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Máximo, o Confessor:  Deus é a  Mônada Pura Autor: Sávio Laet de Barros Campos. Bacharel-Licenciado em Filosofia Pela Universidade Federal de Mato Grosso. 1) Deus, a Criação, o Homem e a Escatologia  1.1) Deus, Mônada Pura  e Princípio  de Movimento  Deus é a mônada pura. Não se trata, no entanto, daquela unidade numérica, que quando somada à outra unidade, produz múltiplos números. Com efeito, Deus é o  princípio de toda a unidade, é a própria unidade, indivisível e não multiplicável. Importa dizer ainda, que Deus mônada indivisível  é também princípio de movimento. 1 1.2) O Movimento  da Mônada em Si Mesma Agora bem, o  primeiro destes movimentos é aquele pelo qual a  Mônada origem, por geração, ao Verbo, que é a expressão perfeita  de sua própria essência. Destarte, desta díade surge, concomitantemente, o  Espírito 1 Etienne Gilson. A Filosofia na Idade Média. p. 91: “Deus é a mônada pura, não essa unidade numérica, que gera números por adição, mas a fonte, ela mesma indivisível e não multiplicável. A Mônada é, pois, o princípio de certo movimento.” Princípio de movimento, mas sendo ele próprio imóvel, ou como veremos mais adiante, aquele que move-se a si imovelmente (ver nota 25). 

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Máximo, o Confessor: Deus é a

 Mônada Pura 

Autor: Sávio Laet de Barros Campos. 

Bacharel-Licenciado  em Filosofia Pela

Universidade Federal de Mato Grosso.

1) Deus, a Criação, o Homem e a Escatologia 

1.1) Deus, Mônada Pura e Princípio de Movimento 

Deus é a mônada pura. Não se trata, no entanto, daquela unidade

numérica, que quando somada à outra unidade, produz múltiplos números. Com

efeito, Deus é o  princípio  de toda a unidade, é a própria  unidade, indivisível  e

não multiplicável. Importa dizer ainda, que Deus  – mônada indivisível  – é

também princípio de movimento.1

1.2) O Movimento da Mônada em Si Mesma 

Agora bem, o  primeiro  destes movimentos  é aquele pelo qual a

 Mônada  dá origem, por geração, ao Verbo, que é a expressão perfeita  de sua

própria essência. Destarte, desta díade  surge, concomitantemente, o  Espírito

1 Etienne Gilson. A Filosofia na Idade Média. p. 91: “Deus é a mônada pura, não essa unidade

numérica, que gera números por adição, mas a fonte, ela mesma indivisível e não multiplicável.

A Mônada é, pois, o princípio de certo movimento.” Princípio de movimento, mas sendo ele

próprio imóvel, ou como veremos mais adiante, aquele que move-se a si imovelmente (ver nota

25). 

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Santo  que  produz  a tríade.2

Cumpre salientar também, que este movimento  de

Deus em si mesmo, é todo ele a manif estação perfeita de Deus em sua unidade 

trina:

Porque nosso culto não se dirige a uma monarquia mesquinha e

circunscrita por uma só pessoa (como a dos judeus), ou, ao

contrário, confusa e que se perderia no infinito (como a dos

pagãos), mas sim à Trindade do Pai, do Filho e do Espírito

Santo, cuja dignidade é naturalmente igual. A riqueza deles é

essa mesma concordância, essa irradiação ao mesmo tempo

distinta e una, além da qual não se difunde mais a divindade.

Assim, sem introduzir um povo de deuses, não conceberemos a

divindade como de uma pobreza vizinha da indigência.3

1.3) O Movimento de Deus Fora de Si Mesmo: A Criação 

Ora bem, este  primeiro  movimento que acabamos  de descrever , dá

origem, por sua vez, a um outro: trata-se daquele movimento de Deus fora de si

mesmo, pelo qual Deus se manifesta em seres que não são Ele.4 De fato, o Verbo,

sendo a expressão plena da Mônada, contém em si a essência de todos aquelesseres  que existem  ou deverão  existir .

