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“Hegel e a tradição hermética”, Glenn A. Magee  por Leonildo Trombela Júnior  / Filosofia, revista / mai 2014 Tradução da introdução a “e!el and t"e ermeti# Tradition$ %2001& “Deus somente é Deus enquanto conhece a si mesmo; Seu próprio autoconhecimento é, ademais, um autoconhecimento no homem e o s aber do homem acerca de Deus que se  prolonga até ao autoconhecimento hu mano em Deus.”  ' e!el,  Enciclopédia das ciências filosóficas( )*+4 Hegel como pensador hermético e!el não um fil-sofo( .le não amante ou bus#ador da verdade, pois ele a#redita ue   a en#ontrou( e!el es#reve no pref#io da  enomenologia do E sp!rito “3olaborar  para ue a filosofia se aproime da forma da #i5n#ia 6 da meta em ue deie de #"am ar7 se amor ao saber para ser saber efeti"o 6 isto o ue me propon"o$( 8o fim da  enomenologia e!el di9 ter #"e!ado ao 3on"e#imento : bsoluto, ue ele identifi#a #omo sabedoria( : afirmação de ter atin!ido a sabedoria #ompletamente #ontrria ; #on#epção ori!inal !re!a da filosofia #omo amor ; sabedoria, isto , a bus#a in#essante pela sabedoria em ve9 da possessão final dela( : afirmaç ão dele, todavia, totalmente #oerente #om as ambiç<es da tradição "ermti#a 6 uma #orrente de pensamento ue deriva seu nome da #"amada  #ermetica %ou $orpus #ermeticum& 6, uma #oleção de tratados e dilo!os !re!os e latinos es#ritos nos dois primeiros s#ulos da era #ristã e ue provavelmente #ont5m ideias ue v5m de muito antes( = lendrio autor dessas obras ermes Trisme!is tus %“ermes, o tr5s ve9es !rande$&( = “"ermetismo$ representa uma vasta tradição de pensamento ue sur!iu dos “es#ritos de ermes$ e foi epandida e desenvolvida por meio da infusão de vrias outras tradiç<es( : ssim, a aluimia, a #abala, o lullismo e o misti#ismo de .#>"art e 3usa 6 para #itar apenas al!uns eemplos  6 passaram a ser entrelaçados #om as doutrinas "ermti#as( %3om e feito, o "ermetismo usado por al!uns autores para se referir somente ; aluimia( 1 & = "ermetismo ;s ve9es #"amado de teosofia ou esoterismo? #om menos pre#isão, f reuentemente #ara#teri9ado #omo misti#ismo ou o#ultismo( : tese deste livro de ue e!el um pensador "ermti#o( @ostrarei ue " impressionantes #orrespon d5n#ias entre a filosofia "e!eliana e a teosofia "ermti#a, e #omo essas #orrespond5n#ias não são a#identais( e!el estava dili!entemente interessado no "ermetismo ele foi influen#iado por epoentes desde a sua uventude, e ele mesmo se aliou a movimentos e pensadores "ermti#os ao lon!o da sua vida( . não ue eu simplesmente defenda ue n-s possamos #on"e#er e!el #omo um pensador "ermti#o assim #omo podemos #on"e#57lo #omo um pensador alemão da Aubia( 8ão( .u defendo ue devemos #on"e#er e!el #omo um pensador "ermti#o ou não o entenderemos de maneira al!uma(

Hegel e a Tradicao Hermetica

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“Hegel e a tradição hermética”, Glenn A. Magee

 por Leonildo Trombela Júnior  / Filosofia, revista / mai 2014

Tradução da introdução a “e!el and t"eermeti# Tradition$ %2001&

“Deus somente é Deus enquanto conhece a si mesmo; Seu próprio autoconhecimento é,

ademais, um autoconhecimento no homem e o saber do homem acerca de Deus que se

 prolonga até ao autoconhecimento humano em Deus.”

 ' e!el, Enciclopédia das ciências filosóficas( )*+4

Hegel como pensador hermético

e!el não um fil-sofo( .le não amante ou bus#ador da verdade, pois ele a#redita ue  a en#ontrou( e!el es#reve no pref#io da enomenologia do Esp!rito “3olaborar para ue a filosofia se aproime da forma da #i5n#ia 6 da meta em ue deie de #"amar7se amor ao saber para ser saber efeti"o 6 isto o ue me propon"o$( 8o fim da

 enomenologia e!el di9 ter #"e!ado ao 3on"e#imento :bsoluto, ue ele identifi#a#omo sabedoria(

: afirmação de ter atin!ido a sabedoria #ompletamente #ontrria ; #on#epção ori!inal!re!a da filosofia #omo amor ; sabedoria, isto , a bus#a in#essante pela sabedoria emve9 da possessão final dela( : afirmação dele, todavia, totalmente #oerente #om as

ambiç<es da tradição "ermti#a 6 uma #orrente de pensamento ue deriva seu nome da#"amada #ermetica %ou $orpus #ermeticum& 6, uma #oleção de tratados e dilo!os!re!os e latinos es#ritos nos dois primeiros s#ulos da era #ristã e ue provavelmente#ont5m ideias ue v5m de muito antes( = lendrio autor dessas obras ermesTrisme!istus %“ermes, o tr5s ve9es !rande$&( = “"ermetismo$ representa uma vastatradição de pensamento ue sur!iu dos “es#ritos de ermes$ e foi epandida edesenvolvida por meio da infusão de vrias outras tradiç<es( :ssim, a aluimia, a#abala, o lullismo e o misti#ismo de .#>"art e 3usa 6 para #itar apenas al!uns eemplos

 6 passaram a ser entrelaçados #om as doutrinas "ermti#as( %3om efeito, o "ermetismo usado por al!uns autores para se referir somente ; aluimia(1& = "ermetismo ;s ve9es#"amado de teosofia ou esoterismo? #om menos pre#isão, freuentemente#ara#teri9ado #omo misti#ismo ou o#ultismo(

: tese deste livro de ue e!el um pensador "ermti#o( @ostrarei ue "impressionantes #orrespond5n#ias entre a filosofia "e!eliana e a teosofia "ermti#a, e#omo essas #orrespond5n#ias não são a#identais( e!el estava dili!entementeinteressado no "ermetismo ele foi influen#iado por epoentes desde a sua uventude, eele mesmo se aliou a movimentos e pensadores "ermti#os ao lon!o da sua vida( . não ue eu simplesmente defenda ue n-s possamos #on"e#er e!el #omo um pensador"ermti#o assim #omo podemos #on"e#57lo #omo um pensador alemão da Aubia( 8ão(.u defendo ue devemos #on"e#er e!el #omo um pensador "ermti#o ou não o

entenderemos de maneira al!uma(

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: vida e as obras de e!el ofere#em uma abundBn#ia de eemplos para sustentar estatese(

refer5n#ias ao lon!o dos es#ritos publi#ados e não publi#ados de e!el endereçadosa vrias das fi!uras eminentes e movimentos da tradição "ermti#a( .ssas refer5n#ias

são em !rande maioria aprobat-rias( Csso parti#ularmente verdadeiro no #aso dotratamento ue e!el d a .#>"art, Druno, Eara#elsus e D"me( .ste último oeemplo mais notvel de todos( e!el #on#ede7l"e um #onsidervel espaço em suas$onferências sobre a #istória da filosofia 6 mais espaço, alis, do ue ele #on#ede avrios dos prin#ipais pensadores da tradição filos-fi#a(

, alm disso, numerosos elementos "ermti#os nos es#ritos de e!el( .les in#luem,de modo !eral, um subteto maçGni#o de “ini#iação mHsti#a$ na enomenologia do

 Esp!rito? um subteto “b"miano$ no famoso pref#io da enomenologia? umainflu5n#ia #abalHsti#a7b"miana7lulliana na %ógica? elementos aluHmi#os7para#elsianosna ilosofia da &ature'a? uma influ5n#ia do milenarismo #abalHsti#o e oauimita na

doutrina do .spHrito =betivo e da teoria da "ist-ria do mundo "e!elianas? ima!ensaluHmi#as e rosa#ru#ianas na ilosofia do Direto? uma influ5n#ia da tradição "ermti#ada pansofia no sistema "e!eliano #omo um todo? um endosso da #rença "ermti#a na

 philosophia perennis? e o uso de formas simb-li#as "ermti#as perenes %#omo otriBn!ulo, o #Hr#ulo e o uadrado& #omo re#ursos estruturais e aruitetGni#os(

