação da força química. Em 2 formam-se os primeiros
precipitados. Em 3 e 4, formação e crescimento da PD, precipitados regularmente
ordenados [45].
Em 2001, I. Manna e colaboradores [28] fizeram uma extensa revisão,
citando 246 sistemas metálicos descritos na literatura por apresentarem reações
descontínuas.
40
2.3.
Propriedades Magnéticas e de Magneto-transporte no sistema Cu-Co
2.3.1.
Propriedades magnéticas
O diagrama de fases magnéticas do sistema Cu-Co está ilustrado na Figura
9 [46]. Segundo este diagrama, pode-se verificar três diferentes comportamentos
da liga. Um estado de vidro de spin (spin glass) ocorrendo a baixas temperaturas
(região hachurada), e estados paramagnéticos (PM) e ferromagnéticos (FM),
dependendo da composição da liga. À temperatura ambiente (300K), a
composição para a transição do estado PM para FM de ligas homogêneas é
aproximadamente 30at.%Co. Ou seja, ligas homogêneas Cu-10at.%Co tem caráter
PM à temperatura ambiente.
Figura 9 – Diagrama de fases magnéticas para ligas Cu-Co [46].
41
Por outro lado, ligas heterogêneas Cu-Co são sistemas compostos de uma
matriz não magnética (Cu) com precipitados ferromagnéticos (Co), cujas
propriedades são dependentes do tamanho, formato e interação entre os
precipitados, descritos a seguir.
i. Tamanho dos precipitados
O tamanho do precipitado define se estes são monodomínios magnéticos,
pois existe um tamanho crítico a partir do qual se torna energeticamente favorável
a configuração multidomínio. O diâmetro crítico monodomínio (dcr) para
partículas de Co é da ordem de 90nm. Outra propriedade dependente do tamanho
do precipitado é o comportamento superparamagnético (SPM). Monodomínios
muito pequenos, com diâmetro menor que um valor crítico (dcrSPM
), sofrem
influência térmica com sua direção de magnetização flutuando. Deste modo, não
ocorre a saturação da magnetização. O diâmetro crítico SPM para partículas de Co
é 8nm (à 300K) [9].
ii. Influência da forma dos precipitados: anisotropia de forma
A anisotropia magnética é a dependência angular da energia de um
material magneticamente ordenado devido à orientação preferencial em uma
direção. Esta anisotropia pode ter origem cristalina, de forma, devido a forças de
tensão ou segregação atômica.
Em 2001, Pujada e colaboradores [47] estudaram ligas Cu-Co produzidas
por melt-spinning através da técnica de ressonância ferromagnética, na qual
verificaram uma dependência angular sistemática dos campos e larguras das
linhas ressonantes. Para ligas Cu-5at.%Co envelhecidas a temperaturas menores
que 500°C, os resultados não apresentam dependência angular, caracterizando que
a influência não poderia ter origem na forma da amostra. Porém, para
envelhecimentos a temperaturas superiores, ou para ligas com maior
concentração, como é o caso da liga Cu-10at.%Co, a dependência angular tornou-
42
se evidente. Os autores sugerem que esta anisotropia se originou na forma dos
precipitados, supondo que neste estágio de envelhecimento, os precipitados
esféricos adquiriam formato esferoidal. Contudo, modelos teóricos considerando
precipitados esferoidais não tiveram um ajuste satisfatório com os dados
experimentais.
iii. Interação entre precipitados
Já a interação entre precipitados pode ocorrer por interação dipolar ou
interação de troca. A interação dipolar ocorre devido à interação de um dipolo
magnético com o campo gerado por outro dipolo, ocorrendo geralmente em
sistemas de nanopartículas ferromagnéticas com diâmetros maiores que 10nm
[48]. A interação de troca é a interação responsável pelo acoplamento
antiferromagnético (AFM) entre partículas de modo a minimizar a energia
magnética total do sistema. Esta interação é descrita seguindo o mesmo
mecanismo da interação RKKY1
(Ruderman-Kittel-Kasuya-Yosida) entre
impurezas ferromagnéticas (FM) em matriz não magnética (NM), com os
momentos magnéticos das impurezas FM oscilando entre acoplamentos paralelos
e antiparalelos, dependendo da distância entre elas.
2.3.2.
A Magnetoresistência Gigante
A GMR é um fenômeno baseado no espalhamento dos elétrons dependente
do spin. É fundamentada no modelo da dupla corrente de Mott [49], segundo o
1 Acoplamento de troca indireto entre impurezas magnéticas dispersas em matriz não magnética.
O spin do núcleo de um átomo interage com um elétron de condução via interação hiperfina, e este elétron interage com o spin de outro núcleo. Esta interação é descrita por uma função de onda senoidal, de modo que um par de impurezas magnéticas podem ter seus momentos oscilando entre um alinhamento ferromagnético ou antiferromagnético em função da distância entre elas [9].
43
qual dois canais da corrente em paralelo, uma com spin up e outra com spin down,
são unidas pela chamada “mistura de spin”, ou seja, pela troca de momento.
Como todo sistema tende a manter seu estado de menor energia, um
sistema constituído de material FM e NM tende a minimizar sua energia
orientando seus domínios magnéticos de modo aleatório ou acoplados
antiparalelamente, o chamado acoplamento antiferromagnético (AFM). Com a
aplicação de um campo magnético externo, pode-se orientar esta magnetização
paralelamente no sentido do campo aplicado, chamado alinhamento FM. Segundo
o modelo da dupla corrente, a orientação das camadas irá influenciar na sua
condução, havendo uma probabilidade maior de espalhamento do canal de spin
oposto à sua magnetização. Deste modo, ao passarmos uma corrente elétrica em
um material multicamadas sem aplicação de um campo magnético, teremos a
mesma probabilidade de espalhamento de ambos os canais da corrente (de spin up
e down), apresentando uma dada resistividade ρ0. Ao passarmos a mesma corrente
no material sob a aplicação de um campo magnético, a orientação da
magnetização faz com que apenas um dos canais da corrente (aquele com spin
oposto) tenha maior probabilidade de ser espalhado, apresentando resistividade
ρH. A GMR é então medida como sendo a diferença entre as resistividades
elétricas com e sem a aplicação de um campo magnético, dividida pela
resistividade sem a aplicação do campo (equação 7). Um exemplo de GMR de um
sistema multicamadas antes e após a aplicação de um campo magnético externo é
ilustrado na Figura 10.
(7)
Figura 10– Representação de um sistema multicamada composto de material
ferromagnético (azul) e não magnético (amarelo). Em (a) com magnetização
antiparalela o espalhamento ocorre com a mesma probabilidade para os dois
44
canais da corrente e (b) com a aplicação de um campo magnético a magnetização
das camadas ferromagnéticas é paralela entre si e o espalhamento ocorre em maior
proporção para um dos canais da corrente, diminuindo a resistividade total do
sistema [50].
Um dos parâmetros de maior influência na GMR é a interação de troca
entre os domínios magnéticos. Para que o sistema livre da ação de campos
magnéticos mantenha uma configuração de magnetização das camadas com
alinhamento em sentido oposto (AFM), é necessária uma interação entre os
domínios magnéticos, ou seja, é necessário que eles sintam a presença um do
outro. Em sistemas multicamada, pesquisadores comprovaram que esta interação
não é influenciada pelo número ou espessura das camadas ferromagnéticas, mas
sim pelo metal não magnético entre elas, o chamado espaçador [51]. A GMR será
maior no caso de um acoplamento AFM perfeito. Nos casos de configuração
aleatória, apesar do espalhamento dos elétrons não ser tão alto quanto no caso
AFM, este ainda ocorre, pois estatisticamente existem alguns domínios
magnéticos acoplados. Como consequência, a diferença da resistividade antes e
após a aplicação do campo magnético externo será menor que no caso AFM.
Já no caso de ligas heterogêneas não há evidência experimental de
acoplamento. A simples existência de magnetização aleatória sem aplicação de
um campo magnético externo é suficiente para gerar espalhamento dependente de
spin [52]. Nesta configuração, o espalhamento dependente de spin ocorre nas
interfaces e volume das partículas FM, como ilustrado na Figura 11. Modelos
teóricos para a GMR em ligas postulam uma dependência com o tamanho dos
precipitados, com aumento da GMR em função do raio dos precipitados até um
valor crítico, a partir do qual a GMR diminui [5].
Figura 11 – Esquema da GMR em ligas heterogêneas (GMR granular).
45
2.3.3.
A GMR em ligas Cu-Co
O primeiro relato da ocorrência da GMR em ligas heterogêneas foi feito
por Berkovitz e colaboradores [4], em ligas Cu-Co produzidas por deposição
catódica. A escolha do sistema Cu-Co foi estratégica, uma vez que Mosca e
colaboradores [3] haviam recém demonstrado que o multicamadas Cu/Co
apresentava uma alta GMR, da ordem de 80%, mas principalmente, porque esta se
estendia desde baixas temperaturas (~4K) até a temperatura ambiente (300K). A
ocorrência da GMR à temperatura ambiente é restrita a poucos sistemas, sendo
sob este ponto de vista que o sistema Cu-Co se destaca. Berkovitz analisou ligas
com concentrações de 19 e 28at.%Co, nas condições de como depositada e após
envelhecimento térmico a 484°C por 10 e 60min. Todas as amostras envelhecidas
apresentaram GMR de aproximadamente 7% à 300K. Para desenvolver um
modelo teórico, os autores consideraram uma distribuição aleatória de partículas
de Co, de raio rCo, assumindo o espalhamento dependente de spin nas interfaces e
volume dos precipitados. Devido à dificuldade de estabelecer alguns parâmetros
importantes, como o livre caminho médio dos elétrons na matriz (Cu) e nos
precipitados (Co), pode-se concluir que a GMR apresenta uma dependência
inversa com o raio dos precipitados, mas não foi possível comparar o modelo
teórico com os dados experimentais.
Contudo, foi utilizando a solidificação ultrarrápida (através da técnica de
melt-spinning) que Wecker e colaboradores [5] mediram alta GMR em ligas Cu-
10at.%Co, chegando a aproximadamente 11% à temperatura ambiente após
envelhecimento térmico a 440°C por 60min. Estes resultados motivaram uma
série de pesquisas, na tentativa de correlacionar a microestrutura da liga Cu-Co
com a GMR. Busch e colaboradores [7], analisando ligas Cu-10at.%Co
produzidas por melt-spinning, atribuíram a alta GMR nestas condições como
sendo devido à ocorrência de decomposição espinodal.
Viegas e colaboradores [53] investigaram a correlação entre microestrutura
e propriedades magnéticas de ligas Cu-10at.%Co produzidas por melt-spinning
46
através de medidas de magnetização e magneto-transporte (GMR), considerando a
influência da interação entre precipitados na GMR. As amostras foram
envelhecidas a temperaturas variando de 200 a 700°C, pelo período de 1h. A
GMR medida após os envelhecimentos pode ser dividida em três grupos distintos:
abaixo de 420°C as transformações ocorrem de forma muito lenta e a GMR é
muito baixa, entre 450 e 520°C a GMR atinge seu máximo, e acima de 520°C o
efeito começa a se dissipar. Com base nas medidas de magnetização, os autores
descrevem a presença de dois tamanhos distintos de precipitados: pequenos
precipitados superparamagnéticos (SPM) e precipitados maiores ferromagnéticos
(FM). A redução da GMR em função da temperatura de envelhecimento é
atribuída a dois fatores: o aumento da distância entre precipitados e o início do
acoplamento FM entre eles.