5Desta sorte, no Verbo, todos  estes seres

são eternamente conhecidos  e amados; ademais, no Verbo ainda, subsiste 

também o decreto  que determina  desde sempre, que estes seres, em dado 

2 Idem. Ibidem: “O primeiro movimento da Mônada dá nascimento à Díade, por geração do

Verbo, que é sua manifestação total; depois sobrepuja a Díade produzindo a Tríade, pela

processão do Espírito Santo.” 3 Máximo, o Confessor. Oeuvres, em Migne, Patr. gr., tt XC-XCI. Etienne Gilson. Op. Cit.

Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: MARTINS FONTES, 1995. p. 91.4 Etienne Gilson. Op. Cit. p. 9: “Esse primeiro movimento é o princípio de um segundo: a

manifestação de Deus fora de si, em seres que não são Deus.”  

5 Idem. Op. Cit.: “Conhecimento perfeito da mônada, o Verbo contém eternamente em si a

essência, isto é, a própria realidade (ousia) de tudo o que existe ou deverá existir.” 

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momento  oportuno,  passarão  a existir .6

Donde, a  produção  dos seres  não

implicar  em mudança ou nova decisão em Deus. Desta feita, enquanto subsistem 

eternamente  no intelecto  e na vontade divina, estes seres  chamam-se  idéias:

“Enquanto objetos da presciência e da vontade de Deus, esses seres chamam-se

Idéias.”7

1.4) A Criação como Revelação de Deus 

Sem embargo, já que não são Deus, estes  seres  não O expressam

 perfeitamente, mas somente  parcialmente.8 Contudo, conquanto sejam

expressões parciais  e  finitas, são  bons  na medida  em que são  seres  que 

expressam alguma perfeição divina. Agora bem, esta revelação de Deus fora de

si mesmo, chamamos criação.9

Porquanto, a criação procede da bondade divina,

que deseja ir radiar   nas criaturas, expressões  – ainda que pálidas – do seu

próprio ser .10 

Ora bem, estas expressões obedecem  a uma hierarquia. De sorte

que, alguns destes  seres  são  permanentes  e  passam  a ocupar o seu  lugar   no

universo  por todo tempo, enquanto que os  demais, porém, são contingentes e

ocupam o seu lugar  até quando seu o tempo findar :

Por isso, vemo-la (as criaturas) aparecerem numa espécie de

hierarquia, cada uma no lugar que sua perfeição própria lhe

atribui, as que são permanentes ocupando-o por toda duração do

6 Idem. Op. Cit.: “Cada um destes seres é, aí, eternamente conhecido, querido, decretado, para

receber seu ser e sua substância em tempo oportuno.” 

7 Idem. Op. Cit. 8

Idem. Op. Cit.p. 91 e 92: “A esse título, cada um deles é uma expressão parcial e limitada daperfeição de Deus.” 

9 Idem. Op. Cit. p. 92: “Portanto, é uma manifestação dela (da perfeição divina), finita mas boa,

na medida de seu ser, pela qual Deus pode se revelar.  Esta revelação de Deus chama-se

criação.” (O parêntese e o itálico são nossos).10  Idem. Op. Cit.: “Por uma efusão de pura bondade, a Trindade divina irradia estas expressões

de si, que são as criaturas.” 

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Deus, consistirá, justamente, no desfrute de Deus; Deus será, pois, a sua

recompensa. Entretanto, para aquele que, ao contrário, escolher   se  afastar   da

 participação na divindade, o seu próprio ato virá acompanhado do seu castigo,

qual seja, a não fruição de Deus:

De fato, todo crescimento voluntário de participação na

perfeição divina é acompanhado por um desfrute de Deus que é

sua própria recompensa; toda  não-participação voluntária

acarreta, ao contrário, uma exclusão dessa fruição que comporta

seu próprio castigo.

