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JOSÉ CARLOS NEVES LOPES
teatro La Scala, de
Milão, procurava uma
soprano para nova
montagem de Aída em
comemoração aos cinquenta
anos da morte de Giuseppe
Verdi, já que tinha havido
um desencontro entre
Renata Tebaldi e o maestro
Victor De Sabata.
Constantina, credenciada
por seus sucessos anteriores,
apresentou-se ao grande
maestro para uma audição.
Dentre as seis sopranos
ouvidas, ela foi a escolhida.
Em 20 de fevereiro de 1951,
Constantina apresentava-se
no palco da mais famosa
casa de ópera da Europa,
tendo ao seu lado Mario Del
Monaco, Fedora Barbieri e
Ugo Savarese.
La Scala abriu-lhe outras
portas: Bari, Verona,
Londres, Trieste, Monte
Carlo, Paris, Augsburg,
Lisboa, Genova, Nápoles,
Bolzano, Bolonha, Carpi,
Salsomaggiore e outras
cidades.
O
1
JOSÉ CARLOS NEVES LOPES
CONSTANTINA ARAÚJO UMA SOPRANO BRASILEIRA
(Álbum de recortes)
UENP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ Campus de Cornélio Procópio
2015
2
CONSTANTINA ARAÚJO, UMA SOPRANO BRASILEIRA
© 2015 JOSÉ CARLOS NEVES LOPES
Edição eletrônica autorizada para a Universidade Estadual do
Norte do Paraná - UENP
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publica-
ção poderá ser reproduzida por qualquer meio, guardada pelo
sistema retrieval ou transmitida, sem prévia autorização do
autor, por escrito.
Revisão, editoração, capa e diagramação: Newton C. Braga
L8641c Lopes, José Carlos Neves Constantina Araújo, uma soprano brasileira / José Carlos Ne-
ves Lopes. – Cornélio Procópio, PR: Universidade Estadual do Norte do Paraná, 2015.
190 p. : il.; 22cm 1. Araújo, Constantina, 1922-1966. 2. Soprano (Cantoras) –
Biografia. I. Título.
CDD 927.892.5 CDU 929.134.3(81)
Índices para catálogo sistemático:
1. Biografia
2. Canto lírico
2. Ópera
UENP – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ Av. Getúlio Vargas, 850
86400-000 Jacarezinho, PR
UENP – CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO Unidade Campus: Rodovia PR 160, Km 0 – Unidade Centro: Av. Portugal, 340
Fone (43) 3904-1922 – Fax (43) 3523-8424
E-mail: [email protected]
Cornélio Procópio, Estado do Paraná
CEP 86300-0007
3
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ
Governador CARLOS ALBERTO RICHA
Secretário da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior JOÃO CARLOS GOMES
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ
Reitora FÁTIMA APARECIDA DA CRUZ PADOAN
Vice-Reitor FABIANO GONÇALVES COSTA
UENP – CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO
Diretora VANDERLEIA DA SILVA OLIVEIRA
Vice-diretor SÉRGIO ROBERTO FERREIRA
Centro de Letras, Comunicação e Artes
Diretor THIAGO ALVES VALENTE
4
“É uma voz de grande beleza que se
impôs imediatamente desde sua
primeira aparição na Itália”
5
A Cysalpino Maia Carvalho, meu amigo e fã nº 1 de Constanti-
na Araújo, dedico este trabalho.
A Renata Araújo, in memoriam.
6
APRESENTAÇÃO
Devo ter ouvido falar de Constantina Araújo pela primeira
vez, nos anos 1990. Embora frequentasse os meios operísticos de
São Paulo desde os anos 1960, seu nome me era totalmente desco-
nhecido. Devo essa descoberta ao seu “fã nº 1”, como passei a de-
nominar Cysalpino Maia Carvalho, que conheci nas filas de compra
de ingresso para os concertos e óperas do Teatro Municipal de São
Paulo, e que se tornou meu amigo.
Cysalpino, a cada vez que nos encontrávamos, contava-me
fatos e “causos” sobre a vida de Constantina Araújo, que ele acom-
panhou desde o início dos anos 1940, ainda na Rádio Cultura. Mos-
trou-me pouco a pouco o acervo que amealhara ao longo de 26
anos, grande parte deixado um suas mãos pela própria soprano.
Ele falava dela com paixão, e era mesmo um apaixonado, a
ponto de montar um álbum de recortes de jornais europeus e nacio-
nais sobre a carreira de Constantina na Europa.
Graças a ele, conheci Renata Araújo, a irmã caçula de Cons-
tantina, que também possuía um acervo, menor, e que vinha há anos
tentando manter viva a memória da irmã que ela idolatrava. Juntos
tentamos, dentro de nossas possibilidades, trazer ao conhecimento
das novas gerações o trabalho dessa grande soprano paulista, por
ocasião dos cinquenta anos de sua apresentação no Scala, em 1951.
Infelizmente, Renata Araújo faleceu em 2014, não tendo tomado
conhecimento deste meu trabalho.
Cysalpino tinha uma fita com algumas árias cantadas pela
soprano em programas de rádio na Itália. Pouco a pouco, fui reco-
nhecendo as qualidades de Constantina e me revoltando com o des-
caso que lhe foi oferecido pelos meios operísticos oficiais de sua
terra natal.
Criei, então, um blog em sua homenagem, alimentado com
material que me fora emprestado por Cysalpino. Desse modo, seu
nome tornou-se conhecido por novas gerações em diversos países
europeus e da América do Norte.
Vibramos quando um selo europeu resolveu gravar em CD a
ópera de Verdi “Ernane”, que ela fez em 1958 juntamente com ou-
tros três grandes nomes do canto italiano. Tínhamos agora uma ópe-
ra completa cantada por ela em forma de concerto.
7
Com o passar dos anos, Cysalpino foi me passando todo seu
arquivo sobre Constantina, o que tornou possível a feitura deste li-
vro digital em conjunto com o professor Newton C. Braga, da Uni-
versidade Estadual do Norte do Paraná. José Carlos Neves Lopes
8
SUMÁRIO
1 Conhecendo Constantina Araújo.............................................. 10
1943
2 A primeira apresentação em São Paulo .................................... 14
1946-1950
3 Constantina na Rádio Gazeta de São Paulo ............................. 16
4 Constantina em Othelo, Porto Alegre ...................................... 40
5 Constantina no Teatro Municipal de São Paulo ....................... 43
1947 ....................................................................................... 43
1948 ....................................................................................... 50
1949 ....................................................................................... 60
1950 ....................................................................................... 66
6 Constantina e o Teatro Municipal de São Paulo ...................... 72
1951
7 Constantina em Modena, Reggio Emilia e Veneza .................. 75
8 A estréia em La Scala, de Milão .............................................. 77
9 Os quatro programas do Scala ................................................. 82
10 “Quando a cortina desceu” ..................................................... 88
11 Apresentações fora do palco .................................................. 90
12 Aída, em Bari, na Sicília, Itália .............................................. 94
13 No Scala, Un Ballo in Maschera, extra temporada ................ 95
14 Aída, no Castelo da Lombardia, Sicília .................................. 100
15 Constantina Araújo na arena de Verona................................. 102
16 Fresco Notturno, no Canal Grande, Veneza .......................... 107
17 Aída na província autônoma de Bolzano ............................... 111
1952
18 Un Ballo in Maschera, em Trieste, Itália ............................... 112
19 La Vita Breve, no Scala, em 1952 .......................................... 117
20 Aída, em Monte Carlo, Principado de Mônaco ...................... 122
21 Madame Butterfly, em La Scala ............................................. 123
22 Mefistofele, na Arena Flegrea, em Napoles ........................... 129
23 Un Ballo in Maschera, no Royal Opera House, Londres ...... 130
1953
24 Madame Butterfly, em Monte Carlo e Paris, em 1953 ........... 136
25 Apresentação em Lisboa, Aída, de Verdi ............................... 142
9
26 Aída, no Teatro Carlo Felice, de Gênova ............................... 146
27 Constantina em L'Amore dei Tre Re, de Italo Montemezzi ... 147
28 Aída, no Castelo de San Giusto, em Trieste ........................... 149
29 Aída e I Vespri Siciliani, no Teatro Augsburg, na Alemanha 151
1954
30 Constantina e a ópera Oberon, de Weber, em 1954 ............... 154
31 Constantina no Teatro Municipal do Rio de Janeiro .............. 164
32 Duas entrevistas publicadas em jornais cariocas ................... 176
1957
33 Aída, no Teatro Duse, em Bolonha, 1957 .............................. 179
34 Il Trovatore, Arena Flegrea, em Nápoles............................... 180
1966
35 A morte de Constantina Araújo, 1966.................................... 181
Anexo 1 – Apresentações na Europa .......................................... 184
Anexo 2 – Constantina Araújo no YouTube ............................... 187
Anexo 3 – Intérpretes, regentes e críticos nas apresentações...... 188
10
1
Conhecendo Constantina
Araújo
Constantina Araújo nasceu na cidade de São Paulo, em 28
de maio de 1922, filha de pai português e mãe italiana de Nápoles.
