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MA311 - Calculo III Primeiro semestre de 2020 Turma B { Curso 51 Ricardo M. Martins [email protected] http://www.ime.unicamp.br/ ~ rmiranda Aula 28: Exponencial matricial

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MA311 - Calculo III

Primeiro semestre de 2020

Turma B – Curso 51

Ricardo M. Martins

[email protected]

http://www.ime.unicamp.br/~rmiranda

Aula 28: Exponencial matricial

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Exponencial de.. matrizes?

Se t ∈ R, ja vimos que

exp(t) = et =∞∑k=0

1

k!tk = 1 + t +

t2

2!+

t3

3!+ . . . ,

pois esta serie de potencias tem raio de convergencia R =∞.

Seja A ∈ Mn×n(R) uma matriz n × n de entradas reais. Definimos

a exponencial de A por

exp(A) = eA =∞∑k=0

1

k!Ak = Id + A +

1

2!A2 +

1

3!A3 + . . . .

SOMA INFINITA DE MATRIZES? O QUE E ISTO?

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Exponencial de.. matrizes?

Quando estudamos series numericas, a nocao de soma infinita era

apresentada como limite de uma sequencia: a sequencia das somas

parciais.

Para sequencias, a nocao de convergencia e bem conhecida:

dizemos que a sequencia (xn)n de numeros reais converge para

a ∈ R se dado ε > 0, existir n0 ∈ N tal que |xn − a| < ε sempre

que n ≥ n0.

Na definicao acima, se ingenuamente trocarmos os termos da

sequencia de xn ∈ R por Xn ∈ Mm×m(R), o “unico” conceito que

nao pode ser passado diretamente para matrizes e a parte |xn − a|,pois nao sabemos o que isto significa para matrizes.

So nos falta a nocao de “distancia” entre duas matrizes. Vamos

definir precisamente o que significa isto.

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Metricas

Existem varias nocoes de distancia em matematica, e uma das

mais simples e a metrica.

Seja X um conjunto. Uma metrica em X e uma funcao

d : X × X → R que satisfaz

# d(x , y) ≥ 0 para todos x , y ∈ X

# d(x , y) = 0⇔ x = y

# d(x , y) = d(y , x), para todos x , y ∈ X .

# d(x , z) ≤ d(x , y) + d(y , z), para todos x , y , z ∈ X

O par (X , d) se chama espaco metrico.

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Metricas

Vantagem enorme da metrica: pode ser colocada num conjunto

qualquer, sem estrutura adicional.

Limitacoes: em conjuntos sem estrutura, nao da para medir

“tamanhos” de elementos, so distancias.

Se (X , d) e um espaco metrico, dado a ∈ X e r > 0, o conjunto

B(x , r) = {y ∈ X , d(x , y) < r}

e chamado de bola aberta com centro x e raio r .

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Metricas

Exemplo

Se X 6= ∅, podemos definir uma metrica em X como sendo

d(x , y) =

1, x 6= y ,

0, x = y .

Quem sao as bolas B(x , r)?

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Metricas

Exemplo

Se X = R, entao uma metrica canonica e dada por

d(x , y) = |x − y |,

onde

|z | =

z , z ≥ 0,

−z , z < 0.

Verifique que de fato d satisfaz aos axiomas de metrica.

Neste caso, quem e B(a, r)?

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Metricas

Exemplo

Se X = Rn, entao a metrica canonica e

d(x , y) = ||x − y ||,

onde se z = (z1, . . . , zn) temos ||z || =√z21 + . . .+ z2n .

Neste caso, quem e B(a, r)?

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Metricas

Exercıcio

Em R2, descreva B(a, r) para as metricas

d1(x , y) = |x1 − y1|+ |x2 − y2|

e

d2(x , y) = max{|x1 − y1|, |x2 − y2|}.

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Normas

Em conjuntos com estrutura melhor, o conceito de norma tambem

pode ser usado para medir tamanhos e distancias. Toda norma

induz uma metrica, mas a recıproca e falsa.

Se X e um espaco vetorial real ou complexo, uma funcao

|| · || : X → R+

e uma norma se

# ||x || = 0⇔ x = 0

# ||αx || = |α| · ||x ||# ||x + y || ≤ ||x ||+ ||y ||

O par (X , || · ||) e chamado de espaco vetorial normado.

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Normas

# Se || · || e uma norma, entao d(x , y) = ||x − y || e uma metrica.

# Nao vou falar de produto interno, mas deveria.

Exemplo

O exemplo que voce precisa ter na mente e Rn com a norma usual

||x || =√

x21 + . . .+ x2n .

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Normas

Exemplo

Outro exemplo importante: seja l∞ o conjunto de todas as

sequencias limitadas. Entao l∞ e um espaco normado, com norma

||(xn)||∞ = sup{|xn|}.

