Leituras No Brasil Colonial

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Leituras No Brasil Colonial

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  • Leituras no Brasil colonial 1 Mrcia Abreu

    Originalmente publicado em Remate de Males, revista do Departamento de Teoria Literria do Instituto de Estudos da Linguagem UNICAMP, no 22,

    Campinas So Paulo, 2002, pg. 131-163.

    Ao contrrio do que muitas vezes se supe, a colnia portuguesa na Amrica no desconhecia a utilidade e os encantos dos livros. Obras de todos os gneros, todas as pocas, todas as nacionalidades aportavam na cidade, criando uma extraordinria disperso de ttulos em circulao ao menos o que se percebe quando se consulta a documentao pro-duzida pelos rgos de censura instalados em Portugal e no Rio de Janei-ro entre meados do sculo XVIII e incio do XIX.2 Desejando manter sob controle os pensamentos e os desejos de seus sditos, a coroa portu-guesa tentava examinar toda matria escrita em circulao em seus do-mnios, exigindo daqueles que tencionassem transportar livros o preen-chimento de pedidos de autorizao submetidos instituio de censura competente.3

    O rigoroso controle sobre livros e papis, embora nefasto para a propagao das idias, propiciou o registro minucioso da entrada de o-bras no Brasil, permitindo o conhecimento do que se lia ao menos no campo da legalidade. At 1807, a nica possibilidade de aquisio e transporte legais de livros e papis aberta aos que viviam no Brasil era import-los de Portugal, o que implicava a elaborao de um pedido de autorizao ao rgo de censura lusitano. Aps a transferncia da corte para o Rio de Janeiro, novas formas de contato com livros se abriram, ainda que constantemente supervisionadas por organismos censores. A partir de 1808, passou a ser possvel adquirir livros impressos no Brasil pela Impresso Rgia, ou import-los de outras localidades alm de Por-tugal, uma vez obtida autorizao da Mesa do Desembargo do Pao

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    instituio sediada no Rio de Janeiro com atribuies similares lusitana. Mesmo com a duplicao do sistema de controle, o volume de requisi-es submetidas instituio censria em Lisboa permaneceu elevado.

    Os cariocas estavam entre os mais vidos ou mais controlados leitores de Portugal e seus domnios. Ainda que lessem muito texto religioso e profissional, apreciavam o contato com as Belas Letras e ti-nham claras preferncias. No perodo anterior transferncia da corte, os livros remetidos com maior regularidade eram:

    Ttulo Quantidade

    1. Les Aventures de Tlmaque, Franois de Salignac de la Mothe-

    Fnelon

    38

    2. Night Thoughts on Life Death and Immortality, Edward Young 24

    3. Selecta Latini Sermonis exemplaria e scriptoribus probatissimis, Pierre

    Chompr

    22

    4. Histoire de Gil Blas de Santillane, Alain Ren Lesage 21

    5. Le Voyageur Franois ou la connoissance de lancien et du nouveau monde,

    Joseph de Laporte

    19

    6. Meditations and Contemplations, James Hervey 18

    The Paradise Lost, John Milton 18

    7. Caroline de Lichtfield, J.I.P. de Bottens Baronesa Isabelle de Monto-

    lieu

    15

    El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, Miguel de Cervantes 15

    Histria do Imperador Carlos Magno e dos doze pares de Frana, annimo 15

    Lances da Ventura acasos da desgraa e herosmos da virtude, D. Felix

    Moreno de Monroy y Ros

    15

    Rimas, Manuel Maria Barbosa du Bocage 15

    8. Viagens de Altina nas cidades mais cultas da Europa e nas principais povoa-

    es dos Balinos, povos desconhecidos de todo o mundo, Lus Caetano de

    Campos

    13

    9. Delli viaggi di Enrico Wanton alle terre incognite Australi ed al paese delle

    scimie, n quali si apiegono il carattere, li costumi, le scienze e la polizia di

    12

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    quegli straordinari abitanti, Zaccaria Seriman

    O Feliz independente do mundo e da fortuna, ou arte de viver contente em

    quaisquer trabalhos da vida, Pe. Theodoro de Almeida

    12

    10. Fbulas, Esopo 11

    Obras, Lus de Cames 11

    Rimas, Joo Xavier de Mattos 11

    Tabela 1: Ttulos de Belas Letras mais solicitados em requisies des-

    tinadas ao Rio de Janeiro, conservadas nos fundos da Real Mesa Cen-

    sria e relativas ao perodo compreendido entre 1769 e 1807. 4

    Dos 519 ttulos enviados, o mais solicitado conta com 38 requisi-

    es, enquanto h 312 ttulos para os quais existe apenas 1 pedido se a distribuio fosse uniforme, haveria menos de 3 pedidos para cada ttulo. Uma vez que os pedidos de autorizao no mencionam nmeros de exemplares, possvel que, a cada solicitao das Aventures de Tlmaque, por exemplo, centenas de exemplares fossem remetidos hiptese que ganha peso tendo em vista o fato de que 19 das remessas que incluam o livro de Fnelon foram assinadas por livreiros , mas como a documen-tao nada informa sobre as quantidades enviadas, no possvel avan-ar alm das suposies.

    A sensao de que o nmero de pedidos para cada obra muito pequeno diminui quando se considera a quantidade de exemplares em circulao. Em meados do sculo XVIII, na Frana, a maior parte das obras era impressa com menos de 1.000 exemplares. La Nouvelle Hlose, de Rousseau, best-seller incontestvel na Frana dos setecentos, teve tiragem pouco superior, 4.000 exemplares.5 Na Inglaterra, na mesma poca, poucas obras venderam mais de 10.000 exemplares. Nenhuma delas foi escrita por autores consagrados, ao contrrio, eram panfletos noticiosos e religiosos um tanto sensacionalistas.6 Da mesma forma, nos Estados Unidos, no final do sculo XVIII, faziam-se 1.000 exemplares em uma tiragem normal de romance.7 Em Portugal as tiragens tambm no ultrapassavam o milhar. O Uraguay, publicado em 1769 com apoio

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    do mais poderoso ministro portugus, o marqus de Pombal, teve uma primeira edio de 1.036 exemplares, tiragem considerada, poca, uma enormidade.8

    Superado o impacto da pequena concentrao dos pedidos, per-cebe-se a existncia de algumas recorrncias. Salta aos olhos a absoluta predominncia de textos estrangeiros. Das 18 obras consideradas, 6 fo-ram originalmente compostas em portugus. Mas no h predominncias absolutas na lngua de origem: so 6 os ttulos originalmente escritos em francs, 3 em ingls, 1 em espanhol, 1 em grego, 1 em italiano. O latim, lngua da cultura at o sculo XVIII, comparece apenas parcialmente, pois a Selecta Latini uma antologia de trechos escolhidos de clssicos latinos elaborada e escrita em francs (exceto, como evidente, no que diz respeito aos trechos reproduzidos dos autores latinos).

    A presena da cultura latina no era desprezvel no Rio de Janei-ro, embora no se concentrasse em determinadas obras, impedindo que os textos ficassem entre os mais procurados. Entre 1769 e 1807, h 190 pedidos para obras latinas, mas o ttulo pelo qual se verifica maior procu-ra Cartas de Ovdio foi solicitado apenas 9 vezes. Seguem-se as Fbulas de Fedro (tambm com 9 pedidos); as Oraes de Ccero (8); as Odes de Horcio e obra ad usum de Ovdio (7); obra ad usum de Horcio, Epstolas de Ccero, obra ad usum de Virglio e Obrigaes de Ccero (cada uma com 6 pedidos).9 Curiosamente, o mais solicitado dos textos latinos foi referi-do, em todos os pedidos, em portugus, permitindo imaginar que mes-mo no caso em que se procuravam autores latinos a lngua por meio da qual se fazia contato com a obra era o portugus. Nesse caso, os 9 solici-tantes deviam ter em mente o livro Cartas de Ovidio, chamadas heroides, ex-purgadas de toda a obscenidade e traduzidas em rima vulgar: com as suas respostas, escriptas umas pelo mesmo Ovidio, outras por Sabino e Sidronio e a maior parte dellas pelo traductor; e um eplogo no fim de cada uma, em que se mostra a doutrina que dellas se pode tirar, etc., em traduo de Miguel do Couto Guerreiro, publicada em Lisboa em 1789. Ao menos um deles deixou claro que buscava as Cartas de ovidio por Miguel do Couto Guerreiro.10 Nesse

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    caso o que se lia era uma verso expurgada de toda a obscenidade, acrescentada de escritos de Sabino e Sidrnio e ampliada pelo tradutor, responsvel pela maior parte das respostas s cartas.

    Da mesma forma, todos os que pediram verses ad usum de tex-tos latinos tomavam contato com verses didticas revistas e alteradas pelos organizadores da obra. Para designar a destinao escolar dos li-vros, utilizavam-se as expresses ad usum delphini (para o uso do delfim o prncipe herdeiro), ad usum studiosae juventutis (para o uso da juventude estudiosa), ad usum scholarum (para uso escolar), ad christianae juventutis usum (para o uso da juventude crist), ou simplesmente ad usum. A consagra-o da expresso para designar obras didticas fazia com que se pedisse autorizao para remessa de, por exemplo, Cornelius Nepos ad usum, embora no existisse nenhuma publicao com esse ttulo. Com certeza, o requerente queria apenas indicar seu desejo de fazer passar ao Brasil uma verso simplificada e didtica dos escritos de Cornlio Nepos.