Tendo demonstrado desde criança vocação para o canto, foi matri-
culada no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde
estudou com Francesco Murino.
Sua primeira experiência como profissional se deu na antiga
Rádio Cultura. Dali para a Gazeta, emissora que possuía orquestra
própria, promovia e transmitia concertos ao vivo, foi um pulo.
A bela voz de soprano lírico-spinto logo despertou a atenção
dos organizadores das temporadas do Teatro Municipal de São Pau-
lo, onde Constantina estreou, em 1947, fazendo o papel de Leonora
na ópera Il Trovatore, de Verdi.
Em todas as ocasiões que se apresentou nessa casa de ópera,
seu desempenho foi elogiado pela crítica e encantou o público. Lá
cantou, ainda, em Aída, Lo Schiavo, Cavalleria Rusticana e La
Bohème, sempre fazendo o principal papel feminino e tendo ao seu
lado cantores de renome internacional como Mário Del Monaco,
Gigli, Barbieri e outros.
Apresentou-se também em Porto Alegre, no ano de 1947,
nas óperas Otello, Il Trovatore e Aída.
Em 1950, devido a rivalidades muito comuns nos meios ar-
tísticos, foi despedida da Rádio Gazeta e rejeitada para as tempora-
das líricas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Constantina lembrou-
se, então, de um convite feito pelo secretário de Mario del Monaco,
Carlo Tedeschi, após ouvi-la em audição privada no Brasil.
L'impressione che essi ne ebbero fu otima, tanto che il
Tedeschi, rientrato in Italia, le scrisse invitandola a pas-
11
sare l'oceano, sicuro che il giovane soprano in un modo o
nell'altro si sarebbe affermato.
Com cara e coragem, Constantina foi para a Europa. De-
sembarcando em Zurique em 15 de novembro de 1950 e, no dia se-
guinte, estava em Roma.
Il 15 novembre Constantina atterrato a Zurigo e il giorno
dopo era a Roma, dove il Carlos si era ficato ad a aspe-
talla.
Tedeschi conseguiu que estreasse na Itália, no Teatro Muni-
cipal de Modena, em janeiro de 1951, numa montagem da ópera Aí-
da. Era o ano do cinquentenário da morte do compositor.
O sucesso de sua apresentação repercutiu positivamente na
imprensa:
12
“Aida”, impersonata da Constantina Araujo, ha
aumentato la sorpresa del pubblico, rrrlasciando
veramente un vivo entusiasmo in tutti gli spet'atori, chi
l'hanno applaudita con passione, sopratuttuto per
l'efficace dosatura imposta al suol davvero notevoli mezzi
canori, rivelando cosi una seria preparazione dello
spartito verdiano.
L'Avvenire d' Italia
A indisposição de uma cantora levou Constantina para o La
Fenice, de Veneza, onde também fez Aída com êxito. Em seguida, o
teatro da cidade de Reggio-Emilia, incluiu Aída em sua temporada
de 1951, dando o papel para Constantina:
[...] il trionfo di questa cantante, la cui voce di smalto
nitidissimo e la efficacia scenica, che ben si avvale di una
gura stupendamente adatta al personaggio hanno
incantato e soggiogato i critici più pretenziosi.
Após esse novo sucesso, surgiu, de repente, a grande opor-
tunidade. La Scala, de Milão, procurava uma soprano para nova
montagem de Aída, em comemoração aos cinquenta anos da morte
de Giuseppe Verdi, já que tinha havido um desencontro entre Rena-
ta Tebaldi e o maestro Victor De Sabata. Constantina, credenciada
por seus sucessos anteriores, apresentou-se ao grande maestro para
uma audição. Dentre as seis sopranos ouvidas, ela foi a escolhida.
Em 20 de fevereiro de 1951, Constantina apresentava-se no
palco da mais famosa casa de ópera da Europa, tendo ao seu lado
Mario Del Monaco, Fedora Barbieri e Ugo Savarese.
[...] abbiamo avuto la surpresa di scropire una giovane
sudamericana, Constantina Araujo, che nella parte di
Aida si è rivelata superba interprete, dotada de belissima
voce, dosata com intelligenze, sicura nella intonazione, e
che si è fatta ammirare anche per la sua grazia.
La Scala abriu-lhe outras portas: Bari, Verona, Londres, Tri-
este, Monte Carlo, Paris, Augsburg, Lisboa, Genova, Nápoles, Bol-
zano, Bolonha, Carpi, Salsomaggiore e outras cidades.
Seu repertório incluía Aída, Un Ballo in Maschera, I Vespri
13
Siciliani, Ernani La Vita Breve, Mefistofole, Madama Butterfly,
L’Amore dei Tre Re, Oberon e Cavalleria Rusticana.
Em outubro de 1954, Constantina foi convidada a apresen-
tar-se no Rio de Janeiro, onde fez Aída, seu principal papel e o que
cantou o maior número de vezes. Em 1954, apesar do sucesso inter-
nacional, as portas do Teatro Municipal de São Paulo ainda conti-
nuavam fechadas para Constantina Araújo. Numa montagem de Lo
Schiavo, de Carlos Gomes, em comemoração ao 4º Centenário da
Cidade de São Paulo, o Municipal trouxe Antonieta Stella, soprano
italiana, para fazer o principal papel feminino dessa ópera.
Em 1966, Constantina veio para São Paulo para uma pe-
quena intervenção cirúrgica. Quatorze dias após a cirurgia, faleceu,
repentinamente, vítima de embolia pulmonar. Detentora de tão bela
carreira, Constantina Araújo é, sem dúvida, motivo de orgulho na-
cional.
Em 2001, foi lançada uma gravação que Constantina fez em
1958, ao lado de Mario Del Monaco, Cesare Siepi e Mario Sereni,
sob a regência de Fernando Previtali, para uma transmissão radiofô-
nica da RAI, da ópera Ernani de Giuseppe Verdi. Trata-se de um
documento raro que atesta a beleza e a qualidade de seu registro.
14
2 A primeira
apresentação em São Paulo
A estreia de Constantina aconteceu em 14 de setembro de
1943, no auditório da Associação Lírico-Musical Brasileira, na ca-
pital de São Paulo. Foi um concerto lírico, com a participação de
vários jovens intérpretes. Os cantores eram acompanhados ao piano
pelo maestro Donato Notari.
Há um detalhe interessante: Constantina se apresentou em
papéis de meio-soprano, ou seja, ainda estava à “procura” de sua
voz. É um fato que ocorre algumas vezes, caso do tenor Plácido
Domingo que, no início da carreira, fazia papéis de barítono.
Ela cantou árias de Bizet – Carmen –, de Verdi – Azucena,
de Il Trovatore, e Amneris, da ópera Aída.
1943
15
Programa do “Concerto Lírico”, promovido pela As-
sociação Lírico-Musical Brasileira, fundada em
1938, que seria realizado no dia 14 de setembro de
1943, às 21 horas, em sua sede social, à Rua São
Bento, 405, 7º andar, na capital paulista.
16
3 Constantina na
Rádio Gazeta, de São Paulo
A Rádio Gazeta de São Paulo, PRA-6, foi inaugurada pelo
jornalista e empresário Casper Líbero, em 15 de março de 1943. A
emissora localizava-se na atual Avenida Casper Líbero. Tinha uma
programação de alto nível e, nessa linha, possuía excelentes pro-
gramas voltados para a música erudita, com grande ênfase na divul-
gação da música operística. A emissora era dotada de orquestra pró-
pria, sob a regência de dois maestros de alto gabarito, Eduardo de
Guanieri e Armando Belardi. Além disso, mantinha sob contrato jo-
vens cantores e cantoras de talento e um coral próprio. Os concertos
eram gratuitos e transmitidos ao vivo
Constantina Araujo, soprano que iniciara a carreira lírica na
antiga Rádio Cultura, em 1943, logo foi contratada pela emissora,
tornando-se em pouco tempo um dos talentos da ópera.
1946-1949
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1946
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Observe-se alguns detalhes do belo palco da emissora.
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A Rádio Gazeta, além de outros, tinha dois programas ope-
rísticos de primeira linha: Cortína Lírica e Ópera em Desfile. No
primeiro, era apresentada uma ópera completa e no segundo, trechos
de óperas.
1947
Vários cantores e cantoras da emissora se apresentando em trechos de ópe-
ras. Agnes Ayres, soprano, uma das principais da emissora é a segunda, a
partir da esquerda, Constantina Araújo é a sexta.
