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Impactos na saúde do trabalhador nesse setor A indústria canavieira no Brasil impõe relações e condições de trabalho degradantes para o trabalhador deste setor. “Na produção de cana de açúcar, os fatores de risco para a saúde incluem, por exemplo, a poluição do ar decorrente da queima do solo para o plantio e aquela que precede a colheita, a utilização maciça de produtos químicos, os efluentes das usinas processadoras de álcool e açúcar, entre outros.” Dentre todos esses problemas, o trabalhador da indústria sucroalcooleira não costuma receber o devido cuidado com a sua saúde, além dos baixos salários. Aliás, a competitividade dos produtos brasileiros neste setor, no mercado internacional, deve-se exatamente aos baixos custos de produção resultantes das condições degradantes do trabalhador, além do baixo investimento em políticas de proteção ambiental. Em torno de 47% da colheita de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo foi mecanizada, mas em proporções de todo o território brasileiro apenas 25% da colheita da cana é mecanizada. Onde a colheita é feita manualmente há a queimada de pré-corte para facilitar o trabalho dos cortadores de cana, evitando assim a exposição a animais peçonhentos e aumentando o teor de açúcar da cana devido à evaporação da água. Na queima de biomassa, onde ocorre a combustão incompleta, há a formação de substâncias tóxicas como monóxido de carbono, amônia e metano, além de partículas finas menores ou iguais a 10 micrometros (PM10). Estas partículas são inaláveis e estão entre os poluentes de maior toxidade por atingirem as porções mais profundas do sistema respiratório sendo responsáveis pelo desencadeamento de doenças graves cardiovasculares (cardíacas, arteriais e cerebrovasculares) que podem ter efeitos agudos (aumento de internações e de mortes por arritmia, doença isquêmica do miocárdio e cerebral) e crônicos, por exposição a longos prazos, levando ao aumento da mortalidade por doenças cerebrovasculares e cardíacas. Estudos ainda revelam que o aumento do risco de mortalidade relacionado à poluição do ar varia de 8% a 18% para diversos tipos de doenças cardíacas. O médico pneumologista

Impacto Da Produção de Etanol Na Saúde Humana

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Impactos da indústria sucroalcooleira na saúde dos trabalhadores e da população local, além dos impcatos no meio ambiente e sugestões de minimização dos impactos.

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Impactos na saúde do trabalhador nesse setor

A indústria canavieira no Brasil impõe relações e condições de trabalho degradantes para o trabalhador deste setor. “Na produção de cana de açúcar, os fatores de risco para a saúde incluem, por exemplo, a poluição do ar decorrente da queima do solo para o plantio e aquela que precede a colheita, a utilização maciça de produtos químicos, os efluentes das usinas processadoras de álcool e açúcar, entre outros.” Dentre todos esses problemas, o trabalhador da indústria sucroalcooleira não costuma receber o devido cuidado com a sua saúde, além dos baixos salários. Aliás, a competitividade dos produtos brasileiros neste setor, no mercado internacional, deve-se exatamente aos baixos custos de produção resultantes das condições degradantes do trabalhador, além do baixo investimento em políticas de proteção ambiental.

Em torno de 47% da colheita de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo foi mecanizada, mas em proporções de todo o território brasileiro apenas 25% da colheita da cana é mecanizada. Onde a colheita é feita manualmente há a queimada de pré-corte para facilitar o trabalho dos cortadores de cana, evitando assim a exposição a animais peçonhentos e aumentando o teor de açúcar da cana devido à evaporação da água. Na queima de biomassa, onde ocorre a combustão incompleta, há a formação de substâncias tóxicas como monóxido de carbono, amônia e metano, além de partículas finas menores ou iguais a 10 micrometros (PM10). Estas partículas são inaláveis e estão entre os poluentes de maior toxidade por atingirem as porções mais profundas do sistema respiratório sendo responsáveis pelo desencadeamento de doenças graves cardiovasculares (cardíacas, arteriais e cerebrovasculares) que podem ter efeitos agudos (aumento de internações e de mortes por arritmia, doença isquêmica do miocárdio e cerebral) e crônicos, por exposição a longos prazos, levando ao aumento da mortalidade por doenças cerebrovasculares e cardíacas. Estudos ainda revelam que o aumento do risco de mortalidade relacionado à poluição do ar varia de 8% a 18% para diversos tipos de doenças cardíacas. O médico pneumologista Marcos Arbex, em sua tese de doutorado que foi baseada numa pesquisa feita na região canavieira de Araraquara, constatou que “Um quinto da população canavieira paulista está com os pulmões comprometidos ou à beira de uma crise de rápida evolução”.

Dentre os particulados finos liberados durante a queima de biomassa, os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) são os mais prejudiciais à saúde por serem mutagênicos, cancerígenos e por desregularem o sistema endócrino, entre os mais encontrados estão o fluoranteno, o antraceno e o pireno. (ZAMPERLINI et al, 1997; GODOI et al, 2004). Segundo um artigo publicado na revista Environmental Research, a mutagenecidade dos HPAs é quatro vezes maior na época da queima de cana, período em que a concentração de micropartículas triplica no ambiente.

