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8/2/2019 Jornal da Rua http://slidepdf.com/reader/full/jornal-da-rua 1/19 BELO HORIZONTE-JAN/2012-ANO VIII-EDIÇÃO 7 PROJETO DO LABORATÓRIO DE CONVERGÊNCIA MULTIMÍDIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE-UNI-BH

Jornal da Rua

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BELO HORIZONTE-JAN/2012-ANO VIII-EDIÇÃO 7PROJETO DO LABORATÓRIO DE CONVERGÊNCIA MULTIMÍDIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE-UNI-BH

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ÍNDICEROODBOSS:OCUPANDO A CIDADE 6Musica jamaicana nas ruas de BH

COMUNIDADE DANDARA 8  Alternativa para uma política habitacional autônoma ENTREVISTA RAFAEL BASTOS (CHACHÁ) 15O antropólogo e produtor cultural fala sobre os movimentos da cidade

MOÇAMBIQUE 20Uma experiência na África PODE 22Cão gera polêmica no Bolâo

 O METRÔ 24Problemas no transporte público

I I FÓRUM DO VOLUNTARIADO TRANSFORMADOR 26Chamando para o trabalho voluntário

CHARGE 31LE PARKOUR 32

 A cidade é um playground

CICLOVIAS E CIDADANIA 35Os usos de ciclovias em BH

ENTREVISTA COM MAURO LUIZ DE OLIVEIRA 36Responsável da BHTRANS pelo Programa Pedala BH

EQUILÍBRIO 37I impressões sobre a vida urbana

EXPEDIENTE 

REITORProf. Rivadávia C. D. de Alvarenga Neto

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E DESIGNProf. Rodrigo Neiva

COORDENAÇÃO DO CURSODE COMUNICAÇÃO SOCIAL 

Profa. Lorena Tárcia Peret

Programação VisualCaio Lourenço-Design Gráfico

 AlLUNOS-UNI-BH Thayane Dias BispoRicardo Freire

 Arecelly Aguiar  Asley Gonçalves

Isabel C. de Sousa Alessandra Faustino

Izabela Bretz

COORDENAÇÃO DO JORNAL DA RUA 

Profa. Cristina Leite

Participe do JORNAL DA RUA Lab. Convergência de Mídias

Rua Diamantina 463Lagoinha – BH/MG

CEP: 31110-320

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SOUNDSYSTEM 

OCUPANDO

CIDADE

 POR HUMBERTO

O RoodBoss Soundsystem teve início com um interes-se em comum: música da Jamaica. Ska, rocksteady,reggay e ritmos adjacentes uniram uma turma que de-cidiu expor e compartilhar o gosto musical no espaçopúblico da cidade. Víamos festas do gênero acon-

  tecendo em outras cidades do Brasil e do mundo,mas nada em Belo Horizonte. Despretensiosamente,decidimos fazer o primeiro evento em frente aos baresda Praça da Estação, proporcionando um baile a céuaberto (usual nas festas jamaicanas). Conseguimos oequipamento básico emprestado, divulgamos para osamigos e fizemos uma tarde de som. O resultado foiexcelente, aproximando muita gente e gerando umaboa repercussão entre os presentes. A partir daí, vis-lumbramos a possibilidade de repetir a dose em out-ros lugares da cidade e a coisa foi tomando corpo.

Fazendo parênteses, um “sound system” é, a grossomodo, um sistema de som (equipamento) controladopor um grupo de seletores, deejays e operadores (equi-

pe). Mas é impossível traduzir o verdadeiro significadosem se aprofundar na história e na cultura que cercaesse termo desde os anos 40 na Jamaica. Mas isso se-ria assunto para render em outro momento e contexto.

Desde o primeiro evento trabalhamos da forma cor-reta com a prefeitura, providenciando documentose assinaturas dos órgãos responsáveis. Seguimosa burocracia necessária e nunca tivemos problemascom isso. É um trabalho chato, mas é uma formade organizar o uso de algo que pertence a todos.

O projeto incentiva o bom uso do espaço público,gerando oportunidades de convivência nesses lo-cais que foram projetados para receber os habi-

  tantes da cidade e, geralmente, são subutilizados.Ocupamos o espaço por direito, mas também nospreocupamos com nossos deveres. Em respeitoaos demais cidadãos, encerramos o som pontual-mente às 22h e voltamos à praça no dia seguintepara limpeza. Viver em uma cidade é conviver e re-speitar as diferenças. Durante os eventos tentamos,através do microfone, conscientizar e envolver ospresentes nessa história, afinal, a festa é de todos.

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1. Introdução

O presente texto aborda o caso da Co-munidade Dandara - um assentamentourbano precário situado junto à Pam-pulha, na região norte da cidade deBelo Horizonte (MG). Como a maioriados casos similares em Minas Gerais eno Brasil, trata-se igualmente de pro-cesso de ocupação de áreas urbanasdesocupadas por famílias e grupos depessoas com grande diculdade de

acesso à moradia urbana e que vêem,quase sempre, nesses processos, aúnica maneira de conseguirem umlugar para construir sua moradia. Estecaso é um exemplo, dentre tantosoutros, que demonstra como tem sedado encaminhamentos para solucio-nar o problema habitacional no Brasilem face da ausência e/ou inecáciadas políticas públicas.

Mas, diferentemente da grande maio-ria das ocupações, a ComunidadeDandara estabeleceu-se através de

um modo planejado de ocupação quetem contado com a participação ativadas lideranças políticas do movimen-to de ocupação em íntima conexão esintonia com os seus moradores. Outroaspecto de diferenciação é que, ao in-vés de ocupar áreas residuais inadequa-das para a urbanização e quase semprede grande risco para as moradias, a Co-munidade Dandara ocupou um amploterreno em meio à cidade com excelen-tes características para a urbanização e– claro – grande valor de mercado, numprocesso de ocupação que a colocouno centro de ações judiciais, atu-

ações governamentais e a mídia, aomesmo tempo em que movimentouvários grupos políticos ligados à rei-vindicação da moradia urbana.

A Comunidade situa-se nas proximi-dades dos limites de Belo Horizontecom os municípios de Ribeirão dasNeves e Contagem – os três municípiosmais populosos da RMBH , em meio abairros de renda média e média-alta,na região da Pampulha. Esta, por sua

vez, é considerada uma das regiões nobres da Capital euma de suas áreas de maior renda, compreendendo váriosbairros de classe média e média-alta, além de algumaspoucas áreas não ocupadas remanescentes de antigos sí-tios, de grande valor imobiliário, situadas nas proximi-dades da Dandara.

O terreno onde está implantada a comunidade possui 31anos, ocupando uma encosta suave e cercada por doiscursos d água, ainda em leito natural, tributários do cór-rego Olhos D’água (ou da Avenida Francisco Negrão deLima), que deságua na lagoa da Pampulha; divisa ao norte

e a oeste com os bairros Céu Azul e Nova Pampulha, e asul e a leste com os bairros Braúnas e Trevo. Em relaçãoà legislação municipal , o terreno enquadra-se como ZP-2, Zona de Proteção 2; além desta classicação o terrenoencontra-se também submetido a 3 ADEs, Áreas de Dire-trizes Especiais, que são a ADE de Interesse Ambiental, aADE Pampulha e a ADE Trevo, as quais permitem usos quenão gerem ocupações com grandes adensamentos.

A comunidade recebeu o nome de Dandara, em homena-gem à guerreira negra e companheira de Zumbi dos Pal-mares, importante líder quilombola (séc. XVII) do períododo trabalho escravo na América Portuguesa; juntos, elessão referências importantes na luta contra o trabalho es-

cravo e a repressão à cultura africana durante o períodocolonial.

 Tiago Castelo Branco Lourenço é Ar-quiteto-Urbanista e Historiador, mem- bro da Assessoria Técnica Voluntáriada Comunidade Dandara. Trabalha commaquetes na empresa Maquete AristidesLourenço e com projetos arquitetônicose urbanísticos, é professor do curso deArquitetura e Urbanismo da FaculdadePresidente Antônio Carlos de Bom Des- pacho. Em sua trajetória acadêmica tra- balhou com pesquisa passeurs-culturels,continuidade e descontinuidade cultural,conformação espacial, técnicas con-strutivas, patrimônio histórico e cultural,maquetes, desenhos e representações grá-cas, movimentos populares e habitaçãode interesse social. 

A CONSTRUÇÃO DE UMA ALTERNATIVA PARA UMA POLÍTICA HABITACIONAL AUTÔNOMA.

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4. O processo de ocupação e a con-solidação do assentamento

4.1 Os primeiros momentos.

Na noite do dia 09 de abril de 2009, umgrupo de aproximadamente 100 famí-lias adentrou um terreno nos limitesdos bairros Céu Azul, Nova Pampulhae Braúnas que se encontrava vazio hávárias décadas. Ainda na mesma noitee durante o dia seguinte, outras famí-lias passam a compor o movimento deocupação do terreno; segundo rela-tos de vários moradores do lugar, asprimeiras informações sobre o acam-pamento foram colhidas em noticiári-os televisivos e radiofônicos. Este é ocaso de Rosa:

“[...] De repente, os olhos vidrados,que se esforçavam para não fechar,piscaram. Rosa não perdia um framena telinha. Ela assistia ao programavespertino todos os dias, na hora sa-grada. [...] Tomou uma decisão. Abriu

a porta de casa e rumou ao bairroCéu Azul, seria necessário vericar asboas novas. Não poderia compartil-har a notícia, sem antes vericar suaviabilidade. [...] Chegou à ocupação.Seus olhos enxergaram a mesma cenaque assistiu na telinha. Os pensam-entos confusos projetavam um futuropara sua família. “Será, meu Deus,que nalmente vamos conseguir umpedacinho de terra para morar?” ”(ANDRADE; LELIS, 2010, p.14-15)

A par desse movimento de ocupação,o barulho das sirenes da polícia podiaser ouvido em toda a região, avisandoa todos da vizinhança que aquela seriauma Sexta-Feira da Paixão diferente:

“[...] O sol começava a aparecer, jáse ouvia um barulho de sirene. Inicial-mente, o ruído era pequeno e duravapouco. Desses que não conseguimosdistinguir do que se trata. Seria apolícia, uma ambulância, ou ainda oCorpo de Bombeiros? Será que alguémestava passando mal? Algum aciden-

te? Ou tratava-se somente dos policiais procedendo umaronda pelo local? Ainda não havia motivos para se preo-cupar. Nos grandes centros urbanos, é comum o barulhoquando dura pouco tempo.Mas o ruído, que tinha começado com uma sirene, logofoi ganhando coro. Se inicialmente durou pouco tempo,agora já havia acordado toda a vizinhança. Algo deni-tivamente estava acontecendo.Que bela maneira de se começar um feriado, acordan-do ao som estridente de uma sirene. Mas aquele não eraqualquer feriado. Como esquecer-se de algo tão impor-tante? Era Sexta-feira da Paixão e o barulho não parecia

anunciar, de imediato, boas novas. Em pleno feriado, oque se via era o anúncio de um problema. A essa altura,era difícil acreditar que alguém ainda conseguia dormir.Os moradores do bairro já se levantavam em meio à gri-taria, ao som das vozes que entoavam discussões. Muitasdiscussões! Não conseguiam distinguir, com exatidão, umasó frase. As palavras justapostas não faziam sentido paraquem acabara de acordar, um grande tumulto.Era difícil manter-se em casa. Os vizinhos já haviam sedeslocado para fora de suas residências. Alguns, sequertrocaram as roupas. Estavam ainda de pijamas. Não tinhama ilusão de que seria possível voltar para a cama, com todo aquelecenário que avistavam. Os planos de preguiça para o feriado iamembora frente aos seus olhos.

Nenhuma daquelas cem famílias estava naquele lote, atéentão abandonado, na noite anterior. Parecia sonho! Queestranho, será possível dormir frente a um lote abandona-do e acordar com cem famílias como vizinhos?”(ANDRADE;LELIS, 2010, p.10-11)

Ao saber do ocorrido vários dos atuais moradores se di-rigiram ao local para conseguir ter acesso a terra. Já namanhã do dia 11 de abril eram mais de 1000 famílias es-parramadas nos 31.000 m² do terreno.

Ainda nos primeiros dias da ocupação a Polícia Militar doEstado de Minas Gerais negocia com os militantes umaárea restrita dentro do terreno para que cassem assen-

tados, até a resolução jurídica do fato. Essa negociaçãocoloca as agora 1300 famílias, assentadas em aproxima-damente 15% do terreno, ou seja, numa área de aproxi-madamente 4700 m². Cada família passa a habitar aproxi-madamente 3 m², esta situação iria perdurar até o dia 12de julho de 2009.

4.2 As estratégias de gestão do acampamento em seusprimeiros momentos.

O acampamento se organizava da seguinte maneira: asfamílias eram divididas em 10 grupos, cada grupo tinha

3. Os paradigmas jurídicos queenvolvem a Comunidade Dandara

Assim que houve a ocupação, a Constru-tora Modelo, proprietária do ter-reno entrou no Tribunal de Justiçade Minas Gerais com uma ação dereintegração de posse. Este instru-mento jurídico esta fundamentadono princípio de direito a propriedade,sendo o seu entendimento baseado no

artigo do Novo Código Civil Brasileiro(Lei nº 10.406, de 10.01.2002): “Art.1.228. O proprietário tem a faculdadede usar, gozar e dispor da coisa, e odireito de reavê-la do poder de quemquer que injustamente a possua oudetenha.”

