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www.pervegaleria.eu 9 de Fevereiro 24 de Março Exposição Antológica Obras de 1940 a 2010

Homenagem a Cruzeiro Seixas - mostra antológica 1940-2010

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Catálogo da exposição antológica de Homenagem a Cruzeiro Seixas patente na Perve Galerias de Alfama e Alcântara entre 9 de Fevereiro e 24 de Março de 2012. A mostra congrega um vasto conjunto de obras exemplificativas do percurso do autor. Retrocede ao final dos anos 40 do século XX, momento em que, juntamente com Mário Cesariny e demais companheiros, Cruzeiro Seixas fundava o anti-grupo português “Os-Surrealistas”; recorda a sua passagem por África nos anos 50 e 60 e o seu posterior regresso a Portugal. Cerca de uma centena de obras originais e um filme documental retratam o homem e o pintor e proporcionam uma viagem através do tempo que nos permite reconhecer as forças impulsionadoras do Surrealismo em Portugal. Uma oportunidade para conhecer ou redescobrir o universo e a genialidade de um dos artistas plásticos portugueses mais importantes e influentes da sua geração. Informação complementar em: www.pervegaleria.eu

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9 de Fevereiro 24 de Março

Exposição Antológica Obras de 1 940 a 20 10

Perve galeria | Obras em exposição

Têmpera e tinta da china s/ papel, 24x31,5 cm, n.d.

Imagem da Capa | Tinta da China e carvão sobre papel, 26x20,5 cm, circa 1960

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As possibilidades do surrealismo são infinitas e não se confundem com as da arte. Enquanto a arte é uma matéria que envelhece, o surrealismo é a própria alma da criação, sempre viva, nas suas infinitas metamorfoses e imagens.

O surrealismo é tão antigo e será tão duradouro como a alma do homem. Nunca será de mais afirmar a sua dimensão humanista, o seu alcance filosófico. E querendo ser fiéis à ambição gnoseológica e amorosa que aqui surge seremos obrigados a dizer que o surrealismo é tão perene como a alma do mundo. Nem ao que de mais permanente existe no homem o surrealismo se prende, porque quando falamos dele é o infinito do universal que se apresenta.

Artur Manuel do Cruzeiro Seixas é um alquimista das imagens, um arquitecto do espírito. Os seus desenhos, que melhor é chamar caligrafias psíquicas ou registos pulsionais, mesmo quando enquadrados por um traço que nos parece tão rigoroso quanto talentoso, são a linguagem mesma da alma humana; movem-se na tela ou no papel onde o seu autor os lança em momento de cegueira ou de possessão como os sonhos, os mais maravilhosos, se mexem no céu imaterial do pensamento.

Não há por isso limites para os sinais que se tatuam nos desenhos de Cruzeiro Seixas. Se o Universo é um caos organizado, uma anarquia espontânea, onde os astros fazem a vez duma ordem desconhecida e superior, os desenhos de Cruzeiro Seixas são a escrita automática do espírito, um alfabeto psíquico capaz de registar as pequenas e as grandes convulsões da alma, onde as imagens, sempre escaldantes, sempre borbulhantes, tomam o lugar de mediadores entre a matéria densa do mundo e a liberdade gratuita do espírito.

Na tapeçaria dramática de Cruzeiro Seixas um braço nunca é um braço, um cavalo nunca é um cavalo. Não nos iludamos, a não ser por via da

participação consciente neste teatro lúdico de acasos, porque é disso que se trata. Todas as realidades que saem das mãos de Cruzeiro Seixas são apenas imagens de outras realidades, metáforas vivas e reveladas, num processo contínuo de metamorfoses, que opera por sucessivas e imperceptíveis trasladações de sentido. Na rotação das imagens, na velocidade alucinante das figurações, na permanente desconstrução das identidades, temos o carnaval intenso da criação, a festa do mundo tal como ela pôde ser superiormente vivida em colectivo nas culturas magnas do Neolítico, tudo antes que a História, com a folha relativa à produção e acumulação, sufocasse a vida mágica da civilização.

Convenço-me que o homem arcaico, o homem natural, o homem-criança via o mundo – animais, plantas, pedras e astros – desenrolar-se diante dos olhos como nós o vemos metamorfosear-se num desenho de Cruzeiro Seixas. Daí a ideia de tapeçaria dramática, de montagem psíquica, mas também de percepção em estado puro, a propósito da actividade das suas mãos.