: bibliote#a de e!el in#luHa es#ritos "ermti#os de :!rippa, D"me, Druno eEara#elsus( .le leu muito sobre mesmerismo, radiestesia psHui#a fenomenal,

 premonição e feitiçaria( .le se asso#iou publi#amente a #on"e#idos o#ultistas, sendo umdeles Fran9 von Daader( .le estruturou sua filosofia de maneira id5nti#a ao uso das“#orrespond5n#ias$ "ermti#asI .le #ontou #om "ist-rias do pensamento ue dis#utiamermes Trime!istus, Ei#o della @irandola, obert Fludd e Knorr von osenrot" unto#om Elatão, alileu, Mes#artes e 8eNton( .le de#larou em suas #onfer5n#ias mais deuma ve9 ue o termo “espe#ulativo$ si!nifi#a a mesma #oisa ue “mHsti#o$( .lea#reditava em um “.spHrito do Terra$ e se #orrespondeu #om ami!os tratando sobre anature9a da ma!ia( .le se aliou 6 informalmente 6 a so#iedades “"ermti#as$, tais #omoa @açonaria e a osa7#ru9( :t mesmo os rabis#os de e!el eram "ermti#os, #onformeveremos no #apHtulo O, uando dis#utirmos o misterioso “dia!rama trian!ular$(

uatro !randes perHodos durante a vida de e!el aos uais ele pare#e ter estado sobforte influ5n#ia do "ermetismo, ou pelo menos bus#ado ativamente esse "ermetismo(

Erimeiro na sua uventude em Atutt!art, ue foi de 1PP0 a 1PQQ( 3onforme dis#utireimais detal"adamente no #apHtulo 2, durante esse perHodo, RSrttember! era um !rande#entro de interesse "ermti#o, dado ue muitos dos movimentos pietistas influen#iados

 pelo b"mianismo e rosa#ru#ianismo %RSrttember! foi o #entro espiritual domovimento osa7#ru9&( =s prin#ipais epoentes do pietismo 6 J( :( Den!el e em

 parti#ular F( 3( =etin!er 6 foram fortemente influen#iados pelo misti#ismo alemão, pelateosofia b"miana e pela #abala(

@uitos dos estudiosos de e!el #onsideraram desne#essrio #onsiderar esse meiointele#tual da uventude do alemão( e!el uase universalmente #on"e#ido #omo

 parti#ipante do #onteto da tradição filos-fi#a alemã e s-? #omo se fosse somente

#orrespondente a Kant, Fi#"te e A#"ellin!( Mesne#essrio di9er ue as influ5n#ias deKant, Fi#"te e A#"ellin! foram importantes, mas essas não foram as úni#as a serem

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eer#idas sobre e!el( Earte da ra9ão de terem esue#ido de men#ionar ou i!norado asoutras fontes ue pou#os estudiosos estão familiari9ados #om as #ompleidades davida reli!iosa alemã do s#ulo UCCC( =s ue estão familiari9ados são uase sempreoriundos de outras dis#iplinas não7filos-fi#as e uase sempre alemães( %= estudo do

 pietismo alemão um terreno uase e#lusivo dos !erman-fonos(& : vida reli!iosa e

intele#tual de RSrttember! , portanto, o lu!ar -bvio para se #omeçar a entender as pr-prias ori!ens intele#tuais de e!el, suas ideias #ara#terHsti#as e seus obetivos(

e!el tem de ser entendido nos termos da tradição teos-fi#a pietista de RSrttember! 6ele não pode ser simplesmente visto #omo #rHti#o de Kant( 3om efeito, e!el, #onformear!umentarei, sempre foi um #rHti#o de Kant e nun#a um admirador sin#ero,

 pre#isamente por ue ele foi lo!o #edo “mar#ado$ pela tradição da pansofia, ue estavamuito viva em RSrttember! e pelo ideal de =etin!er da verdade #omo um Todo %v(#apHtulo 2&( .le não pGde a#eitar o #eti#ismo de Kant, tampou#o pGde A#"ellin!6 e porra9<es id5nti#as( :inda assim, ambos re#on"e#eram a força do pensamento de Kant etrabal"aram duro para partirem das premissas do pensador de Koni!sber! at #"e!arem

;s suas pr-prias #on#lus<es #om o obetivo de #onse!uirem fu!ir do #eti#ismo aualuer #usto(Tudo em nome do ideal espe#ulativo de suas uventudes(

Me 1PVO at 1Q01, e!el trabal"ou #omo tutor privado primeiro em Derne e depois emFran>furt( 3onforme dis#utirei no #apHtulo O, o bi-!rafo de e!el, Karl osen>ran9,referiu7se a essa po#a #omo a “fase teos-fi#a$ do desenvolvimento de e!el( 8essapo#a, e!el pare#e ter se tornado familiari9ado #om as obras de D"me, assim #omoas de .#>"art e Jo"annes Tauler( Tambm durante esse perHodo, e!el se envolveu #om#Hr#ulos maçGni#os(

.m Jena %1Q0171Q0P&, o interesse de e!el pela teosofia #ontinuou( .le reali9ou lon!as#onfer5n#ias de tom aprobat-rio sobre D"me e Druno( .le #ompGs vrios tetos 6 ues- #"e!aram a n-s de maneira fra!mentada 6 empre!ando lin!ua!em e simbolismo"ermti#os %v( #apHtulos O e 4&( Auas #onfer5n#ias sobre filosofia da nature9a nessapo#a refletem um duradouro interesse em aluimia( W provvel ue A#"ellin!, ue fora; Jena pou#o antes, ten"a introdu9ido e!el ao seu #Hr#ulo de ami!os, ue in#luHa uma

 porção de romBnti#os fortemente interessados no "ermetismo( = pr-prio A#"ellin! eraum vido leitor de D"me e =etin!er e provavelmente en#oraou esse interesse dee!el(

= último perHodo “"ermti#o$ da vida de e!el foi em Derlim, indo de 1Q1Q at a sua

morte em 14 de novembro de 1QO1( Csso vai #ontra o ue se espera( Eode7se supor ue o"ermetismo de e!el ten"a sido uma mera aberração de uventude superada pelo“aruirra#ionalista$ #onforme ele foi amadure#endo( Aupreendentemente, pare#e ue

 pre#isamente o #ontrrio( .m Derlim, e!el formou uma ami9ade #om Fran9 vonDaader, o prin#ipal mHsti#o e o#ultista da po#a( Juntos eles estudaram @eister .#>"art(= pref#io ; edição de 1Q2P da Enciclopédia das $iências ilosóficas em $ompêndio #ita proeminentemente D"me e Daader( Aua edição revisada de 1QO2 de ( $iência da

 %ógica #orri!e uma passa!em para poder in#luir uma refer5n#ia a D"me( Aeu pref#io; edição de 1Q21 da ilosofia do Direito in#lui ima!ens aluHmi#as e rosa#ru#ianas( .msuas $onferências sobre a ilosofia da )eligi*o de 1QO1 v57se a influ5n#ia do mHsti#oJoauim de Fiore, assim #omo #ertas estruturas #orrespondentes ao pensamento de

D"me( .m suma, todas as evid5n#ias indi#am ue, no último perHodo da sua vida, o

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interesse de e!el pelas tradiç<es mHsti#a e "ermti#a se intensificou, alm de ele ter setornado mais ousado ao se alin"ar publi#amente a movimentos e pensadores "ermti#os(

:s divis<es da filosofia de e!el se!uem um padrão ue tHpi#o de vrias formas dafilosofia e da mHsti#a "ermti#a( : enomenologia representa um est!io ini#ial de

“purifi#ação$ da as#ensão do espHrito a#ima do nHvel do sensitivo e do mundano, uma preparação para a re#epção da sabedoria( : %ógica  a euivalente ; “as#ensão$"ermti#a ao nHvel da pura forma, do eterno, do “.spHrito Xniversal$ %Cdeia :bsoluta&( :

 ilosofia da &ature'a des#reve uma “emanação$ ou “alienação$ do .spHrito Xniversalna forma do mundo espaço7temporal( Auas #ate!orias #umprem uma transfi!uração donatural n-s passamos a ver o mundo #omo refleo do .spHrito Xniversal( : ilosofia

do Esp!rito efetua um “retorno da nature9a #riada ao Mivino por meio do homem, ue pode se elevar a#ima do mero natural e Yatuali9arZ Meus no mundo por meio das formas#on#retas de vida %e(!(, o .stado e a reli!ião& e pela filosofia espe#ulativa(

Os estudos sobre Hegel e a tradição hermética

W importante salientar ue essas afirmaç<es não seriam parti#ularmente #ontroversasnas d#adas ue se se!uiram ; morte de e!el( 8a d#ada de 1Q40, A#"ellin! a#usoue!el publi#amente de ter etraHdo muito da sua filosofia de Ja>ob D"me( Xm dosdis#Hpulos de e!el, Friedri#" T"eodor Uis#"er, uma ve9 per!untou “Uo#5s seesue#eram ue a nova filosofia veio direto da es#ola dos anti!os mHsti#os,espe#ialmente de Ja>ob D"me[$2( =utro "e!eliano, ans @artensen, autor de um dos

 primeiros estudos a#ad5mi#os sobre @eister .#>"art, observou ue “= misti#ismoalemão a primeira forma pela ual a filosofia alemã se revelou na "ist-ria do

 pensamento$ %“filosofia$ para os "e!elianos !eralmente si!nifi#a a filosofia de e!el&O(Rill"elm Milt"e\ observou a mesma #ontinuidade entre o misti#ismo alemão e afilosofia espe#ulativa(4

