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HISTÓRIA DE INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS EM MATO GROSSO DO SUL: A ESCOLASERVIÇO DE EDUCAÇÃO INTEGRAL (1980-2015)
Samara Grativol Neves227
Magda Sarat – UFGD228
Grupo de Pesquisa Educação e Processo Civilizador
Resumo: O presente trabalho se constitui em uma proposta de pesquisa de mestrado emeducação em andamento que visa contribuir para a História das Instituições de EducaçãoInfantil no município de Dourados, Mato Grosso do Sul. A pesquisa acontece no âmbito daEscola Serviço de Educação Integral – SEI do referido município e tem em suas prioridades aeducação das crianças pequenas. A escola está em funcionamento desde sua fundação e é umaexperiência bem sucedida com 35 anos de existência que formou várias gerações e continuacontribuindo para a formação das crianças do município. Isto posto, nosso objetivo napesquisa tem sido investigar qual o papel da Instituição no cenário da educação infantil nomunicípio de Dourados-MS; qual a concepção de educação infantil presente na trajetória daescola; como a instituição se organizou nos aspectos históricos, institucionais e culturais nodecorrer da sua história. Para responder a essas questões vamos nos apoiar na metodologia daHistória Oral e nas fontes documentais disponibilizadas pela escola como: atas de criação,relatórios, diários de classe, fotografias, atas de reuniões, projetos pedagógicos, planos de aulade professores/as, panfletos, histórico de professores, além de entrevistas com pessoas ligadasa instituição como professores/as, coordenadores/as e ex-alunos/as, fontes que contam ahistória desta instituição que completará 35 anos este ano. Perceber a Ed Infantil como suaprioridade permitirá dar visibilidade e ampliar as pesquisas sobre a história da criança e daeducação infantil, temática muito incipiente e contando com poucos trabalhos, portantopretendemos investigar as instituições educativas de Mato Grosso do Sul, priorizando ahistória da Educação Infantil no município de Dourados-MS.
PALAVRA-CHAVE: História das Instituições de Educação Infantil, Educação Infantil,Serviço de Educação Integral (SEI).
227Pedagoga e mestranda em Educação pela Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD e membro do Grupo de Pesquisa Educação e Processo Civilizador. E-mail: [email protected]
228Professora Associada da Faculdade de Educação na Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD. Coordenadora do Grupo "Educação e Processo Civilizador". E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
O presente artigo é parte de um projeto de pesquisa de mestrado onde se têm o objetivo
de investigar uma instituição educacional tendo como foco a primeira etapa da educação
básica, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/1996, a
Educação Infantil e como essa foi se concebendo no decorrer dos anos da instituição desde
sua origem. A instituição em questão é o Serviço de Educação Integral – SEI, que surge na
década de 1980 e está em atividade até os dias atuais, a escola está localizada no município de
Dourados, Mato Grosso do Sul. A história de instituições é um campo vasto de investigação
que vem ganhando espaço cada vez maior na história regional e nacional, com isso as
particularidades das instituições ajudam a escrever a história da educação local, neste caso, a
história da educação do município de Dourados - MS.
Importante destacar que o foco da nossa pesquisa é compreender a concepção de
Educação Infantil preconizada pela Escola desde o ano de sua implantação em 1980, período
no qual a Educação Infantil se expande no país em meio às lutas dos movimentos sociais por
atendimento para as crianças em creches e pré-escolas. Nesse período quando a educação
Infantil busca espaço em todas as vertentes a Escola SEI iniciou seus trabalhos e desde sua
inauguração enfatizou a Educação Infantil. Segundo Silva (2007) atendia crianças do
maternal, passando pelo Jardim, pré I e pré II e no ano de 1988 criou o Ensino Fundamental
(da 1ª até a antiga 5ª série), portanto podemos dizer que esta escola foi a primeira instituição
privada de Dourados que nasceu somente com o atendimento para crianças da Educação
Infantil.