Por isso Cruzeiro Seixas não teve atelier, não marcou o ponto, não se funcionalizou como artista. Ao invés, não se cansando de gritar a morte da pintura e da arte, bem como o horror das academias e das escolas, fugiu para a selva, vadiou pelos trilhos poeirentos, perdeu-se na África escura da alma. A sua oficina, se a teve, foi na alma que a encontrou. Por isso lhe bastou, como ele insistiu, um canto de mesa para deitar ao papel as imagens. Eu acrescentaria até que nem sequer de aparo e tinta ele necessitou; para desenhar o mundo da alma bastou-lhe o sangue como tinta e o dedo como lápis. Estava tudo dentro dele, intacto e vivo. Não foi, não é, um artista, mas um condutor de imagens psíquicas. Não expôs talento; antes deu a alma, naquilo que esta tem de supranatural e de genial.

António Cândido Franco - 2011

Perve galeria | Obras em exposição

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Tinta da china sobre papel, 13,5x10,5 cm, 1947

Tinta da china s/ papel, 19x14 cm, 1955

• Estudo para esculturaTinta da china s/ papel,

19,5x16,5 cm, 1960

• ”Como às sete horas eram ainda duas horas o amor foi devolvido à procedência”

Desenho a grafite e caneta preta, 27,4x21,3 cm, 1968

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• O Encontro | Tinta da China e têmpera s/ papel, 23x32 cm, 1957

Óleo sobre esteira de fibras naturais ,59x64 cm, 1953• La tricoteuse

Tinta da china e Têmpera s/ papel, 16,5x22 cm, circa 1957.

Perve galeria | Obras em exposição

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• Estudo para um desenho perdido | Tinta da china sobre papel, 29x39 cm, circa 1950

• Estudo para desenho à penaEsferógrafica e tinta da china s/ papel,

26x21 cm, 1957

Tinda da china e têmpera s/ papel,

26x20 cm - 1954

Têmpera s/ papel , 15,5x12 cm, circa 1950

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Tinta da china e Têmpera s/ papel, 21x16,5 cm, 1961

Perve galeria | Obras em exposição

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Perve galeria | Obras em exposição

Técnica mista s/ papel, 14x22 cm, circa anos 50 (Angola)

Técnica mista s/ papel, 20x30 cm, circa 1940 Lápis de cor e tinta-da-china s/ papel 22,5x26,5 cm | 1955

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• Amo a paisagem cada vez mais indecifrável | Têmpera s/ papel,

7,5x10,5 cm | 1951

Técnica Mista s/ papel, 31x22 cm | 1952

Tinta da China e têmpera sobre papel, 20,5x14,5 cm, 1956

Têmpera e tinta da china s/ papel, 23x22 cm | 1952

Perve galeria | Obras em exposição

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• Sem título (verso)Grafite, tinta-da-china s/ papel, 29,5x20,5 cm, 1957

Óleo sobre esteira de fibras naturais, 28,5x23 cm, 1953

Têmpera e tinta da china s/ impressão s/ papel, 30,5x32,5 cm,

circa 1960

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• Sem título (frente) Grafite, tinta-da-china s/ papel, 29,5x20,5 cm, 1957Na página 8 em baixo do lado direito está o verso

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Perve galeria | Dados Biográficos

Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas nasceu na Amadora a 3 de Dezembro de 1920. Em 1935, matriculou-se na Escola de Artes Decorativas António Arroio, em Lisboa, onde conheceu, entre outros, Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, António Pimentel Domingues, Fernando José Francisco, Fernando Azevedo e Júlio Pomar.

Depois de uma fase expressionista-neo-realista, as inquietações plásticas e os desejos de libertação estéticos e ideológicos levam Cruzeiro Seixas a abraçar o projecto perfilhado por “Os Surrealistas”, tornando-se uma das figuras de referência daquele grupo

fundado em 1947 e liderado por Mário Cesariny de Vasconcelos. Desde que assumiu os preceitos de “Os Surrealistas” não mais os abandonou, mantendo-se fiel ao onirismo figurativo dessa poética que empregou também em colagens e objectos. Com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Mário Henriques Leiria, Pedro Oom, Fernando José Francisco, Risques Pereira, Fernando Alves dos Santos, Carlos Eurico da Costa, Carlos Calvet e António Paulo Tomás, participa na Primeira Exposição de Os Surrealistas em Lisboa. No ano seguinte, participa na segunda exposição de “Os Surrealistas” (Lisboa, Livraria Francesa) e assina diversos manifestos e folhas volantes.

