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Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde
Prof. Dr. Luzimar Teixeira
Esta reportagem foi retirada do site Informatica Educacional e trata da hiperatividade,
caracaterística bem marcante nos portadores da SW. Mais informações visite o site
www.rgl.com.br
PRECISO DE SUA AJUDA
Transtorno, de quê?
Déficit de Atenção?
Hiperatividade???
Isso te incomoda? Claro...
Tem gente que vê, e não enxerga.
Tem gente que conhece, mas ignora.
Tem gente que não conhece, mas repele.
Ou apenas finge que não vê...
Tem médicos que diagnosticam erradamente, mesmo sem saber.
Tem professores que rotulam, mesmo sem saber.
Tem pais que desconhecem e continuam sem saber...
O portador de TDAH, quase sempre se sente diferente, mas não sabe porque, não
consegue entender...
Nasce, cresce e vive com os rótulos aos quais o classificam como diferente.
Porque todo mundo vê que é diferente, mas não entende?
Enxerga e não vê.
Não vê a necessidade que o portador de TDAH tem de sentir-se amado, respeitado,
entendido... Você não pode ser aquilo que o classificam...
mas todos o classificam diferente.
Porque se também sou inteligente?
Não consigo ficar parado e sei que isso te irrita, mas não posso controlar...
preciso de tua ajuda.
Não consigo me organizar, nem planejar, não consigo controlar, preciso de tua ajuda.
Não consigo, simplesmente não consigo...
preciso de tua ajuda.
Não sou diferente, apenas não sou igual aos outros.
Onde está você meu professor que estudou tanto para me entender e agora não me vê
como seu aluno?
Onde está a escola que eu preciso para me tornar um cidadão respeitado?
Onde está o governo que diz que todo criança tem direito a escola?
Onde está a Secretaria de Educação, o MEC que com seu corpo de profissionais
competentes nada fizeram para me ajudar...?
Onde estão todos vocês que disseram que tenho direitos???
Onde estão todos???
Vejo meus pais lutarem para entender sobre mim e nem eu mesmo entendo.
Estou crescendo...
continuo me perguntando porque as pessoas ainda não me entendem?
Não sou revoltado, nem mimado, mas preciso entender tudo isso.
Não aguento mais a média escolar, nem as recuperações que muito me deixam
desanimado. Acho que é esta a palavra, desanimado...é assim que me sinto diante de
tanta burocracia e falta de compreensão. Até agora não vejo validade na escola.
Sempre recebo ocorrências de que sou indisciplinado, que não paro quieto, que
atrapalho a professora em sala, que atrapalho os meus colegas, que não sou
competente para tirar uma nota boa... Engraçado, a escola e os professores também
me atrapalham. Tem um ventilador na minha cabeça que gira e faz um barulho que me
deixa louco. A conversa dos colegas me distrai, o roteiro das aulas de história e
geografia e de outras teorias cansativas que sou obrigado a ouvir calado e sentado.
Odeio ficar sentado e nada posso fazer. Enquanto meus colegas tem tolerância para
isso a minha é zero...eu até que tento, mas isso é um sacrifício terrível, ultrapasso meus
limites de tolerância...fico irritado, desgastado, cansado e ninguém faz
nada...nadinha...apenas me enviam ocorrências que me levam a sair da sala e chamam
meus pais à escola. Minhas notas não são as melhores, mas sei o quanto sou
inteligente. Não entendo as pessoas, mas tenho certeza que elas me entendem menos
ainda...Quando será que isso vai acabar....Já estou no ensino médio e essa tortura não
tem fim..
Tem gente que é muda, surda e cega de verdade, pois não fala a minha língua, não me
ouve e não me vê. Tem gente que se cala diante da realidade, pois fica mais cômodo
conviver. É para essa gente que preciso pedir ajuda pois preciso olhar o mundo e
acreditar que eu também tenho direito ao meu espaço.
(O autor é portador de TDAH e prefere ficar no anonimato)
TDAH (Transtorno Déficit de Atenção com Hiperatividade)
Durante muitos anos, crianças sofrem os abusos da ignorância educacional, de forma a
rotulá-las diante da sociedade que a cerca. Esta é a realidade de muitas crianças e
adolescentes portadores de TDAH, que após conviver com suas dificuldades, adverte
(através de seu comportamento) a sua família, a escola e aos amigos como respeitar
suas diferenças para que ele próprio supere os seus limites. O texto acima é apenas um
grito de socorro ao qual devemos refletir: escolas, educadores e pais, não podemos
mais permitir o anonimato de crianças, adolescentes e adultos que ainda hoje não são
entendidos e respeitados. É preciso que sejamos competentes naquilo que optarmos
em fazer, e acima de tudo que sejamos competentes ao fazê-lo. Sejamos pais ou
educadores, é preciso conhecer, avaliar, educar e não se desesperar diante do
diagnóstico. É preciso aprender a conviver e acima de tudo, é preciso respeitar esta
convivência. "O transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, é um problema de
saúde mental que tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou
hiperatividade) e a impulsividade. Este transtorno tem um grande impacto na vida da
criança ou do adolescente e das pessoas com as quais convive (amigos, família e
professores)." ( TDAH p.36). Baseado neste aspecto que constrange drasticamente
crianças, adolescentes e principalmente seus familiares é que insistiremos na
importância de que todos, inclusive os educadores ampliem seus conhecimentos, visto
que eles utilizam o saber e a criatividade para ministrar aulas para seus alunos e
também alunos portadores de TDAH que eles desconhecem. Precisamos crer que os
processos educacionais vigentes, através da capacitação de seu corpo docente,
priorizem a aprendizagem respeitando as várias formas de inteligência que todos
possuímos, para que possamos formar adolescentes conscientes, autônomos e mais
capazes de acreditar no seu verdadeiro potencial. Com este trabalho, procuramos
alertar pais, professores e acima de tudo, informar e conscientizar os alunos portadores
desta síndrome, que desconhecem os motivos para tais comportamentos. Nossa
caminhada está apenas começando e com ela pretendemos alertar a todas as pessoas
que encontrarmos neste percurso. Acreditamos que podemos multiplicar o nosso
conhecimento para melhorar o rendimento e o desenvolvimento de nossos filhos e
alunos. Convidamos você para fazer parte dessa longa caminhada...