Algumas interpretações realizadas porprossionais do direito deste preceitojurídico entendem que este é um di-reito absoluto, e não cabe contradiçãono seu exercício, apesar desta mesmalegislação indicar a necessidade do

proprietário dar função social à pro-priedade. Essas interpretações aindase encontram fundamentadas no an-tigo Código Civil Brasileiro de 1916,onde essa interpretação era possível,pois essa legislação era fundamental-mente liberal, ela foi uma das regula-mentações da propriedade privada noBrasil. Desde a Constituição de 1988,esta expressa na legislação brasileiraà questão da função social da proprie-dade, seja ela urbana ou rural. O NovoCódigo Civil de 2002 e o Estatuto da

Cidade de 2001 regulamentam este preceito constitucio-nal, apesar da tentativa, essas regulamentações aindanão se encontram completamente introjectadas pela so-ciedade brasileira, sendo objeto de grandes polêmicasnos tribunais pelo país.

O principal argumento jurídico, defendido pelos assesso-res jurídicos da Comunidade Dandara, e que dá legitimi-dade para a ação desta população em relação ao terrenoobjeto do pedido de reintegração de posse, é o fato destenão cumprir sua função social, ou seja, quando uma pro-

priedade privada não atende aos ditames da lei ela nãopode ser protegida por esta, o direito social se sobrepõeao direito privado. Esta argumentação de jurisprudênciagarantiu uma posse provisória do terreno.

Comunidade Dandara-vista aérea

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dois coordenadores e era compostopor aproximadamente cem famílias.Havia uma equipe de segurança, cadagrupo apresentava dois nomes paracompor essa equipe. A equipe de se-gurança tinha o objetivo de garantir aintegridade do terreno e dos acampa-dos, além de controlar a entrada denovos ocupantes.

O esgotamento sanitário era realizadoatravés de fossas negras e cada gru-

po era responsável por uma fossa. Oabastecimento de água era realizadoatravés de uma ligação clandestinana Rua Petrópolis.

A energia elétrica era garantidaatravés de ligações clandestinas empostes do entorno do terreno. A ele-tricidade era restrita as áreas coleti-vas não podendo ocorrer à ligação nasunidades, pois essas eram bastanteprecárias e apresentavam riscos à se-gurança dos moradores.

4.3 Como se apropriar daquele imen-so terreno?

Devido às dimensões da gleba objetoda Ocupação Dandara, a coordenaçãodo movimento junto com seus mo-radores pretendia realizar um pro-jeto urbanização que estivesse pau-tado nos parâmetros urbanísticos deBelo Horizonte, almejando com estaatitude conferir uma maior legitimi-dade ao processo político ali colo-cado, e com isso maiores garantiasnum processo futuro de regularizaçãofundiária.

Além do MST e Brigadas Populares,a ocupação recebeu desde seu inícioapoio de arquitetos e estudantes dearquitetura e geograa. Estes apoia-dores deram suporte técnico para aconstrução das propostas de apropri-ação do terreno.

Para construção da proposta foramvericados alguns condicionantespara a sua realização, dentre eles os

seguintes:

- Aspectos da Legislação Urbanística de Belo Horizonte;- Vegetação existente no terreno;- O regime hidrográco do terreno;- Aspectos geológicos;- Infraestrutura instalada no entorno;- Uso e ocupação do solo do entorno;- Aspectos sócio-econômicos da população vizinha ao ter-reno.

Na construção da proposta de lançamento viário e par-

celamento do terreno, a comunidade teve uma partici-pação preponderante, foram utilizadas várias estratégiasde representação para as discussões das proposições taiscomo: desenhos técnicos, croquis e maquetes. O trabalho

Tiago explica seus projetos para a comunidade.

dois coordenadores e era compostopor aproximadamente cem famílias.Havia uma equipe de segurança, cadagrupo apresentava dois nomes paracompor essa equipe. A equipe de se-gurança tinha o objetivo de garantir aintegridade do terreno e dos acampa-dos, além de controlar a entrada denovos ocupantes.

O esgotamento sanitário era realizadoatravés de fossas negras e cada gru-

po era responsável por uma fossa. Oabastecimento de água era realizadoatravés de uma ligação clandestinana Rua Petrópolis.

A energia elétrica era garantidaatravés de ligações clandestinas empostes do entorno do terreno. A ele-tricidade era restrita as áreas coleti-vas não podendo ocorrer à ligação nasunidades, pois essas eram bastanteprecárias e apresentavam riscos à se-gurança dos moradores.

4.3 Como se apropriar daquele imen-so terreno?

Devido às dimensões da gleba objetoda Ocupação Dandara, a coordenaçãodo movimento junto com seus mo-radores pretendia realizar um pro-jeto urbanização que estivesse pau-tado nos parâmetros urbanísticos deBelo Horizonte, almejando com estaatitude conferir uma maior legitimi-dade ao processo político ali colo-cado, e com isso maiores garantiasnum processo futuro de regularizaçãofundiária.

Além do MST e Brigadas Populares,a ocupação recebeu desde seu inícioapoio de arquitetos e estudantes dearquitetura e geograa. Estes apoia-dores deram suporte técnico para aconstrução das propostas de apropri-ação do terreno.

Para construção da proposta foramvericados alguns condicionantespara a sua realização, dentre eles os

seguintes:

- Aspectos da Legislação Urbanística de Belo Horizonte;- Vegetação existente no terreno;- O regime hidrográco do terreno;- Aspectos geológicos;- Infraestrutura instalada no entorno;- Uso e ocupação do solo do entorno;- Aspectos sócio-econômicos da população vizinha ao ter-reno.

Na construção da proposta de lançamento viário e par-

celamento do terreno, a comunidade teve uma partici-pação preponderante, foram utilizadas várias estratégiasde representação para as discussões das proposições taiscomo: desenhos técnicos, croquis e maquetes. O trabalhode demarcação da gleba para identicação das vias e doparcelamento foi desenvolvido pela própria comunidadecom o apoio dos técnicos.

4.4 Primeira proposta de urbanização da ComunidadeDandara

Na primeira proposta (Imagem 5) desenvolvida para o ter-reno, o parcelamento era composto por lotes coletivose um lançamento viário com poucas ruas, esta era uma

questão importante para promover um melhor aproveita-mento do terreno privilegiando espaços para as habita-ções. A proposição de lotes coletivos almejava favoreceruma maior integração entre as pessoas da comunidade,além de permitir uma maior eciência na posterior insta-lação da infraestrutura urbana.

O parcelamento era composto por 140 lotes coletivos deaproximadamente 1000 m², esta área atendia à diretrizurbanística apresentada pela ADE Pampulha , nesta legis-lação é permitido que dentro de sua área de abrangênciatenha somente lotes com no mínimo 1000 m². Eram pre-vistas 1069 unidades habitacionais de aproximadamente125 m², esta área atende a exigência prevista na ADE Tre-vo , outra legislação que abrange a gleba objeto da inter-

venção. Segundo a referida lei é permitido quota mínimade 120 m² por unidade habitacional dentro de sua áreade abrangência. As unidades habitacionais instaladas naencosta voltada para o sul e o sudeste com aproximada-mente 250 m² de área prevista, diminuindo assim a den-sidade populacional na porção do terreno que apresentauma maior declividade.

A manutenção da Área de Preservação Permanente (APP)no entorno dos cursos d água que atravessam o terrenoatendendo ao Código Florestal Brasileiro. Para delimitarsicamente a APP existe uma via que circunda toda á área

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5. Considerações Finais

A experiência de arquitetura realizada na Comunidade Dandara, foi importante para desmontaro papel do arquiteto. Deve-se buscar a tríade vitruviana: rmitas (estabilidade), utilitas (função)e venustas (beleza)? Ou devemos buscar a vita (vida)? Para Lina Bo Bardi o arquiteto é um mestreda vida, nossa prossão esta ligada a vivência. O arquiteto deve entender como as pessoas vivempara contribuir nas soluções dos seus problemas cotidianos. (BARDI, 2008)

A experiência de projeto na Comunidade Dandara, mostrou que muito além de construir algo es-tável, belo e que cumpra plenamente sua função, o arquiteto participa de apropriações espaciaisque devem atender a vida em toda a sua plena liberdade, pois anal, não somos escultores do

vazio e sim artistas que proporcionam espaços ou a falta deles para que as pessoas vivam.

6. Referências Bibliográcas:

ABREU, J.F., PAIVA, J.E.M., CÉSAR, R.V., MACHADO, C.C. O acesso à infra-estrutura nas diferentes regiões. In: Minas Gerais do Século XXI: Reinter-pretando o Espaço Mineiro. 01 ed. Belo Horizonte (MG): BDMG, 2002, v.02, p. 33-90.

ABREU, J.F, PAIVA, J. E. M. Mapping quality of life in Brazil In: Annual meeting of the applied geography Group-AAG, 2004, 2004, St. Louis. Annalsof the Annual Meeting of AAG-2004. Washington, DC: AAG, 2004. v.1. p.32 – 48.

ANDRADE, Roberta, LELIS, Amanda. Por trás dos olhos de Dandara. Belo Horizonte: Tsusru Editora Experimental, 2010.

BARDI, Lina Bo. Lina Bo Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 2008, 3ª

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 35.ed. São Paulo:Saraiva, 2009.

BRASIL, Código Civil (2002). Código de Processo Civil Brasileiro. Brasília, 2002. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 15 mar. 2011.

BRASIL, Estatuto da Cidade: Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, que estabelece diretrizes gerais de política urbana. Brasília: Câmara dos Depu-tados, Coordenação de publicações, 2001.

DAVIS, Mike. Planeta Favela. São Paulo: Boitempo, 2006.

FERNANDES, Edésio. Direito Urbanístico e Política Urbana no Brasil. Del Rey, Belo Horizonte, 2001.

FERRO, Sérgio. Arquitetura e Trabalho Livre. São Paulo: Cosac Naif, 2006.

LOURENÇO, Tiago Castelo Branco. Encontros e desencontros na arquitetura - A assistência técnica e a Ocupação Dandara. Belo Horizonte: PontifíciaUniversidade Católica de Minas Gerais, 2009.

MAGALHÃES, José Luiz Quadros de. Ocupação Dandara, um direito constitucional. Disponível em: <www.ocupacaodandara.blogspot.com>. Acessoem 8 de agosto de 2009.

NOGUEIRA, A.P. Desvendando o habitar no espaço urbano periférico: conjuntos de habitação social em Sapopemba, São Paulo. In: OLIVEIRA, A.U.de; CARLOS, A.F.A. (org.). Geograa das metrópoles. São Paulo: Contexto, 2006.

PBH, Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo do Município de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2010. Disponível em: <http://por-talpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&pIdPlc=ecpTaxonomiaMenuPortal&app=regulacaourbana&tax=15241&lang=pt_BR&pg=5570&taxp=0&> Acesso em 21 de março de 2011.

PAIVA, J.E.M., ABREU, J.F. Qualidade de Vida em Minas Gerais nos Anos de 1991 e 2000: caracterização e mapeamento da situação dos municípiosIn: Sociedade e Natureza na Visão da Geograa. Rio Claro (SP): AGETEO - Associação de Geograa Teorética, 2004

SANTOS, J.A.F. Posições de classe destituídas no Brasil. In: SOUZA, J. A ralé brasileira; quem é e como vive. Belo Horizonte: UFMG, 2009.

SOMARRIBA, Mercês. Movimento reinviticátório urbano e política em Belo Horizonte. In: DULCI, Otavio Soares (org.). Belo Horizonte: Poder,políticae movimentos sociais. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 1996.

A cidade, a Praia da Estação, o carnaval...

 M e u  n o m e  é   R  a f a e l   B a r r o s,  m a s  m e  c  h a m a m  d e   R  a f a 

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 M e u  a p e l i d o  v e m  d e  u m a   h i s t ó r i a  a n t r o p o l ó g  i c a, 

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“Sempre fui muito ativo,politicamente falando.Desde muito novo, semprefui envolvido com ques-

tões culturais”.

vimentações aqui da Praça da Estação em decorrência do decretoque proibia a realização de eventos e agora restringe a realizaçãode eventos. E estamos muito envolvidos com a política cultural,agora que a coisa foi descambando para a questões relativas à LeiMunicipal de Incentivo à Cultura, o Conselho Municipal de Incentivoà Cultura.Tenho estado muito próximo da galera do Nova Cena queé outro movimento muito bacana da nova geração do teatro de Belo

Horizonte, então eu sou isso e muito mais um tanto. Sou filho deIbirité, Congadeiro, etecetera e tal.

