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18/09/2020 Defesa da Floresta do Camboatá une movimento ambientalista no Rio - ((o))eco
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Defesa da Floresta do Camboatá unemovimento ambientalista no RioDaniele Bragança (Texto) e Marcio Isensee e Sá (Vídeos e fotos)quinta-feira, 17 setembro 2020 21:43
A semana começou movimentada nas páginas policiais dos jornais fluminenses.
O prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), candidato à reeleição, foi alvo de
recente operação do Ministério Público Estadual e a licitação do novo Autódromo
do Rio está sob suspeita de ter sido direcionada por Rafael Alves, empresário
acusado pelo MP de comandar o ‘QG da propina’ dentro da Prefeitura do Rio.
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Autódromo está projetado para ser construído na parte mais florestada do terreno. Foto: Marcio Isensee e Sá.
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O novo autódromo do Rio foi projetado para ser construído em cima de um dos
últimos nacos de Mata Atlântica de terras baixas no município do Rio de Janeiro –
o último em bom estado. A denúncia do Ministério Público, que os acusados
negam, animou o Movimento SOS Floresta do Camboatá, um coletivo que reúne
técnicos ambientais, professores universitários, gestores e moradores de
Guadalupe e Deodoro em prol da conservação da área.
“Já estávamos confiantes antes. Essa denúncia só corrobora tudo o que já
dissemos nos nossos relatórios e nas nossas denúncias enviadas ao Ministério
Público”, diz o ambientalista Felipe Candido, um dos fundadores do movimento.
((o))eco entrou em contato com o consórcio Rio Motorsports, solicitando entrevista
com o empresário José Antônio Soares Pereira Júnior, JR Pereira, na segunda (14),
que preferiu não responder nossas perguntas.
O avanço da proposta para derrubar a última área verde em bom estado de terra
plana da capital fluminense uniu pessoas na defesa pela floresta, que trabalham
voluntariamente revisando papeladas, produzindo pareceres, acionando a Justiça
e se mantendo acordados até tarde para se fazer ouvir na audiência pública,
realizada em agosto. A campanha também alcançou as redes sociais, com vídeos,
fotos e mensagens enviadas para a F1, pilotos e anunciantes.
“Eles sentiram que não vamos ficar quietos. Esse autódromo não será construído
em cima de Camboatá, eles que construam em outro local”, diz o arqueólogo e
antropólogo Fabio Origuela de Lira, que também é um estudioso dos peixes
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rivulídeos, os peixinhos das nuvens. O Leptopanchax (Leptolebias) opalescens
criticamente ameaçado de extinção, vive em Camboatá.
O trabalho está longe de acabar
“O SOS Floresta do Camboatá tem duas fases. Uma é impedir que a floresta seja
destruída. A segunda fase é a luta pela criação de uma unidade de conservação de
proteção integral na área, para garantir a proteção”, defende André Ilha, do Grupo
Ação Ecológica (GAE), ONG ambientalista atuante no estado e suplente no Conselho
Municipal de Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro (CONSEMAC).
Há duas propostas, uma na Câmara de Vereadores, outra da Assembleia
Legislativa, que transformam Camboatá em unidade de conservação. Mesmo se
não houver essa decretação de proteção, o terreno, cedido para a Prefeitura
exclusivamente para a construção do autódromo, volta para o Exército.
“O Ministério Público Federal já disse que a área pertence à União, sob tutela do
Exército e se essa área não for destinada à Prefeitura para se fazer esse
autódromo, ela continua sendo da União sob tutela do Exército. Ela não deixa de
Os alagados de Camboatá. As poças menores abrigam os peixes das nuvens. Foto: Marcio Isensee e Sá.
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ser tutelada pelo Exército. Ou seja, desmonta por completo aquele boato, fake news,
que a empresa [o consórcio Rio Motorsports] promove, que muita gente acredita,
que se não fizer o autódromo, será invadida. Isso é um absurdo, isso é uma
mentira”, diz Felipe Cândido, em entrevista a ((o))eco dentro de Camboatá.
Não é mato, é uma floresta
O drone desaparece após dois minutos que levantou voo. De um lado da estrada do
Camboatá, que liga os bairros de Deodoro e Guadalupe, na zona norte da capital
fluminense, o som dos carros passando e o muro dão a impressão de que aquela
área é só um terreno degradado. A impressão vai embora assim que as primeiras
imagens do drone aparecem na tela do celular onde está conectado: trata-se de
uma manta verde encravada em uma das áreas mais urbanizadas da cidade. A
floresta do Camboatá existe – e é linda.
“E tem quem chama isso aqui de mato”, provoca o ambientalista Felipe Candido,
nosso guia pelo local. Nosso objetivo inicial era documentar a mata por dentro,
mas acabamos tendo que filmar de cima, estacionados do outro lado da estrada do
Camboatá, que beira a floresta. Por volta das 16h, conseguimos entrar, mas não
avançamos muito. Seguimos pela estrada de chão até a placa avisando que o
estande de tiro estava próximo, a 200 metros. De um lado a outro do caminho de
terra, capins crescidos margeavam a floresta e invadiam construções
abandonadas. Fezes de capivara marcam o caminho.
