68

Infektion Magazine #04 Junho 2011

Embed Size (px)

DESCRIPTION

DOWNLOAD LINK: http://www.mediafire.com/?vxhb1iidfwhk7gy ENTREVISTAS: Devin Townsend, Samael, In Solitude, Falconer e muito mais!

Citation preview

Page 1: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 2: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 3: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 4: Infektion Magazine #04 Junho 2011

EDIÇÃO Nº 4Junho/Julho 2011

EDITOR-CHEFEJoel Costa

DIRECÇÃOCátia CunhaJoel Costa

COLABORADORES #04Bruno Farinha, Catarina Silva, Íris Jordão, Jaime Ferreira, João Lemos, Jorge Castanheira, José Branco, Liliana Quadrado, Marcos Farrajota, Mónia Camacho, Narciso Antunes, Rui Simões, Rute Gonçalves, Suzana Marto, Vanessa Correia FOTOGRAFIAMaterial disponibilizado pelas editoras;Créditos nas respectivas páginas;

DESIGN & PAGINAÇÃOJoel Costa - www.elementosasolta.pt

REVISÃO Cátia Cunha Joel Costa

[email protected]

WEBSITEwww.infektionmagazine.info

ENVIO DE PROMOSJoel Costa - Infektion MagazineRua Adriano Correia Oliveira153 1B3880-316 Ovar

NOVO CICLO

Foi em Fevereiro que a LifeDesign, uma união de designers freelancer do norte de Portugal decidiu apostar nos projectos de autor e iniciar o desen-volvimento de algumas revistas online, entre elas a Infektion. Quando me convidaram para ser o porta-voz desta publicação não hesitei em aceitar e dediquei-me a este projecto com toda a minha força e convicção. Tive o prazer de voltar a ter contacto com bandas, fazer algo pelo Metal na-cional e acima de tudo conhecer os fantásticos co-laboradores (uns saíram e deram espaço a outros novos) que alguma revista pode ter. A LifeDesign, tal como aconteceu com a banda austríaca Dor-nenreich - e como poderão comprovar mais à frente - vai renascer no ventre de outra agência, a Elementos À Solta. Isso significa que a revista tem novos objectivos, novos planos e uma nova equipa a partir da próxima edição. Felizmente para todos, os planos não podiam ser melhores. Podem demorar meses ou até anos até que este-jam 100% em práctica, mas estou certo que se os nossos leitores nos continuarem a dar a força do costume lá chegaremos.

Joel Costawww.infektionmagazine.info

06 PASSATEMPOS

08 NOTÍCIAS

10 ARTWORK

12 PIERCINGS E TATUAGENS

14 EDITORAS: RASTILHO

16 DECEPTIONS CORNER

17 ESTÓRIAS QUE MATAM

18 DEVIN TOWNSEND

22 SAMAEL

24 IN SOLITUDE

26 GARAGEDAYS

30 TALES FOR THE UNSPOKEN

32 DREAM CIRCUS

34 FALCONER

36 HAGL

38 DORNENREICH

40 BLACKSUNRISE

42 WHILE HEAVEN WEPT

46 KARUNIIRU

48 FORGOTTEN TOMB

51 INFECÇÃO URINÁRIA DE MARTE

52 REPORTAGEM: INPULSIV

54 REVIEWS

64 CONCERTOS

Page 5: Infektion Magazine #04 Junho 2011

http://perigo-de-morte.blogspot.com/

Page 6: Infektion Magazine #04 Junho 2011

A Infektion Magazine, em parceria com a Major Label Industries, tem para te oferecer um pack com:

- 3 T-Shirts de Oblique Rain - CD The Firstborn- Split EAK/Crushing Sun - Tomo I do Tom Bombadil Collectors.

Para concorrer basta enviar um e-mail para [email protected] com o assunto “Pack MLI” e explicares, numa frase, o que é que o Metal Português tem que os outros não têm!

A Infektion Magazine, em parceria com o Hard Club, tem três bilhetes para o concerto de Kyuss Lives, no dia 22 de Junho, no Hard Club (Porto) para oferecer. Para e te habilitares a ganhar um bilhete só tens que nos enviar um e-mail a explicar a razão pela qual o deves ganhar!

O nosso e-mail é: [email protected]

Os nomes dos vencedores serão divulgados no dia 20 de Junho, às 18h.

Page 7: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 8: Infektion Magazine #04 Junho 2011

O terceiro álbum dos Cinemuerte estará à venda a partir da pró-xima segunda-feira, dia 6 de Junho. O disco contará com uma edição exclusiva FNAC onde na compra do disco, os fãs recebem um convite para um dos concertos de apresentação da banda. Os Cinemuerte vão-se apresentar ao vivo no Musicbox (Lisboa) a 7 de Julho e no Plano B (Porto) a 9 de Julho. [Joel Costa]

“Scooping The Cranial Insides” é o nome do novo álbum dos nacio-nais Grog, uma banda que já está no activo desde o início dos anos 90. Este terceiro trabalho de originais apresenta 13 faixas e será lançado através da Holandesa Murder Records. Os interessados poderão adquirir o CD pela quantia de 12 EUR. [Joel Costa]

Paredes de Coura - mais propriamente o Centro Cultural da loca-lidade - irá acolher a quarta edição do Metal Coura, a ser realizado nos dias 2 e 3 de Setembro. Para já estão confirmados os nacionais Corpus Christii, The Ransack, We Are The Damned e Pitch Black, os franceses Zubrowska e os nossos vizinhos Crysys e Rato Raro. A organização do festival deverá anunciar mais nomes em breve.[Joel Costa]

“Vírus” é o novo tema dos Miss Cadaver que fará parte do álbum de estreia, intitulado “Morte Ao Fado”. O disco tem lançamento pre-visto para este mês e contará com um total de 12 temas com uma introdução incluída. Entretanto podem ouvir este tema de avanço ao novo álbum no MySpace oficial da banda. [Joel Costa]

Os Miss Lava entraram nos Blacksheep Studios no início deste mês para dar início à produção do seu segundo álbum de originais. A produção ficará a cargo de Makoto Yagyu (If Lucy Fell) e terá ainda a assistência do baixista da banda, Samuel Rebelo. [Joel Costa]

Page 9: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Mike Portnoy, ex-baterista dos Dream Theater e dos Avenged Sevenfold, criou um novo projecto musical chamado Adrenaline Mob. A banda conta com a presença do vocalista Russell Allen (Symphony X), com os guitarristas Rich Ward (Stuck Mojo, Fozzy) e Mike Orlando e com o baixista Paul DiLeo (Nena). [Joel Costa]

Os reis do crossover, Municipal Waste, assinaram um contrato a nível mundial com a editora Nuclear Blast. A banda irá ainda en-trar em estúdio durante este Verão para trabalhar naquele que será o seu quinto álbum de originais e o primeiro a ser lançado através da Nuclear Blast Records. Ainda é cedo para se falar numa presu-mível data de lançamento mas espera-se que seja já em 2012. [Joel Costa]

Os Slipknot voltaram aos palcos depois de terem feito uma pau-sa após a morte prematura do baixista Paul Gray. A banda norte--americana actuou ao vivo no Sonisphere, em Atenas, onde se apre-sentaram com as roupas e as máscaras que utilizaram no primeiro álbum. [Joel Costa]

Os Noruegueses Gorgoroth anunciaram que o lançamento de “Un-der The Sign Of Hell 2011 - re-edição do terceiro álbum da banda, terá que ser adiado devido a problemas na produção. Assim sendo, em vez de sair no dia 20 de Junho, conforme estava previsto, o disco chegará às lojas no dia 29 de Agosto. [Joel Costa]

http://www.pedrademetal.blogspot.com

Page 10: Infektion Magazine #04 Junho 2011

A primeira pergunta que se impõe é: Porquê “Phobos Anomaly”?

O nome foi originalmente inspirado pelo notório jogo DOOM. “Phobos Ano-maly” era a devastadora etapa final, e ficou algures adormecida na minha memória. Passado alguns anos, ao ler um artigo sobre astronomia, descobri que a expressão deriva do facto de uma das luas de Marte, chamada Phobos, ter misteriosas formações na sua su-perfície, designadas como “anomalias”. “Phobos Anomaly” tomava assim um sentido e significado bastante interes-sante, e quando precisei de escolher um nome que representasse a faceta mais “negra” do meu trabalho como desig-ner, tirei essa nota mental do canto es-curo da memória e usei-a para o efeito. Começou como piada, e a pouco e pouco o nome começou a ser facilmente asso-ciado ao meu “estilo” gráfico, e acabei por o manter.

Sei que estás no activo desde o final dos anos 90. Como era tra-balhar em design gráfico com as bandas nesse tempo e que balanço fazes de todos estes anos de acti-vidade?Em termos técnicos, o processo não derivava muito do que se faz hoje. Co-mecei a fazer isto numa época em que a composição digital se iniciou lenta mas fortemente a sobrepôr a técnicas mais artesanais (onde grande parte da minha formação académica se baseia), mas foi uma transição bastante natural e bem vinda. Conseguiam-se resultados visíveis muito mais depressa, e estando a trabalhar num meio digital, as coisas não eram tão “set in stone” como quan-do se trabalha em pintura ou desenho tradicional. Outra coisa que tornou todo o processo mais rápido foi o advento

das câmeras fotográficas digitais. Deixou de haver a imposição limi-tativa e dispendiosa da revelação. Tiravam-se as fotos, ligava-se a má-quina ao computador, e lá estavam elas prontas a visualizar, trabalhar e manipular. Foi uma mudan-ça muito, mas muito bem vinda. Em relação às bandas, foi também uma época de mudança positi-va. Começou a nascer uma cons-ciência geral quanto à imagem, e mesmo a banda de “garagem” se começou a preocupar com isso. Lentamente, a noção da capa fei-ta à base de fotocópias a preto e branco começou a ser limitada a certos nichos mais resistentes. Hoje olho para algumas coisas que fiz nessa altura com um misto de

saudosismo e incredulidade. Evoluímos como artistas e indivíduos, e a própria tecnologia permite-nos explorar trilhos que antes não seriam tão acessíveis de trilhar, por isso certas opções que fiz 10 anos antes, hoje parecem-me infantis e ingénuas, mas esse é efectivamente o balanço mais positivo que se pode fa-zer. É sinal que essa evolução ocorreu, e nem demos por ela, conscientemente. Por outro lado, o aspecto humano é tam-bém bastante recompensador. Algumas das minhas colaborações artísticas têm já mais de uma década, e isso significa que foram feitas e solidificadas verda-deiras amizades. No fim da viagem, é provavelmente o mais importante...

Quais foram os trabalhos para bandas de sonoridade pesada que mais prazer tiveste em executá--los? E quais as melhores recor-dações retiradas destes anos de actividade?Tirando alguns casos pontuais, pen-so que Corpus Christii e The First-born são as bandas com quem tenho tido um crescente prazer colaborar. São bandas que vi crescer, amadu-recer e vingar, e com quem man-tive uma estreita relação pessoal. Posso nomear o álbum “The Noble Se-arch” de The Firstborn como uma das melhores experiências neste campo. Foi-me dada carta branca para explorar o imaginário da banda e os conceitos a ela inerentes de uma forma que até hoje não pude fazer com nenhuma outra. O mais importante neste meio é sen-tirmos que temos a confiança do clien-te para fazermos o que achamos que deve ser feito. Acontece algumas vezes sentirmos que essa confiança é ténue. Ou porque a banda não tem maturi-dade suficiente, ou porque a insegu-rança e incapacidade interna da banda

para ser pragmática interfere violen-tamente com o meu trabalho e por consequência com o resultado final. Noutro registo, retenho com grande orgulho o período em que colaborei de perto com Kristoffer “Garm” Rygg (Ul-ver, ex-Arcturus, ex-Borknagar), para o artwork de Head Control System. É um artista e músico que considero ser de extrema relevância para o panorama extremo, e conseguir desenvolver um projecto com um dos nossos “heróis” é sempre um privilégio e uma honra.

Também tens um projecto musi-cal. É fácil para ti chegar a um re-sultado final que te agrade a 100% quando estás a trabalhar para ti?Na realidade é mais difícil. Somos imensamente mais exigentes a todos os níveis. Não quer dizer que o resul-tado tenha de ser mais complexo ou elaborado. Pessoalmente prezo a sim-plicidade no que diz respeito a layout e conceitos gráficos e, dentro do possível, gosto de deixar espaço para o observa-dor tirar a sua própria leitura e conclu-são, mas ao mesmo tempo acabamos por perder mais tempo a ponderar os prós e os contras das nossas escolhas, porque é uma situação em que a sub-jectividade choca com a objectividade. E depois existe a opinião das pessoas que estão comigo no projecto. Elas tam-bém têm a sua voz, e dentro do que é razoável tentamos que o resultado final seja consensual. A capa para o “Frail”, o novo álbum dos Before The Rain é um pouco o espelho desse processo. Exis-tiam algumas algumas ideias iniciais que depois foram discutidas e abando-nadas, até que a versão final emergiu. Em termos visuais, é das capas mais limpas e simples que já fiz na vida, mas é exactamente por isso que gosto dela.

Para finalizar, tens algum projec-to em desenvolvimento do qual nos possas adiantar algo? Ou seja, quando vamos poder ver nova-mente a tua arte?Neste momento tenho três projectos em curso. Um para o álbum “Dark Ri-sing”, registo de estreia dos Enchan-tya, que está praticamente fechado, outro para o novo álbum de The Firs-tborn, de nome “Lions Among Men” e também para o segundo álbum de Thee Orakle, cujo nome penso não ter sido ainda oficialmente divulga-do, por isso não o saberão por mim :) Outros trabalhos muito recentes in-cluem o novo álbum de WAKO, de nome “The Road of Awareness” e “Luciferian Frequencies” de Corpus Christii.

Entrevista: Joel Costa

Page 11: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 12: Infektion Magazine #04 Junho 2011

tempo? Era mais fácil fazer negó-cio há uns anos atrás ou têm mais facilidade agora?Acho que as pessoas estão a levar as tatuagens mais a sério e estão a vê-las de uma forma mais artística. Evoluiu muito... As pessoas são mais exigentes e isso é bom para o nosso trabalho.

Entrevista: Joel CostaFotografias: Lisboa Ink

Existem muitos estúdios de tatuagens espalhados pelo país inteiro. Acham que

existe muita concorrência ou é uma área com muito mercado e há espaço para todos?CRISTIAN: O que queremos é que haja espaço para todos poderem traba-lhar. Queremos é preocupar-nos com o nosso trabalho e fazer melhor a cada dia que passa.

O que consideram ser a vossa es-pecialidade?A nossa especialidade é ver um cliente feliz e que volta sempre! Agora a nível do estilo, tratamos de cobrir todos mas gosto do tradicional, americano old e japonês.

Há algum tipo de serviço que vos dê menos prazer de executar?Não. Tratamos sempre de ter uma união com o nosso cliente.

Já contam com muitos anos de ac-tividade. Que balanço fazem desse

COMO ENCONTRAR A LISBOA INK

“A nossa loja fica em Lisboa, ao pé do Metro Avenida.”

LOCALIZAÇÃO:Rua do Telhal, 8 C

Lisboa

FACEBOOK:http://www.facebook.com/pages/Lisboa--Ink-Tattoo-Piercing-Shop/142871405464

WEBSITE:www.lisboaink.net

Page 13: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 14: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Já lá vão 12 anos desde que criaste a Rastilho Recor-ds. Como estão a correr

as coisas neste momento? Fa-la-nos um pouco dos últimos CDs editados.PEDRO VINDEIRINHO: Bem, tendo em conta o cenário actual da indústria discográfica em Portugal, diria que a Rastilho tem tido uma actividade pautada pela regularida-de. Não é a altura ideal para se in-vestir em termos culturais (escrevo dois dias depois de saber que vamos deixar de ter um Ministério da Cul-tura....) mas, enquanto nos sentir-mos motivados, vamos continuar a fazê-lo. Em 2011, na Rastilho Me-tal Records, editámos os discos de Devil In Me, W.A.K.O e Switchten-se. Na Rastilho Records, editámos os novos álbuns de Allstar Project, Blasted Mechanism, Utter e Filho da Mãe.

Após o vosso primeiro lança-mento acabaram por entrar num período de 4 anos em que não lançaram nada. O que aconteceu?A Rastilho iniciou as suas activida-des em 1996 e na altura não pensá-vamos em transformar o projecto numa editora. Esses quatro anos serviram para ganharmos a experi-ência necessária para desenvolver-mos outros projectos e a editora foi uma extensão lógica na altura. Ago-ra pode parecer uma coisa fácil mas nos anos 80/90 editar CD´S era quase um feito heróico em Portugal! Portanto, nos primeiros anos, não editámos de facto muitos discos.

Como encaras a pirataria e os lançamentos digitais? É algo que te preocupa enquanto edi-tor?Preocupa a todos os agentes musi-cais: bandas, músicos, editores, pro-

motores, managers.... todas as pes-soas envolvidas no meio. Mas deixei de me lamentar: cabe-me a mim (em parceria com as bandas) tentar desenvolver formas de se venderem mais discos. Não quero ter um dis-curso moralista mas as pessoas não fazem ideia que estão a matar len-tamente toda uma indústria que, no caso do underground, nunca come-teu as extravagâncias das editoras majors, na altura em que realmente se fazia muito dinheiro com a venda dos discos. Quando me perguntam porque razão a Rastilho não aposta em mais bandas nacionais, a minha resposta é sempre a mesma: por-que não se vendem discos. Tenho a certeza que teríamos muitas mais editoras a apostar em novas bandas se existisse uma maior consciencia-lização das pessoas e uma cultura anti-download. Em todo o caso, é uma discusão que neste momento não faz sentido. Enquanto existi-

Se vamos falar de música, então é importante não nos esquecermos daqueles que tra-zem a música até nós: os editores. E quem melhor do que o Pedro da Rastilho Records para inaugurar este espaço?

Page 15: Infektion Magazine #04 Junho 2011

rem pessoas interessadas nas nos-sas bandas, continuaremos a editar discos.

Ao olhares para trás arrepen-des-te de algum lançamento que tenhas efectuado?Todas as editoras têm lançamentos que se arrependem. Já tivemos de tudo em mais de 70 edições nestes 12 anos: autênticos flops de vendas, artistas esquizofrénicos com tiques de vedetismo e bandas complicadas com quem realmente foi complica-do estabelecer qualquer tipo de co-municação. Mas, como deves imagi-nar, não é correcto da minha parte referir nomes.

No teu entender, quais foram os lançamentos de maior su-cesso na Rastilho?Centrando a conversa unicamente nas edições mais pesadas, foram estes os discos que mais venderam na Rastilho: Devil In Me “The End”, Switchtense “Confrontation of Souls” e Mata Ratos “Festa Tribal”.

Qual é a postura da Rastilho no mercado internacional? Pen-sas em editar álbuns de bandas internacionais?É algo que não posso excluir, obvia-mente. Mas estou muito mais inte-ressado em editar bandas nacionais e exportá-las do que propriamente fazer edições com bandas interna-cionais. O motivo é simples: temos um lote de 15 bandas nacionais (na vertente mais pesada) que não ficam em nada a dever ao que nós importamos todos os dias enquanto consumidores de música. Defendo que essa deve ser a nossa priorida-de: a exportação das bandas portu-guesas que editamos.

Consegues-me descrever o processo de selecção que uti-lizas quando queres fazer um lançamento? Para além de gos-tares do som, o que é que uma banda precisa de ter para que a aceites?

É uma questão interessante mas não existe propriamente um método. Posso-te referir o caso de uma tal banda da Moita: em 2007 um gran-de amigo meu foi ver o Metal GDL e veio de lá louco com uma banda chamada Switchtense. Chateou-me tanto que acabei por os contactar e uns meses depois enviaram-me uma demo daquilo que viria a ser o “Confrontations of Souls”. O resto, já sabemos, pertence à história... Ou seja, acabo por dar mais valor ao contacto pessoal, ao que me di-zem amigos próximos e as próprias bandas com as quais trabalhamos, do que propriamente com a audição de demos e CDs que nos enviam. É quase indispensável hoje em dia veres a banda ao vivo, por exem-plo. Não basta as bandas gravarem uma demo e enviarem-nas para as editoras. É preciso serem profissio-nais em tudo o que fazem, na forma como comunicam e serem inteli-gentes para captar a atenção das pessoas neste meio, criar o tal buzz. E depois, obviamente, o meu gosto pessoal. Estou muito mais próximo de sonoridades Thrash e Hardcore--Punk do que propriamente Death ou Grind.

A Rastilho é a tua actividade principal? Consegue-se viver da música no nosso país?A Rastilho é a minha vida há 7 anos. Existem muitas outras actividades ligadas à Rastilho que a maioria das pessoas desconhecem e algu-mas ainda ficam surpresas quando digo que isto é a minha vida - a par-te editorial, não é a nossa principal actividade. Mas não é fácil para as bandas viverem exclusivamente da música em Portugal. No meio do Metal, a única banda que conheço que o faz de forma profissional são os Moonspell (com os quais tenho o prazer de trabalhar). É uma pena mas as bandas têm também que perceber que para se alcançar um estatuto internacional como o dos Moonspell é preciso trabalhar mui-to, ser 100% profissional e, porque

não dizê-lo, ter alguma sorte. Neste meio, ao contrário de outros, é pre-ciso trabalhar pelo menos o dobro das horas habituais para se conse-guir ter as condições mínimas de sobrevivência.

O que podemos esperar da Rastilho para o futuro? Existe alguma nova edição na forja?Até ao final do ano, só vamos editar mais um álbum na Rastilho Metal Records: o novo álbum dos Echid-na de nome “Dawn of the Sociopa-th”. Na Rastilho Records, teremos mais dois discos até ao fim do ano. Aproveito para dizer que a Rastilho terá uma nova chancela editorial dedicada a sonoridades tradicio-nais portuguesas e Fado - o projecto está estruturado e dará os primeiros passos no final do ano.

Para concluir, alguma coisa que queiras dizer aos nossos leitores?Queria-te agradecer Joel, pela tua perseverança e dedicação nos últi-mos anos. É de louvar o que tens fei-to e espero sinceramente que tenhas vontade e interesse para continuar a desenvolver a Infektion Magazine e outros projectos. Aos leitores, que-ria mandar um abraço a todos. Visi-tem a nossa loja online em www.rastilho.com, onde podem comprar CD´s, Vinyl, DVD´s e mi-lhares de artigos de merchandising, calçado, etc. E um apelo final: com-prem os CD´s das bandas nacionais! Poderia generalizar e dizer para comprarem tudo o que gostam mas sei que isso é impossível. Portanto, na altura de escolherem, apoiem as bandas portuguesas, comprando os seus discos e merchandising e es-tando presentes nos seus concertos. A mudança de mentalidades depen-de de todos nós!

Entrevista: Joel Costa

Page 16: Infektion Magazine #04 Junho 2011

não acho o homem certo nem para Ministro nem para Presidente da República. Escondeu-se todo perante a crise, todos os anos, Agosto, não falha. Haja a urgência que houver, os problemas que houverem, estamos sem Presidente da Républica a governar o país. É mês de ir anhar para uma das suas casas no Algarve, proibir os aviões pub-licitários das praias de voarem o espaço aéreo da praia e casa onde ele vai, que perdem verbas enormes cada vez que o “senhor” vai de férias. Já cá esteve uma vez como primeiro-ministro, mandou abaixo montes de casas de férias de gente trabalhadora da “classe média” na Costa da Caparica/Fonte da Telha, classe essa que já não existe (agora só a classe rica, mais rica e pobrís-sima). Simplesmente, desenvolveu uma lei que não se podia ter segundas casas (ele tem quan-tas?) e que iria ser aquela zona toda turística. E descobri agora que num comunicado oficial, pe-diu aos Portugueses no Estrangeiro (que tiveram que abandonar a família e amigos, porque aqui não tinham direito a emprego, nem a viver) para ajudarem Portugal com a crise! Isto não é o cúmulo da lata? Se a tua familia te mandasse para a rua, sem nada, não te tivesse dado sequer uma chance de vida, e depois te ligasse a pedir dinheiro? Portugal é mesmo a “mãe que devora os seus filhos, em vez de os alimentar”. Temos dos melhores cientistas espalhados pelo mundo, temos engenheiros na Nasa que cá passavam fome... Para quando Portugal seguir o exemplo da Suécia? A terra dos Katatonia e muitos out-ros? A terra onde ninguém ganha mais do que o Presidente da Républica e os Políticos vivem todos no seu T1, conduzem o próprio carro e recebem um ordenado normal, tanto como um cabeleireiro, um recepcionista de hotel, ou um outro trabalhador (note-se, o ordenado mínimo é 1300 euros e todos os desalojados são vestidos, alimentados e existe onde dormir, por organi-zações do mesmo. Crise meus amigos, são estes ignorantes terem poder a mais e gastarem-no em luxo, diariamente...Prometo que não falarei mais de Política porque é uma seca e porque eu próprio sempre odiei Política e Futebol. Para mim “O Rock” (e refiro-me a Metal também) sempre foi tudo...Depois de um “abre olhos”, deixo-vos com uma palavra de alívio para Agosto...VAGOS!

