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MEMÓRIAS DA UENP: RESISTÊNCIAS MEMORIES OF UENP: RESISTORS Álvaro Fernandes Sotarelli (G – UENP) [email protected] Juliana Carolina da Silva (G – UENP - PIBIC/CNPq) [email protected] Gislaine dos Santos Figueiredo Cordeiro (G – UENP) [email protected] Renata Madureira Pavan (G – UENP – PIBID/Capes) [email protected] Sabrina Felício Souza (G – UENP – PIBID/Capes) [email protected] Dr. Jean Carlos Moreno (Orientador-CCHE/UENP) Resumo: O presente estudo consiste na busca pelas representações que a população da cidade de Jacarezinho/PR edifica sobre a Universidade Estadual do Norte do Paraná. Na oralidade as pessoas inventaram e reinventaram suas experiências, com as recriações das representações, que moram nas memórias que as pessoas tecem sobre a instituição. Seguindo por essa perspectiva, a pesquisa usou como fonte diagnósticos feitos através da história oral com a comunidade acadêmica e com estudantes do Ensino Básico de dois colégios locais, um público e um privado. Para tanto, iniciamos os estudos tratando de conceitos como identidade e símbolos, os trazendo para a constituição da instituição de ensino superior. De forma que, não esgotamos a problemática, visto não ser essa a intenção, mas sim, refletimos e tecemos perspectivas que deram luz a questões como o distanciamento da população com relação à universidade estudada. Portanto, através deste trabalho buscamos contribuir com futuras pesquisas sobre o tema e de forma prática, buscamos suscitar a revisão da postura institucional frente à população local. Abstract: This study is the search for the representations that the population of the city of Jacarezinho / PR builds on the State University of Northern Parana. In orality people invented and reinvented their experiences with the recreations

Art. Memórias Da UENP

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Artigo publicado no I Simpósio Internacional Patrimônios. UNESP/Ourinhos.

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MEMRIAS DA UENP: RESISTNCIAS

MEMORIES OF UENP: RESISTORS

lvaro Fernandes Sotarelli (G UENP)[email protected] Carolina da Silva (G UENP - PIBIC/CNPq)[email protected] dos Santos Figueiredo Cordeiro (G UENP)[email protected] Madureira Pavan (G UENP PIBID/Capes)[email protected] Felcio Souza (G UENP PIBID/Capes)[email protected]. Jean Carlos Moreno (Orientador-CCHE/UENP)

Resumo: O presente estudo consiste na busca pelas representaes que a populao da cidade de Jacarezinho/PR edifica sobre a Universidade Estadual do Norte do Paran. Na oralidade as pessoas inventaram e reinventaram suas experincias, com as recriaes das representaes, que moram nas memrias que as pessoas tecem sobre a instituio. Seguindo por essa perspectiva, a pesquisa usou como fonte diagnsticos feitos atravs da histria oral com a comunidade acadmica e com estudantes do Ensino Bsico de dois colgios locais, um pblico e um privado. Para tanto, iniciamos os estudos tratando de conceitos como identidade e smbolos, os trazendo para a constituio da instituio de ensino superior. De forma que, no esgotamos a problemtica, visto no ser essa a inteno, mas sim, refletimos e tecemos perspectivas que deram luz a questes como o distanciamento da populao com relao universidade estudada. Portanto, atravs deste trabalho buscamos contribuir com futuras pesquisas sobre o tema e de forma prtica, buscamos suscitar a reviso da postura institucional frente populao local.

Abstract: This study is the search for the representations that the population of the city of Jacarezinho / PR builds on the State University of Northern Parana. In orality people invented and reinvented their experiences with the recreations of representations, who live in the memories that people weave about the institution. Following from this perspective, the research used as a source diagnoses made through oral history with the academic community and students of Basic Education of two local schools, one public and one private. Therefore, we started the studies dealing with concepts such as identity and symbols, bringing them to the establishment of the institution of higher education. So that, we not exhausted the problem, since it is not the intention, but rather reflect and weave perspectives that gave birth to such issues as the distance of the population regarding the studied university. Therefore, through this work we contribute to future research on the topic and a practical way, we seek to raise the review of institutional attitude towards the local people.

