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100 ANOS
LIVRO DE OUROBOM DESPACHO
Belo Horizonte, junho de 2012
Aline Xavier
Isabella Verdolin Neves
Marina Camisasca
Osias Ribeiro Neves
Coordenação editorialOsias Ribeiro Neves
RedaçãoAline XavierIsabella Verdolin NevesMarina CamisascaOsias Ribeiro Neves
Pesquisa histórica e documentalRenata Garcia Duarte
EntrevistasAline XavierMarina CamisascaRenata Garcia DuarteOsias Ribeiro Neves
Projeto Gráfico e diagramaçãoVoltz Design
ImagensArquivo do Senado FederalArquivo Público do Distrito FederalArquivo Público MineiroDNITMundoviradoMuseu dos Ferroviários de Bom DespachoPhotosPrefeitura Municipal de Bom DespachoRicardo AvelarSecretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Revisão de ConteúdoNils Peter Christer NilssonRosalva Flores Fernandes Leandro
RealizaçãoSecretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
XAVIER, Aline; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA, Marina; NEVES, Osias Ribeiro.
Livro de Ouro Bom Despacho: 100 anos
Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2012.
200p.
ISBN: 978-85-87981-41-7
1 - Bom Despacho 2 - História 3 - Memória
DEDICATÓRIAA todos os cidadãos de Bom Despacho, os que aqui nasceram e os que aqui vivem e que contribuíram ou contribuem para que a nossa cidade seja cada vez melhor.
AgRADECIMEnTOS 6
APRESEnTAçãO 9
InTRODUçãO 10
O IníCIO DO POVOAMEnTO DE BOM DESPACHO 13
BOM DESPACHO: DE PARÓqUIA A MUnICíPIO 17A chegada da família real e a independência do Brasil 18
O povoamento se intensifica 22
1912: BOm DesPAchO e O BrAsIl exPerImentAm muDAnçAs 31O Brasil em 1912 32
e assim nasceu Bom Despacho 34
AnOs 20 e 30 em BOm DesPAchO 41Os anos 20 e o crescimento do município 42
Os anos 30 e as mudanças ocorridas em Bom Despacho 58
O PeríODO DemOcrátIcO Pós 1945 73Os efeitos em Bom Despacho 76
mineração a era dos cristais 80
PsD x uDn: A luta política e o imaginário popular 83
Juscelino, governador de minas 85
A volta triunfal de Vargas 87
Um tiro no coração do Brasil 90
TEMPOS DE DESEnVOLVIMEnTO EM TODO O PAíS 93A indústria chega em Bom Despacho 97
um novo tempo na história do país 101
A reviravolta na política e o golpe civil-militar 105
em Bom Despacho, os estudantes fundam entidade 107
A DItADurA mIlItAr e Os seus reflexOs nA cIDADe 109Infraestrutura para o crescimento 111
A década de 1970 e as movimentações em Bom Despacho 112
SUMÁRIO
- 4 -
Os AnOs 80: OrGAnIzAçãO PArA O DesenVOlVImentO munIcIPAl 117O Brasil na década de 80 118
A cidade se organiza 120
O sistema educacional de Bom Despacho 124
Os escoteiros 127
O Festicanto e o teatro 130
O comércio e o transporte interligam a região 132
Os AnOs 90: VAlOrIzAçãO DA culturA lOcAl 135O Brasil nos anos 90 136
Desenvolvimento cultural em Bom Despacho 138
cultura e educação de mãos dadas 145
BOm DesPAchO: A cIDADe centenárIA 149
O novo milênio 150
Bom Despacho dos anos 2000 153
O esporte na cidade 160
Bom Despacho, envolto por fé e devoção 164
O advento e o desenvolvimento da comunicação no município 168
Bom Despacho do futuro 170
LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO 173
AnexOs 189Prefeitos do município de Bom Despacho 190
templos religiosos em Bom Despacho 192
escolas Públicas em Bom Despacho 193
referêncIAs BIBlIOGráfIcAs 195
- 5 -
Escrever a história de Bom Despacho foi tarefa gratificante. Para
recuperar os cem anos de história do município, entrevistamos pessoas
considerando uma pequena amostra dos bom-despachenses que, de
alguma forma, nos ajudasse a construir uma narrativa mais humana
sobre a cidade. Infelizmente, algumas pessoas escolhidas e importantes
para o processo, por motivos alheios à nossa vontade, não se dispuseram
a participar. Dada a natureza do trabalho, muitas outras, possivelmente
com narrativas interessantes, ficaram de fora porque seria humanamente
impossível entrevistar todos os cidadãos de Bom Despacho e também
aqueles que mesmo não sendo de lá, guardam uma ligação afetiva com
a cidade.
Além das entrevistas, realizamos extensa pesquisa, nos arquivos
existentes no 7° Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerias, no Museu
dos Ferroviários, no Museu da Cidade, na Secretaria Municipal de
Educação, na Secretaria Municipal de Cultura, na Igreja Matriz, na Escola
Municipal Coronel Praxedes e na Biblioteca Municipal Professor Jacinto
Guerra. Foram consultados também os acervos do Arquivo Público
Mineiro e da Hemeroteca da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa,
ambos localizados em Belo Horizonte. Serviram também de fontes de
consultas, livros que de alguma forma abordam aspectos referentes
à história da cidade e de sua gente, entre eles, COOPERBOM 50 anos,
Gente de Bom Despacho, Arraial da Senhora do Sol, Pé preto no barro
branco e História de Bom Despacho. Além dos livros foram pesquisadas
as revistas Cinquentenário de Bom Despacho 1912-1962, Bom Despacho
90 anos, Bom Despacho Ontem/Bom Despacho Hoje 96 anos, Bom
Despacho: origens, perfil e atrativos e os jornais Bom Despacho, O Bom
Despacho e Jornal de Negócios.
Os documentos revelaram versões distintas sobre alguns fatos.
No entanto, isso não comprometeu o desenvolvimento do livro, pois
tornou possível revelar diversos ângulos de uma mesma temática. Já
as entrevistas foram realizadas utilizando técnicas da história oral,
abordando temáticas variadas sobre a história da cidade. Queremos
deixar aqui registrado nosso agradecimento àqueles que nos brindaram
com os seus depoimentos: Agostinho Luiz de Oliveira, Alexandre Aurélio
AgRADECIMEnTOS
- 6 -
Chaves, Auxiliadora Teixeira Guerra, Benedito Alves, Benjamin da Silva
Sobrinho, Bento Lopes Cançado Filho, Denise Gontijo Araújo Lamounier,
Flávio de Melo Queiroz, Francisco de Assis Fonseca, Geraldo Pereira
Vaz, Haroldo Sousa Queiroz, Homero José do Couto, José Fagundes
Filho, João Batista Ferreira de Andrade, José Cardoso de Mesquita,
Josefina Gontijo Leite, Liliana Valadares, Luiz Alberto Alves, Marcelo
Ferry, Maria Adjara dos Santos, Maria Antonieta de Assumpção,
Márcio Araújo Gontijo, Mário Domingos, Marta Maria Anacleto, Maura
Valadares Gontijo, Orlando Pereira de Freitas, Ordália Ferreira Pessoa
Melo, Otávio Cândido da Silveira, Padre Pedro Lacerda Gontijo, Paulino
Gontijo Queirós Cançado, Robinson Gontijo, Ronaldo Valadares Gontijo,
Roniere Silva Menezes, Rosalva Flores Fernandes Leandro, Sebastiana
Geralda Ribeiro, Tadeu Antônio de Araújo Teixeira, Tarcísio José Santos
do Amaral, Vera Lúcia Cardoso Couto, Virgínia de Souza Maciel Pessoa
Cançado e Zeni Ribeiro Hamdan.
Além disso, gostaríamos de agradecer àqueles que nos ajudaram
durante a trajetória de elaboração do livro: Aline Diana da Silva, André
Silva, Carlos Magno Vaz Gontijo, Fabiano Geraldo de Oliveira, Maurício
Simbera, Nils Peter Christer Nilsson, Rosalva Flores Fernandes e Paulo
Sérgio T. Leite.
Ao longo do livro além da história da cidade, o leitor também poderá
conhecer um pouco mais sobre Bom Despacho por meio de relatos de
pessoas, que narram casos interessantes ocorridos no município. Esses
relatos estão espalhados em toda a extensão do livro por meio do que
denominamos de Caderno de Memórias. O livro traz ainda, ao final, uma
linha do tempo com os fatos marcantes para o município, que pode ser
consultada rapidamente. Nesses cem anos muitos fatos aconteceram
na cidade e muitas pessoas participaram dessa história. Convidamos o
leitor a conhecer a trajetória da jovem Bom Despacho, que não se esgota
nesse trabalho e que apesar de ter sido constituída em período recente,
muito tem para contar sobre si mesma e sobre aqueles que, no dia a dia,
constroem a sua história.
Escritório de Histórias
- 7 -
APRESEnTAçãO
É com orgulho e satisfação que entregamos à população de Bom
Despacho o “Livro de Ouro” em comemoração ao centenário da nossa
cidade. Ele narra a nossa história desde os primeiros tempos quando
um pequeno povoado começou a se formar nessas terras em meados
do século XIX. Para a realização deste trabalho procuramos empresas
especializadas no assunto até escolhermos o Escritório de Histórias,
empresa especializada em memória, na produção e publicação de livros
que atua no mercado desde 1999.
Diversas fontes disponíveis foram pesquisadas e pessoas foram ouvidas,
principalmente em Bom Despacho. O resultado está neste livro de
excelente qualidade gráfica e conteúdo histórico-literário em que cada
um de nós pode se ver, de alguma maneira, espelhado nele.
Este livro está disponível também no site da Prefeitura de Bom Despacho
em arquivo pdf e pode ser baixado ou lido no próprio site. Esta foi a forma
mais democrática e abrangente que encontramos para que todas as
pessoas da cidade e também de outras partes do mundo tenham acesso
ao livro. Esperamos que cada pessoa ao ler essa obra tenha uma visão
mais aprofundada sobre a nossa origem e a nossa trajetória. E que este
trabalho possa inspirar novos autores e servir de fonte para que nossa
história continue a ser escrita.
Haroldo de Sousa Queiroz
Prefeito Municipal
Rosalva Flores Fernandes Leandro
Secretária de Cultura
Nils Peter Christer Nilsson
Secretário de Comunicação
- 9 -
As escassas planícies, escondidas em meio às montanhas de Minas
Gerais, guardam a história de desbravadores, tradições, fé e devoção.
Aqueles que se embrenharam por terras desconhecidas, muitas vezes
se utilizaram dos rios, que cortam todo o estado de Minas, como
forma de transporte e também como fonte de abastecimento de água.
O principal deles é o São Francisco, que foi descrito, no século XIX, pelo
viajante francês Auguste de Saint-Hilaire: “O Rio São Francisco deve sua
origem à magnífica cascata denominada Cachoeira da Casca d’Anta, que
se despenha por cerca dos 20° 40’ da Serra da Canastra. Enquanto rega a
Província de Minas, recebe em seu leito grande número de afluentes, dos
quais vários são em parte navegáveis”1. Dois dos seus afluentes, Lambari
e Picão, percorrem, na região do Alto São Francisco2, o município de Bom
Despacho.
O nome, adotado em homenagem à santa portuguesa Nossa Senhora do
Bom Despacho, devotada pelos primeiros portugueses a se instalarem
naquelas terras, identifica a religiosidade intrínseca à cultura do município,
que possui atualmente 45.624 habitantes3. Com 1.224km² de extensão,
Bom Despacho está localizado no Centro-Oeste de Minas4, a 141 km de
Belo Horizonte e liga-se à capital através da rodovia transversal5, BR
262, que corta os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e
Mato Grosso do Sul6. Além da estrada federal, Bom Despacho é servido
pela MG-164, que se liga à BR-040, atravessando o Distrito do Engenho
do Ribeiro e os municípios de Martinho Campos e Pompéu.
Terra acolhedora, que carrega vestígios de sua história nos relatos de
seus descendentes e nas edificações preservadas, é limítrofe a Martinho
Campos, ao Norte; aos municípios de Moema e Santo Antônio do Monte,
ao Sul; a Leandro Ferreira e Araújos, ao Leste e, a Oeste, a Dores do
Indaiá e Luz.
Com pequenas extensões de vegetação típica de Mata Ciliar, Mata
Seca e Pastagens Artificiais, a paisagem de Bom Despacho é
predominantemente composta por gramíneas, arbustos e árvores,
aspectos que evidenciam a proeminência de vegetação típica do
cerrado. O cerrado abrange 50% do território de Minas Gerais e congrega
InTRODUçãO
- 10 -
múltiplas espécies da fauna, como tamanduá,
tatu, anta, jiboia, cascavel, além do cachorro
do mato. Outras espécies típicas como o lobo-
guará, o veado-campeiro e o pato-mergulhão,
encontram-se em extinção. Neste bioma, as
estações de seca e chuva costumam ser bem
definidas. Em Bom Despacho a temporada de
maior intensidade de chuvas ocorre entre os
meses de outubro a março, período em que
chove aproximadamente 81% do total anual.
O mês mais quente é fevereiro, já o mês mais
seco é julho e a temperatura varia ao longo do
ano entre 12 a 36 graus - características típicas
de clima tropical.
Com 60% de relevo plano, Bom Despacho
apresenta ondulações em 25% do território
municipal, e 15% de área montanhosa. No
horizonte do município podem-se encontrar as
Serras do Cabral, do Repartimento, do Barreiro,
do Palmital, da Saudade e da Canastra – onde,
ao Sul, o relevo se torna mais acidentado.
Em direção ao Norte, o relevo de planaltos
predomina. As deformações mais significativas
estão nas proximidades das margens à
esquerda dos rios Lambari e Capivari. A altitude
máxima é de 961 metros, nas proximidades de
Moema, no morro da Chapada. A mínima é de
625, nas encostas do rio São Francisco, do rio
Picão e do ribeirão Capivari7.
O cenário de Bom Despacho é constituído pelas
águas de diversos rios e lagoas. A localização
privilegiada em recursos hídricos coloca o
município no curso das águas do rio São Francisco
e Lambari, ao Oeste; ao Sul, dos córregos do
Espinho, da Forquilha, da Prata e da Mariana.
Se buscado ao Norte, avista-se o rio Picão e, ao
Leste, os rios Lambari e Capivari. Ainda integram
o mapeamento hidrográfico de Bom Despacho
as lagoas: Verde, Josué Luiz, Gentios, Bureco,
Grande Caiçara, Presa, Arthur e Café.
Para além das belezas e recursos naturais, a
economia de Bom Despacho tem se expandido. A
agropecuária foi a principal atividade econômica
por um longo período, entretanto, com o passar
dos anos outras atividades conquistaram
espaço. O setor de serviços destacou-se,
apresentando a maior parcela de rendimentos
do Produto Interno Bruto (PIB) do município8.
O comércio cresceu significativamente, assim
como os serviços na área educacional com
universidade, escolas de ensino fundamental e
médio, e também na área médica, com postos
de saúde e hospitais.
Além das características geográficas e
econômicas uma cidade possui também
aspectos sociais e históricos. E é para
conhecermos estes últimos que se faz
necessário trilhar os caminhos da formação,
ainda no século XVIII, do que hoje conhecemos
como a centenária Bom Despacho.
1 SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Ltda, 2000, p. 337. 2 É considerada uma das quatro regiões que compõe a bacia do rio São Francisco, partindo das cabeceiras, na Serra da Canastra, até Pirapora, em
Minas Gerais. O Médio São Francisco, de Pirapora (MG) até Remanso (BA). A região submédia, de Remanso até Paulo Afonso (BA), e o baixo São Francisco, de Paulo Afonso a foz no Oceano Atlântico. Disponível em: http://www.senhoradosol.com.br, acessado em 10 de fevereiro de 2012.
3 Informação disponível em http://www.ibge.gov.br, acessado em 06 de fevereiro de 2011. 4 Da qual fazem parte também os municípios: Araújos, Dores do Indaiá, Japaraíba, Lagoa da Prata, Leandro Ferreira, Luz, Martinho Campos, Moema,
Quartel Geral e Serra da Saudade. Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 13.5 São as rodovias que cortam o país na direção Leste-Oeste. Disponível em: http://www.dnit.gov.br, acessado em 09 de fevereiro de 2012. 6 Percurso detalhado da BR – 262. Disponível em: http://www2.transportes.gov.br, acessado em 09 de fevereiro de 2012. 7 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 12.8 No Censo realizado em 2010, os dados apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que o setor de serviços cresceu
mais, seguido pela indústria e pelo setor agropecuário.
- 11 -
Photos
O IníCIO DO POVOAMEnTO DE BOM DESPACHO
O início do povoamento de Bom Despacho
- 14 -
A região hoje conhecida como Bom Despacho
começou a ser povoada no século XVIII. No
entanto, não há consenso sobre os seus
primeiros habitantes. Sabe-se que desbravadores
rumaram para a região na época em que a
administração da Colônia ficava a cargo do
Marquês de Pombal, que durante o reinado de D.
José I (1750-1777) obteve a concessão do rei para
representá-lo em todas as esferas das decisões
reais, como ministro plenipotenciário. Sua obra
representou um grande esforço no sentido de
tornar mais eficaz a administração portuguesa e
introduzir modificações no relacionamento entre
a Metrópole e a Colônia9. Marquês de Pombal
promoveu perseguições contra a nobreza, os
jesuítas e aos que se opunham às reformas por
ele realizadas. Adotou também medidas para
tentar coibir o contrabando de ouro e diamantes
e tratou de melhorar a arrecadação de tributos.
Em Minas Gerais, o imposto da capitação foi
substituído pelo quinto do ouro, com a exigência
de que deveria render anualmente pelo menos
cem arrobas do metal. Uma das medidas mais
controversas da administração pombalina foi
a expulsão dos jesuítas de Portugal e seus
domínios, com o confisco de todos os seus bens.
A história de Bom Despacho inicia-se nesse
período de intenso controle realizado por Pombal
na Colônia. A tradição oral diz que os três primeiros
homens que habitaram as terras compreendidas
entre os rios Lambari e Picão eram portugueses
que sofreram o banimento do degredo: Domingos
Luiz de Oliveira, Manoel Ribeiro da Silva e Padre
Vilaça, que fixaram moradia nas imediações de
três colinas no ano de 1775. Eram devotos de
Nossa Senhora do Bom Despacho e desejavam
obter o perdão real, ou seja, um “bom despacho
do Rei” a fim de retornarem para a terra natal,
a Província do Minho, em Portugal. Na região
onde se fixaram, ergueram uma ermida em
devoção a Nossa Senhora do Bom Despacho, cuja
constituição se tornou o marco distintivo do início
do povoamento.
Outro português que também ficou conhecido
como o primeiro povoador de Bom Despacho foi
o bandeirante Manoel Picão Camacho, cunhado
de Antônio Rodrigues Velho, homem conhecido
como “Velho da Taipa” e que fixou residência na
região de Pitangui, cujo início do povoamento data
do final do século XVII. A vila de Pitangui no início
do século XVIII se tornara o centro irradiador do
povoamento do Alto São Francisco e diversos
sertanistas saíam da localidade para desbravar
a região em busca de riquezas. Pitangui era uma
região aurífera e, na segunda metade do século
XVIII, já quase nada produzia, levando muitos a
migrarem para áreas próximas à vila em busca
de novas formas de enriquecimento. Manoel
Picão teria sido um deles e o primeiro a se fixar
na área hoje conhecida como Bom Despacho.
Em sua homenagem, um dos rios que corta a
região ficou conhecido como Picão. Conta-se
que Manoel, ao visitar um amigo que morava em
terras do atual Distrito de Alberto Isaacson, teve
sua atenção despertada para uma pedra branca
que havia sido deixada no canto da sala sobre a
mesa. Examinou-a com indiferença e pediu ao
amigo que lhe desse o mineral, pois lhe seria útil
como peso de papéis. Pouco tempo depois, ele
embarcava para Portugal levando consigo um
valioso diamante, que lhe proporcionaria uma
vida confortável até o final dos seus dias. Manoel
Picão nunca mais retornaria ao Brasil10.
Laércio Rodrigues, por sua vez, após pesquisar o
arquivo judiciário da Comarca de Pitangui, afirma
ser outro português o primeiro morador da região:
“Provavelmente entre 1762 e 1765, Luís Ribeiro
da Silva deslocou-se com sua gente para a região
das nascentes do Rio Picão, onde se estabeleceu
em caráter definitivo, com lavoura e campos de
criação”11. A primeira capela foi construída em
terrenos de sua propriedade e foi chamada de
Capela de Nossa Senhora do Bom Despacho.
Luís Ribeiro, como outros portugueses, procedia
do Norte de Portugal, da Província do Minho,
localidade onde era fervorosa a devoção a Nossa
Senhora do Bom Despacho. Em 1771, foi deferida
a provisão episcopal e, no ano seguinte, a capela
ganhava o seu primeiro capelão, Padre Agostinho
- 15 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Pereira de Melo, natural de Prados (MG), filho de
Cristóforo Pereira de Melo e D. Tereza de Souza
Caldas. O templo religioso era simples, coberto
por capim. Anos depois, ainda no século XVIII,
Luís Ribeiro da Silva, com muito esforço, teria
conseguido erguer outro templo em substituição
ao primeiro, dessa vez de alvenaria, coberto por
telhas12.
Os escravos africanos fugitivos de fazendas e
das áreas mineradoras próximas a Pitangui são
vistos também como os primeiros povoadores da
região de Bom Despacho. Certa tradição afirma
que os negros teriam chegado antes
dos portugueses e lá constituíram
quilombos entre os rios
Lambari e São Francisco. De
acordo com a pesquisadora
Sônia Queiroz, foi por meio
dos “negros do mato” que
outras pessoas começaram
a migrar para a região.
“Os quilombos são, pois, fator
importante no povoamento
da região de Bom Despacho: os
negros fugindo aos seus senhores, entram
pelo sertão em busca de esconderijos onde se
organizar como homens livres. Atrás deles vão os
capitães-do-mato, que muitas vezes encontram
pelo caminho lugares atraentes onde resolvem
fixar residência”13.
Os negros que se deslocaram para a região de
Bom Despacho se fixaram no local que até hoje
é chamado de Quilombo, situado em área rural.
Lá eles foram criando raízes e adaptando seus TropeiroJean-Baptiste Debret
hábitos e costumes à realidade local. Outros
negros se dirigiram para a região junto com
os seus senhores, na condição de cativos, e
se estabeleceram em fazendas de criação de
gado e lavoura. A partir do contato com a língua
portuguesa esses africanos acabaram por criar
uma nova língua, chamada Língua do Negro da
Costa, constituída fundamentalmente de léxico
de línguas africanas e gramática portuguesa.
A língua foi preservada até os dias de hoje e
é exemplo da riqueza cultural da região. Os
falantes vivem, em sua maioria, na Rua Tabatinga,
localizada na periferia de Bom Despacho. “Meus
antepassados nasceram aqui na
Tabatinga e morreram aqui. Somos
uma comunidade quilombola
e conseguimos registrar a
Tabatinga como comunidade
quilombola”14.
Na Língua do Negro da
Costa, por exemplo, coriã
é chapéu, matuaba é pinga,
coete é homem e ocaia é mulher.
A sua transmissão não se dá na
escola ou na família, mas sim entre amigos,
numa faixa etária de 11 a 20 anos, ou seja,
quando o indivíduo já domina a língua materna
e começa a intensificar as relações fora do lar,
nos bares e nas festas15. Essa língua “garante aos
negros, através da impermeabilidade, o status
de estrangeiros, que os distingue positivamente,
compensando a situação de marginalidade em
que sempre viveram, a princípio como escravos e
hoje como subempregados ou desempregados”16.
9 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 109-110.10 In: RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 20-21.11 RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 48. 12 RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 75. 13 QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p. 37-38.14 Sebastiana Geralda Ribeiro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.15 QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p. 76.16 QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998, p 104.
Casarão em Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
BOM DESPACHO: DE PARÓqUIA A MUnICíPIO
Em janeiro de 1808, Portugal estava prestes a ser invadido pelas tropas francesas comandadas por
Napoleão Bonaparte. Sem condições militares para enfrentá-las, o príncipe regente de Portugal,
D. João, optou por transferir a Corte para o Brasil, deslocando o eixo da estrutura administrativa
da Corte para o Rio de Janeiro. Assim que aportou, o príncipe regente decretou a abertura dos portos
às nações amigas. Permitiu também a edição de jornais e a vida cultural começou a mudar. Foram
abertos teatros, bibliotecas, academias literárias e científicas para atender aos requisitos da Corte
e de uma população urbana em rápida expansão. Nesse período foram criados no Rio de Janeiro o
Museu Nacional, a Biblioteca Real, a Escola Real de Artes e o Observatório Astronômico.
A chegada da Corte alterou profundamente a vida na Colônia. A cidade do Rio de Janeiro em 1820
somava mais de 100 mil habitantes, sendo grande parte composta por estrangeiros, em sua maioria
portugueses. Para o Brasil vieram cientistas e viajantes, como o naturalista e mineralogista inglês John
Mawe, o zoólogo bávaro Spix e o botânico Martius. Além disso, em 1816, chegou a Missão Artística
Francesa, que estimulou o desenvolvimento das artes em solo brasileiro.
Em 1815, D. João elevou o Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves. Anos depois, em
1820, ocorreu em Portugal a Revolução Liberal do Porto, que pôs fim ao Absolutismo. Tinha início o
período da Monarquia Constitucional, que fez com que D. João deixasse de ser monarca absoluto e
passasse a seguir a Constituição do Reino. A Assembleia portuguesa exigia o retorno do monarca,
na intenção de recolonizar o Brasil, retirando sua autonomia econômica. Em 26 de abril de 1821, D.
João VI cedendo às pressões, retornou a Portugal, deixando seu filho D. Pedro como príncipe regente
do Brasil. No ano seguinte, D. Pedro também passou a ser pressionado pela Corte portuguesa para
regressar à Portugal. No entanto, optou por permanecer e em 7 de setembro de 1822 foi proclamada
a independência do Brasil. Com apenas 24 anos, o príncipe regente era coroado Imperador, recebendo
o título de D. Pedro I. O Brasil se tornava independente, no entanto, a forma monárquica de governo
permanecia inalterada.
Proclamada a independência, o Brasil precisava se construir enquanto um Estado nacional, para
organizar-se e ter sua unidade garantida. Tarefa bastante árdua, visto que os anos que se seguiram,
1822 a 1840, foram marcados por uma enorme flutuação política e uma série de rebeliões, além de
tentativas contrastantes de organização do poder17. Em 1831, D. Pedro I abdicou do trono em favor do
seu filho D. Pedro II, de apenas cinco anos, dando início ao período da regência, que se estendeu até
1840. Nesse ano, D. Pedro II assumiu o trono num período que ficou conhecido como Segundo Reinado,
que só teve fim com a proclamação da República, em 1889.
A chegada da família real e a independência do Brasil
Bom Despacho: de paróquia a município
- 18 -
Durante o Segundo Reinado, a produção de café para exportação
estava em expansão. Os Estados Unidos tornaram-se o principal país
consumidor do café brasileiro, exportado também para Alemanha,
Países Baixos e Escandinávia18. Para suprir a necessidade de mão de
obra nas lavouras de café, D. Pedro II incentivou a vinda de imigrantes
para o Brasil, através de companhias particulares, sem fins lucrativos,
cujos recursos provinham do Estado. Vários foram os fatores que
favoreceram o afluxo de imigrantes para o Brasil. A crise na Itália,
resultante da unificação do país, se abateu com mais força sobre a
população pobre e foi um fator fundamental. O pagamento de transporte
e alojamento também representou um incentivo19. Em Minas Gerais, a lei
estadual n° 32 de dezoito de julho de 1892 estabeleceu o financiamento
das passagens para os imigrantes, que reembolsariam ao estado dois
terços de seu preço, enquanto os fazendeiros interessados na vinda de
trabalhadores também deveriam contribuir, em parte, no pagamento da
passagem. Dois anos mais tarde, o governo mineiro passou a assumir
o pagamento integral, estabelecendo ao mesmo tempo em Gênova
um escritório próprio para fazer conhecer o estado de Minas e para
selecionar imigrantes. Durante a vigência da imigração gratuita, que
vigorou até 1897, aportaram em Minas Gerais 51.259 imigrantes, dos
quais 47.134 eram italianos20.
17 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 147. 18 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 189.19 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 207. 20 CENNI, Franco. Italianos no Brasil. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003, p. 189.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
A antiga Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo Museu da Cidade
Bom Despacho começou a ter um aumento significativo da sua
população somente a partir da primeira metade do século XIX,
período em que contava com aproximadamente 2.500 pessoas21.
Em 1832, foi instituída a Paróquia de Bom Despacho pertencente à vila
de Pitangui. A vinda da família real para o Rio de Janeiro em 1808, a
elevação do Brasil à condição de Reino Unido de Portugal e Algarves
e, posteriormente, a proclamação da independência nacional em 1822,
certamente facilitaram o reconhecimento de Bom Despacho como
núcleo eclesiástico independente. A Paróquia teve como primeiro vigário
o padre Francisco de Paula Gonçalves22.
A Paróquia de Bom Despacho foi uma das localidades mineiras que
recebeu um grande contingente de imigrantes italianos, modificando
sua estrutura e trazendo um período de crescimento e desenvolvimento.
Dentre eles, destacou-se o padre Nicolau Ângelo del Duca, vindo da
Província de Salermo, e que exerceu grande liderança na região. Em 1880,
Bom Despacho foi desmembrada de Pitangui, passando a pertencer ao
município de Santo Antônio do Monte. Durante os anos de 1880 a 1911
houve intensa mobilização de seus habitantes para que o município
fosse emancipado. Nesse momento Bom Despacho já contava com os
serviços médicos da recém-fundada Santa Casa, instituída em 1896 pela
Irmandade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A direção ficou a
cargo do padre Nicolau del Duca e foi instalada na Rua das Padilhas. Em
1897, foi transferida para um casarão situado na Rua Faustino Teixeira.
Anos depois, em 1903, foi iniciada a construção do prédio que abriga a
Santa Casa até os dias de hoje, localizado na Praça Irmã Albuquerque n°
120, no centro da cidade.
O povoamento se intensifica
21 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 7. 22 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971, p. 76.
Bom Despacho: de paróquia a município
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Monumento em comemoração ao centenário do padre Nicolau Ângelo del Duca Foto: Ricardo Avelar
“ A SAnTA CASA nO BRASIL”
Atual Prédio da Santa CasaFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
A semente da santa casa de misericórdia foi lançada no final do século xV, em Portugal, quando a rainha D. leonor de lancastre iniciou a grande obra pia, que se expandiu a vários países.
Neste momento a Coroa portuguesa e as ordens
religiosas julgaram no dever de amparar os
flagelados, açoitados pela fome, pela peste e
pelas guerras. Instalaram-se então albergarias
e junto a elas ergueram-se precários hospitais
para atender aos enfermos. A partir daí
surgiram as Misericórdias, palavra que significa
doar seu coração a outrem, aos necessitados,
aos carentes. No Brasil, as Santas Casas
começaram à beira-mar. A primeira delas foi
a da Vila de Olinda, fundada em meados de
1539, com a finalidade de cuidar dos pobres
e enfermos, socorrer as viúvas, órfãos e
necessitados, além de defender as causas dos
encarcerados, enterrar os mortos e exercitar
outras obras de misericórdia. A segunda Santa
Casa, a de Santos, foi resultado da iniciativa
do fidalgo português Brás Cubas, no porto de
São Vicente. Auxiliado por outros moradores,
começou a construção do hospital em 1542,
sendo inaugurado no ano seguinte. Em Minas
Gerais, as Santas Casas foram fundadas a partir
do século XVIII, sendo a primeira delas em Vila
Rica, criada em 1730, seguida pela de São João
Del Rei, instituída em 1783. Em Vila Rica, atual
Ouro Preto, a Irmandade de Nossa Senhora de
Santana doou imóveis e lavras objetivando a
criação, construção e manutenção de uma Casa
de Misericórdia para atender aos enfermos e
desvalidos. Já a Santa Casa de São João Del
Rei foi fundada por Manuel de Jesus Fortes,
para abrigar e atender aos pobres e enfermos.
Inaugurou-se então o Hospital de Caridade, com
apenas duas enfermarias construídas. Ao longo
dos anos, outras Santas Casas foram sendo
edificadas no estado, em cidades como Sabará
(1812) Diamantina (1831), Patrocínio (1834),
Pitangui (1844), Barbacena (1852), dentre
outras23.
Santa CasaFoto: Ricardo Avelar
23 Informações extraídas do livro: SANTOS, Manoel Hygino dos. Santa Casa de Belo Horizonte Uma história de amor à vida. Belo Horizonte, 2005.
24 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 25 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.
“Bom Despacho, em termos de Medicina, foi uma cidade expressiva, principalmente
através do Dr. Miguel Marques Gontijo, que foi quem levou para a cidade o primeiro
grande ambulatório e consultório. Foi também ele quem levou para a Santa Casa o
primeiro sistema de raio-x da região. Bom Despacho centralizava os pacientes e doentes
da região, e houve uma tradição de médicos da família Gontijo: Dr. Miguel, Dr. Juca, Dr.
Geraldo e assim sucessivamente. A Santa Casa tinha uma expressão na Medicina, fazia
cirurgia, tinha aparelho de raio-x. O papel da Santa Casa na cidade foi de fundamental
importância, pois foi o primeiro núcleo onde se fazia cirurgias, onde se prestava assistência
aos mais pobres na área de saúde”.
Robinson Correa Gontijo 24
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
Antigo Prédio da Santa Casa, à rua Municipal, demolido em 1934Fotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
No início do povoamento de Bom Despacho, a vida na região era predominantemente rural e a principal
atividade exercida pelos fazendeiros era a criação de gado e suínos. A Capela de Nossa Senhora do
Bom Despacho, além de centro religioso, tornou-se também ponto de negócios. Foi em torno dela que
começaram a surgir as primeiras casas de morada, o comércio e o rancho de tropas. A região passou
a ter uma estrutura diferente das áreas de mineração, onde a possibilidade de enriquecimento rápido
atraía muitas pessoas. Diferenciava-se também das áreas de plantação de cana-de-açúcar habitadas
por ricos senhores de engenho e grande número de escravos. Os portugueses que aportaram em
Bom Despacho “longe de formarem uma aristocracia rural, opulenta, fútil e pretensiosa, eram homens
humildes, de costumes morigerados e hábitos simples, controlados nos gastos, alguns até avarentos,
mas honrados”25.
Com o aumento no número de habitantes, começou a crescer a demanda por produtos não existentes
na localidade. Para atender à população foi criado, em 1853, o primeiro comércio de Bom Despacho, a
Casa Assunção, que vendia de tudo, como, ferragens, tecidos, aviamentos, secos e molhados, carne,
material de construção, ferramentas, lampiões, arames, produtos para agropecuária, etc. Era a Casa
Assunção que fornecia aos moradores aquilo que eles necessitavam para a sobrevivência e para o
trabalho. Ela foi se adaptando ao longo dos anos, acrescentando novas mercadorias e retirando outras
que caiam em desuso. O transporte era difícil, as estradas eram precárias e as mercadorias chegavam
por meio de cavalos ou mulas. Era preciso esperar vários dias para a chegada de produtos que vinham
de outras cidades, como Paracatu e São Paulo e, anos depois, Belo Horizonte. Determinados artigos
não eram vendidos, como as roupas, que eram confeccionadas pelas mulheres que costuravam para
toda a família. “A Casa Assumção vendia de tudo, arroz, feijão, material de construção, mas a parte
Dificuldade de locomoção para se chegar a Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
Bom Despacho: de paróquia a município
- 28 -
de armazém era separada. Um pouco antes
do meu pai morrer, ele tinha começado com
uma funerária dentro da mesma loja. Quando
alguém morria, o pessoal acordava a gente de
madrugada. Meu pai tinha que levantar para
fazer a roupa do morto e liberar o material para
a pessoa que fazia o caixão.”26
Não havia energia elétrica e a primeira fonte
de abastecimento de água foi a fonte da
Biquinha, instalada em um paredão de pedra,
por iniciativa do padre Nicolau del Duca. A
água retirada da fonte era conduzida em potes
e latas pelos moradores, que a utilizavam para
o abastecimento de suas residências. O local
servia também para lavar as roupas. A fonte
existe até hoje e está situada ao fundo de um
pequeno vale, entre a Praça da Matriz e a Rua
Lambari. O espaço da Biquinha foi reformado e
tanques com torneiras foram instalados, com o
intuito de disponibilizar às lavadeiras um local
adequado para trabalhar. No momento, não
parece ser utilizado pela população. A fonte
tornou-se um lugar histórico e emblemático da
cidade, tanto que um antigo provérbio popular
diz que “quem bebe água da Biquinha nunca
mais esquece Bom Despacho”. A fonte foi
tombada pelo município no ano de 2007.
A população da localidade, desde 1872,
desejava que Bom Despacho fosse elevada
à categoria de vila. Naquele ano foi realizado
um abaixo-assinado dirigido à Assembleia
Provincial solicitando a instalação da vila.
Esse evento contou com um grande número
de adeptos, como o fazendeiro José Fernandes
Corgosinho, o negociante Francisco Marques
Gontijo, o comerciante Felisberto Francisco
Soares, o boticário João Rodrigues de Freitas
Mourão, dentre outros. No entanto, o abaixo-
assinado não conseguiu alcançar o seu objetivo.
