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ANÁLISE CRÍTICA DO MÉTODO DE DETECÇÃO DO mRNA DE TIREOGLOBULINA NO SANGUE DE PACIENTES COM CARCINOMA DIFERENCIADO DA TIREÓIDE I. SABRINA MENDES COELHO II. DISSERTAÇÃO DE DOUTORADO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA (ENDOCRINOLOGIA), FACULDADE DE MEDICINA, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM MEDICINA (ENDOCRINOLOGIA). Orientadores: Prof. Dr. Mário Vaisman Prof a . Dr a . Denise Pires de Carvalho Rio de Janeiro Novembro/2005 ANÁLISE CRÍTICA DO MÉTODO DE DETECÇÃO DO mRNA DE TIREOGLOBULINA NO SANGUE DE PACIENTES COM CARCINOMA DIFERENCIADO DA TIREÓIDE Sabrina Mendes Coelho Orientadores: Prof. Dr. Mário Vaisman e Prof a . Dr a . Denise Pires de Carvalho

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ANÁLISE CRÍTICA DO MÉTODO DE DETECÇÃO DO mRNA DE TIREOGLOBULINA NO SANGUE DE PACIENTES COM

CARCINOMA DIFERENCIADO DA TIREÓIDE

I. SABRINA MENDES COELHO

II. DISSERTAÇÃO DE DOUTORADO SUBMETIDA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA (ENDOCRINOLOGIA), FACULDADE DE MEDICINA, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EM MEDICINA (ENDOCRINOLOGIA).

Orientadores: Prof. Dr. Mário Vaisman Profa. Dra. Denise Pires de Carvalho

Rio de Janeiro

Novembro/2005

ANÁLISE CRÍTICA DO MÉTODO DE DETECÇÃO DO mRNA DE TIREOGLOBULINA NO SANGUE DE PACIENTES COM

CARCINOMA DIFERENCIADO DA TIREÓIDE

Sabrina Mendes Coelho

Orientadores: Prof. Dr. Mário Vaisman e Profa. Dra. Denise Pires de Carvalho

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Dissertação de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Medicina (Endocrinologia),

Faculdade de Medicina, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Doutor em Medicina (Endocrinologia).

Aprovada por:

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Rio de Janeiro

Novembro/2005

FICHA CATALOGRÁFICA

I.

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3

DEDICATÓRIA

II.

Coelho, Sabrina Mendes.

Análise crítica do método de detecção do mRNA de tireoglobulina

em amostra de sangue de pacientes com carcinoma diferenciado da

tireóide / Sabrina Mendes Coelho. Rio de Janeiro: UFRJ / Faculdade

de Medicina, 2005.

xv, 108 f., il., 31cm.

Orientadores: Mário Vaisman e Denise Pires Carvalho

Dissertação (Doutorado) Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Medicina / Endocrinologia, 2005.

Referências Bibliográficas: f. 66-80

1. Neoplasias da tireóide. 2. Recidiva. 3. Tireoglobulina 4. mRNA.

Tese. I. Dissertação (Doutorado) Faculdade de Medicina. II. Título.

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4

Ao meu melhor projeto,

meu filho Bernardo.

AGRADECIMENTOS

III.

Aos meus amados pais, Sérgio e Regina. Além de todo amor e suporte sempre oferecidos,

ensinaram-me a importância da responsabilidade, honestidade e dedicação para alcançar objetivos na

vida e a não temer os obstáculos.

As minhas queridas irmãs Soraya e Raquele, pela eterna torcida e estímulo. Aos meus sobrinhos,

Marcelo e Rodrigo, pela grande fonte de alegria.

Ao meu amado marido Flávio, pelo seu companheirismo. Sua força, incentivo e carinho me

auxiliam a enfrentar os momentos difíceis.

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Às amigas Renata Grozovsky, Flávia Nóbrega, Elaine Cristina e a todos do Laboratório de

Fisiologia Endócrina pelo companheirismo, incentivo e ajuda nos experimentos laboratoriais. À Vanessa

Varandas pela amizade e auxílio no acompanhamento dos pacientes.

Ao Dr. Ronald Freire e Dra. Maria Inês pela confiança neste projeto de pesquisa e

encaminhamento de pacientes.

A Mabel Barbosa Esteves, doutoranda do Laboratório de Imunologia Tumoral, que auxiliou nos

experimentos de cultura primária de linfócitos.

À Profa. Dra. Doris Rosenthal, minha primeira orientadora, cuja dedicação exemplar à pesquisa,

estimulou-me a seguir este caminho.

Ao Prof. Dr. Alexandru Buescu, Chefe do Ambulatório de Câncer de Tiróide, pela confiança e

carinho em mim depositados.

Aos meus eternos e queridos orientadores. Em 1992, quando ingressei no

Programa de Iniciação Científica, fui premiada por ter a Profª. Drª. Denise Pires de

Carvalho como minha orientadora. Sua inteligência, sensatez e dinamismo tornam-na

esta admirável pesquisadora. O meu primeiro contato com o Prof. Dr. Mário Vaisman foi

em 1994, no Curso da Graduação em Medicina. Entretanto, foi ao longo do Curso de

Residência Médica que pude conhecer esta rara pessoa. Sua objetividade, seriedade e

sua incansável disposição em estimular os alunos tornam-no um exemplo a ser

seguido. Desta forma, se hoje cheguei até esta etapa profissional, certamente foi devido

à enorme contribuição desta maravilhosa dupla de orientadores. Obrigada também pelo

carinho e amizade tão importantes nesta caminhada.

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RESUMO

Após quase uma década de estudo sobre amplificação do mRNA de

tireoglobulina (Tg) em sangue de pacientes com carcinoma diferenciado da tireóide,

ainda não foi estabelecida sua real contribuição. Neste trabalho objetiva-se avaliar: 1) a

possibilidade de relação entre a detecção do mRNA de Tg no sangue de pacientes com

carcinoma tireoideano e a avaliação tradicional através da Tg sérica, pesquisa de corpo

inteiro e ultra-sonografia cervical; 2) se a presença do mRNA de Tg representa um fator

de risco para recidiva; 3) a possibilidade de transcrição ilegítima de mRNA de Tg em

modelo de linfócitos em cultura. Após padronização das técnicas de extração de RNA e

RT-PCR em 10 indivíduos normais, foram estudados 32 pacientes com carcinoma da

tireóide. O mRNA foi encontrado em 100% dos pacientes com doença residual. Dos 25

pacientes sem evidência prévia de doença, o mRNA foi detectado em 9, porém a nova

investigação confirmou recidiva somente em 2 casos. A Tg sérica em supressão e o

mRNA de Tg apresentaram sensibilidade de 75% e especificidade de 100% e 61,1%,

respectivamente. Nos pacientes com mRNA de Tg não foi observado um maior risco de

recidiva num período de 24 meses de acompanhamento. O estudo com linfócitos em

cultura demonstrou expressão do mRNA de Tg por estas células, podendo representar

transcrição ilegítima e justificar a baixa especificidade do método. A aplicabilidade

clínica do teste de mRNA de Tg só será possível após padronização de técnica capaz

de distinguir a amplificação específica da não específica.

Palavras-chaves: câncer de tireóide, recidiva, tireoglobulina, mRNA de tireglobulina.

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ABSTRACT

IV.

The amplification of thyroglobulin (Tg) mRNA in peripheral blood of patients with

thyroid cancer has been studied for almost one decade, but its real contribution has not

yet been established. The objectives of this study were to analyze: 1) the possible

correlation between Tg mRNA expression in peripheral blood and the traditional

evaluation of patients by thyroid carcinoma with serum Tg, whole body scan and cervical

ultrasound; 2) whether Tg mRNA expression represents a risk factor for relapse; 3) the

possibility of illegitimate transcription of Tg mRNA by lymphocytes in culture. After

standardization of total RNA extraction and RT-PCR amplification in 10 normal

volunteers, 32 patients with thyroid cancer were studied. Amplification of Tg mRNA was

observed in 100% of patients with known residual disease. Of the 25 patients without

previous evidence of disease, Tg mRNA was detected in 9. However the new

investigation confirmed relapse in only 2 cases. Serum Tg during suppressive therapy

and Tg mRNA had sensitivity of 75% and specificity of 100% and 61.1%, respectively.

Patients with Tg mRNA detected in blood did not have an increased risk of cancer

relapse after 24 months of follow-up. The study with cultured lymphocytes

demonstrated Tg mRNA expression by theses cells. This finding may represent

illegitimate transcription and justify the low specificity of this test. The clinical applicability

of Tg mRNA amplification will only be possible after a methodological standardization

that could distinguish specific from non-specific amplification.

Key words: thyroid cancer, relapse, thyroglobulin mRNA, thyroglobulin.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

V.

Anti -Tg Anticorpo anti-tireoglobulina

cDNA Ácido desoxirribonucléico complementar

CDT Carcinoma diferenciado da tireóide

DNA Ácido desoxirribonucléico

dNTP Coquetel de nucleotídeos

DTT Ditiotreitol

ELISA Ensaio de imunoabsorbância ligado a enzima

GAPDH Gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase

ICMA imunoquimioluminescência

IRMA Ensaio radioimunométrico

mRNA Ácido ribonucléico mensageiro

NIS Transportador de sódio-iodeto

PCI Pesquisa de corpo inteiro

PCR Reação em cadeia de polimerase

RIE Radioimunoensaio

RM Ressonância magnética

RNA Ácido ribonucléico

RT Transcrição reversa

RT- Transcrição reversa sem adição da enzima RT-PCR Reação em cadeia de polimerase após transcrição reversa

T4 livre Tiroxina livre

TC Tomografia computadorizada

Tg Tireoglobulina

TPO Tireoperoxidase

TSH Hormônio estimulador da tireóide

TSHR Receptor de TSH

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UICC União Internacional Contra o Câncer

USG Ultra-sonografia

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Pag Tabela 1 Detecção da Tg sérica de acordo com o tipo de tratamento e o nível de

TSH ................................................................................................................................08

Tabela 2 Diferença da metodologia empregada para amplificação de mRNA de

tireoglobulina ...............…................................................................................................16

Tabela 3 Comparação entre os resultados dos principais artigos publicados .........19

Tabela 4 Casuística - Característica dos pacientes com persistência

tumoral............................................................................................................................33

Tabela 5 Casuística - Característica dos pacientes com Tg sérica prévia < 1ng/ml

em supressão .................................................................................................................34

Tabela 6 Exames dos pacientes com doença residual conhecida.......................................................................................................................38

Tabela 7 Exames dos pacientes com Tg sérica prévia < 1 ng/mL em supressão........................................................................................................................41

Tabela 8 Concordância entre mRNA e investigação clínica ....................................43

Tabela 9 Comparação da sensibilidade e especificidade entre os testes de mRNA de Tg e Tg

sérica em supressão.....................................................................................44

Tabela 10 Acompanhamento dos pacientes com mRNA de Tg indetectável.............50

Tabela 11 Acompanhamento dos pacientes com mRNA de Tg

detectável........................................................................................................................51

Figura 1 Esquema de extração de RNA...................................................................24

Figura 2 Características dos oligunucleotídeos iniciadores.....................................26

Figura 3 Esquema das etapas de RT-PCR..............................................................28

Figura 4 Fluxograma do acompanhamento dos pacientes......................................30

Figura 5 Fragmentos de mRNAs da Tg e GAPDH amplificados através da técnica de RT-

PCR......................................................................................................................36

Figura 6 mRNA de Tg no sangue de pacientes em aparente remissão detectado através da

técnica de RT-PCR........................................................................................40

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Figura 7 Resumo do resultado da pesquisa de mRNA de Tg e da avaliação

clínica..............................................................................................................................46

Figura 8 Percentual de pacientes com mRNA de Tg detectável de acordo com o

estadiamento tumoral .....................................................................................................47

Figura 9 Resultado da extração de RNA e RT-PCR de linfócitos ...........................52

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LISTA DE ANEXOS

VI.

Anexo 1 Artigo de revisão submetido aos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e

Metabologia.................................................................................................................... 81

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SUMÁRIO

VII.

Pag

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................01

2 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................03

I. Dificuldades técnicas da tireoglobulina sérica..................................05

II.RNA mensageiro da Tg como possível marcador tumoral...............09

3 OBJETIVOS..............................................................................................20

4 PACIENTES E MÉTODOS........................................................................21

I. Seleção de pacientes........................................................................21

II. Avaliação clínica e labortorial...........................................................22

III. Extração de RNA.............................................................................22

IV. Síntese de cDNA (transcrição reversa)...........................................25

V. Amplificação através de reação em cadeia de polimerase..............26

VI. Reavaliação clínica.........................................................................29

VII. Estudo da expressão de mRNA de Tg por células não

tireoideanas.........................................................................................31

VIII. Análise estatística.........................................................................32

5 RESULTADOS..........................................................................................33

I. Características dos pacientes...........................................................33

II. Resultados da pesquisa de mRNA no grupo controle.....................35

III. Resultados da pesquisa de mRNA nos pacientes..........................37

IV. Resultado do acompanhamento dos pacientes.............................49

V. Resultado do estudo da expressão de mRNA de Tg em

Linfócitos............................................................................................52

6 DISCUSSÃO.............................................................................................53

7 CONCLUSÕES.........................................................................................65

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8 REFERÊNCIAS ........................................................................................66

9 ANEXO......................................................................................................81

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INTRODUÇÃO

Pacientes com carcinoma diferenciado da tireóide (CDT), papilífero ou folicular,

apresentam em geral bom prognóstico após tratamento inicial. Entretanto, recidiva

tumoral, local ou à distância, não é infreqüente, podendo ocorrer até algumas décadas

após o diagnóstico. Como conseqüência, os pacientes devem ser mantidos em

permanente acompanhamento para detecção precoce da recidiva.

A forma clássica de avaliar a presença de recorrência tumoral é o

acompanhamento da tireoglobulina (Tg) sérica e a realização de cintilografia de corpo

inteiro (PCI) com iodo radioativo (131I ou 123I). Entretanto, vários outros métodos

complementares também podem ser utilizados, como por exemplo, ultra-sonografia

(USG), tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM), cintilografia

com sestamibi, fluorodeoxiglicose, entre outros.

Em pacientes com CDT, espera-se que a Tg sérica torne-se indetectável após

tratamento ablativo (tireoidectomia total ou subtotal alargada complementada com iodo

radioativo). Nesta situação qualquer nível detectável de Tg pode indicar persistência ou

recorrência da doença maligna.

Vários estudos têm confirmado o importante papel da Tg sérica como marcador

tumoral no acompanhamento de pacientes com CDT (Schlumberger e Baudin, 1998;

Girelli e De Vido, 2000). Entretanto, o ensaio da Tg apresenta alguns dilemas técnicos,

como por exemplo, a sensibilidade do teste dependente do nível de TSH, a interferência

com anticorpo anti-Tg, a existência de métodos comerciais com baixa sensibilidade, a

possibilidade do efeito gancho, a variação interensaio, a ausência de padronização

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internacional e a produção, por alguns tumores, de formas variantes de Tg não

detectadas pelo método.

O anticorpo anti-Tg permanece como o principal fator de interferência, uma vez

que aproximadamente 15 a 25% dos pacientes com CDT apresentam este anticorpo

(Kumar e cols, 1994; Spencer e cols, 1998; Chung e cols, 2002), dificultando a correta

interpretação do nível de Tg sérica.

Na tentativa de evitar a interferência com anticorpo anti-Tg e aumentar a

sensibilidade em detectar recidiva tumoral, novos métodos vêm sendo desenvolvidos.

Nos últimos anos, foi verificado que células tireoideanas podem ser encontradas na

corrente sangüínea (Ringel e cols, 1998). Este achado possibilita utilizar como

marcador sangüíneo de recidiva tumoral a amplificação de RNAs mensageiros (mRNA)

característicos da tireóide.

Estudos iniciais sugeriram que a amplificação do mRNA da Tg poderia

representar uma alternativa promissora (Ringel e cols, 1998; Wingo e cols, 1999;

Biscolla e cols, 2000). No entanto, atualmente se questiona o verdadeiro valor da

detecção do mRNA de Tg, uma vez que vários estudos recentes demonstram baixa

acurácia do método.

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REVISÃO DA LITERATURA

A revisão de literatura realizada foi submetida sob a forma de artigo de revisão

aos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, intitulado “Amplificação de

mRNA de tireoglobulina no sangue de pacientes com carcinoma diferenciado da

tireóide: qual o seu verdadeiro significado?” (Anexo I).

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Os CDTs, papilífero e folicular, estão entre as neoplasias malignas com melhor

índice de cura. A taxa de sobrevida em 20 anos é de 95% para o carcinoma papilífero e

de 70 a 80% para o folicular (Hamming e cols, 1989). No entanto, alguns pacientes

apresentam alto risco de recorrência tumoral, ou mesmo de morte, e o prognóstico é

afetado por fatores relacionados ao paciente, ao tratamento e à própria doença. A

recidiva tumoral, local ou à distância, não é infreqüente, podendo ocorrer até algumas

décadas após o diagnóstico (Mazzaferri e Massoll, 2002), evidenciando a necessidade de

acompanhamento permanente dos pacientes com CDT.

A forma clássica de avaliar a presença de recorrência tumoral é o acompanhamento

da Tg sérica e a realização de PCI. A USG cervical também vem se afirmando como

método diagnóstico importante para a detecção de recorrência cervical, com

sensibilidade superior à Tg sérica e à PCI (Frasoldati e cols, 2003).

