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LABORATÓRIO DE IMPRENSA Sem conhecimento não há informação Ação formativa – O Jornal 4 módulos (trabalho em progresso) 17 e 24 de novembro de 2017 Orlando César 29 de novembro de 2017

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LABORATÓRIO

DE IMPRENSA

Sem conhecimento não há informação Ação formativa – O Jornal 4 módulos (trabalho em progresso) 17 e 24 de novembro de 2017 Orlando César 29 de novembro de 2017

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1. Cultura e práticas profissionais 1.1. Características do jornalista 1.2. Valores, práticas e relações 1.3. Técnicas de trabalho jornalístico 1.4. Sistema de fontes e compromisso com leitores 1.5. Mediação e representação 2. Empresa jornalística e ecossistema 2.1. Poder e controlo dos meios 2.2. Empresa e estrutura 2.3. Organização e funcionamento das redações 2.4. Serviço público, opinião pública e opinião publicada 2.5. Ética e deontologia do jornalismo 3. Que fazer? Como fazer? Com que finalidade? 3.1. Acontecimento, investigação e interpretação – matéria-prima e ferramentas 3.2. Elementos da narrativa, instrumento nuclear que orienta a ação 3.3. Características da escrita jornalística 3.4. Estrutura e composição 3.5. A montra do jornal e a titulação 4. Géneros jornalísticos 4.1. Géneros de informação e de opinião 4.2. Procedimentos que configuram o género da mensagem 4.3. Notícia 4.4. Entrevista e Perfil 4.5. Reportagem

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A informação é um direito humano. O jornalismo desempenha um papel relevante na sociedade e exige-se aos jornalistas responsabilidade social. O jornalismo tem como função proporcionar aos cidadãos a informação de que precisam: Para a sua identificação em termos societários; Para o conhecimento da realidade para além da sua experiência imediata; Para tomarem as melhores decisões possíveis no quadro da vida pessoal e da comunidade, e da participação cívica em sociedade. A democracia depende da confiabilidade da informação difundida. # Papel de cão de guarda.

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# Módulo 1 # 1. Cultura e práticas profissionais 1.1. Características do jornalista A curiosidade não é apenas um substantivo. É, sobretudo, um instrumento de descoberta. Representa o desejo de saber. Avidez essa que nasce da consciência da nossa a ignorância. É a busca por uma resposta que nos conduza ao conhecimento e à verdade. O conhecimento é um ato ou um efeito, mas também designa experiência, informação, notícia. O jornalista deve dominar o conhecimento em três abordagens, que na antiguidade grega se designavam por episteme, techne e phronesis. A episteme é o conhecimento científico. Universal, invariável, independente do contexto e que se baseia na racionalidade analítica geral. A techne é o conhecimento pragmático, variável, dependente do contexto. Está orientado para a produção e baseia-se na racionalidade instrumental prática. [hoje pode identificar-se com os termos técnica e tecnologia] A phronesis representa a deliberação sobre valores com referência à práxis. É um conhecimento pragmático, variável, dependente do contexto. Está orientado para a ação e baseia-se num valor-racional prático. [hoje pode referir-se à ética aplicada]

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Os jornalistas devem dispor de competências, por ex.: Compreender, analisar e interpretar de maneira

pertinente; Desenvolver a capacidade de raciocínio autónomo e

com distanciamento crítico; Compreender o sistema de trabalho jornalístico; Conhecer e aplicar os sistemas de seleção e

hierarquização de notícias; Ser capaz de diferenciar as características dos

géneros jornalísticos; Ser capaz de trabalhar em equipa; Dispor de hábitos de autodisciplina, auto exigência e

rigor na concretização das tarefas.

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1.2. Valores, práticas e relações Constitui o conjunto de valores ético-deontológicos, práticas de procedimento operativo e interações sociais. O investigador Mats Ekström afirma que a instituição jornalística apresenta dois aspectos, que designa como cosmologia e práticas sociais. Cosmologia: comunidade de valores, normas, percepções e cultura que torna as instituições coesas. Práticas sociais: códigos de comportamento, rotinas sociais, procedimentos e relacionamentos duradouros. Questões que respeitam à epistemologia do jornalismo. Isto é, o que decide a forma de conhecimento produzido e o conhecimento expresso (aceitável). Ekström, Mats (2002). “Epistemologies of TV journalism, A theoretical framework”. Journalism, Vol. 3(3), 259–282.

