Jornal da Rua 2008 - Ano VII - Edição 6

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    P r o J E t o d E E x t E n s o d o C E n t r o u n i v E r s i t r i o d E B E L o H o r i Z o n t E - u n i - B H

    B E L o H o r i Z o n t E - n o v E m B r o d E 2 0 0 8 a n o v i i - E d i o 6

    de c para l

    daqui para aliAedio 2008 do Jornal da Rua trata de dois assuntos: o trnsitoem Belo Horizonte e o Morro das Pedras. A escolha do primeirotema bvia para uma publicao que quer considerar o queacontece nas ruas da cidade. O trnsito hoje em BH um dos problemas

    que mais aetam a vida das pessoas, deixa todo mundo estressado e

    evoca a tranqilidade de tempos passados. Mas o trnsito tem tambm

    um lado interessante, divertido e coisas estranhas acontecem quando

    vamos de c para l e daqui para ali, como diriam os portugueses.

    Algumas dessas coisas oram relatadas pelos participantes do jornal.

    Nessa poca de eleio, por exemplo, atos inusitados podem ser vistos

    nas ruas da cidade. Outro dia mesmo, muita gente pde ver na Savassi, no

    horrio do almoo, a Kombi do candidato a vereador Vov do Rock, coberta por adesivos

    nos quais predominava a cor preta, estampando um sugestivo nmero terminado em 666, ocupada

    por trs tpicos metaleiros e animada por um rock pauleira bem alto cruzar com outro veculo, do candidato

    Mrcio Lacerda, embalado por um unk cuja letra buscava estimular eleitores. Dada a barulheira provocada na

    rua, o eeito pode ser contrrio ao desejado pelos candidatos. Mas oi uma demonstrao de diversidade musical

    digna do Brasil! Quanto ao Morro das Pedras, nessa edio damos continuidade a uma relao que comeou h

    duas edies atrs. Convidados pelo Lo, que cuidava das polticas para a juventude na Administrao Regional

    Oeste da PBH, fzemos matrias e uma ofcina de comunicao junto com moradores do local, e contamos

    especialmente com o seu Darci e o Paulinho, que nos acompanharam e participaram ativamente dos trabalhos.

    A Nayara, representante do Ncleo de Apoio Familiar da Regional, tambm nos deu toda assistncia necessria,

    com uma simpatia enorme. Obrigado a todos os que ajudaram a azer mais um Jornal da Rua.

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    novEmBrodE 2008 Pgina 2 ExtEnsounivErsitria - uni-BH

    Uni-BH

    Reitora:Profa. Sueli Maria Baliza Dias

    Pr-Reitora de Graduao:Profa. Raquel Parreira Reis Carvalho

    Pr-Reitora de Ps-Graduao, Pesquisa e Extenso:Profa. Marisa da Silva Lemos

    Pr-Reitor Administrativo-FinanceiroProf. Wellington Jos da Cunha

    Jornalista responsvel:Profa. Adlia Barroso Fernandes

    MTDF 8561/86

    Coordenao do projetoProfa. Maria Cristina Leite Peixoto

    Colaborao:Profa. Adlia Barroso Fernandes

    Profa. Fernanda Agostinho (Jornal Impresso)

    Reviso:Ncleo de Assessoramento e Reviso de Texto

    Pesquisa e Redao:Joana Maria do Nascimento Soares

    Fabiana Cristina da SilvaAnna CarolinaTorres Lages

    Jacqueline Martins de MouraIsrael Campos O. Souza

    Roberto Romero Ribeiro Junior

    Virna Fabrini Lagoeiro Lins

    Editorao:Marcos Loureno/Cristina Leite

    Trnsito em Belo Horizontefica cada dia mais caticoUma viso interna da cidade

    Fabiana CristinaJornalismo.

    A cidade de Belo Horizonte

    est cada vez mais movimen-tada ou vias que diminuem acada dia mais? Bom, a resposta fcil, basta parar e observar otrnsito em Belo Horizonte. Efoi o que fiz entre os dias 16 e20 de junho. Passei a observaro trnsito s 18h, na AvenidaAntnio Carlos, prximo aoanel rodovirio, entre a BR262 e o Viaduto So Francis-co.

    A anlise foi super simples,pois logo na segunda-feira, dia16, o trnsito estava simples-mente timo no sentido bairrocentro, mas na via oposta o trn-sito seguia com mais lentido. E

    durante todo o restante da se-mana o trfego seguiu da mesmaforma, com exceo da sexta-fei-ra, dia 20. Durante essa tarde otrnsito estava um caos, os doissentidos da avenida estavamcompletamente engarrafados,inclusive a pista destinada aos nibus.Essapode ser uma simples constatao, mas acada dia que passa o trnsito fica cada vez

    O preparo do futuro

    motoqueiroEntrevista com o instrutor Leandro Martins, da Moto Escola Inlerlagos.

    Leandro Martins lvares da Silva, de 19 anos, instrutor da Moto Escola Inter-lagos h um ano e diz que o aluno precisa ter equilb rio, noo de espao e ateno,tudo depende do domnio e segurana do aluno e o interesse em aprender dele,meu papel apenas instru-lo.

    O instrutor afirma tambm que existem dois tipos de motoqueiros o que jcaiu e o que ainda vai cair. E que a conscincia no trnsito mais que um preparo,ela depende muito de cada pessoa e de seu objetivo no trnsito, porque os moto-queiros so classificados de duas formas o que usa a moto apenas para transpo-sio de lugares, como de casa para o servio e vice-versa, e o motoboy que umprofissional.

    Segundo Leandro o trnsito de Belo Horizonte est catico porque os carros eos nibus atrapalham as motos no trnsito. E ele acha que a lei deveria beneficiarum pouco mais os motoqueiros, com um aumento de vagas rotativas no centro dacidade destinadas s motos.

    menos transitvel.Segundo dados estatsticos do site

    do Departamento de Trnsito de MinasGerais (Detran-MG), Belo Horizon-

    te emplaca cerca de 12 mil carros porms, uma mdia de 400 carros por dia.Esse aumento est aliado ao crescimen-to econmico do pas, onde as pessoas

    preferem se locomover de carro doque de nibus.

    E no sem motivo que levamoshoras para chegar em um lugar que

    levaramos minutos. Na avenida An-tonio Carlos, notei que na segunda-feira o nibus 1207 levou aproxima-damente dois minutos para percorrero trajeto e na sexta-feira levou qua-tro vezes a mais.

    Pedestres e motoristas se arris-cam e se estressam dentro desse tu-multuado trnsito, os pedestres porno terem pacincia de esperar, eos motoristas por fazerem manobrasque colocam suas vidas e de outraspessoas em risco. Os campees demanobras arriscadas no trnsito so,sem dvida, os motoqueiros, quecosturam dentro das engarrafadasavenidas.

    Os motoqueiros so campees

    em sofrer e causar acidentes no trn-sito, principalmente os motoboysque geralmente conduzem o vecu-lo em altssima velocidade e muitasvezes nem se preocupam com suasvidas. No momento em que esto notrnsito, lembram apenas da hora da

    entrega e esquecem daquele velho ditadoantes chegar atrasado nessa vida do queadiantado na outra.

    ExpEdi

    EntE

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    Anna Carolina TorresJacqueline Martins de MouraFabiana CristinaJornalismo

    TERRVEL. essa a palavra que estna boca dos motoristas quando questiona-dos sobre o trnsito de Belo Horizonte. E,cada vez mais, cresce o nmero de carrosque circulam na capital. Basta reparar nasruas, so muitos carros com poucos pas-sageiros, grande parte circulando mesmos com o motorista. Segundo o Depar-tamento Estadual de Trnsito de MinasGerais (DETRAN-MG), 400 carros soemplacados por dia, a estimativa de quea frota da capital j ultrapassou 1 milhode veculos e aumentou cerca de 67% emdez anos.

    Nos horrios de pico, a nica alterna-tiva ter pacincia ou abrir mo do trans-porte e ir andando. A funcionria pblicaSnia Vieira vai da Savassi at o centro ap, todos os dias, para trabalhar. Desistide usar o carro ou o transporte coletivo.Venho andando de manh e reparo que

    chego, praticamente, junto com o nibus;s vezes, ele passa na minha frente, mas,logo em seguida, eu o alcano, afirmaela.

    O fluxo de veculos to intenso nahora do rush que, em certos pontos do hi-percentro, a velocidade mdia dos carros de 21,2 km/h e a dos transportes coletivos de 6,8km/h. E no h nada nos granda-lhes barulhentos que estimule os outrosmotoristas a sarem do seu carro confor-tvel, com rdio e ar-condicionado, paradisputar um espao de um metro quadra-do com mais seis pessoas. E, alm disso,a espera pelo transporte coletivo longa.A bab Joana Soares sai do trabalho s 18horas e diz que a espera pelo nibus, nocentro da cidade, grande. Fico na fila

    do nibus, em mdia, quarenta minutos e,s vezes, tenho que esperar o prximo por-que no cabe mais ningum. Depois levo odobro do tempo para chegar em casa, porcausa do trnsito que no anda direito,afirma ela.

    Se o trnsito anda estressando quemvai de casa para o trabalho ou para a es-cola e obrigado a voltar no fim do dia,imagine para quem trabalha dirigindopelas ruas da capital. Alguns j se acos-tumaram, ou se resignaram, seria a pala-vra mais correta. O motorista particularGeraldo Costa no reclama da situao.No tem jeito mesmo, fazer o qu, es-tressar no adianta nada, conta ele,rindo. Mas no so todos que trabalhamcom esse bom humor. Um motorista de

    txi, que no quis se identificar, negou-sea comentar sobre o trnsito. Falar sobreisso falar sobre aquilo que me d menosprazer, algo frustrante. como pedirpra eu me explicar depois da minha piorbroxada, nenhum homem gosta de falardisso, justifica ele. E parece que no sele que pensa dessa forma. Vrios taxistasse recusaram a falar, e tudo o que fizeramfoi balanar a cabea, como se fosse intile cansativo falar sobre o assunto.

    Trnsito parado, carros buzinando,nibus atravessado no meio do cruzamen-to, motos passando por espaos estreitosentre os veculos, pessoas se arriscandoao atravessar a rua fora da faixa de pedes-tres. Esse o cenrio na Avenida Ama-zonas em uma quarta-feira tarde. Entre

    17h30 e 18h30, o fluxo de carro intensono local, e no adianta o sinal ficar verde,pois a confuso no cruzamento entre a Av.Amazonas e a Rua Tupis no permite queos carros avancem. O semforo fecha paraos veculos, e preciso aguardar uma novachance para tentar sair do lugar conges-tionado. Quem se arrisca a abrir a janela e

    Atravessar BH cada dia umaviagem mais longa

    olhar para frente vai ver uma fila enormede veculos com suas luzes de freio acesas.O jeito mesmo esperar, pois no h comofugir da situao.

    Do lado direito da pista, uma fila detransportes coletivos tenta sair do lugar,mas esses veculos se movem com maislentido do que os carros pequenos. Al-guns motoristas arriscam sair para outrapista, fechando carros de passeio e pio-rando ainda mais o trnsito e o estado deesprito de quem enfrenta, diariamente, abatalha de dirigir no centro de Belo Ho-rizonte.

    Vrias sugestes foram dadas por mo-toristas que passavam pelo local. Alguns

    acham que a soluo investir no metr dacapital mineira. O motorista lton Vieiradiz que no trocaria seu carro pelo nibus,mas sim pelo metr, caso houvesse algumamelhoria. H quem afirme que a culpa do transporte coletivo, que, por usar ve-culos de tamanho maior, ocupa muito lu-gar nas pistas, incomodando os motoristasde carros de passeio. Eu acho que deveriatirar um pouco desses nibus da rua nes-ses horrios de pico. Eu no animo a pegarnibus porque a passagem est mais carado que a gasolina, conta o gerente de loja

    Joo Ferreira. Mas os nibus representamapenas 10% do trnsito da capital minei-ra, e o restante do contingente destina-do aos carros, porm, esse pensamento deque sair de carro mais prtico dever ser

    mudado at 2020, de acordo com o siteda BHTrans. O contador Marco Aurlioacha que a soluo est na fiscalizao doscruzamentos, que, segundo ele, o queimpede o trnsito de fluir normalmente.O rodzio de placas tambm foi sugeridocomo soluo, mas muitos motoristas noconcordam com essa alternativa. O rod-zio no vai funcionar, porque muita genteacaba comprando outro carro com placadiferente s para poder circular. Acabasendo injustia com quem respeita o siste-ma, diz o mecnico Carlos Novaes.