Em 2001, Panissod e colaboradores [8] fizeram um dos estudos mais
aprofundados sobre a correlação microestrutura/GMR, esclarecendo o papel da
decomposição espinodal na GMR. Eles demonstraram por ressonância magnética
nuclear (NMR) que após envelhecimentos a 450°C por 60min, a microestrutura
modulada da decomposição espinodal equivale à aproximadamente 95% em
volume, contendo dois terços dos átomos de Co. Também verificaram a formação
de duas fases distintas após envelhecimentos isotérmicos por 1h: uma fase FM,
com temperatura de bloqueio (TB) da ordem de 35K, e uma fase SPM. Porém,
chama a atenção para os estudos de magnetização realizados por Viegas e
colaboradores [53], que mostra que, à temperatura ambiente, a resposta desta fase
à aplicação de campos magnéticos externos de 60kOe é extremamente fraca (a
orientação dos momentos com o campo magnético aplicado é desprezível). Deste
modo, conclui que a decomposição espinodal, apesar de ocorrer em grande fração
volumétrica, não tem grande influência na GMR de ligas Cu-10at.%Co à
temperatura ambiente.
Simultaneamente, uma série de publicações chama a atenção para
fenômenos não convencionais exibidos por esta liga. Ferrari e colaboradores [54]
estudaram ligas Cu-10at.%Co produzidas por melt-spinning verificando um
comportamento anormal da coercividade em função da temperatura após
envelhecimento a 500°C por 60 min. Convencionalmente, a coercividade aumenta
47
com o decréscimo da temperatura, devido à redução das flutuações térmicas.
Porém, na liga Cu-10at.%Co, à medida que se reduz a temperatura, a coercividade
diminui até atingir um mínimo, a aproximadamente 40K, quando volta a aumentar
para temperaturas ainda mais baixas. Os autores explicam este comportamento
atípico como sendo devido a uma distribuição bimodal dos momentos magnéticos,
como resultado da superposição dos dois efeitos: o efeito SPM de precipitados
muito pequenos, e o efeito FM de precipitados maiores. Nunes e colaboradores
[55] explicaram este efeito com base em um modelo similar, mas que considera a
interação entre partículas.
3.
Motivação
Como apresentado no capítulo anterior, as propriedades magnéticas e de
magneto-transporte de ligas Cu-Co tem sido de grande interesse, principalmente
devido à GMR apresentada à temperatura ambiente. A principal teoria para esta
alta GMR está baseada na ocorrência da decomposição espinodal, com o
espalhamento dos elétrons ocorrendo nos volumes dos aglomerados de Co.
Porém, os trabalhos de Panissod [8] e Viegas [53] sugerem que estes aglomerados
tem caráter superparamagnético, não sofrendo orientação mesmo sob a ação de
fortes campos magnéticos, de modo que não teriam influência na GMR. Um
consenso entre todas as pesquisas realizadas é a existência de dupla densidade
magnética, ou seja, a magnetização global da liga é resultado da soma da
magnetização de duas fases magnéticas diferentes, uma fase superparamagnética
(SPM) e outra ferromagnética (FM). Esta fase FM pode facilmente ser atribuída à
precipitação homogênea do Co na forma de precipitados esféricos. Porém, a
dependência angular relatada por Pujada [47] e ainda sem uma explicação
contundente, sugere a formação de precipitados não esféricos, questão que ainda
continua em aberto.
Deste modo, a principal motivação desta pesquisa é avaliar a ocorrência da
PD em uma liga homogênea Cu-10at.%Co e avaliar a sua influência nas suas
propriedades magnéticas e de magneto-transporte. Considerando que os
bastonetes de Co provenientes de PD têm diâmetro e espaçamento de poucos
nanômetros [30], estes podem ter influência na GMR. Do mesmo modo, o
crescimento de colônias de PD pode ser o responsável pela dependência angular
relatada por Pujada em dadas condições específicas de envelhecimento. Como não
existem relatos de uma caracterização detalhada da microestrutura da liga após
tratamentos térmicos de envelhecimento, somado ao fato de nenhum pesquisador
ter considerado a possibilidade de ocorrência da PD, esta pesquisa visa contribuir
de modo a elucidar os diversos modos de precipitação que ocorrem na liga Cu-
10at.%Co, com atenção especial para a PD.
4.
Procedimento Experimental
4.1.
Produção da liga por solidificação ultrarrápida via melt-spinning
A solidificação ultrarrápida de ligas metálicas é uma área bem estabelecida
e muito utilizada para a produção de estruturas fora do equilíbrio e não previstas
pelo diagrama de fases de estabilidade. Dentre os diversos métodos existentes, o
processo de melt-spinning foi escolhido por possibilitar a produção da liga com
solubilidade estendida devido à alta taxa de resfriamento, além do interesse na
morfologia resultante deste processo de solidificação.
No processo de solidificação da liga por melt-spinning, um lingote da liga
de interesse é fundido em um cadinho de quartzo é escoado continuamente em
uma roda de Cu(com aproximadamente 250 mm de diâmetro) cuja velocidade
máxima da superfície é 60m/s. Quando o metal líquido entra em contato com a
roda este solidifica rapidamente e é lançado na forma de fita. Um esquema
ilustrativo destas características é apresentado na Figura 12b. Na Figura 12 está
ilustrado o melt-spinner utilizado (Melt-Spinner HV, Buhler Co.) do laboratório
de Metais Amorfos e Nanocristalinos da Universidade Federal de São Carlos, cuja
utilização foi gentilmente concedida pelo Prof. Walter José Botta Filho.
50
Figura 12 – Melt-spinner utilizado para a produção das fitas de Cu-10at.%Co
juntamente com o esquema do processo de produção.
Para produção do lingote, os metais puros na forma de pérolas (Cu com
99,99% pureza, da empresa Sigma Aldrich, e Co com 99,5%, da empresa Alfa
Aesar) foram submetidos à decapagem química para remoção da superfície
oxidada. Para o Cu foi utilizada uma solução de HCl:H2O, na proporção 4:1. Para
o Co utilizou-se a solução de HNO3:CH3COOH:H2O na proporção 4:1:1.
Posteriormente, 9,08g de Cu e 0,92g de Co foram fundidos em um forno de fusão
a arco de modo a produzir um lingote da liga Cu-10at.%Co. Este lingote foi
fundido no melt-spinner, sob atmosfera de Ar à 1350°C, e escoado na roda de Cu,
cuja velocidade da superfície utilizada foi de 40m/s. Esta foi a maior velocidade
possível para produção desta liga na forma de fitas pois testes realizados
utilizando velocidades superiores pulverizaram o metal. No processo formou-se
uma fita de Cu com 2mm de largura, 20 a 30µm de espessura, e poucos metros de
comprimento.
4.2.
Tratamentos térmicos de envelhecimento
Após a produção da liga Cu-10at.%Co por solidificação ultrarrápida, as
amostras foram submetidas a tratamentos térmicos de envelhecimento a diferentes
temperaturas e tempos, de modo a induzir a separação de fases. As condições
utilizadas estão discriminadas na Tabela 1, a seguir.
Tabela 1– Condições utilizadas nos tratamentos térmicos de envelhecimento.
T (°C) t (min)
450 5, 10, 30, 60
500 5, 10, 30, 60
550 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35, 40, 50, 60
600 5, 10, 30, 60
650 5, 10, 30, 60
51
Note que para a temperatura de 550°C o tratamento térmico foi
acompanhado por diversos períodos de tempo além dos convencionais, utilizados
para todas as temperaturas de interesse. Este fato deve-se a diferentes fatores
acompanhados durante a análise microestrutural e magnética, que serão
devidamente explorados no capítulo dos resultados e discussões.
Os tratamentos térmicos de envelhecimento foram realizados em um forno
tubular, com um tubo de quartzo a vácuo (pressão controlada entre 10-5
e 10-6
torr), para evitar a oxidação. O forno possui 3 controladores de temperatura, um
em cada extremidade e um no centro, de modo a evitar um possível gradiente de
temperatura.
4.3.
Técnicas de caracterização microestrutural
4.3.1.
Difração de Raios X
A técnica de difração de raios X (XRD, do inglês X-ray diffraction) em
função do ângulo de espalhamento foi utilizada para avaliar qualitativamente a
existência de textura da liga produzida.
No processo de XRD, os raios X incidem na superfície do material
podendo ser absorvidos ou difratados (espalhados elasticamente sem perda de
energia) por sua rede cristalina. Como cada fase apresenta distâncias interplanares
e densidades atômicas características, o feixe difratado é coletado por um detector
gerando um difratograma característico em função do ângulo de espalhamento.
Neste contexto, a textura cristalina é avaliada pela variação de intensidades da
difração nas direções hkl. Um difratograma de Cu na forma de pó, sem textura,
está ilustrado na Figura 13, cuja relação de intensidades está esquematizada na
tabela inserida na figura.
52
Figura 13– Difratograma de uma amostra de Cu em pó, sem textura
cristalográfica.
Para a avaliação de textura nas fitas produzidas para esta tese, as análises
foram realizadas na superfície da fita solidificada em contato com a roda, em um
sistema gerador/difratômetro de raios X X’Pert PRO (Phillips/Panalytical)
pertencente ao Laboratório de Cristalografia e Difração de Raios X do Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)/ Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI). O sistema possui um monocromador no detector, além de um
sistema de rotação da amostra. Os dados foram coletados para 2 variando entre
30 e 100°, com passo de 0,05° e 50s por passo.
4.3.2.
Microscopia Eletrônica de Varredura
Para caracterização da morfologia de solidificação foi utilizada a
microscopia eletrônica de varredura (SEM, do inglês scanning electron
microscopy), técnica de caracterização na qual um feixe de elétrons focalizados
de alta energia (10 a 50kV) varre a superfície da amostra. Na interação do feixe
com os átomos da amostra são gerados vários sinais dos quais os elétrons
53
secundários e os retroespalhados são utilizados para formação das imagens, e os
raios X emitidos são coletados para informação composicional.
O equipamento utilizado foi o Microscópio Eletrônico de Varredura de
pressão variável JEOL JSM-6490LV, do Laboratório Multiusuário de
Nanociência e Nanotecnologia (LabNano) do CBPF/MCTI.
A superfície e seção transversal da liga como solidificada foram atacadas
para revelação dos contornos de grão. Para a análise da superfície da fita, estas
foram submetidas a ataque eletrolítico, em uma solução de ácido orto-fosfórico,
álcool etílico e água destilada, na proporção 1:1:2, com tensão de aceleração de
6,5kV.
Por outro lado, para a preparação da seção transversal, pequenos pedaços
das fitas solidificadas foram presos em suportes metálicos e embutidas em resina.
Estas amostras foram lixadas e polidas a fim de obter uma superfície totalmente
lisa. Estas amostras foram submetidas a ataque eletrolítico, nas mesmas condições
utilizadas para a preparação da superfície do plano, descrita anteriormente.
4.3.3.
Microscopia Eletrônica de Transmissão
A microscopia eletrônica de transmissão (TEM, do inglês Transmission
Electron Microscopy) é a técnica de caracterização mais utilizada nesta pesquisa
devido ao tamanho nanométrico dos precipitados. Este é um poderoso instrumento
de caracterização estrutural, com resolução que varia desde micrometros até a
escala atômica, sendo possível utilizá-lo não apenas para estudos morfológicos,
mas também cristalográficos, através da difração de elétrons, e químicos, através
das diversas técnicas analíticas como a espectroscopia de raios X por dispersão
em energia (EDXS, do inglês Energy Dispersive X-ray Spectroscopy) e a de perda
de energia dos elétrons (EELS, do inglês Electron Energy Loss Spectroscopy).