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1.3. Técnicas de trabalho jornalístico Observação directa Inquérito por questionário Entrevista [que assume uma tripla função, enquanto (1) prática, (2) recurso e (3) género autónomo.] Recolha de dados preexistentes: dados secundários e dados documentais

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1.4. Sistema de fontes e compromisso com leitores A fonte é alguém que relata ao jornalista o acontecimento que ele não presenciou. [Fontes primárias e secundárias] A fonte é alguém que o jornalista contacta para confirmar ou comprovar informações. [Fontes que contactam o jornalistas e fontes por ele contactadas] Fontes como promotores de notícias Interessadas: transmitem a informação que mais lhes interessa Tipologia de fontes informativas: institucionais, oficiosas…; passivas e activas; conhecidas e desconhecidas… [a sua interpretação primária condiciona o tratamento noticioso, mas não obsta a que o jornalista a isso se oponha] Fontes como definidores primários dos assuntos ou temas noticiados pelos meios de comunicação social (fontes profissionais: assessores, porta-vozes, agências de comunicação). Estabelece-se uma hierarquia em que o estatuto social, institucional ou o poder confere mais credibilidade. E garante maior acessibilidade aos meios. Nas áreas de especialização, os jornalistas estabelecem relações mais próximas e regulares com as fontes [Comporta vantagens e desvantagens. Podem-se criar

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dependências e conivências] As relações com as fontes devem ser sempre negociadas. Mas é ao jornalista que cabe a prorrogativa de aceitar as condições. É a relevância do assunto transmitido pela fonte e o interesse público (dos leitores) que devem orientar a escolha do jornalista. Além disso, os jornalistas devem selecionar as suas fontes em função de factores, tais como: merecerem crédito, serem fiáveis, garantirem domínio do tema, disporem de exposição clara, apresentarem evidências ou provas… As fontes desempenham um papel de grande relevância no processo informativo. Mas o compromisso com o público (os leitores) é a garantia da credibilidade dos meios. E a credibilidade aumenta a audiência.

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O jornalismo constitui uma forma de ver o mundo. 1.5. Mediação e representação O compromisso com o público exige do jornalismo uma resposta que corresponda às interrogações e expetativas de todos os grupos constituintes da sociedade. Deve dar acesso a quem não tem voz e mediar essa interação e expressão. Deve representar a sociedade na sua diversidade e pluralismo.

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# Módulo 2 # 2. Empresa jornalística e ecossistema 2.1. Poder e controlo dos meios A empresa jornalística é parte de um ecossistema sujeito a uma complexa rede de interesses. Os media têm poder de influência sobre os públicos, daí que sobre eles sejam exercidas pressões e que sejam alvo de estratégias de controlo. Entre os responsáveis pelas tentativas de controlo contam-se os poderes político e económico. Tentativa de controlo que se exerce através do financiamento (acesso a crédito e publicidade) e também através das fontes que refletem a estrutura social e de poder.

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2.2. Empresa e estrutura A firma está registada como empresa jornalística. Tem uma estrutura acionista (no caso de sociedades anónimas) representada por um conselho de administração, que nomeia a direção do órgão de comunicação social. A administração não deve interferir na orientação do meio nem os jornalistas devem aceitar ordens da administração. A criação de um novo jornal requer a definição de um objetivo e de um público-alvo e uma previsão de despesas e receita. É elaborado um projeto editorial que corresponda à finalidade do meio, a partir do qual se cria um projecto gráfico. Vários outros instrumentos garantem apoio ao projeto e à atividade editorial. Por exemplo, um Livro de estilo.

Projeto editoral O Jornal Temática: Informação generalista Âmbito: Regional Suporte: Online Periodicidade: Mensal N.º de páginas: Mínimo 24, a que acrescem

múltiplos de 4 (formato tablóide). N.º de colunas por página: 5 com exceção das

páginas que abrem secções (4 colunas).

