76

livre do Masp

Embed Size (px)

Citation preview

  • 2

    estruturaproporo

    forma

    Alexandra Silva Crdenas

    coleo obras fundamentais

    patrocnio

    apoio

    realizao

  • 4 5

    [01] Apresentao[02] Introduo[03] Contexto[04] Lina Bo Bardi[05] O Masp[06] Estrutura e sistema construtivo[07] Estrutura e proporo como princpios geradores de forma[08] Intervenes posteriores[09] Informaes grficas e fotogrficas[10] (re) construo do projeto[11] Referncias Bibliogrficas[12] Anexo

    091117313585

    105115119123125127

    sumrio

  • 76

    duas palavras Marcelo Ferraz

    Alexandre Silva Crdenas uma arquiteta equatoriana, formada pela Universidade de Cuenca, que se apaixonou pelo projeto do Masp e resolveu estudar a fundo toda a complexidade de sua estrutura, que, neste caso, se confunde com sua arquitetura. Em 2011, Crdenas inicia sua pesquisa de maestria de proyetos arquitectnicos naquela universidade e viaja ao Brasil para conhecer in loco seu objeto de estudo. Entrevista arquitetos e pesquisa em diversos arquivos sobre a histria, dessa verdadeira saga da engenharia, para se conseguir uma obra to revolucionria. Em 2013, conclui sua maestria com a recomendao para publicao do trabalho, agora divulgado aqui no Brasil.

    Ao receber uma cpia deste texto, vi imediatamente a importncia da edio do livro. Trata-se do primeiro estudo a analisar a arquitetura do edifcio Trianon desde o ponto de vista de suas entranhas, ou seja, de sua estrutura como protagonista da forma e dos espaos. As novas tecnologias de desenho e representao em 3 D foram fundamentais no trabalho de Alexandra, ajudando a desvendar a complexa lgica do projeto.

    Apresentei o trabalho aos diretores da Escola da Cidade, que, imediatamente, toparam public-lo, inaugurando uma srie de livros que abordem individualmente obras clssicas da arquitetura brasileira contempornea.

    Convidamos, ento, o arquiteto Marcelo Suzuki, outro apaixonado pela obra do Masp, para fazer uma leitura crtica e uma reviso tcnica do trabalho de Alexandra, ajudando a transformar a dissertao de mestrado em um livro a ser estudado e apreciado por arquitetos, engenheiros e, principalmente, estudantes universitrios. Suzuki mergulhou a fundo no trabalho e, com a colaborao do engenheiro Roberto Rochlitz que participou do projeto e da obra como colaborador de Lina e do professor Figueiredo Ferraz nos anos 1960 , ajudou a dar mais detalhes sobre o projeto estrutural e o mtodo construtivo.

    Este trabalho parece ilustrar uma frase recorrente de Lina ao comentar muitos de seus projetos quando em construo: Ao terminarmos a estrutura, estar pronta a arquitetura.

    To necessrio para o estudo e a compreenso da arquitetura

    brasileira do sculo XX, este livro, ironicamente, vem luz pelas mos de uma estudiosa do Equador. Ser que nossos vizinhos esto mais atentos a nossa produo do que ns mesmos?

    *

    Nas comemoraes do centenrio de nascimento de Lina Bo Bardi, esta publicao ajuda a sedimentar seu riqussimo legado arquitetnico. Vem tambm somar-se aos bons ventos de mudana que colocam novamente a arquitetura e a museografia do Masp orgulho e patrimnio de todos os brasileiros no mesmo patamar de seu acervo.

  • 9

    [1]

    [1] Lina Bo Bardi e colaboradores verificando desenhos do MASP no canteiro de obras, c. 1966 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    apresentao

    O Masp um edifcio singular que est situado num ponto estratgico da cidade de So Paulo e, apesar de j ter aparecido em vrias publicaes anteriores uma obra bastante conhecida , neste livro existe uma nfase estrutura e proporo como princpios geradores de forma para demonstrar o quanto esse processo essencial.

    Neste livro resume-se o contexto histrico da cidade de So Paulo pelos anos 1940-60, destacando as principais influncias e correntes arquitetnicas que se desenvolviam naquela poca no pas. Acrescenta-se uma resenha histrica que relata a origem do Masp, com informaes sobre projetos que serviram de exemplo para a realizao deste, croquis de outros projetos que poderiam ter sido implantados no mesmo lugar e registros das plantas originais e de fotografias de poca, que determinam a trajetria at a efetiva construo.

    Conta-se brevemente a trajetria de Lina Bo Bardi com projetos localizados na cidade de So Paulo, cidade onde ela passou a maior parte de sua vida profissional. Foi feita uma anlise mais profunda do Masp, por meio de documentos existentes desenhos e imagens e desenhos desenvolvidos especial e especificamente para demonstrar sua construo: (re) desenho e (re) construo grfica do edifcio em duas e trs dimenses, detalhando seu sistema estrutural, com objetivo de apresentar e compreender a obra.

    O desenho, pois, alm de constituir um instrumento de registro e descrio da realidade fsica, oferece a possibilidade de acentuar os aspectos da referida realidade que o observador considera adequados desde a perspectiva com que olha.1

    Por fim so analisadas intervenes posteriores, vrias delas extremamente discutveis, apresentadas em imagens obtidas na biblioteca do Masp.

    1. PION, Helio. Teora del proyecto. Edicions UPC, ETSAB, 2005. p. 37.

  • 11

    [2]

    [2] Detalhe de estudo preliminar esculturas praticveis do belvedere Museu de Arte Trianon. Lina Bo Bardi, 1968 (coleo Masp/Luiz Hossaka).

    introduo

    O edifcio do Museu de Arte de So Paulo Assis Chateaubriand (Masp) foi concebido em 1957 e inaugurado em 1968, na avenida Paulista, em So Paulo. Importante exemplo da arquitetura moderna na Amrica do Sul, foi, na poca, um grande desafio arquitetnico e estrutural. O Masp demonstra que, a partir da estrutura, de maneira direta, foram realizados projetos de grande valor arquitetnico naquele perodo, longe dos centros do "primeiro mundo" como eram chamados , que j possuam grande desenvolvimento tecnolgico e melhores condies para o desenvolvimento da arquitetura moderna do que por aqui, no "terceiro mundo".

    Caso ainda mais parte o excepcional acervo no "terceiro mundo" e, mais ainda, sua apresentao dentro do edifcio, com o revolucionrio e inusitado mtodo expositivo, o qual, infelizmente, apesar de ser assunto to importante, no cabe no estudo que ora apresentado. Aqui a questo outra:

    A estrutura parte fundamental de toda construo. Ela a participante fundamental de toda construo que merea o ttulo de arquitetura. Mas, paradoxalmente, a arquitetura no s a estrutura. A Torre Eiffel, por exemplo, no tem s componentes estruturais, ela possui elementos extras que corrigem a percepo da imagem da torre, dando-lhe mais massa aparente. Alm disso, um magnfico smbolo de uma metrpole.

    No Masp, Lina optou por preencher o encontro entre as vigas superiores e os pilares, reconstituindo esse encontro como aresta ortogonal. Esse encontro era em ngulo resultado de um plano que corresponde ao plano perpendicular ao ngulo de ataque dos cabos de protenso. Sua ordenou mais uma concretagem e, de maneira absolutamente correta, reconstituiu as arestas ortogonais nesses encontros, enfatizando as quinas, que acabam parecendo prticos, mas que no so, demonstraremos.

    A estrutura parte fundamental da arquitetura moderna, basicamente porque os modernos se dedicaram a entender e empreenderam projetos a respeito de como nos estilos histricos a relao entre as obrigaes de propores estilsticas se relacionavam to coerentemente com as concepes estruturais em cada momento e todas as dificuldades e os desafios tcnicos faziam com que, em cada etapa, a questo ressurgisse, se recolocasse e se renovasse. E essa compreenso da histria arquitetnica lhes servia em seus projetos.

  • 12 13

    [3] Prottipo da poltrona para o Grande Auditrio proposta de Lina, para a qual no houve tempo hbil de produo at a inaugurao do Masp . Foto: Hans Gunter Flieg, 1969 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    [4] Layout de logotipo e papelaria proposta no utilizada pelas novas administraes do MASP. Lina Bo Bardi, c. 1957 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    Foi assim que a postura moderna reencontrou o estilo gtico e o valorizou. a que a arquitetura aparece em toda sua potente linguagem discursiva, reconhecida por todos, arquitetos ou leigos, como forma.

    Isso demonstra que o moderno no foi uma ruptura com o histrico, como em geral se acredita; pelo contrrio, foi uma profunda compreenso do que era absolutamente relevante para novos passos necessrios, inclusive para que a urbanidade as cidades sobrevivesse.

    No momento de seu estudo, para o arquiteto impossvel deixar de lado o peso e a fora de todos os elementos, dado que a arquitetura depende desse conjunto de fatores simultneos para adquirir expresso visual e constituir sua forma e seu indelvel vnculo com a sociedade.

    Nesse rol de preocupaes est a implantao: adequar a obra para ter um papel importante na disposio dos espaos, criar os necessrios vnculos com seu entorno imediato, ser exato em sua predisposio com a urbanidade e sua existncia na cidade como um todo.

  • 14 15

    [5] Perspectiva do cavalete expositivo de vidro. Lina Bo Bardi, c. 1957 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [6] Expositores na pinacoteca do museu. Foto: Agncia Estado, c. 1957-58 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [7] Projeto de totem de sinalizao para o Masp. Lina Bo Bardi, c. 1957 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [8] Exposio de Nelson Lerner com totem em primeiro plano. Em segundo plano, a pedra com as inscries da inaugurao do Masp, a qual foi apelidada de Assis Chateaubriand. Foto: Hans Gunter Flieg, 1969 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

  • 17

    [3]

    [9] Detalhe de croqui indicando integrao do museu com o Parque Trianon. Lina Bo Bardi (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi/ Henrique Luz).

    contexto

    A CIDADE DE SO PAULO ENTRE OS ANOS 1940 E 1960

    No final do sculo XIX aconteceram mudanas importantes na cidade de So Paulo, inclusive de carter urbanstico, com o crescimento econmico vertiginoso e o consequente aumento populacional. Proliferaram-se os loteamentos e as aberturas de novas ruas. A avenida Paulista, que , hoje, importante artria da cidade de So Paulo no era anteriormente , foi uma das vias abertas para loteamento de terrenos, tendo surgido j com algumas caractersticas peculiares:

    Foi aberta a avenida Paulista (1891), e, como outras ruas de suas imediaes, em terras que pertenciam a Joaquim Eugnio de Lima. Em 1912, o viajante Gaffre diria no saber comparar a avenida Paulista seno a certas avenidas de Nova York. O seu Parque Paulista, ou Parque Siqueira Campos antigo Parque Villon, que dispunha de caramanches rsticos (tambm chamado Parque Trianon, em frente ao Masp) , seria embelezado segundo o plano do especialista ingls Parker.2

    Essa avenida, a primeira a receber asfalto no pavimento,3 foi caracterizada pela grande largura, com grandes passeios, nica na cidade poca, e foi criada com uma lei que s permitiria novas construes que fossem bem afastadas do eixo virio at a edificao principal, gerando amplos recuos frontais. Manteve esse perfil estritamente residencial at fim da dcada de 1950.