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Normas

Podemos introduzir a nocao de convergencia de sequencia em um

espaco normado da seguinte forma.

Seja (X , || · ||) um espaco normado e (xn)n uma sequencia em X ,

ou seja, x : N→ X e uma funcao e iremos denotar xn = x(n).

Diremos que (xn)n converge para a ∈ X se, dado ε > 0, existir

n0 ∈ N tal que ||xn − a|| < ε para todo n ≥ n0.

Diremos que (xn)n e uma sequencia de Cauchy em X se, dado

ε > 0, existir n0 ∈ N tal que para todos m, n ≥ n0 temos

||xn − xm|| < ε.

Um espaco vetorial normado onde toda sequencia de Cauchy

converge e chamado de espaco de Banach.

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Norma para espaco vetorial das matrizes

Vamos denotar por L(Rn) o espaco vetorial dos operadores lineares

de Rn em Rn. Note que L(Rn) e isomorfo a Mn×n(R) (este

isomorfismo depende de uma escolha de base).

Vamos introduzir uma norma no espaco L(Rn).

Denotaremos por 〈·, ·〉 o espaco interno usual de Rn e por || · || a

norma usual, ou seja, se x = (x1, . . . , xn) e y = (y1, . . . , yn) entao

〈x , y〉 = x1y1 + . . .+ xnyn

e

||x || =√〈x , x〉 =

√x21 + . . .+ x2n .

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Norma para espaco vetorial das matrizes

Se A ∈ L(Rn), vamos definir a norma de A por

||A|| = sup

{||Ax ||||x ||

, x 6= 0

}= sup {||Ax ||, ||x || = 1} .

A primeira pergunta: este supremo esta bem definido?

Sim!

Prova 1 (difıcil): o conjunto dos x ∈ Rn tais que ||x || = 1 e

compacto; como a funcao x 7→ Ax e contınua, o conjunto dos Ax

e tambem compacto, daı o conjunto dos ||Ax || e limitado e

portanto tem supremo.

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Norma para espaco vetorial das matrizes

Prova 2 (tambem difıcil, mas e algebra linear, e vou fazer o caso

2× 2): sejam x = (x , y) e

A =

(a b

c d

).

Entao

Ax =

(ax + by

cx + dy

).

Seja x 6= 0 e vamos calcular ||Ax||/||x||.

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Norma para espaco vetorial das matrizes

||Ax||||x|| =

√(ax + by)2 + (cx + dy)2√

x2 + y 2

=

√a2x2 + b2y 2 + c2x2 + d2y 2 + 2axby + 2cxdy√

x2 + y 2

=

√x2

x2 + y 2(a2 + c2) +

y 2

x2 + y 2(b2 + d2) +

xy

x2 + y 2(2ab + 2cd)

≤√

a2 + c2 + b2 + d2 + 2ab + 2cd

Portanto, o conjunto dos valores ||Ax||/||x|| e limitado (por uma

constante que nao depende de x).

Logo, o supremo existe e a norma esta bem definida!

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Norma para espaco vetorial das matrizes

Agora temos uma norma em L(Rn) (e tambem em Mn×n(Rn)).

Proposicao/Exercıcio/Justificativa da escolha da norma

Se A ∈ L(Rn) e x ∈ Rn entao

||Ax || ≤ ||A|| · ||x ||.

Por consequencia, temos

||AB|| ≤ ||A|| · ||B||

e tambem

||An|| ≤ ||A||n.

Cuidado, estamos usando o sımbolo || · || para muitas coisas!

Decida qual e a norma pelo contexto.

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Afirmacao importante

Teorema

L(Rn) e um espaco de Banach.

E facil provar isto com o:

Lema

Rk e um espaco de Banach para todo k ≥ 1.

e a observacao de que as normas sao equivalentes, ou seja, se

denotarmos por ||A||2 a norma de Mn×n(Rn) quando considerado

Rn2 , entao temos que existem constantes c , c com

c ||A||2 ≤ ||A|| ≤ c||A||2.

Fica como exercıcio (melhor fazer antes do curso de espacos

metricos).

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Exponencial matricial

Seja A uma matriz n× n. Voltemos a serie que usamos para definir

a exponencial de matriz,

exp(A) = Id + A +1

2!A2 +

1

3!A3 + . . .+

1

n!An + . . .

Como provar que exp(A) e uma matriz (ou um operador)?

Simples, vamos provar que a sequencia das somas parciais da serie

acima e de Cauchy, logo ela sera convergente (pois L(Rn) e um

espaco de Banach).

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Exponencial matricial

Seja ε > 0.

Denote

Sn =n∑

k=0

1

k!Ak .

Devemos achar n0 tal que se m, n ≥ n0 entao

||Sn − Sm|| < ε.