O município só foi criado em 1911, com a
promulgação da lei n° 556, de 30 de agosto,
que dispunha sobre a divisão administrativa
do Estado. De acordo com seu Art. 7º “Ficam
creados os seguintes municípios e elevados
à categoria de villa os districtos que forem
sede: (...) XXIX – De Bom Despacho, districto
desmembrado de Santo Antônio do Monte”28.
25 RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação). Belo Horizonte, 1968, p. 62.
26 Maria Antonieta de Assumpção e Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 21 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
27 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971, p. 77.
28 Lei nº 556 de 30/08/1911.
Fonte BiquinhaFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Faustino AssunçãoFoto: Ricardo AvelarFoto exposta no Museu da Cidade
1912: BOm DesPAchO e O BrAsIl exPerImentAm muDAnçAs
Em 1912, ano em que era instalada a cidade de Bom Despacho, o Brasil
e o mundo vivenciavam fatos importantes. A população mundial se
horrorizava com o naufrágio do transatlântico Titanic, que provocou a
morte de 1.503 pessoas. No Brasil, a guerra do Contestado tomava conta
de uma região limítrofe entre os estados de Santa Catarina e Paraná.
O líder José Maria, inspirado pela lenda do antigo rei português Dom
Sebastião, agrupou diversos seguidores para a fundação da comunidade
de Quadrado Santo, reivindicando a posse da terra que ocupavam. O
movimento tinha também um caráter messiânico, causando espanto no
governo, que tratou de combatê-lo. O final da luta só aconteceu em 1915,
quando tropas estaduais e do Exército aniquilaram toda a comunidade,
cerca de vinte mil pessoas. Foi também em 1912 que, no Rio de Janeiro,
foi inaugurado o bondinho do Pão de Açúcar, importante ponto turístico
da cidade.
Nesse período, no Brasil, os políticos eram eleitos por meio de
eleições diretas. No entanto, na maior parte das vezes, as eleições,
principalmente as municipais, eram marcadas pelo controle dos votos
pelo “coronel”, que trocava votos em candidatos por ele indicados, por
favores variados, como um par de sapatos, uma vaga no hospital ou
O Brasil em 1912
A centenária Escola Municipal Coronel PraxedesFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
1912: Bom Despacho e o Brasil experimentam mudanças
- 32 -
um emprego de professora. “Os ‘coronéis’ forneciam votos aos chefes
políticos do respectivo Estado, mas dependiam deles para proporcionar
muitos dos benefícios esperados pelos eleitores. Isso ocorria, sobretudo,
quando os benefícios eram coletivos, por exemplo, quando se tratava, de
consertar estradas ou instalar escolas”29. O coronelismo não foi exercido
da mesma forma em todos os locais do país e teve peculiaridades de
acordo com a realidade sócio-política de cada região.
Em Minas Gerais, os “coronéis” possuíram certo poder, mas se
subordinaram ao governador e à máquina política do Estado. No
início do século XX, o Brasil era um país predominantemente rural e
que exportava, principalmente, café. Ao longo da Primeira República
(1889-1930), o café manteve de longe o primeiro lugar na pauta das
exportações brasileiras, com uma média em torno de 60% do valor
total, sendo responsável pelo fornecimento da maior parte das divisas
necessárias para as importações e o atendimento dos compromissos no
exterior, especialmente os da dívida externa.
Já em relação aos produtos industrializados, o país era dependente das
importações, uma vez que não possuía um parque industrial consolidado.
Na primeira década do século XX, a principal preocupação do Estado não
estava voltada para a indústria, mas para os interesses agroexportadores.
No entanto, não se pode afirmar que o Estado foi um adversário da
industrialização. Em alguns casos ele cedeu empréstimos e promoveu
a isenção de impostos para as indústrias de base. Nesse período, os
principais ramos industriais no país eram o têxtil, o alimentício, incluindo
bebidas e o vestuário. Na indústria têxtil, várias fábricas chegaram a ter
mais de mil trabalhadores, era o início da industrialização, que nos anos
vinte iria vivenciar um período de crescimento mais acentuado.
29 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 203-204.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Criado em 1911, o município de Bom Despacho só foi instalado no ano seguinte, no dia 1º de junho
de 1912. Neste período, em Minas Gerais, o chefe do governo era Júlio Bueno Brandão (1910-
1914). Político pertencente ao Partido Republicano Mineiro, ele teve um mandato fértil em
realizações. Entre os projetos, merece destaque o desenvolvimento regional e municipal aprovado
pela Lei Estadual n° 546, de 27 de setembro de 1910, que garantia empréstimos aos municípios para
a instalação dos serviços de energia elétrica, saneamento, construção de estradas e de escolas. Em
contrapartida, os municípios ficavam com a responsabilidade de planejar o seu desenvolvimento e de
estabelecer metas a serem alcançadas. O político investiu também na melhoria da arrecadação, visto
que grande parte dos fazendeiros contribuía apenas simbolicamente para o Tesouro estadual. Por
outro lado, ampliou os incentivos fiscais para as regiões mais carentes e procedeu a uma nova divisão
administrativa do Estado, que resultou na criação de mais de quarenta municípios30.
No bojo dessa divisão administrativa empreendida por Bueno Brandão, foi criado o município de
Bom Despacho, que também se beneficiou dos empréstimos concedidos por seu governo para a
implementação de serviços de infraestrutura nas cidades mineiras. Em 1912, Bom Despacho já
possuía um hospital, a Santa Casa, mas ainda não possuía uma escola. Naquela época, famílias
mais ricas, tinham o costume de educar as crianças em suas próprias residências, com preceptores.
Câmara Municipal de 1912Imagem copiada de publicaçãoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
e assim nasceu Bom Despacho
1912: Bom Despacho e o Brasil experimentam mudanças
- 34 -
O pagamento do educador era de
responsabilidade do chefe da família e, com
frequência, vizinhos e parentes tinham aulas
com o mesmo professor. “Em Bom Despacho
teve uma professora, a Chiquinha Soares, que
alfabetizou muita gente, inclusive a minha mãe.
Ela ensinava em casa mesmo, pois ainda não
havia escolas”31. Os conhecimentos ensinados
por esses educadores deveriam atender aos
desejos das famílias que os contratavam.
Eram os pais que escolhiam, entre as matérias
consideradas de educação, as mais adequadas
aos seus interesses para que fossem
ministradas aos seus filhos. Excetuando-se
o português e o francês, que quase sempre
estavam presentes nas lições, os demais
conhecimentos ensinados variavam entre latim,
inglês, alemão, italiano, espanhol, caligrafia,
literatura, composição, religião, música, piano,
lógica, matemática, história do Brasil, geografia,
desenho, pintura e aquarela. Para as meninas
havia também habilidades específicas a serem
ensinadas, como bordar, costurar, dançar, além
de outros trabalhos manuais.
Muitas vezes, quando alcançavam cerca de
onze anos os jovens iam estudar em colégios
internos. No decorrer do século XIX e início do
XX foram criados em Minas Gerais internatos
voltados para a educação da alta sociedade,
como o Colégio de Santa Bárbara do Caraça e
o Colégio Sion, na cidade de Campanha. Nessas
instituições os jovens permaneciam durante
todo o ano letivo, só voltando para casa no
período das férias. A disciplina era rígida e todos
os estudantes tinham horários determinados
para as refeições, para o estudo e também para
os momentos de descanso. Eles cursavam o
que hoje é conhecido como ensino fundamental
e médio.
Dias após a instalação do município e com o apoio
do governo estadual, foi criado, em quinze de
junho de 1912, o Grupo Escolar Bom Despacho.
Para que a cidade pudesse ser instalada, por
meio de legislação o governo estadual exigia
que a localidade tivesse escola de instrução
primária, terrenos para logradouro, cemitérios,
edifícios apropriados para sessões da Câmara
e cadeia32. Para atender essas determinações,
Bom Despacho precisava construir o seu
primeiro grupo escolar. No final do século
XIX e início do XX, os grupos escolares eram
concebidos e construídos como verdadeiros
templos do conhecimento e encarnavam, a
um só tempo, todo um conjunto de saberes e
de projetos político-educativos. “Os grupos
escolares projetavam um futuro em que na
República o povo, reconciliado com a nação,
plasmaria uma pátria ordeira e progressista”33.
Alguns meses após a instituição do Grupo
Escolar Bom Despacho, ele passou a funcionar
junto à sede da Prefeitura Municipal, na Praça
da Matriz, em uma construção antiga, onde se
localiza atualmente o Edifício Bom Despacho.
No dia da sua instalação, o prédio do Grupo
Escolar recebeu a benção do padre Nicolau
Ângelo del Duca. A solenidade contou com a
presença de um grande número de pessoas,
discursos foram proferidos e a menina Carmem
do Rosário ofereceu ao diretor do grupo um
buquê de flores. O quadro docente passou a
ser composto pelo diretor José Alzamora, que
também acumulava o cargo de professor, e pelas
mestras Lizeta Assunção, Maria Luiza Gontijo,
Alexandrina da Luz Alzamora e Rita Araújo
Cançado. No primeiro ano de funcionamento, o
grupo já possuía 328 alunos matriculados34.
30 Jornal Hoje em Dia. Os Governadores História de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008, p. 101.
31 Auxiliadora Teixeira Guerra. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 1 de julho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
32 Lei n° 2 de 14/09/1891, artigos 3° e 4°. 33 FILHO, Luciano Mendes de Faria. Instrução elementar no século
XIX. In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes de Faria; VEIGA, Cynthia Greive (org.). 500 anos de educação no Brasil. 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 147.
34 Termo de instalação do Grupo Escolar de Bom Despacho de 15 de junho de 1913.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
“ DO gRUPO ESCOLAR BOM DESPACHO à ESCOLA MUnICIPAL cOrOnel PrAxeDes ”
Após a sua fundação, em 1912, o Grupo escolar Bom Despacho foi adquirindo maior importância para os moradores. era para lá que as crianças se dirigiam todas as manhãs para serem alfabetizadas.
O grupo era a única escola existente na cidade e possuía até a 4ª série do primário, sendo responsável
pela educação dos meninos da localidade e das áreas próximas. Com o passar dos anos, o número
de alunos cresceu e o prefeito Faustino Assunção Teixeira, que administrou a cidade entre 1923 e
1930, conseguiu que o governo estadual liberasse verba para a construção de um prédio maior e mais
moderno. No entanto, era preciso adquirir um terreno. As autoridades e lideranças da cidade decidiram
doar parte da área da Santa Casa para a construção do novo grupo. Na época, a edificação foi uma
obra monumental para a pequena Bom Despacho. O edifício foi inaugurado em janeiro de 1928 e, no
mesmo ano, as aulas do Grupo Escolar Bom Despacho foram transferidas para as novas instalações,
localizadas na Rua Miguel Dias, nº 40, no centro da cidade. No final da década de 1930 e início dos anos
quarenta, parte do madeirame e dos forros do grupo se encontrava em péssimo estado de conservação.
O Interventor Municipal, à época, Flávio Cançado Filho (1930-1945) pediu ajuda ao 7° Batalhão de
Caçadores Mineiros da Força Pública do Estado de Minas Gerais para realizar uma reforma na instituição
de ensino. O comandante Coronel José Antônio Praxedes colocou, à disposição do Interventor, pedreiros
e carpinteiros do Batalhão e foi realizada a obra que manteve o prédio conservado por muito tempo.
Em setembro de 1946, por meio do Decreto nº 2.284, o grupo teve o seu nome alterado e passou a se
chamar Grupo Escolar Coronel Praxedes, em homenagem ao ex-comandante do 7° Batalhão, que havia
falecido. Em 1974, a instituição foi denominada Escola Estadual Coronel Praxedes e, em 1998, passou a
ser administrado pela prefeitura, tendo seu nome modificado para Escola Municipal Coronel Praxedes.
Escola Municipal Coronel PraxedesFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Mas não foi apenas o ensino que se alterou com a implementação do
município. Ao ser elevado à categoria de vila, Bom Despacho precisava
constituir o seu corpo de vereadores, sendo realizada uma eleição.
Para o cargo de Presidente da Câmara foi escolhido o comerciante
Faustino Assunção, conhecido como coronel Tininho, proprietário da
Casa Assunção. Nessa época o Presidente da Câmara exercia o cargo
referente ao que se conhece hoje como Prefeito. Desta forma, Faustino
Assunção o primeiro administrador do município, permaneceu no cargo
de 1912 a 1915, e se encarregou de estabelecer os primeiros órgãos
municipais. Foi instalada também uma Coletoria Estadual, responsável
pela arrecadação dos impostos.
Nos seus primeiros anos, Bom Despacho vivia essencialmente da
produção rural, como a criação de gado, a produção de rapadura e
aguardente e o cultivo de arroz, milho, mandioca e algodão. Poucos
eram os comércios e os serviços existentes na cidade. O município
recém-criado possuía cerca de quatrocentas residências, a sua maioria
localizada em áreas rurais. As famílias mais influentes viviam no campo,
em grandes propriedades. Na década seguinte o cenário se modificou
e importantes mudanças foram responsáveis pelo desenvolvimento da
cidade.
Área da Colônia Álvaro da Silveira em 1914Fotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Chegada do Governador Benedito Valadares no 7º BatalhãoFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Os AnOs 20 e 30EM BOM DESPACHO
A década de 1920 no Brasil foi marcada por um crescimento das indústrias e um desenvolvimento
das áreas urbanas, com destaque para a cidade de São Paulo. A capital paulista se tornou o
grande centro distribuidor dos produtos importados, o elo entre a produção cafeeira e o porto
de Santos, além de abrigar a sede dos maiores bancos. Era a segunda maior cidade do país, perdendo
apenas para o Rio de Janeiro, a capital da República.
Os anos 20 e o crescimento do município
Praça da EstaçãoFotógrafo desconhecidoAcervo Museu Ferroviário de Bom Despacho
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 42 -
Nessa época, os meios de transporte pelo interior eram os carros de
tração animal, como os carros de boi e as carroças, além das tropas,
que circulavam por estradas precárias e de difícil acesso. O país crescia
e era necessário promover a ligação das suas regiões, tornando mais
ágil a circulação de mercadorias e pessoas. O governo federal optou
por investir na construção e expansão de estradas de ferro. O estado
de Minas Gerais foi o maior privilegiado dessa política, abrigando, nos
anos 20, 40% das novas construções de estradas de ferro federais35.
A Estrada de Ferro Paracatu, que teve a sua construção iniciada em 1914,
em 1921, alcançava o município de Bom Despacho e seguia até Barra do
Funchal36. O objetivo era que chegasse até Paracatu, mas a obra teve que
ser interrompida em Barra do Funchal, porque foram encontrados solos
rochosos, o que, à época, impossibilitava a continuação dos trabalhos.
Desta forma, a Estrada de Ferro Paracatu partia de Belo Horizonte,
passava por Pará de Minas, Itaúna, Divinópolis, Velho da Taipa, Bom
Despacho, Dores do Indaiá e Melo Viana, até chegar ao destino final,
Barra do Funchal37.
35 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 268. 36 Essa estrada, em 1931, seria incorporada à Rede Mineira de Viação (RMV).37 Em 1968, o trecho da ferrovia Bom Despacho – Barra do Funchal foi desativado. Os imóveis e o terreno
pertencentes à ferrovia passaram a ser propriedade da Prefeitura Municipal.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em Bom Despacho, a chegada da primeira
locomotiva foi motivo de festa mobilizando
a população, que comemorou com vivas
e palmas a instalação da ferrovia, que
possuía quatro estações no município:
Estação Arthur Bernardes, Estação
Daniel de Carvalho, Estação Bom
Despacho e Estação Álvaro da
Silveira. Para os bom-despachenses
a viagem de trem parecia se
constituir em um ritual, orquestrado
por comportamentos e costumes ainda
presentes nas memórias de quem, em
muitas ocasiões, deixou o município rumo a
outros lugares. “Era um dia dentro do trem, mas
era muito bom. A gente levava paçoca, andava dentro
do trem, mudava de um carro para o outro, pulava e corria no trem o
tempo inteirinho.”38
A cidade passou também a abrigar a sede da Estrada de Ferro Paracatu.
Essa escolha pode ter sido influenciada pelo fato do engenheiro
responsável pela construção, Olegário Maciel, mais tarde presidente de
Minas Gerais, ter nascido na localidade. O estabelecimento da sede levou
à construção de um conjunto de casas para que os funcionários e suas
famílias residissem, a conhecida Vila dos Ferroviários. Foram erguidas
também outras construções que abrigavam a parte administrativa da
ferrovia. O edifício sede era suntuoso, visto como a melhor construção
que já se havia erguido no noroeste mineiro39. Foi fundada ainda a
Cooperativa de Abastecimento aos Ferroviários, responsável pelo
fornecimento de alimentos e artigos de primeira necessidade aos
funcionários da estrada.
Com a chegada da estrada de ferro, a cidade cresceu e se desenvolveu, não
só pela maior facilidade de transporte de mercadorias e de comunicação
com outras localidades, mas também pela chegada de imigrantes
vindos de países europeus e de brasileiros oriundos principalmente do
Nordeste, à procura de trabalho e melhores condições de vida.
Primeiro trem de passageiros na antiga Estação de Bom Despacho - 1922Acervo Museu Ferroviário de Bom Despacho
38 Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 27 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
39 Jornal Bom Despacho de 22 de janeiro de 1928, p.1.
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 44 -
Essa mão de obra era proveniente de diversas
partes do país, principalmente migrantes
que saíam de regiões assoladas pela seca e
buscavam, em outros estados, oportunidades
de trabalho para o sustento da família. O serviço
na via férrea era realizado com a participação
de muitos homens, geralmente exercendo
atividades que dependiam da força física do
trabalhador. Muitas vezes sujeitos a todo tipo
de intempéries, desde chuva e sol escaldante
a materiais corrosivos. O cotidiano de trabalho
requeria dos trabalhadores muita atenção,
principalmente dos responsáveis pela segurança
e eficiência da linha férrea como os chefes de
estação, guarda-freios, maquinistas e foguistas,
que eram constantemente vítimas de acidentes.
Os mais comuns eram descarrilamentos de
trens e quedas de dormentes e trilhos. Os
telegrafistas também exerciam um trabalho de
grande responsabilidade, pois autorizavam a ida
e a vinda dos trens, além de receber e transmitir
mensagens e telegramas. Devido às condições
“ O TRABALHO nAS ESTRADAS DE FERRO”
na construção das ferrovias brasileiras foram contratados temporariamente centenas de trabalhadores, homens e mulheres, que exerceram diversas funções: eram maquinistas, foguistas, graxeiros, chefes de trem, guarda-freios, conservadores de linha, feitores, chefes de turma, ferreiros, soldadores, torneiros, eletricistas, bagageiros, carregadores, etc.
de trabalho esses trabalhadores começaram a
se organizar para promover melhorias, levando a
uma das primeiras paralizações de ferroviários,
ocorrida ainda no final do século XIX, em 1893,
em Barra do Piraí, na Estrada de Ferro Dom Pedro
II. Após muitas reclamações os ferroviários
viram atendidas algumas
reivindicações que só mais
tarde foram estendidas
aos demais trabalhadores,
entre elas auxílio-doença,
licença para tratamento de
saúde, assistência médica,
folga semanal e pagamento
de horas extras.
Lanterna utilizada nas ferrovias.Foto: Ricardo Avelar
Locomotiva 125Fotógrafo desconhecidoAcervo Museu Ferroviário de Bom Despacho
“Eu nasci em Pitangui, em 1930, e cresci num lugar chamado hoje de Velho da Taipa. Todo
dia, andava uma légua a pé para ir à escola. Meu pai não teve condições de pagar para
estudarmos mais, naquele tempo não tinha o ginásio, e eu só tirei o diploma do grupo
com muito custo. O mundo hoje é bom demais, só não vai para frente quem não quer
mesmo. Quando vim para Bom Despacho, tinha escola, mas cheguei e fui caçar jeito de
trabalhar. Eu tinha uns dezesseis anos e pegava todo ‘bico’ que aparecia. Foi quando meu
pai se aposentou, em maio de 1947. Ele era ferroviário. O agente da estação me chamou
e perguntou se eu queria ir trabalhar na estrada de ferro. Perguntei se com a minha
idade eu poderia, tinha completado dezessete anos, e ele disse que não tinha problema.
Comecei a trabalhar no dia 8 de maio de 1947. Fui guarda-chave, guarda-freio, foguista e
terminei minha carreira como maquinista, me aposentando em 31 de março de 1982. Era
muito animado, a chegada e a partida do trem, era um movimento ótimo. Depois que eles
acabaram com a linha férrea, a cidade morreu um pouco. Mesmo assim, Bom Despacho
é tudo para mim.”
Otávio Cândido da Silveira 40
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
40 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 2 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.
Nos primeiros anos da década de 1920,
Bom Despacho recebeu duas colônias de
imigrantes estrangeiros de nacionalidade
predominantemente alemã. O fluxo de
estrangeiros para terras brasileiras havia
diminuído bastante como consequência da
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas logo
cresceu devido à situação dos países europeus
após o conflito. Os alemães haviam perdido
a guerra e, temerosos de que uma Segunda
Guerra explodisse na Europa, muitos optaram
por migrar para o Brasil. Eles acalentavam o
sonho de conseguir um pedaço de terra, difícil
na Europa, e após a perigosa travessia de três
meses pelo Atlântico, aportavam em solo
brasileiro.
Por meio de iniciativa da Secretaria da
Agricultura do Estado de Minas Gerais, que
era governado por Artur Bernardes, e do então
prefeito de Bom Despacho, Faustino Assunção,
foram implantadas na cidade a Colônia Álvaro
da Silveira, em 1920, e a Colônia David Campista,
em 1921. Cada uma das oitenta famílias recebeu
um lote de cerca de oito alqueires, que deveria
ser pago por meio da entrega de 20% do que era
produzido. As colônias contavam com escolas
mistas que ensinavam o português e também
lições de matemática para os filhos dos alemães.
No entanto, poucos foram os que conseguiram
pagar pelas terras, já que as dificuldades eram
muitas: clima inóspito, língua desconhecida,
alimentação diferente, dificuldade para a
obtenção de maquinário e desconhecimento
de técnicas adequadas de plantio. Na Colônia
Álvaro da Silveira ainda havia outros problemas,
a região era infestada de doenças tropicais,
como a malária e o tifo, por vários tipos de
pragas, como piolhos, carrapatos, bichos de
pé, borrachudos e outros mosquitos. Essas
duas tentativas de colonização alemã em Bom
Despacho acabaram por fracassar e poucas
foram as famílias que se mantiveram na região.
Um dos motivos foi o fato dos estrangeiros
representarem uma mão de obra especializada
na área industrial, pouco capacitada para o
TOPOCasa que fez parte de colônia AlemãFoto: Ricardo Avelar
Cemitério da colônia AlemãFoto: Ricardo Avelar
PáGInA SEGuInTEModelo de casa paludosa da Colônia Álvaro da Silveira.Arquivo Público Mineiro
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 48 -
trabalho na agricultura. Além disso, com a entrada do Brasil na Segunda
Guerra Mundial, em 1942, muitos colonos foram presos, espancados e
perseguidos. As colônias se desintegraram, as escolas foram fechadas,
muitas famílias abandonaram seus lotes e foram embora. Permaneceram
em Bom Despacho poucos alemães, como Rosa Korell, Frederico
Schmeidereit e Bruno Kohnert, famílias que deixaram seus sobrenomes
registrados na história da cidade. “Os alemães trouxeram novos hábitos
para a cidade, um deles o consumo de vegetais e verduras. Criaram na
época, um ‘Cinturão Verde’, e instalaram inclusive mini usinas elétricas,
utilizando dínamos, movidas a água. Também deram uma contribuição
expressiva no âmbito de formação de pessoas em suas profissões.”41
No mesmo período em que recebia novos moradores vindos do outro lado
do Atlântico, Bom Despacho também procurava melhorar a qualidade
de vida da população. Em 1924, foi fundada a Companhia Força e Luz
de Bom Despacho, responsável pelo fornecimento de energia elétrica
para todo o município. Com a chegada da luz às moradias, os hábitos
começaram a mudar. Se antes era o lampião a querosene que iluminava
as residências e as pessoas iam dormir cedo devido à escuridão, com a
luz elétrica era possível realizar outras atividades à noite, como bordar,
costurar ou ler um livro. Nesse mesmo ano foi criado o jornal Bom
Despacho, recebido com curiosidade pela população, afinal era a primeira
folha impressa na cidade e que traria notícias do Brasil, do mundo e
também da municipalidade, ao povo bom-despachense, que até então,
somente recebia notícias através do rádio, conectado em ondas curtas.
A partir desse momento os fatos ocorridos no município passaram a ser
divulgados e a população começou a ter o costume de ler o impresso
semanalmente, quando ele era publicado.
41 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Seus primeiros acionistas foram: Segismundo
Marques Gontijo, Jacinto Lopes Cançado,
Pacífico Lopes do Couto, Roberto de Queiroz
Cançado. Antônio Lopes Cançado, Joaquim
Euletério dos Santos, José Antônio d’Assunção,
Altino Teodoro da Costa, Werneque Tavares
Gontijo, Gustavo Lopes Cançado, Cristino
Ferreira Guimarães, Antônio Pio Cardoso,
Faustino Assunção, Vicente Assunção, Flávio
Cançado Filho, José Antônio Marçal, Frederico
A. de Castro Vasconcelos, Antônio A. de Castro
Vasconcelos, Assunção Sobrinhos, Augusto
Coelho da Fonseca, Faustino Assunção Teixeira,
João Francisco Filho, Francisco Lopes Cançado,
Manuel José da Silva e Maciel Gervique. Em
1933, a empresa foi adquirida pela Prefeitura
Municipal, que em 1937 a vendeu para a Cia.
Industrial Aliança Bomdespachense, que tratou
de ampliar as instalações para oferecer um
serviço de melhor qualidade à população. Nos
anos 1960, a CEMIG (Companhia Energética
de Minas Gerais), que havia sido criada em
1952, incorporou as companhias regionais e
municipais e passou a transmitir e distribuir
energia elétrica para todo o estado.
“ A COMPAnHIA fOrçA e luz De BOm DesPAchO”
criada com um capital de 220 mil réis, a companhia força e luz de Bom Despacho teve como primeiros diretores José Antônio d’Assunção, segismundo marques Gontijo e Altino teodoro da costa.
Antigo prédio da Companhia Força e Luz, atual CEMIGFoto: Ricardo Avelar
“na rua do céu morava uma velha que só conhecia lamparina. De repente, chegaram
lá foram com fios e com o poste para colocar a iluminação. Ai ela disse assim: ‘o que é
isso’? Ai os netos dela falaram: ‘É luz elétrica vó’. ‘O que é luz elétrica’? ‘Olha, vó, põe
a luz ali e ela acende’. ‘Acende sozinha?’ ‘Acende’. ‘Oia, isso não existe não. Isso não é
trem de Deus não, é coisa do capeta’. ‘não vó, isso é trem moderno, a luz elétrica vai
acender’. E ela ficou dizendo: ‘Isso não é coisa de Deus não’. Depois quando estava perto
de ligar a luz ela falou assim: ‘Ó, eu vou ficar de olho nesse trem, vou contar procês se
isso é de Deus ou do demônio’. Aí ligaram a luz, ela ficou olhando e, de repente choveu.
Ela chamou os meninos na janela e falou: ‘não apagou tá vendo? A luz não apagou. Isso
não é trem de Deus não, isso é trem do capeta’. Ela não acreditava que acendia sozinha
de jeito nenhum, sabe?”
Tadeu Antônio de Araújo Teixeira 42
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
42 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.
Photos
Outro acontecimento que provocou mudanças nos hábitos da cidade
foi a criação, em 1926, do Clube Bom Despacho – Literário, Recreativo
e Teatral. Fundado por iniciativa de João Batista Oliveira, Tasso Motta,
Miguel Gontijo, Aristillo de Carvalho, Lauro Mello, Faustino Teixeira e
outros, o clube foi o primeiro espaço de lazer construído no município.
No momento da sua criação, foram colocadas à venda ações, no valor
de cinquenta mil réis cada. Para ser implementado, o clube recebeu da
Câmara Municipal de Bom Despacho terreno na esquina da Rua Municipal
com Olegário Maciel, hoje Rua Faustino Teixeira esquina com Miguel Dias.
O prédio foi erguido pelo arquiteto J. Paganini e o construtor J. Etelvino.
Era uma construção elegante e de estilo moderno, que foi inaugurada,
em agosto de 1927, por meio de solenidade que contou com a presença
da alta sociedade bom-despachense e também de convidados vindos
da capital mineira, como o Secretário de Agricultura e das Finanças do
Estado de Minas Gerais e o vice-presidente da República, Fernando de
Melo Viana, que de 1924 a 1926 havia sido presidente de Minas Gerais.
A inauguração do prédio contou com a benção do Padre Augusto e, em
seguida, ocorreu a instalação oficial do clube, que teve como primeiro
presidente João Batista de Oliveira, à época engenheiro da Estrada de
Ferro Paracatu. Houve ainda baile inaugural que contou com a presença
da Jazz Band do 1° Batalhão da Força Pública.
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 52 -
“ A HISTÓRIA DO CLUBE DE BOM DESPACHO”
Anos depois da sua criação, durante o mandato de Joaquim moraes, o clube teve seu nome alterado para Phenix clube.
Clube Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
Posteriormente, sob a presidência de Benigno Couto, passou a se chamar Aéro-Clube e atualmente é
novamente chamado de Clube Bom Despacho. Na década de 1950 o clube, que à época pertencia à UDN
(União Democrática Nacional), foi incendiado criminosamente, segundo conclusões técnicas policiais.
Muitos afirmam que membros do rival PSD (Partido Social Democrático) foram os responsáveis pelo
crime, no entanto, a autoria do atentado nunca foi descoberta. Nesse incêndio vasta biblioteca foi perdida
e o clube foi completamente destruído. Mais tarde ele foi reerguido e retomou as suas atividades, em
especial os bailes e festas, sempre muito animados. Hoje a direção do clube fica a cargo da aposentada
Marta Maria Anacleto, que exerce a função voluntariamente. Quando assumiu a presidência em 2004,
o clube possuía dívidas trabalhistas e a infraestrutura estava em péssimas condições, a parte elétrica
danificada e o telhado com problemas de infiltração. Contando apenas com o dinheiro do aluguel do
salão, Marta conseguiu reformar o clube e o mantém aberto e conservado.
Em 1928, Bom Despacho recebeu uma agência
do Banco do Comércio e Indústria de Minas
Gerais, que se localizava em um suntuoso
edifício na Praça Central, na esquina com a Rua
Alferes Tavares. Este acontecimento foi um
indício de que a cidade crescia economicamente,
pois a instalação de um banco revelava a
existência de dinheiro em quantidade razoável
circulando na localidade. A prosperidade levou
também à inauguração, naquele mesmo ano,
do Hotel Glória, localizado em frente à Estação
Bom Despacho.
A cidade ia investindo em infraestrutura e
seus habitantes adquiriam novos costumes,
mas sem abrir mão dos antigos, como, por
exemplo, frequentar a missa, principalmente
aos domingos. A primeira igreja fora erguida
no início do povoamento em homenagem a
Nossa Senhora do Bom Despacho e já havia
sofrido algumas reformas. No final da década
de 1910, começaram a ocorrer as primeiras
ações para que fosse erguida uma nova Igreja
Matriz na cidade, no mesmo local onde havia
sido construído o primeiro templo religioso.
Em 1918, o Padre José Cândido autorizou a
abertura de valas para o início da obra, porém,
o trabalho não se desenvolveu. As obras só
foram reiniciadas em 1927, após o falecimento
do Padre Nicolau del Duca, que defendia a
preservação da antiga igreja colonial. Nesse
ano foi lançada, em benção solene, a pedra
fundamental da nova igreja.
A construção causou polêmica na cidade,
mas o Padre Augusto Ferreira de Andrade
conseguiu apoio da maior parte da população
para a demolição da antiga e a edificação de
uma nova igreja, maior e mais moderna. Os
fiéis participaram ativamente retirando pedras
da pedreira e carregando-as em procissão,
43 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011 em Bom Despacho (MG). Texto editado.
liderados pelo padre. A obra contou com o auxílio
de José Etelvino e João Paganini, mestres de
obras da Estrada de Ferro Paracatu. A população
contribuiu também com doações, e com festas
realizadas para arrecadar fundos. Durante as
obras, o culto foi transferido para a Igreja do
Rosário, localizada na Praça Inconfidência. No
ano de 1934, mesmo inacabada, a Matriz voltou
a receber os fiéis. As obras só foram finalizadas
em 1948. O atraso ocorreu devido a uma série de
paralisações, causadas por fortes tempestades
e também pela precariedade das condições
financeiras, afinal a construção foi custeada
pelos fiéis. Padre Augusto Ferreira de Andrade
não chegou a ver a igreja pronta, pois em 1935
decidiu ser franciscano e se mudou para o Rio
de Janeiro e, posteriormente, para Roma. Quem
narrou o processo de construção da igreja foi
o professor Tadeu Antônio de Araújo Teixeira.
“Eles cavaram, recolheram os ossos, puseram
dentro de caixas e levavam para o cemitério
atual. E com picareta, pá e enxada, nivelaram
a Praça da Matriz e começaram a construção.
O povo de Bom Despacho forneceu recursos
como madeira, pedra, transportavam terra em
carros de bois com couro e jogavam num buraco
que havia ao lado. Aí ajuntou o padre e um
construtor chamado Zé Etelvino, o padre foi lá
e fez o projeto daquela igreja e nenhum dos dois
era engenheiro. E foram fazendo, e o povo dava
dinheiro, dava boi, dava bezerro, dava galinha,
dava porco, dava dia de serviço, cada um
dava uma coisa. E os bom-despachenses que
moravam fora mandavam dinheiro também.
E foram levantando paredes. Uma obra assim
monumental para uma cidade pequenina.
E ficou essa maravilha que hoje foi até
considerada aqui no Centro-Oeste a obra
arquitetônica mais bonita pela rede de televisão
da TV Integração. A igreja passou a ser o símbolo
da cidade”43.
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 54 -
“ Párocos que se dedicaram à Paróquia de nossa de Bom Despacho”
Padre tiago eussen, Padre nicolau Ângelo del Duca, Padre Augusto ferreira de Andrade, Padre Delclides casimiro campos de Araujo, Padre João hefells, Padre Antenor nunes Pimentel, Padre Henrique Hesse, Padre José Estevam de Paiva, Padre Jayme lopes cançado, Padre Paulo Dias Barboza, Padre João lúcio Gomes Bemfica
Construção da Igreja MatrizFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Cadeia e delegacia. Hoje no local existe o ForúmFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom DespachoPÁGINA SEGUINTE
Praça Olegário Maciel e Hotel GlóriaFotógrafo desconhecidoAcervo Museu Ferroviário de Bom Despacho
Placa da farmácia Galeno Foto: Ricardo Avelar
A igreja em estilo neogótico é considerada uma das mais belas de Minas
Gerais. Possui torre alta, duas cúpulas arredondadas, nave ampla,
formada por doze colunas, altar mor e altares laterais. Os vitrais foram
importados da Europa e retratam figuras de santos e cenas da Bíblia. Em
1992, a igreja passou por uma grande reforma, com recursos obtidos por
meio de quermesses e com o apoio da equipe do Banco do Brasil.
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 56 -
“Tenho duas lembranças muito vivas de Bom Despacho. A primeira é o coreto, que
ficava na praça. Hoje, infelizmente, não tem mais. No coreto, a gente brincava, assistia
atividades culturais e até políticas. Com o passar do tempo, fizeram uma nova praça,
muito bonita, uma moldura para a obra que é a Igreja, mas esqueceram de um coreto.
A segunda é o trem. Quando eu tinha dez anos, fui pela primeira vez à Belo Horizonte,
conhecer a capital, numa viagem de Maria Fumaça. Depois surgiu uma jardineira que
passava por algumas cidades pela estrada de terra, e parava em Pará de Minas. Eram as
duas maneiras de se chegar à Belo Horizonte, de trem ou de jardineira. Mais tarde, com
a construção da BR-262, Bom Despacho foi colocada no mapa, com o asfalto ligando
ao Triângulo.”
João Batista F. de Andrade 44
44 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
Igreja MatrizFoto: Ricardo Avelar
Em 1930 ocorreriam eleições no Brasil para a escolha do novo presidente, que ocuparia o cargo
no quadriênio de 1930 a 1934. Quebrando uma das regras da política vigente, segundo a qual
Minas Gerais e São Paulo se revezavam no governo da República, o então presidente Washington
Luís (1926-1930), ligado ao Partido Republicano Paulista (PRP), passou a apoiar ostensivamente a
candidatura do presidente de São Paulo, Júlio Prestes, à sua sucessão. Washington Luís pretendia
assegurar a continuidade de sua política econômico-financeira de austeridade e de contenção de
recursos para a cafeicultura, desprezando os interesses de Minas Gerais.
Os anos 30 e as mudanças ocorridas em Bom Despacho
Getúlio Vargas, Gustavo Capanema, Olegário Maciel e comitiva na Cidade do Rio de JaneiroArquivo Público Mineiro
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
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Essa atitude não agradou aos políticos mineiros. Antônio Carlos Ribeiro
de Andrada, presidente de Minas Gerais (1926-1930), aproximou-se
do Rio Grande do Sul, a fim de se opor aos planos de Washington Luís.