    Assim, mesmo que 66% dos livros mais remetidos ao Rio de Ja-neiro fossem escritos em lngua estrangeira, no necessrio supor que os leitores cariocas fossem poliglotas. Todos os livros pelos quais h grande procura j estavam traduzidos para o portugus no sculo XVIII.11 O mundo editorial lusitano parece, assim, bastante atuante, sen-do capaz de oferecer tradues para as obras de maior sucesso. Um dos livros mais procurados nesse perodo, o Paraso Perdido, foi traduzido em 1789 pelo Padre Jos Amaro da Silva, que, no Prlogo, exalta a impor-tncia das tradues:

    Creio que ser bem acceita esta lembrana, que tive com a Traduco deste Poeta.

    He justo que esta Nao tenha na sua Lingua tudo quanto nas outras houver;

    porque nem s os Sbios devem lr, mas todos os outros, para que ou o seja, ou se

    instrua. Naquella Naa, em que at a mesma escria do Povo l, he onde os cos-

    tumes sa melhores, a Patria he amada, a Religia mais observada, e os Sobera-

    nos obedecidos, e mais estimados. A ignorancia, e a falta de lia, he a fonte, don-

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    de dimana as desordens, a soberba, o despotismo, a desobediencia, e at a mesma

    superstia e irreligio.12

    O entusiasmo do Padre com as tradues e com o poder da leitu-

    ra parece ter sido compartilhado por aqueles que se dirigiram aos rgos de censura portugueses, tendo em vista que a maior parte dos pedidos que fornecem indicaes bibliogrficas completas explicita o fato de es-tar remetendo tradues. Quando no se optava pela traduo portugue-sa, ainda assim se lia uma traduo, pois as obras compostas em ingls, espanhol, italiano ou grego foram mencionadas nas listas em verso francesa ou portuguesa e jamais na lngua original. Se possvel entender a preferncia por estas lnguas em contraposio ao ingls ou italiano pouco difundidos no perodo como lnguas internacionais , causa certo espanto o caso de D. Quixote no ser solicitado em espanhol sequer uma vez, e sim em francs ou portugus.

    O bom negcio da traduo fazia com que proliferassem as ver-ses numa mesma lngua. s vezes, essa multiplicao devia-se ao desejo do editor de fornecer ao pblico um melhor texto, como parece ter sido o caso do livreiro e editor Rolland que, tendo publicado uma traduo de Paulo e Virgnia, decidiu buscar um novo tradutor no momento da reedi-o. o que se percebe em um bilhete escrito por seu primo Estevo Semiond a um tradutor:

    dizendo-me [Rolland] que est acabando a sua edio de Paulo e Virgnia e

    que em outro tempo lhe tinhas fallado em uma traduo milhor que tinhas feito,

    que visto ter de reimprimir, desejaria fazer couza digna dos tempos const. [cons-

    titucionais?] [...] em lugar da antiga, imprimiremos a tua em que o publico achava

    mais proveito, lendo portuguez puro e no portuguez [palavra riscada: estava antes

    afrancezado], como na outra. Nisto fazias hum benefcio ao pblico e hum

    obsquio a meu primo.13

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    Outras vezes o sucesso de uma obra atraa diferentes tradutores, como aconteceu, por exemplo, com as Aventuras de Telmaco, objeto de vrias tradues distintas no sculo XVIII.14 A cada nova edio ou ree-dio, os tradutores elogiavam o prprio trabalho e apontavam defeitos no preparado por outros.15 A ciranda das tradues foi descrita em um prefcio s Aventuras de Telmaco, preparado por Jos da Fonseca, respon-svel por uma edio retocada e correcta da obra de Fnelon:

    Muito ha que eu desejava poder dar a meus conterraneos uma nova edio do Te-

    lemaco, vista e correcta por mim. Hoje, finalmente, satisfiz minha vontade nesta

    que sai a publico. Como eu conversei, em Pars, o [sic] inimitavel Francisco Ma-

    nuel, sube [sic] delle que a traduco, que em Portugal corre, com o nome do capi-

    to Manuel de Sousa, deve muito ao nosso Vate, intimo amigo do dicto capito.

    Eu (so palavras de Philinto) traduzia, com o original na mo, passeiando no

    meu quarto, e Manuel de Sousa escrevia o que lhe eu dictava: elle retocava depois a

    verso em sua casa; e assim procedemos ath completal-a.

    Com effeito, so [sic] Francisco Manuel (ento na sua patria, e com a cabea bem

    recheiada de termos e phrases classicas), podia derramar tanta copia [sic] de boa

    linguagem neste livro, vero thesouro da lingua portugueza: mas a grande celeridade

    com que foi feita a mesma translao (talvez a instancias de livreiro) no permittiu

    a esses dous illustres sabios expurgal-a de muitos termos baixos e incongruentes ao

    assumpto; dinfindas repeties; e darem, outro-si, aos periodos, aquelle boleio

    harmonico, que requer a prosa poetica do original. Eis a tarefa, a que eu puz pei-

    to, no obstante as difficuldades, que me offerecia seu desempenho; do qual nada

    direi: toca aos doctos avalial-o, cotejando este meu trabalho coa verso de que me

    servi, impressa em Lisboa, no anno de 1776.16

    O curioso sistema de traduo envolveu trs pessoas que desem-

    penharam diferentes papis: tradutor, copista, revisor, adaptador. As liberdades que se davam os tradutores daquela poca permitiam que eles interferissem no enredo, acrescentando, alterando ou removendo trechos inteiros. Alguns iam mais longe. Em 1765, Jos Manoel Ribeiro Pereira

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    havia feito a primeira traduo para o portugus do livro de Fnelon e achou que a histria carecia de remate por no relatar o casamento do heri. No teve dvidas e comps as Aventuras finaes de Telemaco narrando o que, do seu ponto de vista, faltava.

    A quantidade de tradues e edies em um mesmo perodo ates-ta o sucesso da obra, o que fazia com que livreiros e editores importantes como Rolland, Reycend e Bertrand quisessem ter distintas edies em seus catlogos.17 O pblico tambm manifestava preferncias por uma ou outra verso. Assim que, em 1799, Joz Antonio da Silva pedia Te-lemaco em verso,18 solicitao estranha primeira vista, uma vez que o original havia sido escrito em prosa. Entretanto, Joz Antonio da Silva poderia escolher entre vrias adaptaes disponveis: Il Telemaco in ottava rima, feita por Flamino Scarselli em Roma em 1747; Aventuras de Telmaco. Traduzido em verso portugues, elaborada por Joaquim Jos Caetano Pereira e Sousa, em Lisboa, 1768; Le Tlmaque mis en vers, publicado por Nicolas Buget, em Weimar, 1797. Se esperasse mais alguns anos, poderia ler os versos ingleses de Charles Burdett no Telemachus versified, editado em Londres, em 1820.

    Dentre as obras escritas originalmente em portugus, chama a a-teno o fato de a maior procura ser pelos escritos de Bocage e pelo ro-mance Lances da Ventura, seguidos pelas Viagens de Altina e O Feliz Inde-pendente. A obra daquele que considerado o mais importante autor por-tugus, Lus de Cames, parece ter despertado menos interesse do que romances atualmente desconhecidos e o mesmo interesse que as poesias de Joo Xavier de Mattos influenciadas, justamente, pelos versos de Cames. A percepo do interesse do pblico pela obra do poeta lusita-no altera-se um pouco quando se consideram os 6 pedidos para Os Lus-adas. A mesma m sorte teve o poeta entre os leitores do Porto, local para onde suas Obras foram enviadas apenas 5 vezes, as Rimas, 3 e Os Lusadas, 2.

    Autores e obras posteriormente integrados s histrias da literatu-ra em lngua portuguesa parecem ter tido ainda menor penetrao, no

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    Rio de Janeiro, do que Cames: Crnica do Imperador Clarimundo, de Joo de Barros, foi solicitada 6 vezes; Obras, de S de Miranda, 4; Obras poeticas, de Domingos dos Reis Quita, 4; Odes pindricas, de Antnio Diniz da Cruz e Silva, 3; Menina e Moa, de Bernardim Ribeiro, 3. Nem um pedido sequer para alguma das obras de Gil Vicente, por exemplo. Textos tidos como importantes para a constituio de uma literatura brasileira, como Marlia de Dirceu, de Toms Antnio Gonzaga, e Caramuru, de Santa Rita Duro, receberam respectivamente 8 e 4 pedidos. Por outro lado, h dez pedidos para uma obra escrita por uma brasileira hoje completamente esquecida: Aventuras de Difanes, de Theresa Margarida da Silva e Horta.