No ano de 2015 a escola irá completar 35 anos de história e contabiliza muitas gerações
que passaram pela sua Educação Infantil. Dito isto, nosso recorte temporal será situado
inicialmente entre os anos de 1980 a 2015, o que caracteriza o ano de implantação da escola
(1980) e o ano em que a escola comemora 35 anos (2015). Nesse período a escola passou por
mudanças fundamentais considerando a legislação da Educação Infantil que perpassou a
Constituição Federal (1988) e também a LDB (1996) que vai indicar uma determinada
concepção de educação para as crianças brasileiras.
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A justificativa nossa proposta de pesquisa esta pautada na problemática da História da
Instituição de Educação Infantil da cidade de Dourados-MS, em especial nesta escola que
surge enquanto instituição e trás em sua essência a preocupação com a educação das crianças
pequenas deste município. Uma existência bem sucedida de 35 anos revela a força e o lugar
da escola na história da educação do município de Dourados, destacando sua importância o
município, pois muitas gerações foram formadas na escola SEI neste período. Outro aspecto
que justifica a pesquisa é o vazio e a falta de estudos referente à escola sendo encontrado no
levantamento inicial um único trabalho que toma a escola e seus agentes como campo de
pesquisa sendo este uma monografia de final de curso intitulado: “História e Memória da
Educação Infantil: Os 25 anos de atuação da escola SEI – Serviço de Educação Integral (1980
– 2005) no município de Dourados”. Acreditamos que a pesquisa sobre esta instituição
contribuirá para a construção da História das Instituições de Educação Infantil da cidade de
Dourados, pois o cenário que temos ainda é de poucos trabalhos sobre a temática,
principalmente na área da História da Educação. Diante disso, nossa proposta pretende buscar
elementos para responder as seguintes questões: Como se constitui as origens da Escola SEI
no município de Dourados-MS? Qual a concepção de Educação Infantil presente em sua
organização e trajetória histórica? Qual o lugar desta instituição no cenário da Educação
Infantil de Dourados-MS considerando uma trajetória de mais de três décadas? Como se
organizou histórica, institucional e culturalmente a instituição?
Tais questões serão respondidas a partir de uma metodologia de pesquisa calcada na
História Oral, com autores como: Meihy (1996); Ferreira e Amado (2006); Thompson (1992)
e Sarat & Santos (2009), entre outros. Também faremos uma análise documental, a partir de
consulta as fontes e documentos disponíveis pela instituição como: atas de criação, atas de
reuniões, projetos pedagógicos, fotografias, planos de aula de professores/as, panfletos,
histórico de professores, além de entrevistas com pessoas ligadas a instituição como
professores/as, coordenadores/as e ex-alunos/as. Tais perspectivas nos permitem lançar um
olhar sobre essa instituição que até o presente tem um rico acervo sem investigação e que dará
visibilidade a um recorte da educação no estado de Mato Grosso do Sul.
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DESENVOLVIMENTO
As instituições escolares como temos hoje no Brasil de caráter universal, obrigatória e
gratuita, de acordo com Werle (2004), surgiu a partir de diversos movimentos, legislações e
estatutos sendo lugares de ação social, marcadas por tempos históricos e pessoas. Nesse
sentido os estudos dessas/nessas instituições envolvem a análise de sua origem e dão
visibilidade a história da educação em diferentes vertentes das ações educativas.
Nesse contexto a pesquisa acerca das instituições educacionais se constitui em
importantes espaços de discussão que tem mostrado grande vitalidade e em algumas regiões
do país necessitam de aprofundamento considerando a perspectiva de preservação da memória
e a falta de trabalhos na área, especialmente considerando o sul do Mato Grosso do Sul que
tem se mostrado um campo de investigação das inúmeras e diferentes instituições educativas
criadas em um estado jovem. Essa ‘juventude’ do Estado permite a possibilidade de construir
a memória e preservar os acervos do Estado em um movimento que vem crescendo não
somente através das instituições, mas dos acervos pessoais dos quais temos acesso através das
pesquisas desenvolvidas no Estado, especialmente instituições de ensino superior.
