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Lesões, Traumatismo, coluna
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COLUNA/COLUMNA. 2008;7(1):8-13
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Leses torcicas e traumatismo da coluna:uma complexa associao
Thoracic injuries and spinal trauma: a complex association
Lesiones torcicas y trauma de columna: una compleja asociacin
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
Xavier Soler I Graells1
Ed Marcelo Zaninelli1
Iwan Augusto Collao2
Adonis Nasr3
William Augusto Casteleins Ceclio4
Gisele Aparecida Borges4
RESUMOObjetivo: elaborar um perfil epide-miolgico da associao entre asleses da coluna e as torcicas empacientes politraumatizados. Mtodos:levantamento retrospectivo, comreviso de pronturios de pacientes,tendo sido includos todos os pacien-tes que apresentaram leses na colunavertebral, com ou sem envolvimentomedular associadas a leses de estru-turas torcicas. Foram excludos os pa-cientes que evoluram para bito ainda nasala de emergncia e os que foram trans-feridos para outro servio antes da altahospitalar. Resultados: foram analisados33 pacientes, com mdia de idade de30,8 anos, sendo 91% deles do sexo
ABSTRACTIntroduction: to elaborate anepidemiological profile for theassociation of spinal and thoracic in-juries in patients victims of multipletrauma. Methods: a retrospectivereview of the charts from patients therewere included all patients presentingspinal injuries, with or withoutneurological involvement, associatedwith injuries to thoracic structures.There were excluded patients that diedin the emergency room and the onestransferred to another hospital beforeroutine discharge. Results: 33 patientsmet the inclusion criteria, whose meanage was 30.8 years-old, being 91%male, and presenting complete
RESUMENObjetivo: elaborar un perfil epide-miolgico de la asociacin de las lesionesde columna y lesiones torcicas, en pa-cientes politraumatizados. Mtodos:revisin retrospectiva de las historiasclnicas de pacientes que presentaronlesiones en la columna vertebral, con osin comprometimiento medular,asociadas a lesiones de estructurastorcicas. Fueron excluidos los pacien-tes que evolucionaron para bito aunen la sala de emergencia y los que fuerontransferidos a otro servicio antes de daralta hospitalaria. Resultados: seanalizaron 33 pacientes, con promediode edad de 30.8 aos, 91% del sexomasculino, siendo que en 12 (36.36%)
Trabalho realizado no Servio de Cirurgia Geral e do Trauma e Servio de Cirurgia da Coluna do Hospital do Trabalhador (HT) da Universidade Federal do Paran -UFPR, Curitiba (PR),Brasil.
1Membros do Grupo de Cirurgia de Coluna e da Disciplina de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Clnicas e Pronto-Socorro do Hospital do Trabalhador (HT)da Universidade Federal do Paran -UFPR - Curitiba, (PR), Brasil.2Professor Titular da Disciplina do Trauma do Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Paran - UFPR; Chefe do Pronto-Socorro do HT e Orientador da LigaAcadmica do Trauma (LiAT - UFPR - HT) - Curitiba (PR), Brasil.3Professor Assistente da Disciplina do Trauma do Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Paran - UFPR; Orientador da Liga Acadmica do Trauma (LiAT UFPR - HT) - Curitiba (PR),Brasil.4Acadmicos de Medicina da Pontifcia Universidade Catlica do Paran - PUCPR - Membros da Liga Acadmica do Trauma (LiAT - UFPR - HT) - Curitiba (PR),Brasil.
Recebido: 18/04/2007 - Aprovado: 28/01/2008
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Leses torcicas e traumatismo da coluna: uma complexa associao
masculino. Em 12 (36,36%) vtimas hou-ve leso neurolgica completa. O prin-cipal mecanismo de trauma implicadofoi ferimento por arma de fogo, segui-do de colises automobilsticas. O se-guimento torcico da coluna foi omais acometido em 54,55% dos casos.Considerando-se conjuntamente todosos casos, optou-se pelo tratamento ci-rrgico em dez deles (30,3%) e peloconservador nos demais. A respeitodas leses torcicas associadas, foiobservada principalmente ocorrnciade hemotrax (84,84%) e pneumotrax(36,36%). Sobre as complicaes intra-hospitalares, seis pacientes (18,18%)evoluram para infeco pulmonar.Houve bito em 12,12% dos casos, comtaxa de sobrevivncia ao internamentohospitalar de 87,88%. Concluses: aincidncia de leses torcicas associ-adas ao trauma de coluna foi observa-da especialmente em pacientes adul-tos jovens do sexo masculino, eviden-ciando a gravidade e importncia doconhecimento da complexidade destaassociao.