27
Na 1ª foto, o Maestro Corrado Muccini agradecendo os aplausos; na 2ª, trio
formado por Gilda Rosa, Constantina Araújo e Osvaldo Linares
(29/03/1947)
28
1948
Na 1ª foto, Américo Basso, Constantina Araujo, Assis Pacheco e Gilda Ro-
sa; na 2ª, Matilde Arbuffo e Paulo Ansaldi
29
30
Carlo Prina, no jornal Fanfulla, da colônia italiana paulista,
assim se expressou sobre o desempenho de Constantina:
Constantina Araujo [sic] che durante tutta l'opera impre-
sionó per la prodigioza resistenza della sua “voce d'oro”
che ingrandirsi ogni giorno piú, ma non giá a svantaggio
dell'estensione, come lo dimostró sabato sera dominando
con limpidezza adamantina le acute e scabrose “tessitu-
re” che il maestro Callia affidó alla sua dificile parte. La
frasi angosciose con cui Efisiedda implora l'antico aman-
te affinché fugga, documentarono sempre maggiormente
l'italianissima e drammatica sensibilitá do Constantina
Araujo.
Assim era o canto de Constantina – “drammatica sensibilitá”
31
–, que é possível sentir ao se ouvir o pouco que restou em gravação
de suas interpretações.
32
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4 Constantina em
Othelo, Porto Alegre
Após terem atuado juntos na ópera Il Trovatore, de Verdi,
em 26 de janeiro de 1947, Constantina Araujo e o barítono Paolo
Ansaldi foram convidados a participar da encenação da ópera
Othello, de Giuseppe Verdi, no Teatro São Pedro, de Porto Alegre.
Nessa ocasião, foram companheiros do mesmo tenor italiano com
quem contracenaram em Il Trovatore, Giulio Lucchirari.
Ansaldi, foi muito elogiado pela crítica da capital gaúcha:
Tal é a inteligência que esse
artista põe no desdobramento
do tipo, que chega-se a pen-
sar que “Yago” foi feito sob
medida para o sr. Ansaldi.
Cênica e vocalmente, aí está
o distinto baritono na pleni-
tude de sua arte.
Jornal do Dia, 22-7-1947.
[...] Como Desdêmona, a so-
prano Constantina Araujo.
Foi uma estréia auspiciosa.
Tem bôa presença cênica e
uma voz de excelente quali-
dade: grato timbre, lindos
pianíssimos (como na Ave
Maria), centro bem trabalha-
do e graves sonoros. É uma
artística lírica de futuro e o
sucesso que obteve recente-
1947
41
mente em São Paulo, na temporada de verão, se justifica
plenamente.
Paulo Antônio, Crônica de Ópera, Folha da Tarde
Uma revelação tocante foi a arte brasileira de Constanti-
na Araujo, que nos veio de São Paulo como Paulo Ansal-
di. No perene triângulo dramático, figurou essa soprano
Desdêmona de maneira expressiva. Personalidade moça,
e de visão agradável, a nobre soprano dramatizou com
capricho e cantou de modo a valorizar com gosto toda a
linhagem musical da soprano. É uma cantora que se im-
põe pela maneira com que se ha no plano teatral e musi-
cal. No ultimo ato, a interprete recebeu a consagração
publica, como o barítono e o tenor no decurso da opera.
Correio do Povo
A outra figura que merece um destaque muito especial é a
soprano brasileira, senhorinha Constantina Araujo [...].
Ótima figura, artista apreciabilíssima e vocalmente uma
surpresa agradável como poucas, a senhorinha Araújo
encantou o público de sexta-feira. Voz de timbre dramáti-
42
co acentuado, e de excelente escola, acreditamos raras
vezes terá a nossa plateia ensejo de encontrar melhor
“Desdêmona”. A Ave Maria e a “Preghiera” do último
ato, cantadas a meia voz, estiveram soberbas.
JSR, Jornal do Dia
43
5 Constantina
no Teatro Municipal de,
São Paulo
1947
Esse foi o ano de sua estréia no palco do Teatro Municipal
de São Paulo, onde ela atuou em três récitas de “Il Trovatore”, de
Verdi, e uma de “Lo Schiavo”, de Carlos Gomes.
1947-1950
44
45
A soprano Constantina Araújo foi a Leonor suave e ro-
mântica. Como ainda, recentemente levada em récita ex-
traordinária, deixou a melhor impressão ao público. [...]
No Trovador, cuja parte para soprano está eivada de difi-
culdades, Constantina Araújo se desincumbiu com muito
acerto. Sua voz é plástica, doce de timbre e bastante ex-
tensa. Sua escola de canto também é esclarecida e muito
desembaraçadamente a soprano emite as notas picadas
no registro agudo e atinge as notas graves sem esforço e
com igualdade de timbre. Seus pianíssimos, que já tive
ocasião uma vez de ressaltar, são delicados, de fino teci-
do sonoro. E ainda sua movimentação cênica é elegante e
ágil e discreta. No ato final, por exemplo, foi um “char-
me” e sua queda teve um travo amargo de realidade en-
volto numa deliciosa aragem de fantasia.
Paulo Antônio (Folha da Tarde)
46
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1948
Na temporada desse ano, Constantina atuou em três óperas:
Lo Schiavo, Cavalleria Rusticana (2 récitas, com elencos diferentes,
uma delas no Estádio do Pacaembu) e Il Trovatore. Numa das réci-
tas de Cavalleria contracenou com o grande tenor Beniamino Gigli.
51
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Constantina, no papel de Santuzza, na ópera Cavalleria Rustica-
na, de Pietro Mascagni.
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1949
La Bohème, de Giacomo Puccini, foi um espetáculo extra do
ano de 1949.
O jornal da colônia italiana, Fanfula, promoveu esse espetá-
culo em homenagem à façanha dos aviadores Bonzi e Lualdi. Em
1948, Leonardo Bonzi e Maner Lualdi, usando um avião de peque-
no porte batizado “Anjo das Crianças”, percorreram diversos países
da América do Sul para sensibilizar a opinião pública sobre a situa-
ção das crianças mutiladas e órfãos.
Na foto, o maestro Eduardo di Guarnieri, o maestro Mechet-
ti, de braços dados com Constantina e Lia Roberti, e Assis Pacheco.
Da esq.: Maestro Eduardo de Guarnieri, Constantina Araujo, avia-
dor Leonardo Bonzi, Lia Roberti e aviador Maner Lualdi.
61
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63
A ÚLTIMA ÓPERA NO TEATRO MUNICIPAL, EM 1949
Cavalleria Rusticana encerrou a temporada de 1949. A úl-
tima de que Constantina participou em São Paulo. Não foi incluída
na temporada de 1950 e, no Rio de Janeiro, onde foi tentar a inclu-
são na temporada carioca, a comissão recusou-se a ouvi-la. Daí a
decisão de ir para a Itália.
64
65
Infelizmente, o recorte da crítica dessa apresentação escrito
por Armando de Alcântara Pacheco, não traz o nome do órgão jor-
nalístico que a publicou. Ele prognosticou o futuro próximo de
Constantina, e talvez as suas palavras a respeito do desempenho da
soprano a tenha influenciado na decisão de ir tentar a sorte na Itália.
Destacamos aqui um trecho de sua crítica:
Dona de um impecável timbre de voz, Constantina Arau-
jo, que se acha em plena juventude, está fadada a ser um
soprano dramático de renome internacional. (o grifo é
nosso)
Ao final de sua crítica diz ainda:
(...) tomamos a liberdade de sugerir a direção da Rádio
Gazeta, esforços no sentido de tornar conhecida em pal-
cos da Europa, o soprano dramático Constantina Araujo.
66
1950
Nesse ano, Constantina apresentou-se no Teatro Municipal
em dois concertos, ocasião em que foi executada a 9ª Sinfonia, op.
125, de Beethoven, em Ré menor.
67
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71
72
6 Constantina e
o Teatro Municipal
de São Paulo
Por que Constantina não foi chamada para participar da
temporada de 1950, no Teatro Municipal de São Paulo?
Passados sessenta cinco anos, esta pergunta ainda se encon-
tra sem uma resposta e provavelmente nunca terá. Em conversa com
pessoas que frequentavam o meio operístico nessa época falou-se de
rivalidade que existiria entre Constantina e Agnes Ayres, ambas so-
pranos e integrantes do elenco da Rádio Gazeta.
Agnes era a estrela da emissora de rádio paulista e, ao ausen-
tar-se do país para algumas apresentações na Europa, teria perdido
essa posição para Constantina. Ao retornar, as duas teriam tido um
entrevero, que resultou na demissão de Constantina da Rádio Gaze-
ta, e também na sua não escalação para a temporada de 1950 do
Municipal. A rivalidade possivelmente existiu entre as duas estrelas
da Gazeta, mas não a ponto de ter sido essa a causa, creio.