Suponha s.p.g. que n > m e seja n = m + p.

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Exponencial matricial

Vamos usar uma serie auxiliar para concluir a prova: seja

exp(t) =∞∑n=0

1

n!tn

a serie de Taylor da funcao exponencial (de numeros reais).

Podemos calcular exp(t) em t = ||A||, pois a norma de A e um

numero real. Entao a serie

exp(||A||) =∞∑n=0

1

n!(||A||)n

converge. Portanto, a sequencia das somas parciais desta serie e de

Cauchy.

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Exponencial matricial

Vamos denotar (Wn)n a sequencia de somas parciais da serie

exp(||A||) =∞∑n=0

1

n!(||A||)n,

ou seja,

Wn =n∑

k=0

1

k!(||A||)k .

Como (Wn)n e de Cauchy, existe n0 ∈ N tal que para todo

m, n ≥ n0 temos |Wn −Wm| < ε, ou seja, se escrevermos

n = m + p, temos∣∣∣∣∣m+p∑k=0

1

k!||A||k −

m∑k=0

1

k!||A||k

∣∣∣∣∣ =

∣∣∣∣∣m+p∑

k=m+1

1

k!||A||k

∣∣∣∣∣ < ε.

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Exponencial matricial

Vamos voltar agora para nossa sequencia (Sn)n, das somas parciais

da exponencial matricial.

Sejam m, n ≥ n0 (o mesmo n0 que encontramos antes), com

n = m + p. Usando a desigualdade triangular da norma e tambem

o fato de que ||Ak || ≤ ||A||k temos

||Sm+p − Sm|| =

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣m+p∑k=0

1

k!Ak −

m∑k=0

1

k!Ak

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣

=

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣

m+p∑k=m+1

1

k!Ak

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣

≤m+p∑

k=m+1

1

k!||A||k < ε

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Exponencial matricial

Ou seja, (Sn)n e de Cauchy e portanto convergente! Com isto,

mostramos que a aplicacao exponencial matricial esta bem

definida.

Exemplo

# exp(0) = Id .

# exp(A) sempre tem inversa, dada por exp(−A).

# Mostre que se D e diagonal, D = (a1, . . . , an) entao

exp(D) = (ea1 , . . . , ean).

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Exponencial matricial

Note que se A e uma matriz n × n e t ∈ R entao

eAt = exp(At) =∞∑n=0

1

n!Antn.

Seja x0 ∈ Rn. Sendo eAt uma matriz, o produto eAtx0 esta

bem-definido. Vamos denotar x(t) = eAtx0.

Note que x(0) = x0 e1

d

dtx(t) =

d

dteAtx0 =

d

dt

( ∞∑n=0

1

n!Antn

)x0 = AeAtx0 = Ax(t)

1Nao provamos que esta serie pode ser derivada termo a termo, mas assim

como no caso de series de potencias, isto pode ser feito.

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Exponencial matricial

Portanto x(t) = eAtx0 e uma solucao do problema de valor inicial

d

dtx(t) = Ax(t), x(0) = x0.

Resumo

Seja A uma matriz n × n, a ∈ Rn e x(t) = (x1(t), . . . , xn(t) uma

funcao R → Rn cujas coordenadas sao diferenciaveis. Entao a

solucao da equacao diferencial

x ′(t) = Ax(t), x(0) = a

e

x(t) = eAta.

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Exponencial matricial

Exemplo

Considere

A =

(1 0

0 −2

).

O PVI

x = Ax, x(0) = (1, 3)

e equivalente ao sistema de equacoes{x1 = x1

x2 = −2x2

com condicoes iniciais x1(0) = 1, x2(0) = 3.

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Exponencial matricial

A solucao do PVI anterior pode ser obtida de forma simples:

x(t) = exp(At)(1, 3).

Como

exp(At) = exp

(t 0

0 −2t

)=

(et 0

0 e−2t

),

segue que

x(t) =

(et 0

0 e−2t

)(1

3

)=

(et

3e−2t

),

ou seja, x1(t) = et e x2(t) = 3e−2t .

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Exponencial matricial

Problemas que teremos num futuro proximo.

# Como calcular exp(At) para uma matriz qualquer?

# O que acontece se a equacao nao for homogenea, ou seja, for

da forma

x ′ = Ax + g(t)?

# Nao e um problema, mas um aviso: em geral usaremos a

notacao x para derivadas, ao inves de x ′, no caso dos sistemas

lineares de equacoes diferenciais. Nao se perca.

# Sabe calcular forma de Jordan? Ih, rapaz..

Sugestao de leitura: Notas de Aula “Forma de Jordan e Equacoes

Diferenciais Lineares”, do Prof. Aloisio Neves, disponıveis aqui:

http://www.ime.unicamp.br/~aloisio/documentos/jordan.pdf