DESCRITORES: Traumatismomltiplo; Ferimentos &leses; Traumatismos dacoluna vertebral;Traumatismos torcicos
neurological lesion in 12 (36,36%)victims. The most common mechanismof trauma found was gunshot wound,followed by motor vehicle accident.The thoracic segment of spine was themost injured, in 54.55% of cases.Surgical treatment was performed in 10patients (30,3% of total), and conservativein the other ones. Considering theassociated thoracic injuries it wasfound the occurrence of hemothorax(84,84%) and pneumothorax (36,36%)in the majority of the victims. From thein-hospital complications, there were 6cases (18,18%) of pulmonary infection.Death was observed in 12,12% of ca-ses, showing a survival rate to in-hospitaltreatment of 87,88%. Conclusion: theincidence of thoracic injuries alongwith spinal trauma was found morefrequently in male young adult patients,which evidence the severity of suchassociation and the importance of itsacknowledgement.
KEYWORDS: Multiple trauma;Wounds and injuries; Spinalinjuries; Thoracic injuries
vctimas hubo lesin neurolgicacompleta. El principal mecanismo detrauma implicado fue herida por armade fuego, seguido de colisiones auto-movilsticas. El seguimiento torcicode la columna fue el mas frecuente, en54.55% de los casos. Considerndoseconjuntamente todos los casos, se optpor tratamiento quirrgico en 10 deellos (30.3%) y conservador en losdems casos. Con respecto a las le-siones torcicas asociadas, obser-vamos principalmente una ocurrenciade hemotrax (84.84%) y neumotrax(36.36%). De las complicacionesintrahospitalares, seis pacientes(18.18%) evolucionaron con infeccinpulmonar. bitos ocurrieron en 12.12%de los casos, con una sobrevivenciahospitalar de 87.88%. Conclusiones:la incidencia de las lesiones torcicasasociadas al trauma de columna fueobservada especialmente en pacientesadultos jvenes de sexo masculino,evidenciando la gravedad y laimportancia del conocimiento de lacomplejidad de esta asociacin.
DESCRIPTORES: Traumatismomltiple; Heridas ytraumatismos; Traumatismosvertebrales; Traumatismostorcicos
INTRODUOO crescimento da violncia urbana, associado ao incrementodo potencial lesivo dos agentes agressores, temproporcionado um aumento na multiplicidade de lesesassociadas nos pacientes politraumatizados recebidos nosdiversos centros de atendimento a trauma. A coluna vertebralfunciona como uma viga mvel, suportando foras em vrioseixos e, apesar de sua estrutura ssea articulada, mantidaestvel por meio de ligamentos e msculos, uma regiomuito suscetvel e exposta a agresses externas aoorganismo. Uma possvel leso traumtica da colunavertebral, com ou sem dficit neurolgico, deve ser sempreprocurada e excluda em pacientes politraumatizados1. Deum modo geral, as leses traumticas na coluna representamgrande nus sociedade. Pacientes que sofrem traumaraquimedular geralmente possuem idade entre 15 e 35 anose os maiores responsveis por esse tipo de trauma so osacidentes de trnsito, seguido por acidentes no trabalho enas atividades esportivas2. Os mecanismos de trauma
relacionados coluna geralmente so de grande energia e,conseqentemente, outras leses podem ser encontradas.Dentre tais associaes, destacamos as leses torcicas,que podem resultar em risco imediato de vida e evoluir comaltos ndices de morbidade e de mortalidade. Para odiagnstico do quadro neurolgico utilizada a classificaoproposta por Frankel, em 19693, na qual os pacientes sodivididos em cinco grupos (A at E).
O presente estudo visa elaborar um perfil epidemiolgicoda associao das leses de coluna e torcicas, em pacientespolitraumatizados, atendidos em um Hospital de refernciano atendimento ao trauma, na cidade de Curitiba, Paran,Brasil.