Até lá :)

Pois é... E cá estamos nós, Portugal. Onde ninguém arrisca muito. Nunca. Existe muita gente que mesmo estando mal, tem

medo de mudar. Existe muito a mentalidade do “estou mal, vou ficar pior! Deixa estar assim!”. E depois chamam-me a mim negativo? Eu sei, que é um tema que não gostamos muito. Como Nevermore menciona em muitas das suas letras “And the pigs still sell their lies” (os Porcos = Políticos, continuam a vender mentiras). Agora por momentos encheu-se-me um bocadito do peito com tristeza por terem cancelado a actu-ação em Vagos. Não sabias? Oops!Spoiler alert! Sou obrigado a concordar!Eu não tenho favorit-ismos, para mim, nenhum deles mostra ser “sal-vador da pátria”. Todos mostram ser gentes de luxo que vive para os lucros e negócios milionári-os, negócios estes que maior parte das vezes, aca-bam sempre por pôr alguém a dormir na rua e a passar fome... Custa-me passear por Lisboa e ver tanta a gente a viver na rua. O dobro. Os média falam muito de tudo, tentam dramatizar as coi-sas, às vezes (muitas das vezes) exagerando. Mas quando a realidade “exagera” perante eles, ficam impotentes e escondem... Uma coisa que não foi nunca falada, e eu reparei, que infelizmente até “perto de mim” aconteceu... Os suicídios provenientes da crise? As pessoas que perderam o emprego, logo aí, perderam poder de viver no seu próprio tecto, voltando se para a familia para depender deles, e as familias que se desmanchar-am, a rapariga que vive com o filho/filha na casa dos pais, que se separou do rapaz, que por mais que o “ame”, se ele não sustenta a familia o amor não conta... A devoção é paga? Pois é (aconteceu-me à uns anos, mas adiante...) histórias destas, com as decisões do “nosso” governo, feitas em segundos, fizeram com que muita gente perd-esse anos de luta pela vida. E muita gente não aguentou dar tanto passo para trás tão grande, anos de trabalho, para nada... Eu testemunhei alguém que tinha uma pessoa “querida” que as-sim que este ficou em problemas económicos a pessoa virou-lhe costas, pediu-lhe dinheiro para os filhos e este Senhor (com “S” grande, pois sal-vou muitas vidas -era Doutor- inclusive a minha) decidiu pôr fim à sua existência. Cedeu ao con-forto do suicídio em vez de ter 2 ex-recordações a assombrarem a carteira e a mente com ausência constante, coração constantemente apertado... O Amor compra-se? Eu não sabia. Pena o nosso

EP sobre a “Era onde não existe Devoção”,« ter sido também afectado plo estado económico de tudo e nunca ter saído oficialmente... Não há problema, vão sair 2 em 1...Mas isso fica para a entrevista em breve. Mas...Voltando às “mentes-captas”. Como é possível elegerem sempre os mesmos? Meterem sempre os mesmos “snobs” a comandarem o País? Vocês estão apenas a deixar os velhotes e os imigrantes votar. Nós, o futuro desta terra perto do mar, que podia ser um Par-aíso Oceánico e onde se fazem os melhores vin-hos... Está um País de 3º Mundo! Ninguém quer transformar isto numa “California” enorme? Poderíamos ser um dos Países mais ricos, com gente de todo o mundo a sonhar em viajar para Portugal e “largar cá a nota”. Temos também Sintra, o Gerês... Festivais de Metal/Industrial/Gótico a crescerem a olhos vistos, cada vez mel-hores e maiores... todos começaram do nada! (E por outro lado, temos os festivais “mainstream” com cartazes cada vez piores...) Em 1 ou 2 ho-ras, os visitantes de outros países podiam estar no mar (devidamente protegido, com a Polícia ou Exército a rondar (Sim, já pensaram para que raio serve o Exército em alturas fora de Guerra? Receber para fazer abdominais? Engraxar bo-tas? Limpar o quartel? Levar caldos?) Eu próp-rio tenho 2 ou 3 amigos metaleiros que vivem do exército, mas, opiniões são opiniões e os amigos compreendem. Não concordam, mas compreen-dem que cada ser Humano tem a sua opinião. As praias e bares patrulhadas para evitar os rou-bos (este ano preparem-se, vão ser cortados os subsídios de “inserção” a povos de outros países que vivem cá e estão habituados a recebê-lo...Vai haver muito assalto, lamento informar!) Podía-mos ter um nível de vida excelente, em vez de enriquecer os ricos e empobrecer os pobres, em vez de quem menos trabalha, mais recebe, quem mais trabalha, menos recebe. Mar, areia, flores-ta, magia... Temos tudo! Não sabem aproveitar... Temos um Presidente da Républica que gasta mais dinheiro que a Monarquia de Espanha e Inglaterra juntas! A sério! Pesquisem os factos na Internet (essa arma poderosa). Triste não é? Continuem a votar neles, ou a não ir votar... 40% de vocês não o fizeram...Err...Desculpem! 30% de vocês não foram. Descobriu-se que 10% dos inscritos para votar estão MORTOS! Verdade! Ridículo! Os trabalhadores do Estado nem para eles trabalham. Eu por razões pessoais, admito,

Page 17: Infektion Magazine #04 Junho 2011

A pequena insurgia-se no canto vazio da sala, apertando os braços

gorduchos e revendo uma série de consultas médicas que só lhe traumatizavam os sonhos: o dos dentes, o dos olhos, o da gargan-ta, o do pé partido. Este, dissera-lhe a mãe, era de tudo e esse tudo afigurava-se um tanto monstruo-so; o tudo incluía partes do corpo que ela não queria que investigas-sem, embora ela soubesse, muito bem, que estavam doentes. O médico chamou-a e ela cobriu as orelhas com as mãos, tentando, inutilmente, abafar os sons das vozes e os burburinhos próprios de um consultório. Lá dentro cheirava mal: como o chão velho da cozinha da avó Celeste - um cheiro a madeira podre e a uma mistura nauseante de molhos de assados e espinhas roídas do carapau que, sem querer, salta-vam dos pratos e espetavam-se nas farpas levantadas e, ainda, aos sucos doentes dos escarros do avô que não tinha educação para cuspir para um guardanapo, ou a goivo proveniente de um festim de larvas agrupadas aos molhes, nos armários húmidos. Ou, mais secretamente, uma fra-grância mórbida que só ela con-

inchadas e a camisa bastante ab-erta, expondo um peito escuro e marcado por cicatrizes de uma adolescência rebelde. A menina levantou-se e andou até ele, colo-cando os braços em volta da sua cintura. O pai elevou-a no ar e ela beijou-o, no rosto, amordaçando-lhe as fúrias. Deixou-se deitar na marquesa e apertou os olhos com tanta força que se sentiu invadida por uma cegueira branca. Relaxa, disse-lhe o médico. Mas ela não relaxou. O corpo retesou-se. Re-laxa, dizia-lhe o pai. Mas ela não relaxava. Sentiu um objecto es-tranho invadir as bordas da sua carne magoada. Como sentira, tantas vezes, na cama, um objecto duro invadir a rosa que tinha en-tre as pernas. Comeu a dor como tantas vezes suportara dores se-melhantes. Sentiu o corpo ador-mecer, levado por uma maré de movimentos leves que sussurra-vam, baixinho, melodias de dor-mir. Deixou-se estar daquele jei-to, quieta, entre o limbo da dor e da letargia. Então, Dr.?, pergun-tou o pai. O aborto está feito; para a próxima tenha mais cuidado. E a menina vomitou, horrorizada pela ideia de haver uma próxima vez.

hecia: as amálgamas de líquidos transparentes, esbranquiçados e rosados que sobravam nos len-çóis, depois… depois... depois de coisas que não queria trazer à tona da sua memória. Era; aque-la sala tinha o mesmo cheiro. E isso incomodava-a porque sa-bia, mesmo sendo inocente, que era um odor errado, que ali só se deveria sentir bálsamos me-dicinais. Encolheu-se ainda mais, escondendo o rosto nos caracóis miúdos. Vem cá, vem cá, não dói nada. Odiava essa expressão que só servia para recordar que podia doer, mesmo que minimamente. Não obedeceu ao médico e enca-rou os olhos chateados do pai. Se ao menos viesse com a mãe, se ao menos pudesse socorrer-se com o olhar plácido da sua querida mãe. Inês, não ouves o Sr. Dr.?, vem já! Sentiu um ódio peganhento que se colava ao céu-da-boca, im-pelindo a língua a movimentos estranhos, quiçá a deitá-la para fora e, assim, exibir uma figura de rapariguinha mimada. Conteve-se e escondeu a boca no braço, lambendo-o como um gato, sentindo a língua tropeçar nos pêlos fininhos que o adornavam. Inês, não repito! O pai parecia um bicho enjaulado, de narinas

SOBRE A ESCRITORA:Valentina Silva Ferreira1988, Ilha da Madeira.

Mestranda em Ciências Jurídico-Criminais. Autora seleccionada para as antologias brasileiras de contos: Cursed City e Série VII Demónios da Editora Estronho; e-book Lugares Distantes da Edi-tora Infinitum e Jogos Criminais II da Andross Editora. Colabora-dora das Revistas on-line Magazon e Benfazeja. Autora da rubrica Estórias do Arco-da-Velha da Revista JA.

Page 18: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Devin Townsend lança “Deconstruction” onde se socorre mais uma vez de metáforas poderosas e do universo do humor para passar a mensagem. Assume que este álbum marca a viragem para uma outra fase na sua mú-sica em que o folk ganhará espaço. Sem cedências, afirma que se revê no álbum “Ghost”, que também acabou de lançar, considerando que este é uma sequência natural. À conversa com a Infektion revelou algumas coi-sas sobre a sua emotividade e a sua jornada musical.

O que retiveste deste en-cerrar de ciclo, com estes dois discos, rela-tivamente à tua busca

pessoal?DEVIN TOWNSEND: Acho que em determinado sentido prejudiquei a mú-sica ao falar demais sobre o facto de ser um conceito ou uma busca ou ao utilizar qualquer outro adjectivo para a descrever. Honestamente, penso que estes quatro discos são apenas os pró-ximos quatro discos na calha, usando o mesmo processo que venho utilizando há vinte anos. Ontem fiz uma outra en-trevista e falavam-me do conceito. Na verdade é como um diário ou uma mu-dança pessoal. E em certa medida essa é a verdade, mas eu argumentaria que não é diferente de um cantor ou com-positor a relatar as suas experiencias pessoais através da música. Por isso, há um conceito e eu aprendi coisas ao fazer isto, mas o que essas coisas são, na minha opinião, não é assim tão im-portante ou sequer super profundo. Eu duvido que não tivesse aprendido todas as coisas que aprendi, apenas por ter trinta e nove anos. Foi um período da minha vida, aquele em que escrevi es-tes quatro discos, cheio de mudanças. Muitas coisas mudaram na minha vida e eu não estava preparado, acho eu. Como eu lidei com essas coisas, acabou por ser documentado pela música que fiz nessa altura. Por isso se aprofun-darmos a questão, existe um conceito e existem percepções obtidas, mas não sei se será esse o foco da questão.

Ao ler as tuas letras ocorre-nos: a alma foi salva e a dor ultrapassa-da?Talvez de forma metafórica. Acho que o intrigante de fazer e gravar música é a possibilidade de criarmos uma versão idealista de nós. Podes facilmente em-brulhar-te numa imensidão de técnicas de gravação e produção, com letras que digam que és a melhor pessoa do mun-do, como um semideus ou algo pare-cido. E existirão factos que as pessoas acharão convincentes e nós até iremos

acreditar neles. Mas para mim, a rea-lidade da minha vida é que sou um ser humano estranho de trinta e nove anos que apenas tenta perceber como há-de ir de um lugar para o próximo. Por isso, todo o tipo de afirmações que eu faça nas letras deverão, honestamente, ser entendidas mais num sentido poético, do que uma descrição literal de onde me encontro enquanto pessoa. Acho que não seria tão interessante fa-zer um disco sobre o que faço ao longo do dia, e dizer que não o consigo perceber. Acho que as pessoas não querem ouvir can-ções sobre se devemos ou não comer batatas fritas no sofá à meia-noite. A arte, a poesia e a música são de certa forma uma bênção, pois podemos repre-sentar com uma metáfora todas a mudanças sentidas, mas não passa disso.

O álbum “Deconstruction” foi descrito como compli-cado e extremo. Sentes que é assim?Sim. Acho que a característi-ca que define o “Deconstruction” é o facto de ser complicado. De uma forma tal como eu nunca criei música complicada. E é extremo, mas não da mesma forma como o fiz no passado. Tudo foi um exercício de auto-controlo. No passado sempre que tentei criar música que tivesse aquele tipo de es-tética “Sonic” não levei a melhor. Quanto estava a fazer o “Strap-ping” ou o “Alien” ou o “Infinity” ou qualquer um desses discos estava completamente envol-vido com todo o processo, com o significado disto e com o signi-ficado daquilo. Esses discos a nível pessoal foram um pouco um falhanço. Pois no fim de cada um deles eu cometi erros na minha vida pessoal com base numa má interpretação da importância da música. Por isso, em “Deconstruc-tion” o que eu queria mesmo fazer, era ir mais longe do que tinha ido nestes discos anteriores, mas mantendo, a ní-

“É muito importante para mim que aquilo que eu digo, e aquilo que as letras dizem, suporte as minhas ideologias pessoais.”

Devin Townsend

Page 19: Infektion Magazine #04 Junho 2011

“É muito importante para mim que aquilo que eu digo, e aquilo que as letras dizem, suporte as minhas ideologias pessoais.”

Devin Townsend

vel pessoal, um sentido de equilíbrio, no que diz respeito ao estilo de vida. Percebes? Nada de be-bidas alcoólicas ou drogas ou coisas dessas. Para ter a certeza que controlava as minhas merdas. E para ver se conseguia atingir a profundidade que outrora me assustara sem que esta me vencesse. E foi isso mesmo que aconteceu. Consegui levar o “Deconstruction” a um nível complicado e ex-tremo de uma forma que me teria metido medo no passado. E como resultado disso, mantive em perspectiva o sucesso de “Deconstruction” e dei-lhe uma sequência adequada com um disco como “Ghost”, que me chega de forma comple-

tamente natural. Talvez muito mais do que o “Deconstruction”.

“Ghost” é um álbum muito etéreo. É um estado de espírito?DEVIN TOWNSEND – Acho que a musica

contida em Ghost é algo que me vinha inte-ressando há anos. Mesmo antes de fazer o “De-

construction”. Eu precisava destes outros dis-cos, do metal que tive na minha vida. Mas antes disso, eu interessei-me por música new age e de meditação. Acho que precisei da purga de muita da música desses discos, para me dar confiança

para apresentar isto. E voltando à primeira pergunta que fizeste, percebi que talvez eu

esteja muito menos interessado no caos e talvez tenha feito assumpções durante

demasiado tempo. E fazer essa purga do caos em “Deconstruction” e ao

permitir que me vissem como alguém que se sente confor-

tável a apresentar um disco como “ghost”, em última

análise, revela que tal-vez eu não estivesse

tão apegado ao som heavy metal

como pensava. Mas acho que isso ainda é algo para ver. Ainda estou a

deitar cá para fora.

A ironia é a tua princi-pal ferramenta em “Deconstruc-

tion”?Acho que foi uma forma de expressar coisas que são muitas vezes entendidas como rudes ou como sermões quando expressas literalmente. Acho que ao utilizar o sarcasmo ou a ironia ou uma metáfora isso permite-me expressar coi-sas que são muito importantes para mim, sem chegar àquele ponto em que estou demasiado convicto do que estou a falar e acho que todos deviam concordar comigo. Porque mais uma vez, tudo é um trabalho em execução. Sei quem sou, mas muito do que escrevo são hipóteses. Estou apenas a atira-las ao ar, dizendo: E isto? E aquilo? Como funciona? Muitas vezes posso

ficar sentado a ouvir o disco e pensar: as pessoas vão dizer que concordo com isto e não concordo com aquilo. Mas tal como na metáfora por trás de Ziltoid, que é para onde “Deconstruction” de-cide ir em termos de certos componentes, acho que parte da musica é percepcionada como uma brincadeira. Mas ao mesmo tempo através do humor e ao não nos levarmos demasiado a sério o nosso ponto de vista, este pode ser mostrado sem o dramatismo dos que sobem para cima de uma caixa de cartão e pregam às pessoas como devem sentir e do que está certo e do que está errado. Quantas pessoas fazem isso a toda a hora? Eu vejo por mim, apenas desligo. E penso, sim, claro, óptimo. A última coisa que preciso na vida agora é alguém a dizer-me o que devo fazer. Acho que se criarmos uma história e fizermos o conceito um pouco menos invasivo, então a pos-sibilidade de as pessoas aceitarem e serem a fa-vor, aumenta.

A ligação emocional é o que define a im-portância das coisas para ti?Algumas coisas. Quer dizer, sou um tipo bastan-te tangível. Acho eu. Não gosto de coisas com-plicadas. Não gosto de coisas fantasiosas. Gosto de coisas concretas que eu posso tocar. Gosto de coisas básicas. Mas às vezes, e voltando à ironia, é preciso fazer coisas que não sejam básicas, e que sejam fantasiosas, de forma a existir uma moldura de referência relativamente ao que fun-ciona ou não funciona. Uma ligação emocional às coisas é uma coisa interessante para mim. Acho que sou muito ligado emocionalmente a coisas externas, mas internamente acho que sempre tive problemas em conectar-me com as emoções. Encontro-me muito defensivo e sem-pre fui assim. As coisas que me permitem não ser defensivo são coisas tangíveis como a natu-reza por exemplo. Coisas que eu sei onde estão. Tenho a certeza que é uma espécie de medo que me impede de aceitar as coisas a um nível emo-cional. Talvez o medo da morte, ou o medo de falhar. O que quer que seja, penso que também se reflecte na música. Ou talvez a razão para o facto de eu ter um investimento tão emocional em relação ao que faço é a possibilidade de par-ticipar dessas emoções. Morreram pessoas re-centemente na minha família e eu achei muito difícil conectar-me emocionalmente com tudo isso. Acho que aquilo que faço musicalmente é uma terapia, e detesto usar o termo “terapia”, pois isso implica dar-lhe uma importância que acho que não tem, talvez purga faça mais senti-do. Talvez seja uma forma de colocar alguns des-tes cenários que estão emocionalmente presos. Para mim faz sentido.

Sentes que é cansativo ter que estar sem-pre a explicar o que queres dizer com esta ou aquela música? Coloquei muito esforço nestes quatro discos e sou responsável por tudo. E por isso, se alguém me perguntar especificamente o que eu quis di-

Page 20: Infektion Magazine #04 Junho 2011

zer com algo, haverá uma explicação, ainda que se trate de uma metáfora. Existe uma explicação para essa metá-fora. Acho que a responsabilização (E de uma forma circular vou responder à primeira pergunta) poderá ser um dos mais importantes factores que me leva a fazer o que faço. Posso ruminar acer-ca das razões: as mudanças da vida, a idade, etc.. No passado, talvez de uma forma um pouco naif, eu escrevi letras com conteúdos para vários discos numa linha condutora de consciência, sem me preocupar demasiado com a percepção que teriam sobre eles. Penso que o que mudou foi, que no passado eu estava muito preocupado em relação à forma como a música seria percepcionada, mas não tinha um real interesse em saber como as letras seriam percepcio-nadas. Isso agora alterou-se completa-mente, eu já não tenho um desejo real de me preocupar se as pessoas vão ou não apreciar a música, mas é muito importante para mim que aquilo que eu digo, e aquilo que as letras dizem, suporte as minhas ideologias pessoais. São muito simples: Tentar ser boa pes-soa e não pensar demasiado em coisas que estão para além do meu controlo. Por isso de uma forma muito elaborada e masturbatória acho que é isto que es-tes discos representam.

Sair do modo “masturbação artís-tica” foi algo de que sentiste ne-cessidade para evoluir como mú-sico e como pessoa?Sim especialmente com “Deconstruc-tion”. Muitas vezes no passado disse, eh pá não me apetece fazer esse tipo de música. E as pessoas diziam-me: Mas qual é a tua razão para não quereres fazer mais este tipo de música? E eu di-zia: Para ser honesto gostaria de vos dar uma explicação intrincada e estou cer-to de que podia fazê-lo (já o fiz antes) das razões pelas quais escolhi já não fazer certas coisas, mas tudo se resume ao facto de já não sentir vontade de as fazer, por variadas razões. Parece que esta explicação faz muito pouco senti-do para a maioria das pessoas. Talvez não para a maioria, mas para algumas. Continuam a insistir: Precisamos que faças este tipo de música outra vez. E eu respondo que já não estou interessado nisso. E eles replicaram: Sabemos que és capaz de o fazer. E claro que podia, mas não estava a mentir quando disse que já não me apetecia fazer. Disse--lhes que se fizesse iria sair algo muito diferente do esperavam ou do que seria importante. Por isso quando fiz o “De-

construction” o que fiz com o disco foi algo que me interessava. Como o meu interesse em música pesada está num sentido descendente a única coisa que encontrei que me cativou foi a metá-fora que eu escolhi, que tem a ver com mergulhar no caos com um certo sen-tido de arrogância achando que o con-seguimos controlar. No fundo falar da necessidade de controlo. E quando da-mos um passo atrás a partir daquilo que estávamos a hiper-analisar e nos aper-cebemos que talvez não tenha validade na nossa vida, (e aqui uso aquela me-táfora absurda do cheeseburguer para sublinhar a ausência de sentido, porque somos vegetarianos), vemos que qual-quer desejo de afirmação caótica tem por base a masturbação intelectual. A necessidade de o fazer não é em última análise uma jornada artística. É este certo sentido, de que enquanto humano és capaz de entender o infinito. O que é absurdo. Por isso, precisei de fazer o disco na minha mente tão masturbató-rio e complicado quanto possível e de-pois concluir na última canção dizendo: agora que estamos claros em relação a isto, o que é que queres mesmo fazer? E eu respondo: Eu gosto de música folk. Vamos tocar algo melódico. E é aí que o Ghost se insere.

Convidaste dois bateristas dife-rentes para tocar em “Decons-truction”, porque precisaste dos dois?Eu não precisava necessariamente dos dois. Poderia ter utilizado o Derick no disco todo. Só utilizei o Ryan porque ele é um baterista bom ao vivo e eu queria não só dar-lhe algum dinheiro a ganhar e incluí-lo no disco para que sentisse que fazia parte dele. Ele é um baterista relativamente desconhecido e de certa forma existe uma parte nele, que preci-sa da validação de estar envolvido com um projecto com dimensão. Por isso quis incluí-lo.

Também convidaste muita gente para fazer vozes. Ao compor as músicas achaste que cada um ti-nha um propósito musical ou foi algo que surgiu depois?Muitos são meus amigos. Quando esta-va a compor, verifiquei que a música era muito mais teatral do que heavy metal, precisava de textura, e quando fiz as vo-zes achei que ficava enfadonho. Por isso decidi que precisava de uma aborda-gem deste género. Chamei pessoas que conhecia, outros souberam do projecto e ofereceram-se e eu enquadrei-os nas

partes que requeriam a sonoridade da sua voz.

És considerado um músico mui-to versátil, todos reconhecem isso. Achas que tem a ver com a tua curiosidade ou é uma questão mais uma vez relacionada com o background emocional?De certa forma tem. Por outro lado acho que beneficiei um pouco do facto de nunca ter sido super bem sucedido, ou por não ter participado do status quo. Em miúdo sempre fui estranho. Na ver-dade toda a minha vida fui estranho. Nunca fui completamente impopular mas também nunca me achei aceite em nenhum caminho em particular. Quan-do tens quinze anos e estás a tentar ter uma relação com alguém ou estás a ten-tar entrar para a equipa de desporto, existe um elemento de auto-consciência que se pode atribuir a essa questão. No entanto em adulto, tendo essas fa-ses passado, já não é importante. E aí é bom nunca ter feito parte de um “Click” de nenhum tipo. Se escolher fazer um disco do tipo New Age ou um disco Pop ou de Black Metal, não vou ser expul-so de nenhum clube ao qual tenha uma enorme necessidade de pertencer. Por isso não interessa. Claro que há um ele-mento de curiosidade envolvido nisso, mas a liberdade é na verdade o que so-bressai.

Então és um músico livre?Está definitivamente muito trabalho envolvido. Muitas pessoas sentem ne-cessidade de rotular aquilo que eu faço e numa outra entrevista disseram-me: “Exiges muito do teu público” e em rela-ção a isto eu argumento: Não exijo nada de ninguém. Faço isto porque faz sen-tido para mim. Encontrei-me nisto. É uma posição interessante, uma vez que se trata do meu trabalho. E claro que o tento vender e pagar a renda e essas coisas, mas bem lá no fundo não quero saber se as pessoas prestam atenção. E na verdade prefiro que as pessoas que veementemente não gostam do que eu faço, se sintam à vontade para fazer o download e tomar a sua decisão. E se definitivamente não gostarem, esque-çam, ignorem, façam um favor a vós mesmos. Não é um drama, e não me leva a parar de fazer o que quero. Faz parte do trabalho. Por isso, sim, sinto--me livre para fazer o que quiser.

Entrevista: Mónia CamachoFotografia: Wessel de Groot

Page 21: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 22: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Qual é a vossa visão sobre a luz do mundo hoje em dia?

VORPH: Essa é uma pergunta muito subjectiva. Depende do ângu-lo em que a abordas. Nós decidimos olhar para o mundo da perspectiva das pessoas, da nossa perspectiva e não do mainstream dos media. E contra todas as possibilidades, pa-rece-me que o mundo está melhor e brilha mais do que nunca.

É uma coincidência que te-

nham usado a língua em que a igreja católica se expressava antigamente para o nome do álbum?Não é coincidência. A igreja ainda pretende ser a luz do mundo, mas para nós é o oposto que é verdadei-ro, pois cega as pessoas, iludindo-as e restringindo-as impedindo-as de serem elas próprias e de evoluírem enquanto seres humanos. A verda-deira luz do mundo são as pessoas.

Porque sentiram necessidade

de fazer uma afirmação públi-ca contra a religião?Já o fizemos no passado, mas deixa-mos esse assunto de lado nos nos-sos últimos álbuns uma vez que já estávamos saturados. Mas hoje em dia as religiões tendem a vir para a linha da frente e há mais pessoas a identificar-se com o que a religião traz, por isso achamos que estava na altura de escrever outra vez so-bre o assunto.

Têm fé em alguma coisa?

Numa clara crítica à Igreja Católica a banda SAMAEL lança o álbum “Lux Mundi” que nal-guns pontos abre novas possibilidades sonoras e demonstra a sua capacidade para criar algo original. A heavy ballad “Mother Night” confirma esta veia inovadora e impõe-se como um conceito musical interessante.

Page 23: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Por mais pretensioso que possa soar, temos fé em nós próprios. A nossa fé em nós, é tão forte que se estende às outras pessoas.

Fale-nos um pouco da vossa escolha do poeta Johann Wolf Gang Von Goethe?Não há referências directas a Goe-the no álbum, mas acredita-se que as suas últimas palavras no leito da morte terão sido “Mehr licht!”, que quer dizer “Mais Luz” e que se tor-nou na principal característica do coro de “Luxferre”.

Em algumas canções do álbum temos a sensação que se estão a dirigir para um caminho ex-

perimentalista, é assim?Não somos uma banda experimen-tal mas gostamos de experimentar coisas novas no álbum para manter o nosso som fresco e excitante, para nós e para quem nos ouve.

Fala-nos um pouco mais do conceito balada heavy que criaram com “Mother Night”.Cheguei primeiro ao título e pode-ria ter sido uma canção muito negra mas tentei encontrar uma saída e acabou por ser uma canção positiva. É uma espécie de redenção através da compreensão.