    Aps a transferncia da Famlia Real para o Brasil, o comrcio li-vreiro ganhou forte impulso, fazendo com que at 1826 fossem enviados ao Rio de Janeiro mais de 800 ttulos. O aumento dos livros em circula-o ampliou ainda mais a disperso, j que 56% deles (487 ttulos) foram enviados uma nica vez. Outras tendncias mantm-se, considerando-se a lista dos mais procurados:

    Ttulo Quantidade

    1. Les Aventures de Tlmaque, Franois de Salignac de la Mothe-

    Fnelon

    65

    2. Les Mille et Une Nuits, por Antoine Galland 55

    Selecta Latini Sermonis exemplaria e scriptoribus probatissimis, Pierre

    Chompr

    55

    3. Histoire de Gil Blas de Santillane, Alain Ren Lesage 50

    4. Magazin denfants, Pauline de Montmorin, Mme Leprince de

    Beaumont

    46

    5. Histria do Imperador Carlos Magno e dos doze pares de Frana, anni-

    mo

    41

    6. Obras, Manuel Maria Barbosa du Bocage 39

    7. O Feliz independente do mundo e da fortuna, ou arte de viver contente em

    quaisquer trabalhos da vida, Pe. Theodoro de Almeida

    37

    Lances da Ventura, acasos da desgraa e herosmos da virtude, D. Felix 37

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    Moreno de Monroy y Ros

    8. Thesouro de meninos, P. Blanchard / Matheus Jos da Costa 34

    9. Horacio ad usum 30

    10. Marilia de Dirceu, Thomas Antonio Gonzaga 28

    O Piolho Viajante, Antnio Manuel Policarpo da Silva 28

    Tabela 2: Ttulos de Belas Letras mais solicitados em requisies des-

    tinadas ao Rio de Janeiro, conservadas nos fundos da Real Mesa Cen-

    sria e relativas ao perodo compreendido entre 1808 e 1826.19

    H uma evidente permanncia na preferncia dos leitores: 44%

    das obras do primeiro perodo continuam a ser importadas com freqn-cia, com destaque para a manuteno das Aventures de Tlmaque no pri-meiro lugar.20 Fnelon realizou o sonho impossvel do escritor contem-porneo: manter-se no topo da lista dos best-sellers por mais de 100 anos, no s em seu prprio pas, mas at mesmo em terras, poca longnquas, como o Brasil.21 O caso das Aventuras de Telmaco no nico acompanham-no livros como Histria de Gil Blas, Obras de Luis de Ca-mes revelando uma estabilidade no gosto desconhecida nos dias atu-ais.22 Se o interesse por estas obras permaneceu desde seu lanamento, outras parecem ter sido descobertas tardiamente. o caso dAs Mil e uma noites (cuja primeira edio data de 1704), que no havia chamado a ateno at 1815, quando comeou a ser remetida diversas vezes ao a-no.23 Os demais livros, embora no to longevos como estes, no so propriamente uma novidade: todos foram compostos no sculo XVIII ou anteriormente. Nem sequer as tradues para o portugus so recen-tes, j que todos eles haviam sido traduzidos no sculo XVIII, exceto As Mil e uma noites, vertido para o portugus em 1801 (o que talvez ajude a explicar o relativo esquecimento em que ficou nos anos setecentos). Uma exceo, notvel nessa poca em que os tempos eram longos e as mu-danas se produziam lentamente, a obra O Piolho Viajante, publicada pela primeira vez em 1802 e rapidamente incorporada ao universo dos preferidos.24

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    Fenmeno interessante ocorre com Marlia de Dirceu. A crer nas informaes contidas nos documentos apresentados censura lusitana, os primeiros 8 anos de vida da publicao passaram despercebidos para os cariocas publicado pela primeira vez em 1792, somente em 1800 o livro comeou a ser remetido ao Rio de Janeiro. Nesse mesmo perodo, segundo Hallewell, o livro teve quatro edies em Lisboa, uma das quais vendeu 2.000 exemplares em apenas seis meses.25 No Brasil, Marlia de Dirceu no parece ter sido muito conhecida no sculo XVIII, pois regis-tram-se apenas 8 pedidos at 1807 embora o volume de livros remeti-dos possa ser relativamente elevado considerando-se que todas as requi-sies de licena foram elaboradas por livreiros.26 A pequena procura talvez se explique por algum temor causado pela proximidade da perse-guio aos Inconfidentes. Entre 1808 e 1826, tendo aumentado significa-tivamente o interesse pelo livro, mantm-se a predominncia de negoci-antes no envio de exemplares para a colnia 25 pedidos so assinados por pessoas ligadas ao comrcio, dentre as quais se destaca Joo Gomes de Oliveira, responsvel por 9 pedidos, seguido por Rolland, autor de 6 solicitaes. A volumosa importao da obra ainda mais surpreendente quando se lembra que ela foi editada pela Imprensa Rgia, no Rio de Janeiro, em 181027 e que, portanto, poderia ser adquirida na cidade sem necessidade de importao.28 O sucesso do livro no se produziu apenas no Brasil pois, segundo Innocencio da Silva, excepo feita de Cames, nenhum outro portuguez alcanou no presente sculo as honras de ta-manha popularidade!,29 referindo-se ao fato de Marlia de Dirceu ter tido 15 edies na primeira metade do sculo XIX.

    Se em nmero de edies Cames superava Gonzaga, o mesmo no acontecia em relao preferncia de leitura dos moradores do Rio de Janeiro. A situao seria alterada, entretanto, se adicionssemos aos 27 pedidos para as Obras de Cames, as 24 solicitaes relativas a Os Lusa-das cuja demanda quadruplicou aps a transferncia da Famlia Real. possvel que a corte desejasse manter contato com a terra natal por meio

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    da leitura destas obras e das outras compostas originalmente em Por-tugal.

    No obstante, o portugus no predomina como lngua de ori-gem, posio assumida pelo francs (46% dos livros mais solicitados foram escritos nessa lngua, enquanto 30% so de origem portuguesa). O interesse por obras escritas em portugus rivaliza com aquele despertado por obras estrangeiras, o que parece natural tendo em vista a abertura dos portos, responsvel por considervel crescimento da presena de estrangeiros no Rio de Janeiro. Talvez por isso tenha aumentado a quan-tidade de pedidos que solicitam as obras no original, mesmo havendo tradues disponveis de todas elas. A pequena Babel em que se havia transformado o Rio de Janeiro pode ser vista por meio dos pedidos para as Aventures de Tlmaque, solicitadas como Aventuras de Telemaco em francez e Hespanhol, Aventuras de Telemaco em inglez e Hespanhol, Telemaco em inglez e francez fazendo referncia, provavelmente, s edies poliglotas do livro30 , alm dos convencionais pedidos do tipo Fenelon, Aventures de Telemaque, Paris, 1799, Adventures of Tele-maco, Telemaco em portuguez.

    Embora se tenha comeado, a partir da, a solicitar verses ingle-sas de textos escritos originalmente em outras lnguas, os autores anglo-saxes foram excludos da lista dos mais solicitados as requisies para as obras Night Thoughts, Meditations and Contemplations e The Paradise Lost reduziram-se para 14, 13 e 11 pedidos respectivamente. Assumiu o topo da lista entre os ingleses, o livro The Life and Strange Surprizing Adventures of Robinson Crusoe of York, Mariner, de Daniel Defoe, com 18 pedidos entre 1808 e 1826. Assim como havia quem preferisse ler as Aventures de Tl-maque em ingls, havia quem solicitasse as Aventures de Robinson Cru-soe, Paris, 1799. A mesma opo parece ter feito o tradutor para o por-tugus e seu editor que esclareciam que a Vida e aventuras admirveis de Robinson Cruso, que contm a sua tornada sua ilha, as suas novas viagens e as suas reflexes haviam sido traduzidas da lngua francesa por Henrique Leito de Sousa Mascarenhas, em Lisboa, 1785.

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    Alm das alteraes na nacionalidade das obras e nas lnguas em que eram solicitadas, ocorreu uma modificao importante, com a ampli-ao da presena de autores latinos dentre os mais procurados. Se at 1807 a cultura latina estava representada apenas por uma antologia esco-lar Selecta Latina, de Pierre Chompr , a partir de 1808, passou a haver interesse tambm pela verso didtica da obra de Horcio, que recebeu 30 pedidos.

    Parte fundamental da cultura escolar dos anos setecentos e incio dos oitocentos centrava-se no estudo dos autores e textos clssicos da Antigidade, conhecimento tido como fundamental para o prossegui-mento da escolarizao. Sob o ttulo geral de curso Letras, abrigava-se o aprendizado de Gramtica, de Potica e de Retrica latinas e gregas, as-sociando-se conhecimentos de Histria e Geografia. O domnio escrito e oral da lngua latina e a familiaridade com a cultura clssica eram os obje-tivos desses estudos introdutrios, que deveriam preparar os alunos para a leitura integral das obras originais.