MTODOSFoi realizado levantamento retrospectivo, com reviso depronturios de pacientes admitidos no Hospital do Traba-lhador (HT), vinculado Universidade Federal do Paran
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(UFPR), na cidade de Curitiba. Como critrios de incluso,foram analisados todos os pacientes que apresentaram le-ses na coluna vertebral, com ou sem envolvimento medu-lar, associadas s leses de estruturas torcicas. Foram in-cludos os pacientes cuja admisso se deu por entrada pelopronto-socorro do Hospital e que permaneceram interna-dos at a data da alta mdica ou do bito. Tambm foramconsiderados pacientes encaminhados de outros servios.O perodo considerado estendeu-se entre Julho de 1999 eJulho de 2004. Foram excludos desta anlise os pacientesque evoluram para bito ainda na sala de emergncia e osque foram transferidos para outro servio antes da alta hos-pitalar. Os dados encontrados foram confrontados com aliteratura atual.
RESULTADOSPara o perodo considerado, foram encontrados 33 pacientesque corresponderam aos critrios de incluso. Estespacientes foram admitidos com trauma na coluna dequalquer segmento, com leses torcicas evidenciadasdurante a investigao, antes ou depois do diagnstico daleso de coluna. A idade destes indivduos variou de 14 a 53anos, com mdia de 30,8 anos, sendo que 91% deles eramdo sexo masculino (30 pacientes). O escore de traumarevisado (Revised Trauma Score - RTS) calculado varioude 6,38 a 7,84 com mdia de 7,71. De todos os pacientesanalisados, em 12 deles (36,36%) houve leso neurolgicacompleta (escala de Frankel A).
Os mecanismos de trauma implicados podem servisualizados na Figura 1: quinze pacientes foram vtimas deagresso por arma de fogo (FAF), correspondendo a 45,45%do total. Em dois teros destes casos (dez pacientes) oferimento foi transfixante ao canal medular, ocorrendo lesoraquimedular em seis deles (60%). Neste grupo de pacien-tes com leso neurolgica, foi constatado nvel A de Frankel
em cinco deles e nvel B em apenas um. Em um nico outropaciente o projtil ficou alojado no corpo vertebral(intrasseo), ocorrendo leso neurolgica cujo nvel deFrankel no foi determinado. Em outros quatro pacientesno ficou especificado no pronturio o trajeto do projtil,em dois deles tambm houve leso neurolgica completa.
Foram encontrados 11 pacientes (33,33%) que sofreramalgum tipo de coliso automobilstica, dos quais apenasquatro (36,36%) utilizavam proteo individual (cinto desegurana ou capacete). Dos que sofreram colises, trspacientes (27,27%) tiveram leso raquimedular e com nvelA de Frankel em apenas um deles. Os outros mecanismos detrauma identificados referem-se a quedas de outro nvel(9,1%), atropelamentos (6,1%) e esmagamentos (6,1%). Emrelao aos segmentos da coluna, encontramosacometimento torcico em 54,55% dos casos, cervical em18,18%, lombar em 12,12% e leses em mltiplos segmentosem 15,15% (Figura 2).
Considerando-se o conjunto dos os casos de trauma decoluna aqui descritos, optou-se pelo tratamento cirrgico emdez deles (30,3%) e pelo conservador nos demais. Notratamento cirrgico foi realizada abordagem por via posteriorem todos os casos, sendo transpedicular em quatro pacientes.Para cada um dos outros seis pacientes, optou-se por um dosseguintes mtodos: Hartchild, Schanz, colocao de placa,parafuso, amarria e retirada do projtil. Independentementedo tipo de tratamento, em sete pacientes (21,21%) foiadministrado corticide (metilprednisolona) por viaendovascular, visando recrudescimento do edema medular.Um tero dos pacientes evoluram para paraplegia (11 casos),e a tetraplegia foi verificada em apenas um caso (3%).
A respeito das leses torcicas associadas, do grupototal de pacientes analisados foi observada a ocorrncia de84,84% para hemotrax e de 36,36% para pneumotrax.Destes pacientes, 11 (33,33%) apresentaram ambas as leses
Figura 2Segmentos da coluna vertebralacometidos nas leses associadas
Figura 1Mecanismos de trauma encontrados nasleses associadas de coluna e trax
54,55%
18,18%
12,1%
15,2%
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(hemopneumotrax). O tratamento para todos estes casosfoi a drenagem torcica em selo dgua, exceo de umcaso, que apresentou discreto hemotrax laminar. As demaisleses foram devidas a contuso pulmonar (15,15%), roturadiafragmtica (12,12%), fratura de costelas (12,12%),tamponamento cardaco (9,09%) e um caso de leso em hilopulmonar (3,03%). A Figura 3 ilustra comparativamente aepidemiologia destas leses.