O paganismo atrai-vos como fonte de inspiração musical?Eu vejo muitas vezes as coisas como ligações, entre o homem e a nature-za ou entre as pessoas. Não acredito em Deus, nem como ser único nem como ser múltiplo.

Em “The Truth Is Marching On” sentimos a batida forte a desenvolver-se, é assim que a verdade ressoa para vocês?Todos conhecemos o velho ditado: A mentira pode dar a volta ao mun-do, enquanto a verdade ainda está a apertar os sapatos… E queremos que a verdade ande um pouco mais depressa do que isso.

Fazem alguma ideia quem são as pessoas que ouvem a vossa música?São pessoas como nós. Já não há estereótipos para os fãs de metal como havia, e os fãs de Samael não são excepção. A nossa música cruza--se com muitos géneros: industrial, goth, electrónica… As pessoas que nos ouvem querem ouvir algo dife-rente e eu acho que somos únicos.

Entrevista: Mónia Camacho

SAMAELLUX MUNDINUCLEAR BLAST

Facilmente se identifica o que se está a ouvir quando estamos perante algo feito pelos Samael. A componente electrónica que dão ao seu som obs-curo com características muito pró-prias faz deles uma daquelas bandas com um estilo original. Aos primeiros momentos de “Luxferre” percebe-se logo isso mesmo, que este é um ál-bum dos Suíços. A voz de Vorph alia-da aos habituais arranjos musicias de Xytras percorre este “Lux Mundi” de forma já habitual e com a qualidade que eles já nos habituaram, retiran-do o pé do acelarador e abandonan-do o uso mais frequente do blastbeat como faziam nos seus primeiros dis-cos e que voltaram a tentar recriar no registo anterior, “Above”, tirando em alguns momentos em que este é mui-to bem empregado, como no último tema deste novo trabalho, “The Tru-th is Marching On”. Destaque tam-bém para o ritmo tribal de “In the Deep”. Talvez o único problema que reside neste último registo, é o fac-to de este não acrescentar muito de novo ao que já foi feito anteriormen-te pela banda, logo quem gostava de Samael irá receber “Lux Mundi” de braços bem abertos, mas para quem não gostava as cartas postas em cima da mesa são as mesmas. É mais um registo extremamente competente a juntar já à grande discografia que os Samael possuem e a deixar de lado qualquer ideia de desgaste deste ve-terano grupo. [7.5/10] Bruno Farinha

“Nós decidimos olhar para o mundo da perspectiva das pessoas, da nossa perspectiva

e não do mainstream dos media.”

Page 24: Infektion Magazine #04 Junho 2011

O álbum “The World. The Flesh. The Devil” dos In Solitude surge intenso e revelador. Uma consciência que se acorda, uma percepção que se alarga e uma música que o transmite com paixão. Ficamos a saber um pouco mais sobre esta banda que se releva madura e capaz de um auto-conhecimento emocional e musical.

O que tem o diabo de tão in-teressante?Está muito para além do inte-

resse. É muito mais do que isso.

Estes temas preenchem um con-ceito musical ou são apenas uma preferência?Estes “temas” são evidentes no mundo de “In Solitude” pela sua influência nas nossas vidas.

Este álbum é todo feito de paixão e fogo?Sim, certamente que é. São duas pa-lavras que resumem muito do que

passamos enquanto escrevíamos e gravávamos o álbum. Foi no mínimo muito intenso e revelador. Muita pai-xão e fogo, foi isso mesmo.

As canções neste álbum são lon-gas, e em cada uma têm tempo para explorar uma grande varie-dade de coisas. Querem comen-tar?Não foi algo consciente da nossa parte, mas sim algo que tomou conta de nós e que precisava de ser retratado e canali-zado dessa forma e nessa extensão de tempo. As canções até nos pareceram pequenas quando as escrevemos. (Ri-

sos) Mas elas eram obviamente mais longas do que pensávamos. Nestas cir-cunstâncias parece que deixamos de nos focar no tempo. De qualquer forma as canções têm o tempo de que precisa-vam. Algumas “coisas” precisavam ser expressas e geraram o seu próprio es-paço, quer em nós quer no álbum.

E agora, a juventude e a sabedoria finalmente se juntaram para este álbum?Sim, entre outras coisas. Muitas “coi-sas” se encaixaram neste álbum. Um “arcanum nexus” na maior parte das perspectivas (na nossa).

Page 25: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Quem compõe as vossas canções? Por exemplo, quem compôs “Poisoned, blessed and burned” ou “Demons”?Todos compomos as canções. Juntamo-nos os cinco numa sala e fazemos o inexplicável. Sem-pre foi assim.

A voz na vossa banda é bas-tante interessante, porque não é aquele clássico heavy metal seguido por montes de bandas. Foi algo que pla-nearam ou é apenas a per-sonalidade de Pelle Ahman a sobressair?Nada é planeado. É certamente a personalidade dele e sua espi-ritualidade a aparecer e também

a emoção e a importância das letras e da música que ele canta. Todas as vozes que vêm do coração serão ouvidas.

A que distância estão de “Hidden Dangers”?Certamente que evoluímos imenso como indivíduos e como músicos desde Hidden Dangers”. Agora compreende-mos o que estávamos a tentar expressar e aquilo que nos estava a influenciar. Coisas que nessa altura não percepcio-návamos sobre nós próprios e sobre a banda estão agora muito mais claras. Estou muito contente que nós tenha-mos evoluído neste sentido. E ao ouvir esse single agora é uma forma muito boa de perceber o que aconteceu, quem éramos nessa altura e quem somos ago-ra.

Como é estar em tournée com este álbum?É uma experiencia excelente. Muito in-tensa a todos os níveis. Tendo em aten-ção o que este material significa para nós, torna-se muito emocional experi-menta-lo ao vivo.

Qual o segredo para manter uma banda unida?Não sei. Nunca estive numa banda que tivesse esse tipo de problemas. Mas ganhamos muito em conhecermo-nos bem e em passarmos por tanta coisa juntos. Não formem bandas com idio-tas que não acreditam no que fazem e que não estão dispostos a fazer sacrifí-cios.

Quando estão em tournée, têm algum pedido especial para pro-dução?Não, nem por isso. Temos uma lista de coisas que precisamos, mas nada de muito complicado. Até porque nem sempre podemos confiar se temos as coisas ou não. Temos exigências muito maiores relativamente ao homem do som (senão levarmos o nosso), acho eu.

Entrevista: Mónia Camacho

“Juntamo-nos os cinco numa sala e fazemos o inexplicável.”

IN SOLITUDETHE WORLD. THE FLESH. THE DEVIL.

METALBLADE

Podem concordar ou recusa-rem-se a aceitar, mas o que é certo é que ao ouvir In Solitude pensamos automaticamente em “Mercyful Fate”. Com “The World. The Flesh. The Devil”, o colectivo sueco que se dá pelo nome de In Solitude apresen-ta um bom tributo à lendá-ria banda liderada por King Diamond, enquanto que ao mesmo tempo inserem alguns elementos com o objectivo de tornar o produto mais original e reverem-se como uma banda de originais e não de tributo. Todos sabem que o Metal, se formos até aos primeiros lan-çamentos existentes, consegue ser algo sem limites e os In Solitude mostram da melhor forma que conseguem (e bem) que isso é mesmo possível. A banda conseguiu fazer algo acima da média e no que toca à produção e às composições que compõem o alinhamento deste novo registo, acertaram mesmo no ponto. Os riffs bri-lhantes e a voz, aliados à mon-tanha-russa que se faz ouvir ao longo da extensão deste álbum fazem a delícia dos ouvintes.

[8/10] Joel Costa

Page 26: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 27: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Em primeiro lugar, quero felicitar-vos pelo reconhe-cimento que vos foi dado

pela Metal Hammer para “Demo do Mês”! Como foi para vocês co-meçar 2011 desta maneira?MARCO KERN: Obrigado! É uma sensação muito boa e estamos muito orgulhosos disto! Significa muito para nós.

O álbum “Dark And Cold” está preenchido com um sentimento clássico mas consegue ser tam-bém algo novo. Qual foi a fórmula usada para esta mistura?Não tenho fórmula nenhuma. As coi-sas simplesmente aparecem na minha cabeça...

À medida que ia ouvindo o vosso disco, senti que estava a usar no-vamente as minhas antigas rou-

pas de cabedal, picos e correntes. É um disco muito poderoso e di-recto. Onde foram buscar a inspi-ração?É o nosso modo de vida. Usar casacos de cabedal e botas, beber umas cerve-jas, deixar que os bons tempos tomem conta da situação e sentir o verdadei-ro espírito do Heavy Metal! Todos nós gostamos das bandas de Metal mais antigas, tais como Judas Priest, WASP, Metallica, Saxon e por aí fora... Ouvi-mos estas bandas desde que nascemos até aos dias de hoje. Nenhuma banda “nova” conseguirá sequer modificar isso!

Porquê regressar aos “Garage Days”? Sentem-se aborrecidos com a cena metal actual?É o espírito da velha fórmula... nós vi-vemos para isso! E sim, estou farto da cena metal actual... Todas as bandas

tocam o mesmo tipo de coisa, são to-das umas cópias umas das outras. Não existe personalidade nem grandes vo-zes como Dio ou Judas... é só berros. Quero dizer com isto que não consigo aceitar isto pois a maior parte deles não são autênticos.

Foi difícil para vocês trabalhar com Andy Laroque? Isto porque ele trabalhou com grandes nomes e vocês são novos na área.Não. Foi um grande prazer para nós trabalhar com o Andy! Ele é uma pes-soa com os pés bem assentes no chão e foi uma excelente experiência para nós.

Olhando para trás, qual foi o me-lhor e o pior aspecto de trabalhar com uma personalidade deste gé-nero? Presumo que aprenderam muito...

Não houve nada de mau! O tempo que passamos na Suécia foi muito bom e é óbvio que aprendemos muito. Ele foi como um pai para nós (risos) e quere-mos voltar a trabalhar com ele.

Como estão a preparar a vossa próxima tour com Master? Sen-tem-se preparados para lidar com tantas viagens e trabalhar ardua-mente?Diariamente bebemos um número con-siderável de cervejas por isso sim, esta-mos preparados. É Rock’n’Roll pá!

Como é possível não passarem por Portugal? Espero que consi-gam visitar o nosso país!Gostaríamos de visitar o mundo intei-ro e proporcionar uns bons mosh’s! Os Garagedays dão-vos “Heavy”! Estamos abertos a qualquer oferta, basta entrar em contacto!

Achei que Tirol era um sítio onde as pessoas cantavam o tirolês todo o dia! Podes-nos descrever a cena metal Austríaca?É, os estúpidos cantam o tirolês mas nós somos rockeiros (risos)! Temos algum Metal mas não estamos muito envolvidos nisso. A maioria das ban-das aqui são amigas e eu não quero ter amigos e lambe-botas por perto. Somos muito directos com eles e agora não conseguem acreditar no nosso “suces-so”. A maioria deles têm medo de mim, o que significa que me odeiam. Nos úl-timos anos fui sempre visto como um maníaco ou um tolo mas eu tinha um sonho e agora o meu trabalho está nas lojas (risos).

Que sítios no teu país recomenda-rias para um metaleiro Português visitar? Sítios, bares, festivais...

Nada de jeito que valha a pena men-cionar aqui em Tirol. Existem muitos festivais, é óbvio: Nova Rock, Hell Over Vellach, Austrian MetalFest... E em Viena podem sempre encontrar bares muito potentes!

Entrevista: Narciso Antunes

Os austríacos Garagedays, recém-assinados pela alemã Massacre Records, presenteiam--nos com “Dark And Cold”, o seu disco de estreia que promete levar-nos numa viagem aos tempos áureos do Heavy Metal. A Infektion esteve à conversa com Marco Kern onde se falou de Metal e do Tirolês!

“Todas as bandas tocam o mesmo tipo de coisa, são todas umas cópias umas das outras. Não existe personalidade

nem grandes vozes como Dio ou Judas... é só berros.”

Page 28: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 29: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 30: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Uma das primeiras coisas que salta à vista é o facto de vocês terem naciona-

lidades diferentes mas terem o Português em comum. Como é que isto aconteceu? Foi algo in-tencional?MARCO: Não foi um facto pensado antes de formar a banda. Foi um bo-cado sorte isto acontecer. O Nuno e o Mike já estavam a tocar juntos, depois o Guilherme encontrou-os através da in-ternet, logo a seguir o Sérgio juntou-se e após a saída do primeiro vocalista eu entrei. Depois de formar a banda vimos que essa mistura era um bom diferen-cial para criar fusões musicais e resol-vemos apostar mais nisso. Logo no começo tiveram que mu-dar o registo de voz. Como acham que funcionou essa transição?SÉRGIO: Essa transição fez aproxi-mar e ao mesmo afastar algum públi-

co. De início a voz era mais melódica e ao mesmo tempo existia teclado. Com a mudança de vocalista o registo mu-dou completamente e as teclas aca-baram por desaparecer. Foi uma mu-dança que, involuntariamente, acabou por mexer no estilo que tínhamos até então mas acabou por se tornar mais coeso após o período em que trabalha-mos para adaptar o gutural às músicas já existentes. E colocar mais peso já era algo que intencionávamos mesmo an-tes da saída do ex-vocalista. De que forma é que o facto de existirem diversas nacionalida-des no seio da banda influencia a vossa música?MIKE: As nossas nacionalidades in-fluenciaram e com certeza continuarão a influenciar a música que fazemos. Há uma grande riqueza e diversidade mu-sical nos nossos países de origem e em alguns aspectos até é comum pelo fac-

tor histórico. Isso é algo que queremos progressivamente ir tendo presente na nossa música à medida do possí-vel, o que vai contribuindo também para construção da nossa identidade como banda. Para alem disso todos nós temos gostos diferentes dentro do me-tal e procuramos encontrar um ponto de equilíbrio que nos satisfaça a todos no momento da criação. No Metal, tal como em muitos outros estilos musicais, encon-tramos muito do mesmo o que leva um pouco à saturação, mas vocês parecem ter um certo cui-dado para que isso não aconteça e conseguem inovar. De que for-ma se veem os Tales For The Uns-poken no panorama pesado na-cional? Acham que podem vir a ser uma alma nova para o nosso Metal?GUILHERME: Sim, também concor-

Os Tales For The Unspoken são uma banda multicultural que nos apresenta “Alchemy”, a sua mais recente proposta discográfica. A Infektion esteve à conversa com uma banda que partilha diferentes nacionalidades mas com muito em comum: a língua e o Metal!

Page 31: Infektion Magazine #04 Junho 2011

do. Existem muitas bandas boas a nível técnico e em produção mas quando va-mos ouvir não estão a fazer nada que já não tenha sido feito. Isso é algo que tentamos fugir apesar de não ser fácil e estamos sempre a tentar progredir na fusão do metal com outros estilos sem querer parecer clichê. Mas a fusão também não acontece em todas as mú-sicas, pois na maioria somos directos e são temas puramente metal, claro que com muitas variações dentro do estilo. A verdade é que não planeamos nada. Nos ensaios vamos moldando as músi-cas e se acharmos que em tal momento temos que fazer um ritmo tribal porque para nós vai ficar bom então fazemos. Quanto ao Panorama Nacional, acho que estamos a tentar conquistar o nos-so espaço, ainda falta mostrar o nos-so trabalho em muitos lugares. Mas o que posso adiantar é que cada vez fico mais satisfeito após os concertos, pois conseguimos ver pessoal de todas as vertentes a curtir o nosso som. E após os concertos vêm conversar connosco e dizem-se surpreendidos pelo concerto e isso não tem preço para nós. Quanto ao ser uma nova alma, isso só o pessoal pode dizer após conhecerem a banda tanto no álbum como principalmente ao vivo, pois é outra energia. Como foi gravar “Alchemy”? Sen-tem que tiveram o tempo necessá-rio para fazer algo bom aos vossos olhos?MARCO: Gravar o Alchemy foi uma experiência muito boa para nós, por-que tirando o Guilherme que já havia gravado alguns álbuns com as suas ex--bandas no Brasil, nós tínhamos tido pouco contacto com o estúdio, então aprendemos muitas coisas que irão fa-cilitar a gravação do futuro álbum. Em geral conseguimos fazer algo de bom aos nossos olhos pelas condições finan-ceiras da época. Hoje, depois de ouvir o álbum bastantes vezes, pensamos sempre que poderíamos ter melhorado isto ou aquilo. Mas penso que o resul-tado final está competente e transmite o que era a banda naquela fase. Dando alguma curiosidade de como são estas músicas ao vivo. Tanto o título do álbum como de

algumas músicas fazem alusão à magia e às artes ocultas. Qual foi a razão por terem escolhido este caminho?GUILHERME: A cultura luso-afro--brasileira é muito religiosa e está mui-to ligada e isso não é novidade. No caso, a música “Makumba” é apenas uma abordagem ao lado da magia ne-gra, onde são feitos rituais ou feitiços para destruir a vida de alguém e em geral é um tema que a banda tem curio-sidade e faz parte da cultura dos países de alguns de nós. Já a ideia por detrás do nome do álbum “Alchemy”, foi a me-lhor forma que encontramos para des-crever numa única palavra essa mis-cigenação que somos. E a banda não se limita apenas a abordar as culturas envolvidas. Iremos abordar tudo o que faça parte também das nossas vidas. Não ter limites e não ficar preso a um estilo é algo que temos em comum na banda toda. O que sempre podem espe-rar de nós é o peso! “Say My Name” aparece como Bo-nus Track. Sentem que a música não se identificava com o resto do álbum ou a razão para a escolha deste tema como bónus é outra?SÉRGIO: A “Say My Name” foi grava-da logo após a transição de vocalista e com o propósito de ser a música do pri-meiro videoclip e o nosso primeiro sin-gle a sério. Por essa mesma razão op-tamos por colocá-la como bónus track, visto ter sido composta num outro con-texto. Não poderia deixar de estar pre-sente neste primeiro trabalho visto ser um dos temas mais conhecidos e nos ter catapultado, um pouco, para fora do anonimato. Foi um presente (risos) que resolvemos dar a todos aqueles que nos apoiam e gostam da nossa música. Como está a agenda dos Tales For The Unspoken este ano?MIKE: A nossa agenda não está exac-tamente como gostaríamos por diver-sos motivos alheios à nossa vontade, pois não temos a música como primei-ro plano nas nossas vidas mas estamos constantemente a estabelecer contac-tos com bandas, organizadores e aten-tos a eventos que nos ajudem a promo-ver o nosso álbum dentro e fora do país.

De realce, vamos participar a 26 de Ju-nho no XI Blindagem Metal Fest em Vagos que é um festival onde sempre quisemos participar mas estamos a aguardar a confirmação de outras da-tas. E abertos a convites! E a nível de editoras? Têm algum apoio nesse sentido?SÉRGIO: A editora Inglesa Casket Mu-sic divisão da Copro Records, demons-trou desde cedo interesse em nós logo após o lançamento do videoclip de “Say My Name”. Até termos o “Alche-my” acabado ainda demorou algum tempo. Foram mantendo contacto connosco e na altura de tratar dos pormenores de lançamento conver-samos mais seriamente. As despesas foram na íntegra pagas pela banda. O único apoio que a editora nos deu nessa fase foi a hipótese de masterização em Inglaterra por um preço mais acessível. E foi masterizado até estar do agrado da banda. Neste momento eles estão a promover o álbum e de alguma for-ma abrir caminho para que em breve, se tudo correr bem, seja possível fazer uma tour por alguns países europeus. Para concluir, o que podemos es-perar de vocês num futuro próxi-mo?MIKE: Podem esperar um constante crescimento enquanto banda, músicos e uma maior entrega nas nossas actua-ções. Nós e quem nos tem seguido tem notado essa evolução. Queremos fazer mais e melhor. Estar mais presente no cenário metal dentro e fora do país. E estamos a trabalhar para isso, porém sabemos que é preciso muita perse-verança neste meio e para além de ter boas músicas é necessário conseguir transmitir isso ao público. Entretanto estamos a trabalhar no nosso segun-do videoclip e a trabalhar em material para um novo álbum que contamos vir a ser uma progressão natural a vários níveis do “Alchemy”.

Entrevista: Joel Costa

“Cada vez fico mais satisfeito após os concertos, pois conseguimos ver pessoal de todas as vertentes a curtir o nosso som.”

Page 32: Infektion Magazine #04 Junho 2011

O que está na génese da formação dos Dream Circus?

Um gosto mútuo por este tipo de música e uma paixão muito grande pelo trabalho que vinha a ser desen-volvido... Basicamente, somos fãs da nossa banda! Se não tocássemos nela, comprávamos os CDs e íamos aos concertos!

O vosso EP de estreia “Fear” acaba de ser editado. Como descreveriam a vossa sonori-dade actual, para os leitores da

Infektion?Um rock pesado, com aço, mas me-lódico e multi-dimensional. Não nos preocupamos muito com a categori-zação. Somos uma banda de rock e gostamos de deixar as pessoas tira-rem as suas próprias conclusões.

Como surgiu a hipótese de gra-varem para a britânica Casket--Copro Records?Abordámos várias editoras e, den-tro das ofertas que tivemos, essa foi a que reuniu as melhores condições. Além disso, também procurávamos

uma editora que nos pudesse dar al-guma exposição fora de Portugal... Mas, essencialmente, surgiu esta hipótese porque os responsáveis da Copro viram valor no nosso trabalho e acharam por bem apostar em nós!

Vocês são uma banda que, para o que é habitual no panorama nacional, tem tocado imen-so ao vivo. É na estrada que se sentem mais confortáveis e que sentem estar ganhar a rodagem necessária?Sem dúvida. Nenhuma banda atinge

Uma agradável surpresa no panorama rock nacional, os Dream Circus têm-se feito notar na estrada na divulgação do seu EP de estreia (editado pela britânica Casket/Copro). O próximo passo desta banda com raízes multinacionais é uma tour europeia e pelos Estados Unidos.

Page 33: Infektion Magazine #04 Junho 2011

o seu melhor no primeiro concerto… É um processo de evolução constan-te e é também preciso ter humilda-de para reconhecer isso mesmo... E, fundamentalmente, é divertido. Fa-zemos isto porque adoramos tocar e estar com as pessoas que gostam da nossa música e, dentro desse contex-to, não há coisa melhor do que estar em cima do palco!

Qual tem sido o alinhamento dos vossos concertos? Apresen-tam também algumas versões ou temas por editar?Temos tocado as quatro músicas do EP “Fear”, mais cinco que irão estar no próximo álbum e ainda temos tocado uma versão duma música originalmente do Bob Dylan (tam-

bém tocada pelo Jimi Hendrix), a “All Allong The Watchtower” – mas, como devem calcular, duma forma um pouco diferente, à Dream Circus!

Para quem nunca vos viu ao vivo, como descreveriam um concerto de Dream Circus?Muita energia, muita paixão e entre-ga… E também muitas outras coisas - que terão de aparecer nos concertos para poderem ver!

O facto de terem na banda ele-mentos oriundos de vários paí-ses tem facilitado a vossa inter-nacionalização e popularidade no exterior?Possivelmente tem facilitado algu-mas coisas, especialmente através de contactos que elementos da ban-

da desenvolveram fora de Portugal. A banda, neste momento, é uma das poucas bandas nacionais que tem regularmente as suas músicas a pas-sarem em rádios internacionais. Até agora, os Dream Circus têm estado focados em tocar em Portugal, mas, como já foi anunciado, temos con-certos planeados na Inglaterra, com a participação da editora, e na Amé-rica do Norte.

Que balanço fazem da vossa (ainda) curta carreira? Podere-mos contar com o vosso primei-ro longa duração para breve?O balanço só pode ser positivo… Estamos a fazer o queremos, acre-ditamos no que estamos a fazer e a resposta do público tem sido muito

forte. Em relação ao álbum que se se-gue: já compusemos mais de metade e estamos com uma enorme vontade de o ir gravar!

Os Dream Circus têm uma apro-ximação ao Grunge. Sentem que, quer em Portugal quer no estrangeiro, existe um ressur-gimento deste movimento – in-clusivamente, entre os aprecia-dores de Metal?Essa é uma questão interessante, sendo que ultimamente temos visto muita música dos anos 80 - ou pelo menos bandas a “usarem” o som des-sa época. E tendo em conta que a in-dústria funciona normalmente duma forma cíclica, podemos pensar que seria lógico haver um ressurgimen-to dos anos 90 a seguir... Aliás, já

vemos os Alice in Chains, Soundgar-den, e outros a tocarem novamente. A resposta que eles têm tido tem sido nada menos que épica... E sem dúvi-da que muitas das pessoas que gos-tam dessas bandas também estão a gostar do nosso trabalho. Em relação aos apreciadores de Metal - e eu por exemplo sou um deles, tão facilmen-te oiço Carcass e Lamb of God, como oiço The Doors e Nirvana. Portanto, acho que há muita gente que gosta de música Rock/Metal e que quer é ou-vir boa música, independentemente da subsecção estilística.

Entrevista: José Branco

“Somos fãs da nossa banda! Se não tocássemos nela, comprávamos os CDs e íamos aos concertos!”

“A banda, neste momento, é uma das

poucas bandas nacionais que tem regularmente as suas músicas a

passarem em rádios internacionais.”

Page 34: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Quando foi escolhido “Falco-ner” para nome da banda o

que foi que achaste?STEFAN: Achei que era um nome cur-to e simples e dava uma ideia da temá-tica das nossas letras e músicas: tempos medievais e melodias tradicionais do passado.

O vosso sétimo álbum de origi-nais é cantado em sueco. Qual foi a razão desta escolha?O facto de cantarmos em sueco não foi a melhor opção comercial mas mesmo que não o tivéssemos feito não era por aí que nos tornaríamos umas rock stars (risos)! A razão de termos feito algo assim foi devido a umas questões que surgiram quando gravamos “Herr Tyrs-sons Döttrar I Vänge”. Tanto os nossos fãs como a nossa editora acharam que seria bom fazer algo assim mas só ago-ra é que sentimos a necessidade de o fazer, uma vez que outrora desconhe-

cia qual seria o meu próximo passo em relação à escrita. Achei que se a maior parte deste álbum fosse baseado no folk tradicional poderia diminuir a tensão e dar-me um empurrão para fazer algo fora do ordinário. Então a coisa foi--se desenvolvendo e consegui escrever mais material original do que eu pensa-va. A partir daqui foi só uma questão de tempo até nos focar-mos mais na nossa herança musical. Penso que se alguma banda tivesse que fazer algo assim, en-tão os Falconer seriam os mais indica-dos para isso.