    Louis Casabona, em seu livro So Paulo du Brsil, foi uma das coisas que louvou em So Paulo. Havamos atravessado uma boa parte da cidade e chegado a uma larga avenida arborizada situada sobre uma elevao e que tem o nome de avenida Paulista. um dos mais interessantes pontos de vista. Dominam-se de l grandes e profundos vales, em um dos quais se estende a cidade. Escrevia isso em 1905...4

    2. BRUNO, E. S. Histria e tradies da cidade de So Paulo. So Paulo: Hucitec, 1984. v. 3.3.Quanto pavimentao das ruas, os paraleleppedos de granito, introduzidos em 1873, ainda constituem o padro, embora o asfalto, usado pela primeira vez na avenida Paulista, esteja se tornando cada vez mais comum. MORSE, R. M. Formao histrica de So Paulo. So Paulo: Difuso Europeia do Livro, 1970. p. 370.4. CASAONA, L. So Paulo du Brsil. In: BRUNO, E. S. Histria e tradies da cidade de So Paulo, cit. p. 983.

  • 18 19

    A partir da dcada de 1950, So Paulo passou a ser considerada metrpole e a legislao municipal permitiu a construo vertical fora do centro da cidade. Com as novas diretrizes de uso de ocupao do solo, a avenida comeou a substituir o mbito residencial pelo comercial, alm de contar com servios com acentuada verticalizao. A partir da dcada de 1970, a avenida passou por uma profunda reforma, destinando mais pistas a veculos, e foram criados os atuais passeios, que ocuparam os antigos generosos recuos em frente casas; seu perfil se verticalizou definitivamente.

    INFLUNCIAS E CORRENTES NA ARQUITETURA DO BRASIL

    Nos anos 1940, chegou ao Brasil uma srie de arquitetos europeus, boa parte autoexilados, durante ou aps a Segunda Guerra Mundial. Foi nessa poca, em 1946 que Lina Bo Bardi veio para o Brasil, pas que acolheria como lar at o fim de seus dias.

    Quando Lina chegou, com o marido, Pietro Maria Bardi, ficou impressionada com a natureza da cidade do Rio de Janeiro. Conheceu a excelente qualidade arquitetnica do edifcio do Ministrio de Educao e Sade Pblica, hoje Palcio Gustavo Capanema, ento recm-inaugurado, sua eficiente disposio de espaos e sua escala em relao cidade. Tinham construdo um edifcio moderno no "terceiro mundo", enquanto na Europa estavam destruindo tudo com bombardeios. Lina relata:

    1947. Chateaubriand convida Pietro para fundar e dirigir um museu de arte no Brasil: Rio ou So Paulo. Torci pelo Rio, mas o dinheiro estava em So Paulo. Disse a Pietro que queria ficar, que reencontrava aqui as esperanas das noites de guerra. Assim ficamos no Brasil.5

    Assim relata o Professor, como Pietro Maria Bardi era usualmente chamado:

    O promotor (Assis Chateaubriand) continuava com uma dvida: onde sediar o museu? As opes eram duas: ou Rio de Janeiro ou So Paulo. A indeciso permaneceu at confessar sua preferncia pela terra que produzia a riqueza de ento, o caf. Acabamos paulistas.6

    O Professor conta seu encontro com Chateaubriand da seguinte maneira:

    5. FERRAZ, M. C. (org.) Lina Bo Bardi. So Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1993. p. 12.6. BARDI, P. M. Histria do Masp. So Paulo: Instituto Quadrante, atual Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 1992. pp. 10-1.

    [10] Carto-postal da avenida Paulista; vista da residncia de Adam von Blow. Foto: Guilherme Gaensly, 1902 (Fonte: DE TOLEDO, Benetido L. lbum iconogrfico da avenida Paulista. So Paulo: Ex Libris, 1987. p. 174).

    [11] Avenida Paulista, com Masp e Parque Trianon em primeiro plano. Foto: Marina Rago, 2014.

  • 20 21

    [12] Ministrio da Educao e Sade, Palcio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro, 1939-45. Foto: Nelson Kon, 2009.

    Embarcamos em 1946 no navio Almirante Jaceguay, trazendo (ele e Lina) conosco as obras de arte.Na capital fomos recebidos por um velho amigo, Mrio da Silva, jornalista brasileiro [...]. Tive a sorte de, com sua ajuda, obter o salo nobre do edifcio do Ministrio de Educao e Sade, onde pude apresentar as duas colees que trouxera e cujos catlogos ele traduziu. Foi ali que tive ocasio de encontrar Assis Chateaubriand, um dos primeiros visitantes, muito interessado nos quadros antigos, tendo adquirido quatro obras.7

    Na placa inaugural da sede do ministrio, em baixo relevo no mrmore que reveste seu saguo de entrada, est escrito:

    Sendo presidente da repblica Getlio Vargas e ministro de estado da educao e sade Gustavo Capanema, foi mandado construir ste edifcio para sede do Ministrio da Educao e Sade, projetado pelos arquitetos Oscar Niemeyer, Afonso Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leo, Lucio Costa e Hernani Vasconcelos, segundo risco original de Le Corbusier. 1937-458

    Ou seja, Lina comeou a conhecer o Brasil logo pela belssima

    7. Idem.8. COSTA, L. Registro de uma vivncia. So Paulo: Empresa das Artes, 1995. p. 141.

    paisagem do Rio, a expontnea alegria do povo carioca e o moderno ministrio.

    Quando eu aqui cheguei, vi do navio o branco e azul do Ministrio da Educao e Sade, navegando sobre o mar em cu azul-claro. Era comeo de tarde, e eu me senti feliz... Porque eu via uma coisa realizada. Na Europa ainda no havia comeado a retomada das construes, era necessrio primeiro sanar muitas coisas, especialmente as condies econmicas.9

    O ministrio e a histria de sua construo um divisor de guas na histria da arquitetura brasileira.

    A sede do Ministrio da Educao e Sade considerada o ponto inicial de uma arquitetura moderna de feitio brasileiro. [...] A construo do edifcio (iniciada em 1937) arrastou-se ao longo de anos com dificuldades, sobretudo com o advento da guerra, em 1939. Por volta de 1942, o edifcio estava virtualmente completo em seus exteriores e assim foi fotografado pelos norte-americanos para a exposio Brasil Buids.10

    No sculo XX, a arquitetura comeou a receber cada vez mais influncia de novas tcnicas e processos de construo mais complexos, como o concreto armado e o protendido, ps-tensionado ou pr-tensionado, o emprego de materiais pr-fabricados e painis modulados, janelas que vo do piso ao teto e cortinas de vidro nas fachadas inteiras.

    Em 1956 iniciou-se a construo da cidade de Braslia, com o Plano Piloto Urbanstico projetado por Lucio Costa e arquitetura de Oscar Niemeyer, obra que marcou um desafio para o pas que se empenhava em execut-la em prazo recorde.

    Em So Paulo, importante tambm foi a tradio de formao de engenheiros-arquitetos, que deu lugar a uma gerao de importantes profissionais, com destaque para Joo Batista Vilanova Artigas (1915-85), formado como engenheiro-arquiteto da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo em 1937. Ele foi o criador e fundador do novo curso, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, para a mesma Universidade de So Paulo, em 1948.

    Para Artigas, o uso de concreto armado aparente, que demonstra suas possibilidades construtivas e estruturais, determina firme e claramente todos os ambientes; caracterstica presente em cada um de seus projetos.

    9. GRINOVER, M. e RUBINO, S. Lina por escrito: textos escolhidos de Lina Bo Bardi. So Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 182.10. SEGAWA, H. Arquiteturas no Brasil 1900-90. So Paulo: Edusp, 1997. p. 92.

  • 22 23

    [13] Esplanada dos ministrios, Eixo Monumental, Braslia. Foto: Nelson Kon, 2007.

    [14] Esplanada dos ministrios, Eixo Monumental, Braslia. Foto: Nelson Kon, 2010.

    A obra mais importante de Artigas a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo FAU/USP, projeto de 1961 e inaugurado em 1969. Ele elaborou um projeto com a estrutura do prdio toda sob uma mesma cobertura de concreto armado aparente, a qual, remetendo aos lacunarium das estruturas antigas, a cobertura possui vazios recobertos por material translcido.

    A articulao de todos os espaos sob a cobertura nica organizada a partir do grande vazio central; como que girando ao seu redor, esto todos os ambientes contidos no invlucro das empenas de concreto aparente.

    Lina reconhecia a obra dele como muito sria e importante para o desenvolvimento da arquitetura moderna brasileira.

    REFERNCIAS ARQUITETNICAS

    Na mesma poca, quase simultaneamente construo do Masp, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy projetou e construiu no Rio de Janeiro o Museu de Arte Moderna, o MAM (1954-67), obra de grande expresso estrutural-visual e alta qualidade arquitetnica, correto uso de materiais e expresso da poca.

    O projeto monumental, mas paradoxalmente singelo e aconchegante. Gera um espao pblico livre e coberto, comunicando o edifcio com a natureza quase nada ali natural , a baa de Guanabara e os jardins de Burle Marx11 no aterro do Flamengo. As salas de exposio tm grandes planos de vidro que reforam a relao dos ambientes internos com o exterior, a paisagem exuberante do Rio de Janeiro.

    No projeto de Lina para o Museu de So Vicente, a posio dos prticos a, sim, seriam prticos verdadeiros, como na primeira proposta de Lina para a avenida Paulista transversal e se repete em um ritmo similar ao do MAM de Reidy. De maneira parecida, nos dois projetos os prticos seguram uma caixa retangular suspensa e com fachadas envidraadas.

    No Museu de So Vicente o acesso se d por meio de uma escada/rampa longitudinal, que adentra por uma abertura em meio laje do sofito do pilotis, tal como ocorreria posteriormente no Masp, caracterstica que j existia em sua Casa de Vidro.

    Nos estudos para o Masp, Lina aventou fazer a escada principal de acesso por uma grande escada helicoidal de centro aberto, com as mesmas caractersticas da empregada por Reidy no MAM. O dimetro da escada helicoidal aventada por Lina naquela hiptese, o qual era

    11. Roberto Burle Marx (1909-94), artista plstico brasileiro, arquiteto-paisagista internacionalmente renomado. MOTTA, F. L. Roberto Burle Marx e a nova viso da paisagem. So Paulo: Nobel, 1994.

  • 24 25

    [15, 16 e 17] Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo. Foto: Nelson Kon, 2009.

    largamente acentuado para conforto dos usurios, ultrapassava a direo dos eixos estruturais, o que, evidentemente, inviabilizava a proposta, Lina partiu para outra soluo.

    Nas duas edificaes, as sadas de gua pluvial da cobertura mantm caractersticas similares, resolvidas por meio de grgulas que deixam a gua cair livremente elas arremessam, jorram, pois recolhem guas em grandes superfcies de contribuio para poucos pontos de sada, constituindo vertedouros para os espelhos dgua externos, fundamentais para a proposio do paisagismo em cada caso: mais urbano no Masp e mais buclico no MAM, com paisagismo de Burle Marx, como foi visto.

