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ENERGIA: uso, geração e impactos ambientais José Roberto Castilho Piqueira (Sorocaba) Claudio Marcelo Brunoro

Impactos ambientais

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ENERGIA: uso, geração e impactos ambientais

José Roberto Castilho Piqueira (Sorocaba)Claudio Marcelo Brunoro

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FICHA TÉCNICA

Direção geralEmílio Gabriades e Guilherme Faiguenboim

Coordenação geralNicolau Marmo

MarketingAntonio Silva Filho

AutoriaJosé Roberto Castilho Piqueira (Sorocaba) e Claudio Marcelo Brunoro

Coordenação editorialDácio Antônio de Castro

Preparação de textoCely Arena

Programação visualUlhôa Cintra Comunicação Visual e Arquitetura

ImpressãoEditora Ave Maria

Sistema Anglo de EnsinoRua Tamandaré, 596

Liberdade – São Paulo – SPCEP 01525-000

Fone/Fax (011) 3273-6000www.cursoanglo.com.br

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3

Recentemente, numa certa manhã escura, quebraram minha rotina de tantos anos. Acordei ao som

de Vivaldi, emitido pelo rádio-despertador. Era um bom começo. Acendi a luz, acionei o barbeador elétri-

co e tomei uma ducha quente para despertar. Mas não acordei.

Na copa, esperava-me um suco de frutas com qualidade garantida pela geladeira, batido no liqüidifi-

cador e um cafezinho recém-saído da cafeteira elétrica. O microondas esquentava pães de queijo.

O rádio, como sempre, dava as notícias do dia. De repente, o locutor anunciou: APAGÃO! Agora, sim,

despertei pra valer. Tudo o que aprendi na vida sobre energia começou a aflorar desordenadamente.

Quilowatt (kilouot). Por que “uot”? O homem era escocês, mas de origem alemã! Por que Chopin (Chopan)?

O homem era polonês!

Quilowatt-hora? Deserdaram o Joule? Temos de economizar 20%. 20% do quê? Quanto uma

geladeira despende de energia? O nível dos reservatórios está caindo. Quais reservatórios? Afinal, de onde

vem a nossa energia? Temos tantos rios e vamos apelar para as termelétricas? Falta instalar turbinas em

hidrelétricas prontas? Então a água está saindo pelo ladrão? Não adianta somente instalar turbinas: faltam

linhas de transmissão. Esse problema só existe no Brasil ou é um problema mundial?

Quem é o culpado? Bush ou Fernando Henrique? Não, não! Essa pergunta jamais faço.

O que fazer?

É importante saber o que fazer, e para isso convém saber quem sabe.

Quem sabe desses assuntos? Aqui no Anglo, todos os olhares convergiram para o Sorocaba: ele é o

pai da matéria. E o Brunoro é um dos filhos!

Por que essa dupla? Porque eles possuem duas qualidades que nem sempre andam juntas: conheci-

mento da matéria e didática. Esta última é especialmente relevante nesse caso, porque o assunto é

“quente” para os próximos vestibulares.

E ainda dizem que nós não damos “dicas”…

Nicolau MarmoCoordenador Geral

Sistema Anglo de Ensino

Apresentação

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Energia: uso, geração e impactos ambientais

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ÍNDICE

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Energia e vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Energia elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

Geração de energia elétrica e meio ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Desenvolvimento sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

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Introdução

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Introdução

O século XXI começa com um grande desafio: a questão energética. Acreditar que economizar ener-gia é uma necessidade apenas no Brasil, entretanto, é pretensão. E procurar um responsável pela situação,questionar a competência de governos e o planejamento técnico, ou mesmo acusar as políticas de priva-tização do setor energético não são formas realistas de encarar o problema, pois ele é multifacetado e rela-ciona-se com questões mais amplas, que requerem análise acurada. Na Califórnia e na Flórida, nos EstadosUnidos, por exemplo, freqüentemente apontados como paradigmas de administração competente, a criseenergética é até mais intensa do que no Brasil, apesar dos modelos privatizados de geração, transmissãoe distribuição de energia lá adotados.

O problema é delicado e de abrangência mundial. O nível atual de desenvolvimento da humanidade,evidenciado pela tecnologia, a medicina e o potencial de conforto, exige um consumo de energia porhabitante bastante elevado. Interromper esse consumo – decisão simplista – seria negar o conhecimentoadquirido e, talvez, comprometer a continuidade da civilização.