Eossivelmente o mais famoso estudo sobre os aspe#tos "ermti#os em e!el feito nos#ulo C foi Die christlich +nosis %1QO*&* de Ferdinand 3"ristian Dauer( : obra deDauer foi uma das primeiras a tentar definir o !nosti#ismo e distin!uir suas diferentesformas( = termo gnóstico  usado de maneira muito dissoluta mesmo na nossa po#a, emuito freuentemente o ue seria mais apropriadamente nominado #omo “"ermti#o$a#aba por ser taado de “!n-sti#o$( %Mis#utirei a diferença entre os dois na pr-imaseção&( :p-s uma lon!a dis#ussão sobre o !nosti#ismo na anti!uidade, Dauer ar!umentaue Ja>ob D"me foi um !n-sti#o moderno e ue A#"ellin! e e!el podem ser vistos

#omo "erdeiros intele#tuais de D"me e, portanto, !n-sti#os( : obra Die christliche+nosis  a #oisa mais pr-ima de um livro sobre e!el e a tradição "ermti#a ue foi publi#ado, embora, #omo disse, o fo#o de Dauer ten"a sido o !nosti#ismo e não o"ermetismo+( .m 1QO*, LudNi! 8oa#> publi#ou uma obra em dois volumes, Die

$hristlich -sti nach ihrem geschichtlichen Ent/iclungsgange im ittelalter und in

der neueren 0eit dargestellt , onde ele trata os idealistas #omo representantes modernosdo misti#ismo(

Mis#uss<es ulteriores a#er#a da li!ação de e!el #om o "ermetismo são freuentementeli!adas a dis#uss<es similares a#er#a de A#"ellin!( :#onte#e isso #om a obra -stical

Sources of +erman )omantic 1hilosoph- de .rnst Den9, ue breve, mas #onsiderada

indispensvel pelos prin#ipais estudiosos da rea( .m 1VOQ, o estudioso alemão obertA#"neider publi#ou Schellings und #egels scb/2bische +eistesahnen em RSr9bur!(

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@uitas das #-pias do livro de A#"neider foram destruHdas durante o bombardeio dastropas aliadas a RSr9bur! em 1+ de março de 1V4*( A#"neider foi destruHdo unto #omelas( Aeu livro um valoroso estudo sobre o pietismo teos-fi#o prevale#ente emRSrttember! durante as uventudes de e!el e A#"ellin!(

=utras obras de autores alemães ue lidam #om a relação do misti#ismo ou "ermetismo#om o idealismo alemão e e!el são eister Echart der 3ater der Deutschen

Speulation. Ein 4eitrag 'u einer +eschichte der deutschen 5heologie und 1hilosophie

der mittleren 0eit %1Q+4& de Josef Da#>? +eschichte der Entdecung der deutschen

 -stier, Echart, 5auler u. Seuseim 67. 8ahrhundert %1VO1& de ottfried Fis#"er? Die

idealistische 1hilosophie und das $hristentum %1V2+& de .manuel irs#"? 1hilosophie

und 5heologie im Sp2tidealismus, orschungen 'ur (useinanderset'ung "on

$hristentum und idealistischer 1hilosophie im 67.8ahrhundert %1V1V& e 3on 8aob

 4oehme 'u Schelling. 0ur etaph-si des +ottesproblems %1V2P& de Frit9 Leese? Die

 )eligion des Deutschen 9dealismus und ihr Ende %1V2O& de Ril"elm LSt!ert e Die

 (nfange der 1hilosophie des deutschen 9dealismus %1VO0& de einri#" @aier(

tambm um #onsidervel número de obras "olandesas tratando do assunto Schelling, #egel, echner en de nieu/ere theosophic %1V10& de ( J( J( Dolland? #et m-stiee

arater "an #egel:s logica de J( dZ:ulnis de DourrouillZs e #egeliaanschtheosofische

opstellen %1V1O& de ( R( @oo>(

.m fran#5s, a obra #egel Secret  %1V+Q& de Ja#ues dZondt um estudo etremamenteimportante sobre a relação de e!el #om as so#iedades se#retas "ermti#as, tais #omo a@açonaria, Clluminati e osa7#ru9(

tambm em in!l5s um importante #orpo de obras sobre e!el e o misti#ismo, ue#omeça #om 5he -stical Element in #egel:s Earl- 5heological <ritings %1V10& deeor!e Elimpton :dams( Frederi#> 3opleston tambm foi autor de um valioso arti!ointitulado “e!el and t"e ationali9ation of @\sti#ism$ ]e!el e a a#ionali9ação do@isti#ismo^ em 1VP1( Erovavelmente, o intrprete de lHn!ua in!lesa mais lido, J( 8(Findla\, era ele mesmo um teosofista, e sua interpretação de e!el est sintoni9ada #omos aspe#tos mHsti#os e "ermti#os da obra "e!eliana( 8a obra #egel= ( )e

 E>amination %1V*Q&, Findla\ su!ere tentadoramente ue e!el foi um “representante nos#ulo C de parte da philosophia +ermanica perennis$P( : bio!rafia intele#tual dedois volumes es#rita por ( A( arris intitulada #egel:s De"elopment  %1VP2/1VQO&#ontm di!ress<es a#er#a da relação de e!el #om .#>"art, D"me, Daader e aaluimia( e#entemente, 3\ril =Ze!an publi#ou um inovador estudo sobre as raH9es

mHsti#as da filosofia de e!el intitulado 5he #eterodo> #egel  %1VV4&(:t o momento, entretanto, a aborda!em mais influente em lHn!ua in!lesa sobre o"ermetismo de e!el vem de .ri# Uoe!elin( .m seu ensaio “esponse to Erofessor:lti9erZs Y: 8eN istor\ and a 8eN but :n#ient odZ$, Uoe!elin admite “Eor umlon!o tempo eu evitei #al#uladamente te#er ualuer #rHti#a sria sobre e!el emmin"as obras publi#adas, pois eu simplesmente não #onse!uia entend57lo$( Csso mudouuando Uoe!elin, em seu estudo sobre !nosti#ismo, des#obriu ue “e!el foi#onsiderado pelos seus #ontemporBneos um pensador !n-sti#o$( Uoe!elin se!ue eafirma ue o pensamento de e!el “perten#e ; #ontHnua "ist-ria do "ermetismomoderno ue vem desde o s#ulo U$Q( : prin#ipal afirmação de Uoe!elin, entretanto,

en#ontra7se no ensaio fero9mente pol5mi#o “=n e!el : Atud\ in Aor#er\$ ]Aobree!el Xm estudo em feitiçaria^, onde ele se refere ; enomenologia do Esp!rito #omo

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um “!rim-rio$ ue “deve ser tomado #omo uma obra de m!i#a, pois, #om efeito, ela ]aobra^ uma das !randes performan#es de m!i#a$V(

:s afirmaç<es de Uoe!elin são Hmpares, na medida em ue ele não di9 simplesmenteue e!el foi influenciado pela tradição "ermti#a( .le afirma ue e!el era parte da

tradição "ermti#a e não pode ser bem #ompreendido #omo al!um fora dela(Cnfeli9mente Uoe!elin nun#a desenvolveu adeuadamente sua tese( .le nun#a pronun#iou em detal"es de ue forma e!el era um pensador "ermti#o( Uoe!elin,#ontudo, en#oraou outros estudiosos a desenvolver sua tese de maneira maissistemti#a %e s-bria&( Mavid Rals", por eemplo, es#reveu uma importante tese dedoutorado intitulada 5he Esoteric ?rigins of odern 9deological 5hought= 4oehme and 

 #egel  %1VPQ& onde ele fa9 fortes #olo#aç<es a#erta da dHvida ue e!el tem #omD"me10( erald anratt\ tambm publi#ou um etenso ensaio divido em duas partesintitulado “e!el and t"e nosti# Tradition$ ]e!el e a tradição !n-sti#a^%1VQ47QP&(

:t a presente obra, apesar de toda essa atividade a#ad5mi#a, ainda não "ouve um

es#rito sistemati9ado, do taman"o de um livro, sobre e!el #omo pensador "ermti#oue levasse em #onta não apenas sua evolução intele#tual, mas tambm todo o seusistema amadure#ido(11

3onsidero esta obra não apenas uma #ontinuação da tradição de estudos ue #itei a#ima,mas tambm uma #ontribuição para o #ontHnuo proeto da "ist-ria das ideias #uos

 pioneiros foram .ri# Uoe!elin, Fran#es _ates, :ntoine Faivre, i#"ard Eop>in, :llanMebus, Dett\ Jo Teeter Mobbs, Eaul =s>ar Kristeller, M( E( Ral>er, Atep"en @#Kni!"t e:lison 3oudert %v( biblio!rafia&( .sses estudiosos ar!umentam ue o "ermetismoinfluen#iou vrios dos prin#ipais pensadores ra#ionalistas, tais #omo Da#on, Mes#artes,Apino9a, Leibni9 e 8eNton, e desempen"ou at então um papel pou#o apre#iado naformação das ideias #entrais e ambiç<es da filosofia moderna e das #i5n#ias,

 parti#ularmente o proeto de investi!ação #ientHfi#a pro!ressiva e do domHniote#nol-!i#o da nature9a(12