    No obstante se supusesse, poca, que os autores clssicos re-presentavam o auge a que teria chegado a arte de escrever, sua presena no Rio de Janeiro era tmida e fundamentalmente associada aos textos didticos, antologias e verses abreviadas. Sobressaam, em nmero de ttulos e quantidade de pedidos, as obras clssicas em verses ad usum delphini expresso latina, cunhada inicialmente para designar a edio de clssicos organizada sob a direo de Bossuet e de Huet, para o uso do Delfim, ou seja, para o filho de Luis XIV. Grande sucesso na Europa ao longo dos sculos XVIII e XIX, essas publicaes eram organizadas segundo princpios muito prximos queles que estruturavam a Selecta Latina: resumo, seleo de trechos, apresentao de notas explicativas e adaptaes com vistas supresso de passagens licenciosas ou conside-radas de difcil compreenso. Nas edies portuguesas, os ttulos dessas obras no contm a expresso ad usum, recebendo nomes que podem fazer supor tratar-se de verso integral da obra de autores gregos e lati-nos. Entretanto, os solicitantes de autorizao para remessa de livros

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    para o Brasil explicitavam o fato de estarem interessados nesse tipo pre-ciso de edio. Explcitas tambm eram algumas encadernaes portu-guesas que gravavam, apenas nas lombadas dos livros, o nome do autor clssico seguido da indicao ad usum, omitindo o ttulo completo. De olho na clientela, o Catlogo da Impresso Rgia de Lisboa no deixava dvidas sobre os produtos que vendia, diferenciando claramente as ver-ses ad usum ou in usum das demais. O Catlogo distingue, por exemplo, duas edies da obra de Ccero: Ciceronis Opera omnia cum delectu commentarior in usum delphini, edit. a Josepho Oliveto. Genevae, 1743 e Ciceronis Opera, quae supersunt omnia ad fidem aptimarum editio-num diligenter expressa. Glaguae 1749.31 Grande parte das obras anun-ciadas era impressa fora de Portugal, razo pela qual, logo na abertura do Catlogo, imprime-se um Aviso ao Publico:

    Quem quizer alguns Livros dos que so impressos em Paizes Estrangeiros, poder

    com toda a brevidade, e conveniencia alcanallos, entregando as memorias assigna-

    das a Francisco de Paula da Arrabida Administrador da loge da Impresso Re-

    gia na Praa do Commercio, o qual tem correspondencias estabelecidas em Italia,

    Frana, Hollanda, Alemanha e Inglaterra, e com todo o cuidado dar comprimen-

    to s encommendas, que se lhe fizerem.

    Algo aproximava aqueles que viviam no Rio de Janeiro dos que

    residiam em Portugal: ambos deveriam recorrer importao e subme-ter-se ao controle da censura para poder ter em mos livros pelos quais se interessassem.

    A transferncia da corte para o Brasil e a conseqente abertura dos portos deve ter facilitado a aquisio de obras importadas. Assim, registram-se pedidos para 1.190 ttulos diferentes (distribudos por 1.956 livros). O interesse daqueles que se dirigiram Mesa do Desembargo do Pao, instalada no Rio de Janeiro, era um tanto distinto daquele dos que se reportaram censura lusitana:

  • Leituras no Brasil colonial

    145

    Ttulo Quantidade

    1. Les Aventures de Tlmaque, Franois de Salignac de la Mothe-

    Fnelon

    38

    2. Fables de La Fontaine, Jean de La Fontaine 28

    Voyage de La Prouse au tour du Monde, L.A.Milet Mureau 28

    3. Histoire de Gil Blas de Santillane, Alain Ren Lesage 17

    Jerusalem liberata, Torquato Tasso 17

    4. Oeuvres, Racine 16

    5. Oeuvres, Molire 14

    Voyage du Jeune Anacharsis en Grce, Jean-Jacques Barthlemy 14

    6. Oeuvres, Corneille 13

    7. El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha, Miguel de Cervantes 12

    The Life and Strange Surprizing Adventures of Robinson Crusoe...,

    Daniel Defoe

    12

    Oeuvres, Boileau 12

    Oeuvres, Alain Ren Lesage 12

    Paul et Virginie, Jacques-Henri Bernardin de Saint-Pierre 12

    8. Oeuvres, Prevost 11

    9. Le poeme sur la Religion, Racine 9

    Obras, Virglio 9

    10. Oeuvres, Gresset 8

    La Henriade, Voltaire 8

    Scnes de la vie du grand monde, Maria Edgeworth 8

    Tabela 3: Ttulos de Belas Letras mais solicitados em requisies

    submetidas ao Desembargo do Pao, no Rio de Janeiro, entre 1808 e

    1821.32

    Livros como Aventures de Tlmaque, Histoire de Gil Blas de Santillane

    e Don Quijote de la Mancha parecem ter sido sucessos incontestveis em qualquer parte do mundo, chegando ao Brasil seja por meio de Portugal seja a partir de outros pases europeus. Apesar dessas repeties, a lista elaborada tendo por base as entradas fiscalizadas pela Mesa do Desem-

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    146

    bargo do Pao do Rio de Janeiro traz fortes novidades, talvez devido s diferentes condies em que foi produzida.

    Enquanto no primeiro perodo, dos 205 pedidos submetidos censura portuguesa, 116 foram assinados por livreiros ou negociantes e, no segundo perodo, dos 357 pedidos, 226 foram de responsabilidade de gente ligada ao comrcio; aqui, das 84 solicitaes apenas 30 foram en-caminhadas por comerciantes.33 Isto , se no envio de livros de Portugal para o Rio de Janeiro mais da metade das remessas era realizada por mercadores, no caso do Desembargo do Pao a maioria dos requerimen-tos era assumida por particulares. Alm disso, os comerciantes que se dirigiam ao Pao no insistiam nesse negcio ao menos no por essas vias , j que 7 deles o fizeram apenas uma nica vez. Carlos Durand, que nas solicitaes se apresenta como negociante francez com arma-zem de fazendas e livros nesta cidade, foi o que mais vezes se dirigiu Mesa para liberao de livros, no o fazendo, entretanto, por mais de 5 vezes. possvel supor, assim, que grande parte dos livros liberados na alfndega do Rio de Janeiro pertencesse a pessoas comuns que os havi-am encomendado na Europa ou que os transportavam consigo em sua viagem. tambm provvel que parte dos estrangeiros que se transferiu para a cidade depois da vinda da corte trouxesse livros para seu proprio uso, como afirmaram alguns.

    Isso ajudaria a explicar a assombrosa disperso de ttulos e a pou-ca freqncia com que entravam na cidade. Pela Mesa passaram solicita-es para liberao de 1.190 ttulos diferentes, dos quais 924 foram pedi-dos uma s vez em 14 anos. Pode ter contribudo, ainda, o fato de que esses livros aportavam no Brasil vindos de diferentes partes do mundo e no mais apenas de Portugal , assim como a se registravam tambm os impressos em trnsito interno entre portos brasileiros.

    Seja como for, no apenas a disperso maior, mas tambm a concentrao menor. Alm de as repeties serem menos freqentes, a quantidade de pedidos por ttulo, ainda que se considerem apenas os mais solicitados, baixa. Assim sendo, as Oeuvres de Gresset, La Henriade

  • Leituras no Brasil colonial

    147

    de Voltaire e as Scnes de la vie du grand monde, de Miss Edgeworth, foram introduzidas no Rio de Janeiro 8 vezes ao longo de 14 anos, muito em-bora ocupem o dcimo lugar.

    Dessa forma, apesar de esta lista e aquela apresentada na Tabela 2 dizerem respeito mesma cidade e a, praticamente, um mesmo perodo, elas so bastante distintas.34 Obras que aparecem entre as preferidas no conjunto dos documentos do Pao tinham despertado muito pouca a-teno daqueles que encaminhavam solicitaes de autorizao para re-messa de livros de Lisboa. Assim que Voyage de La Prouse autour du Monde no foi registrado nem uma vez nos arquivos lisboetas, enquanto Jerusalem liberata foi indicada 1 vez. Houve indicaes de algumas obras de Racine: 4 pedidos para as Oeuvres e outros 4 para o poema Religio, 3 pedidos para a tragdia Athalia, 2 para Theatro e 1 para Fedra. Molire tambm no atraiu muita ateno, tendo sido lembrado apenas 5 vezes. Voyage du Jeune Anacharsis en Grce foi solicitada 2 vezes; mesma quantida-de de pedidos recebida para as Oeuvres de Corneille. J as Oeuvres de Boi-leau e La Henriade de Voltaire foram mencionadas em 4 requisies. As Obras de Lesage, Prvost e Gresset no foram solicitadas nem uma vez sequer, assim como a ningum tinha ocorrido a idia de ler o trabalho de Miss Edgeworth.

    Amplia-se fortemente a predominncia de autores franceses entre os mais solicitados 75% das obras foram escritas na Frana, enquanto 10% so de origem inglesa, restando 5% para os italianos, 5% para os espanhis e 5% para os latinos. O destaque do francs visvel tambm na elaborao dos pedidos, pois o registro dos ttulos foi majoritariamen-te feito nesta lngua, mesmo que houvesse traduo disponvel ou mes-mo que fosse outra a lngua de origem do texto. No se menciona a obra de Torquato Tasso, por exemplo, em italiano e sim como Jerusalem dli-vre. Alm disso no h nem uma obra de origem portuguesa entre as mais enviadas, embora haja quantidade significativa de lusitanos entre os responsveis pelos pedidos. Assim, essas obras parecem mais voltadas

  • MRCIA ABREU

    148

    para os estrangeiros presentes no Rio de Janeiro do que para os cariocas ou para a corte e seus acompanhantes.

    Chama a ateno tambm o fato de esta ser a listagem em que comparece maior nmero de autores hoje considerados grandes nomes da literatura, com destaque para os escritores do grand sicle Racine, Corneille, Boileau e Molire , compondo o panteo de grandes autores ao lado de Voltaire, Tasso, Cervantes e Virglio. As duas outras relaes, constitudas a partir de documentao lisboeta, so muito menos orto-doxas. Se tambm h ttulos bem conhecidos (como D. Quixote, Paraso Perdido, Marlia de Dirceu, Obras de Cames e de Bocage), tm forte pre-sena autores menos considerados pela crtica literria como Young, Hervey, Lesage, Galland, Fnelon, Mattos. Grande parte deles, entretan-to, so textos excludos da alta tradio e completamente ignorados atu-almente Le Voyageur Franois, Histria do Imperador Carlos Magno, Caroline de Lichtfield, Lances da Ventura, Viagens de Altina, O Feliz independente, Delli viaggi di Enrico Wanton, O Piolho Viajante. Acresam-se a estes, trabalhos como Selecta Latini, Fbulas, de Esopo, e Horacio ad usum, desprestigia-dos por sua destinao escolar, mais do que pelos autores e textos envol-vidos.