Em 1951 alista-se na Marinha Mercante, viaja até à Índia e Extremo Oriente, acabando por se fixar em Angola, durante doze anos, onde descobriu a arte dita “primitiva”, em consonância com a recuperação que desta arte fizera o modernismo internacional. Aí realizou uma parte significativa da sua obra, desenhada, pintada, objectualizada e escrita e foi, precisamente, em Luanda que realizou a sua primeira exposição individual apresentando 48 desenhos sob a evocação de Aimé Cesaire (Cinema da Restauração, 1953). Esta e, em especial, a 2ª exposição que viria a realizar no continente africano, assim como todas as que aí realizou, foi alvo de enorme controvérsia. Em 1960 inicia trabalho no Museu de Angola organizando exposições em moldes absolutamente novos no país.

Em 1964, com o intensificar da Guerra Colonial, Cruzeiro Seixas, por discordância integral com o regime colonial, vê-se constrangido a regressar à Europa e, de volta a Portugal, participa em inúmeras exposições.

O trabalho que iniciara no Museu de Angola prossegue-o em Lisboa, onde será consultor artístico da Galeria S. Mamede, e posteriormente no Estoril (1976-83), dirigindo a Galeria da Junta de Turismo da Costa do Sol e, em Vilamoura, a Galeria D’Arte (1985-88). Durante os cinco anos em que foi consultor artístico da Galeria S. Mamede, organizou exposições de, entre outros, António Areal, Mário Cesariny, Jorge Vieira, Júlio, Carlos Calvet, Paula Rego e Maria Helena Vieira da Silva e em muito contribuiu para a promoção de artistas emergentes tais como Eurico, Raúl Perez e Mário Botas. Ainda neste espaço, pela primeira vez, são apresentadas no país obras de Henri Michaux e do Grupo Cobra.

O ano de 1969 seria prolífico em exposições: participa, entre outras, na XII Exposição Surrealista de São Paulo (Brasil), inaugura com Mário Cesariny a

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Exposição Pintura Surrealista na Galeria Divulgação no Porto, novamente com Cesariny integra a Exposição Internacional Surrealista, organizada por Laurens Vancrevel em Scheveningen (Holanda) e, por último, é organizada a primeira retrospectiva de Cruzeiro Seixas na Galeria Buchholz (Lisboa), com folha volante de Pedro Oom e prefácio de Rui Mário Gonçalves.

Na década de 70 edita com Cesariny “Reimpressos Cinco Textos Surrealistas em Português”, “Aforismos de Teixeira de Pascoaes” e “Contribuição ao registo de nascimento, existência e extinção do Grupo Surrealista Português”. Participa em inúmeras colectivas do movimento surrealista internacional, principalmente aquelas ligadas ao Grupo Phases (liderado por Édouard Jaguer). Posteriormente, dá continuidade ao trabalho iniciado na Galeria de S. Mamede nas citadas galerias do Estoril e de Vilamoura, durante mais de uma década.

Em 1999, doa a totalidade da sua colecção à Fundação Cupertino de Miranda, com vista à constituição de um Centro de Estudos e Museu do Surrealismo. No ano seguinte, a Fundação organiza, por ocasião do 80º aniversário de Cruzeiro Seixas, uma exposição retrospectiva e de homenagem ao artista.

Em 2001 expõe com Eugenio Granell na Galeria Sacramento, em Aveiro e, nesse mesmo ano, tem lugar uma sua grande exposição retrospectiva na Fundação Eugenio Granell (Santiago de Compostela).

Nos anos seguintes, são organizadas inúmeras exposições em torno da sua obra e, hoje, mesmo depois de ter ultrapassado a barreira dos noventa anos de idade, Cruzeiro Seixas continua a expor.