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A área está sob os cuidados do Exército desde 1904, quando a Vila Militar de
Deodoro estava sendo construída. Por ser área de Mata Atlântica em regeneração –
no passado parte do local era fazenda de cana-de-açúcar –, a área virou o principal
paiol do Exército, local onde se guardavam armamentos e explosivos. Na década
de 1950, uma grande explosão ceifou vidas e deixou dezenas de feridos. O paiol
acabou desativado por conta disso. A explosão também afetou a mata.
“Uma parte foi degradada e já foi regenerada, pelo tempo que passou”, explica
Felipe. Atualmente, a Floresta do Camboatá possui entre 160 a 200 mil árvores em
diferentes estágios de regeneração.
O número de árvores é objeto de disputa, entre 140 mil e 200 mil árvores. Mas a
quantidade não importa muito, mas sim as espécimes que sobreviveram ali,
algumas raríssimas, como a Couratari pyramidata, uma árvore de grande porte
que só ocorre na Mata Atlântica do Rio de Janeiro.
Edição do jornal O Globo de 04 de Agosto de 1958, Matutina, Geral,
página 5. Imagem: Acervo O Globo.
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“Camboatá é a floresta que sobrou, um remanescente florestal com vários estágios
de regeneração, diz o botânico Cyl Farney de Sá, que ajudou no primeiro
levantamento de flora do local, em 1985. “Tem muito mais árvores nativas lá que
árvores exóticas. Eu sei que aquilo ali é uma joia”, diz Farney de Sá, que é
pesquisador do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ).
O levantamento de flora de Camboatá foi feito por pesquisadores do JBRJ a pedido
do major Mauro Barroso, que comandava na época o 1º Batalhão de Forças
Especiais, e tinha o quartel em Camboatá. “Ele era um cara bem comprometido
com a unidade dele, bem esclarecido e ligou para a direção do Jardim Botânico
solicitando ajuda”, conta Cyl, que era estagiário na época. Junto com a colega
Solange Pessoa, passou um ano visitando o local e coletando amostras. “Seguimos
o ritmo do quartel. Eles nos buscavam, tínhamos que almoçar no refeitório,
cumprir esses horários que quando estamos em campo não cumprimos. Foi uma
boa experiência”, diz.
A floresta do Camboatá ocupa uma área de aproximadamente 160 hectares. No
local são encontradas mais de 146 espécies de árvores, sendo 16 espécies
ameaçadas de extinção. Segundo o relatório produzido por pesquisadores do
Jardim Botânico, há pelo menos 20 hectares de floresta nativa madura, em bom
estado de conservação, “além de cerca de 67 hectares de floresta em estágio
avançado de regeneração”.
Na audiência pública, realizada no dia 12 de agosto, o representante da consultoria
Terra Nova – responsável pelo Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima)
– Diego Rafael dos Santos Peixoto, passou boa parte da sua fala defendendo que
essas espécies poderiam ser plantadas em outro lugar e que a área seria invadida
caso não seja transformada em autódromo.
E no princípio houve uma promessa
A ideia de transformar um dos últimos nacos de Mata Atlântica de terras baixas
no município do Rio de Janeiro em um novo autódromo tem pelo menos uma
década, e esse projeto ganhou forma após o antigo autódromo de Jacarepaguá ter
sido destruído para dar lugar a uma arena esportiva. O autódromo já havia
perdido parte da pista para a construção de uma arena em 2006, quando a cidade
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se preparava para sediar os Jogos Pan–Americanos, ocorridos em 2007. Em 2009,
quando o Rio foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016, seu fim foi
decretado. A prefeitura escolheu construir ali o Parque Olímpico de Jacarepaguá.
Em 2010, diante das mudanças na legislação municipal para preparar a cidade
para sediar a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos, A prefeitura e o Ministério dos
Esportes anunciam que o novo autódromo será construído na Floresta do
Camboatá. No mesmo ano, a Fundação Getúlio Vargas foi contratada pelo
Ministério dos Esportes para produzir um relatório sobre a floresta. O documento
não apontou a presença de espécies ameaçadas e viabilizou o empreendimento do
“ponto de vista ambiental”.
O parecer da FGV foi apresentado ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e usado
como base para subsidiar a decisão, já em 2011, de dispensar os estudos de impacto
ambiental (EIA/RIMA) e liberar a derrubada da floresta. Foi a partir dessa decisão
que nasceu o Movimento SOS Floresta do Camboatá.
São 160 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica, três vezes o tamanho do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro. Foto: Marcio Isensee e Sá.
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“De cara o relatório disse que a área não tinha importância. Um sujeito
desconhecido, em nome da Fundação (FGV), indo contra a fina flor da Botânica do
Rio de Janeiro, que está ali no Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico. Um
relatório desses foi vergonhoso”, relembra André Ilha. (Veja a linha do tempo, no
fim da matéria).