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Secções País (todo o território, do local ao nacional) Mundo (todo o mundo, todas as temáticas) Vidas (entrevistas) Sociedade (reportagens) Cultura Desporto Dossiê (uma subsecção – conjunto de informações

e/ou inquérito referente a um assunto)

Cabeçalho Título centrado, com duas orelhas (a da esquerda

com logotipo da ESE-IPS e a da direita para chamada)

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2.3. Organização e funcionamento das redações

As redações são o núcleo dos meios. Redações organizadas por editoria (secções), com os respetivos editores. Redações sem subdivisões, com chefias e redatores especializados em áreas correspondentes às secções. Vantagens e desvantagens. Estrutura: Direção, Conselho Editorial e Editores executivos. Redação e outras secções de apoio: Revisão de estilo; Fotografia; Secretariado de

redação; Centro de documentação; Publicidade; Paginação; Online.

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“Os jornalistas devem ser tão transparentes quanto possível sobre fontes e métodos, de modo a que o público possa fazer sua própria avaliação da informação.”

In Committee of Concerned Journalists: The principles of journalism 2.4. Serviço público, opinião pública e opinião publicada O jornalismo presta um serviço público à comunidade. A sua finalidade é difundir factos confiáveis e precisos colocados em um contexto significativo e dessa forma contribuir para a formação de uma opinião pública informada. A opinião publicada é constituída pela opinião do próprio meio e pela dos colaboradores.

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2.5. Ética e deontologia do jornalismo Código Deontológico do Jornalista 1. O jornalista deve relatar os factos com rigor e exatidão e interpretá-los com honestidade. Os factos devem ser comprovados, ouvindo as partes com interesses atendíveis no caso. A distinção entre notícia e opinião deve ficar bem clara aos olhos do público. [Primeiro dos 11 pontos do Código Deontológico do Jornalista, aprovado em 1993 e alterado em 2017]

Código de Conduta Editorial de O Jornal “O Jornal pauta-se por um conjunto de valores próprios da cultura jornalística, por princípios e normas editoriais e da profissão, visando a isenção na abordagem dos assuntos e a seleção de temas mediante o seu interesse público.” [do ponto 1 do Código de Conduta Editorial de O Jornal. O Código tem 12 pontos.]

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Estatuto Editorial de O Jornal “10 – O Jornal visa entreabrir um horizonte que está subjacente à sua circunstância. A sua edição constitui a oportunidade de configurar a diferença que a equipa que o produz e os leitores e leitoras sejam capazes de tornar real e tangível.”

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# Módulo 3 # 3. Que fazer? Como fazer? Com que finalidade? 3.1. Acontecimento, investigação e interpretação – matéria-prima e ferramentas O acontecimento é uma informação. É «um elemento novo que irrompe no sistema social». Para os públicos, o acontecimento é a informação

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produzida, a notícia. Morin, Edgar (1969). La rumeur d’Orleans. Paris: Seuil, p.225.

O acontecimento é «qualquer coisa de novo ou inédito…» que introduz uma descontinuidade. Louis Quéré, «Entre fait et sens, la dualité de l'événement», Réseaux 2006/5 (no 139), p. 183-218.

O acontecimento é, em si, uma ocorrência… e implica um antes (a causa) e um depois (o efeito). [ocorre num contexto] Para que se torne conhecido carece do atributo de notável. É o jornalista que o revela: Promove a ocorrência em acontecimento [por um critério de temporalidade… é atual] e por que o percebe [critério de visibilidade] e o considera sintomático [critério de exemplaridade] do que ocorre no espaço público. É importante e interessa a muita gente. In Alice Krieg-Planque, «À propos des ‘noms propres d’événement’». Les Carnets du Cediscor, 11, 2009 [cita Quéré, Neveu e outros].

Ao escolher um acontecimento, o jornalista identifica-o (de forma individualizada). E fá-lo segundo uma descrição que o categoriza num certo tipo de acontecimentos [um assalto; um incêndio; uma greve; o aumento de preços…] A denominação que recebe confere-lhe uma natureza (a sua evidência). Induz representações estereotipadas. A explicação do acontecimento e a interpretação que é

