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45 I N D I C A D O R E S por Thiago Romero Empresas industriais no Brasil dão pouca importância à inovação COM BASE EM DADOS DA PINTEC 2003, ESTUDO REVELA QUE DAS 28.036 QUE INOVAM SOMENTE 4.941 (17,6%) INVESTIRAM EM ATIVIDADES INTERNAS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Apenas 17,2% das empre- sas consideradas inovadoras em 2003 percebiam a P&D interna como uma vantagem competitiva. Essa informação é coerente com o volume de investimentos em atividades inovativas realizadas no mes- mo ano: considerando que a atividade que gera maior capa- citação tecnológica é a reali- zação de P&D, das 28.036 empresas industriais brasi- leiras que realizaram pelo menos uma inovação tecnoló- gica, entre 2001 e 2003, somen- te 4.941 (17,6%) investiram em ativida- des internas de pesquisa e desenvolvi- mento em 2003. Os investimentos decla- rados por essas 4.941 empresas alcan- çaram R$ 5,1 bilhões no ano em questão. Os dados fazem parte do estudo "Inovação tecnológica no Brasil — A indústria em busca da competitivida- de global", que tem o objetivo de mos- trar o engajamento do setor produtivo com questões relativas à inovação tec- nológica. O levantamento foi baseado nos dados da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), de 2003, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2005, com informações sobre 84.262 empre- sas distribuídas em 91 atividades indus- triais. Os resultados foram organizados no livro de mesmo título, lançado pela Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei) no final de outubro, em Brasília. Os autores são os economistas Roberto Vermulm, Mauro Arruda e Sandra Hollanda. O trabalho mostra que, apesar de o Brasil atualmente dispor de uma gran- de variedade de novos mecanismos de apoio, criados segundo as boas práti- cas internacionais, e de um volume de recursos bastante expressivo para apoiar o desen- volvimento tecnológico, ganhos reais para as empre- sas ainda não são verificados. "O governo infelizmente tem grandes dificuldades em operar seu aparato institucio- nal. As políticas de estímulo à inovação foram criadas, mas pouco divulgadas e, portanto, são pouco utilizadas pelas com- panhias nacionais. Apesar de ter sido competente em iden- tificar as necessidades dessas novas políticas, o governo ainda não definiu prioridades para sua implemen- tação", explica Roberto Vermulm, pro- fessor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o setor empresarial brasileiro também não consegue adotar estraté- gias mais ofensivas e não dá maior importância à tecnologia como arma competitiva e de conquista de novos mercados. O resultado é que o investimento bra- sileiro em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) permanece redu- Jaquelina Lacerda faz testes com nanotecnologia em fábrica da Braskem Eneida Serrano

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I N D I C A D O R E S

por Thiago Romero

Empresas industriais no Brasil dão pouca importância à inovação

COM BASE EM DADOS DA PINTEC 2003, ESTUDO REVELA QUE DAS 28.036 QUE INOVAM SOMENTE 4.941 (17,6%) INVESTIRAM EM ATIVIDADES INTERNAS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

Apenas 17,2% das empre-sas consideradas inovadorasem 2003 percebiam a P&Dinterna como uma vantagemcompetitiva. Essa informaçãoé coerente com o volume deinvestimentos em atividadesinovativas realizadas no mes-mo ano: considerando que aatividade que gera maior capa-citação tecnológica é a reali-zação de P&D, das 28.036empresas industriais brasi-leiras que realizaram pelomenos uma inovação tecnoló-gica, entre 2001 e 2003, somen-te 4.941 (17,6%) investiram em ativida-des internas de pesquisa e desenvolvi-mento em 2003. Os investimentos decla-rados por essas 4.941 empresas alcan-çaram R$ 5,1 bilhões no ano em questão.

Os dados fazem parte do estudo"Inovação tecnológica no Brasil — Aindústria em busca da competitivida-de global", que tem o objetivo de mos-trar o engajamento do setor produtivocom questões relativas à inovação tec-nológica. O levantamento foi baseadonos dados da Pesquisa Industrial deInovação Tecnológica (Pintec), de 2003,divulgada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) em 2005,com informações sobre 84.262 empre-sas distribuídas em 91 atividades indus-triais. Os resultados foram organizadosno livro de mesmo título, lançado pelaAssociação Nacional de Pesquisa,Desenvolvimento e Engenharia dasEmpresas Inovadoras (Anpei) no finalde outubro, em Brasília. Os autores sãoos economistas Roberto Vermulm,Mauro Arruda e Sandra Hollanda.