A decisão de dispensar o Estudo de Impacto Ambiental foi alvo de ação civil
pública, pelo Ministério Público, e após percorrer os labirintos do Judiciário,
chegou até o Supremo. Na última instância, ficou decidido, em 2018, que o órgão
licenciador deveria cumprir com o rito do licenciamento que a legislação
ambiental exige.
Antes da decisão do STF, a Prefeitura do Rio – já sob o comando de Marcelo
Crivella – fez uma convocatória para interessados na “implantação, operação e
manutenção de Autódromo Parque, na região de Deodoro”. Foi assim que o
empreendedor José Antônio Soares Pereira Junior, o JR Pereira, entrou no caminho
de Camboatá, pois sua empresa, a Crown Assessoria e Consultoria Empresarial, foi
a única que se habilitou a elaborar os termos da licitação que a Prefeitura quis
lançar.
Com a licitação aberta, de novo apenas uma empresa se interessou pelo
empreendimento, a Rio Motorpark Holding S.A., que pertence ao mesmo dono da
empresa que elaborou os termos da licitação. Levou.
Após adiamentos na Justiça, em agosto de 2020 foi realizada a audiência pública,
onde os resultados do Relatório de Impacto Ambiental foram apresentados ao
público. ((o))eco acompanhou as discussões. “Por pelo menos duas vezes
questionamentos sobre o financiamento do empreendimento não foram
respondidos, uma feita pelo procurador Daniel Prazeres, e outra feita pelo
jornalista Roberto Kaz”, reportamos, em agosto.
LEIA MAIS: Manifestação do público em audiência pública do
autódromo do Rio começou meia noite
Como previsto nos termos da licitação, a Rio Motorpark Holding S.A. tem direito
sobre 41% do terreno de Camboatá, que construirá o autódromo na parte mais
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preservada da floresta. Onde não tem autódromo, o terreno fica à disposição do
empreendedor para fazer o que quiser, inclusive prédios para moradias.
Nove dias após a audiência pública, o consórcio enviou uma carta de intenções à
Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio abrindo mão destes
41% da área, que ao invés de serem usados para empreendimento imobiliário
serão usados em “projeto de cunho ambiental”.
Em comunicado divulgado pela assessoria do grupo, o empreendedor promete
utilizar 810 mil metros quadrados do terreno como “espaço de preservação
ambiental” (o restante terá uma pista de autódromo, oficina e arquibancada). E
“sugere que o espaço seja reservado para desenvolvimento de projetos ambientais
como de manutenção do patrimônio biótico, Centro de Estudos em Interpretação
Ambiental, implantação de um Centro de Recuperação de Animais Silvestres –
CRAS, implantação de uma Área de Soltura de Animais Silvestres – ASAS, horto
florestal e arboreto. A empresa propõe, ainda, que tais medidas sejam incluídas
como condicionantes da licença a ser expedida pelo INEA”, disse a Rio Motorsports.
Pica-pau-verde-barrado (Colaptes melanochloros) na Floresta do
Camboatá. Foto: Bruno SCH.
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“Esse tipo de manifestação soa para a gente apenas como uma tentativa
desesperada de esverdear um projeto absurdo que pretende desmatar uma área de
Mata Atlântica importantíssima e que abriga espécies ameaçadas de extinção. Não
altera em nada nossa opinião sobre o empreendimento. Não altera em nada a
nossa opinião sobre os inadmissíveis impactos ambientais que esse autódromo
geraria se fosse construído na área da floresta do Camboatá”, diz o engenheiro
florestal Beto Mesquita, que também participa do movimento SOS Floresta do
Camboatá. “Eles não alteraram em absolutamente nada o projeto do autódromo,
ou seja, considerando que cerca de 20% da área total do Camboatá não tem
floresta, mas que o autódromo se concentra justamente na porção mais
florestada, como o próprio EIA-RIMA assume, pelo menos 73% da área florestal
seriam desmatadas para a instalação do autódromo. Isso, se ele viesse voando e
aterrizasse na vertical sobre a área”, acrescentou Mesquita, em conversa com
((o))eco.
A tentativa do Consórcio animou os integrantes do grupo do Movimento SOS
Floresta do Camboatá, que viu na carta de intenções um sinal de desespero.
“[O movimento] é uma união espontânea de pessoas preocupadas com o destino
de uma área natural que se mobilizam em prol dessa causa. E te digo o seguinte,
no panorama atual no Brasil, de desmobilização social e de avanço de toda espécie
de ataques ao meio ambiente, hoje ele [o movimento SOS Floresta do Camboatá]
está se transformando em uma referência”, diz André Ilha, que foi diretor de
Biodiversidade e Áreas Protegidas do INEA entre 2009 a 2014.
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“Elas vêm dormir aqui de noite”, explica Felipe, apontando para um pátio coberto
abandonado. “Essa aqui é uma das áreas mais degradadas, tem muito capim,
nada que não dê para ajustar”, explica.
Conheça a Floresta do Camboatá, a área do ExConheça a Floresta do Camboatá, a área do Ex……
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