Achas que esta mudança poderá desiludir os fãs de todo o Mundo que não vão conseguir interpre-tar as letras?Ver alguns fãs desapontados é um risco que corremos mas ainda assim este ál-bum soa como um registo bem normal para os Falconer. As letras em sueco soam melhor na música tradicional da

Suécia e não resultaria se usássemos a letra inglesa para um tipo de músi-ca assim tão escandinavo. Seria como cantar inglês num instrumental com flamenco, simplesmente não funcio-na. Este disco foi mais um risco do que uma tentativa de vender álbuns, mas o objectivo nunca foi tentar chegar a mais pessoas... queríamos apenas fazer algo diferente e tirar isto do nossos sistema. Se há banda que deve focar-se nas suas origens e cantar na sua língua materna são os Falconer. De que nos fala “Armod”?O significado dessa palavra é “pobreza” ou “desespero”. Reflecte o sentimento das letras e toda a atmosfera do álbum. Não existem letras muito positivas... quase todas lidam com as dificuldades do Homem comum, o medo de Deus e da igreja no Séc. XIX, a emigração para a América e muitos outros temas com uma pitada de folclore e lendas dos

Com edição a cargo da Metal Blade, os Falconer apresentam-nos o seu sétimo álbum de ori-ginais, “Armod”, que poderá, nas palavras de Stefan, desapontar alguns fãs.

Page 35: Infektion Magazine #04 Junho 2011

tempos medievais. Existe muita luta, morte e lamentação. A bem dizer, um tema muito habitual nos Falconer.

O facto de inserirem mais Folk nas vossas músicas significa que estão a regressar às vossas ori-gens?Não é um regresso às origens enquanto banda mas sim uma forma de prestar homenagem à nossa herança musical e à nossa inspiração. É uma coisa que só aconteceu desta vez e para o próxi-mo álbum podem contar com algo bem diferente do que ouviram em “Armod”.

Sendo a sonoridade do Folk e do Metal diferente, de que forma vocês conseguem conciliar estes dois estilos?(Pensativo) Eu sempre escrevi música que me fizesse recordar o folk escan-dinavo. Por isso, para mim, é natural

tentar escrever algo realmente folk mas baseado no Metal ao invés de tropeçar ocasionalmente nas minhas influên-cias. Com o Mathias a cantar consegui-mos levar isto a outro nível, pois a sua voz é como a cereja no topo do bolo ou lá como se diz.

“Armod” vai sair no dia 3 de Ju-nho. Quando está agendada a apresentação do novo álbum?Não está. Vai ser lançado e depois eu vou para o meu trabalho e tomar conta dos meus filhos, como num dia normal.

Desde a vossa formação que ficou bem assente que não seriam uma banda que fosse tocar ao vivo. Vão marcar uma tour para “Armod”? Em caso de resposta afirmativa, Portugal está nos vossos planos?(Risos) Os Falconer têm o recorde de banda menos promocional e comer-

cial de sempre. Agora vamos descansar um ano para nos dedicar-mos a outras actividades. Vamos começar a pensar em festivais em 2012. Ainda conside-ro que os Falconer são uma banda de estúdio. O processo criativo é a minha paixão pois vejo-me melhor como um compositor do que um artista. Também não é fácil tocar ao vivo pois a agenda do Mathias não lhe permite, pois ele anda sempre ocupado com o teatro e com musicais que o deixam com pou-cas possibilidades de vir connosco ac-tuar. Quanto a Portugal nunca fomos lá ainda, mas vamos tentar aparecer por aí num concerto ou num festival em 2012. E lembrem-se: um concerto dos Falconer é uma grande sensação.

Entrevista: Jorge Castanheira

“Ver alguns fãs desapontados é um risco que corremos mas ainda assim este álbum soa como um registo bem normal para os Falconer.”

Page 36: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Actualmente como se en-contra a Rússia em termos de música pesada? Acham

que existe muita variedade?Temos tanto Metal aqui na Rússia que até fico pouco à vontade para fa-lar nisso. Existem tantos estilos e no-vas tendências a aparecer dia após dia que já nem sequer percebemos: “Mas isto é Thrash/Death Metal ou é Black Metal?”. Não compreendo estes pre-fixos tipo dark/sympho/progressive, etc. Olho para tudo isto de uma forma muito conservadora e tento chamar as coisas pelos nomes correctos. Não sou grande fã das novas tendências. Prefiro o velho metal clássico pois considero que seja algo sem limites. Não é neces-sário utilizar novos instrumentos para conseguir ser original. Basta utilizar guitarras, baixo e bateria. Há alguns que também precisam de teclados mas isso já depende de cada um.

Em “Irminsul” parece-me haver uma fusão entre Black e Thrash Metal. Concordas com isto? E já agora, depois do lançamento de “Nearer To Victory”, quais foram os aspectos que tentaram melho-rar para este novo álbum?Concordo. Sempre tocamos Black Me-tal com alguns elementos de Thrash/Death Metal. É assim desde o início mas o Black Metal é a nossa prioridade. É um componente espiritual da nossa música e é também a base da mensa-

gem que passamos aos nossos ouvintes. Recorremos ao Black Metal com bas-tante frequência para a parte vocal. Em comparação com o álbum anterior, “Ir-minsul” foi gravado num estúdio com as devidas condições. Também devo di-zer que as nossas habilidades musicais cresceram consideravelmente e julgo que conseguimos demonstrar isso.

“Irminsul” tem muitos momentos únicos e muito bem elaborados. Um bom exemplo disso é “Ham-mer”, que consegue ser diferente se comparar-mos este tema com o restante alinhamento. Como foi o processo criativo? Tudo isto foi planeado ou surgiu com naturali-dade?No geral, todas as nossas composições são feitas de uma maneira espontânea. Eu escrevo algo e depois mostro aos restantes membros do grupo.

Em alguns casos podemos verifi-car alguma crueza na produção. Achas que a produção diminium de alguma forma o potencial des-te disco?Acho que não. É certo que o som deve ter qualidade mas não é uma priorida-de para mim. O que interessa é a men-sagem da música e não a qualidade da gravação. Infelizmente muitas bandas boas não têm possibilidades financeiras para gravarem o seu material em estú-dios profissionais. Nós também não

temos essa possibilidade sempre que queremos. No entanto tento fazer mú-sica da melhor maneira possível. E para te ser honesto, não gosto muito do som lambidinho e limpinho, como podes ouvir por exemplo nos últimos álbuns de Dimmu Borgir. Parece tudo compu-torizado, da bateria às guitarras e aos vocais. Tudo é substituído por algo ar-tificial e as emoções desaparecem. Não entendo como alguém pode fazer mú-sica sem emoções. Muitos tentam fazer do seu som algo com muita qualidade mas seria muito melhor se se preocu-passem mais com a espiritualidade da coisa (se tiverem alguma, é claro). Mas isso é outra história, quando a música serve apenas para fins comerciais. Não vejo as coisas assim.

Onde e com quem é que gravaram “Irminsul”? Estás satisfeito com o resultado final?“Irminsul” foi gravado no Z STUDIO. Todos aqueles que participaram no projecto foram creditados no booklet. Estou satisfeito com o resultado e estou já a ponderar gravar o próximo disco neste estúdio.

Existem planos para uma tour eu-ropeia? Se sim, podemos contar com vocês em Portugal?Infelizmente não temos planos ne-nhuns. No entanto, se houver quem queira organizar uma tour, nós teremos todo o gosto em visitar-vos!

Entrevista: Joel Costa

Page 37: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 38: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Flammentriebe parece-me es-tar repleto de novas ideias.

Consegues dizer-me como é que conseguiram fazer algo tão pode-roso como este disco?JOCHEN STOCK: Este álbum foi trabalhado durante três anos. Tirámos o tempo necessário que o álbum exigia em todos os níveis e é muito bom saber que todo este trabalho árduo valeu bem a pena quando ouço o resultado final. Como sempre, o álbum é baseado na minha forma intuitiva de tocar guitar-

ra, ou seja, de criar versões cruas para todas as músicas e depois, música a mú-sica, elaborar as melodias, harmonias, ritmos e os arranjos finais. Dornenrei-ch expressa-se com a paixão e depois do nosso último álbum acústico, “In Luft geritzt”, pareceu-nos apropriado criar algo dramático e baseado no Metal e eis que surgiu “Flammentriebe”.

O poder musical de Jochen Stock é fenomenal! O Jochen é a força dominante (no que toca à compo-

sição musical) dos Dornenreich?Muito obrigado! Fico muito contente. Nós os três viemos de diferentes ba-ckgrounds musicais e no final criamos músicas que parecem ter sido retiradas do oceano. Aquilo que nos influencia são os pequenos e os grandes ciclos da vida, dos quais tiramos algumas ex-periências e nos expressamos de uma forma artística. Para mim, o segredo de Dornenreich é a devoção incondicional pela música que tanto eu como o Gilvan e o Inve partilhamos.

Depois de um período algo conturbado, os Dornenreich voltam a mostrar que estão aqui para ficar enquanto a paixão pela música lhes permitir. A banda austríaca encontra-se a promover “Flammentriebe”, um novo álbum que contém algumas das músicas mais bonitas que alguma vez ouvi.

Page 39: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Muito mudou em relação aos vos-sos álbuns anteriores. Falem-nos um pouco disso.Os Dornenreich nunca tiveram como intenção repetirem-se. Dornenreich é uma reflexão artística. Com “Flam-mentriebe” tentamos desenvolver o potencial arcaico e dramático do Black Metal para algo mais espiritual e rele-vante. Digo relevante porque as letras baseiam-se na crítica radical da civili-zação, algo que eu considero ser muito importante nos dias de hoje.

Um dos fundadores da banda abandonou o projecto em 2006. Foi difícil para ti, na altura, conti-nuar como banda?Sim, foi sem dúvida muito complicado. Em 2006 cheguei a ficar sozinho em Dornenreich e não tinha a certeza se seria mesmo o fim ou se era altura para um renascimento de Dornenreich. Ain-da sentia uma enorme paixão dentro

de mim e já tinha começado a escrever as primeiras músicas para “In Luft ge-ritzt”, mas ainda assim eu estava sozi-nho - e é muito complicado encontrar pessoas que consigam fazer parte de Dornenreich, pois há que ter em conta a amizade, a dedicação e a personalida-de. Felizmente conheci o Inve em Mar-ço desse ano. Foi o destino e em pouco tempo escrevemos todas as músicas para o álbum que viria a ser editado. O Inve já tinha estado presente numa sessão de violinos em “Her von welken Nächten” no ano 2000 mas perdemos o contacto, por isso foi muito bom tê-lo encontrado novamente. Depois de uns ensaios juntos foi evidente que o renas-cimento de Dornenreich havia começa-do. Quando o nosso baterista original, Gilvan, juntou-se novamente à banda, o renascimento ficou então finalizado.

Uma vez que a língua oficial na Áustria é o alemão, é fácil para as bandas austríacas tocarem na Alemanha ou não é tão simples quanto isso?Definitivamente. Essa também é a ra-

zão pela qual somos mais conhecidos em países onde se fala o alemão, como a Áustria, Alemanha e Suiça.

As opiniões dos vossos ouvin-tes parecem variar no que toca aos lançamentos anteriores mas quer-me parecer que todos estão de acordo no facto de “Flammen-triebe” ser um bom álbum. Os vossos fãs tiveram alguma influ-ência neste novo lançamento?Para te ser sincero, não. Não, mesmo. Dornenreich é algo sincero e expressa--se de uma forma profundamente pes-soal. Naturalmente, significa muito para mim quando os nossos fãs conse-guem identificar-se com aquilo que fa-zemos em muitos níveis diferentes, mas em primeiro lugar, nós os três somos os nossos maiores críticos e pretendemos fazer justiça aos nossos objectivos artís-ticos.

Porquê “Flammentriebe”?As letras baseiam-se num conceito. De facto, e como já disse, as letras são uma crítica à civilização. O objectivo é serem uma acusação ao “Homem em chamas” (título da primeira música do álbum) que esta sociedade está a construir. O “Homem em chamas” tenta estabelecer os seus padrões e a sua fortuna a todo o custo a este planeta e a todas as criatu-ras vivas. Este Homem nega a realida-de: este planeta baseia-se em ciclos. No entanto, as letras não são apenas uma crítica pura. Isso seria simples demais. É muito simples ser contra isto mas é mais desafiador oferecer perspectivas, lutar por algo... Por isso, como conse-quência, a segunda metade do álbum tentar moldar os sentidos deste indiví-duo e fazê-lo entender os ciclos inter-nos e externos.

Estiveram recentemente em tour com Alcest. Já alguma vez tinham tocado com eles? Que experiên-cias positivas retiraram daqui?O Stephane (Neige) e eu já nos conhe-cemos há alguns anos e já havia sido

combinado que os Alcest e os Dornen-reich fariam uma tour em conjunto mais cedo ou mais tarde. Fiquei muito feliz por isso ter acontecido este ano. A tour foi fantástica para ambas as ban-das e acho que a combinação não podia ter sido melhor, pois os Alcest e os Dor-nenreich não só partilham uma sono-ridade única mas também uma atmos-fera emocional. Pelo menos é o que eu acho. Nunca me esquecerei de uma vez em que o Stephane e eu tocamos umas músicas de Empyrium pela primeira vez em Copenhaga. Foi algo mágico, pois ambos gostamos de Empyrium e porque foi a primeira vez que tocamos juntos. Todas as pessoas envolvidas nesta tour dão-se muito bem e espero que possamos repetir isto novamente.

Podemos contar com outra tour? Vão tocar em Portugal?Estivemos aí no ano passado e foi fan-tástico. Gostaríamos imenso de voltar

a Portugal. Infelizmente ainda não re-cebemos propostas, por isso a todos aqueles que me estão a ler: se querem Dornenreich ao vivo em Portugal façam chegar essa informação às promotoras locais e façam com que elas nos contac-tem. Seria excelente!

Entrevista: Joel Costa

“Para mim, o segredo de Dornenreich é a devoção incondicional pela música que tanto eu como o Gilvan e o Inve partilhamos.”

“Em 2006 cheguei a ficar sozinho em Dornenreich e não tinha a certeza se

seria mesmo o fim ou se era altura para um renascimento de Dornenreich.”

Page 40: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Lembro-me de vos ver há largos anos numa asso-ciação numa vila perto

de Viseu. Como eram vocês na altura, quem são vocês agora e o que poderemos esperar dos BSR?JOÃO PADINHA: Penso que aci-ma de tudo e apesar de todos os Line up’s sempre fomos os Blacksunrise, ou seja uma banda de Death Metal melódico! Talvez na altura um pouco mais ingénuos do que agora onde a “maturidade” dos 10 anos de banda já é mais notória. O que se pode es-perar dos Blacksunrise é o mesmo de sempre: uma vontade tremenda de chegar mais longe e de “destruir” to-dos os palcos por onde passa.

Já tive a oportinidade de ou-vir o “Oceanic”, que promete e muito! Está muito brutal, mui-to pesado... O que vos levou a compôr um álbum tão pesado? Penso que o “Oceanic” foi um regres-so às origens, ou seja, ir buscar aque-la fórmula do 1º álbum “Azrael” onde misturámos Death Metal mais brutal com a melodia de Gotemburgo. O que fez voltar aí foi simplesmente a vontade de fazer aquilo que nos ia na “alma”, de deixar de pensar tanto no que as pessoas quereriam ouvir e mais naquilo que nos dá gosto fazer.

As músicas do álbum têm bas-tantes referências ao mar, co-meçando logo pelo título do álbum “Oceanic”. Estas ideias

basearam-se nos Descobrimen-tos ou nos Navegadores Portu-gueses?Há quem acredite que o mar é a ori-gem da vida. A nossa ideia foi enca-rar este álbum como um renascer dos Blacksunrise fazendo a analogia com esse pensamento. Obviamente, a ideia dos Descobrimentos também esteve na nossa mente visto ter sido o período mais auspicioso do nosso País, ou seja, é também ir à desco-berta e mostrar que cá em Portugal se faz música extrema de muita qua-lidade.

O que foi o melhor e o pior de gravar este registo?A gravação deste registo só teve coi-sas boas. Foram novas amizades que

Com os Blacksunrise recorda-se uma grande lição de vida: a esperança, é de facto, a última a morrer. A banda nacional esteve à conversa com a Infektion onde falaram um pouco sobre o seu novo álbum, “Oceanic” e sobre as possibilidades (ou falta delas) que uma banda de Metal tem no nosso país. Eis Blacksunrise, na voz de João Padinha!

Page 41: Infektion Magazine #04 Junho 2011

se construíram, o privilégio e honra de poder trabalhar com músicos que admirámos imenso e o gozo imenso que nos dá poder editar um trabalho com esta qualidade.

A faixa Adamastor... Adamastor traz-nos à lembrança o desco-nhecido, as dificuldades, o medo do oculto e monstros marinhos. Que imagem, que ideia está por detrás deste Adamastor? A imagem da persistência, porque um dia pensou-se que era impossível dobrar esse cabo mas mesmo assim nunca se desistiu. O mesmo se passa com os Blacksunrise: somos persis-tentes e queremos continuar a lutar

por aquilo em que acreditamos.

Como vêm o plano musical na-cional em geral e, em particu-lar, a cena metaleira em terras lusas?Acima de tudo com um orgulho enorme em fazer parte dessa “cena”. Temos bandas e músicos do melhor que existe no paronama da músi-ca extrema! Tenho a certeza que se fosse uma “cena” mais unida seria provavelmente das maiores e mais fortes a nível europeu.

Qual é a vossa ideia de como o metal português é visto no exte-rior?Acho que da maneira oposta como o vemos cá dentro, ou seja que a banda Portuguesa tem muita qualidade.

Em Portugal, quais são as maio-res dificuldades que uma ban-

da como os BSR enfrentam? Acima de tudo a falta de apoios. O facto de vivermos num país onde o músico não é bem tratado... basta ver que um instrumento é considera-do um artigo de luxo e paga IVA por isso. Depois o facto de apesar de es-tarmos em 2011 o metal continuar a ser visto como um género de música “marginal” e que por tal obviamen-te não movimenta muito dinheiro, o que dificulta depois a capacidade dos produtores poderem pagar cachets dignos e de termos de ser nós como indivíduos a pagar quase tudo o que envolve a banda.

E para ir lá para fora? É fácil

dar concertos no estrangeiro? Há vontade da parte de organi-zadores de eventos, concertos e festivais de convidarem bandas portuguesas para os cartazes? Vontade existe, o complicado é o in-vestimento que é necessário para le-var uma banda de uma extremidade da europa para o referido evento que muitas vezes é no centro da Europa. Ou seja, a nossa localização não é a melhor, mas os convites felizmente vão surgindo.

O que falta na cena metaleira nacional? Um aspecto que re-almente nos possa levar mais longe e que sejamos falados nos quatro cantos do mundo... Penso que apenas a já referida união, mais unidos seremos mais fortes de-certo.

Entrevista: Narciso Antunes

“Há quem acredite que o mar é a origem da vida. A nossa ideia foi encarar este álbum como um

renascer dos Blacksunrise fazendo a analogia com esse pensamento.”

“Um dia pensou-se que era impossível dobrar

esse cabo mas mesmo assim nunca se desistiu. O mesmo se passa com os Blacksunrise: somos

persistentes e queremos continuar a lutar por aquilo em que acreditamos.”

Page 42: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Em primeiro lugar, agradeço a disponibilidade para esta entrevista e parabéns pelo

novo álbum. Podemos considerar “Fear of Infinity” como uma nova direcção na vossa carreira, pois abrange toda a gama de som que os While Heaven Wept têm vindo a explorar desde os primórdios. Fizeram-no porque sentiram que estavam demasiado presos den-tro do género Doom Metal e pre-cisavam evoluir para melhor ex-pressar as vossas emoções?TOM PHILLIPS: Nunca há nenhuma ideia pré-definida por trás do material gravado em qualquer um dos nossos ál-buns - em que toda a música é “canali-zada” através da revelação e a evolução apenas surge como progressão natural. Tudo provém de verdadeiros catalisa-dores emocionais da vida real, eventos e relacionamentos. A única altura em

que o processo racional está envolvido com a música dos While Heaven Wept (WHW) é quando trabalhamos os ar-ranjos finais, harmonias e contrapon-tos - pois precisam ser estruturados de forma lógica - mesmo que quebremos algumas das regras teóricas da música tradicional, temos de ter a certeza de como e porque o estamos a fazer. No final, independentemente do momento das nossas vidas, tudo transparecerá na expressão musical - será sempre músi-ca vinda do coração e da alma... e nada menos que isso.

Para minha enorme surpresa, pa-rece que os WHW conseguiram ir mais além do já inovador “Vast Oceans Lachrymose” (o álbum anterior). Qual é o conceito por trás deste épico “Fear of Infinity” (em termos musicais e conceptu-ais)?

É interessante que consigas descortinar uma evolução, pois algumas pessoas consideram “Fear of Infinity” “mais do mesmo”, enquanto outros conseguem notar um desenvolvimento contínuo da nossa parte. A realidade está algu-res no meio, pois a maioria do material de “Fear of Infinity” foi originalmente destinada a ser incluída como parte de “Vast Oceans Lachrymose”. Mas as canções foram retiradas depois de “The Shore Furthest” ter assumido a forma de um épico monolítico - esta canção foi muito exigente pois reclamava o próprio espaço para ser a peça central desse álbum. Contudo, considero que, desta vez, houve uma actividade mais profunda do subconsciente. Em resu-mo, para mim é evidente que os dois álbuns fazem parte do mesmo processo de luto após o fim traumático de uma relação. Enquanto “Vast Oceans La-chrymose” representa os estágios de

Editado pela Nuclear Blast, “Fear of Infinity” encerra com chave de ouro um capítulo na carreira destes veteranos norte-americanos que continuam a surpreender com a abrangên-cia de géneros envoltos na sua expressão musical. A Infektion esteve à conversa com Tom Philips (guitarrista, compositor e fundador da banda) que partilhou connosco o realismo das suas ambições e aspirações.

Page 43: Infektion Magazine #04 Junho 2011

choque e negação, “Fear of Infinity” é a sua continuação no meio da raiva, tristeza, e, só no final, chega a sua acei-tação. Isso não foi nada planeado, mas era absolutamente o processo bem real que eu estava a viver. Daí o facto de só o ter reconhecido quando estava envolvi-do na minúcia do processo de gravação. Musicalmente, “Fear of Infinity” espe-lha essas emoções de forma exacta, com grande intensidade, e, novamente, isso é porque estas foram verdadeiramente sentidas. Onde se nota que o mais re-cente álbum é uma progressão é sobre-tudo nos detalhes subtis de dinâmica e na harmonia mais avançada (mais sé-culo XX do que barroca... embora tam-bém não sem o contraponto clássico). “Fear of Infinity” é um álbum desafian-te que requer múltiplas audições na ÍN-TEGRA para que o possamos digerir e entender, disso tenho a certeza.

A banda já existe há mais de duas décadas, tendo tido muitas mu-danças na formação. Uma boa alteração, com certeza, na minha opinião, foi quando em 2009 Rain Irving se tornou o novo vocalista. Achas que esta nova abordagem sonora está relacionada com o facto de terem uma formação mais estável?Na verdade, toda a música nos dois últimos álbuns já tinha sido composta antes do Trevor, do Rain e do Jason ingressarem na banda, com excepção de “Finality” – mas até essa foi musi-calmente concluída antes dos primei-ros ensaios com o Rain. A realidade é que depois de 21 anos, mas com apenas um punhado de álbuns editados, hou-ve uma grande acumulação de material “em espera” nos arquivos e apenas ago-ra estamos a começar a aproximar-nos do da época de 2009-2010 (apesar de existirem mais um par de canções anti-gas aguardando novas abordagens). Ao longo dos anos, nós sempre demos azo a que a música determinasse a sua pró-pria direcção, fluência e atmosfera sob a forma de álbum. Portanto, mesmo músicas que realmente adoro, como “Vessel” ou “To Grieve Forever”, talvez não tenham encaixado no contexto dos álbuns que nós estávamos a gravar na

altura e, como tal, foram colocadas na prateleira, até que reclamassem o seu espaço. Assim, nos próximos anos, os arquivos serão completamente esvazia-das, o que significa que não teremos es-colha senão colaborar totalmente como banda... e isso não é nada que receie, dado que na banda todos são composi-tores por direito próprio. Isto também significa que apesar de estarmos há mais de duas décadas nisto, há aqui um enorme potencial por explorar.

Tens sido o principal compositor em WHW. Mudou alguma coisa no modus operandi de composi-ção?Simplesmente para mantê-la “verda-deira”, a música deve ser SEMPRE sincera, do coração e alma, e, acima de tudo... temos que realmente a sen-tir... e até mesmo gostar de a tocar. Não existe fórmula, modus operandi, devo-ção a um género musical específico ou algo mais do que a supracitada since-ridade. De um modo geral, pode-se es-perar que as produções sejam sempre da mais alta qualidade possível e que a música vá ser emotiva, melódica, pesa-da e orquestrada - mas, para lá disso, realmente, poderemos ir em qualquer direcção.

Têm estado muito activos com uma tour entre a Europa e os EUA para promover este disco. Qual tem sido, até aqui, o feedback dos fãs?Para muitas pessoas, “Fear of Infini-ty” foi um choque (como prevíamos que seria), especialmente para todos aqueles que nos descobriram através de “Vast Oceans Lachrymose” - consi-derando a abordagem que se baseava mais em subtileza e dinâmica do que em técnica e som bombástico. “Vast Oceans Lachrymose” foi definitivamen-te o mais “imediatamente, gratificante” dos nossos álbuns (mas também não era inicialmente menos chocante em si). Acho que a maioria espera sempre mais do mesmo, mas, dada a natureza dos WHW, a única coisa que as pesso-as devem esperar é o inesperado (para além dos traços gerais mencionados anteriormente). A grande maioria dos

ouvintes parece concordar exactamen-te connosco: “Fear of Infinity” requer muitas audições para revelar o seu con-teúdo... que vai crescendo dentro de nós... Mas não é para toda a gente, nem foi destinado a sê-lo. É um registo mui-to pessoal que é realmente apenas uma conversa entre duas pessoas. No final, a reacção dos órgãos de comunicação so-cial foi, na sua maioria, extremamente (e surpreendentemente) positiva, mas certamente há quem nunca vá “lá che-gar” e apreciar o disco - especialmente se for tocado como música de fundo ou ouvido à pressa. Realmente, não de-vemos prestar atenção a opiniões de ambos os extremos porque devemos permanecer sempre fiéis aos nossos princípios, acima de tudo.