Apesar da Tg sérica ser considerada um excelente marcador de recidiva tumoral, o

ensaio da Tg apresenta ainda alguns dilemas técnicos. Em especial destaca-se a

interferência com anticorpo anti-Tg, e a sensibilidade dependente do nível de TSH. A

administração de TSH recombinante precedendo a dosagem de Tg sérica é

interessante, pois aumenta a síntese de Tg pelos tireócitos, melhorando a sensibilidade

do método, e evita os sintomas indesejáveis do hipotireoidismo. No entanto, o alto custo

desta substância dificulta seu emprego no seguimento dos pacientes com CDT.

Na tentativa de melhorar o acompanhamento de pacientes com câncer,

diagnosticando precocemente a recidiva, esforço tem sido realizado para o

desenvolvimento de métodos alternativos. A amplificação de mRNA tumor específico

extraído a partir de sangue parece ser útil em detectar células neoplásicas na corrente

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sangüínea (Moreno e cols, 2002; Burchill e cols, 1994; Johnson e cols, 1995). Na

década de 90, iniciou-se a avaliação da pesquisa de mRNA de Tg em amostra de

sangue de pacientes com CDT, com resultados iniciais promissores (Ditkoff e cols,

1996; Tallini e cols, 1998; Ringel e cols, 1998).

III. DIFICULDADES TÉCNICAS DA TIREOGLOBULINA SÉRICA

A Tg é uma proteína sintetizada exclusivamente pelas células foliculares da tireóide.

É codificada por um gene de pelo menos 300kb, contendo 48 exons e localizado no

cromossomo 8 (Baas e cols, 1985; Mendive e cols, 1999; Van de Graaf e cols, 2001). O

produto final é uma glicoproteína de 660 kDa, formada por 2 subunidades idênticas,

unidas por ligação não-covalente. A Tg pode apresentar-se de forma heterogênea em

decorrência de splicing alternativo do seu mRNA.

Por muitos anos acreditava-se que a Tg era encontrada exclusivamente na glândula

tireóide. A partir da década de 40 surgiram relatos de detecção de Tg no sangue

(Lerman, 1940), mas foram Van Herle e cols (1973) que estabeleceram o primeiro

método útil clinicamente para detectar a Tg, o radioimunoensaio (RIE) utilizando

anticorpo policlonal de coelho. Na década de 80, os ensaios radioimunométricos

(IRMAs) com anticorpo monoclonal tornaram-se disponíveis.

Atualmente, existem 4 imunoensaios disponíveis para a dosagem da Tg: RIE (com

duplo ou único anticorpo), IRMA, ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) e ICMA

(imunoquimioluminescência). Destes, o RIE com duplo anticorpo, IRMA e ICMA são as

técnicas de escolha.

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Vários fatores podem afetar a acurácia do ensaio de Tg, podendo ser divididos em

fatores ensaio-dependentes e ensaio-independentes (Torréns e Burch, 2001):

- Fatores ensaio-independentes:

. Presença de anticorpo anti-Tg;

. Níveis extremamente elevados de Tg (efeito gancho);

. Anticorpo heterofílico;

. Outros: gamopatia monoclonal, doença renal terminal.

- Fatores ensaio-dependentes:

. Falta de padronização internacional;

. Especificidades diferentes dos anticorpos utilizados;

. Falta de precisão interensaio;

. Sensibilidade funcional sub-ótima;

. Variante de Tg não reconhecida pelo anticorpo utilizado no método.

O anticorpo anti-Tg permanece como o principal fator de erro na dosagem de Tg

sérica, uma vez que aproximadamente 15 a 25% dos indivíduos com CDT apresentam

anticorpo anti-Tg (Kumar e cols, 1994; Spencer e cols, 1998, Chung e cols, 2002),

prevalência esta mais elevada que na população geral. É importante salientar que o

grau de interferência não é proporcional ao título do anticorpo e que nenhum método

está totalmente livre desta interferência. Na presença do auto-anticorpo, o RIE

geralmente determina falsa elevação da Tg, ao passo que IRMA e ELISA podem

subestimar. Desta forma, recomenda-se screening de anticorpo anti-Tg em todo

paciente com CDT. Infelizmente, vários laboratórios ainda utilizam teste de

hemaglutinação para detecção de auto-anticorpo, que sabidamente apresenta baixa

sensibilidade. A discordância entre o nível de Tg medida por RIE e IRMA pode

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funcionar como um indicador sensível da interferência do anticorpo (Spencer e cols,

1998). Uma alternativa é o teste de recuperação, que consiste em adicionar uma

quantidade conhecida de Tg ao soro e medir posteriormente a recuperação. Caso a

recuperação da Tg seja inferior a 80% sugere haver interferência do anticorpo e se

maior que 80% diminui a possibilidade de interferência. Entretanto, a acurácia deste

teste não é alta e, portanto, o mesmo não deve ser utilizado para validar a medida da

Tg sérica (Spencer e cols, 1996).

A Tg quando em nível bastante elevado (10 a 10.000 vezes a faixa superior de

detecção) pode ser falsamente detectada em nível normal ou mesmo baixo. Este

fenômeno é conhecido como efeito gancho e é exclusivo dos ensaios com duplo

anticorpo, como o IRMA e RIE. Neste caso, a diluição do soro é recomendada.

Ao contrário do anticorpo anti-Tg, a interferência do anticorpo heterofílico não é

habitualmente reconhecida pelos laboratórios e clínicos. Quando presente, este

anticorpo resulta em teste falso positivo (Preissner e cols, 2003). Como alguns

pacientes são tratados com base na elevação da Tg sérica, a não identificação do

anticorpo heterofílico pode resultar em tratamento desnecessário.

Uma vez na circulação, a meia-vida da Tg é de 3 a 65 horas, dependendo do grau

de modificações pós-traducionais (Izumi e cols, 1986) e a sua metabolização é feita

primariamente pelo fígado. O nível sérico da Tg depende de 2 fatores principais: o

volume tireoideano e o nível de TSH sérico.

- Volume tireoideano

Em geral, quanto maior a massa de tecido tireoideano (normal ou neoplásico) maior

o nível de Tg sérica. Desta forma, nos pacientes submetidos à terapia ablativa (cirurgia

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associada à dose ablativa de 131I) a Tg permanece indetectável numa maior proporção

de casos em relação aos pacientes tratados de forma mais conservadora, 98% e 50%,

respectivamente (Tabela 1).

TABELA 1: Detecção da Tg sérica de acordo com o tipo de tratamento e o

nível de TSH

% Pacientes com Tg sérica indetectável

TSH suprimido Em hipotireoidismo

Cirurgia + ablação com 131I 98% 90%

Tireoidectomia

(total ou subtotal)

93% 80%

Lobectomia unilateral 50% ~0%

Baseado em Schlumberger e Pacini, 1999.

- Nível de TSH

Como o TSH é um importante estimulador da função tireoideana e mesmo células

neoplásicas mantém expressão de seu receptor, é esperado que o nível de Tg sérica

varie de acordo com a concentração de TSH (Tabela 1). Desta forma, ao interpretar o

valor da Tg deve-se sempre avaliar o nível de TSH.

Cerca de 20% dos pacientes com metástases para linfonodo e 5% dos pacientes

com pequenas metástases à distância apresentam Tg indetectável durante terapia

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supressora de TSH com levotiroxina. Esta percentagem cai para 10 e menos de 1%,

respectivamente, quando induzido o hipotireoidismo (Schlumberger, 1998).

Outro fator importante para a determinação do nível de Tg sérica é a capacidade

intrínseca do tumor de sintetizar e secretar esta glicoproteína. A determinação pré-

operatória da Tg sérica talvez possa ser útil para avaliar esta habilidade tumoral

(Spencer e cols, 1999).

Desta forma, observa-se que, apesar da Tg ser um marcador tumoral bastante útil

no acompanhamento pós-operatório, resultados falso-negativos ocorrem (Tg sérica

indetectável em vigência de persistência ou recorrência tumoral). Estes casos são

geralmente explicados pela menor sensibilidade do exame durante terapia supressora

de TSH ou por interferência com anticorpo anti-Tg. Na tentativa de superar estas

dificuldades, estudos têm sido realizados com o objetivo de desenvolver métodos

alternativos de investigação.

IV. RNA MENSAGEIRO DA Tg COMO POSSÍVEL MARCADOR TUMORAL

O conceito de detecção molecular altamente sensível de células tumorais na

corrente sangüínea foi descrito no início da década de 90 para tumores sólidos, como

carcinoma de próstata (Moreno e cols, 1992), neuroblastoma (Mattano e cols, 1992) e

carcinoma de mama (Datta e cols, 1994). Especialmente no câncer de próstata, a

detecção por reação em cadeia de polimerase após transcrição reversa (RT-PCR) de

células neoplásicas no sangue parecia preceder a elevação dos demais marcadores

séricos, favorecendo ao diagnóstico mais precoce da recidiva (Ghossein e cols, 1995).

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No primeiro estudo de mRNA de Tg no acompanhamento de pacientes com CDT,

Ditkoff e cols (1996) conseguiram detectar por RT-PCR este mRNA em todos os 9

pacientes com doença metastática e em menos de 10% (7 de 78) dos pacientes sem

metástases. Neste grupo, a detecção do mRNA de Tg foi mais freqüente naqueles com

história prévia de metástase (5 de 22) do que naqueles sem história de metástase (2 de

56). Nos voluntários normais e nos pacientes com doença benigna não foi vista

amplificação. Estes resultados iniciais sugeriram, que a presença na circulação

sangüínea do mRNA de Tg poderia representar doença tireoideana disseminada via

hematogênica.

Posteriormente, Tallini e cols (1998) conseguiram detectar mRNA de Tg e

tireoperoxidase (TPO) em 54,2% dos indivíduos em acompanhamento de CDT,

incluindo 5 de 8 pacientes sem evidência de doença no momento do exame. Entretanto,

4 destes 5 casos apresentaram invasão extratireoideana ou metástase para linfonodo

no momento da cirurgia. Já a amplificação do mRNA de RET/PTC 1 foi observada em

apenas 1 dos 18 pacientes com carcinoma papilífero e em nenhum paciente com

doença benigna. O mRNA de Tg e de TPO foram também detectados em 10% (2 de

20) dos pacientes com doença tireoideana benigna. No entanto, no pós-operatório o

mRNA não foi mais encontrado. Este achado demonstra que a presença no sangue de

mRNA específico da tireóide não está necessariamente relacionada à metástase.

Em 1998, utilizando metodologia de extração de RNA total diferente dos demais,

Ringel e cols (1998) detectaram mRNA de Tg em todos os 10 indivíduos normais

eutireoideanos testados. Dentre os 87 pacientes com CDT, o mRNA de Tg foi detectado

em 26 de 33 pacientes (79%) com remanescente em leito tireoideano ou doença

metastática confirmada em PCI, ao passo que a Tg sérica foi detectada somente em 12

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destes pacientes (36%) durante terapia supressora de TSH. Nos pacientes com PCI

negativa, a Tg sérica estava detectável em 2 e o mRNA em 7 pacientes. Neste estudo a

amplificação do mRNA de Tg apresentou maior sensibilidade que a Tg sérica para

pesquisa de doença residual, pelo menos durante supressão de TSH. Entretanto, sua

especificidade foi inferior. Neste mesmo trabalho, através de técnica de

imunocitoquímica foram demonstradas células com expressão de receptor de TSH e Tg

na corrente sangüínea de indivíduos normais, sugerindo que a presença de tireócitos

no sangue não estaria relacionada apenas à disseminação hematogênica do carcinoma

da tireóide.

Este mesmo grupo (Wingo e cols, 1999) desenvolveu um método de RT-PCR

quantitativo e amplificou o mRNA de Tg em todos os 32 voluntários normais. A

concentração média encontrada foi de 433 ± 69 ng de RNA total tireoideano / litro de

sangue, com variação de 26 a 1502 ng/L. Aplicando metodologia semelhante em 107

pacientes com CDT e utilizando o valor de 3pg de mRNA de Tg / µg RNA de tireóide

como cutoff, o mRNA de Tg foi encontrado em 38% dos pacientes sem captação

anormal de iodo na PCI, 75% daqueles com captação em leito tireoideano, 84% com

doença cervical e 94% com metástases à distância (Ringel e cols, 1999).

A amplificação do mRNA do transportador de sódio-iodeto (NIS) também já foi

testada (Biscolla e cols, 2000). O interesse maior no estudo do NIS como marcador

tumoral é avaliar se há correlação entre sua expressão e a captação de iodo, tentando

explicar a discordância entre Tg sérica e PCI encontrada em alguns pacientes.

Entretanto, a amplificação do mRNA do NIS por nested PCR (2 ciclos seguidos de

amplificação, utilizando 2 pares de seqüências de oligonucleotídeos iniciadores

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distintos) mostrou baixa acurácia (sensibilidade de 16,6% e especificidade de 54%),

não havendo necessariamente correlação com a captação. A baixa especificidade pode

ser explicada, pelo menos em parte, pela expressão deste transportador em tecidos

não tireoideanos. Neste mesmo estudo, a sensibilidade e especificidade da

amplificação do mRNA da Tg por nested PCR foram de 83% e 71% e da Tg sérica 50 e

89%, respectivamente.

A detecção de mRNA de TPO foi novamente estuda (Roddiger e cols, 2002),

desta vez em um grupo maior de pacientes: 120 com carcinoma tireoideano, 85 com

doença benigna e 54 voluntários normais. Dentre os indivíduos com doença maligna, o

mRNA da TPO foi detectado em 70% daqueles com metástases (7/10), sendo que em 3

a Tg sérica foi negativa (< 5 ng/mL). Naqueles sem metástase documentada, o mRNA

da TPO foi detectado em 36% (39/110). Nestes, observou-se correlação positiva com a

presença de metástase para linfonodo (p = 0,05), estadiamento (p = 0,01) e Tg elevada

(p = 0,03).

A avaliação do mRNA de Tg por RT-PCR quantitativo em crianças com doença

tireoideana benigna e maligna não mostrou diferença significativa entre os 2 grupos.

Entretanto, nos pacientes previamente tratados por carcinoma papilífero, o nível de

mRNA de Tg correlacionou-se com a PCI e com a Tg sérica (Fenton e cols, 2001).

Apesar destes resultados iniciais promissores, questiona-se atualmente o

verdadeiro valor e acurácia da detecção do mRNA de Tg no acompanhamento do CDT.

Vários pacientes em aparente remissão clínica (Tg sérica indetectável e PCI negativa)

apresentam mRNA circulante detectável (falso-positivo) e alguns pacientes

sabidamente com doença metastática apresentam mRNA indetectável (falso-negativo).

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A expressão no sangue do mRNA da Tg por RT-PCR semi-quantitativo (com

variação do número de ciclos de 32 a 36) foi comparada entre pacientes submetidos a

tireoidectomia total por outra patologia que não CDT (carcinoma medular de tireóide,

carcinoma de laringe e bócio multinodular atóxico) e indivíduos normais (Bugalho e

cols, 2001). Não foi encontrada diferença significativa da expressão do mRNA de Tg

entre os 2 grupos. Além disso, o RNA foi detectado tanto na camada de células

mononucleares quanto de polimorfonucleares, sugerindo que células sangüíneas talvez

possam expressar o mRNA da Tg. Entretanto, deve ser salientado que neste estudo os

pacientes tireoidectomizados não foram avaliados com cintilografia da tireóide para

avaliar possível remanescente tireoideano pós-operatório.

No estudo por RT-PCR quantitativo com 57 pacientes tireoidectomizados não foi

encontrada diferença de expressão do mRNA de Tg entre indivíduos com e sem

metástase de CDT, questionando-se a especificidade deste método (Takano e cols,

2001). Entretanto, a metodologia adotada foi diferente da anteriormente descrita por

Ringel e cols (1999). Não foi realizado tratamento com DNAse para prevenir

amplificação de DNA genômico, e a padronização da curva de concentração foi feita

com a amplificação do gene da GAPDH e não com RNA total de tireóide.

Diante de resultados tão conflitantes, é difícil avaliar o verdadeiro valor do mRNA

de Tg. No entanto, realizando uma análise criteriosa da metodologia utilizada pelos

diversos grupos observa-se uma enorme variedade de protocolos, o que certamente

justifica a discrepância entre os resultados. Em relação ao processamento da amostra

de sangue, observa-se variação quanto a: 1) tipo de tubo em que a amostra é coletada

(com heparina, citrato, EDTA ou diretamente no tubo de extração contendo substância

estabilizadora de RNA), 2) volume de sangue utilizado (0,3 a 10 mL), 3) separação de

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camadas celulares por gradiente ou utilização de sangue total, 4) Kit de extração de

RNA (6 diferentes kits utilizados) e 5) tratamento ou não do RNA extraído com DNAse

(Tabela 2). Estudo de determinação de carga viral em pacientes infectados pelo HIV

demonstrou variação significativa de acordo com o tubo utilizado: o nível de RNA viral

no plasma coletado em tubo contendo EDTA foi, em média, 14% e 31% mais elevado

que no tubo com citrato e heparina, respectivamente (Dickover e cols, 1998). Eszlinger

e cols (2002), estudando pacientes com CDT, comparou a eficácia de extração de

vários métodos (tubos com citrato ou EDTA, separação ou não de camada

mononuclear e processamento imediato, 24 horas ou 48 horas após a coleta) e concluiu

que a utilização de tubos com citrato com subseqüente separação da camada

mononuclear e extração imediata garantem um melhor resultado. Entretanto, não foi

comparada esta metodologia com um dos métodos de extração mais utilizados

(amostra de sangue adicionada diretamente em tubo estéril contendo substância

estabilizadora de RNA).