O PROBLEMA
Estamos vivendo um momento histórico na área Educacional. Ações isoladas e
individuais vão moldando lentamente a nova imagem do educando e do educador
absorvendo teorias pedagógicas ditas mais modernas. Existe uma permanente
adaptação e atualização para a sobrevivência desta relação. Os professores são
privilegiados por estarem em companhia de seus alunos a maior parte do tempo,
podendo analisar, observar e diagnosticar as dificuldades de aprendizagens.
Infelizmente, esta realidade retrata classes relativamente cheias, mal podendo
compreender várias destas dificuldades manifestadas por alguns destes alunos.
Geralmente, eles são rotulados injustamente e recebem o título de mal educados,
indisciplinados, malandros, preguiçosos, desequilibrados, loucos, irresponsáveis, e
carregam ano após ano, o peso de "seus desajustes" ou "suas incapacidades". O
Transtorno (ou Síndrome) de Déficit de Atenção com (ou sem) Hiperatividade; ou ADD(
do inglês Attention Deficit Disorder), é um assunto pouco conhecido na área
educacional. No início do século XX, esse distúrbio foi chamado de disfunção cerebral
mínima, passando posteriormente a ser chamado de hipercinesia, ou hipercinese, logo
a seguir, Hiperatividade, nome que ficou mais conhecido e perdurou por mais tempo.
Em 1987, passou a ser chamado de distúrbio de déficit de atenção , ou ainda distúrbio
de déficit de atenção com Hiperatividade, sendo que muitas vezes utiliza-se somente a
sigla DDA (em português) ou ADD (em inglês " Attencion Deficit Disorder " ). É também
eventualmente chamado de Síndrome de Déficit de Atenção ou Transtorno de Déficit de
Atenção. Com a publicação do DSM-III (Manual Americano de Diagnóstico e Estatística,
que vai sendo revisado periodicamente pela Associação Psiquiátrica Americana) em
1980, o TDAH foi reconhecido. O TDAH foi descrito inicialmente no séc. XIX por Henrich
Hoffman, em crianças. Após muitos anos, ela foi amplamente divulgada no meio médico
e ainda hoje podemos observar diagnósticos falhos sobre esta síndrome.
SIGNIFICÂNCIA DO PROBLEMA
Você já ouviu falar de Transtorno do Déficit de Atenção, ou ainda, Transtorno do Déficit
de Atenção com Hiperatividade/Impulsividade (TDAH) popularmente chamado de DDA?
Sua principal característica é a dificuldade em manter os níveis necessários de atenção,
Impulsividade e inquietude motora e psíquica. Ainda pouco conhecido na área
educacional, o TDAH vem trazendo grandes transtornos a pais (família de um modo
geral) e professores. Cada um a sua moda sofrem com esta síndrome. É comum
médicos diagnosticarem erroneamente esse distúrbio dizendo que é mau
comportamento, falta de educação e limites, ou mesmo que isso desaparece com o
tempo. Sabemos que isso não é verdade e não devemos ser conivente com esta falta
de informação. É necessário uma minuciosa investigação para atestar com precisão o
diagnóstico e tratar suas causas de forma a minimizar as dificuldades e
constrangimentos sofridos pelas crianças e adolescentes. Transtorno de Déficit de
Atenção com Hiperatividade é o nome que se dá a uma condição em que a pessoa,
quando comparada a outra, da mesma idade e sexo, mostra uma sensível redução de
habilidades para manter a atenção, controlar suas ações ou dizer algo sem pensar,
regular as atividades físicas de acordo com a situação, ser motivada a ouvir os outros,
compreender e acatar o que lhe foi dito. O TDAH é causado por uma pequena disfunção
cerebral que torna a pessoa incapaz de pensar claramente, de ter um humor estável, de
manter as fantasias e impulsos sob controle, de estar satisfatoriamente motivada na
vida e de regular essa energia na proporção correta, dentro da situação em que se
encontra. Estudos comprovam que, a falta de atenção, impulsividade, irritabilidade,
intolerância e frustração são alguns sintomas de quem é portador do TDAH e que
acabam tendo maior tendência à depressão e uso de drogas e álcool (isso não é uma
regra geral). Um dos problemas mais graves a serem enfrentados é a discriminação de
professores, colegas e até da família. Os pais, muitas vezes, criam um ambiente de
tensão, ao exigirem que elas se comportem ou dêem respostas como as outras. Tudo
isso contribuiu para que as pessoas nessas condições tenham auto-estima baixa e
passem a exigir atenção especial de pais e educadores pois elas nem conseguem ficar
por muito tempo paradas ou em silêncio. Se é hiperativa, a pessoa com TDAH sofre
ainda com o aumento das suas reações emocionais e por não reconhecer seus limites,
sendo que em ambiente estressante o problema tende a se agravar.
OBJETIVOS
É preciso que o educador tenha em mente, a constante necessidade de atualizar-se
diante de novos desafios que surgem a partir de nossa prática pedagógica. A avaliação
de um aluno precisa ser melhor observada e estudada pelo educador antes de um
diagnóstico precipitado. É preciso um estudo holistico e minucioso, pois, muitas vezes
basta mudar a atitude em relação ao educando, para que tenhamos resultados
positivos. Ao longo de nosso estudo, buscamos atingir vários objetivos dentre os quais,
destacamos:
• Alertar e orientar os educadores para uma melhor avaliação, encaminhando ou
interferindo quando necessário;
• Informar e orientar a família sobre o TDAH;
• Auxiliar adolescentes portadores de TDAH, a conviverem com a síndrome, e
aprenderem a se educar.