O trabalho mostra que, apesar de oBrasil atualmente dispor de uma gran-de variedade de novos mecanismos deapoio, criados segundo as boas práti-

cas internacionais, e de umvolume de recursos bastanteexpressivo para apoiar o desen-volvimento tecnológico,ganhos reais para as empre-sas ainda não são verificados.

"O governo infelizmentetem grandes dificuldades emoperar seu aparato institucio-nal. As políticas de estímulo àinovação foram criadas, maspouco divulgadas e, portanto,são pouco utilizadas pelas com-panhias nacionais. Apesar deter sido competente em iden-tificar as necessidades dessas

novas políticas, o governo ainda nãodefiniu prioridades para sua implemen-tação", explica Roberto Vermulm, pro-fessor da Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade (FEA)da Universidade de São Paulo (USP).Para ele, o setor empresarial brasileirotambém não consegue adotar estraté-gias mais ofensivas e não dá maiorimportância à tecnologia como armacompetitiva e de conquista de novosmercados.

O resultado é que o investimento bra-sileiro em atividades de pesquisa edesenvolvimento (P&D) permanece redu-

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zido quando comparado a outras eco-nomias em desenvolvimento. O Brasilocupa atualmente a quinta posição naaplicação de recursos na área, com US$12,2 bilhões, atrás da China (US$ 84,6bilhões), Coréia (US$ 24,4 bilhões), Índia(US$ 20,7 bilhões) e Rússia (US$ 16,9bilhões). A distância que separa o Brasildos países que mais investem em tec-nologia se justifica, principalmente,pelo surgimento de novos atores no cená-rio internacional da P&D que, num cur-to espaço de tempo, passaram à frentedo Brasil e começaram a se distanciarde maneira preocupante. São os casosde China, Índia e Coréia.

CONCENTRAÇÃO DE INVESTIMENTOSDe acordo com dados da Conferên-

cia das Nações Unidas sobre o Comércioe o Desenvolvimento (Unctad), em 2002,os investimentos em P&D estavam con-centrados em poucos países: só osEstados Unidos respondiam por maisde 25% do total. No ranking mundial dos

países em desenvolvimento, apenasChina, Índia e Coréia apareciam entreos dez países que mais investiam emP&D, sendo eles os grandes responsá-veis pela queda da participação dasnações desenvolvidas nos investimen-tos mundiais: de 97% em 1991, para 91%em 2002. No mesmo período, cresceu de2% para 6% a participação dos paísesem desenvolvimento da Ásia em P&D.

Ainda segundo a Unctad, entre 1996e 2002, enquanto os países asiáticosforam os responsáveis por mais de 2/3do crescimento dos investimentos emP&D dos países em desenvolvimento, aregião da América Latina e do Caribeteve sua participação reduzida de 21%para 16%, a maior queda observada emtodas os continentes no período. ParaRoberto Vermulm, os instrumentos domarco regulatório atual brasileiro, entreeles a Lei de Inovação e a subvenção eco-nômica direta às empresas, por si só,não induzem a realização de inovaçãopelo setor privado. Eles apenas servem

de apoio às iniciativas empresariais aoreduzirem os custos e os riscos da P&De da inovação.

"Quando alguns empresários sãoquestionados se eles inovam em fun-ção dos incentivos governamentais,a resposta quase sempre é negativa.A maioria afirma, com toda a fran-queza, que são motivados à inovaçãoapenas pela possibilidade de novosganhos financeiros, independente-mente da postura do governo. Comnovos produtos no mercado eles con-seguem sair na frente de seus concor-rentes e é justamente essa diferencia-ção que traz rentabilidade", concluiVermulm, ressaltando que a falta deincentivos não deve impedir o incre-mento da inovação.

No Brasil, o financiamento públicoàs atividades de pesquisa e desenvolvi-mento ainda é reduzido. Até a regula-mentação da Lei de Inovação Tecnoló-gica, em 2005, os investimentos dire-tos nas empresas brasileiras eram extre-

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A criatividade dos funcionários pode ser

um quesito chave para a inovação numa empresa

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mamente limitados. Em seu artigo 1º, alei estabelece "medidas de incentivo àinovação e à pesquisa científica e tecno-lógica no ambiente produtivo, com vis-tas ao alcance da autonomia tecnológi-ca e ao desenvolvimento industrial dopaís". O objetivo é facilitar a interaçãoentre as universidades e as empresas,de modo a estimular o desenvolvimen-to de produtos e processos inovadorespelas empresas brasileiras.