As pessoas estão sempre a recla-mar que as bandas não vêem tra-zendo nada de novo. Quando vos ouço tenho a impressão de que essas pessoas não vos conhecem - e afinal são um bom exemplo de luta permanente e sempre fiéis aos vossos princípios. Não são surpreendidos por pessoas que vos perguntam se “são uma ban-da nova” ou “porque é que nunca ouvi falar de vocês”?Sim, tem havido algumas pessoas ao longo dos últimos dois anos que não sa-biam da nossa existência, até ao “Vast Oceans Lachrymose” - especialmente nos Estados Unidos (onde nós não lan-çámos nada além da primeira demo e de um par de singles de 7”). O mesmo não acontece na Europa, apesar de termos sido representados por várias editoras pequenas no passado. O facto é que “Of Empires Forlorn” (de 2003) nos colo-cou realmente no mapa e representou uma transição para a imprensa mains-tream. Por outro lado, talvez em vários aspectos sejamos uma banda nova, desde a entrada do Rain Irving para a voz (depois de eu tratar deste depar-tamento por 18 anos) – porém, a con-figuração actual também é, de facto, a restauração da visão original da banda com um vocalista dedicado, que me co-loca um pouco mais na sombra. Espero que as pessoas que acabem de nos des-cobrir explorem os nossos discos mais

“Sentimo-nos totalmente livres para irmos onde os nossos corações nos levam, dado que nunca nos comprometemos

com um único género.”

Page 44: Infektion Magazine #04 Junho 2011

antigos (apesar de serem um pouco di-fíceis de encontrar, no momento), para que percebam porque estamos sempre a mudar, mas, ao mesmo tempo, nos mantemos coerentes.

Sentem que, com “Fear of Infini-ty” (lançado pela Nuclear Blast), estarão finalmente a dar um pas-so significativo para serem mais reconhecidos no mundo inteiro?Pertencer à família da Nuclear Blast certamente que nos proporciona muito mais visibilidade e distribuição, como é evidente. Mas, dado que “Fear of Infi-nity” é um álbum muito negro, não te-nho a certeza do que daí poderá advir. Mas não estou particularmente preo-cupado porque o verdadeiro “sucesso” é vivermos descansados. Obviamente, que queremos agradar à editora assim como a todos os nossos parceiros, mas isso não tem nada a ver com as reacções mediáticas ou outro tipo de reconheci-mento... ou mesmo entradas nos tops... só as vendas. Sempre fomos confor-tavelmente fazendo parte do sub-un-derground durante muitos anos, mas também estamos contentes por termos atingido o patamar actual (seja ele qual for... Ainda acho que estamos na obs-curidade, em comparação com muitas bandas, e as nossas vidas não se alte-raram minimamente). Sinto-me grato que consigamos assegurar às pessoas por todo o mundo que sejam capazes de encontrar os nossos álbuns, a um preço razoável - algo que não acontecia há muitos anos.

Muitas bandas de Doom Metal fizeram como vocês, evoluindo para sonoridades mais abrangen-tes. Sentes que o Doom Metal é um estilo mais aberto para ban-das que querem incorporar ou-tros estilos no seu som? Quais são as vossas principais influências fora desse género, na actualida-de?A verdade é que o PURO Doom Metal nunca deveria evoluir e, se ele não soa a Black Sabbath, St. Vitus, ou estrita-mente a Candlemass então não é puro Doom Metal, mas uma espécie de hí-brido. WHW nunca foi uma banda de

puro Doom Metal, e só “Sorrow Of The Angels” se aproxima dos parâmetros do Doom - apesar da longa passagem pro-gressiva, “Thus with a Kiss I Die” estar também claramente para lá das fron-teiras do Doom. Outros companheiros dentro da cena Doom optam frequente-mente para criar projectos paralelos em vez de “partirem pedra”, quando estão inspirados em explorar outras formas de música. No raio de acção dos WHW, sentimo-nos totalmente livres para ir-mos onde os nossos corações nos levam, dado que nunca nos comprometemos com um único género. Sempre tivemos uma grande variedade de influências de todas as formas de música, que vão dos primórdios de Fates Warning e de Queensryche para a era viquingue de Bathory, Slayer, mas também Bach e Beethoven até Gorecki e Arvo Part, de Candlemass e Witchfinder General a Rush e Rainbow e tantos mais. Todas essas referências permanecem intactas até hoje, e realmente as únicas influ-ências mais recentes, por assim dizer, vieram dos Arcturus, Devin Townsend e Mono - e mesmo esses já de há vá-rios anos para cá. Muitas vezes, somos mais inspirados pelos génios e deuses do passado do que por algo contempo-râneo, embora existam muitas bandas incríveis por aí.

Há cerca de meia dúzia de anos, li algumas entrevistas onde ex-punhas um período difícil a nível pessoal e para a banda. Já conse-gues encarar o futuro com outra perspectiva, neste momento? En-tretanto, já existem algumas mú-sicas novas na forja?Bem, a formação está certamente esta-bilizada por agora, mas as coisas não são menos difíceis, pois há sempre de-safios na vida. A maior dificuldade que enfrentamos enquanto banda, neste momento, é o facto de a maioria dos membros terem carreiras profissionais fora da música – família, esposas, filhos e outras responsabilidades do “mundo real” que limitam a quantidade de acti-vidade que é possível a cada ano. Além disso, estamos profundamente endi-vidados por termos insistido em criar álbuns que são da mais alta qualidade

possível - a qualquer custo - e a confi-guração actual da indústria (com todos os downloads ilegais e ziliões de outras bandas a disputarem atenção) não nos ajuda a resolver facilmente o problema. É muito difícil perspectivar a longo pra-zo, no que toca aos WHW. A única coisa que está garantida é a nossa presença no Prog Power EUA XII em Atlanta a 17 de setembro... Realmente não temos ideia do que está acontecerá depois disso. Dito isto, tenho apenas um con-junto de temas “em espera”, que ainda teremos de desenvolver e que poderão dar origem a um álbum. Mas acredito na inspiração no momento dos ensaios e veremos o que podemos desenvolver colectivamente. Pessoalmente, primei-ro gostaria de “limpar os arquivos”, e logo veremos o que sairá daí.

No início de 2011 lançaram uma compilação. Este ano poderá sig-nificar um novo passo para os WHW?Eu acho que com o lançamento de “Fear of Infinity” concluiu um capítulo que começou com “Vast Oceans Lachry-mose”. Além disso, atingirmos o marco dos 20 anos de carreira em 2009/2010 constituiu um ponto de viragem. Nes-sa altura, disponibilizamos pela última vez todo a nossa discografia - incluindo a compilação “The Arcane Unearthed “, somente disponível em vinil, que in-cluiu raridades completamente remas-terizadas pela primeira vez.

Entrevista: José Branco

“A maior dificuldade que enfrentamos enquanto banda,

neste momento, é o facto de a maioria dos membros terem carreiras profissionais fora da música.”

Page 45: Infektion Magazine #04 Junho 2011
Page 46: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Os Karuniiru parecem res-pirar criatividade. Como nasceu este projecto?

DOMINOPAWO: Karuniiru apare-ceu como resultado final de um gosto e admiração pela cultura nipónica, pela cultura europeia e pela necessidade de transmitir uma mensagem a nível mu-

sical e visual. Quando nasceu foi criado como uma banda Portuguesa influen-ciada pelas culturas Europeias e Japo-nesas, mas sempre em mutação.

Ficaram algo conhecidos por can-tarem em Japonês mas não é a única língua na qual cantam. Mas

vamos por partes... Porquê o Ja-ponês?DOMINOPAWO: O japonês foi e é usado simplesmente porque me sinto bem com aquela sonoridade e acho que é uma língua excelente para o rock. Mas como o Mundo é repleto de línguas, tenho vindo a descobrir que algumas

São Portugueses mas podiam-nos enganar muito facilmente, dada a elevada dose de multi-culturalismo existente neste projecto. Os Karuniiru editaram agora um novo trabalho e foi disso que falamos.

Page 47: Infektion Magazine #04 Junho 2011

delas são bastantes boas para certos momentos das músicas. Acaba também por ser um processo de descoberta e aprendizagem.

Para quem não sabe, em que ou-tras línguas também cantam e qual a razão para o fazerem?DOMINOPAWO: Além do Japonês, incluímos Inglês, Português, Espanhol, Francês e Latim. A razão é sentir-me bem, e ao mesmo tempo ter mais liber-dade vocal, pois cada língua encontra o seu lugar ideal em partes específicas da letra que faço. Consequentemente, concede muito mais espaço à constru-ção musical, com mais liberdade para cada instrumento usado.

Editaram recentemente um EP. Falem-nos do título “Junkie Lolli-ta”...DOMINOPAWO: Junkie Lollita é o nosso segundo Ep, e o título remete para a relação Bonito/Feio, mas não uma relação meramente física, mas sim mais espiritual. Todos vivemos num mundo feio, sujo e embriagado. Um mundo sedento de poder, fama e de auto-satisfação. Onde por mais que digam que não, por mais que neguem, as pessoas vivem segundo uma filosofia do “ Agradável à vista = Vida em ple-nitude”. Como se a beleza, o interesse e a inteligência de alguém só ganhasse significado, se visualmente essa pessoa corresponder áquilo que nós achamos belo. E depois surge uma admiração hipócrita quando chegamos à conclu-são da verdade presente nos velhos ditados populares “Quem vê caras, não vê corações”...mas acabam todos por cair repetidamente no memso erro. É essa transição sempre mal feita, entre o Bom e o Mau, o Feio e o Bonito, O Certo e o Errado. Lollita ( com 2 L) Angelical e Junkie Podre, Existe no mundo e na relação entre as pessoas uma certa po-dridão, revestida por uma fina película de beleza hipócrita e uma falsa felicida-de apoiada em crises de valores.

Como tem sido a reacção do vosso público em relação a este lança-mento?RIC: Temos obtido um feedback bas-tante positivo! O factor que destacam mais é o “peso” que este último EP tem, relativamente ao anterior. E que por sinal funciona bastante bem ao vivo!

DOMINOPAWO: Sim o “peso” tem sido muito bem aceite e também repa-ramos que tem aparecido mais público ligado ao metal. O público fiel, esse está sempre lá!

Este EP está disponível para do-wnload gratuito. Esperam cha-mar a atenção de uma editora para que futuramente o vosso tra-balho seja comercializado?DOMINOPAWO: O Principal objec-tivo deste Ep centra-se na divulgação do nosso trabalho, de uma maneira mais rápida e prática, para que todos possam ouvir Junkie Lollita. Também esperamos chamar a atenção de uma editora, mas também terá de ser uma editora que nos chame a atenção a nós.

Vi algumas fotos de concertos vossos ao vivo e mais do que um concerto, parece-me uma festa temática com algum teatro à mis-tura, o que é bom! Sentem que o vosso visual em palco mostra me-lhor a essência da banda?DOMINOPAWO: Karuniiru é um es-tado de arte constante. Assumimos um papel de regulação na acidez da vida, quase sempre dura e banal, que o mun-do tem. Tentamos sempre libertar o pú-blico que nos vai ver. Na Grécia antiga o teatro servia para iluminar as mentes e de trazer emoções para o palco, am-plificando as qualidades e defeitos do Homem e da sociedade. Com Karuniiru acontece algo similar. Amplificamos os defeitos e virtudes do Mundo e conta-mo-lo a quem nos quiser ver e ouvir...pode não ser fácil para quem é apanha-do de repente, mas também não faze-mos música fácil. Somos o produto da sociedade que nos envolve, e em palco apresentamos aquilo em que nos trans-formaram. A verdadeira arte reflecte sempre o mundo onde vivemos. Se o Mundo está em decadência, então nada melhor que a Arte para representar esse Mundo e essa época. Cabe à Arte alertar e representar o mundo em que vivemos. Se não for assim, viveremos todos numa grande mentira. O nosso visual reflecte este mesmo Mundo em que vivemos actualmente, um Mundo moralmente decadente e fraco espiritu-almente.

Os Karuniiru parecem-me ser uma banda multicultural, apesar

de à primeira vista parecer que são apenas influenciados pela cultura oriental. O que mais vos influencia na música?DOMINOPAWO: O local onde vive-mos e os sonhos que temos acabam por ser o que mais nos influencia na música. Pessoalmente, o que mais me influencia e que transporto para o gru-po de trabalho são, as vidas banais dos novos escravos do século XXI, escrito-res e filósofos do século XIX, contos dos tempos antigos, muito Visual e estilos musicais diversos. Através da língua usada, sobressai a cultura oriental, mas isso apenas constitui uma peque-na percentagem daquilo que somos. Cada elemento leva as suas influências, que depois de filtradas dão origem ao que a banda é hoje.

Sentem-se apoiados pelo público Português? E já tiveram feedback do público Japonês?DOMINOPAWO: Sim, regra geral sentimo-nos apoiados pelo público que nos vai ver. Em relação ao público Ja-ponês ainda não temos uma mostra de pessoas suficiente para tirar-mos con-clusões, embora os poucos japoneses que já ouviram Karuniiru tenham gos-tado muito. Públicos fora de Portugal só temos feedback através da Internet.RIC: Graças à Internet, consegui obter feedback positivo de público tailandês e norte-americano.

Para quando um full-lenght?RIC: Estamos a trabalhar nisso! Com muitas ideias novas mas sempre com a marca Karuniiru.DOMINOPAWO: Sim, estamos a tra-balhar em novo material, diferente do que o público espera, bem à maneira de Karuniiru xD.

Para finalizar, vão ter algumas datas durante os próximos meses para que os nossos leitores vos possam ver ao vivo?RIC: Dia 2 de Julho no Hard Club, Porto. Dia 9 de Julho no Matsuri#2 na Anipop, Lisboa, e dia 22 Julho no Metal Point, Porto.DOMINOPAWO: Temos mais uns quantos em negociação, que espero se-rem revelados em breve.

Entrevista: Joel CostaFotografia: Ana Barreira

“O local onde vivemos e os sonhos que temos acabam por ser o que mais nos influencia na música.”

Page 48: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Em 2007, com o álbum anterior, os italianos Forgotten Tomb já davam mostras de estar a evoluir dentro da sonoridade Black/Doom Metal. Herr Morbid, vocalista e lider do grupo, enquadra o lançamento de “Under Saturn Retrograde” e a sua demanda pelo trono do Metal depressivo.

O novo registo dos Forgot-ten Tomb, “Under Saturn Retrograde”, é uma boa

surpresa, uma vez que acrescenta ingredientes frescos à vossa já do-entia receita musical. Depois de mais de uma década de activida-de, podemos dizer que nos apre-sentam um álbum inovador?HERR MORBID: Eu acho que é, de-finitivamente, o nosso melhor lança-mento até agora, pois reune todas as qualidades necessárias para suplantar os anteriores, tanto a nível técnico, produção e na composição. Desta vez, tudo foi feito com maior precisão – o que se nota no produto final. O resul-tado satisfaz-me plenamente, porque mantém raízes fortes no Metal extre-

mo, mas também inclui influências de Dark Wave à antiga e uma orientação mais Rock. Acho que tudo se conjuga muito bem, melhor do que antecia em “Negative Megalomania”. É um álbum melódico mas também arrasador, e eu acho que retém um pouco da loucura do Black Metal, que foi onde começámos. Mas, de qualquer forma, não considero que “Under Saturn Retrograde” seja o nosso álbum mais melódico. Uma mú-sica como “Joyless” é muito cativante, de facto, mas também existem canções extremamente pesadas, como “Shut-ter”, “Downlift”, “Under Saturn Retro-grade Pt.I “, por exemplo. Eu acho que é o mesmo com todos os nossos álbuns: a melodia está sempre lá, mas também a agressividade e o peso.

No novo álbum podemos contar com as letras intensas e niilistas, como é habitual. Quais são os principais temas descritos, desta vez?A glorificação de negatividade, morte, ódio, pessimismo, cinismo, homicídio, suicídio, violações, e em geral tudo o que serve para destruir a felicidade hu-mana e a vida são temas recorrentes dos nossos álbuns e da nossa imagem - hoje mais do que nunca. Para além disso, há um significado especial por trás da faixa-título e das letras. Como deves saber, de acordo com a astrolo-gia, a influência de Saturno retrógra-do tem basicamente um efeito muito negativo sobre a vida e realizações pessoais, e é parcialmente responsável

Page 49: Infektion Magazine #04 Junho 2011

pelos fracassos, pessimismo e outros lados negativos da vida quotidiana. É especialmente negativa quando está no nosso mapa astral de nascimento. Eu também sou Capricórnio e Saturno é o meu planeta regente. Basicamente, usei “Saturno retrógrado” como uma metá-fora. Significava algo como “ter nascido sob uma estrela ruim”. Eu realmente não acredito em astrologia mas pensei que o significado era apropriado para representar o sentimento de opressão e constante falta de sorte que tinha na minha vida. O resto das canções tratam de temas diferentes - mas cada uma tem a negatividade e hostilidade como os principais temas.

No início da vossa carreira, dis-seste que suas letras eram uma “devoção à negatividade”. Hoje persistes em colocar sob a forma de letras os teus “pensamentos vis e doentes” - apesar de, musi-calmente, podemos falar de um som mais orientado para o rock e evoluindo, na minha opinião, para um resultado mais original. O que motivou essa mudança de abordagem?Os Forgotten Tomb foram sempre uma banda em constante evolução. Eu sem-pre ouvi um monte de coisas diferentes desde miúdo, por isso é natural que funda todas as influências que tenho tido ao longo dos anos e que crie um resultado próprio. Mas, ao mesmo tem-po, inspiro-me bastante nas coisas que fiz nos álbuns mais antigos. Quer dizer, basicamente forjei um novo subgéne-ro de Black Metal, por isso, realmente, não preciso de procurar muito mais além. Na verdade, tenho constatado que há um monte de bandas que ten-tam copiar-nos ao longo dos anos, e não o contrário. Acho que “Under Saturn Retrograde” pegou nalguns elementos de “Negative Megalomania”, mas ao mesmo tempo lembra-me coisas nos-sas mais antigas. E é claro que existem características novas, como sucede em cada um de nossos álbuns. A negativi-dade ainda representa uma grande par-te de nosso som e letras e será sempre assim, mas há muitas maneiras de re-tratar esses sentimentos. Talvez agora sejamos mais “niilistas” que “depres-

sivos”. Mas qual é a grande diferença? Não há nada de positivo dentro dos Forgotten Tomb. Qualquer pessoa que diga o contrário é um ignorante de mer-da e deve ir ouvir o seu Emo Suicida/Black Metal depressivo da treta. Somos uma banda séria, que não quer ser as-sociada com toda essa porcaria que está tão “na berra” hoje em dia.

As vossas vocalizações foram para outros territórios, no novo disco. Essa é uma tendência que pode-mos constatar junto da maioria das bandas que vos influenciaram no início da carreira - onde os gri-tos foram sendo complementados com vocalizações mais variadas. Achas que esta opção, no final do dia, permite passar com maior clareza a mensagem inerete ao tema?Bem, eu não sei quais são as bandas a que te referes, uma vez que já não nos inspiramos em qualquer banda/álbum que tenha saído depois de 1995/1996... Alternar vozes limpas e gritos é algo comum entre as bandas de Metal extre-mo desde, pelo menos, há 16/17 anos. Como tal, isso não é nada novo - só que temos uma maneira própria de o fazer, sem copiar ninguém. Na verdade, den-tro do nosso sub-género estamos entre os primeiros a ir nessa direcção. O pro-blema é que sempre fomos uma banda muito subestimada. Quando as bandas maiores (ou mais conhecidas) fazem algo semelhante ao que nós estamos a fazer, toda a gente acha que os estamos copiar, quando na verdade é o contrá-rio que sucede! Por exemplo, dentro do nosso sub-género fomos, basicamente, os primeiros a incluir solos de guitarra Hard Rock e vozes Rock, enquanto ou-tros apenas se limitaram seguir-nos...

O vosso som parece estar também mais orientado para a banda, mas as músicas, apesar de serem mais curtas, apresentam estruturas mais complexas, a meu ver. Qual é o processo de escrita dos For-gotten Tomb, nos dias de hoje?A música tem sido escrita em diferentes momentos ao longo de 3 anos, mas há algumas coisas que foram escritas há anos e reorganizadas e retrabalhadas

mais tarde... Foi um processo bastante longo. Eu sou o único compositor deste álbum, ao nível de letras e música. Fui também o responsável pelos arranjos de todos os instrumentos. Eu costumo gravar versões caseiras com um softwa-re multicanal e um software de progra-mação de bateria. A partir daí, entrego essas gravações aos membros da banda e, mais tarde, na sala de ensaios faze-mos os melhoramos finais e os arranjos extra, alguns meses antes das sessões de gravação. Desta feita, nós só querí-amos manter tudo mais “in-your-face” e trabalhar com uma estrutura clássi-ca do Rock. Nesse sentido, a estrutura das músicas é um pouco mais regular e orientada para o “mid-tempo” em rela-ção ao passado. Mas, simultaneamente, os arranjos (também no capítulo vocal) são muito mais sólidos e ricos do que sucedia nos álbuns anteriores.

Apesar de o som estar muito bem trabalhado no disco, acredito que as novas músicas devem pedir um impulso extra quando tocadas ao vivo. Quais são os vossos planos em termos de digressão?É claro que as novas músicas vão soar grandiosas nos concertos, mas essa não é a razão principal para o nosso som ser mais orientado para o Rock neste momento. Isso será apenas uma consequência. A propósito, muito pro-vavelmente iremos tocar nalguns festi-vais de Verão e depois vamos ver o que acontece no próximo Outono. Espero que continuemos em digressão, que to-quemos alguns concertos em nome in-dividual e nalguns festivais indoors de Outono/Inverno. O nosso objetivo é to-car ao vivo, tanto quanto possível. Tudo depende do feedback e das vendas do novo álbum, e, acima de tudo, depende das condições que nos vão oferecendo para concertos de fim-de-semana e/ou para tours completas. Para todas as bandas, a parte financeira desempenha um papel importante no que toca à ges-tão da agenda dos espectáculos ao vivo. Se nos oferecerem boas condições em todos os aspectos para um espectáculo ou uma tourné, fazemo-los - caso con-trário, ficamos em casa.

O novo álbum tem um som mais

“Somos um milhão de vezes melhores do que todas essas bandas que se colam às caracte-rísticas sonoras dos nossos álbuns antigos, então porque é que devemos limitar-nos a tocar coisas que agora seriam abaixo do nosso potencial? Tocar coisas à moda antiga seria uma brincadeira de crianças, nos dias de hoje.”

Page 50: Infektion Magazine #04 Junho 2011

vivo e cheio em comparação com o passado. Porque optaram pelo Mika Jussila para a mistura?O Mika Jussila fez realmente a mas-terização e não a mistura. O álbum foi gravado perto de Piacenza (em Itália), no Elfo Studio, onde temos gravado todos os nossos álbuns (com excepção do “Springtime Depression”, feito nos Abyss Studios - na Suécia - e do “Vol. 5: 1999/2009”, feito nos Moonlight Studios - em Itália. O engenheiro de som/produtor foi o Daniele Mandelli, que já trabalhou connosco no passado em “Songs To Leave”, “Love’s Burial Ground” e “Negative Megalomania”. Desta vez, ele fez um óptimo trabalho! A mistura foi feita em conjunto por mim e por ele. Para o processo de mas-terização, optamos pelo Mika Jussila e pelos Finnvox Studios (em Helsínquia - Finlândia) apenas porque ele é um dos melhores naquilo que faz e porque gostamos do que ele fez com outras bandas, como os Amorphis, HIM, Im-paled Nazarene, Children Of Bodom, entre outras. Queríamos uma produção de alto calibre e a sua masterização deu esse toque internacional ao nosso som, necessário para este tipo de álbum.

A opção pela cover de “I wanne be your dog” (dos The Stooges) é uma manobra ousada da vossa parte, mas que combina surpre-endentemente bem com o resto do material. O que vos motivou a pintar de negro este clássico do Punk Rock com o som à la Forgot-ten Tomb?Eu acho que nós re-arranjámos mui-to bem o tema e que agora soa a uma das nossas músicas. Eu gosto do poder niilista e auto-destrutivo que sobressai nessa faixa. Originalmente pretendia fazer algo do álbum “Raw Power”, uma vez que é o meu favorito de Iggy/Stoo-ges e um dos meus favoritos de sempre - embora a maioria do material não se enquadre com as nossas músicas. Além disso, escolhemos “I Wanna Be Your Dog” porque é o tema mais conhecido e também porque todas as versões que ouvimos eram muito más (sim, incluin-do a dos Slayer). Quando os Slayer fize-ram a cover mudaram parte das letras, incluindo uns disparate machistas que eu odiei. Foram uns atrasados mentais. O Iggy Pop também odiava coisas desse género. Eu acho que o Iggy iria preferir a nossa versão. Acho que lhe démos o feeling Punk original, soanso realmen-te niilista e violento. Até prefiro a nossa versão ao original! Isso teria sido quase

impossível de fazer com as outras can-ções do “Raw Power”, sendo a porra de um álbum perfeito como é.

