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Julio Pereira
Suturando Ideias
São Paulo, 2016
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Título Original em Português: Suturando Ideias © 2016
de Júlio Pereira
Todos os direitos desta edição reservados ao autor.
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada,
transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou gravações,
assim como traduzida, sem a permissão, por escrito, do autor.
Os infratores serão punidos pela Lei nº 9.610/98
Diretor Editorial: Ednei Procópio
Publisher: Chris Donizete
Revisão: Revisão do Autor
Suporte aos Autores: Fábio Silva
Livros Digitais: Irene Stubber
Editoração: Rafael Victor (be.net/rafaelvictor)
Livrus Negócios Editoriais
Rua Sete de Abril, 277, 10 Andar , conjunto 10 D - República
CEP 01043-000 — São Paulo — SP
E-mail: [email protected]
Site: www.livrus.com.br
Fone: (11) 3101-3286
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Daniela Momozaki – CRB8/7714)
P436s Pereira, Julio
Suturando ideias / Julio Pereira. - São Paulo : Livrus, 2016.
64 p. : il.
ISBN: 978-85-8360-250-7
1. Literatura brasileira. 2. Poemas. I. Título.
CDD 869.1
2016-111 CDU 821.134.3(81)-1
Índice para o catálogo sistemático
1. Literatura brasileira : Poemas 869.1
2. Literatura brasileira : Poemas 821.134.3(81)-1
Impresso no Brasil/Printed in Brazil
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SUMÁRIO
PARTE I - Nascimento ou Poemas Perdidos . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Ao Beta-HCG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Filho 3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Poema Normal vs Cesariano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
O Pai Clichê . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Meu Bebê com Reflexos Primitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
O Choro, Um Mês . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 O Bebê Que Parecia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Nascimento Médico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
O Pai que Operava . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
PARTE II - Formação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Medicina é Paixão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Formação Médica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
O Que é Ser Neurocirurgião? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
O Paciente-ateu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Para o Paciente do Facebook . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Medicina é Depressão! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
A Promoção da Lei Anti-promoção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
O Médico Que Conversava . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Paciente Que Não Morria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
PARTE III - Morte ou Ciclo da Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
O Último Dia do Subúrbio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Parada Cardio-Respiratória-Corporal . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Enfermaria Humanizada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Palavras de Desconforto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Ode ao Reclamão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
O Tumor Disseminado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
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PARTE I
Nascimento ou
Poemas Perdidos
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A parte I deste livro contém textos escri-tos pelo Dr. B.P., que preferiu manter-se no anonimato. Ele não quis se identificar, devido à exposição que os mesmos pode-riam lhe trazer. No entanto, causou-me certa inquietação, o fato do autor não ter preocupações em publicar os mesmos textos nas mídias sociais. O Dr. B.P. nos confidencia, que “livro é coisa séria” e não queria se expor. O “nascimento ou poemas perdidos” é uma coletânea de seus poemas, publica-da no Facebook em 2012. Nasceu numa época em que o autor travava uma luta incessante contra a infertilidade, quando residia na cidade de São Paulo.
Não precisou buscar inspiração para es-crever seus poemas/prosas, apenas re-lata o seu dia a dia, com a chegada do primeiro filho, assim como outros textos escritos durante os estudos e viagens re-alizados entre janeiro e dezembro de 2012.
“Nascimento”, reúne poemas escritos em diferentes épocas, abrangendo os mais variados temas de sua vida. A linguagem é simples, assim como o conteúdo, mas es-pero que apreciem.
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9
Ao Beta-HCG
Os exames nos mostram anormalidades
Você não!
Exame alterado?
Risco dobrado
Colesterol ou Glicemia?
Normal é o habitual
Nada foge ao trivial
Mas você é o Beta-HCG
O único que traz novidade
Tira do habitual
Às vezes deixa sem chão
Positivo ou negativo?
Euforia ou decepção?
Já pedi muitos exames
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10
Mas sempre o B-HCG é diferente
Nem sempre a alegria é inicial
Mas sempre traz vida
Sódio
Potássio
Uréia
e Creatinina
Desculpem-me
Prefiro o Beta-HCG
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11
Filho 3D
Há 9 meses, a vontade de ser pai veio positiva
Dois meses depois, veio a fitinha colorida
Não lembro a cor ao certo, mas veio positiva
para Gabriel
Seguida do Beta-HCG positivo
Não gosto muito dos exames de papel
Positivo ou negativo
1.0000 ou 10.000
Queria exames de ver...