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feita dos factos são configuradas pelo conteúdo semântico dos termos usados para o descrever. A classificação temática e a categorização dos acontecimentos (corrupção, atentado, pedofilia…) correspondem à produção discursiva do jornalismo… que é uma forma de ordenar o caos informativo [mapear]. Um método que permite ao público reconhecer o acontecimento… Mas que também serve para corresponder à necessidade de analogia e comparação, utilizada pelo jornalismo para colocar os acontecimentos em perspectiva e lhes atribuir valor. Trata-se de hierarquizar e de construir acontecimentos como protótipos. As ocorrências e os factos que lhes estão subjacentes constituem a matéria-prima da informação recolhida pela investigação jornalística. Matéria que tem de ser contextualizada e enquadrada para lhe atribuir significado. Emerge de um trabalho de interpretação, uma das três ordens da informação [observação, interpretação e narração]. Cornu, Daniel (1999). Jornalismo e Verdade – Para uma Ética da Informação (pp.329). Lisboa: Instituto Piaget. [sobre as três ordens]

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3.2. Elementos da narrativa, instrumento nuclear que orienta a ação Isto é, refere-se ao percurso investigativo do jornalismo… mas também ao dispositivo que capta a ação, que configura as práticas. “A narrativa acomoda-se aos seus elementos: Quem? (quis/persona) [o fenómeno]; O quê? (quid/factum) [os atributos da acção]; Quando? (quando/tempus) [o ato fundador]; Onde? (ubi/locus) [o local]; Como? (quemadmodum /modus) [o processo, as circunstâncias]; Porquê? (cur/causa) [as causas]; e Com que meios ou instrumentos? (quibus adminiculis/facultas) [reforço do processo].” In César, Orlando, “Teoria e prática em Jornalismo - Da experiência à epistemologia do jornalismo”, Junho de 2011. [Elementos da narrativa fixados por Marco Túlio Cícero (80 anos antes da era cristã), na sua obra Invenção, mas faziam parte da tradição do discurso greco-romano desde cerca de 400 anos antes de Cristo, cultivados por filósofos como Platão, Aristóteles e Protágoras.]

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3.3. Características da escrita jornalística A escrita é operativa do conceito e da sua finalidade. O conceito de jornal surge no século XVII, mas a definição das suas características remontam apenas ao século XIX: (1) atualidade (informação relacionada com o presente ou o influencie); (2) periodicidade (edição e distribuição regulares); (3) universalidade (sem excluir nenhum tema); e (4) publicidade (tornar público, do domínio público). Atributos da escrita jornalística Clara, precisa, concisa, ritmada e com vivacidade. Anabela Gradim Clara, simples, exata e variada Livro de Estilo do Público Compreensível, simples, concisa, densa (com propriedade, substância), autêntica, original Daniel Ricardo

A escrita na relação com factos e acontecimentos Autêntica [validada, fidedigna, verdadeira] Exata [precisa, rigorosa, correcta, justa, fiel]

A escrita na relação com a forma e conteúdo Original [inédita, singular, única, extraordinária] Precisa [exata, certa, rigorosa, resumida, lacónica]

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Concisa [breve, sucinta, curta, exacta, precisa, abreviada, lacónica, resumida] Simples [evidente, fácil, clara, natural] Densa (com propriedade, substância) [maciça, consistente] Com vivacidade [brilhantismo, fulgor, activa, animada] Ritmada [cadenciada, compassada, com ritmo] Variada [diversa, diferente, múltipla]

A escrita na relação com os destinatários [leitores, ouvintes e espectadores] Compreensível [acessível, atingível, inteligível] Clara [que não apresenta dúvida, certa, límpida (sem nuvens), compreensível, fácil de entender] Qualidades da linguagem jornalística A principal condição do bom estilo jornalístico é a imediata compreensibilidade das mensagens (…). Ricardo, Daniel (2003). Ainda bem que me pergunta: Manual de escrita jornalística (pp.24-44). Lisboa: Editorial Notícias.

Daniel Ricardo afirma que a compreensibilidade das mensagens decorre: — num primeiro nível, da respetiva clareza, que, por sua vez, deriva, em boa medida, tanto da gramaticalidade, como da simplicidade e da densidade semântica (concisão + propriedade) da linguagem; — e, num segundo nível, da sua vertente explicativa