Dessa aproximação resultou um acordo, conhecido como Pacto do
Hotel Glória, firmado em junho de 1929, segundo o qual os dois estados
vetavam a candidatura de Júlio Prestes e abria-se a possibilidade do
Rio Grande do Sul indicar um candidato. No mês seguinte, o Partido
Republicano Mineiro (PRM) lançou as candidaturas de Getúlio Vargas,
presidente do Rio Grande do Sul, e João Pessoa, presidente da Paraíba,
respectivamente à presidência e à vice-presidência da República. Em
agosto, para tornar sua ação mais concreta, a oposição formou a Aliança
Liberal.
O resultado do pleito de 1º de março de 1930 deu a vitória a Júlio Prestes
e Vital Soares, eleitos com 57,7% dos votos. Em outubro do mesmo ano,
descontente com a vitória de Júlio Prestes, a Aliança Liberal iniciou
movimento denunciando fraudes eleitorais. A gota d’água para o levante
foi o crime passional que vitimou João Pessoa, candidato a vice na
chapa de Getúlio. Era o início da Revolução de 30, que culminou com
a deposição de Washington Luís e consequente ascensão de Getúlio
Vargas ao cargo de presidente da República. A posse do político gaúcho
em novembro de 1930 pôs fim à Primeira República e deu início a novos
tempos na história do país.
Getúlio Vargas permaneceu no cargo durante quinze anos, de 1930 a
1945, sendo que de 1937 a 1945 governou de forma ditatorial, num período
que ficou conhecido como Estado Novo. O seu governo foi marcado pela
promoção do capitalismo nacional, por meio de dois suportes: o aparelho
do Estado e a sociedade. Além disso, Vargas também procurou organizar
a classe trabalhadora através de sindicatos atrelados ao Estado.
Em Minas Gerais, no período em que se iniciava o movimento para
deposição de Washington Luís, o bom-despachense Olegário Maciel era
empossado como presidente do estado. Logo após assumir o cargo, o
político apoiou o movimento revolucionário e foi o único presidente
estadual mantido no posto após a revolução, pois para todos os outros
estados Getúlio Vargas nomeou interventores federais.
- 59 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Iniciou seus estudos em Patos de Minas, para onde sua família se mudara, e prosseguiu no Colégio do
Caraça, onde fez o secundário. Em 1878, formou-se em Engenharia Civil, na Escola Politécnica do Rio
de Janeiro. Iniciou a carreira política ainda no período imperial, sendo eleito deputado provincial pelo
Partido Liberal para a legislatura de 1880 a 1883. A partir desse momento, alternou o exercício de
mandatos com períodos de afastamento da política. Entre os anos de 1883 a 1890, trabalhou como
engenheiro ferroviário, logo se tornando superintendente da Cia. Belga de Estrada de Ferro Pitangui
– Patos de Minas. Anos depois foi o engenheiro responsável pela construção da Estrada de Ferro
Paracatu e trabalhou também na construção da ferrovia Bambuí - Patos de Minas. Com a proclamação
da República, Olegário Maciel retornou à política, elegendo-se deputado estadual para o período de
1891 a 1893. Já em 1894 foi eleito deputado federal, pelo Partido Republicano Mineiro (PRM), iniciando
um longo período de permanência na Câmara Federal, por meio de sucessivos mandatos até o ano de
1911. Em 1914, foi convidado pelo presidente do país, Wenceslau Braz, para ocupar o cargo de inspetor-
geral do Serviço de Vias Férreas do Ministério da Viação e Obras Públicas, posto que exerceu até 1918.
No ano de 1922, foi convidado pelo PRM a candidatar-se como vice na chapa encabeçada por Raul
Soares à Presidência de Minas Gerais. Também em 1922, elegeu-se senador por Minas, permanecendo
no cargo por oito anos. No período de setembro de 1923 a março de 1924 assumiu a Presidência do
estado, pois Raul Soares afastara-se para tratamento de saúde. De março a julho do mesmo ano, Raul
Soares retomou suas funções, mas logo veio a falecer. Olegário Maciel assumiu novamente o cargo até
dezembro de 1924, quando Fernando Melo Viana foi eleito para completar o mandato de Raul Soares.
No entanto, Melo Viana deixou o governo para concorrer à vice-presidente da República e mais uma
vez o estado foi presidido por Olegário Maciel. Em 1930, Olegário Maciel foi eleito presidente de Minas
Gerais e permaneceu no cargo até setembro de 1933, quando faleceu devido a um enfarto súbito, no
momento em que tomava seu banho matinal, no Palácio da Liberdade.
“ OLEgÁRIO MACIEL”
Olegário maciel nasceu no dia 6 de outubro de 1855, em Bom Despacho, filho de Antônio Dias maciel, coronel da Guarda nacional, e de flaviana rosa.
Olegário MacielArquivo Público Mineiro
Durante o seu mandato como presidente de Minas Gerais, entre os anos
de 1930 a 1933, Olegário Maciel estimulou a indústria e o setor cafeeiro.
Em relação ao ensino público, promoveu o treinamento de professores e
instalou novas escolas normais. Mas a maior preocupação do governante
foi a de construir estradas para melhorar os transportes. Além disso, por
meio do Decreto nº 9.954, de 16 de junho de 1931, ele criou a primeira
usina de álcool motor de mandioca da América Latina, em Divinópolis, e
nomeou como diretor o seu idealizador, o engenheiro Antônio Gonçalves
Gravatá. A Usina Gravatá foi inaugurada em setembro de 1932, produziu
álcool e óleo por mais de uma década, e teve as suas atividades
encerradas no final da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1945.
Para o cargo de intendente do município de Bom Despacho, Olegário
Maciel nomeou o farmacêutico Flávio Cançado Filho, conhecido como
Favuca. Ele trabalhara em Bom Despacho para a eleição de Olegário
Maciel, colocando-se também a favor dos propósitos políticos defendidos
pela Aliança Liberal, no período da Revolução de 1930.
Olegário Maciel, Gustavo Capanema e outras autoridades políticas em Belo HorizonteArquivo Público Mineiro
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Diplomado em Farmácia pela Escola de Minas de Ouro Preto, Favuca era proprietário, em Bom Despacho,
da farmácia “Galeno”. Casou-se com sua prima Rita de Araújo Cançado, a Ritinha, com a qual teve treze
filhos, dos quais três faleceram: Geraldo e Flávio, faleceram quando crianças e João Raimundo, faleceu
aos 16 anos. Os outros filhos eram: Francisco, Maria José, José, Rita, Geraldo, Antônio, Flávio, Terezinha,
Maria Aparecida e Rafael. Contam que, antes de se casar com Ritinha, Favuca esteve noivo de outra
moça, mas, numa das viagens que fazia para estudar em Ouro Preto, apaixonou-se por Ritinha, que fazia
o curso de normalista em Mariana. O jovem rompeu o noivado e casou-se com a prima, mesmo com a
resistência dos pais, que, de início, não aprovaram o casamento entre parentes. Após se formar, Ritinha
foi dar aulas em Pará de Minas, onde foi professora do futuro político Benedito Valadares, cujo diploma
de grupo foi assinado por ela. Além de farmacêutico e prefeito, Favuca era também um intelectual,
gostava de estudar e falava vários idiomas. Era um entusiasta dos estudos e dizia: “O diploma é a melhor
herança que se deixa para o filho”46 . O político cuidava ainda de sua fazenda, o seu local de descanso e,
sempre que tinha tempo, ia para o campo em busca de refúgio junto à natureza.
“ UM POUCO MAIS SOBRE FAVUCA”
flávio lopes cançado filho, o favuca, era filho do médico flávio xavier lopes cançado e de cornélia umberlina de Queiroz.
46 In: AMORMINO, Luciana; NEVES, Osias Ribeiro. Flávio e Ilda: A Arte de Conduzir. Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2008, p. 33.
Pela proposição inicial, Favuca ocuparia o cargo de intendente do
município de Bom Despacho provisoriamente, mas foi ficando, até que,
em finais de 1933, Olegário Maciel faleceu. Gustavo Capanema, então
secretário de Segurança, assumiu interinamente o cargo de presidente
do estado e interventor federal em Minas Gerais. Após três meses da
morte de Olegário Maciel, Getúlio Vargas nomeou o deputado Benedito
Valadares como interventor de Minas Gerais, garantindo a pasta de
Ministro da Educação e Saúde a Gustavo Capanema. Dizem que, após
assumir o cargo, Benedito Valadares insistiu para que Favuca continuasse
na Prefeitura de Bom Despacho.
Durante o tempo em que esteve à frente do executivo municipal, Favuca
filiou-se ao PSD, permanecendo no cargo até 1945. Ele era um homem
muito querido na cidade e até hoje as pessoas se recordam do tempo em
que governava Bom Despacho. “Favuca era uma pessoa importante no
tempo de Getúlio Vargas. Quando ele ia à Belo Horizonte, uma multidão
o acompanhava até a estação, e era a maior festança para esperar o
Favuca chegar. Ele foi um grande prefeito”47.
Nos quinze anos em que esteve à frente do município, Favuca foi responsável
por muitas realizações, dentre elas a arborização e o calçamento de boa
parte da cidade. Em 1931, um ano após a sua nomeação Favuca enviou
carta para o secretário de Segurança, Gustavo Capanema, relatando
sobre situação vivenciada pela cidade naquele momento.Favuca e RitinhaAcervo da família Cançado
47 Agostinho Luiz de Oliveira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
“Dr. Gustavo Capanema Sinto-me opprimido pelas queixas do povo de Bom Despacho, que insiste em
attribuir à minha administração o deplorável estado de abandono em que cahiu a cidade,
depois do desaparecimento do escriptorio e officinas da Paracatú.
O nosso grande amigo Dr. Olegario prometteu-me, como compensação, alojar
nos numerosos prédios da Villa Operaria um batalhão da policia.
Infelizmente, os dias lá se vão passando, e elle assoberbado de trabalho e
preocupação, não tem podido converter em realidade a sua promessa. Escuso-me de
descrever-lhe com as cores reaes o quadro desolador que está a cidade, até há pouco tão
cheia de animação e de vida, apresenta agora. Esse estado de coisas mais se agrava com
o facto de estarem sem pagamento até o presente, todos os funccionarios demittidos da
Estrada de Ferro Paracatú. Entre os meus melhores companheiros de lucta, alguns eram
fornecedores da Estrada e se vêm na mais dura situação, por falta de pagamento. (...)
Peço-lhe pois que não veja encarecimento ou exagero nas palavras que lhe dirijo, e corra
em meu auxilio. nesse pedido, mais que tudo, tem força e sincera dedicação que me
merece o Dr. Olegario, cujo nome eu quero ver, sempre e sempre, abençoado de seus
conterrâneos. (...)
Entretanto, nunca como hoje diante das caretas do P.R.M. desejei tanto dedicar-
me corpo e alma à grande causa do nosso Presidente que é a Legião de Outubro.
Tenha a bondade, meu presadissimo amigo, e não me deixe só em meio à tantas
contrariedades.
Imagine como me seria doloroso assistir ao desmoronamento financeiro de
amigos que nunca me desampararam. (...)
Creio que nunca faltarei com as provas de profundo reconhecimento ao presado
Dr. Gustavo a quem entrego o patrocínio d’essa causa. (...). 48
48 Correspondência datada de 7 de Maio de 1931. APM, SI 9, Caixa 17, Pacote 01.
O pedido de Favuca foi atendido e alguns meses
depois, Bom Despacho passou a abrigar a sede
7° Batalhão de Caçadores Mineiros da Força
Pública do Estado de Minas Gerais. Criado
no dia 19 de junho de 1931, pelo Decreto n°
9.969, o 7º Batalhão de Caçadores Mineiros foi
instalado na cidade no dia 9 de julho do mesmo
ano. Passou a ocupar as dependências que
antes abrigavam a Estrada de Ferro Paracatu,
que foi encampada pelo Estado, assim como
as residências dos ferroviários, que passaram
a ser habitadas pelos militares, e tiveram a
sua denominação modificada para Vila Militar.
As atividades do Batalhão foram iniciadas com
um quadro reduzido de pessoal, dez oficiais e
89 praças, sendo o seu Comandante o Tenente
Coronel Edmundo Lery dos Santos, a quem
coube a adoção de todas as providências para a
instalação da Unidade.
Na ocasião do primeiro aniversário do 7º
Batalhão o Coronel Edmundo Lery dos
Santos deixou registrado: “Festejamos hoje
neste quartel o aniversário de nossa querida
unidade, que em igual data do ano de 1931,
foi instalada nesta cidade, com os primeiros
elementos que aqui chegaram para esse
grande empreendimento. (...) Com quanto
tivéssemos encontrado no antigo escritório de
Paracatú e prédios da Vila Operária, instalações
confortáveis mas ainda assim não foi pequena a
balbúrdia que se notava em tudo. O desleixo, o
desasseio e a falta de gosto imperavam por os
cantos. (...) O prédio central ainda por concluir-
se, faltava-lhe soalhos, pinturas e outras
adaptações indispensáveis ao fim a que ele se
destinava como quartel que ia ser do 7º B.I. Na
vila operária, não havia higiene indispensável às
habitações coletivas. As ruas sujas e os quintais
7º BatalhãoFoto: Ricardo Avelar
- 65 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
das casas abarrotados de lixo causavam uma
impressão e fazia recear-se da possibilidade do
desenvolvimento de alguma epidemia (...) De
relance compreendemos logo que pesadíssima
ia ser a nossa tarefa e sem pensarmos noutro
objetivo que o de cumprimento à risca e sem
desfalecimento do nosso dever, demos inicio
à obra. Desembarcados os caixotes de livros e
expedientes, no mesmo dia 9, tomado alguns
móveis emprestados à estrada Oéste, foi iniciado
a escrituração e lançado o boletim inaugural
(...). À proporção que íamos trabalhando
e conseguindo os melhoramentos por nós
iniciados, da Capital recebiam o necessário para
as nossas primeiras instalações.
Vinham chegando também de fora contingentes
de homens, aos poucos, além do grande número
de civis, filhos dessa boa terra engajados e que
prestaram e continuam a prestar relevantes
serviços às obras em apreço; e no fim de certo
tempo melhoramos a nossa situação e de
arrancada em arrancada eis que conseguimos
tudo o que possuímos no dia de hoje, quando,
jubilosos, festejamos o primeiro aniversário da
instalação desta unidade” 49.
Um ano após a instalação do 7° Batalhão,
emergia no país a Revolução Constitucionalista
de 1932, movimento iniciado em São Paulo,
contrário ao governo federal. Embora outros
estados despertassem simpatia pela revolução,
essa ficou militarmente confinada ao território
paulista. O estado lutou praticamente sozinho
contra as forças federais e contou, sobretudo,
com a Força Pública e uma intensa mobilização
popular. A luta pela constitucionalização do
país, os temas da autonomia e da superioridade
de São Paulo diante dos demais estados
eletrizaram boa parte da população paulista.
O ataque das forças federais sobre o território
paulista foi lançado a partir do sul do estado,
da fronteira com Minas Gerais e o Vale do
Paraíba50. Em julho de 1932, o 7º Batalhão
de Caçadores Mineiros enviou parte do seu
contingente para a região da Mantiqueira,
sob a liderança do Coronel Lery dos Santos,
que lá assumiu o comando da Brigada Leste,
passando o comando da sua unidade para o
7º BatalhãoFoto: Ricardo Avelar
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
- 66 -
Tenente Coronel Fulgêncio de Souza Santos. A tropa retornou a Bom Despacho em outubro de 1932,
após a vitória das forças federais. A Força Pública paulista havia optado pela rendição, já que a sua
situação se tornava cada vez mais precária com o aumento da ocupação do território estadual pelas
tropas federais. No entanto, durante o conflito, o 7° Batalhão teve uma baixa importante, o Tenente
Coronel Fulgêncio de Souza Santos, que foi fuzilado em primeiro de agosto, quando inspecionava as
defensivas.
Após regressar do conflito, o Batalhão continuou a trabalhar para melhorar as suas dependências e
também para manter a ordem de todas as áreas sob sua jurisdição. Em 1933, foi criada a Banda de
Música Santa Efigênia, pertencente ao 7º Batalhão e que se mantém em atividade até os dias atuais.
No ano seguinte, o Decreto n° 11.722 criou uma escola urbana na Vila Militar. Em 1935, o 7° Batalhão
recebeu a visita do então governador de Minas Gerais, Benedito Valadares51, que deixou registrada as
suas impressões. “Consigno aqui a excellente impressão que tive, ao visitar o 7° Batalhão aquartelado
em Bom Despacho. Constatei com prazer o elevado nível moral da tropa, a firme disciplina e o perfeito
apparelhamento thécnico e material dessa unidade de nossa Força Pública. (...) É de justiça salientar
também que o 7° Batalhão, pelo espírito de sociabilidade que o distingue, se acha integrado na vida civil
da cidade em que está aquartelado”52.
Portão do quartel 1932Fotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
49 Documento assinado pelo Coronel Edmundo Lery Santos, em 09 de julho de 1932. Acervo do 7° BPM.50 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004, p. 350. 51 Benedito Valadares foi interventor de Minas Gerais até 1934 e, após a Constituinte, foi eleito governador pela Assembleia Legislativa.
Com a instauração do Estado Novo em 1937, Getúlio Vargas o manteve no cargo e Benedito deixou quase intacta a sua equipe de colaboradores. 52 Documento datado de 28 de janeiro de 1935. Impressões de visitas. Acervo do 7° BPM.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Durante o período em que chefiou o estado, de 1933 a 1945, Benedito
Valadares contribuiu para construção de ícones da modernidade mineira,
como a Pampulha e o Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte, e o Grande
Hotel de Araxá.
O governador incentivou também a construção de estradas de rodagem,
além do estabelecimento de linhas comerciais, da companhia de aviação
Panair do Brasil, ligando Belo Horizonte às estâncias hidrominerais
mineiras, ao Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e ao Norte do país. Com
isso, aeroportos e campos de pousos foram construídos em várias
regiões de Minas Gerais.
Em Bom Despacho, no ano de 1936, foi construído, por quadros do 7º
Batalhão, o primeiro campo de aviação da cidade. Coronel Praxedes foi o
responsável pela obra, que se estendeu por cerca de cinco a seis meses
e o engenheiro topógrafo, João Paganini, funcionário da Rede Mineira
de Viação, foi o técnico que orientou a construção. No ano de 1938, a
Secretaria de Viação e Obras Públicas, procurando padronizar os campos
de aviação existentes em Minas Gerais, adotou instruções organizadas e
aprovadas pelo Departamento de Aeronáutica Civil, que foram enviadas à
prefeitura de Bom Despacho para que fossem seguidas pelo município53.
Nesse mesmo ano era inaugurada na cidade a Companhia Industrial
Aliança Bom-Despachense (CIAB), por um grupo que apostava no
sucesso de uma empresa no ramo têxtil. O projeto original previa a
instalação da companhia na cidade de Barbacena, mas foi revisto e
acabou por escolher Bom Despacho. Na época da sua criação, a empresa
adquiriu junto à Prefeitura Municipal a Usina João de Deus e recebeu
a concessão para fornecimento de energia elétrica ao município. O seu
fundador e sócio majoritário foi o Coronel Francisco Lopes Cardoso,
conhecido como Chico Pio, que assumiu o cargo de diretor-presidente,
tendo como braço direito seu genro, o engenheiro civil, metalúrgico e de
minas, Fúlvio de Queiroz Cardoso.
Entre 1938 e 1940, a companhia construiu novas instalações e adquiriu
mais duas unidades geradoras de energia, de 210 e 700 Kva. Nesse
momento, houve um aumento na capacidade da usina, que passou a
fornecer energia elétrica para municípios vizinhos a Bom Despacho.
No ano de 1945, com o crescimento do município e da própria CIAB, foi
necessário a aquisição de mais uma unidade, geradora de 1050 Kva.
53 Carta enviada ao prefeito Flávio Cançado pelo Secretário de Viação e Obras Públicas, Odilon Dias Pereira, em 28 de junho de 1938. Acervo SETOP. Documento disponível no site: www.acervosetop.mg.gov.br
Os anos 20 e 30 em Bom Despacho
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Benedito Valadares RibeiroArquivo Público Mineiro
54 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 10 de junho de 2011, em Bom Despacho. Texto editado.
“A Bom Despacho de ontem tinha contradições. Por um lado, era atrasada, as ruas
eram esburacadas, água em chafarizes, energia elétrica, então, foi um desafio! Um
bom exemplo para entender como a cidade era aconteceu no final da copa do mundo
em 1950. Muitas pessoas ficaram sabendo o resultado do jogo somente na segunda-
feira, porque a energia pertencia à Companhia Industrial Aliança Bondespachense,
a CIAB, e não satisfazia. Eram postes de madeira, poucas ruas iluminadas. Aos
domingos, não havia energia na cidade, tudo era desligado para fazer manutenção.
À noite, algumas pessoas ficaram sabendo o resultado através do rádio amador.
nesse mesmo dia, foi a primeira vez que aconteceu um salto de paraquedas na cidade,
onde hoje é o bairro São Vicente. Lá ficava o campo de aviação. Praticamente toda a
população foi para lá para ver o salto de paraquedas. Havia muitas dificuldades, faltava
água, as casas eram muito simples. Havia bairros aqui de muita miséria, não havia rede
de esgoto. As pessoas adoeciam e faltavam médicos. A gripe asiática matava muitas
pessoas. Em compensação, as escolas eram boas. As professoras eram batalhadoras,
sempre procuravam melhorar o ensino. Mas também com muita dificuldade. No
turismo, a Igreja Matriz e o Batalhão eram os únicos atrativos”.
José Cardoso de Mesquita54
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
CIABFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Juscelino Kubstichek de OliveiraArquivo Público do Distrito Federal
O PERíODO DemOcrátIcO Pós 1945
no Brasil, o ano de 1945 foi marcado por dois importantes eventos,
o fim do Estado Novo (1937 a 1945) e o término da Segunda
Guerra Mundial. O primeiro deixou como legado a repressão
do governo contra os opositores do regime. Muitos cidadãos foram
presos, deportados, sendo o caso mais emblemático a entrega da
comunista alemã Olga Benário, companheira de Luiz Carlos Prestes,
à Gestapo de Hitler. O fim da guerra trouxe a alegria do retorno dos
pracinhas brasileiros à pátria. Jovens de Bom Despacho também foram
convocados para combater na Itália ao lado dos aliados, embarcando
para o Rio de Janeiro, onde ficaram nos quartéis aguardando a hora de
ir para o front, mas a guerra acabou antes que boa parte deles seguisse
para o confronto. Contam que, entre os poucos bom-despachenses que
foram para o conflito na Europa, estavam o carteiro Geraldo Magela e o
militar José Firmino.
Durante a vigência do Estado Novo foram promulgadas leis que
regularam as relações de trabalho entre patrões e empregados, definido
o Salário Mínimo a ser pago aos trabalhadores urbanos, empresas
estatais foram criadas para sustentar o crescimento industrial, entre
elas CSN – Cia. Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda e a mineradora
Vale do Rio Doce em Minas Gerais. Também foram criados os três
principais partidos que dominariam a cena política brasileira até 1964: a
União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático (PSD)
e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A UDN foi constituída pela
antiga oposição liberal, herdeira da tradição dos partidos democráticos
estaduais, adversária do Estado Novo. O PSD foi criado a partir da
máquina do Estado, por iniciativa dos burocratas, do próprio Getúlio e dos
interventores nos estados. O PTB também foi fundado sob a inspiração
de Getúlio, do Ministério do Trabalho e dos sindicatos, e tinha por objetivo
reunir as massas trabalhadoras urbanas sob a bandeira getulista.
Em 1945 Getúlio deixou o poder pela porta dos fundos na agitada e
charmosa capital da República para retornar a uma suposta vida pacata
no “autoexílio” em São Borja, sua cidade de origem no Rio Grande do
Sul. Em dezembro do mesmo ano realizaram-se as eleições para a
Assembleia Nacional Constituinte e para Presidente da República.
Naquela eleição, dois militares concorriam; de um lado, Dutra, do outro
o brigadeiro Eduardo Gomes pela UDN e, mesmo estando em partidos
opostos, tratava-se de candidatos de caserna e, isso só, compunha o
esboço do espaço que os militares passariam a ocupar no futuro cenário
nacional. Eurico Gaspar Dutra foi eleito pelo PSD em aliança com PTB e
a normalidade democrática começou a irradiar pelo país, inserindo-o no
cenário mundial do pós-guerra.
A quinta Carta constitucional brasileira restabeleceu o estado de direito,
as eleições diretas, manteve a unidade federativa e a independência dos
O período democrático pós 1945
- 74 -
poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. No entanto, o governo do
general Dutra trazia consigo o mesmo viés dos profissionais das forças
armadas: a concepção de que o país poderia ser gerido como um grande
quartel, com sua engessada hierarquia e rígida disciplina.
Mesmo que a Constituição garantisse os direitos da livre manifestação
dos sindicatos, dos cidadãos e dos partidos políticos, o governo interveio,
proibindo as eleições sindicais e colocando mais uma vez na ilegalidade
o Partido Comunista, cassando os direitos de seus representantes no
Congresso Nacional, entre eles, o de Luiz Carlos Prestes, eleito Senador
da República pelo PCB com expressiva votação. Além disso, proibiu
os jogos de azar em todo o território nacional, o que representou o
fechamento de inúmeros cassinos que funcionavam também como
casas de espetáculo e de cultura nos maiores centros, entre eles o
Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, e o moderno Cassino da Pampulha,
em Belo Horizonte, frequentados por políticos, artistas e pela alta
sociedade. Apesar de manter na ordem do dia os mesmos temas do
governo anterior, como saúde, alimentação, transporte e energia, Dutra
não fez avançar o desenvolvimento industrial iniciado por Vargas.
Vista parcial da lagoa da PampulhaArquivo Público Mineiro
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em Bom Despacho, o fim do Estado Novo significou a saída do então prefeito-interventor Flávio
Cançado Filho, que assumira a Prefeitura em 1930 por indicação do conterrâneo e Presidente
do Estado de Minas, Olegário Maciel. O que aconteceu no período de 1945 a 1947, quando se
restabeleceram as eleições para governador e prefeito, foi uma alternância na administração no
Estado e também em Bom Despacho. Depois de Benedito Valadares, Minas Gerais teve outros cinco
interventores indicados pelo governo federal: Nisio Batista de Oliveira (1945/1946), João Tavares
Correia Beraldo (1946), Julio Ferreira de Carvalho (1946), Noraldino de Lima (1946) e Alcides Lins
(1947). Bom Despacho seguiu a mesma trilha com seus expoentes da política local, indicados pelos
interventores estaduais citados. Da saída de Favuca até 21 de dezembro de 1947, passaram pelo poder
municipal seis prefeitos, a começar pelo Dr. Erotides Diniz, Juiz de Direito da Comarca. Depois vieram
Domingos Mendonça, o ex-prefeito Flávio Cançado Filho, Wilson Lopes do Couto, João Pedro de Araújo
(PSD) e José de Paula Marques Gontijo. Hugo Marques Gontijo foi o primeiro prefeito eleito, pela
UDN, em 1947, no mesmo período em que o pontenovense Milton Campos também foi eleito para
governar Minas Gerais pelo mesmo partido. “Em Bom Despacho, apresentam-se dois candidatos a
prefeito, os jovens médicos Dr. Hugo Marques Gontijo e Dr. Francisco Araújo Lopes Cançado. Começava
a luta política histórica, ferrenha e duradoura entre PSD e UDN. Dr. Hugo vence o pleito e como prefeito
municipal entusiasma com seu carisma os bom-despachenses.”55
O governador Milton Soares Campos era magistrado, jornalista, um inquieto intelectual ligado aos
expoentes da literatura mineira, entre eles Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Abgard Renault,
Afonso Arinos e ao ex-ministro da educação e da saúde de Vargas, Gustavo Capanema. Dono de um
humor refinado, ele forjava frases interessantes e desconcertantes nos episódios que aconteciam à
sua volta. Uma delas foi quando lhe informaram que um aliado havia falado mal do governo, ao que ele
disse: “Falar do governo é tão bom, que não é justo que gozem desse privilégio só os inimigos.”56
“Na formação de seu secretariado, escolheu nomes de envergadura como Américo Giannetti para a
Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho; Magalhães Pinto para as Finanças; Abgard Renault como
chefe de gabinete e depois secretário de Educação; e Pedro Aleixo para a pasta da Justiça. Além de
colocar as finanças em dia, democratizar as leis e instaurar costumes mais democráticos, buscava
construir alicerces para o desenvolvimento.
Os efeitos em Bom Despacho
55 Tadeu de Araújo Teixeira, Dez décadas da criação de Bom Despacho, Jornal de Negócios, publicado em 20 de janeiro de 2012. http://www.joneg.com.br/exibecol.php?id=223&col=tadeu.
56 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.146.
O período democrático pós 1945
- 76 -
Milton CamposArquivo Público Mineiro
Apresentado à Assembleia Legislativa em julho do primeiro ano de governo, o Plano de Recuperação
Econômica e Fomento da Produção foi o primeiro planejamento regional do país. Propunha um sistema
integrado de transportes, a criação de um sistema de energia – que viriam a ser bases do “binômio:
energia e transporte” do seu sucessor Juscelino Kubitscheck – e combinava o desenvolvimento da
indústria e da agropecuária, com preponderância para a última. Parte dos investimentos caberia ao
governo e parte à iniciativa privada, com apoio técnico governamental e incentivo fiscal. Para viabilizar
seu plano, criou a Taxa de Serviços de Recuperação Econômica, cobrada sobre transações de qualquer
natureza e com alíquotas decrescentes pelo período de 1948 a 1953, o que duplicou a arrecadação.
Consolidou o Departamento de Estradas de Rodagem, criado pouco antes de assumir o governo,
aprovou legislação de sociedade mista para a construção de usinas em parceria com o setor privado
e para a criação das Centrais Elétricas de Minas Gerais, a CEMIG, o que viria a acontecer no governo
seguinte.”57
Foi na gestão desses dois expoentes udenistas mineiros, o governador Milton Campos e o prefeito Hugo
Marques Gontijo que foi criada em Bom Despacho a Escola Elementar de Agricultura, pelo Decreto-Lei
nº 2.647, de 21 de agosto de 1947, que teve a participação ativa do Secretário de Agricultura Américo
Giannetti. A escola, construída com recursos do Estado, teve também participação importante
da Prefeitura que adquiriu o terreno, além de complementar a verba disponibilizada pelo governo
estadual. Num país ainda essencialmente agrícola, a escola tinha por objetivo preparar adolescentes
em idade entre catorze e dezoito anos para exercer a atividade no campo em novas bases, utilizando
técnicas disponíveis na época para a preparação da terra, plantio, cultivo e colheita e, ainda, ampliar
os horizontes do conhecimento da atividade, que até então vinha sendo repassada empiricamente
dos pais para os filhos. O primeiro diretor da escola foi o padre Joaquim Mutti de Vasconcelos. Mas
a Escola Agrícola perderia a sua função poucos anos depois. Na gestão seguinte, em dezembro de
1951, o governo do Estado transferiu para o local um reformatório de menores infratores que estava
instalado em Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte, desvirtuando completamente o projeto.
Dr. Miguel Marques GontijoFoto: Ricardo Avelar Imagem do acervo do Museu da Cidade
O período democrático pós 1945
- 78 -
No primeiro ano de mandato do prefeito Hugo Marques Gontijo, o sistema educacional de Bom
Despacho se expandiu, com a criação de 25 escolas primárias municipais e rurais instaladas nas
fazendas e povoados a partir da Lei Municipal nº 3, de 29 de dezembro de 1947. Era o governo da
UDN mostrando serviço, afinado com as linhas mestras do governador Milton Campos, que também
tinha projetos na área de educação. “Na educação, implantou a Universidade Rural em Viçosa, tendo
como núcleo central a já existente Escola Superior de Agricultura de Viçosa. Com a colaboração da
professora Helena Antipoff, expandiu o ensino rural em experiência pedagógica e social que alcançou
repercussão nacional. Realizou dezenas de concursos para professores após 24 anos de interrupção e
elevou de 500 mil para mais de 800 mil as matrículas na escola primária.”58
A cidade de Bom Despacho tinha uma população que não chegava a oito mil almas e seu município, com
os distritos de Araújos e Moema, somavam perto de 24 mil pessoas. Contudo, a cidade se preparava
para entrar na segunda metade do século XX em pleno desenvolvimento. Uma mostra da sintonia
com o governo estadual e do compromisso com a educação foi a criação da Escola Estadual Miguel
Gontijo59, que começou a funcionar em abril de 1950 com a primeira prova de seleção para a primeira
série ginasial. Milton Campos disse o seguinte: “‘construam o prédio que o Estado paga os professores’.
A cidade inteira se mobilizou para angariar recursos.”60 “Depois de 450 anos do descobrimento do
Brasil, que surgiu o ginásio estadual em Bom Despacho de quinta a oitava série. E ele foi o décimo
terceiro criado em Minas Gerais. Só em 1962 é que veio o segundo grau para cá.”61
A Escola teve as seguintes denominações: Ginásio Estadual de Bom Despacho (1949/1951), Colégio
Normal Oficial de Bom Despacho (1962/1964), Colégio Normal Oficial Miguel Gontijo de Bom Despacho
(1965/1968), Colégio Estadual Miguel Gontijo de Bom Despacho (1969/1971), Escola Estadual Miguel
Gontijo de 1º e 2º Grau (1972/1973) e Escola Estadual Miguel Gontijo a partir de 1973.
57 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.150,151. 58 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.51. 59 Lei nº 500, de 25 de novembro de 1949, autorizada pela portaria nº 439 do Ministério da Educação e Saúde, em 12 de junho de 1950. In: Revista
Bom Despacho 90 anos, página 99.2002. – Bom Despacho – MG.60 Ordália Ferreira Pessoa Melo em entrevista concedia ao Escritório de Histórias, no dia 27 de junho de 2011, na cidade de Bom Despacho (MG).
Texto editado.61 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira em entrevista concedia ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, na cidade de om Despacho (MG).
Texto editado.
Escola Estadual Miguel GontijoFoto: Ricardo Avelar
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
nos anos 40, começaram os pedidos de concessão para exploração
de minerais em Bom Despacho. O primeiro foi o Decreto 9.711, de
17 de junho de 1942, que autorizou o cidadão Mário Vaz da Costa
e outros a pesquisarem cristal de rocha no município. Muitos outros
pedidos seriam liberados até o final dos anos 50. Existem muitas
histórias de pessoas que enriqueceram nos garimpos, nas lavras e na
comercialização de cristais e outras pedras na região. “O cristal fez
muitos milionários aqui. Milionários para aquele tempo. Isso foi entre
1940 até 1970. Centenas de pessoas vieram para Bom Despacho
trabalhar no garimpo e lugar de mineração, o dinheiro que entra fácil
também vai fácil. Esse dinheiro movimentou os bares, a zona boêmia e
boa parte da cidade. Aqueles que souberam administrá-lo enriqueceram.
Nós não sabemos calcular a importância das minas de cristais em Bom
Despacho.”62 “Eu ganhei muito dinheiro no contrato do cristal com os
americanos, de acordo com o interesse deles. O maior comprador eram
os Estados Unidos, mas teve um momento que pararam de comprar e aí
os garimpeiros ficaram sem destino, os que tinham dinheiro compraram
terra, compraram outras coisas, compraram imóveis e eu fiquei com o
dinheiro guardado.”63
Mineração, a era dos cristais
62 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedia ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
63 Agostinho Luiz de Oliveira, o Cristaleiro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
O período democrático pós 1945
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64 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
“Quando eu era menino de uns doze anos, Bom Despacho era uma cidade pobre. naquele
tempo, eu entregava leite com a lata em cima dos cavalos. não existia gás, eu trazia
‘carrada’ de lenha lá da roça para vender na cidade. Socávamos arroz no pilão de manhã
cedinho. não tinha calçamento, asfalto, era tudo terra. na praça, quando passava
carro, enchia tudo de poeira. nos armazéns, se colocava o pedaço de toucinho em cima
da mesa para partir. Não tinha água encanada na cidade, era chafariz, aquela fila de
mulher para pegar uma lata de água. Quando melhorou um pouquinho, o caminhão
saia entregando água de casa em casa, a água era regrada, não tinha para todo mundo.
As pessoas usavam roupas remendadas. Era uma vida muito difícil, a pobreza era
demais. Hoje as coisas estão muito fáceis. As ruas estão todas calçadas, asfaltadas,
água encanada, energia elétrica, ônibus, carro, comércio bom, escola, comida farta.
Bom Despacho é ótimo de se morar.”
Benedito Alves, o Bené Peão 64
A antiga Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo Museu da Cidade
A partir de então a arrecadação cresceu ano a ano, chegando a 1,9 milhão de Cruzeiros em 1954.
Entretanto, o fator inflação já se fazia presente na vida brasileira e, para demonstrar seus efeitos, fez-se
a conversão dos valores considerando a moeda brasileira atual, o Real, em 31 de dezembro de 2011. O
resultado da renda atualizada na tabela a seguir mostra que mesmo a receita tendo crescido mais de
300% entre 1949 e 1954, o valor de 1954 é menor que o de 1949. Esse processo inflacionário seria o
grande flagelo da economia brasileira durante quase toda a segunda metade do século XX.