Correlacionando as leses torcicas com os mecanismosde trauma (Tabela 1), foi verificada a presena de hemotraxem todos os pacientes vtimas de FAF e esmagamentos eem 72,7% das vtimas de colises automobilsticas. Aincidncia tambm elevada para quedas e atropelamentos.Analisando a ocorrncia de pneumotrax, a incidnciapermanece elevada, especialmente nas vtimas de queda eesmagamento. Nos pacientes vtimas de FAF, houvepneumotrax em 40% deles e em 36,4% das vtimas decolises, no sendo verificado nos pacientes que sofreramatropelamento. Chama-nos a ateno a incidncia de lesesdiafragmticas em agresses por arma de fogo e de fraturasde costelas em vtimas de colises automobilsticas.
Tambm correlacionamos as leses torcicas com ossegmentos da coluna afetados, conforme Tabela 2. A
incidncia de hemotrax foi observada em 100% dospacientes com trauma na coluna lombar e em mltiplossegmentos da coluna. Foi extremamente elevada nostraumas envolvendo a coluna torcica (94,5%) e menornaqueles de coluna cervical (33,3%). O pneumotraxtambm ocorreu com incidncia elevada, observado emtodos os pacientes vtimas de trauma na coluna crvico-torcica, e metade daqueles com leso na colunatracolombar e em segmento lombar isoladamente. Nacoluna torcica houve pneumotrax em 44,5% doscasos. Destacamos a ocorrncia de outras lesesassociadas a trauma de coluna cervical, noespecificadas neste trabalho, envolvendo estruturas departes moles do pescoo, presente em dois teros dospacientes analisados.
Das complicaes intra-hospitalares documentadas,seis pacientes (18,18%) evoluram com infecopulmonar, todos eles apresentando leso neurolgicanvel A ou B de Frankel. Dois pacientes (6%)apresentaram lcera de presso e dois tiveram infecono local da ferida operatria. Foram a bitos 12,12% doscasos (quatro pacientes); a taxa de sobrevivncia aointernamento hospitalar foi de 87,88%.
Leses torcicas
Hemotrax
Pneumotrax
Contuso pulmonar
Tamponamento cardaco
Leso de diafragma
Fratura de costelas
Leso de hilo pulmonar
Outras leses
Total de pacientes
FAF n/%
15/100%
6/ 40%
2/ 13,3%
2/ 13,3%
4/ 26,6%
1/ 6,6%
1/ 6,6%
0
15/100%
Colises n/%
8/ 72,7%
4/ 36,4%
2/ 18,2%
1/ 9,1%
0
3/ 27,3%
0
3/ 27,3%
11/100%
Quedas n/%
2/ 66,6%
2/ 66,6%
0
0
0
0
0
0
3/100%
Atropelamentos n/%
1/ 50%
0
0
0
0
0
0
2/100%
2/100%
Esmagamentos n/%
2/100%
1/ 50%
0
0
0
0
0
0
2/100%
TABELA 1 Correlao das leses torcicas com os mecanismos de trauma
Leses torcicas e traumatismo da coluna: uma complexa associao
Figura 3Leses torcicas encontradasassociadas a trauma de coluna
Hemot
rax
Pneum
otrax
Hemopn
eumot
rax
Contus
o pulmo
nar
Rotura
diafrag
mtica
Fratura
de cos
telas
Tampon
ament
o carda
co
Leso
em hilo
pulmo
nar
84,8%
36,4% 33,3%
15,2% 12,1% 12,1%
9,1% 3,1%
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12 Soler I Graells X, Zaninelli EM, Collao IA, Nasr A, Ceclio WAC, Borges GA
Leses torcicas
Hemotrax
Pneumotrax
Contuso Pulmonar
Tamponamento Cardaco
Leso de Diafragma
Fratura de Costelas
Leso de Hilo Pulmonar
Outras leses
Total de pacientes
Torcico n/%
17/ 94,5%
8/ 44,5%
4/ 22,2%
1/ 5,6%
2/ 11,1%
2/ 11,1%
1/ 5,6%
1/ 5,6%
18/100%
Cervical n/%
2/ 33,3%
0
0
0
0
1/ 16,6%
0
4/ 66,6%
6/100%
Lombar n/%
4/100%
2/ 50%
0
1/ 25%
1/ 25%
0
0
0
4/100%
C-T n/%
2/100%
2/100%
1/ 50%
0
0
0
0
0
2/100%
T-L n/%
2/100%
1/ 50%
0
1/ 50%
1/ 50%
1/ 50%
0
0
2/100%
C-T-L n/%
1/100%
0
0
0
0
0
0
0
1/100%
Obs: Segmentos C-T = Crvico-torcico; T-L = Toracolombar; C-T-L = Crvico-toracolombar
TABELA 2 Correlao das leses torcicas com os segmentos da coluna afetados