W #ertamente uma das !randes ironias da "ist-ria ue o ideal "ermti#o do "omem #omoma!o 6 ue atin!e o #on"e#imento total e empun"a poderes divinos a fim de tra9er a

 perfeição ao mundo 6 ten"a sido o prot-tipo do #ientista moderno( :inda, #onformees#reveu erald anratt\, “a disseminação do apelo ;s t#ni#as m!i#as e aluHmi#asinspiraram uma nova #onfiança nos poderes opera#ionais do "omem( .m #ontraste #omas atitudes passivas e #ontemplativas ue !eralmente prevale#iam durante os primeiros

s#ulos, os aluimistas e ma!os da enas#ença afirmaram seus domHnios sobre todos osnHveis do ser$( = "ermetismo substitui o amor ; sabedoria pelo deseo de poder(3onforme veremos, o sistema "e!eliano a derradeira epressão dessa bus#a pelo#ontrole(

O que é o hermetismo

Ae e!el pode ou não ser entendido #omo “"ermti#o$ depende de #omo definido o"ermetismo( 8a verdade, o "ermetismo difH#il de se definir ri!orosamente( Aeusadeptos tendem a #ompartil"ar #ertos interesses 6 freuentemente #lassifi#ados #omo“o#ultos$ ou “esotri#os$ 6 ue são mantidos untos apenas por familiaridade( .m parte,

meu ar!umento para o "ermetismo de e!el reside em demonstrar ue os interesses dee!el #oin#idem #om a #uriosa mistura de interesses tHpi#as dos "ermti#os( Mentre

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esses interesses podemos in#luir aluimia, #abala, mesmerismo, per#epção etra7sensorial, espiritualismo, radiestesia, es#atolo!ia, prisca teologia, philosophia perennis,lullismo, para#elsimo, oauinismo, rosa#ru#ianismo, maçonaria, misti#ismoe#>"artiano, sistemas se#retos de simbolismo de “#orrespond5n#ias$, vitalismo e“simpatias #-smi#as$(1O

, entretanto, um aspe#to essen#ial ue tomarei #omo definitivo do "ermetismo( .rnestLee Tuveson, na obra 5he ("atars of 5hrice +reatest #ermes= (n (pproach to

 )omanticism su!ere ue o "ermetismo #onstitui uma posição intermediria entre as#on#epç<es do deus panteHsta e do Meus udai#o7#ristão( Me a#ordo #om a tradição de

 pensamento udai#o7#ristã, Meus trans#ende #ompletamente a #riação e est distantedela14( :lm disso, Meus totalmente autossufi#iente e, portanto, não pre#isava ter#riado o mundo, de modo ue .le não teria perdido nada se não o "ouvesse #riado(Mesta maneira, o ato da #riação essen#ialmente !ratuito e livre de ualuer interesse

 pr-prio( Meus #ria da pura abundBn#ia, não da ne#essidade( .ssa doutrina se mostrouinsatisfat-ria 6 ou at mesmo perturbadora 6 para muitos, pois se!undo esses ue se

 perturbam, isso torna a #riação arbitrria e absurda( = panteHsmo, ao #ontrrio, envolvetotalmente o divino no mundo, de modo ue tudo se torna Meus, at mesmo a lama, os

 pelos e o p-, de maneira ue o divino abstraHdo da sua ealtação e sublimidade( Aendoassim, o panteHsmo i!ualmente insatisfat-rio(

= "ermetismo uma posição intermediria, pois afirma tanto a trans#end5n#ia domundo uanto seu envolvimento nele( Meus metafisi#amente distinto do mundo, masainda assim .le pre#isa do mundo para se #ompletar( :ssim, o ato da #riação não !ratuito ou desinteressado, mas ne#essrio e ra#ional, se!undo o "ermetismo( 3onsidereesse tre#"o do “Mis#urso de ermes a Tat = re#ept#ulo de mistura ou a mGnada$%$orpus #ermeticum CU& “Ae me forçares a di9er al!o mais atrevido, essen#ial ]Meus^estar pren"e de todas as #oisas para fa957las( 3omo impossHvel ue se #rie al!o semum #riador, tambm impossHvel a esse #riador não eistir a menos ue ele estea otempo todo #riando tudo` .le pr-prio as #oisas ue são e auelas ue não são$1*( 3onsidere tambm o $orpus #ermeticum “: atividade de Meus a vontade e Auaess5n#ia uerer ue todas as #oisas seam$1+( Finalmente, #onsidere o $orpus

 #ermeticum CU “.sses dois representam tudo ue " o ue vem a ser e o ue o fa9? e impossHvel separ7los um do outro( 8en"um #riador pode eistir sem al!o ue est por vir$1P( :ssim, de a#ordo #om o "ermetismo, Deus precisa da cria@*o para ser Deus1Q(.ssa aborda!em "ermti#a da #riação #entral tambm ao pensamento "e!eliano(

@as não para por aH os "ermti#os não s- defendem ue Meus reuer uma #riação,#omo tambm tornam uma #riatura espe#Hfi#a, o "omem, um a!ente #ru#ial na auto7atuali9ação de Meus( = "ermetismo defende ue o "omem pode #on"e#er Meus, e ue o#on"e#imento do "omem sobre Meus ne#essrio para a #ompletude deste mesmoMeus( 3onsidere as palavras do $orpus #ermeticum “Meus, pois, não i!nora a"umanidade? ao #ontrrio, ele re#on"e#e7se nela #ompletamente e desea serre#on"e#ido( Eara a "umanidade, essa a úni#a libertação o #on"e#imento de Meus( W aas#ensão ao =limpo$1V( 8o $orpus #ermeticum C per!unta7se “uem mais visHvelue Meus[ .is por ue ele fe9 todas as #oisas para ue por meio de todas elas vo#5

 possa ol"ar para ele$20( 3omo observa art" FoNden, o ue Meus ganha da #riação ore#on"e#imento “: #ontemplação "umana de Meus de al!uma maneira um pro#esso

de mão dupla( 8ão apenas o omem desea #on"e#er Meus, mas Meus tambm deseaser #on"e#ido pela mais !loriosa das Auas #riaç<es o omem$21( esumidamente, o

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obetivo do "omem #onuistar o #on"e#imento de Meus %ou “a sabedoria de Meus$,teosofia&( :o fa9er isso, o "omem atende ; pr-pria ne#essidade de Meus de serre#on"e#ido( : sabedoria "umana de Meus se torna o #on"e#imento de Meus de simesmo( Mesta maneira, a ne#essidade pela ual o #osmo #riado a ne#essidade doauto#on"e#imento, atin!ido por meio do re#on"e#imento( Uariaç<es dessa doutrina

 podem ser en#ontradas ao lon!o da tradição "ermti#a(

W importante entender o si!nifi#ado dessa doutrina na "ist-ria das ideias( 8a aborda!em udai#o7#ristã da #riação, a #riação do mundo e a ordem de Meus para ue a "umanidade busue #on"e#e7Lo e am7Lo pare#e arbitrria, pois não " ra9ão para ue um ser perfeito deva uerer ou pre#isar de al!o22( Eara os "ermti#os, a !rande vanta!em dessa#on#epção ue ela nos di9 porue o #osmos e o deseo "umano de #on"e#er Meuseistem em primeiro lu!ar(

.ssa doutrina "ermti#a da relação “#ir#ular$ entre Meus e a #riação e a ne#essidade do"omem para a #ompletude de Meus #ompletamente ori!inal( 8ão se a#"a essa

#on#epção na filosofia( Todavia, ela re#orrente no pensamento "ermti#o e a prin#ipal identidade doutrinal entre o "ermetismo e o pensamento de e!el(

3om efeito, ele freuentemente des#rito #omo um mHsti#o? de fato, at ele mesmo sedes#revia #omo um %v( #apHtulo 4&( @as o misti#ismo um #on#eito elsti#o ue seinsere em vrias ideias radi#almente diferentes? Todas as formas de misti#ismo bus#amde al!uma maneira o #on"e#imento, a eperi5n#ia ou a unidade #om o divino( Ae nos

 per!untarmos ue tipo de mHsti#o e!el , a resposta ser um "ermti#o( = "ermetismo freuentemente #onfundido #om outra forma de misti#ismo o !nosti#ismo%espe#ialmente nos re#entes estudos sobre e!el&2O( Tanto o !nosti#ismo uanto o"ermetismo a#reditam ue uma “#entel"a$ divina est presente no "omem, e ue ele

 pode vir a #on"e#er Meus( .ntretanto, o !nosti#ismo d uma aborda!em absolutamentene!ativa da #riação( .le não #onsidera a #riação parte do ser de Meus ou #omo al!o ued a “#ompletude$ a Meus, tampou#o #onsidera ue Meus de al!uma forma pre#ise do"omem para #on"e#57Lo( = "ermetismo tambm freuentemente #onfundido #om oneoplatonismo( 3omo os "ermti#os, Elotino #onsidera ue o #osmos um pro#esso#ir#ular em ue o Xm emana e tudo a .le retorna( Miferente dos "ermti#os, Elotino não#onsidera ue o Xm #ompleto pela #ontemplação ue o "omem fa9 Mele( %A#ulosdepois, porm, o neoplatonismo de Ero#lo e da enas#ença foi influen#iado pelo"ermetismo(&