Palavras-chave: UENP; Memria; Representao; Histria local; Universidade.

Keywords: UENP; Memory; Representation; Local history; University.

INTRODUO

A presente pesquisa busca trabalhar com as representaes sobre a Universidade Estadual do Norte do Paran. As representaes moram nas memrias que a populao tece sobre esta instituio, e nessa perspectiva, nossa pesquisa intenta ser um diagnstico inicial do tema, tanto na academia, visto que este o incio da abordagem desta questo, quanto com relao ao trabalho de coleta do senso popular. Portanto, buscamos contribuir com futuras pesquisas na rea e com reflexes que possam levar a maior participao dos estudantes, docentes e que viabilizem a vinda da populao local para dentro da Universidade e que esta possa ser realmente, um veculo de saberes e conhecimentos.Enleando-nos por tais intenes, iniciaremos a pesquisa tratando de conceitos como identidade e smbolos, tambm principiando pela construo histrica da UENP, da UNESPAR e remontando a FAFIJA.Seguindo, trabalharemos um levantamento historiogrfico que se pauta sobre as questes da memria e da narrativa, visto que o passo seguinte de nosso estudo foi atravs de diagnsticos com estudantes da rede pblica e privada. O resultado do questionrio respondido pelos alunos tem seus resultados e dados colhidos exemplificados em grficos. Por sua vez, esta parte da pesquisa levantou-se questes que remontam permanncia de vises elitistas na relao entre universidade e sociedade.Porm, devemos salientar que, as vises e estudos iniciados neste escrito no tero suas finalizaes, considerando que o presente estudo no consiste em uma tentativa de esgotar a temtica, pelo contrrio, representa um incentivo novas pesquisas. Assim, buscando encabear futuras discusses sobre o tema, seguimos a proposta do professor Jean Carlos Moreno e costuramos as reflexes finais desta pesquisa em forma de um breve documentrio a ser exposto na Semana de Histria da UENP, de 2014.Assim, a seguir discutiremos a identidade e o passado, sendo estes locais de onde advm tanto a cultura, quanto as polticas e representaes que formam a UENP.