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(contexto, antecedentes e outros dados complementares da informação principal) ou mesmo interpretativa. Práticas — Dar preferência aos termos e expressões usuais (…), mais curtos ou mais concisos (…), mais concretos e precisos. — Cultivar um estilo vivo, expressivo, colorido. — Expressar as ideias com fluidez e ritmo, numa sucessão lógica, coerente, sem saltos nem hiatos. — Preferir as palavras e as expressões da linguagem corrente (…), a mais espontânea e natural. — Evitar neologismos e estrangeirismos, arcaísmos e regionalismos, calão e gíria. — Escrever curto, não transmitir mais que uma informação ou uma ideia por frase. — Prescindir dos dados supérfluos. — Hierarquizar as informações recolhidas. — Valorizar a mensagem essencial (na notícia), escolher o ângulo de abordagem (na reportagem e também na entrevista e perfil). — Elaborar um plano de escrita a partir do ângulo adotado. — Resistir à tentação de qualificar os substantivos, apondo-lhes adjectivos que não acrescentem informação à mensagem, e de “enfeitar” os verbos com advérbios de modo. — Preferir a voz activa à voz passiva, bem como as formas verbais simples às compostas.

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3.4. Estrutura e composição O discurso é caracterizado por três elementos: (1) o conteúdo temático; (2) o estilo; e (3) a construção composicional (que são inseparáveis, segundo Mikhail Bakhtin). A composição refere-se: (1) ao conjunto de características que o autor estabelece no ato de invenção para criar a peça jornalística; (2) à combinação de elementos e à estrutura. A composição relaciona-se com o estilo jornalístico e é determinada pelos géneros textuais jornalísticos (notícia, reportagem), que convocam os tipos textuais adequados (narração, descrição, exposição, argumentação). Requer sempre criatividade e imaginação nas abordagens. Supõe: (1) Uma ideia unificadora; (2) a organização das ideias para determinar a técnica organizacional; (3) a linha do tempo e do espaço (o aqui e o agora > um passado e um futuro que não existem (o primeiro é uma memória, o segundo uma expectativa) > no jornalismo, resta o seu registo próprio, o presente especioso; (4) a ação; (5) os elementos e os dados recolhidos; (6) a factualidade, a trama; (7) as personagens (figuras e fontes); (8) o contexto, os dados do ambiente (os quadros); (9) discurso direto e indireto, a definição do narrador;

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e (10) a expectativa do público destinatário. A estrutura da narração é constituída por três partes: (1) Exposição; (2) Desenvolvimento da ação; e (3) Desfecho. Isto é, apresenta o assunto, desenvolve o processo e relata as ações até à sua conclusão. Sem dispensar nenhuma das componentes, a estrutura da narração é variável no jornalismo, dependendo do género textual e da técnica usada. A técnica da pirâmide invertida (um dos modelos de notícia) coloca o desfecho a abrir a peça. É em regra anti-cronológica. Começa pelo facto mais importante e mais recente. Já a reportagem ganha tensão e intensidade se o desfecho a finalizar (o remate). A estrutura da entrevista tem de ser necessariamente concebida por antecipação (caso se trate de entrevista como género autónomo, a conversa dialogada, no estilo ping-pong).

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3.5. A montra do jornal e a titulação A primeira página é a montra e a manchete é a chamada mais relevante. Ante-título Título Sub-título Entrada Intertítulo Legenda Destaque

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«Um título bem concebido e, numa peça informativa de maior fôlego, também um superlead atraente, um destaque significativo e, se possível, imagens que contem histórias – eis a receita para nos levar a ler o que o jornalista escreveu. «O título é a chave. Tem de chamar a atenção e de conseguir retê-la, ou seja, tem de saltar à vista e de mexer connosco. Se assim não for, de pouco serve: ignoramos o texto e viramos a página…» «Para saltar à vista, o título tem de ser encorpado; para mexer connosco, terá de surpreender-nos. Um bom título é um pregão que desperta em nos o desejo de saber mais sobre o facto ou a ideia que apregoa.» «Um publicitário diria que o título e o superlead correspondem, respectivamente, ao head-line e ao copy de um anúncio. Na mesma linha de pensamento, o destaque seria uma amostra do produto.» «Mas além dos títulos, dos superleads, das imagens e dos destaques, há, nas páginas dos jornais, outros elementos que os jornalistas não devem negligenciar, porque prestam valiosos serviços aos leitores. São (…) os intertítulos e as legendas.» Ricardo, Daniel (2003). Ainda bem que me pergunta – Manual de escrita jornalística (p.101), Lisboa, Editorial Notícias.