Sempre fui muito ativo, politicamente falando. Desde muito novo,sempre fui envolvido com questões culturais. Comecei a fazerteatro com 6 anos de idade em Ibirité. Juntava os amiguinhos porconta própria. Com 9, 10 anos de idade já estava escrevendo peçacom amigos, fazendo figurinos, cenários. Ia às escolas de Ibiritépedir à diretora para nos apresentarmos. Depois, com 13 anos deidade, a gente se envolveu numa ONG ambiental lá, que chama-va GPDA, Grupo Popular de Defesa do Ambiente de Ibirité, aí oenvolvimento passa a ser mais político e comunitário. Também apartir do GPDA eu me aproximei do PT. Com 15 anos de idade jáestava filiado ao PT de Ibirité e discutindoas coisas de forma muito ampla, pensandono mundo, na sociedade, e sempre peloviés cultural. Sempre fui do Congado, crescidentro do Congado, meus melhores amigossão filhos da Rainha Conga de Ibirité, sem-pre estava na casa dela. Ia pra lá todo anover a Alvorada, que é a hora que a guardavai saldar a rainha no amanhecer. Então tive

essa relação muito próxima com a culturapopular, a festa. Nasci num dia de festapor excelência, 21 de junho, e sempre tiveuma relação muito grande com a religião.Nasci numa cidade do interior e até os meus 12 anos de idademorava numa rua de terra. Até a década de 90 Ibirité tinha 25 milhabitantes, era de fato uma cidade de interior, então você nãotem como se apartar disso. Eu fui coroinha na igreja, sacristão,fui coordenador de encontro de adolescentes, eu gosto disso. Naverdade, acho que essa é uma herança positiva e foi objeto de umpequeno conflito quando eu vim pra BH, porque aí você se tornaamigo de uma classe média, alta, filhos de intelectuais e genteda cultura, que já nasceu num ambiente mais ateu, a maior partedos meus amigos não foram batizados. Eu, além de ser batiza-do, fazer primeira comunhão e ser crismado, fui catequista e ésempre aquela visão pejorativa da religião, aquele peso da culpacatólica, da instituição católica, mas eu acho uma pena, pois seperde do horizonte a coisa mais maravilhosa do universo religioso

que é a mística, que é a experiência pura, a relação das pessoas,dos indivíduos, com aquilo que é eterno, que não se vê. Tudoque sou devo às experiências que vivi em Ibirité, se não tivessetido a experiência que eu tive lá eu seria uma pessoa totalmentediferente do que sou hoje. E aí eu vim pra BH e mantive semprecomigo tudo isso. Fui me aproximando de movimentos artísticos,movimentos culturais. A minha formação lá na Fafich me mante-

ve sempre conectado com esse universo e à medida que eu fuificando mais velho, me formando em Ciências Sociais, a minha

visão em relação às questões da sociedade, questões políticas,também foi tomando outra dimensão, aí a gente vai tendo umoutro olhar do ponto de vista teórico, acadêmico mesmo. A gentetem condição para poder combater também no outro plano, nãoé só na paixão, que para mim é o mais importante, mas eu tenhoargumento teórico, científico, legal. É mais difícil, do ponto devista institucional do poder público, vir pro enfrentamento quenão é só dos “ideológicos apaixonados”, o cientista social tambémestá ali e aí, desculpe-me a sociedade moderna, mas eles que sevirem para dar conta de mim e do meu diploma! E aí eu cheguei

nesse universo. A minha área de pesquisa éreligião e festas.

Com essa história de eu estar envolvido como carnaval de Belo Horizonte eu saquei queexiste uma deficiência muito grande, existemtrabalhos históricos, mas não um pensamentosociológico, antropológico sobre o carnavaldaqui. Sou fascinado com festa, faço festa,

aniversário eu comemoro três, quatro vezes,meu aniversário começa em um dia e terminadois dias depois. Carnaval pra mim, se deixar,dura um ano. Eu sou super festeiro, fui traba-

lhar com música muito por conta disso, eu tentei ser músico, masnão consigo, não tenho o dom, mas eu adoro dançar.

No carnaval de 2010 foi engraçado porque nós saímos com 7 blocos,em 2011 já foram 21. A coisa vai contagiando me smo, aí é bomporque você fragmenta, não tem muita aglomeração, a coisa ficamais informal, lógico que vai ter gente que vai querer que a coisabombe, com patrocínio, ganhar dinheiro, mas isso faz parte dosistema que a gente vive. Mas o Chachá , por exemplo, eu tô pen-sando seriamente em sair de manhã no ano que vem, não divulgarmuito, divulgar dentro do bairro Santa Tereza, pros velhinhos epras criancinhas. Cada vez mais eu tô ficando amigo da galera delá, dos moradores antigos, então eu acho que isso vai dar uma outradimensão pro bloco, que eu acho necessária.

Eu recebi uma intimação doMinistério Público por causa docarnaval, fui denunciado pelaPolícia Militar, mas eu não seiainda, pois no dia da audiênciaeu não fui, porque era no mesmodia do desfile da escola de sambaLiberdade Ainda que Tan-tan, daluta antimanicomial. Eu tinhasido convidado para ser jurado,não ia deixar de ir pra ir nessenegócio.

Parece que a Polícia Militarchamou a associação de mo-radores do Santa Tereza paradiscutir a coisa do carnaval lá. Chamaram os comerciantes ehouve quem adorou e quem detestou. Seu Orlando acha o

máximo, dizem que o Cardoso ficou puto porque depreda-ram o banheiro dele, não sei, não vi nada dessa história. Eulembro que na Copa do Mundo de quatro anos atrás a gentefoi assistir um jogo no bar do Seu Orlando, aí cada um levouum prato e fizemos uma farra na frente do Seu Orlando, elecolocou televisão e tal, e o Cardoso saiu do bar dele e foiassistir com a gente lá, com uma garrafa de cachaça. Querdizer, televisão do lado de lá não pode, por causa do públicoque ele atende hoje, com o preço que ele oferece, mas elepode ir lá participar da festa no bar do Seu Orlando. Eu achoque a maior parte da galera curte, não só lá no Santa Tereza,mas a experiência de todos os outros blocos. Os idosos sãoos que mais curtem. Tem um buraco na formação da galera,do final da juventude até os cinqüenta anos de idade, quenão pôde viver isso aqui em BH, portanto não teve essaformação, essa educação. Esse pessoal abomina, acha queisso não faz parte do universo daqui, que é negativo. SantaTereza tem 4 blocos, Os Inocentes, Banda Santa, Metralhas,Satã e seus Asceclas. Eles existem ainda, mas não saem maisno bairro por conta das reclamações.

A Alcova Libertina e a Praia da EstaçãoAlcova é um atelier coletivo na frente da praça, no prédiodo Correio, formado na grande maioria por artistas plásti-cos. Esse espaço é mantido pelos seus integrantes e por unsmecenas, três ou quatro figuras de BH, que investem, todomês dão uma grana para manutenção do espaço e aquisiçãode infraestrutura, material, tinta, tela, computador, e tal.E eles resolveram fazer o bloco, com aquela pegada maisrock’n’roll e com a marchinha, que pra mim foi do caralho!Quando eles vieram cantar pra gente, quando acabaram decompor, quando eles cantaram o refrão, “chuta a famíliamineira” , eu comecei a cantar “chupa”, que do ponto devista da moral, pode ser até mais interessante, e aí ficouesse dilema de “chuta” e “chupa”, ai eu falei que chuta émuito agressivo, quem vai querer “chutar” as vovozinhas deMinas Gerais? Aí, no início eu fiquei meio apreensivo, masdepois eu vi que era uma coisa do meu lugar social, a minha

educação católica ibiritense me fazter um determinado cuidado, maseu comecei a perceber qual era acarga simbólica daqueles versos,porque chutar a família mineirana verdade é chutar os valores,os códigos de conduta, um tipo depolítica que é muito característicade Minas Gerais, ta aí esse infelizdesse prefeito que é a prova disso.Foi na verdade o grande grito doCarnaval. É uma coisa que estáalém, o Carnaval é outro tempo,outro estado, outro espaço e épreciso que este espaço exista parareavivar os ânimos.

Agora vou falar da Praia da Esta ção. Em 2009, foi instituídoum decreto, aí a gente ficou sabendo através de um email,

eu não tinha facebook, eu sou uma pessoa que não funcionamuito do ponto de vista tecnológico, eu sou bem mecânico,sou de Ibirité, eu vivia no mato mesmo. Minha mãe falavacomigo: “você comeu canela de cachorro?”, de tanto queeu andava, e aí eu recebi um email com um endereço de umblog que é o “Vá de branco” que levava ao conhecimentoda cidade esse decreto que proibia a realização de eventosde qualquer natureza na Praça da Estação e que entraria emvigor a partir do dia 1º de janeiro. Isso era em dezembroainda. Alguém ficou sabendo do decreto, porque isso foitudo muito silencioso, ficou indignado com o teor do decretoe resolveu levar ao conhecimento das pessoas. Esse “Váde branco” era um chamado para as pessoas multiplicaremessa convocatória e comparecerem na Praça da Estaçãono dia 7 de janeiro, o decreto já ia ter entrado em vigor,seria um grande ato de protesto contra o decreto. Repasseiesse email e fiquei acompanhando a movimentação. E vim,chegamos aqui e tinha talvez 30 pessoas, tinha gente ligadaao movimento estudantil, ligada a partido, ao movimentoanarquista, à área cultural, gente ligada a nada, coletivotipo Estilingue, aí nós demos um abraço simbólico na Praça efalamos “E aí? Estamos motivados e precisamos fazer algumacoisa”, alguma coisa pra ampliar essa discussão, levar aoconhecimento de um maior número de pessoas e tentar arti-cular alguma coisa contrária a isso, vamos criar uma lista dediscussão na internet, começar a discutir por email e tentarfazer encontros presenciais. Na lista de discussão surgiu aideia: vamos fazer um ato, um grande ato de protesto napraça, lúdico, performático, vamos transformar a praça empraia, ao mesmo tempo a gente vai fazer um ato de desobe-diência civil, a gente vai se colocar diante do poder público,falando “olha não é proibido não, a praça é pública e nós va-mos fazer um ato aqui” e essa ideia da praia vinha com todaa carga simbólica que a praia tem, a praia como ambientesocial, um espaço livre, sem hierarquia, apesar de que issono Rio de Janeiro também tá mudando porque o Lacerdade lá tá tocando o terror também, o Paes não é brinquedonão! Mas é isso, a praça é de todo mundo, assim como a

“É mais difícil, do ponto de vistainstitucional do poder público,vir pro enfrentamento que nãoé só dos “ideológicos apaixona-dos”, o cientista social tambémestá ali e aí, desculpe-me a so-ciedade moderna, mas eles quese virem para dar conta de mime do meu diploma!”

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praia é de todo mundo. Isso não éuma ideia original, nem do pontode vista da ideia performática,intervenção urbana é uma coisavelha pra danar, nem do ponto devista de praia, tem até um texto,vale a pena dar uma olhada nele,que o Comjunto Vazio soltou e tálá no blog da Praia, do Praça Livre,que é da tradição praieira, eu até

fiquei afim de falar sobre esse texto, só que não tenho tempo. OPaulo, integrante do Comjunto Vazio faz um retrospectiva desde oGalpão em 89 até chegar à Praia da Estação, ao Piscinão de Ramos, que teve ali agora há pouco tempo, e duas ações que aconte-ceram muito próximas da Praia, realizadas pelo Comjunto Vazio,que foram as Ilhas, eles fizeram algumas praiazinhas em rotatóriasda cidade, e as rotatórias do Azucrina que é um coletivo de BeloHorizonte, muito bacana, que ocupava os espaços da cidade com

música. Pouco antes do decreto eles fizeram uma apresentação naPraça da Estação que, eu acho, eles inclusive chamaram de Praia daEstação. A ideia pegou, nós abraçamos a ideia, na época eu escrevium email, intitulado Praia da Estação, em que eu contextualizavapoliticamente a cidade de BH e convidava as pessoas a participaremda Praia, a partir de um pe nsamento maior da cidade, e pedia praspessoas multiplicarem esse email.É muito engraçado, pois dois dias antes da primeira praia, que foidia 16 de janeiro de 2010, eu comecei a receber emails de volta,então nessa hora eu senti que o negócio tinha disseminado, a gentecou super ansioso e ao mesmo tempo apreensivo, e eu lembro queum dia antes da praia, na sexta feira, eu tinha acabado de fazeruma faixa, tem várias fotos até, com os dizeres “a praça é de tudoe de todos, a praça é a nossa praia”. A gente tava com muitaexpectativa com relação à fonte, eu falei “gente e se eles desliga-rem a fonte pode haver um boicote”, porque de fato a praia estavarelacionada também com a água da fonte. Aí eu comecei a ligar eprocurar telefone de caminhão pipa, para saber quais trabalhariamno sábado e vim com esses números pra praia, e foi muito engra-çado, porque não deu outra. A gente conversou com um senhor queliga a fonte todos os dias, ele falou que a fonte ia ligar às 11 horas.A convocatória chamava para a praia às nove, mas Belo Horizonte,cidade boêmia, tinha meia dúzia de gatos pingados, mas sócomeçou a chegar gente de meio dia pra uma hora da tarde. Eusempre co ativo, penso “não vou sair na sexta feira, vou chegarcedo pra estar aqui no horário”, eu sou assim, eu sou um anarco-hiper-revolucionário super pontual, ou quase. Aí não ligaram afonte e eu falei com a galera, eu peguei o telefone do caminhãopipa, é cento e cinqüenta reais, vamos fazer uma vaquinha e vamoschamar o caminhão pipa. E aí foi super do caralho, o caminhão pipachegou aqui umas duas e meia, três horas da tarde, a gente tavarachando no sol, já tinha uma quantidade muito grande de pessoas,aquela coisa de ter desligado a fonte deixou o povo mais puto e tal,na hora que o caminhão pipa chegou, aí foi o estado de êxtase, e ocaminhão se transformou na grande performance, na grandemetáfora da praia. Aquela coisa, o tiro sai pela culatra. Forem eles

que provocaram a idéia do caminhão pipa, a coisa mais fantástica.O caminhão suscitou uma série de gritos que caram na praia. O“deita no cimento”, “Ei polícia, a praia é uma delícia”, “tira acalça brim bota um o dental, polícia você é tão sensual”, frasesque foram surgindo em torno da presença do caminhão aqui. N ósdiscutimos aqui e zemos reunião presencial aqui na Praça daEstação toda semana. Foi um dos gritos que surgiu na praia. “Todasemana”, “Toda semana”, “Toda semana”. Aí cou, todo sábado vaiter praia. A gente vai fazer esse s encontros pra discutir a questãoda praia, da cidade, e vamos tentar chamar outros encontrospresenciais, durante a semana, aqui. Rodou a lista de emails,recolheu mais emails da galera. Era gente de todas as áreas, tinhasecundarista, gente da Fach, de outras faculdades, de outrasáreas, do teatro, gente sem formação nenhuma, gente de periferia,ator. A ligação era o blog. No dia que a ge nte veio, que tinha 30pessoas, eu acho que conhecia cinco, que eram pessoas que euconhecia de faculdade, o resto eu não conhecia. Aí a coisa foitomando forma, foi acontecendo presencialmente, que era o