A FAMÍLIA E A ESCOLA
Diferente do que se via até algum tempo atrás, hoje, o professor deve apresentar-se
como um componente ativo e informado, para compartilhar conhecimentos específicos e
gerais para um melhor resultado do ensino x aprendizagem. A interação professor x
família não deve ser apenas conteudista. A comunicação deve ser efetiva entre a
família, a escola e o aluno. Neste triângulo deve haver uma cumplicidade mútua para
que possamos de forma racional detectar, administrar e resolver os problemas de
aprendizagem, os conflitos, a disciplina e o desenvolvimento das habilidades deste
aluno. A convivência de um adolescente portador de TDAH, torna-se complicada, a
medida que seus familiares desconhecem os fatores que implicam para alteração de
seu comportamento. Isso geralmente é visível quando a criança inicia a vida escolar ou
entra na adolescência. Sua organização, seus limites, suas necessidades começam a
ser fiscalizadas e cobradas de forma mais rígida pela família e principalmente pelos
pais. O adolescente portador de TDAH, quando pressionado pela família, apresenta
uma desordem generalizada tornando-se mais angustiado, impulsivo, irritado,
intolerante, agitado, ansioso, frustrado e sobretudo mais desorganizado. Ele pode se
associar ao uso de drogas, a problemas comportamentais, dificuldades com a
linguagem e tendência a perda de auto-estima, com maior freqüência que o esperado
de outros transtornos, tais como a depressão e a ansiedade. É importante que a família
esteja atenta e "não perca seu filho de vista".
TRANSTORNOS DO COMPORTAMENTO
Na idade escolar, a desatenção é a grande queixa dos professores. Não há uma solução
fácil para administrar TDAH na sala de aula ou em casa. A eficácia de qualquer tratamento
deste problema na escola depende do conhecimento e da persistência da equipe
educacional e de sua intensa comunicação com a família. Tudo isso contribui para que as
pessoas nessas condições tenham auto-estima baixa e passem a exigir atenção especial de
pais e educadores pois elas nem conseguem ficar por muito tempo paradas ou em silêncio.
O transtorno do déficit de atenção é uma sindrome que afeta um grande números de
crianças. No Brasil atinge cerca de 10% da população, comprometendo o desempenho
escolar, dificultando as relações intrapessoais e interpessoais provocando baixa auto-
estima. É um problema que atinge nada menos do que 1/3 da população mundial, segundo
levantamento realizado recentemente por especialistas dos Estados Unidos. Esse transtorno
afeta mais os homens, mas quando atinge as mulheres, se destaca com mais intensidade. A
dificuldade em conviver com essa situação é provocada mais pela falta de informação e de
compreensão dos pais e educadores, pois a questão é entender como são essas pessoas e
como elas se comportam. A partir do diagnóstico, torna-se possível adoção de medidas que
incluem um novo direcionamento na sua educação, não apenas na escola, mas em casa e
em outros ambientes, sempre procurando uma acomodação de acordo com as suas
necessidades. Também é fundamental que esse trabalho educacional seja integrado,
incluindo pais e professores, com uma grande dose de compreensão, determinação,
perseverança e paciência. Com estas medidas não vamos mudar o quadro do paciente, mas
ofereceremos a ajuda necessária para que ele entenda suas dificuldades e aprenda a se
educar diante da administração de sua própria vida.
SINTOMAS A SEREM OBSERVADOS:
Se a criança tem pelo menos seis desses sintomas...
Se a criança tem pelo menos seis desses sintomas...
• É inquieto, vive mexendo as mãos
e pés e se remexendo na cadeira .
• Não enxerga detalhes ou comete
muitos erros por falta de cuidado.
• Tem dificuldade de permanecer
sentado.
• Tem dificuldade de manter a
atenção.
• Corre sem destino ou vive subindo
nos móveis, janelas, muros etc.
• Parece não ouvir quando está
entretido com alguma coisa.
• Tem dificuldade de engajar-se em
atividades.
• Tem dificuldade de seguir
instruções e regras ou não termina
o que começa.
• Fala excessivamente • Evita ou não gosta de tarefas que
exijam esforço prolongado
• Responde às perguntas antes
mesmo que sejam formuladas
• Perde frequentemente objetos
necessários às suas atividades
• Age como se movido por um
motor
• Distrai-se com facilidade
• Tem dificuldade de esperar a vez • Esquece frequentemente de
cumprir atividades diárias
• Interrompe ou se intromete em
qualquer conversa
...ela pode sofrer do transtorno da hiperatividade
...ela pode ter déficit de atenção.
Fonte:A Gazeta Viva – Ano 1 – nº 4 – Abril/2000 (p.50 a 53)
O DIAGNÓSTICO
Vários estudos e pesquisas demonstraram que 3 a 6% da população de crianças de 4 a 7
anos apresentam TDAH. O diagnóstico dessa síndrome é clínico. Existem escalas que
descrevem os sintomas de atenção, Hiperatividade e Impulsividade (Escala de Conners, a
Escala de Problemas de Atenção do Inventário de Comportamento de Crianças e
Adolescentes, Escala de Inteligência Wechsler para Crianças). Esta Escalas podem ser
úteis como "ferramentas auxiliares" no processo do diagnóstico, mas não servem como
instrumentos isolados. O exame neurológico evolutivo, realizado por neurologistas de
crianças pode indicar dados que fortalecem o diagnóstico clínico. Os dados isolados desta
avaliação não são suficientes para o diagnóstico preciso. Outros testes neuropsicológicos
mais complexos e exames mais modernos, como a tomografia por emissão única de fóton,
são bastante promissoras para o futuro. Neste momento, fazem parte apenas de ambiente
de pesquisa, não sendo ainda confiáveis para o diagnóstico. Quanto mais cedo é feito
diagnóstico, menores são as conseqüências psicológicas nas crianças ao longo dos anos.
Outra vantagem é a identificação precoce da possível existência de outras doenças
associadas, fenômeno que chamamos de comorbidade (a existência de dois distúrbios com
mais freqüência do que o esperado pelo acaso). Os distúrbios comórbidos mais comuns
são: a depressão, os variados distúrbios de ansiedade, dificuldades com a linguagem (as
chamadas disfasias) e problemas comportamentais. Sabemos hoje em dia que até 2/3 das
crianças com TDAHI na infância terão sintomas por toda a vida. É claro, eles vão se
tornando um pouco diferentes daqueles apresentados na infância. A existência da forma
adulta do TDAH foi oficialmente reconhecida em 1980 por ocasião da publicação do DSM-III
(manual americano de diagnóstico e estatística, que vai sendo revisado periodicamente)
pela Associação Psiquiátrica Americana. Muito tempo transcorreu até que ela fosse
amplamente divulgada no meio médico e ainda hoje, observa-se que este diagnóstico é
apenas raramente realizado, persistindo o estereótipo de um transtorno acometendo
meninos que não permanecem quietos em sala de aula e que têm mau desempenho
escolar. Houveram vários obstáculos ao reconhecimento da forma adulta, hoje considerada
relativamente comum. Os professores nem sempre sabem que não existe apenas uma única
síndrome do Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH), mas muitas. Raramente ocorre de
uma forma "pura", normalmente apresenta-se ligada a muitos outros problemas como
dificuldade de aprendizado ou mal humor, é inconstante e imprevisível. O tratamento para o
TDAH, representa uma dura missão de trabalho e devoção para pais e professores.
CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO
O DSM-IV (DIAGNOSTIC AND STATISTICAL MANUAL OF MENTAL DISORDERS),
relaciona alguns critérios de diagnósticos mais explicativos para o TDAH, que são:
Módulo 1. Seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção persistiram pelo menos por
6 meses em grau desadaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento da criança.
• frequentemente não presta atenção a detalhes e comete erros por descuido
nas tarefas escolares, trabalho ou outras atividades; frequentemente tem
dificuldade em manter a atenção em tarefas ou jogos;
• frequentemente parece não escutar quando lhe falam diretamente;
• frequentemente não segue as instruções até o final e não termina tarefas
escolares, atribuições domésticas, ou deveres no trabalho (que não seja
devido a comportamento opositivo ou incapacidade de entender as instruções);
• frequentemente tem dificuldades em organizar tarefas e atividades;
• frequentemente evita, desgosta ou é relutante em se engajar em tarefas que
exigem esforço mental mantido (tais como tarefas escolares e domésticas);
• frequentemente perde coisas necessárias para as tarefas e atividades, tais
como brinquedos, obrigações escolares, lápis, livros ou ferramentas;
• É com freqüência facilmente distraído por estímulos externos;
• É frequentemente esquecido em atividades diárias.
Módulo 2. Seis ou mais dos seguintes sintomas de hiperatividade e impulsividade
persistiram por pelo menos 6 meses, em grau desadaptativo ou inconsistente com o nível de
desenvolvimento da criança.
• Frequentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira;
• Frequentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações
nas quais se espera que permaneça sentado;
• Frequentemente corre ou escala em demasia, nas situações nas quais isto é
inapropriado (em adolescentes e adultos, pode ser sensação subjetiva de
inquietude);
• Com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente
em atividades de lazer;
• Freqüentemente está "a mil" ou "a todo vapor";
• Freqüentemente fala em demasia;
• Impulsividade;
• Freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido
completadas;
• Com freqüência tem dificuldade para aguardar sua vez;
• Freqüentemente se intromete ou interrompe os outros.
Os sintomas devem estar presentes antes dos 7 anos de idade.
Predominantemente Desatento: pelo menos seis da lista de sintomas do grupo de
desatenção.
Predominantemente Hiperativo/Impulsivo: pelo menos seis da lista de sintomas do grupo
de Hiperatividade/Impulsividade.
Tipo Misto ou Combinado: seis tanto da lista de sintomas do grupo de desatenção quanto
da lista de Hiperatividade/Impulsividade.
OBS: Veja mais informações sobre "TDAH" em
file:///C|/sitergl/educEspecial/www.neurociencias.nu e
file:///C|/sitergl/educEspecial/www.neurociencias.nu/pesquisa/add.htm
INFORMAÇÕES ÚTEIS PARA ADMINISTRAÇÃO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO EM SALA DE AULA
(Elaborado pelo Dr. Edward M. Hallowell & Dr. Jonh J. Ratey e, 1992, traduzido por Luiz
Henrique (031)41150-57)
Aqui apresentamos algumas dicas elaboradas por Edward M. Hallowell para o trato de
crianças com TDAH na escola. As sugestões a seguir visam auxiliar o professor na sala de
aula. Algumas sugestões vão ser evidentemente mais adequadas às crianças menores,
outras às mais velhas, mas, em termos de estrutura, educação e encorajamento, são
pertinentes a qualquer um.
01 - Antes de tudo, tenha certeza de que o que você está lidando é DA (Déficit de Atenção).
Definitivamente não é tarefa dos professores diagnosticar a DA, mas você pode e deve
questionar. Especificamente tenha certeza de que alguém tenha testado a audição e a visão
da criança recentemente e tenha certeza também de que outros problemas médicos tenham
sido resolvidos. Tenha certeza de que uma avaliação adequada foi feita. Continue
questionando até que se sinta convencido. A responsabilidade disso tudo é dos pais e não
dos professores, mas o professor pode contribuir para o processo.
02 - Segundo, prepare-se para suportar. Ser uma professora na sala de aula onde há duas
ou três crianças com DA pode ser extremamente cansativo. Tenha certeza de que você
possa ter o apoio da escola e dos pais. Tenha certeza de que há uma pessoa com
conhecimento á qual você possa consultar quando tiver um problema (pedagogo, psicólogo
infantil, assistente social, psicólogo da escola ou pediatra) mas a formação da pessoa não é
realmente importante. O que importa é que ele ou ela conheça muito sobre DA, conheça os
recursos de uma sala de aula e possa falar com clareza. Tenha certeza de que os pais estão
trabalhando com você. Tenha certeza de que os colegas podem ajudar você.
03 - Conheça seus limites. Não tenha medo de pedir ajuda. Você, como professor, não pode
querer ser uma especialista em DA. Você deve sentir-se confortável em pedir ajuda quando
achar necessário.
04 - PERGUNTE À CRIANÇA O QUE PODE AJUDAR Estas crianças são sempre muito
intuitivas. Elas sabem dizer a forma mais fácil de aprender, se você perguntar. Elas ficam
normalmente temerosas em oferecer informação voluntariamente porque isto pode ser algo
muito ousado ou extravagante. Mas tente sentar sozinho com a criança e perguntar-la como
ela pode aprender melhor. O melhor especialista para dizer como a criança aprende é a
própria criança. É assustadora a freqüência com que suas opiniões são ignoradas ou não
são solicitadas. Além do mais, especialmente com crianças mais velhas, tenha certeza de
que ela entende o que é DA. Isto vai ajudar muito a vocês dois.