Portanto, sendo inevitável consumir energia, é importante haver bom senso na sua distribuição e reno-vação e também a consciência de que é urgente desenvolver novas tecnologias não poluentes para obtê-la.

A obtenção de energia para manter a sociedade hoje está atrelada,quase inevitavelmente,à degradaçãoambiental. A escolha adequada da matriz energética (distribuição entre as formas de geração) mundial nãopode levar em conta apenas os custos imediatos: deve assegurar a qualidade de vida das futuras gerações.

Veremos a seguir alguns dos aspectos relativos ao uso da energia e suas implicações. Iniciamos coma idéia geral de que a energia é, e sempre foi, o bem de capital de maior valor para a nossa espécie, dis-cutindo-a no que se refere à utilização humana. Depois abordamos a transformação da energia até o con-sumo final e o seu uso doméstico, encerrando com uma discussão abreviada das diversas formas de gera-ção e os seus impactos ambientais.

Eletricidade no mundoem kilowatts-hora

Consumo Consumoper capita total

Noruega 26 214 115 369

Canadá 17 549 531 051

EUA 13 284 3 610 149

França 7 693 450 072

Brasil 2 192 348 456

Índia 482 465 867

Ruanda 29 175

Chade 13 90

Fonte: Human Development Report, NaçõesUnidas, 1997

Fotografia da Terra, à noite, registra a situação político-econômica dos países. Para chegar a esse resultado, os pesquisadores CraigMayhew e Robert Simmon usaram centenas de imagens produzidas pelos satélites meteorológicos do Departamento de Defesa dos EUA.

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Energia: uso, geração e impactos ambientais

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Energia e vida

Nas aulas de Biologia e Física costumamos deparar com dois conceitos aparentemente díspares deenergia. Os biólogos parecem falar de algo concreto, que passa do Sol para as plantas e dessas para os ani-mais, transformando-se no interior dos seres vivos, por processos fisiológicos complicados, nas mais diver-sas modalidades, sendo essencial para funções como respiração, excreção, reprodução, manutenção detemperatura e condução de impulsos elétricos associados ao sistema nervoso.

Os físicos parecem falar de algo mais abstrato, calculável por equações, relativo a situações mais sim-ples, como carrinhos descendo montanhas-russas ou cargas elétricas em movimento nos circuitos.

Os conceitos empregados nas duas disciplinas, entretanto, são integrados e remetem à mesma enti-dade física: a capacidade de um corpo (ou sistema de corpos), em qualquer escala espacial, produzir movi-mento próprio ou de outros corpos que estão no seu entorno.

Assim, o ser humano, nas atividades diárias, todo o tempo utiliza energia. Ele a retira dos alimentosque ingere e, como se fosse uma máquina, transforma-a nas diversas modalidades necessárias ao fun-cionamento do seu organismo.

A tabela abaixo (Goldemberg,1998) ilustra o gasto de energia do corpo humano em diversas atividades:

Vê-se que utilizar energia não é apenas uma questão governamental,mas uma questão de manutençãoda vida no planeta, relacionada ao homem e ànatureza que o cerca.

Evidentemente, à medida que a nossa es-pécie foi se multiplicando e se apropriando doespaço terrestre, as necessidades de energiaaumentaram consideravelmente, sobretudoporque dela passou a depender a vida sob con-dições adversas.

O gráfico de barras ao lado (Goldemberg,1998) mostra esse fato, indicando que, quantomais sofisticada a vida e maior sua qualidade,maior a necessidade de consumo de energia.

Do homem primitivo, que não conhecia ofogo,até o homem tecnológico,o consumo diá-rio cresceu,em um milhão de anos,de 2000 kcalpara quase 230 000 kcal. Esse aumento foi pro-

Necessidades energéticas para várias atividades (em kcal/hora)

Trabalho leve

Escrever 20

Permanecer relaxado 20

Datilografando rapidamente 55

Tocando violino 40-50

Lavando louça 60

Passando a ferro 60

Trabalho muito pesado

Pedreiro 350

Correndo 800-1 000

Escalando 400-900

Esquiando 500-950

Subindo escadas 1 000

Trabalho pesado

Marchando 280-400

Andando de bicicleta 180-600

Remando 120-600

Nadando 200-700

Trabalho moderado

Dormindo 85-110

Tomando banho 125-215

Carpintaria 150-180

Caminhando 130-240

Fonte: E. Cook. Man, Energy, Society,W. H. Freeman and Co, San Francisco, EUA (1976).