    Programa deemergncia

    Com tanta confuso envolvendo otrnsito da capital, a PBH (Prefeitura deBelo Horizonte) viu-se obrigada a tomaralguma providncia emergencial. Foilanado, no dia 19 de maio de 2008, umpacote de obras que visam alcanar me-lhorias no sistema virio na rea central.O pacote de mobilidade da PBH inclui o

    recapeamento de 106 vias e 55 interven-es, como implantao de rotatrias, si-nais luminosos e repintura de faixas emalguns pontos da capital.

    Alm de obras para melhorar o trfegode carros na cidade, algumas intervenesvisam a melhorias para o transporte co-letivo. Segundo a prefeitura, o objetivo instalar 680 novos abrigos para os usuriose diminuir os intervalos de espera pelosnibus aos domingos. Nenhum cidadopoder esperar o nibus por mais de 30minutos. No entanto, essa medida aindano tem data para ser implantada.

    De acordo com o prefeito FernandoPimentel, R$ 56,8 milhes sero investi-

    dos nas obras. As avenidas Joo Pinheiro,Cristvo Colombo e Nossa Senhora doCarmo tero faixas exclusivas para os ni-bus. Alguns dos projetos que sero coloca-dos em prtica vo apenas complementarobras que j esto em andamento pela ci-dade, dentre elas, as do complexo virioda Lagoinha, que se iniciaram em janeiro.

    Esse plano para acelerar o trnsito vaicontar tambm com a internet. A idia que os motoristas possam consultar os lo-cais onde o trfego no flui e buscar umavia alternativa. O servio da Empresa deTransporte e Trnsito de Belo Horizonte(BHTrans) disponibiliza imagens de 22 c-meras on-line.

    Trnsito agarrado,que timo...

    Voc consegue imaginar um trnsitomuito agarrado e os motoristas sorrindode felicidade? Parece impossvel, mastudo depende do bom humor de quemest no volante. s pensar na grandepaixo dos brasileiros que o cenrio nose torna to impossvel assim: em dia degrandes jogos de futebol no estdio Ma-galhes Pinto, o Mineiro, h trnsito en-garrafado na certa.

    Em dia de clssico de Cruzeiro e Atlti-co, o trnsito flui lentamente pela AvenidaAntnio Carlos, por onde chegam os atle-ticanos, e pela Avenida Carlos Luz, local

    de acesso dos cruzeirenses. E, ao contrriodo estresse normal de pessoas em uma viacongestionada, o que se v so bandeiraspara fora da janela, motoristas conversan-do uns com os outros, msica alta e muitaalegria. A buzinao grande, mas, nes-se caso, no para xingar ningum, spara fazer festa mesmo. Trnsito agarrado,

    na viso dos torcedores, significa estdiocheio e muita animao.

    Na volta, a situao sai mais animadapara um dos dois lados o que ganhou, claro. A o trnsito pode ficar sem se mo-ver por uma hora seguida que ningumrepara. E tanto faz se, no dia seguinte segunda, e a maioria das pessoas tem queacordar cedo para trabalhar. Tudo festa.At quem vai de nibus no reclama dafalta de espao.

    uma pena que ainda existam torce-dores que insistem em estragar a festa. comum ouvir falar em brigas, transportescoletivos depredados, roubos e furtos nasada do Mineiro. No dia seguinte, almdos nibus lotados, os passageiros so obri-gados a circular em veculos com janelasquebradas e portas estragadas. O bom hu-mor no trnsito some como em um passede mgica. Afinal, ir para o trabalho cedocom o trnsito agarrado no motivo demuita festa.

    Trnsito parado,e agora?

    Belo Horizonte ainda no chegou aonvel de So Paulo, a maior cidade doBrasil, que lder do ranking de con-gestionamento medido em quilmetros.De acordo com a Companhia de Enge-nharia de Trfego (CET), h 200 km decongestionamento pela manh e 230 kmpela tarde na capital paulista. O que aspessoas fazem quando o trnsito est, re-almente, parado?

    Ouvir msica no carro uma das alter-nativas para quem enfrenta uma via con-gestionada. Nos grandes centros urbanos, essencial ter um rdio no carro para evi-tar o impulso de abrir a porta do veculo

    e sair correndo pela rua. Mas a situaoproblemtica do trfego tem despertadoa criatividade das pessoas. Na internet, possvel encontrar dicas sobre o que fazerno trnsito parado. Os motoristas de SoPaulo j esto realizando algumas ativida-des para no perderem tanto tempo den-tro dos veculos. Lixar unhas, retocar ma-quiagem, tirar plo da sobrancelha, tudoisso vlido para as mulheres na hora dorush. Vale tambm limpar os espelhinhose o carpete do carro ou descobrir qual afinalidade de todos os botes do painel.

    Se as obras planejadas pela PBH notiverem incio logo, os belo-horizontinosj podem ir se preparando para realizar ou-tras atividades dentro do carro. Sugestesno faltam e so das mais criativas. Osmotoristas podem deixar para abrir cor-respondncias dentro do carro, ver todosos e-mails e ler durante a viagem. Mesmoque sejam e-mails com as mais completasbobagens, para gastar o tempo perdido notrnsito, tudo vlido. udio-livros tam-bm so bastante teis, pois ler uma hist-ria dirigindo pode no ser uma boa idia,mas ouvir algum lendo para voc acabasendo uma alternativa.

    Algumas dicas no servem para gas-tar o tempo com algo til, mas ajudam adistrair e a no perder a pacincia. Levaruma mquina fotogrfica e tirar fotos doque voc v no caminho, acenar para osocupantes do carro vizinho ou at mesmobater um papo com eles, cantar as msicas

    do seu rdio ou descobrir o que o motoris-ta ao lado est cantando atravs da leituralabial. Vale at exercitar a matemtica. s brincar de somar as placas dos carros,dividir pelo nmero de minutos que vocj est preso no trnsito, multiplicar peladata de aniversrio, e por a vai. Basta tercriatividade.

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    Adlia FernandesProfa de jornalismo

    Justamente agora que nsmulheres alcanamos os homensno quesito compra de carros, in-dicadas nas pesquisas como asque escolhem o veculo da fa-mlia e investidoras inveteradasem acessrios, o carro motivo

    de problema ambiental, de con-gestionamento infernal, etc. Poisento que os homens deixem dedirigir, porque ns mulheres enossos carros maravilhosos va-mos circular. sempre assim, aculpa das mulheres que estoganhando mais dinheiro, com-prando carros financiados e en-tupindo as ruas. Pois tenho umapssima notcia... Adoramos di-rigir nossos carros (quem j an-dou em nibus e metr lotado,com homens pouco educadosencostando na gente, sabe como bom ter um carro) e os carrostm cada vez mais detalhes queagradam o jeito feminino de ser

    (espelhinho para a motorista,mil porta trecos, ajuste de alturado banco, alis costurado parano rasgar as meias finas). Comomudamos e como os carros mu-daram para nos agradar!

    Lembro-me do primeiro carrol de casa. Meus pais compraramum fusca azul piscina em 1974.Uma festa! A crianada todapasseava no porta bagagem queficava atrs do banco trasei-ro. Acho que cabiam duzentascrianas naquele buraquinho.

    Os carros eram to raros naminha quadra (bairro) que meupai e minha me tinham o devermoral de ajudar todo mundo. Le-

    vavam um vizinho ao hospital demadrugada, buscavam algumna rodoviria, conduziam noivapara a igreja, etc.

    Quando amos tirar algumafoto, o carro era o pano de fun-do, a moldura constante (fize-mos isso com a televiso coloridatambm, ela aparece em vriasfotos de famlia).

    Sempre achei o espao docarro um pouco mgico. Leva agente para mundos distantes eaproxima a famlia. isso mes-mo! Nada melhor do que umaviagem longa para uma famliacolocar a conversa em dia, re-solver arestas. No comeo uma

    alegria, depois a gente comea abrigar. Como tem mais estradapela frente, fazemos as pazes, bri-gamos de novo, fazemos as pazes.Ou seja, o verdadeiro esprito defamlia.

    Como morava em Braslia,qualquer viagem era longa. Se o

    destino fosse a praia eram doisou trs dias na estrada. Alis,morar em Braslia necessitarde carro. Tudo longe. Estuda-se num lugar, mora-se noutro,compra-se no setor comercial,os amigos moram espalhados.Nem preciso falar do transportecoletivo, que isola as pessoas eno liga a cidade. A p? S se for

    doido. Qualquer lugar fica a 20quilmetros do outro.

    Ter carro em Braslia sin-nimo de liberdade, de poder ir evir, no ter hora de voltar paracasa, fazer carreata para derru-bar governos. Fizemos um pro-testo emocionante na poca dasDiretas J. Ensaiamos com ummaestro durante semanas umbuzinao, com ritmo. Foi muitobarulhento, mas com harmonia.Se carro d uma sensao deliberdade para os brasilienses,para mim essa sensao tornou-se mais forte depois que me aci-dentei e fiquei com dificuldadespara andar. Com pouca mobili-

    dade, o carro tornou-se minhaspernas. Que inveno incrvel oautomvel! Ir onde quero, longeou perto, circular pelas cidades,subir morro.

    A cada nova cidade quemoro, saio logo de carro. Preci-so conhecer o trnsito, as ruas, ohumor dos motoristas, a educa-o, os acordos sutis. Cada cida-de tem sua cultura de trnsito es dirigindo para saber.

    Em Belo Horizonte o trnsito nervoso, apesar dos motoristasse dizerem calmos. No adiantadar seta, porque depende do hu-mor do motorista para dar ou nopassagem. Ainda no me acostu-

    mei com o zig-zag das ambuln-cias e carros de polcia. Noutrascidades os motoristas caem paraa direita, deixando a pista da es-querda livre. Em BH, cada umarreda para um lado, fazendocom que a ambulncia faa oservio de procurar a melhor sa-da. Tambm me assusto com asbuzinas. Por qualquer coisinha agente escuta buzina. Se engarra-far j sabe, mete a mo na buzinapara aliviar.

    Em Braslia a gente pisa nofreio. Muito radar e multas al-tssimas assustam todo mudo. Apressa desaparece, com quinzeminutos dirigindo somos obriga-

    dos a relaxar e ir devagar. Mas duma vontade danada de corrernaquelas pistas largas e retas. Devez em quando algum se deixalevar por essa vontade e entrapara as assustadoras estatsticasde morte em Braslia. Melhorouum pouco, mas tem muito pega

    nas auto pistas.Em So Paulo h uma luta

    surda entre motos e veculos,com cdigos que s os paulistasentendem. Por exemplo, os car-ros da faixa da esquerda andambem encostados ao meio fio eabrem uma via para as motos.Um estrangeiro no sabe doacordo e fica sem o retrovisor,

    que a maneira do motoqueirodizer: se liga mano!

    Em Paris, ao entrar num balopara contornar, o motorista temque ser atrevido. Se for cuidado-so demais vai ficar horas dandovoltas e ningum vai atender seupedido de seta ou mo para forado veculo. salve-se quem pu-der. Mas nas ruas muito tran-qilo, todo mundo parece noter pressa: d passagem, deixa opedestre atravessar, espera os queesto fazendo baliza, no buzinano engarrafamento. So muitogentis...como motoristas.