Artista Versátil, explorou, ao longo de décadas, as infinitas poéticas do Surrealismo. Animou a renovação da arte portuguesa, propiciando exposições de artistas novos e a divulgação de artistas e movimentos internacionais nas galerias onde colaborou; Figurou em inúmeras exposições colectivas e individuais em Portugal e no estrangeiro, refira-se: “Maias para o 25 de Abril”, que pretendia mostrar as obras proibidas pelo fascismo (1974), exposição de Cadavres-exquis e pinturas colectivas por ocasião dos 50 anos do Surrealismo (Galeria Ottolini, 1975), Exposição de homenagem a Conroy Maddox - Surrealism Unlimited (Londres, 1978),“Presencia viva de Wolfgang Paalen”, (México, 1979), “Desaforismos” individual na Galeria Soctip (1989, Prémio de Artista do Ano, instituído pelo

Centro de Arte SOCTIP); trabalhou como ilustrador, colaborando, por exemplo, com as revistas surrealistas Brumes Blondes (Holanda), Phases (França) e La Turtue-Lièvre (Canadá) e realizou, entre outras, ilustrações para Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (dos Cancioneiros Medievais à Actualidade) de Natália Correia que originou um processo por “abuso de liberdade de imprensa”; Executou cenários para a Companhia Nacional de Bailado e para a Companhia de Bailado da Gulbenkian. No campo literário, para além da vasta edição da sua obra poética, redigiu prefácios para exposições dos seus amigos e colegas pintores.

Cruzeiro Seixas está representado em enumeras colecções públicas e privadas. Tem exposto com regularidade, colectivamente, na Perve Galeria desde a sua fundação (2000): em 2006 participou na exposição que marcou o reencontro de 3 fundadores de “Os Surrealistas”, após 50 anos de afastamento: “Cesariny, Cruzeiro Seixas, Fernando José Francisco e o Passeio do Cadáver Esquisito”. Participou em 2009 no Ciclo “Os Surrealistas”, 60 anos após a 1ª exposição do grupo. Foi no contexto dessa iniciativa que editou um magnífico diário dedicado ao surrealismo: “Prosseguimos cegos pela intensidade da Luz”, que dava então continuidade a uma colecção de livros-objecto artísticos dedicada ao Surrealismo. A Colecção conta hoje com outros 2 títulos em que o autor participou: “Comunidade” (2006), com Luiz Pacheco e “Eu-próprio os outros” (2011), com Alfredo Luz e obras de Mário Botas.

Em Novembro de 2011 a Perve Galeria fez-lhe uma primeira homenagem, dedicando-lhe, de forma inédita um stand na Arte Lisboa, única feira de arte contemporânea em Portugal.

Perve galeria | Obras em exposição

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Colagem sobre papel 15,5x12,5 cm, circa anos 50

Colagem sobre papel , 29,5x15,5 cm, circa anos 50

Têmpera e colagem s/ papel, 27x35 cm, circa 1960

13

Colagem , 17x23 cm, circa 2000 Colagem , 20x25,5 cm , circa 2000

Técnica mista e colagem s/ papel, 16,7x17,9 cm, 1966

Perve galeria | Obras em exposição

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Têmpera e colagem s/ papel, 41,3x32 cm, circa 1980

• A grande viagemMista sobre papel, 19,50x18,50 cm,

circa anos 50

Colagem e têmpera s/papel, 25,5x31,5 cm , circa 2000

• ArteTinta da china e Têmpera s/ papel, 25x6 cm, circa 1940

15

Mista s/ papel, 43x34 cm, circa 1980

Têmpera, colagem e ocultação s/ papel, 28x18 cm, circa 1990

Tinta da china, Têmpera e colagem s/ papel, 21x34 cm, circa

• Os meus dois automóveisTêmpera s/ fotografia realizada por

Mário Botas , 18x24 cm, 1974

Perve galeria | Obras em exposição

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• Assim ficámos a saber que o deserto sabe escrever ler e contar

Têmpera e colagem s/ papel, 17x12 cm, 1970

Têmpera e colagem s/ papel, 25x13,5 cm, circa anos 70

Técnica mista s/ papel fotográfico, 17x21 cm, circa anos 90

• Duas figuras com rugas | Tinta da China sobre papel, 20x16,5 cm, circa anos 40

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• Projecto para dois azulejosTinta da china e Têmpera s/

papel, 30x15 cm, 1960

Técnica Mista s/ papel, 332x22 cm, 1979

Técnica mista s/impressão serigráfica, 35x25 cm, 2009

Tinta da china e Têmpera sobre papel, 119,5x16 cm, 1965

Perve galeria | Obras em exposição

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Técnica mista s/ papel, 20x30 cm, 1971