As vossas opções recentes mos-tram que realmente não se im-portam em encaixar num género específico ou em serem agradá-veis para quem preferia o vosso som inicial - quando eram mais fáceis de catalogar. O que vos fez enveredar pelo sempre solitário caminho próprio?O disco anterior, “Negative Megaloma-nia”, foi realmente escandaloso - um álbum bastante avantgarde. Talvez fos-se imperfeito e um pouco apressado, mas eu adoro esse álbum porque real-mente significou um grande passo na nossa evolução e também porque nos demarcou do resto das bandas de Black Metal. Conseguimos livrar-nos de uma espécie de gaiola, antes nos vermos para sempre confinados a um único estilo musical. Nesse álbum dissémos: “Nós fazemos o que queremos”, mas sem perdermos o nosso cunho pessoal soturno. O mesmo sucede com o novo “Under Saturn Retrograde”, onde as pessoas pensavam que íamos tornar--nos mainstream ou que iriamos numa direcção semelhante aos Katatonia. Mas acho que muitos ficaram realmen-te surpreendidos, porque esse álbum tem uma sonoridade extremamente agressiva e variada. Embora ache que não abandonámos completamente as nossas raízes Black Metal. É claro que se alguém quiser um álbum de Black Metal puro, deve procurar outras ban-das. Mas se alguém gosta de Forgotten Tomb não ficará desiludido com esta nova direcção. Com efeito, os Forgot-ten Tomb nunca foram uma banda de “puro” Black Metal, talvez com a ex-cepção da primeira demo/MCD “Obs-cura Arcana Mortis”. No nosso álbum de estreia “Songs To Leave” eram já perceptíveis um monte de influências Rock e Dark Wave, por isso é estranho que algumas pessoas não as consigam descortinar. Na minha opinião, a gran-de diferença em relação ao passado é a melhor produção, melhor musicalidade e melhores vocalizações. Mas, sabes que, para algumas pessoas, melhorar nesses aspectos significa “vender-se”. Nós realmente não “mudámos de es-tilo”, evoluímos dentro do nosso estilo para uma versão aperfeiçoada do mes-mo. É claro que estamos mais velhos e entediados com os padrões do Black Metal, e isso é certamente uma das ra-zões pelas quais continuamos a evoluir

o nosso som. Somos um milhão de ve-zes melhores do que todas essas bandas que se colam às características sonoras dos nossos álbuns antigos, então por-que é que devemos limitar-nos a to-car coisas que agora seriam abaixo do nosso potencial? Tocar coisas à moda antiga seria uma brincadeira de crian-ças, nos dias de hoje. Gostamos de nos desafiar a toda a hora. Além disso, ten-tamos sempre estar um passo à frente das outras bandas e fazer algo de dife-rente. Há sempre alguém que reclama por alguma razão, em cada novo álbum que lançamos... É impossível agradar a todos. Em primeiro lugar, precisamos nós de estar satisfeitos com o que fizé-mos no novo álbum. Se os outros gosta-rem, é óptimo. Caso contrário, significa que não estão preparados para compre-ender a nossa evolução. Já nos vamos habituando a ser incompreendidos e à frente das tendências. A maioria das pessoas começam a gostar dos nossos álbuns três anos após a sua edição.

Da cena underground italiana continuam a emergir algumas bandas importantes e inovado-ras como é o vosso caso. Sentem que há sangue novo a acrescentar mais qualidade à cena musical pe-sada?Não sei, pois realmente não sigo muito a cena underground. Penso que exis-tem algumas boas bandas e algumas merdosas no panorama italiano, como em qualquer outro lugar do mundo. Embora, provavelmente, a qualidade geral tenha subido nos últimos anos. Há um monte de bandas jovens com boa capacidade técnica, mas que ainda são muito underground. Algumas ban-das boas oriundas de Itália de que gos-to (embora, não sejam necessariamen-te “sangue novo”) são: Whiskey Ritual, Elitaria, Viscera///, Hiems, Spite Ex-treme Wing, Mortuary Drape, Necro-mass, Novembre, Death SS, Aborym, Schizo e pouco mais...

Entrevista: José Branco

Page 51: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Links: mbarimusica.com // prontosesinceros.tumblr.com

Não importa se és marxista ou de Mar-te, se és Punk ou Designer... é preci-so ter pica e não ter medo de arriscar

para fazer “coisas”. B Fachada e Tiago Lacrau são dois exemplos de pessoas que não con-seguem estar quietas, dividindo um historial mais ou menos comum estão agora em pon-tos equidistantes. Ambos fizeram parte da euforia FlorCaveira e na descoberta mediá-tica e pública dos “cantautores” dos últimos anos. B Fachada passou pela FlorCaveira, não era cristão, era aliás o “primeiro pagão” nas fileiras da editora / colectivo. Fazia parte da estratégia da FlorCaveira em apostar na linha do “cantautorismo” abandonando lentamen-te os projectos Punk e Grindcore do passado. “B” fez/faz furor e há muito que edita por ou-tros lados. As suas letras de puto blasé e a voz de sub-Zappa meio canino irritam pessoas sábias como eu. Tiago Lacrau (ou Guillul ou Cavaco) foi a peça principal da FlorCaveira e da incontornável popularidade destes “can-tautorismos”, tendo desenterrado criaturas como o Jorge Cruz, aproximado este tipo de artistas à estrutura para dar força a um mo-vimento que conseguiu temporariamente ex-purgar-nos a lembrança de atentados nacio-nais como David Fonseca ou Old Jerusalem. Para além de militante e activista, mostrou ser um exímio produtor “lo-fi”, alguém com uma natural apetência para gravar Pop seja no quarto seja num estúdio luxuoso. Admite que não tem perfil para ser artista Pop, desistiu o ano passado de dar concertos e até da Flor-Caveira que criou e desenvolveu. O “Pagão B” quer viver da música e vive para ela, editando e dando concertos com regularidade. O “Pro-testante T” tem mais que fazer do que lidar com o mundo parvo da “indústria da música Pop” mas também vive de forma epidérmica para a música, tanto que dogmaticamente o seu “panque” e o seu cristianismo (que se in-tersectam ou se completam mesmo que sejam ideologicamente opostos) não o deixam ficar pelas regras do jogo instituído. “T” precisa de fazer coisas sempre com novas regras - as suas regras - e isso é que faz dele um artista, mesmo que nos arrepie o seu relacionamen-to espiritual com o cristianismo. Um artista concretiza a sua visão sobre o mundo, mesmo

que tenha de pagar por essas escolhas, poden-do ter como consequências o vedamento da difusão da obra, irritações no seio da comu-nidade, constrangimentos económicos, etc... “B” e “T” tem usado as potencialidades de misturar música realmente tocada (por ins-trumentos e voz) com “loops” / “samplers” sacados aqui e acolá, e dois discos recentes são novos frutos dessas explorações. No caso do “B” com “Há festa na Moradia (Mbari; 2010) ainda não percebi o que se passa, são várias pessoas a acharem este disco um dos mais importantes da MMP dos últimos anos (?!). Se for então também pode levar o títu-lo da Pior Capa de Sempre bem como a pior “Font Possível de Escolher”. Eu que adoro vi-nis de 10” tenho vergonha de ter este disco na minha colecção - mantenho-o por respeito a quem me o ofereceu no Natal. Porque raios gastaram tanto dinheiro num objecto tão feio? E depois o som está todo lixado, juro que pela primeira vez que acho que a versão digital de uma música é melhor que em vinil. Também não percebo porque nos vários sites se fala em “música de intervenção” de “B”. Que eu saiba na minha terra, “crítica de cos-tumes” não é “música de intervenção”, e é isso que “B” sabe fazer (e bem): crítica de costu-mes tal como toda a Pop portuguesa está bem recheada disso (António Variações, G.N.R. ou Repórter Estrábico, para dar os melhores exemplos). O “Loop Pop” de “B” tem interes-se, é um bocado repetitivo mas bem seleccio-nado o rapinanço sonoro. É também uma boa forma de sair do saco do “cantautorismo” que já ninguém aguenta. “T” seja Guillu seja La-crau já andava a fazer umas brincadeiras gi-ras com “loops” de músicas evangélicas mas agora com O Inverno Desinspirado do Rapaz do Sul do Céu (Um Disco Pronto e Sincero; 2011) foi “samplar” o «satanismo soft-teen» dos Slayer!!! Isto poderá ser um choque para quem o vê como um Pastor Pop catita e es-queceu-se dos seus momentos agressivos de Borboletas Borbulhas, verdadeiro Hardco-re de Jesus! Para fãs do “cultural jamming” (aqui invertido) há muito que esperava este regresso paradoxal de cristandade com xun-garia metaleira, criando mais um exótico pro-duto cultural. “T” decidiu deixar a promissora

carreira de Estrela Pop para voltar com um CD-R em verdadeiro espírito DIY, com aquele prazer de fazer as coisas com as mãos e com o coração virado para o mundo: gravação ca-seira, sem masterização (acho bem, maste-rização é para pussies!), 333 exemplares de CD-R’s gravados e numerados, capa em foto-cópia a preto e branco,... como um verdadeiro punk ou metaleiro dos anos 90! Samplou um álbum inteiro dos seminais Slayer, South of Heaven (Def Jam; 1988), recriando-o faixa a faixa com novas adendas cristãs porque ele não percebe porque os Satânicos têm direito a melhor música que os Cristãos – a resposta é simples mas pelos visto “T” não sabe. O dis-co é um álbum conceptual em que emerge um enorme Sermão Pop-Metal desvairado. No futuro (ou agora no presente) ainda vão per-guntar se estamos perante um génio ou um doido varrido! “T” até pode pregar o Nazismo que eu nem quero saber, qualquer gajo que consegue misturar Slayer com Raul Indipwo merece “respect bro!” “T” pode pregar as suas ofensas ao Grande Bode e os seus seguidores, que nós o perdoamos pela forma baralhada como o artista se encontra! Há uma percenta-gem de gajos assim, são poucos mesmo quan-do se chamam Horde, que pensam que estão a usar o Metal para converter os ímpios. Mas estes valiosos guerreiros de Cristo já estão perdidos nas garras manhosas e musicais de Lúcifer - Diabolus in musica. Tal como o dis-co de “B” este disco de “T” é um disco falhado mas por outras razões, tenta ser programáti-co («este disco não é sobre música mas sobre o evangelho») mas o humor vai aparecendo e subvertendo o disco como um Eminem – e claro, Satananás ri-se lá nas adegas do Infer-no! Humor é inteligência, inteligência é a luz de Lúcifer, será que o “T” agora percebe por-que a música “satânica” é melhor? Baralha-do com esse humor / inteligência / luz ainda goza na última faixa com a treta da cena Mod lisboeta – o que é uma cereja no topo deste bolo oferecido aos amigos do artista no passa-do Dia de S. Valentim. Assim sim, vale a pena ter amigos artistas!

Page 52: Infektion Magazine #04 Junho 2011

No início da música, as cordas da guitarra eléctrica liber-tam acordes límpidos. Os

dedos de João Simões movem-se num dedilhado calmo, embrenha-do em acordes de Jazz, como para dizer em tom de segredo que temos que nos preparar porque aí vem um alvoroço. E logo explodem as bati-das furiosas de Ricardo Matias. A bateria acorrenta num ritmo empol-gante com o baixo de Paulo Alves e a guitarra de Ricardo Rodrigues in-vadindo agora o tema com entoação Rock. Dos instrumentos irrompe uma melodia cativante, que prende, ao subir na sua intensidade sendo já um processo irreversível e surpre-endente quando entra a voz limpa de João Sequeira.

O nome da música é Flashback e foi com este tema que eles, os Inpulsiv, começaram a tocar para a nossa ma-gazine. A banda de Rock Alternativo está a gravar o seu primeiro álbum e a Infektion teve a oportunidade de assistir a um ensaio para conhecer em antemão este trabalho.

Já passava das 17 horas e estava a ser um domingo de calor em Almei-rim. O armazém onde a banda tem por hábito reunir, entranha-se num cenário ribatejano de ruas direitas e casas baixas. O espaço é amplo, ladeado de objectos deixados para traz em projectos passados, no qual o centro transformou-se num es-túdio nos últimos seis meses. Cada membro da banda foi ocupando o seu lugar, atarefando-se em volta

dos instrumentos. A fechar o círcu-lo que forma os cinco rapazes estava uma cadeira vazia. Não se podia ler no encosto do assento “Infektion”, nem tinha sido colocado uma folha de papel com a palavra “reservado”, mas era o convite para um concerto privado.

O riff da música “The one who mo-ves” fica logo no ouvido. João Se-queira encarrega-se de apresentar o espectáculo, revelando que este segundo tema que acabam de tocar, foi escolhido para a realização de um vídeo clip. Contudo, é “Counting the days”, a música executada a se-guir, que será o single de abertura do álbum, segundo o vocalista. Se de título em título o universo mu-sical dos Inpulsiv se desvende num

Dos impulsos nervosos aos Inpulsiv

Page 53: Infektion Magazine #04 Junho 2011

puro Rock Alternativo, quando che-ga o momento de tocar “Wonderful life”, a exposição desse mundo é to-tal. Trata-se de uma versão do tema dos anos 80 dos Black. “É um bónus para os espectáculos ao vivo” expli-ca João Sequeira. A letra é a mesma, mas só a letra. Porque nesta versão encontra-se todo o Rock Progres-sivo/ Alternativo dos Inpulsiv com as suas influências de Hard Rock e de Trash. Mais tarde, Ricardo Ro-drigues dirá sobre a construção das músicas de Inpulsiv que para “quem tiver a possibilidade de ou-vir os nossos temas irá rapidamente identificar-se, pois deixamos a por-ta a vários estilos e interpretações musicais, visto que no mesmo tema está contemplado o Hard Rock com melodias épicas, e ao mesmo tempo a desconstrução e composição de um Rock Alternativo onde primam os solos do João Simões e os acor-des dos refrões melodiosos, a roçar mesmo o sinfónico em alguns mo-mentos.” E no final “Farewell”, uma balada para concluir este concerto especial, que prima pelo força pro-gressiva e pelos versos cantados por João Sequeira.

A grande estreia está marcada para o próximo mês de Julho. E “não va-mos revelar nada até chegar lá” asse-gura o Ricardo Matias. O público só então vai poder descobrir o álbum que está a ser gravado, o produto final das rodagens do vídeo que es-tão a decorrer, e ainda as datas dos espectáculos ao vivo. Julho vai ser o marco de vários inícios. É a estreia de um trabalho novo, mas é também

uma estreia para os cinco elementos da banda num projecto diferente. “Esta banda é algo de novo e ne-nhum de nós fez isso antes”, afirma Ricardo Rodrigues. O background, as influências, os gostos musicais não são os mesmos para nenhum dos Inpulsiv. Mas para todos, este projecto é um inédito. “Em Portu-gal há poucas bandas que fazem um Rock Alternativo misturando várias influências” esclarece o guitarrista. Mas também para Paulo Alves essa é uma explicação. O baixista que já toca desde dos 12 anos confessa à nossa revista que encontrar uma banda deste género “é difícil porque hoje em dia é só Metal por todo o lado”. No entanto, o guitarrista faz questão de salientar que “Inpulsiv não querem ser um selo único, es-tamos só unicamente a explorar as nossas influências e a fazer Rock”.

Quando os impulsos fazem--se de pauta de música

Todos eles são Inpulsiv. E mais que o nome pelo qual se apresentam à Infektion, é a maneira deles serem na música. “É Rock feito por instin-to” exclama Ricardo Matias, acres-centando que “fazemos um traba-lho daquilo que nós somos”. Pois, o Rock de Inpulsiv é sobretudo uma soma das várias influências dos seus elementos. Contudo, estas são tra-vadas à porta da sala mas ficam den-tro dos seus seres sob a forma de im-pulsos nervosos e quando compõem fica difícil colocar uma etiqueta no produto final. Segundo o baterista o processo criativo baseado na inspi-

ração por impulsos permite a banda de ganhar uma dimensão mais coe-sa, “onde cada um põe o seu cunho”.

São risos que suscitam a Ricardo Ro-drigues a ideia da banda ser “épica”. O guitarrista entende como a músi-ca de Inpulsiv pode ser considerada épica “no sentido de haver riffs de guitarra pomposos, extremamente melodiosos e outros mais agressivos e alternativos, pois quer-se dar sen-tido e importância à melodia, atenu-ando um pouco a agressividade dos nossos temas.” Mas depois a pro-pósito da banda, lembra-se é como tudo começou há três anos atrás. A ideia do projecto foi dele, no iní-cio pelo menos, porque só em 2011, quando se juntou aos outros quatro elementos, é que tudo arrancou re-almente. “Com a entrada de novos elementos as ideias ganharam outra dimensão e profundidade” realça Ricardo Rodrigues.

E enfim, recorda-se como surgiu o próprio nome da banda. Quando um ex-membro da banda, antes des-te grupo se constituir, ter sugerido que eles eram impulsivos e que de-veriam se chamar assim. “E cada um interpreta o nome à sua maneira até hoje. Neste momento o conceito que queremos transmitir é a dependên-cia musical do nosso ser”, remata.

Suzana Marto

E tem um segredo para revelar de como vão conquistar os ouvintes?

“Somos os Inpulsiv, estejam atentos, vale a pena ouvir as composições desta banda. Acordes recheados de intenção, solos electrizantes, baterias e um baixo poderosos. Uma voz grave e melódica marcante e diferente. A cada segundo destes temas que ouvi há uma intenção, não é mecânico este modo de tecer mú-sica é Inpulsiv.”

Page 54: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Já se repetiu muito na história da música pesada, o terceiro álbum de uma determinada banda ser o marco para a confirmação do ta-

lento da mesma e o estabelecimento des-ta no panorama global. Basta pensar no “Number of the Beast” dos Iron Maiden, no “Master of Puppets” dos Metallica, no “Blood Mountain” dos Mastodon e a lista continuaria por aí fora. A nova entrada nessa grandiosa lista é mesmo este ter-ceiro registo dos Obscura, banda alemã de Death metal técnico que já andava na boca do mundo pela bomba que foi “Cosmogenesis”. Este último trabalho é denominado “Omnivium”, nome bem es-colhido pois este álbum funciona como um todo, uma entidade com poder pró-prio que nos envolve com a sua elabora-da técnica em todos os instrumentos, o que acaba por não ser surpresa porque temos aqui um alinhamento de luxo. A

Steffen Kummerer (fundador, vocalis-ta e guitarrista) juntaram-se o baterista Hannes Grassmann e o guitarrista Chris-tian Müezner, ambos ex-Necrophagist e o baixista dos Pestilence, Jeroen Paul Thesseling, o que logo pelos nomes dos projectos em que estão envolvidos, o selo de qualidade à partida estaria garanti-do... e de que maneira essa qualidade nos torce por dentro no esvoaçar de riffs e ritmos que se desenvolvem à velocida-de da luz neste disco. A única coisa que vou fazer é mesmo deixar esta introdu-ção porque este trabalho é inexplicável, só pode mesmo ser entendido através da sua atenta audição e dos pormenores su-blimes que aqui desfilam e afirmar que este é muito bem capaz de ser um dos melhores álbuns de 2011, por isso vão pelo meu conselho e OIÇAM! Com urgên-cia mesmo, OIÇAM!

Bruno Farinha

Page 55: Infektion Magazine #04 Junho 2011

ABYSMAL DAWNLEVELING THE PLANE OF EXISTENCERELAPSE RECORDS

Os norte-americanos Abys-mal Dawn estão de volta com o 3º álbum da sua car-reira “Leveling the plane of existence”, mais um exce-lente exemplo de puro Dea-th Metal, que apesar de re-velar bastantes influências de bandas como “Morbid Angel” e “Suffocation”, mos-tra também o estilo próprio e único da banda. “Leveling the plane of existence” é um disco frenético e agres-sivo, com riffs memoráveis, uma percussão intensa e um impressionante traba-lho vocal, que nos conven-ce de uma ponta á outra. Destaque para os temas “In service of time”, “Rapture renowed”, “My own Savior” e “Perpetual Dormancy”. É um excelente trabalho, um marco na carreira dos Abys-mal Dawn, que claramente, têm tudo para se tornarem numa das melhores bandas de Metal da actualidade.[7/10] Rute Gonçalves

BLOODIESTDESCENTRELAPSE RECORDS

Emergindo da junção de elementos de vários projec-

ALCESTLE SECRETPROPHECY PRODUCTIONS

“Le Secret”, EP original-mente lançado em 2005, contém os dois temas que começaram a dar bastan-te visibilidade ao projecto Alcest do multi-instrumen-talista Neige, antes do pri-meiro longa-duração “Sou-venirs d’un Autre Monde”, pela forma como incorpo-

rou uma veia sentimentalis-ta e acústica magnífica com vertentes Shoegaze ao seu Black Metal. A Prophecy Productions veio agora dis-ponibilizar uma nova edição regravada desse mesmo tra-balho dando uma nova rou-pagem às duas longas mú-sicas que o compõem. “Le Secret” e “Elevation” apre-sentam-se agora de cara la-vada com o som mais nítido e que deixa o ambiente fluir com mais naturalidade, com os pormenores da gui-tarra e do baixo mais audí-veis. Do resto, é deixar-se embalar pelas belas melo-dias destas duas excelentes canções. Uma boa aposta neste lançamento foi incluir as versões originais dos te-mas nesta reedição, dando a oportunidade ao ouvinte de poder comparar as duas gravações e optar aquela que é mais agradável ao seu gosto. Um bom lançamento da Prophecy Productions para ser ouvido com aten-ção e recordar o que Alcest era antes de se tornar o be-líssimo projecto que é hoje.[8.5/10] Bruno Farinha

BLEEDING FISTDEVIL’S FEROXMORIBUND

Um ano depois do lança-mento de “Macabrum Bes-tia Ex Abyssus”, os eslove-nos Bleeding Fist regressam com o EP “Devil’s Ferox”, um registo com 5 faixas que continua a ter o Black Metal como protagonista. O disco revela uma banda que, ape-sar de competente, continua a repetir fórmulas e erros do passado, não conseguindo por isso, atingir em pleno todo o seu potencial. Des-taque para a faixa com 7 minutos de duração que abre o disco “Monuments desecration” e para “Black and Violent”, um tributo á banda italiana “Death SS”. Não é um disco brilhante, mas ainda assim não é uma completa perda de tempo ouvi-lo.[6.5/10] Rute Gonçalves

BARAFUNDA TOTALA GRANDE CONSPIRAÇÃOCOMPACT RECORDS

A curiosidade começou pela capa e essa curiosidade foi dando lugar a outras à me-dida que o CD rodava no leitor. Com uma sonoridade suficientemente única para que sejam logo identificados assim que toque o primeiro acorde de uma música, os Barafunda Total têm em “A Grande Conspiração” o seu terceiro álbum de originais. A produção é cuidada e a fúria pessoal de cada instru-mento e elemento da banda foi muito bem captada neste

registo. O sentimento base dos BT é a contestação e alegrem-se por saber que a banda continua fiel às suas raízes e daqui para a frente até podem mudar mas sem-pre para melhor. São trinta minutos de festa e raiva, com algumas vozes convi-dadas à mistura, que cer-tamente deixarão qualquer um amarrado a esta atmos-fera imposta pela banda.[6.5/10] Rui Simões

tos do underground de Chi-cago, surgem os Bloodiest, com um originalíssimo ál-bum de estreia. “Descent”, à falta de melhor termo de comparação, apresenta um cruzamento entre o sludge/post-metal dos Neurosis e o experimentalismo dos seminais Swans. E podería-mos continuar a lançar para o ar mais um punhado de nomes que, rebuscadamen-te, conseguimos identificar à lupa ao longo deste álbum. Contudo, tratar-se-ia de um exercício inglório. Quem co-nhece o trabalho de Bruce Lamont (também vocalista dos Yakuza), terá uma no-ção mais aproximada do que pode esperar deste ál-bum. Ao longo de seis temas bastante equilibrados e com uma coesão impressionan-te, há espaço para brilharem os sete elementos da banda. Assistimos a atmosferas sombrias que lentamente vão evoluindo até atingi-rem explosões sinfónicas e catárticas. Até chegarmos ao pico de cada crescendo, podemos apreciar arran-jos enleantes, hipnóticos e psicóticos. Tudo começa com um dos músicos a dar o mote: seja por via da ba-teria (em jeito tribal), do piano ou da guitarra clássi-ca. E torna-se fascinante o exercício de acompanhar a entrada dos outros elemen-tos na tapeçaria sonora dos Bloodiest. “Descent” tem pouco de Metal, contudo, a obscuridade e peso aqui re-tratos (e a forma como nos são apresentados) deixarão muito pouca gente indife-rente. Rock atormentado e avassalador. [8.5/10] José Branco

Page 56: Infektion Magazine #04 Junho 2011

BLUT AUS NORDTHE MYSTICAL BEAST OF REBELLIONDEBEMUR MORTI

The Mystical Beast of Re-bellion, dos franceses Blut Aus Nord, foi lançado em 2001. Dez anos depois, a banda decidiu relançar este álbum, complementando--o com um segundo disco, que contém três novas fai-xas. Sendo considerado por muitos um dos melhores álbuns da banda (embora tenha passado algo desper-cebido e não tenha recebido a mesma atenção mediática que alguns dos seus outros álbuns), The Mystical Beast of Rebellion contém toda uma série de elementos ca-racterísticos do black metal, sendo o melhor exemplo a parte vocal, em que nos pa-rece que alguém está a ser torturado até à morte, o que faz com que este álbum te-nha um som algo fantasma-górico. O que torna o relan-çamento deste álbum ainda mais interessante é o Disco 2 que o acompanha, com três faixas estilisticamente semelhantes à do Disco 1, mas onde a principal dife-rença é o ritmo, muitíssimo mais lento e melódico, e a densidade da música, que soa muito mais tensa e emo-cional. Relançar um álbum é sempre algo arriscado, mas tendo em conta que os Blut Aus Nord conseguiram ser coerentes, mantendo o es-tilo musical do Disco 1 para o Disco 2, e tendo em conta que conseguiram acrescen-tar intensidade emocional a um álbum que originalmen-te já o era, eu diria que este será um dos poucos casos de relançamentos bem sucedi-dos.[8/10] Vanessa Correia

DEATHTHE SOUND OFPERSEVERANCERELAPSE RECORDS

De criadores do Death Me-tal a pioneiros do Death técnico e progressivo, res-tam poucos adjectivos para qualificar a importância desta banda no panorama musical. Agora reeditado pela Relapse, o derradeiro álbum dos Death chega até nós com pequenas jóias que agradarão, sobretudo, aos fãs. “The Sound of Persere-ance” foi remasterizado em edições de dois e três dis-cos, onde está disponível, pela primeira vez material das demos dos temas do álbum, captado entre 1996 e 1998. A capa foi retocada pelo autor original (Travis Smith), há liner-notes do guitarrista Shannon Hamm e fotos nunca publicadas da época das gravações (1998). Trata-se de um álbum que divide algumas opiniões. Apesar de este conjunto de canções possuir caracterís-ticas que nos remetem para os três anteriores registos da banda (“Symbolic”, “In-dividual Thought Patterns” e “Human”) - qualquer um deles “clássicos” do género -, a verdade é que há uma evolução. “Story to Tell”, o single “Spirit Crusher” ou a cover de Judas Priest “Painkiller” são referências incontornáveis. Apesar de semi-desconhecida, a for-mação que acompanhou Chuck Schuldiner nesta fase da carreira dos Death (com excepção de Steve DiGio-gio, que esteve presente até 1998) denota uma impres-sionante coesão. As demos servem para confirmarmos a instrumentação genial e sem paralelo. Um álbum menos imediato mas essen-cial. [9/10] José Branco