DISCUSSOEm trabalho realizado na Unidade de Leso Medular Agudado Hospital Conradie, frica do Sul, em meados de 2003, osautores revisaram todos os casos atendidos neste hospitalde pacientes vtimas de FAF na coluna vertebral4. Os dadosepidemiolgicos encontrados foram semelhantes aosexpostos neste estudo. Dos 49 pacientes identificados pelogrupo sul-africano, 38 eram homens e 11 mulheres, com mediade idade de 27,5 anos (variando de 15 a 51 anos). Observou-se leso medular completa em 38 pacientes (77,55%) eincompleta em oito pacientes (16,33%), sendo que trs notiveram qualquer dficit neurolgico. Em 24 casos houve lesode coluna torcica (48,98%), 13 na coluna cervical (26,53%) e12 (24,49%) em lombar. Em relao s leses associadas, foramencontradas 14 ocorrncias de hemopneumotrax (28,57%).Na srie estudada, houve 6,12% de bitos (trs pacientes),infeco discal em trs outros casos, pneumonia em seispacientes (12,24%) e lcera de presso em outros seis. Almdisso, foi optado por remoo do projtil em 11 casos (22,44%).Os autores concluem que leses medulares devido aagresses por arma de fogo, alm de prevalentes so causaimportante de paralisia ps-traumtica.
Em relao remoo do projtil, aps o ferimento nacoluna por arma de fogo, alguns servios no acreditamque sua remoo seja essencial e que sua permanncia emcanal medular ou intrassea no est relacionada com riscoaumentado de complicaes infecciosas locais. Investigou-se a ocorrncia de infeco local aps FAF de coluna noHospital Baragwanath, de Johannesburgo (frica do Sul),em uma srie de 153 pacientes, com seguimento mdio de 28meses5. Nestes pacientes a taxa geral de infeco relacionadaao projtil foi de 9,8%. Em 81 pacientes (52,94%) o projtilfoi mantido onde estava com complicaes infecciosas emapenas 7,4%. No entanto, a incidncia destas complicaesem leses lombares foi significativamente maior (P>0,05) doque em leses cervicais ou torcicas.
Em um artigo de reviso, os autores afirmam no havermuitas indicaes de tratamento cirrgico para pacientesneurologicamente intactos6. As justificativas para remoo
do projtil localizado em canal medular ocorre apenas emcasos de evidncia de intoxicao por chumbo ou cobre, erecidiva de dficit neurolgico aps melhora do quadroinicial de leso neurolgica. Afirmam tambm que dficitsneurolgicos completos ou incompletos beneficiam-se muitopouco de descompresso cirrgica, podendo levar a maiorestaxas de complicao do que em pacientes tratadosconservadoramente. De acordo com esta reviso, o uso decorticides no tem melhorado os resultados neurolgicosde pacientes lesados em medula espinhal, e esto associadosa complicaes extra-medulares.
Estudo retrospectivo da relao custo/benefcio para otratamento endovenoso com esterides no atendimento depacientes vtimas de FAF na coluna foi realizado na dcadade 19907. Os autores analisaram 254 pacientes atendidosentre 1979 e 1994, divididos em trs subgrupos, de acordocom o protocolo do National Acute Spinal Cord InjuryStudy 2: uso de metilprednisolona, dexametasona e sem usode corticides. Nenhum benefcio neurolgicoestatisticamente significativo foi demonstrado com o usodessas drogas, por outro lado, houve aumento decomplicaes infecciosas associadas ao seu uso (nosignificativo). Outras complicaes foram observadas,gastrointestinais no grupo em uso de dexametasona epancreatite no grupo da metilprednisolona. O grupo deautores afirma, assim, que pacientes vtimas de FAF nacoluna no deveriam ser tratados com corticides at quesua eficcia teraputica seja provada em estudoscontrolados. Em nosso estudo, administramosmetilprednisolona endovenosa em sete pacientes (21,21%dos casos), sem benefcio comprovado.