ENTRE AS IDENTIDADES E O PASSADO

Os smbolos so objetos imaginrios ou concretos que moram na fronteira do mundo real e do espao invisvel, mas que atuam no imaginrio, construindo neste representaes. Definem a identidade do que representado, dizem quem e mostram os poderes que exercem influncia sobre os objetos. Na presente pesquisa trataremos na Universidade Estadual do Norte do Paran com relao s memrias que as pessoas da cidade de Jacarezinho/PR nutrem sobre esta instituio de Ensino Superior. Debruaremo-nos, especificamente, sobre o Centro de Cincias Humanas e da Educao (CCHE) e o Centro de Letras, Comunicao e Artes (CLCA), que se estabelecem atualmente no espao que abrigava a antiga Faculdade Estadual de Filosofia de Jacarezinho (FAFIJA). A UENP advm da unificao de diversas faculdades, dentre elas a FAFIJA, fundada em 1960, sendo a primeira Faculdade Estadual fundada no Norte do Paran (BERSI, 2013, p. 23). Devido ao longo tempo que esta instituio existiu, pois a unificao s ocorreu em 2006, fundou bases slidas na identidade sociocultural da cidade. A relao da identidade e da memria com o discurso se faz por diversas vias, pois ao mesmo tempo em que os smbolos identificam as cidades, concomitante, marcam a memria dos indivduos que com elas tem um vnculo, seja de interesse ou de necessidade. De forma que os interesses, perspectivas e subjetividades esto presentes nas narrativas populares, orais, e o poder institucional tentar se formar atravs dos discursos oficiais, como veremos mais adiante.A memria viva que se mantm nas imagens e lembranas, constri-se, muitas vezes, em oposio viso hegemnica, histria contada oficialmente. Mas, interpretaes que vm carregadas de elementos gestados pela histria oficial, podem ser realocadas em outras vises sobre o vivido, o que nos leva a refletir sobre o sentido da histria, pois estas muitas vezes construdas institucionalmente moram em fragmentos nas memrias individuais e coletivas. A construo histrica da UENP, que se constitui a partir das memrias oficiais, ofusca, embora no desconhea, as trajetrias de homens e mulheres que tambm so protagonistas dessa histria, que compartilham lembranas e esperanas para esta instituio. Ligada em seu projeto inicial com a promoo do desenvolvimento social e econmico da regio, foi uma parceria do Governo Estadual e da Igreja Catlica.A primeira tentativa de unificao das faculdades que residiam em Jacarezinho, Cornlio Procpio e Bandeirantes resultou na criao da UNESPAR, mas as burocratizaes criadas com esta instituio e as insatisfaes locais inviabilizaram o projeto inicial. J no governo de Roberto Requio se cogitou que as faculdades do Norte do Paran integrassem a Universidade Estadual de Londrina.Contra esta deciso houve a organizao da Associao dos Municpios do Norte Pioneiro (AMUNORPI) e da Diocese de Jacarezinho, com um movimento liderado pelo bispo Fernando Jos Penteado, em vista da criao de uma universidade regional. Com o sucesso dessa exigncia, Fernando Jos Penteado tornou-se o primeiro reitor da UENP.Assim as memrias, muitos valores e polticas que permeiam a UENP so marcados pela antiga FAFIJA e pela prpria influncia das instituies locais, dentre elas o setor de comrcio e a Igreja Catlica. Mas essas influncias, que se forjam em discursos da memria hegemnica, vo se construindo ao longo do tempo em movimentos de recriao e renovao.Contudo, essa memria hegemnica vai sendo realimentada, dentro do processo social em que os questionamentos, as oposies, as presses de outras memrias que esto margem, indicam outras experincias tambm carregadas de sentidos. Em outras palavras, essa memria no pode simplesmente se impor como forma de dominao sobre uma populao que diferenciada tanto na sua trajetria quanto nos seus valores. Ela precisa ser defendida, modificada, transformada, incorporando outros significados que tenham sentido para as pessoas no presente querendo conservar-se no parmetro da hegemonia. Talvez a posio de distanciamento da Universidade com relao populao carregue a intencionalidade de conservar as antigas polticas aonde as elites locais exerciam o poder sobre a educao e fundavam monumentos. Nesta perspectiva Paulo Knauss ressalta que os objetos urbanos se caracterizam como instrumentos de educao poltica conservadora, a servio do poder institudo (KNAUSS, 2000, p. 179).Na educao, alm dos colgios particulares, estaduais, municipais e os ligados Igreja Catlica, em 1959 foi fundada a Faculdade Estadual de Filosofia, Cincias e Letras de Jacarezinho (FAFIJA), comeando a funcionar no ano seguinte e como salienta Tania Maria Fresca, este era o passo inicial para uma importante atividade que viria a se constituir em Jacarezinho: o ensino superior (FRESCA, 2004, p. 111). Pois os colgios Cristo Rei e Imaculada Conceio, ao longo dos anos de 1960 foram perdendo a importncia frente s faculdades, alm da Faculdade Estadual de Filosofia, Cincias e Letras de Jacarezinho, a Fundao Faculdade Estadual de Direito do Norte Pioneiro, fundada em 1968, e a Fundao Faculdade Estadual de Educao Fsica de Jacarezinho, fundada em 1972. Entretanto, apesar de se consolidar como um centro educacional, Jacarezinho apresenta marcas concretas e invisveis, numa dinmica funcional resultante de uma fase urea que j havia passado (FRESCA, 2004, p. 114). Sendo este tambm um reflexo decorrente de Jacarezinho ter se tornado, como a autora definiria, um lugar de drenagem do excedente social (FRESCA, 2004, p. 114), em que as suas riquezas so revertidas para outras localidades e assiste a uma grande parcela da populao se esvaindo para outras cidades em busca de melhores condies de vida e aos moradores que ficam recaem uma pesada realidade, conotada no passado, em que os objetos concretos sugerem tambm um forte elemento simblico, talvez at uma forma de magia que, ao restabelecer uma parte pequena, mas emocionalmente carregada, de um passado perdido, de algum modo restabelece o todo (HOBSBAWM, 2007, p. 27).Assim, a figura do passado assombra tanto a cidade de Jacarezinho, quanto a UENP, usualmente reconhecida pela populao como FAFIJA. A seguir estudaremos alguns aspectos da memria e da narrativa, visto que atravs destas as pessoas refazem a viso oficial, colocando-se como sujeitos. Nelas, o narrador se reconhece e reconhecido por aquele que o entrevista, ambos se vendo como construtores da histria e atribuidores de significado e reordenao dos monumentos e poderes.