05 - Lembre-se de que as crianças com DA necessitam de estruturação. Elas precisam
estruturar o ambiente externo, já que não podem se estruturar internamente por isso
mesmos. Faça listas. Crianças com DA se beneficiam enormemente quando têm uma tabela
ou lista para consultar quando se perdem no que estão fazendo. Elas necessitam de algo
para fazê-las lembrar das coisas, de previsões, de repetições, diretrizes, limites e
organização.
06 - LEMBRE-SE DA PARTE EMOCIONAL DO APRENDIZADO Estas crianças necessitam
de um apoio especial para encontrar prazer na sala de aula. Domínio ao invés de falhas e
frustrações. Excitação ao invés de tédio e medo. É essencial prestar atenção nas emoções
envolvidas no processo de aprendizagem.
07 - Estabeleça regras. Tenha-as por escrito e fáceis de serem lidas. As crianças se sentirão
seguras sabendo o que é esperado delas.
08 - Repita as diretrizes. Escreva as diretrizes. Fale das diretrizes. Repita as diretrizes.
Pessoas com DA necessitam ouvir as coisas mais de uma vez.
09 - Olhe sempre nos olhos. Você pode "trazer de volta" uma criança DA através dos olhos
nos olhos. Faça isto sempre. Um olhar pode tirar uma criança do seu devaneio ou dar-lhe
liberdade para fazer uma pergunta ou apenas dar-lhe segurança silenciosamente.
10 - Na sala de aula coloque a criança sentada próxima à sua mesa ou próxima de onde
você fica a maior parte do tempo. Isto ajuda a evitar a distração que prejudica tanto estas
crianças.
11 - Estabeleça limites, fronteiras. Isto deve ser devagar e com calma, não de modo
punitivo. Faça isto consistente, previa, imediata e honestamente. Não seja complicado,
falando sem parar. Estas discussões longas são apenas diversão. Seja firme.
12 - Preveja o máximo que puder. Coloque o plano no quadro ou na mesa da criança. Fale
dele frequentemente. Se você for alterá-lo, como fazem os melhores professores, faça
muitos avisos e prepare a criança. Alterações e mudanças sem aviso prévio são muito
difíceis para estas crianças. Elas perdem a noção das coisas. Tenha um cuidado especial e
prepare as mudanças com a maior antecedência possível. Avise o que vai acontecer e repita
os avisos à medida em que a hora for se aproximando.
13 - Tente ajudar as crianças a fazerem a própria programação para depois da aula,
esforçando-se para evitar um dos maiores problemas do DA: a procrastinação.
14 - Elimine ou reduza a freqüência dos testes de tempo. Não há grande valor educacional
nestes testes e eles definitivamente não possibilitam as crianças DA mostrarem o que
sabem.
15 - Propicie uma espécie de válvula de escape como, por exemplo, sair da sala de aula por
alguns instantes. Se isto puder ser feito dentro das regras da escola, poderá permitir à
criança deixar a sala de aula ao invés de se desligar dela e, fazendo isto, começa a
aprender importantes meio de auto-observação auto-monitoramento.
16 - Procure a qualidade ao invés de quantidade dos deveres de casa. Crianças DA
frequentemente necessitam de uma carga reduzida. Enquanto estão aprendendo os
conceitos, elas devem ser livres. Elas vão utilizar o mesmo tempo de estudo e não vão
produzir nem mais nem menos do que elas podem.
17 - Monitore o progresso freqüentemente. Crianças DA se beneficiam enormemente com o
freqüente retorno do seu resultado. Isto ajuda a mantê-los na linha, possibilita a eles saber o
que é esperado e se eles estão atingindo as suas metas, e pode ser muito encorajador.
18 - Divida as grandes tarefas em tarefas menores. Esta é uma das mais importantes
técnicas de ensino das crianças DA. Grandes tarefas abafam rapidamente as crianças e
elas recuam a uma resposta emocional do tipo eu nunca vou ser capaz de fazer isto.
Através da divisão de tarefas em tarefas mais simples, cada parte pequena o suficiente para
ser facilmente trabalhada, a criança foge da sensação de abafado. Em geral estas crianças
podem fazer muito mais do que elas pensam. Pela divisão de tarefas o professor pode
permitir à criança que demonstre a si mesma a sua capacidade. Com as crianças menores
isto pode ajudar muito a evitar acessos de fúria pela frustração antecipada. E com os mais
velhos, pode ajudar as atitudes provocadoras que elas têm freqüentemente. E isto vai ajudar
de muitas outras maneiras também. Você deve fazer isto durante todo o tempo.
19 - Permita-se brincar, divertir. Seja extravagante, não seja normal. Faça do seu dia uma
novidade. Crianças DA adoram novidades. Elas respondem às novidades com entusiasmo.
Isto ajuda a manter a atenção - tanto a delas quanto a sua. Estas crianças são cheias de
vida, elas adoram brincar. E acima de tudo, elas detestam ser molestadas. Muitos dos
tratamentos para elas envolvem coisas chatas como estruturas, programas, listas e regras.
Você deve mostrar a elas que estas coisas não estão necessariamente ligadas às pessoas,
professores ou aulas chatas. Se você, às vezes, se "fizer de bobo" poderá ajudar muito.
20 - Novamente, cuidado com a superestimulação. Como um barro de vaso no forno, a
criança pode ser queimada. Você tem que estar preparado para reduzir o calor. A melhor
maneira de lidar com os caos na sala de aula é, em primeiro lugar, a prevenção.
21 - Esforce-se e não se dê satisfeito, tanto quanto puder. Estas crianças convivem com o
fracasso, e precisam de tudo de positivo que você puder oferecer. O fracasso não pode ser
super - enfatizado: estas crianças precisam e se beneficiam com os elogios. Elas adoram o
encorajamento. Elas absorvem e crescem com isto. E sem isto elas retrocedem e murcham.
Frequentemente o mais devastador aspecto do DA não é DA propriamente dito e sim o
prejuízo à auto-estima. Então, alimente estas crianças com encorajamento e elogios.
22 - A memória é frequentemente um problema para eles. Ensine a eles pequenas coisas
como neumônicos, cartão de lembretes, etc. Eles normalmente têm problemas com o que
Mel Levine chama de Memória do Trabalho Ativa, o espaço disponível no quadro da sua
mente, por assim dizer. Qualquer coisa que você inventar - rimas, códigos, dicas - pode
ajudar muito a aumentar a memória.