    O uso de materiais como concreto armado e protendido, grandes luzes, vos livres abertos ao uso pblico, cristais transparentes nas fachadas e ainda a simultaneidade destas propostas atributos que inter-relaciona e referencia essas obras, caracterizando a atmosfera cultural e empreendedora do Brasil naquela poca.

  • 26 27

    [18] Elevao, corte e perspectiva do MAM/RJ, 1954-67 (Ncleo de Pesquisa e Documentao FAU/UFRJ).

    [19] Affonso Eduardo Reidy em frente s obras do MAM/RJ, 1954-67.

    [20] Corte longitudinal do pavilho de exposies e do Bloco Escola do MAM/RJ.

    [21] Maquete do projeto do Masp, Lina Bo Bardi (1957-68): veem-se as fachadas fechadas apenas com o grande rasgo horizontal no nvel da administrao e a hiptese de uma escada helicoidal de centro aberto. Fotomontagem: Hans Gunter Flieg (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    [22] Bloco de exposies MAM/RJ, escada helicoidal. Foto: Aertsens Michel, c. 1961 (MAM/RJ).

    [23] Projeto com escada-flor feito por Lina Bo Bardi, 1957-68 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles/Hans Gunter Flieg).

    [24] Projeto com escada-flor, corte, feito por Lina Bo Bardi, 1957-68 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles/Hans Gunter Flieg).

  • 28 29

    [25, 26 e 27] Perspectiva, planta do pavimento superior e cortes do museu em So Vicente, projeto de Lina Bo Bardi no construdo, 1951 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi/Henrique Luz).

    [28] Maquete do museu para a cidade de So Vicente, beira do oceano. Fotomontagem: Hans Gunter Flieg, 1951 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    [29] Vista interna do museu beira do oceano. Fotomontagem: Hans Gunter Flieg, 1951 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

  • 31

    [30] Lina Bo Bardi em viagem de navio da Itlia para o Brasil (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    lina bo bardi

    Achillina Bo nasceu em Roma, em 5 de dezembro de 1914, e morreu na cidade de So Paulo, em 20 de maro de 1992.

    Sua trajetria universitria foi realizada na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma durante a dcada de 1930. Concludo o curso, ela se mudou para Milo, onde trabalhou para Gi Ponti, editor da revista Domus.

    Era colega de escola e amiga do escritor e arquiteto Bruno Zevi, com quem fundou a revista semanal A-cultura della vita.

    Casou-se com o periodista Pietro Maria Bardi em 1946 e, com ele, em viagem de npcias, seguiu para a Amrica do Sul, local que o Professor j conhecia, viagem na qual ele aproveitaria para vender obras de arte no Rio de Janeiro e em Buenos Aires. Lina ainda no conhecia o Brasil, pas que seria seu lar definitivo, e, em 1951, obteve a naturalizao como brasileira.

    Aqui, Lina encontrou um lugar potencial para suas ideias, pois existia a possibilidade de concretizar novas propostas de cultura e arquitetura, dado que era um pas de recente formao, ainda livre de amarras, diferente do ambiente europeu, fechado e devastado pela guerra.

    Instalou-se na cidade de So Paulo, projetando e construindo uma casa no bairro do Morumbi, a Casa de Vidro projeto de 1948, inaugurado em 1951 , obra que ganhou grande importncia por ser moderna, equipada com utenslios inovadores importados dos Estados Unidos, mobiliada com vrios objetos de design, repleta de obras e objetos de arte dos mais relevantes.

    [4]

  • 32 33

    [31 e 32] Casa de Vidro, projetada por Lina Bo Bardi primeira obra dela que foi construda no Brasil, So Paulo, 1948-51. Foto: Nelson Kon.

    [33] Lina na escada da Casa de Vidro. Foto: Francisco Albuquerque, 1951 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

  • 35

    [5]

    [34] Vista do MASP, 2007. Foto: Nelson Kon.

    o masp

    A ideia de se criar um museu novo no Brasil partiu de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, conhecido como Chateaubriand ou Chat para os prximos, que convidou o Professor Bardi para montar e dirigir o novo museu. Ele era um magnata das comunicaes, dono de uma grande cadeia de jornais e rdios e, posteriormente, de televiso, os Dirios Associados; com o intento de interligar o enorme territrio brasileiro, foi incentivador de aeroclubes, doando avies para aprendizado em aviao, e inaugurou mais de uma centena deles, ou seja, o mesmo propsito das comunicaes. Alm disso, foi quem props que o museu fosse sediado em So Paulo, onde estava a riqueza, onde seria possvel encontrar algum dinheiro para fazer o museu. Como narra o Professor:

    Chegando a So Paulo fomos para a rua Sete de Abril ver o grande edifcio, ainda em fase do concreto. Inspecionamos o primeiro andar (a sobreloja), uma rea com cerca de mil metros quadrados. Chateaubriand disse ao pessoal: Aqui ser inaugurado um museu. Este o professor Bardi, seu diretor. Era a primeira vez que eu recebia o ttulo de professor. [...] Lina projetou os espaos no segundo andar do edifcio denominado Guilhermo Guinle, cujo projeto era de autoria do arquiteto francs Jacques Pilon, autor tambm do vizinho prdio da Biblioteca Municipal (Biblioteca Municipal Mario de Andrade).12

    Houve o crescimento dos Dirios Associados, assim como do prprio Masp, cujo acervo e atividades tambm cresciam significativamente o museu comeara na sobreloja e depois ocupara dois andares a mais. Tentou-se, ainda que sem sucesso, uma unio com a Fundao Armando Alvares Penteado (FAAP), e o acervo, transferido experimentalmente para l, retornou para a rua Sete de Abril.

    Na avenida Paulista havia um terreno, onde existira o Trianon, local destinado a festas e bailes (tendo por cobertura uma laje que constitua um belvedere no nvel da avenida e com ampla vista para a avenida Nove de Julho e a rea do centro da cidade), que foi demolido

    12. BARDI, P. M. Histria do Masp, cit. p. 13. A biblioteca citada recebe o nome de Mario de Andrade, importante literato modernista, intelectual multidisciplinar que foi um dos lderes da Semana de Arte Moderna de 1922, em So Paulo. Um dos fundadores do Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, atual IPHAN.

  • 36 37

    [35 e 36] Plantas e implantao da proposta do arquiteto Affonso Eduardo Reidy para o Museu de Artes Visuais, So Paulo, 1952.

    1. entrada 2. chapelaria 3. escadas 4. rampas 5. elevadores 6. sanitrios 7. teatro 8. hall9. depsito e oficinas 10. exibies11. rasgo na laje 12.armazenamento de obras13. bar 14. biblioteca15. auditrio 16. dormitrio de seguranas 17. sala de mquinas

    cobertura 4 pavimento

    3 pavimento

    1 e 2 pavimentos

    trreo

    subsolo

    implantao

    0 10 20

    para ser erguido um pavilho para a primeira bienal (Bienal de Arte de So Paulo). O terreno era da Prefeitura de So Paulo, e seu doador, Joaquim Eugnio de Lima, impusera uma exigncia (testamentria, de que se a clausula no fosse cumprida o terreno retornaria aos herdeiros da famlia): qualquer construo ali realizada deveria manter a vista que se descortinava do centro da cidade. Ficamos sabendo que Cicillo13 pretendia construir ali a sede do MAM de So Paulo, encomendando um projeto ao arquiteto carioca Affonso Eduardo Reidy, sem considerar, porm, a necessidade de manuteno do belvedere, o que causou a recusa de sua proposta, que ocupava todo o espao.14

    Segundo Lina, Chateaubriand e o Professor estavam viajando e tinham pressa de propor um projeto para a rea falaram, ento, com Edmundo Monteiro, diretor administrativo do Masp na poca.

    Ela idealizou um projeto que mantinha a vista exigida para o centro da cidade, pousando o corpo principal sobre quatro colunas laterais, com um vo livre no trreo, como hoje se v o Masp. Edmundo resolveu falar com o prefeito Adhemar de Barros e chegaram a um acordo.15

    Ou seja, Lina tomou toda a iniciativa sozinha, mesmo sem a importante influncia do Professor no meio intelectual e de Chateaubriand no mbito poltico.

    Alm do estudo apresentado por Reydi, citado pelo Professor, outro estudo foi entregue por Lus Saia16, que mantinha o antigo edifcio do Trianon e elevava um volume sobre belvedere, para isso deixando uma srie de colunas; este tambm no foi aceito as colunas no foram aceitas , a fim de que se deixasse a vista livre para o vale da avenida Nove de Julho.

    Enquanto isso, a Prefeitura de So Paulo derrubou o antigo edifcio do Trianon, sob o belvedere, restando ento uma enorme vala onde, por falta de outra proposta, estava se desenvolvendo somente um projeto de banheiros pblicos. Foi a partir desses fatos que Lina tomou a "cruzada" para si, na verdade para um bem

    13. Cicillo Matarazzo, Francisco Antnio Paulo Matarazzo Sobrinho, industrial e grande empresrio, competia com Pietro Maria Bardi enquanto mecenas das artes. Fundou o Museu de Arte Moderna de So Paulo (MAM), cujo acervo, doado por ele mesmo para a Universidade de So Paulo, passou a ser do Museu de Arte Contempornea da Universidade de So Paulo (MAC/USP). Fundou tambm a Bienal de Arte de So Paulo, qual o Professor se refere no texto.14. Ibidem, p. 32.15. Ibidem, p. 31.16. Lus Saia, engenheiro arquiteto formado na Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, desde 1936 colaborador do Departamento de Cultura e do ento Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, no qual substitui Mario de Andrade desde seu falecimento em 1945, na Chefia do 4 Distrito, cargo que exerceu por quarenta anos.

  • 38 39

    [37] Elevaes e corte da proposta do arquiteto Affonso Eduardo Reidy para o Museu de Artes Visuais, So Paulo, 1952.

    [39] Redesenho da planta do arquiteto Lus Saia para o Pavilho Trianon, primeira Bienal de So Paulo, 1951 (Roberto Guedes).

    [40, 41 e 42] Perspectivas da proposta do arquiteto Lus Saia para o Pavilho Trianon, primeira Bienal de So Paulo, 1951 (Arquivo Histrico Wanda Svevo/Fundao Bienal de So Paulo).

    vista norte

    vista sudoeste seo transversal

    vista nordeste

    [38] Perspectiva da proposta do arquiteto Affonso Eduardo Reidy para o Museu de Artes Visuais, So Paulo, 1952 (Ncleo de Pesquisa e Documentao da FAU/UFRJ).

    0 10 20

  • 40 41

    [43] Estudos de Lina Bo Bardi para o MASP (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [44] Maquete do museu para a cidade de So Vicente, beira do oceano. Fotomontagem: Hans Gunter Flieg, 1951 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    nvel do belvedere.Entre a concepo e a inaugurao transcorreram-se mais de

    dez anos. A inaugurao, em novembro de 1968, foi feita pela rainha Elisabeth II, da Inglaterra. Chateaubriand no pde ver sua inveno inaugurada no novo prdio, pois havia falecido em abril daquele ano.