Os diversos estudos também divergem quanto à metodologia de RT-PCR: 1)

quantidade de RNA total utilizado para a síntese de cDNA (1,0 ng a 11,5µg), 2)

quantidade de cDNA empregada para realização da PCR, 3) seqüência de

oligonucleotídeos iniciadores escolhida, 4) tipo de amplificação (PCR qualitativo,

nested, semiquantitativo, quantitativo) e 5) número de ciclos (Tabela 2).

Com relação ao número de ciclos, Bojunga e cols (2000) compararam 2 métodos

com sensibilidades distintas, o primeiro utilizando PCR com 30 ciclos (com capacidade

de detectar 50 a 100 células expressando mRNA de Tg) e o segundo com 40 ciclos

(com capacidade de 20 a 30 células). Foi extraído RNA total de vários tecidos e de

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sangue de indivíduos com CDT (com e sem metástase), doença benigna tireoideana e

voluntários normais. Após 30 ciclos de amplificação, o mRNA de Tg foi encontrado no

sangue de 9 dos 13 pacientes (69,2%) com metástase. Com aumento para 40 ciclos,

observou-se incremento da sensibilidade, detectando em 11 destes 13 pacientes;

entretanto, houve perda da especificidade, com detecção do mRNA da Tg em várias

amostras de tecido não-tireoideano, como timo, supra-renal, hipófise, pulmão, testículo

e apêndice.

Da mesma forma que se acreditava que a expressão do mRNA do receptor de

TSH era exclusiva do tireócito e hoje se sabe que é encontrado também em adipócitos

e linfócitos (Francis e cols, 1991; Endo e cols, 1995), pode ser que o mRNA da Tg

também seja expresso por outras células, fenômeno denominado de transcrição

ilegítima.

Gupta e cols (2002) investigaram a especificidade de diferentes pares de

seqüências de oligonucleotídeos iniciadores (primers) em amplificar o mRNA de Tg e

do receptor de TSH (TSHR) em sangue de indivíduos normais e em amostra de câncer

de tireóide. Para isto foram escolhidos 4 pares de primers de TSHR e 3 pares de Tg já

descritos previamente na literatura (Ditkoff e cols, 1996; Arturi e cols, 1997; Ringel e

cols, 1998). Foi observado que todos os primers de TSHR e de Tg formam capazes de

amplificar os respectivos mRNAs extraídos a partir de tecido. Quando os experimentos

foram realizados com RNA extraído a partir de sangue (camada de células

mononucleares), somente 1 par de primer de TSHR e 1 de Tg não amplificou. Estes

resultados sugerem que células sanguíneas talvez possam expressar estes mRNAs.

Entretanto, é provável que o processamento pós-transcripcional (splicing) seja distinto

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nas células tireoideanas e não-tireoideanas e que a seleção do primer possa determinar

maior especificidade ao método.

TABELA 2: Diferença da metodologia empregada para amplificação de mRNA de

tireoglobulina

Variáveis Diferenças de Protocolo

Tubo para coleta de sangue Heparinizado14;35;47; contendo citrato 37;

EDTA29;32;33;34;37;38;41;45;47; ou diretamente em

tubo contendo substância estabilizadora de

RNA13;15;30;31;43;44;46

Volume de sangue 1,031;44 a 10mL14;35

Preparo do sangue para extração Separação por gradiente de camadas

celulares14;32;33;35;38;41;47 ou extração a partir de

sangue total13;15;29;30;31;37;43;44;45;46

Kit de extração de RNA TRIzol14;15;30;31;34;35;41;43;44;47; RNA STAT 6013;

PUREscript29;33;45;46; Rneasy blood32;34;38;

QIAmp RNA blood37; PAXgene blood RNA48

Amplificação de DNA genômico ou

RNA

Tratamento do RNA com DNAse; uso de

primers em exons distintos

Quantidade de RNA 1,0ng47 a 11,5µg37

Seqüência de oligonucleotídeos

iniciadores

Escolha de primers localizados em diversas

regiões do gene de tireoglobulina, englobando

ou não áreas sujeitas a splicing alternativo.

Tipo de amplificação PCR qualitativo13;14;15;38;41;44;45; nested

PCR31;32;47; PCR semi-quantitativo34; PCR

quantitativo29;30;33;35;37;43;46;48

Número de ciclos 3014;38;41 a 35+3532

Baseado nos artigos publicados de 1996 a 2004. Ver referências no artigo em anexo.

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Splicing alternativo do mRNA de Tg pode afetar não somente a especificidade,

como também a sensibilidade, especialmente se a sequência de oligonucleotídeos

empregada for direcionada para áreas sabidamente de risco de splicing. A possibilidade

de resultado falso negativo decorrente de splicing alternativo foi avaliada por Savagner

e cols (2002). Para estimar o risco de erro na medida do mRNA de Tg, foi calculada a

percentagem de uma das formas variantes do mRNA, comparando com o total de

mRNA de Tg em células tireoideanas circulantes. Cerca de 20% dos pacientes

avaliados apresentaram este splicing alternativo, correspondendo a até 33% do valor

total.

Mais recentemente, foram estudados 36 pacientes com CDT em aparente

remissão e com anticorpo anti-Tg negativo (Fugazzola e cols, 2002). Foram dosados Tg

sérica por 2 métodos com sensibilidade de 0,9 µg/L e 0,1 µg/L (Tg altamente sensível),

além do mRNA de Tg, antes e após a administração de TSH recombinante. Foi

avaliado o grau de concordância entre estes exames e a avaliação clínica (USG

cervical, PCI, Tg altamente sensível após TSH recombinante). A Tg com sensibilidade

de 0,9 µg/L apresentou concordância de 53% no basal e 55% após estimulação com

TSH. O RNA concordou com a avaliação clínica em 66% no basal e pós-estimulação.

Neste estudo, as condições da RT-PCR foram otimizadas para evitar transcrição

ilegítima. Foi primeiramente estabelecida a quantidade de cDNA oriundo de células

K562 (células de leucemia mielóide crônica) que não determina amplificação de Tg.

Com base neste dado, foi posteriormente feita padronização para as amostras de

sangue dos pacientes. Nestas condições, não foi observada amplificação de mRNA de

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Tg no paciente com agenesia tireoideana. Desta forma, o emprego de uma metodologia

que diminua o risco de interferência da transcrição ilegítima talvez possa ser útil.

Apesar da possibilidade de baixa especificidade por transcrição ilegítima da Tg

ou por variantes de Tg em células não tireoideanas, não se pode, até o momento,

afastar a hipótese de alta sensibilidade do método, diagnosticando precocemente a

recidiva. Somente o acompanhamento a longo prazo dos pacientes estudados poderá

definir se aqueles com mRNA detectável apresentam maior risco de recorrência

tumoral. Nos 28 pacientes com CDT estudados por Grammatopoulos e cols (2003) a

identificação de metástases na PCI correlacionou-se melhor com mRNA do que com a

Tg sérica. Cinco destes pacientes foram estudados prospectivamente com coleta de

sangue a cada 2 meses. Quatro mantiveram Tg e mRNA de Tg indetectáveis. No outro

paciente, o mRNA estava presente apesar da Tg indetectável; no entanto, durante o

acompanhamento a Tg sérica elevou-se e a PCI identificou metástases.

Elisei e cols (2004), utilizando metodologia criteriosa (primers selecionados para

evitar formas variantes de Tg e tratamento com DNAse para evitar amplificação

genômica), estudaram 80 pacientes com CDT e 20 indivíduos normais. Foram

encontradas sensibilidade de 82,3% e especificidade de 24,2%. Os 9 pacientes com

RNA detectável, sem outra evidência de doença, foram reavaliados após 4 anos com

dosagem de Tg sérica basal e estimulada, que se manteve indetectável. Desta forma, o

mRNA não foi capaz de predizer a recorrência tumoral, sugerindo falso-positivo. Deve-

se ressaltar, entretanto, o número pequeno de pacientes envolvidos e o curto período

de acompanhamento.

Com base nestes resultados conflitantes (Tabela 3), a amplificação de mRNAs

característicos da tireóide não parece ser, até o momento, superior aos métodos

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sensíveis de dosagem de Tg sérica já existentes. Entretanto, como muitos estudos

sugerem correlação entre mRNA e estadiamento tumoral, é possível que o

desenvolvimento de metodologia criteriosa, evitando a interferência gerada pela

transcrição ilegítima, permita que o mRNA de Tg seja empregado para o subgrupo de

pacientes com CDT e anticorpo anti-Tg.

Tabela 3: Comparação entre os resultados dos principais artigos publicados

Autor / ano Detecção nos

controles

Detecção na

doença benigna*

Detecção no CDT

em remissão

Detecção no CDT

metastático

Ditkoff / 1996 0/7 (0%) 0/6 (0%) 7/78 (9,8%) 9/9 (100%)

Ringel / 1998 10/10 (100%) _ 7/35 (20%) 14/14 (100%)

Biscolla / 2000 6/6 (100%) _ 4/20 (20%) 2/3 (66,6%)

Savagner / 2002 10/10 (100%) 12/12 (100%) 3/15 (18%) 10/10 (100%)

Fugazzola/2002 7/7 (100%) 3/3 (100%) 19/25 (76%) _

Denizot / 2003 0/4 (0%) _ 0/8 (0%) 1/7 (14,3%)

Chinnappa/2004 0/51 (0%) 3/27 (11%) 2/31 (6,4%) 8/8 (100%)

* Doença autoimune ou bócio multinodular; -: não avaliado.

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OBJETIVOS

I. OBJETIVO GERAL

Avaliar a amplificação de mRNA de Tg por RT-PCR como possível marcador

sérico de recorrência do carcinoma da tireóide.

II. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Analisar a capacidade do método desenvolvido em detectar mRNA de Tg em

sangue periférico de indivíduos normais;

- Avaliar sua capacidade de detectar recidiva ou persistência tumoral nos pacientes

com carcinoma da tireóide;

- Comparar a acurácia deste teste com a dosagem de Tg sérica em supressão;

- Acompanhar pacientes com CDT e anticorpo anti-Tg positivo, determinando o valor

da pesquisa de mRNA no acompanhamento destes pacientes;

- Avaliar se a presença do mRNA de Tg é um fator de risco para recidiva;

- Analisar a possibilidade de transcrição ilegítima de mRNA de Tg em modelo de

linfócitos em cultura.

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PACIENTES E MÉTODOS

I. SELEÇÃO DE PACIENTES

Inicialmente, foram selecionados 10 indivíduos sadios, laboratorialmente

eutireoideanos e com palpação normal da glândula tiróide, para compor o grupo

controle. Amostra de sangue foi coletada para padronização da técnica de extração de

RNA e de RT-PCR. Posteriormente, pacientes com diagnóstico histológico de

carcinoma tireoideano (papilífero, folicular ou pouco diferenciado) foram convocados e

classificados em 2 grupos de acordo com o status de doença:

- Pacientes tratados (tireoidectomia subtotal associada à ablação do remanescente

tireoideano com radioiodo, ou tireoidectomia total ou subtotal alargada associada ou

não à ablação com radioiodo) sem doença residual conhecida e com última Tg

sérica em supressão < 1ng/mL;

- Pacientes tratados, porém sem critério de cura, isto é, com metástases à distância

ou doença cervical conhecida.

Não foram incluídos neste estudo pacientes com grandes remanescentes cervicais,

isto é, pacientes submetidos à cirurgia conservadora (lobectomia associada a

istmectomia ou tireoidectomia subtotal) sem ablação do remanescente. Pacientes com

carcinoma anaplásico também foram excluídos.

Os pacientes selecionados foram classificados de acordo com a 5ª edição de

estadiamento tumoral definido pela International Union Against Cancer (UICC), que

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baseia-se na extensão do tumor primário (T), acometimento de linfonodos (N), presença

de metástases à distância (M) e a idade ao diagnóstico (Hermanek e Sobin, 1992).

II. AVALIAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL

Amostra de 10 mL de sangue dos pacientes com carcinoma tireoideano foi obtida

para amplificação do mRNA de Tg. A determinação da Tg sérica, TSH e anticorpo anti-

Tg foi realizada no mesmo momento. A dosagem da Tg foi realizada por

quimioluminescência, com sensibilidade analítica de 0,2 ng/mL, funcional de 0,9 ng/mL,

variação interensaio de até 8,8% e intraensaio inferior a 6% para valores superiores a

2ng/mL. O TSH foi dosado por ensaio de 3ª geração, por quimioluminescência, com

faixa de normalidade entre 0,4 e 4,0 µUI/mL. O anticorpo anti-Tg foi dosado por

quimioluminescência, com sensibilidade analítica de 10 IU/mL, funcional de 20 UI/mL

variação interensaio de até 9,1% e intraensaio inferior a 3,9 %.

III. EXTRAÇÃO DE RNA

Para a extração do RNA total a partir de amostra de sangue (Figura1) foi utilizada

solução monofásica contendo fenol e guanidina isotiocianeto (Trizol®, GibcoBRL, NY,

EUA), seguindo protocolo previamente descrito (Chomczynski e cols, 1987). Amostra de

3 mL de sangue é imediatamente colocada em tubo estéril contendo 9 mL de Trizol®. A

homogeneização é realizada pipetando-se repetidamente o material, o que determina

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lise celular, porém mantendo o RNA íntegro. Adiciona-se 1,8 mL de clorofórmio e

depois centrifuga-se (12.000 x g, 15 min, 4ºC) para separar a fase aquosa e a fase

orgânica. O RNA permanece exclusivamente na fase aquosa e esta é transferida para

outro tubo contendo 4,5 mL de isopropanol, responsável pela precipitação do RNA.

Após incubação à temperatura ambiente por 10 min, realiza-se nova centrifugação

(12.000 x g, 10 min, 4ºC). Despreza-se o sobrenadante e adiciona-se 9 mL de etanol a

75% para lavagem do precipitado. Em seguida, centrifuga-se a 10.000 x g por 5 min. O

precipitado é ressuspenso em 30 µL de água livre de RNAse, isto é, água tratada com

dietilpirocarboneto – DEPC (Sigma, MO, EUA).

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FIGURA 1: Esquema de extração de RNA

Etapas da extração de RNA total a partir de amostra de sangue, utilizando TRIzol.

O RNA total extraído é quantificado através da leitura em espectrofotômetro (Hitachi,

U 3000). A absorbância é medida a 260 e 280 nm de comprimento de onda. A

quantidade total de RNA na amostra é calculada através da seguinte equação:

RNA (µg/µL) = Absorbância a 260 nm x fator de diluição da amostra x 40 /1000

3ml de sangue+

9ml de TRIzol®

Centrifugação(12000 x g, 4°C, 15min) Transferência

da fase aquosa

4,5 ml de isopropanolCentrifugação(12000 x g, 4°C, 10min)

Lavagem com etanol 75%10000 x g, 4°C, 5min Ressuspensão do pellet em 30µl de água DEPC

Homogeneização+

1,8 ml de clorofórmio

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Para a verificação da pureza do RNA extraído calcula-se a razão entre a

absorbância medida a 260 nm e a 280 nm. Valor entre 1,5 e 2,0 indica grau de pureza

satisfatória.

Este método de extração de RNA fornece em média 30 a 60 µg de RNA total por

amostra de 3 mL de sangue.

IV. SÍNTESE DE cDNA (TRANSCRIÇÃO REVERSA)

Para a síntese de fita simples de DNA complementar (cDNA), são utilizados 4 µg de

RNA total.

O RNA é incubado com 0,5 µg de oligonucleotídeo dT (Pharmacia Biotech, NJ,

EUA) e 10 µL de água DEPC a 70ºC por 10 min para hibridização com a cauda poli A

do mRNA. Posteriormente, pipeta-se 4 µL do tampão 5x first strand (Tris-HCl a 250 mM,

pH 8,3; KCl a 375 mM e MgCl2 a 25mM), 2 µL de DTT (ditiotreitol) a 100 mM

(GibcoBRL, NY, EUA), 2,5 U do inibidor de RNAse (RNAsin - GibcoBRL, NY, EUA), 0,5

µL de dNTP (coquetel de nucleotídeos) a 10mM (GibcoBRL, NY, EUA), e 200 U de

transcriptase reversa (Superscript RNAse H Reverse Transcriptase, GibcoBRL, NY,

EUA). Após a adição de todos os reagentes incuba-se à 42ºC por 50 min e

posteriormente inativa-se a reação aquecendo-a a 90ºC por 5 min.

Terminada a reação de transcrição reversa, o cDNA sintetizado é precipitado

adicionando-se 6 µL de acetato de amônia a 7,5 M e 50 µL de etanol absoluto.

Posteriormente, o cDNA é ressuspenso em 10 µL de água MilliQ.

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V. AMPLIFICAÇÃO ATRAVÉS DE REAÇÃO EM CADEIA DE POLIMERASE

Após a obtenção do cDNA, através da etapa de transcrição reversa, realiza-se a

amplificação através de reação em cadeia de polimerase (PCR) do fragmento de cDNA

correspondente ao mRNA da gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase (GAPDH). Esta

enzima é amplamente expressa em células sangüíneas, sendo útil para verificar a

integridade do RNA extraído e a qualidade do cDNA sintetizado (controle interno).