0 50 100 150 200

230 Homemtecnológico

77 Homemindustrial

20Homem agrícolaavançado

12 Homem agrícolaprimitivo

6 Homemcaçador

2 Homemprimitivo

Alimentação Moradia ecomércio

Indústria eagricultura

Transporte

Ener

gia t

otal

cons

umid

a per

capi

ta (m

il kca

l/dia

)

Consumo diário per capita (mil kcal)

Estágios de desenvolvimento e consumo de energia

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Energia e vida

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gressivo, acompanhando o refinamento da tecnologia desenvolvida pela humanidade para modificar omeio ambiente em seu benefício.

Os recursos energéticos disponíveis na Terra, porém, são limitados. Conciliar esse fato com as neces-sidades humanas é, como dissemos, um grande desafio a ser enfrentado pela ciência moderna, indepen-dentemente das administrações e das ideologias.

Além disso, não há como negar que o consumo de energia está relacionado com a qualidade de vida,conforme mostram os gráficos ilustrativos (Goldemberg, 1998) abaixo, em que a unidade de energia uti-lizada é a TEP (tonelada equivalente de petróleo), equivalente a107 kcal.

Concluindo, a energia é essencial à vida e fator de conforto e bem-estar. Democratizar esses bens, dis-tribuindo-a de modo eqüitativo, é responsabilidade de todos.

Expectativa de vida, mortalidade infantil, alfabetização e taxa de fertilidadetotal como uma função da energia comercial consumida per capita

0

80

2 4 6

60

40

20Expe

ctat

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os)

Uso da energia TEP per capita por ano

Média de 127 paísespara grupos de 10 países

0

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8

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Omã Arábia SauditaLíbiaIrã

GabãoMongólia

Venezuela KuwaitTrinidad e Tobago

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60

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Energia: uso, geração e impactos ambientais

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Energia elétrica

Como vimos, a energia é essencial para todas as atividades dos seres vivos e em particular para aqualidade de vida do homem moderno, a qual é indissociável do consumo energético nos trabalhosdomésticos, comerciais e industriais.

Estes dependem de mecanismos de provimento de energia que variam conforme as formas de orga-nização da sociedade mas que tratam, igualmente, de converter a energia proveniente de fontes primárias– como o Sol, movimentos de massas de água e ar, petróleo, carvão e biomassa – em energia utilizável nocotidiano.

Como normalmente as fontes de energia primária se localizam distante das regiões consumidoras,para transferi-la de um lugar para outro é comum convertê-la em energia num estágio intermediário, queé distribuída aos diversos pontos de consumo.

Como exemplos desse estágio, podemos citar a energia obtida da queima de combustíveis e lenha, domovimento de rodas d’água e de pás de moinhos de vento, das turbinas das usinas hidrelétricas, entre outras.

De todas as modalidades intermediárias num ciclo energético, a energia elétrica é aquela com quetemos maior familiaridade, por ser ela a mais usada – já que é a mais vantajosa. A vantagem vem da facili-dade de transformação, com poucas perdas, de energias primárias em elétrica e da facilidade da posteriortransferência desta para as regiões consumidoras.

A figura abaixo (Goldemberg, 1998) ilustra um ciclo energético que utiliza o carvão como fonteprimária.

O estudo do uso da energia elétrica como modalidade intermediária costuma ser dividido em trêspartes:■ Geração: transformação da energia primária em elétrica por indução eletromagnética, células foto-

voltaicas ou eletrólise;

Modo de extração

Energia primária

Energia primária

Tecnologias de distribuição

Tecnologias de uso final

Mina de carvão

Carvão

Usina elétrica

Eletricidade

Rede de eletricidade

Eletricidade

Lâmpada

Iluminação

O sistema energético: da extração até os serviços energéticos

Energia secundária

Energia final

Serviços da energia

Page 9: Impactos ambientais

Energia elétrica

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■ Transmissão: transferência da energia elétrica do ponto de geração até a região consumidora;■ Distribuição: transferência da energia elétrica ao usuário final.

Geração

Entendemos por geração de energia elétrica a transfor-mação de outra modalidade de energia em energia elétrica. Estapode ser obtida a partir:

■ do movimento: indução eletromagnética;■ da luz: células fotovoltaicas;■ da energia química: eletrólise.