=utro paralelo entre o "ermetismo e e!el o pro#esso de ini#iação pelo ual a porçãointuitiva do intele#to treinada para ver a a9ão inerente ao mundo( 3omo observaFoNden, a ini#iação "ermti#a pare#e dividir7se em duas partes uma lida #om oauto#on"e#imento e a outra #om o #on"e#imento de Meus24( Eode ser fa#ilmentemostrado no simples nHvel te-ri#o ue essas duas estão intimamente li!adas, se!undo os"ermti#os( 3on"e#er verdadeiramente a si estar apto a fa9er um dis#urso #ompletosobre as #ondiç<es do pr-prio ser, e isso envolve falar sobre Meus e todo o Aeu #osmos(3omo #olo#a Ei#o della @irandola, “auele ue se #on"e#e, #on"e#e todas as #oisas emsi$2*( :lm disso, no =riente Er-imo era #omum retratar Meus #omo um ser pairandoestran"amente entre a trans#end5n#ia e a iman5n#ia( 8esses termos, a #onuista dailuminação envolvia de al!uma maneira ver o divino em si mesmo, tornando7se tambm

o #on"e#edor neste mesmo ato ]um ser^ divino(

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 8-s realmente não sabemos se o #ulto de ermes empre!ou os tetos "ermti#os #omoes#ritos sa!rados( Aabemos pou#o ou uase nada dos seus ritos de ini#iação e de #omoeles viveram( 3ontudo, podemos di9er, por eemplo, ue a ini#iação "ermti#a se difereda ini#iação aos mistrios eleusinos da r#ia 3lssi#a( W fato tambm ue pou#osabemos sobre o ue a#onte#ia em .l5usis, mas pare#e ser o #aso ue a iluminação l

#onsistia na parti#ipação em al!um tipo de eperi5n#ia arrebatadora #ua intenção eramudar permanentemente o ini#iado2+( 8ão sabemos ual era essa eperi5n#ia, massabemos ue ela podia a#onte#er #om ovens e vel"os, ri#os e pobres, edu#ados eanalfabetos( 8ão esse o #aso uando falamos da tradição "ermti#a( : salvação paraos "ermti#os se d, #onforme vimos, por meio da gnosis, ou sea, pelo #on"e#imento(Csso pode ser atin!ido somente por meio do trabal"o duro e, portanto, s- al!uns#onse!uem( ermes #itado no $orpus #ermeticum A39  afirmando ue seusensinamentos “mant5m o#ulto o si!nifi#ado das palavras$, es#ondido do dis#ernimentodaueles ue não mere#em(

Aeria um erro, #ontudo, tratar a ini#iação "ermti#a #omo al!o puramente intele#tual( :

iluminação não o#orre ao simplesmente aprender um #onunto de doutrinas( = ini#iadonão deve apenas #on"e#er a doutrina, mas tambm deve ter a eperi5n#ia real daverdade da doutrina( .le deve ser #uidadosamente !uiado ; iluminação? #om efeito, eledeve eplorar os be#os es#uros ue prometem a iluminação, mas não a dão( :penasdessa maneira, ir a verdadeira doutrina si!nifi#ar al!o? apenas dessa maneira mudarde fato a vida do ini#iado( FoNden afirma ue a ini#iação "ermti#a en#arada #omo“uma eperi5n#ia verdadeira ue epande todas as #apa#idades daueles ue embar#amnela$ e #ita o $orpus #ermeticum 93 , ue di9 ue “ um #amin"o etremamentetortuoso abandonar auilo a ue se est a#ostumado e se possui a!ora para e retraçar os

 pr-prios passos rumo ;s anti!as #oisas primordiais$2P( Ueremos no #apHtulo 4 ue e!el preserva tanto a importBn#ia intele#tual uanto a emo#ional dessa #on#epção "ermti#ade ini#iação(

: iluminação, tanto para os autores da #ermetica uanto para e!el, não apenas umevento intele#tual espera7se ue ela mude a vida do iluminado( : filosofia, para e!el,trata7se de ser viven#iada2Q( .m suma, o "omem ue atin!e a Selbstbe/usstsein  o"omem ue se torna selbstbe/usst  #onfiante, auto7atuali9ado e não mais um ser"umano ordinrio( Klaus Uondun! es#reve ue “= "ermti#o não pre#isa es#apar domundo para se salvar( .le uer aduirir #on"e#imento do mundo para poder epandir asi mesmo e utili9ar esse #on"e#imento para penetrar no eu divino( = "ermetismo uma

 gnosis positiva, por assim di9er, devota ao mundo2V( Aaber tudo de al!uma maneira ter

#ontrole sobre tudo( W isso ue eu #"amo do ideal do "omem #omo ma!o, #on#epçãoúni#a da #ermetica( Uea, por eemplo, o $orpus #ermeticum 93  “Todos aueles ueouviram a pro#lamação e se imer!iram no espHrito ]nous^ parti#iparam do #on"e#imentoe se tornaram perfeitos ]ou “#ompletos$, teleioi^, pois re#eberam espHrito( @as auelesue perderam o ponto de pro#lamação são pessoas de ra9ão ]ou “dis#urso$, logion^

 porue não re#eberam o ]dom do^ espHrito e tambm não #on"e#em o prop-sito ou osa!entes da sua ida ao nous$O0( .m outras palavras, os "omens de #ompletoauto#on"e#imento ue #on"e#em at mesmo o “prop-sito ou os a!entes do seu devir$são seres "umanos perfeitos( Ae e!el não a#reditava ue o "omem podia literalmentese tornar Meus, ele #ertamente a#reditava ue o "omem sbio era daimBnico um

 parti#ipante muito mais do ue meramente "umano na vida divina(

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 8o $orpus #ermeticum, en#ontramos uma “posição de li!ação$ entre o o#ultismoe!Hp#io e o "ermetismo moderno de e!el e outros( .m ve9 de #on#eber as palavras#omo portadoras de poderes o#ultos, elas passaram a ser vistas #omo portadoras de umtipo de #apa#itação eisten#ial( = ideal da teosofia "ermti#a se torna a formulação deum “dis#urso #ompleto$ %teleeis logos, “dis#urso perfeito$ ou talve9 “dis#urso

enciclo pdi#o$, ue si!nifi#a, evidentemente, dis#urso “#ir#ular$&( uando aduirido, odis#urso #ompleto ue trata do todo da realidade, transformar e #apa#itar a vida doiluminado( :ssim es#reve e!el em um fra!mento preservado por osen>ran9

Todo indivHduo um elo #e!o na #adeia da absoluta ne#essidade ao lon!o do ual omundo se desenvolve( Todo indivHduo pode elevar7se para dominar uma !rande partedessa #adeia, mas apenas se ele #ompreender o obetivo dessa !rande ne#essidade e, por virtude do seu #on"e#imento, aprender a falar as palavras m!i#as ue evo#am suaforma( um #on"e#imento para simultaneamente absorver e se elevar a#ima daener!ia total do sofrimento e da antHtese, ue dominou o mundo e todas as formas doseu desenvolvimento por mil"ares de anos? esse #on"e#imento pode ser obtido somente

na filosofia(O1

=utro paralelo entre o "ermetismo e e!el a anlise do divino em um #onunto de“modos$ ou “momentos$( =s "ermti#os não se #ontentam #om a ideia de um Meusin#o!nos#Hvel( .m ve9 disso, eles bus#am penetrar no mistrio divino( .les afirmam ue possHvel #on"e#er Meus de maneira fra!mentada uando passa7se a entender osdiferentes aspe#tos do divino( = mel"or eemplo a 3abala, tanto na sua forma udai#auanto na #ristã( Lúlio, Druno, Eara#elsus, D"me, =etin!er e vrios outros na tradição"ermti#a sustentam essa #rença(

=utro paralelo entre o "ermetismo e e!el a doutrina das relaç<es internas( Eara os"ermti#os, o #osmos não est frouamente #one#tado ou, para usar uma lin!ua!em"e!eliana, disposto em um #onunto eternamente rela#ionado de parti#ulares( :o#ontrrio, se!undo essa doutrina, tudo est internamente #one#tado, uma #oisaentrelaçada #om a outra( @esmo ue o #osmos possa vir a estar "ierarui#amentedisposto, " forças ue se sobrep<e a isso e unifi#am todos os nHveis( Forças divinas#on"e#idas ora por “ener!ia$ e ora por “lu9$ per#orrem o todoO2( .ste prin#Hpio estepresso mais #laramente na 5Cbua Esmeraldina de ermes Trime!istus, ue lo!o nase!unda lin"a tem a frase “= ue est embaio #omo o ue est em #ima$( .ssamima se tornou o do!ma #entral do o#ultismo o#idental, dado ue ele formou a base

 para uma doutrina da unidade do #osmos por meio de simpatias e #orrespond5n#ias

entre seus vrios nHveis( : impli#ação mais importante dessa doutrina a ideia de ue o"omem o mi#ro#osmo onde o todo do ma#ro#osmo refletido( = auto#on"e#imento, portanto, leva ne#essariamente ao #on"e#imento do todo(