Para prevenir a amplificação do DNA genômico residual, os oligonucleotídeos

iniciadores (primers) de GAPDH e Tg selecionados correspondem a seqüências de

nucleotídeos localizados em exons distintos. No caso da Tg, as seqüências estão

localizadas nos exons 2 e 4 separados por introns que juntos contém mais de 2kb

(Figura 2). O par de primer selecionado foi utilizado previamente por Ringel e cols

(1998).

FIGURA 2: Características dos oligunucleotídeos iniciadores

Tg: tireoglobulina; GAPDH: gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase.

TGTGAGCTGCAGAGGGAAAACGGCCATACACCTCCATCCCCTCTGCGTCCACACA

CTGAGAATGGGAAACTTGTGGTCACTGTTAAAGTTGGAGG

Gene

Tg

GAPDH

Tamanho

348 bp

656 bp

Seqüência de nucleotídeos

TGTGAGCTGCAGAGGGAAAACGGCCATACACCTCCATCCCCTCTGCGTCCACACA

CTGAGAATGGGAAACTTGTGGTCACTGTTAAAGTTGGAGG

Gene

Tg

GAPDH

Tamanho

348 bp

656 bp

Seqüência de nucleotídeos

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A reação de amplificação é realizada utilizando-se 25% do volume final de cDNA,

2,5 U de Taq polimerase (GibcoBRL, NY, EUA), 40 pmol de cada primer (sense e anti-

sense), cloreto de magnésio à 1,5 mM (GibcoBRL, NY, EUA), tampão 10 x PCR (Tris-

HCl a 20 mM, pH 8,4; KCl a 500 mM), 0,5 µL de dNTP a 10 mM. As condições de

amplificação são semelhantes para Tg e GAPDH (Figura 3):

- Desnaturação inicial à 94ºC por 4 min;

- 39 ciclos com temperatura de desnaturação de 94ºC por 1 min, temperatura de

anelamento de 60ºC por 1 min e de extensão de 72ºC por 1 min;

- Extensão final à 72ºC por 7 min.

O produto final é visualizado em gel de agarose a 1,5% contendo brometo de etídio.

Para maior segurança do resultado obtido, a amplificação do mRNA da Tg é realizada

sempre em duplicata (a partir do mesmo cDNA).

Devido ao risco de resultado falso positivo decorrente de contaminação, realiza-se a

reação de amplificação sem adição do cDNA (controle negativo). Além disso, para

avaliar a possibilidade de amplificação a partir do DNA genômico contaminante, é

realizada a reação utilizando “cDNA” sintetizado sem a adição da enzima transcriptase

reversa (RT-).

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42

FIGURA 3: Esquema das etapas de RT-PCR

Para síntese de cDNA são utilizados 4µg de RNA total (transcrição reversa –RT). 25% do

volume final do cDNA são utilizados para realização da PCR.

2,5µL de cDNA1,0 µL de primer sense1,0 µL de primer anti-sense2,5 µL de tampão0,75 µL de MgCl20,5 µL de dNTP0,5 µL de Taq polimerase

94ºC por 4 min

39 ciclos

Gel de agarose 1,5 % contendo brometo de etídio

RNA total (4 µg)cDNA (10 µL )RT

94ºC - 1 mindesnaturação

60ºC - 1 minanelamento

72ºC - 1 minextensão

72ºC por 10 minExtensão final

2,5µL de cDNA1,0 µL de primer sense1,0 µL de primer anti-sense2,5 µL de tampão0,75 µL de MgCl20,5 µL de dNTP0,5 µL de Taq polimerase

94ºC por 4 min

39 ciclos

Gel de agarose 1,5 % contendo brometo de etídio

RNA total (4 µg)cDNA (10 µL )RT

94ºC - 1 mindesnaturação

60ºC - 1 minanelamento

72ºC - 1 minextensão

72ºC por 10 minExtensão final

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43

VI. REAVALIAÇÃO CLÍNICA

Após a realização da pesquisa do mRNA da Tg, os pacientes sem doença residual

conhecida são submetidos à nova investigação de acordo com o resultado dos exames:

- mRNA da Tg indetectável e Tg sérica < 1ng/mL → repete-se USG cervical;

- mRNA da Tg detectável e/ou Tg sérica ≥ 1ng/mL → repete-se exame de imagem

(USG cervical), PCI com 131I e Tg sérica em hipotireoidismo.

A PCI é realizada administrando-se 5 mCi de 131I via oral e após 72 horas avalia-se

a captação do radiofármaco através da gama câmara. Caso esta investigação

identifique recidiva tumoral, os pacientes serão encaminhados para tratamento

específico, isto é, cirurgia e/ou radioiodoterapia (Figura 4). Três meses após o

tratamento, nova amostra de sangue é coleta para extração de RNA e dosagem de Tg

sérica, TSH e anticorpo anti-Tg.

Após esta avaliação inicial, os pacientes são mantidos em acompanhamento com

dosagem semestral de Tg sérica em supressão e USG cervical anual. TC de tórax, TC

da região cervical, PCI e Tg sérica estimulada são reservadas para os casos com

suspeita de recidiva. Ao final do acompanhamento, os pacientes são classificados de

acordo com o resultado destes exames como livres de doença (Tg sérica em supressão

de TSH < 1ng/mL, Tg sérica em hipotireoidismo < 2ng/mL, USG, TC e PCI normais) ou

não.

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44

FIGURA 4: Fluxograma do acompanhamento dos pacientes

Classificação dos pacientes com carcinoma tireoideano quanto à persistência tumoral e

esquema de avaliação de acordo com a pesquisa do mRNA de tireoglobulina (Tg).

Pacientes comcarcinoma tireoideano

Doença residual conhecida Sem doença residual conhecida

Pesquisa de mRNA Pesquisa de mRNA

Detectável Indetectável

USG cervical, PCI eTg sérica em hipotireoidismo

USG cervical

Confirmação de recidiva tumoral

Tratamento específico

Após 3 meses

Pesquisa de mRNA

Pacientes comcarcinoma tireoideano

Pacientes comcarcinoma tireoideano

Doença residual conhecida Sem doença residual conhecida

Pesquisa de mRNA Pesquisa de mRNA

Detectável Indetectável

USG cervical, PCI eTg sérica em hipotireoidismo

USG cervical

Confirmação de recidiva tumoral

Tratamento específico

Após 3 meses

Pesquisa de mRNA

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VII. ESTUDO DA EXPRESSÃO DE mRNA DE Tg POR CÉLULAS NÃO

TIREOIDEANAS

Para avaliar a possível interferência da expressão do mRNA de Tg por células

não tireoideanas, foram realizados experimentos com cultura primária de linfócitos.

Para tal, foram coletados 20 mL de sangue de 3 indivíduos normais e de 1 paciente

com CDT em remissão e com mRNA de Tg indetectável, pela técnica descrita

previamente.

Os linfócitos de sangue periférico são obtidos através de centrifugação por

gradiente de densidade Ficoll-Hypaque (400 x g por 30 minutos em centrífuga clínica).

A fração contendo os linfócitos é lavada três vezes (250 x g por 7 minutos em centrífuga

clínica) e ressuspensa em meio RPMI com 10% de soro fetal bovino (SFB). O número

de células é contado na câmara de Neubauer e ajustado para 106 células/mL. Os

linfócitos são mantidos em cultura por 24, 48 e 72 horas.

A separação dos linfócitos por gradiente de densidade e a cultura foram

realizadas no Laboratório de Imunologia Tumoral do Instituto de Bioquímica da UFRJ.

Posteriormente, alíquotas contendo aproximadamente 1,5 x 106 células são separadas

para extração de RNA. Realiza-se centrifugação a 3.000 x g por 5 minutos em

temperatura ambiente, sendo desprezado o sobrenadante (contendo meio de cultura).

Sobre o pellet de células é adicionado 0,5 mL de TRIzol e segue-se o protocolo de

extração já descrito, obedecendo à proporção de TRIzol utilizada.

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46

Após a extração, o RNA isolado é visualizado em gel de agarose contendo

brometo de etídio para verificação da integridade e, em seguida, quantificado através

da leitura em espectrofotômetro (Hitachi, U 3000).

A quantidade de RNA total extraída por amostra de 1,5 x 106 células variou de 2 a

10 µg, rendimento inferior ao obtido na extração de RNA a partir de sangue total (30,1

µg de RNA por amostra de 3 mL, em média). Desta forma, para a síntese de cDNA foi

utilizada uma quantidade inferior (1 a 2 µg de RNA) à padronizada para sangue (4µg).

As demais condições utilizadas para amplicação do mRNA de Tg através de RT-PCR

foram semelhantes às descritas para amplificação a partir de RNA extraído de sangue

total.

VIII. ANÁLISE ESTATÍSTICA

O teste qui-quadrado foi utilizado para comparar a distribuição de pacientes com

mRNA de Tg detectável entre os diferentes grupos de estadiamento tumoral. O mesmo

teste foi aplicado para comparar o evento recidiva entre os grupos com e sem mRNA de

Tg no sangue.

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RESULTADOS

I. CARACTERÍSTICAS DOS PACIENTES

Foram avaliados 32 pacientes com carcinoma da tireóide, 27 do sexo feminino e 5

do sexo masculino, com idade ao diagnóstico variando de 18 a 78 anos (média de 43,5

e mediana de 43). De acordo com a histopatologia, 26 foram classificados como

carcinoma papilífero, 5 como carcinoma folicular e 1 como folicular pouco diferenciado

(Tabelas 4 e 5).

Tabela 4: Casuística - Característica dos pacientes com persistência tumoral

Pacientes Sexo Idade ao

diagnóstico

Histologia Estadiamento Cirurgia Dose

cumulativa131I

Tempo de

seguimento

Doença

atual

1.1 Fem 62 anos P T4N0M0 (III) T 400 mCi 7 anos RC

2.1 Fem 40 anos P T2N1aM1 (II) T + EG 400 mCi 6 anos MP

3.1 Masc 43 anos P T4N1bM1 (II) T 400 mCi 3 anos RC+MP

4.1 Fem 54 anos P T4N1aM0 (III) STA 100 mCi 19 anos RC+MP

5.1 Fem 29 anos F T4N1bM1 (II) STA 200 mCi 10 anos RC+MP

6.1 Fem 56 anos F T3N0M0 (II) T 400 mCi 20 anos MO

7.1 Fem 49 anos FPD T4N1aM1 (IV) T 250 mCi 3 anos RC+MP

Fem: sexo feminino; Masc: sexo masculino; P: carcinoma papilífero; F: carcinoma folicular; FPD: carcinoma

folicular pouco diferenciado; T: tireoidectomia total; STA: tireoidectomia subtotal alargada; EG: esvaziamento

ganglionar; RC: remanescente cervival tumoral; MP: metástases pulmonares: MO: metástases ósseas.

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Tabela 5: Casuística - Característica dos pacientes com Tg sérica prévia < 1ng/mL

em supressão

Pacientes Sexo Idade ao

diagnóstico

Histologia Estadiamento Cirurgia Dose

cumulativa 131I

Tempo de

seguimento

Doença

atual

1.2 Fem 18 anos P T2N0M0 (I) T 100 mCi 6 anos remissão

2.2 Fem 50 anos P TxN0M0 T 100 mCi 6 meses remissão

3.2 Masc 25 anos P TxN0M0 (I) T 100 mCi 1 ano e 1/2 remissão

4.2 Masc 42 anos P TxN0M0 (I) T 30 mCi 4 meses remissão

5.2 Fem 43 anos F TxNxM1 (II) T 100 mCi 5 anos remissão

6.2 Fem 41 anos P TxN0M0 (I) T 100 mCi 10 anos remissão

7.2 Fem 49 anos P T1N0M0 (I) T 100 mCi 2 anos remissão

8.2 Fem 43 anos P T1N0M0 (I) T 100 mCi 1 ano e 1/2 remissão

9.2 Fem 39 anos P T4N0M0 (I) T 350 mCi 5 anos remissão

10.2 Fem 69 anos P TxNxM0 T 100 mCi 8 meses remissão

11.2 Fem 36 anos P T2N0M0 (I) T 100 mCi 4 anos remissão

12.2 Fem 40 anos P T2N0M0 (I) T _ 3 anos RT

13.2 Fem 48 anos P T2N1aM0 (II) T 150 mCi 6 anos remissão

14.2 Fem 24 anos P TxN1aM0 (I) T _ 1 ano RT

15.2 Fem 78 anos P TxN1aM0 (III) T _ 1 ano RT

16.2 Fem 56 anos P TxN0M0 T 100 mCi 4 anos remissão

17.2 Masc 51 anos P T2N1aM0 (II) T 100 mCi 4 anos remissão

18.2 Fem 40 anos P TxN1aM0 (I) T 150 mCi 2 anos remissão

19.2 Fem 24 anos F T2N0M0 (I) T 100 mCi 5 anos remissão

20.2 Fem 27 anos P T2N0M0 (I) T 100 mCi 5 anos remissão

21.2 Fem 26 anos F T3N0M0 (I) ST 100 mCi 3 anos remissão

22.2 Fem 48 anos P T2N0M0 (II) ST 100 mCi 1 ano remissão

23.2 Masc 61 anos P TxN1aM0 (III) T 100 mCi 7 anos remissão

24.2 Fem 56 anos P T2N0M0 (II) T 300 mCi 5 anos remissão

25.2 Fem 26 anos P T1N0M0 (I) T 100 mCi 1 ano remissão

Fem: sexo feminino; Masc: sexo masculino; P: carcinoma papilífero; F: carcinoma folicular; FDP: carcinoma

pouco diferenciado; T: tireoidectomia total; ST: tireoidectomia subtotal; RT: remanescente em leito tireoideano

identificado na cintilografia, com captação de até 3%.

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Vinte e oito pacientes foram submetidos a tireoidectomia total, 2 a tireoidectomia

subtotal alargada e 2 a apenas subtotal. Todos os pacientes foram tratados com iodo

radioativo, exceto 3 dos 28 submetidos a tireoidectomia total. A dose cumulativa variou

de 30 a 400 mCi de 131I (Tabelas 4 e 5).

Amostra de sangue para pesquisa do mRNA de Tg foi colhida com intervalo mínimo

de 4 e máximo de 240 meses em relação à última intervenção terapêutica.

II. RESULTADOS DA PESQUISA DE mRNA NO GRUPO CONTROLE

Foi realizada padronização da extração de RNA total e da síntese de cDNA,

permitindo amplificação satisfatória do mRNA da GAPDH em todas as amostras de

sangue dos indivíduos normais.

Inicialmente foi tentada amplificação do mRNA de Tg a partir de 1µg de RNA total,

conforme descrito previamente por Ringel e cols (1998). Entretanto, nestas condições

não foi observada amplificação do mRNA de Tg no sangue de voluntários normais,

somente amplificação do mRNA da GAPDH. Conseqüentemente, foi aumentada de

forma progressiva a quantidade de RNA total, até conseguir a amplificação desejada,

com 4 µg de RNA total (Figura 5).

A reação de amplificação sem adição do cDNA (controle negativo), afastou a

possibilidade de resultado falso-positivo decorrente de contaminação. Além disso, a

reação utilizando “cDNA” sintetizado sem a adição da enzima transcriptase reversa não

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evidenciou amplificação, afastando a possibilidade de amplificação do gene da Tg a

partir do DNA genômico contaminante.

FIGURA 5: Fragmentos de mRNAs da Tg e GAPDH amplificados através da técnica de

RT-PCR

Eletroforese em gel de agarose a 1,5% do produto de PCR. 1: Amplificação do mRNA de

tireoglobulina (Tg) extraído a partir de tecido tireoideano; 2 e 3: a partir de amostra de sangue

de indivíduo normal, em duplicata; 4: Amplificação do mRNA da gliceraldeído-3-fosfato-

desidrogenase (GAPDH) a partir de amostra de sangue.

Tg Tg Tg GAPDH

348pb

656pb

sanguetecido

1 2 3 4

348pb

656pb

sanguetecido

348pb

656pb

sanguetecido

1 2 3 4

Tg Tg Tg GAPDH

348pb

656pb

sanguetecido

1 2 3 4

348pb

656pb

sanguetecido

348pb

656pb

sanguetecido

1 2 3 4

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III. RESULTADOS DA PESQUISA DE mRNA NOS PACIENTES

Após a padronização das técnicas de extração de RNA e de RT-PCR, iniciou-se a

pesquisa do mRNA de Tg nos pacientes sem critério de cura, isto é, aqueles com Tg

sérica > 1ng/mL e metástases à distância e/ou doença cervical conhecida. Sete

pacientes preencheram este critério: 1 com lesão tumoral irressecável em região

cervical (paciente 1.1), 1 com metástases pulmonares (paciente 2.1), 1 com metástases

ósseas (paciente 6.1) e 4 com remanescente cervical e doença à distância (pacientes

3.1, 4.1, 5.1, e 7.1). A idade média ao diagnóstico foi de 55,5 anos. De acordo com a

classificação histopatológica, 5 apresentavam carcinoma papilífero, 1 folicular e 1 pouco

diferenciado. Baseado na 5ª edição da UICC para estadiamento do carcinoma da

tireóide, 4 pacientes foram classificados como estágio II, 2 como estágio III e 1 como

estágio IV (Tabela 4).Os exames realizados na mesma amostra de sangue utilizada

para pesquisa do mRNA de Tg demonstraram Tg sérica elevada (variando de 4,1 a

2.287 ng/mL) e anticorpo anti-Tg indetectável em todos os 7 pacientes. O TSH

encontrava-se suprimido (<0,1µUI/mL) em 6 e em 1 paciente o TSH estava dentro da

faixa de normalidade. O mRNA de Tg foi detectado em todas as amostras (Tabela 6),

concordando em 100% com o status de doença.