A maneira mais prática de gerar energia elétrica em quantidades consideráveis para consumo é fazeruso do fenômeno da indução eletromagnética. Descoberto por Faraday, ele é objeto de estudo detalhadono Eletromagnetismo, mas, para o que nos interessa aqui, basta que seja entendido como a capacidade deproduzir diferenças de potencial elétrico (ddp) e correntes elétricas a partir do movimento de peças con-dutoras, imersas em campos magnéticos.

Os mecanismos de geração, em geral, são em corrente alternada, em freqüências correspondentes àsdos movimentos de rotação dos eixos dos geradores. Isso requer a obtenção de energia de movimento(cinética) para o eixo de uma turbina, pois o movimento dela é responsável pelo movimento de condu-tores em campos magnéticos, gerando a energia elétrica. Essa energia cinética deriva, predominante-mente, de três tipos de energia potencial:

■ da água (hidráulica): usinas hidrelétricas;■ do petróleo e seus derivados, do carvão e do gás natural: usinas termelétricas;■ dos combustíveis nucleares: usinas termonucleares.

Da energia elétrica gerada mundialmente, cerca de 64% provêm de termelétricas, 19% de hidrelétri-cas e 17% de termonucleares. No Brasil, mais de 90% provêm de hidrelétricas.

Também existem formas de energia alternativas, menos utilizadas, obtidas, por exemplo, a partir:

■ do movimento: eólica, oceânica;■ da luz: placas de células fotovoltaicas;■ de eletrólise: células de combustíveis.

Transmissão

A transmissão de energia elétrica pode ser feita em corrente con-tínua (CC) ou alternada (CA).

Como vimos, a geração elétrica em usinas é em CA. Porém, se adistância envolvida na transmissão da energia é maior que 700 km, émais econômico transmiti-la convertida em CC. O gráfico seguinte(Reis & Silveira, 2000) traz uma comparação dos custos para CC e CA.

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Energia: uso, geração e impactos ambientais

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Deve-se considerar, ainda, que para transportar grandes quantidades de energia são necessáriasddps altas, pois o processo envolve perdas, principalmente por efeito Joule. Minimizá-las para ddpsmenores implicaria utilizar condutores com bitolas enormes.

Assim, de acordo com a distância a ser coberta pela rede, existem tensões de transmissãopadronizadas, sendo as mais utilizadas:

■ Alta Tensão (AT): 138 e 230 kV■ Extra-Alta Tensão (EAT): 345, 440, 500 e 765 kV■ Ultra-Alta Tensão (UAT): 1000 e 1200 kV

Distribuição

A distribuição é o estágio final do processamento daenergia elétrica para atender os usuários residenciais, co-merciais e industriais.Trata-se de um direito do cidadão, quecabe ao Estado preservar, direta ou indiretamente.

Prover esse serviço implica padronizar equipamentoselétricos, construir redes nas áreas urbanas, operar e manterredes e equipamentos, garantir a segurança da população edo pessoal de instalação e manutenção.

Para assegurar a distribuição da energia elétrica, é pre-ciso construir subestações com capacidade para captar aenergia necessária, proveniente da rede de transmissão, ediminuir as tensões para níveis padronizados. Em seguida,para prover seu uso aos consumidores, as tensões devem ser diminuídas mais uma vez, para níveis com-patíveis com seus aparelhos.

Quem arca com os custos desse processo, bem como com os da exploração dele como negócio, é oconsumidor, de acordo com seu consumo – que, portanto, deve ser medido.

O habitual é medi-lo em kWh, uma unidade de energia que é o produto da unidade de potência (kW)pela unidade de tempo (h) – embora a unidade oficial de energia,no Sistema Internacional (SI), seja o joule (J).

Custo

Corrente alternada

Corrente contínua

Comprimento da linha (km)

Linha em CAmais econômica

Linha em CCmais econômica

Comparação de custo entre CC e CA

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Geração de energia elétrica e meio ambiente

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Modelo físico do Sistema Geração/Transmissão/Distribuição

As partes envolvidas no uso da energia elétrica, que descrevemos brevemente, podem ser represen-tadas num modelo físico simplificado:

Visualizando o efeito da transmissão como o de uma resistência interna acrescida à geração, enten-demos que, quanto maior a distância entre a geração e o pólo consumidor, maiores as perdas envolvidasno processo.