Exames…
Eu gosto dos morfológicos
Dos exames anatômicos
Aí começaram os USG
Você era um batimento cardíaco
Mas se movia, não era de papel
Agora, você já é 3D
Meu filho é 3D!
Sua mãe fala que não é exame…
É o sentir bater e o mover...
Mas seu pai só sabe ver exames morfológicos.
E está orgulhoso do filho 3D!
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12
Poema Normal vs Cesariano
É óbvio que há vantagens no poema normal
Ele flui naturalmente
Sem intervenção sobrenatural
Na minha opinião o poema Cesário é superior
O homem que criou!
Não pode sair naturalmente, é um risco sobrenatural
Eu digo, com estatística
No mundo todo a maioria dos poemas são normais
O poeta apenas senta e escreve
É lindo! É natural!
Mas veja o poeta Cesáreo
Ele estudou, treinou e criou
Uma nova porta, uma nova saída
Outro aspecto é o local onde o poema é feito
O poema natural é de casa
No conforto do lar
Não na artificialidade do escritório
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13
Prefiro o poema Cesáreo
Feito no local correto, no escritório
Um poema que nascera num local
estruturado para poesia
Não vamos falar de opinião
Agora vou criar uma legislação
A partir de hoje, só quero poema natural
Você é muito autoritário e otário
Muito poemas morrerão!
Se a rima não fluir, quem consertará?
O escritório é o local de se criar.
Cale a boca seu liberal
Só pensa em dinheiro
Há milênios, só existia poesia normal
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14
O único jeito é criar uma terceira via
O poema cerebral transnasal
Gostei. Como seria?
Nem normal, nem Cesáreo?
Isso. Pensei num poema cerebral transnasal
Nem normal, nem Cesáreo!
Mas me preocupo com o local
Não pode ser no escritório, nem na casa
Não vamos mais brigar!
Definido: o poema será um poema transnasal
e nascerá no espaço sideral!
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15
O Pai Clichê
Num belo dia me tornei um pai clichê
O pai clichê só fala no bebê
Deseja saúde assim que nascer
E será o melhor quando crescer
Se não for saudável não importa
O pai clichê amará o seu bebê
Ele será o melhor, não importa o que venha a ser
O pai clichê só tem filho vencedor
O filho é um herói
Se for pequeno é ágil
Se for grande é fortão
Se ficar rico é esperto
Se for pobre é intelectual
O pai clichê sabe que seu filho está fadado a vencer
O pai clichê só quer dar carinho ao bebê
Sabe que seu filho fará o melhor
O pai clichê tem a capacidade de analisar
E reescrever a história do seu filho vencedor
O pai clichê só quer amar e fotografar
Para um dia se lembrar
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16
A memória é seletiva, as coisas boas ficarão
As ruins se apagarão
A memória será do seu filho, um grande campeão
E no final da vida
Quando o seu dia chegar
Ele se lembrará que deixou para esse mundo
Um grande filho…
O que nunca se repetirá
É seu filho, sua única herança, sua geração…
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17
Meu Bebê com Reflexos Primitivos
Apenas um mês
Tudo mudou
A noite virou dia
O dia virou noite
Peitinho
Fraldinha
Chorinho
Mas o mais importante é que meu filho tinha reflexos
Talvez os outros tivessem, mas não como o dele...
Nunca vi reflexos tão impressionantes
Olha o reflexo Plantar …
Tinha o Palmar
E o Perioral inacreditável!
E Sucção? Nem se fala…
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18
Talvez com o tempo percebemos…
Não é o reflexo que importa
É o amor
A habilidade é a desculpa pra se explicar o amar
Em mais uma semana cheia de cirurgias, tumores
e doenças graves...