O que intriga é o fato de ela ter sido deixada de lado na tem-
porada de 1950 e nunca mais ter sido chamada para apresentar-se na
sua terra natal, mesmo após todo o sucesso alcançado na Europa.
As óperas em que ela fez mais sucesso, Aída e Lo Schiavo,
que integravam seu repertório, fizeram parte da temporada de 1955,
quando o Municipal foi reaberto após uma reforma. Mas há um da-
do interessante: a partir de 1950, as temporadas passaram a ser or-
ganizadas pelo empresário Alfredo Gaglioti, que, ao que parece, não
se mostrou interessado em contratar Constantina a despeito de seu
extraordinário sucesso na Europa.
O artigo de jornal a seguir, sem data e indicação de origem,
propõe questões a respeito e faz um questionamento à Secretaria de
Educação da capital paulista. Infelizmente, não foi possível averi-
guar se houve resposta.
1950
73
Com a “louca” atividade a que se lançou de 1951 a 1954,
sem contar os papeis que interpretou em São Paulo nos anos finais
da década de 1940, sua voz perdeu muito do brilho. No entanto, isso
não a impediu de, em 1958, ter sido escolhida pela RAI para uma
apresentação radiofônica de Ernani, de Verdi. Lançada em CD, essa
74
apresentação dá mostras da qualidade vocal e interpretativa da so-
prano num papel difícil.
Perderam a oportunidade de vê-la novamente no palco do
Municipal, os seus muitos fãs paulistanos. Os que puderam foram
ao Rio de Janeiro, em 1954, para vê-la em Aida.
Nem ao menos uma homenagem póstuma, em várias opor-
tunidades propícias, o Teatro Municipal de São Paulo foi capaz de
lhe oferecer.
É de se imaginar a mágoa e a tristeza que Constantina levou
para o túmulo, quando morreu aos 44 anos em sua terra natal.
Nada lhe foi oferecido na Cidade de São Paulo, nenhuma
placa ou nome de rua: foi simplesmente esquecida pelos responsá-
veis pela ópera em São Paulo. Somente seus inúmeros fãs até hoje
dela se recordam com carinho.
Um deles, Cysalpino Maia, responsável pelo acervo que tor-
nou possível a elabora-
ção deste livro, até hoje
fala de sua Leonora, em
Il Trovatore, de Verdi,
que ele viu e ouviu pela
última vez em 1949. Fi-
cou sendo sua interpre-
tação preferida desse be-
lo papel.
75
7 Constantina em
Modena, Reggio-Emilia
e Veneza
O acaso foi favorável a Constantina logo após sua chegada à
Itália, em novembro de 1951. O acaso e a experiência de seu empre-
sário, Carlo Tedeschi, o qual, aproveitando-se das oportunidades
surgidas, conseguiu que Constantina se apresentasse nas montagens
de Aída que os teatros dessas localidades haviam programado para o
ano do cinquentenário da morte de Giuseppe Verdi.
No Teatro Co-
munale, de Modena,
Constantina atuou ao
lado de Mario Filip-
peschi, tenor, Anselmo
Colzani, barítono, Gior-
gio Algorta, baixo, e
Dora Minarchi, mezzo-
soprano, sob a regência
de Francesco Molinari
Pradelli.
Com o mesmo
elenco atuou na Aída
montada na vizinha
Reggio-Emilia, no Tea-
tro Municipal.
E, por fim, no
La Fenice, de Veneza,
onde atuou pela primei-
ra vez com a já famosa
1951
76
mezzo búlgara Elena Nicolai, o tenor Mirto Picchi, o barítono Ugo
Savarese e o baixo Duilio Baronti, sob a regência de outro grande
maestro italiano Oliviero di Fabritiis.
77
8
A estreia em La Scala, de Milão
Em 20 fevereiro de 1951, comemorando os 50 anos do fale-
cimento do compositor italiano Giuseppe Verdi, a paulistana Cons-
tantina Araújo, que chegara à Itália no ano anterior, estreava num
dos mais importantes teatros da Europa: o Scala de Milão, sob a re-
gência do renomado maestro Victor De Sabata.
O público desse teatro italiano é rigorosíssimo, até mesmo
em nossos dias. Vários cantores foram vaiados em inúmeras ocasi-
ões. A expectativa era grande e os que lá estavam se perguntavam:
“Será mesmo boa essa brasileira?”
Havia o atenuante de duas apresentações anteriores, em Mo-
dena e em Veneza, no teatro La Fenice, em que o público aplaudiu
com fervor a jovem soprano brasileira.
La parte di “Aida” è stata sostenuta iersera con vivo
successo dalla giovane artista brasiliana Constantina
Araujo, la quale ha superato la prova con una fresca
stesa, sicura voce, drammaticitá di accenti, e nonotevole
morbidezza d’inflessioni. Vivi applausi le sono stati
rivolti, specialmente al terzo atto, dal pubblico che
esauriva il teatro e che la festeggiato insieme a lei anche
gli altri interpreti e il m.o Oliviero De Fabritis.
apontava o crítico do Gazzetino, de Veneza.
Constantina tinha uma vantagem: já atuara nessa ópera, em
São Paulo, ao lado do grande tenor Mario del Monaco. Não obstan-
te esse fato, podemos imaginar a ansiedade que tomava conta da so-
prano. O artigo publicado na revista Ilustrazionne del Popolo, de 4
de março de 1951, dá uma amostra dos momentos que antecederam
1951
78
a entrada de Constantina no palco do Scala:
Outra
famosa re-
vista italia-
na, Settimo
Giorno, em
sua edição
de 15 de
março, pu-
blicou uma
página intei-
ra com fotos
em cores dos
preparativos
de Constan-
tina no ca-
marim.
79
Por fim, ei-la em cena:
Após o êxito retumbante, a mezzo Fedora Barbieri (Amne-
ris), o regente Victor De Sabata e Constantina na boca do palco re-
cebendo aplausos.
80
Le emissioni della Araujo sono di una
perfezione esemplare e, poichè s'è
parlato di respiri e di fraseggio, res-
piri e fraseggio hanno in lei naturale-
zza, una disinvoltura, una musicalità
assolutamente insoliti, di questi tem-
pi.
L'estensione di cotesta voce è notevo-
le, raggiungendo con una facilità mi-
rabile le note sopracute; i passaggi di
registro sono impeccabili; i coloriti
sempre ppropriati e quasi direbbe
matematici; finalmente la qualità di
questa voce à preziosa per la reton-
dità e la pastosità del timbro, per la
pienezza dell'accento, per il sosaggio
del volume. [...] ,è ottima attrice...
Gian Galeazzo Severi, “Un'Aida de
Prima Grandezza”, Omnibus,
04/03/1951
Após o espetáculo, em re-
conhecimento pela soberba per-
formance, a jovem soprano recebe
flores em seu camarim enviadas
pelo superintendente do Scala.
Incluída a data de estréia,
Constantina apresentou-se como
Aída em seis récitas no Scala: 20,
22 e 25 de fevereiro, 1º, 4 e 6 de
março de 1951.
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O programa de Aída
no Scala
1951
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“Quando a cortina desceu”
La Settimana Incom era uma publicação italiana muito fa-
mosa nos anos 1950, na qual grande parte das matérias tratava de
assuntos cinematográficos. Na página 13, da edição de 3 de março
de 1951, foi publicado um artigo elaborado pela redação milanesa,
fruto de uma entrevista com a jovem brasileira que era a sensação
do momento na Itália: Constantina Araujo.
1951
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Apresentações fora do palco
O sucesso de Constantina, nas seis récitas de Aída e nas de
Modena, Reggio-Emilia e Veneza foi tamanho, que ela foi convida-
da para se apresentar em concertos, todos em 1951.
1951
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12 Aída,
em Bari, na Sicília,
Itália
Ainda no rastro de seu enorme sucesso no Scala, em maio de
1951, Constantina fez Aída, no Teatro Petruzzelli, na cidade italiana
de Bari. No elenco, Antônio Salvarezza, Carlo Tagliabue e Elena
Nicolai, sob a regência de Pasquale La Rotella. Foram duas récitas.
1951
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13 No Scala, Un Ballo
in Maschera, extra temporada
Face ao grande sucesso de Constantina como Aída, o
público queria vê-la em outra ópera. Desse modo, as duas últimas
récitas de Un Ballo in Maschera, das seis programadas para a
temporada 1950-51, teve a presença da soprano no principal papel
feminino, o de Amélia. Foram as récitas de 2 e 6 de junho. Nas
anteriores, o papel esteve a cargo da grande Maria Caniglia (1905-
1951
96
1979). Nos demais papeis principais cantaram: o tenor sueco Jüssi
Bjorling, o barítono Carlo Tagliabue e a mezzo Cloe Elmo. A
regência esteve a cargo de Argeo Quadri.
