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SCIENTIA FORESTALIS 447 Sci. For., Piracicaba, v. 37, n. 84, p. 447-458, dez. 2009 Seletividade de habitats pela anta (Tapirus terrestris) e pelo queixada (Tayassu pecari) na Floresta com Araucária Habitat selectivity by lowland tapir Tapirus terrestris and white lipped-peccary Tayassu pecari in Forest with Araucaria Gisley Paula Vidolin¹, Daniela Biondi², Adilson Wandembruck¹ Resumo Estudos de seleção do habitat, além de refletir características importantes do comportamento e da dinâmi- ca populacional, também possibilitam a obtenção de subsídios para a identificação dos componentes de habitat importantes ou mais adequados às espécies, que são aspectos de vital importância para o desenvolvimento de estratégias de conservação. Assim, este estudo foi realizado no período de janeiro de 2007 a julho de 2008 na Fazenda Lageado Grande (FLG), em General Carneiro, Bituruna e Palmas, PR. Os objetivos foram: analisar o uso de habitat pela anta Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) e pelo queixada Tayassu pecari (Link, 1795); e verificar a frequência de uso e seletividade de habitats pelas espécies. Foi elaborado o mapa de uso do solo, onde seis tipos de habitats foram identificados: várzeas (VAZ), vegetação ciliar (VGC), floresta com predomínio de pinheiro (FPP), floresta com predomínio de folhosas (FPF), reflorestamento com pinus (REF) e área antrópica (AIA). Esses habitats foram amostrados para verificar a frequência de uso e seletividade pelas espécies, sendo a quantidade de parcelas de 1 ha a serem amostradas em cada habitat determinada pelo “Cálculo do Tamanho de uma Amostra Aleatória Simples”. A intensidade de uso dos habitats foi medida pela “Freqüência de Ocorrência de Localizações” e a seleção de habitats avaliada mediante o uso do “Índice de Seletividade de Ivlev”. Verificou-se que a anta e o queixada selecionam os ambientes de várzea e vegetação ciliar em proporções superiores à sua respectiva disponibilidade na área e, embora estes sejam os habitats menos disponíveis, são os habitats- chaves para a sobrevivência das espécies. Palavras-Chave: Índice de Seletividade de Ivlev, Paisagem, Habitats-chaves, Floresta com Araucária Abstract Studies of selection of the habitat, beyond reflecting important characteristics of the behavior and the population dynamics, also permit obtaining subsidies for the identification of important habitat components; or those more adequate for the species, since they are aspects of vital importance for the development of conservation strategies. This study was undertaken in the Lageado Grande Farm, located in the municipali- ties of General Carneiro, Bituruna, and Palmas, Paraná State, Brazil, from January 2007 to July 2008. The objectives were to analyze the use of the habitats by the Tapirus terrestris and the Tayassu pecari, and to verify the habitat frequency of use and selectivity by the species. The land use was mapped and six types of habitats were identified: Meadows (MD), gallery forest (GF), forest with the predominance of pine (FPP), forest with the predominance of broadleaves (FPB), pinus plantation (PP), and anthropic area (AA). These habitats were sampled to verify the habitat frequency of use and selectivity by the species. The number of 1-ha areas to be sampled in each habitat was determined by simple random sample size calculation. The habitat use intensity was measured by the frequency of occurrence of locations and the habitat selection was evaluated by the Ivlev selectivity index. It was observed that the Tapirus terrestris and the Tayassu pecari select the meadow and gallery vegetation environments in higher proportions than their availability in the area and while these habitats are key for the survival of the species, they are less available. Keywords: Habitats-key, Ivlev selectivity index, Landscape, Forest with Araucaria ¹Pesquisadora Doutora da Bio situ Projetos e Estudos Ambientais Ltda. – E-mail: [email protected]; [email protected] ²Professora Associada II do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná - Rua Lothário Meissner, 632 – Jardim Botânico - Curitiba, PR - 80210-170 – E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A perda e a conversão de habitats representam uma grande ameaça para todas as espécies flo- restais dos neotrópicos, contudo para ungulados como a anta (Tapirus terrestris Linnaeus, 1758) e o queixada (Tayassu pecari Link, 1795), essas transformações representam uma ameaça ainda maior em médio e longo prazo, tornando estes ungulados ameaçados nas florestas tropicais. No