.m resumo, as doutrinas da #ermetica ue se tornaram #ara#terHsti#as #onstantes natradição "ermti#a podem ser listadas da se!uinte maneira

1( Meus reuer a #riação para poder ser Meus(

2( Meus , em al!um sentido, “#ompletado ]pelo "omem^$ ou tem uma ne#essidade deser preen#"ido pela #ontemplação do "omem a .le(

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O( : iluminação trata7se de #apturar o todo da realidade em um dis#urso #ompleto een#i#lopdi#o(

4( = "omem pode se aperfeiçoar atravs da gnosis ele !an"a poder por meio da possedo dis#urso #ompleto(

*( = "omem pode #on"e#er aspe#tos ou “momentos$ de Meus(

+( 8e#essita7se de um est!io ini#ial de purifi#ação para purifi#ar o ini#iado de falsos pontos de vista intele#tuais antes de re#eber a verdadeira doutrina(

P( = Xniverso um todo internamente rela#ionado ue perva!ado por ener!ias#-smi#as(

Eara deiar #laro os paralelos entre essas doutrinas e a de e!el, eis uma ante#ipação doue se ver no restante do livro

1( e!el afirma ue o ser de Meus envolve a “#riação$ esse o assunto da sua ilosofia

da &ature'a( : nature9a um momento do ser de Meus(

2( e!el afirma ue Meus de al!uma maneira “#ompleto$ ou atuali9ado %tornado emato& pela atividade intele#tual da "umanidade a “filosofia$ o est!io final naatuali9ação do .spHrito :bsoluto( e!el sustenta a #on#epção “#ir#ular$ de Meus e do#osmos a ue me referi anteriormente, auela ue envolve Meus “retornando a Ai$ everdadeiramente tornando7se Meus atravs do "omem(

O( : filosofia de e!el enciclopédica para todos os efeitos, ele bus#a finali9ar afilosofia #apturando o todo da realidade em um dis#urso #ompleto e #ir#ular(

4( e!el a#redita ue n-s nos elevamos a#ima da nature9a e tornamo7nos mestres denossos pr-prios destinos por meio da profunda gnosis provida por esse sistema(

*( : %ógica de e!el uma tentativa de des#obrir os aspe#tos ou “momentos$ de Meus#omo um sistema de ideias( .m uma famosa passa!em da $iência da %ógica, e!elafirma ue a l-!i#a “deve ser entendida #omo um sistema de ra9ão pura, #omo a esferado puro pensamento( .ssa esfera a verdade #omo ela , sem vus, em sua pr-prianature9a absoluta( Eode7se di9er, portanto, ue esse #onteúdo a eposição de Meus tal

#omo .le em sua ess5n#ia eterna, antes da #riação da nature9a e de um espHrito finito($

+( : enomenologia do Esp!rito de e!el representa, no sistema "e!eliano, um est!ioini#ial de purifi#ação ao ual auele ue uer ser fil-sofo purifi#ado dos falsos pontosde vista intele#tuais para ue assim possa re#eber a verdadeira doutrina do3on"e#imento :bsoluto %l-!i#a7nature9a7espHrito&(

P( : aborda!em da nature9a feita por e!el reeita a filosofia me#ani#ista( .le sustenta oue os se!uidores de Dradle\ mais tarde #"amariam de doutrina de “relaç<es internas$,#ontra o entendimento tipi#amente moderno me#ani#ista das #oisas, ue são tratadas emtermos de “relaç<es eternas$(

Hegel! "m olhar meta#$sico

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Mada a evid5n#ia do lu!ar ue e!el o#upa na tradição "ermti#a, pare#e surpreendenteue tão pou#os estudiosos de e!el ten"am per#ebido isso( = assunto lo!o deiado delado #omo se fosse al!o sem importBn#ia ou desinteressante %não nen"uma das duas#oisas&( 3ostumeiramente, ele tratado #omo relevante apenas ; uventude de e!el %oue falso&( 3ertamente uma das ra9<es dessa atitude a espe#iali9ação dis#iplinar(

Eou#os estudiosos da "ist-ria da filosofia #"e!am a estudar os pensadores "ermti#os(=utra ra9ão a re#ente tend5n#ia entre os influentes estudiosos de e!el ue di9em serum disparate tratar e!el #omo al!um ue tivesse qualquer  interesse srio emmetafHsi#a ou teolo!ia? o ue dir então o envolvimento em al!um tipo de metafHsi#a eteolo!ia e-ti#as ue en#ontramos no "ermetismo( .ssa a dita “leitura não7metafHsi#a$de e!el( 3omo observou 3\ril =Ze!an, ela anda de mãos dadas #om a leitura“antiteol-!i#a$OO( Eor eemplo, Mavid Kolb es#reve “.u uero a#ima de tudo evitar aideia de ue e!el forneça uma #osmolo!ia ue in#lui a des#oberta de uma nova emaravil"osa super7entidade, um eu #-smi#o ou espHrito do mundo ou super7mente$O4(@as eatamente isso ue e!el fa9(

: frase “leitura não7metafHsi#a$ pare#e ter sua ori!em em Klaus artmann, ue em seuinfluente arti!o de 1VP2, “e!el Xma leitura não7metafHsi#a$, identifi#ou o sistema dee!el #omo uma “"ermen5uti#a de #ate!orias$O*( Mentre outros #on"e#idos propositoresdessa aborda!em ue artmann d, " tambm Kenle\ o\#e Move, Rilliam @a>er,Terr\ Ein>ard e i#"ard Mien Rinfield(

: leitura não7metafHsi#a/antiteol-!i#a #onsiste em i!norar ou não #onsiderar um assuntodi!no de ser tratado as vrias passa!ens fran#amente metafHsi#as, #osmol-!i#as,teol-!i#as e teos-fi#as nos es#ritos e #onfer5n#ias de e!elO+( :ssim, a leitura não7metafHsi#a passa a ser mais uma revisão de e!el ue uma interpretação( Aeusdefensores admitem isso %artmann, por eemplo&, mas #om freu5n#ia eles ofere#emsua “leitura$ #omo oposição ;s outras interpretaç<es de e!el( :lm disso, não a#idental ue os mesmos autores finali9em suas “interpretaç<es$ atribuindo uma polHti#ade esuerda a e!el, pois eles são, na verdade, os "erdeiros intele#tuais dos “ovens"e!elianos$ do s#ulo C ue tambm fa9iam “interpretaç<es$ não7metafHsi#as eantiteol-!i#as de e!el( : leitura não7metafHsi#a simplesmente trata de um e!el semtudo auilo ue possa pare#er ofensivo ao espHrito moderno, se#ular e liberal( Csso,entretanto, não si!nifi#a ue estou ofere#endo uma leitura “"e!eliana de direita$ #omoalternativa( .stou simplesmente lendo e!el( :o fa9er isso, espero #ontribuir #om a“anlise apartidria, "ist-ri#a e tetual$ do pensamento de e!el, pre#oni9ada por LouisMupr(OP

.stou #onven#ido de ue tal leitura #olo#a ineuivo#amente a filosofia de e!el natradição da metafHsi#a #lssi#a( :o dar esse ol"ar, estou em #onsonBn#ia #om ainterpretação amplamente “ontoteol-!i#a$ ue @artin eide!!er 6 ue #un"ou o termo

 6 e por estudiosos #omo Ralteraes#">e, .mil Fa#>en"eim, 3\ril =Ze!an, @al#olm3lar>, :lbert 3"apelle, 3laude Druaire e CNan ClinOQ( : “ontoteolo!ia$ refere7se ;euação entre o Aer, Meus e o lo!os( : aborda!em ue e!el d ao :bsoluto estruturalmente id5nti#a ; ue :rist-teles fa9 do Aer #omo AubstBn#ia %ousia& o ue" de mais real, independente e autossufi#iente( e!el identifi#ou o :bsoluto #om Meustanto publi#amente %em livros e #onfer5n#ias& #omo privadamente %em notas& emambos os #asos de modo fran#o e direto, sem mar!em para interpretaç<es muito

diferentesOV

( e!el não ofere#e as #ate!orias da sua l-!i#a #omo meros “dispositivos"ermen5uti#os$, mas sim #omo formas eternas, momentos ou aspe#tos da @ente Mivina