No ano seguinte, 1952, em circunstâncias inusitadas, Cons-
tantina lograria um grande sucesso em sua apresentação dessa mes-
ma ópera na Royal Opera House, em Londres.
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14 Aída, no
Castelo da Lombardia,
Sicília
Sob a regência do ótimo regente italiano Gabriele Santini,
que na ocasião era titular da Ópera de Roma, Constantina atuou
com o tenor Mario Filippeschi, com a excelente mezzo Giulietta
Simionato, o baixo Andrea Mongelli e o barítono Raffaele De Fal-
chi.
1951
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15
Constantina Araújo na Arena
Após o su-
cesso de sua apre-
sentação no papel tí-
tulo de Aída, em La
Scala de Milão,
Constantina foi con-
tratada por inúmeros
teatros da Itália e de
outros países euro-
peus, que queriam vê-
la nesse papel.
Ainda no ano
de 1951, Constantina
apresentou-se em seis
récitas de Aída, na
XXIX Temporada Lí-
rica da Arena de Ve-
rona: 22, 26 e 28 de
julho, 2 e 4 de agosto.
Foi ovaciona-
da nesse teatro, que
tinha capacidade para
25.000 pessoas, to-
talmente lotado.
1951
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O jornal L'Avve-
nire d'Italia assim se
manifestou:
Constantina Araujo con-
firmou como intérprete de
“Aída” o êxito já con-
quistado no Scala. Ela cri-
ou uma “Aída” original,
de uma feminilidade muito
delicada e também elegí-
aca, fruto de estudo e me-
ditação, certamente, mas
também de abandono à in-
tuição, dom precioso da
sua juventude, do seu fer-
voroso temperamento de
artista.
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Aida - Atto primo – Bozzeto di Nicola Benois
Em 1954, Constantina retornou a Verona para mais duas
apresentações em Aída:
10 de agosto
Aida: Constantina Araújo
Radamés: Mario Del Monaco
Amneris: Elena Nicolai
Amonasro: Tito Gobbi
Ramfis: Giulio Neri
Regência: Fausto Cleva
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16 Fresco Notturno,
no Canal Grande, Veneza
O denominado Fresco Notturno in Canal Grande, em Vene-
za, era um concerto tradicional num palco em plena água rodeado
por barcos e gôndolas repletos de pessoas. A Orquestra e o Côro do
La Fenice acompanhavam os cantores. Constantina Araújo, recém
chegada na Itália, participou da edição de 18 de agosto de 1951. Na
ocasião, cantou as árias “Pace mio Dio” e “Scena della Vestizione”,
ambas de La Forza del Destino, o “Terzetto atto 1”, de Il Trovatore,
com Mazzieri e Guelfi, e “Ritorna vincitor”, de Aída.
1951
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17 Aída
na província autônoma de
Bolzano
A ópera foi apresentada no Teatro dei Quatromila, sob a re-
gência do maestro Angelo Questa, tendo no elenco o baixo Giu-
seppe Modesti, a mezzo Miryam Pirazzini, o barítono Aldo Protti e
o tenor Vitor Susca.
1951
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18 Un Ballo in
Maschera, em Trieste,
Itália
Em Trieste, ainda dentro das comemorações dos cinquenta
anos da morte de Verdi, foi apresentada a ópera Un Ballo in Mas-
chera, com Constantina Araújo no papel de Amelia.
No elenco dois nomes brilhantes: o tenor Gianni Poggi e o
barítono Carlo Tagliabue. Num papel secundário, o jovem barítono
Piero Capucill, que viria a ser um dos grandes intérpretes de Verdi,
da segunda metade do século XX.
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La Vita Breve, no Scala, em 1952
Como se tratava de uma ópera curta, La Vita Breve, de Ma-
nuel de Falla, foi apresentada juntamente com Cavalleria Rusti-
cana, de Mascagni.
Na regência, encontrava-se um jovem maestro estreando no
Scala – Carlo Maria Giulini, que se tornaria um dos mais famosos
regentes da segunda metade do século passado. Foram dez récitas.
A primeira em 16 de fevereiro de 1952.
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20 Aída, em
Monte Carlo, Principado
de Monaco
Em abril de 1952, Constantina cantou Aída no Teatro de
Ópera de Monte Carlo, num espetáculo que contou com a presença
do príncipe Rainier III, que lhe enviou uma corbelha de flores.
O sucesso de sua apresentação foi grande, como demons-
tram as críticas. O êxito a levou a ser convidada para fazer Madame
Butterfly, nesse mesmo teatro, em 1953.
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Madame Butterfly, em La Scala
Encerrando a temporada 1951-1952, Constantina apresen-
tou-se no Scala em quatro récitas de Madame Butterfly, no mês de
agosto de 1952. Nos principais papéis, além de Constantina, o tenor
Giacinto Prandelli, a mezzo Anna Maria Canali e o barítono Ro-
lando Panerai. A regência esteve a cargo do maestro Victor De Sa-
bata.
1952
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O papel de “Sharpless” coube ao barítono italiano Rolando
Panerai, cujo desempenho foi também muito elogiado. O papel de
“Pinkerton” coube ao tenor italiano Giacinto Prandelli. Foram qua-
tro récitas, em 8, 10, 12 e 17 de junho de 1952.
128
No Corriere della Sera:
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22 Mefistofele,
na Arena Flegrea, em Nápoles,
Encerrada a tem-
porada do Scala em
agosto de 1952, Cons-
tantina enfrentou um
novo papel: o de Marga-
rida, na ópera Mefistofe-
le, do compositor italia-
no Arrigo Boito, inspi-
rada no “Fausto”, de
Goethe. No papel-título,
o grande baixo russo
Boris Christoff; Fausto
foi vivido pelo tenor
Mario Filipescchi; e a
regência foi de Tulio Se-
rafin, o renomado dire-
tor italiano que ela já
conhecia de São Paulo.
Seu sucesso foi registra-
do pelo jornal Fanfulla,
da colônia italiana no
Brasil, na edição de 22
de agosto.
1952
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23 Un Ballo in
Maschera, na Royal Opera House,
Londres
No dia 25 de outubro de 1952, Constantina recebeu, no iní-
cio da tarde, uma ligação de Londres, consultando-a sobre a possi-
bilidade de tomar um voo para a capital britânica para atuar na ré-
cita daquela noite na Royal Opera House. Faria o papel de Amélia,
na ópera Un Ballo in Maschera, de Giuseppe Verdi. A soprano He-
lene Werth, da Ópera de Hamburgo, que atuara na estreia, achava-se
impossibilitada de cantar naquela noite porque contraíra uma infec-
ção na garganta.
Constantina não teve dúvidas, aceitou o convite, apenas com
a ressalva de que cantaria sua parte em italiano. O motivo da exi-
gência é que, até a década de sessenta, tanto na Inglaterra como na
Alemanha, as óperas eram apresentadas na língua local.
Embarcou às 17 horas, chegando uma hora depois. A ópera
teria início às 19h15min!
Sua atuação foi um sucesso, tendo sido solicitada por dez
vezes pelos aplausos da plateia após o término da apresentação.
Constantina apresentou-se também na récita do dia 30 de ou-
tubro, o que tornou possível constar o seu nome no programa.
1952
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UMA ESTRELA DA ÓPERA CANTA POR UM SUCULENTO FILÉ1
Em seguida a
um telefonema recebido
às primeiras horas da
manhã de ontem, uma
corrida alucinada por
vistos de entrada e au-
torização de trabalho e
um voo rápido de Mi-
lão, via Zurique, para
Londres, Constantina
Araújo chegou ao Ro-
yal Opera House, em
Covent Garden, na noi-
te passada, 15 minutos
antes de ir ao palco pa-
ra cantar a parte de
Amélia, principal per-
sonagem de “Um Baile
de Máscaras”.
Na última hora,
foi decidido que Helene
Werth não poderia se
apresentar em razão de uma inflamação na
garganta. Foi quando começou uma procura
dramática por toda a Europa em busca de
uma suprano que pudesse assumir seu lugar.
Nove estrelas foram contatadas por
telefone em Viena, Roma, Amsterdam, Colô-
nia e Milão antes que a soprano brasileira
de 30 anos fosse localizada e consentisse em
comparecer.
Uma das principais cantoras de La Scala, de Milão, a se-
nhorita Araújo havia cantado pela última vez no papel de Amélia
1 Há um trocadilho intraduzível no título. A expressão high stake é comumente
usada para designar um teste que implica em importante consequência para quem
o faz. Literalmente, high steak é a designação de um filé, grosso e suculento.
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em junho, em uma versão um tanto diferente da ópera.