    Duplamente desvalorizados so os livros Magasin denfants e The-souro de meninos pois, alm de serem narrativas ficcionais cujo propsito era a moralizao e a educao, tinham como pblico alvo as crianas e jovens.

    Magasin denfants, obra de Pauline de Montmorin, condessa Le-prince de Beaumont, foi mencionada sempre em portugus como The-souros de meninas , de forma que, mais uma vez, os cariocas deram prefe-rncia traduo. O ttulo completo do livro sintetiza seus objetivos e contedo:

    Thesouro de Meninas, ou Dialogos entre huma sabia aia, e suas disci-

    pulas da primeira distino, nos quaes reflectem, falla, e obra as Meninas, se-

    gundo o genio, temperamento, e inclinaes de cada huma: e representando-se os de-

  • Leituras no Brasil colonial

    149

    feitos da sua idade, mostra-se de que modo se podem emendar: comprehendendo-se

    tambem nelles hum Compendio de Historia Sagrada, da Fabula, da Geographia;

    e isto tudo cheio de reflexes uteis, e de contos moraes, para as entreter agradavel-

    mente, e escrito em estilo simples e proporcionado aos seus tenros annos.35

    Traduzida em 1774, por Joaquim Igncio de Frias, a obra parece

    ter satisfeito os desejos do tradutor, que advertia no Prlogo que este livro deve ser o primeiro, que se deve dar a hum menino, ou menina, tanto que se destina a aprender as primeiras letras, conquistando o p-blico aqum e alm mar. Seus objetivos no se restringiam alfabetiza-o pois o verdadeiro fim da leitura era fazer sair das escolas meninos ainda tenros nos annos, provectos na virtude, e livres daquelles prejui-zos, com que os Pais, Amas e Mestres lhes desordenavo o crebro.36 Supe que isso seria conseguido por meio de narrativas em que tomam parte uma Preceptora e algumas meninas. No interior dessa moldura narrativa, contam-se histrias bblicas, como a de Ado e Eva, ou narra-tivas ficcionais, como a Bela e a Fera, que, alm de permitir incutir no-es de moral, virtude e religio, possibilitavam o ensino de contedos escolares como os quatro pontos cardeais, a borboleta e suas meta-morphoses, noes de geographia etc.

    O sucesso da obra em todo o mundo fez com que a autora se-guisse com uma srie de Magasins, enquanto prosseguiam as publicaes de Thesouros traduzidos.37 A popularidade dos Thesouros... gerou um inte-ressante caso editorial com a publicao dos Thesouro de meninos, resumo de historia natural, para uso da mocidade de ambos os sexos, e instruco das pessoas, que desejo ter noes da Historia dos tres Reinos da Natureza.

    Segundo a edio publicada em 1813, pela Impresso Rgia de Lisboa, trata-se de obra elementar, compilada, e ordenada por Pedro Blanchard, Traduzida do Francez, e offerecida Mocidade Portugueza, por Matheus Jos da Costa, Beneficiado, e Mestre de Cerimonias da San-ta Igreja Patriarcal de Lisboa. A definio do responsvel pelo texto tarefa difcil quando a pgina de rosto indica a autoria de P. Blanchard e

  • MRCIA ABREU

    150

    a traduo de Matheus Jos da Costa, mas o Prefcio do Traductor adverte que este no seguiu muito de perto o original no qual encontrava vrios erros. At mesmo no ttulo interferiu pois, como todo este traba-lho se destina para a educao da Mocidade, no tive nenhuma duvida em lhe dar o ttulo de Thesouro de Meninos, em lugar de Buffon da Moci-dade, que lhe deo o Author.38 Uma terceira figura participa da composi-o do texto, o Doutor Felix de Avellar Brotero, que tomou a si a tarefa de emendar os trechos em que havia incorrees que foro bastan-tes, adverte o tradutor.

    O resultado dessa tripla autoria uma narrativa em que um Pai de Familias d instrues a quatro jovens sobre cosmografia, mineralo-gia, botnica e zoologia, dentro de uma estrutura narrativa que os leva a passeios, observaes da natureza e conversas, nas quais no faltam con-selhos sobre os deveres da Moral, da Virtude e da Civilidade.

    O interesse por livros infantis no se esgota nesses dois ttulos, pois h ainda 19 pedidos submetidos censura lusitana, entre 1808 e 1826, que requerem autorizao para o envio de Livros dos Meninos. A falta de melhor preciso impede que se saiba de que publicao se trata, j que no perodo era possvel obter: Livro para meninos, no qual se propoem hum methodo facil para os ensinar a ler: com huma breve historia da creao do mundo, e outra dos animaes, ambas adornadas com figuras, etc., de Manoel Dias de Souza,39 ou Livro de educao de meninos ou ideas geraes e definio das cousas que devem saber, traduzido do francs por Luis Pedro Le-Cor,40 ou ainda Livro dos meninos, ou idas geraes, e definies das cousas, que os meninos devem saber, traduzido por Joo Rosado de Villalobos.41

    Embora os pedidos submetidos Mesa do Desembargo do Pao no faam meno a Thesouros, a presena de livros destinados a crianas expressiva, havendo grande quantidade de ttulos em verso original referidos nos pedidos de autorizao apresentados censura. Assim que no Rio de Janeiro aportou toda uma srie de Magasins: Magazin des adolescentes, pour servir de suite au Magazin des Enfants (6 pedidos), Instructions pour les jeunes dames, qui entrent dans le Monde, se marient, &c. pour servir de suite

  • Leituras no Brasil colonial

    151

    au Magazin des Adolescentes (4 pedidos) e Magasin des enfants (4 pedidos), todos de Mme de Beaumont.

    Alm destas, outras 26 obras de natureza semelhante entraram no Rio de Janeiro a partir da fiscalizao exercida pelo Desembargo do Pao:

    Morale en action, Biographie de geunes gens 3, Childrens books A B

    C, Contes a mes jeunes amis 6, Enciclopedia da Infancia, Ensayo de

    meninos, Estudes de demoiselles, 3 - Etrennes a mon fille, 3 - Galerie des

    enfans, Juvenile Games, Lami des enfants, 3 - Le Cabinet des enfants,

    Les contes de fes, 9 Le garon sans souci, 3 Le livre des Enfans Labori-

    eux, 3 Le loisir de lenfant, Les enfans (contes), Les enfants clbres, 3 -

    Les escoliers en Vacance, 3 Les nuits enfantines, 2 Marmontel, memoires

    dun Pere a ses enfants, Le menthor des enfants, Meus meninos, 9 - Mo-

    dellos das meninas, 3 Muse de la Jeunesse, Mytologie de la jeunesse, Pas-

    satempo da Mocidade.42

    Estudiosos da literatura infantil europia, como Andr Bay, con-

    sideram que, a partir do sculo XVIII, ela torna-se rapidamente propri-edade de todas as crianas do mundo, ao menos do mundo de raa bran-ca.43 A quantidade e variedade de ttulos presentes no Rio de Janeiro indica que crianas, s vezes de raa no to branca, moradoras no Rio de Janeiro, tambm j conheciam a literatura infantil produzida na Europa no incio do sculo XIX. A transferncia da corte para o Rio de Janeiro, assim como a liberao da entrada de estrangeiros, provavelmen-te fez com que se ampliasse a quantidade de crianas na cidade e, mais do que isso, aumentasse o nmero de pais interessados em fornecer aos filhos uma educao beletrista e livresca. o que se pode supor conside-rando-se o significativo aumento na quantidade e variedade de ttulos infanto-juvenis e didticos em comparao com a disponibilidade verifi-cada antes de 1808.44

    O interesse das crianas ou o de seus pais pelos livros fez com a Imprensa Rgia tambm ocupasse seus prelos com a publicao,

  • MRCIA ABREU

    152

    em 1818, do livro Leitura para os meninos, contendo huma colleco de Historias Moraes relativas aos defeitos ordinarios s idades tenras, e hum dialogo sobre a Geo-grafia, Chronologia, Historia de Portugal, e Historia Natural, de Jos Saturnino da Costa Pereira. A obra parece ter agradado pois foi reeditada em 1821, 1822 e 1824.

    Se as obras citadas acima so explicitamente destinadas s crian-as e jovens, outros ttulos pelos quais se verifica grande procura tam-bm faziam parte do repertrio infanto-juvenil. Em alguns casos so obras produzidas tendo em vista um pblico adulto, adotadas, entretan-to, pelos pequenos leitores como Robinson Crusoe ou D. Quixote. Em outros, ocorre justamente o contrrio, livros produzidos com uma desti-nao infantil ganham o interesse dos leitores maduros. o que se passa, por exemplo, com as Aventuras de Telmaco que, embora no possa ser considerado um livro lido apenas por crianas, parece ter tido como des-tinao primeira o jovem filho de Luis XIV. Reza a lenda que Fnelon, em dificuldades para disciplinar e instruir o herdeiro do trono, teria con-cebido a idia de tomar o filho de Ulisses como heri de uma narrativa capaz de interessar seu aluno ao mesmo tempo em que o informasse sobre o mundo grego. As semelhanas entre a situao do protagonista e a do leitor deveriam favorecer a identificao e estimular o interesse do irrequieto pupilo.