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Outro grande problema é a geração de gás ozônio troposférico na queima de biomassa com a junção do monóxido de carbono com os óxidos de nitrogênio (os NOx) que são emitidos na queima da cana-de açúcar.Além disso, em torno de 35% do nitrogênio aplicado no solo, em forma de adubo, é perdido para a atmosfera na forma de gases. “Um estudo estatístico divulgado em 2006 revelou que, mesmo em concentrações muito baixas, o ozônio troposférico ainda foi associado com o risco aumentado de morte prematura. Os autores do estudo concluíram que, em face destes novos dados, os limites legais estabelecidos em diversos países, para as concentrações de ozônio na atmosfera, não garantem a segurança da população (BELL et al, 2006).”

Os trabalhadores das plantações de cana sofrem diversos problemas de saúde que são considerados desafios para o SUS nas regiões que concentram as atividades sucroalcooleiras:

Fonte: HESS, S. C., Impactos da queima da cana-de-açúcar sobre a saúde. 2008

Agentes químicos diversos na forma de gases, névoas e poeiras causam danos à saúde do trabalhador. É o caso de adubos e fertilizantes como NPK (nitratos, fosfatos e sais de potássio), compostos de enxofre, magnésio, manganês, ferro, zinco, cobre, entre outros; e a preparação de misturas e a aplicação de agrotóxicos (formicidas, larvicidas, bernicidas, acaricidas, repelentes, fungicidas, carrapacidas, molusquicidas, raticidas, herbicidas, esterilizantes, bactericidas, reguladores de crescimento vegetal, entre outros). Estes causam diversos problemas de saúde como dermatite de contato, rinite e conjuntivite, intoxicações por agrotóxicos, doença respiratório obstrutiva, bronquites, asma ocupacional, doença pulmonar restritiva, doença pulmonar

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intersticial com fibrose, câncer, doença neurológica, alterações de humor e comportamento além de alterações endócrinas.

Além de problemas relacionados à poluição do ar, também há problemas de saúde relacionados ao desgaste físico dos trabalhadores e desgaste mental, o que leva a um maior número de acidentes de trabalho. A marginalização dos funcionários também traz problemas sociais profundos sem perspectivas de mudança.

Impactos ambientais da agroindústria da cana-de-açúcar

Os impactos ambientais podem ser da fase agrícola ou da fase industrial. Na fase agrícola, têm-se diversos problemas além da queima de biomassa que já foi abordada no tópico anterior (Impactos na saúde do trabalhador nesse setor):

Redução da biodiversidade devido ao desmatamento para a monocultura da cana;

Contaminação da água e do solo devido à utilização excessiva de adubos químicos, corretivos minerais, herbicidas e defensivos agrícolas.

Compactação do solo devido ao uso de máquinas pesadas durante o plantio, tratos culturais e colheita;

Assoreamento de corpos d’água devido a erosão do solo em áreas de reforma;

Consumo intenso de óleo diesel tanto nas máquinas quanto transporte (movimentação de 60 a 100 caminhões/hora no complexo industrial);

Na fase industrial, as usinas sucroalcooleiras fazem um uso intensivo de água, energia térmica e eletromecânica. Essa energia vem do bagaço de cana queimado em caldeiras. Reativos químicos e biológicos como soda cáustica, cal, ácidos e leveduras são utilizados. E no processo se obtém álcool, açúcar, proteínas de levedura e resíduos sólidos, líquidos e gasosos.

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Soluções para a minimização das emissões de poluentes e dos impactos dessas espécies na saúde humana e no meio ambiente

Para que a indústria sucroalcooleira seja mais sustentável na questão referente à poluição atmosférica, têm-se algumas medidas importantes:

Geração eficaz de vapor em caldeiras de alta pressão (energia); Atender às normas de gerenciamento de riscos, prevenção e combate a

incêndios; Monitoramento contínuo das emissões de poluentes pelas chaminés e

da qualidade do ar em áreas urbanas; Produção de óleo vegetal para substituir o óleo diesel; Colheita mecânica sem queima; Proteção do depósito de bagaço (frações microscópicas de bagacilho

são arrastadas pelo entorno do complexo industrial provocando pneumoconiose nos trabalhadores);

Bibliografia:

HESS, S. C., Impactos da queima da cana-de-açúcar sobre a saúde. 2008

ARBEX, M. A. Avaliação dos efeitos do Material Particulado proveniente da queima da palha de cana-de-açúcar sobre a morbidade respiratória da população de Araraquara. Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2001.

ANDRADE,J. M. F. e DINIZ,K.M., Impactos Ambientais da agroindústria da Cana-de-açúcar: Subsídios para a gestão. Monografia para o título de Especialista em Gerenciamento Ambiental à Universidade de São Paulo, 2007.