Títulos informativos precisam de um verbo (a ação, o sentido da mensagem) [o quê?, quem?, porquê?] Títulos incitativos podem dispensar o verbo. O título é uma unidade autónoma. Não é o começo do texto.

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# Módulo 4 # 4. Géneros jornalísticos 4.1. Géneros de informação e de opinião Os géneros jornalísticos podem ser informativos ou opinativos. Os géneros informativos representam o tipo nuclear dos textos jornalísticos. São eles a notícia, a reportagem, a entrevista e o perfil. O editorial, o artigo de opinião, o comentário, a crónica, a crítica e, entre outros, as cartas de leitores contam-se entre os géneros de opinião. São géneros informativos, aqueles em que o jornalista se cinge aos factos e em que não exprime opinião sua sobre os acontecimentos. Qualquer juízo de valor que a peça jornalística inclua terá de ser atribuída à fonte de informação que o declarou. Os géneros de opinião pressupõem desde logo argumentos, ideias e apreciações, que o seu autor defende ou contesta. Embora o jornalista possa assumir juízos de valor, não deixa de estar obrigado a cumprir a deontologia da profissão.

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4.2. Procedimentos que configuram o género da mensagem A mensagem é configurada pelo procedimento adotado pelo jornalista ou pela ideologia do medium. Modelo de prestação de serviço público (interesse público) Modelo centrado no interesse privado (comercialismo, sensacionalismo, alegado interesse do público) Os procedimentos ético-deontológicos e o tipo ideal de jornalismo (a sua cosmologia) são cruciais. Veja-se o exemplo de Tucídides, o general ateniense que viveu no século V a.C. e escreveu a História da Guerra do Peloponeso. Tucídides explicou na introdução da obra os seus métodos de relato, a metodologia da verdade que procurava estabelecer. «No que diz respeito ao meu relato factual dos acontecimentos (…) tomei por princípio não escrever a primeira história que me surgia e nem mesmo guiar-me pelas minhas próprias impressões gerais; ou presenciei pessoalmente os acontecimentos que descrevi, ou foram-me relatados por testemunhas oculares cujas descrições confirmei o mais aprofundadamente possível. «Nem mesmo assim foi fácil descobrir a verdade: diferentes testemunhas oculares forneciam relatos diferentes dos mesmos acontecimentos, devido à preferência que tinham por um ou outro lado ou devido a imperfeições da memória.» Tucídides (1991). History of the Peloponnesian War. Livros 1 e 2, tradução inglesa de C. F. Smith. Cambridge: Harvard University Press, 1991; 35-39.

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4.3. Notícia São três os seus elementos essenciais: [1] o acontecimento (que implica uma ação), [2] uma informação (o relato compreensível da ação) [3] e o público (a quem é dirigida esta informação). A elaboração de uma notícia implica a preexistência de um esquema mental sobre ela: primeiro a ideia, depois a escrita. Escrever é responder a duas questões centrais: o que se quer contar? A quem?» Cascais, Fernando (2001). Dicionário de Jornalismo – as palavras dos media. Lisboa: Editorial Verbo.

Critérios de noticiabilidade do acontecimento. 3 instâncias ou conjuntos diferenciados de critérios de noticiabilidade: «(a) na origem dos factos (selecção primária dos factos / valores-notícia), considerando atributos próprios ou características típicas, que são reconhecidos por diferentes profissionais e veículos da imprensa; «(b) no tratamento dos factos, centrando-se na selecção hierárquica dos factos e levando-se em conta, para além dos valores-notícia dos factos escolhidos, factores inseridos dentro da organização, como formato do produto, qualidade do material jornalístico apurado (texto e imagem), prazo de fechamento, infra-estrutura, tecnologia, etc., como também factores extra-organizacionais directa e intrinsecamente vinculados ao

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exercício da actividade jornalística, como relações do repórter com fontes e públicos; «(c) na visão dos factos, a partir de fundamentos éticos, filosóficos e epistemológicos do jornalismo, compreendendo conceitos de verdade, objectividade, interesse público, imparcialidade, que orientam inclusive as acções e intenções das instâncias ou eixos anteriores. Esses conjuntos, com certeza, não funcionam de modo isolado.» Silva, Gislene (2014). Para pensar critérios de noticiabilidade. In Silva, Gislene, Silva, Marcos Paulo da, e Fernandes, Mario Luiz (org.), Critérios de noticiabilidade: problemas conceituais e aplicações (pp.). Florianópolis: Editora Insular. Gislene Silva (Universidade Federal de Santa Catarina), Valores-notícia: atributos do acontecimento (Para pensar critérios de noticiabilidade I), Trabalho apresentado ao NP 02 – Jornalismo, do V Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom.