MEMRIAS E NARRATIVAS

Caminhos se fazem entre dois mundos, que se ramificam por laos menores, abrindo janelas que vislumbram cenas e traando lugares que vivem e se repartem dentro das lembranas. Cada um destes mundos uma Memria: individual e coletiva. Estas Memrias fazem parte de ns desde quando nascemos at o ltimo instante que se far num suspiro, ao final de nossas vidas. Nessa perspectiva da Memria, A cada passo que damos, a cada situao que vivenciamos ou presenciamos, ou mesmo no silncio, sempre muda, ela est presente (ARDRIUS, 2010, p. 16).A memria individual centra-se no indivduo, sendo nica na medida em que este tambm o . A memria coletiva envolve outras pessoas, que fazem parte de nosso crescimento, formao ou que apenas nos rodeiam, como em crculos de convivncia. De forma que a memria construda na coletividade, est ligada s nossas vivncias em sociedade, destacando-se suas interseces em Memria Social, Memria Cultural e Memria Histrica.De maneira que o fazer memorialstico da sociedade, da cultura e da histria, que habitam e so inerentes coletividade, podem ser revisitadas (embora, no revividas), em objetos, imagens e representaes de tempos, que nos ligam, como fios de lembranas, ao passado. A este ponto, podemos ilustrar, como Henri Bergson ou Ecla Bosi, na etimologia do signo lembrar, no qual, Lembrar-se, em francs se souvenir, significaria um movimento de vir de baixo: sous-venir, vir tona o que estava submerso (BOSI, 2007, p. 46).Contudo, Os atos da lembrana so tambm, ao mesmo tempo, atos emocionais, de afeto, de pensamento e esto a servio das necessidades da ao imediata (CARRETERO, 2007, p. 57). Por esta via salientamos que a memria se torna acessvel atravs da fala e da narrativa, sempre suscetvel ao presente, s subjetividades, fabulaes, omisses e s diversas intenes que moram na construo artesanal de comunicao (BENJAMIN, 1994, p. 205).A narrativa se faz na memria, ela conserva suas foras e depois de muito tempo ainda capaz de se desenvolver (BENJAMIN, 1994, p. 204), em constante construo, pois se relaciona ao presente, as lembranas e s expectativas futuras, dialogando tempos com a prpria identidade do narrador. Ela no est interessada em transmitir o puro em si da coisa narrada como informao ou um relatrio. Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retir-la dele. Assim se imprime na narrativa a marca do narrador, como a mo do oleiro na argila do vaso. (BENJAMIN, 1994, p. 205).