A PCR realizada sem adicionar o cDNA (controle negativo), não demonstrou

amplificação, afastando a possibilidade de resultado falso-positivo decorrente de

contaminação.

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52

Tabela 6: Exames dos pacientes com doença residual conhecida

Pacientes TSH

(0,4 – 4,0 µUI/mL)

Anti-Tg

(< 20 UI/mL)

Tg sérica

(ng/mL)

mRNA

1.1 0,011 < 20 20,6 +

2.1 0,03 < 20 74,8 +

3.1 0,033 < 20 4,1 +

4.1 0,006 < 20 54,3 +

5.1 0,017 < 20 40,1 +

6.1 0,064 < 20 2.287 +

7.1 0,643 < 20 72,5 +

+: mRNA de Tg detectado em amostra de sangue.

Vinte e cinco pacientes com CDT apresentavam a última Tg sérica dosada

previamente ao estudo < 1 ng/mL, durante terapia supressora de TSH. Destes, 22

foram classificados como carcinoma papilífero e 3 como carcinoma folicular. A idade

média ao diagnóstico foi de 42,4 anos. Quanto ao estadiamento tumoral, 15 pacientes

foram classificados como estágio I, 5 como estágio II, 2 como estágio III. Em 3

pacientes não foi possível realizar o estadiamento devido a não definição do tamanho

tumoral pela histopatologia (Tabela 5).

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53

Os exames laboratoriais, realizados no mesmo momento da coleta de sangue

para pesquisa do mRNA, evidenciaram TSH abaixo de 0,4 µUI/mL em 20 dos 25

pacientes, sendo que em 18 o valor do TSH era inferior a 0,1 µUI/mL. Nos 5 pacientes

restantes, o TSH encontrava-se acima da normalidade (Tabela 7).

A pesquisa do anticorpo anti-Tg confirmou título superior a 20 UI/mL em 5 casos.

Dos 20 pacientes com anti-Tg indetectável, a Tg sérica encontrava-se abaixo de 1

ng/mL em 19 (sendo indetectável em 18) e em apenas 1 caso a Tg sérica estava acima

de 1 ng/mL (1,6 ng/mL com TSH = 13,2 µUI/mL). Dos 5 pacientes com anti-Tg, a Tg

sérica encontrava-se elevada (2,2 e 2,9 ng/mL) em 2 (Tabela 7).

Do total de 25 pacientes sem persistência ou recidiva tumoral previamente

conhecida, 9 (36%) apresentaram mRNA de Tg detectado no sangue (Figura 6). No

grupo de pacientes com anticorpo anti-Tg, o mRNA foi detectado em 40% (2 de 5

casos) e naqueles com anti-Tg indetectável o mRNA de Tg foi encontrado em 35% (7

de 20 casos). Nos 3 pacientes com Tg sérica acima de 1 ng/mL e nos pacientes não

submetidos à terapia ablativa com radioiodo (pacientes 12.2, 14.2 e 15.2), não foi

observada amplificação do mRNA na amostra de sangue (Tabela 7), indicando que o

mRNA de Tg pode apresentar-se como resultado falso negativo.

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FIGURA 6: mRNA de Tg no sangue de pacientes em aparente remissão detectado

através da técnica de RT-PCR

Eletroforese em gel de agarose a 1,5% do produto de PCR de 2 pacientes em aparente

remissão. 1:peso molecular; 2 e 3: experimento em duplicata evidenciando ausência de

amplificação do mRNA de Tg no paciente 8.2; 4 e 5: experimento em duplicata evidenciando

amplificação do mRNA de Tg no paciente 25.2.

348pb

600pb

Paciente 8.2 Paciente 25.2

1 2 3 4 5

348pb

600pb

Paciente 8.2 Paciente 25.2

1 2 3 4 51 2 3 4 5

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55

Tabela 7: Exames dos pacientes com Tg sérica prévia < 1 ng/mL em supressão

Pacientes TSH

(0,4 – 4,0 µUI/mL)

Anti-Tg

(< 20 UI/mL)

Tg sérica

(ng/mL)

mRNA

1.2 0,016 < 20 < 0,2 -

2.2 40,7 < 20 < 0,2 -

3.2 0,081 < 20 < 0,2 -

4.2 0,04 < 20 < 0,2 -

5.2 0,032 < 20 < 0,2 -

6.2 0,03 < 20 < 0,2 -

7.2 0,02 < 20 < 0,2 -

8.2 0,038 < 20 < 0,2 -

9.2 0,035 < 20 < 0,2 -

10.2 0,04 < 20 < 0,2 -

11.2 0,01 < 20 < 0,2 -

12.2 6,36 < 20 < 0,2 -

13.2 13,2 < 20 1,6 -

14.2 0,072 65 2,9 -

15.2 0,311 380 2,2 -

16.2 0,09 591 < 0,2 -

17.2 0,004 1142 < 0,2 +

18.2 11,2 287 < 0,2 +

19.2 43,8 < 20 0,7 +

20.2 0,002 < 20 < 0,2 +

21.2 0,024 < 20 < 0,2 +

22.2 0,034 < 20 < 0,2 +

23.2 0,002 < 20 < 0,2 +

24.2 0,08 < 20 < 0,2 +

25.2 0,004 < 20 < 0,2 +

-: mRNA de Tg indetectável; +: mRNA de Tg detectável em amostra de sangue.

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A reavaliação dos pacientes com anticorpo, Tg sérica e mRNA indetectáveis foi

possível em 11 dos 12 casos (pacientes 1.2 – 12.2). Um paciente não retornou ao

HUCFF para realização de exames (paciente 10.2). Foi observada concordância entre o

resultado do teste do mRNA da Tg e a investigação clínica (Tg sérica em supressão e

USG cervical) em 90,9 % dos casos (10 de 11). A paciente 5.2 foi submetida à

avaliação mais detalhada (Tg sérica estimulada, PCI e TC de tórax) devido ao histórico

de metástases à distância. Esta investigação confirmou a remissão da doença.

Nos 13 pacientes com anticorpo anti-Tg, Tg sérica e/ou mRNA detectável

(pacientes 13.2 – 25.2), a investigação clínica com Tg sérica em hipotireoidismo, PCI,

USG cervical e TC de tórax demonstrou recidiva tumoral em 2 casos. No primeiro

(paciente 23.2), o mRNA estava presente no sangue, a Tg sérica em supressão foi

indetectável, a PCI não evidenciou captação anormal e a Tg estimulada foi inferior a 2

ng/mL (0,9 ng/mL). Entretanto, a USG cervical demonstrou 2 linfonodos suspeitos com

calcificação e a citologia do material obtido pela punção aspirtiva por agulha fina

(PAAF) confirmou metástases ganglionares. O paciente foi encaminhado à cirurgia e

posteriormente à radioioterapia (150 mCi de 131I). No segundo caso, o mRNA também

foi detectado no sangue, a Tg sérica em supressão de TSH foi indetectável, a PCI, a

USG cervical e a TC de tórax sem anormalidades, porém a Tg sérica elevou-se para 19

ng/mL quando induzido o hipotireoidismo. Esta paciente foi tratada com 1mg/kg/dia de

isotretinoína (via oral) por 5 semanas e a seguir submetida à radioioterapia (100 mCi de

131I). A PCI realizada 7 dias após a dose terapêutica evidenciou captação cervical

anterior. A isotretinoína foi utilizada com o objetivo de aumentar a captação tumoral de

iodo, como já demonstrado em estudo prévio (Coelho e cols, 2004; Coelho e cols,

2005).

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Tabela 8: Concordância entre mRNA e investigação clínica

Pacientes mRNA Tg em

supressão

Anti-Tg

(< 20 UI/mL)

USG TC tórax PCI Tg em

hipotireoidismo

Concordância

1.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

2.2 - < 0,2* < 20 negativa X X X sim

3.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

4.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

5.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

6.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

7.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

8.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

9.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

10.2 - < 0,2 < 20 X X X X sim

11.2 - < 0,2 < 20 negativa X X X sim

12.2 - < 0,2** < 20 Leito tir X X X não

13.2 - 1,6** < 20 negativa X negativa 1,9 sim

14.2 - 2,9 65 Leito tir X cervical 12 não

15.2 - 2,2 380 linfonodo X X X não

16.2 - < 0,2 591 negativa normal negativa < 0,2 sim

17.2 + < 0,2 1142 negativa normal negativa < 0,2 não

18.2 + < 0,2* 287 negativa normal negativa < 0,2 não

19.2 + 0,7* < 20 negativa X negativa 1,03 não

20.2 + < 0,2 < 20 negativa X negativa < 0,2 não

21.2 + < 0,2 < 20 negativa normal negativa < 0,2 não

22.2 + < 0,2 < 20 negativa normal negativa < 0,2 não

23.2 + < 0,2 < 20 linfonodo normal negativa 0,9 sim

24.2 + < 0,2 < 20 negativa normal negativa 19 sim

25.2 + < 0,2 < 20 negativa normal negativa < 0,2 não

-: mRNA de Tg não detectado no sangue; +: mRNA detectado; Tg*: Tg sérica dosada com TSH acima da

faixa de normalidade (porém não superior a 14 µUI/mL) ; Tg**: Tg sérica dosada em hipotireoidismo (TSH >

30 µUI/mL); X: exame não realizado.

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Neste grupo de 13 pacientes com anticorpo anti-Tg, Tg sérica e/ou mRNA

detectável, a concordância entre a investigação clínica e o mRNA de Tg foi de 23,1% (3

de 13). Somente 1 paciente (15.2) não foi submetido à avaliação completa, em virtude

do diagnóstico de leucemia linfocítica crônica na mesma ocasião (Tabela 8).

Para avaliar a qualidade dos testes diagnósticos (cálculo de sensibilidade,

especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo) foram excluídos 2

pacientes: 10.2 (não realizou exames complementares) e 13.2 (Tg sérica dosada sem

supressão do TSH). Desta forma, considerando todos os 30 pacientes avaliados, o

mRNA de Tg foi detectado em 16. A concordância entre a presença do mRNA e a

confirmação da recidiva ou persistência tumoral através dos exames realizados ocorreu

em 9 dos 16 pacientes com mRNA de Tg (valor preditivo positivo de 56,25%). Dos 14

pacientes com mRNA não detectável, 11 estavam realmente livres de doença de

acordo com a reavaliação, correspondendo a um valor preditivo negativo de 78,6%

(Tabela 9).

Tabela 9: Comparação da sensibilidade e especificidade entre os testes de mRNA de

Tg e Tg sérica em supressão

Teste Sensibilidade Especificidade VPP VPN

mRNA de Tg* 75% 61,1% 56,2% 78,6%

Tg sérica

em supressão* 75% 100% 100% 85,7%

*: total de 30 pacientes analisados (foram excluídos os pacientes 10.2 e 13.2); VPP: Valor

preditivo positivo; VPN: Valor preditivo negativo.

Padrão ouro considerado: conjunto de exames disponíveis (Tg sérica em supressão, em

hipotireoidismo, PCI, USG cervical, TC de tórax).

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Do total de 12 pacientes que ao final da investigação foi confirmada doença, 9

apresentaram mRNA de Tg detectado no sangue (Figura 7), conferindo uma

sensibilidade ao teste de 75%. Dentre os 18 pacientes sem confirmação de recidiva

tumoral, 11 tinham mRNA de Tg indetectável, o que corresponde a uma especificidade

de 61,1% (Tabela 9). Para o cálculo da acurácia da Tg sérica em supressão foi

considerado o valor de corte de 1 ng/mL. A sensibilidade da Tg sérica foi semelhante a

do mRNA de Tg (75%), porém a especificidade foi bastante superior (100%). O valor

preditivo negativo da Tg sérica em supressão (85,7%) também foi superior ao do mRNA

de Tg (78,6%), porém inferior ao da Tg sérica em hipotireoidismo (91,7%). Para avaliar

a qualidade do teste da Tg sérica em hipotireoidismo, foram considerados os 14

pacientes em que a dosagem foi realizada.

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Figura 7

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61

Ao avaliar o estadiamento tumoral, observa-se que em 33,3% dos pacientes em

estágio I (5 de 15), 77,8% dos pacientes em estágio II (7 de 9), 80% em estágio III ou IV

(4 de 5, sendo 1 paciente em estágio IV) o mRNA da Tg estava presente no sangue

(Figura 8). Apesar da aparente tendência de aumento da detecção do mRNA de Tg nos

estágios mais avançados de doença, não houve diferença estatística entre os grupos (p

> 0,25). Entretanto, foi observada diferença significativa quando comparado o grupo de

pacientes em estágio I com os pacientes em estágios não-I (p < 0,005).

Figura 8: Percentual de pacientes com mRNA de Tg detectável de acordo com o

estadiamento tumoral

Estadiamento tumoral segundo a 5ª edição da UICC.

0

20

40

60

80

100

I II III e IV

Estadiamento tumoral

% d

e m

RN

A +

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IV. RESULTADO DO ACOMPANHAMENTO DOS PACIENTES

Durante o acompanhamento dos pacientes com carcinoma da tireóide avançado

(1.1 – 7.1), 1 foi reoperado e submetido à radioioterapia (paciente 1.1), 3 foram

retratados com radioiodo e posteriormente radio- e/ou quimioterapia (pacientes 3.1, 4.1

e 7.1) e 3 foram sumetidos à radioiodoterapia somente (2.1, 5.1 e 6.1). Alguns destes

pacientes fizeram parte do protocolo de tratamento com isotretinoína (Coelho e cols,

2004). Apesar da terapia combinada, 2 pacientes evoluiram para o óbito (3.1 e 7.1) e os

demais permanecem com Tg sérica elevada, mesmo em supressão.

Nos 2 casos em que a detecção do mRNA de Tg auxiliou no diagnóstico de recidiva,

a avaliação 3 meses após o tratamento foi negativa no paciente 23.2, porém o mRNA

de Tg permaneceu detectável no outro (paciente 24.2).

Do grupo de 25 pacientes considerados inicialmente em aparente remissão

(pacientes 1.2 – 25.2), 18 permaneceram em acompanhamento por pelo menos 1 ano

após a coleta de sangue para pesquisa do mRNA de Tg. Dentre os 16 pacientes com

mRNA de Tg indetectável, 12 foram acompanhados por este período (Tabela 10). Dos 3

pacientes com anticorpo anti-Tg detectável, porém mRNA de Tg indetectável, 1

(paciente 14.2) foi submetido à ablação de remanescente cervical com 100 mCi de 131I,

com posterior normalização dos níveis de Tg sérica e anticorpo. Os outros 2 pacientes

não foram submetidos a tratamento adicional de imediato. Destes, um apresentou

diminuição progressiva do título do anticorpo (paciente 15.2) e o outro evolui com

recidiva cervical diagnosticada através da USG (paciente 16.2).

Entre os pacientes com anti-Tg e mRNA de Tg indetectáveis, um paciente evoluiu

com recidiva tumoral (paciente 9.2) ao final do segundo ano de acompanhamento. A

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USG cervical detectou linfonodo suspeito, a PCI evidenciou captação cervical e a Tg

sérica em hipotireoidismo foi de 0,67 ng/mL. O paciente foi reencaminhado à cirurgia.

Nos demais pacientes, a Tg em supressão manteve-se indetectável e a USG cervical

sem anormalidades. Desta forma, a taxa de recidiva tumoral no grupo de pacientes com

mRNA negativo foi de 18,18% (2 de 11), sendo excluído do cálculo a paciente que foi

retratada durante o período de acompanhamento (paciente 14.2).

No grupo de 7 pacientes (Tabela 11) com mRNA presente no sangue, porém com

investigação clínica negativa, 2 apresentavam anticorpo anti-Tg. Destes, 1 (paciente

18.2) manteve título elevado apesar de re-tratamento com iodo radioativo (100 mCi de

131I), porém sem outra evidência de recidiva ou persistência tumoral. O outro paciente

(17.2), após o segundo ano de acompanhamento, evoluiu com recidiva em linfonodo

cervical, identificada pela USG. Dos 5 pacientes sem anticorpo anti-Tg, 4

permanecerem em acompanhamento e encontram-se livres de doença. Desta forma, a

taxa de recidiva no grupo de pacientes com mRNA de Tg detectável foi de 16,67% (1

de 6), não diferindo do grupo com mRNA indetectável (p > 0,75).

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Tabela 10

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65

Tabela 11

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V. RESULTADO DO ESTUDO DA EXPRESSÃO DE mRNA DE Tg EM

LINFÓCITOS

Foi observada amplificação do mRNA de Tg a partir dos linfócitos em cultura

extraídos de 3 indivíduos normais e do paciente com CDT em remissão e com mRNA

de Tg indetectável extraído de sangue total (Figura 9). A amplificação foi observada

independente do tempo de cultura (24, 48, ou 72 horas).

Figura 9: Resultado da extração de RNA e RT-PCR de linfócitos

Eletroforese em gel de agarose a 1,5%: 1) RNA total extraído de 3 amostras de linfócitos; 2)

amplificação de fragmento do mRNA da gliceraldeído-3-fosfato-desidrogenase (GAPDH); 3)

amplificação de fragmento do mRNA de tireoglobulina (Tg).