Quando chegou ao Aeroporto de Londres, às 18 horas, dis-
seram-lhe que, diferentemente da ópera italiana que começa às 21
horas, a apresentação estava programada para começar às 19,15
horas.
Mais um choque se seguiu quando ela soube que os cenários
eram diferentes. Entregaram-lhe fotos da produção e a pauta musi-
cal para estudar no carro que a levaria do aeroporto ao teatro.
Enquanto isso, um cenário alternativo e um elenco comple-
tos ficaram de prontidão no teatro para apresentar “Tosca” caso a
senhorita Araújo se atrasasse.
Enquanto o relógio se aproximava das sete, a senhorita
Araújo, ainda sentindo um pouco de enjoo devido à viagem, corria
celeremente através de Londres.
Apressaram-na na entrada do teatro, onde uma camareira
ansiosa a esperava. Tendo apenas duas alternativas para as roupas
de Amélia, o problema da adequação do tamanho foi superado
quando se verificou que a senhorita Araújo era ligeiramente menor
[que Helene Werth] e os ajustes puderam ser feitos rapidamente.
A correria de Milão até Londres deixara pouquíssimo tempo
para alimentação e uma Amélia muito faminta entrou no palco, pa-
ra o primeiro ato, depois de pedir que um filé grelhado lhe fosse
trazido.
Enquanto o primeiro ato se desenvolvia, a administração
pediu-lhe o jantar, mas não havia meios de se encontrar o filé.
Ela talvez não se interessasse pelo frango que fora enviado
às pressas por um restaurante das proximidades. Quatro outros
restaurantes foram consultados por telefone antes que uma bandeja
contendo um filé grelhado chegasse de táxi e fosse encaminhado
para o vestiário durante o primeiro intervalo.
Ao final de um dia muito agitado, Constantina, após con-
cluir sua primeira apresentação em Londres, teve de retornar ao
palco 10 vezes, enquanto uma casa cheia no Covent Garden a
aclamava por um desempenho brilhante.
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24
Madame Butterfly, em Monte Carlo e Paris, em 1953
Em fevereiro de 1953, Constantina apresentou-se em “Ma-
dame Butterfly”, no Teatro da Opera de Monte Carlo.
O crítico do jornal L'Espoir, comentando a sua apresentação,
em fevereiro de 1953, disse: “Constantina Araújo conseguiu o título
de Madame Butterfly, de 1953”.
1953
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Sr. Maurice Be, diretor de L'Opera de Monte Carlo, nos
presenteou domingo e terça-feira com uma “Madame Bu-
tterfly”, de detrás dos arrozais, se ouso dizer! Pois ele es-
colheu para esse difícil papel uma cantora que reúne to-
das as qualidades exigidas: voz
perfeita, idealmente pura, pode-
rosa, gestos teatrais intensos
sem nenhum exagero, físico
agradável, estatura mediana,
graça delicada. Pode-se já adi-
vinhar: foi a cantora Constan-
tina Araújo, que no ano pas-
sado foi uma “Aída” sensacio-
nal. No papel de CioCio-San,
que é o da heroína, Madame
Butterfly, desencadeou repeti-
das ovações, permitindo à sala
toda a entrar completamente em
“seu coração”.
Em 17 de junho de 1953, Constantina apresentou-se em uma
récita de Madame Butterfly no Théatre National de L'Opéra Comi-
que, em Paris.
Houve uma repetição em 25 de junho, mas não há informa-
ção se contou com o mesmo elenco.
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No elenco, além de Constantina, contou-se com o tenor fran-
cês Louis Rialland, o barítono francês Robert Jeantet e a mezzo Je-
anne Mattio. O regente foi o grande belga André Cluytens.
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25 Apresentação
em Lisboa,
Aída, de Verdi
Constantina fez duas apresentações no Teatro Nacional de
São Carlos, na capital portuguesa.
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26 Aída,
no Teatro Carlo Felice,
de Gênova
Constantina cantou sob a regência do grande maestro italia-
no Tulio Serafin. Infelizmente, não dispomos do nome elenco dos
outros cantores. Vejam o que disse um crítico:
Propositalmente destinamos a Constantina Araujo as últi-
mas, mas não precipitadas impressões. A sua era uma dura prova.
As armadilhas da parte consistem na flexibilização, na famosa lon-
ga sequência de notas tão difícil para as vozes da natureza dramá-
tica. Esta soprano brasileira, que centraliza e baixos barras escu-
ras, se sai nos registros com extrema
facilidade e mantém a todos com a
respiração suspensa, agudos limpíssi-
mos, e com atenuação gradual da in-
tensidade do som durante a execução
proveniente de excelente escola. Esta-
mos, sem dúvida, diante de uma canto-
ra de classe e bom gosto. Sua Aida,
embora tenha limites de som (a voz
não é o que se chama comumente de
poderosa, mas é sim marcada por uma
doçura melódica), é, no entanto, o re-
sultado de uma musicalidade controla-
da e temperamento ardente.
1953
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27 Constantina em
L'Amore dei Tre Re, de Italo
Montemezzi
SCALA DE MILÃO, MAIO DE 1953.
No elenco, Giacinto Prandelli, tenor italiano, Avito; Giusep-
pe Valdengo, barítono italiano, Manfredo; Nicola Rossi Lemeni,
baixo italiano, Archibaldo; e Constantina Araujo, Fiora. O regente
foi Victor De Sabata.
O crítico T.C. do jornal “Corriere Lombardo”, de 29 de maio
de 1953, assim escreveu:
Sul palco scenico ha avuto la colaborazione d'un gruppo
di assai valenti cantanti: prima fra tutti Nicola Rossi
Lemeni, magnifico Archibaldo per vigoria scenica e
incisività di canto. Fiora dagli accenti accortamente
drammaciti e dal limpido fraseggio lirico è stata
Constantina Araujo [...]
Na mesma data, o crítico do jornal “L' Italia”, elogiou o de-
sempenho de Constantina: “fragrante Fiora, dalla voce perfetta e
calda, dal gesto seducente”.
A récita do dia 28 de maio de 1953 foi transmitida pela RAI
– Radio Audizioni Italia (atual Rádio RAI).
1953
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28 Aída, no Castelo
de San Giusto, em Trieste
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29 Aída e
I Vespri Siciliani, no Teatro Augsburg,
na Alemanha
Foi a única apresentação de Constantina na Alemanha e a
primeira e única em I Vespri Siciliani, de Verdi.
1953
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30 Constantina e
a ópera Oberon, de Weber,
em 1954
Graças ao trabalho incansável de Maurice Lehmann, ator, di-
retor, produtor françês, foi possível à Opera Nacional de Paris mon-
tar Oberon (1826) de Karl Maria von Weber (1786-1826).
Entre a montagem e a estreia, em fevereiro de 1954, foram
450 dias de trabalho, do qual participaram 780 pessoas!
Os principais intérpretes foram: Constantina Araújo, Nicolai
Gedda, tenor sueco em início de carreira, Roger Bourdin e Denise
Duval. A direção musical esteve a cargo do regente André Cluytens.
1954
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A direção de cena foi de Maurice Lehmann.
Estavam previstas quatro récitas; no entanto, o sucesso foi
tamanho que acabaram sendo realizadas trinta!
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Constantina, que chegava a Paris carregada de êxitos em di-
versas capitais europeias, foi recebida pela alta sociedade parisien-
se, em recepção à qual que estiveram presentes o presidente da de-
legação brasileira na UNESCO, várias outras personalidades brasi-
leiras, críticos e músicos franceses, dentre os quais o compositor
Florent Schmidt.
Após a estreia, seguiu-se uma soirée de gala beneficente, à
qual compareceu René Coty, presidente da república francesa, re-
centemente eleito, e sua esposa.
Depois do espetáculo, o presidente Coty e esposa fizeram
questão de cumprimentar Constantina Araújo e Nicolai Gedda, os
dois principais intérpretes, e o regente André Cluytens.
Dirigindo-se a Constantina, disse o presidente:
“A senhora esteve magnífica!”
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O crítico do jornal “Le Monde”, René Dumesnil, escreveu:
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A parte de “Rezia” goza da justificada reputação de ser
uma das mais ingratas. Ela oferece três momentos essen-
ciais e de caráter que disponha dos mais variados recur-
sos para nela se mostrar perfeita: a visão do primeiro
ato, que é um murmurio de suavidade e de ternura; a aria
do segundo ato, com a maldição do oceano, toda de vio-
lência e desespero, e finalmente a cavatina do terceiro
ato, repleta de lamentações ardentes. A sra. Constantina
Araújo possui uma voz esplêndida e sabe usar dela para
salientar todo o patético, toda a sedução da personagem.