    A cultura local tambm de-termina a moda das cores e mo-

    delos dos carros. Em algumascidades os motoristas gostam depreto, noutras a cor mais vista o vermelho, o verde. Uma amigaficou admirada com a quantidadede carros prata em Belo Horizon-te. Dizem que mais fcil pararevender e como todo mineiro bom negociante... E os aces-srios? Tem gente que no temcarretinha, mas coloca um en-gate de reboque. Tem gente quenunca viaja, mas tem farol paraneblina, bagageiro externo. Temgente que coloca luz non em-baixo do carro para iluminar asformiguinhas. Todo mundo achagraa das frases nas traseiras doscaminhes. Essa moda j estna cidade. Vejam os milhares deadesivos nos carros. So frases,smbolos religiosos, esportivos,partidrios, figuras de desenhoanimado (j viram a PenlopeCharmosa? lindinha demais),etc. Ns brasileiros gostamos deenfeitar carros, acho que somosuns mexicanos disfarados.

    As mulheres tambm tmsuas preferncias por marcas emodelos. As montadoras j des-cobriram isso e adoram quandoum carro de mulher. Aumen-tam as vendas e fazem o que ospublicitrios lutam para conse-guir: a divulgao espontnea doveculo.

    Pois justamente agora...bem,temos que descobrir rpido umamaneira de no poluir, de esta-cionar, de colocar nossos carrosna rua, porque ns mulheresadoramos dirigir!

    Ns e nossoscarrosmaravilhosos

    Anna Carolina Torres

    O dia-a-dia nonibus

    25 de abril de 2008, sexta-feiraHorrio: 7h25

    Primeiro ponto depois do fi-nal e o nibus j vem cheio. Ain-da h lugares, mas no muitos.No terceiro ponto, j no sobrabanco algum. O resto do pesso-al vai ter que agentar a viagemem p. E, nesse horrio, a viagem longa porque a Antnio Car-los opera no famoso arranca epra. Normalmente, do meubairro at o Centro, pegando omesmo nibus com o trnsitobom, se gastam 12 minutos. Dojeito que a coisa anda ultima-mente (ou melhor, no anda),de manh, ele tem gastado quase40. Algumas pessoas vo lendoum livro, concentradas, pare-ce que nem percebem o que sepassa em volta delas. Outras voconversando porque j se conhe-cem. Nesse horrio, as pessoasso quase sempre as mesmastodos os dias. Mas o que mais

    eu observo so pessoas encosta-das na janela, olhando pra fora,pensando em alguma coisa, que,em minha opinio, no deve ternada a ver com o nibus ou otrnsito engarrafado.

    Hoje, comum ir ouvindomsica dentro do nibus, com omp3, mp4, celular etc. Cresce onmero de pessoas com fone deouvido dentro dos nibus. umaalternativa para no estressarcom a demora at o destino ouento uma maneira de evitar quea pessoa ao lado puxe conversa(pra quem no gosta de conver-sar). D pra ir ouvindo msicaou o jornal e se informando das

    notcias do dia. Eu, s vezes, es-cuto jornal. Mas, na maioria dasvezes, vou no nibus s aprovei-tando o tempo pra pensar. Pen-sar -toa mesmo, j que, hoje emdia, tudo to corrido, que nemtempo pra pensar a gente temmais.

    Bom, voltando ao que acon-tece dentro do nibus, chega ahora da luta. Descer no Centro o mais difcil. Como o nibusj est lotado e muitas pesso-as descem no mesmo ponto, uma complicao. Todo mundocomea a se levantar, querendoguardar o melhor lugar na portapra pular fora assim que o vecu-

    lo encostar. E o nibus andando.Enquanto um levanta, o outroquer correr e pegar o lugar, evira aquela baguna com bolsapra c, gente caindo, todo mun-do pedindo licena (alguns nemisso pedem). Nesse ponto, o ni-bus volta a encher novamente, ea, creio eu, deve comear tudode novo.

    O perfume

    6 de maio de 2008, tera-feiraHorrio: 7h25

    No tem nada que me inco-moda mais do que cheiro for-

    te de perfume no nibus. Soualrgica a perfume e parece quealgumas pessoas no tm muitanoo da quantidade de lquidocheiroso que devem borrifar nanuca, brao, roupa e onde maiselas inventarem.

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    Hoje, sentou do meu lado umrapaz com um perfume to forteque foi a conta de ele chegar eeu comear a espirrar. E assim foinos 40 minutos at o Centro. Eletranqilo, ouvindo msica, e euespirrando sem parar. Tentei ler,ouvir jornal, qualquer coisa paradistrair, mas no funcionou mui-to. Entre levantar e ir em p nonibus super cheio, preferi ficarsentada ao lado do rapaz perfu-moso mesmo.

    Hoje, havia duas moas queno costumam pegar o nibustodo dia e resolveram ir conver-sando. Mas como no estavamsentadas uma ao lado da outra,resolveram falar bem alto. E con-taram foi caso. Eu tentava pres-tar ateno na conversa (curio-sidade jornalstica), mas a crisede espirros no ajudou muito. Sdeu pra entender algumas coisasdo tipo dormiu l em casa no f i-nal de semana, a me dele nogostou muito de mim, vai meligar outro dia e coisas do tipo.Enfim, metade dos usurios dotransporte coletivo ficou sabendode um caso pessoal de uma moamorena e que falava alto. Nofinal, elas acabaram distraindoalguns passageiros na sua viagemdiria de 40 minutos at o Cen-tro de Belo Horizonte. Porque muito difcil no prestar atenoem duas pessoas que falam altodentro de um nibus lotado.

    O atraso

    8 de maio de 2008, quinta-feiraHorrio: 7h25

    Dia que o nibus atrasa um problema, e hoje ele resol-veu atrasar quase meia hora. Onormal sair um a cada seis mi-nutos. Quando acontece atraso,

    tudo fica mais complicado. Dofinal, ele j sai bem cheio e, acada ponto que pra, existe umamultido esperando.

    As pessoas at animaram aconversar umas com as outrasmais do que o normal. O assun-to era o mesmo: o absurdo doatraso, o horrio de bater pontono servio, o trnsito que noanda e a superlotao. O quemais teve hoje foi gente olhandoos relgios com cara de aflio.Quem pegava servio s 8 horas,j podia ir ligando pra avisar queia chegar atrasado.

    Eu prefiro nem olhar as ho-ras, mas, de vez em quando,

    fico sabendo assim mesmo, por-que toda hora algum pergun-ta pra outra pessoa quantashoras, fazendo um favor? e ano tem jeito. Sou obrigada asaber que estou muito atrasadamesmo.

    Estava reparando, hoje, aeducao das pessoas dentro donibus. Quase ningum oferecepara carregar as bolsas de quemest em p. Mas d pra pensar se falta de educao e de boa von-tade ou se um receio mesmo.Eu sempre ofereo pra carregarsacolas, embrulhos e coisas dotipo, mas, na maioria das vezes,quando se trata de bolsa, a pes-

    soa se recusa a aceitar. Acho que,hoje em dia, os cidados confiamto pouco uns nos outros, que agente j nem se oferece mais pracarregar a bolsa dos companhei-ros de viagem. Vai que eles pen-sem que estamos com alguma minteno!

    Isto no aconteceu comi-go, mas com uma prima: uma

    senhora, que estava sentadaao lado dela, conseguiu abrir abolsa dela sem que ela notassee saiu levando a carteira. Ela spercebeu o que havia acontecidoquando a mulher j estava des-cendo do nibus, quase na rua.Por sorte, ela conseguiu alcan-la depois que ela havia entradocorrendo no Mercado Central. cada uma que acontece que todomundo fica andando por a meiodesconfiado!

    A dinmica donibus

    12 de maio de 2008, segunda-feiraHorrio: 14h30

    Hoje eu resolvi reparar emcomo as pessoas se comportamao entrarem no nibus. No ho-rrio da manh, em que todos jse conhecem um pouco, as pes-soas entram, do um oi para omotorista e o cobrador e, geral-mente, sentam em pares para irconversando.

    No horrio da tarde, o nibusvai mais vazio e d para repararmelhor em como elas se com-portam dentro do transportecoletivo. Poucas pessoas cum-primentam o motorista, acabam

    passando sem nem olhar paraele direito. O cobrador j maiscumprimentado, mas deve serporque a pessoa passa muito pr-xima dele, e o mnimo a se fazer esboar um sorriso ou mexerum pouquinho o lbio como setivesse dito alguma coisa. Noteitambm que os usurios que pa-gam a passagem com carto, cos-tumam fingir que no tem umapessoa sentada ali de frente pramaquininha e passam direto, as-sim como fizeram com o motoris-ta. Enfim, a maioria no parecemuito disposta a dar um sorrisoanimador ou um bom dia emalto e bom som. Pelo menos,

    poucas pessoas fizeram isso hoje.Na hora de sentar, pareceexistir uma regra:Nunca senteao lado de um estranho, a menosque no haja outra opo. No re-parei isso s hoje, sempre acon-tece quando, nesses horrios, onibus vai mais vazio. Hoje, um

    dos lados estava batendo sol, en-to, a ocupao se deu da forma

    como vou contar agora.Primeiro, todos os lugaresda janela, onde no havia sol,foram ocupados. Devido ao ca-lor, o normal seria que as outraspessoas se sentassem ao lado dasque j estavam l e fugissem dosol quente. Mas no foi isso oque aconteceu. Todos preferi-ram sentar do lado do sol, ondeainda no havia outras pessoas.Fica a dvida: ser que isso uma preferncia enorme pelosbancos ao lado da janela ou, re-almente, ningum se sente mui-to vontade em sentar do ladode outro ser humano, enquantoexistem bancos totalmente de-

    socupados?Outra coisa que observei foia preferncia que os jovens tmpelos bancos no fundo do nibus.Em grupo ou sozinhos, a maioriasempre se desloca para l. Talvezseja outra regra sem explicao:Os jovens devem sentar-se no fun-do do nibus, o mais longe possvelda ala dos idosos.

    Eu sempre sento no fundo, esinceramente, no sei explicar oporqu. Talvez d at para medircomo o tempo tem passado de-pressa pelo lugar que ocupo nonibus. Hoje, sento no fundo e medida que os anos passam vouprogressivamente me sentandoalguns bancos frente. Um diano precisarei mais passar naroleta e sentarei nos bancos ver-melhos reservados para idosos eoutros usurios que tm esse di-reito. Quem sabe at l eu descu-bra o motivo da preferncia dosjovens pelo fundo do nibus.

    O teste

    13 de maio de 2008, tera-feiraHorrio: 14:30h

    Depois de ficar me pergun-tando o porqu de as pessoasnunca se sentarem juntas quan-do no se conhecem, resolvi fa-

    zer um teste.Peguei o nibus a algunspontos do final e s havia qua-tro pessoas nele. Como era deesperar, cada uma sentada emuma janela. Cheguei e sentei aolado de uma moa que estava s,olhando para fora, distrada. Pedi

    licena e ocupei o lugar vago aolado dela.

    Ela olhou meio de lado, sdeu uma balanada na cabea eolhou para fora de novo. Apsalguns minutos se remexendo nacadeira, tirou um celular da bol-sa, conectou um fone de ouvido ecomeou a escutar alguma coisa.Ser que foi coincidncia ou foiuma forma de fingir que eu noestava ali? Talvez ela tenha acha-do um abuso eu me sentar ao seulado enquanto havia tantos luga-res vagos no nibus. O fato queela ficou ouvindo o tal fone at ahora de descer. Levantou e pediuuma licena to baixinho que eunem sei se foi isso mesmo que elafalou.

    Bom, parece que o nibus no um dos melhores lugares parase fazer amizade, ao menos quevoc d sorte e encontre umapessoa muito bacana que, pelomenos, d um bom dia ou boanoite quando voc se senta aolado dela.

    O cantor

    20 de maio de 2008, tera-feiraHorrio: 7h25

    Hoje, o dia no nibus foi pro-veitoso. Serviu para dar umasboas gargalhadas. De manh,nibus cheio como sempre, e eu

    l no fundo. De repente, entraum moo baixinho, moreno e debigode e comea a cantar.