Gisley Paula Vidolin¹, Daniela Biondi², Adilson ... · Palavras-Chave: Índice de ... ²Professora Associada II do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do

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447Sci. For., Piracicaba, v. 37, n. 84, p. 447-458, dez. 2009

Seletividade de habitats pela anta (Tapirus terrestris) e pelo queixada (Tayassu pecari) na Floresta com Araucária

Habitat selectivity by lowland tapir Tapirus terrestris and white lipped-peccary Tayassu pecari in Forest with Araucaria

Gisley Paula Vidolin¹, Daniela Biondi², Adilson Wandembruck¹

Resumo

Estudos de seleção do habitat, além de refletir características importantes do comportamento e da dinâmi-ca populacional, também possibilitam a obtenção de subsídios para a identificação dos componentes de habitat importantes ou mais adequados às espécies, que são aspectos de vital importância para o desenvolvimento de estratégias de conservação. Assim, este estudo foi realizado no período de janeiro de 2007 a julho de 2008 na Fazenda Lageado Grande (FLG), em General Carneiro, Bituruna e Palmas, PR. Os objetivos foram: analisar o uso de habitat pela anta Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) e pelo queixada Tayassu pecari (Link, 1795); e verificar a frequência de uso e seletividade de habitats pelas espécies. Foi elaborado o mapa de uso do solo, onde seis tipos de habitats foram identificados: várzeas (VAZ), vegetação ciliar (VGC), floresta com predomínio de pinheiro (FPP), floresta com predomínio de folhosas (FPF), reflorestamento com pinus (REF) e área antrópica (AIA). Esses habitats foram amostrados para verificar a frequência de uso e seletividade pelas espécies, sendo a quantidade de parcelas de 1 ha a serem amostradas em cada habitat determinada pelo “Cálculo do Tamanho de uma Amostra Aleatória Simples”. A intensidade de uso dos habitats foi medida pela “Freqüência de Ocorrência de Localizações” e a seleção de habitats avaliada mediante o uso do “Índice de Seletividade de Ivlev”. Verificou-se que a anta e o queixada selecionam os ambientes de várzea e vegetação ciliar em proporções superiores à sua respectiva disponibilidade na área e, embora estes sejam os habitats menos disponíveis, são os habitats-chaves para a sobrevivência das espécies.

Palavras-Chave: Índice de Seletividade de Ivlev, Paisagem, Habitats-chaves, Floresta com Araucária

Abstract

Studies of selection of the habitat, beyond reflecting important characteristics of the behavior and the population dynamics, also permit obtaining subsidies for the identification of important habitat components; or those more adequate for the species, since they are aspects of vital importance for the development of conservation strategies. This study was undertaken in the Lageado Grande Farm, located in the municipali-ties of General Carneiro, Bituruna, and Palmas, Paraná State, Brazil, from January 2007 to July 2008. The objectives were to analyze the use of the habitats by the Tapirus terrestris and the Tayassu pecari, and to verify the habitat frequency of use and selectivity by the species. The land use was mapped and six types of habitats were identified: Meadows (MD), gallery forest (GF), forest with the predominance of pine (FPP), forest with the predominance of broadleaves (FPB), pinus plantation (PP), and anthropic area (AA). These habitats were sampled to verify the habitat frequency of use and selectivity by the species. The number of 1-ha areas to be sampled in each habitat was determined by simple random sample size calculation. The habitat use intensity was measured by the frequency of occurrence of locations and the habitat selection was evaluated by the Ivlev selectivity index. It was observed that the Tapirus terrestris and the Tayassu pecari select the meadow and gallery vegetation environments in higher proportions than their availability in the area and while these habitats are key for the survival of the species, they are less available.