1

2

3

1

2

3

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DISCUSSÃO

Os objetivos do acompanhamento dos pacientes com CDT são avaliar possível

recidiva ou persistência tumoral e manter terapia de reposição de levotiroxina

adequada. Como o prognóstico dos pacientes que apresentam persistência ou recidiva

do câncer depende, pelo menos em parte, do tamanho da massa tumoral

(Schlumberger e cols, 1986; Lin e cols, 2004), quanto mais precoce o diagnóstico,

melhor a resposta ao tratamento (Schlumberger e cols, 1996). Desta forma, os testes

utilizados no monitoramento dos pacientes com CDT devem apresentar alta

sensibilidade. No entanto, é fundamental também utilizar exames com boa

especificidade, uma vez que a suspeita da recidiva deverá ser confirmada, o que

implica em custo e estresse ao paciente. Além disso, o re-tratamento, seja cirúrgico ou

com radioiodo, não está isento de riscos.

Tradicionalmente, os pacientes com CDT eram acompanhados com palpação do

leito tireoideano e das cadeias de linfonodos cervicais, dosagem seriada da Tg sérica e

PCI. A USG cervical era reservada para os pacientes com suspeita clínica de recidiva e

naqueles classificados como alto risco de recorrência (Schlumberger, 1998). No

entanto, a USG vem demonstrando importante papel no diagnóstico de recidiva local,

pois apresenta alta sensibilidade, além de guiar a punção de lesões suspeitas

(Frasoldati e cols, 2003; Torlontano e cols, 2004). Um dos pacientes deste estudo em

que o mRNA de Tg foi detectado (paciente 23.2), a investigação com PCI diagnóstica e

dosagem de Tg sérica em supressão e em hipotireoidismo não conseguiu definir a

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recidiva. Entretanto, a USG cervical evidenciou linfonodos suspeitos e guiou a punção,

confirmando a metástase por exame citopatológico.

Nos últimos anos, o papel da PCI diagnóstica (realizada com 2 a 5 mCi de 131I)

para o acompanhamento dos pacientes com CDT vem sendo questionado. Estudos têm

demonstrado que este exame apresenta baixa sensibilidade (Pacini e cols, 2003;

Mazzaferri e cols; 2003;Torlontano e cols, 2004). No entanto, a PCI realizada após dose

terapêutica apresenta alta sensibilidade, sendo de grande importância, especialmente

nos pacientes com Tg sérica elevada, porém sem outra evidência de lesão (Pacini e

cols, 1987; Kamel e cols, 2004). No presente estudo, a Tg sérica em supressão de

TSH, a PCI diagnóstica e a USG cervical não foram capazes de evidenciar doença em

um dos pacientes com mRNA de Tg presente no sangue (paciente 24.2). Já a Tg sérica

estimulada concordou com a presença do mRNA de Tg, e a PCI após dose terapêutica

definiu a recidiva em leito tireoideano.

Em pacientes classificados como baixo risco de recidiva, após a confirmação do

sucesso do tratamento ablativo, o acompanhamento com Tg sérica em supressão

associada a USG cervical parece ser bastante satisfatório (Torlontano e cols, 2004). A

combinação de Tg sérica indetectável durante supressão de TSH e USG negativa

apresentou alto valor preditivo negativo (99,1%), no estudo realizado por Rosário e cols

(2005). Baseado nestas evidências, no presente trabalho, optou-se por reavaliar os

pacientes em que o mRNA de Tg encontrava-se indetectável com USG cervical e

dosagem da Tg sérica em supressão de TSH. Reservou-se a dosagem de Tg sérica

estimulada (através de hipotireoidismo induzido) e exame de imagem da região torácica

para os pacientes com mRNA de Tg presente no sangue ou com história prévia de

metástases à distância.

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Dentre todos os exames de monitoramento do paciente com câncer, a dosagem

da Tg sérica é o mais utilizado e com melhor acurácia. A Tg sérica menor ou igual a 2

ng/mL dosada sob estímulo de TSH recombinante apresenta alto valor preditivo

negativo (Robbins e cols, 2002; Mazzaferri e cols, 2003). Nos 14 pacientes avaliados

durante a indução do hipotireoidismo, a Tg sérica foi superior a 2 ng/mL em 2 casos e

recidiva tumoral foi confirmada em 3. O valor preditivo negativo foi de 91,7%,

semelhante ao valor encontrado por Robbins e cols (2002).

As desvantagens, no entanto, da dosagem da Tg sérica são a dependência da

estimulação do TSH para melhorar a sensibilidade e a interferência do anticorpo anti-

Tg, causando valores hiper- ou subestimados de Tg sérica. Neste estudo, 5 pacientes

apresentaram anti-Tg detectado no sangue. O único paciente que apresentou

normalização do título do anticorpo foi aquele submetido à ablação com 131I do

remanescente tireoideano ao longo do acompanhamento. Dos 3 pacientes em que não

houve normalização do título do anticorpo, 2 evoluíram com recidiva em linfonodo

cervical diagnosticada através da USG e ambos apresentavam Tg sérica indetectável.

Este achado está de acordo com o conceito da produção de anticorpo depender da

persistência do antígeno no organismo (Chiovato e cols, 2003). Como observado por

outros autores (Spencer e cols, 1998; Chung e cols, 2002), a presença do auto-

anticorpo pode ser um marcador de persistência / recidiva tumoral.

A possibilidade de detecção de células tumorais na corrente sangüínea através de

técnicas de biologia molecular trouxe uma nova perspectiva para os pacientes com

CDT. Acreditou-se inicialmente que este exame permitiria avaliar com alta sensibilidade

os pacientes mesmo em uso de terapia supressora de TSH e, em particular, o subgrupo

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de pacientes com anticorpo anti-Tg. No entanto, estudos recentes mostram resultados

conflitantes, questionando-se a aplicação clínica deste teste.

As divergências entre os trabalhos são observadas desde a metodologia

empregada. No presente estudo, a padronização da técnica de extração de RNA foi

realizada utilizando solução monofásica contendo fenol e guanidina isotiocianeto

(TRIzol®). Esta solução é utilizada desde a década de 80 (Chomczynski e cols, 1987).

A partir de 1998, estudos de mRNA de Tg também foram realizados empregando esta

substância para a extração de RNA total (Tallini e cols, 1998; Ringel e cols, 1998),

sendo esta técnica ainda bastante utilizada (Tabela 2).

Mesmo nos trabalhos utilizando TRIzol®, há diferenças metodológicas,

especialmente quanto ao volume da amostra de sangue utilizado e quanto à separação

ou não de camadas celulares por gradiente. Em geral, utiliza-se um menor volume de

sangue (1 a 3 mL) quando se extrai RNA a partir de sangue total (Ringel e cols, 1998;

Biscolla e cols, 2000; Bugalho e cols, 2001; Savagner e cols, 2002; Fugazzola e cols,

2002; Denizot e cols, 2003). O volume de sangue utilizado para extração após

separação das camadas celulares varia geralmente de 5 a 10 mL (Tallini e cols, 1998;

Takano e cols, 2001; Chinnappa e cols, 2004).

A extração de RNA a partir de sangue total, colocado diretamente em tubo estéril

contendo TRIzol®, parece melhorar a eficácia da extração (Ringel, 2004), além de não

haver contato com substâncias que possam interferir com o método, como por exemplo

a heparina (Dickover e cols, 1998). A quantidade média de RNA total extraído dos 32

pacientes avaliados foi 30,1 µg por amostra de 3 mL de sangue. Já no estudo de Ringel

e cols (1998) a eficiência da extração foi superior (30 a 60 µg de RNA total por amostra

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de 3 mL). Isto talvez possa ser explicado pelo maior volume de TRIzol® utilizado por

este grupo, 6mL para cada 1 mL de sangue. No presente trabalho foi utilizada a relação

de 3 para 1 e no restante da literatura observa-se uma variação de 2,6 a 9 para cada

mL de sangue.

A maioria dos trabalhos utiliza 1 µg de RNA total para síntese de cDNA, com

amplificação do mRNA de Tg em 100% do grupo controle (Ringel e cols, 1998; Wingo e

cols, 1999; Takano e cols, 2001; Fenton e cols, 2001; Bugalho e cols, 2001). Entretanto,

utilizando esta quantidade de RNA não se conseguiu amplificar o mRNA de Tg em

nenhum dos 10 indivíduos do grupo controle deste trabalho. Isto também foi encontrado

em alguns outros estudos (Ditkoff e cols, 1996; Denizot e cols, 2003; Chinnappa e cols,

2004). Desta forma, foi aumentada progressivamente a quantidade de RNA total até

obter amplificação do mRNA de Tg em todos os indivíduos normais. A quantidade

padronizada de 4 µg de RNA total foi também utilizada por Fugazzola e cols (2002).

Outros grupos, como por exemplo, Biscolla e cols (2000) e Eszlinger e cols (2002),

utilizaram quantidades maiores de RNA total (≥ 10 µg).

Para amplificação do mRNA de Tg foi utilizado 25% do volume final de cDNA e nos

demais trabalhos já publicados observa-se uma variação de 5 a até 100% do volume.

Com o advento de técnicas de biologia molecular cada vez mais modernas, vários

trabalhos já foram publicados utilizando PCR quantitativo (real time PCR) para

determinação do mRNA de Tg (Wingo e cols, 1999; Ringel e cols, 1999; Takano e cols,

2001; Fenton e cols, 2001; Eszlinger e cols, 2002;Denizot e cols, 2003; Span e cols,

2003; Elisei e cols, 2004; Kaufmann e cols, 2004; Li e cols, 2004; Barzon e cols, 2004).

A quantificação tem como vantagem a possibilidade de acompanhar a variação do nível

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de mRNA de Tg em resposta a uma determinada intervenção terapêutica. No entanto, o

PCR qualitativo é capaz, pelo menos em teoria, de determinar se ainda há células

neoplásicas circulantes expressando o mRNA de Tg e, portanto, se o paciente

encontra-se ou não em remissão.

No primeiro trabalho publicado sobre o emprego do mRNA de Tg como possível

marcador tumoral (Ditkoff e cols, 1996), a acurácia do método qualitativo empregado foi

extremamente elevada, com sensibilidade de 100% e especificidade de 91%. Dois

outros estudos (Gupta e cols, 2002; Chinnappa e cols, 2004), após criteriosa seleção

dos oligonucleotídeos iniciadores, encontraram resultados semelhantes (sensibilidade

variando de 83,33% a 100% e especificidade de 85,71% 91,67%). No presente

trabalho, a acurácia encontrada foi inferior, com sensibilidade de 75% e especificidade

de 61,1%. No entanto, estes valores são comparáveis aos demais estudos utilizando

RT-PCR qualitativo, em que se observa a sensibilidade variando entre 62,5% e 79% e

a especificidade entre 54% e 80% (Ringel e cols, 1998, Tallini e cols, 1998; Bojunga e

cols, 2000). Grammatopoulos e cols (2003) descrevem alta sensibilidade e

especificidade do teste empregado (93% e 84%, respectivamente), entretanto,

utilizaram como padrão-ouro a PCI diagnóstica, que sabidamente apresenta baixa

sensibilidade.

O uso de nested PCR tem como vantagem aumentar a sensibilidade da PCR, sendo

útil para estudar a expressão de mRNAs minoritários. Esta metodologia já foi

empregada em pacientes com CDT para avaliar a expressão do mRNA de Tg no

sangue. Ao contrário do esperado, Bellantone e cols (2001) encontraram uma baixa

sensibilidade (25%) e uma especificidade semelhante a da Tg sérica em hipotireoidismo

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(80 x 85%). Já a metodologia desenvolvida por Biscolla e cols (2000) apresentou

sensibilidade de 83% e especificidade de 71%.

Nos estudos empregando RT-PCR quantitativo (real time PCR) para amplificação

de mRNA de Tg, também se observam diferenças na padronização da metodologia,

assim como resultados contraditórios. No primeiro trabalho publicado, Ringel e cols

(1999) construíram a curva-padrão a partir de RNA total extraído de tecido tireoideano

normal. Nos pacientes sem captação de iodo na PCI, a quantidade média de mRNA de

Tg foi significativamente menor que nos pacientes com captação em leito tireoideano (p

= 0,009) ou com captação em qualquer sítio (p = 0,001). Utilizando o valor de 3 pg de

mRNA de Tg / µg de RNA de tireóide como valor de corte, foi observado que apenas

38% dos pacientes sem captação de iodo apresentaram mRNA de Tg positivo. Já nos

pacientes com captação em leito tireoideano, o mRNA de Tg foi positivo em 75% (p =

0,001) e naqueles com captação em qualquer localização em 84% (p < 0,001). Apesar

desta correlação estatística entre presença de mRNA de Tg e captação de iodo,

observou-se neste estudo uma considerável superposição de valores entre os

diferentes grupos de pacientes. Savagner e cols (2002), utilizando um valor de corte

menor (1 pg de mRNA de Tg / µg de RNA total), observaram que somente 18% dos

pacientes sem evidência de doença há 5 anos apresentaram mRNA de Tg positivo,

comparado com 100% daqueles com doença metástática. Neste estudo, o mRNA de Tg

apresentou menor resultado falso negativo que a dosagem de Tg sérica.

Fenton e cols (2001) observaram correlação entre o nível de mRNA de Tg e

captação de iodo na PCI (p = 0,026) e Tg sérica (p = 0,037) em crianças com câncer.

No entanto, o número de pacientes avaliados foi pequeno (apenas 5) e não se

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observou diferença de expressão do mRNA de Tg entre os pacientes com doença

benigna ou maligna (p = 0,67). Elisei e cols (2004) também realizaram padronização da

curva com RNA total. Entretanto, encontraram baixa especificidade do método e uma

grande superposição de valores entre os grupos com ou sem doença residual.

Outros grupos construíram a curva-padrão através da análise de genes

expressos de forma constitutiva, como GAPDH e β-actina. Esta padronização é

questionada, uma vez que existe variação de expressão destes genes em diferentes

indivíduos e em amostras pareadas de tecido normal e neoplásico (Tricarico e cols,

2002). Takano e cols (2001) e Kaufmann e cols (2004), utilizando GAPDH como

controle, não observaram diferença do nível de expressão do mRNA de Tg entre os

pacientes com ou sem metástases do CDT. O mesmo foi observado em 2 estudos

utilizando a β-actina como controle (Eszlinger e cols, 2002; Span e cols, 2003), porém Li

e cols encontraram diferença estatística entre indivíduos normais e com CDT (p <

0,0001) e correlação entre mRNA de Tg e Tg sérica (p = 0,08). Denizot e cols (2003)

realizaram padronização com o nível de RNA 18S. Ao contrário dos demais estudos em

que o fator crítico foi a especificidade, a técnica desenvolvida por este grupo

apresentou baixa sensibilidade (apenas 1 de 8 pacientes com remanescente

tireoideano e 1 de 7 pacientes com mertástases apresentaram mRNA de Tg

detectável).

A influência do nível de TSH sobre a expressão do mRNA foi avaliada em alguns

estudos. Ringel e cols (1999) e Savagner e cols (2002) observaram que nos pacientes

em uso de levotiroxina o nível de mRNA foi inferior ao encontrado nos pacientes sem

levotiroxina. Já outros autores (Fugazzola e cols, 2002; Elisei e cols, 2004; Chinnappa e

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cols, 2004) não encontraram diferença significativa. Bellantone e cols (2001)

encontraram baixa sensibilidade do método (25%), mesmo durante hipotireoidismo

induzido.

Nos diversos estudos foram avaliados pacientes com carcinoma papilífero,

folicular e alguns também incluíram pacientes com carcinoma pouco diferenciado.

Bellantone e cols (2001), foram os únicos que relataram variação da expressão do

mRNA de Tg de acordo com o tipo histopatológico, não sendo observado amplificação

nos pacientes com carcinoma folicular. No presente estudo, a detecção foi vista em 11

dos 26 pacientes com carcinoma papilífero e 5 dos 6 pacientes com carcinoma folicular

ou pouco diferenciado, não havendo portanto, variação da expressão em função do tipo

histológico.

A expressão de mRNA de Tg nos diferentes grupos de estadiamento tumoral foi

avaliada somente em 2 trabalhos (Tallini e cols, 1998; Bellantone e cols, 2001), não

sendo encontrada diferença significativa entre os estágios tumorais. No entanto, no

presente trabalho foi observado aumento progressivo do percentual de casos com

mRNA de Tg detectável de acordo com estadiamento tumoral, sugerindo que o mRNA

de Tg no sangue possa ser um indicador de doença residual. Entretanto, significância

estatística só foi observada quando comparado estágio I com os demais (p < 0,005).