Assim, o lembrar-se, ao tocar a memria, faz com que o passado no s venha tona das guas presentes, misturando-se com as percepes imediatas, como tambm empurra, desloca estas ltimas, ocupando o espao todo da conscincia, aparecendo a memria, como uma fora subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora (BOSI, 2007, p. 47).Acerca da metodologia do presente trabalho, atravs de um diagnstico realizado com estudantes do Colgio Estadual Rui Barbosa e do Colgio Elo, remontamos algumas vises que so recorrentes na cidade, acerca da Universidade e percebemos como os jovens encaram esta instituio e quais suas expectativas com relao UENP. Observamos principalmente a Universidade em seu papel dentro da dinmica social, que refora e estabelece uma funo, tanto social como cultural, sendo suscetvel atribuio de representatividade pela populao local. Quando a representao social nula ou minimizada aos olhares dos cidados, podemos visualizar que a funo social da universidade est deficitria e que determinados padres sociais esto sendo fomentados, que fogem misso de desenvolvimento local e manuteno da democracia.Portanto, do estudo dos diagnsticos tiramos a base para um material de cunho documental aonde buscamos mostrar a viso de algumas pessoas que tem suas vidas ligadas, de formas prximas e distantes, da memria que forma a UENP. Considerando que a memria social se constri ao longo de muitas geraes, todas mergulhadas em relaes determinadas por estruturas sociais e sua formao implica na referncia ao que no foi presenciado, na representao de processos e estruturas sociais que j se transformaram, muitos relatos recaram sobre a histria da FAFIJA. Naturalmente, a gerao atual possui vestgios dos padres sociais que lhes antecederam, potenciais suportes de sua memria e esta, como qualquer experincia humana, tambm um campo minado pelas lutas sociais: um campo de luta poltica, de verdades que se batem, no qual esforos de ocultao e de clarificao esto presentes na disputa entre sujeitos histricos diversos, produtores de diferentes verses, interpretaes, valores e prticas culturais. Assim o nosso principal empenho mostrar que a memria histrica retratada institucionalmente e pelos meios miditicos, constitui uma das formas mais poderosas e sutis de legitimao do poder, mostrando no o passado ou o presente, mas se baseando em expectativas futuras. Reconhecemos que tem sido sempre o poder estabelecido que se define, ao longo do tempo histrico, quais memrias e quais histrias devem ser consideradas para que seja possvel estabelecer uma certa Memria que d voz aos diversos atores que compem a Histria. Ento, refletir nesta direo significa atentar para o a forma que diferentes sujeitos vivem as transformaes histricas da UENP e lidam com essas transformaes em suas culturas, isto , em seus modos de se ver e de se reconhecer como construtores e participantes desse rgo pblico.Compreender a UENP desta maneira significa resgatar as marcas dos sujeitos que experimentaram no seu dia-a-dia as tenses e, como essas aes, construram-na, fazendo dela um campo de lutas, para que possamos compreender, sobretudo, as razes pelas quais apenas alguns agentes permanecem, no presente, como participantes da histria oficial, definindo direitos e tentando com isso, tambm, definir os sujeitos da histria dessa Universidade. Trata-se, ento, de pensar a relao entre a Universidade e o seu patrimnio histrico, como expresso de tempos em disputas por direitos histria e valorizao social. O presente trabalho se v frente valorizao e preservao do patrimnio memorialstico e constitui uma forma de envolver a comunidade, permitindo-lhe a conscincia de si em relao Universidade enquanto expresso do Poder Pblico. Concomitante, a valorizao da identidade que mora nas memrias faz com que se intensifique o sentimento de pertencimento.

Em outras palavras: a memria gira em torno de um dado bsico do fenmeno humano, a mudana. Se no houver memria, a mudana ser sempre fator de alienao e desagregao, pois inexistiria uma plataforma de referncia e cada ato seria uma reao mecnica, uma resposta nova e solitria a cada momento, um mergulho do passado esvaziado para o vazio do futuro. a memria que funciona como instrumento (...) de identidade, conservao e desenvolvimento que torna legvel os acontecimentos. (MENEZES, 1984, p. 34)