Keywords: Habitats-key, Ivlev selectivity index, Landscape, Forest with Araucaria

¹Pesquisadora Doutora da Bio situ Projetos e Estudos Ambientais Ltda. – E-mail: [email protected]; [email protected]

²Professora Associada II do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná - Rua Lothário Meissner, 632 – Jardim Botânico - Curitiba, PR - 80210-170 – E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

A perda e a conversão de habitats representam uma grande ameaça para todas as espécies flo-restais dos neotrópicos, contudo para ungulados

como a anta (Tapirus terrestris Linnaeus, 1758) e o queixada (Tayassu pecari Link, 1795), essas transformações representam uma ameaça ainda maior em médio e longo prazo, tornando estes ungulados ameaçados nas florestas tropicais. No

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Paraná, ambas as espécies ocorriam em todas as formações vegetais, na Floresta Estacional Semi-decidual, na Floresta Ombrófila Mista e na Flo-resta Ombrófila Densa e nos Campos Naturais e Cerrado, mas atualmente distribuem-se de for-ma descontínua e fragmentada, tendo desapare-cido na maior parte de suas áreas de ocorrência original (MIKICH e BÉRNILS, 2004). Em função disto a anta está categorizada no Estado sob o status de ameaça “em perigo” e o queixada como “criticamente em perigo” (BRASIL, 2004).

A transformação da paisagem, além de impli-car na perda de habitats, na redução do tamanho de fragmentos, e no aumento da distância entre eles, também contribui com a formação e au-mento de novos ambientes, que podem ou não ser utilizados pelos animais (ANDRÉN, 1994). Esse é o caso de ambientes de origem antrópica, como reflorestamentos com espécies exóticas, áreas de agricultura e pastagens, entre outros. Nesse sentido, a utilização de habitats é um im-portante aspecto a ser considerado em estudos com animais de vida livre, já que o habitat provê alimento e refúgio, essenciais para a sobrevivên-cia das espécies (WHITE e GARROT, 1991). Para Firkowski (1993) a fauna é o produto do meio que a mantém, haja vista a dependência que possui do habitat para satisfazer suas necessida-des específicas de sobrevivência e reprodução.

Dada a importância dos habitats na manu-tenção das espécies, a situação de conservação da anta e do queixada se torna tema ainda mais pre-ocupante quando se considera o intenso proces-so de degradação e supressão dos remanescentes de Floresta com Araucária no decorrer da história no Estado do Paraná, que hoje, segundo Britez et al. (2000) não ultrapassam 1% de sua cobertura original. Ainda que antropizados e empobrecidos floristicamente, os remanescentes de floresta com araucária mantêm hoje a maior parte das popula-ções relictuais de queixada, por exemplo.

Segundo Campos (2004), um dos primeiros passos na pesquisa no âmbito do manejo de vida silvestre é definir o habitat. Os ambientes podem ser heterogêneos no espaço e tempo, e o padrão dessa heterogeneidade pode afetar a distribuição das espécies e de suas populações. O comportamento das espécies é influenciado tanto pelo padrão de heterogeneidade ou espa-cialização das manchas quanto pela escala em que o padrão de paisagem é percebido por elas.

A avaliação da relação habitat versus fauna inclui análises da vegetação, aspectos físicos e geomorfológicos, hidrografia, a comunidade

animal, a presença ou não de predadores, com-petidores, parasitas, doenças, distúrbios huma-nos, a pressão de caça, o clima, as condições meteorológicas e outros fatores mais específi-cos. Comumente estes estudos são realizados mediante a aplicação de algum tipo de “modelo de habitat” específico para as espécies ou grupo de espécies que necessitam de habitats com as mesmas características (FIRKOWSKI, 1993).