O grande questionamento do uso do mRNA de Tg como possível marcador

tumoral está na especificidade do método. Em muitos trabalhos observam-se casos em

que o mRNA de Tg está presente no sangue, porém sem qualquer outra evidência de

recidiva ou persistência tumoral, sugerindo resultado falso positivo. No entanto, não se

pode afastar a possibilidade deste teste apresentar taxa de detecção mais sensível que

os demais exames empregados e, portanto, estes pacientes apresentarem maior risco

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de recidiva. A conclusão definitiva deste questionamento depende de estudos

prospectivos acompanhando os pacientes em que o mRNA de Tg encontra-se

detectável. Até o momento, somente 2 trabalhos realizaram este tipo de avaliação. No

primeiro, Grammatopoulos e cols (2003), acompanharam 5 pacientes por 12 meses e

observaram correlação entre a detecção do mRNA de Tg e a presença ou ausência de

doença demonstrada pela PCI. No segundo estudo, Elisei e cols (2004) reavaliaram

após 4 anos os 9 pacientes classificados como livres de doença, porém com mRNA de

Tg detectável. Nesta reavaliação, os pacientes foram submetidos a USG cervical e

dosagem de Tg sérica estimulada pela administração de TSH recombinante. Não foi

confirmada recidiva em nenhum destes pacientes, sugerindo resultado falso positivo do

mRNA de Tg. No presente trabalho, os pacientes sem evidência de persistência ou

recidiva tumoral pela avaliação inicial foram acompanhados por um período de

aproximadamente 24 meses. A taxa de recidiva encontrada não diferiu entre os

pacientes com ou sem mRNA de Tg presente no sangue (p > 0,75). Desta forma,

apesar do acompanhamento por um período relativamente curto e do pequeno número

de pacientes avaliados, estes resultados, juntamente com os dados publicados por

Elisei e cols (2004), sugerem que a detecção do mRNA de Tg não é capaz de predizer

risco de recidiva.

Outros fatores devem ser pesquisados para melhor esclarecer a baixa

especificidade do teste de mRNA de Tg. No presente trabalho, foi demonstrado que

linfócitos em cultura, extraídos de indivíduos normais e de paciente com ablação da

tireóide, eram capazes de expressar o mRNA de Tg, o que justifica a baixa

especificidade. A expressão de mRNA característico da tireóide por linfócitos já foi

descrita previamente por Francis e cols (1991), que demonstraram por RT-PCR a

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presença de mRNA do receptor de TSH em linfócitos. A transcrição de genes tecido-

específicos é controlada de forma rigorosa por fatores de transcrição e promotores

tecido-específicos. Na ausência destes fatores, a transcrição gênica provavelmente é

muito baixa, porém não necessariamente nula. Esta pequena expressão de genes

tecido-específicos por células não específicas é denominada de transcrição ilegítima. Já

foi demonstrado que fibroblastos, linfoblastos e células hepáticas são capazes de

expressar genes específicos de outros tecidos, como por exemplo, gene da distrofia

muscular de Duchenne, fator anti-Mülleriano, β-globina e fator VIIIc (Chelly e cols, 1988;

Chelly e cols, 1989). Mais recentemente, Kimoto (1998) avaliou a expressão de 25

mRNAs em linfócitos humanos por RT nested PCR. Todos os mRNAs foram

detectados, sem exceção.

O uso de RT-PCR quantitativo, estabelecendo um valor de corte, poderia auxiliar na

distinção entre expressão ilegítima e expressão com relevância clínica. Entretanto, isto

não foi conseguido até o momento. Gupta e cols (2002), avaliaram a expressão do

mRNA de Tg e do receptor de TSH utilizando diferentes pares de primers. Foi

observado que a especificidade do método é dependente da escolha do primer. Uma

das seqüências de oligonucleotídeos estudas por Gupta e cols (2002) em que foi

encontrada baixa especificidade foi a mesma empregada no presente estudo, talvez

explicando a amplificação encontrada em linfócitos.

Nos estudos recentes de marcadores moleculares no sangue para detecção de

outros cânceres, observam-se os mesmos obstáculos encontrados no câncer de

tireóide (Schuster e cols, 2004).

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Além de todos os dilemas já descritos, o emprego do mRNA de Tg no

acompanhamento dos pacientes com CDT ainda apresenta outras dificuldades, como

por exemplo, o alto custo e a grande variação intra- e interensaio de alguns métodos,

chegando até 35% e 38%, respectivamente (Takano e cols, 2001).

Desta forma, a metodologia desenvolvida neste estudo para pesquisar o mRNA de

Tg em amostra de sangue, não apresentou acurácia superior aos demais exames

empregados para detectar recidiva tumoral, como observado na maioria dos estudos.

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CONCLUSÕES

1. A sensibilidade e especificidade do teste desenvolvido para detecção de mRNA

de Tg em sangue foram inferiores as da dosagem de Tg sérica em supressão.

2. A presença do mRNA de Tg no sangue não foi um fator determinante para o

desenvolvimento de recidiva ao longo de 24 meses de acompanhamento dos

pacientes com CDT.

3. Considerando isoladamente os pacientes com anticorpo anti-Tg, a presença do

mRNA de Tg também apresentou baixa correlação com o status de doença.

Neste subgrupo, a negativação ou manutenção dos títulos de anticorpo anti-Tg

foi um fator mais decisivo que a ausência ou presença do mRNA na

determinação de doença.

4. A amplificação do mRNA de Tg a partir de RNA extraído de linfócitos em cultura

permitiu esclarecer a baixa especificidade do método desenvolvido.

5. A aplicabilidade clínica do teste de mRNA de Tg só será possível após o

desenvolvimento e padronização de técnica sensível e, principalmente, capaz de

distinguir a amplificação específica da não específica. Este esforço é válido, pois

o anticorpo anti-Tg está presente em um percentual considerável de pacientes

com CDT, limitando a utilização da Tg sérica como marcador tumoral.

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95

ANEXO

Anexo I: Artigo de revisão submetido aos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e

Metabologia.

Amplificação de mRNA de tireoglobulina no sangue de pacientes com carcinoma

diferenciado da tireóide: qual o seu verdadeiro significado?

Sabrina Mendes Coelho, Mário Vaisman e Denise Pires de Carvalho

Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e

Laboratório de Fisiologia Endócrina do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho,

Universidade Federal do Rio de Janeiro

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96

Resumo

Aproximadamente 20-40% dos pacientes com carcinoma diferenciado da tireóide

evoluem com recidiva tumoral e o prognóstico está relacionado principalmente à

detecção precoce da doença. Desta forma, acompanhamento permanente com exames

sensíveis é fundamental. A tireoglobulina (Tg) sérica já demonstrou importância como

marcador de recidiva. No entanto, sua dosagem apresenta ainda algumas dificuldades,

como a interferência com anticorpo anti-Tg, e a sensibilidade dependente do nível de

TSH. A amplificação de mRNA tumor-específico extraído a partir de células neoplásicas

na corrente sangüínea apresentou resultados iniciais promissores. Após quase uma

década de estudo do mRNA de Tg, ainda não foi estabelecida sua real contribuição.

Após análise crítica dos estudos publicados, verifica-se a enorme diversidade de

protocolos e resultados conflitantes. Desta forma, a amplificação de mRNAs tireóide-

específicos não é superior à dosagem de Tg sérica existente. A possibilidade de

transcrição ilegítima e splicing alternativo são fatores que podem interferir com a

especificidade do método.

Unitermos: câncer de tireóide, tireoglobulina, mRNA.

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97

Abstract

Despite the excellent prognosis, differentiated thyroid carcinoma may recur in 20-

40%, and prognosis is particularly related to early detection of recurrent disease.

Therefore, long-term follow-up with sensitive tests is necessary. Serum thyroglobulin

(Tg) has an established role as a tumor marker of relapse. However, there are technical

limitations of Tg immunoassays, in special, the interference of anti-Tg antibodies and the

method sensitivity is dependent on TSH stimulation. The detection of circulating

malignant cells by amplification of tumor-specific mRNA showed initial promising results.

Almost one decade of Tg mRNA studies, its real contribution had not yet been

established. After a critical analysis of published data, it is clear that there are many

protocol differences and conflicting results. Therefore, it seems that amplification of

thyroid-specific mRNAs is not superior to sensitive Tg assays and illegitimate

transcription and alternative splicing of Tg are factors that may influence mRNA test

specificity.

Keywords: thyroid cancer, thyroglobulin, mRNA

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1. Introdução

Os carcinomas diferenciados da tireóide (CDT), papilífero e folicular, estão entre as

neoplasias malignas com melhor índice de cura. A taxa de sobrevida em 20 anos é de

95% para o carcinoma papilífero e de 70 a 80% para o folicular (1). No entanto, alguns

pacientes apresentam alto risco de recorrência tumoral, ou mesmo de morte, e o

prognóstico é afetado por fatores relacionados ao paciente, ao tratamento e à própria

doença. A recidiva tumoral, local ou à distância, não é infreqüente, podendo ocorrer até

algumas décadas após o diagnóstico (2), evidenciando a necessidade de

acompanhamento permanente dos pacientes com CDT.

A forma clássica de avaliar a presença de recorrência tumoral é o acompanhamento

da tireoglobulina (Tg) sérica e a realização de cintilografia de corpo inteiro com iodo

radioativo (PCI). A ultra-sonografia (USG) cervical também vem se afirmando como

método diagnóstico importante para a detecção de recorrência cervical, com

sensibilidade superior à Tg sérica e à PCI (3).

Em pacientes com CDT, espera-se que a Tg sérica torne-se indetectável após

tratamento ablativo (tireoidectomia total ou subtotal alargada complementada com iodo

radioativo). Nesta situação qualquer nível detectável de Tg pode indicar persistência ou

recorrência da doença maligna. Vários estudos têm confirmado o importante papel da

Tg sérica como marcador tumoral no acompanhamento de pacientes com CDT (4, 5, 6).

Entretanto, o ensaio da Tg apresenta ainda alguns dilemas técnicos, em especial a

interferência com anticorpo anti-Tg, presente em cerca de 15 a 25% dos pacientes com

CDT (7, 8, 9), e a sensibilidade dependente do nível de TSH. A administração de TSH

recombinante precedendo a dosagem de Tg sérica é interessante, pois aumenta a

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síntese de Tg pelos tireócitos, melhorando a sensibilidade do método, e evita os

sintomas indesejáveis do hipotireoidismo. No entanto, o alto custo desta substância

dificulta seu emprego no seguimento dos pacientes com CDT.

Na tentativa de melhorar o acompanhamento de pacientes com câncer,

diagnosticando precocemente a recidiva, esforço tem sido realizado para o

desenvolvimento de métodos alternativos. A amplificação de mRNA tumor específico

extraído a partir de sangue parece ser útil em detectar células neoplásicas na corrente

sangüínea (10, 11, 12). Na década de 90, iniciou-se a avaliação da pesquisa de mRNA

de Tg em amostra de sangue de pacientes com CDT, com resultados iniciais

promissores (13, 14, 15).

2. Dificuldades técnicas da tireoglobulina sérica

A Tg é uma proteína sintetizada exclusivamente pelas células foliculares da tireóide.

É codificada por um gene de pelo menos 300kb, contendo 48 exons e localizado no

cromossomo 8 (16, 17, 18). O produto final é uma glicoproteína de 660 kDa, formada

por 2 subunidades idênticas, unidas por ligação não-covalente. A Tg pode apresentar-

se de forma heterogênea em decorrência de splicing alternativo do seu mRNA.

Por muitos anos acreditava-se que a Tg era encontrada exclusivamente na glândula

tireóide. A partir da década de 40 surgiram relatos de detecção de Tg no sangue (19),

mas foram Van Herle e cols. (20) que estabeleceram o primeiro método útil

clinicamente para detectar a Tg, o radioimunoensaio (RIE) utilizando anticorpo

policlonal de coelho. Na década de 80, os ensaios radioimunométricos (IRMAs) com

anticorpo monoclonal tornaram-se disponíveis.

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Atualmente, existem 4 imunoensaios disponíveis para a dosagem da Tg: RIA (com

duplo ou único anticorpo), IRMA, ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) e ICMA

(imunoquimioluminescência). Destes, o RIE com duplo anticorpo, IRMA e ICMA são as

técnicas de escolha.

Vários fatores podem afetar a acurácia do ensaio de Tg, podendo ser divididos em

fatores ensaio-dependentes e ensaio-independentes (21):

- Fatores ensaio-independentes:

. Presença de anticorpo anti-Tg;

. Níveis extremamente elevados de Tg (efeito gancho);

. Anticorpo heterofílico;

. Outros: gamopatia monoclonal, doença renal terminal.

- Fatores ensaio-dependentes:

. Falta de padronização internacional;

. Especificidades diferentes dos anticorpos utilizados;

. Falta de precisão interensaio;

. Sensibilidade funcional sub-ótima;

. Variante de Tg não reconhecida pelo anticorpo utilizado no método.

Anticorpo anti-Tg permanece como o principal fator de erro na dosagem de Tg

sérica, uma vez que aproximadamente 15 a 25% dos indivíduos com CDT apresentam

anticorpo anti-Tg (7, 8, 9), prevalência esta mais elevada que na população geral. É

importante salientar que o grau de interferência não é proporcional ao título do

anticorpo e que nenhum método está totalmente livre desta interferência. Na presença

do auto-anticorpo, o RIE geralmente determina falsa elevação da Tg, ao passo que

IRMA e ELISA podem subestimar. Desta forma, recomenda-se screening de anticorpo

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anti-Tg em todo paciente com CDT. Infelizmente, vários laboratórios ainda utilizam teste

de hemaglutinação para detecção de auto-anticorpo, que sabidamente apresenta baixa

sensibilidade. A discordância entre o nível de Tg medida por RIE e IRMA pode

funcionar como um indicador sensível da interferência do anticorpo (8). Uma alternativa

é o teste de recuperação, que consiste em adicionar uma quantidade conhecida de Tg

ao soro e medir posteriormente a recuperação: se < 80% sugere interferência do

anticorpo e se > 80% diminui a possibilidade de interferência. Entretanto, a acurácia

deste teste não é alta e, portanto, o mesmo não deve ser utilizado para validar a

medida da Tg sérica (22).

A Tg quando em nível bastante elevado (10 a 10.000 vezes a faixa superior de

detecção) pode ser falsamente detectada em nível normal ou mesmo baixo. Este

fenômeno é conhecido como efeito gancho e é exclusivo dos ensaios com duplo

anticorpo, como o IRMA e RIE. Neste caso, a diluição do soro é recomendada.

Ao contrário do anticorpo anti-Tg, a interferência do anticorpo heterofílico não é

habitualmente reconhecida pelos laboratórios e clínicos. Quando presente este

anticorpo resulta em teste falso positivo. Como alguns pacientes são tratados com base

na elevação da Tg sérica, a não identificação do anticorpo heterofílico pode resultar em

tratamento desnecessário.

Uma vez na circulação, a meia-vida da Tg é de 3 a 65 horas, dependendo do grau

de modificações pós-traducionais (23) e a sua metabolização é feita primariamente pelo

fígado. O nível sérico da Tg depende de 2 fatores principais: o volume tireoideano e o

nível de TSH sérico.

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- Volume tireoideano

Em geral, quanto maior a massa de tecido tireoideano (normal ou neoplásico) maior

o nível de Tg sérica. Desta forma, nos pacientes submetidos à terapia ablativa (cirurgia

associada à dose ablativa de 131I) a Tg permanece indetectável numa maior proporção

de casos (98% x 50%), em relação aos pacientes tratados de forma mais conservadora

(Tabela 1).

- Nível de TSH

Como o TSH é um importante estimulador da função tireoideana e mesmo células

neoplásicas mantém expressão de seu receptor, é esperado que o nível de Tg sérica

varie de acordo com a concentração de TSH (Tabela 1). Desta forma, ao interpretar o

valor da Tg deve-se sempre avaliar o nível de TSH.

Cerca de 20% dos pacientes com metástases para linfonodo e 5% dos pacientes

com pequenas metástases à distância apresentam Tg indetectável durante terapia

supressora de TSH com levotiroxina. Esta percentagem cai para 10 e menos de 1%,

respectivamente, quando induzido o hipotireoidismo (24).

Outro fator importante para a determinação do nível de Tg sérica é a capacidade

intrínseca do tumor de sintetizar e secretar esta glicoproteína. Este fator pode ser

avaliado através da determinação pré-operatória da Tg sérica (5).

Desta forma, observa-se que, apesar da Tg ser um marcador tumoral bastante útil

no acompanhamento pós-operatório, resultados falso-negativos ocorrem (Tg

indetectável em vigência de persistência ou recorrência tumoral). Estes casos são

geralmente explicados pela menor sensibilidade do exame durante terapia supressora

de TSH ou por interferência com anticorpo anti-Tg. Na tentativa de superar estas

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dificuldades, esforço tem sido realizado para o desenvolvimento de métodos

alternativos de investigação.

3. RNA mensageiro da Tg como possível marcador tumoral

O conceito de detecção molecular altamente sensível de células tumorais na

corrente sangüínea foi descrito no início da década de 90 para tumores sólidos, como

carcinoma de próstata (10), neuroblastoma (26) e carcinoma de mama (27).

Especialmente no câncer de próstata, a detecção por RT-PCR de células neoplásicas

no sangue parecia preceder a elevação dos demais marcadores séricos, favorecendo

ao diagnóstico mais precoce da recidiva (28).

No primeiro estudo de mRNA de Tg no acompanhamento de pacientes com CDT,

Ditkoff e cols. (13) conseguiram detectar por reação em cadeia de polimerase após

transcrição reversa (RT-PCR) este mRNA em todos os 9 pacientes com doença

metastática e em menos de 10% (7 de 78) dos pacientes sem metástases. Neste grupo,

a detecção do mRNA de Tg foi mais freqüente naqueles com história prévia de

metástases (5 de 22) do que naqueles sem história de metástase (2 de 56). Nos

voluntários normais e nos pacientes com doença benigna não foi vista amplificação.

Estes resultados iniciais sugeriram, que a presença na circulação sangüínea do mRNA

de Tg poderia representar doença tireoideana disseminada via hematogênica.