Neste instrumento, um feixe de elétrons de alta energia é acelerado e altamente
focalizado por lentes eletromagnéticas de modo a atravessar uma amostra
54
extremamente fina. A interação deste feixe com a amostra gera uma grande
quantidade de sinais, dos quais o feixe transmitido e os feixes de elétrons
difratados elasticamente (coerentes e incoerentes) são captados para formação de
imagens, além da possibilidade de coleta dos elétrons difratados inelasticamente e
dos raios X para informação analítica.
Nesta pesquisa, as análises por transmissão foram realizadas nos modos
convencional (TEM, do inglês Transmission Electron Microscopy), alta resolução
(HRTEM, do inglês High Resolution Transmission Electron Microscopy), modo
varredura (STEM, do inglês Scanning Transmission Electron Microscopy) e alta
resolução no modo varredura (HRSTEM, do inglês High Resolution Scanning
Transmission Eletron Microscopy).
Diversos microscópios foram utilizados, cada qual com suas
especificidades, sumariamente descritos a seguir:
i. O TEM/STEM JEOL JEM-2100F com detector Thermo SEVEN
para espectroscopia de raios X por dispersão em energia (EDXS),
operado a 200kV, do LabNano (CBPF/MCTI). Foi o equipamento
utilizado de forma consistente e programado para a análise de todas
as amostras. Quando verificada a necessidade de análises
específicas em equipamentos dedicados, estas foram analisadas em
um dos microscópios a seguir.
ii. O TEM JEOL JEM-4000EX (400kV) do LeRoy Eyring Center for
Solid State Science da Arizona State University foi utilizado para
análises de alta resolução (HRTEM) na tentativa de se caracterizar
a decomposição espinodal no interior dos grãos.
iii. O TEM/STEM FEI Tecnai G2 F30 (300kV), do Institute for
Materials Science da Universidade Christian Albrecht de Kiel,
Alemanha, foi utilizado na tentativa de se obter um contraste por
difração mais eficiente, devido à alta energia do feixe incidente.
iv. O TEM FEI Tecnai G2 (200kV) da Europe NanoPort (Eindhoven,
Netherlands), foi utilizado quando disponível para análises
utilizando contraste por difração.
55
v. O TEM/STEM FEI Titan 80-200 (200kV) acoplado com quatro
detectores de raios X do estado sólido (ChemiSTEM) e corretor de
aberração esférica, da Europe NanoPort (Eindhoven, Netherlands),
foi utilizado para mapeamentos composicionais de alta resolução
no modo varredura (HRSTEM).
A indexação dos padrões de difração foi realizada utilizando o software
JEMS, que é específico para simulação de padrões de difração e imagens de alta
resolução. Foi desenvolvido pelo grupo do Prof. Pierre Stadelmann, no
CIME/EPFL (Centre Interdisciplinaire de Microscopie Électronique/École
Polytecnique Fédérale de Lausanne) e sua licença gentilmente cedida ao nosso
grupo de pesquisa. Um exemplo de indexação de um padrão de difração
utilizando o JEMS está ilustrado na Figura 14.
Figura 14 – Padrão de difração de uma amostra Cu-10at.%Co com sua respectiva
indexação, realizada no JEMS. Além da precisão no ajuste são apresentadas
informações como o eixo de zona (ZA, do inglês zone axis) na direção 013, a zona
de Laue (zero) e o ângulo entre os spots (46,5°).
56
4.3.3.1.
Preparação das amostras
As amostras para TEM foram preparadas por dois métodos distintos. Para
as análises no plano da fita as amostras foram preparadas pelos métodos
convencionais de preparação de amostras metálicas. Devido à reduzida espessura
da amostra, de aproximadamente 20µm, a preparação por polimento eletrolítico,
que geralmente é o método mais eficaz para a preparação de amostras metálicas,
não foi satisfatório. Por isso, a amostra foi preparada por afinamento iônico. No
processo, a região central da amostra foi desbastada mecanicamente em um
equipamento (dimple) de alta precisão, modelo 515 da empresa South Bay
Technology, até uma espessura final de 5µm. O afinamento final foi realizado em
um sistema de polimento de alta precisão (PIPS, do inglês Precision Ion Polishing
System) da marca GATAN, utilizando resfriamento com nitrogênio líquido. O
resfriamento foi essencial para evitar danos a amostra causados pelo aquecimento
durante a incidência do feixe de íons, o qual pode chegar a 200°C [24], tratando-a
termicamente.
A preparação das amostras para análise em seção transversal foi realizada
em um microscópio de feixe duplo (Dual Beam). Este microscópio combina a
análise de alta resolução de um microscópio eletrônico de varredura (SEM) com
um feixe de íons focalizados (FIB, do inglês Focused Ion Beam) e um sistema de
injeção de gás, permitindo a manipulação, desbaste e deposição a nível
nanometrico, simultaneamente com a aquisição de imagens. O equipamento
utilizado foi o FEI Dual Beam Quanta FEG 3D, do Centro de Microscopia da
UFMG.
O processo de preparação está ilustrado na Figura 15. O primeiro passo é
escolher a área de interesse, da qual será retirada uma amostra de 10µm de
comprimento, 5µm de largura e aproximadamente 1µm de espessura. Na região
escolhida deve ser depositada uma quantidade de platina, de modo a proteger a
superfície da amostra (Figura 15a). O feixe de íons é colimado de modo a
desbastar as áreas vizinhas à amostra (Figura 15b), até isolá-la do material,
deixando-a presa apenas por um pequeno pedaço (Figura 15c). Após a fixação da
57
amostra na agulha (utilizando a deposição de platina), esta é removida do material
(Figura 15d) e fixada em uma grade apropriada para análise no TEM (Figura 15e).
Na sequência, o feixe de íons é focalizado de modo a incidir na superfície
protegida com platina, debastando-a até a espessura final de poucas dezenas de
nanômetros (Figura 15f).
Figura 15 – Sequência de etapas da preparação de amostras para TEM no
microscópio de feixe duplo. A seta na figura (e) aponta para a amostra já fixa na
grade. Ver a explicação no texto.
58
4.4.
Caracterização Magnética e de Magneto-transporte
A caracterização magnética foi realizada por curvas de magnetização em
função do campo aplicado. O equipamento utilizado foi um magnetômetro de
amostra vibrante (VSM, do inglês vibrant sample magnetometer), modelo
VersaLab, da Quantum Design, pertencente ao Grupo de Férmions Pesados,
Supercondutores e Sistemas Nanoestruturados, do CBPF/MCTI. Nesta análise, a
amostra é fixada em um porta amostras específico e colocada no magnetômetro. A
medida é realizada pela oscilação da amostra perto de uma bobina de detecção
(gradiômetro) de forma a detectar a tensão induzida durante a aplicação do campo
magnético. A frequência de oscilação do equipamento é de 40Hz com resolução
para medidas de magnetização inferiores a 10-6
emu. A direção de aplicação do
campo é fixa, de modo que para medidas com aplicação do campo em paralelo ou
perpendicular a um dado plano, a configuração da amostra deve ser modificada
(ver Figura 20). A temperatura utilizada para realização das análises foi 300K e o
campo foi aplicado em ciclos de zero à 25kOe, de 25kOe a -25kOe, e finalmente
retornando de -25kOe a zero.
As medidas de magneto-transporte (transporte elétrico sob aplicação de
um campo magnético) também foram realizadas no VersaLab, pois este é
equipado com um sistema para medida de transporte elétrico. O método utilizado
foi o método dos quatro pontos, no qual são preparados quatro contatos em linha
na amostra. Nos dois contatos mais externos é aplicada a corrente, e nos dois
internos uma diferença de potencial. O equipamento mede a resistência à
passagem da corrente em função do campo magnético aplicado.
Os contatos foram feitos com tinta prata condutiva de alta pureza, e com
fios de Cu revestidos com prata, com o propósito de evitar oxidação. A corrente
aplicada foi de 1mA. Como na configuração do equipamento o campo magnético
é aplicado perpendicularmente ao porta amostras, este foi aplicado
perpendicularmente ao comprimento da fita, enquanto a corrente foi aplicada
perpendicular ao campo. As medidas foram realizadas com um campo aplicado
59
partindo de zero, chegando a 25kOe, retornando a -25kOe, e finalmente
retornando a zero, de modo a fechar um ciclo para avaliar uma possível histerese.
Um esquema das configurações utilizadas nas medidas de magnetização e
de magneto-transporte está ilustrado na Figura 16.
Figura 16 – Configurações para as medidas de magnetização (a) campo aplicado
na direção do comprimento da fita, (b) campo perpendicular ao plano da fita. (c)
configuração para medidas de transporte elétrico sob aplicação de um campo
magnético.
5.
Resultados e Discussão
5.1.
Evolução da microestrutura
5.1.1.
Caracterização da liga Cu-10at.%Co como solidificada
A composição da liga após ter sido submetida a dois processos de fusão
(produção da pré-liga por fusão a arco e posterior melt-spinning) foi verificada
utilizando a técnica de espectroscopia de emissão ótica com plasma indutivamente
acoplado (ICP-OES, do inglês inductively coupled plasma optical emission
spectrometry), resultando em uma concentração de (10,6 ± 0,2) at.%Co.
A análise da microestrutura de solidificação foi realizada por SEM, no
plano da fita e em seção transversal. Resultados típicos estão ilustrados na Figura
17. Na análise do plano da fita, pode ser verificado que o tamanho dos grãos é
homogêneo, da ordem de 1µm. Por outro lado, a análise da seção transversal
revela uma estrutura celular (grãos colunares). Esta morfologia de solidificação
fornece algumas informações sobre a distribuição de soluto. Na solidificação
ultrarrápida por melt-spinning, a retirada de calor pela roda induz a formação de
uma frente de solidificação inicialmente planar. É bem estabelecido que na
solidificação de ligas metálicas, a presença de gradientes de concentração no
líquido implicam em diferentes temperaturas de equilíbrio de solidificação. Deste
modo, se o gradiente de temperatura do líquido se aproxima de um valor crítico, a
interface planar colapsa, formando protuberâncias que crescem mais rapidamente,
gerando uma estrutura de grãos celulares (ou colunares). Porém, os grãos
colunares não apresentaram desmembramento em braços (formação de dendritas)
o que sugere que a redução da taxa de resfriamento é pequena, assim como a
redistribuição de soluto durante o processo.
61
Figura 17 – Imagem de SEM da liga como solidificada (a) do plano da fita e (b)
da seção transversal, onde a superfície de solidificação em contato com a roda é a
inferior.
62
Nas análises via TEM não foram observados precipitados de Co nas
amostras como solidificadas. Este fato se torna claro pelas análises no modo
STEM/campo claro (Figura 18). Análises em alta resolução utilizando corretor de
aberração esférica mostraram que não existem distorções na rede cristalina, como
ilustrado na Figura 19, onde são identificadas franjas da rede cristalina sem
qualquer sinal de deformação por precipitação ou decomposição espinodal.
Figura 18–Imagem de STEM/campo claro de uma amostra como solidificada.
MET JEOL JEM-2100 (200kV).
Figura 19 – Imagem de HRSTEM da região central de um grão de uma amostra
como solidificada no eixo de zona [100].
63
Para verificar qualitativamente a existência de textura proveniente da
solidificação foram realizadas análises por XRD. Como já citado no procedimento
experimental, a difração foi realizada na superfície de solidificação em contato
com a roda. Na Figura 20 é apresentado o difratograma de raios X da amostra
como solidificada onde foi realizado refinamento Rietveld: (a) considerando a
orientação aleatória dos grãos e (b) considerando textura preferencial. A partir do
ajuste (linha cinza) realizado em (a), pode-se verificar qualitativamente a
existência de textura no plano 100. Já na análise considerando textura, utilizando
o modelo de harmônicos esféricos de quarta ordem, o ajuste foi satisfatório.