    Um homem cantando msi-cas dos Beatles pra todo mundoouvir. E cantava com vontade,bem alto mesmo. No comeo,todo mundo ficou procurandoquem era e, depois, todo mundocomeou a achar graa. O mootinha um vozeiro e cantava comuma paixo imensa na voz. Sfaltou um instrumento musicalpara acompanhar a serenata nonibus.

    O que mais se ouvia era oseguinte comentrio: Quem esse doido? O homem que,

    provavelmente, ningum ali co-nhecia estava sendo chamadode doido s porque resolveu ircantando no nibus de manh.Tudo bem que isso no aconte-ce todos os dias, mas quem soueu pra chamar algum de doido.No ritmo frentico em que todos

    Dirio de nibus

    tm andado, no sei se existe al-gum normal ainda. Talvez ele

    at fosse doido mesmo, mas, pelaempolgao, ele parecia maisfeliz do que muita gente que es-tava ali com seus uniformes detrabalho prontos para mais umdia. Acho que, no mundo atual,os loucos so os mais felizes, elesfazem tudo o que querem e todomundo justifica: Coitado, deixapra l porque ele doido.

    S sei que o tal desconheci-do foi cantando at o Centro dacidade e ainda assobiava parafazer o ritmo da cano. Foi umdia mais feliz no nibus. Todomundo trocava olhares e sorrisose comentava alguma coisa a res-peito do cantor do 8101

    Boa vontade

    28 de maio de 2008, quarta-feiraHorrio: 22h40

    Hoje aconteceu um timoexemplo de boa vontade comi-go no nibus. Peguei o 8101,voltando da faculdade, e notinha nem um lugar. Eu estavade bolsa e com minha pasta namo. Parei ao lado de um banco,tentando no me desequilibrar, efui segurando como podia. Comoningum que estava sentado seofereceu para levar minha pasta,

    um rapaz em p, do meu lado,perguntou se eu queria que elecarregasse.

    Minha primeira reao foide surpresa, afinal, ele tambmestava em p e carregava umapasta. Falei com ele que noprecisava, mas ele continuouinsistindo. A uma moa, sen-tada no banco, que devia estarprestando ateno na nossaconversa, resolveu se oferecerpara levar o material: o meu eo dele. Outras pessoas que esta-vam perto tambm se oferece-ram para carregar alguma coisade outros companheiros de via-gem, que no tinham o privil-

    gio de estar sentados.A atitude dele, alm de le-gal, serviu para mostrar que nocusta nada levar a pasta, sacola,pacote ou qualquer outra coisade quem est em p, lutandopara se segurar com uma mo eno cair.

    Linha:8101

    Santa Cruz Alto Santa Lcia

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    novEmBrodE 2008 Pgina 6 ExtEnsounivErsitria - uni-BH

    Dirio de nibusLinha:8101

    Santa Cruz Alto Santa Lcia

    Fabiana Cristina

    Jornalismo

    Bolsas e mochilas

    So, principalmente, asmulheres as autoras desse in-

    Muitos passageiros usam alinha no mesmo horrio dos es-tudantes com destino a seus ser-vios e, geralmente cansados,no podem sentar nem ter ummnimo de paz para destinarem-se a mais uma batalha diria.

    Para mim, essa deveria sermais uma sugesto de gentile-za urbana a circular nos nibus.Os estudantes deveriam ter maisconscincia e respeito com osoutros passageiros que depen-dem do transporte coletivo tantoquanto eles.

    Mes e filhos

    Notei que a maior parte dascrianas que usam o transportecoletivo esto acompanhadaspor mes e no por pais. E quetambm essas mulheres, em atode proteo, deixam suas crian-as assentarem no banco da ja-nela creio que com o intuitode que ningum nelas esbarre eas machuque. Essa no s umaatitude feminina, mas, princi-palmente, materna. A proteo um ato de legitimar a relaofamiliar entre me e filho.

    Os filhos, por sua vez, sen-tem-se aconchegados, mesmoque no percebam isso, pois, emqualquer ameaa de perigo, logopodem ser abraados por suasmes. E so, principalmente, osfilhos do sexo masculino queaparentam gostar mais de se sen-tar no canto da me.

    Joana Maria NascimentoJornalismo

    7 de abril 14:45 Linha SC01

    Embarco no nibus rumo aonme-

    Linha:SC01Circular

    quem est em p, assim evita-ramos um transtorno para nsmesmos.

    O cheiro

    A principal coisa que notoquando entro em um nibus o perfume das pessoas. Nossa! Ecomo no passar despercebidoaquele forte e insuportvel per-fume logo pela manh! Pareceque algumas pessoas no tmnariz, ou ento gostam de sentir

    aquele perfume que, de to fortee doce, se torna um odor.

    pior ainda quando essetenebroso cheiro surge no in-cio da tarde, bem na hora doalmoo, e vem acompanhadodo aroma de pastel frito. Nessemomento, juro que seguro o es-tmago com as mos e comeoa pensar em outras coisas paradar conta de chegar em casasem passar mal.

    Estudantes

    A linha 8101 o principal ve-culo de transporte dos estudan-

    tes de ensino mdio da EscolaEstadual Central. E os estudan-tes, logo por volta das 6 horas damanh, lotam o nibus e, nocontentes com isso, fazem ques-to de conversar bem alto, rir efazer brincadeiras, o que, muitasvezes, causa raiva e incmodoaos outros passageiros.

    cmodo causado a passageirosdo transporte coletivo. incr-vel como a maioria delas nemnota que est jogando o peso desuas enormes bolsas no rosto dequem est sentado. E quandoentram pessoas carregando mo-chilas nas costas, ento, nossa!

    Assim, fica quase impossvelpassar pelos apertados corredo-res dos nibus.

    Se as pessoas tivessem umpouquinho mais de gentileza,esse incmodo poderia ser evita-do. A soluo seria apenas fazero favor de segurar a bagagem de

    Observao nos nibus

    ro 8.000 da Contorno para umaconsulta com meu ortodontista.Cumprimento o motorista, coi-sa que a minoria dos passageirosfaz. Fao o mesmo com o troca-dor enquanto ele me d o troco:um sorriso amistoso.

    Depois de pagar a minha pas-sagem, ando at o fim do ni-

    bus e sento bem no fundo.Um timo lugar para ob-

    servar os outros passa-geiros. A maioria nogasta nenhum esbo-o de sorriso sequer,nem que seja com omotorista, cobrador

    ou passageiro queestar ao seu lado du-rante o trajeto. Acho

    que quem entra numtransporte coletivo j

    tem a idia preconcebidade que aquilo uma situao

    Brasil Mosaico

    26 de abril - 15:30 SC01

    Talvez, no interior de umnibus, transporte pblico mu-nicipal, existem mais reflexes aserem feitas do que nossa cabeapensante possa imaginar.

    um bom ambiente tambmpara se observar a diversidadeexistente em cada pedacinho donosso pas.

    A cada ponto em que para-mos, um nmero de pessoas en-tra no nibus. E nem precisa ob-servar muito para percebermostantas diferenas.

    Nosso pas ecltico no quetange a etnias, ascendncias edescendncias.

    No primeiro ponto, uma filade passageiros sobe. Nesse nme-ro podiam estar negros, indge-

    nas, pessoas de origem europia,asitica, entre outros. Ser queestamos numa conveno inter-nacional de alguma coisa? No,no se trata de nenhuma grandeocasio. apenas uma pequenaviagem intramunicipal.

    30 de junho 18:00 Linha 1207

    Dia 30 de junho de 2008,trnsito catico na Avenida Pre-sidente Antnio Carlos, hora dorush,pista especial de nibus lo-tada. Os nibus abarrotados depassageiros, em p, sentados.

    Fim da longa jornada de tra-balho diria e as pessoas pre-cisam esperar, dentro de umtransporte pblico, que o trajetose descongestione para chegarao descanso do lar.

    A pacincia, nesse caso, quase inalcanada.

    No fim do carro, perto dasduas ltimas poltronas e da esca-da da porta traseira, um homemse recosta, j que no h mais lu-gar disponvel para sentar.

    Em certo ponto, junta-se atoda essa gente mais uma mu-lher. Ela escolhe como lugar paraaguardar a chegada do seu pontoo assento prximo ao homem re-costado.

    Um engarrafamento, uma amizadeLinha:1207Betnia Santa MnicaA primeira afinidade que

    surge entre ambos: a condiode terem que enfrentar um tr-fego praticamente intrafegvel.Disso, um assunto gerado. Apauta: a dificuldade, cada diamais aumentada, de se locomo-ver na capital mineira.

    Como h tempo de sobra,outros elementos aparecem naprosa dos dois, que vo desco-

    brindo mais afinidades entre si.De repente, aquele mo-

    mento no mais se resume emum trajeto num transporte p-blico. Algo maior est aconte-cendo. Algo que, realmente,compense estar preso naquelafila de nibus que andam a 10km/h.

    Mais de uma hora depois,chega o ponto da mulher. Ao

    descer, uma despedida calo-rosa entre os dois. Telefonestrocados. Um sorriso amvelde despedida. Uma amizadecriada.

    18 de julho 14:15 Linha 9104

    L fora, vidas que acontecem.No diferente daqui de dentro.L fora, movimento. Ao.

    Duas adolescentes voltamda aula de mochilas nas costas,gargalhadas trocadas. A cumpli-cidade no olhar. Estudam juntas,vo embora juntas. Aprendemjuntas, se divertem juntas. E sor-riem naquela grande cidade.

    Uma senhora carrega uma sa-cola de mas. So muitas mas,talvez um quilo delas. O semfo-ro est aberto para pedestres. Do

    A maioriano gasta

    nenhum esboo desorriso sequer, nem

    que seja com omotorista

    que propicia pequenos aborreci-mentos.

    Uma outra coisa que penseifoi que o humor de cada passa-geiro depende de qual seu des-tino ao desembarcar e o que eleir fazer depois disso. Pelo hor-rio de uma segunda-feira, aquelenibus no estava composto depessoas que, ao descerem emseus respectivos pontos, fossempraticar uma atividade de lazer.Provavelmente, aquele era umtransporte que os levava paracumprir alguma obrigao.

    Sem conversas de desconhe-cidos, sem simpatia ou gestosamistosos. Diferente foi a via-gem dos de l da roleta. O can-tinho reservado aos idosos eramais agradvel; eles costumamcumprimentar uns aos outrose at arriscam trocar algumasfrases.

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    lado dela, um rapaz office boy,aparece. Ele lhe estende a mo,pega a sacola, alivia a senhoradaquele peso. Atenciosamente,a ajuda a fazer a travessia. J queas pernas da anci no se loco-movem to rapidamente comoos carros que esperam no sinalgostariam.

    No ponto de nibus, um ca-sal se despede com semblantesde pesar. Talvez seja sentimentodemais para que fiquem separa-dos por algum espao de tempo.Um beijo longo. E um abraosincero.

    Quatro garotas andam, cal-mamente, ao lado umas das ou-tras. Todas com um sorvete namo. Falam ao mesmo tempo.Atropelam os casos umas das ou-tras. Sorriem juntas. Desfrutam,alegremente, de um momentosimples, especial, de amizade

    Pela janela do nibus

    Linha:9104

    Sagrada Famlia Luxemburgo

    Um dia de tormenta e calmaria

    pura.Um pai apressado leva, nos

    ombros, seu filhinho de apro-ximadamente quatro anos. Acriana tem, na mo, uma me-rendeira e, nas costas, uma mo-chila. Provavelmente, volta daaula. Sua expresso de euforiarevela: ele conta ao seu pai comofoi mais um dia de aventurasna sua vida. O pai, mesmo compressa, empresta seus ouvidos sua criana. E se orgulha do mes-mo.

    L fora, o amor existe. Nodiferente daqui de dentro. Da-qui de dentro, o amor l de fora

    observado. E quem, um dia, irdizer que s existe hostilidadeneste mundo?

    16 de maio 17:20 Linha 8205

    Desconsolada, subo os de-graus daquele nibus. Com umaparelho que toca mp3 nos ou-vidos, passo a roleta e procuro olugar mais isolado para me sen-tar. A ltima poltrona est vazia.No preciso nem dividi-la aindacom ningum.