Posteriormente, Tallini e cols. (14) conseguiram detectar mRNA de Tg e

tireoperoxidase (TPO) em 54,2% dos indivíduos em acompanhamento de CDT,

incluindo 5 de 8 pacientes sem evidência de doença no momento do exame. Entretanto,

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4 destes 5 casos apresentaram invasão extratireoideana ou metástase para linfonodo

no momento da cirurgia. Já a amplificação do mRNA de RET/PTC 1 foi observada em

apenas 1 dos 18 pacientes com carcinoma papilífero e em nenhum paciente com

doença benigna. O mRNA de Tg e de TPO foram também detectados em 10% (2 de

20) dos pacientes com doença tireoideana benigna. No entanto, no pós-operatório o

mRNA não foi mais encontrado. Este achado demonstra que a presença no sangue de

mRNA específico da tireóide não está necessariamente relacionada à metástase.

Em 1998, utilizando metodologia de extração de RNA total diferente dos demais,

Ringel e cols. (15) detectaram mRNA de Tg em todos os 10 indivíduos normais

eutireoideanos testados. Dentre os 87 pacientes com CDT, o mRNA de Tg foi detectado

em 26 de 33 pacientes (79%) com remanescente em leito tireoideano ou doença

metastática confirmada em PCI, ao passo que a Tg sérica foi detectada somente em 12

destes pacientes (36%) durante terapia supressora de TSH. Nos pacientes com PCI

negativa, a Tg sérica estava detectável em 2 e o mRNA em 7 pacientes. Neste estudo a

amplificação do mRNA de Tg apresentou maior sensibilidade que a Tg sérica para

pesquisa de doença residual, pelo menos durante supressão de TSH. Entretanto, sua

especificidade foi inferior. Neste mesmo trabalho, através de técnica de

imunocitoquímica foram demonstradas células com expressão de receptor de TSH e Tg

na corrente sangüínea de indivíduos normais, sugerindo que a presença de tireócitos

no sangue não estaria relacionada apenas à disseminação hematogênica do carcinoma

da tireóide.

Este mesmo grupo (29) desenvolveu um método de RT-PCR quantitativo e

amplificou o mRNA de Tg em todos os 32 voluntários normais. A concentração média

encontrada foi de 433 ± 69 ng de RNA total tireoideano / litro de sangue, com variação

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de 26 a 1502 ng/L. Aplicando metodologia semelhante em 107 pacientes com CDT e

utilizando o valor de 3pgEq/µg RNA de tireóide como cutoff, o mRNA de Tg foi

encontrado em 38% dos pacientes sem captação anormal de iodo na PCI, 75%

daqueles com captação em leito tireoideano, 84% com doença cervical e 94% com

metástases à distância (30).

A amplificação do mRNA do transportador de sódio-iodeto (NIS) também já foi

testada (31). O interesse maior no estudo do NIS como marcador tumoral é avaliar se

há correlação entre sua expressão e a captação de iodo, tentando explicar a

discordância entre Tg sérica e PCI encontrada em alguns pacientes. Entretanto, a

amplificação do mRNA do NIS por nested PCR (2 ciclos seguidos de amplificação,

utilizando 2 pares de seqüências de oligonucleotídeos iniciadores distintos) mostrou

baixa acurácia (sensibilidade de 16,6% e especificidade de 54%), não havendo

necessariamente correlação com a captação. A baixa especificidade pode ser

explicada, pelo menos em parte, pela expressão deste transportador em tecidos não

tireoideanos. Neste mesmo estudo, a sensibilidade e especificidade da amplificação do

mRNA da Tg por nested PCR foram de 83% e 71% e da Tg sérica 50 e 89%,

respectivamente.

A detecção de mRNA de TPO foi novamente estuda (32), desta vez em um

grupo maior de pacientes: 120 com carcinoma tireoideano, 85 com doença benigna e

54 voluntários normais. Dentre os indivíduos com doença maligna, o mRNA da TPO foi

detectado em 70% daqueles com metástases (7/10), sendo que em 3 a Tg sérica foi

negativa (< 5 ng/mL). Naqueles sem metástase documentada, o mRNA da TPO foi

detectado em 36% (39/110). Nestes, observou-se correlação positiva com a presença

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de metástase para linfonodo (p = 0,05), estadiamento (p = 0,01) e Tg elevada (p =

0,03).

A avaliação do mRNA de Tg por RT-PCR quantitativo em crianças com doença

tireoideana benigna e maligna não mostrou diferença significativa entre os 2 grupos.

Entretanto, nos pacientes previamente tratados por carcinoma papilífero, o nível de

mRNA de Tg correlacionou-se com a PCI e com a Tg sérica (33).

Apesar destes resultados iniciais promissores, questiona-se atualmente o

verdadeiro valor e acurácia da detecção do mRNA de Tg no acompanhamento do CDT.

Vários pacientes em aparente remissão clínica (Tg sérica indetectável e PCI negativa)

apresentam mRNA circulante detectável (falso-positivo) e alguns pacientes

sabidamente com doença metastática apresentam mRNA indetectável (falso-negativo).

A expressão no sangue do mRNA da Tg por RT-PCR semi-quantitativo (com

variação do número de ciclos de 32 a 36) foi comparada entre pacientes submetidos a

tireoidectomia total por outra patologia que não CDT (carcinoma medular de tireóide,

carcinoma de laringe e bócio multinodular atóxico) e indivíduos normais (34). Não foi

encontrada diferença significativa da expressão do mRNA de Tg entre os 2 grupos.

Além disso, o RNA foi detectado tanto na camada de células mononucleares quanto de

polimorfonucleares, sugerindo que células sangüíneas talvez possam expressar o

mRNA da Tg. Entretanto, deve ser salientado que neste estudo os pacientes

tireoidectomizados não foram avaliados com cintilografia da tireóide para avaliar

possível remanescente tireoideano pós-operatório.

No estudo por RT-PCR quantitativo com 57 pacientes tireoidectomizados não foi

encontrada diferença de expressão do mRNA de Tg entre indivíduos com e sem

metástase de CDT, questionando-se a especificidade deste método (35). Entretanto, a

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metodologia adotada foi diferente da anteriormente descrita por Ringel e cols (1999).

Não foi realizado tratamento com DNAse para prevenir amplificação de DNA genômico,

e a padronização da curva de concentração foi feita com GAPDH e não com RNA de

tireóide.

Diante de resultados tão conflitantes, é difícil avaliar o verdadeiro valor do mRNA

de Tg. No entanto, realizando uma análise criteriosa da metodologia utilizada pelos

diversos grupos observa-se uma enorme variedade de protocolos, o que certamente

justifica a discrepância entre os resultados. Em relação ao processamento da amostra

de sangue, observa-se variação quanto a: 1) tipo de tubo em que a amostra é coletada

(com heparina, citrato, EDTA ou diretamente no tubo de extração contendo substância

estabilizadora de RNA), 2) volume de sangue utilizado (0,3 a 10 mL), 3) separação de

camadas celulares por gradiente ou utilização de sangue total, 4) Kit de extração de

RNA (6 diferentes kits utilizados) e 5) tratamento ou não do RNA extraído com DNAse

(Tabela 2). Estudo de determinação de carga viral em pacientes infectados pelo HIV

demonstrou variação significativa de acordo com o tubo utilizado: o nível de RNA viral

no plasma coletado em tubo contendo EDTA foi, em média, 14% e 31% mais elevado

que no tubo com citrato e heparina, respectivamente (36). Eszlinger e cols (37),

estudando pacientes com CDT, comparou a eficácia de extração de vários métodos

(tubos com citrato ou EDTA, separação ou não de camada mononuclear e

processamento imediato, 24 horas ou 48 horas após a coleta) e concluiu que a

utilização de tubos com citrato com subseqüente separação da camada mononuclear e

extração imediata garantem um melhor resultado. Entretanto, não foi comparada esta

metodologia com um dos métodos de extração mais utilizados (amostra de sangue

adicionada diretamente em tubo estéril contendo substância estabilizadora de RNA).

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Os diversos estudos também divergem quanto à metodologia de RT-PCR: 1)

quantidade de RNA total utilizado para a síntese de cDNA (1,0 ng a 11,5µg), 2)

quantidade de cDNA empregada para realização da PCR, 3) seqüência de

oligonucleotídeos iniciadores escolhida, 4) tipo de amplificação (PCR qualitativo,

nested, semiquantitativo, quantitativo) e 5) número de ciclos (Tabela 2).

Com relação ao número de ciclos, Bojunda e cols (38) compararam 2 métodos

com sensibilidades distintas, o primeiro utilizando PCR com 30 ciclos (com capacidade

de detectar 50 a 100 células expressando mRNA de Tg) e o segundo com 40 ciclos

(com capacidade de 20 a 30 células). Foi extraído RNA total de vários tecidos e de

sangue de indivíduos com CDT (com e sem metástase), doença benigna tireoideana e

voluntários normais. Após 30 ciclos de amplificação, o mRNA de Tg foi encontrado no

sangue de 9 dos 13 pacientes (69,2%) com metástase. Com aumento para 40 ciclos,

observou-se incremento da sensibilidade, detectando em 11 destes 13 pacientes;

entretanto, houve perda da especificidade, com detecção do mRNA da Tg em várias

amostras de tecido não-tireoideano, como timo, supra-renal, hipófise, pulmão, testículo

e apêndice.

Da mesma forma que se acreditava que a expressão do mRNA do receptor de

TSH era exclusiva do tireócito e hoje se sabe que é encontrado também em adipócitos

e linfócitos (39; 40), pode ser que o mRNA da Tg também seja expresso por outras

células, fenômeno denominado de transcrição ilegítima.

Gupta e cols (41) investigaram a especificidade de diferentes pares de

seqüências de oligonucleotídeos iniciadores (primers) em amplificar o mRNA de Tg e

do receptor de TSH (TSHR) em sangue de indivíduos normais e em amostra de câncer

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de tireóide. Para isto foram escolhidos 4 pares de primers de TSHR e 3 pares de Tg já

descritos previamente na literatura (13; 15; 42). Foi observado que todos os primers de

TSHR e de Tg formam capazes de amplificar os respectivos mRNAs extraídos a partir

de tecido. Quando os experimentos foram realizados com RNA extraído a partir de

sangue (camada de células mononucleares), somente 1 par de primer de TSHR e 1 de

Tg não amplificou. Estes resultados sugerem que células sanguíneas talvez possam

expressar estes mRNAs. Entretanto, é provável que o processamento pós-

transcripcional (splicing) seja distinto nas células tireoideanas e não-tireoideanas e que

a seleção do primer possa determinar maior especificidade ao método.

Splicing alternativo do mRNA de Tg pode afetar não somente a especificidade,

como também a sensibilidade, especialmente se a sequência de oligonucleotídeos

empregada for direcionada para áreas sabidamente de risco de splicing. A possibilidade

de resultado falso negativo decorrente de splicing alternativo foi avaliada por Savagner

e cols (43). Para estimar o risco de erro na medida do mRNA de Tg, foi calculada a

percentagem de uma das formas variantes do mRNA, comparando com o total de

mRNA de Tg em células tireoideanas circulantes. Cerca de 20% dos pacientes

avaliados apresentaram este splicing alternativo, correspondendo a até 33% do valor

total.

Mais recentemente, foram estudados 36 pacientes com CDT em aparente

remissão e com anticorpo anti-Tg negativo (44). Foram dosados Tg sérica por 2

métodos com sensibilidade de 0,9 µg/L e 0,1 µg/L (Tg altamente sensível), além do

mRNA de Tg, antes e após a administração de TSH recombinante. Foi avaliado o grau

de concordância entre estes exames e a avaliação clínica (USG cervical, PCI, Tg

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altamente sensível após TSH recombinante). A Tg com sensibilidade de 0,9 µg/l

apresentou concordância de 53% no basal e 55% após estimulação com TSH. O RNA

concordou com a avaliação clínica em 66% no basal e pós-estimulação. Neste estudo,

as condições da RT-PCR foram otimizadas para evitar transcrição ilegítima. Foi

primeiramente estabelecida a quantidade de cDNA oriundo de células K562 (células de

leucemia mielóide crônica) que não determina amplificação de Tg. Com base neste

dado, foi posteriormente feita padronização para as amostras de sangue dos pacientes.

Nestas condições, não foi observada amplificação de mRNA de Tg no paciente com

agenesia tireoideana. Desta forma, o emprego de uma metodologia que diminua o risco

de interferência da transcrição ilegítima talvez possa ser útil.

Apesar da possibilidade de baixa especificidade por transcrição ilegítima da Tg

ou por variantes de Tg em células não tireoideanas, não se pode, até o momento,

afastar a hipótese de alta sensibilidade do método, diagnosticando precocemente a

recidiva. Somente o acompanhamento a longo prazo dos pacientes estudados poderá

definir se aqueles com mRNA detectável apresentam maior risco de recorrência

tumoral. Nos 28 pacientes com CDT estudados por Grammatopoulos e cols (45) a

identificação de metástases na PCI correlacionou-se melhor com mRNA do que com a

Tg sérica. Cinco destes pacientes foram estudados prospectivamente com coleta de

sangue a cada 2 meses. Quatro mantiveram Tg e mRNA de Tg indetectáveis. No outro

paciente, o mRNA estava presente apesar da Tg indetectável; no entanto, durante o

acompanhamento a Tg sérica elevou-se e a PCI identificou metástases.

Elisei e cols (46), utilizando metodologia criteriosa (primers selecionados para

evitar formas variantes de Tg e tratamento com DNAse para evitar amplificação

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genômica), estudaram 80 pacientes com CDT e 20 indivíduos normais. Foram

encontradas sensibilidade de 82,3% e especificidade de 24,2%. Os 9 pacientes com

RNA detectável, sem outra evidência de doença, foram reavaliados após 4 anos com

dosagem de Tg sérica basal e estimulada, que se manteve indetectável. Desta forma, o

mRNA não foi capaz de predizer a recorrência tumoral, sugerindo falso-positivo. Deve-

se ressaltar, entretanto, o número pequeno de pacientes envolvidos e o curto período

de acompanhamento.

Com base nestes resultados conflitantes, a amplificação de mRNAs

característicos da tireóide não parece ser, até o momento, superior aos métodos

sensíveis de dosagem de Tg sérica já existentes. Entretanto, como muitos estudos

sugerem correlação entre mRNA e estadiamento tumoral, é possível que o

desenvolvimento de metodologia criteriosa, evitando a interferência gerada pela

transcrição ilegítima, permita que o mRNA de Tg seja empregado para o subgrupo de

pacientes com CDT e anticorpo anti-Tg.

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TABELA 1: Detecção da Tg sérica de acordo com o tipo de tratamento

e o nível de TSH

% Pacientes com Tg sérica indetectável

TSH suprimido Em hipotireoidismo

Cirurgia + ablação com 131I 98% 90%

Tireoidectomia

(total ou subtotal)

93% 80%

Lobectomia unilateral 50% ~0%

Baseado em Schlumberger e Pacini, 1999 (25).

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TABELA 2: Diferença da metodologia empregada para amplificação de mRNA de

tireoglobulina.

Variáveis Diferenças de Protocolo

Tubo para coleta de sangue Heparinizado14;35;47; contendo citrato 37;

EDTA29;32;33;34;37;38;41;45;47; ou diretamente em tubo

contendo substância estabilizadora de

RNA13;15;30;31;43;44;46

Volume de sangue 1,031;44 a 10mL14;35

Preparo do sangue para extração Separação por gradiente de camadas

celulares14;32;33;35;38;41;47 ou extração a partir de sangue

total13;15;29;30;31;37;43;44;45;46

Kit de extração de RNA TRIzol14;15;30;31;34;35;41;43;44;47; RNA STAT 6013;

PUREscript29;33;45;46; Rneasy blood32;34;38; QIAmp RNA

blood37; PAXgene blood RNA48

Amplificação de DNA genômico ou RNA Tratamento do RNA com DNAse; uso de primers em

exons distintos

Quantidade de RNA 1,0ng47 a 11,5mcg37

Seqüência de oligonucleotídeos iniciadores Escolha de primers localizados em diversas regiões do

gene de tireoglobulina, englobando ou não áreas

sujeitas a splicing alternativo.

Tipo de amplificação PCR qualitativo13;14;15;38;41;44;45; nested PCR31;32;47; PCR

semi-quantitativo34; PCR quantitativo29;30;33;35;37;43;46;48

Número de ciclos 3014;38;41 a 35+3532

Baseado nos artigos publicados de 1996 a 2004.

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TABELA 3: Comparação entre os resultados dos principais artigos publicados

Autor / ano Detecção nos

controles

Detecção na

doença benigna*

Detecção no CDT

em remissão

Detecção no CDT

metastático

Ditkoff / 1996 0/7 (0%) 0/6 (0%) 7/78 (9,8%) 9/9 (100%)

Ringel / 1998 10/10 (100%) _ 7/35 (20%) 14/14 (100%)

Biscolla / 2000 6/6 (100%) _ 4/20 (20%) 2/3 (66,6%)

Savagner / 2002 10/10 (100%) 12/12 (100%) 3/15 (18%) 10/10 (100%)

Fugazzola/2002 7/7 (100%) 3/3 (100%) 19/25 (76%) _

Denizot / 200349

Chinnappa/2004

0/4 (0%)

0/51 (0%)

_

3/27 (11%)

0/8 (0%)

2/31 (6,4%)

1/7 (14,3%)

8/8 (100%)

* Doença autoimune ou bócio multinodular; -: não avaliado.