Geração de energia elétrica e meio ambiente

A necessidade de energia, por efeito do crescimento populacional e do progresso industrial, aumen-ta a cada dia. Nos países em desenvolvimento, um crescimento populacional total de aproximadamente2% por ano é responsável por 50% do crescimento anual do consumo global de energia.

Portanto é urgente construir usinas e viabilizar processos alternativos para ampliar a produção deenergia elétrica.

Qualquer processo de geração e utilização de energia é, de alguma forma, nocivo à manutenção dascondições ambientais. Para o bom exercício da cidadania, é importante conhecermos alguns efeitos dosprincipais mecanismos de geração, transmissão e distribuição.

Tipos de usinas e impactos

Convencionais

■ Usina hidrelétrica: provoca o alagamento de grandes regiões, com conseqüente modificação da faunae da flora, e a inundação de cidades, ocasionando o deslocamento de populações. Acresce-se a isso oeventual mau uso da água, que é um bem de múltipla utilização, e a possibilidade de emissão de gásmetano, pela decomposição orgânica gerada pelos alagamentos.

■ Usina termelétrica: a queima de combustíveis fósseis na geração de energia elétrica produz CO2, agra-vando o efeito estufa e o aquecimento global.Também provoca a contaminação da atmosfera, do solo eda água pelas cinzas arrastadas pelo fluxo de gás. Além disso, os óxidos de nitrogênio e enxofre agravamenfermidades pulmonares, cardiovasculares e renais das populações residentes nas imediações.

Geração

Transmissão

Distribuição

U = E – ri

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Energia: uso, geração e impactos ambientais

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■ Usina termonuclear: além de envolver as questões vitais da segurança e do tratamento de resíduosnucleares, tem como importantes fatores negativos a emissão de CO2 e o aumento da temperatura doscursos d’água empregados na refrigeração, prejudicando a biodiversidade local.

Alternativas

■ Eólica: produz nível elevado de poluição sonora, podendo provocar alterações auditivas na populaçãodas proximidades.

■ Oceânica: a construção de barragens pode mudar as cadeias alimentares locais, prejudicando a faunae a flora.

De todos os efeitos nocivos citados, o que parece mais grave é o da emissão de CO2 nas termelétricas,considerando-se que elas são responsáveis por 64% da matriz energética mundial. Podemos ter uma idéia daintensidade com que a produção de energia agrava o efeito estufa pelo gráfico abaixo (Goldemberg, 1998).

Desenvolvimento sustentável

O fator mais relevante nos problemas ambientais decorrentes do uso da energia é o emprego decombustíveis fósseis na produção de eletricidade, no setor de transporte e na indústria.

Resolver esse problema eliminando a causa evidentemente é uma tarefa muito difícil, pois os com-bustíveis fósseis respondem por mais de 90% do consumo atual de energia mundial. Entretanto nãoparece impossível, dadas as alternativas de fontes renováveis disponíveis hoje.

Usar gás natural nas termelétricas é interessante, pois, em comparação com os combustíveis fósseis,emite metade do CO2 por kWh e praticamente não emite óxidos de enxofre e nitrogênio.

Fazendas de produção de energia a partir de biomassa representam outra solução bastante con-vidativa, uma vez que o CO2 por elas emitido pode ser reabsorvido nos processos de fotossíntese e não háemissão de óxidos de enxofre e nitrogênio.

Há ainda a energia solar, que pode ser utilizada como fonte quente nas termelétricas ou ser direta-mente convertida em elétrica, nas células fotovoltaicas.

As desigualdades entre os países, no entanto, determinam diferenças não só no volume de energiaconsumido (os pobres consomem menos que os ricos), como também na forma de obtê-la: as melhores

Contribuição para o efeito estufa

Produçãode energia

56%

Desmatamento9%

Agricultura14%

Indústria4%

CFCs17%

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Conclusão

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soluções para a matriz energética dos países desenvolvidos, quando aplicadas ao contexto de países emdesenvolvimento, nem sempre serão ótimas.

A questão energética influencia diretamente o desenvolvimento e o meio ambiente. Não podemosprivilegiar o primeiro provocando drásticos impactos no segundo. É nisso que se fundamenta o conceitode desenvolvimento sustentável, que defende não só a qualidade de vida atual, mas também a herançaa ser deixada para as gerações futuras, propondo a proteção e a manutenção dos sistemas naturais.