    Caso algum me desse umboa tarde sequer, desabariaem choro. Por que o motivo dodesespero? Insatisfao generali-zada. Uma estudante, na maiori-

    dade, que ainda no tem um em-prego no deve se sentir infeliz?Amplio meu raio de viso

    e paro de olhar somente parameu prprio umbigo. Ali, nessenibus, h um monte de pesso-as sentadas. Num instante desobriedade, penso: ser que noexiste algum ali com problemasmuito superiores ao meu?

    Antes da roleta, esto ido-

    Linha:8205Maria Goreti Nova Granada

    sos. Alguns deles at sofrem demaus-tratos, discriminao. Pre-cisam viver apenas da aposenta-doria que o governo lhes garan-te, mas que, muitas vezes, nolhes suficiente para uma vidaconfortvel.

    Uma me sozinha de menosde vinte anos de idade se sentacom seu beb. Esto voltando dopediatra, talvez a criana estejadoente. Nas mos da me, umasacola de farmcia. No rosto dobeb, uma expresso de dor. Ame chora com a criana, talvez

    por inexperincia ou desespero.Muitas vezes, nosso descon-tentamento com a vida no pas-sa de ingratido. Basta um olharhumano ao redor de ns e perce-bemos que problemas esto pre-sentes na vida de todas as pesso-as. J dizia algum: A cada umde acordo com sua necessidade,de cada um de acordo com suacapacidade.

    Lfora,vidasqueacontecem.Nodiferentedaquidedentro.

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    Jacqueline Martins de MouraJornalismo

    Antonina Valdez, mais conhecidacomo Juma, cobradora de nibus da li-nha 4310 na empresa Luziense. Trabalhana funo de cobradora h quase 6 anos.

    Juma desempenha a funo com muito

    amor e dedicao. E sempre elogiada porseus passageiros.

    Com um jeito especial de tratar seuspassageiros, injustia definir a funode Juma apenas como cobradora do ni-bus. O mais correto seria defini-la comoagente debordo. O agente de bordo, almde cobrar passagem, tem a funo de terum bom relacionamento com os passagei-ros, procurar atender a suas necessidadese trat-los da melhor maneira possvel, oque agrega valor empresa que presta oservio do transporte coletivo.

    A seguir, seguem relatados algumas ati-tudes e comportamentos da cobradora, queforam observados durante quatro meses.

    Dirio do nibus

    Sexta-feira, 28/03/2008

    Como de costume, estava esperando onibus para ir embora pra casa. J eramquase 23 horas quando avistei o meunibus da linha Machado de Assis, ago-ra com a numerao alterada para 4310,aproximando-se do ponto. Ainda penseicomigo: Graas a Deus que hoje ele estvindo!. Como h poucos nibus na linha,j sei que o motorista do horrio o Perei-ra e a cobradora a Juma.

    No dia anterior, ocorreu um acidentena Pampulha e o nibus no passou comode costume. Ento, eu e duas colegas fo-

    mos para o centro de BH para tentarmosoutras linhas.

    Ao entrar no nibus, cumprimentei omotorista, a cobradora e me sentei. Al-guns minutos depois, Juma chamou algu-mas pessoas na roleta, inclusive a mim, epediu o nmero do celular de cada um. Elapegou os nmeros com a inteno de nosavisar quando ocorrer outro imprevisto;assim, no esperamos em vo. A garagem,no dia anterior, mandou que os nibus serecolhessem; isso sem se preocupar com aspessoas que precisam do transporte paravoltar pra casa.

    Confesso que achei surpreendente ainiciativa dela, porque se preocupar comos passageiros raridade. Nesse dia, come-cei a prestar mais ateno em suas atitu-

    des e percebi que ela no apenas umacobradora, mas sim uma agente de bordoque d ateno aos passageiros.

    Juma conhece o rosto de todos os seuspassageiros, conversa com quase todomundo, percebe com facilidade e comen-ta quando h algum novato ou quandofalta algum. Sabe a maioria dos pontosem que cada passageiro desce do nibus;se tem algum dormindo, quando est pr-ximo do ponto, ela o acorda.

    A cobradora trabalha na linha j vai fa-zer 4 anos e uma profissional que cumpre risca os seus afazeres sem se deixar inti-midar por alguma coisa. Ningum fica nonibus sem pagar, a no ser os passageirosque tm o carto de passe livre em mos.Se entra algum desconhecido no nibus e

    se assenta nos lugares frente da roleta,ela j se levanta e cobra a passagem; se apessoa se recusa a pagar, ela pede para omotorista parar no prximo ponto.

    Quando fui descer do nibus, ela se des-pediu com um Tchau, vai com Deus e bomdescanso!, como fez com todos os outrospassageiros que desceram antes de mim.

    Um exemplo de

    alguns passageiros para fazer comentriosmaldosos sobre a conquista dela, comoEssa medalha foi comprada onde?. Aalegria era tanta que Juma ignorava essestipos de comentrios.

    A cobradora ainda disse que teriamais. Na Meia-Maratona de Betim, elairia correr e, se chegasse entre as cincoprimeiras, iria disputar a Meia-MaratonaInternacional do Rio de Janeiro. Ela nodeixou dvidas de que iria batalhar muitopara que isso acontecesse.

    Segunda-feira, 12/5/2008

    Nesse dia, passei em casa antes de irpara a faculdade. Por saber o quadro dehorrios do nibus, certamente iria no que

    passava s 18 horas, tinha a Juma comocobradora. Alm de ter atrasado uns dezminutos quando apareceu, veio acompa-nhado de uma viatura.

    Entrei no nibus um pouco assustada,ento, a cobradora j me indagou sorrin-do: Gostou da companhia, Jacky?. Ape-nas sorri para ela e questionei o motivo dea polcia acompanhar o nibus.

    Segundo Juma, ao vir do Centro parao bairro, dois adolescentes entraram nonibus e se sentaram na parte da frente.Procurando fazer o seu trabalho, ela logofoi cobrando a passagem dos garotos, quese recusaram a pag-la. A cobradora en-to solicitou aos dois que descessem docoletivo, e eles, aos gritos, a ameaaramantes de descer, dizendo que sabia que ela

    iria para o bairro e voltaria pelo mesmolocal. Disseram que estariam esperandopor ela.

    Como Juma do bairro, ela conhecea maioria dos passageiros. Um dos garo-tos que a ameaaram tinha um irmo que,dias antes, havia sado da priso. Por te-mor segurana do motorista e dos pas-sageiros, pois ela mesma diz no ter medo,resolveu avisar a polcia, que escoltou onibus, garantindo a segurana das pesso-as que estavam a bordo.

    Quarta-feira, 28/05/2008

    Depois de mais um dia de trabalho eaula, entro no nibus para ir para casa; novolante, o Pereira e, no assento de cobra-

    dor, a Juma, como de costume. Cumpri-mentei os dois e ele s apenas responderam.Nesse dia, eu vi que o clima no estavamuito bom, tinha acontecido alguma coi-sa.

    Quando o coletivo j estava cheio,quase chegando entrada do bairro, Jumapediu a ateno de todos e disse que al-

    gum havia ligado para a garagem e recla-mado que o motorista ficava parando forados pontos. Disse que, se dssemos sinalfora do ponto e ele no parasse, a culpano seria dele, mas de algum que tinhareclamado.

    Vamos certa revolta no olhar de Juma,que estava muito nervosa e no se con-formava com aquilo. Disse que a pessoadeveria chegar em casa cedo e no deveriater filhos que estudassem noite e corres-sem risco nos pontos, esperando nibus,para ter feito tal reclamao.

    A maioria do pessoal que estuda e voltapra casa no nibus com a Juma e o Pereiraficou realmente chateada. Algumas vezes,no d tempo de chegar ao ponto, mas eras dar sinal que eles paravam. Agora, eles

    no podem parar e, se algum perder otransporte, o prximo s passa depois dequase 1 hora.

    Segunda-feira, 07/06/2008

    Nesse dia, sabia que, no nibus, seriauma festa. J sabia que Juma havia che-gado em 5 lugar e havia sido classificadapara a Meia-Maratona do Rio de Janeiro.De fato, foi uma festa. Juma levou a meda-lha. Chegou em 5 lugar na tropa de elitee mostrava a medalha para todos os passa-geiros que entravam no nibus.

    Ela estava muito feliz e contou que acorrida teve algumas partes engraadas.Disse que ela passava correndo e algunshomens e mulheres mexiam com ela ...

    Eu passava e uns homens gritavam gosto-sa!, e eu ficava me achando; teve uma hora

    tambm que eu passei e uma mulher gorda efeia gritou comigo, dizendo que estava cheia

    de celulite. A eu no agentei, disse pra ela irali correr ento no meu lugar...

    Juma estava muito satisfeita com o seudesempenho na corrida, que lhe rendeu aoportunidade de correr em outro estado ej estava fazendo planos para a prximacorrida, que ser em setembro.

    A palavra dapersonagem

    Antonina Valdez - a Juma

    So as pessoas que reconhecem meutrabalho que me fazem trabalhar da mes-ma forma como quando entrei na empresa,com a mesma empolgao, com a mesmafora e garra, cuidando dos meus passagei-ros como se fossem de bibel.

    Trato todos os meus passageiros commuito carinho. Para meus idosos terem

    Perfl

    Nome: Antonina Valdez

    Data de Nascimento: 10/05/1969

    Natural de: Ponta Por - MS

    Estado civil: Solteira

    Filhos: 4

    Hobby: Praticar handebol e tae-kwon-do, correr e azer musculao.

    Profsso: Cobradora / Treinadora

    Qualidades: Solidria, gosta de ajudar as pessoas.

    Deeito: Pereccionista

    Paixes: Crianas, esportes e Deus.

    Frase como lema de vida: Retroceder nunca, render-se jamais e Deus minhaortaleza e meu regio.

    Quinta-feira, 03/04/2008

    Estava no ponto esperando o nibus,quando ouvi algumas meninas que pe-gam o mesmo comentando sobre algo queaconteceu na vspera. No dia anterior, euhavia ido embora mais cedo devido a umjogo do Galo no Mineiro, por isso, nosabia do que se tratava.

    Uma das meninas minha conhecida,por isso, tratei logo de saber o que tinhaacontecido. Minha colega comeou a con-tar o ocorrido com a voz um pouco exal-tada, como se estivesse inconformada comalguma coisa.

    Comeou a falar que naquele dia,quando o nibus parou no ponto que fica

    prximo ao Mineiro, vrios atleticanosentraram. Logo que entraram, Juma per-cebeu que eles iam pular a roleta; levan-tou-se do lugar e ficou na frente da roletapara impedir a passagem. Foi um verdadei-ro bate-boca.

    Os torcedores queriam pular de qual-quer forma, mas Juma continuou firmeno lugar onde estava. Alguns passageirosficaram assustados, outros ficaram commedo do que os torcedores poderiam fazer.Estes ameaaram a cobradora, que no seintimidou diante da situao em que seencontravam.

    Nesse dia, quando entrei no nibus,Juma j me abordou para contar o que ha-via acontecido na vspera. Cada vez queentro e a Juma que est no banco do

    agente de bordo, a emoo de ouvir oupresenciar uma nova histria indita.

    Segunda-feira, 07/04/2008

    Alm de Juma trabalhar como cobrado-ra, ainda encontra tempo para correr. Aos39 anos, uma maratonista acostumadaa ganhar medalhas. Ao entrar no nibus,todos viram a alegria estampada no rostode Juma por ter conquistado uma medalhana maratona da Linha Verde. Chegou em12 lugar na tropa de elite e em 5 lugar nacategoria de 35 a 39 anos.