Dentre os modelos de distribuição das espé-cies em função do habitat podem ser citados: o “índice de seletividade” descrito por Ivlev (1961); o de “matrizes” descrito por Leopold et al. (1971); o “sistema de inventário e plane-jamento de recursos” desenvolvido por Crozier et al. (1974) e Robinete e Crozier (1976); o de “correlação simples” descrito por Verner e Boss (1980); o “índice de integridade biótica” descrito por Karr (1981); o “índice de adequabilidade do habitat” ou ainda o de “potencial de adequação do habitat” descrito por Cooperrider (1986).

O “índice de seletividade” foi utilizado por Rocha (2006) para avaliar áreas de uso e a sele-ção de habitats por três espécies de carnívoros no Pantanal. Veras e Santos (2007) utilizaram o “índice de adequabilidade do habitat” para uma espécie de lagarto do bioma cerrado, Ano-lis meridionalis, o que implicou que os autores definissem parâmetros físicos do habitat que indicam a presença ou ausência da espécie em ambientes naturais pouco alterados.

Atualmente existem programas estatísticos que permitem analisar, modelar e predizer os limites de distribuição e a adequação do ha-bitat para as espécies (GUISAN e ZIMMER-MANN, 2000; SCOTT et al., 2002; FERRIER et al., 2002). A maioria destas metodologias é baseada em modelos de resposta de espécies a condições ambientais, ou seja, ao seu nicho am-biental. Dentre os programas utilizados estão: o DesktopGarp - Genetic Algorithm for Rule-set Prediction (SCACHETTI-PEREIRA, 2001) que cria modelos de nicho ecológico para espécies e descreve as condições ambientais em que são capazes de manter estáveis suas populações; o BioMVGCer (HIRZEL et al., 2004) que descreve o nicho de cada espécie mediante a análise fac-torial do nicho ecológico e extrapola a adequa-ção de habitat em cada ponto de presença da espécie; o FloraMap (CIAT, 2000) que prediz a distribuição de plantas e outros organismos de vida selvagem; o Ramas Gis (AKÇAKAYA, 2002) que correlaciona dados de habitat com mode-los metapopulacionias, calcula a capacidade de

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suporte dos habitats e viabilidade populacional; além dos tradicionais e de uso bastante amplo MapWindow Gis, Idrisi, Spring, Envi e ArcMap.

Todos os métodos para definir modelos de habitats supracitados descrevem, portanto, as características ou os atributos do ambiente que são adequados para as espécies de acordo com as condições dos locais onde elas estão presentes, e podem utilizar dados bibliográficos disponíveis sobre requisitos ecológicos ou então dados obti-dos diretamente de estudo de campo.

Quanto à escala de habitats, Vidolin (2008) em pesquisas com remanescentes de Floresta com Araucária com o uso de métricas de paisa-gem e requisitos ecológicos de ungulados, uti-lizou duas escalas da paisagem que foram de-finidas em função da extensão da área de uso freqüente (meso-escala) e esporádica dos ani-mais (macro-escala).

Nesse sentido, utilizando áreas remanescen-tes de Floresta com Araucária, realizou-se esta pesquisa com os objetivos de: analisar o uso de habitat por Tapirus terrestris (anta) e Tayassu peca-ri (queixada) considerando áreas conservadas e áreas antropizadas; verificar a frequência de uso e seletividade de habitats pela anta e pelo quei-xada, identificando desta forma, habitats-chaves para estes ungulados.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudoAs análises de intensidade de uso e seletivi-

dade de habitats pela anta (Tapirus terrestris) e pelo queixada (Tayassu pecari) foram conduzi-das na Fazenda Lageado Grande (FLG) das In-dústrias Pedro N. Pizzatto Ltda. A Fazenda está localizada nos municípios de General Carneiro, Bituruna e Palmas, situados no Estado do Para-ná, tendo como pontos de referência as coorde-nadas geográficas 26º18’11.75’’ de latitude sul e 51º35’58.94’’ de longitude oeste (Figura 1).