Só queria ficar em casa
Passando a tarde testando os reflexos
Os reflexos primitivos…
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19
O Choro, Um Mês
Ele chorava
Ele gemia
Eu pensava
Eu sacudia
Ele arrotava
Ele gorfava
Eu pensava
Eu tinha agonia
Ele parava
Ele dormia
Eu descansava
Eu previa
Ele acordava
Ele comia
Eu observava
Eu sacudia
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20
Ele chorava
Ele sorria
Eu só observava
Eu só torcia
Ele parava
Ele relaxava
Eu trocava a fralda
Eu distraía
Ele chorava
Ele gemia
(retorno ao início)
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21
O Bebê que Parecia
Um bebê tem que parecer
Não importa se é clichê
Você vai ver
E vai dizer
Deixa eu ver
É você!
O bebê
Todo inchado
É gordinho
É você!
O bebê
É chorão
Puxou ao pai
E mãe então?
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22
O bebê não importa
O que ele quer
O quer queremos é conferir
Que genética nunca erra
A genética é cruel
É justiça
É teu filho
Ninguém duvida
Gordinho e chorão
Não podia ser de outro não
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23
Nascimento Médico
O pai não sabia
Se ficava ou se saía
O filho chorava
O paciente sofria
O pai olhava para o filho
O hospital ligava e dizia
Venha ver o paciente
Esse sofria
O pai que era médico
Pensava
Na noite ou no dia
O filho chorava
O paciente sofria
Às vezes imaginava
O médico é para parar de sofrer
O pai para acalmar o bebê
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24
No momento falhava como pai
O bebê chorava
Como médico…
O paciente sofria
Nem sempre podemos tudo resolver
Às vezes temos que respirar
Nossa ansiedade faz o bebê chorar
Nossa ansiedade faz o paciente sofrer
Sendo pai descobri
Que cuidar é perceber
Que para cuidar tem que acalmar
De repente o bebê parou de chorar
De repente o paciente parou de sofrer
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25
O Pai Que Operava
O pai que operava
Tarde retornava
Com cuidado a porta abria
Entrava na ponta dos pés
Se acordasse o bebê
O bebê choraria
O pai não dormiria
A mãe reclamaria
O pai que operava, demorava a dormir
A adrenalina não baixava
O sol raiava
O pai que operava, não tinha hora pra chegar
Não tinha hora de partida
A que horas sairia, não sabia
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PARTE II
Formação
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A parte II deste livro traz textos escritos pelo Dr. B.P. que foram publicados no Ins-tagram, em forma de foto. Ele fotografa-va para lembrar-se de um determinado momento de sua formação acadêmica. E essas fotos, se transformaram em textos, nesse livro.
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29
Medicina é paixão
Tensão
Ingratidão
É se arrepender
Mas não ter nada o que fazer
Não é amor
É paixão
Se você humaniza
A doença desumaniza
Se é atencioso
O sistema despreza
Se ganha dinheiro é mercenário
Se não ganha não é bom
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30
Não tem meio termo
Toma tudo
Seu tempo
Sua juventude
A medicina não perdoa
Um dia salvou!
Outro dia, será que falhou?
Não tem jeito
Ela toma o seu coração
Houve arrependimento?
Não adianta,
Ela que te escolheu
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31
Formação Médica
Aprovado no vestibular
Primeira aula
Os colegas
Primeira prova
Jaleco
Cadáver
Laboratório
Amizades
No hospital
Posto de saúde
A morte
A cura
O primeiro choro
A morte do parente
O primo doente
A paixão
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32
Pai e mãe encantados
Escolha da especialização
Hospital todo dia
Rotina e burocracia
A fantasia acabou
Paciente no corredor
Me chamam de doutor
O remédio acabou
O grande dia chegou
Família reunida
Colegas abraçados
Jaleco escritor doutor.
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O que é ser neurocirurgião?
Com frequência me perguntam
O que é ser neurocirurgião?
É operar doenças do cérebro?
É operar doenças da coluna?
Você quer com honestidade ou o trivial?
Sempre sabemos o que as pessoas querem ouvir…
O difícil é responder o que realmente sentimos
É operar tumores?
É operar aneurismas?
É operar hematomas?
Já vi diversas pessoas definirem ...
Com arrogância ou com tristeza.
E outros até com desesperança…
O peso é grande
O tempo é curto
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34
O difícil é lidar no dia a dia
Te entregarem uma vida… Uma família
E você será o responsável!
Diagnosticar, explicar, operar e cuidar
Neurocirurgia é força
Força de treinar
Força de estudar
Força de estar sempre pronto para atuar
O planejamento é essencial
Mas o corpo não sabe seus planos
A vida não tem rascunho, não respeita seus atos.