Outro estudo analisou a associao de complicaesrespiratrias em pacientes portadores de leso torcica alta(T1-T6) com leso medular presente8. Compararam osresultados com leses torcicas baixas (T7-T12) e lombares,em um estudo retrospectivo com dados provenientes daPennsylvania Trauma System Foundation (EUA), entreJaneiro de 1993 e Dezembro de 2002. Obtiveram 11.080
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Leses torcicas e traumatismo da coluna: uma complexa associao
fraturas de coluna decorrentes de trauma, das quais 4.258eram de coluna torcica, sendo 596 em regio torcica alta,associadas leso medular. Para este grupo de pacientes,particularmente, observaram complicaes respiratrias em51,1% (incluindo, alm de pneumonia, necessidade deintubao, traqueostomia e broncoscopia), um risco maiselevado em comparao com as leses torcicas baixas comleso medular (34,5%) e fraturas torcicas sem lesoneurolgica (27,5%). A ocorrncia de morte naquele grupode pacientes foi tambm significativamente mais elevada,decorrente primariamente das complicaes respiratriasapresentadas. Os autores sugerem monitoramente intensivopara o grupo de pacientes lesados medulares em nveistorcicos altos, alm de tratamento agressivo dascomplicaes pulmonares para que no ocorra xito fatal.Na srie de pacientes descrita no presente artigo, 18,18%evoluiu para pneumonia e 12,12% foram a bito. O riscorelacionado a procedimentos de proteo e manuteno devias areas (intubao e traqueostomia) no foi calculado.
Uma anlise das caractersticas de pacientes submetidos cirurgia devido leso de coluna torcica alta (T1-T6) foirealizada recentemente9. Foram revisados, retrospectivamen-te, 32 pacientes, 26 homens (81,25%) e seis mulheres, du-rante o perodo de Fevereiro de 1995 e Maro de 2001. Des-tes, 29 (90,62%) tinham fratura multisegmentar, 23 pacientes(71,87%) tiveram leso neurolgica completa, 7 (21,87%) le-so incompleta e em dois casos (6,25%) no houve qual-quer dficit neurolgico. Alm disso, 29 pacientes foramvtimas de acidente automobilstico, dois de quedas e um deesmagamento. Baseados nisso, os autores afirmam que asleses torcicas altas decorrentes de trauma de alta energiaapresentam conseqncias devastadoras para o paciente,sendo melhor tratados por equipe multidisciplinar.
O ndice fisiolgico de trauma RTS de alta acurcia naavaliao inicial de pacientes em pronto socorro, e seusresultados relacionam-se com previso de morte intra-hospitalar de maneira bastante precisa. O clculo deste ndiceenvolve trs parmetros facilmente avaliados na sala detrauma, Escala de Coma de Glasgow, presso arterial sistlicae freqncia respiratria, cada um com um peso de diferente.Nesta srie de pacientes, a mdia de valor obtida para o RTSfoi de 7,71, o que implica em probabilidade de sobrevivnciaentre 97% e 98%10. A despeito deste fato, observamos umataxa de sobrevivncia inferior a 88%. Tal fato pode seratribudo a uma evoluo desfavorvel dos pacientes apsadmisso, provavelmente em virtude das leses torcicasencontradas, que podem ter sido despercebidas na avaliaoinicial.
CONCLUSOO presente estudo epidemiolgico revelou prevalnciamacia de acometimento por leses de coluna em homensna faixa etria de 30 anos, nos quais se evidenciou lesotorcica associada. O mecanismo de trauma predominantefoi por arma de fogo, enquanto que as leses torcicasprincipais verificadas deveram-se a hemotrax e/oupneumotrax. O segmento da coluna mais freqentementeacometido foi o torcico, em mais da metade dos casos e amortalidade intra-hospitalar para estes pacientes foi maiselevada do que a inicialmente esperada. A alta incidncia deleses torcicas, associadas ao trauma da coluna, observadaespecialmente em pacientes adultos jovens do sexomasculino, refora a necessidade do conhecimento dacinemtica do trauma a fim de evitar que lesespotencialmente fatais deixem de ser identificadas noatendimento inicial a politraumatizados.
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Correspondncia
Xavier Soler I Graells
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