evento aos sábados, e a praia virtual, que é o blog, que hojecontinua existindo , que é um espaço de colocar várias questões enão tem moderador, tudo livre, a senha e o login do blog da praiaestão lá disponíveis pra todo mundo, tudo livre, livre acesso, livrediscussão, não tem líder, não tem organização central, etc e tal. Élivre só que sempre rolam coerções, é livre mas quando alguémvem com alguma coisa a galera cai de pau em cima. “Ah, não podefazer propaganda política”, “Ah, isso é ideia de direita”, mas é issoque vai alimentando os movimentos, vai alimentando os debates. Aía praia cou um mês sem caminhão pipa, talvez até mais, com afonte ligada, boicote mesmo, falaram que era problema mecânico,que iam consertar, depois foi “num sei o quê”, toda uma relação daÂngela Gutierrez, uma pressão fudida dela com relação a isso (couum mês sem a fonte e com o caminhão pipa). Isso a gente temcerteza hoje, a questão dos evangélicos e a pressão da ÂngelaGutierrez. Aí nesse meio tempo a praia foi ganhando mais público,foi crescendo, foi cando mais forte, foi aparecendo na imprensa eisso foi tópico de várias discussões e continua sendo até hoje, asdeclarações de banhistas da praia na imprensa, se é legítimo ounão, se é uma estratégia positiva ou negativa. Quanto aos evangéli-cos aconteceram alguns grandes encontros aqui na praça daestação, e que segundo a prefeitura causaram danos muito grandesem relação à estrutura, mas todo mundo sabe que a ÂngelaGutierrez é uma católica de carteirinha, lógico que tem umpreconceito religioso no meio dessa história também. Aí a prefei-tura teve que começar a se posicionar diante disso e instituíramuma comissão para avaliar a questão da praça, aí pau em cimadeles, aí abriram uma vaga pra sociedade civil queriam que alguémda praia participasse, a praia não é uma organização e a gente nãotem como indicar ninguém, mas a gente acha que pra discussão serlegítima a comissão tem que ser paritária. Não, nunca aceitaramisso, aí veio o Carnaval. Aí no sábado de carnaval foi super legal,eles acharam que não ia ter nada, “Belo Horizonte no Carnaval?”,aí eles ligaram a fonte no sábado de carnaval, pois eles acharamque não ia ter ninguém, aí foi a grande festa, o segundo atosimbólico maravilhoso, porque ligou a fonte aqui e a gente mandou

o caminhão lá pra porta da prefeitura, vamos subir até a porta daprefeitura e vamos lavar a fachada da prefeitura, e a escadaria numgesto de limpeza, porque eles estão com essa postura de limpar asociedade, então vamos limpar a prefeitura também, vamos limpar.Isso porque o processo de discussão dentro das praias, a virtual e apresencial, já tinha extrapolado a questão do decreto, o decreto foium estopim, mas a discussão e a preocupação em torno da praiacomeçou a girar em torno da cidade, tanto é que o slogan principalda praia continua sendo “ocupe a cidade”. Fez objetos, bolsatérmica, adesivo de carro, “ocupe a cidade”, o que a gente tavadiscutindo era a cidade. O decreto era apenas um dos atos do poderinstituído dentre outros tantos que vem de outra maneira pensandouma cidade de exclusão. Então isso fez com que outros tantosdebates passassem a ocupar as reexões e as conversas da praia. Aíveio a questão das ocupações, a questão dos pichadores, família derua, duelo de mc´s, moradores de rua, quarteirão do soul,Movimento Black de BH, as questões relativas à Fundação Municipalde Cultura, projeto Arena, Guernica, depois teve o possível

cancelamento do FIT, questões relativas à segurança pública, aquestão da feira hippie, mais recentemente a questão do Mercadodo Cruzeiro, uma série de questões, começaram a girar nessesdebates. Depois do Carnaval foi convocada uma audiência pública,o Arnaldo Godoy solicitou lá na Câmara dos Vereadores para discutira questão da praça. Mas antes da audiência a gente tinha feito oprimeiro eventão, porque rolou um debate na TV Câmara, que euparticipei, o Arnaldo e eu, e o Fernando Cabral, que era o adminis-trador responsável pela regional centro-sul, o Fernando apanhoudemais, ele estava muito despreparado e eu estudei pra ir, e elelevou uma ferrada bonita. Ele falou assim “a praia não é umevento, tanto é que a prefeitura acha que permite que elaaconteça, se a gente não permitisse, vocês não estavam lá.” Eutrouxe isso pra dentro de debate presencial da praça, então nósresolvemos fazer um eventão. Vamos chamar o “Primeiro Eventãoda Praia da Estação”, e nós queremos ver se é ou não é um ato desubversão. Anunciamos e chegamos aqui de novo às nove horas damanhã, estava a tropa de choque da Polícia Militar, o batalhão, eum ônibus, a praça toda cercada por guarda municipal, scal,Fernando Cabral com uma equipe da prefeitura e eram 5 pessoas.Um aparato de guerra, viatura do outro lado, um negócio maisdescabido, aí foi o dia inteiro esse conito, aí eles retiraram, eulembro que ele veio conversar comigo e eu falei, “pois é Cabral issoaqui não tá te lembrando nada, tempos que você não gostava deles,que você era da luta do enfrentamento, não?” Depois ele voltoudizendo que o prefeito tinha autorizado a retirada do policiamento,que os policiais iriam sair, mas os scais cariam, e que o código depostura não permitia, sem o alvará não seria permitido os eventos,som e etc. No nal do dia, as bandas que estavam previstas tocarame houve o conito, eles não permitiram de jeito nenhum, a gentenegociou com o gerente da scalização, das bandas tocaremdebaixo do viaduto Santa Tereza, aí a galera que tava na praça, umnúmero enorme de pessoas, invadiu a avenida dos Andradas, fechoua avenida e fez uma passeata na avenida dos Andradas, até oviaduto Santa Tereza. Paramos o trânsito todo com gritos, faixas eprotestos, e fomos até o viaduto onde aconteceram os shows. Essedia foi um dia maravilhoso. Foi forte. A galera peitou, foi pra rua,enfrentou a polícia. Muita energia. Aí depois disso, foi a audiência,e eu lembro que eu levei foto da tropa de choque para a audiência,pra mostrar como era a relação da prefeitura com a população. E aína audiência pública, uma comissão superinteressante, foi a Pixote,Professora de Aquitetura da PUC, Urbanista, o Dudu Nicácio, que éadvogado lá do Programa Pólos de Cidadania da UFMG, e eu. Erauma visão do ponto de vista do Urbanismo, do ponto do vista doDireito e da Sociedade Civil, incrementada com um certo ponto devista sociológico, antropológico. E foi convidada a Belotur, aFundação Municipal de Cultura, a Regional Centro Sul e o prefeito.E foi uma gura representando esses quatro órgãos da prefeitura,totalmente despreparada também. Jogaram ela pra boi de piranha,ela apanhou pra caralho, a prefeitura perdeu de novo esse embate,e aí contestamos a questão da comissão que estava avaliando, teria90 dias pra estudar e dar um retorno sobre a questão da praça daestação. Teve o segundo evento da praia da estação, até quechegou o inverno e em maio o prefeito revogou o decreto institu-indo um outro decreto, que já não mais proibia a realização deeventos de qualquer natureza na praça, mas determinava ascondições para realização do evento na praça.E dentre as limitações que esse decreto determina estão o cerca-mento da praça, a cobrança de uma taxa que varia de acordo como dia, a quantidade de dias que a praça é utilizada e a quantidadede público que ela vai mobilizar, estabelece um limite de públicopara a realização desses eventos, exige a contratação de equipes

externas à prefeitura pra segurança e limpeza da praça e indeniza-ções em caso de prejuízo. N a verdade, restringe o uso da praça. Ovalor mais barato chega a 10 mil reais. Pra serviços que a popula-ção já paga nos impostos, serviços que são de responsabilidade dopoder público. O mais interessante é a falta de lógica. É assim quevocê conscientiza a população sobre o uso do espaço, proibindo aspessoas de utilizarem? Não é mais lógico que as pessoas se sintamdonas desse espaço e passem a respeitar esse espaço, não é muitomais efetivo? É igual à questão da cerca, você coloca cerca duranteo evento e o que você quer dizer com isso, que quando não temevento não tem cerca e você pode destruir, pisar? Aí o problemanão foi solucionado, ele continuou. Em julho o prefeito chamououtra reunião, eu não estava aqui em BH, estava em Recife, foi umgrupo de pessoas que freqüentava a praia conversar com o prefeito,com ele diretamente e a equipe dele. Lá descobriu-se que a preo-cupação dele era a apropriação política da praia, a gente descobriuque a praia era o movimento que mais atingia a imagem do MárcioLacerda politicamente. Continua sendo até agora. Quando ele viu

quer não tinha ninguém de partido e que o interesse da galeranão era usar isso politicamente, beleza, menos mal, partiu dessepressuposto. Engraçado que ele já tinha trocado os decretos teori-camente embasado numa deliberação desse grupo que avaliou e es-tudou, mas que ninguém teve acesso. Até hoje ninguém sabe o quefoi discutido, qual foi o parecer dessa comissão. Aí deu uma esfria-da na praia evento, durante um ano mas ela continua existindo noespaço virtual, blog, lista de discussão e várias outras mobilizaçõesalém da praia foram acontecendo, até que no nal do ano passado,quando fez um ano do decreto, nós zemos a praia de novo. Porcoincidência ou não, ia ter um outro evento na praça da Estação,Semana de Direitos Humanos e show do Milton Nascimento, a praçaestava cercado e o evento ia acontecer no dia seguinte, não es-tavam querendo deixar a gente entrar, as pessoas que chegavam dometrô tinham que dar a volta, não podiam circular pela praça da Es-tação. Aí nós invadimos a praça, aí ve io polícia, embate com a polí-cia. Aí chamamos o Arnaldo Godói, chamamos quem a gente pode,arrancamos a grade e as pessoas começaram a circular na praça,sem autorização mesmo, moralmente a polícia cou constrangidade atuar. Até que no dia 16 de janeiro, terceiro eventão da praia,um ano de Praia da Estação. Bombou de novo, teve embate, teveenfrentamento, mais de mil pessoas aqui, um dia superbonito. Aí jácom uma preocupação interna, como comunicar da melhor formapossível a questão da praia, a gente já tinha um incômodo muitogrande, a mídia já tinha vendido a praia da forma mais fácil, atravésde uma coisa puramente cultural, o mais óbvio, esvaziando ela doconteúdo político, contestatório. Aconteceram muitas discussõesem torno disso, mas se não sai na imprensa isso atinge muito menosgente ainda. Como avançar, como a praia podia sair de si mesma?Foi o que a gente começou a fazer quando a gente foi pra Serra,na Praça do Cardoso, onde aconteceu aquele evento depois docarnaval, a praia na Serra. Foi o primeiro evento de ampliação doque a praia representava como diálogo com a cidade e ocupaçãoe uso do espaço. Algumas coisas vão começar a surgir daí, teve opiscinão, teve uma praia em Lafaiete, a Marcha da Liberdade, aMarcha das Vagabundas. Eu não sei o que a praia é, o que ela foi,eu acho que ela foi um fenômeno, não dá pra dimensionar direitoporque ela foi uma coisa física, presencial, um evento, continuasendo um acontecimento de discussão virtual, teve um momento deembates muito grandes, teve um momento de esvaziamento, nãosó do ponto de vista da presença das pessoas aqui, mas do pontode vista simbólico mesmo, de proposição política, só que ela temuma dimensão pra cidade que eu acho que é a coisa fantástica,porque ela suscitou em Belo Horizonte uma consciência de que épossível responder a uma determinada conjuntura e que pra isso épreciso ir pras ruas, ocupar, reagir, gritar, que é preciso enfrentar,contestar. Isso criou uma atmosfera de efervescência, a cidade ab-raçando questões importantes como a das ocupações, como é quede repente começaram a vir eventos pra praça, o carnaval que tavalá na margem voltou pro centro e voltou pra Praça da Estação, oRéveillon da Rede Globo, pra disputar com o SBT, veio pra praça daEstação, o Arraiá de Belô, o evento de aniversário da cidade de BeloHorizonte, ou seja, ela [a praia] teve uma dimensão que extrapolouas questões e ta aí até hoje, isso é que é bacana.