A preocupação com tal investigação tem mobilizado instituições e grupos de
pesquisadores que se debruçam sobre a temática e empreendem investigações nessa direção
nos últimos 20 anos. Grande parte dos trabalhos no país são socializados no Grupo de História
da Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação/ANPED;
nos eventos da Sociedade Brasileira de História da Educação e também nos inúmeros eventos
nacionais e regionais dentre os quais destacamos o EHECO/Encontro de História da Educação
do Centro-Oeste e os Congressos Luso-Brasileiro de História da Educação e Congresso
Brasileiro de História da Educação.
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Tais espaços nos permitem empreender uma investigação levando em conta a história
das instituições escolares no Mato Grosso do Sul e dando ênfase à produção de acervos e
levantamentos historiográficos de modo a fomentar a pesquisa na região.
Portanto, essa temática se constitui em um campo de estudos que pretende contribuir
para a recuperação da História das Instituições Educacionais locais, considerando, aqui, a
história do município de Dourados que tem em torno de oitenta anos. Inicialmente a proposta
será a realização de um estudo exploratório e de levantamento de fontes que possa fomentar
pesquisas futuras a respeito da educação escolar e formal no município, a partir de suas
instituições, especialmente de educação da infância.
Estes estudos recentes incorporam novos interesses, referenciais teóricos e
procedimentos na construção do objeto que se propõe investigar. Tais propostas nos remetem
à observação de elementos diferenciados da cultura mais ampla da história que é descrito por
Warde (2000, p. 14) como uma mudança na postura do historiador da educação “deslocando o
olhar para a multiplicidade dos produtos materiais em que se inscrevem, como produtos
culturais determinados e para uso dos mesmos”.
Tais deslocamentos de olhares foram possíveis com o surgimento da “Nova História
Cultural”, onde as instituições escolares têm estado cada vez mais presentes nas pesquisas em
história da educação brasileira, sobretudo a partir de 1990. Por muito tempo essas instituições
passaram despercebidas pelos pesquisadores, no que diz respeito às relações sociais e
perspectivas existentes em seu meio. A partir dessa corrente historiográfica tais elementos
passaram a ter visibilidade e se tornaram cada vez mais objetos de pesquisa no interior das
Instituições Educativas. De acordo com Furtado (2012) “as pesquisas em História da
Educação, anteriores à década de 1990, privilegiavam as políticas públicas e a evolução das
ideias pedagógicas, muito pouco se referiam às práticas escolares, aos alunos e alunas, aos
professores e professoras”. (FURTADO, 2012, p. 190).
Essa tendência de pesquisa em instituições escolares possibilitou ao pesquisador
entender como é produzida a cultura escolar através das relações sociais existentes no interior
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e no exterior dessas instituições, permitindo compreender como se dá a formação do
indivíduo pela escola, considerando o contexto social em que a instituição está inserida. As
instituições escolares permitem uma ampla possibilidade de fontes que são utilizadas em
pesquisas de cunho educacional, especialmente na História da Educação.
As instituições escolares se apresentam como espaços portadores de fontes
fundamentais para a formulação de pesquisas, as quais permitem responder perguntas sobre o
processo de ensino, a cultura escolar, e consequentemente a História da Educação (Furtado,
2011). Ainda segundo a autora podemos encontrar no âmbito dessas instituições diversas
fontes de informação, como por exemplo: fotografias da escola, jornais da época, legislação,
documentos pertencentes à escola, entre outras fontes, e mais recentemente podemos produzir
e explorar fontes a partir da metodologia da História Oral. Portanto, as diversas fontes e
possibilidades permitem:
Investigar o processo de criação e de instalação da escola,caracterização e a utilização do espaço físico (elementosarquitetônicos do prédio, sua implantação no terreno, seu entrono eacabamento), o espaço do poder (diretoria, secretaria, sala dosprofessores) organização e o uso do tempo, a seleção dos conteúdosescolares, a origem social da clientela escolar e seu destino provável,os professores, a legislação, as normas e a administração da escola.Estas categorias permitem traçar um retrato da escola com seus atores,aspectos de sua organização, seu cotidiano, seus rituais, sua cultura eseu significado para aquela sociedade. (BUFFA, 2002, p. 27).