    No novo edifcio apresentou-se o acervo sobre o inusitado cavalete de vidro, forma de exposio totalmente nova para to rico acervo, ao qual nos referimos logo no incio deste trabalho, ainda que no seja o foco deste estudo.17 Alm disso, grandes mostras temporrias tambm se realizam ali vrias delas organizadas e executadas por Lina, e o Masp seguiu adiante, sempre sob o comando do Professor.

    Da mesma forma, segui o edifcio sofrendo apenas pequenas adaptaes insignificantes, em instalaes ou manutenes parciais e pontuais, at que, 21 anos depois de inaugurado, em 1989, houve a primeira grande interveno, com plena anuncia de Lina: refazer a impermeabilizao total da cobertura, inclusive das duas vigas protendidas, que so as que ficam expostas s intempries e poluio de So Paulo.

    Sobre a impermeabilizao das vigas, Lina ordenou a aplicao de tinta na cor vermelha, seguindo pelos pilares, dizendo que essa era a ideia original, mas que no tinha sido possvel, pois na poca da inaugurao o Brasil passava por um dos piores e agressivos perodos da ditadura militar que se instaurara no pas, e pintar de vermelho no teria sido permitido.

    A pintura acentua a aparncia de prtico da estrutura, que, como vimos, j assumia esse visual quando a arquiteta complementou as quinas das vigas; na realidade, a estrutura no um prtico.

    Com o afastamento do professor Pietro Maria Bardi da presidncia

    17. Sobre o assunto, ver: OLIVEIRA, O. F. Lina Bo Bardi: obra construda. Barcelona: Gustavo Gili, 2G n. 23-4, 2003, pp. 14-17.

    pblico, o Masp.Os estudos feitos por ela e o estudo que, ao final, acabou aprovado

    pela Prefeitura de So Paulo e pela famlia de Joaquim Eugnio de Lima, passaram por diversas etapas, comeando por croquis em que o Masp seria muito prximo do projeto j feito por ela para o museu de So Vicente, com prticos neste caso, prticos mesmo no sentido transversal ao corpo principal, ficando perpendiculares, de topo para a avenida Paulista, j configurado o conjunto principal totalmente suspenso, deixando o nvel da avenida totalmente livre.

    Com a participao do engenheiro Jos Carlos de Figueiredo Ferraz, o projeto foi modificado, os pilares foram reduzidos para quatro e colocados no sentido longitudinal do corpo principal, que levaria s vigas de grandes vos, solucionveis pelo sistema de protenso. As vigas ficaram no sentido paralelo avenida Paulista.

    Os desenhos de Lina, aps a participao de Figueiredo Ferraz, j apresentam a estrutura nessa direo, mas foram feitas vrias verses, como a que apresenta a caixa suspensa quase totalmente fechada, com um grande rasgo de abertura horizontal no nvel da administrao e com a pinacoteca iluminada por sheds.

    O mesmo aconteceu para a ocupao dos nveis abaixo da avenida Paulista, com vrias verses. Uma delas aproveitava a declividade do terreno a inclinao do auditrio de plateia at palco estariam assentadas nesse declive e propunha uma marquise no

  • 42 43

    [45] Perspectiva de uma das propostas aventadas por Lina para o Masp, 1958 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [46] Estudo de Lina Bo Bardi para o Masp, 1958 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [47] MASP visto do Parque Trianon. Foto: Hans Gunter Flieg, 1969 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    do Masp, em 1991 ele morreu em 1999 , a administrao do Masp passou por vrias diretorias e presidncias, sem o mesmo esprito e direcionamento que havia lhe dado o casal singular de intelectuais.

    Entre 1996 e 2001, a administrao empreendeu diversas reformas, construindo um subsolo, abaixo do nvel -9,50 e instalando um segundo elevador, prximo ao existente. Isso j interferiu de maneira significativa no conjunto e eram necessidades funcionais para a continuidade do Masp.

    Diferentemente, a mudana do piso original e as subdivises do nvel -4,50 em espaos menores foram desnecessrias, alm de pssima escolha nas especificaes. Pior ainda, a pinacoteca foi fragmentada, dividida com paredes e painis altos, que obstruem a viso do conjunto do grande salo do nvel +14,40, indo contra as intenes de Lina e seus abandonados cavaletes de vidro.

    Com o novo elevador e a proibio de uso da escada da Esplanada, foi criada tambm uma bilheteria externa, que resulta num volume totalmente esprio, que atrapalha a percepo da vista, caracterstica pela qual tanto prezava Joaquim Eugnio de Lima. A proibio do uso da escada tambm tira a percepo do grande sofito, resultante da laje do nvel +8,40 que cobre a Esplanada, imagem fundamental para perfeita compreenso do projeto de Lina, principalmente vista a partir do patamar no L da escada.

    Tudo isso foi feito apesar de o edifcio j ser tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimnio Histrico, Arqueolgico, Artstico e Turstico do Estado de So Paulo.

    Desde 2003, o Masp passou a ser protegido tambm pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Iphan), rgo federal.

  • 44 45

    FICHA TCNICA

    PROJETO: Arquiteta Lina Bo BardiPROJETO ESTRUTURAL: Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projeto SA; engenheiros Jos Carlos de Figueiredo Ferraz e Jos Loureno Braga de Almeida CastanhoPROMOTOR: Assis Chateaubriand, Pietro Maria Bardi e Prefeitura Municipal de So PauloLOCALIZAO: Av. Paulista, 1578 Bela Vista, So Paulo SP, Brasil ,Cep: 01310-200; t: +55 11 3251-5644 Proprietrio: Museu de Arte de So Paulo (comodato com a Prefeitura Municipal de So Paulo)REA DO TERRENO: 5392,3 m2

    DATA DA INAUGURAO: novembro de 1968TIPO DE EDIFICAO: Museu de arte

    PROGRAMA

    NVEL 0,00: avenida Paulista Esplanada Lina Bo BardiSUPERFCIE: 4.995,34 m2

    COBERTO: 2.100 m2

    NVEL -9,00: Hall Cvico, Biblioteca, Restaurante = 2.183,45 m2

    NVEL -4,50: Mezanino, Auditrios, reas comuns = 1.788,55 m2

    NVEL +8,40: Exposies, Administrao = 2.100 m2

    NVEL +14,40: Pinacoteca = 2.100 m2

    TOTAL CONSTRUDO (com o trecho coberto da esplanada): 10.272 m2

    LOCALIZAO

    O Masp fica na avenida Paulista, nmero 1578, entre rua Professor Otvio Mendes e rua Plnio Figueiredo, com fundos na rua Carlos Comenale, do lado oposto avenida. Em frente encontra-se o Parque Tenente Siqueira Campos antes, Parque Trianon, rea de proteo ecolgica por contar com espcies da Mata Atlntica. Sob a avenida Paulista e sob as sapatas do lado direito do Masp, de quem olha a partir da avenida , encontram-se os tneis passagem subterrnea Daher Elias Cutait, antes tnel Nove de Julho , construdos em 1938 e que do prosseguimento da avenida Nove de Julho, desde o centro da cidade em direo aos bairros.

    O LUGAR

    A avenida hoje se caracteriza pelo predomnio de altos edifcios pblicos, comerciais ou de escritrios, os quais a grande escala

    fazem que seja a protagonista do entorno. O Conjunto Nacional, construdo em 1955, projeto de David

    Libeskind, foi o primeiro a mudar a paisagem urbana dessa parte da cidade, com o trreo comercial e dois andares de sobrelojas, terrao-jardim, pilotis da torre e torre propriamente dita, com 25 pavimentos.18

    Do mesmo perodo, o edifcio Naes Unidas, fundado em 1953, projeto de Abelardo de Souza, na esquina da avenida Paulista com avenida Brigadeiro Lus Antnio, que leva o programa de usos mistos com acesso s residncias na torre por galeria comercial sucesso dos empreendimentos no centro de So Paulo para a rea da Paulista.19

    O percurso pela avenida interessante, com outros edifcios de destaque, que convidam o olhar a perceber as claras solues arquitetnicas empregadas: o Banco Sul Americano do Brasil, de Rino Levi (1960-63);20 o edifcio da Federao da Indstrias (Fiesp; 1996), do escritrio Rino Levi Arquitetos Associados Rino Levi faleceu em 1965 com trreo e subsolo modificados e, sem dvida, melhorados por Paulo Mendes da Rocha, em 1996;21 e o edifcio Quinta Avenida, de Pedro Paulo de Melo Saraiva e Miguel Juliano

    18. CORONA, E., LEMOS, C. e XAVIER, A. Arquitetura moderna paulistana. So Paulo: Pini, 1983. p. 37.19. Ibidem, p.35.20. ANELLI, R., GUERRA, A. e KON, N. Rino Levi arquitetura e cidade. So Paulo: Romano Guerra, 2001. pp. 168-75.21. ARTIGAS, R. Paulo Mendes da Rocha. So Paulo: Cosac Naify, s/d. pp. 100-7.

    [48] Vista area do MASP. Foto: Nelson Kon, 2007.

  • 46 47

    [49] Conjunto Nacional, do arquiteto David Libeskind, 1954-59. Foto: Kimi Tumkus, 2013.

    [50] Edifcio Naes Unidas, do arquiteto Abelardo de Souza, 1953. Foto: Kimi Tumkus, 2013.

    [51] Sede da Fiesp, do arquiteto Rino Levi, 1969-79. Foto: Nelson Kon.

    [52] Banco Sul-Americano, dos arquitetos Rino Levi, Roberto Burle Marx e Roberto Burle Marx, 1960-63. Foto: Nelson Kon.

    [53] Edifcio Quinta Avenida, do arquiteto Pedro Paulo de Mello Saraiva, 1959 (acervo particular).

    e Silva (1959).22 Nesse grupo de edificaes importantes aparece o Masp, como

    uma surpresa, que de imediato chama ateno: das imediaes avista-se o edifcio mais baixo que os outros, horizontalizado por seu perfil longilneo. Prximo, o que salta aos olhos o vazio que contrasta com a barreira dos usos e das ocupaes trreas dos edifcios verticais, ao longo da avenida. Da a vista se alarga e o horizonte se abre, o que permite ver o panorama para o outro lado da cidade. O espao fica livre, criando uma grande esplanada coberta parcialmente, como uma brecha, um buraco escavado na quase monoltica barreira de prdios.

    Do lado oposto ao centro histrico da cidade, na direo dos bairros, esto o Parque Tenente Siqueira Campos e sua bela mata, o que aumenta a liberdade visual do entorno contra o paredo de blocos verticais que se alinham pela avenida Paulista, criando um respiro, um ponto estratgico de espao aberto.

    O antigo lugar de eventos Trianon tinha o belvedere em sua laje de cobertura; o Masp manteve o belvedere em seu interior bipartido, como uma nota musical dissonante.