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mesmo tempo. Uma carregava uma enxada apoiada na cabeça com a mãodireita e na mão esquerda trazia seu lho. Vimos muitos animais bonitos nosafári, foi INCRÍVEL! Mas a parte que mais me tocou foi quando chegamos aum grande espaço aberto, um campo enorme, gigante. Realmente senti-mena África. Era lindo e trazia uma paz muito grande.As vilas que visitávamos eram bem rústicas. Brincávamos com as criançasque cavam muito felizes. Adoravam fotos e exigiam vê-las depois detiradas. Certas, claro! Não queremos expor a imagem de alguém sem tercerteza de que está bom! Os facebookers deviam aprender com isso antesde marcar a todos sem autorização. Construímos bancos. Foram tardesextremamente divertidas. Obviamente, as condições eram péssimas. Não énem uma questão de condições, po rque simplesmente não há nenhuma. Masno lugar de dó ou pena, só conseguia sentir amor por eles. Tivemos momen-tos tão agradáveis ao lado deles! Éramos iguais, ali. Todos seres humanos.Encantei-me imediatamente com uma cena, em um desses vilarejos: emba-ixo de uma árvore, mulheres com seus cadernos no colo estavam sentadas

no chão, na frente de um quadro negro. Duas classes, uma ao lado da outra,português e matemática. Olhavam atentas para o quadro e registravam emseus cadernos. Do lado esquerdo, repetiam em coro “5x5, 5x6, 5x7...”.Uma graça!Visitamos vários orfanatos. Cada um, especial à sua maneira. No orfanatode bebês íamos todos os dias e lá tive experiências maravilhosas. O quemais queriam era atenção. Nos outros íamos também para passar tempocom eles, levar doações e ajudar no que fosse preciso. Ensinávamos, assimcomo nas vilas, a costurar mochilas na mão e fazer bolsinhas bordadas. Emum desses dias, num orfanato mais distante, pude compartilhar um pensa-mento com eles. Sr. Domingos, o diretor, pediu que alguns de nós falásse-mos a eles. Mal consegui começar, já falava engasgada, com lágrimas nosolhos. Falei que eram meninas e meninos lindos e inteligentes. Disse que oque eu mais queria deixar como mensagem era que NUNCA deveriam acei-tar que alguém lhes dissesse que não eram capazes de realizar algo. Depoiscantaram para nós, assim como quando chegamos, músicas africanas.Esse tempo em Moçambique foi realmente um divisor de águas na minhavida. Eu já me considerava uma pessoa simples, mas creio que evoluí muitonesse quesito. Não precisamos de tantas roupas, não precisamos ter tanta

frescura com o que tem pra comer em casa. A rotina diária nos destrói. Tra-balhar, chegar em casa, descansar, trabalhar, chegar em casa... Há TANTOpra ver, ouvir, cheirar, aprender. Tanto que me dá agonia saber que umavida inteira não é suciente para conhecer tudo que esse mundo oferece.Sendo assim, a solução é tentar aquietar o coração e fazer o possível dentrodas nossas possibilidades, além de tentar sempre expandi-las. Eu não tinhadinheiro para ir pra Moçambique, assim “do nada”. Trabalhei de algumasformas, com a ajuda do UNI-BH z um show no Teatro Ney Soares e lá ar-recadei muito do que precisava. Eu não tinha 3.500 lápis para levar. Amigose amigos de amigos foram os responsáveis por tudo isso. Recebi e-mailse mensagens de gente que não sei de onde surgiu, querendo doar. O serhumano tem uma capacidade gigantesca de provocar mudança. Eu acreditoque todos os dias temos duas opções ao acordar: reclamar da vida ou fazerdaquele um dia especial.Tempestade em copo d’água é o que não falta. Depois de ver tantas cri-anças com responsabilidade de gente grande, trabalhando de pé descalço,fazendo comida, carregando coisas pesadas, bebês no colo e andandodistâncias intermináveis, acho que não vou mais reclamar de ter preguiçade levar o lixo pra rua.Vi muitas coisas tristes. Mas isso é o que todo mundo fala, é o estereótipoda África e NÃO era o que eu queria transmitir. Isso não signica ignorar ascoisas ruins, mas dar mais atenção às boas. Os jornais (tv, rádio, impresso,tudo) pingam sangue mas há muita coisa linda acontecendo.Vi tanta, tanta,tanta beleza naquele lugar! Belezas naturais, sorrisos iluminados, música,dança, palmas, brincadeiras, gargalhadas... Senti tanto amor naqueles dias.Isso é o que cou. Claro que nasceu em mim uma vontade ainda maior deajudar e tentar contribuir para que os problemas sejam vencidos. Mas o quecriou raiz foi a gratidão pela oportunidade de conhecer pessoas tão lindas,com uma cultura riquíssima e inspiradora. Gratidão por terem feito demim uma pessoa um pouco melhor. Depois dessa viagem quero me esforçarainda mais pra conhecer coisas novas. É lindo e vicia. Podem ser os bair-ros de BH, as cidades de Minas, os Estados do Brasil, a América Latina, omundo, Marte. Mas quero o contato próximo, quero apr ender com outros.As conversas com os moçambicanos foram os momentos mais especiais.Num dos vilarejos, ensinando a fazer mochilas, duas mães conversavam comas crianças do outro lado. Falavam em dialeto e eu não entendia nadinha.

Comecei a brincar, dizendo que estavam falandomal de mim. Riram e comecei a perguntar váriaspalavras e expressões para eles, numa conversagostosa de m de tarde. Eu as repetia bem alto,fazendo graça. Alguns que estavam mais longecomeçaram a rir também. Senti-me importante,fazendo-os rir do meu sotaque ao falar sualíngua. Ou era da situação em si que riam, nãosei ao certo. Sei que por causa daquele dia agor aposso dizer: inini nokuda (eu te amo), Moçam-bique! As outras palavras vão ser conhecidasquando virarem canção.

Veja também:http://www.bloguni.com.br/index.php/2011/03/show-em-prol-de-projeto-human-itario/http://tamanhodoquevejo.blogspot.com/

Isabela Bretz brinca com meninas africanas.

MOÇAMBIQUEExperiência em MoçambiqueMeu nome é Isabella, tenho 22 anos, sou gradu-ada em Relações Internacionais (UNI-BH) e pós-graduada em Direito Internacional (Cedin/ MiltonCampos).No início do ano de 2011 vi um tweet sobre o IFórum Internacional e II Fórum Nacional do Volun-tariado Transformador e a seleção para participarda organização do evento. “Fórum Internacional”e “Voluntariado” soaram como música aos meusouvidos. Trabalhar em um Fórum Internacionalseria uma excelente experiência prossional, degrande aprendizado. Além disso, tenho grande in-teresse na área social e no voluntariado de formageral. Adoro participar de eventos, principal-

mente da organização. Trabalhar e acompanhartodo o processo, ver as diculdades, conquistase, nalmente, o produto nal, não tem preço.Sendo assim, a opção “não tentar participar” nãoexistia. Só depois conheci, de fato, os detalhes daproposta. Como costumo brincar, ‘super compreia ideia’. Sempre fui bem participativa, desdenovinha. Não houve um fato ou acontecimentoque despertou o envolvimento social,acho que foi bem natural. Já participeicomo voluntária de eventos ambientais, sociais,acadêmicos, culturais... Recentemente fui paraMoçambique, trabalhar em uma ONG. Para con-seguir o dinheiro necessário z uma apresentaçãomusical ao lado de amigos no Teatro Ney Soares,gentilmente cedido pelo UNI-BH. A viagem foi

uma experiência incrível, inesquecível, trazendo muito crescimento paramim.

No meu primeiro dia em Beira fomos a um mercado. Andamos por ruelas,sempre de terra. Atravessamos uma linha de trem tomada por arbustos elá uma cena curiosa: um garotinho de uns 4 anos com as calcas abaixadas,fazendo xixi. Olhou para nós, subiu as calças e saiu correndo, seguindo alinha. Chegamos ao mercado e era absurdamente diferente de tudo que jávi na vida. Era como um bairro fechado, uma vila, com casas muito pobres,barracas e lonas estendidas no chão com mercadorias. Um grande númerode crianças, muitas vezes as maiores sendo as responsáveis pelo comércio.Vendia-se de tudo: roupas, calçados, artigos de higiene, bebidas, frutas,legumes, entre outros produtos. Muitas capulanas, tecidos coloridos queas mulheres enrolam e prendem na cintura, usando como saias. As pes-soas são bem pobres, usam roupas muito simples, por vezes rasgadas e

sujas, especialmente as crianças. Achei estranho o tipo de atenção que nosdavam. Não havia uma pessoa que não olhasse quando passávamos. Era umolhar diferente, que não sei explicar. Mulheres sentadas na porta sorriam ediziam “boa tarde!”, num português incomum aos meus ouvidos. Olhavamcomo se fôssemos de outro planeta, como salvadores ou sei lá. Só sei quenão me senti confortável de nenhuma forma. Quando acenávamos para ascrianças, abriam um grande sorriso e acenavam de volta.Fomos ao Parque Gorongosa, uma reserva nacional. A viagem de 4 horaspassou rápido, havia muito que ver pelas janelas. Muitas pessoas moramno meio do nada, em casas extremamente humildes, feitas de bambu epalha, pequenas cabanas com varais na frente. Fiquei impressionada coma quantidade de andarilhos. De tempos em tempos apareciam pessoas quenão se podia imaginar de onde partiram e para onde iam, tamanha distânciaentre as prováveis moradias. Muitas mulheres carregando bebês enroladosem seus corpos em belos tecidos gastos. Crianças e jovens também carre-gavam bebês. Vi várias mulheres carregando coisas na cabeça e bebês, ao

Por Izabella Campos Bretz Cavalcanti

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Cão gera polêmica no bar do Bolão

Ricardo FreireJornalismo, 1º período Era dia 25/09, domingo de tarde, lá pelas14h:30m.Eu, meu colega da turma de jornalismoAsley Gonçalves e sua companheira,Marcia Barroso, vínhamos de um trabal-ho de reportagem sobre a ciclovia na Av.Professor Morais, Savassi, e resolvemosalmoçar no tradicional bar do Bolão, no

 bairro Santa Tereza.Durante nosso almoço, fomos surpreen-didos por uma cena inusitada. O clienteMárcius Victor de Carvalho Fróes, de 38anos, que encontrava-se sentado numadas mesas do bar situadas do lado de fora,na calçada, estava transtornado. Ele, amulher e a lha de 5 anos foram impe-didos de almoçar por estarem acompan-hados da cadela Zequinha, uma Schnau-zer, mesmo sentados numa mesa dacalçada. José Maria Rocha, o Bolão, donodo restaurante que tem duas placas, uma

Pode?

 proibindo a entrada e a outra a permanência de animais, alegouque cumpre normas da Vigilância Sanitária.Terminando o almoço rapidamente, fui até o reclamante paraentrevistá-lo.Március e sua família chegaram ao re staurante em torno domeio-dia e insistiram no atendimento até as 15h:30m. A mulher e a lha acabaram indo almoçar em outro local, mas Március permaneceu rme no local com sua cadela.

Március Victor de Carvalho Fróes e a cadela Zequinha

Discutiu com o garçom e o gerente, pediu para ver o documento

da prefeitura constando a proibição, mas não f oi atendido. Disseque se sentiu desmoralizado e discriminado. Surgiu então oBolão, resmungando e disparando xingamentos pra todos oslados. ‘’Esse cara na verdade quer é aparecer’’, esbravejava.

José Maria Rocha, conhecido como BolãoA confusão só aumentava, e se ainda não bastasse, chegaramtambém a PM e dois repórteres do Estado de Minas, acionadosna verdade, por minha amiga e repórter Marcia Barroso.Enquanto os repórteres o entrevistavam, pude constatar que aconfusão acabou dividindo opiniões entre os clientes. Algunsestavam solidários a Március, outros não. No nal das contas, foi registrado boletim de ocorrência, Már-cius acabou não sendo atendido de fato, mas saiu feliz da vida

 por acreditar ter lutado por seus direitos e ter servido de exemp-lo para todo cidadão brasileiro que não luta pelos mesmos direi-tos. Ele ainda completou assegurando que vai recorrer à Justiça

e que está planejando uma ‘’cãomin-hada’’, passeata de cidadãos e seus cãesde estimação pelas ruas de BH.

 No nal das contas, pensei: um não temlicença para pôr mesas e cadeiras nacalçada. O outro quer frequentar restau-rantes com sua cadela, apesar da proi- bição. Onde ca a tal cidadania?

Március Victor: em defesa do direitos caninosFoto Ricardo Freire

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A cidade não aparece, ela é construida aos poucos por váriaspessoas, de várias partes, todos os dias, o tempo todo. Paraentender essa constante construção do nosso espaço o Jornalda Rua também quis saber sobre nossa estrutura de trans-portes públicos. Fomos até as principais estações do metrô dacapital para entender como a cidade se prepara todos os diaspara o trabalho.

Vejamos o exemplo da vendedora Tânia Maria deOliveira, de 42 anos, que segue todos os dias o mesmo roteiro:acorda às cinco e meia da manhã, prepara o café e o almoçoda família e antes mesmo do sol nascer, deixa os três lhosem casa e corre para o ponto de ônibus. No caminho ela ouveuma conhecida do bairro gritar “Lá vai a Tânia! Essa mulherjá pode correr uma maratona”, observando os passos apres-sados da moça. Moradora do Bairro Serra Dourada, em Vespa-siano, Tânia, assim como outras milhares de pessoas na regiãometropolitana da capital, utiliza das estações de integração

do metrô como principal meio de transporte para o trabalho.Ainda são seis e dez da manhã e lá está ela no ponto, esper-ando o ônibus 5045 que liga o bairro à Estação Vilarinho, emVenda Nova, região norte de Belo Horizonte, encontra algunsconhecidos e os saúda com um “Bom dia!”. É lá que a ginásticacomeça.

Ela desce do ônibus na estação e co mplementa a pas-sagem com um pequeno valor para embarcar no metrô. Antesde embarcar, nós vimos uma la muito grande e quisemossaber sobre a razão de tanta gente ali.

“Essa la é pra passar o cartão”, disse a auxiliar deescritório Marluce do Carmo Morais, de 53 anos, moradorado bairro Jaqueline. A la era grande porque somente algunsterminais estavam em funcionamento.

Depois de aguardar um bom tempo para recarregar o

OMETRÔ

Por: Nicolas Amaral Andrade

1º período - Jornalismo

cartão, nós nalmente tivemos acesso ao embarque do metrôe... a mais las (!!). Ainda não são sete horas e a estação estálotada. A sobrecarga do metrô da capital se deve a um modelode integração implantado em 1987, por meio de um planeja-mento conjunto entre a CBTU-METRÔ BH, prefeitura da capitale governo de Minas, promovendo a integração das l inhas mu-nicipais e metropolitanas ao sistema de Metrô. Como se sabe,poucos investimentos foram feitos no sistema de lá para cá ehoje ele se encontra saturado. Na Estação Vilarinho a genteconsegue perceber essa “integração”: são 43 linhas de ônibusligadas à estação, sendo 15 de bairros pr óximos à Venda Novae mais 28 linhas das cidades vizinhas (Vespasiano, Santa Luzia,Ribeirão das Neves e até Lagoa Santa). São 43 ônibus lota-dos a cada cinco minutos para cada trem que sai da estação,

apenas no Vilarinho. Se fôssemos calcular apenas o número depessoas sentadas nos ônibus- integração, seriam 645 pessoasa cada minuto chegando ao Vilarinho. Os trens neste horáriotêm um intervalo de quatro minutos entre um e outro, logo,seguindo essa conta, são 2580 pessoas nos acessos ao metrô.O mesmo trem ainda passa por mais três estações até chegarà próxima estação de integração, a São Gabriel, onde r ecebemais 25 ônibus cheios, além dos passageiros que seguem a pépara a estação. E assim os trens seguem lotados até a estaçãoSanta Egênia onde a maioria começa a desembarcar. É assimo transporte público da capital, do qual muita gente dependepara seus deslocamentos básicos.