Em “A Gazeta”, 17-2-1954, Bernard Gavoty assim se mani-
festou:
Sans nun doute, Constantina Araújo a de quoi satisfaire
vocalement, les plus difficiles: voix puissante, moelleuse,
à peine gênée das le suraigu, mais surtout voix émouvante
au suprême degré. Le seul defaut de cette superbe canta-
trice est d'eteindre par constraste, les voix de ses parte-
naires. Aussi gagnerait-elle à chanter le plus piano possi-
ble le duo avec Fatime et le quatuor vocal du second acte:
mais comment discipliner un torrent?
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A montagem de “Oberon”, de Weber, no Palais Garnier, te-
ve uma repercussão muito grande nos meios operísticos europeus e
mesmo fora do continente. Seja pelo papel que essa ópera teve na
evolução do gênero, seja pela grandiosidade da montagem que Paris
lhe concedeu.
Jornais e revistas franceses e de outros países abriram espa-
ço para comentar essa montagem.
René Dusmenil, médico, crítico literário e musicólogo fran-
cês, publicou na revista”MUSICA” artigo denominado “La Place
d'Obéron dans l'opéra du XXº siècle”, no qual analisa o papel dessa
ópera no “Romantismo”, sua vinculação com a poesia alemã, suas
ligações com o “leitmotiv” wagneriano, concluindo por ressaltar a
importância de Weber no avanço da música clássica no início do sé-
culo XIX.
Esse artigo foi ilustrado com fotos dos cenários e de figuri-
nos da encenação que acontecia em Paris:
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Constantina no Teatro Municipal
do Rio de Janeiro
As negociações entre Constantina e o Teatro Municipal do
Rio de Janeiro se iniciaram em 1953. O Teatro, cuja comissão recu-
sara-se a ouvi-la em audição em 1950, agora ansiava por fechar um
contrato com a soprano brasileira que tanto sucesso fazia na Europa.
Em 25 fevereiro de 1953, foi assinado um contrato entre a
Comissão Artística e Cultural, da Prefeitura do Distrito Federal, e
Constantina Araújo, pelo qual a soprano se obrigava “a prestar o seu
concurso, na Temporada Lírica Internacional a ser realizada no Tea-
tro Municipal - Rio de Janeiro, em 1953, interpretando Aída, Un
Ballo in Maschera, Lo Schiavo, Madame Butterfly, Il Trovatore e
outras de seu repertorio habitual, num total de seis recitas”.
Pelas apresentações a Comissão lhe pagaria “a quantia de
cento e setenta mil cruzeiros”, arcaria com uma passagem aérea Mi-
lão-Rio-Milão e se reservava “o direito de transmissão por rádio, ou
televisão, as récitas que julgar convenientes, sem qualquer outra
remuneração”. As récitas seriam realizadas num período de 30 dias,
fixados entre 14 de agosto e 30 de setembro. A Comissão comuni-
caria à soprano o período de apresentação até 15 de abril de 1953.
Esse contrato não prosperou e não temos nenhum documen-
to que aponte a causa.
O contrato que prosperou, levando-a a apresentar-se
em”Aida” no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, é de junho de
1954. Por ele a soprano se obrigava a apresentar-se em seis récitas,
recebendo por elas a quantia trezentos mil cruzeiros. Ela deveria
cantar Aída, Trovatore, e qualquer outra de seu repertório, à exclu-
são de Madame Butterfly. Caso se dispusesse a cantar Lo Schiavo,
de Carlos Gomes, lhe seriam pagos mais cinquenta mil cruzeiros.
As récitas ocorreriam entre 27 de setembro e 15 de outubro de 1954.
1954
165
No contrato de 1954 com a Réunion des Théatres Lyriques
Nationaux, da França, foi assegurado a Constantina que suas récitas
de Oberon, somente teriam início a partir de 16 de outubro. No en-
tanto, Constantina apenas se apresentou em “Aida” Por que moti-
vos?
No jornal, uma manifestação da cantora a respeito:
166
167
168
Um dos belos cenários de autoria de Mario Conde, responsável pelo setor de
cenografia do Teatro Municipal, para essa apresentação.
Foto: Mauro Salles/O Mundo Ilustrado, RJ
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171
172
Fonte: O Mundo Ilustrado, RJ
173
174
(Jornal Última Hora, RJ)
175
(Jornal Diário Carioca, RJ)
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32 Duas entrevistas,
publicadas em jornais cariocas
1954
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178
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33 Aída, no
Teatro Duse, em Bolonha,
1957
O Teatro Duse é o mais antigo da cidade de Bolonha, na Itá-
lia. Não é um teatro grande, sendo hoje utilizado para uma progra-
mação diversificada: música erudita, popular, bailados, shows, pro-
sa. Nele, Constantina apresentou-se em duas récitas de Aída: nos di-
as 9 e 12 de março de 1957.
No elenco, três cantores de renome: Piero Maria Ferraro, jo-
vem tenor, Ugo Savarese, barítono italiano, o baixo Ivo Vinco, que
foi casado por um tempo com a mezzo-soprano Fiorenza Cossotto.
A regência foi do italiano Franco Ghioni.
Não há crítica desta apresentação no acervo. É possível que
tenha sido a última apresentação de Aída em teatro.
1957
180
34 Il Trovatore,
Arena Flegrea, em Nápoles
Essa foi a única apresentação de Constantina nessa ópera na
Europa. Ópera que algumas pessoas que a viram fazê-la no Teatro
Municipal de São Paulo jamais se esqueceram. Marcou-lhes tanto
que nenhuma outra “Leonora” jamais os satisfez.
Não foi um elenco de primeira. Entre seus companheiros de
cena, o único destaque foi o barítono Enzo Mascherini, um dos mais
importantes de sua geração.
Entre a documentação disponível, não há referência ao ano
dessa montagem.
Apenas uma anota-
ção que aponta para
o ano de 1957.
O que é mui-
to provável, pois
vemos pela propa-
ganda que Aída,
nessa ocasião, já vi-
nha sendo feita por
Anita Cerquetti,
uma das duas sopra-
nos italianas que es-
tavam no topo nessa
ocasião, a outra era
Antonieta Stella.
Ambas tinham re-
pertório semelhante
ao de Constantina.
1957
181
35 A morte
de Constantina, Araújo
Constantina Araújo faleceu em 4 de março de 1966, às 12
horas, aos 43 anos de idade.
Tinha vindo ao Brasil para submeter-se a uma pequena in-
tervenção cirúrgica, a qual ocorreu sem problemas. Estava em casa
de seus pais, na rua Simão Álvares, nº 444, deitada no sofá, quando
sofreu uma embolia pulmonar que ocasionou a sua morte instantâ-
nea.
A soprano residia em Milão. Não tendo cantado mais em
São Paulo desde 1950, seu nome era desconhecido da grande maio-
ria dos frequentadores mais jovens das temporadas de ópera do Tea-
tro Municipal de São Paulo.
Na Europa, as duas últimas participações públicas de que
temos conhecimento, ocorreram em 1958: “esecuzione e registrazi-
one di un concerto Martini&Rossi” e “esecuzione e registrazione
dell'opera Ernani di Verdi - parte di Elvira”.
A época áurea, em que seu nome era frequentemente notícia
nos jornais de São Paulo e do Rio de Janeiro, havia ficado para trás.
Portanto, não é de se estranhar que apenas quatro pequenas notas,
com muitas incorreções, noticiaram sua morte.
O Teatro Municipal de São Paulo não lhe rendeu homena-
gem e a municipalidade paulistana não agraciou sua filha que tanto
sucesso fez na Europa.
1966
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183
184
ANEXO 1 – APRESENTAÇÕES NA EUROPA
Graças à quase totalidade dos contratos de Constantina com os tea-
tros onde se apresentou, e também às notícias de jornais da época,
foi possível realizar uma listagem de suas apresentações na Europa:
AÍDA
Teatro Comunale - Modena (estréia na Europa, em 26/12/1950)
Teatro La Fenice - Veneza
Teatro Municipale Reggio Emilia
Scala – Milão (O primeiro contrato com o teatro compreende o pe-
ríodo de 18 de fevereiro a 15 de junho de 1951. A soprano se obri-
gava a fazer um mínimo de 10 récitas, de seu repertório: Aida, Un
Ballo in Maschera e Luisa Miller. Ela fez apenas as duas primeiras.
Houve um outro contrato, de 20/11 a 23/12/1951, para estar pronta
e eventualmente se apresentar na ópera que abriria a temporada
1951-1952: I Vespri Siciliani. A temporada foi aberta por Maria
Callas. Caso algo lhe acontecesse durante a récita, quem a substitui-
ria seria Constantina Araujo.