Na prática da produção da notícia, todos os critérios atuam em simultâneo. Lista de valores-notícia do acontecimento De Tobias Peucer [1690]: novidade, importância, insólito, negativismo, proeminência e audiência. A Mauro Wolf [2003]: importância do indivíduo (nível hierárquico), influência sobre o interesse nacional, número de pessoas envolvidas, relevância quanto à evolução futura. [Vários autores, várias enunciações em: 1690, 1695, 1922, 1934, 1959, 1965,1979, 1980, 1985, 1991, 1994, 1996, 2001, 2003…]

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Uma proposta de tabela de valores-notícia. Gislene Silva elaborou uma tabela que reúne os contributos reunidos ao longo de séculos e os sintetiza em 13 conjuntos. 1.Impacto; 2.Conflito; 3.Polémica; 4.Raridade; 5.Surpresa; 6.Tragédia/ Drama; 7.Proeminência; 8.Sucesso / Herói; 9.Entretenimento/ Curiosidade; 10.Conhecimento/ Cultura; 11.Proximidade; 12.Governo; 13.Justiça. Impacto

Número de pessoas envolvidas (no facto) Número de pessoas afectadas (pelo facto) Grandes quantias (dinheiro) Conflito

Guerra Rivalidade Disputa Briga Greve Reivindicação

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Polémica Controvérsia Escândalo Raridade

Incomum Original Inusitado Surpresa

Inesperado Tragédia/ Drama

Catástrofe Acidente Risco de morte e morte Violência / Crime Suspense Emoção Interesse humano Proeminência

Notoriedade Celebridade Posição hierárquica Elite (indivíduo, instituição, país) Sucesso / Herói

Entretenimento/ Curiosidade

Aventura

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Divertimento Desporto Comemoração Conhecimento/ Cultura

Descobertas Invenções Pesquisas Progresso Actividades e valores culturais Religião Proximidade

Geográfica Cultural Governo

Interesse nacional Decisões e medidas Inaugurações Eleições Viagens Pronunciamentos Justiça

Julgamentos Denúncias Investigações Apreensões Decisões judiciais Crimes

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Ricardo Cardet Uma definição mais genérica: “Notícia é um facto actual que tem interesse geral” [Notícia é o relato de um facto actual que tem interesse geral] Dois critérios: atualidade (em função do presente e periodicidade do meio) e interesse geral (facto que interessa a muita gente). Cardet, Ricardo (1988). Manual de Jornalismo (6ª ed.). Lisboa: Editorial Caminho.

Os elementos da narrativa são constituintes do discurso jornalístico. Ordena o que se expressa. Indicam o sujeito (Quem), exprimem a acção (O quê), situam no tempo (Quando) e no lugar (Onde) e assinalam o modo (Como) e a causa (Porquê). Modo e causa estabelecem relação com a acção, o verbo. O lead é uma técnica de estruturação da notícia que foi cunhada no século XIX pela escola de jornalismo anglo-saxónica. O lead é a cabeça da notícia. Vejamos, a título de exemplo, o seguinte parágrafo: “O respeito pelos direitos da criança [Quem] cabe em primeiro lugar ao Estado [O quê], tanto hoje como no futuro [Quando], em Lisboa como em qualquer lugar do país [Onde], ao cumprir e fazer cumprir [Como] a Convenção que ratificou em 1990 [Porquê].” Mas isto não é uma notícia. In César, Orlando (2011). Crianças vs Riscos/ Perigo. Como comunicar.

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Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco. Acessível em: http://www.cnpcjr.pt/Manual_Competencias_Comunicacionais/default.html.