    Juma treina pesado todos os dias. Correna orla da lagoa da Pampulha e ainda fazacademia para, segundo ela, no ganharquilinhos indesejveis que possam intervir

    em suas atuaes.A maioria dos passageiros que entra-vam no coletivo eram surpreendidos pelosgritos de felicidade da cobradora, que exi-bia a sua medalha com um orgulho imen-so. Os passageiros a cumprimentavam pelofeito, o que a deixava ainda mais empol-gada na comemorao. Claro que havia

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    agente de bordo

    seus direitos respeitados, eu trago semprecomigo a cartilha dos idosos, deficientes f-sicos e todos que tm direito prioridade.Isso para que, se algum normal acharque tem mais direito que eles, eu mostrarminha cartilha, e, s vezes, pergunto seeles no tm me, pai, v, v ou esposa.Ento, as pessoas pensam duas vezes antesde responderem ou se recusarem a cedero lugar.

    A frente do nibus que eu trabalhoest sempre vazia. engraado que, sem-pre quando o nibus est cheio e s temos lugares da frente, algumas pessoas mepedem at permisso para se sentarem.

    Isso no quer dizer que eu me descuidodos passageiros que passam a roleta, afi-nal, so eles que pagam o meu salrio e odo meu motorista. Procuro sempre ajudara todos da melhor maneira possvel, comeducao, e ajudando com sacolas pesa-das, mochilas e at com crianas de colo.s vezes, tenho at que sair do lugar paraajudar as pessoas embarcar ou desembar-car do carro...

    No aceito engraadinhos no meucarro ou vndalos que possam prejudicara viagem das pessoas de bem. Eu sempre

    falo que eu e meu motorista s carrega-mos passageiros fil, as melhores pessoasdo mundo. Os vndalos e maus pagadoreseu deixo para quem gosta de carregar, oufinge que no est nem a com o que v,s pensam na empresa nos dias 5 e 22 parareceberem, sem olhar para os lados paraver as necessidades dos passageiros.

    J aconteceram casos de vndalos doMineiro claro que nem todos que voao Mineiro so vndalos! entrarem nonibus e quererem pular a roleta e quebra-rem o carro e eu impedi. Entrei na frentedeles e fiquei na frente da roleta; e eu es-tava grvida de seis meses. At hoje, nodeixo pular a roleta de forma alguma.

    Uma vez, entrou gente no carro chei-rando cola, junto com trs grvidas que

    estavam sentadas na parte da frente donibus, e coloquei-os para correr. Aindatem aqueles caras que entram no carrocom a namorada, geralmente sexta-feira noite, todos engomadinhos com carade festa, virar para mim e falar que notm dinheiro para pagar passagem. Eu nobrigo; apelo pro lado da garota e perguntoela: Como voc tem coragem de sair com umcara que no tem dinheiro nem para pagar a

    passagem? Com certeza, sua me no te crioupara isso, voc merece coisa melhor, to boni-

    ta.... Elas ficam putas da vida e comeama brigar com eles e descem do carro.

    Sem falar naqueles caras que entramno nibus pingando cachaa, viram pramim e falam que no tm dinheiro e queforam assaltados. Eu digo pra eles desce-

    rem do nibus e voltarem para o bar noqual eles foram assaltados.Os que do mais trabalho so aqueles

    que sobem e sentam atrs do motorista,com o cabelo amarelo, espetado, de bon,bermuda e camiseta. Eles acham que estose escondendo do motorista, mas a peli-nha sou eu.

    Essas pessoas a tm cheiro para mim.Quando entrei na empresa, fui treinadapelos melhores o cobrador Arajo e oAnderson, que j viraram motoristas,a Bete e o Bispo, que eram motoristas,mas j saram da empresa, e os fiscaisValdir e Roberto, que tambm deixarama empresa. Coloco em prtica tudo queaprendi com eles. Estou onde estou hojegraas a eles, a mim, a Deus e aos espor-

    tes que eu pratico, pois o esporte no medeixa estressar e nem levar para casa osproblemas do trabalho e vice-versa.

    Eu desconto minhas chateaes sem-pre nas pessoas que me provocam e nonas pessoas agradveis, mas, quando noconsigo, coitado do meu professor detae-kwon-do, do saco de areia do boxe,dos aparelhos de musculao ou do meutnis de corrida, pois, na maioria das ve-zes, so neles que desconto min ha raiva.s vezes, choro, tambm sou feita decarne e osso, mas no deixo transpare-cer; as pessoas no tm nada a ver comos meus problemas.

    Procuro ajudar a todos da melhor ma-neira, com um sorriso, ou com um Tudobem? ou um Como voc est?; mui-

    to bom ouvir isso, ainda mais quandovoc teve um dia daqueles. Meus pas-sageiros sempre me perguntam se euno tenho problemas nunca, pois estousempre sorrindo, brincando, ajudando atodos, fazendo o melhor para melhorar oresto do dia dos meus passageiros.

    Estou sempre atenta na rua ou no

    ponto para ver se no tem ningum cor-rendo atrs do nibus ou dormindo noponto. As pessoas se confundem, sodistradas, ficam pensando na vida e novem o nibus. Nesses casos, eu entroem ao. J fiz o motorista parar uma v eze falar para a pessoa: E a, vamos paracasa hoje ou voc no vai?. A pessoaassusta, entra no nibus e agradece porno ter deixado ela no ponto.

    Uma vez, fiquei muito triste, porqueo trnsito estava congestionado e algunsalunos, que voltam da faculdade ou es-cola comigo, ficaram no ponto at qua-se meia- noite esperando nibus. Ficarmofando no ponto ainda nesse horriono mole! Agora tenho o nmero docelular deles; se isso ocorrer novamente,vou poder avis-los.

    Vocs devem ter percebido que merefiro ao nibus, ao motorista e aos pas-sageiros como meu nibus, meu mo-torista e meus passageiros, mas issomesmo. Sou muito egosta e esse meujeito carinhoso de falar deles.

    Fao um trabalho voluntrio noNcleo de Assistncia Caminhos para

    Jesus, onde cuido de idosos e crianas

    com deficincia trs vezes por sema-na. Minhas paixes e alegrias e meusamores se resumem em meus filhos, ascrianas e idosos da instituio e meutrabalho e meus esportes. Juntandotudo isso, tenho a satisfao e o senti-mento de dever cumprido, com a ajudade Deus.

    Para meus idosos terem seus direitos respeitados,eu trago sempre comigo a cartilha dos idosos.

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    Joana Maria NascimentoJornalismo

    O NAF/CRAS (Ncleo deApoio Familiar/Centro de Refe-rncia em Assistncia Social) um equipamento da poltica mu-nicipal de assistncia social. OCRAS foi o ponto de apoio daequipe do Jornal da Rua para fazeras matrias sobre o Morro da Pe-dras. Eliete Resende Costa, forma-

    da em Servio Social, coordenouesse Centro na Regional Oeste daPBH e falou ao Jornal da Rua so-bre as atividades do CRAS.

    A assistncia se estrutura comoprestao de servio em um siste-ma Sistema nico de AssistnciaSocial (Suas). Esse sistema atendea famlias que vivem na demandada assistncia social, que umaobrigao pblica que, a partir da

    Constituio, se transformou emdever do Estado e direito de todocidado. Ela compe o trip da se-guridade social junto com a previ-dncia e com a sade.

    Em 2004, a Poltica Nacionalde Assistncia passou por um pro-cesso de reorganizao. Existemduas grandes lgicas de proteosocial: uma a proteo social b-sica, e a outra a proteo socialespecial. A violao de direitos e

    o risco social so o que difere umada outra.

    A proteo bsica tem umarede de servios que trabalha nalgica de preveno, parece com oSUS no sentido de esse ser a por-ta de entrada para a procura derecursos na sade. O CRAS temessa mesma funo. atravs deleque a famlia passa a ter acesso auma srie de servios de prote-

    o bsica. O CRAS tambm temgrande papel de articulao comas demais polticas sociais alm dasade. Tal como a educao. Pre-vine situaes de risco e no tematendimento universal, porquecada territrio possui seu prprioncleo. Em Belo Horizonte, so15 NAFs/CRAS, que esto locali-

    zados em territrios de maior vul-nerabilidade. Tal caracterstica mapeada por indicadores pesqui-sados no municpio.

    Em 2002, eram 9 NAFs/CRAS;hoje, j so 15. Quando uma fa-

    mlia procura o NAF/CRAS, ela encaminhada para servios que aatendam nessa lgica de proteosocial bsica.

    A Casa do Brincar atende a fa-mlias com crianas de 0 a 6 anos.Trabalha a questo do vnculo fa-miliar, da importncia do brincarno desenvolvimento infantil.

    O Programa de SocializaoInfanto-Juvenil para crianas nafaixa etria de 6 a 14 anos, que,depois do horrio da escola, vopara uma ONG e l desenvolvemvrias atividades socioeducativas

    de recreao.O Programa Agente Jovem,

    para adolescentes de 15 a 18 anos, um espao para a sociabilidadedo jovem, que, com atividades emgrupo, visa insero do mesmono mercado de trabalho. Tambmtrata do protagonismo juvenil, quefaz com que o jovem, desenvolvaprojetos sociais.

    O Grupo de Convivncia paraa terceira idade ressalta a impor-

    tncia da convivncia especifi-camente para essa etapa da vida.Esses so os cinco servios da pro-teo social bsica.

    Existe outro eixo tambm que a incluso produtiva, que se dpela assistncia social por meio decursos de qualificao profissionalexecutados pelo Qualificart, e atravs do NAF que a pessoa temacesso a esses cursos.

    O NAF/CRAS um equipamentoda poltica municipalde assistncia social.

    Especial Morro da Pedras

    Anna Carolina TorresJornalismo

    Dona Maria, antiga moradorado Morro da Pedras, nunca tinhaouvido falar em sndrome de Downat o dia em que seu primeiro filhonasceu. Na poca, ainda no erapossvel saber se a criana era por-tadora de necessidades especiaisdurante a gravidez. Dona Mariadeu a luz a Caio atravs de umacesariana e foi a que o mdico lheinformou que seu filho era umacriana que precisaria de cuidadosespeciais. Explicou que Caio iriase desenvolver mais lentamente,ter algumas dificuldades, e que erapreciso muito cuidado e pacin-cia. Nesse dia, comeou a luta deDona Maria, que reuniu todas assuas foras para cuidar do filho.

    Desde o incio, as dificuldadessurgiram no caminho de Dona Ma-ria, pois ele era seu primeiro filhoe ela era ainda inexperiente. Caiono conseguiu mamar no peito, eera preciso tirar o leite e colocar namamadeira porque ele no tinha

    fora para sugar. Ela lembra que ofilho tinha baixa resistncia e fica-va doente com muita freqncia.Para cuidar dele, dar os remdiose no deix-lo sozinho, ela e o ma-rido se revezavam durante a noite.Eu dormia um pouco e acordavameia-noite para ficar com ele; en-quanto isso, meu marido dormia.De manh que eu podia dormirde novo, conta ela.

    Foi s aos trs anos que Caioconseguiu dar seus primeiros pas-sinhos e isso foi uma vitria paraDona Maria. Mes que cuidamde crianas como ele tm que tergarra, muita garra, que a recom-pensa acaba chegando. Houve umdia em que me olhei no espelho eestava acabada, magra, com os os-sos tudo para fora de tanto correrpara l e para c. Mas no mediesforos para cuidar dele, nuncapensei em desistir, afirma ela.

    Conseguir escola para ele foium problema, j que Caio noconseguia acompanhar as outrascrianas da sua idade. A soluoveio atravs de uma escola espe-

    cializada do INSS, onde Caio es-tudou por algum tempo. Mesmoassim, ele no se adaptou bem ea me no teve outra escolha ano ser tir-lo da escolinha. Eleficava em casa comigo e eu sempreme preocupei em dar tarefas paraele. No queria que ele fosse umapessoa intil. Ele lavava vasilha,cortava papel e at ia com o paidele ajudar a consertar barraces.Uma vez, ele chegou com o paicom as unhas cheias de cimento,e eu olhei para ele e me deu umador no corao, dessas dores quea gente no conta pra ningum.E eu pedi a Deus que j que eletinha me dado ele assim, que eleabrisse uma porta para ele, contaDona Maria, emocionada.