CONFRONT HATEDIABOLICAL DISGUISE OF MADNESSHELL XIS

Confront Hate voltam agora com novo álbum, Diaboli-cal Disguise Of Madness. É pedalada pura! Uma pessoa tem de ter ritmo acelera-do para acompanhar este álbum. Um exemplo para Portugal… Vindos de Faro trazem seus instrumentos carregados de munição. No geral, todas as faixas estão boas, mas eu gostava de dar destaque a New Divine Shadow, pela garra e pela maneira como a música foi abraçada. Deixem-me dizer outra coisa… as duas faixas instrumentais incluídas no projecto, assentaram como a cereja em cima do bolo. A única parte que se dá uma pausa, aliás. Todo projecto soa bem, desde os ritmos de bateria à lead guitar. O vocalista deu uma boa vibe e mostrou um bom poder vocal. É engraçado o con-ceito da última faixa, felling the silence, em que a pouco mais de meio a música si-lencia até ao final. Corrup-ted Desire também marcou de certa forma este álbum. Bons arranjos, e especial-mente as curtas rajadas de notas em algumas partes que aumentam o ritmo, por parte da guitarra. Isto para não falar da excelente mé-trica e flow da parte do vo-calista. Não há muito que apontar, pois estes Confront Hate foram impecáveis. Es-pero que continuem a fazer do mesmo (e melhor), espe-ro que oiçam o álbum, que sintam toda as vibrações e groove emitidos por estes farenses que não poupa-rem em nada, para mostrar como se fazem as coisas.[8.5/10] Davide Gravato

BLUT AUS NORD777 SECT(S)DEBEMUR MORTI

Blut Aus Nord já é uma en-tidade que se prolonga na história da música pesada há 18 anos (a contar com o tempo em que o projecto se denominava Vlad), con-ta com mais de uma dezena de lançamentos, foi um dos pioneiros do Black Metal de ambiências psicadélicas e estendeu-se na sua lon-ga discografia por várias áreas incluindo o Industrial. Pode-se afirmar que não são nenhuns amadores, muito pelo contrário, sempre fi-zeram música diversificada e de extrema qualidade. O trio francês lança agora “777 - Sect(s)”, a primeira parte da trilogia 777 e o que pos-so dizer é que se a primeira parte começa este conjunto de trabalhos desta maneira, estou bastante curioso para ouvir o resto. Este registo se for ouvido bem alto roça a esquizofrenia com um tra-balho de guitarras mais cru e duro capaz de nos levar para um estado quase catatônico pela melancolia empregue em peso e pela componen-te psicadélica já referida, deixando-nos apenas res-pirar em temas de pura at-mosfera como “Epitome 2”, apenas para vislumbrarmos a negritude que nos espera do outro lado mais uma vez. A estrutura rítmica é impe-cável e bastante variada. A produção é incólume e cada pormenor ganha vida à me-dida que a escuridão aperta nos cerca de 45 minutos de duração deste registo. Mais uma boa obra a juntar à co-lecção destes senhores gau-leses.[8.5/10] Bruno Farinha

Page 57: Infektion Magazine #04 Junho 2011

HAERESIARCHS OF DISIN OBSECRATION OF THE SEVEN DARKSMORIBUND

Começa em grande forma com o tema homónimo este “In Obsecration of the Se-ven Darks”, terceiro álbum dos Hæresiarchs of Dis, one man band idealizada pelo californiano Cerunnos. O projecto, formado em 2004, opta por uma fórmula de construção do disco deve-ras e?caz, em que a grande maioria dos temas possuem um interlúdio ambiental que nos leva com sucesso ao

DORNENREICHFLAMMENTRIEBEPROPHECY PRODUCTIONS

Já é habitual: quando depa-ro com um grande CD é por-que me enganei e não era suposto ouvir. Isto porque um CD pode ser bom mas consegue ser melhor ainda se nos apanhar com a dis-posição correcta e “Flam-mentriebe” dos austríacos Dornenreich não podia ter vindo em melhor altura. Podia destacar músicas mas seria totalmente injusto para o restante alinhamento que iria ficar de fora. Cada faixa tem sua própria magia e todas juntas constituem um poderoso álbum, muito espiritual e com algumas das melhores músicas que ouvi em toda a minha vida. Os Dornenreich estiveram quase para cessar activida-de no ano de 2006 mas o único elemento que consta-va do lineup resolveu levar a cabo um renascimento do projecto e foi uma das me-lhores decisões tomadas a nível musical durante esta década que passou. Se têm dúvidas e/ou não querem dispensar mais do que 5 mi-nutos do vosso tempo para saberem que aquilo que digo é verdade então fiquem a saber que em Dornenrei-ch pode estar a solução para muitos problemas. A músi-ca cura e hoje, mais do que nunca, sei isso.[9/10] Joel Costa

FALCONERARMODMETAL BLADE

Em jeito de conclusão da re-view acima escrita por mim,

FORGOTTEN TOMBUNDER SATURN RETOGRADEAGONIA RECORDS

Após quatro anos de silên-cio, os italianos Forgotten Tomb regressam aos discos de originais, com o traba-lho mais ambicioso desde a sua estreia há mais de uma década. O som continua a ter por base o Black Metal demente e as constantes li-nhas melódicas de guitarra que sempre os caracteriza-ram, mas sem extremismos. Ao sexto álbum poderemos

também cheguei aos Fal-coner por engano e por en-gano não irei mais ter com eles. Apesar de “Armod” seguir uma linha um pouco diferente do registo habitual da banda, os Falconer con-seguiram transportar-me para outro mundo no dia em que ouvi este disco pela primeira vez, pela segun-da, terceira, décima e por aí fora. A banda resolveu incorporar as suas origens neste álbum e misturaram o Metal que fazem tão bem com muitos elementos folks tanto a nível musical como lírico. Infelizmente não en-tendo as letras mas é como se as palavras proferidas em cada música ganhassem for-ma e as conseguisse perce-ber não pelo que dizem mas sim por aquilo que são. In-crível como existem bandas que até nos momentos em que fazem uma brincadeira como fizeram em “Armod”, conseguem mostrar a sua seriedade e o seu enorme talento. “Armod” será algo único e daqui para a frente os Falconer irão continuar com aquilo que já nos ha-viam mostrados. Resta es-perar para saber se conse-guem superar a genialidade deste último lançamento.[9/10] Joel Costa

continuar a tentar encaixar o som dos Forgotten Tomb na mesma linha de Shining, dos primórdios de Katato-nia ou Dolorian, certo é que resolveram dificultar-nos a tarefa. “Under Saturn Re-trograde” apresenta temas mais pequenos, onde so-bressaem as melodias e a orientação rock da maioria das malhas. A masteriza-ção nos Finnvox Studios ajuda também a enfatizar a demência black n’roll que transparece neste álbum, com um som cheio e po-deroso. Além disso, há um evidente esforço na criação de diferentes dinâmicas em pontos-chave do álbum, que servem para adensar a obs-curidade retratada (com-pletamente intocável em termos líricos, para quem aprecia as letras desespera-das e sentidas de Herr Mor-bid). A nível vocal nota-se também um trabalho mais diversificado. Um aponta-mento também para a au-daciosa e brilhante cover do clássico dos The Stooges “I wanna be your dog”. No fundo, novos ingredientes musicais foram escolhidos a dedo para adensar a niilista receita dos Forgotten Tomb.[7.5/10] José Branco

encontro da obscura imagi-nação do seu criador. “Aut Vincere Aut Mori” é parti-cularmente bem consegui-do, na sua progressão des-de algo que se adivinhava completamente acústico até derivar primeiramente num riff thrash metal que se so-brepõe a um drone e por ?m num malé?co sintetizador que, não obstante roçar pe-rigosamente idas foleiradas que tanto me esforcei por apagar da memória, acaba por não ?car desenquadra-do do cômputo geral. “Con-founded by the Vanquished Coil” e “Passage”, as duas músicas seguintes, com-pletam a fase mais forte e original do álbum, elevan-do talvez alta demais a fas-quia para os restantes, que acabam por não conseguir acompanhar, e nos deixam a almejar algo mais - salvo “Grazioso Drone”, num sur-preendente registo dark folk de grande nível. Black me-tal com forte veia nórdica, composto de uma forma ca-tivante, com óptimos arran-jos e uma produção límpida, mais centrada no presente do que no passado, são as principais características de um disco que, apesar de não se predispor a instaurar grandes inovações ao seu estilo, não deixa de ser um trabalho válido, coerente e merecedor de atenção.[6.5/10] Jaime Ferreira

HARMDEMONIC ALLIANCEBATTLEGOD

Depois da sua estreia em 2006 com o álbum “Devil”, os noruegueses Harm re-gressam com mais um as-salto brutal de trash metal neste “Demonic Alliance”. O colectivo, composto por ex-membros de bandas como “Scariot”, “Antares Predator” e “Guardians of

Page 58: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Time”, continua a revelar claras influências dos “Des-truction” e dos “Carcass”.O disco é bastante hetero-géneo e não revela grandes surpresas, mas consegue trazer para a ribalta alguma força, agressividade e inten-sidade especialmente nas faixas “Demon”, “Random numbers”, “New brutal vi-tality” e “Svartsynt”. O con-junto é bastante coerente.“Demonic Alliance” é, de um modo geral, um disco simples mas bastante for-te, como um bom disco de Trash Metal deve ser, reve-lando uns “Harm” com bas-tante energia e potencial. Falta, no entanto, alguma originalidade ao disco, não permitindo por isso que perdure na memória de quem o ouve.[6/10] Rute Gonçalves

HIDDENDEAD LAND ENERGYRED STREAM RECORDS

Os norte-americanos Hid-den regressam aos registos discográficos depois de 5 anos de pausa com o 3º ál-bum da sua carreira “Dead Land Energy”. O colectivo, que tem um longo historial de elementos que passaram por bandas de peso como Krieg, Judas Iscariot e Ne-crophagia continua no seu caminho de Death Metal, embora, no conjunto, falte alguma criatividade e co-erência ao disco. De facto, “Dead Land Energy” não consegue convencer quem o ouve, em grande medida porque soa sempre igual da primeira á última faixa e não acrescenta nada de novo. Ainda assim, é possí-vel destacar algumas faixas mais interessantes como é o caso de “Enourmous Hazar-dous”, “Humanjunk”, “No Purpose” e “Starboard Pan-demic”. [5/10] Rute Gonçalves

HORSEBACKGORGON TONGUERELAPSE RECORDS

Esta reedição, que chega via Relapse e recebe o nome de Gorgon Tongue, é um excelente ponto de partida para se conhecer o prolífico músico por detrás do nome Horseback. Este duplo dis-co combina Impale Golden Horn com o último (e até então limitado a cem cópias em cassete) trabalho de Hor-seback: Forbidden Planet. E é nestas duas caras presen-tes no mesmo disco, através do contrataste dentro da sua própria criação, que co-meçamos a compreender a complexidade de Jens Mil-ler. Baterista na banda pop Un Deux Trois, baterista na banda de noise-rock In the year of the Pig, guitarrista nos country Mount Moriah, entre outros projectos mais obscuros, Miller ainda ar-ranja tempo para os seus próprios projectos, sendo os dois principais, Horse-back e o homónimo. Esta rotação constante de estilos talvez seja o que torna Hor-seback tão interessante. È que, ao contrário de muitos projectos de drone, Miller consegue reciclar-se e pro-gredir noutras direcções, nunca sendo obrigado a ter de fazer malabarismos com o que já habituou o seu ou-vinte. Impale Golden Horn, o primeiro disco, já foi mui-to bem recebido pela crítica quando lançado em 2007, e é uma densa nuvem oníri-ca, um drone lento, que por vezes invoca bandas como Low, sendo o ponto alto do disco, a maravilhosa faixa Blood Fountain. O segundo disco, e como referi, o últi-mo trabalho de Horseback, é Forbidden Planet. E eis que estamos perante o lado negro de Miller. Forbidden Planet é claustrofóbico, por

vezes abrasivo, arrastando consigo uma aura negra. O uso de vozes num registo mais doom metal, sobre um leitmotif mais condensado, mais rápido, mas igualmen-te catártico, torna Forbid-den Planet um trabalho fe-nomenal para quem gosta de bandas como Robedoor ou Mouthus. Jens Miller, troca as voltas a tudo e to-dos, mostrando que o seu reportório estilístico é inter-minável. Mas não pensem que, como muitos músicos versáteis, Miller não sabe ser carne nem peixe. Se gos-tam de drone, este trabalho mostrar-vos-á como uma pessoa pode ser, e bem, muitas outras. [9.5/10] João Lemos

HIDDENDEAD LAND ENERGYRED STREAM RECORDS

Do nosso país vizinho, eis que nos chega Hrizg -uma one man band de Black Me-tal-, e o seu segundo full--length. Anthems to Decre-pitude é o nome do trabalho de onze músicas, e o seu conteúdo é um Black Metal á primeira vista bastante di-recto e sem rodeios, mas que com o progredir do álbum, acaba por revelar umas sur-presas algo interessantes. O estofo principal do álbum é um típico Black Metal de mid-tempo, com uns toques crus e ambiente gélido e de-solador q.b., contudo, Hrizg (o pseudónimo do homem por detrás do projecto ho-mónimo) consegue apimen-tar a coisa, introduzindo elementos que quebram a monotomia, nomeadamen-te e maioritariamente ele-mentos de Black Metal De-pressivo, tal como músicas (ou trechos de músicas) que caem para slow-tempo, os riffs e percussão abrandam para um ritmo repetitivo quase que ritualístico, e as

vocais elevam o seu tim-bre, tornando-se em berros e uivos melancólicos, por vezes quase que chorados, particularmente em “Into the Caves of the Earth”, a oitava faixa. Contudo, estas não são as únicas variações a nível musical presentes no álbum, visto também serem detectados alguns sinteti-zadores aqui e ali, e até al-gumas instâncias de vocais e cânticos Doom-esquos. Porém, um dos elementos talvez mais predominantes será mesmo a constante mudança de tempo, passan-do por slow-tempo, mid--tempo, e fast-tempo, por vezes até mesmo numa só musica, trazendo momen-tos de lentidão e atmosfera misantrópica que podem muito bem ser seguidos de de riffs frânticos que pu-xam ao headbang. Digna de menção é também a 9ª fai-xa, de nome “Invierno”, que apesar de pouco mais ser que um minuto e quarenta segundos de guitarra acús-tica sobreposta a um som ambiental de chuva e corvos a grasnar, é um mais-valia como adição para a varie-dade de atmosferas emo-cionais e musicais presentes neste trabalho. Resumindo, é um disco bastante agradá-vel, e com menção honrosa no que toca á variedade mu-sical. Nos dias que correm, em que existem bandas de Black Metal ao pontapé que fazem um album sobre ape-nas um ou dois riffs, varie-dade é sempre bem-vinda. [7/10] David Horta

IN FLAMESSOUNDS OF A PLAYGROUND FADINGCENTURY MEDIA

O single “Deliver Us” já in-diciava a direcção do dé-cimo álbum. “Sounds of a Playground Fading” é a pri-meira gravação dos suecos

Page 59: Infektion Magazine #04 Junho 2011

In Flames depois da saída do guitarrista fundador Jes-per Strömblad, mas o rumo da banda continua dentro dos carris. Para o bem e o para o mal - as opiniões di-videm-se. Quem tem acom-panhado a última década dos pioneiros do Death Me-tal melódico, não se desilu-dirá com o novo trabalho, pois reúne os ingredientes a que nos têm habituado: gui-tarras à la Maiden, balanço industrial da secção rítmica, refrões catchy e alguns mo-mentos mais calmos (emo?) para contrastar. A fórmula repete-se, sucessivamente, de tal forma que se torna di-fícil escolher qual o melhor single para representar o álbum. A evolução desde os primeiros álbuns é notória e há quem acuse os In Flames de terem americanizado em demasia a sua sonoridade. Há quem continue a não gostar de um wall of sound onde hoje sobressaem os sintetizadores, há quem não aprecie a maior variedade vocal hoje apresentada por Anders Friden. Acusam-nos de caírem no mainstream. Contudo, para muitos, o re-sultado é único. Para quem não aprecia a repetição, chamo a atenção para o úl-timo terço do álbum, onde sobressai um grande tema “A New Dawn”. [7.5/10] José Branco

INDIANGUILTLESSRELAPSE RECORDS

Os Indian tinham prome-tido que este novo traba-lho, o primeiro na Relapse, seria algo completamente diferente. Para tal recruta-ram Will Lindsay (Wolves in the Throne Room) para a segunda guitarra e Sean Patton para o instrumento que definiram como “noi-se”. E basta ouvir as duas

primeiras faixas para verifi-carmos que os Indian cres-ceram e muito, conseguindo uma perfeita justaposição de doom e drone. No Grace, a primeira faixa, é dos me-lhores cartões de visita que se pode apresentar: vocali-zação desesperada, bateria trucidante, guitarras behe-móticas, tudo num ritmo rápido, ofegante, com uma estranha tendência para decrescer à medida que so-mos hipnotizados pelo som. Quando damos por nós, a faixa desvanece completa-mente num drone de minu-tos levando-nos ao coração da estética de desespero e miséria que será todo este trabalho. Segue-se The Fate Before Fate, com um certo feeling de black metal em termos temáticos e vocais – ergo as influências de Will Lindsay – mas dispensando quaisquer riffs complexos, tendo sempre o cuidado de recriar um ambiente atra-vés das camadas de guitar-ra. Depois de um início tão forte, o disco torna-se lento, mais denso e menos acessí-vel, mas sempre sem nunca ter qualquer notória quebra de qualidade. Os Indian mostram ser uma banda extremamente abrasiva e com uma paixão por drásti-cas mudanças rítmicas e as próximas três faixas são um lento trotar por um pântano psicadélico onde somos, de quando em vez, abanados com um súbita cavalga-da. Por fim, depois de um pequeno preâmbulo – em forma da faixa Supplicants, uma curta instrumental acústica – o disco termina com Benality, 9 minutos de lambidelas de guitarra capazes de derreter o que ainda restava do nosso cére-bro. Guiltless consegue ser melhores trabalhos do ano – pelo menos dos que pas-saram pelos meus ouvidos – e os Indian uma excelente surpresa. Isto não é música para dançar, para abanar as gadelhas, nem sequer para ouvir continuamente, isto é a banda sonora dum pesa-

delo, ou os braços que nos embalam no sono de certas substâncias. [9/10] João Lemos

INFESTUSEX|ISTDEBEMUR MORTI

Com Ex-Ist, cujo lançamen-to ocorre três anos depois de Chroniken Des Ablebens, os alemães Infestus deram um enorme salto criativo. A faixa de abertura, Akoasma, parece ter o seu quê de at-mosférica — até certo pon-to; justo quando estamos a ficar envolvidos na melodia, eis que surge a voz do vo-calista e a música torna-se mais densa. E é aqui que a viagem começa. Sim, por-que Ex-Ist é claramente uma viagem: ao longo das faixas, a música vai-se tornando mais e mais densa, quer em conteúdo, quer em musica-lidade. No fundo, partindo de Akoasma até chegarmos a Descend Direction Void (a faixa mais envolvente e for-te do álbum), é como se par-tíssemos de um ponto vazio até chegarmos a um outro ponto onde somos comple-tamente preenchidos pela música. Se quisermos esta-belecer um paralelismo en-tre isto e o título do álbum, quase que podemos dizer que no início do álbum, a banda está a reunir ele-mentos para a sua criação e que as faixas que se seguem são o seu crescimento, até chegarmos à última, que é como que o seu «nascimen-to final». Talvez por isso este álbum soe, desde o iní-cio ao fim, como um projec-to muito pessoal, e embora os primeiros segundos do álbum não o façam prever, como que nos transporta para uma outra dimensão; uma dimensão onde a mú-sica como que se infiltra em nós, arrastando-nos para

o estado de espírito que a música pretende retratar — isto é raro e muito difícil de conseguir, pelo que deve ser sublinhado. O único defei-to a apontar a Ex-Ist é que sendo tão pessoal e con-tendo tantos apontamentos atmosféricos (embora dis-tribuídos pontualmente por todo o álbum) não há assim grandes elementos técnicos ou solos espectaculares a destacar. Ainda assim, pela viagem emocional que pro-porciona, merece sem dú-vida lugar de destaque na playlist de qualquer fã de black metal.[9/10] Vanessa Correia

KAMERA OBSCURBILDFÄNGERGRAU COLD DIMENSIONS

E agora para algo diferen-te. Fundados por Konstan-tin König (outrora Sindar, elemento proeminente da banda de Black Metal Lunar Aurora), os Kamera Obskur praticam uma sonoridade Avant garde, fortemente centrada na criação de at-mosferas obscuras. Na gé-nese deste grupo esteve a in-tenção de criar música para lá do Metal. E tal objectivo é cumprido em absoluto, efectivamente. “Bildfänger” está para lá maioria da mú-sica que qualquer um possa conhecer. Talvez por essa razão, a produção deste ál-bum tenha demorado cerca de dois anos a ser concluí-da. Ao longo dos temas que compõe o álbum de estreia desta banda alemã somos lentamente conduzidos por histórias de horror e sur-realismo. Na difícil arte da comparação, atrevemo-nos a traçar alguns paralelismos entre os Kamera Obskur com sonoridades assentes num rock bastante atmosfé-rico, com pormenores pro-gressivos e de electrónica.

Page 60: Infektion Magazine #04 Junho 2011

As vocalizações consistem em declamações em ale-mão – que podem incomo-dar os menos habituados. Apenas como referência, podemos citar os míticos In the Woods… ou Lacrimosa. Denso, criativo e original, este é um álbum intrigan-te, exigente para com o ou-vinte, por vezes ao ponto do desconforto, devido às atmosferas sombrias nele apresentadas. Contudo, di-ficilmente essa dedicação não será recompensada. Em suma, “Bildfänger” é uma excelente estreia, que espe-ramos venha a sucessores, com argumentos de idêntica qualidade intemporal.[7/10] José Branco

MONIGOCOPROMETIDOS CON LA CAUSAXTREEM MUSIC

Moñigo são uma banda es-panhola de Death Metal à moda antiga. Bruto e com alguma versatilidade. A par-te instrumental é bem pesa-da, sempre a devastar os ou-vidos com os poderosos rifs e batidas completamente alucinadas. Um dos pontos negativos mais relevantes deste álbum é a repetição sonora a nível de lead gui-tar e vocais. Por vezes aca-ba por cansar as notas nas cordas, que por vezes não parecem limpas. A massifi-cação da métrica regular do vocalista, também não é o melhor deste trabalho dos Moñigo. Na bateria a histó-ria é outra. Os ritmos e com-bos são soberbos… nota-se bastante técnica. Na faixa 7 (Coprovoyeur), ouvem-se umas strings clássicas que deram um toque engraça-do ao som. O que também foi bem consigo ao longo do álbum, foram os arranjos técnicos com trechos de di-

álogos relevantes ao tema e ao conceito do trabalho. Vê--se uma obsessão por falar de fezes durante as 13 fai-xas. Volta e meia vai parar a fezes, defecar, etc. Por um lado dá um toque de entre-tinimento, por outro é um pouco estúpido… mas no fundo não deixa de ter o seu lado cómico. No geral, não é algo de louvar, mas também não é um CD para se pôr de lado e ignorar. Pelo menos a experiência cómica e os arranjos são alguns dos mo-tivos para ouvir este álbum.[6.5/10] Davide Gravato

MORTUALIAMORTUALIAMORIBUND RECORDS

Depressive Black Metal. Outras vezes apelidado de DSBM (Depressive Suicidal Black Metal) ou até apenas Suicidal Black Metal, é um sub-género que usualmente ou se adora ou se detesta, ou que até se questione a legi-timidade como sub-género genuíno.Seja como seja, a questão é que Mortualia é-o em toda a sua comple-ta essência. Da Finlândia chega-nos Mortualia, o pro-jecto a solo de Shatraug, provavelmente mais co-nhecido pelo seu trabalho em bandas mais prolíferas como Horna, Sargeist, ou até Behexen, apresenta-nos aqui o seu primeiro full--length, de 2007, também intitulado Mortualia. O ál-bum apesar de ser consti-tuído por apenas 6 trilhas, uma delas de bónus, corre durante pouco mais que uma hora, sendo mais de metade das músicas para cima de catorze minutos de duração. A musicalidade é tudo aquilo que se poderia esperar de um trabalho de DSBM ferranho; músicas de slow-tempo, com guitarras

arrastadas e percussão algo abafada, estas duas sendo durante grande parte do tempo, bastante consisten-tes na rua rítmica, criando como que uma atmosfera profunda e quiçá como que ritualística, devido ao fac-tor de repetição. As vozes, como seria de esperar, são agudas e gritadas, rasgando com desespero e angústia a atmosfera mais melancó-lica por vezes criada com riffs mais melódicos. Por vezes os uivos tornam-se tão estridentes que até lem-bram um pouco os da banda Aaskereia, (in)famamente conhecida pelo seu vocalista que berra e uiva de manei-ra bastante insana. Contu-do em grande parte do ál-bum, as vozes são deixadas de parte, havendo imenso tempo para o instrumental criar a atmosfera pretendi-da de desolação e solidão, os cânticos de Shautrag fazendo apenas aparições ocasionais, e usualmente condensadas em certa par-te da música. Um grande factor deste álbum é a atrás referida repetição. Grande parte dos ritmos e riffs, as-sim como melodias são “re-ciclados”, por assim dizer, ao longo das várias músicas do álbum, e apesar do fac-to de isto ser uma técnica bastante favorecida pelas bandas deste género como modo de criar atmosfera e ambiente tanto musical como emocional, tal repe-tição poderá alienar alguns ouvintes, particularmente aqueles que sejam fãs me-nos aguerridos deste sub--género, tornando esta obra como que mais dirigida aos que já mantêm este género de música como preferên-cia, o que discutivelmente poderia ser um dos pontos fracos do álbum. Preferên-cias á parte, o que tal mono-tomia por vezes cria é como que o mergimento das dife-rentes trilhas, fazendo pare-cer que todas as músicas são uma só, tornando bastante difícil realizar distinção en-

tre as mesmas, o que mais uma vez, discutivelmente poderá ser uma desvanta-gem. Resumidamente, isto foi o primeiro trabalho de um projecto a solo de um músico de estatuto de certa forma estabelecido, e ape-sar de ser um trabalho bas-tante sólido, notam-se algu-mas arestas a limar. Deverá certamente agradar a fãs do género,e quem sabe, com sorte, converter alguns.[6.5/10] David Horta