• Do mesmo prato comem,deuses, homens e animais - Octávio PazTêmpera e tinta da China s/ papel, 30,5x41,5 cm, 1994

• Lá onde o negro sémen do mundo se gera no mais profundo dos vulcões

Técnica mista s/ papel, 24x16,5 cm, circa anos 80

19

• Personagem estudando o cometa HalleyCruzeiro Seixas, Tinta da china sobre papel, 29x19 cm, 1978

Perve galeria | Obras em exposição

20

Técnica mista s/ papel de telegrama, 20x21 cm, circa anos 90

Têmpera e tinta da China s/ papel, 26,5x21 cm,

circa anos 80

• A noite sem fimTêmpera e tinta da china s/ papel, 43x30,5 cm, 1977

21

Têmpera e tinta da China s/ papel, 22x16,50 cm, circa 2000

Tinta da china e Têmpera s/ papel26,50x16 cm,

circa anos 90

Tinta da china e Têmpera s/ papel, 23,50x18,50 cm, circa

anos 90

• Paisagem da alma | Tinta da china e Têmpera s/ papel, 20x26,5 cm, circa anos 80

Perve galeria | Obras em exposição

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Tinta da china s/ papel, 16x24 cm, circa 2000

• O Maquinismo dos SonhosColagem, Têmpera e tinta da china s/ papel,

25,5x27,5 cm, 1980

Têmpera e tinta da china s/ papel, 30x34 cm, circa 2010

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Técnica mista s/ impressão serigráfica, 25x35 cm, 2009

• Duas Ilhas | Têmpera e tinta da china s/ papel, 31,5x43,5 cm, 1978

• O Tinteiro em 1969 | Têmpera e tinta da China s/ impressão s/ sobre papel,

30x21,5 cm, 1969

Perve galeria | Obras em exposição

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• Projecto de Farol | Têmpera e tinta da china s/ papel, 40,5x28,5 cm, 2000

Têmpera e tinta da China s/ papel, 20,4x14,5 cm,

circa anos 60

Tinta da china e Têmpera s/ papel, 28x22 cm,

circa 2000

• Por toda a parte há sonhos que empurram outros sonhos para o abismoGrafite, tinta-da-china e Têmpera s/papel,

28,5x21 cm, 1961

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A minha homenagem a Cruzeiro Seixas O SONHADOR IMPENITENTE DO AMOR EM LIBERDADE “Que Deus tenha um sonho em carne viva” –Herberto Helder Ao recortar, colar e associar livremente fragmentos de imagens serigráficas e fotográficas de desenhos e pinturas da sua autoria, por vezes conjugados com pormenores de obras de arte de outros autores, antigos e modernos, Cruzeiro Seixas experimenta os múltiplos sentidos que esta actividade promove.A sua imagética surrealista recorre frequentemente ao desenho e à colagem, que são os seus modos de intervir na recriação da visão onírica e transfigurada do mundo. Na descendência de Jerónimo Bosch, notável pintor fantástico do séc. xv, Cruzeiro Seixas cria personagens semi-humanas, semi-animalescas, tão demoníacas quanto angelicais, em cenários de abismo e vertigem. A sua obra devolve-nos a costela satânica, neo-primitiva e neo-romântica do Surrealismo que, através das vias abertas pela imaginação, faz da rebeldia, do desregramento e do humor a razão da sua permanência. Cruzeiro Seixas relaciona-se com o que faz, ou melhor, com a imagem que paciente e meticulosamente elabora, de um modo tão imprevisível e inexplicável quanto põe á prova a sua capacidade de transgressão e transformação. Desenhar, pintar, recortar e colar o que desenha e pinta, é o seu processo de trabalho implicado no acto livre que, a partir da exploração do acaso, proporciona o alargamento e o aprofundamento de uma linguagem, enraizada na vida oculta do inconsciente. Em termos psicanalíticos freudianos, o princípio do prazer subverte o da realidade, pelo que, no seu caso, a beleza convulsiva adquire uma dimensão teatral tão impetuosa e dramática quanto lúdica e provocatória. Com figuras repetitivas, retiradas da reprodução em série de provas serigráficas de desenhos seus, inseridos em novos contextos, estas colagens não só transformam o múltiplo em obra única, como acentuam a vocação expressiva de todos os elementos que constituem a sua imagética delirante, tão capaz de tactear o desconhecido como de alterar o conhecido, enchendo de infinito o finito, tornando metafísica a sensualidade de repentinos corpos adolescentes que, em ascensão, pairam no espaço onírico. A sua aventura poética não se delimita, antes se assume no fazer e no desfazer de situações insólitas, estranhamente contagiantes. Na sua imagética delirante, nada é calculado ou premeditado, tudo se desencadeia súbita e inesperadamente como no sonho. Seres alados invadem o espaço e descrevem curvas harmoniosas em arabescos que envolvem sensuais corpos entrelaçados, ávidos de subirem nas alturas e daí avistarem o que se passa cá em baixo: alongados aquedutos em extensas planícies com horizontes longínquos; movimentadas cenas teatrais com transfigurados personagens e objectos dispersos como caixas, cubos, pirâmides, esferas coloridas, ornatos, leques, bandeiras e improvisadas embarcações de náufragos à deriva... Numa sucessão imprevisível de figuras, a obra de Cruzeiro Seixas casa a Poesia da Imagem com a Imagem da Poesia, de uma forma tão tumultuosa quanto obsessiva e fascinante. O autor reconhece que é na juventude que tudo se afirma e se interroga, com natural inquietação, ansiedade, encanto,