Entre os diversos mecanismos dalei, merece destaque o instrumento dasubvenção econômica, que prevê o apor-te de recursos públicos não-reembolsá-veis diretamente às empresas inovado-ras, desde que elas executem projetos deinteresse do governo federal. O valor dasubvenção é definido anualmente pormeio de portaria interministerial e terácomo fonte de recursos o Fundo Nacionalde Desenvolvimento Científico eTecnológico (FNDCT).

Isso explicaria o fato de, em 2003,apenas 18,7% das empresas inovadorasterem recebido apoio do governo, sen-do que 3/4 desse apoio correspondeu afinanciamentos para compra de máqui-nas e equipamentos destinados à fabri-cação de novos produtos. Nos EstadosUnidos e na Alemanha o governo finan-cia 31% da P&D das empresas, enquan-to na Coréia do Sul esse percentual che-ga a 24% e na Espanha 40%.

INÍCIO COM POUCOS INVESTIMENTOSSusana Liberman, pesquisadora do

Grupo de Nanotecnologia da BraskemPetroquímica, empresa criada em agos-to de 2002 e que investe cerca de R$ 300milhões anuais em atividades de pes-quisa e desenvolvimento (P&D) volta-das à aplicações tecnológicas, em espe-cial na área de termoplásticos, acredi-ta que investir em inovação é essencial,mas que apenas os recursos financeirosnão bastam.

"Para determinadas soluções tec-

nológicas, o dinheiro às vezes não é omais importante. Vontade de fazer bemfeito pode ser mais decisivo em algunscasos. A própria Braskem não come-çou a inovar com grandes recursos. Aempresa inicialmente fez um investi-mento baixo em pesquisas na univer-sidade, o que foi perfeitamente viávelpara os primeiros resultados começa-rem a aparecer", disse Susana. "Comisso, a empresa foi investindo gradati-vamente de acordo com as necessida-des dos experimentos. Hoje, só o meugrupo de pesquisa investe cerca de R$45 milhões em processos de inovaçãotecnológica", revelou.

CRIATIVIDADE Para a pesquisadora, além da cria-

tividade dos funcionários de umaempresa ser um quesito chave para ainovação, parcerias com outras empre-sas e setores industriais é algo funda-mental. "Na medida em que os resul-tados vão surgindo, novas parceriasacadêmicas também são criadas, o queé essencial para a implementação deuma postura mais ativa, capaz de bus-car pessoas criativas onde quer queelas estejam. Criatividade, boas parce-rias e investimentos são a melhor solu-ção para agregar valor aos negócios deuma empresa", aposta Susana. ABraskem Petroquímica possui atual-mente três centros de tecnologia queabrigam 170 pesquisadores, com 142patentes depositadas no Brasil e emoutros países.

As indústrias mecânica, químicae eletro-eletrônica estão entre as ati-vidades industriais com as maiorestaxas de inovação no Brasil e os maio-res investimentos em pesquisa edesenvolvimento, segundo o levanta-mento da Pintec/IBGE. Consequen-temente essas são as que mais empre-gam recursos humanos dedicados aesse fim.

P,D&I À BRASILEIRAInovação tecnológica no Brasil - a indús-

tria em busca da competitividade global reú-ne em livro os resultados de um amplo levan-tamento da Associação Nacional de Pesquisa,Desenvolvimento e Engenharia das EmpresasInovadoras (Anpei) sobre pesquisa, desen-volvimento e inovação nas empresas brasi-leiras. Tendo por base as informações cole-tadas pela última Pesquisa Industrial deInovação Tecnológica (Pintec) do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),divulgada em 2005, os economistas MauroArruda, Roberto Vermulm e Sandra Hollandaanalisam dados referentes a uma amostrade 84.262 empresas distribuídas por 91 ramosindustriais. O livro é dividido em três capí-tulos: o primeiro mostra e disseca númerosconcernentes ao engajamento do setor pro-dutivo na inovação; o segundo se dedica atraçar um panorama mundial da evolução dasatividades de P,D&I; o último trata de polí-ticas tecnológicas e mecanismos de incen-tivo à inovação no Brasil. Além disso, sãoexpostas propostas da Anpei para que se dêum crescimento sustentado da competiti-vidade industrial nacional.

O livro da Anpei é gratuito e os pedi-dos podem ser feitos pelo-mail [email protected].

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