A escala de paisagem utilizada nesta pesquisa foi baseada em Vidolin (2008). A área de estudo situada na Fazenda Lageado Grande correspon-de a uma paisagem de meso-escala, isto é, reflete as melhores condições ambientais, onde estão os componentes ecológicos mais importantes ou adequados para as espécies, conforme seus requisitos ecológicos. Além disso, esta paisagem corresponde a 67% e 71,81% da área de uso cen-tral desses animais.

A FLG é caracterizada pela Floresta Ombrófi-la Mista, também conhecida como Floresta com Araucária, de acordo com o Decreto n.6660 de 24/11/08, ecossistema florestal associado ao Bioma Mata Atlântica.

Figura 1. Localização da Fazenda Lageado Grande.Figure 1. Location of Lageado Grande Farm.

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Em território brasileiro, a área original de Flo-resta Ombrófila Mista, era de aproximadamente 200.000 km2 (MAACK, 1968), ocorrendo com maior intensidade nos Estados do Paraná (37%), Santa Catarina (31%), Rio Grande do Sul (25%), apresentando manchas esparsas no sul de São Paulo (3%), internando-se até o sul de Minas Ge-rais e Rio de Janeiro (1%) (LEITE e KLEIN, 1990; VELOSO et al., 1991). Dentre estes Estados, o Pa-raná era o que apresentava a maior extensão des-ta formação, correspondendo a 7.378.000 ha, ou seja, 37% da área do Estado (MAACK, 1968). Esse percentual, no entanto, vem sofrendo uma drástica redução devido ao processo histórico de degradação ambiental (MEDEIROS et al., 2005). Estima-se que restam hoje no Estado do Paraná somente 60 mil hectares de Floresta de Araucá-ria, o que equivale a menos de 1% de sua área original, que está representado por fragmentos distribuídos de forma dispersa e isolada na pai-sagem, de tamanho reduzido, não superior a 5.000 ha (BRITEZ et al., 2000). Na região centro-sul do Estado foi onde restou a maior quantida-de de remanescentes desta tipologia, e também as maiores áreas contíguas, sendo que a maior parte destas são propriedades privadas, como é o caso da FLG (BRITEZ et al., 2000).

A FLG possui 3.136,32 ha inseridos na ba-cia do rio Iguaçu, microbacia do rio Iratim, com uma característica de relevo fortemente ondulada (CASTELLA e BRITEZ, 2004). Os solos nesta re-gião apresentam textura argilosa e forte declivida-de (MAACK, 1968). O clima é classificado como “subtropical úmido mesotérmico” (cfb), caracte-rizado por verão fresco e inverno rigoroso com geadas severas e frequentes, concentradas entre os meses de março e setembro. Não apresenta esta-ção seca característica, com temperaturas médias nos meses mais quentes inferiores a 22°C e nos meses mais frios com médias abaixo de 18°C. O regime de chuvas é irregular, com diminuição no período de inverno e maior intensidade no verão. A precipitação média anual é de 1.600 a 1.770 mm (SMART WOOD PROGRAM, 2002).

O Rio Iratim, que apresenta variação de largura entre 10 e 50 m e estende-se por cer-ca de 20 km na propriedade, é o principal rio da área. Este rio subdivide a propriedade em três porções. A porção norte, caracterizada in-tegralmente por floresta com predomínio de araucária e manchas de várzeas, constitui a Re-serva Legal da propriedade, com 716,32 ha. As porções central e sul da referida área são consti-tuídas por um mosaico paisagístico de reflores-

tamento com pinus (Pinus spp), floresta com predomínio de folhosas, floresta com predomí-nio de pinheiro e várzeas. Nessas duas porções concentra-se a grande maioria das atividades de exploração florestal.

É por causa da altitude do local, que varia en-tre 900 a 1.100 m, que ocorrem na área as sub-formações da Floresta Ombrófila Mista Montana (de 400-1000 m s.n.m.), Alto-Montana (acima de 1000 m s.n.m.) e Aluvial (ao longo dos rios) (VELOSO et al., 1991).