amor e paixão. Ao evocar essa época d’ouro, o velho pintor “voyeur” é um coleccionador de imagens, com que se entretém a reconstituir pacientemente cenas amorosas e a recriar outras não menos surpreendentes, plenas de mistério e fascínio, em colagens e remontagens, que exaltam o seu poder metafórico. Velho pintor “voyeur” foi Picasso, quando, octogenário, realizou uma notável série de desenhos eróticos. Dizia ele: “Com a idade avançada, deixei de fumar e de beber. Mas, em relação ao amor, a ideia persiste”. Também Cruzeiro Seixas, apesar dos seus noventa e um anos de idade ou talvez por isso, persiste na ideia e nas audácias da imaginação motivada pela memória do amor na juventude. O que de melhor nos acontece na vida merece ser lembrado e enaltecido. Tanto na Pintura como na Poesia, “Acho natural que Seixas queira repor o seu próprio discurso juvenil” -diz Rui Mário Gonçalves, que acha natural porque muitos dos pontos altos da sua obra, conhecidos e admirados, “podem agora ser melhor entendidos, mesmo nas suas pessoalíssimas subtilezas; e também porque a reconstituição da sua juventude é para ele necessária, como um auto-esclarecimento dos seus sonhos”. “A enumeração de corpos e de objectos (...) não definiria a melhor expressividade do desenho, se não reparássemos no modo como aparecem. Os seus contornos nítidos engendram-se uns aos outros, mercê do poder orgânico da linha que os abraça a todos. É uma linha contínua que liga os corpos metamorfoseados. Pode admitir-se que o seu arrebatamento é que fez germinar as figuras”- conclui Rui Mário Gonçalves. Nada impede que a linha possa caprichar ao passar de uma figuração para outra completamente diferente. É o ritmo gráfico que aceita todas as metamorfoses da imagem que, recortada e fragmentada, proporciona, na colagem, a possibilidade de provocar rupturas ou cortes voluntários na leitura habitual do mundo visível, promovendo novas leituras, novas interpretações, através da desmontagem e remontagem dos mesmos elementos, que adquirem significados diversos em diversos contextos. Repetições obsessivas, que ocorrem nos sonhos, fazem parte de um vocabulário interiorizado e dominado pelo autor de uma linguagem pessoalíssima e universal. Nos seus desenhos e colagens, como estas agora reunidas em exposição, a linha do horizonte é sempre longínqua e demasiado baixa, fazendo-nos sentir que olhamos tudo de um ponto de vista muito alto. Temos a sensação de pairar vertiginosamente sobre a extensa planície. Entre o céu e a terra, a movimentação de corpos e objectos cresce, em ritmo ascensional, em direcção ao infinito. O dia desvenda o que a noite oculta. Da treva emerge a luz. Sobre fundos negros cerrados ou em obscuros azuis translúcidos, recortam-se esculturais corpos iluminados, lívidos de tanto sonharem, conjugados com objectos voadores e astros fulgurantes como luas e sóis multicolores, que anunciam um Novo Mundo, onde o Amor renasce constantemente, pleno de sentido e de verdade. Verdade rima com Liberdade. Dor rima com Amor. A Invenção do Novo Dia rima com Poesia. “LIBERDADE, AMOR E POESIA” é a trilogia proclamada, desde sempre e para sempre, pelos arautos do Surrealismo.