Não sei como são as outras profissões
Mas na minha é necessário entender...
Você é o grande responsável
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35
E por tudo que aconteça
O problema é seu
A família lhe confiou uma vida
Você é o neurocirurgião
A anestesia, a UTI, a autorização, a infecção, o san-
gramento
Esse problema também é seu
A família não conhece biologia ou anatomia
Ela só sabe que em você confiou
Não adianta achar ruim
Isso é neurocirurgia
Não é glamour
É cuidar
É saber que irá sofrer
Irá refletir, decidir
Te entregaram uma vida
E o seu papel é cuidar
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36
O Paciente — Ateu
Meu paciente, que só falava de religião,
Entendia tudo de primeira comunhão
Sabia dos cinco livros da Bíblia, o Pentateuco
E do povo fariseu
Entendia do cristão
Do espírita e
da religião do povo pagão
Acorda
Esquece religião
Se você acredita, ou não
Vai falar de outra coisa irmão
Você me olha e já pergunta
E sua religião?
Fala tanto dos cristãos
Que só fala de religião
Que saber? Acho que você virou um ateu religioso
Às vezes até meio jocoso
Mas sempre religioso
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37
Para o Paciente do Facebook
Isso aqui é um poema de Facebook
É curto para ser curtido
Emotivo para ser sentido
Se não gosta
Não curta
Se odeia, comenta
Posto o que vem na cabeça
Sem compromisso e sem encrenca
Faço um texto na hora
Com palavras e sem demora
Quem quer algo de conteúdo
Nem tá no Facebook
Pega um livro na biblioteca
Onde tem os verdadeiros poetas
Quem gostou dá uma curtida
Se amou, vem e comenta
Mas tem sempre o reclamão
Não curte e nem comenta
Diz que é fraca poesia
Coisa de amador
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38
Medicina é Depressão!
Considerando que o médico é sujeito sério
Considerando que está impedido de se fotografar
Considerando que internet é modernidade
Considerando que eu não sei o que vai dar
Veto essa tal de selfie
Que tem dado o que falar
Ainda mais quando tem hashtag
Outra coisa a se vetar
Hospital é lugar sério
Não sorria!
É lugar de chorar
Tem médico que dá até o Whatsapp
Outra modernidade que uso, mas não quero arriscar
Nesse momento está definido
É momento de nos atrasar
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39
Na dúvida sobre seu uso
Esta vedado qualquer um usar
Medicina é tristeza
É tradição
Não é coisa de menino não.
Se quiser ser médico moderno
Pode arrumar suas malas e partir
Não dê telefone ao paciente
Nem e-mail
Nem adicione no Facebook
Nossa medicina é hipocrática
E não dê o Whatsapp
Se não gostou pode sair
Não precisa curtir ou compartilhar
Crítica receberemos por telegrama
O número está na lista telefônica
Está espalhada em todo lugar
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40
A Promoção da Lei Anti-Promoção
Um belo dia, acordei e soube que tudo mudou
Estava no jornal e na TV que o médico
não devia se promover
Saiu tudo ao mesmo tempo
A promoção da lei anti-promoção
Todos os conselheiros foram chamados
nos jornais e nas TV’s
Para falar que todos não podem se promover
No dia anterior, a assessoria do Conselho
deu essa ideia
Era pra todo mundo sair na TV
Para dizer que não era para se promover
Uma boa estratégia para se promover
e dar notícia na TV
Eu sou baiano e desde pequeno
Eu gosto de me promover
Sou médico, escritor, lutador, pai e até cantor
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41
Meu medo é que se a lei para não se promover for
pra valer
Sem dúvida, vão me prender
Antes de sair de casa, li todos os jornais
A assessoria foi esperta
Fez a melhor pauta para se promover
E o Conselho passou o dia todo na TV
Essa idéia de não-promoção é a melhor estratégia
de promoção
Pauta tão boa quanto falar mal de corrupção, erro
médico, e que médico é ladrão
Mas até saber se essa regra é para valer
Vou ficar trancado, me promovendo no espelho
Mas se for real, eu me dei mal
Enquanto não sei do que se trata,
vou ficar aqui em casa
Vou assumir que foi genial a pauta para se promover
Nunca vi tanto conselheiro falando na TV
Quando a idéia parecia que era para não se promover
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42
A você que até aqui me lê
Não vou mentir
Escrevi isso para me promover
Já que não posso ir mais ao jornal ou à TV
Se achou ruim ou se revoltou
e quer saber mais de mim
Pergunte a um colega quem eu sou
Meu endereço ou telefone, eu não lhe dou.