Portando, a memria social decisiva para a construo do sentido da dimenso histrica da sociedade. O processo de desenvolvimento social passa a ser percebido como algo sujeito a mudanas que se formam, por interveno das foras sociais do presente, a partir de acmulos produzidos historicamente. Ao assinalar que vivemos no longo prazo, Braudel (1996, p. 71) indica que as reorganizaes da vida social se fazem em presena de um agrupamento sucessivo e contnuo de mudanas produzidas numa longa durao, que desguam na realidade atual, condicionando alternativas de construo do futuro.Afinal, a conscientizao acerca da construo histrica uma maneira de buscar o ativo posicionamento no presente. A partir disso, as pessoas comuns, a populao local, os servidores pblicos e os estudantes devem ter a possibilidade de se posicionar frente construo do futuro da Universidade sob a mediao do passado. Posio, essa, atingida pela memria coletiva mediante os suportes de memria, como o acesso aos patrimnios socioculturais e s experincias que estes carregam, transportando a memria social de uma gerao outra.

SOBRE OS DADOS COLETADOS

Colgio Rui Barbosa

Parte da pesquisa foi realizada com diagnsticos aplicados a estudando estudantes do Colgio Estadual Rui Barbosa. Com o nome de Escola Normal, esta instituio foi aprimeira escola estadual de Jacarezinho, cuja construo s se deu em 1938, tendo como uma das finalidades movimentar o comrcio. Como narrou Aimone acerca das decises de criao do Colgio Estadual Rui Barbosa:

[...] criar aqui em Jacarezinho uma ESCOLA NORMAL SECUNDRIA, onde os filhos desta rica REGIO iro recebendo DIPLOMAS, as famlia vm para c, o comrcio aumenta e os professores que aqui forem nomeados, recebero um belo ORDENADO e somente iro gastar aqui, como todas as famlias dos estudantes. (AIMONE, 1992, p. 143).

Tal discurso teria sido a base de argumentao estabelecida entre os poderes locais e Manoel Ribas, ento Interventor Federal no Estado do Paran. Assim, observamos mais uma vez os interesses particulares, e a educao posta como investimento, com a cidade como construo social, mas tambm, uma edificao de poder. Em 1938 iniciou as atividades a Escola Normal; em 1960 inicia-se o ensino tcnico do comrcio; em 1960 tambm o Ginsio Noturno e a partir de 1972 o Curso Colegial Noturno tem incio.Atualmente a maioria dos alunos so pertencentes s classes mdia baixa e provenientes da zona urbana, suburbana e rural. O quadro de funcionrios da instituio composto por 21 trabalhadores de servios gerais, 10 tcnicos administrativos, 1 assistente de execuo, secretria e o corpo docente composto por 97 professores, 5 especialistas em Educao, Diretor Geral e diretores auxiliares, sendo uma escola imponente na cidade pelo seu grande porte, que somente comparado a estrutura dos antigos colgios catlicos.No Colgio Estadual Rui Barbosa fizemos um diagnstico com 17 estudantes. Suas idades variavam de 16 a 18 anos. Sobre o processo de coleta, este foi auxiliado pela professora na sala de aula. Os estudantes realizavam perguntas de cunho informativo, mostrando grande afastamento com relao s questes ligadas a UENP. A apatia por parte de grupos da sala era notvel, mas mesmo com esta sensao, todos responderam, com suas peculiaridades e interesses, o questionrio proposto.

Colgio Elo

A outra escola no qual realizamos a pesquisa foi o Colgio Elo, que se dedica ao ensino Infantil, Fundamental, Mdio e Pr-Vestibular e surgiu da unio de antigos colgios particulares. A instituio participou do ENEM 2011, com a taxa de participao de 67,39, sendo 31 o nmero de participantes. Estes obtiveram notas cuja mdia da escola em todas as reas avaliaes foi de 561,64. Nesta instituio a curiosidade dos alunos acerca do questionrio foi notvel, embora ainda alguns casos de desinteresse se manifestassem em respostas curtas abrigadas entre o simples sim e no.