23 - Use resumos. Ensine resumido. Ensine sem profundidade. Estas técnicas não são
fáceis para crianças DA, mas, uma vez aprendidas, podem ajudar muito as crianças a
estruturar e moldar o que está sendo ensinado, do jeito que é ensinado. Isto vai ajudar a dar
a criança o sentimento de domínio durante o processo de aprendizagem, que é o que elas
precisam, e não a pobre sensação de futilidade que muitas vezes definem a emoção do
processo de aprendizagem destas crianças.
24 - Avise sobre o que vai falar antes de falar. Fale. Então fale sobre o que já falou. Já que
muitas crianças com DA aprendem melhor visualmente do que pela voz, se você puder
escrever o que será falado e como será falado, isto poderá ser de muita ajuda. Este tipo de
estruturação põe as idéias no lugar.
25 - Simplifique as instruções. Simplifique as opções. Simplifique a programação. O
palavreado mais simples será mais facilmente compreendido. E use uma linguagem
colorida. Assim como as cores, a linguagem colorida prende atenção.
26 - Acostume-se a dar retorno, o que vai ajudar a criança a tornar-se auto-observadora.
Crianças com DA tendem a não ser auto-observadora. Elas normalmente não têm idéia de
como vão ou como têm se comportado. Tente informá-las de modo construtivo. Faça
perguntas como: Você sabe o que fez? ou Como você acha que poderia ter dito isto de
maneira diferente? ou Você acha que aquela menina ficou triste quando você disse o que
disse?. Faça perguntas que promovam a auto-observação.
27 - Mostre as expectativas explicitamente.
28 - Um sistema de pontos é uma possibilidade de mudar parte do comportamento (sistema
de recompensa para as crianças menores). Crianças com DA respondem muito bem às
recompensas e incentivos. Muitas delas são pequenos empreendedores.
29 - Se a crianças parece ter problemas com as dicas sociais - linguagem do corpo, tom de
voz, etc - tente discretamente oferecer sinais específicos e explícitos, como uma espécie de
treinamento social. Por exemplo, diga antes de contar a sua história, procure ouvir primeiro a
de outros ou olhe para a pessoa enquanto ela está falando. Muitas crianças com DA são
vistas como indiferentes ou egocêntricas, quando de fato elas apenas não aprenderam a
interagir. Esta habilidade não vem naturalmente em todas as crianças, mas pode ser
ensinada ou treinada.
30 - Aplique testes de habilidades.
31 - Faça a criança se sentir envolvida nas coisas. Isto vai motivá-la e a motivação ajuda o
DA.
32 - Separe pares ou trios ou até mesmo grupos inteiros de crianças que não se dão bem
juntas. Você deverá fazer muitos arranjos.
33 - Fique atento à integração. Estas crianças precisam se sentir enturmadas, integradas.
Tão logo se sintam enturmadas, se sentirão motivadas e ficarão mais sintonizadas.
34 - Sempre que possível, devolva as responsabilidades à criança.
35 - Experimente um caderno escola - casa - escola. Isto pode contribuir realmente para a
comunicação pais - professores e evitar reuniões de crises. Isto ajuda ainda o freqüente
retorno de informação que a criança precisa.
36 - Tente utilizar relatórios diários de avaliação.
37 - Incentive uma estrutura do tipo auto-avaliação. Troca de idéias depois da aula pode
ajudar. Utilize também os intervalos de aula.
38 - Prepare-se para imprevistos. Estas crianças necessitam saber com antecedência o que
vai acontecer, de modo que elas possam se preparar. Se elas, de repente, se encontram
num imprevisto, isto pode evitar excitação e inquietos.
39 - Elogios, firmeza, aprovação, encorajamento e suprimento de sentimentos positivos.
40 - Com as crianças mais velhas, faça com que escrevam pequenas notas para eles
mesmos, para lembrá-los das coisas. Essencialmente, eles anotam não apenas o que é dito
a eles mais também o que eles pensam. Isto pode ajudá-los a ouvir melhor.
41 - Escrever à mão às vezes é muito difícil paras estas crianças. Desenvolva alternativas.
Ensine como utilizar teclados. faça ditados. Aplique testes orais.
42 - Seja como um maestro: tenha a atenção da orquestra antes de começar. Você pode
utilizar do silêncio ou bater o seu giz ou régua para fazer isto. Mantenha a turma atenta,
apontando diferentes partes da sala como se precisasse da ajuda deles.
43 - Sempre que possível, prepare para que cada aluno tenha um companheiro de estudo
para cada tema, se possível com o número do telefone (adaptado de Gary Smith).
44 - Explique e dê o tratamento normal a fim de evitar um estigma.
45 – Reuna-se com os pais frequentemente. Evite o velho sistema de se reunir apenas para
resolver crises ou problemas.
46 - Incentive a leitura em voz alta em casa. Ler em voz alta na sala de aula tanto quanto for
possível. Faça a criança recontar estórias. Ajude a criança a falar por tópicos.
47 - Repetir, repetir, repetir.
48 - Exercícios físicos. Um dos melhores tratamentos para DA, adultos ou crianças, é o
exercício físico. Exercícios pesados, de preferência. Ginastica ajuda a liberar o excesso de
energia, ajuda a concentrar a atenção, estimula certos hormônios e neurônios que são
benéficos. E ainda é divertido. Assegure-se de que o exercício seja realmente divertido,
porque deste modo a criança continuará fazendo para o resto da vida.
49 - Com os mais velhos a preparação para a aula deve ser feita antes de entrar na sala. A
melhor idéia é que a criança já saiba o que vai ser discutido em um certo dia e o material
que provavelmente será utilizado.
50 - Esteja sempre atento às dicas do momento. Estas crianças são muitos mais talentosas
e artísticas do que parecem. Elas são cheias de criatividade, alegria, espontaneidade e bom
humor. Tendem a ser resistentes, sempre agarradas ao passado. Tendem a ser generosas
de espírito, felizes de poder ajudar alguém. Normalmente têm algo especial que engrandece
qualquer coisa em que estão envolvidas. Lembre-se de que no meio do barulho existe uma
sinfonia que precisa ser escrita.