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%Cdeia :bsoluta&( .le trata a nature9a #omo se ela estivesse “epressando$ as ideiasdivinas em formas imperfeitas( .le fala de um “.spHrito do @undo$ e o usa paraepli#ar #omo a radiestesia e o ma!netismo animal fun#ionam( .le estrutura toda a suafilosofia em volta da AantHssima Trindade #ristã e afirma ue #om o #ristianismo, o“prin#Hpio espe#ulativo da filosofia foi re"elado para a "umanidade$40( .le nos di9 6

novamente de forma direta 6 ue o .stado Meus na Terra(

 8ão veo ra9ão para não levar a srio as palavras de e!el em ualuer desses assuntos(@esmo porue estou interessado apenas no ue e!el pensou, não em ue e!el de"e ter pensado( Cndubitavelmente, o sentido ue e!el d ; metafHsi#a #lssi#a e ao#ristianismo transformador, pois ele não foi um mero fiel( 3ontudo, seus#omprometimentos metafHsi#os e reli!iosos não eram eotri#os( .le a#redita ue o:bsoluto e o .spHrito do @undo, et#( são seres reais? eles s- não são reais no sentido emue as #on#epç<es tradi#ionais, devotas e “representativas$ t5m deles41( Ae e!el seaparta da tradição metafHsi#a em ualuer momento, para tirar o seu ar de falsamodstia( e!el não afirma ser um mero bus#ador da verdade( .le afirma ue a

en#ontrou(

 

O autor

%eonildo &rombela '(nior

)otas

1( :ntoine Faivre( (ccess to <estern Esotericism, vol( C %:lban\ AtateXniversit\ of 8eN _or> Eress, 1VV4&, p( O*(

2( v( .rnst Den9, 5he -stical Sources of +erman )omantic 1hilosoph-,trad( Dlair ( e\nolds e .uni#e @( Eaul %:llison Ear>, Ea( Ei#>Ni#>

Eubli#ations, 1VQO&, p( 2(

O( Cbid(, p( 2(

4( Cbid(, p( 2(

*( : biblio!rafia %presente no final da obra& #ontm todas as informaç<essobre todas as obras men#ionadas nesta introdução( .m !eral, eumen#ionei apenas livros aui( 8a biblio!rafia, tanto livros uanto arti!osestão listados(

+( @( @( 3ottier refere7se ; filosofia de e!el #omo “Xne nose#"ristolo!iue$ ]uma #ristolo!ia !n-sti#a^ em seu %:(theisme Du 8eune

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 ar>= Ses ?rigines #egeliennes %Earis Urin, 1V+V&, pp( 207O0( .ri#Uoe!elin tambm defendeu, de maneira #rHti#a, ue e!el um“pensador !n-sti#o$, por eemplo, em Science, 1olitics, and +nosticism %Ras"in!ton, M(3( e!ner\ ateNa\, 1V+Q&, pp( 40744, +P7Q0(

P( J( 8( FCndla\, #egel= ( )eE>amination %8eN _or> =ford Xniversit\Eress, 1V*Q&, p( 4V(

Q( .ri# Uoe!elin, “esponse to Erofessor :lti9erZs Y: 8eN istor\ and a 8eN but :n#ient odZ$ em $ollected <ors of Eric 3oegelin, vol( 12, 1ublished Essa-s, 6767F, ed( .llis Aando9 %Daton ou!e LouisianaAtate Xniversit\ Eress, 1VV0&, p( 2VP(

V( .ri# Uoe!elin, “=n e!el : Atud\ in Aor#er\$, 1ublished Essa-s, 67

67F, p( 222? #f( Science, 1olitics, and +nosticism, p( +Q7+V e em seu?rder and #istor-, "ol. F, 9n Search of ?rder %Daton ou!e Louisiana

Atate Xniversit\ Eress, 1VQP&, pp( *47P0(

10( v( Mavid Rals", 5he Esoteric ?rigins of odern 9deological 5hought=

 4oehme and #egel  %Missertação de E"(M(, Xniversit\ of Uir!inia, 1VPQ&(v( tambm 5he -sticism of 9nner/orldl- ulfillment= ( Stud- of 8acob

 4Ghme %ainesville Xniversit\ Eresses of Florida, 1VQO&, “T"eistori#al Miale#ti# of Apirit Ja#ob D"meZs Cnfluen#e on e!el$ em

 #istor- and and S-stem= #egel:s 1hilosoph- of #istor-, ed( obert L(Eer>ins %:lban\ Atate Xniversit\ of 8eN _or> Eress, 1VQ4&, p( 2Q e “:@\t"olo!\ of eason T"e Eersisten#e of Eseudo7A#ien#e in t"e @odernRorld$ em Science, 1seudoScience, and Htopianism in Earl- odern

5hought , ed( Atep"en :( @#Kni!"t %3olumbia Xniversit\of @issouriEress, 1VV2&(

11( :lm dos es#ritos publi#ados de e!el, as fontes primrias ;s uaisre#orri in#luem #artas, manus#ritos, notas tomadas em #onfer5n#ias,notas de alunos e relat-rios feitos por seus #ontemporBneos a#er#a dasobservaç<es orais do pr-prio e!el( :s notas tomadas por alunos foram

 publi#adas #omo 0us2tse na Enciclopédia das $iências ilosóficas e nasediç<es publi#adas das #onfer5n#ias de e!el sobre "ist-ria da filosofia,arte, reli!ião e "ist-ria do mundo, ue em !rande parte foram publi#adas

a partir de notas tomadas pelos alunos(

12( :lm do uso da ima!ti#a rosa#ru#iana por Da#on, da pro#ura ueMes#artes fe9 ; osa7#ru9, da dHvida de Apino9a ; #abala, da fas#inaçãode Leibni9 pelo rosa#ru#ianismo, #abala e aluimia e da fas#inação ue

 8eNton tin"a #om o milenarismo e #om a aluimia, " evid5n#iastambm de ue Kant estava interessado nas vis<es de .manuelANedenbor!? de ue A#"ellin! estava interessado em D"me,ANedenbor! e @esmer? de ue A#"open"auer estava interessado emD"me, ANedenbor! e Lavater? de ue Rilliam James estava interessadoem ANedenbor!, Fe#"ner, espiritualismo e per#epção etra7sensorial? de

ue 3( A( Eeir#e estava interessado em ANedenbor! e D"me? de ue 3(M( Droad estava interessado em per#epção etra7sensorial? e, nos dias de

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"oe, de ue @i#"ael Mummett est interessado em #artas de tarG%@i#"ael Mummett, 5he 3iscontiSfor'a 5arot $ards ]8eN _or> (Dra9iller, 1VQ+^&(

1O( :ntoine Faivre es#reve ue o "ermetismo passou a ser usado para

“desi!nar a atitude !eral do espHrito ]ou mentalidade^ ue suba9 a umavariedade de tradiç<es e/ou #orrentes paralelas ; aluimia, tais #omo"ermetismo ]a reli!ião do $orpus #ermeticum^, astrolo!ia, #abala,teosofia #ristã e philosophia oculta ou magia %no sentido ue essas duas

 palavras aduiriram na enas#ença, isto , de uma visão m!i#a danature9a ue a entendia #omo um ser vivo repleto de sinais e#orrespond5n#ias ue poderiam ser de#ifradas e interpretadas&$( v(Faivre, “enaissan#e ermeti#ism and Restern .soteri#ism$ em +nosis

and #ermeticism, ed( oelof van den Droe> e Router J( ane!raaf%:lban\ Atate Xniversit\ of 8eN _or> Eress, 1VVQ&, p( 110( Faivre fa9uma distinção entre “"ermeti#ismo$ e “"ermetismo$, sendo ue este

último desi!na o $orpus #ermeticum e seu meio intele#tual(

14( 8ota do tradutor ! W salutar notar ue isso na verdade seria o “deHsmo$( 8a #rença #at-li#a tem7se a C!rea, ue o 3orpo @Hsti#o de 3risto, e osAa#ramentos ue, mais do ue pr-imos, vão at o Bma!o de #ada um(

1*( #ermetica, trad( Drian 3open"aver %3ambrid!e 3ambrid!e Xniversit\Eress, 1VV2&, p( 20

1+( Cbid(, p( O0(

1P( Cbid(, p( *+(

1Q( Tuveson, entretanto, vai muito alm uando identifica essa posição #omo "ermetismo stricto sensu e reeita outros aspe#tos 6 tais #omo ointeresse em aluimia e #orrespond5n#ias 6 #omo se fossem “a#identais$ou “não verdadeiramente$ "ermti#os( .rnest Lee Tuveson, 5he ("atars

of 5hrice +reat #ermes= &a (pproach to )omanticism %LeNisbur!, Ea(Du#>nell Xniversit\ Eress, 1VQ2&, p( 1*71+? p( O4(

1V( 3open"aver, p( OO(

20( Cbid(, p( 42(

21( art" FoNden, 5he Eg-ptian #ermes= ( #istorical (pproach to the %ate

 1agan ind  %Erin#eton, 8(J( Erin#eton Xniversit\ Eress, 1VQ+&, p( 104(

22( 8ota do tradutor W pre#isamente a !ratuidade, pelo menos no#ristianismo, a ess5n#ia primeira do amor( = autor aparentemente uisdeiar a entender ue " aueles ue s- a#reditam em amor se "ouveral!um interesse es#uso(