1.5.1) O Homem como Senhor do Seu Destino na Hierarquia 

Com efeito, o homem é um daqueles seres que podem construir  o seu

destino. De fato, contanto seja composto  de um corpo  material  divisível, e,

portanto,  perecível, é também  dotado de uma alma  imaterial  indivisível , 

imperecível , e por isso mesmo imortal.

Além disso, o corpo  só existe  enquanto unido  à alma. Daí   a

impossibilidade  de admitirmos  que a  alma  venha a existir   sem o corpo.16 

Tampouco é  possível concordar   com Orígenes, quando este diz  que a alma 

 preexiste ao corpo, visto que isto  levaria a dizer  que Deus  fez o corpo para ser

uma prisão da alma. Ora, não é correto – segundo o nosso filósof o – pensar  que

o pecado dos homens pudesse determinar  ou mudar  a vontade de Deus.17 

Aliás, esta posição concorda, com a concepção das essências eternas 

no Verbo. Sem embargo, segundo Máximo, a união de alma e corpo é desejada

por Deus – desde toda a eternidade – e tal união é boa pela sua própria natureza:

16  Idem. Op. Cit: “Como o corpo não poderia existir sem ela (a alma), não poderia existir antes

dela.” (O parêntese é nosso).17  Idem. Op. Cit.p. 92 e 93: “Tampouco digamos, com Orígenes, que a alma existe antes do

corpo: seríamos levados, com isso, ao monstruoso erro de crer que Deus criou os corpos tão-

somente como prisões em que as almas dos pecadores cumprem a pena por seus crimes. O que

os homens fizeram não pôde determinar a vontade divina.” (O itálico é nosso).

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“É desde  toda a eternidade, por sua bondade e pela bondade própria deles, que

Deus quis os corpos tanto quanto as almas.”18 

Portanto, resta, pois, admitir que a

alma passa a existir simultaneamente ao corpo.

1.5.1.1) A Queda do Homem

Desta feita, o  homem  era assim capaz  de mover -se  em direção  ao

Criador imóvel. Sua posição intermediária na hierarquia dos seres, convidava-o 

a um papel unificador . Com efeito, o homem, por seu corpo, estava disperso na

multiplicidade da matéria, mas por sua alma estava ligado ao uno, Deus.19 

Deveras, deveria ele ter reunido os múltiplos dados  provindos de sua

 parte sensível, para  ordená-los  a Deus pelo seu  intelecto.20  Ora, o homem fez 

exatamente  o contrário. Doravante, d ispersou o  uno  no múltiplo  e  preferiu  o

conhecimento das coisas sensíveis (inferiores a ele próprio) ao conhecimento de

18 Idem. Op. Cit.p. 93.19  Idem. Op. Cit: “Assim criado em sua alma e em seu corpo, o homem era capaz de se mover

pelo conhecimento em direção ao centro imóvel que é seu criador, e a posição que ele ocupa na

hierarquia dos seres convidava-o, inclusive, a nela representar um papel unificador de

importância capital. Em contato com a dispersão da matéria por seu corpo, ele o estava com a

unidade divina por seu pensamento.” (O itálico é nosso). 20  Idem. Op. Cit: “Sua função própria era, pois, recolher o múltiplo na unidade de seu

conhecimento e reuni-lo, assim, a Deus.” Máximo O Confessor. Ambiguorum Liber. In:

DARIO ANTISERI, Giovanni Reale. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. Trad. Ivo

Storniolo. Rev. Zolferino Tonon. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 66: “(...) e a quinta (divisão

da natureza) é aquela segundo a qual o homem, que está acima de todos como um cadinho que

contém em si a totalidade, tornando-se em si mesmo entre todos os extremos de toda divisão,

com bondade introduzido com o nascimento entre os  existentes, se subdivide em macho efêmea. Tem claramente a plena capacidade de unir naturalmente, pois está no meio de todos os

extremos, graças às propriedades relativas a todos os extremos de suas partes, por meio dos

quais, realizando o modo da gênese das coisas distintas, de maneira conforme à causa, teria

revelado por si o grande mistério do escopo divino, tendo feito harmoniosamente terminar em

 Deus a união recíproca dos extremos seres, procedendo dos próximos aos distantes e

sucessivamente para o alto dos piores aos melhores (...)”. (O parêntese e os itálicos são nossos).