ENTREVISTA COM PAULO, PORTADOR DE TDAH
A seguir, mostraremos uma entrevista com um adolescente (do ensino médio) portador de
TDAH, suas expectativas diante da vida, do sexo e de perspectivas futuras diante da
definição de uma profissão. Em respeito ao pedido do adolescente entrevistado,
manteremos em sigilo sua identidade a qual denominaremos de Paulo. (Entrevista realizada
no mês de abril/2000).
Paulo, qual a sua idade? E em que série você estuda?
-Tenho 16 anos e faço 17 em julho e estou cursando o 2º ano do ensino médio.
Como é o relacionamento com seus pais? -Bom. Você tem muitos amigos?
-Sim, quero dizer, alguns colegas e poucos amigos.
Como é o seu dia a dia?
-Corrido. Levanto as 6 da manhã, vou para escola, estudo (não gosto de estudar, mas sei
que é preciso. Só gosto de estudar matemática) volto para casa lá pelas 12:30h e almoço
rapidinho. Em seguida vou trabalhar (trabalho muito, das 14:00 às 18:00 ou 19:00h) e
quando chego em casa, vou malhar. Volto da malhação, tomo banho, janto e depois vou
estudar.
Você gosta do seu trabalho?
-Gosto. Tem pouco tempo que estou trabalhando e estou aprendendo muitas coisas.
O que você faz no trabalho? Há quanto tempo?
-Monto e conserto computadores. Comecei tem uns 2 meses, é meu primeiro emprego.
Você tem dificuldades em fazer isso? -Não. Você se acha esquecido? Porquê?
-Um pouco. Porque eu esqueço das coisas.
Você gosta da sua escola? Justifique.
-Não. Porque tem aulas que não gosto.
Quais aulas você não gosta?
-Todas, menos matemática, biologia e educação física.
Como são seus professores?
-Uns muito ruins (português, história), outros pacientes (educação física, matemática, física)
e outros bem humorados (geografia, biologia) e outros chatos (química).
Quando está prestando atenção em alguma aula, o que costuma pensar?
-Na matéria...mas quando o professor foge do assunto ou fala demais, alguma coisa mais
complicada, me distraio (é comum) e penso em outras coisas...ou mesmo em nada, fico
parado olhando para o lápis...e às vezes converso. Isso sempre acontece, em algumas
aulas e de vez em quando em todas.
Consegue ficar parado por muito tempo?
-Não, bem que as vezes eu tento, mas não consigo.
Quando você tem de ficar calado, como se sente?
-Fico angustiado, fico pensando na hora em que eu vou falar de novo.
Seus professores são compreensíveis com você? Justifique.
-Nenhum, porém, matemática, biologia e geografia me dão um pouco mais de espaço, são
mais pacientes.
Porque você acha que não consegue ficar parado ou calado?
-Porque é chato ficar calado. Fico agitado demais, ai, não consigo pensar com calma e sinto
meus pensamentos andarem tão rápido quanto meus músculos. Nessa hora, é difícil me
concentrar, tenho vontade de sair da sala e correr, agitar, falar...Às vezes, isso fica meio
descontrolado porque meus colegas comentam comigo e outras vezes, meus professores
me expulsam de sala. O pior é quando estou em horário de prova e nada posso fazer, não é
fácil controlar isso...
O que mais te chateia na sua escola?
-Nota baixa e ir para a coordenação, isso sempre acontece.
Como são suas provas?
-Eu faço a prova bem concentrado, e de vez em quando eu colo. Quando a prova é de
cálculo químico, português ou outra matéria qualquer que eu tenha de estar muito
concentrado, isso fica bem difícil. Às vezes erro coisas bobas, que eu sei fazer, mas o
cansaço pelo excesso de concentração e os barulhos ao meu redor, me deixam muito
agitado, perco muito tempo neles e quando vejo bate o sinal e eu ainda nem terminei a
prova. Quase sempre é a mesma coisa. Não sei porque existe "prova", isso não prova nada.
Qual a maior dificuldade que você encontra ao realizar sua prova?
-Quando eu não sei a matéria, fico com dificuldades e quando eu sei a matéria, tiro notas
baixas. Dá vontade de largar tudo pra lá, mas minha família me cobra os resultados e eu
faço o melhor que eu posso.
Para que você tenha maior sucesso, como gostaria que fosse suas provas?
-Deveria ter muitos certos.
Que sugestões você daria para melhorar seu rendimento?
-Não sei, acho que se as provas tivessem alternativas de respostas e a sala fossem menos
barulhenta, acho que eu teria mais chance.
Você pensa que é igual a outros alunos da sua sala?
-Não, eu sou especial. Nunca tem ninguém igual a ninguém neste mundo.
Você pensa que tem alguma coisa?
-Eu acho que tenho menos inteligência do que os colegas. Eles prestam mais atenção nas
aulas, não perdem tanto quanto eu...
Por que você acha que isso acontece com você?
-É natural, sou normal e as vezes apenas um pouco diferente.
Você gosta de ser assim?
-Sim, eu me acho bonito.
Se você tivesse que mandar um recado aos seus professores, o que diria?
-Para de pegar no meu pé!
DEPOIMENTO DA MÃE DE PAULO
Meu filho é maravilhoso. Não sou mãe coruja, mas sou uma mãe que preciso estar de vigília
sempre. Não posso perder o olhar para o meu filho. Em todos os sentidos...Funciono como
um termômetro que está sempre medindo a temperatura dele. A temperatura emocional dele
oscila conforme sua ansiedade, suas frustrações e sua impaciência. No passado, errei muito
até entender como ele entende as coisas. Meu marido é um pouco rígido na educação e na
disciplina. Paulo é hoje um adolescente consciente de seu comportamento. Aos poucos
estamos aprendendo com ele, e ele conosco. As vezes, me sinto angustiada, pois ele não é
muito de falar e sua organização funciona de uma maneira própria, que incomoda
profundamente seu pai. Isso gera conflitos nas relações entre ele e a família. Neste
momento, respiro fundo, aciono o meu termômetro para controlar a temperatura de todos e
acomodar as coisas nos devidos lugares. Esse não é um papel fácil, mas extremamente
necessário para organizar e manter as coisas em ordem. Paulo não tem privilégios em nada.