    STIO, TOPOGRAFIA E INSOLAO

    O territrio brasileiro no corre risco de abalos ssmicos significativos, dado que a maioria de sua extenso est assentada sobre um planalto e que, se existir alguma elevao, ela no passa os 3 mil metros de altitude. Na cidade de So Paulo, o espigo da avenida Paulista est a 860 metros de altitude, o que facilita muito para que os engenheiros enfrentem desafios estruturais para grandes vos, enquanto nas reas com perigo de terremotos a engenharia desenvolve cada vez mais tecnologia para a manuteno do equilbrio esttico das construes concebidas como elemento dinmico.

    A localizao geogrfica do Masp : 2332 56 S; 463819O.Sua topografia irregular, apresenta um desnvel descendente

    de treze metros entre a avenida Paulista e a rua Carlos Comenale e fica num quarteiro isolado pelo conjunto de ruas perimetrais, uma ilha entre-ruas.

    Nesse terreno existiu um edifcio ecltico, no qual eram feitas reunies, grandes festas da cidade e exposies itinerantes, o Trianon, que foi demolido pela Prefeitura naquela poca.

    O terreno foi doado Prefeitura de So Paulo com a condio de no se ocupar o belvedere desde a avenida Paulista em direo avenida Nove de Julho, no sentido do centro da cidade. Tal condio determinou a implantao do edifcio bipartido abaixo e bem acima

    22. CORONA, E., LEMOS, C. e XAVIER,A. Arquitetura moderna paulistana, cit. p. 50.

  • 48 49

    do nvel da avenida. A construo fica em diagonal em relao direo norte/sul,

    e as faces longitudinais so voltadas sentido nordeste e sudoeste a avenida Paulista tem direo noroeste/sudeste. A insolao, portanto, para esta latitude, no tem grande incidncia nas fachadas maiores, as longitudinais, permitindo que as atividades internas do edifcio sejam desenvolvidas sem tantas interferncias brise-soleil, por exemplo; na proposta original eram utilizadas somente persianas no interior das fachadas-cortinas de vidro curtain-wall.

    At mesmo o grande salo da pinacoteca era iluminado com luz natural, proveniente das fachadas cortinas de vidro, durante todo o dia. Os especialistas hoje condenam exposies feitas com iluminao natural, pois a incidncia da radiao ultravioleta extremamente prejudicial s obras. Muitos museus em todo o mundo vedaram as entradas de luz natural em funo da proteo das obras expostas. No Masp, com sua orientao solar e a grande largura do salo da pinacoteca, perfeitamente cabvel imaginar exposies montadas com recuo suficiente para sair da radiao uv diretas sobre as obras. Isso faz parte da discusso sobre o abandono do modo de expor inovador criado por Lina e, como j foi visto, tema para ser abordado em outra oportunidade.

    noite, a iluminao artificial feita com lmpadas de sdio de grande potncia, colocadas lateralmente, ao longo das fachadas longitudinais mesmo caminho pelo qual seguem os grandes dutos do ar-condicionado , tem os fachos dirigidos por projetores para o teto, retornando com carga dramtica para o ambiente. A laje de cobertura em forma de telhado conforme explicado adiante pintada de branco, de modo a aumentar a capacidade de reflexo da superfcie.

    Nos demais andares, a iluminao artificial, alm da natural, proveniente das cortinas de vidro das fachadas, direta, feita por trilhos e voltada para o plano de trabalho e/ou para as exposies neste caso pode variar conforme a exposio a ser montada.

    Desde o projeto original, o grande salo da Pinacoteca estava equipado com ar-condicionado. Em todos os demais ambientes foi usado um sistema de ventilao mecnica insuflamento e exausto , inclusive nos auditrios e nos outros espaos de exposio. Muitas modificaes foram feitas, climatizando reas no contempladas por esse sistema no projeto de Lina.

    ACESSOS

    O principal acesso ao Masp se d pela avenida Paulista, que leva Esplanada Lina Bo Bardi o belvedere , aqui referida como Nvel 0,00 e de onde possvel subir ou descer, no vazio da concepo

    [54] Vista a partir do belvedere do MASP. Carto-postal editado pelas livrarias Edanee (Colombo & Francesconi).

    [Fig. 55] O pergolado ecltico sobre o belvedere do Trianon. Foto: autor desconhecido, 1949 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi/Wladmir Saquela).

  • 50 51

    [56] No primeiro plano, os tneis que unem a Avenida Nove de Julho, passando sob a avenida Paulista; acima, o Trianon. No subsolo, os espaos de eventos e festas.Depoisda avenida Paulista, a mata do Parque Siqueira Campos. Para os lados, as manses da burguesia paulistana. Postal Colombo, c. 1940 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [57] Vista do primeiro plano com os tneis. No local do Trianon j aparece o MASP em obras, 1968 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    bipartida do conjunto. Desde a Esplanada, na altura da avenida, os acessos se do hoje

    principalmente pelos elevadores; a escada em L, com seu patamar palco/palanque, est interditada para uso pblico, infelizmente. Uma segunda escada, fora do prumo da escada em L, desce para os ambientes abaixo do nvel da Esplanada.

    Uma segunda entrada, no menos importante, d acesso direto ao Hall Cvico, no Nvel -9,00, pela pequena praa da rua Carlos Comenale, encontro das vias Plnio Figueiredo e Professor Otvio Mendes. Essa entrada muito pouco usada infelizmente, pois ela permite novos ngulos de visualizao e de conhecimento do prdio.

    Numa topografia muito irregular e em descendente, com um programa e um acervo de alta complexidade tcnica, para uso pblico na metrpole, o Masp uma disposio clara e definida de espaos e funes, a partir da configurao bipartida tendo no meio um vazio.

    A primeira parte: dois andares do edifcio ficam abaixo do nvel da avenida Paulista, colocando os auditrios e o Hall Cvico, com aberturas voltadas para a vista da avenida Nove de Julho, sentido centro.

    A segunda parte: suspende as demais funes, inclusive a Pinacoteca e seu maravilhoso acervo , bem acima do nvel da avenida Paulista, com apenas quatro pilares gigantes no trreo e quatro grandes vigas de concreto protendido.

    Dessa maneira, cria-se um espao de transio vazio, um trreo livre, que comunica os dois lados da cidade, obedecendo a condicionante de doao do terreno.

  • 1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B02 02

    01

    01

    07

    07

    08

    03

    04 05 06 0707

    07

    08

    08

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    B

    a b c

    06

    05

    04

    02 0201

    03

    05

    d e f g h

    B

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    04

    04

    02 03

    05

    06 01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    05

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    02

    01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    P=28%

    01

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    N= -9.50

    54 55

    [58 / pgina anterior] X das escadas-rampas, com guarda-corpos vermelhos. Exposio Coleo Pirelli, projetada por Andr Vainer. Foto: Nelson Kon.

    [59] Extremo da escada-rampa em balano, sem tocar na laje do mezanino, 2014. Foto: Marina Rago

    [60] Planta e perspectiva isomtrica do nvel -9,50 do MASP.

    1. Hall Cvico2. Biblioteca3. Restaurante 4. reas de servios5. Cozinha6. Sanitrios

    PROGRAMA

    NVEL -9,50

    O imponente salo de aparncia quadrada com 22 m 24 m e de p-direito duplo -, chamado Hall Cvico, possui uma entrada independente pela pequena praa da rua Carlos Comenale, como j informado, muito pouco usada. A partir dessa entrada se v, bem frente, o impressionante X das escadas/rampas em balano no se apoiam nos mezaninos do nvel acima, para os quais se direcionam , com os guarda-corpos vermelhos.

    Como espao expositivo, o Hall Cvico tem a vantagem de, alm do p-direito duplo, contar com o mezanino que percorre todo o permetro do quadrado forma aproximada , permitindo que qualquer exposio seja vista de cima, a partir do nvel -4,50 e/ou que a mostra contenha objetos de grande altura.

    A partir da entrada da pequena praa, esquerda, encontra-se a biblioteca, com a maior parte do acervo constituda por livros e documentos doados pelo casal de intelectuais Lina e Pietro. direita, o restaurante, e ao fundo, reas de apoio e servios para as demais funes.

    N0 3 6 12

  • 1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B02 02

    01

    01

    07

    07

    08

    03

    04 05 06 0707

    07

    08

    08

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    B

    a b c

    06

    05

    04

    02 0201

    03

    05

    d e f g h

    B

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    04

    04

    02 03

    05

    06 01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    05

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    02

    01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    P=28%

    01

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    N= -9.50

    58 59

    [61 / pgina anterior] Vista interna do Grande Auditrio, ainda sem poltronas. Foto: Hans Gunter Flieg, 1969 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    [62] Planta e perspectiva isomtrica do nvel -4,50 do MASP.

    1. Hall dos auditrios vestbulo2. Sales de exposies, no projeto original3. Pequeno Auditrio: 60 lugares4. Grande Auditrio: 500 lugares5. Palco6. Bastidores7. Manuteno8. Sanitrios

    NVEL -4,50

    Desde o projeto original um andar basicamente de auditrios e mezaninos os mezaninos so importantes espaos expositivos, alm de serem pontos de vista estratgicos para exposies no Hall Cvico. Nas reformas ocorridas entre 1996 e 2001, parte dos mezaninos foi dividida em espaos mais estanques, com divisrias de vidro, para definir uma livraria/loja de souvenires e outros ambientes para eventos menores.

    O Grande Auditrio tem capacidade para quinhentos lugares, com plateia de 18,5 m 20 m e um palco de 18,5 m 8,5 m, com rea total de 527,25 m2. Conta ainda com os bastidores, camarins e banheiros prprios. O auditrio menor, com capacidade para sessenta lugares, tem a plateia na diagonal do espao de 9,6 m 10 m, com rea de 96 m2.

    A entrada dos auditrios se d por meio de um hall foyer que os une diretamente; do foyer segue-se pelos mezaninos do nvel -4,50 at as escadas-rampa em X, para o Hall Cvico, ou retorna-se pela escada ao nvel da Esplanada h tambm elevadores.

    Os auditrios contam com sistemas de ventilao mecnica insuflamento e exausto , utilizando, como planos de circulao de ar, um desvo entre as paredes dos auditrios e os arrimos como um caixo perdido, porm com aberturas para a circulao do ar. Os arrimos so as paredes de conteno dos nveis -9,50 e -4,50 em relao ao nvel 0,00, da avenida Paulista. Esse assunto retomado nos comentrios sobre a concepo estrutural do Masp.

    No Grande Auditrio, um corredor de servios paralelo a seu sentido longitudinal o pleno de circulao de ar, simtrico ao j descrito, situao muito parecida com os dois corredores/plenos do auditrio da FAU, de Vilanova Artigas. So construes bem complexas, preciso conhecer bem os projetos para compreend-las.

    As escadas/rampas em balano, em X, com quatorze metros de vo na direo do balano, com seus guarda-corpos vermelhos, so a integrao do nvel dos mezaninos, -4,50, com o Hall Cvico, nvel -9,50.

    Do nvel dos mezaninos, partindo do foyer entre os auditrios, a interligao com a Esplanada Lina Bo Bardi, nvel 0,00, feita por uma escada direta, fora do prumo da escada em L, que segue da acima alm da interligao feita pelos elevadores.