EU R I C O G O N Ç A L V E S

Perve galeria | Obras em exposição

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• Histórias das portas feridas pela tua ausência | Têmpera e tinta da china s/ papel, 41,5x29,6 cm, 1999

• ...nascente das palavras e da poesiaTêmpera e tinta da China s/ papel,

25,5x16 cm, circa anos 60

• Nenhum abismo é intransponívelTinta da china, tempera e colagem sobre

papel, 24x18 cm, circa 2000

Tinta da china e Têmpera s/ papel, 28x19 cm, circa anos 70

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Tinta da china, têmpera e colagem s/ impressão serigráfica, 22,5x16 cm, circa anos 90

Perve galeria | Obras em exposição

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• Édipo e as esfinge ou esfingimento da esfinge Têmpera e tinta da china s/ papel,30,5x39,5 cm, 2005

Têmpera e tinta da China s/ papel, 23,5x37,5 cm, circa anos 80• Um farol Tinta da china s/ papel, 47x44 cm, circa anos 80

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• Édipo e as esfinge ou esfingimento da esfinge Têmpera e tinta da china s/ papel,30,5x39,5 cm, 2005

• O Poeta e a Lua Escultura-objecto, 28x16x3 cm,

circa anos 80

Técnica mista s/impressão serigráfica, 35x25 cm, 2009

• As árvores de um outro mundoTêmpera e tinta da china s/ papel,

21x45 cm, circa anos 80

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Perve galeria | Cadavre-Exquis

OS SURREALISTAS E O Cadavre - Exquis

No início do Século XX, o movimento Surrealis-ta francês, liderado por André Breton, inaugur-ou o método de construção de uma obra de arte realizada por dois ou mais autores, a que deu o nome de “Cadavre. Os surrealistas portugueses recuperaram-no e Mário Cesariny apelidava-o de “Cadáver esquisito”, assim como outros jogos sujeitos às regras do automatismo psíquico puro e da actividade colectiva e praticaram-nos ac-tivamente, tanto em expressões plásticas como literárias, indo do desenho a quadros de grandes porporções, e da simples frase ao poema extenso. Chegaram, com isso, a alcançar uma riqueza e variedade maiores do que as que se podem en-contrar entre os surrealistas franceses. Cruzeiro Seixas, fundador com Cesariny do anti-grupo “Os Surrealistas”, foi um dos mais activos Sur-realistas portugueses a praticar este método. São célebres os seus “Cadavre-exquis”. Os que se incluem nesta exposição, em conjunto com Alfredo Luz, Cesariny, Fernando José Francisco e Mário Botas, resgatam o imaginário inscrito nas suas vivências do início dos anos 1970, al-tura em que regressa de Angola, onde esteve mais de uma década, para se fixar definitiva-mente em Portugal.

Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco,(assinaturas no verso)

Técnica mista s/ papel, 31,5x41 cm, 2006

Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco,(assinaturas no verso)

Técnica mista s/ papel, 31,5x41 cm, 2006

Cruzeiro Seixas e Mário BotasTécnica mista s/ papel, 21x15,5 cm, 1973

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Cesariny, Cruzeiro Seixas, Fernando José Francisco,(assinaturas no verso)

Técnica mista s/ papel, 31,5x41 cm, 2006

Cesariny, Cruzeiro Seixas, Fernando José Francisco,(assinaturas no verso)

Técnica mista s/ papel, 31,5x41 cm, 2006

Cesariny, Cruzeiro Seixas, Fernando José Francisco, (assinaturas no verso),

Técnica mista s/ papel, 25,5x35,5 cm, 2006

• Pescarias da almaCruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, Técnica mista s/ papel 24x30 cm, 2007

• As descobertasCruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, Técnica mista s/ papel, 24x30 cm, 2007

• EsperançaCruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, Técnica mista s/ papel, 24x30 cm, 2007

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Perve galeria | Obras em exposição

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel

21x29 cm, 2009

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel

21x29 cm, 2009

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel,

21x29 cm, 2010

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel,

21x29 cm, 2010

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel,

29x21 cm, 2009

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel

21x29 cm, 2009

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel

21x29 cm, 2009

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel ,

121x29 cm, 2010

Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel

121x29 cm, 2010

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Alfredo Luz e Cruzeiro Seixas, Técnica mista s/ papel, 21.5x30 cm, 2010

Cesariny, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco,Técnica mista s/ papel 20x70 cm, 2006

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Perve galeria | Cadavre-Exquis

Cruzeiro Seixas e Benjamin Marques, Técnica mista s/ papel

21x29 cm, 2010

Cruzeiro Seixas e Benjamin Marques, Técnica mista s/ papel

21,2x29 cm, 2010

Cruzeiro Seixas e Benjamin Marques, Técnica mista s/ papel

21x29 cm, 2010

Mário Botas, Cruzeiro Seixas e Fernando José Francisco, Técnica mista s/ papel, 31x24 cm, n.d.

Cruzeiro Seixas e Benjamin Marques, Técnica mista s/ papel, 21x29 cm, 2010

Escultura, Bronze (3/7), 46x12,7x9 cm, n.d.

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Escultura, Bronze (3/7), 46x12,7x9 cm, n.d.

Fidálogos navegadores

Prosseguimos Cegos Pela Intensidade da LuzLivro-objecto artístico, impresso integralmente em serigrafia.57 pp.Edição de 350 exemplares numerados e assinados pelo autor.Dimensões (c/ estojo): 25cm x 35cm x 5cm | 2009

Serigrafias editadas em exclusivo pela Perve Global lda. entre 2006 e 2011. Edição limitada. Exemplares assinados e numerados pelo autor.

Serigrafias editadas em exclusivo pela Perve Global lda. entre 2006 e 2011. Edição limitada. Exemplares assinados e numerados pelo autor.

*Os desaforismos de Cruzeiro Seixas incluídos neste catálogo fazem parte de:

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Perve galeria | MULTIPLOS ARTÍSTICOS

Imagem da Contracapa - Un couteau pur pinceau | Colagem sobre papel , 29x19 cm, n.d.

Serigrafias editadas em exclusivo pela Perve Global lda. entre 2007 e 2009. Edição limitada. Exemplares assinados e numerados pelo autor.

Serigrafias editadas em exclusivo pela Perve Global lda. entre 2007 e 2009. Edição limitada. Exemplares assinados e numerados pelo autor.

Joia escultórica. Ed. 25 exe. 2010

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Ficha técnica

conceito e curadoria | Carlos Cabral Nunesautor | Cruzeiro Seixasdesign, multimédia e audiovisual | Carlos Cabral Nunesprodução executiva e direcção financeira | Nuno Espinhoprodução, comunicação e web | Graça Rodrigues execução gráfica | Nelson Chantretextos | António Cândido Franco, Carlos Cabral Nunes, Eurico Gonçalves e Rui Mário GonçalvesCréditos Fotográficos| Eduardo Tomé - excepto pág. 1(3ª fotografia a contar de cima) e pág 20 autoria de Cabral Nunes; excepto Fotografias de “Os Surrealistas”, cedidas por Cruzeiro Seixas.

organização

parceiros

Exposição Antológica Obras de 1 940 a 20 10

Cruzeiro Seixas acompanhado por C. Cabral Nunes na Homenagem que a Perve Galeria lhe fez no âmbito da Arte Lisboa 2011.

agradecimentosCarlos Gasparinho, Eurico Gonçalves, Rui Mário Gonçalves, António Cândido Franco, familia de Eduardo Tomé, António Moreira - Atelier.Muito especialmente a CRUZEIRO SEIXAS.

www.pervegaler i a . eu

Perve GaleriaInauguração Simultânea

Perve Galeria - AlfamaAbertura ao público:2ª a Sábado / 14h - 20h

Rua das Escolas Gerais nº 17, 19 e 23 1100-218 Lisboa | PortugalT (+351) 218822607/[email protected]

Perve Galeria - AlcântaraAbertura ao público:4ª a Sábado / 14h - 20h

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