Para falar de cidadania, esbarramos na questão da su-perlotação do sistema de transporte. Com relação aos idosos,por exemplo, a Lei Federal 10.741/2003, que trata do Estatutodo Idoso, garante a prioridade no transporte público aos idososnos lugares identicados como reservados, mas esse lugar não

é exclusivo - ausentes pessoas nessas condições, o uso é livre.Mas nem sempre é assim; muitos ainda ngem não ver umaidosa ou uma gestante em pé.

No metrô é possível observar várias ações de desrespeito dosusuários, os lugares reservados aos idosos, gestantes, decien-tes físicos, mulheres com crianças no colo e obesos frequent-emente são ocupados por quem não tem essa prioridade. Aspessoas usam de vários recursos para demonstrar essa indife-rença: dormem, ngem que dormem, ouvem música, lêemalgo... Essa indiferença também mostra a falta de cordialidadedas pessoas, dicilmente escutamos uma expressão gentil dealgum usuário. “Por favor”, “com licença” e “obrigado” sãopalavras raras. Alguns sentem vontade de questionar essaspessoas, mas para evitar atritos, “engolem” o pensamento eTânia, a vendedora à qual nos referimos antes, compartilha amesma opinião com vários outros usuários.Não são só os mais velhos o u as gestantes que sofrem com os

abusos no metrô, jovens estudantes também. Muitos, alémde carregarem uma mochila pesada, levam nos braços umapilha de livros e dicilmente alguém se oferece para levar.Quando isso acontece é porque alguma coisa está esbarrandono passageiro, de acordo com o que Bianca Papadopoulos,estudante de Arquitetura de 21 anos contou ao Jornal da Rua.Outro problema constante nos trens são os telefones celularesou tocadores de MP3. Usuários ouvem suas músicas na funçãoalto-falante incomodando - e muito - os outros usuários. Emalgumas cidades do Brasil, como Vitória, o uso dessa funçãonos transportes públicos é proibido por uma lei municipal. Tâ-nia, com apenas 1,54m de altura, enfrenta diariamente todaessa gente grande, mas não se revolta, anal esse é o únicomeio que ela tem de chegar ao trabalho - e precisamos trabal-har. Talvez pelo volume de pessoas, ca difícil colocar alguma

ordem em pouco espaço e já nos acostumamos com isso.

Muitos problemas no metrô da capital, não são de conheci-mento das empresas que o administram. Entrevistada pelo Jor-nal da Rua, Ketsia Rizane Lima, da Gerência de Comunicaçãoe Marketing da CBTU em Belo Horizonte, disse desconheceralguns deles, mas esclarece que mantém vigilantes 24 horaspor dia, trabalhando nas estações, trens, plataformas e vias.Rondas sistemáticas também são realizadas permanentementepara garantir a segurança no Metrô. Sobre a superlotação,a CBTU informou que promove o monitoramento constanteda taxa de ocupação, buscando mantê-la dentro dos padrõesdenidos para a segurança do usuário, promovendo inclusive aregulação da oferta, quando necessário, e que realiza estu-

dos permanentes, voltados para melhorar o atendimento aosusuários. Ainda segundo a CBTU, em agosto de 2011, um novoprograma de horários entrou em operação, disponibilizandomais quatro viagens nos períodos de maior movimento da man-hã e da tarde, aumentando a oferta de transporte em mais dedois mil lugares por faixa horária. São realizadas cerca de 300viagens comerciais diariamente, registrando taxas de regulari-dade e pontualidade acima de 98%. Esclarece ainda que operacom 21 trens nos horários de maior concentração, registrandointervalos médios de cerca de quatro a sete minutos entre asviagens no pico.Parece, no entanto, que essa medida alterou pouco a situaçãodo usuário do metrô que continua enfrentando diariamente asuperlotação e a falta de educação e de noções de cidadaniapor parte de muitos.Será assim em todos os lugares? Isso é um problema de todasas grandes cidades?

Gabriella Pagiuca Pongelupe, paulistana que mora em M adriddesde janeiro do ano passado, contou, via Facebook, sobre suaexperiência no transporte coletivo.

“Em São Paulo já é bem comum essas cadeiras reservadashá anos e até hoje tem gente que não faz questão de ceder olugar para essas pessoas, o povo nge que tá dormindo, viraa cara, ca lendo revista com a cara pra baixo. É uma palha-çada. Já vi inúmeras vezes o próprio cobr ador pedindo para apessoa levantar. Já vi também gente reclamar. Estou morandoem Madri desde janeiro e aqui não temos problema de lo taçãono autobus, mas vez ou outra o metrô está cheio e eu não vejoninguém fazendo esforço nenhum para dar lugar a um idoso –que aqui é em grande quantidade – ou uma gestante, ou umdeciente…Se bem que aqui no meu prédio tem vários velhinhos que,quando eu ofereço ajuda, a maioria das vezes dizem que nãoprecisa. Eles são muito fofos e ativos. Mas eu co pensandoque poderia ser minha avó, não consigo car sem fazer nada.

Eles parecem não se importar muito com isso, nem meus viz-inhos, nem os velhinhos do metrô. Mas não custa nada levantarcomo quem nada quer e deixar espaço para eles sentarem”.

Via conversa no Skype, ela também contou que ometrô é bem barato: com um único bilhete, ela tem usoilimitado do serviço que conta com composições novas, con-fortáveis e modernas. Madri possui muitas estações, mas emdeterminados horários, até mesmo durante o dia, é perigosoandar perto delas pelo risco de assalto.

Contato CBTU:Gerência de Comunicação e Marketing(31) 3250-4022 / 3250-4021

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O I Fórum Internacional e II Fórum Nacional do VoluntariadoTransformador foram promovidos pelo Instituto de Gestão OrganizacionalAplicada (IGETEC) em parceria com o Comitê de Entidades noCombate à Fome e pela Vida (COEP-MG) e com a Rede Mineira doVoluntariado Transformador (RMVT). O evento que congregou osdois fóruns deu continuidade às ações iniciadas no I Fórum Nacionaldo Voluntariado Transformador e à ação mineira para comemoração

do Dia Global do Voluntariado Jovem, ambos realizados em 2010.

O I Fórum Internacional e II Fórum Nacional do VoluntariadoTransformador constituíram um evento com chancela da ONU e Ministériodas Relações Exteriores que, dando continuidade às discussões iniciadasem 2010, abordou a Lei Estadual nº 18.716/2010 - marco histórico eregulatório para a prática do voluntariado no Brasil e no mundo. Além disso,neste ano apresentou-se também como tema central a sustentabilidade.Objetivou-se a assinatura de um Protocolo de Intenções para a criação doObservatório do Terceiro Setor, buscando fomentar estudos, construir 

 políticas e contribuir para o desenvolvimento do Brasil, parceiro estratégico para a conquista de uma Sustentabilidade Planetária. Os fóruns, por meiode seus resultados, pretendem também orientar governos, pesquisadorese voluntários para o enfrentamento dos desaos ligados ao cumprimentodos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e sistematizar o papel dovoluntariado como eixo temático para a RIO 2012, maior conferênciasobre Sustentabilidade do mundo, que ocorrerá no Rio de Janeiro.

Os fóruns estão intimamente ligados à cidadania, poisalmejam, além de uma discussão intelectual acerca do tema, congregar a população para o trabalho voluntário que transforma. Além de falar sobre voluntariado, o evento foi majoritariamente organizado por voluntários, que atuam por meio dos Grupos de Trabalho (GT´s).Alguns dos participantes escreveram para oJornal da Rua, relatando suas experiências .O O I Fórum Internacional e II Fórum Nacional do Voluntariado Transformador aconteceram nos dias 4, 5 e 6 de Novembro de 2011, no Centro de EducaçãoCorporativa da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, situado naAvenida Isabel Bueno, 442 - Bairro Jaraguá - Belo Horizonte - Minas Gerais.

II Fórum Nacional

do Voluntariado

Transformador

Fórum Internacional e II Fórum Nacional do Voluntariado Transformador 

Fabiano Moreira Melo, 40 anos, Administrador, Pós-graduado em Gestão emResponsabilidadeCoordenador GT Redes [email protected]  

Considero o Fórum um marco histórico em torno das discussões sobre o vol-untariado transformador e sua interface com o conceito de desenvolvimentosustentável. O ponto de partida para a transformação pautada no diálogo,ética, atitude e comprometimento, na valorização do coletivo, da diversidade,da cidadania e da solidariedade.

Considero o voluntariado transformador uma das ferramentas mais impor-tantes no processo de transformação social. Há mais de 10 anos participo ematividades voluntárias. Percebi que o voluntariado transformador transcendeas ações pontuais possibilitando ações estruturadas de longo prazo. Podemosatuar de forma estratégica: conhecer o público beneciário, estudar, planejar,implementar, monitorar, avaliar as ações e mensurar o resultado. Ao possibili-tar a atuação a longo prazo, fui me envolvendo cada vez mais com a temáticae com as ações de transformação social. Percebi que é possível contribuir efetivamente com a transformação do mundo: o Voluntariado Transformador é minha principal ferramenta.

Fui parar neste projeto porque acredito na força do Voluntariado Transfor-mador. Meu interesse pelo Fórum teve início a partir do Edital para Seleçãode Voluntários. A identicação com a temática foi imediata. Candidatei-me efui convocado para a entrevista. Conheci a proposta de trabalho e, em fever-eiro deste ano, iniciamos as atividades junto à equipe denominada Grupo deTrabalho Redes Colaborativas, como a reunião de indivíduos e organizações

(agentes de transformação) para o compartilhamento de conhecimento, ex- periências e ações em prol do desenvolvimento humano e social.

Como nosso trabalho foi construído em equipe, não considero que tenho umahistória própria no Fórum. Além do trabalho em sinergia com a CoordenaçãoGeral e demais GT´s, atuo diretamente com um grupo de seis voluntáriosque compõem o GT Rede Colaborativas (equipe atual de voluntários trans-formadores: Aline Teixeira, Naiara Neves, Elisângela Maria, Gláucia Paiva,Vânia Rocha e Marcos Araújo). Juntos, realizamos todas as etapas de nossocronograma e contribuimos na construção do evento que irá revolucionar ovoluntariado no país.

Trabalhamos com a Coordenação Geral e demais Grupos de Trabalho. O GTRedes Colaborativas é composto por sete voluntários. Nossa tarefa foi divi-dida em duas fases: a primeira fase (fevereiro a maio/2011), construimos ummailing de organizações do primeiro, segundo e terceiro setores mapeadas por continente. A segunda fase (junho a outubro/2011) realizamos um mapeamen-to dos Consulados, Embaixadas e Agências de Cooperação Internacional comsede nos Estados Brasileiros e uma pesquisa preliminar sobre a legislação dovoluntariado também por continente.

Aguardamos com intensa alegria pela realização do Fórum. Agradecemos aosorganizadores, coordenação geral, voluntários e parceiros o apoio naconstrução de um dos mais importantes eventos sobre o Voluntariado Trans-formador nas esferas nacional e internacional.

Somos todos agentes de transformação.

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GT: Evento SustentávelCássio Nicácio Costa, 24 anos, Estu-dante de Designer de Ambientes na Univer-sidade Estadual de Minas Gerais/UEMG

Sou estudante de Designer de Ambientes da Uni-versidade Estadual de Minas Gerais, recebi indica-ção para procurar o IGETEC (Instituto de GestãoOrganizacional e Tecnologia Aplicada), pois eles

  procuravam voluntários para a concepção do IFórum Internacional e II Fórum Nacional de Vol-untariado Transformador. Após enviar currículo efazer entrevista passei a integrar como designer voluntário o GT (grupo de trabalho) ‘Evento Sus-

tentável’.Como o nome do GT indica, ele tem a responsabi-lidade de fazer o Fórum do Voluntariado Transfor-mador se alinhar ao conceito de sustentabilidade.Quando falamos em voluntariado assim como emsustentabilidade política, nos referimos ao pro-cesso de construção da cidadania para garantir aincorporação plena dos indivíduos ao processo dedesenvolvimento. O que é uma via de mão dupla.Se pensarmos na cidadania como o conjunto dedireitos e deveres ao qual o indivíduo está sujeitoem relação à sociedade em que vive, então atender às necessidades do presente sem comprometer as

 possibilidades das gerações futuras é um dever decidadão.O trabalho desenvolvido pelo GT esteva semprevinculado a reuniões entre os membros, visitastécnicas e pesquisas. As demandas propostas eram

de variadas áreas: preparar o receptivo/decoraçãoembasado na pesquisa de materiais e fornecedorese no mapeamento das ONGs, cooperativas e ansque transformam recicláveis em objetos úteis edecorativos; pesquisa e elaboração de um cardá-

  pio sustentável para o coquetel e coffee breaks;  prospecção para brindes confeccionados por co-operativas para os palestrantes e para a pasta dos

 participantes, além de outras atividades.Para preenchermos todas as demandas foi formadoum grupo diversicado com educadores sociais,nutricionistas, uma psicóloga, um engenheiro am-

 biental e um designer.O IGETEC nos deu ampla liberdade para criar o

 projeto dos ambientes, onde vale ressaltar a infra-estrutura do CECOR (Centro de Educação Cor-

 porativa em Belo Horizonte) que já privilegia o

design universal nas questões de acessibilidade,tamanho, espaço, e informações perceptíveis. As-sim pudemos aplicar nossas pesquisas para ambi-entar os espaços com o material das ONGs comas quais rmamos parceria. O auditório/plenáriocertamente chamará a atenção, pois os moldesclássicos foram substituídos por um projeto maisdescontraído no intuito de incitar o diálogo abertoentre os palestrantes e os espectadores. No entantoo projeto não será implementado em sua totalidadedevido a uma perda de quase 40% do espaço físicoque o centro de treinamento dos correios não podemais disponibilizar.Quanto à sustentabilidade ecológica e ambiental,recorremos à substituição de materiais e cálculos

 para reduzir o máximo possível do consumo de recursos naturais, além dotrabalho do engenheiro ambiental para minimizar a produção de resíduosdo evento, cálculos para a economia de água e eletricidade e para neutrali-zar a emissão de carbono durante o fórum.Ao longo de nosso trabalho nos deparamos com histórias de vida de pes-soas que mesmo em meio a diculdades buscam de uma maneira ou deoutra um motivo para seguir em frente, e continuar lutando mesmo que ascondições não sejam favoráveis. O voluntário não pode ser encarado comouma opção e sim como um dever. Assim como a sustentabilidade não deveser apresentada como slogan político. As condições ambientais já estão

 bastante prejudicadas pelo padrão de desenvolvimento e consumo atual.Priorizar o desenvolvimento social e humano com capacidade de suporteambiental, gerando cidades produtoras com atividades que podem ser aces-sadas por todos é uma forma de valorização do espaço incorporando os

elementos naturais e sociais.