    A crer em Fnelon, a obra no deveria ser impressa, tendo chega-do ao prelo apenas pela infidelidade de um copista.45 Assim que foi publicada, conheceu sucesso imediato, superando os limites didtico-moralizantes em que foi concebida, tornando-se leitura praticamente obrigatria da nobreza, que viu no texto uma dissimulada ironia em rela-o corte e ao soberano, identificando pessoas reais sob a mscara dos diferentes personagens. Enquanto para o sucesso do livro apreciado quase imediatamente na maior parte dos pases europeus a suposta equivalncia entre fico e realidade foi benfica, para a fortuna do autor nada poderia ter sido mais catastrfico do que despertar a ira de Luis XIV.

  • Leituras no Brasil colonial

    153

    Dessa forma, em sua concepo, as Aventuras de Telmaco so uma obra ad usum delphini, assim como as verses dos clssicos gregos e lati-nos. Neste caso, entretanto, h uma novidade importante pois no se trata de adaptao de obra j conhecida mas de acomodao de conte-dos provenientes de histria, geografia, mitologia, poesia, nos moldes de um gnero de sucesso: o romance. Embora desvalorizado, no perodo, como gnero menor por no seguir os preceitos da Potica ou da Retri-ca, era, dentre os escritos de Belas Letras, o que despertava maior inte-resse no pblico.46 No Rio de Janeiro os romances no apenas foram mencionados na maioria dos pedidos, mas tambm ocuparam as primei-ras posies nas listas de livros mais apreciados. Basta ver que o livro de Fnelon era best seller indiscutvel na cidade, desde 1769, ao menos. Outros entravam e saam da preferncia dos leitores, sem abalar, entre-tanto, a supremacia do gnero: no primeiro perodo, 55% das obras que compem a lista das preferidas so romances; no segundo perodo, con-siderados os envios controlados pela censura portuguesa, os romances passam a ser responsveis por 58% dos mais solicitados. Apesar de a concentrao de clssicos nos pedidos examinados pela Mesa do De-sembargo do Pao no Rio de Janeiro ser superior quela encontrada nos documentos lusitanos, a presena dos romances tambm bastante forte 45% das obras mais enviadas pertence a este gnero.47 No h como negar, portanto, a ampla difuso da leitura de romances no final do scu-lo XVIII e incio do XIX, tendncia reconhecida nos pases europeus e, como se v, tambm forte no Brasil.

    Alm dos romances importados havia tambm os produzidos pe-la primeira casa impressora instalada no Rio de Janeiro. Apesar de os prelos da Imprensa Rgia terem sido ocupados prioritariamente com a impresso de papis do governo e com a edio de livretos panegricos e de ocasio, havia espao para a edio de romances, ainda que timida-mente. A mais forte presena dessas narrativas entre os ttulos sados da Impresso carioca deu-se nos anos de 1815 e 1816, em que se produzi-ram 14 obras dessa natureza. Mas a atividade era pouco sintonizada com

  • MRCIA ABREU

    154

    a preferncia do pblico ao menos com aquela expressada por meio das importaes. Poucas vezes buscou-se imprimir obras que aqui che-gavam com regularidade como se fez quando da edio, pela Impresso Rgia do Rio de Janeiro, de obras como Paulo e Virginia: Historia fundada em factos, em 1811, ou O Diabo Coxo, verdades sonhadas e novellas da outra vida traduzidas a esta, em 1810. A casa investiu, enquanto isso, em ttulos des-conhecidos ou pouco comuns no mercado carioca como A boa mi e As duas desafortunadas.48

    Alm dos romances, a Impresso Rgia dedicou-se tambm pu-blicao de obras ainda mais populares e ainda menos valorizadas como produo esttica, tais como os folhetos Historia da Donzella Theodora e Histria verdadeira da princeza Magalona49 exemplares da literatura de cor-del portuguesa enviados ao Brasil com alguma regularidade. Se os ro-mances eram vistos com maus olhos, como coisa trivial e sem real inte-resse, fcil imaginar o que no se pensava sobre esses livrinhos, produ-zidos a partir de adaptaes com vistas a atingir grandes pblicos. Sua presena no Rio de Janeiro, junto de romances, de livros didticos e de livros infantis, talvez seja uma das chaves para a compreenso do to difundido discurso sobre a falta de leitura no pas.

    Nos sculos XVIII e XIX, assim como hoje, o problema no pa-rece ser de desinteresse pela leitura, mas, ao contrrio, de interesse por um tipo particular de leitura. Enquanto as obras mais valorizadas pela alta tradio eram os clssicos da Antigidade, assim como escritos mais recentes feitos sua imitao, liam-se, no Rio de Janeiro, verses escola-res de textos latinos adaptados, resumidos e explicados; enquanto se acreditava que a cultura greco-latina continha e expressava a mais alta elaborao artstica, liam-se romances modernos e histrias infantis. Que os livros tidos por modelos no sejam os mais lidos no motivo para espanto, seja no Brasil colonial, seja na velha e culta Europa, de onde saam os livros aqui lidos com tanto interesse e que deveriam ser tam-bm best sellers no Velho Mundo, considerando-se as sucessivas edies que receberam. O que pode, entretanto, causar alguma espcie o fato

  • Leituras no Brasil colonial

    155

    de que no Rio de Janeiro no havia (ou ao menos no havia em nmero significativo) artesos, trabalhadores, criados instrudos, pequenos co-merciantes, que so os segmentos aos quais se atribui a responsabilidade pela difuso da leitura de romances e outras obras menores. mais pro-vvel que a elite econmica se ocupasse de tal tarefa, j que difcil ima-ginar escravos e libertos pobres envolvidos com solicitaes de autoriza-o para importao de livros.

    Assim, o interesse por publicaes populares deveria partir de pessoas com recursos para encarregar-se dos trmites legais para impor-tao e para pagar por isso ou para compr-las em livreiros e merca-dores estabelecidos na cidade. Era preciso, portanto, ter algum dinheiro e tempo sobrando para poder se dedicar leitura o que coloca o trato com os livros como atividade possvel, prioritariamente, para a elite eco-nmica. Examinando a lista dos livros preferidos, percebe-se que situa-o financeira e insero cultural no se equivalem, ou seja, os mais ricos no se interessavam apenas por livros produzidos por grandes autores e bem avaliados pela elite intelectual.

    Professores, intelectuais e demais autoridades do mundo das le-tras certamente escandalizavam-se (e escandalizam-se) com as escolhas dos leitores, imaginando, talvez, que ler romances e no ler nada eram atitudes equivalentes (ou que a segunda hiptese era prefervel primei-ra). O discurso sobre a carncia cultural brasileira no perodo colonial no se sustenta diante dos dados fornecidos pela documentao da po-ca. Considerando-a, difcil lamentar a ausncia de livros, j que ela de-monstra que se lia de tudo no Brasil, mas se lia, sobretudo, aquilo que se considerava baixa literatura. O que, para alguns, no deixa de ser moti-vo de lamento.

    Notas

  • MRCIA ABREU

    156

    1 Este texto, com algumas modificaes, faz parte de minha Tese de Livre Docncia

    intitulada O Caminho dos Livros, defendida junto ao Departamento de Teoria de Literria

    do IEL em junho de 2002. Pesquisa realizada com apoio do CNPq.

    2 O corpus analisado nesse trabalho constitudo por documentao produzida pela

    Real Mesa Censria, pela Comisso Geral para o Exame e a Censura dos Livros, pelo

    Santo Ofcio e pelo Desembargo do Pao (tanto em Lisboa quanto no Rio de Janeiro).

    O perodo considerado inicia-se em 1768 (constituio da Real Mesa Censria, por

    ordem do Marqus de Pombal) e estende-se at 1826 (reconhecimento da independn-

    cia do Brasil por Portugal). As instituies responsveis pelo controle da circulao de

    livros e papis sucedem-se sem que haja, entretanto, modificaes significativas na

    natureza dos documentos submetidos a apreciao. A documentao preservada no

    Arquivo Nacional da Torre do Tombo Lisboa , contendo requisies para envio de

    livros para o Brasil entre 1769 e 1826 (Catlogo para Exame dos Livros para Sairem

    do Reino com Destino ao Brasil), unificada sob a designao Real Mesa Censria.

    Os pedidos de autorizao para entrada de livros nos portos brasileiros, produzidos

    entre 1808 e 1822, so conservados pelo Arquivo Nacional Rio de Janeiro nos

    fundos Mesa do Desembargo do Pao Licenas.

    Na anlise da documentao, concentrei-me apenas nos pedidos de autorizao para

    envio de obras de Belas Letras para a cidade do Rio de Janeiro.

    Agradeo a colaborao de Cilza Carla Bignoto na transcrio dos dados e a de Valria

    Florenzano em sua tabulao.

    3 As requisies de licena para envio de livros para o Rio de Janeiro foram por mim

    analisadas nos artigos Leitura de fico no Brasil Colnia, revista Tempo Brasileiro, Rio

    de Janeiro, Tempo Brasileiro Editora, 1996, e O Rei e o sujeito consideraes sobre

    a leitura no Brasil colonial, Brasil e Portugal: 500 anos de enlaces e desenlaces, revista Conver-

    gncia Lusada no 17, Real Gabinete Portugus de Leitura, Rio de Janeiro, 2000 e na Tese

    O Caminho dos Livros, op. cit.