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43
O Médico que conversava
Bom dia, boa tarde ou boa noite
Ele sempre falava
Explicava e contava
Falava histórias
Falava do futuro
Falava e falava
O médico que conversava
Era um falador
Falava de alegrias
Num momento de dor
O médico que conversava
Parece que esquecia onde estava
Era hospital, e ele não parava
O médico que falava e conversava
Isso era durante todo o dia
Durante a enfermaria
Durante a cirurgia
Até quando dormia
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O médico que falava, um dia parou de falar
A laringe adoeceu
A sua voz se cansou
O médico não mais falava, mas conversava
Sua mão virou boca
Seu olhos faziam som
O médico que falava, me mostrou
Que a sua boca é que produzia o som
Mas era seu coração que conversava
Com ou sem som
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Paciente que não morria
Um dia tive um paciente que não morria
A doença era terminal
Todo mundo tinha falado que já se ia e tal
A família se conformou
Mas o paciente só se fortalecia
A cada dia, dizíamos que ele estava mal
Ele me olhava e dizia
Não se preocupe que vou ficar bom
O paciente não sabia que eu achava que ele morreria
Mas ninguém lhe avisou
E a doença se cansou
Um belo dia, ele me avisou:
Hoje vou para casa
A doença não lhe venceria
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O paciente me contou:
Doutor, essa doença lhe enganou
Ela falou que me mataria
Mas ela esqueceu-se de me convencer
Dessa vez não vou morrer
Sou um homem forte
E vou para casa
Dessa vez não vou morrer
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PARTE III
Morte
ou
Ciclo da vida
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Tudo acaba. O sucesso ou a depressão. O livro também... Não sei se o livro conse-guirá relatar tudo o que se passa no dia a dia do médico. É impossível não se sentir um sucesso num dia e no dia seguinte de-primir-se. Lidar com a morte diariamente nos faz assim. Inconstantes! Poucos con-seguem fingir um sucesso inexistente. Li-dar com doenças graves não traz suces-so… Lidar com a morte não traz depressão, nos coloca no chão, no plano real. Que não é ruim, apenas é!O ciclo da vida é assim. Nascemos, cresce-mos, deprimimos, nos sentimos um suces-so e morremos. Alguns já nascem mortos, mas podem ressuscitar durante a vida. A depressão é a única certeza nessa vida. A morte e o sucesso são incertos. Certa-mente, num determinado momento, pas-saremos.O ciclo da vida deve terminar com a morte. Nem todos seguem esse ciclo, já que mor-rem em vida e outros fazem sucesso após a morte. Nessa reta final do livro, trago a morte. O anjo que entristece vários lares, mas traz vida também. Só diante da mor-te nos lembramos que devemos viver.
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O Último Dia do Subúrbio
O último dia do subúrbio
Foi igual
Mais um tiro na cabeça
Não esperava o esperado
O tiro na cabeça
Foi igual a qualquer outro
A massa encefálica saía pelo buraco
O SAMU
Chegou
e deixou
Foi o quê?
Um tiro na cabeça
„Neurocirurgia comparecer ao PS com brevidade”
O que foi?
Um tiro na cabeça!
Como foi?
Alguém deu um tiro na cabeça
Ninguém para conversar
Não tinha parente ou acompanhante
Só isso
Um tiro na cabeça
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Doutor, qual o nome?
Ignorado
Só sabemos que levou um tiro na cabeça
Esqueça Anamnese
É Tomo e sala
É um tiro na cabeça!
“Neurocirurgia comparecer ao PS infantil”
Outro tiro na cabeça?
Não doutor, parece que caiu da laje
É meu último dia no subúrbio!
Não eram fogos de artifício
Era tiro
Mais um tiro na cabeça
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Parada Cardiorespiratória-Corporal
Num belo dia de domingo: parou
Parou?
Parou!
Parou.
Por que parou?
Não sei! Mas depois voltou.