2O( Uea, por eemplo, erald anratt\, “e!el and t"e nosti# Tradition C$, 1hilosophical Studies %Crlanda&, p( O0 %1VQ4& pp( 2O74Q? “e!el and t"e

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nosti# Tradition CC$, 1hilosophical Studies %Crlanda&, p( O1 %1VQ+71VQP&, p( O017O2*? Jeff @its#"erlin!, “T"e Cdentit\ of t"e uman and t"eMivine in t"e Lo!i# of Ape#ulative E"ilosop"\$ em #egel and the

5radition= Essa-s in #onor of #. S. #arris, ed( @i#"ael Daur e Jo"nusson %Toronto Xniversit\ of Toronto Eress, 1VVP&, pp( 14O71+1( =

entendimento ue @its#"erlin! tem do !nosti#ismo deriva do 3ol-uiode @essina sobre as =ri!ens do nosti#ismo( Todavia, #omo observaoelof van denDroe>, o 3ol-uio de @essina define o !nosti#ismo demaneira tão ampla “ue ele perde toda a substBn#ia #on#reta$( U( Droe>,“nosti#ism and ermetism in :ntiuit\$ em +nosis and #ermeticism,

 p(4(

24( FoNden, 5he Eg-ptian #ermes, p( 10+(

2*( iovanni Ei#o della @irandola, ?ration on the Dignit- of an, trad( :(obert 3aponi!ri %3"i#a!o e!ner\ ateNa\, 1V*+&, p( 2Q(

2+( Josep" 3ampbell, 5ransformation of -th 5hrough 5ime %8eN _or>arper and oN, 1VV0&, p( 1QV(

2P( FoNden, 5he Eg-ptian #ermes, p( 10+(

2Q( (A( arris, #egel:s De"elopment , "ol. I, &ight 5houghts %=ford=ford Xniversit\ Eress, 1VQO&, p( 1V1(

2V( Uondun!, “@illenarianism, ermeti#ism, and t"e Aear#" for a XniversalA#ien#e$( Cn Science, 1seudoScience, and Htopianism in Earl- odern

5hought , ed( Atep"en @#Kni!"t, %3olumbia Xniversit\ of @issouriEress, 1VV2&, p( 1O2(

O0( 3open"aver, p( 1+71P? !rifos meus(

O1( Karl osen>ran9, +eorg <ilhelm riedrich #egels %eben %MarmstadtRissens#"aftli#"e Du#"!esells#"aft, 1V+V&, p( 141( = fra!mento referido por arris e Kno #omo “: Auposta 3on#lusão do Aistema daUida Wti#a$( U( ( A( arris e T( @( Kno, S-stem of Ethical %ife and

 irst 1hilosoph- of Spirit  %:lban\ Atate Xniversit\ of 8eN _or> Eress,

1VPV&, p( 1PQ(

O2( FoNden, 5he Eg-ptian #ermes, p( PP(

OO( v( 3\ril =Ze!an, 5he #eterodo> #egel  %:lban\ Atate Xniversit\ of 8eN _or> Eress, 1VV4&, p( Q+(

O4( Mavid Kolb, $ritique of 1ure odernit-= #egel, #eidegger, and (fter

%3"i#a!o Xniversit\ of 3"i#a!o Eress, 1VQ+&, p( 4274O(

O*( Klaus artmann, “e!el : 8on7@etap"\si#al UieN$ in #egel= (

$ollection of $ritical Essa-s, ed( :lasdair @a#Cnt\re %8otre MameXniversit\ of 8otre Mame Eress, 1VP2&, p( 124(

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O+( =s ue fa9em a leitura não7metafHsi#a e antiteol-!i#a devem arranaruma maneira de epli#ar a se!uinte passa!em “Meus o úni#o obeto dafilosofia( ]= essen#ial dela ^ se o#upar de Meus, de apreender tudo 8ele,de levar tudo de volta a .le, assim #omo obter tudo ue pr-prio deMeus e ustifi#ar tudo apenas #omo ori!inrio de Meus, #omo sustentado

atravs da relação #om .le, #omo vivido pelo bril"o Mele e #omo viventeno interior da pr-pria mente de Meus( :ssim, filosofia é teolo!ia, euando se trabal"a #om a filosofia 6 ou mel"or, na filosofia 6 se est aserviço de Meus$ % %i@Jes Sobre a ilosofia da )eligi*o Q4 e %i@Jes

Sobre a ilosofia do Direito 9 O74&

OP( Louis Mupr, pref#io ao livro 5he #eterodo> #egel  de 3\ril =Ze!an, p( i

OQ( @artin eide!!er, “T"e =nto7T"eo7Lo!i#al 3onstitution of@etap"\si#s$ in 9dentit- and Difference, ed( bilHn!ue, trad( Joan

Atambau!" %8eN _or> arper and oN 1V+V&? Ralter Jaes#">e, )eason in )eligion= 5he ormation of #egel:s 1hilosoph- of )eligion,trad( J( @i#"ael AteNard e Eeter od!son %Der>ele\ Xniversit\ of3alifornia, 1VV0&, Die )eligionsphilosophie #egels %MarmstadtRissens#"aftli#"e Du#"!esells#"aft, 1VQO&, “Ape#ulative and:nt"ropolo!i#al 3riti#ism of eli!ion : T"eolo!i#al =rientation toe!el and Feuerba#"$, 8ournal of the (merican (cadem- of )eligion 4Q%1VQ0& pp( O4*7O+4? .mil Fa#>en"eim, 5he )eligious Dimension of

 #egel:s 5hought  %Dloomin!ton Cndiana Xniversit\ Eress, 1V+P&?@al#olm 3lar>, %ogic and S-stem= ( Stud- of the 5ransition from

“3orstellung” to 5hought in the 1hilosoph- of #egel  %T"e a!ue@artinus 8i"off, 1VP1&? :lbert 3"apelle, #egel et la religion, O vols(%Earis Wditions Xniversitaires, 1V+471VP1&? 3laude Druaire, %ogique et

religion chrétienne dans la philosophie de #egel  %Earis Wditions duAeuil, 1V+4&? CNanClin, Die 1hilosophie #egels also contemplati"e

+otteslehre %Derne Fran#>e, 1V4+&(

OV( .m uma #arta de O de ul"o de 1Q2+ endereçada a Friedri#" :u!ustottreuT"olu#" %1PVV71QPP&, e!el es#reve “.u sou luterano e, pormeio da filosofia, fui definitivamente e #ompletamente #onfirmado noluteranismo$( U( #egel= 5he %etters, trad( 3lar> Dutler e 3"ristianne

Aeiler %Dloomin!ton Cndiana Xniversit\ Eress, 1VQ4&, p( *20? #f(Jo"annes offmeister, 4riefe "on und an #egel , 4 vols( %ambur! Feli@einer, 1V*271V+1&( offmeister enumera as #artas( .sta a *14a(Moravante, refer5n#ias ;s #artas de e!el serão es#ritas da se!uintemaneira “Dutler, *20? offmeister *14a$( .m 1Q2+ uma peuena#ontrovrsia sur!iu em Derlim uando um padre ue #ompare#eu a uma#onfer5n#ia de e!el re#lamou ao !overno a#er#a do #onteúdoale!adamente anti#at-li#o proferido por e!el( = fil-sofo respondeu“Fosse para pro#essar7me por #ausa das afirmaç<es ue fi9 do alto p-dioue #ausaram perturbação aos alunos #at-li#os, os #ulpados seriamsomente eles mesmos por #ompare#erem a #onfer5n#ias filos-fi#as em

uma universidade protestante e perante um professor ue se or!ul"a deter sido bati9ado e #riado #omo um luterano, o ue por sinal ainda e

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#ontinuar sendo$ %v( Dutler, *O2&( .m uma #rHti#a no ano de 1Q2V de K(F( s#"el, (phorismen Kber &icht/issen und absolutes <issen im

3erh2ltnisse 'ur christlichen +laubenserenntnis, e!el deia #laro ueele fi#a satisfeito ao ter sua obra tratada #omo “filosofia #ristã$( 4erliner

Schriften, 666L6, ed( .va @olde"auer e Karl @ar>us @i#"el

%Fran>furt am @ain Au"r>amp, 1VQ+&(

40( .m %i@Jes sobre a #istória da ilosofia, e!el observa ue “os arianos, por não re#on"e#erem Meus em 3risto, a#abaram #om a ideia deTrindade e, #onseuentemente, #om o prin#Hpio de toda a filosofiaespe#ulativa$ %O20&( J( 8( Findla\ es#reve ue “todo o sistema ]dee!el^ pode ser de fato uma tentativa de ver os mistrios #ristãos emualuer #oisa, em todos os pro#essos naturais, em todas as formas deatividade "umana e em toda transição l-!i#a$ % #egel= ( )eE>amination,

 p( 1O1&(

41( .m ( $iência da %ógica %vol( C .n#i#lopdia das 3i5n#ias Filos-fi#as em3omp5ndio& e!el fala sobre o pensamento representativo “uando seen#ontra deslo#ad]o^ para a re!ião pura dos #on#eitos, não sabe onde estno mundo($ %)O&