    4 Segundo os Catlogos: exame dos livros para sada do reino, destino: Rio de Janei-

    ro, caixas 153 154, Real Mesa Censria, Arquivos Nacionais Torre do Tombo, Lisboa

    (doravante RMC ANTT). Na composio dessa tabela e das seguintes mencio-

  • Leituras no Brasil colonial

    157

    nam-se os ttulos conforme aparecem nas publicaes originais. Nos pedidos de licena

    as obras so referidas das formas mais variadas.

    5 Masseau, Didier. Linvention de lintellectuel dans lEurope du XVIII sicle. Paris: PUF,

    1994, p. 46.

    6 Watt, Ian. A Ascenso do Romance. So Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 46.

    7 Davidson, Cathy N. The life and times of Charlotte Temple the biography of a

    book. In Davidson, Cathy N. (org) Reading in America, Londres e Baltimore: The John

    Hopkins University Press, 1989, p. 159.

    8 Teixeira, Ivan. Mecenato Pombalino, So Paulo: FAPESP/EDUSP, 1999, p. 412.

    9 A presena de obras gregas ainda menor h apenas 31 pedidos.

    10 Manoel Joz Pereira de Campos, em pedido feito em 1800. Catlogos: exame dos

    livros para sada do reino, destino: Rio de Janeiro, caixa 153, RMC ANTT.

    11 Rodrigues, A Gonalves. A Novelstica Estrangeira em Verso Portuguesa no Perodo Pr-

    Romntico. Coimbra: s/ed, 1951 e Rodrigues, A. Gonalves. A Traduo em Portugal. Lis-

    boa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1992, 1o vol.: 14951834.

    12 Milton, J. Paraiso perdido, poema herico de... traduzido em vulgar pelo Padre Jos Ama-

    ro da Silva, presbitero Vimaranense. Com o Paraiso Restaurado, Poema do mesmo

    Author; Notas Historicas, Mythologicas, &c. de M. Racine; e as Observaes de M.

    Addisson sobre o Paraiso Perdido. Lisboa: Na Typographia Rollandiana, 1789. Com

    licena da Real Meza da Comisso Geral sobre o Exame, e Censura dos Livros. P. V.

    13 Caeiro, Francisco da Gama. Livros e livreiros franceses em Lisboa nos fins de setecentos e no

    primeiro quartel do sculo XIX, Separata do boletim Bibliogrfico da Universidade de Co-

    imbra, vol. 35, 1980. Intervenes no texto feitas por Caeiro.

    14 1. Aventuras de Telemaco, filho de Ulysses; traduzido do original francez na lingua portugueza por

    Jos Manuel Ribeiro Pereira. Lisboa, 1765. 2 volumes. Aventuras finaes de Telemaco, filho de

    Ulysses, novamente compostas pelo bacharel Joseph Manoel Ribeiro Pereira. Lisboa, 1765.

    Segunda edio correta e emendada pelo mesmo traductor da primeira edio destas Aventuras, tra-

    duo Jos Manuel Ribeiro Pereira, Lisboa, 1784, 2 volumes. Reedio das Aventuras

    finaes em Lisboa, 1785.

    2. Aventuras de Telmaco. Traduzido em verso portugues. por Joaquim Jos Caetano Pereira e

    Sousa, Lisboa, 1768, 2 volumes. Reeditado em Lisboa, 1787, 2 volumes. Nova edio

  • MRCIA ABREU

    158

    como Aventuras de Telemaco, traduzidas em verso portuguez, a que se ajuntam algumas notas

    mythologicas e allegoricas para inteligencia do poema. Dedicadas ao Ser. Principe do Brasil. Lisboa,

    1788, 2 tomos.

    3. O Telmaco. Traduzido pelo capito Manoel de Sousa, Lisboa, 1770, 2 volumes. Reedi-

    tado como O Telemaco de mr. Francisco de Salignac de la Motte Fenelon, etc traduzido. Lisboa,

    1776, 2 tomos. Nova reedies em Lisboa, em 1785 e em 1825.

    4. Aventuras de Telemaco, filho de Uysses... Com hum discurso sobre a Poesia Epica e Excelencia do

    Poema de Telemaco e notas geograficas e mythologicas. Sem indicao do tradutor. Lisboa, 1785.

    15 A propsito das diversas tradues e edies das Aventuras de Telmaco, ver Cristvo,

    Fernando Alves. Presena de Fnelon no espao literrio luso-brasileiro. Subsdios

    para um estudo. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian, Centre Culturel Portugais,

    1983, pp. 135150.

    16 Aventuras de Telemaco, filho de Ulysses, por Francisco Salignac de la Mothe Fenelon,

    traduco do Capito Manuel de Sousa, e de Francisco Manuel do Nascimento, retoca-

    da e correcta por Jos da Fonseca. Paris: na Livraria Europea de Baudry, 1842. Agrade-

    o a Carlos Eduardo Ornellas Berriel pela indicao e emprstimo desse livro. A pri-

    meira edio de 1837.

    17 Aventuras de Telemaco, filho de Ulysses por M. Fnlon, traduzidas do francez em por-

    tuguez: com um discurso sobre a poesia pica e excellencia do poema Telemaco; e

    muitas notas geogrficas, e mythologicas para intelligencia do mesmo poema: edio

    executada com caracteres novos e adornada com o retrato do mesmo Fnlon, Lisboa,

    1785. In Livros impressos por Francisco Rolland, Impressor-Livreiro em Lisboa, no Largo do

    Loreto. Encadernado anexo ao Secretario Portuguez, ou methodo de escrever cartas, por Francis-

    co Joz Freire. Lisboa: Typografia Rollandiana, 1801. Aventuras de Telemaco, traduzidas

    de Francez, em 8. 3 tomos. Nova edio correcta, e emendada, os dois primeiros tomos

    vendem se separados. In Catalogo dos livros portuguezes, impressos custa de Joo Baptista

    Reycend e Companhia, mercadores de livros, no largo do Calhariz, na esquina da Bica

    grande em Lisboa, que se acho de venda na sua loja. Catlogo no datado em circula-

    o em 1784. Aventuras de Telemaco, com Notas, em 8. In LIVROS impressos por Francis-

    co Rolland, Impressor-Livreiro em Lisboa. Encadernado anexo s Fbulas de Esopo, Lisboa:

    Typografia Rollandiana, 1791. Aventuras de Telemaco traduzidas do Francez de M. Fn-

  • Leituras no Brasil colonial

    159

    lon, pelo Capito Manoel de Sousa, em 8. 2 vol. 1770 - Anunciado venda, em 1791,

    no Catlogo da Livraria da Viva Bertrand.

    18 Catlogos: exame dos livros para sada do reino, destino: Rio de Janeiro, caixa 153,

    RMC ANTT.

    19 Segundo os Catlogos: exame dos livros para sada do reino, destino: Rio de Janei-

    ro, caixas 154, 155, 156, RMC ANTT.

    20 Mantm-se entre os preferidos: Aventuras de Telmaco, Selecta Latina, Histria de Gil

    Blas, Histria de Carlos Magno, Obras de Bocage, O Feliz independente, Lances da Ventura e

    Obras de Cames.

    21 Les Aventures de Tlmaque foram lanadas em Paris, em 1699.

    22 Histoire de Gil Blas teve primeira edio em 1715; as Obras Completas de Cames foram

    publicadas pela primeira vez em 1720.

    23 At 1807, As Mil e uma noites tinham sido enviadas apenas 6 vezes. Curiosamente, um

    dos livros compostos imitao daquele, Les Mille et un quart-dheure. Contes Tartares

    (publicado em Paris em 1715 e traduzido para o portugus com o ttulo Divertimento de

    um quarto de hora pelo. P. Joo Silverio de Lima em 1782), despertou maior interesse,

    tendo sido remetido 9 vezes.

    24 O Piolho Viajante, cujas viagens so divididas em mil e uma carapuas foi publicado, anoni-

    mamente, em folhetos semanais, at que se completassem as 72 carapuas de que se

    compe. Lanado em 1802, foi enviado ao Rio de Janeiro, pela primeira vez, no ano

    seguinte, por solicitao de Simo Taddeo Pereira. Em 1821 os folhetos foram reunidos

    em volumes com autoria atribuda a Antnio Manuel Policarpo da Silva. Edies em

    volumes: 1821, 1837, 1846 e 1857.

    25 Hallewell, Laurence. O Livro no Brasil. So Paulo: EDUSP, 1985, p. 23. A histria

    editorial de Marlia de Dirceu bastante complexa nesses primeiros anos, incluindo edi-

    es apcrifas e divulgao de poemas de autoria incerta. Veja-se a respeito o prefcio

    preparado por M. Rodrigues Lapa para a edio Marlia de Dirceu e mais poesias, Toms

    Antnio Gonzaga. Lisboa: Livraria S da Costa, 1937.

    26 Fizeram remessa Viuva Bertram e Filhos e Francisco Rolland (em 1800); Paulo

    Martins e, novamente, Francisco Rolland e Viuva Bertram e Filhos (1802); Simo Tad-

    deo Pereira (2 vezes em 1803); Paulo Martins e Filhos (1807).

  • MRCIA ABREU

    160

    27 Marilia de Dirceo. Por T.A.G. Nova edio. Rio de Janeiro. Na Impresso Regia. Com

    licena de S.A.R. 1810. 3 partes.