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Deus.21 Agora bem, como para o ser , é uma só coisa ser  e ser uno,

22 quando o

homem se desviou do uno para o múltiplo,  praticamente se voltou ao não-ser 23

:

(...) Uma vez que o homem, depois que foi criado, não se moveu

naturalmente para o imóvel, como seu Princípio (digo, Deus),

mas se dirigiu contra a natureza, voluntariamente, de modo

irracional, para aquilo que está abaixo dele, sobre o qual ele

próprio por ordem divina teria devido comandar (...), e assim

pouco faltou para que ele de novo miseravelmente corresse o

perigo de afundar no não-ser (....).24 

1.5.1.1.1) A Encarnação no Plano da Salvação 

Desta sorte, Aquele que é imóvel por essência, para salvar  o homem

decaído,  pôs-se  em movimento.25  Este movimento  de Deus consistiu,

precisamente, no acontecimento da Encarnação, quero dizer, Deus se fez homem 

para salvar o homem.26  Encarnou-se  porque era necessário, para  reconduzir   o

homem à unidade, que participasse da sua natureza integral, vale dizer, do corpo

21  Etienne Gilson. A Filosofia na Idade Média. p. 93. “O homem fez justo o contrário: em vez

de reunir o múltiplo relacionando as coisas a Deus, ele dispersou o que era uno desviando-se do

conhecimento de Deus para o conhecimento das coisas.” (O itálico é nosso). 22 Idem. Op. Cit: “Ora, para qualquer ser, é uma só e única coisa ser e ser uno.” 

23  Idem. Op. Cit: “Dissolvendo-se no múltiplo, o homem chegou quase a tornar a cair no não-

ser.” 

24 

Máximo O Confessor. Ambiguorum Liber. In: DARIO ANTISERI, Giovanni Reale.História da Filosofia: Patrística e Escolástica. Trad. Ivo Storniolo. Rev. Zolferino Tonon. 2º

ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 64.

25  Etienne Gilson. A Filosofia na Idade Média. p. 93: “Foi então que Aquele que, por sua

natureza, é inteiramente imóvel, ou, se se preferir, Aquele que só se move imovelmente em si,

pôs-se por assim dizer em movimento rumo à natureza decaída, para recriá-la.” 

26 Idem. Op. Cit: “Deus se fez homem para salvar o homem em perdição.” 

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e da alma. Cristo, ao se fazer igual a nós em tudo exceto no pecado, nos libertou,

enfim, do pecado27

:

 E Deus se torna homem a fim de salvar o homem perdido, tendo

unificado em si as partes dispersas da natureza na sua totalidade

e as formas universais dos particulares, de que devia surgir por

natureza a união daquilo que estava dividido (...).28 

Além do mais, segundo a cristologia de Máximo, a geração não-

carnal  de Cristo, quis nos  dizer , ademais, que outro  tipo  de geração  seria 

 possível, se o homem não tivesse caído em desgraça. De fato, a divisão dos sexos 

foi uma conseqüência  do  pecado, pois reduziu  o homem  a uma reprodução  tal

como acontecem nos animais:

Nascido de uma geração não carnal, ele nos mostrou que outra

multiplicação do gênero humana teria sido possível e que a

distinção entre os sexos não teria sido necessária, se o homem

não se tivesse, ele próprio, rebaixado ao nível dos animais,

abusando da sua liberdade.29 

1.5.1.1.1.1) A Redenção Humana na União com Deus 

Desta feita, fica  estabelecido  a união  do  homem  com Deus é a sua

redenção.30 Mas o homem se une a Deus movendo-se para Ele. Ora, quem nos faz 

27 

Idem. Op. Cit: “Porque Jesus Cristo fez seu tudo o que é do homem, salvo o pecado, para noslibertar do pecado.” 