64
65
5.1.2.
Caracterização microestrutural após envelhecimentos isotérmicos
5.1.2.1.
Envelhecimentos a 450°C
A temperatura de envelhecimento isotérmico mais baixa foi 450°C. Este
valor foi escolhido com base no diagrama de fases, uma vez que para
temperaturas inferiores a 422°C os precipitados formam-se com estrutura
hexagonal compacta (hcp).
Através das análises por HRTEM, foi verificado que o início da separação
de fases ocorre após 10min de envelhecimento. Na imagem em alta resolução da
Figura 21a, com eixo de zona na direção [001] e utilizando contraste de fase, são
visíveis padrões de Moiré bem localizados, além de um contraste alternando em
regiões mais claras e mais escuras. Os padrões de Moiré são provenientes da
interferência entre os feixes difratados na rede cristalina da matriz (rede cfc do
cobre) e no precipitado de Co. Como estes padrões dão translacionais e com as
franjas sempre em uma mesma direção, pode-se concluir que estas regiões tem a
mesma direção cristalina da matriz, sendo totalmente coerentes. Porém, seu
parâmetro de rede é ligeiramente diferente, o que acaba produzindo este tipo de
padrão.
Para realçar estes padrões foi selecionada uma das regiões de interesse da
Figura 21a, na qual foi realizada uma transformada rápida de Fourier (FFT, do
inglês Fast Fourier Transform), com posterior aplicação de uma máscara e
transformada inversa. A imagem resultante está ilustrada na Figura 21b. Na
Figura 21c é apresentado o perfil de intensidades da região marcada em azul na
Figura 21b onde se pode medir o diâmetro das regiões delimitadas pelos padrões
de Moiré, sendo aproximadamente 1,7nm. Pode-se ainda verificar um contraste
mais intenso na região central. Como a imagem de TEM é uma projeção de
amostras tridimensionais, pode-se concluir que estas regiões caracterizam uma
maior quantidade de massa, evidenciando que não são placas, mas sim pequenas
esferas.
66
Figura 21– (a) Imagem de HRTEM de uma amostra envelhecida a 450°C por
10min. (b) Imagem processada da região marcada em (a). (c) Perfil de intensidade
da região marcada em azul em (b). Microscópio JEOL JEM-4000EX (400kV).
Na Figura 22 é apresentada uma imagem em contraste de fase realizada em
uma região de dois grãos cujo grão da direita está no eixo de zona [100]. O
contorno de grão de baixo ângulo, portanto de baixa energia e baixa mobilidade,
pode ser identificado pelas franjas paralelas que atravessam a imagem. Estas
franjas são empilhamento de discordâncias devido ao pequeno desajuste entre as
redes cristalinas dos dois grãos. Através dos padrões de Moiré pode ser observada
67
a presença de precipitados heterogêneos. A seta branca indica a formação de um
precipitado no contorno de grão, assim como a região delimitada mais acima
evidencia o início do crescimento de um bastonete de Co.
Figura 22 – Imagem em contraste de fase da atividade em um contorno de grão de
baixo ângulo após envelhecimento a 450°C por 10min. Microscópio JEOL JEM-
4000EX (400kV). Para explicação da área demarcada e a seta, veja o texto.
O início da PD após 10min de envelhecimento a 450°C foi observado em
quase todos os contornos de grão. Este fato é ilustrado na Figura 23 onde são
visíveis uma grande quantidade de grãos, vários com evidência de precipitação
nos contornos. Alguns contornos de grão apresentam colônias de PD mais
desenvolvidas, com bastonetes de Co com poucos nanômetros de diâmetro e
apresentando uma linha de não contraste, o que evidencia a forma de bastonete e a
coerência das interfaces, como mostrado na Figura 24. As regiões de contraste
mais claro foram utilizadas para identificação da posição inicial do contorno de
grão. Este procedimento foi adotado porque durante sua migração os contornos de
grão dragam soluto, formando regiões empobrecidas, como ilustrado no
mapeamento do Co por EDXS, da Figura 25. Como consequência, pode-se então
verificar a presença da força química atuando no desenvolvimento da PD. Como o
68
formato da maioria dos contornos indica que a sua movimentação ocorre na
direção de seu centro de curvatura, conclui-se que esta migração ocorre assistida
por forças de capilaridade.
Figura 23 – Imagem de STEM/campo claro de após envelhecimento a 450°C por
10min. Baixo aumento mostrando o início da DP em vários grãos. Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV).
Figura 24 – Imagens de STEM/campo claro de após envelhecimento a 450°C por
10min. (a) Movimentação de todos os contornos de um grão. (b) colônia de PD
69
marcada em (a). A velocidade média de crescimento da PD foi de
aproximadamente 13nm/min, calculada como a razão entre o deslocamento do
contorno e o tempo de envelhecimento. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
Figura 25 – (a) Imagem de STEM/campo claro e (b) mapa do Co por EDXS.
Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
Após 60min de envelhecimento a 450°C, foi possível verificar que todos
os contornos de grão apresentam colônias de PD bem desenvolvidas, como
mostrado na Figura 26, no plano da fita, e nas Figuras 27 a 29 em seção
transversal. A Figura 27 apresenta uma visão global em seção transversal onde é
possível notar que, devido ao formato colunar do grão, a PD se desenvolve no
plano da fita. Na Figura 28 é apresentado um único grão no qual é demonstrado o
abaulamento de seus contornos. Este abaulamento ocorre devido à ação da força
química gerada pelo excesso de soluto nestas regiões. Este abaulamento foi
verificado como sendo o precursor do CD, como será demonstrado em amostras
envelhecidas a temperaturas superiores. Na Figura 29 é evidenciado o processo de
esferoidização dos bastonetes formando um conjunto de precipitados esféricos
alinhados, como descrito por Perovic e Purdy [30].
70
Figura 26 – Imagem de STEM/campo claro PD em amostras envelhecidas por
60min a 450°C. Microscópio JEOL JEM-2100F.
Figura 27 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de uma amostra
envelhecida a 450°C por 60min. Note que devido ao formato colunar dos grãos,
os contornos se movimentam induzindo um crescimento dos bastonetes de Co
fortemente orientados no plano da fita, como representado no esquema inserido na
imagem.
71
Figura 28 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de uma amostra
envelhecida a 450°C por 60min. As setas vermelhas na imagem apontam regiões
de abaulamento dos contornos de grão. O esquema indica a direção de
movimentação dos contornos de grão acompanhado do desenvolvimento de PD.
Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
Figura 29 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de uma amostra
envelhecida a 450°C por 60min, onde ocorre o encontro (choque) de duas
colônias de PD. MET JEOL JEM-2100F. À direita está ilustrado o processo de
esferoidização, segundo Perovic e Purdy [30]. Microscópio JEOL JEM-2100F
(200kV).
72
5.1.2.2.
Envelhecimentos a 500°C
Durante os envelhecimentos a 500°C o desenvolvimento da PD ocorre
mais rapidamente, de modo que após 30min foi verificado o início do
coalescimento dos bastonetes da PD, caracterizado por seu engrossamento. Este
coalescimento é chamado descontínuo (CD), pois ocorre durante a migração dos
contornos de grão, que atuam como frente de reação. Na Figura 30 está ilustrada
uma colônia de CD após 60min de envelhecimento. A seta vermelha marca a linha
de varredura da análise de EDXS, apresentada na Figura 31.
Figura 30 – Imagem de STEM/campo claro de uma amostra envelhecida a 500°C
por 60min. Note a espessura dos bastonetes de Co desenvolvidos na
movimentação dos contornos de grão (CD). A seta vermelha indica a linha de
varredura na análise de EDXS, apresentada na Figura 31. Microscópio JEOL
JEM-2100F (200kV).
73
Figura 31 – EDXS -Varredura em linha da seta marcada na Figura 30 (região de
CD). A linha verde representa a intensidade do Cu enquanto a vermelha a do Co.
Note que o diâmetro dos bastonetes é de dezenas de nanômetros. Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV).
74
5.1.2.3.
Envelhecimentos a 550°C
O aumento da temperatura de envelhecimento gera uma maior velocidade
de difusão atômica. Como consequência, após 5min de envelhecimento a 550°C
foi possível verificar, através de franjas de Moiré, uma modulação na estrutura
cristalina dos grãos, como apresentado na Figura 32.
Figura 32 – Imagem de TEM em Contraste de fase na região central de um grão
após 5min de envelhecimento a 550°C. Microscópio FEI Tecnai G2 F30 (300kV).
Ao mesmo tempo, todos os contornos de grão desenvolveram PD em uma
fração volumétrica equivalente à apresentada após envelhecimentos a 450°C por
60min. A presença de PD em todos os contornos de grão pode ser observada nas
Figuras 33 e 34 no modo STEM/campo claro. Na Figura 35a é apresentada uma
colônia de PD na qual foram realizadas análises por EDXS. O mapeamento do Co
está apresentado na Figura 35b, enquanto a varredura em linha da seta marcada na
Figura 35a está apresentada na Figura 36. De acordo com estas análises foi
75
comprovado que os bastonetes são precipitados de Co, cujo diâmetro é
aproximadamente 5nm.
Figura 33 – Imagem de STEM/campo claro de amostra envelhecida a 550°C por
5min evidenciando a PD em todos os contornos de grão. Os pontos escuros são
precipitados superficiais, provenientes do dano do feixe de íon na amostra durante
o afinamento. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
Figura 34 – Imagem de STEM/campo claro de colônias de PD em amostra
envelhecida a 550°C por 5min. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
76
Figura 35 – (a) Imagem de STEM/campo claro de colônia de PD após 5min a
550°C e (b) mapeamento do Co por EDXS. A seta marca a linha de varredura por
EDXS apresentada na Figura 36. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
Figura 36 – Perfil de intensidade da linha de varredura por EDXS em uma colônia
de PD marcada na Figura 35a. Note que o diâmetro dos bastonetes é de
aproximadamente 5nm. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
77
Para tempos de envelhecimento mais longos, na sequência da migração
dos contornos de grão, os bastonetes de PD sofrem coalescimento. Nas Figuras 37
e 38 são apresentadas imagens de TEM em campo claro, de uma amostra
envelhecida por 30 min. Nestas imagens podem ser observadas as transições de
PD para CD, onde os bastonetes com poucos nanômetros de diâmetro passam a
crescer com dezenas de nanômetros. Neste estágio, a grande fração volumétrica de
precipitação homogênea no interior dos grãos torna-se evidente. As Figuras 39 e
40 apresentam pares de imagens de TEM nos modos campo claro e escuro, de
colônias de PD e CD respectivamente. Note a precipitação homogênea por todo o
grão. Nas imagens em campo escuro pode-se identificar que as frentes de reação
são sempre contornos de grão incoerentes.
Figura 37 – Imagem de TEM/campo claro de PD e CD após envelhecimento a
550°C por 30min. As setas indicam a movimentação dos contornos de grão.
Microscópio FEI Tecnai F30 (300kV).
78
Figura 38 – Imagem de TEM/campo claro de PD e CD após envelhecimento a
550°C por 30min. As setas indicam a movimentação dos contornos de grão.
Microscópio FEI Tecnai F30 (300kV).
Figura 39 – Par campo claro/escuro (spot 200) de uma amostra envelhecida a
550°C por 30min, evidenciando a DP em um contorno de grão e a precipitação
homogênea. Difração no eixo de zona [013] e g na direção [200]. Microscópio
FEI Tecnai F20 (200kV).