O parágrafo anterior contém todos os elementos da narrativa, tal como o lead de uma notícia. Todavia, é duvidoso que alguém lhe atribuísse essa função. Configura, no seu carácter imperativo, o tipo de discurso de alguém que insta o Estado a cumprir o compromisso assumido. A notícia, por seu turno, requer atualidade e relevância. Com recurso ao mesmo tipo de elementos, podemos construir uma mensagem noticiosa: “O primeiro-ministro afirmou que cabe ao Estado garantir os direitos da criança, ao cumprir e fazer cumprir a Convenção que ratificou em 1990, no decurso da cerimónia ontem realizada, em Lisboa, para assinalar o Dia Mundial da Criança”. Os acontecimentos são a matéria-prima das notícias. Há

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acontecimentos rituais e imprevistos. A autoridade do jornalista enquanto relatores dos acontecimentos.

Metalúrgica Previdente, anos 70.

Duplo posicionamento, com dois modos de interpretação, um local e outro durativo. (1) presença nos acontecimentos, de acordo com «a ideologia da autenticidade de “testemunha ocular”.» (2) mesmo sem lá estarem, «autoridade cultural» em que «posicionam o acontecimento crítico num continuum temporal mais amplo» e o avaliam por analogia. Zelizer, Barbie (2000). Journalists as Interpretive Communities. Revista Comunicação e Linguagens, n.º 27, 33-61.

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4.4. Entrevista e Perfil A entrevista assume uma tripla função: (1) prática [diálogo e interacção do jornalista com outrem para averiguação]; (2) recurso [meio para a obtenção de informações e declarações destinadas a utilizar em peças dos diferentes géneros jornalísticos]; e (3) género autónomo.

A entrevista como recurso. Chegada de emigrantes portugueses à estação de Santa Apolónia, Lisboa, 1985.

A entrevista como género autónomo. Entrevista a Graça Mexia (diplomada em Fisioterapia Obstétrica, em Paris, e licenciada em Educação Física e em Psicologia Clínica, em Lisboa), final dos anos 70.

A entrevista como género autónomo consiste num diálogo entre duas pessoas, entrevistado e entrevistador. Não é, contudo, um diálogo qualquer.

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É uma conversa que carece de preparação do jornalista. Requer conhecimento sobre quem é entrevistado e sobre o tema ou temas em discussão. E exige a organização e a decisão sobre a abordagem, que lhe imprimirá o factor distintivo. O perfil é um retrato em que o tema é o próprio entrevistado. A marcação A negociação da entrevista com o entrevistado A simetria de posições Quem conduz a entrevista O rigor na transcrição e na reprodução das

declarações do entrevistado A edição, o título, as fotos e a escolha dos destaques

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4.5. Reportagem

Minas da Panasqueira, anos 80.

A reportagem intenta dar resposta ao como e ao porquê dos elementos da narrativa. A reportagem, uma peça mais elaborada, que pretende colocar o público [leitores, ouvintes e espectadores] no local dos acontecimentos, migrou da literatura para o jornalismo. In César, Orlando (2011). Os géneros jornalísticos. Acessível em http://www.cnpcjr.pt/Manual_Competencias_Comunicacionais/int_comp_generos.html

Embora compartilhe a finalidade dos géneros informativos, a composição, objectivos enunciativos e

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estilo conferem-lhe características específicas. O autor não é um observador solitário, está acompanhado por aqueles que interpela e cujo discurso ecoa no texto, assim como compõe imagens escritas, sonoras e visuais que orientam o percurso. É uma peça em que o jornalista deixa as suas impressões digitais. A interpretação que faz dos acontecimentos deixa uma ganga de subjectividade, mas sem resvalar na armadilha de uma conotação que afecte o juízo ético. Apesar do género rarear, há excelentes reportagens de novos jornalistas, assim como há registo de magníficas peças de velhos jornalistas. O planeamento do trabalho de campo Pesquisa documental e estabelecimento de

contactos As pessoas, o ambiente e a ação A estrutura da peça e o foco da abordagem Agarrar o leitor desde o arranque até ao remate Ativar o interesse ao longo do texto, a função dos

intertítulos A edição, o título, as fotos, as legendas

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Orlando César Jornalista, CP n.º 603 Formador Cenjor Professor ESE/IPS

Notícias da Amadora, num bairro de lata da Amadora, Natal de 1972

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Redação de o diário, na Venda Nova, com presença reduzida, em agosto, nos anos 80.

Redação da Sábado, em junho de 1991, no 3º aniversário da revista.