    N0 3 6 12

  • 1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B02 02

    01

    01

    07

    07

    08

    03

    04 05 06 0707

    07

    08

    08

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    B

    a b c

    06

    05

    04

    02 0201

    03

    05

    d e f g h

    B

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    04

    04

    02 03

    05

    06 01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    05

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    02

    01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    P=28%

    01

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    N= -9.50

    62 63

    NVEL 0,00 ESPLANADA

    O espao j foi referido aqui como uma surpresa para quem se aproxima caminhando pela avenida Paulista, pois cria o respiro livre contra a barreira quase monoltica das construes altas dos demais quarteires. uma gora ou foro , permanentemente aberta ao pblico, convida as pessoas a observar a cidade de um ponto de vista incrvel, dialoga com a cidade mais por contraste do que por integrao. Shows ao ar livre, namoros, atos cvicos e protestos, ponto de encontro, referncia simblica, tudo acontece ali.

    Em 13 de agosto de 1992, o belvedere passou a ser chamado Esplanada Lina Bo Bardi, em homenagem a sua criadora, mas popularmente onde se marcam encontros , conhecido como o vo livre do Masp. o principal acesso para os outros quatro nveis do prdio para cima ou para baixo que tem rea de 4.995,34 m2, dos quais 2.100 m2 so cobertos; h uma grande altura o teto fica a 7,9 m.

    Com piso de paraleleppedos de granito, em cujas juntas nascem ervas capim , apesar de ladeada por dois grandes espelhos de gua, trata-se de uma praa seca, com uma forte aparncia de antiga e, embora extremamente utilizada, lembra romanticamente o abandono, com algo das praas medievais da Europa ocidental.

    Talvez pela dificuldade de descrever a Esplanada em todo seu sentido sinestsico e em sua mltipla e complexa relao urbana, ela seja um espao inefvel - expresso cunhada por Le Corbusier acerca de sua Capela de Notre-Dame-du-Haut, que causa uma comoo indizvel, contemplativa.23

    No caso da Esplanada Lina Bo Bardi, o silncio tem que ser interno, pessoal, pois ali est contemplado com o enorme rudo e o burburinho no s sonoros produzidos pela metrpole.

    23. LE CORBUSIER. La proportion est une chose ineffable. In: MUSI, P., PETIT, J. e BOLLEREDDAT, R. Ronchamp Le Corbusier. Lugano: Association Oeuvre Notre-Dame Du Haut a Ronchamp, 1997. P. 30.

    [63 / pgina anterior] Show de Daniela Mercury na esplanada Lina Bo Bardi. Foto: Agncia Estado/Itamar Miranda, 1992 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [64] Planta e perspectiva isomtrica do nvel 0,00 do MASP.

    1. Esplanada Lina Bo Bardi anterior belvedere do Trianon2. Espelhos dgua3. Escadas4. Elevador5. Jardineiras

    N0 3 6 12

  • 64 65

    [65] Exposio de Nelson Leirner, belvedere do Masp. Foto: Hans Gunter Flieg, 1970 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    [66] Protesto dos caras pintadas contra o ex-presidente Fernando Collor de Mello. Foto: Ormindo Alves/Folha de S.Paulo, 1992 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

  • 1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B02 02

    01

    01

    07

    07

    08

    03

    04 05 06 0707

    07

    08

    08

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    B

    a b c

    06

    05

    04

    02 0201

    03

    05

    d e f g h

    B

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    04

    04

    02 03

    05

    06 01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    05

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    02

    01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    P=28%

    01

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    N= -9.50

    68 69

    [68] Planta e perspectiva isomtrica do nvel +8,40 do MASP.

    1. Vestbulo - hall de distribuio2. Sala de Exposies Temporrias3. Colees / acervo tcnico4. Administrao5. Sanitrios6. Escadas

    NVEL +8,40

    A escada que provm da Esplanada adentra um formidvel hall externo, um lugar com atmosfera de ambiente ao ar livre. o nico espao de onde possvel ver de perto o enorme console que sustenta as vigas principais. De l se passa para o hall propriamente dito, interno, no qual esto os elevadores.

    Do hall interno h uma tripartio; nos extremos, direita e esquerda, dois corredores do acesso s fileiras dos ambientes administrativos. No centro, fica a sala de exposies temporrias, com rea de 645 m2, e, ao final dela, no extremo oposto ao hall, a reserva tcnica do acervo das colees de arte.

    As circulaes direita e esquerda do hall de acesso s reas administrativas ficam sob a dupla de vigas principais. Ao longo desses corredores se passa ao lado das barras tirantes, organizadas em quartetos de barras, que sustentam o pavimento +8,40, ou seja, andamos ao lado daquilo que pendura o cho em que pisamos. emocionante. Mas uma rea restrita, s se pode fazer visitao mediante autorizao da administrao do Masp.

    Fora dos corredores, que esto sob as enormes vigas, o p direito volta a ficar livre de laje a laje s interrompido pelas vigas transversais, de que trataremos adiante , com 5,8 metros de altura, tanto nos extremos, junto s fachadas longitudinais, que so os ambientes administrativos, quanto no centro, entre as vigas principais, onde esto a exposio temporria e a reserva tcnica.

    No h coincidncia fortuita, a clara disposio estrutural e as circulaes laterais dos acessos s reas administrativas caminham juntas na projeo das vigas principais, e entre elas, os sales de exposio temporria e acervo: sem concesses, sem excees!

    [67 / pgina anterior] Primeiro pavimento do MASP, sala de exposies temporrias e administrao. Foto: Nelson Kon, 2007.

    N0 3 6 12

  • 70 71

    [70] Exposio Arte Africana, no salo de exposies temporrias, nvel +8,40, 1974 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [69] Um dos dois corredores de acesso s reas administrativas. Esses corredores esto sobas vigas principais. De ambos os lados se veem os quartetos de barras/tirantes que sustentam o piso em que se est andando, o que emocionante. esquerda, a parede

    que separa a salade exposies temporrias; direita, o fechamento em vidro dos diversos ambientes administrativos, todos com p-direito duplo somatria da altura do corredor altura da prpria viga. Foto: Nelson Kon, 2007.

  • 1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B02 02

    01

    01

    07

    07

    08

    03

    04 05 06 0707

    07

    08

    08

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    B

    a b c

    06

    05

    04

    02 0201

    03

    05

    d e f g h

    B

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    04

    04

    02 03

    05

    06 01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    05

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    02

    01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    P=28%

    01

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    N= -9.50

    74 75

    [72] Planta e perspectiva isomtrica do nvel +14,40 do Masp.

    1. Vestbulo2. Pinacoteca

    NVEL +14,40 - PINACOTECA

    um grande salo nico, com todas as arestas a prumo das fachadas cortinas de vidro, atravs das quais se via todo o panorama da cidade e de vrios pontos de vista da cidade era possvel observar seu interior, com exceo das quatro faces dos pilares e interrupes causadas pelos elevadores e pelo pequeno hall da escada que provm do nvel +8,40.

    Ocupa toda a projeo do conjunto elevado do Masp, com tudo aberto, at o permetro cortina de vidro, com rea de 2.100 m2.

    A Pinacoteca o espao para o qual Lina deixou sua proposta inusitada de exibio, com as obras suspensas em cavaletes de vidro, proporcionando ao visitante o ensejo de que sua presena dialogaria e daria vida s obras. Os cavaletes foram pensados especificamente para o Masp; o projeto nasceu junto com a concepo do museu, quebrando a ideia de expor obras detendo aquele instante, como se os museus fossem congeladores das coisas no tempo, emparedados e emparedantes.

    J vimos que essa ideia foi abandonada ao menos por enquanto pelas vigentes administraes, mas a teoria dos cavaletes de vidro to forte que h de sobreviver e voltar a ser utilizada, pelo menos de tempos em tempos.

    [71 / pgina anterior] Pinacoteca, exposies permanentes, nvel +14,14. Foto: Paolo Gasparini, 1970 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    N0 3 6 12

  • 1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B02 02

    01

    01

    07

    07

    08

    03

    04 05 06 0707

    07

    08

    08

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    B

    a b c

    06

    05

    04

    02 0201

    03

    05

    d e f g h

    B

    1

    1

    2

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    04

    04

    02 03

    05

    06 01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    05

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    02

    01

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    P=28%

    01

    1

    1

    2

    3

    1

    1

    2

    2

    3

    A

    A B

    a b c d e f g h

    B

    N= -9.50

    78 79

    [73 / pgina anterior] Vista do Masp. Foto: Marina Rago, 2014.

    [74] Modelo eletrnico do Masp.

    [75] Planta e perspectiva isomtrica dos nveis +22,00 e +24,75 do Masp

    1. Cobertura

    NVEL +22,00 E +24,75 COBERTURA

    O nvel +22,00 corresponde ao topo das vigas de bordo que arrematam todo o permetro da parte elevada do conjunto, e o +24,75 o nvel da superfcie das vigas da cobertura - ambos so estipulados a partir do 0,00, nvel da Esplanada.

    A descrio pormenorizada desses elementos, do ponto de vista estrutural ser feita mais adiante. Adiantamos aqui sobre as vigas de bordo guardam em sua espessura uma srie de vigas transversais invertidas em relao s grandes vigas da cobertura. Entre as transversais, as lajes esto dispostas como telhados de duas guas.

    Do ponto de vista interior, da Pinacoteca, esse telhado funciona como um dramtico rebatedor de luz indireta, do qual tambm se voltar a descrever mais adiante.

    N0 3 6 12

  • 82 83

    [76 / pgina anterior] Detalhe do cimbramento utilizado na construo do Masp; Lina na obra do Masp. Foto: DSP, 1964 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [77 / pgina anterior] Lina e mestre Canova: pretenso das vigas superiores. 1964-65 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [78] Masp em construo. Dupla de pilares e vigas da cobertura. Foi feito um enchimento para transformar em ngulo reto as arestas entre pilares e vigas. Foto: Luiz Hossaka, 1968 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [79] Masp em construo. Foto: Hans Gunter Flieg, 1968 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi; acervo Instituto Moreira Salles).

    [80] Vista posterior do Masp. Foto: Luiz Hossaka, 1970 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

  • 85

    [81] Detalhe de estudo para o Masp (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    estrutura e sistema construtivo

    A forma do Masp princpio e resultado, causa e consequncia de sua estrutura. Como toda estrutura bem organizada, se permite reconhecer imediatamente, tem carter universal e atemporal e gera empatia quase instantnea do pblico em geral, mesmo de leigos.

    A construo do Masp, grande desafio estrutural para a poca, expressa o radicalismo dessa nova orientao, feita com vigas de concreto protendido e armado aparentes, com a marca das tbuas de formas carimbadas definitivamente em sua superfcie de pedra.

    A estrutura do edifcio foi projetada pelo engenheiro Jos Carlos de Figueiredo Ferraz, professor da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo e que lecionava tambm na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade; o responsvel pelo clculo e pelo desenvolvimento do projeto foi o engenheiro Jos Loureno Braga de Almeida Castanho.