79
Figura 40 – Par de imagens de TEM em campo claro/escuro (spot 200) de uma
amostra envelhecida a 550°C por 30min, evidenciando a precipitação homogênea
além das várias colônias de CD nos contornos de grão. Difração no eixo de zona
[013] e g na direção [200]. O padrão de difração está inserido na imagem.
Microscópio FEI Tecnai F20 (200kV).
80
Após 60min de envelhecimento o CD já tomou conta de toda a
microestrutura. Neste estágio, uma redução na quantidade de soluto disponível na
frente dos contornos de grão pode fazer com que os bastonetes de CD coaleçam
em alotriomorfos com formato acidentado, como pode ser visualizado na Figura
41b, marcado pela seta. Ainda nesta figura é possível notar que a direção do
movimento é contrária às forças de capilaridade.
Figura 41 – Imagem de TEM/campo claro. (a) Visão global de uma amostra
envelhecida a 550°C por 60min e (b) CD apresentando bastonetes irregulares,
como mostrado pela seta preta. Microscópio FEI Tecnai G2 F30 (300 kV).
81
5.1.2.4.
Envelhecimentos a 600°C
Aumentando a temperatura de envelhecimento para 600°C a PD ocorre
rapidamente, mas após 5min de tratamento a microestrutura é dominada pelo CD.
Entretanto, eventualmente podem ser identificadas algumas colônias de PD. Na
Figura 42 é apresentada uma visão global onde se pode verificar a presença de CD
em todos os contornos de grão.
Figura 42 – Imagem de STEM/campo claro de uma amostra envelhecida a 600°C
por 5min. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
82
Após 60min de envelhecimento, é possível identificar o coalescimento dos
precipitados, com a presença de algumas colônias de CD remanescentes e grandes
precipitados homogêneos e heterogêneos, como ilustrado nas Figuras 43 e 44.
Contudo, os precipitados homogêneos provenientes da modulação da
microestrutura que tiveram início após 10min de envelhecimento a 450°C estão
claramente definidos, como ilustrado na Figura 44.
Figura 43 – Imagem de STEM/campo claro de amostra envelhecida a 600°C por
60min. O mapeamento do Co da região delimitada está inserido. Em vermelho
estão as zonas ricas em Co. As setas indicam a direção da migração do contorno
de grão, acompanhada de PD. A precipitação homogênea no interior do grão está
indicada por suas iniciais (PH). Os grandes precipitados heterogêneos estão
claramente definidos, como por exemplo o indicado pela seta (PHet). Microscópio
JEOL JEM-2100F (200kV).
83
Figura 44 – STEM/campo claro após 60min a 600°C, onde estão marcadas as
regiões analisadas: precipitados homogêneos coerentes, região livre de
precipitação (PFZ, do inglês precipitate free zone) nas vizinhas do contorno de
grão, e precipitado heterogêneo. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
5.1.2.5.
Envelhecimentos a 650°C
Após 5min de envelhecimento a 650°C ainda é possível identificar
algumas colônias de PD, mas o CD é predominante. Na Figura 45a é apresentada
uma imagem de TEM/campo escuro de um grão cujo contorno sofreu CD, e nas
Figuras 45b e c, os mapeamentos de EDXS da região selecionada na Figura 45a.
Pela análise do mapa do Co podemos identificar a PD antecedendo o início do
coalescimento. Este tipo de análise se torna importante para caracterizar a
natureza da transformação, pois com o aumento da temperatura, devido à
instabilidade termodinâmica, o diâmetro e espaçamento dos bastonetes de Co
deve aumentar. Se não fosse caracterizada a transição de diâmetros dos bastonetes
para a formação do CD, não haveria como afirmar se a reação é de PD ou CD.
84
Figura 45 – Análise qualitativa composicional de uma amostra envelhecida a
650°C por 5min. (a) TEM/campo escuro. (b) Mapeamento do Co e (c) do Cu.
Microscópio FEI Titan 80-200 / ChemiSTEM (200kV).
Com o intuito de fornecer uma visão global da ocorrência das reações
descontínuas neste estágio foi realizado um mapeamento de EDXS em baixo
aumento, apresentado na Figura 46.
Figura 46 – Análise por EDXS de uma amostra envelhecida a 650°C por 5min. (a)
Campo escuro anular em alto ângulo (HAADF). (b) Mapeamento do Cu e (c) do
Co. Microscópio FEI Titan 80-200 / ChemiSTEM (200kV).
85
Para comprovar que após o coalescimento os precipitados também
crescem na forma de bastonetes, foi realizado um mapeamento por EDXS com a
amostra em duas inclinações bem diferentes. Para isso, partiu-se da condição de
incidência do feixe no eixo de zona [011], e a amostra foi inclinada em um ângulo
de -22° e posteriormente +24,6°. Na Figura 47 são apresentados os resultados
desta analise. Note que, nas duas condições de inclinação os bastonetes mantém a
mesma forma, comprovando o formato cilíndrico.
Figura 47 – (a) Imagem de TEM/campo escuro de um grão no eixo de zona [011],
utilizando o spot 11-1, indicado no padrão de difração. (b) e (c) são mapeamentos
do Co por EDXS, em duas diferentes inclinações: -22° e +24,6°, respectivamente,
comprovando que os precipitados tem simetria cilíndrica. Microscópio FEI Titan
80-200 / ChemiSTEM (200kV).
86
Nas análises em seção transversal, é possível identificar que o CD ocorre
no sentido do comprimento da fita, como mostrado na Figura 48. As setas
vermelhas indicam a direção de migração dos contornos. Uma característica
importante e claramente definida nas análises em seção transversal é a influência
da característica estrutural individual de cada contorno de grão. Note a presença
de contornos de baixa mobilidade, como o que está indicado pela seta preta, que
não sofre movimentação durante o tratamento.
Figura 48 – Imagem de STEM/campo claro da seção transversal de uma amostra
envelhecida a 650°C por 5min. Note que o CD se desenvolve perpendicular aos
contornos de grão, assim como descrito para a PD.
Outra característica importante dos bastonetes de CD é a perda de
coerência das interfaces com o envelhecimento. Weatherly e Nicholson
caracterizaram a emissão de discordâncias por precipitados na forma de
bastonetes pela emissão de anéis de discordâncias envolvendo os precipitados
[56]. Este efeito foi verificado nos bastonetes de CD, como pode ser visualizado
na Figura 49, onde é destacado um bastonete caracterizado pela presença de
discordâncias de desajuste interfacial. Mapeamentos por EDXS confirmaram a
existência de um bastonete de Co nesta região, como pode ser visto na Figura 50.
87
Figura 49 – STEM/campo claro de uma colônia de CD, após 5min a 650°C. Note
que os bastonetes originais podem ser identificados pela malha de discordâncias
interfaciais. Eventualmente podem se formar precipitados completamente
incoerentes. Microscópio JEOL JEM-2100F.
Figura 50 – Imagem STEM/campo claro e seu respectivo mapeamento do Co, por
EDXS. Microscópio JEOL JEM-2100F.
88
O estágio inicial de separação de fases homogênea ocorrendo por toda a
estrutura dos grãos foi verificada utilizando o microscópio eletrônico Titan,
operando a 200kV, como apresentado na Figura 51. Nestas imagens pode-se
visualizar claramente que as regiões ricas em Co ainda estão interconectadas,
caracterizando uma modulação da microestrutura, característica da decomposição
espinodal [10].
Figura 51 – Decomposição espinodal após 5min de envelhecimento a 650°C. (a)
TEM/campo escuro de um grão orientado na direção [100]. Na sequência, o
mapeamento de Cu e de Co da região central do grão, marcada em (a). (b) Cu e
Co sobrepostos, (c) Co e (d) Cu. Microscópio FEI Titan 80-200 / ChemiSTEM
(200kV).
89
Após 60min os bastonetes provenientes da PD e do CD coalescem. Em
uma visão global da microestrutura, apresentada na Figura 52, é possível
identificar apenas resíduos das reações descontínuas. O coalescimento dos
bastonetes leva à formação de precipitados incoerentes heterogêneos e
homogêneos com dezenas de nanômetros e formato esferoidal. Os mapeamentos
por EDX do Co presente nas regiões delimitadas estão apresentadas na Figura 52
b e c. Precipitados com formato retangular e pontas arredondadas podem ser
identificados nas duas regiões, assim como precipitados homogêneos nas regiões
centrais dos grãos, enquanto as proximidades dos contornos são ricas em Cu. A
análise dos mapas evidencia a presença de precipitados homogêneos muito
pequenos distribuídos por todos os grãos, provenientes da decomposição
espinodal.
Figura 52 – Visão global em campo claro após envelhecimento a 650°C por
60min. (b) e (c) são o mapeamento do Co por EDXS das regiões marcadas em (a).
Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
90
5.2.
Diagrama isotérmico de início das reações descontínuas em ligas
Cu-10at.%Co
Numa tentativa de sumarizar graficamente o início das RD nas
temperaturas analisadas, um diagrama isotérmico qualitativo em função da
temperatura e do tempo é proposto, com base na caracterização microestrutural
por TEM/STEM/HRTEM, como mostrado na Figura 53.
Figura 53 – Diagrama representando o início das RD de acordo com a
caracterização por TEM. No diagrama estão indicadas algumas microestruturas
desenvolvidas durante o envelhecimento, enquanto abaixo estão representadas as
microestruturas após 60min de envelhecimento para as temperaturas estudadas.
91
Neste diagrama, a linha pontilhada quase vertical OO’ representa o
aquecimento até a temperatura de interesse, enquanto as linhas pontilhadas
horizontais representam o envelhecimento isotérmico. A curva contínua marca o
início das RD, na forma de PD. Do mesmo modo, o início do CD está definido
pela curva pontilhada. O envelhecimento na temperatura 450°C é representado
pela linha ABC. Nesta temperatura a PD foi o principal tipo de precipitação, tendo
início no ponto B, ao interceptar a curva das RD. Devido à baixa mobilidade
atômica, o tempo de incubação para o seu desenvolvimento foi de
aproximadamente 10min. Um exemplo da microestrutura neste estágio pode ser
vista na Figura 23. Após 60min (ponto C), colônias de bastonetes de Co estão
presentes em todos os contornos dos grãos, em grande fração volumétrica, como
pode ser visto nas Figuras 26 e 27. Neste estágio ocorre a formação dos primeiros
núcleos de CD, como pode ser visto na Figura 28, iniciado com o abaulamento
dos contornos de grão. Com base na forma dos contornos, pode-se concluir que a
capilaridade desempenha um papel importante na migração dos contornos de
grão. Ao mesmo tempo, é possível identificar um degrau de concentração de
soluto através dos contornos, originando uma força motriz química devido à
diferença de energia livre.
Com o aumento da temperatura de tratamento para 500°C (linha DEF), a
principal diferença com relação às amostras envelhecidas a 450°C se reflete no
desenvolvimento do CD quando a linha pontilhada cruza a curva pontilhada, no
ponto E, após aproximadamente 30min de envelhecimento.
O envelhecimento na temperatura de 550°C está representado pelo
segmento GHI. Nesta condição, o tempo de incubação necessário para o início da
PD é muito pequeno para ser medido, visto que após 5min de envelhecimento o
deslocamento dos contornos acompanhado pelo desenvolvimento da PD é
aproximadamente igual ao verificado para 450°C por 60min (ver Figura 33 e 34).