O que é certo, é certo; mas o que é errado, precisa ser dito. Não tenho medo de fazer isso,
mas para que eu seja bem entendida, tenho de usar as palavras certas, na hora certa. Isso
exige muito de mim, do meu emocional que sempre tem de estar equilibrado para poder
equilibrar. O meu termômetro me indica quando a auto-estima de meu filho esta em baixa.
Imediatamente é hora de entrar em ação e fazer-lhe um carinho. Apesar dele ser bem
grandinho (maior do que eu), sinto que é necessário um abraço, um beijo, colocar sua
cabeça em meu colo e fazer carinho. Pode parecer estranho, mas essa atitude tem um
efeito certeiro. É como se eu abastecesse sua energia, seu apreço pela vida. Estou sempre
por perto, auxiliando, mas não tomando a direção de sua vida, pois entendo perfeitamente
que isso, é função primordial do seu ser. A vida é dele e temos de entender que ele não é
meu, ele é do mundo... Difícil dizer isso, mas necessário para que eu não o coloque em uma
redoma de vidro. Meu filho precisa cair e ter força suficiente para levantar. Não importa o
tamanho do tombo, ele tem de levantar...Este é o meu papel...cuidar para que ao longo do
tempo, ele sobreviva ... A sociedade é cruel com as pessoas diferentes. Durante os meus
anos de mãe, tenho brigado muito para que as pessoas entendam o potencial de meu filho.
Sou eu, brigando com o mundo e com as pessoas...estou sempre repetindo para eles que
Paulo é uma pessoa muito inteligente, enquanto a escola diz o contrário. As notas de meu
filho poderiam ser melhores, mas não são. Ele sempre tira as notas na média ou abaixo
delas. Isso o abala muito. Quando o questiono sobre as matérias e as notas, ele costuma
dizer que não sabe o que aconteceu, pois ele sabe a matéria. Ai, eu paro e me pergunto: até
quando isso vai acontecer? Não tenho resposta, pois está tudo errado...Será que a escola
não pode fazer nada? Será que o sistema de avaliação não poderia ser diferente? Até
quando vão carimbar o meu filho como insuficiente? Grito para o mundo que ele é nota 10,
mas as vezes, nem mesmo ele me escuta... Nestes momentos, respiro fundo e com o amor
de mãe, a paciência de um gigante e a persistência de quem acredita no que vê, retomo o
meu trabalho e estruturo suas bases, de forma que ele passe a acreditar em seu potencial e
possa vencer mais essa etapa. Não posso perder o olhar para o meu filho. Se isso
acontecer, perderei o olhar sobre tudo o que acredito nesta vida.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Na evolução da história educacional, podemos destacar a não aprendizagem como uma das
causas do fracasso escolar, mas, se analisarmos melhor veremos que esta questão é bem
mais ampla. Ela pode estar ligada a vários fatores que merecem nossa atenção. Não
podemos cruzar os braços e achar que tudo vai passar com o tempo. Devemos correr contra
o tempo e fazer acontecer, buscar, pesquisar, informar e acima de tudo acreditar que nosso
filho ou nosso aluno pode ser um vencedor na luta pelo troféu de seus ideais. Através do
nosso exaustivo trabalho, ainda temos a oportunidade de conviver com pessoas como
Paulo, sua mãe e muitos outros pais, filhos e educadores que muito contribuem para o
nosso aprendizado. Esperamos que os processos educacionais vigentes, através da
capacitação de seu corpo docente, priorizem a aprendizagem respeitando as várias formas
de inteligência que todos possuímos, para que possamos formar pessoas conscientes,
autônomas e mais capazes de acreditar no seu verdadeiro potencial. Lembramos que
somente médicos fazem administração da medicação, quando acharem necessário. Aos
educadores cabe um estudo minucioso sobre o aluno portador de TDAH e a interação deste
com sua família. Aos pais, muita informação pois a partir deste conhecimento (sempre
atualizado) estarão em condições de questionar junto aos profissionais uma melhor
educação para seu filho. É difícil, reconheço, mas jamais será impossível enquanto houver
alguém preocupado em melhorar as condições de aprendizagem de um aluno portador de
TDAH. Finalizando, queremos crer que este material informará leigos, pais e professores a
entenderem, conviverem e ajudar pessoas com TDAH, tornando-as seres humanos mais
auto-confiantes diante de suas próprias dificuldades.
Responsáveis por essa matéria:
Leila Landgraf (Consultora Educacional)
Maria Auxiliadora Migliorini (Psicopedagoga)
E mail: [email protected] ou [email protected]
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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HALLOWELL, E.W.; RATLEY, JOHN, J. Driven to Distraction. New York, Touchstone, 1995
BIBLIOGRAFIA DROUET, Ruth Caribé da Rocha. Distúrbios da Aprendizagem. São Paulo: Ática, 1995. SAUSEN FEIL, Iselda Terezinha. Alfabetização um desafio novo para um novo tempo. 13ª edição. Petrópolis: Vozes, 1983.
WERNECK, Hamilton. Se você finge que ensina, eu finjo que aprendo. 16ª edição. Petrópolis: Vozes, 1999.
WEISS, Alba Maria Lemme e CRUZ Mara Lúcia R.M. da, A Informática e os problemas de aprendizagem. Rio de Janeiro: DR&A, 1998.
ROHDE P., Luís Augusto e BENCZIK P. B. Edyleine. Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 1999.
REVISTAS: Diálogo Médico – Ano 13 – nº 1 – Jan/fev 1998 (p.12 a 16)
A Gazeta Viva – Ano 1 – nº 4 – Abril/2000 (p.50 a 53)
Revista Cláudia – Agosto 95 (p. 168 a 172)
SITES PESQUISADOS:
http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/6634/falsamemoria.htm ( Elizabeth F. Loftus, Ph.D em psicologia da Universidade de Stanford/1970)
http://www.neurociências.nu/ (Fernando Lage Bastos e Marcelo Cunha Bueno) http://www.dda.med.br// (Associação Brasileira de Déficit de Atenção) http://www.chadd.org/ ( Edward M.Hallowell)
http://www.nib.unicamp.br/svol/artigo5.htm (Dra. Sônia Cristina C. Quimas) http://www.geocities.com/Paris/5072/fono9.html (site de fonoaudiologia)