Um passo significativo para a concretização desse conceito foi a Conferência de Estocolmo, em 1972,que enfatizou a questão ambiental e a convivência na Terra.

Outro foi a ECO 92 ou Unced (United Nations Conference on Environment and Development), realizadano Rio de Janeiro, que frisou o problema da utilização de combustíveis fósseis na produção de energiadevido à emissão de CO2 e o conseqüente agravamento do efeito estufa.

Mais recentemente, o Protocolo de Kyoto (1997) procurou restringir a emissão de CO2 dos países, su-gerindo o emprego de mecanismos para um desenvolvimento limpo.

Para dar uma idéia dos reais responsáveis pelo efeito estufa e pela degradação ambiental, apresen-tamos a tabela abaixo, com o volume anual de CO2 emitido por diversos países.

Os Estados Unidos, um dos maiores emissores de CO2, posicionaram-se contra as medidas propostasno Protocolo de Kyoto, alegando que elas acarretariam uma redução drástica na sua economia, podendoprovocar recessão. Esse é um exemplo da tentativa suicida de manter a economia dos ricos à custa dadegradação da qualidade de vida de todos.

Conclusão

A introdução em larga escala de fontes renováveis de energia, embora desejável, não será fácil, pois oscombustíveis fósseis têm baixo preço de mercado, e essa é a preocupação que, infelizmente, aindaprevalece: quando calculamos o custo das diversas alternativas energéticas, não consideramos o custo dadegradação ambiental resultante de cada uma delas – exorbitante, no caso dos combustíveis fósseis.

Além disso, alguns problemas ambientais devem ser encarados de maneira global, para que seimplantem soluções resultantes de cooperação internacional honesta e eqüitativa, não cabendo às popu-lações carentes o ônus da manutenção da riqueza alheia.

Repensar a matriz energética é responsabilidade das administrações de todos os países. Fiscalizar assoluções é tarefa de toda a população, que, para isso, necessita de boa informação técnica e de um poucode cultura tecnológica.

Emissão de CO2 (toneladas de CO2 per capita)

Quantidade Países

Entre 16 e 36 Estados Unidos e Austrália.

Entre 7 e 16 Japão, Canadá, Rússia, Ucrânia, Polônia e África do Sul.

Entre 2,5 e 7 União Européia, China, México, Chile, Argentina e Venezuela.

Entre 0,8 e 2,5 Brasil, Índia, Indonésia, países da América Central e Caribe.

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Energia: uso, geração e impactos ambientais

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Exercícios

1. Obtenha a relação de transformação de kWh para J.2. Considere uma lâmpada de 60 W, ligada 3 horas por dia. Qual seu consumo mensal em kWh? Qual seu

consumo em J?3. Subir escadas equivale, aproximadamente, a manter acesas quantas lâmpadas de 100 W? (Considere

1cal = 4J).4. Quantos kWh por dia gasta o homem tecnológico? Quanto gastava o homem agrícola primitivo?

(Considere 1cal = 4J.)5. Compare, aproximadamente, o consumo anual de energia per capita por ano de um país com mortali-

dade infantil de 10 mortes por 1 000 nascimentos com outro de 40 mortes a cada 1 000 nascimentos.6. Considere os seguintes dados a respeito da energia elétrica no Brasil, fornecidos pelo IBGE:

a) Considerando que cada pessoa toma um banho por dia, qual o consumo médio mensal de energiapor residência?

b) Compare o valor obtido no item anterior com os 100 kWh dados como limite pelos órgãos gover-namentais.

c) Qual o consumo nacional anual em kWh, considerando apenas o gasto com banhos?d) Se uma residência tem, além do chuveiro, 3 lâmpadas de 100 W (1 hora por dia), uma geladeira de

300 W (8 horas por dia) e um ferro de passar roupa de 500 W (1 hora por dia), qual será o custo men-sal da conta, considerando que o consumo acima de 200 kWh é sobretaxado em 50%?

e) Considerando que uma termelétrica emite 100 g de CO2 por kWh, quantas toneladas desse gás seriamemitidas por ano se toda a energia relativa a banhos do Brasil passasse a ser gerada dessa maneira?