O início do coalescimento ocorre no ponto H, ao cruzar a curva pontilhada. A
partir deste ponto as colônias de CD desenvolvem-se, porém, após 60min de
envelhecimento a estrutura ainda é composta de PD e CD, como pode ser visto na
Figura 41.
92
A altas temperaturas (600 e 650°C) a PD ocorre, porém, o CD tem início
após curtos intervalos de envelhecimento: aproximadamente 5min a 600°C (ver
Figura 42), e antes de 5min à 650°C. Note que durante envelhecimento a 650°C,
representado pela linha O’L, após 5min de tratamento a 650°C o CD já está
presente, tendo sido iniciado no ponto J. Este fato, porém, não exclui a presença
inicial de PD, como já foi discutido no mapeamento de Co da Figura 45. Após
60min nestas temperaturas a microestrutura já está totalmente coalescida, com o
coalescimento dos bastonetes de CD, como mostrado na Figura 52.
Existem poucos trabalhos na literatura sobre a caracterização da
microestrutura de ligas Cu-Co produzidas por melt-spinning. O mais interessante
é o estudo da microestrutura da liga Cu-10at.%Co por microscopia de campo
iônico (FIM) realizado por Busch e colaboradores [7]. Com o interesse de
caracterizar a modulação da composição devido à decomposição spinodal, além
da existência de modulações medindo 4nm e 10nm após 60 e 300min de
envelhecimento a 440°C, os autores observaram a sobreposição de outro valor da
modulação. Estes comprimentos adicionais foram de 2 e 2,5 nm após 60 e 300
min de envelhecimento, respectivamente. Considerando-se que as análises de FIM
apresentadas sugerem a presença de precipitados alongados alinhados
paralelamente, acreditamos que este segundo valor medido seja um de bastonetes
de Co provenientes da PD durante o envelhecimento da liga.
5.3.
Mecanismos para início e desenvolvimento das reações
descontínuas
Como discutido no capítulo 2, existem diferentes modelos para o início das
reações descontínuas, que de um modo geral são dependentes de diversos fatores,
cujos principais são:
i. Influência das forças ordinárias, intrínsecas, para movimentação
dos contornos de grão;
93
ii. Existência de relações de orientação favorável entre
precipitado/matriz que induz a movimentação dos CG
Em ligas nas quais os precipitados e a matriz tem diferentes estruturas
cristalinas e mantêm forte relação de orientação, o mecanismo proposto por Tu e
Turnbull deve ser investigado. Este é o caso, por exemplo, das ligas Pb-Sn. O
mesmo tratamento deve ser considerado com relação ao mecanismo de Aaronson
e Aaron, que leva em consideração a teoria de Tu e Turnbull, mas com
modificações no formato inicial dos precipitados heterogêneos. Contudo, estas
teorias não se aplicam às ligas a base de Cu como, por exemplo, Cu-In, Cu-Sn e
Cu-Co. Nas ligas Cu-Co, a pequena diferença dos parâmetros de rede leva à
formação de precipitados totalmente coerentes com a matriz altamente estáveis,
como pode ser visto ao longo da caracterização descrita no capítulo anterior, fato
que logo invalida estes mecanismos cristalográficos para início das reações.
Para a liga Cu-10at.%Co, de acordo com os resultados obtidos, pode-se
concluir que o início da movimentação dos contornos de grão ocorre assistido por
forças de capilaridade, uma vez que sempre ocorre na direção do seu centro de
curvatura, e livre de precipitação. Após um dado deslocamento, quando a força
química está presente, a migração dos contornos é acompanhada da PD. Por outro
lado, foi verificado que o início do CD ocorre mesmo após o esgotamento da
capilaridade, fazendo com que os contornos sigam seu movimento em uma
direção oposta ao seu centro de curvatura. Este fato pode ser claramente
visualizado nas Figuras 56 e 57.
Na Figura 54 temos uma colônia de PD seguida de CD. É possível
verificar que o início da CD ocorre quando o contorno de grão assume um
formato quase plano. A partir deste estágio os bastonetes de Co crescem com
diâmetro de poucas dezenas de nanômetros e contra as forças de capilaridade. Na
Figura 55 é apresentado um DC contendo um precipitado grosseiro onde
novamente o formato do contorno de grão sugere a ação da força de capilaridade
atuando no início de sua movimentação.
94
Figura 54 – Liga envelhecida a 550°C por 30min. (a) Forma dos contornos de
grão na transição da PD para CD, (b) Imagem de STEM/campo claro e (c)
mapeamento do Co por EDXS. Microscópio JEOL JEM-2100F (200kV).
Figura 55 – Formação de um precipitado grosseiro oriundo de CD em amostra
envelhecida a 550°C por 30min. (a) Imagem STEM/campo claro e (b)
mapeamento do Co por EDXS da região marcada em (a). Microscópio JEOL
JEM-2100F (200kV).
95
De acordo com os resultados destas analises, propomos um modelo para
ocorrência das reações descontínuas nas ligas Cu-10at.%Co, como ilustrado na
Figura 56. De acordo com o formato dos contornos e inexistência de precipitação
nos mesmos, pode-se concluir que o início da sua movimentação ocorre assistido
por forças de capilaridade (Figura 56a). Estes contornos atuam como frente de
reação, dragando soluto e deixando para trás a matriz empobrecida (Figura 56b).
Esse degrau de concentração gera uma força química, descrita por Hillert [34]
como sendo a energia livre através do contorno. A partir desta etapa, a PD se
desenvolve simultaneamente com a migração de contornos de grãos sob a ação
das forças de capilaridade e química. O fim da PD está associado ao esgotamento
das forças de capilaridade para crescimento de grão e a diminuição da força
motriz química, como mostrado na Figura 56c. Se a força química ainda existir
em quantidade suficiente para continuar a promover a migração do contorno de
grão, um tipo diferente de RD é formado, o DC (Figura 56d). O engrossamento
dos bastonetes nesta etapa está associado com a redução da velocidade do
contorno possibilitando maior tempo para a difusão de soluto e, principalmente à
redução da energia interfacial do sistema.
Figura 56 – Modelo para ocorrência das reações descontínuas nas ligas Cu-
10at.%Co.
Este modelo é similar ao proposto por Fournelle e Clark [44] para a
ocorrência da PD em ligas Cu-In, mas existem diferenças importantes, como o
início da PD ocorrer apenas quando a força química atua nos contornos, o fim da
PD com o esgotamento destas forças de capilaridade e a ocorrência do CD
96
engrossando os bastonetes quando a força atuando no contorno de grão é
puramente química. Neste caso, a ocorrência do CD ocorre devido ao efeito
DIGM e a diminuição da energia interfacial global, como proposto por Solórzano
e Lopes [45] em ligas Al-Zn.
5.4.
Mecanismo para precipitação homogênea e competição com as
reações descontínuas
De acordo com os relatos sobre a cinética e termodinâmica da separação
de fase homogênea em Cu-10at.%Co descritos no capítulo xx, pode-se concluir
que o principal mecanismo para formação da precipitação homogênea a baixas
temperaturas (até 440°C [7]) é a decomposição spinodal. O método experimental
utilizado foi principalmente microscopia de força iônica (FIM) [6, 7].
Utilizando técnicas de microscopia eletrônica avançadas, com a utilização
de corretores de aberração esférica e detectores de raios X de alto desempenho,
neste estudo foi possível documentar a decomposição espinodal por mapeamento
de energia característica de raios X. Considerando que a decomposição espinodal
foi verificada na temperatura mais alta utilizada no envelhecimento térmico, pode-
se concluir que todas as condições encontram-se na região de instabilidade (região
do espinodo).
Comparando o mapeamento realizado por HRSTEM nas amostras tratadas
a 650°C (Figura 53c) com a análise de contraste de fase no modo TEM (Figura
25a), pode-se entender melhor o contraste encontrado. Para melhor visualização
estas imagens foram colocadas lado a lado na Figura 59, onde podemos verificar
que o contraste alternando entre regiões claras e escuras se deve à formação dos
aglomerados de Co que não estão perfeitamente alinhados no eixo de zona.
Quando este alinhamento existe, formam-se padrões de Moiré bem definidos.
97
Figura 57 – Decomposição espinodal (a) HRTEM após 10min a 450°C e (b)
HRSTEM após 5min a 650°C.
Com relação à competição entre a precipitação homogênea e as reações
descontínuas, devido à ocorrência da PD e CD em todas as temperaturas e em
grande fração volumétrica, pode-se concluir que a decomposição espinodal não
causa o ancoramento dos contornos de grão. Sua única influência é a redução da
força química disponível devido a uma maior difusividade pelo volume a altas
temperaturas (acima de 600°C).
98
5.5.
Caracterização das propriedades magnéticas e de magneto-
transporte
5.5.1.
Medidas de Magnetização
O caráter magnético da liga antes e após envelhecimentos térmicos foi
avaliado por curvas de magnetização em função do campo magnético aplicado.
Na Figura 58 é apresentada a curva para a amostra como solidificada, que
apresenta um comportamento ferromagnético (FM) com coercividade (Hc) de
aproximadamente 100 Oe. Segundo o diagrama de fases magnéticas apresentado
por Childress e Chien (Figura 9), ligas Cu-Co com concentração de 10at.%Co em
solução sólida têm caráter paramagnético (PM), com as interações RKKY entre os
átomos de Co (FM e AFM) aleatoriamente distribuídas. Deste modo, pode-se
concluir que mesmo não sendo possível caracterizar o início da separação de fases
por TEM na amostra como solidificada, esta já está ocorrendo uma vez que as
interações FM predominam. Ao mesmo tempo, as análises com a aplicação do
campo magnético na direção na fita e em perpendicular2
apresentam um
comportamento isotrópico, sem diferença significativa, como pode ser visto na
ampliação da região central da curva, inserida na Figura 58.
Figura 58 – Magnetização em função do campo externo (a 300K) para uma
amostra como solidificada. Uma ampliação da região central da curva foi inserida
para melhor visualização da Mr e Hc.
2 Para facilitar a notação, sempre que o campo for aplicado no plano da fita será utilizado o sinal
de paralelo //, enquanto para campo perpendicular, será utilizado o sinal .
99
Por outro lado, após envelhecimentos, uma mudança no comportamento
magnético pode ser claramente identificada. As curvas de magnetização em
função do campo externo aplicado para as amostras envelhecidas por diferentes
tempos a 450°C estão ilustradas na Figura 59. Note que após 10min a
magnetização não satura, o que indica a formação de fases superparamagnéticas
ou paramagnéticas.
Figura 59 – Magnetização em função do campo externo para as amostra
envelhecidas a 450°C por 5, 10, 30 e 60 min. O sinal de paralelo ( // ) na curva em
vermelho representa que o campo foi no plano da fita, enquanto o sinal ( )
representa a aplicação do campo perpendicular ao plano.
Se compararmos a curva da amostra envelhecida por 5min a 450°C com a
da amostra sem tratamentos térmicos, nota-se claramente um aumento na
magnetização de saturação (Ms). Em ambas as curvas o comportamento
ferromagnético predomina. Porém, na amostra envelhecida, a magnetização
remanente (Mr) e coercividade (Hc) são dependentes da direção de aplicação do
campo. Este fato pode ser visto na Figura 60, onde é apresentada uma ampliação
100
da região central das curvas de histerese, para uma melhor visualização do
comportamento da Mr e Hc em função da direção do campo aplicado. Note que
após 5 min de envelhecimento ambas as grandezas são um pouco maiores quando
o campo magnético é aplicado no plano da fita. Este fato indica que existe o início
de uma anisotropia no plano, ou seja, perpendicular à direção de crescimento dos
grãos. Comparando com a análise da microestrutura por TEM, após 5min a 450°C
a separação de fases não foi visível. Porém, como discutido para a amostra sem
tratamento térmico, uma heterogeneidade na distribuição dos átomos de Co
formando aglomerados (devido à decomposição espinodal) devem apresentar uma
interação do tipo RKKY, mas com a interação FM se sobressaindo.