    Um dia, Dona Maria, que muito querida por todos os mora-dores do Morro das Pedras, bati-zou uma criancinha, que acabousendo adotada por um casal semfilhos. A me adotiva ficou cega, ea menina, que ia muito casa deDona Maria, pediu que ela tomas-se conta dela. Resolvendo atender

    ao pedido da afilhada, ela foi at oFrum para tentar adot-la. Foi aque sua histria e a de Caio come-aram a mudar.

    Caio sempre ia com a me paraqualquer lugar. Uma funcionriado Frum, vendo-o, perguntou aD. Maria por que ela no colocavaCaio para trabalhar na ImprensaOficial. Deu a ela uma carta, en-caminhando Caio para um tra-balho. Eu achava que no ia darcerto, que eles no iam querer elel, diz Dona Maria.

    Mesmo assim, ela no desani-mou e, saindo do Frum, foi com ofilho at a Imprensa. Nessa poca,ele tinha 14 anos e no foi acei-to para o trabalho. Eles disseramque ele era muito pequeno ainda,que no alcanava as mesas e queera para voltar depois de um tem-po. Sa de l muito triste, conta.

    Um dia, Dona Maria voltouao Frum, e a moa que havia lhedado a carta perguntou se o traba-lho havia dado certo. Contando oque havia acontecido, a funcion-ria disse que era para ela voltar lnovamente, levando a mesma car-ta da outra vez. A me de Caio,mais uma vez, voltou Imprensa

    Oficial em busca de uma oportu-nidade para o filho.

    Chegando l, havia um novodiretor, e Dona Maria explicou asituao a ele, que disse que Caioteria que passar por um teste. Nodia do teste, eu levei o Caio e elej chegou cumprimentando o ra-paz que conversaria com ele. Elesestavam em uma sala e o telefo-ne tocou. Como estava perto doCaio, ele atendeu e entregou parao moo. A iniciativa dele surpre-endeu o rapaz, lembra a me.

    Uma semana depois, a opor-tunidade que Dona Maria tantoesperava para o filho se concreti-zou. Ligaram da Imprensa Oficial

    falando que Caio havia sido apro-vado para trabalhar l. Eu acredi-to que a menina que tentei adotarfoi Nossa Senhora Aparecida quepassou por minha vida, abrindouma porta para o meu filho. Elaera negra como a santa e se cha-

    mava Maria Aparecida. Eu noconsegui adot-la, e as duas vezesem que fui at o Frum tentar sserviram para me mostrar o cami-nho para o futuro do Caio, afirmaDona Maria.

    Na Imprensa Oficial, Caiono recebia salrio no incio; otrabalho era apenas um estmulopara o seu desenvolvimento. Ame quem dava o dinheiro paraque a empresa entregasse para elecomo se fosse o pagamento. DonaMaria lembra que Caio gostavade muito dinheiro e, por isso, elajuntava muitas notas de um realpara dar um pacoto. Ele ficavanuma felicidade s quando rece-bia o tal pagamento, lembra ela.No incio, era preciso levar e bus-car o garoto todos os dias, e foiassim durante os seis primeirosmeses. Mas eu tinha que deix-lo andar com as prprias pernas,no podia fazer dele uma pessoacompletamente dependente. Co-mecei a ensin-lo a atravessaras ruas, olhar para os dois ladose pegar o nibus correto, contaa me. Durante trs meses, elaacompanhou o filho de longe parater certeza de que ele faria tudo

    certo. Quando teve certeza deque ele havia realmente aprendi-do, ela parou de acompanh-lo eafirma que ele precisa dessa liber-dade para se desenvolver comoqualquer criana.

    Com o tempo, Caio acabousendo efetivado na Imprensa Ofi-cial e, com 27 anos de servio, elej est quase aposentando. Eu mesinto compensada, feliz, por verque ele chegou at aqui. V-lo fe-liz minha maior alegria. A gentenunca deve negar aquilo que Deusmanda pra gente. Se a gente abra-a com amor, Ele mostra o cami-nho, d o retorno, conta a me,sorrindo.

    Hoje, Dona Maria tenta ajudaroutras mes que tm filhos comsndrome de Down, contando suahistria e a vitria de Caio, queatualmente, com 48 anos, umapessoa carinhosa, trabalhadora ebem-sucedida.

    A luta de uma me

    No NAF/CRAS as coisas acontecem

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    Fabiana CristinaJornalismo

    Dona Maria Jos da Silva Sou-za tem 68 anos e mora no Morrodas Pedras desde os quatro anosde idade. Seus pais eram da cidadede Ressaquinha e, quando se ca-saram, vieram morar em Belo Ho-

    rizonte. Aqui no Morro, as casaspodiam ser contadas nos dedos,no tinha nibus e nem a IgrejaSagrado Corao.

    Sra. Firmina, me de DonaMaria Jos, faleceu aos 91 anos,h aproximadamente dois anos.Ela era benzedeira, e muita gentevinha de longe para tirar mau-olhado, quebranto e cobreiro.Tambm vinham muitas pesso-as com dores para a minha mebenzer porque a f que cura,n! Mas ningum da minha casaaprendeu a benzer com a minhame, porque eu acho que benzer um dom.

    A entrevistada diz ter muitalembrana boa do Morro. Meupai, Francisco Lindolfo, mais co-nhecido como Chiquinho, erarezador de tero e fogueteiro doCongado e foi assim que comecei

    a gostar. No Graja, existia umasede do Congado, que era che-fiada por Sr. Ozrio, e os nossossantos de devoo so Nossa Se-nhora do Rosrio, So Jorge e SoBenedito. E o que eu mais gostavade fazer era desfilar no Congado.O Congado saa l pelas onze ho-ras da noite para buscar a rainha,

    rezar tero, essas coisas de conga-do, n! Ela completa que o maisinteressante do Morro ainda oCongado.

    Relembrando os velhos temposno Morro, Dona Maria diz que aspessoas se conheciam mais, quetodo mundo era comadre e com-padre e confessa que muita coisamelhorou, vieram o nibus e a luz,por exemplo. Mas, com essa me-lhoria, algumas coisas pioraram,como a violncia, as brigas cons-tantes e as mortes. Inclusive aPadaria Maru est fechada nestasemana por causa dessa violncia.Ningum pode ficar at mais tardena rua, a gente tem medo at desair de casa.

    Dona Maria ainda conta que,onde hoje a Avenida Baro Ho-mem de Melo, era um crrego, eela buscava gua para a famlia l.

    Meu marido e os ir-mos dele tomavambanho l, e minhame lavou muitaroupa nesse crrego.Ela tambm contaque era muito bomquando sua me la-vava roupas para os

    padres, e ela ficoufazendo isso por uns30 anos. Foi por essemotivo que sua fam-lia ficou muito amigados padres.

    A t u a l m e n t e ,Dona Maria morano bairro Regina, emIbirit, mas diz queno fica sem ir aoaglomerado, princi-palmente porque fre-qenta, pelo menosduas vezes por semana, as palestrasno Centro de Vivncia Agroecol-gica (Cevae), onde pode desfrutarde muita alegria e companheiris-mo. L, ns podemos participarde aulas de informtica e culin-ria, e, na poca de Pscoa, a genteaprende a fazer ovos de chocolate.Temos tambm verdura fresca,

    saudvel e limpa. E esse tambm um dos motivos por que DonaMaria diz no ter preguia de sairde onde mora, atualmente, parapoder ir ao Morro das Pedras.

    O Morro das Pedras proporcio-nou a Dona Maria boas lembran-as, e ela s diz ter sado da regioporque sua famlia foi crescendo eela morava nos fundos da casa da

    me, por isso, ela achou necess-rio ter uma casa maior e com maisquartos. Mas tudo que eu viviaqui nunca vou esquecer, porquefoi aqui que eu morei dos qua-tro aos dezesseis anos, casei, crieimeus primeiros filhos, e morei pormais dezessete anos. E eu ainda te-nho dois irmos e alguns parentesdo meu marido por aqui.

    O Congado no Morro dasPedras motivo de orgulho

    Muitos moradores no conhe-cem a histria do prprio bairroou comunidade onde vivem. Prin-

    cipalmente os mais jovens. Eu,por exemplo, moro na favela h46 anos, na mesma casa onde crieimeus filhos. E posso dizer que co-nheo gente de perder de vista quemora por essas bandas. A minhacasa, que hoje grande, j foi umbarraco de quatro cmodos que,no decorrer dos anos, eu conse-gui ampliar, construindo mais umpedacinho aqui, outro ali. Comoeu sou de Bom Despacho, e nointerior no existe favela, eu nosabia o que era uma favela quandovim morar no Morro das Pedras,com dois anos de casada. Lembroas recomendaes do meu maridoquando ele saa pra trabalhar. Mas

    aqui era muito calmo, muito tran-qilo. Eu no precisava ter medode nada.

    Sempre ganhamos a vida noMorro. Comeamos com um bar-zinho, que servia caf da manhbem cedinho. Nessa poca, noexistia nada aqui. Onde hoje aAvenida Silva Lobo e a AvenidaBaro Homem de Melo passavamdois crregos poludos. E o restanteera mato. S existia a Raja Gaba-glia, que tambm era bem menordo que hoje. nibus no circu-lava por aqui. O ponto mais prxi-mo ficava na Avenida Amazonas.E o nico comrcio que existia svendia cereal. Quem quisesse po

    e leite, comprava na minha mo.Com o tempo, transformamos obarzinho do caf da manh numbar de verdade, at construirmosa padaria que temos hoje.

    Conseguimos, nessa poca,por meio de abaixo-assinado, tra-zer uma linha de nibus pra perto

    da comunidade. Mas ainda cami-nhvamos uma boa distncia ato ponto. O problema era o barro

    quando chovia. As ruas no eramasfaltadas. Precisvamos descer dechinelo e trocar de sapato den-tro do nibus. Carregvamos umpano mido na bolsa, dentro deum saco plstico, pra limpar os psde lama. S alguns anos depois ecom muita luta que conseguimosfazer com que algumas linhas denibus subissem at a entrada doMorro.

    Quem tem comrcio aqui sem-pre exerceu muita influncia nacomunidade. As pessoas que meconhecem, por exemplo, sabemque podem contar com o meu te-lefone, como referncia, quandoso candidatas vaga de um em-

    prego, ou na compra de um m-vel ou outra mercadoria qualquer.E meus filhos ainda perguntam:me, por que a senhora anda sem-pre ocupada? porque o telefoneno pra de tocar. Sempre que al-gum pisa na padaria, eu tenho umrecado pra dar. Essa a maneiraque encontrei de ajudar a comu-nidade. Eu gosto de muita genteaqui que tambm gosta de mim. Ea minha padaria no um pontode referncia em funo, somente,do telefone. tambm uma refe-rncia de afeto, um ponto que aspessoas freqentam pela amizadeconstruda ao longo desses anos, eque s fez aumentar com o passar

    do tempo.Como no existia uma asso-ciao comunitria do bairro, aminha padaria, que tambm ficana entrada da favela e semprefuncionou das seis da manh sdez da noite, virou esse ponto dereferncia que hoje. Considero a

    minha padaria a porta de entradado morro.

    Os moradores mais antigos

    mesmo no moram mais aqui. Al-guns morreram e outros simples-mente mudaram de bairro. Pra fa-lar a verdade, muita coisa mudounos ltimos anos. Apesar de todomundo ser conhecido e amigo umdo outro por aqui, a confianaque se tem hoje nas pessoas no mais a mesma. Sem falar na faltade segurana. A violncia no fa-zia parte da vida na comunidade.Hoje, quando do oito horas danoite, voc no v mais ningumnas ruas. Quando eu vendia cafda manh, e mesmo quando eutive o bar, podamos andar pora, a qualquer hora, sem medo.S a minha padaria foi assaltada

    mais de vinte vezes no perodo deum ano. Mas isso h quatro anos.Passvamos o ms praticamenteaguardando o dia de sermos assal-tados. De quinze em quinze dias,mais ou menos, acontecia um as-salto. Diziam que tinha a ver coma rivalidade entre gangues de umlado e de outro do morro. Foramtantas ocorrncias que eu at perdias contas. Hoje diminuiu bastante.Acho que o policiamento ajudou.Alm, claro, da mobilizao doscomerciantes, que chamou a aten-o da televiso e ajudou a trazero policiamento pra c. Era umadupla de policiais durante o dia euma noite.