“ ARRECADAçãO E InFLAçãO”
em 1947 a renda do município de Bom Despacho era de 600 mil cruzeiros, passando em 1949 para um milhão de cruzeiros, um aumento de mais de 66%.
Ano Cruzeiro (Cr$) conversão para real (r$) em 31/12/2011 65
1947 600.000,00 638.817,84
1948 600.000,00 585.991,14
1949 1.000.000,00 862.656,90
1950 1.200.000,00 932.932,22
1951 1.400.000,00 973.061,66
1952 1.520.000,00 930.404,10
1953 1.600.000,00 821.749,63
1954 1.900.000,00 771.290,96
65 Correção de valor de Cruzeiro para Real - Calculadora do Cidadão do Banco Central do Brasil, utilizando IGP-DI (FGV), pesquisa em março de 2012.
na política, esse período foi marcado pelos confrontos entre os principais partidos políticos, a UDN
e o PSD. Na eleição da Constituinte de 1946, o PSD conquistou 151 cadeiras, 52%, enquanto a UDN
não elegeu 25% dos constituintes. O acirramento nas disputas políticas teria desdobramentos
em todo o país, nos grandes centros e no interior. Em Bom Despacho não foi diferente. PSD e UDN se
posicionavam como partidos antagônicos e, mais do que isso, as divergências entre eles assumiam um
tom agressivo: os udenistas eram vistos como inimigos pelos pedessistas e vice-versa, ao passo que
na concepção democrática não passassem de simples adversários políticos. Essa luta foi travada no
dia a dia e, em todas as ações, ultrapassou a conotação político-partidária, chegando a comprometer
relações sociais entre os cidadãos bom-despachenses, laços de amizade e até mesmo o convívio entre
famílias. “Nas campanhas políticas, entram para a história dois velhos veículos que circulavam pela
cidade com alto falantes na disputadíssima campanha eleitoral. O carro do PSD foi logo batizado de
Panvermina (um lombrigueiro muito usado na época) e o da UDN recebeu o codinome de Biotônico
(um remédio fortificante aplicado, principalmente, às crianças após tomarem os vermífugos). Surgiu “O
Sombra”, figura misteriosa, de voz cavernosa, em programa noturno de uma rádio pirata, comandada
pela UDN. Programa de altíssima audiência, em que dezenas de pessoas se reuniam em torno do rádio
para ouvir as últimas notícias e ironias da política municipal.”66 Os relatos dão a dimensão do que eram
as divergências entre os dois partidos e acrescentam detalhes que passaram a fazer parte do folclore
político da cidade, como a rivalidade que levou ao incêndio do Clube Bom Despacho, as artimanhas
dos partidos para ganhar as eleições, até mesmo acusações de roubo de urnas e de troca de cédulas,
e tantas outras boas histórias que ainda alimentam o imaginário por gerações. “Antigamente, política
em Bom Despacho não era brincadeira. A UDN era o partido do Doutor Miguel, PSD era da família
Cançado e eles brigavam mesmo. O dia em que Juscelino Kubitscheck veio aqui a convite do Prefeito
Francisco Cançado Filho e de seu pai, o ex-prefeito Flávio Cançado, o povo da UDN jogou ovo choco
nele, judiaram do JK.”67 “Até em 1964, quando a ditadura acabou com o PSD, UDN e PTB, a política era
uma coisa de segregação. O PSD de um lado, UDN de outro. Vamos supor que eu fosse um rapaz de
dezessete anos e você uma moça da mesma idade. Se nós quiséssemos namorar, e você fosse do PSD
e eu da UDN, os pais impediam na hora. Não se podia nem conversar, eram inimigos. Graças a Deus que
não houve morte, mas as famílias ficavam divididas e não se relacionavam. O clube, por exemplo foi a
UDN quem fez e quem era do PSD não podia frequentar. Só em 64, quando acabaram com os partidos
políticos, é que essa birra de PSD e UDN acabou”. 68
PsDxuDn: A luta políticae o imaginário popular
66 Tadeu de Araújo Teixeira, Dez décadas da criação de Bom Despacho, Jornal de Negócios, publicado em 20 de janeiro de 2012. http://www.joneg.com.br/exibecol.php?id=223&col=tadeu.67 Maria Adjara. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 1 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.68 Tadeu de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
69 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 22 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
“Bom Despacho teve uma característica muito diferente, há uns trinta anos, que foram
os tipos populares. Tinha o Ministro, um neurótico de guerra que morava em uma
pensão na praça e andava todo fardado de branco, as pessoas davam medalhas para ele.
Na hora do desfile, ele ficava ao lado do prefeito. Quando o pessoal estava de bem com
ele, chamava-o de Ministro; outras vezes, chamava-o de Bode, e ele ficava uma arara.
Em relação às medalhas, ele falava ‘Essa aqui foi a rainha Elizabeth que mandou para
mim; essa foi o Hitler, essa foi o Napoleão’. Ele vivia a neurose dele. Tinha o Zé Repórter
Esso, que falava igualzinho ao de antigamente, e o pessoal achava o máximo. Tinha
também o Amador, que tinha uma égua e o pessoal ficava ‘Ô Amador, vamos vender essa
égua’, ‘Não, ela eu não vendo’; ‘Ô Amador, vamos trocar essa égua pelo meu caminhão,
ele tem catorze cavalos’, ‘não troco’. Por coincidência, ele estava voltando para casa e
o caminhão estava em um riacho, e ele falou ‘E a cavalada, só bebendo água?’ Tinha
uma senhora que bebia cachaça, dizia que ‘a uDn era a rosa do meu coração’, e não
bebia com quem era do PSD. Tinha o João do Sapato, que andava todo cheio de anéis
nos dedos das mãos e dos pés. Ele mancava e, quando gritávamos ‘sapato 44, sapato
44’, saía correndo atrás da gente. Todo mundo gostava e esse pessoal vivia muito bem
na cidade. A gente brincava, mas eles eram muito bem tratados, não passavam fome,
tinham onde dormir. De repente, não sei porque, levaram para Barbacena e nunca mais
ninguém voltou. E todo mundo gostava desses tipos populares.”
Maura Valadares Gontijo e Liliana Valadares Gontijo Fernandes
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
O médico Juscelino Kubitscheck – ex-prefeito interventor de Belo
Horizonte, conhecido por “prefeito furacão” por ter tocado inúmeras
obras de modernização da capital mineira, entre elas a abertura de
vias, pavimentação, criação de bairros e do complexo da Pampulha –
elegeu-se governador de Minas Gerais pelo PSD em 1951, derrotando o
candidato da UDN Gabriel Passos, com o binômio energia e transporte,
que de certa maneira era a ampliação das ações iniciadas por seu
antecessor. Ao mesmo tempo, em Bom Despacho, era eleito prefeito um
ás da tradicional UDN, Cisalpino Marques Gontijo.
A alternância no poder entre Pessedistas e Udenistas parecia equilibrar
as disputas nas esferas do Estado e se mantinha no município de Bom
Despacho, onde a luta entre as duas legendas pegava fogo. Entretanto,
no lugar de Cisalpino Marques Gontijo, eleito para o período de 1951 a
1955, quem de fato governou a cidade, como relata o jornalista Jacinto
Guerra, foi o vice-prefeito Miguel Marques Gontijo: “Por razões especiais,
Cisalpino Marques Gontijo, ilustre médico e empresário, grande benfeitor
da cidade, esteve licenciado do cargo de prefeito praticamente durante
todo o seu mandato. Ao longo de todo esse período administrativo,
um caso raríssimo: assumiu o cargo o vice-prefeito Miguel Marques
Gontijo. Mas Nicolau Teixeira Leite, como Secretário da Prefeitura, foi
uma espécie de Primeiro-Ministro, e quem, de fato, exerceu o poder. A
mesma função foi também exercida por Walfrido Teixeira, no início do
mandato.”70
Juscelino, governador de Minas
70 Site. tembase.com.br/prefeitos.htm, acessado em março de 2012. Nossos Prefeitos, A prefeitura: Governantes Municipais, Jacinto Guerra.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Juscelino Kubstichek de OliveiraImagem de domínio público Galeria dos Presidentes - Governo do Brasil
Eleito com mais de 170 mil votos de vantagem sobre seu adversário,
Juscelino manteve a mesma atuação dinâmica que o consagrou frente
à Prefeitura de Belo Horizonte. A falta de recursos nos cofres do Estado
fez com que JK buscasse alternativas e a saída por ele encontrada foi
a contração de um empréstimo de 20 milhões de dólares na França.
Essa verba completou os outros 25 milhões já disponibilizados pelo
governo federal e, com esses valores JK iniciou a abertura de estradas
e os investimentos em geração de energia. Dentre seus feitos ficou a
construção da Usina de Itutinga e a barragem de Cajuru. JK também deu
inicio à construção da Usina de Salto Grande e do Rio Pandeiros, além
de criar a CEMIG.71 “Durante seu mandato, construiu 16 estradas-tronco,
num total de 3.087 Km, que não só permitiram a integração de diversas
regiões de Minas, como facilitaram o acesso aos estados vizinhos. Ao
final de seu quinquênio, Minas contava 75 campos de pouso em condições
de receber aviões de porte médio. Na agricultura, Juscelino estabeleceu
uma política de crédito aos agricultores para facilitar-lhes a compra de
equipamentos mecanizados e implementos agrícolas.”72
71 Fonte: Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.159-160.
72 Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro, CPDOC – Fundação Getúlio Vargas.
O período democrático pós 1945
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getúlio Vargas, eleito Senador da República por dois estados,
manteve o controle sobre o PSD ainda que tenha se postado como
coadjuvante na cena política. Do silêncio em São Borja, articulou a
sua volta ao poder elegendo-se Presidente da República e retornando
ao Palácio do Catete em 1951, como ele mesmo afirmou, “nos braços
do povo”. Com o apoio de Adhemar de Barros e dos militares, fruto de
uma costura alinhavada pelo general Góes Monteiro, procurou fazer
um governo popular e nacionalista, reaproximando-se dos sindicados e
diminuindo as restrições impostas por Dutra. Estrategicamente, dobrou
o salário mínimo, tão desvalorizado no governo anterior. Retomou
a política de industrialização e de substituição das importações e,
entre suas ações estava a criação do BNDE – Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico, em 1952, e criação da Petrobras no ano
seguinte, contrariando os interesses americanos no Brasil e, de certa
maneira, atendendo aos interesses dos militares e da própria União
Nacional dos Estudantes (UNE), que não queriam o controle da energia
do Brasil em mãos estrangeiras.
Vargas lançou o Plano Nacional de Eletrificação que pretendia
quadriplicar a disponibilidade de energia elétrica no Brasil em dez
anos, mas sua pretensão esbarrou nas multinacionais do setor que
conspiravam contra a ideia. A UDN, liderada pelo jornalista Carlos
Lacerda da Tribuna da Imprensa, marcava de perto o governo e seus
movimentos, acusando-o de estar infiltrado de comunistas. Também
faziam coro contra os projetos de Vargas o jornal O Globo e os Diários
Associados, esse último, dirigido pelo jornalista e senador da República
Assis Chateaubriand. Ao lado do governo, o jornal Última Hora, criado
em 1951 e patrocinado por pessoas próximas a Getúlio na intenção de
defendê-lo e de ser um canal de comunicação dele com o povo, não foi
suficiente para neutralizar a ira dos adversários. As pressões cresceram
diante das acusações de corrupção tanto pela UDN como pelo Partido
Comunista, e o governo ficava cada vez mais isolado. A gota d’água foi
o episódio da rua Toneleros, em que Carlos Lacerda, o maior opositor
A volta triunfal de Vargas
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
de Vargas, sofreu um atentado no qual recebeu um tiro no pé e em que
o oficial que o acompanhava foi morto. Não demorou muito para que
todos associassem o triste evento ao Presidente da República e, em
pouco tempo, a figura de Fortunato, homem de confiança de Getúlio,
fosse colocada no centro da cena como o articulador do atentado.
Uniram-se contra Vargas o Congresso, a Imprensa, o Judiciário e as
Forças Armadas. Melhor dizendo, os tiros dados aos adversários de
Vargas na rua Toneleros resvalaram em todas as paredes do Palácio do
Catete e passaram a assombrar a vida de seus moradores dia e noite.
Os opositores do governo se fortaleceram e a renúncia do presidente,
acusado de ser o mandante do atentado, era questão de tempo.
Getúlio VargasArquivo Público Mineiro
O período democrático pós 1945
- 88 -
Mais tarde, a Constituição de 1934 propôs
nacionalizar o petróleo e as riquezas do subsolo.
No mesmo ano, a primeira refinaria privada do
país começou a processar petróleo argentino no
Rio Grande do Sul. O escritor Monteiro Lobato
criou a Companhia Petróleos do Brasil para
explorar jazidas em Riacho Doce. Criticou o
governo Vargas por não explorar e nem permitir
que explorassem o petróleo e acabou sendo
enquadrado na Lei de Segurança Nacional. O
primeiro poço de petróleo foi descoberto pelo
comerciante Oscar Cordeiro na Bahia, que teve
um duro trabalho para provar a veracidade da
sua descoberta e, em 22 de janeiro de 1939, o
petróleo jorrou no Recôncavo baiano. A Carta
Constitucional de 1937 enfatizou a necessidade
de controle do petróleo pelo Estado e em 1938
Vargas criou o CNP – Conselho Nacional de
Petróleo. Durante seu mandato, o general Dutra
abriu a exploração, produção e refino do petróleo
aos estrangeiros, sendo chamado de entreguista,
e a polêmica entre nacionalistas e entreguistas
ganhou a cena política. A UNE elaborou o
slogan “O Petróleo é nosso”, que virou campanha
e chegou às telas nos anos 50 em filme de
mesmo título. Os debates prosseguiram
envolvendo questões econômicas e muitos
foram os defensores da campanha nacionalista,
principalmente os militares. Na sua volta ao
“ O PETRÓLEO é nOSSO”A história do Petróleo no Brasil data de 1864 quando dois ingleses conseguiram concessão para explorar possíveis jazidas no interior da Bahia.
73 Fonte: Brasil 500 anos, Atlas Histórico, revista Isto é, cronologia, 8.4. Campanha do Petróleo/Nacionalismo, p. 151. Editora três.
poder, Vargas criou a Petrobras em 1953,
contrariando os interesses internacionais,
especialmente de Nelson Rockefeller e da
empresa americana Standard Oil, que distribuía
o petróleo no Brasil. A Petrobras cresceu, ganhou
escala, se especializou, descobriu e passou a
explorar petróleo no mar, principalmente na
Bacia de Campos. Em 2007, quase sessenta
anos depois da sua criação, tornou o Brasil
autossuficiente em petróleo. A exploração se
diversificou e a procura por gás natural fez com
que a empresa se interiorizasse, chegando a
Minas Gerais. Na bacia do São Francisco o gás
foi encontrado, no município de Morada Nova de
Minas, região próxima a Bom Despacho, onde já
foi instalada uma unidade de prospecção de gás
natural. 73
Foi em Belo Horizonte o local do último
discurso de Getúlio Vargas naquele fatídico
agosto de 1954, quando da inauguração da
Siderúrgica Mannesmann, atual V&M Vallourec.
Ao lado de JK, Vargas não parecia o mesmo.
Triste e deprimido, talvez imaginasse uma saída
honrosa para a situação em que se encontrava
diante de tantas pressões. Questionado pela
imprensa sobre o atentado da rua Toneleros,
ateve-se à necessidade de se apurar o fato com
rigor. No dia 24 daquele mês o país amanheceu
de luto com a notícia da sua morte. O Brasil
parou. Os noticiários – especialmente das
rádios, o veículo de comunicação mais ágil da
época – não paravam e a cada novo momento
detalhes, suspeitas, especulações e teses sobre
a morte do líder popular eram levantados. O
Jornal do Brasil trouxe a seguinte manchete:
Vargas se suicida e mata adversários. Segue o
texto do JB: “Abandonado pelos militares, pelos
burocratas do governo, pelos políticos e até por
seu vice-presidente, Café Filho, o presidente
Getúlio Vargas só tinha uma saída na madrugada
do dia 24 de agosto: renunciar. Mas, quando
seus adversários já comemoravam a vitória
política, Vargas mudou o rumo da história. Por
volta das 5h, segundo sua filha Alzira Vargas,
o presidente, sozinho em seu quarto, disparou
um tiro fatal no peito. ‘Eu saí correndo feito
uma doida e me joguei sobre o corpo dele. Ele
ainda estava vivo e eu tive a impressão de que
esboçava um sorriso’, contou Alzira. Bastaram
uma edição do especial do Repórter Esso e a
Um tiro no coração do Brasil
leitura da carta-testamento deixada por Vargas
para o sorriso que Alzira acreditou ter visto
se justificar.(...) Enlouquecida e com lágrimas
nos olhos, a população tomou as ruas para
protestar contra os inimigos do ‘pai dos pobres’.
Houve quebra-quebras e incêndios em sedes de
jornais contrários a Vargas. Até a Embaixada
Americana foi apedrejada. Os adversários de
Vargas caíram em desgraça.”74 Terminava em
24 de agosto de 1954 uma etapa da vida política
brasileira. O Brasil vivia o trauma da perda de
seu maior e mais controverso político, que foi
capaz de mudar o rumo do país, dar-lhe uma
nova ordem ao mesmo tempo em que reprimiu
com exageros os seus opositores. Contudo, ele
ainda permanece vivo no imaginário popular
como aquele que criou o salário mínimo,
consolidou as leis trabalhistas, criou sindicatos
e deu uma cara urbana ao país.
O suicídio de Vargas mexeu com todos os
setores do país e imobilizou seus adversários. A
política democrática seguiu o seu rumo. A UDN,
adversária ferrenha de Getúlio, saiu derrotada
do episódio; o PSD, fortalecido, elegeu Juscelino
Kubitscheck para presidente enquanto o PTB
elegeu João Goulart para a vice-presidência.
Em Bom Despacho, o filho mais velho de
Favuca, Francisco de Araújo Lopes Cançado,
do PSD, também era eleito prefeito da cidade
para o mandato de 1955 a 1959, numa eleição
marcada por denúncias, mas legitimada.
74 Jornal do Século. Publicação especial do Jornal do Brasil no ano 2000.
O período democrático pós 1945
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“Participei de um dos maiores eventos que aconteceram naquela região. O Getúlio
Vargas era muito ligado a Araxá, sempre se hospedava lá. A estrada de terra ligava Belo
Horizonte a Araxá e eu fui à inauguração da Ponte da Pedra do Chumbo, sobre o Rio
São Francisco. Eu era criança, fui de jardineira com a minha mãe, que era professora, e
o Getúlio esteve lá com o Benedito Valadares e o prefeito de Bom Despacho, o Favuca.
Era no município de Moema, chamava-se Doce, naquela época, e pertencia a Bom
Despacho.”
Robinson Correa Gontijo 75
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
75 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 25 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.
Inauguração do Trevo Pará de MinasAcervo DnIT
TEMPOS DE DESEnVOLVIMEnTOEM TODO O PAíS
Francisco, o novo prefeito de Bom Despacho,
filho da tradicional família Cançado,
assumiu a prefeitura em 1955, em meio às
esperanças de seus eleitores de que realizaria
uma boa administração. Ao mesmo tempo,
recebia pesadas críticas dos opositores que
afirmavam, categoricamente, que a eleição,
mesmo legitimada, fora fraudada76. De fato, esse
tipo de desconfiança ocorria em quase todas
as cidades brasileiras, como consequência da
fragilidade do processo eleitoral, da fiscalização
deficiente e a influência direta dos coronéis
que, em muitos lugares, compravam votos,
influenciavam eleitores ou utilizavam de outros
meios não ortodoxos para levar seus candidatos
à vitória nos pleitos. E, com tantas variáveis,
o resultado das eleições sempre despertava
desconfiança e gerava descontentamento por
parte dos derrotados. Assim, de eleição em
eleição, o folclore político brasileiro foi sendo
alimentado, colecionando causos e acirrando
ainda mais as disputas entre os principais
partidos.
Juscelino Kubitscheck, o ex-governador de
Minas, era o Presidente da República, eleito
e empossado em 1956 mesmo diante das
tentativas de opositores e golpistas de plantão
de impedir a sua posse. O clima na capital do
país era o mesmo de Bom Despacho, e a UDN
questionava a eleição do presidente. “Udenista
radical, o jornalista e deputado Carlos Lacerda
entrou em campo uma semana após as eleições,
pregando que JK não poderia tomar posse
por não ter obtido 50% dos votos, além de ter
recebido o apoio dos comunistas que estavam
na ilegalidade.”77 A conspiração envolvia
também o presidente Café Filho, seu sucessor
Carlos Luz e militares. O general Lott, apoiado
pelo exército, garantiu a posse do presidente
eleito tornando-se, em seguida, o seu ministro
da Guerra.
O médico Juscelino chegava ao poder com o
status de ousado planejador e tocador de obras,
pois havia aberto muitas frentes em Minas para
que o Estado se desenvolvesse. Tinha projetos
ainda mais arrojados para que o Brasil entrasse
na era da modernidade e se destacasse no
cenário internacional. Suas ideias tinham por
base a ampliação da infraestrutura do país com
estradas, industrialização e energia. Em 1956,
além de conquistar a presidência da República,
o PSD elegeu também o governador de Minas
Gerais, José Francisco Bias Fortes, criando
sinergia entre os poderes federal e estadual e
com Bom Despacho, pois o prefeito eleito no
ano anterior era também do PSD.
No início do seu governo, Juscelino apresentou
o Plano de Metas “50 anos em 5”, com trinta
pontos a alcançar, seguido da meta-síntese que
era a construção de Brasília, a futura sede do
governo. O Congresso Nacional sancionou a Lei
que fixava os limites do futuro Distrito Federal
e autorizava o governo a criar a Novacap -
76 Pessoas ligadas à oposição comentaram que nas eleições anteriores em que Francisco havia concorrido também houve fraude em processo semelhante.
77 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p.162.
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tempos de desenvolvimento em todo o país
78 OLIVEIRA, Lúcia Lippi. In CPDOC – FGV.
Companhia Urbanizadora da Nova Capital. JK cercou-se de talentos como
Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, dentre outros para tocar
o ousado empreendimento. “Como explicar a meta síntese do governo
JK tenha sido Brasília, se ela nem sequer existia originalmente no Plano
de Metas? O programa cobria ao todo 30 metas, e Brasília só entrou
no final, como um acréscimo, passando a ser a meta principal número
31. Foi ao longo do governo que ela assumiu a função de condensar o
programa de JK e de simbolizar a ideia de que era possível dar um salto
no tempo, realizar 50 anos em 5”.78
Em tempos de democracia, o país se reconhecia dentro de um clima
de otimismo, de emprego e de desenvolvimento. Com o incremento da
indústria automobilística, estimulada pelo governo, teve início a produção
de automóveis em São Paulo, na Vemag, comprada pela Volkswagen
anos depois.
Construção da Nova Capital em 1959Arquivo Público do Distrito Federal
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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Juscelino era homem alegre. Em seus discursos,
o que se via era um personagem que acreditava
no país que dirigia e irradiava otimismo. No bojo
desse período, conhecido por “Anos dourados”,
surgiu a Bossa Nova, movimento de renovação
da Música Popular Brasileira, em que jovens da
classe média carioca, apoiados por expoentes
como Antônio Carlos Jobim, Vinicius de Moraes
e João Gilberto, revolucionaram a música
brasileira. O samba ganhou uma nova maneira
de compor e tocar que cativou toda uma
geração. No futebol surgiram grandes craques
como Pelé, Garrincha, Didi, entre outros, que em
1958, legaram ao Brasil o primeiro campeonato
mundial na Suíça, apresentando o futebol como
certamente este foi um dos momentos mais dinâmicos do Brasil em que o desenvolvimento e o renascimento da cultura brasileira pareciam caminhar de mãos dadas.
“OS AnOS DOURADOS”
arte, numa concepção puramente brasileira. O
cinema nacional atingia o auge com os filmes de
chanchada nos personagens de Grande Otelo,
Oscarito e elenco, nos estúdios da Atlântida, cujo
expoente foi a comédia que abordava a guerra
fria, O Homem do Sputnik, de 1959, dirigido por
Carlos Manga. Nelson Pereira dos Santos dirigiu o
filme Rio 40 graus que influenciaria a geração do
Cinema Novo. Ganhou espaço também Amácio
Mazzaropi, ao propor e explorar a estética da
simplicidade em seus filmes, resgatando com
poesia e singeleza, a estrutura arcaica do interior
do país em meio à modernização, sem deixar de
lado a leitura crítica das mudanças em curso no
ambiente rural.
Vinícius de MoraesRevista Gente y la actualidad.Ano 5 nº 241.5031970Buenos Aires - Argentina
A urbanização dava o tom nas cidades maiores e as migrações internas
começavam a esvaziar o campo, notadamente as áreas mais
pobres do norte de Minas Gerais e do Nordeste do país. São Paulo
despontava como o “Eldorado brasileiro”, atraindo grupos de pessoas
interessadas em trabalhar nas indústrias que se multiplicavam, puxadas
pelas esteiras das montadoras. O mesmo acontecia com Brasília, a nova
fronteira do oeste que empregava trabalhadores de todos os lugares do
Brasil para a construção da nova capital. Por outro lado, cidades com
potencial agropecuário decidiam não mais exportar seus produtos “in
natura”, processando-os e agregando valor, gerando mais empregos
e deixando mais recursos nos municípios. Essa foi a aposta de Bom
Despacho. “Na década de 1950, existiam na cidade dois laticínios que
monopolizavam o mercado de creme para a fabricação de manteiga. Os
produtores rurais vendiam seus produtos a preços que não os satisfaziam.
(...) Como alternativa para resolver a questão foi criada uma empresa
de caráter comunitário, com o nome de Laticínios Bom Despacho, que
recebia o creme, transformava em manteiga e colocava no mercado,
sem intermediários.”79 Essa iniciativa funcionou por pouco tempo.
A indústria chega a Bom Despacho
79 FONSECA, Francisco de Assis, Cooperbom 50 anos - uma trajetória de sucesso, 2006. Bom Despacho, p.13.
Photos
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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80 FONSECA, Francisco de Assis, Cooperbom 50 anos - uma trajetória de sucesso, 2006. Bom Despacho, p.14.81 Flávio de Melo Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 16 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado.82 Francisco de Assis Fonseca. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 3 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 83 Márcio Gontijo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 6 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Em 1956, os produtores se organizaram em torno dos ideais cooperativistas e criaram a Cooperbom
– Cooperativa Agropecuária de Bom Despacho, filiada a uma das maiores cooperativas do setor, a
Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (Itambé). Os primeiros sócios fundadores
foram Roberto de Queiroz Cançado, Paulo de Tarso Gontijo, José Joaquim de Oliveira, Jacintho
Salviano da Silva, João Alves do Couto, João Victor Costa, José Maria Melo Queiroz, Carlos Cardoso
de Carvalho, Manoel Guilherme Pessoa, Antônio Teodoro Gontijo, Paulino Marques Gontijo Filho,
Flávio Araújo Cançado, Antônio Vieira Gontijo, José Araújo Cançado, Márcio Araújo Gontijo, Bertolino
da Costa Filho e João Lino de Araújo. O capital inicial da Cooperbom era de 362 mil cruzeiros, dividido
em 3.620 quotas-parte.80 “A cooperativa foi criada por iniciativa de meu pai. Foi ele quem trouxe o
dirigente da Itambé a Bom Despacho para ajudar na fundação da cooperativa. Ele foi o primeiro
presidente. Começaram aos poucos desnatando o leite, depois passaram a compra-lo e vendê-lo para
a Itambé. Fizeram a feira da manteiga por uns tempos, depois a quantidade de leite foi aumentando,
aumentou também o número de produtores. A Cooperativa cresceu e, hoje, é grande e muito sólida.”81
“Nós pegamos a Cooperativa com cinco funcionários e a deixamos com mais de duzentos. Ela tem
vários postos, entre eles, Engenho, Estrela do Indaiá e Mato Seco.”82 Atualmente a Cooperbom funciona
também como entreposto de venda de produtos e insumos para a agropecuária e, associada a ela,
nasceu a cooperativa de crédito. “A agência do BANCOP que existe aqui hoje no município surgiu na
Cooperativa. Inclusive tem uma fazenda de melhoria de rebanho de gado na região do Engenho do
Ribeiro, às margens do São Francisco.” 83
Cooperbom.Foto: Ricardo Avelar
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tempos de desenvolvimento em todo o país
84 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Vista da cidade da Praça da MatrizFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
“Quando menino, aqui tinha uma igreja onde hoje está a matriz. Ela era de madeira,
aquelas grandes peças de madeira que faziam os cantos da igreja foram retiradas. Eu
não a conheci. Onde arrancaram ficou um buraco grande. Tinha uma pracinha logo ali,
com casas humildes feitas com barro natural de pura terra e vara de madeira. Casas
que, hoje, nem os mais humildes têm, de tão pobre que eram naquela época. Antes de
começarem a construção da igreja, havia um campinho em que a meninada se reunia à
tarde para bater bola, jogar vôlei. Nesse lugar hoje fica a igreja matriz. Havia uma igreja
onde hoje é a Praça Inconfidência, que era Igreja do Rosário, por isso que tem a Rua do
Rosário. E lá em cima, naquela época era a Rua do Céu, porque era bem no alto. Hoje,
onde tem a capelinha da Cruz do Monte, tinha uma outra igrejinha muito pequena,
onde faziam as festas juninas, soltavam balão, tinha banda de música. Era muito
alegre, muito foguete, muita coisa boa que tinha nessa época, com muita humildade.
Nas procissões, a fila era respeitada, uma fila de um lado outra do outro. Era uma
maravilha o movimento da cidade!”
Agostinho Luiz de Oliveira 84
Siderúrgica União BomdespachenseFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Para que o país desenvolvesse sua indústria automobilística e de
construção civil, era preciso produzir aço. Novas instalações surgiram.
As grandes siderúrgicas instaladas em Minas como a Mannesmann e a
Belgo-Mineira se expandiram e as pequenas siderúrgicas, produtoras de
ferro gusa, se instalaram principalmente nas médias e pequenas cidades
do interior, notadamente na região oeste. Bom Despacho recebeu, em
1959 a montagem da Siderúrgica União Bondespachense. Localizada no
Bairro São Vicente, ela produzia ferro gusa e exportava para a Europa,
Estados Unidos, Ásia e América Latina. Além disso, produzia carvão
vegetal utilizado em seus altos-fornos e vendia o excedente. “Foram três
altos fornos gerando em torno de 1.800 empregos. A renda da cidade
aumentou, o comércio melhorou e a prefeitura ampliou sua receita com
mais impostos. A siderúrgica foi outra arrancada que a cidade deu.” 85 “As
primeiras indústrias que fizeram girar a economia foram as siderúrgicas
e meu pai foi um dos pioneiros. Havia três siderúrgicas em Bom Despacho
e, com elas, o serviço terceirizado, que fez a cidade crescer.” 86
85 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
86 Liliana Valadares Gontijo Fernandes. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 22 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.
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tempos de desenvolvimento em todo o país
“às 9:30h do dia 21 de abril de 1960, no Salão de Despachos do Palácio do Planalto, cercado por
seus Ministros e Embaixadores Especiais, JK teve estas palavras curtas: Declaro inaugurada
a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do Brasil! No mesmo instante, o Poder
Legislativo e Judiciário confirmaram a inauguração do jovem Distrito Federal, que nasceu num dia de
sol forte, e céu azul, a mais de 1.200 metros”.87 Juscelino, com seu ar alegre, cumpriu sua promessa
sob os olhares dos adversários e dos aliados, que duvidaram da viabilidade daquela obra. “A cidade
era realmente única, respirava ares de modernidade, os brasileiros não estavam acostumados a ver
edifícios tão grandiosos e diferentes, alguns arredondados, com formas curvas e outros que pareciam
flutuar na água. A revista O Cruzeiro de 7 de maio de 1960, em reportagem sobre as comemorações,
afirmou que: ‘Quase ninguém acredita no que vê. Os edifícios quase levitando, o ocaso reverberando
nas paredes de vidro. No meio da confusão há silêncio, há majestade, há qualquer coisa desabrochando
com dignidade de rosa. Brasília é o século XXI’”.88
Em Minas Gerais, o governador Bias Fortes atuava em plena sintonia com o governo de JK nas áreas
de energia, transporte e agricultura. A crise financeira do Estado levou-o a criar, ainda no início do
seu mandato a “Comissão Coordenadora de Ajuda Técnica aos Municípios – CATEC, com a missão
de buscar, especialmente nos órgãos e autarquias federais, recursos técnicos e financeiros para
saneamento básico, abastecimento de água, luz, entre outras ações.”89 Emitiu apólices, reajustou
tributos e investiu contra os inadimplentes com o Estado. Dentre as suas ações coordenadas com o
Governo Federal estava o programa de geração de energia, com a construção das hidroelétricas de
Três Marias e de Furnas, a partir das quais se pôde ofertar energia para as empresas instaladas na
Cidade Industrial de Contagem e em outras localidades. Três Marias começou a operar em 1961 e
Furnas, dois anos depois.
um novo tempo na história do país
87 Revista O Cruzeiro de 07 de maio de 1960.88 Museu Virtual Brasil – Museu Virtual de Brasília. Site www.museuvirtualbrasil/museuvirtualdebrasilia.com.br - Escritório de Histórias.89 Os Governadores – História de Minas Gerais. Caderno especial do Jornal Hoje em Dia, Belo Horizonte, 2008. p. 175.
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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O fechamento da barragem de Três Marias trouxe mudanças principalmente para aqueles que teriam
suas terras inundadas. Eram fazendas que estavam localizadas numa vasta região ao longo da bacia
do Rio São Francisco e seus afluentes. Estradas desapareceram, comunidades ficaram isoladas e
até mesmo parte da história submergiu sob as águas da represa. “Quando fecharam a barragem de
Três Marias, à medida que as águas foram subindo o gado foi saindo para os lados, e os fazendeiros,
apertados, começaram a vendê-lo. Eu fui para a região, comprei gado e coloquei na estrada, trazendo
para vender aqui em Bom Despacho e em cidades vizinhas. Lembro-me de um fazendeiro que ficou na
casa da fazenda até a água subir dizendo que queira morrer. A água entrou e encheu a fazenda, mas os
vizinhos e familiares o salvaram”.90
Estradas como a antiga BR-3, atual BR-040, ligando o Rio de Janeiro a Brasília passando por Minas
Gerais, e a Fernão Dias, conectando Belo Horizonte a São Paulo, foram inauguradas por Bias Fortes,
ao lado de JK. Outras estradas de importância para o Estado, ligando a capital mineira às cidades
históricas de Ouro Preto, São João Del Rei e Sabará também mereceram atenção do governo estadual.
Além disso, Bias Fortes ofereceu créditos aos produtores rurais para a modernização da agricultura,
por meio da mecanização das atividades.
90 Flávio de Melo Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 11 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Inauguração de BrasiliaArquivo Público do Distrito Federal
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tempos de desenvolvimento em todo o país
A música de carnaval da década de 50, denominada “Vagalume”, de
autoria de Vitor Simon e Fernando Martins retrata alguns dos problemas
enfrentados não só pelo Rio de Janeiro, mas por quase todas as cidades
brasileiras naquela época.
“Rio de Janeiro
Cidade que nos seduz
De dia falta água
De noite falta luz.
Abro o chuveiro
Não cai nem um pingo
Desde segunda
Até domingo.
Eu vou pro mato
Ai! pro mato eu vou
Vou buscar um vagalume
Pra dar luz ao meu chatô.”
Mas o acelerado ritmo brasileiro de crescimento não foi acompanhado em todos os lugares e nem por
todos os municípios. Muitos deles perderam o bonde da história ou, como se diz no interior, perderam o
cavalo que passava arreado em única oportunidade. A telefonia era um grande problema nacional que
se estendeu até os anos 80, mesmo nos grandes centros urbanos. As empresas estatais, que detinham
o monopólio das telecomunicações, e as pequenas empresas privadas, não conseguiam atender às
demandas, mesmo com o financiamento por parte dos usuários que contribuíram, compulsoriamente,
com valores inseridos nas contas. Questões relacionadas à energia, água e esgoto não eram problemas
apenas das pequenas cidades brasileiras. O acelerado desenvolvimento nacional a partir de JK era
freado pela ainda frágil infraestrutura existente. Faltava energia, água tratada e sistema de esgoto e a
telefonia era de baixa qualidade, sendo o telefone um bem de alto valor que servia apenas às classes
sociais mais abastadas. Até mesmo a cidade do Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, sofria com o
problema. Com poucas realizações significativas na segunda metade dos anos 50, Bom Despacho
recebeu no dia 2 de agosto de 1959, já sob a gestão de Antônio Leite de Oliveira a instalação da
Companhia Telefônica de Bom Despacho, com quinhentas linhas e quatrocentos aparelhos telefônicos
instalados.
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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91 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 22 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG).
“A cidade era pequena, então a demanda também era pequena. Quando eu era menina,
o comércio tinha os armazéns e as casas de comércio. Tinha a Casa Seleta, a Casa
Assunção, que era mais tradicional, mas, mesmo assim, tinha uma certa mistura, por
exemplo, na Casa Assunção tinha tecido, presente de louça, ferramentas, variedades.