Considerando este imenso contexto e possibilidade, as pesquisas que envolvem as
instituições escolares passam a ser percebidas com mais atenção, contribuindo para a história
da educação local e consequentemente permitindo a criação de acervos nacionais, regionais e
locais, que dão visibilidade à história da educação em diferentes âmbitos. No caso específico
de nossa proposta, à história da educação no Estado Mato Grosso do Sul.
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História das instituições de Educação Infantil no Brasil e em Dourados/MS
Desde o Brasil Colônia e o Brasil Império as instituições de educação infantil que
atendiam às classes populares no Brasil tiveram preocupação em atender á infância de forma
assistencialista mais que pedagógica. Essas instituições eram chamadas de creches e atendiam
crianças órfãs, abandonadas, filhas de trabalhadoras, em grande parte, eram espaços
inapropriados para receber essas crianças, pois segundo Peloso (2009) as instalações eram
precárias, orçamento insuficiente para aplicar na instituição e formação dos cuidadores
inexistente ou insatisfatória. Foi partir dos anos de 1920 que passou a se discutir a educação
infantil como direito da criança. Na década seguinte, como afirma Peloso (2009), com o
objetivo de criar política de proteção à infância, o Estado buscou ajuda das iniciativas
privadas. Essas políticas públicas para a Infância tinham como principal objetivo diminuir a
taxa da mortalidade infantil que eram muito altas, a questão de higiene foi a mais priorizada.
Com o ingresso cada vez mais crescente das mães no mercado de trabalho, houve também um
aumento significativo de creches por todo o país, segundo Kuhlmann Jr (2000) passou de 15
creches em 1921 para 47 em 1924. Até o momento a preocupação era com questões
assistencialistas, higienistas e com a redução da taxa de mortalidade infantil, mas não com o
aspecto educacional e pedagógico dessas instituições.
Diante de questões discutidas nos Estados Unidos e na Europa acerca do atendimento
educacional para a criança pequena, no Brasil também surge questões a esse respeito, criando,
então, a pré-escola que tinha aspectos pedagógicos, diferente das creches.
É na Constituição Federal (CF) de 1988 que a educação infantil é considerada um
direito, e cabia ao Estado garantir às crianças de até cinco anos (CF atualizada) atendimento
em creches e pré-escolas. Aqui a creche passa a ficar sob custódia do Ministério da Educação,
pois antes ficava sob os cuidados do Ministério da Saúde e da Assistência, Kuhlmann Jr
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(2000). Oito anos mais tarde, em 1996, com a promulgação da 3ª LDB a Educação Infantil dá
mais um passo, essa lei coloca a Educação Infantil como a primeira etapa da educação básica.
No Mato Grosso do Sul, antigo Mato Grosso (uno) em especial no sul do estado na
região da Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), as instituições escolares
surgiram, primeiramente, de iniciativas privadas no âmbito das políticas públicas de
implantação de escolas para os filhos dos colonos que habitavam a região da CAND, que
vieram de várias regiões do país incentivados pelo programa “Marcha para o Oeste” com o
objetivo de povoar e desenvolver a região centro-oeste do Brasil, Brazil e Silva (2013). As
escolas urbanas surgiram a partir de 1930. A princípio a preocupação era com o ensino
primário e posteriormente com o ensino secundário e normal, uma instituição de atendimento
à infância até o momento não existia. Porém de acordo com Sarat e Mancini (2007) apud
Moreira (1990), o núcleo urbano da Escola Paroquial Patronato de Menores, escola
confessional católica e privada, que funcionou de 1950 a 1953 na região da CAND, além de
contar com o ensino primário também havia atividades referente ao jardim de infância.
Depois dessa instituição destacamos a influência que a Escola Franciscana Imaculada
Conceição (1956), teve na região e que até os dias atuais está em funcionamento. As
atividades dessa escola, em relação à educação infantil, que também é confessional, católica,
privada, têm registros que datam da década de 1980, tendo como proposta pedagógica o
Método Montessoriano criado pela médica italiana Maria Montessori, Sarat e Mancini (2007).