I Fórum Internacional e II Fórum Nacional do VoluntariadoTransformador Isabella Campos Bretz Cavalcanti, do GT 1 (Comunicação Es-tratégica)

O GT Comunicação Estratégica é responsável pela parte de di-vulgação do evento. Desenvolvemos o material de divulgação,como cartazes, banners, convites e enviamos para mailings nacio-nais e internacionais. Além disso, gravamos e editamos pequenosvídeos de pessoas fazendo chamadas para os Fóruns e compar til-hando experiências sobre voluntariado. Organizamos tambémum fash mob bem animado, realizado no dia 29 de outubro de2011. Usamos dessas e de outras ferramentas para fazer com quea população tomasse ciência do evento e se preocupasse com atemática do voluntariado e da sustentabilidade.

É uma excelente oportunidade de car por dentro dessa área ese inspirar a fazer algo em prol da sociedade e do meio ambi-ente. É, realmente, uma nova forma de mudar o mundo. Todosnós recebemos presentes que são nossos dons, talentos, habili-dades. Acredito que devemos usá-los para construir uma sociedademelhor. Há muito o que fazer. Pode parecer clichê, mas se cadaser humano desse mundo doasse um pouquinho do seu tempo etrabalho, simplesmente não haveria pobreza. Ajudar é bom. Aju-dar e realmente transformar é ainda melhor. Seja PHD ou anal-fabeto, absolutamente todos têm algo para oferecer. O dinheiro

tem movido a sociedade atual. Isso é triste e tem que ser mu-dado. Claro que é necessário ser remunerado pelo trabalho, masolhar para trás e perceber que mudou uma vida, ao menos uma,é o salário. É assustador pensar que afetando uma vida pode-sealterar a direção de gerações e, ainda assim, não fazemos tudoque podemos. A gama de experiências que o voluntariado pro- porciona não tem m. Expande a visão de mundo e traz muitocrescimento pessoal. Por tabela ainda colabora na esfera pros-sional, ampliando a rede de contatos e enriquecendo o currículo, por exemplo. Não é incrível pensar que um Fórum Internacionaldesse porte pode ser organizado voluntariamente? Seja em um projeto social, ambiental, prossional, acadêmico, artístico, ser voluntário ainda trará belas memórias.

Cássio Nicácio Costa

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Voluntariado e SustentabilidadeThayane Dias – 2º período - JornalismoCássio Nicácio – Voluntário do Fórum Internacio-nal do Voluntariado Transformador 

Aconteceu em Belo Horizonte, nos dias04, 05 e 06 de Novembro de 2011 o I FórumInternacional do Voluntariado Transformador,dando continuidade às ações iniciadas no IFórum Nacional do Voluntariado Transformador eà ação mineira para comemoração do Dia Glob-al do Voluntariado Jovem, ambos realizados em2010. Em 2011 o evento manteve o diálogo sobreo Voluntariado e sua interface com o conceito de

Desenvolvimento Sustentável.O evento recebeu a Chancela da Organiza-ção das Nações Unidas – ONU e do Ministério dasRelações Exteriores (MRE). O Fórum é idealizado

 pela Rede Mineira do Voluntariado Transformador e pelo IGETEC (Instituto de Gestão Organizacio-nal e Tecnologia Aplicada).

Além disso, o Fórum pretende orientar governos, pesquisadores e voluntários para o en-frentamento dos desaos ligados ao cumprimentodos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODMs e sistematizar o papel do voluntariado comoeixo temático para a RIO 2012, maior conferênciasobre Sustentabilidade do mundo, que ocorrerá noano que vem no Rio de Janeiro.

O Fórum está intimamente ligado à cidada-nia, pois almeja, além de uma discussão intelec-tual acerca do tema, congregar a população para o

trabalho voluntário que transforma. Além de falar sobre voluntariado, o evento foi majoritariamenteorganizado por voluntários, que atuaram por meiodos Grupos de Trabalho (GT´s) .

Na sexta feira (04/11/2011), aconteceu aAbertura Ocial do Fórum do Voluntariado Trans-formador. Na ocasião houve a assinatura do Proto-colo de Intenções para a Criação do Observatóriodo Terceiro Setor e lançamento ocial do II FórumInternacional e III Fórum Nacional do Voluntari-ado. Contou também com uma Palestra Magnafeita pelo Diplomata Pedro Tayar, representando oMinistério das Relações Exteriores. Foi comentadosobre cooperações humanitárias do Brasil com out-ros países e o papel do voluntariado. Logo após,

 jazz ao vivo, Coquetel de Congraçamento e lança-mento do livro “2050 – Voluntariado e Sustentabi-

lidade” de Rodrigo Starling.

 No sábado (05), logo pela manhã, o português Frederico Cruzeiro Costa, palestrante principal da Plenária 1, falou sobre suas experiências acerca do Em- preendedorismo Social em seu país. O palestrante enfatizou que “se houvesseum país com todos os voluntários do mundo, esse teria U$ 1,3 trilhões de PIB,sendo a sétima economia do mundo.” Falou também sobre Economia Social esalientou que o empreendedorismo não só deve abordar o âmbito econômicoe material, como também a mente e espírito.

Ainda no segundo dia de Fórum, na Plenária 2, falou-se sobre Volun-tariado, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas. Fernanda Carla Wasner Vas-concelos, principal palestrante e Doutora em Ciências, ofereceu experiências

 pessoais e uma gama de informações acerca do tema. A plenária contou tam- bém com os debatedores Adiéliton Galvão de Freitas, engenheiro de MeioAmbiente na CEMIG, Sérgio Siqueira, Economista, Ambientalista e Debat-edor do Fórum Mundial de Mudanças Climáticas de 2020. Com uma bancada

especialista no assunto, as três temáticas foram abordadas de várias ângulose pontos de vista, o que tornou ainda mais rico o debate. Antes do nal dasegunda Plenária, houve uma intervenção cultural com o Palhaço Ludovico!

 Na Plenária 3, a última do dia, foi debatido Voluntariado e Intercul-turalidade. Ibrahima Gaye, Consul Onorário do Senegal em Belo Horizonte,falou de experiências pessoais e da sua vinda para o Brasil do Senegal, bemcomo suas experiências de voluntariado e a importância das trocas culturais.Mais uma vez, o tema foi discutido de formas bem diferentes. O professor Leandro Rangel apontou formas de ações voluntárias - comunitária, nacional,internacional e global -, sendo a última a construção de uma sociedade civilglobal. José Márcio Barros, do Observatório da Diversidade Cultural, sob uma

 perspectiva antropológica, fez uma interface conceitual do tema com o livro“Ensaio Sobre a Dádiva” do antropólogo Marcel Mauss.

Terminada a Plenária 3, Gerson Pacheco, Diretor Nacional do FundoCristão para Crianças, apresentou um estudo de caso sobre os impactos alcan-çados pelo Fundo Cristão. No encerramento Vilma, voluntária há dez anos, fezuma importante colocação sobre cidadania nas causas sociais. Falou sobre aimportância de lutar por nossos direitos e trabalhar em prol da comunidade.

“Diferença não deve ser desigualdade”, disse Vilma ao discorrer sobre a di-versidade sociocultural à qual estamos sujeitos em nossa sociedade. Aplau-dida de pé, Vilma encerrou os debates do segundo dia de Fórum.

 No último dia de Fórum, a Plenária 4 contou com discussões sobre Vol-untariado e Políticas Públicas. Cibelly Almeida, palestrante principal, repre-sentante do Programa de Voluntários da ONU, forneceu diversas informaçõessobre o voluntariado relacionado a políticas públicas. Ajax Ribeiro, Presidentedo Conselho Curador da Fundação AMAE para Educação e Cultura frisou quetodo trabalho voluntário deve ser “feito de coração”; Solange Bottaro apresen-tou o trabalho da organização Ramacrisna.

A Plenária 5 contou com Heliane de Guadalupe como palestrante, queapresentou as sugestões para estruturação do Observatório do Terceiro Setor que estará vinculado ao Centro Mineiro de Voluntariado Transformador – Minas Voluntários. O Observatório terá como objetivo mapear todo o TerceiroSetor do Estado de Minas Gerais de forma detalhada, que atuará na prossion-alização e capacitação de gestores, dentre outros objetivos.

Para eventual alcance dos objetivos propostos e do mapeamento de or-

ganizações do Terceiro Setor, Heliane de Guadalupe armou que o Obser-vatório do Terceiro Setor pretende captar o registro das mesmas junto aoscartórios de Títulos e Documentos das cidades mineiras. Após reunidas taisinformações, pretende-se scalizar o repasse de verba para as organizaçõesdo Terceiro Setor, tanto verbas públicas quanto verbas de empresas privadas.

A última Plenária, de número 6, deu aos participantes a oportunidade defazer perguntas e colocações sobre o Observatório e o voluntariado em MinasGerais.

Em todos os dias de evento a recepção foi feita por Fabiano Melo, saxo-fonista e voluntário do Fórum. Fabiano coordenou a pesquisa no grupo detrabalho de Redes Colaborativas.

Para participar como voluntário do Observatório do Terceiro Setor, osinteressados devem enviar um e-mail e anexar um currículo para [email protected].

Thayane Dias30 31

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l e   p a r k o u r 

O Le Parkour na CidadeAracelly Aguiar – 2º período de jornalismo

Parkour vem do francês e signica percurso. É tido não só como um esporte, mas comouma modalidade de vida, uma losoa ou doutrina. Não é simplesmente andar por aí escalandoparedes e pulando em muros, é um caminho novo, um percurso diferente do convencional para

os amantes da adrenalina.Por ser um percurso, um caminho alternativo, o Parkour faz parte da cidade, convive

com ela e a usa como meio de transporte e para a prática de esporte. Escalando muros, pu-lando prédios, árvores, monumentos, qualquer obstáculo da cidade que possa fazer com que o

praticante voe, alcance novos caminhos. Seja no alto ou até mesmo no solo, todo praticante deParkour encontra na cidade sua própria forma de caminhar.

O Parkour surgiu na França, originado de algumas táticas usadas pelo exército francêspara treinar seus combatentes. Um dos combatentes, um soldado vietnamita, ao voltar daguerra começou a ensinar o próprio lho essa forma de se exercitar, que ele havia apren-

dido nos campos de treinamento e batalha, simplesmente como uma brincadeira, mas dessabrincadeira, o menino aprendeu uma nova forma de se locomover. O menino é David Belle, quecresceu na Normandia, França, criado por seu avô, outro co mbatente de guerra, que, brincan-

do com seu pai, descobriu um jeito novo de se manter em boa forma física, com a saúde emdia e além de tudo descobriu uma forma diferente e inovadora de locomover-se, de desfrutar

daquilo que a cidade proporcionava.Assim como a maioria das coisas se difundem pela internet nos dias de hoje, o Le

Parkour não cou para trás e foi levado ao mundo inteiro por esta via. Muita gente começou apraticar o Le Parkour para se mover na cidade e interagir com ela.

E é a partir dessa utilização da cidade que podemos pensar sobre a relação entrecidadania e Le Parkour. A maioria das pessoas pouco conhece sobre a prática e por ela aindaser pouco utilizada no Brasil, a grande maioria dos brasileiros sequer sabe de sua existência.

Porém, assim como toda forma de expressão que utiliza a cidade existem controvérsias sobre oParkour e a forma como ele se apropria da cidade.

O Parkour é um esporte instigante, pois o espaço onde ele é executado é mutável eexível. Para os praticantes a cidade é um playground onde eles se locomovem, exercitam e sedivertem, pois apesar de ser uma forma de deslocamento e de exercício, o Parkour também é,

para seus praticantes, uma ótima forma de diversão, de abstrair dos problemas e de relaxar.Segundo Leonard Akira, fundador e instrutor do grupo Le Parkour Brazil, os traceurs,

praticantes de Parkour, sempre procuram uma arquitetura que dê possibilidade de movimento,pois não é somente “pular em qualquer lugar”, é na verdade uma forma diferente de caminhare se locomover por uma estrutura presente na cidade que as pessoas não observam. Portanto otraço mais diferenciado e único do Parkour é procurar não fazer o que as outras pessoas estão

fazendo mas sim encontrar outras formas de ver a cidade, de conhecer o espaço urbano, inter-agindo com ele de uma forma incomum.