7. (Simulado-Anglo)Michael Faraday, em 1831, descobriu uma maneira muito simples de transformar energia mecânica emenergia elétrica: fazer uma espira condutora girar convenientemente num campo magnético. Desdeentão, o uso da energia elétrica tornou mais fácil a arte de sobreviver, como atestam os aparelhoseletrodomésticos, incorporados ao nosso cotidiano. No Brasil, graças aos imensos recursos hídricosdisponíveis, as quedas d’água são as principais fontes de energia. Quando um estudante liga um liqüidi-ficador para fazer um suco de frutas, deve saber que a energia cinética fornecida pelo aparelho passoupelos seguintes processos de transformação:a) potencial gravitacional – cinética – elétrica – cinéticab) cinética – térmica – elétrica – cinéticac) cinética – potencial gravitacional – elétrica – térmica cinética

Custo por kWh R$ 0,18

Número de chuveiros elétricos 28 000 000

Número médio de pessoas por residência 3,6

Tempo médio para um banho 8 minutos

Potência média do chuveiro 4 kW

Page 15: Impactos ambientais

Exercícios

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d) potencial gravitacional – térmica – cinética – elétricac) potencial gravitacional – cinética – térmica – cinética

8. (Simulado-Anglo)O aumento do uso do computador nas atividades industriais e de serviços, princialmente nos grandescentros urbanos, gerou uma demanda crescente de energia elétrica de boa qualidade. Essa qualidadepode ser medida, de modo geral, pelo número médio de interrupções de fornecimento, ao longo doano, de uma dada fonte de distribuição.As figuras representam diagramas de qualidade para diversas fontes de energia ao longo do ano de2001. Qual delas proporcionaria energia elétrica de melhor qualidade?

a) d)

b) e)

c)

9. (ENEM)O resultado da conversão direta de energia solar é umadas formas de energia alternativa de que se dispõe. Oaquecimento solar é obtido por uma placa escuracoberta por vidro, pela qual passa um tubo con-tendo água. A água circula, conforme mostra oesquema ao lado.

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Interrupções

Mês

1

4321

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Interrupções

Mês

1

4321

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Interrupções

Mês

1

4321

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Interrupções

Mês

1

4321

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Interrupções

Mês

Radiação solar

Vidro

Coletor

Placa escura Reservatório deágua quente

Reservatóriode água fria

Água quentepara o consumo

Fonte: Adaptado de PALZ,Wolfgang. Energiasolar e fontes alternativas. Hemus, 1981.

Page 16: Impactos ambientais

Energia: uso, geração e impactos ambientais

16

São feitas as seguintes afirmações quanto aos materiais utilizados no aquecedor solar:I. O reservatório de água quente deve ser metálico para conduzir melhor o calor.II. A cobertura de vidro tem como função reter melhor o calor, de forma semelhante ao que ocorre em

uma estufa.III. A placa utilizada é escura para absorver melhor a energia radiante do Sol, aquecendo a água com

maior eficência.Dentre as afirmações acima, pode-se dizer que apenas está(ão) correta(s):a) I.b) I e II.c) II.d) I e III.e) II e III.

10. (ENEM)A energia térmica liberada em processos de fissão nuclear pode ser utizada na geração de vapor paraproduzir energia mecânica que, por sua vez, será convertida em energia elétrica. Abaixo está repre-sentado um esquema básico de uma usina de energia nuclear.

Com relação ao impacto ambiental causado pela poluição térmica no processo de refrigeração dausina nuclear, são feitas as seguintes afirmações:I. O aumento na temperatura reduz, na água do rio, a quantidade de oxigênio nela dissolvido, que é

essencial para a vida aquática e para a decomposição da matéria orgânica.II. O aumento da temperatura da água modifica o metabolismo dos peixes.III. O aumento na temperatura da água diminui o crescimento de bactérias e de algas, favorecendo o

desenvolvimento da vegetação.

Água

Vapor

Gerador

Turbina

Pilhas nucleares

Bomba d’água

Bomba d’água

Condensador

Rio

Page 17: Impactos ambientais

Exercícios

17

Dessas afirmativas, somente está(ão) correta(s):a) I.b) II.c) III.d) I e II.e) II e III.

11. (ENEM)O esquema abaixo mostra, em termos de potência (energia/tempo), aproximadamente, o fluxo de ener-gia, a partir de uma certa quantidade de combustível vinda do tanque de gasoilina, em um carro via-jando com velocidade constante.