É nessa mesma década que surge a Escola Serviço de Educação Integral - SEI,
especificamente no ano de 1980. Essa escola é fundada pela professora Ezir Gutierrez e seu
esposo Jesus Gutierrez. De acordo com Silva (2007) a escola começou suas atividades
educativas em fevereiro de 1981 com sessenta e seis (66) alunos matriculados em salas de
Maternal, Jardim, Pré I e Pré II. Sete anos mais tarde a escola expande o nível de ensino para
o Ensino fundamental. Destaca-se aqui a preocupação primeira da escola em atender às
crianças pequenas e somente posteriormente atende também as crianças em nível primário.
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A Escola SEI hoje atende da educação infantil até o nono ano do ensino fundamental,
essa escola fez e faz parte da história da educação do município de Dourados – MS. A partir
de 1981 iniciavam-se as atividades com a educação infantil que era destinada a crianças de
classe média da cidade. Muitas das atividades da Escola SEI eram pioneiras como por
exemplo as atividade na piscina, a “parede mágica” e a noitada.
A “parede mágica”, segundo relatos de dona Ezir no trabalho de Silva (2007), era a
coloração de uma parede azulejada com uma “tinta mágica”, uma espécie de massa. Nas
atividades de “noitada” as crianças passam a noite na escola, onde participam de diversas
atividades. Essa última atividade passou a ser realizada também com as crianças do ensino
fundamental quando implantado na instituição em 1988.
Sendo assim, podemos perceber que ainda há muita história para se apreender nessa
instituição. Porém é nas entrelinhas que está nosso foco de investigação, no caso aqui, sobre a
concepção de educação infantil que a escola trouxe desde sua implantação.
Em nossa proposta adotaremos como metodologia a História Oral e utilizaremos da
análise documental para alcançar nossos objetivos. Buscaremos nossas respostas em
documentos que fez e faz parte do cotidiano escolar, nesse caso especificamente, no cotidiano
da escola SEI, como por exemplo: as atas de criação, atas de reuniões, projetos pedagógicos,
fotografias, planos de aula de professores/as, panfletos, histórico de professores, além da
busca pesquisa bibliográfica sobre o tema que inicialmente fizemos. A partir do levantamento
dessas fontes utilizaremos da análise documental, indicada por Lüdke e André (1986), que
está presente em grande parte das pesquisas de cunho histórico-educacional, para nos ajudar a
responder nossas indagações. Antes de tudo é importante considerar o contexto histórico,
social, cultural, econômico e político em que determinados documentos foram produzidos,
que segundo Cellard (2012) esse aspecto deve ser considerado em todas as etapas da análise
documental, tanto em pesquisas de passado distante quanto em pesquise de passado recente.
Análise Documental proposta é considerada uma técnica de coleta de dados qualitativos,
e que pode ocorrer em quaisquer materiais escritos. Nesse cenário, a análise documental se
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utiliza de fontes primárias e secundárias. As fontes primárias como afirma Nunes (2006) são
as fontes originais e autênticas, como por exemplo, os manuscritos de uma biblioteca; as
fontes secundárias, segundo a mesma autora, são aquelas informações que são obtidas não
mais pelo documento original, mas sim por outras obras, autores, como por exemplo, os
transcritos dos manuscritos.
Pretendemos nos debruçar também de fontes orais, pois como afirma Thompson: “a
evidência oral pode conseguir algo mais penetrante e mais fundamental para a história”
(THOMPSON, 1992: 137). Às vezes o próprio documento deixa “vazios” a serem
interpretados, e podemos “preenchê-lo” através dos documentos construídos a partir de relatos
orais. A História Oral é uma prática antiga de nossos antepassados e ainda é utilizada em
algumas comunidades, tribos e etnias, como afirma Joutard (2006) que a história africana em
seus primórdios era feita através das fontes orais.