Para levar os produtos das fazendas para a cidade usava-se o carro de boi. O leiteiro
passava vendendo leite, gritando ‘leiteiro, leiteiro’ pela rua afora, as pessoas saíam
das casas e levavam as vasilhas. Vendia-se laranja em cima de burros, vendia-se
abacaxi, banana, outras frutas, alface, tomate, tudo era vendido assim. Depois vieram
as charretes. não tinha asfalto, então o carro de boi vinha ‘cantando’, passando pela
cidade. Quando chegou calçamento em Bom Despacho, o pessoal achava um progresso.
Na hora que chegou o asfalto, ô, maravilha! Quando chovia, a luz sumia. Tinha um
eletricista que morava na casa de força, para dar conta do serviço. Ainda tem a casa
conservada ali. Ele saía carregando a escada pela cidade, de poste em poste, mas o
povo nem estressava. Estávamos acostumados com as idas e vindas da energia, não
era motivo de aborrecimento. Se ele ia para uma fazenda e a cidade ficava sem luz, ele
arrumava na hora em que voltava. O telefone chegou em Bom Despacho há mais ou
menos 45 anos, mas a gente ficava ‘pelejando’, não dava linha toda hora. Tinha poucos
números na cidade e, para falar com Belo Horizonte, você chamava a telefonista e era
ela que fazia a ligação. Se fosse urgente, mandávamos telegrama, porque o telefone
demorou. O jornal de Belo Horizonte chegava pelo trem todos os dias, com certo atraso,
mas chegava. Depois, com o progresso, veio a televisão, que, na maioria das vezes, era
só ‘chuva’, não enxergávamos nada.”
Liliana Valadares Gontijo Fernandes 91
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
As eleições de 1960 traçaram um novo cenário na vida política brasileira com a vitória nas urnas de Jânio da Silva Quadros, ex-governador de São Paulo, eleito pela coligação PTN-PDC-PR-PL e UDN, conseguindo a façanha de 5,6 milhões de votos, até então a maior da história, com uma
diferença de mais de 2 milhões de votos sobre marechal Henrique Lott do PSD, ex-ministro de JK. Com a eleição em separado, o vice-presidente era novamente João Goulart (PTB) que derrotou Milton Campos, da chapa de Jânio.
Jânio fez uma campanha de moralidade cujo símbolo era uma vassoura, que significava “varrer” toda a “sujeira” do país. Já em Brasília, lugar que ele detestava, começou a se movimentar cuidando prioritariamente de coisas supérfluas, entre elas, brigas de galo, censura à minissaia, etc. Atacou JK de todas as maneiras que pôde, talvez pelo fato de ter herdado do seu antecessor uma significativa dívida. Também fugiu ao controle da UDN e, principalmente, de seu maior expoente, o governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda. Atuou, no pouco tempo que esteve à frente do executivo (31/1/1961 a 25/8/1961), como se não tivesse partido. Em 25 de agosto, enviou ao Congresso, onde não tinha maioria, um bilhete em que expressava a sua renúncia tendo por porta voz o seu Ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta. Essa foi imediatamente aceita pela casa e instaurou-se uma crise política.
A reviravolta na política e o golpe civil-militar
Jânio Quadros em Bom Despacho com Nicolau Leite.Acervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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A UDN sentiu-se traída. Juntamente com outras forças que desde a queda de Vargas em 1945 vinham se organizando, tentaram evitar que o vice João Goulart, em viagem diplomática à China, tomasse posse. Do Rio Grande do Sul veio a Campanha da Legalidade92 e, um arranjo político foi costurado para que Jango tomasse posse. O regime presidencialista mudou para parlamentarista e Tancredo Neves foi escolhido primeiro ministro, permanecendo no cargo de setembro de 1961 a junho de 1962.93
João Goulart ganhou fama de comunista junto aos conservadores, sobretudo, por sua proximidade com os sindicatos e por ter dobrado o salário mínimo quando foi Ministro do Trabalho no governo Vargas. Em seu governo lançou as “Reformas de Base”, composta por: reforma fiscal, bancária, eleitoral, urbana, agrária e educacional, além de prever a nacionalização de setores de infraestrutura como energia elétrica e refino de petróleo, sendo este um dos primeiros entraves colocados por seus adversários no Congresso Nacional.
Em janeiro de 1963 um plebiscito determinou a volta ao presidencialismo e João Goulart passou a ocupar o cargo de presidente da República. Nos bastidores, começava a haver intensa articulação tanto na esfera militar como na esfera civil contra o governo Jango.
Desde 1961 Minas Gerais tinha por governador o experiente político e bem sucedido banqueiro José de Magalhães Pinto, natural de Santo Antônio do Monte, município a que um dia Bom Despacho pertencera. Ele era também um dos fundadores da UDN e inimigo político do ex-governador interventor Benedito Valadares, da vizinha Pará de Minas. As reformas propostas por Jango poderiam interferir não só nas pretensões políticas do governador, que almejava ser presidente, quanto em seus negócios como banqueiro. A frase “política
é como nuvem, muda toda hora”, cunhada por ele, era uma espécie de atestado de seus posicionamentos mutantes. Magalhães Pinto foi um dos que apoiaram o golpe civil-militar que depôs Jango, na esperança de ser ele o provável substituto.
Os mesmos atores que tentaram impedir a posse de Goulart, com o argumento de suspeita de um golpe à esquerda, se mobilizavam. Jango tentou se apoiar nos movimentos sindicais deixando de lado a articulação política mais ampla. No início de 1964, os militares alertaram sobre o comunismo dentro dos quartéis e à frente deste movimento estava o general Humberto Castelo Branco. Nas ruas dos grandes centros, a TFP-Tradição, Família, Propriedade, movimento de extrema direita ligado à igreja católica, colhia assinaturas contra o comunismo. O IBAD – Instituto Brasileiro de Ação Democrática, instituição formada por empresários, políticos e intelectuais de direita, fundado em 1959, depois de apoiar a eleição de Jânio, agrupou-se ao IPES – Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, e, juntos, se tornaram o braço civil do golpe que deporia o presidente.
Os ânimos se acirraram com o discurso de Jango no dia 13 de março de 1964 na Central do Brasil. No dia 20 a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” reuniu em São Paulo quinhentas mil pessoas reivindicando a saída de Jango. “A Marcha foi uma resposta ágil e direta ao comício feito por João Goulart e os seus partidários na estação Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro. Ele havia acabado de assinar o primeiro passo para a reforma agrária e o projeto que previa a encampação das refinarias particulares de petróleo.”94 No dia 31 de março, forças militares de Minas marcharam para o Rio de Janeiro e, em 2 de abril, diante da declaração da vacância do cargo de presidente, Jango estava deposto. Tinha início a ditadura militar que perduraria mais de vinte anos.
92 Articulada pelo então governador gaúcho Leonel Brizola, cunhado de Jango, que mobilizou mais de cem emissoras de rádio, convocando o povo às ruas para defender a constituição e a posse do vice gaúcho.
93 Tancredo foi sucedido por Brochado da Rocha, que ocupou o posto até setembro de 1962, sendo substituído por Hermes Lima, o último primeiro ministro do governo Jango.
94 Marcha com Deus pela Liberdade completa 47 anos. Jornal do Brasil, 20 de março de 2011.
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tempos de desenvolvimento em todo o país
Em suas entidades, UNE, DCEs e DAs, os estudantes se organizavam
em defesa do governo e seu plano de reformas, mesmo com
críticas e discordando de alguns pontos. Além da política, entidades
como a UNE tinham programação cultural ampla que envolvia não
só os estudantes, mas também os intelectuais da época, músicos,
atores e outros artistas. Em Bom Despacho, um movimento estudantil
secundarista se formou espelhado no agitado e comprometido
movimento estudantil, sem, contudo, professar qualquer conotação
política. A ideia era despertar e promover atividades culturais, participar
de eventos em outros lugares e fazer intercâmbio com as demais
entidades estudantis do país, ampliando o então restrito cenário cultural
da cidade. Pediram autorização ao Dr. Nicolau Leite, diretor de colégio,
que se propôs a ajudá-los “Em 1962, juntamente com o Aécio Lobato,
o Fernando e o Itamar de Oliveira, nós fundamos em Bom Despacho a
União Municipal dos Estudantes Secundários. Depois, com o advento
da ditadura, a entidade foi murchando.”95 “O movimento estudantil
daqui tinha um jornal chamado O Escriba, fundado por mim quando fui
presidente da entidade. O movimento tinha tanta importância para a
cidade que na posse do presidente da União Municipal dos Estudantes,
todas as autoridades, o comandante, o delegado, o prefeito, o juiz, o
promotor, estavam presentes. O Cine Regina, onde foi realizado o evento,
ficou repleto de gente.”96
em Bom Despacho, os estudantes fundam entidade
95 Benjamim da Silva Sobrinho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 20 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.
96 Tadeu Antônio de Araújo Teixeira. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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Posse de Joao Batista Figueiredo (detalhe)Acervo do Senado Federal
A DITADURA MILITAR E OS seus reflexOs nA cIDADe
DE BOM DESPACHO
Os desejos de Magalhães Pinto, Carlos
Lacerda e até mesmo do próprio JK de
se candidatarem às eleições em 1965 se
frustraram diante das modificações inseridas
na Carta Constitucional brasileira pelos
militares. Até então, todos acalentavam sonhos
de restabelecimento das eleições diretas para
presidente da República. A primeira alteração
na Constituição veio com o Ato Institucional nº
1, que convocou o Congresso para eleger em 48
horas o novo presidente com amplos poderes,
além de autorizar cassações, suspensões de
mandatos e de direitos políticos. Começava
a caça às bruxas com prisões, torturas de
líderes estudantis, camponeses, sindicalistas
e cidadãos comuns. As cassações atingiram
também Jânio, Jango e JK. Centenas de
militares, assim como funcionários públicos,
foram aposentados ou exonerados e a lista
inicial de “inimigos”, passava de cinco mil
pessoas, crescendo nos anos seguintes quando
o regime se fecharia mais ainda com a volta da
Lei de Segurança Nacional e a predominância da
“linha dura” das Forças Armadas. Outros atos
institucionais foram editados posteriormente,
acabando com os partidos políticos. Começava
o tempo do bipartidarismo com a criação da
ARENA – Aliança Renovadora Nacional, e do
MDB - Movimento Democrático Brasileiro.
O AI-5, promulgado em dezembro de 1968,
consolidou a força do regime.
Num contexto de repressão e ditadura, há
sempre uma inversão de valores e todo e
qualquer cidadão se torna suspeito, até que se
prove sua inocência. Pessoas de Bom Despacho
também sofreram nos anos de chumbo, muitos,
provavelmente, nem sequer souberam que
eram investigados pelo Departamento de
Ordem Política e Social do Estado de Minas
Gerais. No arquivo do DOPS/MG, sob a guarda
do Arquivo Público Mineiro, existem em torno de
quinze pastas de documentos, de livre acesso,
sobre pessoas e entidades de Bom Despacho,
suspeitas e investigadas. Esse acervo tem seu
primeiro registro datado de 1933 e o último de
1974. Na década de 40, a investigação recai, em
sua maioria, sobre os alemães da Colônia David
Campista. As acusações registradas são de
montagem de rádio amador e outros materiais.
Dois deles são citados nominalmente. As prisões
estavam diretamente relacionadas à IIª Guerra
Mundial, ocasião em que alemães e italianos
residentes no Brasil foram severamente
investigados, presos e torturados. Documentos
dos anos anteriores registram suspeita de
subversivos ou comunistas que incitavam as
greves de ferroviários na cidade. A lista de
assuntos é longa e criativa, mesmo no período
de democracia, 1945 a 1964. A partir de 1964 as
investigações ganham cara nova com citações
mais específicas. “Sobre fundação e atuação
em Bom Despacho de associação e sindicato
dos trabalhadores da indústria de fiação e
tecelagem, e do sindicato dos trabalhadores
autônomos da lavoura”97 (Maio de 1964); “Sobre
movimento de jovens denominado ‘Roda Viva’,
em Bom Despacho (1974); os coordenadores
do movimento eram padres; nada se apurou de
concreto, mas havia suspeita de atividade de
aliciamento político do MDB.”98
97 Arquivo Público Mineiro. Fundo DOPS/MG. Pasta 3843.98 Arquivo Público Mineiro. Fundo DOPS/MG. Pasta 4369.
A ditadura militar e os seus reflexos na cidade
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Como a maioria das pequenas cidades brasileiras, Bom Despacho enfrentava dificuldades com
estradas em condições precárias impedindo a melhora do transporte rodoviário. Havia ainda
problemas com abastecimento de água e energia elétrica. Consequentemente, o desenvolvimento
da cidade ficava comprometido e deixava a desejar em relação às condições de vida e de trabalho dos
seus cidadãos. “Na década de 1960, a cidade tinha dado um impulso no dimensionamento de ruas e
avenidas, mas só começou a ter um plano um pouco mais elaborado a partir da década de 1970.”99 Com
todas as dificuldades de infraestrutura existentes, foi criada a cidade industrial de Bom Despacho,
conforme Lei 3.529, de 10 de novembro de 1965. Era uma maneira de tentar disciplinar a ocupação
do espaço urbano, ainda que, em médio prazo, a região industrial estivesse repleta de moradias no
seu entorno. O anúncio da criação do distrito industrial demorou mais de uma década, só ocorrendo
em 1977, após a chegada da CEMIG, com a solicitação à Prefeitura de área para abrigar pequenas
indústrias.100
As viagens para a capital eram feitas de trem ou de jardineira por estradas de terra que interligavam
Bom Despacho às cidades vizinhas. Somente em 1968, foi construída a estrada de rodagem BR-
262, ligando Vitória (ES) a Campo Grande (MS), cruzando de leste a oeste todo o estado de Minas e,
passando pelo município de Bom Despacho, há menos de três quilômetros do centro da cidade. Esse
empreendimento rodoviário, levado a termo pelo governo militar, trouxe desenvolvimento e mobilidade
para inúmeras cidades à sua margem. Bom Despacho ficou mais perto dos grandes centros, a começar
por Belo Horizonte, diminuindo em muito o tempo de viagem, além de propiciar conforto e segurança
aos viajantes. “A construção da BR-262 nos ligou a Belo Horizonte e ao Triângulo Mineiro. O asfalto
melhorou bastante a nossa vida e colocou Bom Despacho no mapa.”101
Na área educacional, a cidade parecia que ia deslanchar. A instituição da primeira faculdade102 veio com
a publicação da lei que autorizou a Fundação da Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho: Art.
1º - Fica o Governo do Estado autorizado a instituir com sede na cidade de Bom Despacho, a Fundação
Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho, entidade autônoma que se regerá por estatuto
aprovado em decreto do Governador do Estado. Um ano antes, haviam sido criados, também por lei103,
os Ginásios Industriais Estaduais em Bom Despacho. Mas, a realidade foi outra, nem a faculdade e
nem os ginásios saíram do papel.
Infraestrutura para o crescimento
99 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 100 Jornal Bom Despacho, nº 14, de 1/1/1978. 101 João Batista F. de Andrade. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 102 Lei 3.903, de 22 de dezembro de 1965 e do Decreto 9.299, de 03 de janeiro de 1966. 103 Lei 4.025, de 28 de dezembro de 1965.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em nível nacional, o país vivia o período que ficou conhecido como “anos de chumbo”. Durante o
governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), a economia cresceu a olhos vistos
no que ficou conhecido como “milagre brasileiro”, que se estendeu de 1968 a 1973, combinando
crescimento econômico com taxas relativamente baixas de inflação. Os investimentos feitos pelo
Estado se direcionaram para os setores de energia, siderurgia, petroquímica e construção naval. O
resultado foi surpreendente. O PIB, entre 1968 e 1973, passou de 10% ao ano, enquanto o consumo de
bens duráveis cresceu mais de 20% e o de bens de capital chegou a 18%. A inflação esteve presente
durante todo esse tempo, oscilando a taxas entre 15 e 18% ao ano. O período foi também beneficiado
por uma boa situação econômica mundial, além da grande expansão do comércio brasileiro com
o exterior. Outro fator importante foi o aumento da arrecadação de tributos, que contribuiu para a
redução do déficit público e da inflação.
Capela da Cruz do MonteFoto: Ricardo Avelar
A década de 1970 e as movimentações em Bom Despacho
A ditadura militar e os seus reflexos na cidade
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104 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Mesmo diante de um governo autoritário e da ausência de liberdade,
com os veículos de comunicação sob censura, o país crescia e gerava
empregos. Em Bom Despacho, Antônio Leite de Oliveira que havia sido
prefeito entre 1959 e 1963, voltou para cumprir o “mandato tampão” de
1971 a 1973. Na sequência, foi eleito Geraldo Simão Vaz, que realizava o
seu segundo mandato, para depois Antônio Leite voltar e fechar a década
de 1970. Neste período, Bom Despacho conheceu o dinamismo em sua
administração com muitas conquistas, entre elas a chegada da CAF –
Cia. Agrícola e Florestal Santa Bárbara, a empresa de reflorestamento
da Cia. Belgo-Mineira, atual ArcelorMittal. Ela havia adquirido áreas em
Bom Despacho e Martinho Campos para plantar eucalipto e produzir
carvão vegetal para suas usinas. A CAF foi responsável por gerar
muitos empregos na região, formar mão de obra em silvicultura e levar
tecnologia de ponta na produção de carvão, utilizando grandes fornos
metálicos e retirando da fumaça o alcatrão, que foi consumido em suas
fábricas em substituição ao diesel. “A urbanização começou a chegar
e algumas empresas vieram para Bom Despacho, uma delas foi a CAF,
em que trabalhei por cinco anos. Bom Despacho começou a alavancar
seu desenvolvimento a partir da década de 1970, com mais pessoas
de carteira assinada, trabalho efetivo, e isto, acredito eu, foi um passo
importante para a cidade”.104
Decerramento de Placa Inauguração do Trevo Pará de Minas Acervo DnIT
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
105 José Cardoso de Mesquita. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 10 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
106 Geraldo Pereira Vaz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 8 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Em termos de infraestrutura, a cidade recebeu a CEMIG, a COPASA
e a TELEMIG, ou seja, o que existia de melhor em termos de energia,
tratamento de água e telefonia. As obras, entre 1975 e 1980, podem
ser assim resumidas: implantação da rede de energia elétrica da
CEMIG, implantação de rede de abastecimento de água pela COPASA,
e estação de tratamento de água, em convênio com a Prefeitura,
construção de grupos escolares, sendo dois deles em convênio com a
Campanha de Recuperação e Reparos de Prédios Escolares (CARPE),
captação e distribuição de água na Vila do Engenho do Ribeiro a partir
de poços artesianos, posto do INSS, inauguração do novo cemitério,
entre outros. “Quando me casei não tinha água nem para escovar os
dentes. No meu vizinho havia uma cisterna de vinte e tantos metros que
nos servia. As três concessionárias, COPASA, CEMIG e TELEMIG foram
marcos importantes para a cidade.”105 Além disso, no campo social foi
criada a APAE, a ABAP (Associação Bom-despachense de Assistência e
Promoção) e o Rotary Clube. “O Rotary trabalha atendendo pessoas em
dificuldade. fazendo campanha agasalho, entre outras. Ele ajuda muito
os mais necessitados.”106
Rotary de Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
A ditadura militar e os seus reflexos na cidade
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107 O Bom Despacho, n°23, 05/03/1978, p. 1. 108 Maria Adjara dos Santos. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 1º de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Também houve uma grande perda para a cidade que há muito vinha sendo anunciada: o fim dos trens
em Bom Despacho no ano de 1978. O jornal O Bom Despacho anunciou a desativação dos serviços
ferroviários: “Segundo fonte muito segura, a notícia agora é verdadeira. Bom Despacho vai ficar sem
serviços ferroviários. Desde o dia 1º de março não corre mais trem de passageiros ou de carga. Pudemos
apurar que os funcionários da Rede Ferroviária Federal já estão indo embora. O trem de ferro se vai,
para nunca mais voltar. Deixa no perímetro urbano os cortes profundos, marcas também profundas de
um meio de transporte que foi o sucesso e o assombro, que fez a grandeza e a glória de uma pequena
cidade sertaneja, há 4 décadas atrás. As marias-fumaça barulhentas e corajosas jamais se apagarão
da memória de quem as viu subir bufando, valentemente, os aclives da Tabatinga e da Prata. Para a
Prefeitura Municipal pode ficar uma grande herança os terrenos e prédios da Rede Ferroviária, que irão
solucionar o problema da sede do Paço Municipal, Rodoviária, Biblioteca, etc.”107
“A rede ferroviária serviu muito a cidade. Aqui não tinha correio, o correio era o trem de passageiros,
a gente ia para estação para ver se tinha chegado uma carta. Também íamos para namorar, conhecer
pessoas novas. Aquele foi o melhor tempo em Bom Despacho. Até hoje, as famílias dos rodoviários
são muito unidas. O nosso armazém só tinha coisa de primeira, do bom e do melhor. Quando o trem
de ferro chegava, as carroças com os cavalos apareciam para carregar as malas até os hotéis em que
as pessoas se hospedavam. Tinha um soldado que ficava por conta só de olhar o movimento. Havia
uma senhora que a gente chamava de ‘madrinha’, esposa de um ferroviário que ficava com a mesinha
dela para vender biscoito e café para aqueles que estavam passando. Vinha muita gente bonita para a
cidade. A gente sentia uma alegria quando ouvia o apito da máquina! O melhor momento da minha vida
foi a época da Rede Ferroviária. Mudou muita coisa depois que os ferroviários foram para Divinópolis,
atrapalhou muito a nossa convivência.”108
Copasa de Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
- 115 -- 115 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Imagem aérea de Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
AnOs 80: OrGAnIzAçãO PARA O DESEnVOLVIMEnTO
MUnICIPAL
A ideia de que entre o velho e o novo sempre existe o movimento
de transição, de certo modo, pode descrever o contexto político
encontrado no Brasil, no início da década de 80. O processo de
abertura política, iniciado nos anos 70, durante o governo de Ernesto
Geisel, parecia conduzir o país rumo à constituição da Nova República.
Mas o percurso para a consolidação do fim do Regime Militar ainda
se mostrava longo, já que o movimento de transição perpassaria todo
o governo de João Batista Figueiredo (1979-1985). A fase do “Milagre
Brasileiro” estava encerrada e a conta aos poucos chegava, com a
inflação em alta, a queda do PIB e o aumento do desemprego e da dívida
externa, que se tornou o grande problema da economia. O Brasil perdeu
muitas reservas e o governo precisou recorrer ao FMI. De 1981 a 1983, o
PIB teve um declínio médio de 1,6% e começou a se desenhar um quadro
de estagnação econômica e inflação. A situação se complicou ainda
mais com a desvalorização da moeda frente ao dólar em 1983, e eram
claros os sintomas de uma recessão. As eleições diretas para escolha
dos governadores movimentaram o país. A vitória de opositores à
ditadura, que conquistaram governos em diversos estados, deixava claro
que o retorno das eleições presidenciais e o estabelecimento de uma
Assembleia Nacional Constituinte encontravam eco junto à população.
Impulsionados pela emenda do deputado Dante de Oliveira, que
propunha o retorno do voto direto para escolha do presidente, brasileiros
se reuniram em grandes concentrações realizadas em várias partes do
país, reivindicando a aprovação da emenda. O primeiro comício pelas
“Diretas Já” aconteceu na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro
de 1984, superando todas as expectativas de participação. Milhares de
brasileiros compareceram ao evento noutras capitais.
A derrota da emenda Dante de Oliveira, fez com que a eleição fosse
indireta e o colégio eleitoral escolheu Tancredo Neves, candidato da
oposição, para ocupar o cargo de Presidente da República, tendo como
vice, José Sarney. Em 1985, antes de tomar posse, Tancredo Neves
faleceu em decorrência de complicações de uma diverticulite. O governo
Sarney enfrentou muitas dificuldades na economia, devido a elevada taxa
inflacionária e a indexação da economia. Para tentar conter a inflação,
lançou mão de planos econômicos. O primeiro e mais conhecido deles,
O Brasil na década de 80
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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal
o Plano Cruzado, adotado em fevereiro de 1986, substituiu o Cruzeiro
pelo Cruzado, cortando três zeros, congelou preços e salários e instituiu
a tablita na intenção de desindexar a inflação futura. Não deu certo e a
crise econômica agravou-se ainda mais.
Em 1989, a esperança da realização de eleições diretas para a escolha do
novo presidente da República, determinadas pela Constituição de 1988,
animavam a população que sofria com a elevada inflação. As eleições
agitaram a cena política do país e foram marcadas pelo grande número
de candidatos e pela polarização político-ideológica entre o sindicalista
Luiz Inácio Lula da Silva, pertencente ao Partido dos Trabalhadores (PT),
e o ex-Governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, do Partido
da Reconstrução Nacional (PRN), que vieram a disputar o segundo
turno. Contando com o apoio do empresariado e dos maiores meios de
comunicação do país, Collor foi eleito com 53% dos votos.
Posse Fernando Collor em 1990Acervo do Senado Federal
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
De modo paradoxal, enquanto o país atravessava um período de crise, Bom Despacho vivenciava
expressivo crescimento urbano, caracterizado pela pavimentação das ruas de bairros e periferias.
Para além das conquistas estruturais, assim como o ocorrido em todo o país no início dos anos
80, o município se tornava palco de um intenso movimento de organização popular, que deu origem a
diversas associações de moradores e à fundação do Ipê Campestre Clube, um dos mais tradicionais de
Bom Despacho. Estabelecido em 1º de junho de 1980, o clube, além de oferecer atividades esportivas,
servia à realização de bailes e como palco para as apresentações de artistas vindos de outras cidades.
Os eventos costumavam reunir membros da alta sociedade do município. Paulino Cançado, um
dos sócios fundadores, ex-presidente e dono da cota de número 1, lembra que “as primeiras cotas
foram vendidas no valor equivalente hoje a quinhentos reais, chegando a ser comercializadas por até
cinco mil”109. Naquela época, frequentar os clubes era uma tradição adotada por muitas famílias,
que ali travavam convivência e desfrutavam de uma estrutura de lazer que não dispunham em suas
residências. Algumas famílias ainda preservam o costume, como é o caso de Paulino Cançado que,
orgulhoso, revela: “Meu filho é dono da cota de número 1001 do Ipê Campestre Clube.”110
A cidade se organiza
109 Paulino Cançado. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 2 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.110 Paulino Cançado. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 2 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Ipê Campestre ClubeFoto: Ricardo Avelar
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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal
Os 75 mil metros quadrados, compostos por jardins, pomar, lago, pistas de corrida e kart, além do
centro poliesportivo, entre outros espaços de lazer, foi totalmente estruturado a partir das taxas pagas
pelos associados. Com o passar dos anos, os grandes eventos deram lugar às celebrações realizadas na
véspera de ano novo e às reuniões e bailes promovidos pelo grupo da terceira idade “Papo Ponto Zero”.
Criado há quatorze anos, o grupo é composto por vinte mulheres, com mais de cinquenta anos, que
decidiram realizar encontros a cada quinze dias, com a intenção de prosear e se divertir. São amigas de
infância que hoje estão viúvas, separadas ou casadas, que concedem a si mesmas a prazerosa tarefa de
compartilhar experiências e memórias por algumas horas. Os encontros ocorrem, com frequência, nas
casas delas, como descreve Ordália Ferreira Pessoa Melo: “Cada encontro é na casa de uma mulher e
fazemos uma programação anual. A gente já faz a programação do ano. Por exemplo, eu já sei em qual
dia que eu vou oferecer o meu jantar. Aí vem todo mundo aqui para casa, têm as brincadeiras, a gente
deixa uma mensagem e trocamos presentinhos”.111 Ordália conta que, seguindo o modelo do “Papo Ponto
Zero”, outros grupos começaram a proliferar em Bom Despacho, parecendo indicar a vontade que os
cidadãos do município sentiam em retomar a própria história, revivendo fatos transcorridos no passado.
“ MUDAnçAS COM O PASSAR DO TEMPO”
O clube do Ipê permanece em funcionamento até os dias atuais, com aproximadamente 1.500 associados.
111 Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 27 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Na intenção de reconhecer as origens e a trajetória dos negros que
viveram na região, em 1981 foi realizado o primeiro registro de um terreiro
de umbanda, localizado na comunidade da Tabatinga112. A valorização
da cultura popular veio acompanhada do estabelecimento de um novo
órgão administrativo e do crescimento industrial do município. Em 1982,
a ênfase concedida pelo governo à arrecadação de impostos diretos113
possibilitou o estabelecimento do Núcleo de Fiscalização da Administração
Fazendária II (AF/II), em Bom Despacho, vinculado à Secretaria do Estado
de Fazenda114. O núcleo atendia também aos municípios de Abaeté,
Dores do Indaiá, Lagoa da Prata, Araújos, Moema, Biquinhas, Cedro do
Abaeté, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, Estrela do
Indaiá, Luz, Quartel Geral, Japaraíba e Serra da Saudade. Ao mesmo
tempo em que o município passava a contar com um órgão fiscalizador, a
Cooperativa Agropecuária de Bom Despacho (Cooperbom) experimentava
um expressivo aumento da capacidade de produção de sua usina.
A Cooperbom ampliava a carta de produtos ofertados, passando a
executar a pasteurização e industrialização de manteiga, requeijão,
queijos, e, posteriormente, muçarela.
112 Informação extraída de entrevista concedida por Sebastiana Geralda Ribeiro ao Escritório de Histórias no dia 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG).
113 Instituto de pesquisa e economia aplicada. Uma análise da carga tributária no Brasil, p. 6.114 A Administração Fazendária, responsável por recolher os tributos estaduais do município, foi estabelecida em Bom Despacho em 1912, com o
nome Coletoria Estadual. Em 1973 se tornou Unidade Distrital da Fazenda, e em 1977, Administração Fazendária I.
Congado em Bom DespachoAcervo Mundovirado
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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal
“nasci em Carmo da Mata, em 1943, município de Itapecerica, e vim para Bom
Despacho aos quatro anos de idade, quando meu pai veio trabalhar na fazenda da
Ressaca, do Dr. Miguel. Lá eu me criei, ia buscar os bois no pasto, amansava e vinha
montado. Com cavalo também, o meu dom era mexer com animais. Quando tinha uns
catorze anos, mudamos para a cidade. Fui trabalhar como ajudante de eletricista, e
depois na Companhia Telefônica. E num sábado, estávamos trabalhando quando
surgiu o primeiro rodeio aqui em Bom Despacho, com a tropa do Zé Capitão. Saímos do
trabalho direto para o rodeio, cheguei e montei em um cavalo. Eu era tão pobre que não
tinha uma botina para calçar. Estava descalço e não podia, os colegas me arrumaram
uma botina empestada. Montei e aguentei muito pulo, achei bom demais o rodeio! E
como ganhei, naquele tempinho ganhei quase três vezes o que eu recebia por semana
no serviço na Companhia. Quando o Zé Capitão me falou pra eu ir trabalhar com ele
no rodeio, me animei e fui. Primeiro, para Divinópolis, depois para o Rio de Janeiro,
onde eu montei demais, eram três cavalos no sábado e três no domingo! Fui ficando
bom e viajando para os rodeios no país todo, Mato Grosso, Paraná, Goiás, Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas, todo canto. Teve temporada que ganhei 156
campeonatos! Deus me ajudou e eu melhorei de vida com o rodeio, pude ajudar minha
mãe. Em Barretos, fui campeão por dois anos e meu nome está lá, registrado. Hoje, não
monto mais, mas gosto de ir ver os rodeios, é bonito demais! Sempre morei em Bom
Despacho, viajava para os rodeios e voltava, meus pais viviam aqui.”
Benedito Alves, o Bené Peão 115
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
115 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Refletindo o panorama encontrado em diversos municípios do país, em 1982, Bom Despacho
contava com um sistema educacional formado, predominantemente, por escolas rurais, limitadas
tanto em estrutura, quanto em organização. Foi nesse ano que o prefeito do município, Antônio
Leite de Oliveira, convidou Zeni Hamdan, que atuava na Delegacia Regional de Ensino, para assumir a
diretoria do Departamento de Educação, como narra a própria educadora: “Eu estava trabalhando na
Inspetoria. O Sr. Antônio, que era o prefeito, mandou me chamar aqui em casa para saber se eu poderia
assumir a direção do departamento. Eu expliquei para ele que isso seria acúmulo de cargo e que eu não
poderia fazê-lo. A solução veio quando ele solicitou à Delegacia Regional de Ensino, que eu ficasse um
horário na Inspetoria e outro horário no Departamento de Educação”.116
Na posição de diretora do Departamento de Educação Zeni se sentiu desconfortável ao se deparar com
um sistema de gestão com foco administrativo e burocrático. “O trabalho estava limitado a controlar a
frequência do professorado e dos alunos, entregar o material didático, giz, livros, diários.”117 Buscando
implementar uma gerência voltada para a formação de professores e alunos, no decorrer de 1982 a
educadora iniciou uma intensa rotina de visitas a aproximadamente 22 escolas rurais do município.
Nessas visitas, viu diante de seus olhos a difícil realidade enfrentada pelos educadores que se
dedicavam a ensinar as crianças de Bom Despacho: “Eu encontrei professoras heroínas, trabalhando
com quatro séries juntas, mas com muita criatividade, dinamismo e amor. A pobreza de recursos
chamava a atenção: era fogão escorado com tijolos, escola sem porta, o gado entrando na sala de aula,
carteiras muito estragadas, carteiras empilhadas, encostadas nos cantos das paredes. Mas o trabalho
delas era louvável, porque aproveitavam tudo, mesmo aquelas paredes sem reboco, sem pintura, sem
nada, eram enfeitadas por cartazes bonitinhos, chamativos para os alunos”.118
O cuidado com que os educadores mantinham o ambiente em que lecionavam podia ser verificado em
diversos centros educacionais. A escola do Pulador era referência pela limpeza. As escolas do Mato
Seco e da Passagem contavam com três professoras cada – dedicadas às turmas de primeira, segunda,
terceira e quarta séries, e eram exemplos de organização. Destacando-se das demais escolas, a escola
da Passagem possuía plantações de laranja e mandioca, que eram desfrutadas pelos próprios alunos.
Todavia, a expressiva dedicação de alguns professores às instituições de ensino em que atuavam,
esbarrava nas irregularidades encontradas em outras escolas. Como o caso de duas instituições, onde
professores e serventes, apesar de remunerados, não exerciam suas atividades.119
O sistema educacional de Bom Despacho
116 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.117 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.118 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.119 Zeni Hamdan. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 03 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal
A longa e exaustiva jornada de visitas forneceu
a Zeni um grande volume de informações que,
articuladas, começavam a tornar mais claro
o panorama das escolas de Bom Despacho.
Assim, com base nos dados obtidos, começou
a ser realizada uma reforma educacional no
município. Para a alocação dos profissionais,
foi respeitado o tempo de serviço prestado.
Para capacitar os educadores foram oferecidos
cursos, treinamentos e palestras. No espaço
do campo de aviação, foi estabelecida a creche
Maria Auxiliadora II, anexa a Associação Bom-
despachense de Assistência e Promoção
(ABAP), que já mantinha a creche Maria
Auxiliadora I. As escolas foram incentivadas a
criar hortas próprias para o cultivo de legumes
e hortaliças como cenoura, couve, alface e
mandioca. A intenção era que cada instituição
pudesse produzir os alimentos utilizados
na merenda escolar. Além disso, por meio
da doação de livros pela biblioteca pública,
cidadãos e professores, foi criada a biblioteca
itinerante, que percorria as escolas do município.
Entretanto, para que os livros permanecessem
Escola Municipal Coronel PraxedesFoto: Ricardo Avelar
no período de um mês na instituição visitada, era
solicitado aos alunos que apresentassem uma
peça teatral. Deste modo, a ação aproximava os
estudantes, simultaneamente, dos universos da
literatura e do teatro. Zeni Hamdan permaneceu
na direção do Departamento de Educação até o
fim de 1983, no término do mandato do prefeito
Antônio Leite de Oliveira.
Selo comemorativo do centenário da Escola Municipal Coronel Praxedes
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Devido às grandes greves ocorridas entre 1978 e 1979, e à constituição de partidos por lideranças
sindicais, o sindicalismo cresceu em todo território nacional. O movimento sindical ressurgia adotando
formas independentes do Estado, a partir, muitas vezes, da vivência no interior das empresas onde os
trabalhadores organizaram e ampliaram as comissões de fábrica. O eixo mais combativo se deslocou
das empresas públicas para a indústria automobilística, que tinha sido um setor pouco atuante até
1964. Corroborando para a organização dos sindicatos, em 1981, foi realizada a Conferência Nacional da
Classe Trabalhadora (Conclat). O evento possibilitou o encontro de representantes sindicais, tornando
evidentes as diferentes correntes de pensamento dos grupos que compareceram ao encontro. Mais
tarde, as diferenças identificadas resultariam na constituição da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), em 1983; e na Central Geral dos Trabalhadores (CGT), em 1986. Estabeleceram-se assim duas
centrais sindicais no país, com perspectivas opostas que, ao longo dos anos, iriam se defrontar.
