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GT 063: Trajetórias religiosas em trânsito e novas configurações identitárias
O TRÂNSITO RELIGIOSO E O ETHOS DE GRUPO NAS TRADIÇÕES DA UMBANDA E DA JUREMA NA CAPITAL PARAIBANA
Rafael Heneine ¹
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSUNÇÃO, Luiz. O Reino dos Mestres: a tradição da Jurema na Umbanda nordestina. Rio de Janeiro: Pallas, 2010. CARDOSO DE OLIVEIRA, Roberto. O trabalho do antropólogo. 2ª ed. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Editora Unesp, 2006 CASCUDO, Luis da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 12ª ed. São Paulo: Global, 2012. _________________________. Meleagro: pesquisa do Catimbó e notas da magia branca no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Agir, 1978. CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. 4ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2014. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2003. LODY, Raul. Dicionário de arte-sacra & técnicas afro-brasileiras. Rio de Janeiro: Pallas, 2003 PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das letras, 2001 __________________. Segredos guardados: Orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia das letras, 2005 SALLES, Sandro Guimarães. À sombra da Jurema encantada: mestres Juremeiros na Umbanda de Alhandra. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2010. SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção brasileira. 2ª ed. São Paulo: Selo Negro, 2005 ______________________. Exú: o guardião da casa do futuro. Rio de Janeiro: Pallas, 2015. ______________________. O antropólogo e sua magia: trabalho de campo e texto etnográfico nas pesquisas antropológicas sobre a religião Afro-brasileira. 1ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
METODOLOGIA
De cunho etnográfico e antropológico, além da
análise bibliográfica (CASCUDO, 2012; CLIFFORD, 2014;
LAPLANTINE, 2003; LODY, 2003; OLIVEIRA, 2006; PRANDI, 2001 e
2005; SILVA, 2006), através da observação participante e de entrevistas
realizadas com o Babalorixá Obadimeji Beto de Xangô (Pai de Santo e
Mestre de Jurema, Eriberto Carvalho Ribeiro, “Pai Beto”), foi possível
identificar que durante a liturgia da Jurema, processos teúrgicos da
Umbanda em relação as entidades são ali realizados, pois Exu e Pomba-
Gira que são conhecidos como sendo do “povo da rua” são evocados ao
abrir os trabalhos de Jurema. A Jurema Sagrada nesse terreiro não
considera essas entidades como espíritos inferiores, pelo fato de serem
entidades de esquerda, mas são consideradas entidades encantadas.
Encantado, nos cultos da Jurema, é o adjetivo dado para as cidades e os
mestres do Reino da Jurema, pelo seu aspecto mágico (ASSUNÇÃO,
2010; CASCUDO, 1978; SALLES, 2010), e na Umbanda, Exu e Pomba-
Gira apresentam um caráter costumeiro de serem entidades que
trabalham na linha da esquerda (SILVA, 2005 e 2015), e com isso
suponho ser relevante considerar que um aprofundamento exaustivo e
investigativo deve ser feito nesse terreiro, valorizando a tradição
religiosa diante de uma provável inovação.
OBJETIVO
Proponho apresentar no andamento das
investigações do projeto de PIBIC “A mitologia da Jurema Sagrada na
capital Paraibana”, como o resgate das narrativas míticas, assim como
das entrevistas realizadas, evidenciam esse trânsito religioso in loco,
através do modus operandi dos ritos, e das relações de ethos dos devotos
desse terreiro com as entidades ali cultuadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da coleta de dados demonstraram
que esse modus operandi se dá justamente pelo transito religioso e pelo
sincretismo que ocorreu entre as tradições da Umbanda e da Jurema, e
juntamente com a análise bibliográfica, especificamente in loco, isso
pôde ser confirmado na fala de Pai Beto, que diz considerar, como dito,
as entidades de Exu e Pomba-Gira encantadas, isso por serem guardiões.
Uma evidência dessa relação, é que no Cruzeiro
das Almas, no salão externo do templo, se
encontram imagens dispostas com elementos do
culto da Jurema, como por exemplo a imagem de
Exu-Maioral e dos cachimbos e troncos de
Jurema, todos simbolicamente no mesmo altar,
(imagem 1, à esquerda).
Sendo assim, existe a possibilidade que esse
encontro entre essas duas tradições religiosas seja plausível de ser
considerado como uma inovação identitária, nesse terreiro até então
pesquisado, na capital paraibana (PIBIC: 2015-2016).
INTRODUÇÃO
Nos cultos de Jurema realizados no Templo Ilê Asé
Xangô Agodô, que trabalha com o Candomblé e a Jurema, sendo por
isso também chamado de Tenda de Jurema do Caboclo Sete Flechas,
entidades da Umbanda são também evocadas ao iniciar os trabalhos de
Jurema, como por exemplo, Exu e Pomba-Gira, e esse sincretismo é o
que determina um trânsito religioso entre essas duas tradições, a da
Umbanda e a da Jurema, e também sugere, possivelmente, uma nova
identidade.
¹ Bacharelando em Ciências das Religiões pela UFPB. Licenciando em História pela Estácio de Sá. Bolsista do Projeto de PIBIC, A mitologia da Jurema Sagrada na capital Paraibana. Grupo Raízes: Pesquisas sobre religiões mediúnicas e suas interlocuções, linha de pesquisa:A - Religiões afro-brasileiras: aspectos míticos, rituais e simbólicos; história, discursividades e sincretismos. E-mail: [email protected]
A relação de ethos dos
devotos do terreiro se mostrou peculiar durante
alguns ritos de Jurema de chão, quando
novamente elementos da Jurema se misturam
com entidades da Umbanda, e nesse caso, de
acordo com as análises míticas dessas entidades,
existe uma gênese distinta que não se relaciona,
mas que na prática litúrgica não são separadas, e
sim agregadas (imagem 2, à direita).