    28 No tiveram a mesma sorte outros autores nascidos no Brasil. Santa Rita Duro

    manteve pequena procura, com 4 pedidos para Caramuru (3 em 1819 e 1 em 1815). No

    se saiu muito melhor Theresa Margarida da Silva e Horta, cujas Aventuras de Difanes

    passaram de 10 pedidos, no primeiro perodo, para apenas 4. O Uraguay, de Jos Basilio

    da Gama, que no havia sido solicitado anteriormente, embora tenha sido publicado em

    1769, foi enviado duas vezes (em 1816 e 1819).

    29 Silva, Innocencio Francisco da. Diccionario Bibliographico Portuguez. Lisboa: Imprensa

    Nacional, 1858.

    30 No sculo XIX publicavam-se edies contendo o texto de Fnelon em vrias ln-

    guas. o caso, por exemplo, do Essai dun Tlmaque polyglotte, ou les Aventures du Fils

    dUlysse en langue franaise, grecque moderne, armnienne, italienne, espagnole, portugaise, anglaise,

    allemande, hollandaise, russe, polonaise, illyrienne, avec une traduction en vers grecs et latins, de

    Fleury-Lcluse, Paris, 1812.

    31 Catlogo de livros que se vendem por seus justos preos na loge da Impresso Rgia sita na Praa

    do Commercio em abril de 1772. Lisboa. Com licena da Real Meza Censoria. A ex-

    presso foi grifada por mim.

    32 Segundo documentao conservada pela Mesa do Desembargo do Pao Licenas

    caixas 168, 169 (ANRJ).

    33 Vinte e trs livreiros e negociantes atuaram no transporte de livros entre Portugal e o

    Rio de Janeiro at 1807. A mesma quantidade (mas no necessariamente os mesmos)

    envolveu-se com remessas de livros de Portugal para o Rio de Janeiro aps a transfe-

    rncia da Famlia Real. Entre 1808 e 1822, 16 mercadores fizeram 30 liberaes junto

    Mesa do Desembargo do Pao.

    34 As atividades da Mesa do Desembargo do Pao encerram-se em 1821, enquanto a

    censura lusitana continuou a controlar o envio de livros at 1826.

    35 Thesouro de Meninas... Composto na lingua francesa por Madama Leprince de Beau-

    mont, traduzido na lingua portugueza, e offerecido a Ill.ma e Exc.ma Senhora D. Leonor

    Ernestina Dhaum, marqueza de Pombal por Joaquim Ignacio de Frias. Nova Edio,

    Adornada com oito estampas. Rio de Janeiro, Typogrphia de J.J. Barroso e Comp,

  • Leituras no Brasil colonial

    161

    1838. Frias foi literal na traduo do ttulo francs: Magasin denfants, ou dialogues dune sage

    gouvernante avec ses lves de la premire distinction, dans lesquels ont fait penser, parler, agir, les

    jeunes gens suivant le gnie, le temprament et les inclinations dun chacun. On y reprsente les dfauts

    de leur ge, lon y montre de quelle manire on peut les corriger, on sapplique autant leur former le

    coeur qu leur clairer lesprit. On y donne un abrg de lHistoire Sacre, de la Fable, de la geogra-

    phie, etc. le tout rempli de rflexions utiles et de Contes Moraux, pour les amuser agrablement, et crit

    dun style simple et proportionn la tendresse de leurs mes, cuja 1a edio de 1757.

    36 Prologo do Traductor, op. cit., p. XI.

    37 Na mesma poca, eram enviados ao Rio de Janeiro: Thesouro de adultos (3 pedidos),

    Thesouro de adultas (5 pedidos), Thesouro dos Prudentes (1 pedido), Thesouro da Pacincia nas

    chagas de Jesus Cristo (8 pedidos). Pelo Desembargo do Pao passaram 5 pedidos para

    entrada da obra Morale en action, traduzida em portugus como Thesouro da mocidade portu-

    gueza ou a moral em aco. Escolha de factos memoraveis, e anecdotas interessantes.

    38 Thesouro de meninos, resumo de historia natural, para uso da mocidade de ambos os sexos, e

    instruco das pessoas, que desejo ter noes da Historia dos tres Reinos da Natureza. Obra ele-

    mentar, compilada, e ordenada por Pedro Blanchard, Traduzida do Francez, e offereci-

    da Mocidade Portugueza, por Matheus Jos da Costa, Beneficiado, e Mestre de Ceri-

    monias da Santa Igreja Patriarcal de Lisboa. 6 Tomos. Lisboa: na Impresso Rgia,

    Anno 1813, p. XVIII. No tomo III, refora-se o papel do tradutor/adaptador: Tradu-

    zida do Francez, com muitas correces e artigos novos. Offerecida, a sua Alteza o

    Principe Real do Reino Unido de Portugal, e do Brazil, e Algarves; Duque de Bragana,

    o Senhor D. Pedro de Alcantara por Matheus Jos da Costa.

    39 Dias de Souza, Manoel. Livro para meninos, no qual se propoem hum methodo facil para os

    ensinar a ler: com huma breve historia da creao do mundo, e outra dos animaes, ambas adornadas

    com figuras, etc., Coimbra, 1799.

    40 Le-Cor, Luis Pedro. Livro de educao de meninos ou ideas geraes e definio das cousas que

    devem saber... traduzido da lingua franceza na portugueza por... Lisboa: na Officina de

    Joseph da Costa Coimbra, 1746.

    41 Villalobos, Joo Rosado de. Livro dos meninos, ou idas geraes, e definies das cousas, que os

    meninos devem saber, traduo do francez por... Nova edio. Lisboa: Typ. Rollandiana,

    1824.

  • MRCIA ABREU

    162

    42 Citados conforme consta das requisies.

    43 Il est un fait que la littrature enfantine, malgr ses particularismes, devient vite la

    proprit de tous les enfants du monde, du moins du monde de race blanche mais de

    nos jours ce phnommne stend peu peu sur tout le globe. (Bay, Andr. La

    littrature enfantine In Histoire des littratures, Encyclopdie de la Pliade, Paris :

    Gallimard, 1967, tomo III, p. 1608).

    44 Sobre a literatura infantil no Brasil, ver: Lajolo, Marisa e Zilberman, Regina. Literatu-

    ra infantil brasileira: histria & histrias. So Paulo: tica, 1985, e Um Brasil para crianas:

    para conhecer a literatura infantil brasileira: histrias autores e textos. So Paulo: Global Editora,

    1986.

    45 Apud: Laffont-Bompiani, Dictionnaire des Oeuvres de tous les temps et tous les pays. Paris:

    Socit ddition de Dictionaires et Encyclopdies, 1962, 4a edio.

    46 A preferncia pelo romance foi percebida tambm por Irving A. Leonard em seu

    estudo sobre Obras de fico favoritas, em que considera os livros lidos, no sculo

    XVI, pelos conquistadores espanhis e seus descendentes. Assim como no Brasil, os

    escritos teolgicos, morais e religiosos eram os mais transportados para a Amrica, mas,

    dentre as obras de Belas Letras, gozava de imensa popularidade o romance em suas

    mltiplas manifestaes: picaresco, pastoril e, obviamente, de aventuras e cavalaria, [...]

    assim como as histrias de amor de varivel extenso (Leonard, Irving A. Los livros del

    Conquistador, Mxico: Fondo de Cultura Economica, 1996, p. 100. 1a edio: 1949).

    47 No h estabilidade, no perodo, na designao de textos em prosa ficcional, chama-

    dos de romance, novela, conto, histria, aventura etc. Textos em prosa ficcional envia-

    dos entre 1769 e 1807: Les Aventures de Tlmaque; Histoire de Gil Blas de Santillane; Le

    Voyageur Franois; Caroline de Litchfield; El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de la Mancha; Hist-

    ria do Imperador Carlos Magno; Lances da Ventura; Viagens de Altina; Delli viaggi di Enrico

    Wanton; O Feliz independente do mundo e da fortuna. Enviados entre 1808 e 1826: Les Aventu-

    res de Tlmaque; Les Mille et Une Nuits; Histoire de Gil Blas; Magazin denfants; Histria do

    Imperador Carlos Magno; O Feliz independente; Lances da Ventura; Thesouro de Meninos; O Piolho

    Viajante; Voyage de La Perouse; Voyage du Jeune Anacharsis en Grce; El Ingenioso Hidalgo Don

    Quijote de la Mancha; Robinson Crusoe; Oeuvres de Lesage; Paul et Virginie; Oeuvres de

    Prevost; Scnes de la vie du grand monde.

  • Leituras no Brasil colonial

    163

    48 A boa mi. Novella: traduzida do francez. Rio de Janeiro: na Impresso Regia, 1815.

    As duas desafortunadas. Novella: traduzida do francez. Rio de Janeiro: na Impresso Regi-

    a. 1815. Com licena.

    49 Historia da Donzella Theodora, em que se trata da sua grande formosura, e sabedoria. Traduzi-

    da do Castelhano em Portuguez. Por Carlos Ferreira Lisbonense. Rio de Janeiro: na

    Impresso Regia. 1815. Com licena. Histria verdadeira da princeza Magalona, filha delrei de

    Napoles, e do nobre, e valeroso cavalleiro Pierres Pedro de Proena, e dos muitos trabalhos, e adversi-

    dades que passro, sendo sempre constantes na f, e virtudes; e como depois reinaro, e acabro a sua

    vida virtuosamente no servio de Deus. Rio de Janeiro: na Impresso Regia, 1815.