Em 12 de janeiro de 1984, estabeleceu-se em Bom Despacho o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias
da Extração de Madeiras e da Lenha de Bom Despacho, filiado à Federação dos Trabalhadores das
Indústrias Extrativas do Estado de Minas Gerias (FTIEMG), que na década de 1980, iniciou a organização
das primeiras associações de extração de madeira e lenha, florestamento e reflorestamento. O
sindicato atuava também nos municípios de Abaeté, Martinho Campos e Quartel Geral. Sua criação
provavelmente está relacionada ao crescimento da organização sindical, tanto rural quanto urbana,
ocorrida em todo o país.
“ SInDICALISMO nO BRASIL”
no final dos anos 70, período marcado pelo início do processo de abertura política, os trabalhadores começaram a reivindicar melhorias, como aumento de salários, garantia de emprego e reconhecimento das comissões de fábrica.
Foi também em 1984 que o 88º Grupo Escoteiro (88° GE/MG)
estabeleceu-se em Bom Despacho. As lembranças dos primeiros
escoteiros do município confrontam os arquivos oficiais do Grupo.
Segundo relatos orais, o 88° GE/MG teria sido fundado em 1950, estando
vinculado ao 7° Batalhão de Polícia Militar e comandado pelo Tenente
Faria. Já os arquivos revelam que ao ser fundado em 1984, recebeu a
denominação 88° GE/MG, concedida pelo 44° Grupo Escoteiro Frei Leão
Rodrigues, que apadrinhou os escoteiros de Bom Despacho. Nesse
mesmo ano foram escolhidos os primeiros ocupantes dos cargos de
presidente e chefe do 88° GE/MG, Joaquim Neves Costa e Jorge Itabajara
de Moraes, respectivamente. A princípio, a sede do Grupo localizava-se
na Avenida das Palmeiras, no prédio em que funcionou o Tiro de Guerra.
Após algum tempo, a sede foi transferida para a Rua Olegário Maciel
– nesse período, as reuniões semanais eram realizadas no Parque de
Exposição do município. Finalmente, em 1993, a sede foi remanejada
para o 7° Batalhão da Polícia Militar, onde permanece até os dias atuais.
Os escoteiros
Sede do 88º Grupo Escoteiro em Bom Despacho.Foto: Ricardo Avelar
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
O livro foi produzido após o sucesso obtido por uma publicação anterior escrita pelo general, em 1901,
denominada “Aids to Scouting”, que tinha como público-alvo os soldados do exército, mas estava sendo
utilizado na educação de rapazes em ambiente escolar. No livro “Escotismo para Rapazes”, B-P discorre
acerca das experiências obtidas ao longo da carreira militar, concedendo orientações aos jovens sobre
práticas de sobrevivência na selva, e na promoção da educação por meio da exaltação dos valores éticos
e morais, do altruísmo e do trabalho. Influenciados pelas ideias de B-P, membros do exército brasileiro
que se encontravam na Inglaterra, ao retornarem para o Brasil, por volta de 1910, trouxeram, além de
uniformes de escoteiro, o desejo de disseminar as práticas escotistas no país. O escotismo se expandiu
no Brasil de forma significativa, chegando a ser adotado como proposta educativa governamental.
Apesar de menos citadas, mulheres sempre integraram o movimento escotista, desde sua fundação,
sendo chamadas de bandeirantes. A distinção se limita somente à nomenclatura, pois as atividades
desenvolvidas por ambos os sexos são as mesmas120. A frase “uma vez escoteiro, sempre escoteiro”,
revela um dos principais preceitos morais do movimento, que vê seus membros como eternos escoteiros.
Dentre as peculiaridades que envolvem os grupos de escotismo, há o cumprimento, sempre realizado
com a mão esquerda.
“ umA Vez escOteIrO, SEMPRE ESCOTEIRO”
O escotismo se tornou conhecido mundialmente por meio do livro “scouting for Boys” (escotismo para rapazes), escrito pelo general inglês lord robert stephenson smyth Baden-Powell– conhecido como (B-P) –, em 1908.
120 Marcelo Ferry. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 09 de março de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado
Muitos cidadãos de Bom Despacho têm sua trajetória vinculada ao 88°
GE/MG, já que algumas dessas pessoas cresceram dentro do movimen-
to escotista, que associa crianças a partir dos seis anos. Já após os três
primeiros meses da associação, o escoteiro participa de uma cerimônia,
em que deve recitar a promessa do movimento – adotada mundialmen-
te –, diante dos membros do grupo: “Prometo pela minha honra fazer
o melhor possível para cumprir meus deveres para com Deus e minha
pátria; ajudar ao próximo em toda e qualquer ocasião; obedecer a lei do
escoteiro.” Na intenção de facilitar a compreensão da promessa, em
diversas ocasiões costuma-se adaptar o texto de acordo com a idade do
escoteiro. Mas essa tarefa sempre é realizada com o cuidado de preser-
var o conteúdo da mensagem.
Considerada a representatividade do grupo para os cidadãos de Bom
Despacho, em 1988, o 88° GE/MG foi declarado organização de utilidade
pública, a partir do Decreto da Lei n°61/88. Atualmente o grupo con-
ta com duas alcateias de lobinhos; uma tropa de escoteiras; uma tropa
mista de sênior/guia; um clã pioneiro e uma equipe de adultos (escotis-
tas, dirigentes, membros em comissões, pais e colaboradores), somando
137 membros.
General Baden-Powell.Fonte: George Grantham Bain Collection
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Inspirado nos típicos festivais de música brasileira, promovidos por
emissoras de rádio e redes de televisão - com expressiva repercussão
nas décadas de 60 e 70 -, o Festicanto teve início em 1984 e findou
quatro anos depois. O festival movimentou a cena cultural do município,
com apresentações de diversos artistas nacionais e de talentos de Bom
Despacho. O evento, que concedia prêmios em dinheiro distribuídos em
diversas categorias, tinha como palco o antigo Cine Regina, localizado
na Praça da Matriz. Para julgar as apresentações, eram convidadas
pessoas ligadas à cultura, tanto no município quanto em Belo Horizonte.
A distribuição de cartilhas com as letras das canções levava a plateia a
cantar em uníssono as composições ainda inéditas.
O Festicanto e o teatro
Photos
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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal
A segunda edição do Festicanto ocorreu de 20 a 22 de dezembro de
1985. A terceira só seria realizada em 1987. Nessa época, o evento
era totalmente organizado pelo Centro de Arte e Cultura. O centro
era constituído por pessoas do município interessadas em fomentar
atividades culturais. Naquele ano, o evento contou com a participação
de Cid Ornelas. O último festival da canção de Bom Despacho ocorreu
em 1988, e ficou marcado pela presença de Maurício Tizumba, que fez
um show em comemoração aos cem anos da abolição da escravatura.
O evento contou também com as apresentações de Belchior, Celso
Adolfo, Victor Anton, e da cantora mineira Titane.
Além do Festicanto, nos anos 80 também surgiu na cidade de Bom
Despacho o grupo teatral Porta Aberta. Sob a direção do ex-funcionário
do Banco do Brasil Maurício Antunes, o grupo foi criado em 1980 e levou
aos cidadãos do município a oportunidade de assistirem a marcantes
apresentações de peças de teatro. Como a que iniciou a sequência de
espetáculos, baseada na música Construção, de Chico Buarque. “O
texto falava um pouco da vida do trabalhador, inclusive com fotos da
cidade, da época em que surgiram os primeiros prédios mais altos. A
peça fez muito sucesso, o texto era muito bonito, cantávamos muitas
músicas. O texto começava assim: ‘todo dia ela faz tudo sempre igual’.
Depois, a própria música Construção. Era um teatro cantado”. 121 Ainda
fizeram parte do currículo de apresentações do grupo Porta Aberta os
textos de “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna e a obra infantil
de Sylvia Orthof, “A Viagem de um barquinho”. À época, não era cobrado
ingresso para as sessões que lotavam o salão São Vicente, mas em
muitas ocasiões, pedia-se que os espectadores levassem doações de
alimento que, posteriormente, eram encaminhadas às instituições de
caridade. Durante a década de 80, o grupo levou suas apresentações
aos municípios vizinhos, como Dores do Indaiá e Formiga.
121 Roniere Silva Menezes. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 22 de março de 2012, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em um ano de incertezas, ancoradas na esperança de que o Plano Cruzado geraria resultados
positivos, foi instalado em Bom Despacho o órgão da Defensoria Pública, que passava a
conceder aos cidadãos de baixa renda, a possibilidade de acesso à assessoria jurídica. Em
1986 foi instalada na cidade uma agência da Previdência Social e uma unidade de apoio do Serviço
Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). A unidade, localizada na Praça Matriz, no mesmo
prédio da Associação Comercial de Bom Despacho (ACIBOM), iniciou suas atividades ofertando
cursos de capacitação profissional, datilografia, vendas, auxiliar de escritório, cabelereiro, manicure,
secretariado, atendente hospitalar, entre outros. O Senac ainda oferecia cursos de reciclagem com
foco em marketing, comércio e competitividade, voltados para empresários. Após alguns anos, a
unidade de Bom Despacho foi fechada, e, com isso, a demanda pelos cursos ofertados no Senac foi
transferida para a unidade de Divinópolis.
O deslocamento para as cidades vizinhas e também para localidades mais distantes foi facilitado
após a inauguração, em 1988, do terminal rodoviário de Bom Despacho, durante a gestão do prefeito
Célio Luquine. Projetado por Júlio Araújo Teixeira, o terminal foi construído na área da antiga estação
ferroviária, localizada na Praça Olegário Maciel. A edificação foi desenvolvida de modo a integrar o
conjunto arquitetônico da praça, dando origem a mais um dos cartões postais do município.
O comércio e o transporteinterligam a região
Terminal RodoviárioFoto: Ricardo Avelar
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Anos 80: organização para o desenvolvimento municipal
Aproximadamente 49 cavaleiros e amazonas, se reuniram diante da casa de Benedito Alves,
popularmente conhecido como Bené Pião, para realizarem uma romaria até o túmulo de padre Libério,
localizado no município de Leandro Ferreira. A cavalgada partiu de Bom Despacho às seis horas,
do dia 30 de setembro. A manifestação religiosa iniciada em 1989 se tornaria um evento de grande
expressão da crença popular, na década seguinte. Libério Rodrigues Moreira nasceu no município de
Santa Prata, em 30 de junho de 1884. Ainda jovem, descobriu sua vocação para a vida religiosa, entrou
para o seminário de Mariana com apenas 22 anos, e foi ordenado no ano de 1916. Falecido em 1980,
os relatos de obras e milagres realizados pelo padre o tornaram conhecido como santo, na região
Centro-Oeste de Minas Gerais, tornando seu túmulo uma das principais atrações turísticas do município
de Leandro Ferreira. A influência exercida pelo religioso pode ser percebida nas diversas produções
culturais relacionadas à sua vida, como o filme “Vida de Padre Libério”, realizado por uma produtora de
Nova Serrana, e os livros “Caminhada de santidade: Breve história do Padre Libério”, escrito por Zeni
Hamdan, e “Santo da Nossa Fé: Origens e histórias do clero”, de João Batista Silva. Após a sua morte,
foi enviado ao vaticano o pedido de beatificação do padre. Mas para abertura do processo, é necessário
que devotos relatem os casos sobre os possíveis milagres realizados por esse religioso.
“ A FORçA DA Fé”em 1989, uma manifestação religiosa marcou a cidade.
Cavalgada da FéFotógrafo desconhecidoAcervo da Secrétaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
Congado em Bom DespachoAcervo Mundovirado
Os AnOs 90: VAlOrIzAçãO DA CULTURA LOCAL
no ano de 1990, Fernando Collor de Mello iniciava o seu mandato
com o desafio de reorganizar a economia brasileira, mergulhada
na espiral inflacionária que atingira nos anos anteriores a marca
de 980% (IPCA-IBGE). Tão logo tomou posse, Collor e seus Ministros
anunciaram o controverso plano econômico Brasil Novo, popularmente
conhecido como Plano Collor. O plano combinava liberação fiscal com
medidas radicais para a estabilização da inflação, entre elas o confisco
dos ativos do país, bloqueando as contas da poupança por dezoito meses
e limitando os saques nas contas correntes em 50 mil. Além disso,
indexou os impostos e o congelou preços e salários. A moeda deixou
de ser Cruzado Novo, voltando à sua antiga denominação de Cruzeiro.
O resultado foi desastroso: poucos meses após a instauração do plano
a inflação continuou a crescer, chegando ao final do ano com a taxa
acumulada de 1.620% (IPCA-IBGE), e o congelamento provocou uma
forte redução no comércio e na produção industrial. O mercado sentiu a
falta de dinheiro para honrar os compromissos, todas as áreas passaram
a sofrer com as complicações do Plano, houve quebra de empresas e, o
cidadão poupador, foi severamente atingido.
Em 1992, denúncias de corrupção feitas pelo irmão do presidente, Pedro
Collor, sobre um esquema de tráfico de influências, levaram à instalação
de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que culminou no
processo de impeachment de Fernando Collor. Sua renúncia levou à
presidência o seu vice, o mineiro de Juiz de Fora, Itamar Franco.
Entre os enormes desafios, o novo ocupante do Palácio do Planalto
precisava enfrentar, além da inflação, o temor de que a recente
democracia não sobrevivesse ao impeachment de seu antecessor. Itamar
procurou realizar uma gestão sem turbulências, e, para isso, buscou o
apoio de partidos mais à esquerda. Cumprindo a Constituição, em abril
de 1993, realizou um plebiscito para a escolha da forma de governo a ser
implementada no país, cuja vitória coube à República Presidencialista.
Para tentar conter a inflação e conduzir melhor a economia, Itamar
nomeou Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda. O
novo ministro e sua equipe lançaram então, em 1993, o Plano Real,
que fez surgir não só uma nova moeda, como também foi responsável
O Brasil nos anos 90
- 136 -
Os anos 90: valorização da cultura local
por estabilizar a economia do país. Os autores
do Plano tiveram a sabedoria de criar uma
moeda provisória, o Cruzeiro-Real, e de tirar
progressivamente a inflação indexada da
economia. Em 1994, o Plano foi concluído, a
moeda passou a ser o Real com paridade ao
dólar, que na ocasião valia Cr$2.750,00. O
sucesso do plano econômico serviu de alavanca
para que Fernando Henrique se elegesse
Presidente da República, pelo PSDB, para o
mandato iniciado em 1995.
Em 1995, a inflação acumulada ao longo
de todo o ano já alcançava patamares bem
menores, atingindo a taxa de 14,7%. Com essa
queda, novos hábitos foram incorporados ao
comportamento da sociedade brasileira, que
foi deixando de estocar alimentos e, por força
de leis, retirando dos contratos e dos preços a
indexação de valores futuros. Além da queda
da inflação, o primeiro mandato de Fernando
Henrique foi marcado pelas privatizações:
de 1995 a 1998, oitenta empresas públicas
passaram para o controle da iniciativa privada.
O seu governo foi tão bem aceito pela população
que, nas eleições de 1998, FHC foi reeleito no
primeiro turno.
Naquele ano o Brasil conseguiu ter a menor
inflação anual depois de décadas, 1,65%, o que
causava surpresa na população, habituada a
conviver com elevadas taxas inflacionárias.
O Brasil também progrediu em outras áreas.
O cinema brasileiro, por exemplo, teve uma
retomada a partir de 1993, com a promulgação
da Lei do Audiovisual. Além disso, algumas
prefeituras - como a paulistana e a carioca - e
governos estaduais, também passaram a apoiar,
de várias formas, a produção cinematográfica.
O crescimento foi bastante significativo, em
1995 dez longas foram produzidos no país,
número que saltou para 24, três anos depois.
No esporte foram três medalhas olímpicas em
1992, e quinze nas Olimpíadas de Atlanta, em
1996. O Brasil conquistou ainda, nessa década,
títulos mundiais em futebol e basquete.
Posse Fernando Henrique Cardoso em 1995Acervo do Senado Federal
- 137 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em Bom Despacho, a cultura popular ganhou incentivo nos anos 90. A Cavalgada da Fé, realizada
em 1989, provocou tanto entusiasmo em seus organizadores que, ao retornarem ao município,
convidaram todos os participantes a realizarem a cavalgada no ano seguinte. A aproximação
entre amazonas e cavaleiros tornou possível a constituição do Clube de Cavaleiros, em abril de 1990,
com o objetivo de promover romarias e oferecer atividades de esporte e lazer à população. Mas,
para realmente começar a atuar, o grupo precisava construir uma sede, que foi viabilizada a partir
de parceria entre o clube, a prefeitura e o sindicato rural de Bom Despacho. A organização do grupo
gerou resultados: a segunda edição da Cavalgada da Fé, realizada em trinta de junho122 do mesmo ano,
contou com 300 participantes. Desde então, a cavalgada tornou-se anual sempre no mês de junho e,
nos últimos anos, estima-se que 1.500 a 2.000 cavaleiros participem do evento, além das centenas de
pessoas que acompanham em seus veículos.123
Além das ações ligadas à religião, no final dos anos 80 e início dos anos 90, outras atividades culturais
começaram a surgir na cidade. Um exemplo foi a Feira do Livro do município, ocorrida pela primeira
vez em 1989, promovida pela Fundação Cultural de Bom Despacho. O evento reuniu autoridades da
cidade, como o prefeito José Cardoso de Mesquita, além de professores, estudantes e escritores de
Brasília e Belo Horizonte, que participaram de palestras e do lançamento de livros. Apesar da grande
aceitação popular, o evento só voltou a ocorrer nos anos de 1997, 1998 e 1999, sendo interrompido em
2000, em função das eleições municipais.
Nesse período, a produção musical em Bom Despacho também cresceu. Logo em 1990 foi criado o
coral Voz e Vida, um dos grandes orgulhos da cidade. O coral regido pelo maestro Nivaldo Santiago
faz parte do projeto “Crescendo com a Música”, desenvolvido pela Aliança Bondespachense de
Assistência e Promoção (ABAP). Esse projeto tem por objetivo promover a educação musical de
crianças e beneficia, atualmente, cerca de 100 jovens. Em 1991, a população do município também viu
surgir a Corporação Musical Nossa Senhora do Bom Despacho, fundada pelo músico e alfaiate João
Honório. “A Corporação foi criada com o objetivo de divulgar a música, ir em busca de novos talentos e
participar de festas na cidade”124.
Desenvolvimento cultural em Bom Despacho
122 Data do aniversário de padre Libério.123 Informação retirada da revista Bom Despacho 96 anos. 2008. 124 Mário Domingos. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 30 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
- 138 -
Os anos 90: valorização da cultura local
Durante a gestão do prefeito José Cardoso de Mesquita (1989-1992) foi
criada a Lei Municipal de Incentivo a Cultura125, que pode ter contribuído
para a realização de eventos culturais na cidade. Em 1989, por exemplo,
foi realizada a I Expoarte, Exposição de Arte Infantil, realizada pelo
Museu da Cidade (MdC). O evento marcou a década de 90, com duas
edições em âmbito nacional, que contaram com mais de mil trabalhos
de crianças de todas as regiões do Brasil. “Bom Despacho foi a primeira
cidade brasileira a promover uma exposição nacional de arte infantil
– acontecimento que repercutiu nos pontos mais diversos do país,
desde Belém, no Pará, e São Luís, no Maranhão, até Curitiba, capital do
Paraná, e Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, como revelam os arquivos
do Museu da Cidade”126. Nos anos seguintes o evento continuou a ser
realizado, sendo interrompido em 1992. No entanto, a Expoarte voltou a
ser realizada em 1998, obtendo um resultado muito positivo, motivando
a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais a editar um catálogo
com o acervo das exposições. Atualmente, a Expoarte se tornou um
evento anual, promovido pelo Museu da Cidade.
Ampliando a participação em eventos do gênero, o MdC criou a
Exposição de Arte e da Juventude. Para atender ao grande volume de
estudantes que se interessam em participar das mostras, as escolas
são incentivadas a promover miniexposições, para que, assim, todos os
trabalhos sejam divulgados, já que o espaço do museu não é capaz de
atender toda a demanda. Hoje o museu tem possibilitado a realização de
diversas atividades culturais no município, apesar das dificuldades que
enfrenta, como falta de funcionários, limitação e adequação do espaço,
escassez de verba, dentre outras.
125 Ainda hoje não foi regulamentada. In: GUERRA, Jacinto. Gente de Bom Despacho: Histórias de quem bebe água da biquinha. Brasília: Theasurus, 2003, p. 183.
126 GUERRA, Jacinto. Gente de Bom Despacho: Histórias de quem bebe água da biquinha. Brasília: Theasurus, 2003. p.182.
Coral Voz e VidaFotógrafo desconhecidoAcervo da Secretaria Municipal de Cultura de Bom Despacho
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em Bom Despacho, o primeiro museu foi
constituído simultaneamente à criação da
biblioteca pública, em 1964. Anexo à biblioteca,
o então Museu Municipal quase chegou a
desaparecer no início dos anos 1970, período em
que seus organizadores, Jacinto Guerra e Nilce
Coutinho Guerra, partiram para Patos de Minas,
devido a questões profissionais. “Enquanto
a Biblioteca desenvolveu-se em decorrência
de sua grande utilidade para os professores
e estudantes, o Museu, que tinha um acervo
interessante e bem organizado, esvaziou-se
por completo”.127 Em 1997, com o retorno do
casal Guerra à Bom Despacho, foi constituída
a organização não governamental Associação
Museu da Cidade (AMC) e, no ano seguinte,
com o apoio dessa associação, foi instituído o
Museu da Cidade (MdC), em substituição ao
antigo Museu Municipal. O MdC foi inaugurado
em 30 de maio de 1998, durante solenidade
que deu início às festividades em comemoração
ao aniversário de 86 anos de Bom Despacho.
A administração do museu passou a ser
realizada por um grupo de voluntários,
responsáveis pelo planejamento das suas
atividades e desenvolvimento de projetos.
Um dos principais projetos mantidos pelo
MdC é o “Vitrine da Memória”, que busca
destacar importantes personagens da história
de Bom Despacho. Lançado no ano 2007,
seu primeiro homenageado foi o Dr. Roberto
de Melo Queiroz, ex-prefeito do município.
Outro projeto mantido pelo museu é o
“Garimpeiro da Memória”, iniciativa do
engenheiro Ítalo Coutinho, que busca
reunir informações sobre a história de
Bom Despacho. Dados coletados a partir
das pesquisas para o projeto, serviram de
matéria prima para a constituição do site
senhoradosol.com.br.
Dentre as peças que compõem o acervo do
museu, é possível destacar a igaçaba, urna
funerária em cerâmica, pré-colombiana,
127 GUERRA, Jacinto; GUERRA, Nilce Coutinho. In: Memória e Cultura: Uma Experiência no interior de Minas Gerais. 128 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 21.
Projetor do extinto Cine ReginaFoto: Ricardo Avelar
encontrada em 1991, nas imediações da Fazenda
Indaiá, contendo esqueletos ameríndios. A
descoberta da peça despertou a atenção
de veículos da imprensa nacional, sendo
produzidas matérias para a televisão. Pesquisas
preliminares estimam que o vaso tenha
mais de 1.500 anos. Tombada pelo Conselho
Municipal de Patrimônio Cultural em 2007, a
peça integrou a exposição comemorativa dos
500 anos do Brasil, promovida pelo Ministério
da Cultura, no Palácio das Artes, no ano 2000.
Além da igaçaba, o museu ainda conserva “um
tronco de madeira petrificada há milhões de
anos, um vaso de cerâmica do século V da Era
Cristã e artesanato de Vila Verde, Portugal,
no qual se inclui o ‘Lençol dos Namorados’, da
referida região portuguesa”.128 O museu reúne
ainda os projetores do extinto Cine Regina,
além de artefatos que revelam a presença
da cultura afro-brasileira em Bom Despacho.
O espaço serve também à manifestação
cultural, sediando eventos como o Concurso de
Presépios, que, devido à intensa participação
popular, já foi anunciado na rádio Vaticano.
- 140 -
Os anos 90: valorização da cultura local
“Eu nasci em Moema e, dois anos depois, eu vim para Bom Despacho, onde meu pai
foi o coletor federal durante muitos anos. Passei minha infância toda aqui. Fui para o
seminário de Belo Horizonte, onde hoje é a PUC, e lá fiquei por onze anos, até que me
ordenei em 1945. Meu primeiro trabalho foi como secretário de Dom Antônio Santos
Cabral. Depois, fui vigário de algumas paróquias, como Pompéu, Raposos, Santa Luzia,
Divinópolis. Fiquei quatorze anos como vigário da Renascença, em Belo Horizonte. E
por um ano vivi em Roma, fazendo um curso especializado. Por volta de 1965 voltei para
Bom Despacho como capelão militar do 7º Batalhão, e morei por vinte anos na Vila
Militar. Me aposentei há vinte e cinco anos. Foi nesta cidade que vivi minha infância e
adolescência e o clima religioso era predominante. Mas depois passei trinta anos fora.
Quando eu voltei para Bom Despacho, a cidade tinha se desenvolvido, a população
já tinha triplicado. A presença do padre Augusto foi importante. Ele foi coadjutor do
Padre nicolau, um italiano inteligente, bravo, nervoso, que era a maior autoridade de
Bom Despacho. Depois, ele ficou idoso e o padre Augusto veio ser o cooperador dele.
O padre Augusto não tinha a mesma visão, mas era um homem trabalhador, honesto,
um sacerdote autêntico. A construção da matriz se deve ao Padre Augusto. Aqui era
uma cidade eminentemente religiosa. Eu costumo dizer que a maior instituição em
Bom Despacho, depois da igreja, é a Santa Casa. O grande meio de transporte era
a estrada de ferro de Paracatu. Em onze anos de seminário, eu fui e voltei de trem.
Depois que começou a ter um movimento de construção de estradas. O comércio aqui
sempre foi bastante intenso, inclusive, porque o município era muito grande. um dos
aspectos interessantes é o reinado ou congado, que tem raízes históricas de elementos
de formação na própria estrutura da sociedade. nós temos uma grande participação
do elemento negro na nossa formação. Aqui sempre teve um congado bastante
desenvolvido, entusiasmado. Ligado, inclusive, com Moema, que era município daqui
e onde o congado tem grande expressão. Já fui até príncipe. É uma linda manifestação
da fé.”
Padre Pedro Lacerda Gontijo 129
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
129 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 29 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Alguns anos antes da criação do Museu da Cidade, em meados dos anos
90, foi constituído um centro de preservação dedicado a um dos bens
mais preciosos da história da cidade: a ferrovia. O Museu Ferroviário de
Bom Despacho foi estabelecido na antiga Estação Ferroviária, no anseio
de preservar a história da Estrada de Ferro Paracatu. Ali o visitante
encontra uma locomotiva A-325 e um vagão sobre os trilhos da antiga
Estrada de Ferro Paracatu, restaurados em 1996, mas necessitando de
reparos e cuidados urgentes. O museu mantém um variado acervo de
“fotografias de época, aparelho de telégrafo, relógio antigo, carimbos de
passagens, vários manômetros, lanterna de manobra, trilhos montados
sobre dormentes, apitos das locomotivas, aparelho Nathan (para
lubrificação das locomotivas), vídeos, documentários, bancos e maquetes
de locomotiva e de vagões”.130 O museu está localizado na Praça da
Estação, antigo ponto de encontro de quem partia ou chegava à Bom
Despacho pela Estrada de Ferro Paracatu. Ao circular pelos arredores
nota-se que ainda estão presentes recortes da narrativa que constitui
a trajetória de Bom Despacho, expressas nas construções que ainda
persistem às mudanças provocadas pelo tempo, como o Hotel Glória
(1927), a Câmara Municipal, estabelecida no antigo Armazém da Estrada
de Ferro, e a escadaria, datada de 1933 e que se localiza na Praça
Olegário Maciel. A constituição do Museu é reflexo do entrelaçamento
da trajetória de vida de muitos cidadãos de Bom Despacho com a história
da ferrovia. Esses personagens têm suas histórias envoltas aos trilhos
do trem, às cabines da locomotiva, às dependências da antiga estação,
que guardam imagens das experiências vividas durante a viagem a
passeio ou a trabalho, nos acontecimentos que marcaram a partida ou
o retorno. Foi essa forte ligação entre personagens de Bom Despacho
e os cenários da locomotiva, que tornou possível a criação, em 1999,
da Associação dos Amigos do Museu Ferroviário de Bom Despacho
(AMFBD), grupo composto por ex-funcionários da ferrovia. A associação
tem como tarefa, preservar o patrimônio histórico e cultural da Estrada
de Ferro Paracatu, por meio do museu.
130 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 20.
Placa Museu Ferroviário de Bom Despacho Foto: Ricardo Avelar
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Os anos 90: valorização da cultura local
Praça Olegário MacielCâmara Municipal Fotos: Ricardo Avelar
- 143 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
O inventário elaborado em 1999, sob a primeira gestão do atual prefeito Haroldo de Sousa Queiroz,
listava como bens culturais do município a Biquinha; a Maria Fumaça; a Igrejinha da Cruz do Monte; a
Estação Ferroviária; o prédio da Câmara Municipal; a Vila Operária da Fábrica de Tecidos; o Castelinho
da Força e Luz; o prédio do Centro de Atenção Integral à Criança (CAIC); a Vila Militar e a Igreja Matriz
de Nossa Senhora do Bom Despacho.
“ PREOCUPAçãO COM A PRESERVAçãO”
O intenso movimento de preservação que envolveu Bom Despacho no decorrer da década de 90 incitou a constituição do Inventário de Bens culturais e os primeiros tombamentos do Patrimônio cultural do município.
Igreja Matriz Fotógrafo desconhecido Acervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
Entre 1994 e 1995, foi fundado o Centro de Atenção Integral à Criança
(CAIC), localizado na região da Tabatinga. O espaço, que também
já sediou eventos culturais da cidade como a 3° Feira do Livro, em
1998, ofertava “ensino de primeiro grau, serviços de saúde, creche, centro
cívico, auditório, áreas de esporte e lazer, biblioteca comunitária”131. Com
a implantação do CAIC, o município adotou o Programa Nacional de
Atendimento à Criança e ao Adolescente. O prédio é percebido como
uma das principais obras arquitetônicas do município, realizada nos
últimos anos. O moderno edifício já abrigou também a Faculdade de
Ciências Contábeis da Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac),
a primeira faculdade instalada em Bom Despacho, em 18 de agosto de
1998 132.
Cultura e educaçãode mãos dadas
CAIC Foto: Ricardo Avelar
131 Arquivos da Biblioteca Municipal de Bom Despacho.132 A portaria do Ministério da Educação, que autorizava o funcionamento da Universidade Presidente
Antônio Carlos, foi publicada em 1997, e credenciada pelo Governo do Estado de Minas Gerais, por meio de Decreto publicado no ano seguinte.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
A Unipac tem como mantenedoras as Fundações Presidente Antônio Carlos e José Bonifácio Lafayette
de Andrada. À época da implantação da unidade em Bom Despacho, a Faculdade de Ciências Contábeis
contava com cinquenta alunos e dez profissionais. Para os cidadãos do município a instalação da
universidade “foi marcante em termos escolares, culturais, históricos”.133 A realidade de muitas famílias
começou a mudar, pois a chegada da “Unipac promoveu um grande avanço na cidade. Antes nós saíamos
de Bom Despacho para estudar em Divinópolis, Formiga, Arcos e outras cidades vizinhas”.134 Com o
aumento da demanda por cursos e com a consolidação da unidade de Bom Despacho, o catálogo de
graduações ofertadas foi expandido, passando a atrair estudantes de municípios vizinhos. “Ela atende
a região do Centro-Oeste mineiro, alunos de várias cidades da redondeza, Nova Serrana, Divinópolis,
Dores do Indaiá, Pompéu, Abaeté, Luz e Pará de Minas”.135 Atualmente, a unidade de Bom Despacho
está localizada na BR-262, Km 480 e oferta os cursos de Administração, Agronomia, Arquitetura e
Urbanismo, Biomedicina, Ciências Contábeis, Direito, Educação Física, Enfermagem, Engenharia
Ambiental e Sanitária, Engenharia Civil, Farmácia, Fisioterapia, Medicina Veterinária, Nutrição,
Psicologia, Serviço Social e Sistemas de Informação.136 “A cidade passou por grande transformação
com a vinda da universidade, no comportamento das pessoas, nas expectativas em relação à cultura,
a evolução da educação, a questão do emprego, o próprio desenvolvimento da cidade a partir de então.
É uma universidade particular, que veio com poucos cursos e foi crescendo, sendo ampliada pelo
dinamismo do Sr. Antônio, que na época comandava a universidade. Ela foi um ponto de partida. A partir
daí vieram outras universidades, vieram novas oportunidades.”137
UNIPAC Foto: Ricardo Avelar
133 Robinson Correa Gontijo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 25 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.134 Benjamin da Silva Sobrinho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 20 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.135 Alexandre Aurélio Chaves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 30 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.136 Para mais informações sobre os cursos ofertados pela Unipac em Bom Despacho consultar: http://www.unipacbomdespacho.com.br 137 Rosalva Flores Fernandes Leandro, em entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG).
Texto editado.
- 146 -
Os anos 90: valorização da cultura local
No ano de 1999, as escolas rurais criadas em 1947, passaram por mudanças. Quatro das 25 escolas
foram extintas, cinco permaneceram em funcionamento e as dezesseis restantes foram nucleadas.
Escola nucleada Escola Polo
Escola Municipal (E.M.) Alípio Braga do Couto
E.M. Capivari do Marçal
E.M Padre João
E.M. Antônio Rafael Soares
E.M. Bom Despacho
E.M. Antônio José Couto
E.M. Virgílio Antônio da Silva
E.M. Carlito
E.M. Lagoa VerdeE.M. Dona Zezé Araújo
E.M. Geraldo Queiroz Cançado E.M. Coronel Robertinho
E.M. Coronel Cristiano
E.M. Joaquim Dias Leandro
E.M. José Francisco Costa
E.M. João Ribeiro Lopes
E.M. Dona Sinhá
E.M. Dona Joana Marques Gontijo
E.M. Aurora Maria de Jesus
E.M. Flávio Cançado Filho
Em Bom Despacho, a década de 90 pareceu refletir o anseio pela valorização cultural e pela
preservação das histórias que permeavam as rodas de conversa, que se encontravam soltas na
arquitetura do município, nos vestígios do passado, mas que ainda não haviam encontrado um lugar
para se estabelecer. Os museus surgiam como uma resposta ao desejo de reunir, organizar e tornar
as memórias palpáveis. Em consonância com o desenvolvimento cultural, a educação superior se
tornou realidade em Bom Despacho. Mas as muitas transformações só estavam abrindo caminho,
para as novidades que ainda viriam, no início do século XXI. “Bom Despacho era uma cidade pequena,
onde, como toda cidade de interior, você tinha uma liberdade de brincar nas ruas, de ouvir as pessoas
contarem histórias nas esquinas, de estar próximo à família, e, depois, a partir do momento em que a
televisão chegou, distanciou essas pessoas dessa relação familiar. Hoje é necessário que tanto o homem
quanto a mulher trabalhem para dar melhores condições para os seus filhos. Então, nós tínhamos
uma cidade mais pacata, que hoje tem mais problemas, mas, atualmente, temos ensino superior em
Bom Despacho, temos ensino técnico e isso é crescimento, principalmente na área de educação. No
passado, as pessoas tinham que sair para fazer curso superior. Hoje, essa formação pode ser feita em
Bom Despacho”138.
138 Vera Lúcia Cardoso Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
BOM DESPACHO:A CIDADE CEnTEnÁRIA
A virada do milênio ocorreu envolta por misticismo e medo. As
profecias sobre o fim do mundo e os indícios de uma possível crise
nos sistemas de informações mundial, conhecido como bug do
milênio139, preencheu o imaginário de quem aguardava a chegada dos
anos 2000. Contudo, o novo ano teve início sem que qualquer grande
catástrofe extinguisse a existência humana. A temida desordem nos
sistemas de informações não ocorreu com a intensidade prevista. A
economia brasileira, que havia sido marcada na década de 90 pelas
privatizações e redução do Estado, voltava a receber investimentos
públicos em setores estratégicos de infraestrutura140. As constantes
inovações tecnológicas e a interdependência entre nações se tornavam
cada vez mais presentes, intensificando, com isso, a globalização das
relações econômicas, políticas e culturais.
No ano 2001, os olhos de todo o mundo se voltaram para uma grande
tragédia: os ataques ao Pentágono, em Washington, e ao World Trade
Center, em Nova Iorque, nos EUA. A cena do impacto provocado pelos
aviões que se chocaram às torres gêmeas, no dia 11 de setembro,
preencheu os noticiários ao redor de todo o globo, surpreendendo e
provocando grande comoção. “Mais de 3 mil pessoas morreram nos
ataques, atribuídos à organização islâmica Al Qaeda, liderada pelo
saudita Osama Bin Laden, que vivia no Afeganistão, protegido pelos
fundamentalistas do Taleban.”141
O novo milênio
139 Desde a década de 70, programadores de computador adotavam dois dígitos para indicar o ano (DD/MM/AA) em softwares específicos. Com a chegada dos anos 2000, o temor era de que os sistemas de informações não conseguissem distinguir se o 00 representava 1900, 2000 ou ausência de valor. Caso o sistema interpretasse o 00 como 1900, a diferença computada na passagem de1999 para 2000 seria de 100 anos e não de um dia.