Para tratamentos térmicos mais longos, porém, a Hc aumenta
monotonicamente em função do aumento do tempo de tratamento quando o
campo é aplicado no plano da fita. De acordo com a evolução microestrutural
apresentada no capítulo 5.1, após 10min de envelhecimento a 450°C temos o
início da PD, com a nucleação dos primeiros precipitados nos contornos de grão.
Para tempos de envelhecimento mais longos, a PD se desenvolve, com os
bastonetes de Co crescendo no plano da fita. Deste modo, pode-se concluir que o
desenvolvimento da PD induz um plano de fácil magnetização, como
esquematizado na Figura 61.
101
Figura 60 – Ampliação da região central das curvas de magnetização da Figura 59
(envelhecimentos a 450°C) para melhor visualização da sua dependência com a
direção de aplicação do campo, com um esquema das respectivas microestruturas
desenvolvidas durante o envelhecimento.
Figura 61 – Esquema representando a seção transversal das fitas e a anisotropia
magnética após os tratamentos térmicos. Em (a) é representada a seção tranversal
da amostra, como ilustrado na imagem de SEM mostrada na Figura 17b. Em (b),
após envelhecimento, a PD tem início uma anisotropia magnética é induzida no
plano da fita devido ao crescimento dos bastonetes de Co.
102
Com relação à não saturação dos momentos magnéticos das amostras
envelhecidas a tempos superiores a 10min existem duas possibilidades a ser
consideradas. Uma possibilidade é que os precipitados sejam
superparamagnéticos, tornando difícil a magnetização global em uma dada
direção devido à influência térmica, uma vez que as análises foram realizadas à
temperatura ambiente (300K). Outra possibilidade é considerarmos que os dois
tipos de microestrutura provenientes da separação de fases, tanto os aglomerados
provenientes da decomposição espinodal quanto os bastonetes de Co, apresentam
comportamento magnético diferente (SPM e FM), que são somados na curva de
histerese, uma vez que nestas curvas é medida a magnetização global da amostra.
Deste modo, nestas condições o comportamento SPM predomina.
Por outro lado, após envelhecimentos a 500°C por 10min, o caráter FM
torna-se predominante, com a saturação da magnetização ocorrendo para campos
menores que 10kOe, como se pode visualizar na Figura 62. Pode-se ainda notar
que a magnetização no plano da fita torna-se mais fácil, com a magnetização
remanente e coercividade muito maiores que na aplicação perpendicular do
campo, como ilustrado nas ampliações das regiões centrais das curvas mostradas
na Figura 63. Um esquema das microestruturas formadas em cada estágio de
envelhecimento está ilustrado na curva.
Figura 62 – Magnetização em função do campo magnético aplicado para amostras
envelhecidas a 500°C por 5, 10, 30 e 60min.
103
Figura 63 – Ampliação da região central das curvas de magnetização da Figura x
(envelhecimentos a 500°C) para melhor visualização da sua dependência com a
direção de aplicação do campo.
Na sequência, nas Figuras 64 a 69 são apresentadas as curvas de
magnetização em função do campo para envelhecimentos a 550, 600 e 650°C
assim como a ampliação das regiões centrais das curvas com suas respectivas
microestruturas. Note que todas apresentam o mesmo caráter FM descrito à
500°C. Também é importante notar o aumento da Mr e Hc, terminando com uma
pequena redução da Mr nas condições mais extremas (60min de envelhecimento a
600 e 650°C).
104
Figura 64 – Magnetização em função do campo magnético aplicado para amostras
envelhecidas a 550°C por 5, 10, 30 e 60min.
Figura 65 – Ampliação da região central das curvas de magnetização da Figura 64
(envelhecimentos a 550°C) para melhor visualização da sua dependência com a
direção de aplicação do campo.
105
Figura 66 – Magnetização em função do campo magnético aplicado para amostras
envelhecidas a 600°C por 5, 10, 30 e 60min.
Figura 67 – Ampliação da região central das curvas de magnetização da Figura x
(envelhecimentos a 550°C) para melhor visualização da sua dependência com a
direção de aplicação do campo.
106
Figura 68 – Magnetização em função do campo magnético aplicado para amostras
envelhecidas a 650°C por 5, 10, 30 e 60min.
Figura 69 – Ampliação da região central das curvas de magnetização da Figura x
(envelhecimentos a 650°C) para melhor visualização da sua dependência com a
direção de aplicação do campo.
107
Na Tabela 2 são apresentadas a magnetização remanente e de saturação, a
razão entre elas (Mr/Ms), e a coercividade para todas as amostras analisadas. O
valor de Mr/Ms e Hc são medidas do caráter FM do material, ou seja, da facilidade
de orientação dos momentos magnéticos na direção do campo aplicado e da
resistência a serem desmagnetizados. Para facilitar a análise, gráficos de Mr/Ms e
de Hc em função do tempo de envelhecimento para cada temperatura estão
ilustrados na Figura 70.
Tabela 2 – Mr, Ms, Mr/Ms e Hc das amostras analisadas. O campo máximo
aplicado foi de 25kOe.
5min 10min 30min 60min
Par PP Par PP Par PP Par PP
450°C Mr 3,90 0,84 1,10 0,30 0,90 0,30 1,00 0,30
Ms 15,00 14,96 11,40 9,80 12,00 12,00 12,50 11,80
Mr/Ms 0,26 0,06 0,10 0,03 0,08 0,03 0,08 0,03
Hc 145 127 200 150 275 130 400 180
Par PP Par PP Par PP Par PP
500°C Mr 1,20 0,40 2,80 0,80 4,00 0,70 5,20 0,90
Ms 14,30 13,50 13,00 13,80 15,80 14,30 15,90 15,90
Mr/Ms 0,08 0,03 0,22 0,06 0,25 0,05 0,33 0,06
Hc 260 130 300 170 150 100 380 120
Par PP Par PP Par PP Par PP
550°C Mr 1,20 0,40 2,90 0,90 5,00 1,10 4,30 1,20
Ms 14,00 13,80 16,60 15,60 16,00 15,40 15,80 16,20
Mr/Ms 0,09 0,03 0,17 0,06 0,31 0,07 0,27 0,07
Hc 278 167 357 181 387 198 317 187
Par PP Par PP Par PP Par PP
600°C Mr 3,30 1,00 6,00 1,20 8,50 0,70 6,00 0,90
Ms 15,60 16,80 17,50 17,50 23,30 13,90 16,70 16,00
Mr/Ms 0,21 0,06 0,34 0,07 0,36 0,05 0,36 0,06
Hc 340 160 370 145 305 130 320 120
Par PP Par PP Par PP Par PP
650°C Mr 7,67 1,50 7,80 1,70 7,30 1,50 5,70 1,80
Ms 20,60 20,90 19,00 21,30 21,20 18,60 19,70 16,20
Mr/Ms 0,37 0,07 0,41 0,08 0,34 0,08 0,29 0,11
Hc 300 170 410 200 400 210 400 330
108
Figura 70 – (a), (b) e (c) Razão Mr/Ms, e (d), (e) e (f) Hc em função do tempo de
envelhecimento para as amostras submetidas a tratamentos térmicos de
envelhecimento.
Na Figura 70 a, pode-se verificar que para a temperatura de 450°C a razão
Mr/Ms diminui com os tratamentos térmicos quando o campo é aplicado no plano
da amostra. Este comportamento indica uma transição de um estado onde o
comportamento FM prevalece para outro onde o SPM predomina. Na sequência
de envelhecimento (Figura 70b e c), o comportamento FM cresce sempre que o
campo é aplicado no plano da fita. A 650°C, porém, este comportamento sofre
109
uma pequena redução em função do tempo de envelhecimento devido ao
coalescimento dos precipitados.
Um comportamento similar pode ser observado para a coercividade
(Figuras 70 d, e, e f). As amostras tratadas a 450°C (Figura 70d) apresentam um
aumento monotônico de Hc em função do tempo de envelhecimento quando o
campo magnético é aplicado no plano da fita. Este fato pode ser atribuído ao
crescimento dos bastonetes de Co no plano da fita: quanto maiores são os
bastonetes, mais difícil é sua desmagnetização. Por outro lado, quando o campo é
aplicado perpendicularmente ao plano da fita, a Hc é menor que em paralelo, e
constante. Isto significa que a taxa de crescimento de precipitados ferromagnético
Co (ou agregados) na direção perpendicular ao plano da fita é muito lenta. Na
Figura 70e é apresentada a Hc de amostras envelhecidas a temperaturas
intermédias, de 500 a 600°C, onde se pode confirmar que existem dois grupos: um
grupo de maior Hc (variando 250-400 Oe) quando o campo é aplicado no plano da
fita, e a outra de Hc variando de 100 a 200Oe, quando o campo é aplicado
perpendicular ao plano. Isto ocorre porque as colônias de PD estão já bem
desenvolvidas nas fases iniciais do envelhecimento. Já para os tratamentos a
650°C, quando o campo magnético é aplicado no plano da fita a Hc aumenta até 5
min e em seguida fica praticamente constante em função do tempo de
envelhecimento. Por outro lado, com o campo perpendicular ao plano da fita, Hc
aumenta após 30min de envelhecimento. Este fato é causado pelo coalescimento
do CD ocasionando uma perda na orientação dos precipitados no plano.
De acordo com as análises, pode-se concluir que as RD são as
responsáveis pela anisotropia magnética no plano da fita. Vários indícios da
influência deste modo de precipitação nas propriedades magnéticas da liga Cu-
10at.%Co produzidas por melt-spinning são relatados na literatura. O melhor
exemplo é o estudo de Pujada e colaboradores [47], que estudaram ligas Cu-Co
produzidas por melt-spinning, submetidas a encelhecimento isotérmico, através
da técnica de ressonância ferromagnética (FMR). Os autores relataram uma
dependência angular das larguras das linhas e campos de ressonância, sugerindo a
existência de anisotropia magnética devido à forma dos precipitados de Co. No
entanto, em seu modelo teórico, foi proposto que estes precipitados teriam a forma
110
esferoidal. Mais uma vez, uma grande discrepância foi observada em comparação
com os resultados experimentais, o que vem a corroborar que os causadores desta
anisotropia são os bastonetes provenientes das reações descontínuas.
5.5.2.
Magneto-transporte (GMR)
Assim como a magnetização, a GMR também apresentou um
comportamento dependente das condições de envelhecimento, ou seja, dependente
da microestrutura formada. Nas figuras 72 a 76 estão ilustradas as curvas de GMR
em função do campo magnético aplicado, para as temperaturas de envelhecimento
analisadas. Para as temperaturas nas quais as curvas de magnetização apresentadas
no capítulo anterior não saturam, a GMR também não satura. Este fato já era
esperado uma vez que o transporte de elétrons dependente do spin depende
diretamente da orientação dos momentos magnéticos. As amostras envelhecidas a
650°C não apresentaram mudança significativa com a aplicação com o campo,
motivo pelo qual não foi analisada.
Figura 71 – GMR em função da temperatura das amostras envelhecidas a 450°C.
Note que nenhuma curva satura, um comportamento similar ao da magnetização.
111
Figura 72 – GMR em função da temperatura das amostras envelhecidas a 500°C.
Figura 73 – GMR em função da temperatura das amostras envelhecidas a 550°C.