O grande objetivo é superar os própr ios limites e treinar a mente e o corpo para superarqualquer obstáculo, seja nas ruas ou na vida

Segundo o site da RadioTube – Rede de Cidadania “Uma das primeiras condições para se pra-ticar a atividade é re speitar os obstáculos, ou seja, não dá para ser um traceur (praticante do Parkour)e destruir bancos de praça, muros ou fachadas de prédios. Afinal, sem eles a atividade não existiria.“Quando você pratica o Parkour, a cidade é sua melhor amiga. É até engraçado porque a ge nte começaa se empenhar mais em preservar e manter a cidade limpa. Já aconteceu de encontrarmos um lugarlegal para praticar Parkour, mas abandonado. Aí colocamos a mão na massa e fizemos a limpeza”,conta o professor Rodrigo Bélgamo, que ao lado de Eduardo introduziu a prática do Parkour no Brasil.A prática também muda a relação das pessoas com o próprio corpo. Sem instigar a competição entregrupos, o Le Parkour só deve se r praticado por quem sabe respeitar os próprios limites. A idéia não éfazer melhor do que o outro, mas fazer o melhor possível.”

projetadas para a prática, e é um tema que eu pessoalmente co dividido, não creio que seja amelhor solução já que a idéia é se adaptar ao meio onde vivemos e não o inverso.

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Os traceurs, a cidade e os seus habitantes por Gabriel Lacerda, traceur 

A relação entre os traceurs e as cidades ocorre geralmente deforma responsável e com bom senso, apesar de muitas vezessermos repreendido por outras pessoas e por autoridades

(Guarda Municipal, polícia, etc). Por se tratar de uma doutrinarelativamente nova o Parkour ainda não foi compreendido por 

todos, posso dizer isso por experiência própria, em muitostreinos ouvimos coisas do tipo “É proibido isso aqui”, mas qual

a real proibição? Não se pode proibir um cidadão de permanecer em espaço

 publico, e muito menos proibi-lo de correr e pular, são carac-terísticas que fazem parte do ser humano, nos apenas deixamoscom que essas capacidades se atroassem por não precisarmos

delas diariamente.Todo cidadão tem o dever de preservar o meio onde vive,

zelar pelo espaço público, e nós, como praticantes de Parkour,não esquecemos disso, muito pelo contrário, possuímos uma

obrigação maior pois não dependemos dos espaços públicos sócomo cidadãos comuns mas para dar continuidade à nossa arte.

Já foi levantada a questão sobre a construção de espaçosvoltados para o Parkour, praças projetadas para a prática, e

é um tema que eu pessoalmente co dividido, não creio queseja a melhor solução já que a idéia é se adaptar ao meio onde

vivemos e não o inverso.

A falta de cidadania infelizmente é uma epidemia que ataca todos os setores

da sociedade, sejam eles sofisticados, esclarecidos, pobres e analfabetos.

Exemplo disso ocorre na ciclovia da Av. Prof. Morais, na Savassi.

A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da BHTRANS, incentiva o uso da

bicicleta na capital, criando facilidades para quem optar por esse meio de

transporte. Além disso, a empresa reconhece as vantagens do uso da bicicleta

como meio de transporte para a cidade e para os cidadãos, já que desafoga o

trânsito, não polui, é bom para a saúde dos ciclistas, tem preço baixo e é de

fácil manutenção, é silencioso e flexível nos deslocamentos.

Mas o que se vê na Ciclovia Savassi é um verdadeiro show de horrores, se

tratando de cidadania. De babás empurrando carrinhos de bebê até senhoras

passeando com o cão tranquilamente em plena ciclovia. E o pior... Todos

convictamente se achando no direito de trafegarem ali.

Entrevistamos ciclistas e outras pessoas, e pudemos constatar as mais dife-

rentes opiniões, variando desde absurdas até muito coerentes. As soluções

apresentadas foram muito interessantes.

Josimar Abrantes, analista de sistemas e ciclista frequentador da ciclovia

da Av. Prof. Morais, disse que é xingado ao usar a ciclovia por pedestres que

usam o mesmo espaço e que se acham no direito de fazê-lo. A empresária

Lelane Pellizzaro, que passeava tranquilamente com sua cadela Mel em plena

ciclovia, quase foi atropelada por uma bicicleta. Ainda assim, a empresária

se acha no total direito de usufruir da ciclovia para fazer suas caminhadas

com sua cadela de estimação. A dona de casa Luciana Umbelina Dias, admitiu

estar errada no momento em que a foi flagrada trafegando na ciclovia com

um carrinho de bebê. Já o fotógrafo Leonardo Cabral, afirmou que após a

primeira etapa da Prefeitura, que consistiu na implantação da ciclovia, seria

necessário uma segunda etapa, a de conscientização dos pedestres e motor-

istas que param e estacionam seus veículos no local destinado ao tráfego de

bicicletas.

Falta de educação? Falta de informação? Falta de or ientação? Parece que háde tudo um pouco e, além disso, há falta de cidadania também.

A população, em sua maioria, se esquece de um dever básico de todos, o

respeito ao espaço coletivo. Há também o desrespeito do direito alheio em

função do próprio egoísmo, do jeitinho brasileiro, que é aquele que busca se

dar bem em tudo, de pensar única e exclusivamente em si mesmo, mesmo

que isso promova o prejuízo do outro.

Talvez a impunidade seja a maior culpada. A fiscalização, que faz com que

os infratores no mínimo repensassem sobre suas próprias condutas errôneas,

poderia amenizar essa triste realidade, pois é fato que, em geral, o povo

brasileiro só colabora sentindo no bolso.

Porém, como exigirmos fiscalização para as nossas novas ciclovias, se no

próprio trânsito de veículos no Brasil, que mata mais do que uma guerra,

isso acontece muito raramente e as leis totalmente ultrapassadas e repletas

de brechas proporcionam um verdadeiro estímulo para a falta de cidadania?

Ciclovias

e cidadania 

Foto: Amplanet

 Ricardo Freire– 1 período

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 Quais as formas de scalização das ciclovias para que os ciclistas ga-rantam seus espaços?As formas de scalização são aquelas previstas no CTB; em BH temos umefetivo da Guarda Municipal e do Batalhão de Trânsito que fazem a scal-ização ostensiva de todo o sistema viário, além dos agentes da BHTRANSque mesmo sem o poder de aplicar multas, orientam o trânsito em todosos aspectos.

Existe alguma punição para motoristas e pedestres que usam a pistacomo estacionamento e para aqueles que passeiam com animais e fa-zem caminhada?Os motoristas e motociclistas ao trafegarem pelas ciclovias estão comet-endo infração gravíssima denida no art. 193 do CTB – e sujeitos às pe-nalidades previstas, como multa de R$574,62. Não há previsão expressapara coibir o uso por pedestres.

A BHTRANS tem algum programa de humanização no trânsito que inclui asciclovias? Quais são e como funcionam?A BHTRANS desde o início da gestão do transporte e trânsito de BeloHorizonte, dispõe de uma gerência de educação para o trânsito. Nela sãodesenvolvidas diariamente atividades relacionadas a melhoria do trân-sito e do transporte na nossa cidade, através de campanhas educativas,palestras e peças teatrais que levam o conhecimento a crianças da redepública de ensino. Além disso, campanhas permanentes como as desen-volvidas durante os feriados como carnaval, férias, volta às aulas, natal,bem como as direcionadas a públicos como motociclistas, ciclistas, etc ebuscam tornar o trânsito mais seguro e melhor para todos.

Como foi desenvolvido o projeto das ciclovias? Quais as diculdades?Quais os prós e os contras?O Programa Pedala BH faz parte dos Projetos Sustentadores da PBH; elefoi planejado para permitir a utilização da bicicleta como meio de trans-porte e lazer em toda a cidade. Para isso, foi identicado cerca de 385km de rotas cicláveis que estão distribuídas por toda a cidade, de nortea sul, de leste a oeste; onde é possível, elas se integram às estações doBHBUS e do metrô permitindo, assim, a conexão dos vários modais de

transporte. Para o ano de 2011, estamos implantando cerca de 18 km derotas cicloviárias na cidade; estamos ainda desenvolvendo 138 km de pro-jetos executivos que estarão aptos a serem implantados em 2012. A metaé que, somadas aos 22 km de ciclovias existentes (e que serão restau-radas em 2012), BH caminhe para ter, até o nal do próximo ano, cercade 150 km de rotas cicláveis (ciclovias, ciclofaixas, etc). As diculdadesprincipais são as limitações de orçamento, além das pequenas seções dasvias urbanas; por isso, temos que desenvolver projetos que sejam do tipobom/bom, ou seja, que não tragam implicações negativas para nenhumdos usuários das vias. Os dados completos encontram-se disponíveis paraconsulta e cópia na BHTRANS.

As ciclovias seriam uma saída para ajudar a desafogar o trânsito?A inserção da bicicleta como modal na matriz de deslocamentos, implicanuma mudança conceitual de se buscar soluções sustentáveis para con-ter os crescentes impactos negativos que o aumento da frota veicular

tem causado, sobretudo nas grandes cidades. Cadabicicleta no sistema, signica um carro a menos e,com isso, menos lançamento de partículas poluido-ras no meio ambiente – com melhoria da qualidadedo ar, menos congestionamentos – com consequenteaumento da velocidade operacional do transporte pú-blico, redução de custos do sistema de transporte; aintegração com outros modais de alta e média capa-cidade (ônibus e metrô) implica na redução dos gas-tos com passagens; também são notados melhoria dascondições de saúde dos usuários pela prática de ativi-dade física, entre outros.

6.Existe algum projeto para que as ciclovias atinjamuma maior importância, assim como acontece emoutros países, como a Holanda e a Alemanha?

Segundo dados disponíveis no PLANMOB BH, a meta éfazer com que em 2020 6% (seis por cento) dos des-locamentos em Belo Horizonte sejam feitos a partirdesse modal. Isso, sem dúvida irá permitir melhoriassubstanciais na qualidade do trânsito da metrópole.

7.Houve algum tipo de retaliação contra a criaçãodas ciclovias, vindo de moradores, comerciantes,motoristas e/ou pedestres?Não. Há apenas uma defesa pelo limitado espaço dasvias públicas; porém, ao se fazer um bom planeja-mento das rotas cicláveis, foi possível encontrarsistema viário com boa topograa, vales, além de viascom boa seção transversal que pode perfeitamentecontemplar as ciclovias sem afetar motoristas e pe-destres.

8.Existe algum projeto de implantação de cicloviasna área central?Como dito anteriormente, o Programa Pedala BH dis-

tribuiu as rotas cicláveis por toda a cidade; em todaa área central estão previstas 27 ciclovias, num totalde 32,23 km.

9. Você acha que as ciclovias ajudariam a mel-horar o trânsito de BH?Na medida em que houver a substituição do carro pelabicicleta, as condições do trânsito melhoram paratodos – menos poluição, aumento da velocidade dotransporte público, menor gasto de energia, menorcusto do transporte, melhoria da saúde dos usuários;enm, são ganhos em cascata que proporcionarãouma melhoria geral para as condições de trafegabili-dade na cidade. Assim, ganham todos.

Entrevista com Mauro Luiz Cardoso de OliveiraSupervisor de Projetos e Obras EspeciaisResponsável pelo Programa Pedala BH

GESIN / DDI / BHTRANSpor: Izabel Cristina de Souza – 2º período - Jornalismo

Asley Gonçalves – 2º período - Jornalismo

O caos reina. Sempre foi e provavelmente sempreserá assim, milhões de universos diferentes colidindo-se dia-riamente. O contato é inevitável, o atrito é a lei. Dentro decada sistema, normas são convencionadas para que haja ummínimo de equilíbrio possível, uma tarefa aparentementefácil, se não fosse pela imensidão de possibilidades que ohomem carrega dentro de si.

É utopia imaginarmos que um dia vamos contemplaralguma lei que trará equilíbrio à face do planeta, o ser hu-mano teria que deixar de ser humano, se desvencilhar dahipocrisia, do egoísmo, da vaidade e tantos outros tipos deconduta. Se por acidente cósmico algo assim acontecesse,provavelmente seres das estrelas pintariam por aqui paracomeçar mais uma saga de desequilíbrio, isso é bastante ci-nematográco, mas não absurdo.

As pessoas têm essa mania maluca de aglomerar-se e erguer cidades, bastante plausível, se não fosse pelainsegurança que isso nos traz, decorrente do crescimentodesordenado. Conseqüentemente é um estouro de eventostortuosos a cada segundo. O motorista estressa com o moto-boy de manhã cedo, durante a tarde o motoqueiro hostilizao pedestre, caindo a noite o pedestre agride algum tran-seunte por pisar no seu sapato. Chegaria a ser cômico, se namaioria das vezes não fosse trágico.

Ficamos presos em um dilema em torno desses compor-

tamentos urbanos, principalmente em um país como o Bra-sil, em período de transição e com muito a trilhar até umaeducação competente. Por mais piegas que possa parecer, opovo brasileiro economizaria leis e mais leis, se a educaçãofosse carro chefe, mas, enquanto o Brasil não chega a umpatamar educacional satisfatório, seus cidadãos poderiaminternalizar e praticar no seu cotidiano um pouco mais dealtruísmo e do tão importante bom senso.

Como diria Jack Sharphard, personagem de umafamosa série de televisão americana “Se não conseguimosviver juntos, então todos nós morreremos sozinhos”. É esseentendimento coletivo que os homens de bem almejam. Sefatores socioeconômicos e culturais atravessam a boa con-duta, lembremos então que ainda somos gente e que comotal precisamos viver, para que o amanhã se torne menosdenso, menos cinza, e dê lugar à leveza e ao equilíbrio.

EQUILIBRIO ´

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