140 Brasil em Desenvolvimento: Estado, planejamento e políticas públicas / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.- Brasília : Ipea, 2010, p. 119.141 MORAES, José Geraldo Vinci de. História: geral e do Brasil. São Paulo: Atual, 2003, p. 442.
- 150 -
Bom Despacho: a cidade centenária
No Brasil, as mudanças vieram com a eleição
de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos
Trabalhadores (PT), no ano de 2002. O ex-
operário e sindicalista havia participado e
perdido as últimas três eleições presidenciais e
por isso, após os oito anos de gestão de Fernando
Henrique Cardoso, Lula chegava ao poder sob
muitas expectativas. Uma das características
do seu governo foi a ênfase concedida aos
programas sociais. Em 2004, o presidente reuniu
diversos programas de transferência de renda,
criados em governos anteriores, para formar o
Bolsa Família. Em síntese, buscava-se atender
famílias em situação de pobreza extrema ou
com renda mensal, por pessoa, de R$60 a
R$120. Para participar as famílias precisavam
garantir no mínimo 85% da frequência escolar
dos filhos com até 15 anos. Lula ainda deu
continuidade ao Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (Peti) - criado por Fernando
Henrique Cardoso e, em 2003, lançou o Fome
Zero, em substituição ao Programa Comunidade
Solidária (1995), e o Luz para Todos, para levar
energia elétrica às residências de brasileiros
em áreas rurais. Um dos projetos sociais que
teve maior aceitação popular, foi o Programa
Universidade Para Todos (ProUni), criado em
2004, com o objetivo de facilitar o acesso de
jovens estudantes ao ensino superior, por meio
da concessão de bolsas integrais ou parciais,
em universidades privadas. O sucesso obtido
com as políticas sociais conduziu Lula ao seu
segundo mandato, que teve início em 2007.
Luis Inácio Lula da SilvaArquivo Público do Distrito Federal
- 151 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Em princípios de 2007, os EUA começavam a sentir os efeitos da crise no sistema financeiro, que
silenciosamente crescia no país. Com a grande oferta de recursos disponíveis, empresas começaram
a conceder créditos hipotecários para pessoas que não ofereciam garantias de pagamento. A situação
se agravava já que novos empréstimos eram entregues, antes mesmo que o devedor quitasse a
primeira dívida. Houve retração de crédito. Com receio de que a falta de recursos inibisse o consumo, o
governo americano lançou pacotes para o resgate da economia, emprestando dinheiro a empresas em
risco de falência e incitando a população a permanecer consumindo. A crise do subprime ou a bolha
imobiliária, como ficou conhecida, foi caracterizada como a mais grave desde 1929, levando pessoas
em todo o mundo a perder seus empregos.
Na era da globalização a crise rompeu as fronteiras, afetando também o Brasil. Nesse período, Lula
comandou uma estratégia anticíclica que se revelou decisiva para reduzir o impacto dos problemas
externos sobre o país.142 No ano de 2010, superado o momento mais difícil da crise, o Presidente
conseguiu eleger sua sucessora, Dilma Rousseff, por ele denominada como “mãe do PAC”, seu
programa de aceleração do crescimento, passando assim a faixa presidencial à primeira mulher a
ocupar tal cargo no Brasil.143
142 DULCI, Otávio Soares. “Dossiê da era Lula, o Homem e o partido”. Caderno Pensar publicado como encarte no jornal Estado de Minas, 11 de dezembro de 2010, p. 9.
143 NEVES, Osias Ribeiro; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA, Marina Mesquita. GMMLE: 50 anos da história da metalurgia e da mineração em Minas Gerais. Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2011, p. 123.
Photos
- 152 -
Bom Despacho: a cidade centenária
nos anos 2000, a cidade de Bom Despacho parecia interligar ações
em favor do constante desenvolvimento municipal. A cidade foi
governada de 2001 a 2004 por Geraldo Simão Vaz e de 2005 até
2012 por Haroldo de Sousa Queiroz. Esse último já havia chefiado o
município entre os anos de 1997 a 2000 e procurou desenvolver ações
para a melhoria da qualidade de vida da população. Nesse contexto, foi
fundada a Agência de Desenvolvimento Econômico, Social e Cultural
(ADESC), com o objetivo de reunir esforços para tornar realidade
diversos projetos em benefício da população bom-despachense. Com
objetivos semelhantes, em janeiro de 2001, a Secretaria Municipal
de Saúde começou a implantar o Programa Saúde da Família (PSF).
Equipes compostas por um médico, uma enfermeira, dois auxiliares de
enfermagem, e, de cinco a seis agentes comunitários, foram distribuídas
em diversas regiões do município, com a missão de coletar informações
sobre as condições de saúde das famílias visitadas. A expectativa era de
que cada grupo atendesse de seiscentas a mil famílias em domicílio. Os
dados obtidos constituiriam um mapeamento do índice de hipertensos,
diabéticos, hiperglicêmicos e da ocorrência de outras doenças, que
tornaria possível a criação de grupos específicos. Com a adoção do
PSF as consultas na rede pública de saúde passariam a ser agendadas
pelas equipes, na intenção de extinguir as filas de espera nos postos. “A
questão da saúde melhorou muito. Hoje cada bairro de Bom Despacho
tem um PSF e o próprio enfermeiro vai na casa das pessoas, faz a visita,
atende no domicílio”.144
Bom Despacho dos anos 2000
144 Virgínia de Souza Maciel Pessoa Cançado. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
A cidade também vivenciou um período de crescimento expressivo
nos anos 2000. O comércio se desenvolveu sensivelmente no setor de
produtos e serviços. “Bom Despacho tem um comércio ativo, muitas
lojas e muitos bares. Há até uma brincadeira que diz que o bom-
despachense gosta muito de tomar uma pinguinha, por isso existem
muitos bares na cidade,”145 “Em Bom Despacho existem produtos de alto
padrão, supermercados de boa qualidade. Em raras exceções você tem
que ir a um centro maior para adquirir alguma coisa. O comércio daqui é
competitivo e tem qualidade de produtos e serviços”146.
Como consequência desse crescimento houve uma expansão da
construção civil no município. Hoje o centro de Bom Despacho possui
prédios altos e muitos outros estão sendo construídos. A cidade se
tornou atrativa para pessoas que trabalham em municípios vizinhos e
procuram um lugar seguro para viver. É significativo o número de pessoas
que trabalham em Nova Serrana e preferem morar em Bom Despacho,
devido à melhor qualidade de vida que o município oferece. “Em Nova
Serrana tem muitas indústrias e muitas pessoas que trabalham lá vem
morar em Bom Despacho. O sujeito prefere vir morar com toda a família
em Bom Despacho porque é mais seguro”.147 “Bom Despacho tem me
proporcionado muitas alegrias. Aqui eu nasci, me criei, criei meus filhos,
me casei, vivi minha vida toda. É uma boa cidade para se viver. É calma,
tranquila, não há tanta violência como a gente vê pela televisão e pelos
jornais. Eu atribuo isso à presença do Batalhão e, com ele aqui, a cidade
é muito bem policiada. Temos as festas tradicionais como a de Nossa
Senhora do Rosário que acontece todos os anos durante o mês de agosto.
É uma festa interessante.”148
145 José Fagundes Filho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 15 de junho de 2011, em Belo Horizonte (MG). Texto editado.146 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.147 Flávio de Melo Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 11 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado. 148 Josefina Gontijo Leite. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 6 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Comércio em Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
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Bom Despacho: a cidade centenária
“Bom Despacho está evoluindo e, junto com essa evolução, por causa da diferença
social tão grande em nosso país, não só em Bom Despacho, infelizmente, alguns pontos
positivos nós perdemos, como a questão da liberdade das crianças brincarem nas
ruas, a infância hoje está muito limitada, vemos a questão das drogas e da violência.
Ainda assim, Bom Despacho é uma cidade muito acolhedora, muito boa de viver. Eu
indicaria para outras pessoas morar aqui. É um povo tranquilo, feliz. E a gente vê que
há muitos empresários que estão crescendo, que estão investindo e gerando emprego.
O desenvolvimento da cidade está acontecendo.”
Denise Gontijo Araújo Lamounier 149
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
149 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 8 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Evento realizado na Praça Olegário MacielFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
Um serviço implementado na cidade que promoveu a geração de
emprego e renda foi o SESC, fundado em oito de setembro de 2002,
em um complexo de 90.000m², sendo 14.200m² de área construída
e 25.000m² dedicados à reserva nativa150. As instalações dispõem de
diversas áreas destinadas ao lazer e à realização de práticas esportivas,
como parque infantil, parque aquático, praças de esporte e quadras, além
de restaurante e lanchonete. A entidade possui ainda uma pré-escola
e também oferece serviço de hotelaria, por meio da SESC Pousada de
Bom Despacho, que conta com espaços apropriados para a promoção
de eventos de negócios, congressos e reuniões. A unidade mantém
também “programas de Educação para a Saúde, de Assistência à Saúde
da Mulher, de Assistência Médica, serviço radiológico e de atendimento
psicológico infanto-juvenil, que de modo específico proporcionam às
clientelas carentes um seguro apoio do SESC às necessidades básicas
das populações da região Centro-Oeste de Minas Gerais”151. Além dos
projetos desenvolvidos nas dependências da unidade, o SESC também
promove eventos externos como ruas de lazer e comemorações em datas
específicas. Em diversas ocasiões as praças da cidade são transformadas
em palco para as apresentações do “Música na Praça” ou das sessões
do “Cine SESC na Praça”, realizado na Praça da Igreja Matriz. A unidade
representou uma grande conquista para o município tanto na prestação
de serviços sociais quanto como uma opção de espaço de lazer para a
população. Além disso, o SESC abriga viajantes de várias partes do país
que se dirigem ao local em busca de descanso e descontração.
150 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 33.151 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 33.
Sesc Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
- 156 -
Bom Despacho: a cidade centenária
Na década de 40, a entidade atuava “no campo da saúde, com contribuições na medicina preventiva,
campanha contra tuberculose, educação sanitária e assistência médico hospitalar”.152 Com as mudanças
no cenário econômico do país, na década de 50, o SESC perdeu seu formato assistencial, enfatizando
suas ações em práticas educativas. Nesse momento a entidade buscava suprir as necessidades de
adaptação à economia urbano-industrial que emergia, em substituição à agrário-exportadora. Na
década de 90, com o desejo de ampliar o território abrangido pela entidade, foi formado o LACES – Liceu
de Artes, Cultura, Esporte e Saúde, unidades estabelecidas em municípios específicos, para promover
atividades que contribuam com o “bem-estar social e desenvolvimento comunitário da população local
e cidades vizinhas”.153
“ UM POUCO MAIS SOBRE O SESC”
A prestação de serviços ligados à saúde foi uma das principais áreas de atuação do Serviço Social do Comércio de Minas gerais (sesc/mG) nos primeiros anos da sua fundação.
152 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 32.153 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 33.
Sesc Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
Os viajantes que escutam as histórias sobre a Biquinha e chegam ao
município com a curiosidade de conhecê-la, são conduzidos a atravessar
a “‘passarela da Letícia’, que liga a Rua dos Expedicionários à pitoresca
Rua da Biquinha.”154 No espaço é possível encontrar mulheres que
ainda prezam pela tradição de lavar roupa na Biquinha. Esse local foi
restaurado em 1977, durante a gestão do prefeito Geraldo Simão Vaz155.
Entretanto, o desgaste causado pela atividade das lavadeiras e a falta
de preservação do espaço, serviram de impulso para o desenvolvimento
de um novo projeto, lançado em 2003, durante o mandato do prefeito
Haroldo de Sousa Queiroz, para a recuperação da nascente e revitalização
do espaço no entorno da Biquinha. A mobilização resultou na aprovação
da emenda do projeto para o orçamento do Estado no ano de 2004, por
meio do qual foram direcionados R$70.000 para as obras de saneamento
da fonte.
Nos anos 2000 a Câmara Municipal de Bom Despacho também passou
por melhorias. O órgão foi transferido para uma sede própria, próxima
à Praça da Estação, com o objetivo de gerar expressiva economia aos
cofres públicos, já que setores da Câmara deixariam de ocupar salas
alugadas na cidade. Na nova sede, a Câmara passou a abrigar o Programa
de Orientação e Proteção ao Consumidor (PROCON), e o Centro de
Atendimento ao Cidadão (CAC), responsável pela emissão de atestado
de bons antecedentes; 1° via da carteira de identidade para menores de
18 anos; substituição de cédula de identidade; consulta de veículos no
Departamento de Trânsito de Minas Gerais (DETRAN/MG); emissão de
guias diversas, entre outros serviços. Passou a contar ainda com um
telecentro, aberto à utilização de estudantes carentes.
Colaborando para a expansão do acesso ao ensino superior em Bom
Despacho, foi firmada parceria entre a Prefeitura, por meio das Secretarias
de Educação e Cultura, o Centro de Arte e Cultura de Bom Despacho e
a empresa ArcelorMittal, para a realização do curso de pós-graduação
lato sensu em “Ensino e Pesquisa no Campo da Arte e da Cultura”, da
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). O curso seria oferecido
na cidade, com a possibilidade de concessão de bolsas parciais de estudo.
“O curso deu oportunidade para os educadores, os artistas e pessoas
interessadas em fazerem uma pós-graduação em arte e educação pela
UEMG. O pessoal que fez ficou muito satisfeito com o aprendizado, foi
muito bacana”156. Em 2010 foi requisitado ao Ministério da Educação
154 Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte, outubro de 2003, p. 19.155 GUERRA, Jacinto. Arraial de Nossa Senhora do Sol: história, cultura e turismo/ Brasília: Edições
Piraquara, 1997, p. 19.156 Rosalva Flores Fernandes Leandro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho
de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
- 158 -
Bom Despacho: a cidade centenária
157 A Universidade Aberta do Brasil (UAB) é um projeto construído pelo Ministério da Educação em parceria com os Estados, Municípios e Universidades Públicas de Ensino Superior para oferta de cursos de Graduação, Pós Graduação e de Extensão Universitária visando ampliar o número de vagas da educação superior para a sociedade, promover a formação inicial e continuada para os profissionais do magistério e para os profissionais da administração Pública. Disponível em: uab.pti.org.br, acessado em 29 de março de 2012.
158 Vera Lúcia Cardoso Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
159 Rosalva Flores Fernandes Leandro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
(MEC) o estabelecimento em Bom Despacho de uma unidade polo do
Centro-Oeste de Minas da Universidade Aberta do Brasil (UAB).157 Após
os trâmites administrativos necessários, em 27 de maio daquele ano,
foi aprovada a Lei Municipal para o estabelecimento da unidade. Apesar
de divulgar a realização do primeiro vestibular da UAB Bom Despacho,
a unidade não pôde promover o processo seletivo, pois não atendia aos
requisitos exigidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES). Para regular a situação foi enviada uma série de
documentos à CAPES, mas os cursos que teriam início em 2011 tiveram
que ser cancelados. Em dezembro daquele ano, a UAB foi finalmente
aprovada. Assim, em 03 de março de 2012, foram iniciados os cursos
de especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, realizado
em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram
abertas ainda as inscrições para os cursos de graduação em Pedagogia,
Matemática e para pós-graduação em Saúde da Família. Já os cursos
de Física, Química e Biologia, só serão autorizados após a organização
dos laboratórios e da visita de certificação da CAPES. Outra ação que
objetivava a expansão da educação no município foi a criação, em Bom
Despacho, de uma extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência de
Tecnologia (IFET) de Bambuí, que passou a funcionar na Escola Municipal
Coronel Praxedes. “Essa extensão oferece cursos na área ambiental e
em gestão de saúde, há ainda uma proposta para que se inicie um curso
na área de comércio”.158
Visando fornecer um maior acesso à educação e cultura, em 2009, a
Prefeitura Municipal de Bom Despacho através da Secretaria de Cultura
instituiu o Festival de Inverno, que oferece oficinas, cursos, workshops,
palestras, shows, apresentações de teatro e exibição de filmes para toda
a população. “O festival acontece sempre no período das férias escolares
de julho para que os estudantes tenham uma ocupação saudável. O
evento é muito democrático, todos podem participar, independente do
credo, religião, idade ou renda”.159
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
A prática esportiva ganhou destaque em Bom Despacho a partir da
criação dos primeiros times de futebol. Segundo relatos, a década de
60 pode ser apontada como o período do surgimento das primeiras
equipes. Em 1962, era fundada a Associação Atlética Bom-despachense,
que, de acordo com seu estatuto, foi criada com o objetivo de “promover
atividades sociais, culturais, esportivas, recreativas e cívicas entre os
associados”.160 Apesar das expectativas, devido a divergências internas,
a equipe foi desmembrada, sendo refundada em 15 de maio de 1977161,
conforme relatou o jornal O Bom Despacho, em primeiro de janeiro de
1978. Com a refundação, o time alterou o nome para Associação Atlética
de Bom Despacho e passou a adotar uniforme nas cores vermelho, verde
e branco,162 se tornando conhecido como o “Tricolor da Vila Aurora”.
O esporte na cidade
160 Informação disponível em http://tricolor2012.webnode.com/historico/, consultado em 18 de abril de 2012. 161 Informação disponível em http://tricolor2012.webnode.com/historico/, consultado em 18 de abril de 2012.162 Informação disponível em http://tricolor2012.webnode.com/historico/, consultado em 18 de abril de 2012.
Associação Atlética de Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
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Bom Despacho: a cidade centenária
“Bom Despacho é como todas as cidades de interior, em que quase todo mundo se
conhece. Quando eu vim para cá, em 1951, o colégio tinha acabado de ser fundado.
Eu vim para estudar e, de lá para cá, não saí. Aqui tinha diversos times de futebol e
comecei a me destacar no time do ginásio. Depois foi fundada a Associação Atlética
Bom-despachense e eu passei a jogar lá. Cheguei a disputar campeonato mineiro
pelo Lourenço, porque Bom Despacho não tinha um time que disputava a primeira
divisão. Tive oportunidade de sair para jogar no profissional, mas, naquela época, jogar
futebol não dava dinheiro e eu fiquei com medo, já estava casado e tinha a família
para criar. Decidi ficar no comércio. Fico feliz porque até hoje sou lembrado, todo
evento de esporte que acontece sou convidado, homenageado. Às vezes tem decisão
de campeonato e me convidam para dar o pontapé inicial. Outras vezes, recebi placas.
Hoje, em atividade, talvez eu seja um dos comerciantes mais antigos, comecei em 1958.
Lembro-me de algumas coisas de Bom Despacho daqueles tempos. uma delas era o
‘footing’, que acontecia bem em frente aqui da loja. As meninas passando e nós olhando
as namoradinhas.”
Tarcisio José Santos do Amaral 163
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
163 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 10 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Ainda nos anos 60, mais precisamente em 1964, foi fundado o Cristalino
Futebol Clube. As dificuldades financeiras enfrentadas pelo time fizeram
com que a equipe jogasse com uniforme emprestado, nas cores azul,
amarelo e branco. Mais tarde, em 6 de fevereiro de 1981, o time teve
seu nome modificado para Cristalino Esporte Clube. O novo nome veio
acompanhado da renovação na identidade visual da equipe, que passava
a vestir uniforme nas cores vermelho e branco.
Com a consolidação das primeiras equipes, outras foram surgindo,
como o Esplanada Futebol Clube, fundado em 9 de março de 1999.
Atualmente Bom Despacho conta com diversas equipes, dentre elas
a Sociedade Esportiva Palmeiras, Palmeiras Esporte Clube, Ipiranga
Futebol, Famourine Esporte Clube, além das já citadas Associação
Atlética de Bom Despacho, Cristalino e Esplanada Futebol Clube, que
permanecem atuantes.
Alguns atletas que fizeram parte das equipes de Bom Despacho, já
ganharam espaço em times de destaque no cenário esportivo brasileiro.
A exemplo, entre as revelações do Cristalino, estão Emerson Santos,
que iniciou sua carreira no time aos oito anos, e, aos doze, já integrava o
Atlético Mineiro. Outro nome a ser lembrado, é o de Renato Augusto, que
também atuou no Cristalino, competindo pelo time no período de 2004 a
2007. Em 2007 o atleta assinou contrato até 2014, com o time carioca,
Vasco da Gama.
Com o advento das equipes de futebol, além de participar de
competições promovidas por organizações de fora do município, como
a Copa Alterosa de Futebol, Bom Despacho também passou a realizar
competições próprias. Sendo as principais, a Copa Jornal Fique Sabendo
de Juniores; o Campeonato Municipal de Futebol Amador, Aspirante e de
Base; o Campeonato Regional de Juniores, e a Copa Futsal de Bairros164
– com exceção à primeira, todas as competições são promovidas por
meio de parceria entre a Secretaria Municipal de Esportes e a Liga
Municipal de Desportos de Bom Despacho (LMDBD). Para manter a
população informada sobre os embates entre as equipes do município e
de outras cidades, a cobertura esportiva é feita pela equipe do programa
Fino da Bola, transmitido pela rádio Nova Veredas (89,3 FM).“No futebol,
havia muita rivalidade entre Bom Despacho e Dores do Indaiá. O time de
Dores de Indaiá veio aqui, nós ganhamos e fomos jogar lá. Eles disseram
que, se eles perdessem o jogo lá, plantariam mandioca no campo, e nós
ganhamos. Deu uma briga... A sorte é que tinha um bom-despachense
por lá que resolveu dar uns tiros para cima, senão estávamos brigando
até hoje! O povo ficou com medo e correu.”165
164 Em comemoração ao aniversário de 100 anos do município, todas as copas realizadas em 2012, passam a adotar a palavra centenário ao nome.
165 Tarcisio José Santos do Amaral. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 10 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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Bom Despacho: a cidade centenária
Para além do entretenimento, no município,
a prática esportiva tem se destacado como
ferramenta de integração social. “A Associação
de Moradores tem tido uma relevância em cima
dos problemas dos seus bairros, até mesmo
equipes de futebol, que, quer queira, quer não,
criam uma socialização interessante, tanto que
têm diversas equipes de futebol que participam
de campeonatos, copa Alterosa de Futebol,
campeonatos de futebol de salão. Existem
também os próprios clubes sociais, “Praças
Esporte” é um clube de excelente serviço, o Ipê
Campestre é outro serviço bem interessante.
Outro clube interessante é a Associação Banco
do Brasil. Então, eu diria para você que essa
área social é muito ativa e muito representativa
em Bom Despacho.”166
Mas o cenário esportivo na cidade não se
restringe à atuação dos times de futebol. O
município ainda conta com a equipe do Vôlei
Mania e com o atleta de triatlo, Sidney Valesco
– que é patrocinado pela Secretaria Municipal
de Esportes do município. “Nós tivemos a
Associação Atlética Bom-despachense que
ainda existe através do time de futebol e da
Praça de Esportes167 e que presta seus serviços
à comunidade. É muito bom. Tivemos muitos
outros clubes, temos ainda o Famourine
Esporte Clube. Nós ainda temos na comunidade
de Engenho do Ribeiro, temos o Ipiranga e
o Engenho. À medida em que as pequenas
comunidades vão se formando, nascem seus
times de futebol. Em época passada teve o
Piraquara, que era muito forte em basquete,
e mesmo no Clube Bom Despacho tínhamos
a equipe de vôlei que disputava campeonato
nessa região. O esporte aqui foi muito bom”.168
166 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 09 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
167 É o clube de esportes da Associação Atlética Bom-despachense, fundado em 17 de setembro de 1967, popularmente conhecido como Praça de Esportes. O clube não mantém vínculos com o extinto time de futebol Associação Atlética Bom-despachense, atual Associação Atlética de Bom Despacho.
168 Márcio Gontijo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, em 02 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
As narrativas sobre a origem das festas religiosas presentes na cultura afro-brasileira remontam
aos tempos da escravidão, em que negros de origem africana intercalavam as crenças de sua terra
às experiências e mitos presentes na cultura dos brancos no Brasil. As comemorações religiosas
que preenchem o calendário oficial e integram as festividades regionais, reúnem fatos históricos, mitos
e personagens, que, de certo modo, refletem os valores e crenças da população. O reisado ou a Folia
de Reis é uma das festas religiosas realizadas em Bom Despacho. A manifestação cristã que resgata a
mensagem do nascimento de cristo invade o município de 24 dezembro a 6 de janeiro. Homens fantasiados
como reis magos percorrem a cidade ao lado de outros personagens folclóricos, para contar a boa nova
do nascimento do menino Jesus, em meio à cantoria, acompanhada de violão, viola, rabeca, caixa, entre
outros instrumentos. Nas visitas às casas da população, os personagens são recepcionados com reza
e refeições. Ao contrário dos reis magos, que na história original ofertam presentes ao menino Jesus,
durante a encenação, os reis é que são presenteados. No município, simultaneamente às comemorações
da Folia de Reis, ocorre o Concurso de Presépios de Bom Despacho.
Em Bom Despacho é na Tabatinga o nascedouro das festas religiosas de Nossa Senhora do Rosário e de São
Benedito. Ambas fazem parte da cultura e da tradição da cidade. De lá saem grupos formados por homens
e mulheres, organizados em ternos e guardas, com suas vestimentas típicas em cores vivas cantando e
Bom Despacho, envolto por fé e devoção
Festa do Rosário em Bom DespachoFotógrafo desconhecidoAcervo da Prefeitura Municipal de Bom Despacho
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Bom Despacho: a cidade centenária
dançando com entusiasmo ao som das caixas, dos chocalhos, da sanfona
ou acordeom, num ritmo afro-brasileiro. São Moçambiques, Marinheiros,
Penachos, Congos e Catopés que desfilam tendo à frente o estandarte do
santo. “Participo bem das festas e colaboro se for preciso. Na festa de São
Benedito a gente oferece jantar para os cortes aqui em casa. A festa de São
Benedito e a festa de Nossa Senhora do Rosário são festas populares em Bom
Despacho. A de Nossa Senhora do Rosário é em agosto e a de São Benedito
é muito animada.Vem muitos cortes de fora para festejar aqui na cidade, na
festa de São Benedito.”169 “Temos o Reinado. Nós não ficamos sem a Festa
de Nossa Senhora do Rosário. Temos também a festa de São Benedito e a
dona Sebastiana é a guerreira que luta muito para a festa ser bonita.”170 As
histórias sobre o reinado são anteriores à fundação do município. “O povo de
Bom Despacho tem o costume de dançar o reinado. Isso é da fundação da
cidade. Os portugueses trouxeram a devoção a Senhora de Bom Despacho
e os negros, a devoção a Nossa Senhora do Rosário. O povo tem muita fé
nela.”171 O reinado teve origem nos tempos da escravidão. Relatos contam
que um negro, ao avistar uma figura feminina sentada com uma criança
nos braços sobre uma pedra no mar, correu para contar ao seu senhor, que,
não acreditando no relato do negro, o castigou. No entanto, o senhor decidiu
verificar a veracidade da história e também avistou a imagem no mar. A figura
feminina foi vista como santa tanto por brancos quanto por negros e ficou
conhecida como Nossa Senhora do Rosário. Para homenageá-la, grupos
eram formados segundo a região de origem na África. Assim constituíram-
se as guardas do Congo (congadeiros), do Moçambique (moçambiqueiros) e
a guarda Real, inicialmente formada por índios e denominada de Penacho.
A história sobre a origem do reinado em Bom Despacho é múltipla. Os
registros sobre como a festa se desenvolveu no munícipio advém dos relatos
de membros da comunidade. Algumas informações podem ser encontradas
no livro de Atas da Associação dos Reinadeiros de Bom Despacho.172 Em
matéria publicada por Tadeu Araújo Teixeira no Jornal de Negócios,173
o professor conta que o reinado foi introduzido em Bom Despacho pelo
Padre João José da Silva Araújo, que, ao visitar a região para o batismo de
Cypriani Araújo, filho do fazendeiro João José Curvelo e Anna Joaquina da
Conceição, em 1848, se encantou com a devoção e religiosidade do povo. Ao
retornar a Bom Despacho em 13 de julho de 1849, o padre transmitiu seus
conhecimentos adquiridos sobre o reinado, em Vila Rica, à população do
povoado. De acordo com essa versão, a primeira congada ocorreu em 1850,
percorrendo as três ruas que constituíam a paróquia de Bom Despacho.
169 Benedito Alves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
170 Maria Adjara dos Santos. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias em 01 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
171 Luiz Alberto Alves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 01 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
172 SOBRINHO, Benjamim da Silva. História do Rosário e da Festa do Reinado: Nova edição, revista e ampliada. Bom Despacho, 2009, p. 78.
173 Matéria publicada na edição de 17 a 23 de agosto de 2003, p. 4.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
A narrativa de Francisca Ferreira Fonseca,
veiculada por meio de um artigo em 1984 e
também pelo Jornal da Paróquia de julho de
2005, diverge da contada pelo professor Tadeu.
De acordo com Francisca, os primeiros relatos
sobre o congado em Bom Despacho datam do
século XX. Em seus primeiros anos, a festa não
se relacionava com a igreja. Na realidade, o
evento era similar às festividades de carnaval.
Simultaneamente às comemorações do congado,
a população realizava festejos em homenagem
a Nossa Senhora do Rosário, “que ocorriam num
domingo ou dia santo de dezembro, com procissão
e missa na antiga Capela do Rosário, no Jardim
sem Flor, hoje, Padre João Helfes”.174 Segundo
Francisca, foi o Padre Henrique Hesse, em 1946,
o responsável pela união da festa profana à
religiosa. O vigário teria modificado a data da festa
do congado para agosto, estipulado cinco dias
de comemoração e exigido que os congadeiros
se “confessassem, comungassem e dançassem
com respeito, sem bebedeiras, feitiçarias e
superstições”.175
A festa em homenagem a Nossa Senhora do
Rosário permanece em evidência na cultura
popular de Bom Despacho. A celebração envolve a
comunidade, “mesmo os que não estão dançando
têm alguém da família que está participando como
festeiro ou como pagador de promessa”.176 “Hoje
o Reinado já se tornou uma tradição familiar em
Bom Despacho”.177 As crianças são estimuladas
a integrar as cortes desde muito cedo, fato
que intensifica a relação com o congado, que é
expressa nas palavras de quem vivencia com
fé e devoção as festividades do reinado, como
Sebastiana Geralda Ribeiro. “Na hora que eu
estou dançando o meu reinado, me sinto a dona
do mundo. Na hora que estou cantando com o
meu bastão na mão, que eu olho para trás e estou
vendo o meu povo, o capitão Júlio junto comigo,
nessa hora eu me sinto rainha da Inglaterra”. 178
A grande comemoração começa com o
acolhimento das bordonetas – estampa dos
santos homenageados, que representa cada
guarda –, no dia do levantamento do Mastro
de Aviso, realizado quinze dias antes do início
da festa. Os rituais seguem com a novena em
honra a Nossa Senhora do Rosário, iniciada dez
dias antes da festa e continuam com a visita aos
festeiros, que ofertam alimentos aos soldados de
Nossa Senhora do Rosário. O próximo passo é a
Alvorada festiva, em que os devotos revivem o
percurso da retirada da santa do mar até a igreja
dos brancos. Ocorre então a missa de abertura da
festa, o levantamento dos mastros, o pagamento
de promessas e o reconhecimento das graças
alcançadas, realiza-se a santa missa conga,
a procissão festiva e a passagem das coroas.
Encerrando o ciclo da festa, há o recolhimento
das bordonetas, o acolhimento das coroas e a
descida dos mastros. “Eu sou o Rei coroado da
Congada, eu sou uma das pessoas mais elevadas
da Congada, portanto eu tenho em meu poder 52
bandeiras, que eu sou responsável. Eu sou a peça
principal no sentido de iniciar a festa e terminar
a festa, ela passa toda nas minhas mãos. O meu
cargo é o mais alto, porque existe o rei congo e a
rainha conga, mas o cargo deles é responsável
mais pela comida, na parte de organização, de
disciplina, o meu cargo é o mais alto porque eu
inicio e termino a festa”.179
174 SOBRINHO, Benjamim da Silva. História do Rosário e da Festa do Reinado: Nova edição, revista e ampliada. Bom Despacho, 2009, p. 75. 175 SOBRINHO, Benjamim da Silva. História do Rosário e da Festa do Reinado: Nova edição, revista e ampliada. Bom Despacho, 2009, p. 76.176 Luiz Alberto Alves. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 01 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.177 Benjamin da Silva Sobrinho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 20 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.178 Sebastiana Geralda Ribeiro. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 07 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.179 Bento Lopes Cançado Filho. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 7 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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Bom Despacho: a cidade centenária
“Bom Despacho tem muita festa boa, mas se destaca o Reinado. Eu não sei se é porque
sou reinadeiro, nascido e criado no Reinado. Eu aprendi com meu pai. Isso vem da
fundação da cidade.
A minha família toda foi reinadeira, meus bisavós, meu avô, meu pai era apaixonado
com o reinado. na minha casa, meus irmãos, minha mãe, meus tios, meus parentes
são apaixonados com a festa. na festa do reinado, a minha família se encontra. Os
que estão longe vêm para participar. Todo ano é aquela coisa, parece que a gente não
cabe dentro da gente naquela euforia do reinado, prepara uma roupa, prepara a casa
para receber o pessoal de fora, a casa fica naquela alegria. É uma expectativa muito
boa, mexe com a alma do povo. O reinado em si tem sua hierarquia militar, o capitão
e os soldados. no meu caso, eu sou o capitão e tenho meus soldados. Existem também
em cada corte a rainha da bandeira, as princesas, as borboletas. Cada corte em si é
associada à Irmandade do Rosário. nós falamos que é a Associação dos Reinadeiros,
que aí já vem o capitão, a rainha e o rei, as autoridades máximas da festa. A Festa do
Reinado acontece o ano inteiro. nós sempre nos reunimos, sentamos para conversar,
expor um problema, uma dificuldade, alguma coisa que não funcionou bem ou manter
algo que funcionou. A Associação dos Reinadeiros trabalha o ano inteiro.”
Luiz Alberto Alves 180
C A D E R n O D E M E M Ó R I A S
180 Extraído de entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 1 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Ao longo dos anos, a história de Bom Despacho foi sendo contada não somente por meio de relatos orais.
Fatos que marcaram a trajetória do município foram impressos nas páginas de diversos periódicos.
À época em que a cidade possuía um pouco mais de dez anos de vida, as novidades começaram a
ser transmitidas pelas páginas do semanário Bom Despacho. A primeira edição do jornal, que integra o
acervo da Hemeroteca do Estado de Minas Gerais, data de 27 de março de 1927, com edição e direção
de Nicolau Teixeira Leite. Entretanto, a edição de número 1 foi veiculada no ano de 1924, conforme indica
o texto publicado em comemoração ao aniversário do primeiro jornal do município. “A 30 de março de
1924, sahia o primeiro número do ‘Bom Despacho’ que era recebido com curiosidade ansiosa por todos que
tinham o desejo de ver, em sua terra, uma folha independente, cujo programma se propuzesse a deffender
os interesses collectivos. Quando assumimos a sua direcção em 1925, o fizemos sem a vaidosa pretensão
de nos transformarmos em jornalista e somente porque queriamos impedir que com a retirada do nosso
antecessor ficasse B. Despacho privado de um jornal que lhe vinha prestando relevantes serviços”.181 Além
de lembrar sua fundação, o jornal relatou grandes fatos da história do município, como o falecimento do
vigário Nicolau Ângelo del Duca, também em 1927.
Outros veículos foram sendo criados, como O Bom Despacho, que levava o nome do periódico precursor,
com a adição do artigo “O”. Era gerenciado por Eurico Bento Chaves e tinha como redator Nicomedes
Teixeira Campos. A Hemeroteca do Estado de Minas Gerais reúne alguns exemplares da publicação, sendo
a mais antiga de 11 de dezembro de 1977, e a mais recente de 23 de novembro de 1980.
Mas nem todos os periódicos criados foram preservados e arquivados como documentos históricos.
Dentre os lembrados pelos moradores de Bom Despacho estão a Voz do Sertão e O Espeto, que “era uma
espécie de Pasquim. Jornalzinho que mexia com todo mundo. Eles faziam, por exemplo, a eleição da mulher
mais bonita de Bom Despacho e do homem mais feio. E criticavam todo mundo,”182 conta Tadeu Teixeira,
proprietário da extinta gráfica e jornal Bom Despacho Notícias. Segundo relatos, a própria Prefeitura,
na gestão de Célio Luquine, teria editado um periódico, denominado Realidade. Outro jornal criado no
município foi O Escriba, produzido por estudantes. Mas a criação de periódicos não ficou restrita aos jornais.
Também foram publicadas revistas em comemoração ao aniversário de Bom Despacho. Uma edição foi
lançada no cinquentenário e outras duas, contando trechos da história do município, foram produzidas em
2002 e 2008, nos aniversários de 90 e 96 anos.183
O advento e o desenvolvimentoda comunicação no município
181 Texto extraído do jornal Bom Despacho, número 150, de 27 de março de 1927, p. 01.182 Tadeu Antônio de Araújo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.183 Revistas Bom Despacho 90 Anos (2002) e Bom Despacho 96 Anos (2008).