    Lina fazia superviso arquitetnica diretamente nas obras e contava com a colaborao do engenheiro Roberto Rochlitz, contratado pelo Museu de Arte de So Paulo, e do engenheiro Aloysio dAndrea Pinto, da construtora da obra; ambos contriburam intensamente para executar o pretendido pela arquiteta.

    O Masp teve durante muito tempo o maior vo livre da Amrica Latina, fato que era considerado pouco importante para a arquiteta, que valorizava mesmo o sistema estrutural, desenvolvido com base em um sistema de protenso alternativo ao sistema de Freyssinet. A diferena est no modo de realizar a ancoragem e transmitir tenso nos cabos de protenso, sistema Ferraz, dado que foi patenteado por seu criador, o engenheiro Jos Carlos de Figueiredo Ferraz.

    SAPATAS

    As grandes sapatas em forma de p de pato, enterradas no piso, foram construdas com concreto armado e tela dupla de ao estrutural, em dimenso de 10 m 12,5 m e altura varivel at quatro metros. As sapatas direita de quem olha o Masp a partir da avenida Paulista esto sobre o conjunto dos tneis Nove de Julho apenas quatro metros acima do topo das abbodas dos tneis , fato que precisou ser considerado no clculo das cargas a se distribuir no solo pelas sapatas.

    [6]

  • -9,50 Hall Cvico

    -4,50 Auditrios

    -4,50 Paulista

    8,40 Administrao

    8,40 Pinacoteca

    05 04 08

    09

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    0102

    03

    07

    06

    86 87

    A

    B

    1

    2

    3 46

    5

    A

    B

    +10,94

    2.50

    4.00

    4.00

    74,00

    Planta Nvel +10,94 (console)

    [82] Viga protendida e detalhes/cortes

    1. Vazios no interior das vigas principais2. Septos de travamento das vigas principais3. Tirantes (barras de ao) que penduram a laje do nvel +8,404. Laje de cobertura em forma de 2 guas5. Vigas transversais (entre vigas da cobertura e em direo aos balanos)6. Vigas transversais (entre vigas principais e em direo aos balanos)7. Vazios no interior das vigas (as vigas so tubos de ao)

    Elevao do console Corte BB

    11 12 1310

    9

    14

    7 8

    15

    16

    17

    [83] Planta, elevao e corte do aparelho mvel de apoio

    1. Trecho acrescido no pilar2. Aparelho mvel3. Trecho acrescido no pilar4. Pilares do sentido do bairro Paraso5. Aparelho mvel6. Vigas principais7. Posio inicial da viga principal8. Posio final da viga, aps o encurtamento da viga em 5cm aps protenso9. Chumbador

    Corte AA 0

    00

    5

    51

    10

    102

    20

    204

    8. Septos de travamento das vigas9. Trecho concretado em 2 etapa na viga superior10. Apoio isosttico (junta de neoprene)11. Pndulo interno ao pilar (somente no lado da direo Paraso)12. Trecho concretado em 2 etapa na viga principal13. Apoio isosttico (junta de neoprene) + aparelho de apoio mvel para o processo de proteno14. Grandes consoles dos pilares15. Acrscimo protendido dos pilares para corrigir erro ocorrido durante as obras

    10. Chapa11. Cmara de leo (bolsa de leo) de neoprene, 5mm de expessura12. Guarnio de neoprene, 1cm de expessura13. Neoprene do apoio isosttico no console14. Console sustentao da viga principal15. Tampo do tubo16. Tubo Mannesmann para a injeo e remoo do leo17. Neoprene do apoio isosttico no console

  • 88 89

    [84] Detalhe do console do pilar e do aparelho de apoio mvel. Foto: Marina Rago, 2014.

    [85] Detalhe do aparelho de apoio mvel visto atravs do elevador. Foto: Marina Rago, 2014.

    COLUNAS

    As colunas partem imediatamente acima das sapatas; esto construdas com concreto armado de tela dupla de ao, e a dimenso de 4 m 2,5 m.

    Acima do nvel +14,40, os pilares do lado direito de quem olha o Masp a partir da avenida Paulista passam a ser ocos, pois so tubos de base retangular (4 m 2,5 m) vazios no interior. Nesses vazios dessa dupla de pilares esto pndulos de concreto armado, com articulao Freyssinet nas extremidades superior e inferior, e que permitem os inevitveis movimentos horizontais das vigas da cobertura mudanas de temperatura, dilatao e retrao etc.

    Devido s vrias interrupes e demora no processo de construo do Masp, ocorreu um "erro" sabotagem? quando cortaram o ao de espera no nvel 0,00, deixando sem os arranques para traspassar as novas barras da ao, dar continuidade na armadura e seguir a concretagem das colunas acima desse nvel. Isso implicou um reforo que modificou as dimenses dos pilares, acrescendo at a dimenso maior, tal como se encontra hoje, protendendo o pilar, ancorando os cabos em um anel construdo em suas bases.

    VIGAS PROTENDIDAS

    O principal desafio estrutural realizado na parte elevada do edifcio so as quatro vigas protendidas um par sustenta a cobertura e o outro par, que atravessa o interior do edifcio (a protenso feita por s um dos extremos de cada viga), sustenta dois pisos simultaneamente, um piso como apoio normal e o outro piso suspenso por tirantes formados barras de ao. As vigas so tubos ocos de seo retangular, com septos vazados no centro (travamentos internos) a cada 3,5 metros.

    A rea, tanto para a cobertura quanto para os dois pisos, de 2.100 m2 cada, com um vo entre vigas de quinze metros e cinco metros de balano em direo s laterais. largura da parte elevada do edifcio soma-se ainda a espessura de 2,5 metros de cada viga, totalizando trinta metros. Nesse sentido transversal s vigas protendidas, tanto no vo entre elas como nos balanos, as lajes so apoiadas em vigas em concreto armado espaadas a cada 3,5 metros, coincidindo com a posio dos septos internos s vigas protendidas.

    As vigas da cobertura, em um dos lados, so simplesmente apoiadas, com vo livre de 74 metros. Elas tm liberdade de movimento horizontal do lado em que os pilares so ocos, e os esperados movimentos so liberados por um pndulo de quatro metros de altura. Os momentos fletores mximos no centro dos vos

  • 90 91

    [86] Sistema Ferraz

    D1, D2 e D31. Trecho do concreto das vigas2. Duto de aerao (suspiro)3. Laos dos cabos de protenso4. Trombeta de folha de flandres do fim da bainha5. Argolas de ao de reforo6. Barras cilndricas7. Trpode de apoio dos macacos8. Barra cilndirca passando por dentro dos laos9. Barra de ligao aos macacos10. Chapa de apoio11. Concreto para selagem dos topos dos cabos

    D1

    D2

    D3

    das vigas so de 9 mil tfm, e o concreto utilizado tem resistncia mdia a compresso de 250 kgf/cm2. Cada viga possui 62 cabos de 36 fios de cinco milmetros cada.

    A dupla de vigas internas sustenta os dois pisos da parte superior, um piso apoiado no sentido de gravidade e outro suspenso por barras-tirantes; elas resistem a uma carga mxima de 30 tf/m.

    Sobre essas vigas h a grande rea livre da pinacoteca, e, sob elas, os corredores de acesso s reas da administrao. Entre as reas de administrao, ou seja, entre as vigas, encontra-se a sala de exposies temporrias. Tanto as reas de administrao quanto a de exposies temporrias tm p-direito duplo, correspondente altura do p-direito dos corredores mais a altura da prpria viga.

    A protenso total por viga de 10 mil tf. Considerando os setenta metros de vo. Demorou vrias semanas, protendia-se um pouco a cada dia mais de uma centena de cabos e, at atingir a compresso estipulada para cada viga, era necessrio injetar nata de cimento em cada bainha que envolve os cabos.

    A protenso causou um encurtamento das vigas em cerca de cinco centmetros. Esse processo ocorreu durante as etapas de protenso, pois sobre os consoles foi instalada, dentro da junta em neoprene, uma bolsa tambm em neoprene que se enchia de leo a cada etapa e se esvaziava nos intervalos. Atingida a compresso requerida, esvaziou-se definitivamente a bolsa, e a viga apoiou-se nos consoles, separada apenas pela junta em neoprene. Dessa maneira, as vigas foram protendidas de forma isoladas dos pilares, evitando-se a transmisso de outras deformaes neles que no a dos esforos de compresso e dos demais movimentos prprios da estrutura.

    Cada viga tem 122 cabos de quarenta fios de cinco milmetros que a tensionam em 14 mil kgf/cm2. Nessas vigas empregou-se concreto de tenso mdia de ruptura a compresso em 28 dias de 580 kgf/cm2 e tenso mnima de ruptura (atual fck) de 450 kgf/cm2. Os esforos verticais que as vigas internas transmitem aos pilares so de 1.200 tf cada e so livres para se movimentar horizontalmente sobre uma grande placa quadrada de neoprene a que conteve a bolsa cheia de leo.

    A principal dupla de vigas as internas e a laje sobre elas o piso da Pinacoteca foram concretadas antes e, aps a proteno total das vigas, que foi concretada a laje do nvel +8,40. Por isso os tirantes possuem juntas que se unem por meio de luvas rosqueadas unindo os trechos dos arranques que provm das vigas protendidas aos arranques que partem de baixo para cima, provenientes da laje que foi concretada posteriormente.

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    10

    11

  • 92 93

    [87] Trabalhadores dentro da grande viga na construo do museu, 1965 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [88] Trabalhadores na construo do museu, 1965 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    [89] Macaco hidrulico, 1965 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi). Acervo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi

    SISTEMA FERRAZ

    O sistema de protenso criado por Ferraz, empregado no Masp, se caracteriza especialmente por permitir a ancoragem dos cabos de modo diferente do sistema desenvolvido por Freyssinet, mais usual.

    Os cabos, lanados no interior da viga dentro de bainhas, receberam, aps a protenso, uma injeo de nata de cimento. No sistema Ferraz, a protenso se realiza com uma cunha nica, com o cabo ancorado na outra extremidade, enquanto no sistema Freyssinet se utiliza uma cunha por fio.

    No sistema Ferraz, os cabos do lado em que sero estirados, so submetidos a uma ondulao para intercalar as argolas cujos dimetros crescem gradualmente e que so metidas atravs de pr-tensores provisrios.

    Depois injetada a nata de cimento com que so preenchidos os vazios das bainhas e os cones. Aps trs ou quatro dias de preenchimento podem ser removidos os pr-tensores.

    A fora de protenso transmitida no concreto por meio da aderncia dos cabos de ao e a nata de cimento endurecida dentro das bainhas e dos cones.

    Antes de realizar a injeo, o sistema permite que sejam feitas vrias novas tenses nos cabos, ao longo de determinado intervalo de tempo, com o fim de compensar as perdas de protenso por retrao e deformao lenta do concreto, voltando-se a comprimir as vigas para a manuteno da tenso desejada.

    No final, abrem-se as pontas dos cabos que esto em forma de lao, lateralmente, e feita a concretagem definitiva.

    COBERTURA

    A cobertura, sustentada pela dupla de vigas protendidas e tambm por vigas transversais, em concreto armado, tal como descrito anteriormente, feita por lajes de concreto armado.