28  Máximo O Confessor. Ambiguorum Liber. In: DARIO ANTISERI, Giovanni Reale.

História da Filosofia: Patrística e Escolástica. Trad. Ivo Storniolo. Rev. Zolferino Tonon. 2º

ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 62. 29 Etienne Gilson. A Filosofia na Idade Média. p. 93. 30 Idem. Op. Cit: “Essa reunião da natureza humana à natureza divina é a redenção do homem.” 

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ser e ser bem  é Deus. Logo, será  Deus também quem nos  impulsionará  a nos

movermos a Ele.31 

Ora bem, mover  é conhecer . Movemo-nos para Deus, portanto, quando 

o conhecemos melhor 32. Mas conhecer a Deus é tornar-se, justamente,

semelhante a Ele, pois todo o conhecimento é uma forma de assimilação.

Como, no entanto, é  possível conhecer   o sumo bem,  sem ao mesmo

tempo  amá-lo? Ora, o homem, destarte, quando  conhece  a Deus, também o

ama33

. Ademais, quanto mais o conhece, mais se une a Ele pelo amor , e não 

descansará , enquanto não estiver totalmente envolto nEle.

Gilson, quando  procura descrever   o  êxtase  do homem, que unido

completamente a Deus,  passa a ser novamente e tão-somente semelhante a Ele,

assinala que, neste momento, acontece o que diz São Paulo: já não sou eu quem

vive, mas é Cristo quem vive em mim:

Êxtase bem-aventurado, em que a natureza humana participa da

semelhança divina a ponto de não ser mais que essa própria

semelhança e, sem cessar porém de ser ela mesma, passa, por

assim dizer, a Deus.  Então, não é mais o homem que vive, é

Cristo que vive nele.34 

 Movendo-se , pois ,  desta forma pelo conhecimento  a Deus, o homem

 faz o movimento inverso ao da sua queda, e reascende à sua causa e idéia eterna,

que existem, eternamente, no Verbo d ivino.35 

Com efeito, o homem decaído  é

31  Idem. Op. Cit. p. 94: “De fato, Deus concede às coisas serem e serem bem; é ele que nos

move e que nos move em direção a ele , para que sejamos melhores ainda.” (O itálico é nosso). 32 

Idem. Op. Cit: “Mover-se em direção a Deus é, portanto, trabalhar para conhecê-lo; melhorconhecê-lo é aproximar-se dele assimilando-se a ele.” 

33 Idem. Op. Cit: “Conhecendo Deus, o homem começa, pois, a amá-lo.” 

34 Idem. Op. Cit. (O itálico é nosso). 35Idem. Op. Cit: “Movendo-se assim até Deus pelo conhecimento, o homem não faz mais que

reascender, por um movimento inverso à sua queda, em direção à idéia eterna dele mesmo que,

como sua causa, nunca cessou de existir em Deus.” 

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aquele que se  separa  de sua causa eterna, da qual, não obstante, depende.36 

