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50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS NOTÍCIA MINICURSO REALIZADO EM BELO HORIZONTE ABORDA FUNDAMENTOS DE PROJETOS DE FUNDAÇÕES EM ESTACAS Autor de mais de 300 artigos, o engenheiro Bengt H. Fellenius esteve no Brasil pela segunda vez para abordar temas como análise de transferência de carga, métodos para projetos unificados, ensaio de carregamento estático entre outros Por Dellana Wolney Promovido pelo Núcleo Regional de Minas Gerais da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e En- genharia Geotécnica) em parceria com a Escola de Enge- nharia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), foi realizado no dia 08 de setembro o minicurso “Funda- mentos de Projetos de Fundações em Estacas”, ministra- do pelo renomado engenheiro Bengt H. Fellenius. Ao longo de sua carreira, Fellenius já publicou e expôs Fotos: Divulgação NRMG da AMBS mais de 300 artigos em congressos, seminários e revistas técnicas. De origem sueca, mudou-se para o Canadá no ano de 1972, foi professor de engenharia civil na Universi- ty of Ottawa – Universidade de Ottawa de 1979 até 1998, onde participou da elaboração de várias normas e pro- cedimentos de engenharia de fundações, principalmente na área de Fundações Profundas. Em 1977, foi conside - rado um dos pioneiros na pesquisa e uso de ensaios di- Minicurso em Belo Horizonte aborda fundamentos de projetos de fundações em estacas noticia_fellenious.indd 50 17/11/14 15:20

MINICURSO REALIZADO EM BELO HORIZONTE ABORDA … · estacas sujeitas a um carregamento e o recalque obser-vado em estacas isoladas e grupo de estacas. 4 - Método de Projeto Unificado:

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50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

NOTÍCIA

MINICURSO REALIZADO EM BELO HORIZONTE ABORDA FUNDAMENTOS DE PROJETOS DE FUNDAÇÕES EM ESTACASAutor de mais de 300 artigos, o engenheiro Bengt H. Fellenius esteve no Brasil pela segunda vez para abordar temas como análise de transferência de carga, métodos para projetos unificados, ensaio de carregamento estático entre outros

Por Dellana Wolney

Promovido pelo Núcleo Regional de Minas Gerais da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e En-genharia Geotécnica) em parceria com a Escola de Enge-nharia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), foi realizado no dia 08 de setembro o minicurso “Funda-mentos de Projetos de Fundações em Estacas”, ministra-do pelo renomado engenheiro Bengt H. Fellenius.Ao longo de sua carreira, Fellenius já publicou e expôs

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mais de 300 artigos em congressos, seminários e revistas técnicas. De origem sueca, mudou-se para o Canadá no ano de 1972, foi professor de engenharia civil na Universi-ty of Ottawa – Universidade de Ottawa de 1979 até 1998, onde participou da elaboração de várias normas e pro-cedimentos de engenharia de fundações, principalmente na área de Fundações Profundas. Em 1977, foi conside-rado um dos pioneiros na pesquisa e uso de ensaios di-

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nâmicos em estacas, além de usar os dados obtidos pelo PDA (Prova de Carga Dinâmica) em projetos e execução de fundações em estacas.O engenheiro também se destaca por ser um dos três au-

tores do relatório publicado em 2012 pela ASCE (American Society of Civil Engineers) sobre o “Passado e o Presente de Fórmulas Dinâmicas de Cravação”. No ano de 2012, o Geo- Institute, vinculado a ASCE, produziu uma Geotechnical

SEQUÊNCIA DOS TEMAS APRESENTADOS DURANTE O MINICURSO:

1 - Análise de Transferência de Carga, Capacidade e Res-posta ao Carregamento: carga x movimentação (Fellenius denomina desta forma o que comumente é chamado de deslocamento); capacidade suporte e transferência de carga pelos métodos beta, alfa e lambda, pelos métodos de CPT (Cone Penetration Test) e CPTU (Piezocone Penetra-tion Test); cicatrização e relaxação; carga residual; resulta-dos de estimativas de cargas.

2 - Ensaio de Carregamento Estático – Desempenho, Análi-se e Instrumentação: métodos de ensaios estáticos e inter-pretação básica de resultados; como analisar resultados de estacas instrumentadas para se conhecer a distribuição de resistência ao longo do fuste e da ponta da estaca; deter-minação do módulo de elasticidade da estaca; importância da carga residual e como incluir sua participação na análise;

princípios do ensaio bidirecional e alguns casos de análi-ses em resultados de provas de cargas estáticas em esta-cas cravadas e estacas moldadas no solo.

3 - Estaca e Grupo de Estacas – Comportamento a Longo Prazo: importantes casos históricos apresentando estu-dos que demonstram a real resposta a longo prazo de estacas sujeitas a um carregamento e o recalque obser-vado em estacas isoladas e grupo de estacas.

4 - Método de Projeto Unificado:• Capacidade (escolha do fator de segurança e regras de projeto de estado limite) e projeto para resis-tência estrutural, incluindo força de atrito;• Recalque de estaca isolada e grupo de estacas devido à carga aplicada diretamente nas estacas e devi-do à influência de atrito negativo;• Como combinar os vários aspectos de projeto de uma obra (atual) com ênfase no recalque de fundações.