Os estudantes e o tema escolhido

Atravs do diagnstico realizado com estudantes do Colgio Estadual Rui Barbosa e do Colgio Elo, que abrigavam as mesmas questes, remontamos algumas vises que so recorrentes na cidade, acerca da Universidade. A percepo central foi como que os jovens encaram esta instituio e quais suas expectativas com relao UENP. A representao social minimizada aos olhares dos cidados, podemos visualizar que a funo social da universidade est deficitria e que determinados padres sociais esto sendo fomentados, que fogem misso de desenvolvimento local e manuteno da democracia. Buscamos mostrar a viso de algumas pessoas que tem suas vidas ligadas, de formas prximas e distantes, da memria que forma a UENP. O Colgio Estadual Rui Barbosa, instituio pblica, com alunos provenientes de classes mdias (baixa) contrasta com o Colgio Elo, que uma instituio privada que atende estudantes de classe mdia alta. Ambos localizados na regio central de Jacarezinho, cujos alunos entrevistados, pertencem ao Ensino Mdio. Notadamente, alunos com perfis de realidades distintas em questo econmica, o que altera a condio e a forma como a juventude e as expectativas de futuro so vivenciadas pelos entrevistados. Entre as respostas sobre a representao da UENP para os estudantes, em ambos os casos, foram citadas referncias de faculdades isoladas (em alguns casos apenas uma ou outra), como: Faculdade de Educao Fsica, Faculdade de Direito, Faculdade de Filosofia, esta tambm sendo interpretada como uma aluso a FAFIJA. Tais informaes denotam o desconhecimento dos jovens estudantes de Jacarezinho com relao maioria dos cursos ofertados e existentes na instituio. Este fato se d pela deficincia da prpria universidade no que tange divulgao, promoo e projetos de extenso universitria na comunidade local, e h tambm, o papel da prpria cultura escolar desvaloriza os cursos de licenciatura e de maneira mais enftica, os que so oferecidos na Faculdade de Filosofia.Na instituio escolar privada h uma cultura curricular de formao e capacitao de candidatos aos vestibulares, preferencialmente, para os cursos mais concorridos do pas, por questes de status e rendimento financeiro. Por consequncia, a grande maioria dos alunos entrevistados no Colgio Elo, responderam ter pouco conhecimento sobre a UENP, e desinteresse pela mesma, exceto pelos cursos de Direito, Fisioterapia, Agronomia e Veterinria. Contudo, existiram equvocos de entendimento e desqualificao com relao s instituies pblicas, pois alguns estudantes em suas respostas relataram a preferncia em graduar-se em universidades particulares ao invs de pblicas, como a UENP. Na instituio escolar pblica, a referncia universidade pelos alunos tambm era pouca, porm havia interesse de alguns de ingressar na UENP. Em ambas as escolas o ponto de referencia em comum sobre a Universidade foram memrias das instituies anteriores, reconhecidas isoladamente como j citadas cima. Exemplificando os resultados separamos abaixo trs questes propostas no Colgio Estadual Rui Barbosa e suas respectivas porcentagens de respostas.

Qual a classe social, cultural e econmica de quem frequenta uma Universidade?Resposta: Todas as classes sociais. 6 estudantes escreveram frases com este teor. A uma parcela razovel da sociedade, estava presente em quatro respostas. A classe social com maior poder aquisitivo: 6 estudantes escreveram frases contendo este teor, mas havendo em alguns casos a seguinte observao: com alguns avanos, a classe C est tendo mais oportunidade de ingressar nas Universidades. 1 estudante no respondeu.A tabela a abaixo representa o apanhado de respostas:

Conhece os cursos que a UENP oferece? Se sim, diga-nos se pretende cursar algum deles.12 respostas afirmaram o desconhecimento e 5 disseram conhecer.A tabela a seguir representa o apanhado de respostas:

Conhece algum que tenha frequentado a UENP?O desconhecimento foi afirmado por 12 estudantes, com 4 a conhecer ex-estudantes da UENP e 1 aluno novamente no respondeu. A tabela a seguir representa o apanhado de respostas:

No satisfeitos com a generalizao das respostas que embora explique muita coisa por isso mesmo fomos averiguar onde se inicia este dficit da informao popular e o desinteresse por esta instituio de ensino superior de grande influncia no poder poltico e religioso da cidade e regio.