NOIDZO PASTORMATCHBOX PRODUÇÕES

E se alguém pegasse n’ “A Cantiga do Pastor” dos Ma-dredeus, a misturasse com elementos electrónicos e por fim, lhe juntasse umas guitarras bem pesadas? Ou até pegar em gaitas de foles, misturá-las com grooves trance e ainda lhes juntarem elementos mais familiares a ouvidos metaleiros? Pare-cem ideias rebuscadas, não? Mas foi exactamente isso que os Portugueses Noidz fizeram! Esta banda, que já anda no meio há alguns anos, presenteia o público português com ideias novas, quebrando várias barreiras artísticas e musicais, fun-dindo que, aparentemente não se pode fundir. Mas eles fizeram-no e bem! A faixa “Songs of Earth”, a qual já conheço há alguns anos, provoca-me sensações as quais não sei descrever. Di-gamos que é do génereo de uma “bipolaridade musical” que poucas bandas/músi-cas me provocam. Quando ouço Noidz, não sei se hei--de ir para o Boom Festival ou ir para o meio de uma pista, fazer um headban-ging e andar numa roda de mosh. Sem dúvida, os Noidz trazem algo de diferente no

Page 61: Infektion Magazine #04 Junho 2011

panorama musical nacional e quem procura coisas dife-rentes e novas, sem dúvida alguma não se vai arrepen-der de os ouvir, onde quer que seja! Seja numa pista de dança, seja num bar escure-cido pelas suas paredes de pedra e pelos trajes dos que o frequentam.[8/10] Narciso Antunes

PANYCHIDAMOON, FOREST, BLINDING SNOWFOLTER RECORDS

Os checos Panychida lança-ram o álbum “Moon, forest, bliding snow” em 2010, intitulando-se como Metal Pagão. Eu acho de loucos ouvir este álbum. Como é que se pode passar de um ritmo enormíssimo, para música celta? Da maneira que está disposto, é um bre-ak total. Por outro lado é de louvar as mudanças, pois a diversidade só agrega. Pos-so dizer-vos já, que é um dos motivos para ouvir o álbum, a variedade. É incrivelmen-te bruto, tendo partes mais suaves e world cultural no meio. Estes Panychida de-vem tocar pelo menos a 170 bpms ao pequeno-almoço. É pelo menos algo que não se pode ignorar ao longo das faixas, a velocidade. Props para o baterista! Quanto às vozes, fiquei pasmado, ape-sar de não ser o maior apre-ciador de vozes agudas, que prevalecem nos sons, estes checos conseguiram dar um toque menos irritante, e so-brepor algumas vocals gra-ves para equilibrar. Props para o vocalista! Os gui-tarristas Sinneral e Honza fizeram também um acom-panhamento crucial para a boa construção do projecto. As estruturas são incrivel-mente variadas e versáteis. São notáveis as passagens

de humor nas guitarras, e é fluidamente que a músi-ca decorre, sem dar para notar a mudança de ritmo. Props para os guitarristas! Notam-se várias influências de outros tipos de Metal, e até de Old Rock em algumas faixas, dando por vezes um toque clássico a certos sons. Reparem também nas vozes clérigas, e como disse an-tes, contem também com a diversidade e mudanças re-pentinas de estilo. Oiçam e props para os Panychida.[9/10] Davide Gravato

RED FANGMURDER THE MOUNTAINSRELAPSE RECORDS

É invejável a energia que transmitem alguns álbuns desde a primeira audição pela quantidade de riffs pe-gajosos que insistem em não querer sair da cabeça por algum tempo e começam a fazer moça se não lim-parmos a consciência com um pouco mais do mesmo veneno. Digamos que isso acontece neste “Murder the Mountains”, segundo re-gisto de longa-duração dos norte-americanos Red Fang e que é mais uma boa aposta na área do Stoner da Relap-se Records, onde salta logo à memória outros nomes no elenco como High on Fire ou Howl. O início de “Mal-verde”, o primeiro tema deste trabalho é simples-mente mágico e dá o pon-tapé de partida da melhor maneira para um grande trabalho de Groove por par-te linha de guitarras, cor-tesia da dupla constituída por Maurice Bryan Giles e David Sullivan que também participam na parte vocal. “Wires”, “Human Herd” e “Dirt Wizard” são outras malhas para desfrutar da melhor maneira o som deste

quarteto. Destaque também para a psicadélica e mais lenta “The Undertow” que vai beber muito à fonte do Sludge e ao momento inicial de bateria de “Painting Pa-rade” que é um dos temas mais fortes da dezena que aqui se apresenta. De resto, mais nada a dizer a não ser ouvir, sentir o espírito até bastante roqueiro que aqui reside e porque não…. aba-nar a cabeça um bocadinho.[8.5/10] Bruno Farinha

SARKOMEXIT TERRAFOLTER RECORDS

Os noruegueses Sarkom nasceram em 2002 e lança-ram até ao momento, dois álbuns, uma Demo e dois EPs. A banda revela um es-tilo de Black Metal muito próprio, marcado instru-mental muito interessante, que apesar da agressividade que contém, tem também uma forte componente me-lódica. O seu último traba-lho, “Exit Terra” é compos-to por apenas duas faixas: “Exit Terra” e “Hallucina-ting the Superior Psycholo-gist”, que, com uma duração aproximada de 10 minutos, conseguem captar a atenção de quem ouve, abrindo a apetite para mais. De facto a sensação com que se fica depois de ouvir “Exit Terra” é que duas faixas não são, de forma alguma, suficien-tes. Juntando membros de bandas como Phantheon I, Trollfest, Koldbran ou 1349, os Sarkom não foram ainda devidamente reconhecidos no panorama Black Metal, mas demonstram ter poten-cial suficiente para o serem, muito em breve. Vale a pena ouvir.[8/10] Rute Gonçalves

SEVEN WITCHESCALL UPON THE WICKEDMASSACRE RECORDS

Quatro anos depois do lan-çamento de “Deadly Sins”, os norte-americanos Seven Witches regressam agora com o 8º álbum da sua já longa carreira. Fundados em 1998 pelo guitarrista Jack Frost e tendo já pas-sado por uma série de di-ferentes line-ups ao longo dos anos, a banda regressa em força com James Rivera na voz, Frost na guitarra, Mike Lepond no Baixo e Tazz Maraz na bateria. “Call upon the wicked” é um dis-co de puro Heavy Metal, repleto de guitarras rápidas e riffs cheios de Groove em brilhante combinação com as letras épicas e a pode-rosa performance vocal de Rivera. A banda revela toda a sua força em temas como “Field of fire”, “Lilith”, “End of days”, “Harlot of Troy”, “Mind Game” e “Eyes of Fame” (muito ao jeito de uns “Judas Priest”). O dis-co inclui também “White Room”, uma versão dos “Cream”. De uma maneira geral, “Call Upon The Wi-cked” é um registo essen-cial para os apreciadores de Heavy Metal e em especial, para os fãs dos Seven Wi-tches, que mais uma vez não deixam os seus créditos por mãos alheias e não de-siludem. Vale a pena ouvir.[8/10] Rute Gonçalves

STORMWARRIORHEATHEN WARRIORMASSACRE RECORDS

Page 62: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Os alemães “Stormwarrior” regressam em 2011 com o quinto álbum da sua car-reira: “Heathen Warrior”. A banda nascida em 1999, sob a liderança de Lars Ra-mcke, combina verdadeiros hinos de Heavy Metal com os conceitos e imagens li-gados á mitologia nórdica e a sua inspiração está for-temente ligada ao Heavy Metal dos anos 80 e a ban-das como “Running Wild” e “Helloween”. “Heathen Warrior” começa com um curto tema instrumental “…Og Hammeren Heaves Til Slag…” para logo de se-guida, abrir caminho para várias faixas fortes e enérgi-cas, com especial destaque para “The Ride of Asgard”, “Heirs to the fighte”, “Bloo-de to bloode”, “Fyre & Ice (uma das minhas preferi-das do álbum), “Ravenhe-art” e “The Valkyries Call”. O disco pode não ser uma obra-prima absoluta, nem primar pela originalidade, mas mantém os Stormwar-rior no seu registo habitual e sempre fiéis ao estilo que os caracteriza, dando como sempre grande protagonis-mo ao Heavy Metal clássico. Perfeito para os fãs deste estilo.[7/10] Rute Gonçalves

THE SIGN OF THE SOUTHERN CROSSI CARRY THE FIRESEASON OF MIST

Nascidos em 2005, na Caro-lina do Norte, os “The Sign of the southern cross” são uma banda de Metal, forte-mente inspirada no chama-do “Southern Rock” e com claras influências de bandas como Corrosion of Confor-mity, Pantera, Down, Thin Lizzy, Lynird Skynird ou Led Zeppelin. O seu mais recente trabalho “I carry the fire” é um EP com apenas

três faixas, mas que emana uma força e uma convicção que são absolutamente irre-sistíveis. O primeiro tema, com o mesmo título do EP, consegue arrebatar logo nos primeiros segundos. É forte, pujante, eléctrico. “If you find yourself looking back”, o segundo tema do alinhamento, surpreende pelo brilhantismo das gui-tarras, cheias de poder e muito “feeling”, não esque-cendo a fantástica perfor-mance vocal de Seth Uldri-ck. Simples mas sublime. “Doomswagger” regressa ao metal frenético e fecha o EP com chave de ouro. De-pois de “Of mountains and Moonshine”, o seu primeiro registo discográfico, os “The Sign of the southern cross” regressam com toda a ener-gia e em grande estilo. Exce-lente trabalho![9/10] Rute Gonçalves

URBAN TALESLONELINESS STILL IS THE FRIENDCOMPACT RECORDS

“Loneliness Still Is The Friend” dos portugueses Urban Tales é um álbum que apresenta diversidade de pormenores e que ganha dimensão com a extraordi-nária profundidade de voz de Marcos César. É impos-sível ficar indiferente à at-mosfera criada por esta voz. A comparação com nomes eternos do rock gótico é ine-vitável e a banda não sai a perder. O álbum possui sem dúvida muita personalidade e intimismo, apresentando ainda surpresas como o ins-trumental que apoia o poe-ma declamado por Vítor de Sousa.[9/10] Mónia Camacho

URGEHALDEATH IS COMPLETEFOLTER RECORDS

Com mais de dez anos de carreira, e seis full-lengths debaixo do cinto, os Urgehal dispensam de quaisquer apresentações. Sempre fiéis ao seu próprio sabor de Bla-ck n’ Roll duro, puro, e cru, este esquadrão norueguês, um ano após o seu último álbum de nome Ikonoklast, presenteia-nos com um pe-queno EP de apenas duas músicas e 7:15 minutos de duração intitulado Death is Complete. Não descurando do seu estilo habitual, estas duas músicas contudo, pou-co passam disso. Fãs de Ur-gehal não descobrirão nada de novo, e no que toca a desconhecedores, provavel-mente ficariam com melhor impressão da banda se deci-dissem ficar-se por um dos álbuns anteriores, sendo ele um Ikonoklast ou até um Goatcraft Torment, álbuns esses que, estranhamente, parecem até ter uma produ-ção sonora um pouco me-lhor que a de este EP. “De-ath is Complete” e “Beyond the Nightmare”, as duas fai-xas deste trabalho, apesar de serem sólidas, parecem carecer um pouco da inspi-ração e quiçá substância e groove presente em grande parte no longo repertório da banda. Nada de mau, mas também nada de indispen-sável ou fantástico.[5.5/10] David Horta

UTOPIAN.HOPE.DYS-TOPIAN.NIHILISMPACT WITH SOLITUDEAUTOR

Nas distâncias que nos iso-lam existem ecos em co-mum, ecos preenchidos que nos aproximam, ecos musi-cais de além-mar. É nesse isolamento que fervilham bandas ansiosas por exis-tir, por serem e darem-se ao público amante do gé-nero. O cenário começa aos poucos a ressuscitar de uma quase extinção sonora, de um vazio em surdina, ape-nas quebrado por quem já existia e se mantinha firme nos raros palcos. Estes últi-mos anos foram fulcrais na solidificação sonora de di-versos projectos, e consoli-daram-se grandes sons nos mais diversos estilos. É nes-te panorama que surge um dos projectos mais carica-tos da Madeira - “Utopian.Hope.Dystopian.Nihilism” - projecto a solo que vê a “luz do dia” através da mente de Élvio Rodrigues, músico multi-instrumentista, que apresenta a público “Pack With Solitude”, álbum de estreia do seu projecto. O trabalho divide-se em 4 lon-gas faixas, conceptualmente desdobradas em diversos momentos, como se fossem sub-capítulos do tema em si. Histórias dentro de his-tórias, que marcam e distin-guem atmosferas diferen-tes, sentimentos distintos que se interligam e recupe-ram constantemente numa subtil arte de modulação.Assente essencialmente no trabalho das guitarras e do piano, as sonoridade assumem-se complexas e variadas, onde momentos mais calmos são quebrados por jorros fortes e gélidos, onde guturais crus surgem e desaparecem na jornada espiritual de cada melodia. À diversidade sonora junta--se uma riqueza rítmica e estrutural, que apesar da qualidade caseira da gra-vação não deixa de ser um agradável registo musical, e esperemos: o primeiro de muitos.[7/10] Catarina Silva

Page 63: Infektion Magazine #04 Junho 2011

WINTERUSIN CARBON MYSTICISMLIFEFORCE RECORDS

Vindos de Michigan, EUA, a banda de usbm Winterus (formados em 2009, sob o nome The Ancient) apre-sentam aqui o seu primeiro full-length de nome “In Car-bon Mysticism.” Almas mais puristas geralmente dirão que na América é impossí-vel fazer bom Black Metal, e referências aqui a alguns projectos proeminentes de usbm tal como Leviathan ou Judas Iscariot seriam pertinentes para desacredi-tar tal afirmação, contudo, Winterus distancia-se um

pouco dos mesmos, enven-drando por um caminho mais atmosférico, bebendo claramente influências da fonte do Post-Rock e até do género bastante euro-peu por vezes apelidado de “Blackgaze”, a mistura de Black Metal e Shoegaze, re-centemente impulsionado e popularizado por bandas tal como Alcest e Amoeseurs, deste modo a que uma com-paração mais acertada seria uma em relação a Wolves in the Throne Room, de Wa-shington. A própria banda os enumera como uma das suas principais influências, outras entre elas sendo Ens-laved, Immortal, e até In Flames. In Carbon Mysti-cism é um álbum acima de tudo coeso e orgânico. Não seguindo muito as tendên-cias deste tipo de Black Me-tal, as músicas quase todas

fluctuam entre aproximada-mente três e quatro minu-tos de duração, sendo nove ao todo, três dessas grava-das ao vivo. Seria de pensar que tal curta duração das músicas fosse prejudicial ao aspecto atmosférico da musicalidade, contudo cada música tem semelhanças suficientes com a anterior para que se interlacem de uma forma algo orgânica, sem contudo tornar o ál-bum maçador ou repetitivo. É dado bastante espaço ao instrumental para respirar e criar atmosfera, sem se en-contrar sufocado sob as vo-calizações, que ao invés de se quererem sobrepor, pa-recem mergir-se na massa de som. Riffs orelhudos de Black Metal cru encontram--se de mão dada com guitar-radas mais arrastadas remi-niscentes de Post-Rock ao

longo de grande parte das músicas, criando aqui uma dualidade bastante interes-sante, cuja profundidade apenas se adensa ao longo do Álbum. As faixas Eternal Ghost e No Rest são segura-mente highlights no álbum. Recomendado a qualquer fã de Black Metal Melódico e/ou Atmosférico.[7.5/10] David Horta

Page 64: Infektion Magazine #04 Junho 2011

À chegada ao Music-box já ressoava nas paredes o poder de

Löbo com o seu ritmo lento e hipnótico com uma audiên-cia composta a acompanhar a sórdida batida deste co-léctivo português. Ao vivo, eles conseguem prender a audiência através do seu som que vai pegar muito ao Sludge, ao Doom e também ao Post-rock mas com bas-tante originalidade mistu-ram influências e criam algo para ser apreciado decidi-damente ao vivo pela força que a musica ganha e pela dedicação que os elemen-tos demonstram em palco. Tanto o tema mais recente “Nöite” como as peças reti-radas de “Älma” abriram o apetite para o prato princi-pal, ementa que surpreen-deu muita gente e conquis-tou sem dúvida a plateia. Estou a falar dos alemães Long Distance Calling que abriram com o tema inicial do novo álbum homónimo, denominado “Into the Black Wide Open” e começou logo a espalhar a magia com que o rock instrumental deste brilhante grupo encanta o público. O novo álbum foi tocado quase na íntegra fal-tando apenas os dois últi-mos temas deste e todas elas ao vivo fincionam extrema-mente bem com destaque para a mais intensa e rapida “Arecibo” e para o trabalho do baixista Jan Hoffman em

“Timebends”. Do resto, era literalmente fechar os olhos e deixar a paisagem sonora fluir para abrir de vez em quando e ver todos os mú-sicos imersos nela enquan-to iam soltando as notas do palco com uma cara extre-mamente sorridente pela forma como o povo portu-guês os acolheram. Sempre comunicativos e atentos ao que se passava cá em baixo, os germânicos foram buscar ainda ao baú de trabalhos antigos temas como “Au-rora”, “I Know you, Stan-ley Milgram” e “Metulsky Curse Revisited”. No final, houve tempo para um enco-re em que mais um sorriso sincero apareceu nos lábios da banda, quando alguém da audiência gritou “Black Paper Planes” que em re-torno o grupo dedicou esse tema, encerrando o exce-lente espectáculo propor-cionado e dando asas ao fantástico talento do bate-rista Janosch Rathmer.

Texto: Bruno FarinhaFotografia: Liliana Quadrado

Page 65: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Estava prometida uma boa festa para os amantes de sonorida-des mais viradas para o core em

Setubal, com um cartaz recheado de bandas da “casa” e dos escoceses Ble-ed from Within. Calhou aos Blame the Skies abrirem as hostes de forma com-petente e com bastante garra fazendo abanar algumas cabeças dos presen-tes. Esta banda tem uma característica particular que refresca um pouco a so-noridade do estilo, a dualidade de uma voz mais aguda e de outra mais grave do par de vocalistas, Pedro e Alex, aju-dados pelo baterista Diogo que tam-bém empresta a sua voz. Seguiram-se os Before the Torn a espalhar um som com mais Groove, muita ginástica de palco e de maneira descontraída a conseguiram providenciar um bailari-co entre a audiência, apoiando muito o seu set no seu último registo “The

Serpent Smile”, mas com algumas via-gens a “Burying Saints”. Os Hills Have Eyes encerraram a comitiva setuba-lense da melhor maneira atacando os temas do seu longa duração de estreia, “Black Book”, acompanhados por al-guns momentos de stage diving, com uma linha de guitarras bem evidente e alguma comunicação com o público. Para acabar da melhor forma a noite, os cabeças de cartaz Bleed from Wi-thin entraram em palco….e espalha-rem o caos. O seu deathcore muscula-do com um Groove forte e intenso fez tremer as fundações do Capricho Se-tubalense com a ajuda dos presentes que batiam o pé fortemente ao ritmo da banda escocesa. Temas como “The Novalist” ou “Servants of Divinity” co-meçaram a desencadear uma reacção explosiva com muito suor e energia envolvida, com a banda a não dar des-

canso qualquer. Pena a curta duração da actuação por causa de algo bem ca-ricato, pois ao abandonarem o palco a audiência mostrou-se bem apática e depois de os aplausos fez-se silencio. A banda ainda veio meio despercebida atrás dos apetrechos de palco chamar a atenção à fila da frente para fazerem barulho, mas como tal não aconteceu, não se fez encore e acabou tudo ali…..é pena.

Texto: Bruno FarinhaFotografia: Liliana Quadrado

Page 66: Infektion Magazine #04 Junho 2011

No Musicbox, calhou aos Before the Torn começa-rem o concerto, integrado na “2-way co-headline tour”, onde a ordem das duas bandas presentes

em cartaz ia rodando pelos vários concertos ao longo do país. Com uma plateia bem composta, a banda oriunda de Setubal, iniciou as hostes com “Cosmopolitan Dea-thwish” arrancando logo uma boa reacção do público, onde se notava que estavam ali fans do colectivo que cantavam e apoiavam os elementos. A banda esteve bas-tante possante até com momentos de pura ginástica por parte do baixista Bruno Matos. Guilherme Henriques gritou com alma num set mais apostado em apresentar o último trabalho do conjunto setubalense com “Last Night’s Nightmare”, “The Spirits” e “Remember Sep-tember” a mostrarem-se bons temas para ser tocados ao vivo. Houve umas visitas a “Burying Saints”, uma delas cantada por um elemento do público e ainda um convite a Vasco Ramos (Vocalista dos More than a Thousand) para cantar “My Pray” em palco, tema onde ele partici-pa no último registo, mas infelizmente não foi possível a sua participação. Seguiram-se os We are the Damned com uma presença em palco mais directa e agressiva tal como a música que tocam. “Holy Beast” foi o novo traba-lho no qual se baseou a sua actuação, desfilando temas como “Serpent”, “Vengeance Havoc” ou “O Devorador dos mortos”. Destaque para Ricardo Correia, guitarrista da banda que agora tomou comando da voz que repre-senta o conjunto Lisboeta depois da saída da fantástica Sofia Loureiro, pela sua prestação e frenética dedicada apenas ao microfóne. “Thrill to Kill” do primeiro disco “The Shapes of Hell to com” não podia ter faltado e foi um ponto alto do concerto. Boa noite de música feita em território Luso. // Texto: Bruno Farinha

Quem adora música ao vivo e gosta de a ver ganhar vida em palco às vezes apanha de-

silusões é verdade, mas por vezes é recompensado com bons momentos que perduram pelas emoções que demonstram. Pertencendo ao segun-do grupo esta noite acabou por ser utópica, já passo a explicar porquê. Antes que tudo apontar a surpresa que foi ouvir os Gordo, banda espa-nhola oriunda de Badajoz que prati-ca uma sonoridade bastante rockeira com tendências Stoner e que perante a sua atitude descontraída conquis-tou adeptos na audiência que ainda se encontrava um pouco despida para o que viria ser depois, mas aco-lhedora e a seguir o que se passava em palco com atenção. Seguiram-se os The Spiteful, grupo leiriense, que já nos habituou a actuações coesas e

que passaram o seu tempo de palco a demonstrar o trabalho”Persuasion Through Persistence” que consiste num híbrido de thrash com muito groove e que proporcionou um belo bailarico. E agora sim eu passo a ex-plicar utopia do que viria a seguir, é que na maior parte dos concertos há um pouco a barreira banda/publico mesmo que haja bastante comunica-ção entre as duas partes. Essa bar-reira simplesmente aqui não existiu, muito pelo facto de os Switchtense estarem a tocar para o seu público e em sua “casa” é verdade, mas a simbiose que se vislumbrou naque-la hora de concerto não se muitas vezes, mesmo com as condições re-feridas. Stage Diving ate não poder mais, mosh pit do duro, o concerto todo com a cara dos presentes estam-pada de alegria, tanto banda como

público. Todos desfrutavam ao má-ximo enquanto se ouviam temas do novo álbum homónimo do grupo da Moita, como “Face Off”, “In Front of your Eyes”, “Unbreakable” ou “Scars of Attittude” com o vocalista Hugo sempre a comunicar e a comentar o que se passava à sua frente. Houve tempo para ouvir temas do “Con-frontation of Souls” como “Second Life” ou a espectacular “Infected Blood” que início ao fim do concer-to. Cantou-se também parabens ao guitarrista Neto que fazia anos. Foi simplesmente assombroso o que se vivou no In Live Cafe! Obrigado aos Switchtense e as restantes bandas por uma noite muito bem passada.

Texto: Bruno FarinhaFotografia: Liliana Quadrado

Page 67: Infektion Magazine #04 Junho 2011

Uma dose maciça de ultaviolên-cia. Foi o prometido pelos Bi-zarra Locomotiva, e foi o que

aconteceu. Cacilhas foi a estação onde a Locomotiva parou, desta vez no bar Revolver. Os The Antic Groove aque-ceram a noite, abrindo as hostes com muito rock-n-roll e boa onda. O públi-co aqueceu e preparou-se para o que aí vinha. Quando os primeiros acordes soaram, já nada parou a Locomotiva, sempre a fundo até ao final do concer-to. O espaço, muito bem composto, proporcionou uma grande proximida-de entre os músicos e os fãs que, como habitualmente, estavam preparadís-simos para libertar grandes doses de energia. Em palco, a banda e o público tornam-se um só, fundindo-se entre a guturalidade sonora e o suor provoca-do por músicas a fio com emoções em alta, e o corpo a responder. O alinha-mento, que passou por vários álbuns da banda, contou também com o tema “Se Me Amas”, um original dos Xutos e Pontapés, muito bem transposto para a onda metal-industrial de Bi-

zarra Locomotiva. “O Anjo Exilado”, “Apêndices” ou “Egodescentralizado” foram outros temas que não faltaram, para júbilo dos presentes. Já com 18 anos de carreira e uma grande legião de fãs, a banda continua a dar gran-des prestações ao vivo e deram tudo em palco.

Estivemos à com Miguel Fon-seca (guitarra) e Rui Berton (bateria).

Diz uma banda que te tenha ins-pirado a ser músico.MF – The Beatles.RB – Iron Maiden.

Qual é a música que mais prazer te dá tocar ao vivo?MF - A música que faço.RB – Ergástulo.

Se a Locomotiva não fosse Bizar-ra, o que seria?MF - Se não fosse Bizarra não seria. Ou então era apenas mais uma igual

às outras...RB - Estranha. Alguma coisa de dife-rente tinha que ser.

Em que estação a Bizarra Loco-motiva nunca irá parar?MF - Difícil prever... Uma vez que en-tramos nela, nunca se sabe onde nos pode levar...RB - Só pára quando não fizer sentido.

Texto, Fotografia e Flash Interview:Íris Jordão

Page 68: Infektion Magazine #04 Junho 2011