Tal metodologia passou e passa ainda por algumas críticas, entre elas a crítica da
subjetividade em que a História Oral está imersa, pois críticos entendem que esse aspecto
subjetivo torna a pesquisa falível e fantasiosa já que é inseparável da memória, porém
Thompson (1992) a defende dizendo que qualquer fonte está sujeita a subjetividade, seja ela
oral, visual ou escrita, pois estas também pode passar por manipulações, ou ter sentidos
ambíguos ou insuficientes. Ainda contribuindo para as pesquisas com História Oral,
Thompson diz:
[...] a história oral pode dar grande contribuição para o resgate damemória nacional, mostrando-se um método bastante promissor para arealização de pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar amemória física e espacial, como também descobrir e valorizar amemória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos,possibilitando a evidência dos fatos coletivos (THOMPSON, 1992:17).
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Para Meihy (1996) a História Oral consiste em um conjunto de procedimentos que visa
a elaboração de um projeto, entrevistas com o grupo a ser investigado, a gravação dessa ou
dessas entrevistas, o processo de transcrição, conferência desse material e sua publicação,
desde que passe antes pelo grupo de entrevistados. Para Meihy a base da existência da
História Oral está na sua versão gravada, por isso o uso do gravador é indispensável.
Sarat & Santos (2010) apontam a sistemática de coleta e de transcrição dos depoimentos
obtidos nas entrevistas, e apesar dos diversos pesquisadores que se debruçam sobre a
metodologia oral, poucos abordam os procedimentos técnicos e práticos em seus trabalhos. Os
autores ainda nos trazem tais procedimentos como: procedimentos éticos sobre a publicação
dos depoimentos; os procedimentos quanto às gravações das entrevistas, a organização
sistemática da transcrição, sendo sugerido primeiramente que o transcritor do depoimento seja
o próprio entrevistador, segundo um membro do projeto de pesquisa e por último um terceiro
que não esteja envolvido com a pesquisa, sendo preferencialmente, o entrevistador que realize
essa parte do processo. Para Sarat & Santos (2010):
Trabalhar com a história oral torna-se possibilidade de ouvir nãosomente minorias, mas valorizar todos aqueles que estejamrepresentados nas pesquisas e investigações, valorizando vozes depessoas, trajetórias de vida, memórias, biografias, histórias quepossam dar respostas aos nossos questionamentos. (SARAT &SANTOS, 2010, p. 50)
As pesquisas com a História Oral são mais que entrevistas e depoimentos são histórias
de vida. Segundo Louro podem ser utilizados “não só para repor um recurso que está em falta,
mas também para responder a novas perguntas sobre antigos temas, provocar novos temas,
abrir outras perspectivas de análise, estabelecer relações e articulações entre fatos, sujeitos e
dimensões de um estudo” (LOURO, 1990, p. 23).
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Portanto, tal metodologia possibilitará, em nossa pesquisa, responder aos nossos
problemas propostos anteriormente que envolvem a Escola SEI à medida que os documentos,
por si só, não sejam suficiente para responder às nossas questões, pois os contextos que os
envolvem podem ser melhor descritos através das memórias que os vivenciaram.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esperamos com nossa pesquisa realizar levantamentos documentais nos quais serão
organizados a fim de disponibilizar em arquivos para que o mesmo sirva de fonte para outras
pesquisas acerca da temática da história das instituições educacionais em especial da
Educação Infantil na região da Grande Dourados-MS, pois como sabemos, as instituições
educacionais infantis ainda ocupam pouco espaço no cenário da história da educação, e em
nosso Estado não é diferente, por ser um jovem Estado nos possibilita um vasto campo para
investigações, e ainda nos deparamos com as dificuldades de se pesquisar a história da
educação que se encontra por construir. Nossa proposta de pesquisa tem como interesse
maior, contribuir para a história da educação do Estado de Mato Grosso do Sul, assim como
também, para a história das instituições de Educação Infantil na região da Grande Dourados-
MS e do Estado. Pois lidamos com a escassez de pesquisas acerca da temática, com isso
buscamos visibilidade ajudando a construir a História das instituições escolares do estado de
Mato Grosso do Sul, especialmente da criança.
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