    Em cada vo entre vigas transversais, as lajes formam duas guas, como um telhado, e dirigem as guas pluviais para os balanos; a viga de borda desses balanos conformam calhas que seguem por todo o sentido longitudinal do edifcio, terminando em grgulas que lanam as guas livremente at os espelhos dgua do nvel da avenida Paulista.

    Pelo lado interno, as lajes que cobrem o grande salo da Pinacoteca receberam um simples chapisco de cimento, caiado de branco; com a projeo de luz artificial dirigida ao teto, obtm-se eficazmente a difuso de claridade pelo ambiente.

  • 94 95

    VIGAS DA ESPLANADA

    Da esplanada para baixo, incluindo a estrutura de suporte da praa rida, tudo concreto armado. Embora as grandes vigas protendidas acima da avenida Paulista chamem toda a ateno, a estrutura que est abaixo no nem um pouco simples, chega a resolver vos quadrados de 34 m 34 m, alm de sobre o Grande Auditrio vencer vo de 22 m. Tambm necessrio considerar a carga varivel de uso da Esplanada, o que demanda um estudo complexo.

    Uma das diretorias posteriores morte do Professor chegou a cogitar transformar a Esplanada em estacionamento para automveis, mas a proposta era to abjeta que a prpria opinio pblica encarregou-se de recha-la de pronto. Outra hiptese era cogitar cercar toda a Esplanada com grades, esta, de maneira idntica, foi tambm amplamente rechaada. Esta a premissa do clculo estrutural dos elementos que suportam a praa: h que se cuidar de todos os fatores que podero incidir advindos de cargas mveis e acidentais, por usos at mesmo esprios.

    Nos vos maiores dos andares abaixo da Esplanada, a estrutura constituda por vigas de grande altura, em forma de quadrcula nervurada ortogonal, com 1,5 m 1,5 m. Nos demais espaos por vigas nervuradas em uma direo, conforme o vo menor. importante salientar a pouca presena visual de pilares, os quais desaparecem na distribuio dos diversos ambientes funcionais, de tal modo a ficarem imperceptveis.

    CONTENES

    S nos desenhos em corte transversal perceptvel, que os arrimos do Masp so escalonados em relao face de conteno contra o desnvel entre o nvel -9,50 e o 0,00. So quase dez metros de desnvel, com sobrecarga mvel sobre a avenida e empuxo horizontal altssimo. Escalonar uma excelente forma de absorver os empuxos, criar contrafortes gigantes reforando o arrimo tambm.

    O escalonamento criado quando a face contra o arrimo no nvel -9,50 mais distante do limite com a avenida Paulista do que o do nvel -4,50, criando um degrau. Os gigantes so criados travando com paredes de uma srie em bateria de ambientes de servios menores que, de topo contra o arrimo, servem de contrafortes e contribuem para sua sustentao. No Grande Auditrio, o duto pleno, como foi visto de ventilao cria uma parede dupla, e o travamento entre elas cria estroncas de reforo do arrimo sob a avenida Paulista.

    Nos extremos, as ruas so descendentes, tendendo a zero, quanto ao empuxo lateral sobre os arrimos. A soluo parecida:

    [90] Vista em voo de pssaro do incio das obras; arrimos e sapatas j em execuo, 1958 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

  • 96 97

    escalonamento de planos travados ortogonalmente e desta vez, distanciados pelos recuos laterais; o escalonamento uma cascata de espelhos dgua, em trs nveis, desde a Esplanada, em que tem grande altura, at a pequena praa da rua Carlos Comenale, na qual as alturas se igualam.

    PAVIMENTOS NVEIS +8,40 E +14,40

    A laje de piso do nvel +8,40 de caixo perdido com nervuras internas em quadrcula ortogonal laje de caixo perdido composta por duas lajes, uma superior e outra inferior, deixando vazio o interior, entre as nervuras. No Masp, ela mede cinquenta centmetros de altura total. Esse piso suspenso por quartetos de barras-tirantes, a partir das vigas protendidas que atravessam o interior do edifcio.

    Sobre essas vigas protendidas est apoiada a laje do nvel +14,40, que uma verso simples. A cada 3,5 metros, vigas transversais em concreto armado complementam o apoio, inclusive os grandes balanos desta direo transversal s vigas protendidas. H, ainda, vigas menores, de travamento intermedirio, em meio ao vo das vigas transversais, paralelas s principais, protendidas.

    FECHAMENTOS E DIVISRIAS

    Todas as vedaes so em muro de concreto armado aparente, deixando as impresses horizontais das tbuas de forma, a maior parte delas caiada de branco. Nos auditrios, o concreto aparente permanece sem pintura e, no Grande Auditrio, ainda em concreto aparente, prismas de reflexo acstica esto junto s vedaes.

    As divisrias de delimitao entre ambientes so de vidro temperado liso transparente, de piso a teto, ora sem caixilhos contraventados tambm em vidro temperado, com as ferragens especficas para este fim , ora encaixilhados em perfis metlicos pintados de preto.

    A fachada cortina de vidro feita com chapas de vidro temperado liso transparente em lances de seis metros de altura moduladas a cada 1,1 metros de largura, encaixilhadas em perfis de ao quadrados com 75 mm x 75 mm x 2 mm de espessura, que so telescpicos, possuindo liberdade de movimento vertical.

    [91] Hall de entrada do primeiro pavimento; ao fundo, o pilar e o console que suportam uma das vigas principais. Foto: Marina Rago, 2014.

  • 98 99

    [92] Vista do corredor lateral do auditrio shaft horizontal de passagem de tubulaes. Foto: Marcelo Suzuki, 2014.

    [93] Vista dos mezaninos para o Hall Cvico, com o guarda-corpos banco de concreto. Foto: Marina Rago, 2014.

    INSTALAES

    Todas as instalaes so estrategicamente colocadas nos espaos e nos corredores de servio e manuteno, sobrepostas s paredes e aos tetos, completamente expostas, facilitando sobretudo a manuteno e as modificaes que se fizeram necessrias.

    Estratgica tambm a posio determinada no projeto para as reas molhadas, agrupadas em ncleos hidrulicos que facilitam a distribuio at os pontos de utilizao.

    GUARDA-CORPOS E CORRIMOS

    No vo aquadradado dos mezaninos, que forma o p-direito duplo do Hall Cvico, o guarda-corpo constitudo por um banco cujo encosto est na altura do corrimo, com largura e altura adequadas e proporcionais, um projeto de design de mobilirio amalgamado ao projeto de arquitetura.

    Tambm bancos so os guarda-corpos da Esplanada, desta vez seguida de uma sequncia de jardineiras com vegetao pendente sobre os espelhos dgua.

    As escadas-rampas que unem o Hall Cvico aos mezaninos so vigas estruturais dos grandes balanos que estes elementos constituem, pintadas de vermelho vivo, como um grande X, livre nas extremidades superiores.

    As escadas so de ao ferro chato de seis milmetros de espessura, com componentes rebitados entre si na antiga tcnica de ferro batido. Divises intermedirias foram introduzidas posteriormente, com barras redondas na horizontal, sem grande prejuzo imagen do conjunto.

    NCLEOS DE CIRCULAO

    A unio entre os pavimentos realizada por meio de um conjunto de escadas, que no constituem uma caixa de escadas, pois no seguem o mesmo prumo da escada em L que vai da Esplanada, nvel 0,00, para o nvel +8,40. Da Esplanada para o nvel logo abaixo, -4,50, ela segue a projeo, a prumo, do segundo lance do L, acima.

    Do nvel +8,40 at o da Pinacoteca, +14,40, a escada sai dessa prumada e acompanha os caixilhos do lado direito do Masp, na referncia de quem olha da avenida Paulista. Chega no pequeno hall que acessa diretamente a Pinacoteca, mas deixa sob si um espao curioso, no qual, originalmente, Lina projetou um jardim seco natureza morta de areia e pedras, encimado por um crucifixo de madeira do barroco colonial brasileiro, pregado na face do grande

  • 100 101

    [94] Plantas dos nveis 0,00,-4,50 e -9,50.

    [95 / pgina seguinte] Vista area do MASP. Foto: Nelson Kon.

    pilar um dos quatro. Esta posio estratgica tambm escapa dos eixos das vigas transversais, ao contrrio da j citada grande escada helicoidal.

    Esse curioso e pequeno trecho de laje reconstitui a direo das vigas transversais e proporciona uma espcie de escape, uma pausa entre o nvel +8,40 e o +14,40, como se o visitante precisasse respirar antes de entrar em outra surpresa que o Masp propicia.

    Todos os lances de escada so construdos em concreto armado, e biapoiado, exceto a escada em L, que possui o monlito um pilar placa da mesma largura dos lances de escada, que um apoio intermedirio.

    No projeto original existia somente um elevador, de grande tamanho, com capacidade para trinta e seis pessoas, com a caixa de fechamento transparente em vidro temperado, a qual permitia que se observasse o movimento dos cabos e dos contrapesos at a chegada da cabine. Nas reformas j citadas, foi adicionado um elevador.

    Entre o Hall Cvico e os mezaninos esto as grandes escadas-rampas em X, alm da entrada, hoje desativada, que levaria diretamente ao Hall Cvico, nvel -9,50.

    As circulaes horizontais so absolutamente livres ou tortuosas, o X das escadas-rampas permitem direes opostas, o no prumo das escadas provoca um zigue-zague de caminhos, o sistema de exposies em cavaletes de vidro no demarcava nenhum percurso. Apenas os dois corredores dos ambientes administrativos so plenamente indicados; eles esto sob a dupla de vigas principais protendidas, retilneas, requadrando o salo das exposies temporrias.

    Planta nvel -9,50

    Planta nvel -4,50

    Planta nvel 0,00

  • 105

    [96] Detalhe de desenho da escada- rampa interna. Lina Bo Bardi, c. 1957-68 (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi).

    estrutura e proporo como princpios geradores de forma

    ESTRUTURA

    Rigor absoluto, clareza de expresso, preciso, eficincia e correta implantao da edificao so os atributos conhecidos dessa obra arquitetnica, reconhecidos popularmente, at mesmo por leigos, por meros transeuntes desinteressados que passam por ali, na avenida Paulista.

    Em todos os exemplos relevantes de arquitetura que os compndios analisam e que so matria viva para novos projetos e ideias, mesmo os mais vetustos, a forma final sempre est intrinsecamente imbricada com a soluo dos problemas estruturais e a aplicao ordenada destes, a organizao dos espaos aptos a ser utilizados a contento, a correta implantao, tudo concebido pelos arquitetos de maneira simultnea, de tal modo que no possvel saber a ordem, causal de causa e consequncia hierrquica nem cronolgica, em que as equipes empenhadas na arquitetura encadearam o trabalho para um feliz resultado no cabe aqui a palavra belo, pois beleza e feiura no so preceitos a ser verificados na arquitetura.

    Como foi visto, Lina no dava importncia para o fato de o vo livre ser grande, ter sido o maior da Amrica Latina, muito menos para o belo.

    O museu era um nada, uma procura da liberdade, a eliminao dos obstculos, a capacidade de ser livre perante as coisas.24

    Liberdade, entendida como a fluidez de espaos bem resol