O esquema mostra que, na queima de gasolina, no motor de combustão, uma parte considerável desua energia é dissipada. Essa perda é da ordem de:a) 80%.b) 70%.c) 50%.d) 30%.e) 20%.

12. (ENEM)O Brasil, em 1997, com cerca de 160 � 106 habitantes, apresentou um consumo de energia da ordemde 250 000 TEP (tonelada equivalente de petróleo), proveniente de diversas fontes primárias.O grupo com renda familiar de mais de vinte mínimos representa 5% da população brasileira e utilizacerca de 10% da energia total consumida no país. O grupo com renda familiar de até três salários míni-mos representa 50% da população e consome 30% do total de energia.Com base nessas informações, pode-se concluir que o consumo médio de energia para um indivíduodo grupo de renda superior é x vezes maior do que para um indivíduo do grupo de renda inferior. Ovalor aproximado de x é:a) 2,1.b) 3,3.c) 6,3.d) 10,5.e) 12,7.

Do tanque de gasolina72 kW 71 kW

Motor decombustão

14,2 kW 12 kW Transmissãoe engrenagens

9 kWRodas

Evaporação1 kW

Energia dos hidrocarbonetos não queimados, energiatérmica dos gases de escape e transferida ao ar ambiente

56,8 kW

Luzes, ventilador,gerador, direção,

bomba hidráulica, etc.2,2 kW

Energiatérmica

3 kW

Page 18: Impactos ambientais

Energia: uso, geração e impactos ambientais

18

13. (ENEM)As sociedades modernas necessitam cada vez mais de energia. Para entender melhor a relação entredesenvolvimento e consumo de energia, procurou-se relacionar o Índice de DesenvolvimentoHumano (IDH) de vários países com o consumo de energia nesses países.O IDH é um indicador social que considera a longevidade da população, o grau de escolaridade, o PIB(Produto Interno Bruto) per capita e o poder de compra. Sua variação é de 0 a 1. Valores do IDH próxi-mos de 1 indicam melhores condições de vida.Tentando-se estabelecer uma relação entre o IDH e o consumo de energia per capita nos diversospaíses, no biênio 1991-1992, obteve-se o gráfico abaixo, em que cada ponto isolado representa umpaís, e a linha cheia, uma curva de aproximação.

Com base no gráfico, é correto afirmar que:a) quanto maior o consumo de energia per capita, menor é o IDH.b) os países onde o consumo de energia per capita é menor que 1 TEP não apresentam bons índices

de desenvolvimento humano.c) existem países com IDH entre 0,1 e 0,3 com consumo de energia per capita superior a 8 TEP.d) existem países com consumo de energia per capita de 1 TEP e de 5 TEP que apresentam aproxima-

damente o mesmo IDH, cerca de 0,7.e) os países com altos valores de IDH apresentam um grande consumo de energia per capita (acima

de 7 TEP).

1,0

IDH

Consumo de energia per capita (TEP/capita)*0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

0,9

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,30,2

0,1

*TEP: tonelada equivalente de petróleoFonte: GOLDEMBERG, J.Energia Meio Ambiente eDesenvolvimento. São Paulo, Edusp, 1998.

Page 19: Impactos ambientais

Bibliografia

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Bibliografia

Goldemberg, J. Energia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo, Edusp, 1998.

Reis, L. B. e Silveira, S. Energia Elétrica para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo, Edusp, 2000.

Jornal O Estado de S. Paulo – edições de 26/5/01, 27/5/01 e 22/7/01.

Revista Época – edição de 14/2/2001.

Revista Engenharia – edição nº- 545/2001, ano 58.

Respostas dos Exercícios

1. 1kWh = 3,6 � 106 J.2. 5,4 kWh ; 19,44 � 106 J.3. 11 lâmpadas.4. Homem tecnológico: 255 kWh; homem agrícola primitivo: 13,3 kWh.5. A energia gasta, per capita, em um país de 10 mortes por 1000 nascimentos é três vezes maior que a

gasta por um de 40 mortes por 1000 nascimentos.6. a) 57,6 kWh.

b) 57,6% do total proposto são gastos só com banhos,sobrando 42,4 kWh para o restante das atividades.c) 1,9 � 1010 kWh.d) R$ 27,65, desconsiderando-se os impostos.e) 1,9 � 106 toneladas.

7. A8. E9. E

10. D11. A12. B13. D

Page 20: Impactos ambientais