Como é uma área tipicamente florestal, as principais atividades desenvolvidas são: a pro-dução de madeira proveniente de plantações manejadas de pinus e de produtos não-madei-ráveis da floresta, como a extração das folhas de erva-mate (Ilex paraguariensis) (LIMA et al., 2004). Um dos principais problemas é a integri-dade florística e estrutural de sua cobertura vege-tacional, devido à exploração seletiva a que foi submetida no passado. De acordo com Roderjan (2004), o porte dos indivíduos dominantes de Araucaria angustifolia é em média de 25 m de al-tura e 80 cm de DAP e a densidade é média, com espaçamento entre as copas. Com relação às fo-lhosas dominantes, as alturas médias encontra-das são de 10 e 15 m, excepcionalmente 18 a 20 m, cuja densidade é baixa e até mesmo ausente em algumas porções contínuas. Ainda, de acor-do com Roderjan (2004), a regeneração natural é baixa ou ausente devido à elevada densidade de taquaras. A vegetação secundária apresenta-se em manchas pouco expressivas, dominadas por bracatinga (Mimosa scabrella) e vassourinhas (Baccharis spp.). As várzeas abrangem áreas de vegetação herbácea sobre abaciados hidromór-ficos, e em algumas áreas ocorre associação com espécies folhosas.

O entorno é caracterizado por grandes áre-as reflorestadas com pinus, agricultura e pecu-ária (em baixa escala), faxinal e assentamentos rurais, que geram diferentes graus de impactos sobre as espécies animais, sobretudo a caça (conforme observações de campo) e a descarac-terização de habitats.

Procedimentos metodológicosPara avaliar a frequência de uso e seletivida-

de de habitats pelas espécies, foi aplicada uma grade de parcelas de 1 ha (= unidades amos-trais) sobre os mapas de tipos de hábitat da FLG (3.136,32 ha), sendo eles: Floresta com predo-mínio de folhosas (FPF) - abrange áreas de flo-resta nativa, em diferentes estágios sucessionais,

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Onde,n = nº de amostras;N = nº de unidades cheias existentes em cada tipo de habitat;n’0 = valor obtido mediante a aplicação da I Fórmula.

Este cálculo foi realizado separadamente para cada tipo de habitat, obtendo-se, assim, o nú-mero de parcelas amostrais relativo à área que cada ambiente ocupa na paisagem.

Uma vez definido o número de parcelas amostrais em cada tipo de habitat, as parcelas re-ceberam uma sequência numérica e, previamen-te a cada fase de campo, foi realizado um sorteio para definição de qual parcela seria amostrada. Não houve repetição de parcelas amostradas. Em campo, as parcelas foram localizadas me-diante suas coordenadas UTM centrais, e a partir daí delimitadas com o uso de trena de 50 m e GPS. Para parcelas mistas, ou seja, com mais de um tipo de habitat, considerou-se como predo-minante aquele que apresentou a maior porcen-tagem de ocupação na parcela.

O registro da anta e do queixada nestas áre-as foi realizado pela constatação da presença de indivíduos, considerando-se como vestígios: pegadas, material escatológico, carreiros, restos alimentares, além de visualizações e vocaliza-ções e outros sinais que atestassem a presença destes animais.

A intensidade de uso dos habitats pelos ani-mais baseou-se na frequência de coleta desses sinais de utilização, definindo-se as áreas de maior e menor concentração de uso. Os resul-tados obtidos foram expressos pelo cálculo de “Frequência de Ocorrência de Localizações”, dado pela seguinte fórmula (KREBS, 1989):

FO = n/N x 100Onde,FO = frequência de localizações/ registros da espécie;n = nº de registros da espécie no habitat i;N = nº total de registros obtidos da espécie para o habitat i.