Voltou como?
Parado!
Mas não voltou?
Voltou!
Tinha parado o coração.
E agora?
Parou o corpo.
A parada saiu do coração, mas foi para o corpo.
Parada corporal?
Isso!
É pior…
Foi uma Parada Cardio-respiratóriacorporal
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Enfermaria Humanizada
Sentei-me na cadeira, em frente à atendente. Ela só
queria meus documentos. Só isso. Nem cara de com-
paixão ela fez.
— Bom dia. O senhor vai internar para operar o tumor
cerebral?
— Isso.
— Carteira do SUS?
— Aqui.
— Carteira de identidade?
— Aqui.
— Trouxe os exames?
— Sim.
— O senhor tem direito de ficar na enfermaria huma-
nizada, mas antes terá que ir para o corredor até que
surja uma vaga na enfermaria.
— Já estou acostumado, sei como é...
— Na enfermaria humanizada você divide banheiro,
não tem cama para seu acompanhante e o quarto
também divide com outras cinco pessoas.
— Eu sei como é...
— A vantagem é que o senhor nunca estará sozinho...
— Assine aqui, coloque essa pulseira e pode subir.
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Palavras de Desconforto
— Não é possível doutor! Ela é uma criança…
— Infelizmente a doença é muito agressiva e não está
respondendo aos tratamentos.
— Mas nem a radioterapia doutor?
— Infelizmente, não.
— Mas ela quer ser médica… Era a melhor aluna da
sala. Tem só 6 anos, doutor. Não é possível!
— Vamos continuar os tratamentos.
— O senhor tem filho, doutor?
— Não.
— O senhor não pode imaginar minha dor.
Ela é nossa vida.
— Nós estamos fazendo tudo, dentro das possibilida-
des existentes.
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— Façam o impossível, doutor. O senhor está com
nossas vidas em suas mãos.
— Estamos fazendo o melhor para ela.
— Obrigado, doutor. Às vezes as doenças são desu-
manas. Criança não devia adoecer, ainda mais com
essas doenças…
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Ode ao Reclamão
Esse é para os que reclamam
Do despertar ao adormecer
Se não tem doença
É uma reclamação
Se tem vida
É tristeza
Se tem doença
É maldição
Acorda para checar as notícias
Só lê sobre corrupção, coisa errada
Violência e morte
Julga tudo o que vê
Acha maldita vida do que pensa ser feliz
Alegria lhe parece falsidade
A tristeza é a única realidade
Doutor, por que essa doença?
Isso só acontece comigo
É a minha maldição
Não adianta explicação
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Doutor, não encontrou doença?
Isso é falta de medicação
Veja com calma a minha situação
Alguma coisa está errada
No consultório não poderia dizer
Mas mesmo assim vou dizer
Vou te dar um conselho
Não é remédio, nem nada
Feche os olhos e veja bem
Na vida não tem nada errado
É o seu jeito de olhar
Saúde e doença é uma realidade espalhada
Uma hora todos têm
Não tem nenhuma novidade
O que muda é o jeito de encarar
Viva a vida e a doença
A felicidade e tristeza fazem parte
No final todos sabem em que vai dar
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O Tumor Disseminado
O tumor já se mostrou disseminado
Não avisou ou manifestou
Apenas se disseminou
Não era uma lesão
Nem duas, nem cinco
Eram dez que se contavam
O tumor se disseminou
Não podia dizer outra coisa
Apenas que o cérebro era tumor
Não se via de onde se originou
Só podia diagnosticar
Para nossa consciência acalmar
A lesão era terminal
A doença era fatal
Só sabia olhar e repetir
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O diagnóstico é um detalhe
O importante é que se disseminou
Pulmão, mama ou melanoma?
Não importava a Histologia
A Imuno ou a Biologia
Só sabíamos que se espalhou
Todo o cérebro tomou
Desculpe a minha dureza
Mas sou médico-cirurgião
Só posso te dizer:
O tumor se espalhou
Não consigo agrupar para poder tirar
O tumor se espalhou
Se disseminou
E assim é na vida
Um momento ela se espalha
Sopra tudo
E ela acaba
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Não sei se em dias ou meses
Mas quando espalha não adianta
Só podemos adiar
O ciclo da vida chegou
Não juntou
Somente espalhou
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