Teatro Estivo de Carpi (8 a 11-8-1951) - 2 récitas
Teatro Petruzzelli - Bari
Castelo di Lombardia - Enna (3 a 16-7-1951) (3 récitas)
Arena Verona - Verona (17-7 a 10-8-1951) 4 récitas
Teatro Municipale - Piacenza
Opéra de Monte Carlo (18 a 23-3-1952) (2 récitas)
Arena - Bolzano (29-6 a 5-7-1952) (2 récitas)
Teatro Municipale Reggio Emilia (1 a 13-7-1953) ( 2 récita, 1 even-
tual)
Teatro São Carlos - Lisboa (21 a 29-3-1953) (2 récitas)
Teatro Comunale Dell'Opera - Genova (primo, 20-4-1953) (3 réci-
tas)
Castello di San Giusto - Trieste (1 a 13-7-1953) - (3 récitas)
Arena - Augsburg (1 e 4-8-1953) (2 récitas)
Arena - Verona (9 a 15-7-1954) (1 récita assegurada e 1 eventual)
Palais Garnier - Paris
Teatro Duse - Bolonha (8 a 12-3-1957) (1 récita)
185
ANDREA CHENIER
Teatro Nuovo de Salsomaggiore (6 a 7-10-1952) - (1 récita)
UN BALLO IN MASCHERA
Scala - Milão
Teatro Verdi - Trieste
Covent Garden - Londres (25 a 30-10-1952) (2 récitas)
MEFISTOFOLE
Teatro di San Carlo di Napoli (18-7 a 3-8-1952) (4 récitas)
I VESPRI SICILIANI
Arena - Augsburg (9 e 11-8-1953) (2 récitas)
IL TROVATORE
Arena Fleguea - Napoli (23 a 25-7-1954) (1 récita )
OBERON (1954-1955) - Palais Garnier - Paris
Foi o contrato que lhe rendeu o maior cachê e o de mais lon-
ga duração. Foi assinado com a Réunion des Théatres Lyriques Na-
tionaux, em 20 de novembro de 1953. Ele assegurava 28 represen-
tações de janeiro a maio de 1954, havendo a possibilidade de repre-
sentações além do mínimo mensal. Previa uma representação de Aí-
da. Ela estava impedida de realizar qualquer apresentação em Fran-
ça ou fora dela sem a autorização da contratante. Caso obtivesse au-
torização para fazê-lo, haveria um desconto por dia de ausência.
Houve um adendo no qual se previa mais 4 representações no mês
de junho de 1954, devendo acontecer entre 1º e 21 de junho, deven-
do ocorrer também mais 12 representações de outubro a novembro
de 1954. A contratante assegurou que o início das últimas apresen-
tações se iniciariam a partir de 16 de outubro para que a contratada
pudesse se apresentar no Brasil.
Em 15 de dezembro de 1954, Constantina acordou em fazer
mais oito apresentações durante os meses de janeiro e fevereiro de
1955.
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FRESCO NOTTURNO
Canal Grande de Veneza (18-7-1951)
MADAME BUTTERFLY
Scala - Milão
Opéra Comique - Paris
Opéra de Monte-Carlo (8 e 10-2-1953) (2 récitas)
L'AMORE DEI TRE RE
Scala - Milão (10-5 a 6-6-1953) 4 récitas
LA VITA BREVE
Scala - Milão
Concerto Operístico - Teatro dell”Arte al Parco 8-2-1957
ERNANI
Em concerto - Auditório da RAI - 12-9-1958
Concerto Martini & Rossi 15-12-1958, em Milão
187
ANEXO 2 – CONSTANTINA ARAÚJO NO YOUTUBE
AÍDA, DE GIUSEPPE VERDI, no Teatro Municipal, do Rio de Janei-
ro, em 1954; a ópera foi transmitida pelo rádio.
“Ritorna Vincitor!”, Constantina Araújo
https://www.youtube.com/embed/MSkCyVXmja0?rel=0
“O Patria mia”, Constantina Araújo
https://www.youtube.com/embed/ntvtqEg6g2w?rel=0
“Pur ti riveggo”, Constantina com Mario Del Monaco
https://www.youtube.com/embed/W30N00zyP5k?rel=0
ERNANI, DE GIUSEPPI VERDI, 1958, CD
Scene e ária “Ernani! Ernani, involami”, Constantine Araujo, com
Coro e Orchestra Sinfonica di Roma della RAI
https://www.youtube.com/embed/tpXxx-_cAQQ?rel=0
“Da quel di”, Mario Sereni e Constantina Araújo, com Coro e Or-
chestra Sinfonica di Roma della RAI
https://www.youtube.com/embed/NU-E6k_qqcw?rel=0
“Oro, quant'oro”, Cesare Siepi, Constantina Araújo e Mario Del
Monaco
https://www.youtube.com/embed/UxX3iKTqy5k?rel=0
“Tu se'Ernani”, Mario Sereni, Constantina Araújo e Mario Del Mo-
naco
https://www.youtube.com/embed/XCtKD5vqNvM?rel=0
“O sommo Carlo”, Mario Sereni, Constantina Araújo e Mario Del
Monaco
https://www.youtube.com/embed/XZt81IyjBX4?rel=0
“Finale”, Cesare Siepi, Constantina Araújo e Mario Del Monaco
https://www.youtube.com/embed/DZlfklhf6qc?rel=0
LA WALLY, DE CATALANI
“Ebben, ne andro lontana”, Constantina Araújo
https://www.youtube.com/embed/2L96nLoHJkk?rel=0
188
ANEXO 3 – INTÉRPRETES, REGENTES E CRÍTICOS EM
SUAS APRESENTAÇÕES
André Cluytens, regente belga (1905-1967)
Anna Maria Canali, mezzo soprano italiana (1921-)
Anselmo Colzani, barítono italiano (1919-2006)
Boris Christoff, baixo búlgaro (1914-1993)
Bruno Cioni
Carlo Taglibue, barítono italiano (1898-1978)
Carlo Maria Giulini, regente e violinista italiano (1914-2005)
Cloe Elmo, contralto italiana (1910-1962)
Denise Duval, soprano francesa (1921-)
Dora Minarchi, mezzo-soprano
Duilio Baronti, baixo
Elena Nicolai, mezzo soprano búlgara (1905-1993)
Fedora Barbieri, mezzo soprano (1920-2003)
Fiorenza Cossotto, mezzo-soprano italiana (1935-)
Francesco Molinari Pradelli, regente (1911-1996).
Franco Ghioni, regente italiano (1886-1964)
Giacinto Prandelli, tenor italiano (1914-2010)
Giorgio Algorta, baixo uruguaio (-1980)
Giuseppe Valdengo, barítono italiano (1914-2007)
Ivo Vinco, baixo italiano (1927-2014)
Jeanne Mattio, mezzo soprano
Jüssi Bjorling, tenor sueco (1911-1960)
Louis Rialland, tenor francês
Lucia Danieli, mezzo soprano italiana (1927-2005)
Mario Carlin, tenor italiano (1915-1984)
Mario Del Monaco, tenor italiano (1915-1982)
Mario Filippeschi, tenor italiano (1907-1979)
Maurice Lehmann, ator, diretor, produtor françês (1895-1974)
Mirto Picchi, tenor (1915-1980)
Nicola Rossi Lemeni, baixo italiano (1920-1991)
Nicolai Gedda, tenor sueco (1925-)
Oliviero di Fabritiis, regente italiano (1902-1982)
Piero Maria Ferraro, tenor (1924-2008)
Piero Miranda Ferraro
René Dusmenil, médico, crítico literário e musicólogo francês
189
(1879-1967)
Robert Jeantet, barítono francês
Roger Bourdin, barítono francês (1900-1973)
Rolando Panerai, barítono italiano (1924-)
Salvatore Di Tommaso
Silvio Maionica
Tancredi Pasero
Tulio Serafin, regente italiano (1878-1968)
Ugo Savarese
Ugo Savarese, barítono (1912-1997)
Ugo Savarese, barítono italiano (1912-1997
Victor De Sabata, regente (1892-1967)
Vincenzo Giannini, regente de coro italiano
Vittore Veneziani, regente de coro italiano
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UENP – CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO
Unidade Campus: Rodovia PR 160, Km 0 – Unidade Centro: Av. Portugal, 340
Fone (43) 3904-1922 – Fax (43) 3523-8424
E-mail: [email protected]
Cornélio Procópio, Estado do Paraná
CEP 86300-000
Junho de 2015
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José Carlos Neves Lopes é natural de Ourinhos, SP. Fez História na USP, onde cursou pós-graduação, e Direito no Mackenzie (1980). Professor do curso de História da Universidade São Francisco e da UNIP-campus Vergueiro, na capital paulista. Profes-sor efetivo de História e Coordenador de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria de Estado da Educa-ção. Coautor de publicações destina-das a EJA da Secretaria de Estado da Educação. Colaborador do jornal "Fo-lha de Ourinhos", onde mantém a co-luna "Recordando", desde 2001. É blogueiro.
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