CONCLUSO

O desinteresse dos estudantes quanto UENP pode ser resultante da prpria poltica estabelecida ao longo da histria da FAFIJA, UNESPAR e atualmente, da UENP. Pois em nenhuma das criaes, da faculdade s universidades, houve uma consulta da sociedade local e regional, exceto aos setores hegemnicos, e os dados geopolticos e sociais da regio certamente foram levantados por IBGE. Dessa forma, no existiu na fundao das instituies o sentimento de pertencimento populao que desde o incio, seus interesses s foram considerados no campo das ideias. Espelha-se assim um contraste nas misses da UENP, preocupada com o desenvolvimento local e a permanncia estudantil e as medidas que estabelece para os cumprimentos de tais intenes.Como uma Universidade com um estatuto e regimento bem formados que em sua misso apresenta:

A UENP tem como misso atuar na produo do conhecimento cientfico em suas mais diversas formas e no processo de desenvolvimento regional e do Estado do Paran, participando ativamente no trabalho de construo integral da sociedade e de seus cidados, buscando sempre a melhoria da qualidade de vida, promovendo a democracia, a cidadania e o desenvolvimento socioeconmico, pela valorizao e socializao do conhecimento e do saber historicamente construdo e constitudo. (ESTATUTO UENP, cap. 1 Da Misso).

Portanto, o desconhecimento da populao local quando o tema se trata da UENP acusa-nos questes inquietantes, tais como: lgico que em quase oito anos de exerccio, a instituio que foi criada para servir a regio, seja pouco reconhecida pela populao local que vive entre a sede administrativa e quatro Centros de Estudos? Alis, no reconhecida pelo pblico alvo, da cidade sede da instituio, os jovens estudantes? Em via destes pensamentos h de se levantar esta problemtica e trabalhar para mobilizao de uma nova conscincia histrica do papel social da universidade para a comunidade externa. Este deve ser tanto um trabalho dos docentes, administradores quanto dos estudantes, embora seguindo a tendncia observada, esta ltima parcela seja preterida em decises e participaes dentro da prpria Universidade. O presente trabalho buscou refletir acerca das questes levantadas que evidenciaram o afastamento da sociedade local com relao UENP e a desvalorizao desta na viso popular. Uma vez que a apatia dos jovens se faz pela distncia e pelas polticas que vigoram internamente e refletem na forma como esta representada, ou melhor, na ausncia que a Universidade faz na memria local, procuramos trabalhar essa distncia e a problematizao na forma miditica, pela acessibilidade e como veculo de suscitar questionamentos e discusses.O vdeo, disponvel no canal XXVI Semana de Histria do portal YouTube iniciado com o ttulo do trabalho e imagens que mostram a FAFIJA e retratam a sua memria como homogenia e embelezada pelas falas conciliadoras de uma funcionria. Depois desse retrato do passado que mais marca a construo histrica que forma a UENP buscamos contrastar essas lembranas com a forma como a Universidade vem tratando seus alunos e a comunidade, utilizando da entrevista de um ex-estudante que atuou ativamente atravs do movimento estudantil na UENP. Nesta parte do trabalho mais se destaca o processo no qual a Faculdade se tornou Universidade e as crticas, com os jogos polticos e de interessam que tanto marcam a histria dessa instituio. O vdeo, produto final do presente estudo, ser apresentado durante a XXVI Semana de Histria da UENP, seguido debate, a fim tecermos discusses que nos faam repensar o passado e reconstruir a sejam passos para reconstruo da histria institucional.

REFERNCIAS

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