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Bom Despacho: a cidade centenária
Muitas publicações tiveram dificuldades em superar os desafios iniciais, não ultrapassando as primeiras
edições. Em contrapartida, outras conseguiram se consolidar no município, passando a fazer parte da vida
da população. O semanal Jornal de Negócios, criado em 12 de maio de 1989, é um exemplo. Além da
edição impressa, com tiragem de 6.500 exemplares, distribuídos gratuitamente aos sábados, o periódico
mantém uma página na web, onde é possível acessar desde notícias publicadas no segundo semestre de
2011 a fatos recentes. “Inicialmente era um jornal só com negócios, só com publicidade mesmo. Foi quando
o Alexandre, o diretor começou a abrir para colunistas e noticiário e o jornal passou a ter mais força em Bom
Despacho. Ele está em circulação há 20 anos.”184 Os jornais evoluíram com o município. Atualmente, os
periódicos Correio Bom-despachense, Fique Sabendo, Jornal Liberdade e Jornal de Negócios, disponibilizam
conteúdo em páginas próprias na internet.
A informação e o entretenimento ultrapassaram o âmbito das mídias impressas, viajando através das ondas
de rádio. A concessão pública para a fundação da primeira emissora em frequência AM em Bom Despacho
ocorreu em 1948: “Art. 1º Fica renovada, de acordo com o art. 33, § 3º, da Lei nº 4.117, de 27 de agosto de
1962 por dez anos, a partir de 1º de maio de 1994, a concessão da Rádio Difusora Bondespachense Ltda.,
outorgada originariamente à Rádio Difusora Bondespachense S.A. pela Portaria MVOP nº 1.025, de 2 de
dezembro de 1948.”185 Ainda no ar, a Rádio Difusora (AM 1540khz) reúne em sua programação, noticiários,
informações sobre esporte, entrevistas e músicas. O município ainda conta com a rádio Cidade FM (FM
98,9 khz), que também é transmitida via web e agrega diversos programas de entretenimento e musicais.
Inaugurando a transmissão em frequência FM, a rádio Nova Veredas (FM 89,3khtz) foi estabelecida em
1988186, a partir do decreto de 10 de novembro de 1987,187 publicado no Diário Oficial da União em 17 de
dezembro do mesmo ano. A emissora católica, pertencente à Fundação Bom Despacho, além de transmitir
conteúdos religiosos, também produz programas diversificados com temáticas sertanejas, esportivas e
noticiário. Com cobertura regional e programação voltada para o entretenimento destaca-se ainda a Rádio
Ativa (FM 87,9khtz) e a Máxima (FM 97,1khtz), sendo a última “transmitida para mais de 75 localidades,
entre elas; Araújos, Bom Despacho, Divinópolis, Carmo do Cajurú, Nova Serrana, Pará de Minas, Itaúna,
Itaguara, Lagoa da Prata, Abaeté, Pompéu, Pitangui, Perdigão, São Gonçalo do Pará, São Gotardo, Morada
Nova, Leandro Ferreira, Luz, Santo Antônio do Monte, Arcos, Dores do Indaiá, Martinho Campos, Bambuí,
Igaratinga, Tiros, Medeiros e várias outras.”188
184 Tadeu Antônio de Araújo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias, no dia 28 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.185 Informação disponível http://www.jusbrasil.com.br/diarios/1223659/dou-secao-1-19-05-1997-pg-3, consultada em 13 de Abril de 2012.186 Decreto de 10 de novembro de 1987, publicado no Diário Oficial da União em 17 de dezembro do mesmo ano. In: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto/Antigos/D95498.htm, consultada em 13 de Abril de 2012.187 Informação disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D95498.htm, consultada em 13 de Abril de 2012. 188 Informação disponível em http://www.radiomaxima.com.br/radio/, consultada em 13 de Abril de 2012.
Photos
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
Ao completar cem anos em 1º de junho de 2012, Bom Despacho
comemora o seu centenário e também se planeja para os anos
vindouros. Hoje a cidade procura investir na educação e também
na saúde de sua população. Encontra-se em fase de implantação no
município um sistema de despoluição das águas dos rios, assim como o
tratamento de todo o seu esgoto. A obra está sendo realizada através de
convênio entre a Prefeitura Municipal de Bom Despacho e a Companhia
de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba
(Codevasf), por meio do Programa de Revitalização da Bacia do rio São
Francisco, que objetiva melhorar a qualidade da água que é despejada
no rio São Francisco e em seus afluentes. As obras de saneamento
são de construção de emissários e estações de tratamento de esgoto
(ETE), sistema de esgotamento sanitário, interceptores, drenagem
e canalização. “Um grande problema de Bom Despacho era o esgoto
despejado nos córregos e no Rio São Francisco. Hoje já estamos com
duas estações de tratamento e uma elevatória, as obras ainda não estão
concluídas, mas em breve estará pronto e beneficiará enormemente a
população e a bacia do Velho Chico”.189
Paralelamente, a cidade procura promover uma melhora na qualidade
de vida da população. Programas de distribuição de cestas básicas,
de leite para crianças, de sopa, além de auxílio funeral são alguns
exemplos de ações desenvolvidas pela prefeitura. Atividades físicas
gratuitas também são oferecidas pela Secretaria Municipal de Saúde a
todos os interessados, sempre as segundas, quartas e sextas. “A cidade
de Bom Despacho me acolheu aqui há 35 anos e me dei muito bem na
comunidade, gosto demais daqui por vários motivos. Os principais deles
são segurança e a cultura. Me adaptei muito bem em Bom Despacho e,
hoje, ela representa para mim a minha terra do coração.”190
Bom Despacho do futuro
189 Haroldo Sousa Queiroz. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 13 de janeiro de 2012, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
190 Orlando Pereira de Freitas. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
Obras de construção da estação de tratamento de esgoto em Bom DespachoFoto: Ricardo Avelar
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Bom Despacho: a cidade centenária
Na área educacional, com a chegada da Unipac o acesso à educação
superior se tornou uma realidade para os bom-despachenses, que
podem vislumbrar um futuro com maiores oportunidades. Já para os
estudantes do ensino infantil e fundamental a prefeitura disponibiliza
material escolar para todos os alunos, um incentivo para que esses não
abandonem as escolas. O objetivo é que todos os jovens concluam o
ensino médio e que a maioria ingresse em uma universidade. “A questão
de educação em Bom Despacho tende a crescer porque a cidade sempre
foi muito voltada para isso. Hoje a gente vê as pessoas muito animadas
para cursarem a universidade, principalmente os mais velhos que não
tiveram a oportunidade de estudar quando jovens”.191
Na área da saúde, o município conta com dois hospitais: a Santa Casa
e o Hospital Miguel Gontijo, além de postos de saúde. “Bom Despacho
hoje é uma microrregião de saúde do estado. Temos um serviço de saúde
muito bem estruturado, que é responsável pela atenção primária. O
problema aparece quando se precisa de uma vaga de CTI, que não existe
e muitas vezes não se consegue uma vaga em tempo hábil. Cirurgias de
alta complexidade também não são realizadas na cidade”.192
Bom Despacho se imagina no futuro como uma cidade em que existam
menos pobres, mais oportunidades de emprego, de lazer, e uma população
mais saudável e longeva. Para isso a municipalidade trabalha visando a
melhoria das suas estruturas, o bem estar coletivo, e o enriquecimento
da cidade e da sua população. Os bom-despachenses vislumbram um
futuro melhor para a cidade, que ela cresça e se destaque entre os
municípios do Centro-Oeste mineiro. “Bom Despacho é uma cidade
com possibilidades de receber bons investimentos. É uma cidade muito
ordeira, relativamente pacata e acredito que ela tem condição de estar
em um patamar bem mais elevado do que se encontra hoje”.193
191 Ordália Ferreira Pessoa Melo. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 27 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.de Abril de 2012.
192 Denise Gontijo Araújo Lamounier. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 8 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
193 Homero José do Couto. Entrevista concedida ao Escritório de Histórias no dia 9 de junho de 2011, em Bom Despacho (MG). Texto editado.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO
1832 Instituída a Paróquia de Bom Despacho
1841 A sede da Paróquia do Itapecerica, no município de Pitangui é restabelecida no Arraial
do Espírito Santo, compreendendo o Curato da Saúde, desmembrado da Paróquia do
Bom Despacho.
1842 Alterados os limites dos seguintes Distritos:
§ 5º - Os habitantes do bairro do Cercado, Curato da Saúde, e Paróquia do Bom
Despacho do município da dita Vila (Pitangui), ficam pertencendo ao Curato da
Conceição do Pará da Paróquia da referida Vila.
1848 Foram criadas aulas de Instrução Primária do 1º grau nos arraiais Bom Despacho e
outros. Bom Despacho era Termo de Pitangui. As aulas eram providas por pessoas
habilitadas no “método simultâneo”, e a partir de concurso.
1852 Incorporação à Paróquia de Bom Despacho do Distrito de Saúde, desmembrado de Pitangui.
1853 Fundação da Casa Assunção, o primeiro comércio de Bom Despacho.
1858 O Distrito de Saúde, desmembrado de Pitangui, foi incorporado à Paróquia de Bom Despacho.
1864 Elevação a Distrito de Paz de parte da Freguesia do Bom Despacho que ficava à
margem direita do Rio Picão.
Transferência da sede da Paróquia de São Gonçalo do Pará para o Arraial do Cajuru, e
incorporação à Freguesia de Bom Despacho do Distrito de Saúde.
1868 Supressão da Freguesia de Bom Despacho e incorporação do seu território à Freguesia
da Abadia.
Anexação à Freguesia da Abadia e ao Distrito de Bom Despacho da fazenda das áreas
do Capitão Antônio Teixeira Bueno.
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LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO
1880 A Paróquia de Bom Despacho foi desmembrada de Pitangui, passando a pertencer ao
município de Santo Antônio do Monte.
1896 Criação da primeira Conferência Vicentina em Bom Despacho, a Conferência Nossa
Senhora da Conceição de Bom Despacho.
Instituição da Santa Casa em Bom Despacho.
1900 Estruturação da primeira fonte de abastecimento de água de Bom Despacho, a fonte
da Biquinha.
1908 Posse do primeiro Provedor da Santa Casa de Bom Despacho, Padre Nicolau Ângelo
del Duca.
1909 Criação da cadeira mista de instrução primária em Bom Despacho, município de Santo
Antônio do Monte.
1911 Criação do município de Bom Despacho, por meio da Lei 556, de 30/08/1911.
1912 Instalação do município de Bom Despacho no dia 1º de junho.
Eleição de vereadores do município de Bom Despacho. Decreto 3.477, de junho de
1912.
Criação do Grupo Escolar de Bom Despacho. Decreto 3.700, de 1912.
Escolha do primeiro administrador do município, Faustino Assunção.
1913 Aprovação dos estudos e do orçamento da segunda seção da Estrada de Ferro
Paracatu, com a extensão de aproximadamente 76 km, de Bom Despacho a Dores do
Indaiá. Decreto 3.987, de 1913.
1915 Elevados a Termo pertencente às comarcas em frente designadas, com suas atuais
divisas, os seguintes municípios: Bom Despacho (Comarca de Santo Antônio do Monte).
Lei 663, de 18 de setembro de 1915.
- 175 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
1918 Concessão de licença à Câmara Municipal de Bom Despacho para realização de
estudos técnicos da Cachoeira denominada João de Deus ou José do Couto, localizada
no Rio Lambari. Decreto 5.021, de 1918.
1919 Transferência para o Povoado denominado Engenho, município de Bom Despacho, da
escola rural mista de Ranchão, município de Jacutinga. Decreto 5.242, de 1919.
1920 Criação da Colônia Álvaro da Silveira.
1921 Criação de um núcleo colonial em terras da Fazenda Cachoeira do Picão, município de
Bom Despacho, denominado David Campista. Decreto 5.560, de 1921.
Criação de duas escolas mistas nas colônias Álvaro da Silveira, e David Campista.
Decreto 5.652, de 1921.
Chegada da Estrada de Ferro Paracatu em Bom Despacho.
1923 Definição dos limites territoriais de Bom Despacho. Lei 843, de 07 de setembro de 1923.
1924 Fundação da Companhia Força e Luz de Bom Despacho.
Fundação do jornal “Bom Despacho”.
1924/1925
Construção de nova casa paroquial.
1926 Criação do Clube Bom Despacho.
Concessão provisória à Companhia Força e Luz de Bom Despacho de queda d’água
denominada João de Deus, no Rio Lambari. Decreto 7.152, de 1926.
1927 Falecimento do padre Nicolau Ângelo del Duca.
Benção solene da pedra fundamental da nova Igreja Matriz de Bom Despacho,
ministrada pelo Padre Augusto de Andrade, em 08 de dezembro.
- 176 -
LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO
1927 Instalação de segunda unidade geradora de energia da Companhia Força e Luz de Bom
Despacho.
1928 Transferência do Grupo Escolar de Bom Despacho para novas dependências,
localizadas na Rua Miguel Dias, nº 40.
Instalação no município de agência do Banco do Comércio e Indústria de Minas Gerais.
Inauguração do Hotel Glória.
1929 Estabelecimento das divisas entre os municípios de Bom Despacho e Santo Antônio do
Monte. Lei 1.122, de 1929.
1931 Instalação em Bom Despacho da sede do 7° Batalhão de Caçadores Mineiros da Força
Pública do Estado de Minas Gerais.
1933 Aquisição da Companhia Força e Luz de Bom Despacho pela Prefeitura Municipal.
Criação da Banda de Música Santa Efigênia, pertencente ao 7º Batalhão de Caçadores
Mineiros da Força Pública do Estado de Minas Gerais.
1934 Criação de escola urbana na Vila Militar do 7º Batalhão de Caçadores Mineiros da
Força Pública do Estado de Minas Gerais. Decreto 11.722, de 1934.
1935 Visita do Governador de Minas Gerais, Benedito Valadares Ribeiro, ao 7º Batalhão, em
Bom Despacho.
1936 Início da construção da estrada de rodagem de Belo Horizonte a Saúde, que passava a
ligar Bom Despacho a estrada de rodagem Belo Horizonte – Triângulo Mineiro.
Construção do Campo de Aviação de Bom Despacho, com o auxílio de elementos do 7º
Batalhão de Bom Despacho.
O governo foi autorizado a doar à Prefeitura de Bom Despacho o antigo prédio do
grupo escolar.
- 177 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
1938 Criação da Companhia Industrial Aliança Bom-Despachense (CIAB), empresa têxtil, em
Bom Despacho.
1939 O município de Bom Despacho foi organizado pelo Serviço Geográfico de Minas Gerais.
1942 Instituição do primeiro decreto que autorizava a pesquisa de cristal de rocha em Bom
Despacho. Decreto 9.711, de 17 de junho de 1942.
A Companhia Industrial Aliança Bondespachense foi autorizada a ampliar suas
instalações de produção, transmissão e distribuição de energia elétrica, em Bom
Despacho. Decreto 8.606, de 24 de janeiro de 1942.
1943 Decreto-Lei que estabeleceu os limites municipais e as divisas interdistritais de Bom
Despacho e de outros municípios do Estado de Minas Gerais, e que vigorou, sem
alterações, até o ano de 1948. Decreto-Lei 1.058, de 31 de dezembro de 1943.
1945 Sagração da Igreja Matriz (provavelmente a benção da nova Igreja Matriz de Bom
Despacho, em 16/12/1945).
1946 A Comarca de Bom Despacho (1ª Entrância), com sede em Bom Despacho, composta
pelo Termo de Bom Despacho e distritos de Bom Despacho (cidade), Araújos, e
Moema. Decreto-Lei 1.630, de 15 de janeiro de 1946.
Emancipação da Colônia Davi Campista, localizada no município de Bom Despacho.
Decreto 2.264, de 1946.
O Grupo Escolar de Bom Despacho recebeu denominação especial: Grupo Escolar
Coronel Praxedes. Decreto 2.284, de 1946.
1947 Estabelecimento das 70 Delegacias Adjuntas, correspondentes a 70 Circunscrições
Policiais. Bom Despacho, assim como Pitangui, Matinho Campos e Pompéu passaram a
pertencer à 47ª Circunscrição. Decreto-Lei 2.147, de 11 de julho de 1947.
Criação da Escola Elementar de Agricultura. Decreto 2.478, de 1947.
Criação de 25 escolas primárias municipais e rurais, localizadas em fazendas e povoados
do município de Bom Despacho. Lei Municipal n° 03, de 29 de dezembro de 1947.
- 178 -
LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO
1948 Estabelecimento da divisão administrativa e judiciária do Estado de Minas Gerais, que
vigorou de 1949 a 1953. Criação do Distrito de Engenho do Ribeiro, no município de
Bom Despacho. Lei 336, de 27 de dezembro de 1948.
Criação da primeira emissora em frequência AM em Bom Despacho.
Finalização das obras de construção da nova Igreja Matriz de Bom Despacho.
1949 O poder executivo foi autorizado a criar estabelecimento de ensino secundário em Bom
Despacho. Lei 500, de 25 de novembro de 1949.
1950 O Governo do Estado de Minas Gerais foi autorizado a doar à Prefeitura Municipal de
Bom Despacho o terreno e benfeitorias correspondentes a sede da ex-Colônia David
Campista, emancipada pelo Decreto 2.264, de 26 de julho de 1946. Lei 701, de 27 de
Novembro de 1950.
Início das atividades do Ginásio Estadual de Bom Despacho.
A Companhia Força e Luz, de Dores do Indaiá, foi autorizada a construir linha de
transmissão entre os municípios de Bom Despacho e Dores do Indaiá. Decreto 29.819,
27 de julho de 1951.
1951 Transferência para o município de Bom Despacho da Escola de Reforma Antônio
Carlos, localizada em Ribeirão das Neves. Lei 755, de 12 de dezembro de 1951.
Autorização da doação de terrenos à Rede Mineira de Viação, no município de Bom
Despacho. Lei 881, de 1952.
1953 Criação de grupo escolar em Bom Despacho, denominado Grupo Escolar João Dornas
Filho. Decreto 3.965, de 1953.
Estabelecimento da divisão administrativa e judiciária do Estado de Minas Gerais, a
vigorar de 1954 até 1958. Bom Despacho era circunscrição judiciária e, juntamente
com Araújos e Moema, era também circunscrição administrativa. Lei 1.039, 12 de
dezembro de 1953.
Fixação em 9.316 elementos o efetivo da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais para
o ano de 1954, da qual se localizava em Bom Despacho o 7º Batalhão de Infantaria. Lei
1.072, 26 de dezembro de 1953.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
1954 Organização judiciária de Minas Gerais, da qual Bom Despacho era comarca de 2ª
entrância. Lei 1.098, de 22 de junho de 1954.
1955 Autorização concedida ao poder executivo para criar conservatório de música em Bom
Despacho, entre outros municípios. Lei 1.239, de 1955.
1956 Criação da cooperativa Cooperbom.
1958 Criação da Companhia Telefônica de Bom Despacho, em maio de 1958, mas que
somente foi instalada em 2 de agosto de 1959.
1959 O Governo de Minas Gerais foi autorizado a encampar a estrada de rodagem de Abaeté
a Bom Despacho, passando pelo município de Martinho Campos. Lei 1.956, de 19 de
agosto de 1959.
Doação de terreno ao município de Bom Despacho para construção do prédio da
Prefeitura Municipal de Bom Despacho. Lei 1.987, de 22 de setembro de 1959.
Fundação da Siderúrgica União Bondespachense.
1960 Criação do Grupo Escolar Flávio Cançado Filho, o terceiro grupo escolar da cidade de
Bom Despacho. Decreto 5.764, de 10 de março de 1960.
O Governo de Minas Gerais foi autorizado a encampar a estrada de rodagem de
Pitangui a Bom Despacho, passando por Conceição do Pará e Leandro Ferreira. Lei
2.146, de 08 de junho de 1960.
1962 O Ginásio Estadual de Bom Despacho passou a se chamar Colégio Normal Oficial de
Bom Despacho.
Autorização concedida à Companhia Industrial Aliança Bondespachense a ampliar seu
sistema de transmissão de energia elétrica em Bom Despacho. Decreto do Conselho
de Ministro nº 662, de 08 de março de 1962.
1963 Concessão de nova denominação ao Ginásio Estadual de Bom Despacho: Ginásio
Estadual Miguel Gontijo. Lei 2.814, de 15 de janeiro de 1963.
- 180 -
LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO
1963 Criação do Grupo Escolar Martinho Fidelis, em Bom Despacho. Decreto 7.693, de 26 de
junho de 1964.
Declaração de utilidade pública, para efeito de desapropriação, dos terrenos
necessários à construção da subestação de energia elétrica da Usina Hidrelétrica de
João de Deus, no município de Bom Despacho. Decreto 7.339, de 1963.
1964 Criação da biblioteca pública e do museu municipal de Bom Despacho.
1965 O Colégio Normal Oficial de Bom Despacho teve a sua denominação alterada para
Colégio Normal Oficial Miguel Gontijo de Bom Despacho.
A organização judiciária de Minas Gerais definiu que Bom Despacho era comarca de 2ª
entrância. Lei 3.344, de 14 de janeiro de 1965.
O Fórum de Bom Despacho passou a se chamar Fórum Hudson Gouthier. Decreto
8.157, de 1965.
Criação da Cidade Industrial de Bom Despacho. Lei 3.529, de 10 de novembro de 1965.
Criação de um jardim de infância no anexo do Colégio Tiradentes da Polícia Militar, em
Bom Despacho. Decreto 9.015, de 1965.
Autorização para a instituição da Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom
Despacho:
Art. 1º - Fica o Governo do Estado autorizado a instituir com sede na cidade de Bom
Despacho, a Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho, entidade
autônoma que se regerá por estatuto aprovado em decreto do Governador do Estado.
Lei 3.903, de 22 de dezembro de 1965.
Criação de Ginásios Industriais Estaduais em Bom Despacho. Lei 4.025, de 28 de
dezembro de 1965.
1966 Instituição da Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho:
Art. 1º - A Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Bom Despacho, entidade
com personalidade jurídica própria, terá sua sede e foro na cidade de Bom Despacho,
Estado de Minas Gerais e se regerá pelo presente Estatuto. Decreto 9.299, de 03 de
janeiro de 1966.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
1969 Criação do Rotary de Bom Despacho.
O Colégio Normal Oficial Miguel Gontijo de Bom Despacho passou a se chamar Colégio
Estadual Miguel Gontijo de Bom Despacho.
1970 Organização das Delegacias Regionais de Ensino. Bom Despacho participava da
6ª Delegacia Regional de Ensino de Divinópolis, da qual compunha uma inspetoria
composta pelas cidades de Bom Despacho, Araújos, Luz, Martinho Campos, e Moema.
Decreto 12.880, de 04 de agosto de 1970.
A obra social da Associação de São Vicente de Paulo, em Bom Despacho foi declarada
de utilidade pública. Decreto 67.144, de 08 de setembro de 1970.
1972 O Colégio Estadual Miguel Gontijo de Bom Despacho teve a sua denominação
modificada para Escola Estadual Miguel Gontijo de 1º e 2º Grau.
Criação da Associação Bondespachense de Assistência e Promoção (ABAP).
A Irmandade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Santa Casa de Caridade de Bom
Despacho foi declarada de utilidade pública. Decreto 70.247, de 07 de março de 1972.
1973 A Escola Estadual Miguel Gontijo de 1º e 2º Grau passou a se chamar Escola Estadual
Miguel Gontijo.
1974 O Grupo Escolar Coronel Praxedes passou a se chamar Escola Estadual Coronel Praxedes.
1975 Inauguração da Praça de Esportes do 7º Batalhão da Polícia Militar em Bom Despacho
Inauguração do novo cemitério da cidade de Bom Despacho, o Cemitério Parque da
Esperança.
A Companhia Industrial Aliança Bondespachense recebeu concessão para
aproveitamento hidráulico de trecho do Rio Lambari, para uso exclusivo. Decreto
76.903, de 24 de dezembro de 1975.
1976 Declaração de utilidade pública, para efeito de desapropriação de pleno domínio, de
terrenos e benfeitorias necessárias à construção da subestação de energia elétrica de
Bom Despacho, do sistema CEMIG. Decreto 17.699, de 1976.
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LInHA DO TEMPO DA CIDADE DE BOM DESPACHO
1977 Reinauguração da Igreja Matriz de Bom Despacho após as reformas, interna e externa.
Restauração da fonte da Biquinha.
Lançamento da pedra fundamental da futura sede do Rotary Clube de Bom Despacho.
A CEMIG chega a Bom Despacho.
Construção pela família Orsini do mais alto edifício de Bom Despacho, com 08
pavimentos.
Demolição do último sobrado da Praça da Matriz, local em que funcionou a primeira
escola normal de Bom Despacho.
1978 Inauguração de novo pavilhão da Santa Casa de Bom Despacho, e a reforma do
prédio antigo.
Desativação dos serviços ferroviários em Bom Despacho.
Inauguração do fornecimento de água pela COPASA no dia do aniversário de Bom
Despacho.
Reabertura do Clube Bom Despacho, no dia 29 de Julho, com a promoção de um
baile de gala.
Reinauguração da Igreja do Rosário da cidade de Bom Despacho após melhoramentos.
O Poder Executivo foi autorizado a doar à Rede Ferroviária Federal S.A. imóvel, de
propriedade do Estado, localizado no município de Bom Despacho, por meio da Lei
7.402, de 15 de dezembro de 1978.
1980 Fundação do Ipê Campestre Clube.
Criação do grupo teatral “Porta Aberta”.
Inauguração de uma praça em homenagem ao Padre João Heffels, denominada de
Praça Padre João Heffels.
1981 Aprovação de convênio entre o Estado de Minas Gerais, através da Secretaria de
Estado da Saúde, Bom Despacho, Leandro Ferreira e outros, para a construção de
centros de saúde. Resolução 2.533, de 08 de junho de 1981.
1982 Instalação em Bom Despacho do Núcleo de Fiscalização da Administração
Fazendária II (AF/II).
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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AnexOs
1983 A Aliança Bondespachense de Assistência e Promoção - ABAP, com sede na cidade de
Bom Despacho foi declarada de utilidade pública pela Lei 8.423, de 1983.
1984 Criação do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Extração de Madeiras e da
Lenha de Bom Despacho.
Instituição em Bom Despacho do 88º Grupo Escoteiro (88° GE/MG).
Criação do Festicanto.
1985 Criação do ensino de segundo grau em escola de rede estadual, em Bom Despacho.
Decreto 24.359, de 1985.
Aprovação de convênios celebrados entre o Estado de Minas Gerais, através da
Secretaria de Estado da Saúde, e os municípios de Bom Despacho e outros, para
prestação de assistência médica-sanitária à população desses municípios. Resolução
3.602, de 07 de agosto de 1985.
Criação da Cooperativa de Crédito Rural de Bom Despacho Ltda. – CREDIBOM.
1986 Instalação em Bom Despacho de uma agência da Previdência Social.
Instituição de uma unidade de apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
(Senac) em Bom Despacho.
1988 Inauguração do terminal rodoviário de Bom Despacho.
Realização do último Festicanto.
A Associação Comunitária dos Bairros São José, Jardim América, D. Joaquim e Novo
D. Joaquim, com sede na cidade de Bom Despacho foi declarada de utilidade pública
pela Lei 9.693, de 25 de novembro de 1988.
1989 Realização da I Expoarte.
Criação do semanário “Jornal de Negócios”.
Realização da primeira Cavalgada da Fé.
Realização da primeira Feira do Livro em Bom Despacho.
1990 Criação do Clube de Cavaleiros.
Criação do coral Voz e Vida.
1991 Fundação da Corporação Musical Nossa Senhora do Bom Despacho.
1992 Reforma da Igreja Matriz de Bom Despacho.
1994 Solicitação feita por Manoel Werneck, representante do Sindicato dos Ferroviários de
Bom Despacho, à Rede Ferroviária Federal (RFFSA) para doação de uma locomotiva e
área para criação do Museu da Estrada de Ferro Paracatu, em Bom Despacho.
1995 Criação do Centro de Atendimento e Integração da Criança (CAIC).
1996 Criação do Curso Regular de Suplência (ensino médio) na Unidade de Ensino Supletivo
Professora Zaíra Batista Teixeira, em Bom Despacho. Decreto 38.039, de 21 de maio de
1996.
1997 Fundação da Associação Museu da Cidade (AMC).
Início da construção da avenida sanitária Doutor Roberto.
1998 Autorização para o funcionamento da Faculdade de Ciências Contábeis de Bom
Despacho. Decreto 39.795, de 06 de agosto de 1998.
Municipalização de três escolas de Bom Despacho: Escola Municipal Dona Duca,
Escola Municipal Coronel Praxedes, e Escola Municipal João Dornas Filho.
Instalação em Bom Despacho de campus da Unipac. (Universidade Presidente
Antônio Carlos)
Instituição do Museu da Cidade (MdC).
1999 Fundação da Associação dos Amigos do Museu Ferroviário de Bom Despacho (AMFBD).
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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AnexOs
2001 Implantação em Bom Despacho do Programa Saúde da Família (PSF).
Transformação da Faculdade de Tecnologia e Ciências de Conselheiro Lafaiete e
da Faculdade de Ciências Contábeis de Bom Despacho, em Campi Universitários da
Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac). Decreto 41.808, de 07 de agosto
de 2001.
2002 Instalação do SESC em Bom Despacho.
2005 Reconhecimento do curso de graduação em Sistemas da Informação, da Universidade
Presidente Antônio Carlos (Unipac), em Bom Despacho. Decreto de 03 de novembro de
2005.
Implantação do ensino médio no Centro Estadual de Educação Continuada Professora
Zaíra Batista Oliveira Teixeira, em Bom Despacho. Decreto 44.193, de 28 de dezembro
de 2005.
2006 Reconhecimento dos cursos de graduação em Enfermagem e em Fisioterapia, da
Universidade Presidente Antônio Carlos, em Bom Despacho. Decreto de 10 de
novembro de 2006.
Criação do Centro de Educação Infantil Jacinto Salviano, e do Centro de Educação
Infantil Professora Eraída Alves.
Início da implantação de sistema de despoluição das águas dos rios de Bom Despacho,
um convênio entre a Prefeitura Municipal de Bom Despacho e a Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
Tombamento, pelo município, do Conjunto paisagístico e arquitetônico do 7º Batalhão
da Polícia Militar em Bom Despacho.
2007 Tombamento pelo município da fonte da Biquinha.
2009 Criação do Festival de Inverno de Bom Despacho.
Concessão a Furnas Centrais Elétricas da exploração do serviço público de
transmissão de energia elétrica, relativa à linha de transmissão Bom Despacho 3
Decreto 0-004, de 12 de janeiro de 2009.
2011 Realização de convênio entre a Prefeitura de Bom Despacho e o IFET (Campus
Bambuí), que possibilitou a implantação dos cursos de Técnico em Meio Ambiente e
Gerência de Saúde.
Aprovação de uma unidade da Universidade Aberta do Brasil (UAB) em Bom Despacho.
2012 Comemoração do centenário de Bom Despacho.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
AnexOs
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AnexOs
De 1912 a 1915Faustino Assunção
De 1915 a 1918Pedro de Paula Gontijo
De 1918 a 1920Pedro de Paula Gontijo
De 1920 a 1923Antônio Guerra da Silva
De 1923 a 1927Faustino Assunção Teixeira
De 1927 a 1930Faustino Assunção Teixeira
De 1930 a 1945Flávio Cançado Filho
De 29/10/1945 a 11/12/1945Erotides Diniz
De 11/12/1945 a 11/02/1946Domingos Mendanha
De 11/02/1946 a 31/12/1946Flávio Cançado Filho
De 02/01/1947 a 20/04/1947João Pedro de Araújo
De 20/04/1947 a 21/12/1947José de Paula Marques Gontijo
De 21/12/1947 a 01/02/1951Hugo Marques Gontijo
De 01/02/1951 a 01/02/1955Cisalpino Marques Gontijo
De 01/02/1955 a 31/01/1959Francisco de Araújo Lopes Cançado
De 01/02/1959 a 31/01/1963Antônio Leite de Oliveira
De 01/02/1963 a 31/01/1967Roberto de Melo Queiroz
De 01/02/1967 a 31/01/1971Geraldo Simão Vaz
PREFEITOS DO MUnICíPIO DE BOM DESPACHO
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
De 01/02/1971 a 31/01/1973Antônio Leite de Oliveira
De 01/02/1973 a 31/01/1977Geraldo Simão Vaz
De 01/02/1977 a 31/01/1983Antônio Leite de Oliveira
De 01/02/1983 a 31/12/1988Célio Luquine
De 01/01/1989 a 31/12/1992José Cardoso de Mesquita
De 01/01/1993 a 31/12/1996Célio Luquine
De 01/01/1997 a 31/12/2000Haroldo de Sousa Queiroz
De 01/01/2001 a 31/12/2004Geraldo Simão Vaz
De 01/01/2005 a 31/12/2012Haroldo de Sousa Queiroz
De 01/01/2009 a 31/12/2012Haroldo de Sousa Queiroz
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AnexOs
Igrejas católicas
Igreja Matriz
Igreja de Fátima
Igreja do Bairro São Vicente
Igreja do Rosário
Igreja da Vila Gontijo
Igreja da Santa Casa
Igreja da Vila Militar
Igreja do Bairro São José
Igreja do Engenho do Ribeiro
Igreja do bairro Ana Rosa
Capela de São Judas
Capela de Nossa Senhora das Graças
Capela de São Lucas
Capela de São Cristóvão
Capela da Sagrada Família
Capela de Santo Expedito
Capela de Nossa Senhora de Aparecida
centros espíritas
Grupo Espírita Pingo de Luz (Kardecista)
Grupo Espírita São Sebastião (Umbanda)
Vale do Amanhecer (Umbanda e Candomblé)
TEMPLOS RELIgIOSOS EM BOM DESPACHO
evangélicas
Deus é Amor
Igreja Batista
Igreja do Evangelho Quadrangular
Assembleia de Deus
Outras
Testemunha de Jeová
Adventistas do Sétimo Dia
capelas rurais
Capelas das comunidades: Bom Retiro,
Retiro dos Agostinhos, Alves Vilaça, Mato
Seco, Capivari dos Macedos, Capivari dos
Marçal, Passagem, Garça, Lagoa Zé Luís e
Prata.
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livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
ESCOLAS PúBLICAS EM BOM DESPACHO
CAIXA ESCOLAR CHIQUINHA SOARES
CAIXA ESCOLAR PROFESSORA ZAÍRA BATISTA TEIXEIRA
ESCOLA MUNICIPAL CORONEL PRAXEDES
ESCOLA MUNICIPAL DONA DUCA
ESCOLA MUNICIPAL EGÍDIO BENÍCIO DE ABREU
ESCOLA MUNICIPAL FLÁVIO CANçADO FILHO
ESCOLA MUNICIPAL JOãO DORNAS FILHO
ESCOLA ESTADUAL MIGUEL GONTIJO
COLÉGIO TIRADENTES DA POLÍCIA MILITAR
REFERênCIAS BIBLIOgRÁFICAS
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REFERênCIAS BIBLIOgRÁFICAS
AMORMINO, Luciana; NEVES, Osias Ribeiro. Flávio e Ilda: A Arte de Conduzir.
Belo Horizonte: Escritório de Histórias, 2008.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico-geográfico de Minas
Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971.
CENNI, Franco. Italianos no Brasil. 3ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2003.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12. Ed. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, 2004.
FILHO, Luciano Mendes de Faria. Instrução elementar no século XIX. In: LOPES,
Eliane Marta Teixeira; FILHO, Luciano Mendes de Faria; VEIGA, Cynthia Greive
(org.). 500 anos de educação no Brasil. 2ª edição. Belo Horizonte: Autêntica,
2000.
FONSECA, Francisco de Assis. COOPERBOM 50 anos. Uma trajetória de
sucesso. Edição: COOPERBOM.
GUERRA, Jacinto. Gente de Bom Despacho: histórias de quem bebe água
da biquinha. Brasília: Editora Thesaurus, 2003.
GUERRA, Jacinto. Arraial da Senhora do Sol: história, cultura e turismo em
Bom Despacho. Bom Despacho: Edições Piraquara, 1997.
Jornal Hoje em Dia. Os Governadores História de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.
MORAIS, Márcio Marcos. Rastros na Poeira. Belo Horizonte: Dez Escritos, 2003.
NEVES, Osias Ribeiro; NEVES, Isabella Verdolin; CAMISASCA, Marina Mesquita.
GMMLE: 50 anos da história da metalurgia e da mineração em Minas Gerais.
Belo Horizonte: Escritório de Histórias.
- 197 -
livro de Ouro de Bom Despacho | 100 Anos
QUEIROZ, Sônia. Pé preto no barro branco: a língua dos negros da Tabatinga.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.
RODRIGUES, Laércio. História de Bom Despacho (origens e formação).
Belo Horizonte, 1968.
Revista Cinquentenário de Bom Despacho 1912-1962.
Revista Bom Despacho 90 anos. 2002.
Revista Bom Despacho Ontem/Bom Despacho Hoje 96 anos. 2008.
Revista Bom Despacho: origens, perfil e atrativos. SESC/MG. Belo Horizonte,
outubro de 2003.
SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Ltda, 2000.
SANTOS, Manoel Hygino dos. Santa Casa de Belo Horizonte Uma história de
amor à vida. Belo Horizonte, 2005.
SOBRINHO, Benjamim da Silva. A História do Rosário e da Festa do Reinado.
Bom Despacho, 2009.
Esta obra foi composta nos tipos Abraham Lincoln, Constantia
e Flama, no papel Couchê Fosco 150 gramas em junho de 2012.