Donde, enfim, estar assim novamente unido à sua essência divina, é para todos os

homens errantes, a sua salvação.37 

Cada homem, pois, é  parte de Deus, no

sentido de que a sua idéia subsiste eternamente no intelecto divino.38 

1.5.1.1.1.1.1) O Retorno das Criaturas Para Deus A Partir do Homem 

Inclusive, este  êxtase  prenuncia o  dia  da divinização  de todas  as

coisas. Esta consistir á, precisamente, no  retorno  de todas  as coisas  às suas

essências eternas em Deus.39 

De fato, o homem é o meio catalisador  de toda esta

volta. Pois se foi com a sua queda que o cosmos caiu na corrupção, é em vista do

seu soerguimento , que todas as coisas serão restauradas.40 

Agora bem, a primeira coisa a ser abolida neste novo universo, será a

divisão dos sexos, pois os homens serão iguais aos anjos. Em seguida, ademais, a

terra passará por uma metamorfose, que acarretará na supressão da divisão entre

o sensível e o inteligível, e a terra se tornará, finalmente, como o céu. Por fim,

quando todas as coisas  tiverem retornad o às  suas essências eternas, Deus será

tudo em todos e para todo o sempre:

36 Idem. Op. Cit: “Cada homem decaiu de Deus separando-se da causa divina de que depende.” 

37  Idem. Op. Cit: “Alcançar, assim, sua essência divina é, aliás, para todos os separados de Deus

pelo erro do homem, a salvação que eles devem esperar.”  

38 Idem. Op. Cit: “Cada homem é verdadeiramente uma parte de Deus (moira theou), no sentido

de que sua essência preexiste eternamente Nele.” (O itálico é nosso). 39 

Idem. Op. Cit. p. 94 e95: “O êxtase é um momento anunciador da eternidade futura, em quese efetuará a divinização (theôsis) de todas as coisas, por seu retorno às essências eternas de que

dependem e de que estão, presentemente, separadas, cada parte de Deus reencontrando então

seu lugar em Deus.” 

40  Idem. Op. Cit. p. 95: “Porque o homem é o meio e o nó de todas as naturezas criadas, e como

é por sua defecção que todo o resto se exilou de seu princípio, seu retorno a Deus acarretará o

do mundo inteiro.” 

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A divisão dos humanos em dois sexos distintos será a primeira a

se apagar; a terra habitada se metamorfoseará  em seguida,

unindo-se ao paraíso terrestre; depois ela se tornará semelhante

ao céu, habitada que será, como ele, por homens tornados

semelhantes aos anjos; então, finalmente se abolirá a distinção

entre o sensível e o inteligível. Nascida primeiro, esta será a

última a desaparecer. Mas desaparecerá, na medida em que

todas as coisas estarão enfim reunidas a suas essências eternas e 

 Deus será todo de todos, para todo o sempre.41 

41  Idem. Op. Cit. Máximo O Confessor. Ambiguorum Liber. In: DARIO ANTISERI, Giovanni

Reale. História da Filosofia: Patrística e Escolástica.  Trad. Ivo Storniolo. Rev. Zolferino

Tonon. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 62: “E assim realizou o grande Desígnio do Pai,

recapitulando tudo aquilo que está no céu e sobre a terra em Si, em que tudo foi criado.” 

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 BIBLIOGRAFIA

B. ALTANER, A. Stuiber. Patrologia. Trad: Monjas Beneditinas. Rev. Honório

Dalbosco. 3º ed. São Paulo: PAULUS, 2004. p. 516.

Dicionário de Termos Religiosos e Afins. Trad. Pe. Francisco Costa. São Paulo:

EDITORA SANTUÁRIO, 1994. Verbete: “Monotelismo”.

GILSON, Etienne. A Filosofia Na Idade Média.  Trad. Eduardo Brandão. São

Paulo: MARTINS FONTES, 1995. p. 90 a 95.

MÁXIMO. Ambiguorum Liber. In: DARIO ANTISERI, Giovanni Reale.

História da Filosofia: Patrística e Escolástica.  Trad. Ivo Storniolo. Rev.

Zolferino Tonon. 2º ed. São Paulo: Paulus, 2005. p. 61, 62 e 66.

_____. Oeuvres, em Migne, Patr. gr., tt XC-XCI. In: Op. Cit. Trad. Eduardo

Brandão. São Paulo: MARTINS FONTES, 1995. 

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