Fellenius durante o minicurso

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Da esquerda para a direita: o presidente do Núcleo Regional de Minas Gerais da ABMS, Ivan Libanio Vianna; o diretor da empresa Arcos, Mauricio Chaves; o engenheiro da Arcos, Alysson Resende; o engenheiro Fellenius e a vice-presidente do Núcleo Regional de Minas Gerais da AMBS, Cássia Azevedo

Special Publication (edição especial da publicação) sobre o tema “Role of Full-Scale Testing in Foundation Design”, em ho-menagem a Fellenius.Com uma carreira notável e muito admirada pelos pro-fissionais brasileiros, em sua segunda visita ao Brasil, ele ministrou o minicurso que contou com a presença de 52 engenheiros geotécnicos projetistas de fundações, con-sultores e profissionais da área, além de estudantes de pós-graduação vindos de várias partes do País. Foram quase nove horas de apresentação, em inglês com tradu-ção simultânea para o português.Segundo a apostila distribuída aos participantes, a intenção principal do minicurso foi mostrar que um projeto de fundações profundas envolve mais do que o conhecimento de algum valor de capacidade de car-ga da estaca. Além disso, na ocasião foram apresenta-das informações nas quais devem ser conhecidas pelo projetista para sua análise, assim como os cálculos adequados para o projeto de fundações de uma deter-minada obra. O atrito lateral negativo e sua associada força de atrito foram elementos fortemente enfatiza-dos por Fellenius.“Projetar um estaqueamento requer a compreensão de como a carga é transferida da estaca para o solo e, me-nos óbvio, mas igualmente importante, do solo para a estaca”, afirma o engenheiro, que também completa que a análise de recalque é de vital importância no projeto de fundações em estacas. Na ocasião ainda foi salienta-do os princípios de análise de recalques e apresentadas algumas maneiras de prevê-los. Detalhes de cravação e execução das estacas foram comentados, bem como al-

guns requisitos de códigos e regulamentos no exterior para projetos de estacas.

EXEMPLIFICAÇÃODe acordo com o engenheiro e presidente do Núcleo Re-gional de Minas Gerais da ABMS, Ivan Libanio Vianna, hou-ve a apresentação de casos reais de obras em várias partes do mundo, todas contendo ilustrações e explicações deta-lhadas pelo engenheiro Bengt H. Fellenius. “Nas análises de previsão de recalque e curva carga x recalque, o professor utilizou um software desenvolvido por um de seus ex-alu-nos, Pierre Goudreault, denominado UniPile. A idealização da sequência de instruções também teve a participação de Fellenius”, explica.Diversas vezes, durante o minicurso, Fellenius destacou a importância da carga residual da estaca. “Se quisermos conhecer a distribuição de cargas, podemos medi-la, mas o que medimos é o aumento de carga na estaca devido à carga aplicada em seu topo. E como fica a carga da estaca que havia nela antes do ensaio ser iniciado? Ela é a carga residual”, reforça.Ainda em seu relato, ele diz que sempre que se assume de alguma maneira otimista ou inocente que a leitura antes do início do ensaio de carga representa a condição de “sem carregamento”, no momento de iniciar o ensaio de carga, já há carregamentos na estaca e são frequente-mente altos. Numa estaca moldada no solo, essas cargas são uma parte do efeito de temperatura gerado durante a cura do concreto. Então, a cicatrização (set-up) do solo depois da cravação ou da execução da estaca impõe car-gas adicionais a ela.Como um entusiasmado defensor do Teste de Carga Bidi-recional, Fellenius mostrou que esse método possibilita conhecer melhor a resposta de movimentação da ponta da estaca quando é carregada, e com isso fez um relato do desenvolvimento desse teste, citando os pioneiros: Gibson, Devenny (1973) e Amir (1983) e o desenvolvimento inde-pendente feito no Brasil em 1983 pelo engenheiro e diretor da empresa Arcos, Pedro Elísio Chaves.Em 1988, o engenheiro Jorj O. Osterberg conheceu o tra-balho de Chaves no Brasil e surgiu por algum tempo uma parceria entre a Arcos e a empresa americana Loadtest. Segundo Fellenius, fora do Brasil, o método é conhecido como “O-Cell test” (Osterberg Cell Test), que de certa forma não divulga o mérito de Pedro Elísio Chaves pela decisiva contribuição no desenvolvimento da célula hidrodinâmica que a tornou popular no mundo inteiro. “O engenheiro Bengt H. Fellenius prometeu voltar ao Brasil para o COBRAMSEG 2016 (Congresso Brasileiro de Mecâ-nica dos Solos e Engenharia Geotécnica) que acontecerá em Belo Horizonte (MG), onde realizará novamente este minicurso e, segundo ele, possivelmente apresentará mais novidades e conhecimento”, comenta Vianna. A matéria do minicurso está contida no seu livro “The Red Book Basics of Foundation Design”, atualizado periodicamente. O conteú-do pode ser baixado pela internet em arquivo no formato PDF (Portable Document Format) gratuitamente na seção “Download” do site www.fellenius.net

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