112
Figura 74 – GMR em função da temperatura das amostras envelhecidas a 600°C.
Segundo as teorias para a GMR granular, seu valor máximo é alcançado
em função do tamanho dos precipitados, quando novamente volta a diminuir até
desaparecer. Porém, esta regra não se aplica a todas as análises da GMR em
função do tempo de envelhecimento analisadas nesta pesquisa. Para melhor
visualização, gráficos da GMR em função do tempo de envelhecimento estão
ilustrados na Figura 76. Nas amostras envelhecidas a 450°C a GMR aumenta em
função do tempo, até aproximadamente 7,5%. Porém, as amostras envelhecidas a
500 e 550°C apresentam uma oscilação nos valores da GMR. A 500°C, a máxima
GMR é de aproximadamente 7% após 5min de envelhecimento, caindo para 2 e
1,5% após 10 e 30min respectivamente, mas aumentando para 3% após 60min de
envelhecimento. Um efeito ainda mais evidente ocorre a 550°C. Por outro lado, as
amostras envelhecidas a 600°C têm GMR máxima de 4,5% após 5min de
envelhecimento, reduzindo de acordo com o tempo de tratamento até chegar a seu
mínimo (1%) após 60min.
113
Figura 75 – GMR em função do tempo de envelhecimento para as amostras
envelhecidas a 450, 500, 550 e 600°C.
Para avaliar esta oscilação dos valores da GMR, foram analisadas amostras
envelhecidas a 550°C por períodos de 5min. Os resultados da GMR em função do
campo aplicado e em função do tempo de envelhecimento estão ilustrados na
Figura 77. A partir deste gráfico nota-se claramente que os maiores valores da
GMR ocorrem para envelhecimentos por 5 e 25min. O amortecimento das
oscilações está relacionado ao coalescimento da microestrutura após o início do
CD.
114
Figura 76 – (a) GMR em função do campo aplicado e (b) em função do tempo de
envelhecimento, após envelhecimentos a 550°C. A linha azul é apenas um guia
para ilustrar as oscilações.
115
Para analisar os resultados da GMR precisamos comparar a configuração
das medidas com a microestrutura desenvolvida nos envelhecimentos térmicos.
Na Figura 78 é ilustrada a direção de aplicação do campo e da corrente. Esta
configuração foi escolhida por ser a mais conveniente devido às dimensões da
fita, mas também porque todos os trabalhos de GMR em fitas de melt-spinning
descritos na literatura a utilizam. Note que a corrente é perpendicular ao campo,
porém este é aplicado perpendicularmente aos bastonetes de Co.
Figura 77 – Configuração das medidas de GMR em relação à microestrutura
desenvolvida pelas RD.
Segundo as Figuras 72 a 75, a maior GMR ocorre durante envelhecimentos
a 450°C. Nesta temperatura (Figura 72), a GMR aumenta até 10min, e a partir
deste estágio pode ser considerada constante, medindo aproximadamente 7,5% até
os 60min de tratamento. Por outro lado, as amostras envelhecidas a temperaturas
mais altas apresentam maior GMR após 5min, em alguns casos apresentando
algumas oscilações nos valores até os 60min, como a 550°C (Figura 77). O fato de
o campo estar perpendicular aos bastonetes de Co (plano de fácil magnetização)
deixa dúvidas se estes são mesmo os responsáveis pelo espalhamento dos elétrons,
ou se este espalhamento deve-se aos aglomerados de Co provenientes da
decomposição espinodal. Porém, se compararmos os valores da GMR das
amostras envelhecidas a 450°C por 60min e a 550°C por 5min vemos que não só
os valores são muito próximos, próximo de 8%, mas as curvas também se
sobrepõem, não saturando até o máximo valor do campo aplicado. A
microestrutura destas duas amostras não podem ser consideradas equivalentes
116
pois o diâmetro dos aglomerados provenientes da decomposição espinodal não foi
medido. Contudo, a fração volumétrica das RD é muito similar. Este pode ser
considerado um indicativo da influência das RD na GMR. Segundo Panissod [8],
os aglomerados de Co não influenciam a GMR pois não se orientam mesmo sob
ação de altos campos magnéticos, o que vem a somar a esta conclusão. Wecker e
colaboradores foram os primeiros pesquisadores a levantar a possibilidade da
decomposição espinodal ser responsável pela alta GMR em ligas Cu-Co [5].
Deve ser levado em consideração o procedimento utilizado para envelhecimento
térmico das ligas. A maioria dos autores estuda o efeito após 60min de
envelhecimento em diferentes temperaturas. Nestas condições, a liga envelhecida
a 450°C apresenta GMR muito mais alta que a outras temperaturas, mas também é
a única temperatura que ainda mantém os bastonetes de PD livre de
coalescimento. Amostras envelhecidas a temperaturas acima de 500°C após
60min já tem uma microestrutura totalmente coalescida.
Miranda e colaboradores fizeram uma série de estudos sobre a GMR em
ligas Cu-Co nos quais existem dois pontos a ser considerados: o tratamento
térmico isocrônico (ao invés de isotérmico), e a análise das microestruturas por
TEM [52, 57, 58]. Nos tratamentos isocrônicos, a amostra é aquecida a uma taxa
constante até a temperatura de interesse, quando então este é interrompido. É de
pleno conhecimento que diferentes microestruturas de precipitação formam-se
dependendo da temperatura de envelhecimento. No caso de tratamentos
isocrônicos, a cada temperatura tem início uma dada microestrutura, que pode
coalescer ou mesmo ser dissolvida a temperaturas mais elevadas. Deste modo,
este tipo de estudo não é o mais indicado para correlação de uma dada
microestrutura com suas propriedades. Por outro lado, as microestruturas
ilustradas por Miranda [52] sugerem a ocorrência de precipitação descontínua em
todos os contornos de grão das amostras tratadas, o que é mais um indicativo da
possível influência das RD na GMR de ligas heterogêneas Cu-Co.
Outro estudo interessante que relata a presença das RD em ligas Cu-
10at.%Co foi realizado por Lopez e colaboradores, onde os autores relatam a
presença de precipitados heterogêneos nos contornos de grão, mas se olharmos
117
com cuidado a caracterização por TEM pode-se identificar que estes induzem um
abaulamento dos contornos, o que indicaria ser o estágio inicial das RD [59].
De um modo geral, a dificuldade de correlacionar a GMR de ligas
heterogêneas com a microestrutura formada durante envelhecimentos térmicos é
um fato bastante desafiador e que apesar da grande quantidade de pesquisas na
área ainda não existe uma teoria definida. Todas as modelagens computacionais
com base nas teorias propostas não condizem com os dados experimentais. Como
nunca foi considerado a possibilidade de precipitados fortemente alinhados, como
foi demonstrado nesta tese que ocorre nas ligas Cu-Co, é possível que esta seja a
ligação que falta. Porém, alguns fenômenos aqui apresentados ainda precisam ser
esclarecidos, como é o caso das oscilações da GMR apresentadas a 550°C. Note
que, após 25min de envelhecimentos a curva da GMR é muito similar à de 5min,
mas a microestrutura não. Existem algumas possibilidades, como um possível
acoplamento entre os precipitados, mas que necessitam de mais experimentos para
serem confirmados.
6.
Conclusões
A análise dos diferentes modos de precipitação em ligas homogêneas Cu-
10at.%Co submetidas a envelhecimento isotérmico somada à sua caracterização
magnética e de magneto-transporte permite chegarmos às seguintes conclusões:
1. As RD ocorreram em todas as temperaturas analisadas, sendo o modo
dominante de separação de fases. A baixas temperaturas (450°C) a PD
ocorre preferencialmente. Em temperaturas intermediárias (500 e 550°) o
CD ocorre, com a formação de bastonetes mais grossos que crescem com
maior espaçamento entre eles. A altas temperaturas (600 e 650°C) a PD
ocorre rapidamente, mas após 5min de envelhecimento o CD já domina a
microestrutura.
2. Foi verificado que a força motriz para movimentação dos contornos de
grãos foi a força de capilaridade. Durante sua movimentação os contornos
arrastam soluto, gerando uma força química devido ao degrau de
composição produzido. Sob a ação das forças química e de capilaridade a
PD se desenvolve. Por sua vez, o CD está associado ao fim das forças de
capilaridade e ocorre mesmo quando a matriz não está totalmente
consumida pela PD. Concluímos que esta relação entre o CD e o
esgotamento das forças de capilaridade deve-se à redução da velocidade do
contorno, que neste caso movimenta-se apenas sob ação da força química.
Ao mesmo tempo, a força motriz para o engrossamento dos bastonetes é a
redução da energia interfacial.
3. Enquanto as interfaces dos bastonetes de Co provenientes da PD são
totalmente coerentes, os bastonetes provenientes do CD têm interface
semi-coerentes. Esta perda de coerência foi verificada pela emissão de
anéis de discordâncias, que posteriormente se distribuem por toda a
estrutura dos grãos.
119
4. Com base na caracterização por TEM/STEM foi possível estabelecer um
diagrama isotérmico qualitativo para o início das RD nas ligas Cu-
10at.%Co produzidas por melt-spinning.
5. A decomposição espinodal foi o mecanismo inicial para formação de
precipitação homogênea em todas as temperaturas estudadas.
6. As RD têm grande influência nas propriedades magnéticas da liga. A
ocorrência da PD induz uma anisotropia no plano da fita. Por outro lado, o
CD faz com que este efeito diminua devido ao engrossamento dos
bastonetes.
7. A GMR foi mais alta na temperatura de 450°C, onde a PD é o modo de
precipitação predominante. Após 500°C, foi verificada uma oscilação da
GMR em função do tempo de envelhecimento. Este comportamento foi
mais evidente a 550°C, provavelmente devido à maior velocidade de
desenvolvimento da PD nesta condição.
7.
Proposta para trabalhos futuros
Durante esta pesquisa foi verificada a ocorrência de novos fenômenos,
como o CD, além da grande fração volumétrica de PD quando comparada com a
ocorrência nas ligas diluídas Cu-Co descritas na literatura. Além disso,
interessantes fenômenos magnéticos ocorrem devido à morfologia particular de
grãos colunares provenientes do processo de solidificação. Com base nas análises
realizadas foram levantadas diversas questões que necessitam um maior
aprofundamento, descritas a seguir como propostas para trabalhos futuros:
1. É necessária uma análise cristalográfica detalhada, de modo a avaliar a
existência de direções preferenciais, ou com maior velocidade da migração
dos contornos de grão. Esta análise, que teve início com a caracterização
de textura cristalográfica como resultado da solidificação por melt-
spinning podem ajudar a esclarecer a influência de cada força atuando nos
contornos de grão além de relações de orientação matriz/precipitados.
2. Devido ao tamanho de grão de poucos micrometros e velocidade de
desenvolvimento das reações descontínuas da ordem de dezenas de
nanômetros por segundo, seria interessante a realização de experimentos
de tratamentos térmicos in situ, no TEM.
3. Avaliação das reações descontínuas em ligas com menor supersaturação,
como por exemplo 5at.%Co, de modo a avaliar a influência da força
química em comparação com a liga Cu-10at.%Co.
4. Avaliação das propriedades magnéticas e GMR na liga com 5at.%Co de
modo a estabelecer uma teoria sólida da influência das reações
descontínuas.
5. Realização de análises magnéticas mais detalhadas e aprofundadas
somadas à realização de medidas de magnetização em função da
temperatura para estabelecimento da temperatura de bloqueio de modo a
avaliar o tamanho dos momentos magnéticos e relacioná-los com os
precipitados.
8.
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