    Eu sempre gostei e continuogostando muito de morar aqui.Eu penso que qualquer lugar prase morar, pra se viver, s pode serbom quando temos f em Deus esomos muito firmes com a gentemesmo. Quando somos pessoasdireitas e temos um bom exemplo

    pra dar, a famlia caminha junto ea comunidade respeita. Como eusoube educar meus filhos, nenhum

    deles tem vcio e todos trabalham.Outra coisa que me faz muito feliz morar ao lado do ponto de ni-bus. Daqui no Centro da cidadeso quinze minutos de viagem.E mais, no tem quem passe pormim que no me cumprimente.Eu fico at com vergonha. DonaMaria pra c, Dona Maria pra l,o tempo todo. esse carinho daspessoas que me faz realmente fe-liz. Mas confesso que no fcil.s vezes, eu fico cansada s coma quantidade de recados que eutenho pra dar.

    A nica coisa da qual sintofalta na comunidade a liberdadede ir e vir. Sem falar nos jovens de

    hoje, que vivem deprimidos, semter o que fazer, sem lazer. Nem afesta junina, que um dos meus fi-lhos ajudava a organizar, perto decasa mesmo, existe mais. Alis,festa era o que no faltava. Dissoeu tambm tenho saudade.

    A coisa mais marcante que j

    aconteceu por aqui foi a instalaoda luz eltrica, que meu maridoajudou a trazer pra comunidade.

    verdade. Com a rede de esgo-to aconteceu a mesma coisa. E agua encanada tambm. Isso semfalar na Associao dos Morado-res, na Associao das Donas-de-casa e na Creche Dona Benta, aprimeira a ser construda desselado do morro. Tudo com a ajudadele, que s parou depois de sofrerum derrame cerebral. Meu mari-do, Maru, parte muito importan-te da histria desta comunidade. Eassim vimos a favela crescer, aju-dando no seu desenvolvimento,acompanhando cada mudana. Eparece que foi ontem.

    Com relao s obras do PAC(Programa de Acelerao do

    Crescimento), eu espero que se-jam cumpridas e tragam melhoriaspra comunidade. Eu sou a favordas obras e s estou esperando praver o que vai dar. Novas moradias,centros de aprendizagem e lazer,mais ruas asfaltadas, tudo o queeu gostaria de ver acontecer.

    Mania de ter f na vidaDona Maria, da padaria Maru

    Dona Maria e Sr. Maru tm orgulho de morar no Morro das Pedras

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  • 8/14/2019 Jornal da Rua 2008 - Ano VII - Edio 6

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    novEmBrodE 2008 Pgina 12 ExtEnsounivErsitria - uni-BH

    Paulo Cesrio da Silva, maisconhecido como Paulinho, tem 51anos, casado e tem dois filhos.Mora no Morro das Pedras desdeos 5 anos de idade. Diz que veiomorar no local por falta de recur-

    sos financeiros. Como o aluguelera mais barato, mudou-se paraa favela. Ele, que uma das lide-ranas locais, contou um pouco dasua histria para o Jornal da Rua:

    Na favela voc tem isenode aluguel e impostos. Ns ramos7 irmos e a minha histria noMorro foi assim tnhamos umavida muito complicada e muito di-fcil na poca, ns mal nascemos ej encaramos uma dura realidadeno mundo, que era ajudar a fa-mlia. Eu, com os meus 12 anos,tinha que ir pra escola e trabalharcomo engraxate para manter asdespesas, n? A, de l para c, co-meou o aterro sanitrio de Belo

    Horizonte, al na rua da Pedreira,e al grande parte do pessoal faziareciclagem do lixo para a gentevender. Ns separvamos o vi-dro, alumnio, ferro tudo que ser-via como material reciclvel. Issodava um dinheirinho para ajudara famlia! E com isso tambm, au-mentou muito o nmero de mora-dores aqui na comunidade, vierammuitas pessoas de Almenara. Pa-rece que eles foram falando paraos outros e a muitos vieram del para c. Assim, o aglomeradofoi se formando. Aqui tem muitagente do interior por isso. O queeu posso falar sobre o Morro quens temos uma histria bastante

    interessante, desde a construoda Praa da Liberdade - eles tira-vam pedras daqui, principalmenteda rua da Pedreira, para construirBelo Horizonte. Ento, a gentetem uma histria muito interes-sante, muito rica culturalmente.Essa histria muito pouco co-nhecida, mas o pouco que eu seieu acho que o suficiente, poisexploravam a terra e as pedrasdaqui! Parece-me que era aqui ena Pedreira Prado Lopes, so doispontos que atendiam a essa de-manda de Belo Horizonte, porqueas ruas eram de caladas, no deasfalto e grande parte era de terra.Ento, eles tiravam todo materialdaqui, para a construo de BeloHorizonte.

    Bom, sobre a vida poltica euposso dizer que minha me seenvolveu no movimento comu-nitrio, ela foi uma grande ldercomunitria, fez um trabalho sen-sacional, e eu, naquela onda deacompanhar o embalo da me,fiquei envolvido e gostando dahistria. Ela entrou nesse movi-mento pela necessidade, pois aquino aglomerado no havia luz el-trica, no tinha gua, era uma ca-rncia total, muitos buracos, tudode ruim. Ento ela resolveu levan-tar a bandeira em prol da comuni-dade. E eu adorava participar dasreunies, o que eu mais gostava

    era das brigas, o pessoal briga-va. Eu achava muito doido comoela agentava e suportava aquilotudo, s vezes umas cobranas in-justas que o pessoal fazia, mas seique fazia parte.

    A primeira vez que eu fui can-

    didato para a associao de mo-radores estava com 33 anos. E napoca foi interessante, por que fuium dos presidentes mais bem vo-tados aqui na regio. Foram mile trezentos votos, foi uma parti-

    cipao muito legal da comuni-dade. Olha, quando eu assumie peguei essa bandeira que foi daminha me, eu dei continuidadeao trabalho dela, que um pro-cesso de melhoria de vida paraessa comunidade. At ento erampoucas famlias que tinham luz egua, e ns demos prosseguimentoa esse trabalho, a rede de esgotoera a cu aberto, ento no tinhanada aqui no Morro. A gente con-seguiu atravs de muita luta, coma participao da comunidade me-lhorar um pouco esse perfil. Ah!Foi muito legal, a gente conseguiumelhorar a urbanizao de vriosbecos, o asfaltamento, como por

    exemplo, a rua Bento que tinhamuitos buracos, ela foi asfaltada,como vrios outros pontos. Maso grande avano, foi a construodo movimento jovem, ns conse-guimos um grupo de jovens muitoatuantes, os meninos participa-ram da associao junto conosco,sabe? Entoera muitolegal.

    Quantoao estudoeu no fiz oensino m-dio comple-to, umafalta em

    mim. Isso assim, uma histria que eu tenhodo passado e estou sofrendo agora,pois eu no dei continuidade aosmeus estudos. J os meus filhos,graas a Deus, todos estaro for-mados, inclusive a minha filha .Eu no quero que meus filhos se-jam doidos como eu.

    Mas o que eu gostava mesmoera de pegar no p da prefeitura,na poca do Srgio Ferrara. E napoca, Deus me livre e guarde, dogovernador Newton Cardoso. Mashouve vrios trabalhos, inclusiveum muito falado no governo doNewton Cardoso, pois foi ele quedeu o aval dessa iluminao todaaqui no Morro das Pedras, e o daimplantao da gua, n? Era tudoobrigao dele! Ento, eu nemgosto e nem deixo de gostar dele.Ele fez apenas a parte dele. E coma rede de gua ns conseguimos oprimeiro negcio que era a titula-o, que o ttulo de apropriaoda comunidade. Ento, na pocaforam 97 famlias que consegui-ram esse ttulo de propriedade, aregularizao da propriedade. Issoprosseguiu e parou na gesto doEduardo Azeredo.

    Somos o terceiro maior aglo-merado de Belo Horizonte. E issoaumentava os interesses polticos,a comeou a implantao de cur-rais polticos, pois a gente da presi-

    dncia da associao era indicadopelo vereador e com isso tirou aparte mais importante que era aparticipao da comunidade noprocesso seletivo da associao.

    O jovem de hoje eu vejo deforma um pouco diferente. Na

    medida que voc d ouvido a elee ouve o que ele est falando paracriar uma proposta, voc passa ater uma credibilidade com esse jo-vem. A voc passa a ser a refern-cia. E hoje, em vrios aglomerados

    no tem esse tipo de pessoa. En-to o jovem fica a merc, enten-deu?... Expem-se demais, todahora. Vem o interesse pelo dinhei-ro, moto, tnis, marcas e essas coi-sas todas. A o envolvimento dele muito grande... para o lado docrime. Eu at t falando um pou-co do passado, mas hoje eu tenhovrios trabalhos com jovens e des-sa forma tenho uma outra viso.Meu primeiro trabalho foi na CeraInglesa, eu comecei l de formamuito complicada como ajudante,da para c eu comecei a melhorare passei para conferente e chegueicomo chefe de transporte. Acabeiaposentando l, isso atravs de

    mritos e no de indicao. O lixotem muito a ver com a Cera In-glesa. Quando eu comecei a traba-lhar l, imediatamente eu propuscomprar as latas usadas do pessoalpra fazer reciclagem. A Cera In-glesa comprava as latas, reciclavae fazia outras para vender a cera.

    Ento, al naquela empresa, euconsegui conciliar o meu trabalho,a associao e a famlia. O meutempo era coisa de louco. Masquem ficou prejudicada foi a mi-nha famlia, pois o tempo para elaera s um tiquinho. Eu tinha umbom tempo dentro do emprego, ooutro para a comunidade e o res-to para a famlia. Ento depois euresolvi dar um tempo da associa-o, reavaliar e fazer a coisa certa.Ai depois eu sentei, parei, discuticom o pessoal, com a minha fam-lia e vi que o Morro tava tomandouma direo muito complicada, ojovem a cada dia que passava es-tava se envolvendo mais com ocrime, e no adiantava eu ficarde braos cruzados s criticandoe lembrando do passado. Eu tinhaque fazer algo! Ento a gente criouesse projeto, que se chama Proje-to social Dois toque na bola. Pois ,ns iniciamos esse trabalho com ointuito de dar mais oportunidadepara o jovem, para que ele possa seaproximar mais da familia, porqueestava muito esquecido, geralmen-te o filho mal conhecia o pai, e agente tem uns dados interessantesaqui que mostram que a maioriados meninos so criados pela pr-pria me. Toda vida eu sempreachei importante a presena dopai, muito interessante, mesmo

    que eles no faam nada. Mas seso presentes, como um ato desegurana. E grande parte dessesmeninos a no tem essa presenapaterna. E tem tambm a questoda gravidez precoce, so vriascrianas e uma confuso dana-

    da. At hoje tem isso ainda, notem o controle, uma coisa muitocomplicada. Ai eu resolvi de vezme envolver nesse mundo. Resol-vi ver o mundo com outro olhar,no aquele do passado. A gente v

    a necessidade de fazer muito mais.Hoje estamos com 140 crianas,adolescentes e jovens, trabalhan-do e envolvidos com a gente,mas muito pouco ainda, porqueessa aproximao nossa com o jo-vem d para a gente o seguinte: aoportunidade de conhecer melhoraquela famlia. A nica forma quens achamos foi atravs da bola.Ento a gente usa a bola comouma forma para aproximar da si-tuao real da famlia. Dois toquena bola veio do Atltico Mineiro,tinha um tal de Z das Camisas.Esse camarada andava nas favelase dava oportunidade para crianase adolescentes, chamando para

    fazer teste no Atltico. E eu fuium dos benefic