A seleção de habitats foi avaliada mediante o uso do Índice de Seletividade de Ivlev (1961) que compara a disponibilidade de habitats com o seu uso pelas espécies. Desta forma, a análise foi rea-lizada com base na frequência de indícios da anta e do queixada em cada tipo de habitat em relação à disponibilidade desse habitat. Este índice varia

com dossel contínuo dominado por espécies folhosas. Em algumas áreas ocorre associação com pinheiros esparsos; Floresta com predomí-nio de pinheiro (FPP) - abrange áreas de floresta nativa, em diferentes estágios de regeneração, com dossel contínuo dominado pelo pinheiro-do-paraná Araucaria angustifolia; Várzea (VAZ) - abrange áreas de vegetação herbácea sobre aba-ciados hidromórficos e em algumas áreas ocorre associação com espécies folhosas; Vegetação se-cundária (VGS) - área advinda do abandono do uso do solo, dominada por bracatinga (Mimosa scabrella) e/ou vassourinhas (Baccharis spp.). En-contra-se em estágio sucessional inicial a médio; Vegetação ciliar (VGC), considerando-se apenas o Rio Iratim - abrange áreas de vegetação locali-zadas às margens dos cursos d’água, tendo sido considerada uma faixa de 50 metros para cada margem; Plantio com exóticas / Reflorestamen-to (REF) - áreas ocupadas com plantios de pi-nus (Pinus spp.), para fins industriais; Área de influência antrópica (AIA) - área industrial, solo exposto, cascalheira e estradas.

A quantidade de parcelas a serem amostra-das em cada habitat foi determinada mediante o “Cálculo do Tamanho de uma Amostra Alea-tória Simples”. Este cálculo, por sua vez, é um componente essencial no delineamento da pes-quisa, pois determina a quantidade de elemen-tos necessários para compor a amostra, a fim de se obter resultados válidos (OLIVEIRA e GRÁ-CIO, 2005). Para o cálculo do número de amos-tras considerou-se um erro amostral tolerável de 10%, 95% de grau de confiabilidade, e 50% de exatidão esperada e aplicaram-se as seguintes fórmulas (OLIVEIRA e GRÁCIO, 2005):

(a) 1º cálculo - I Fórmula: n’0 = z².p.(1- p)/ E0²

Onde,n’0 = tamanho mínimo da amostra aleatória simples;z = valor tabelado da distribuição normal para o nível de confiança desejado na amostragem (no caso deste trabalho = 1,96);p = estimativa da proporção do evento ou exa-tidão esperada na amostragem (como não é co-nhecida, usou-se 50%);E0 = erro amostral tolerável (no caso deste tra-balho = 10%).

(b) 2º cálculo - II Fórmula: n = N. n’0 / (N + n’0)

Vidolin, Biondi e Wandembruck – Seletividade de habitats pela anta (Tapirus terrestris) e pelo queixada (Tayassu pecari) na Floresta com Araucária

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de -1 a +1, sendo 0 (zero) quando não há seleção na utilização. Há seleção (valores próximos de +1) quando a proporção de uso é superior à pro-porção da disponibilidade do habitat. Há rejeição (valores próximos de -1) quando a proporção de uso é menor que a proporção da disponibilida-de do habitat (IVLEV, 1961; JACOBS, 1974). Os valores de seletividade indicam, portanto, quais são os habitats-chaves para a sobrevivência das espécies na área estudada. O termo habitat-chave, nesse contexto, reporta-se àquelas áreas onde es-tão os componentes ecológicos mais importantes ou adequados para as espécies conforme seus re-quisitos ecológicos. De maneira geral, o queixada e anta possuem os mesmos requisitos ecológi-cos, tais como: necessidade de recursos hídricos abundantes; disponibilidade de ambientes úmi-dos, lugares pantanosos ou barreiros; áreas com formação da vegetação, preferindo ambientes de vegetação densa, bem conservada ou primitiva; abundância de recursos alimentares; e ambientes extensos e conectados com outras áreas, por se-rem espécies de grande mobilidade, necessitam de áreas de grande extensão com a existência de cor-redores naturais (FRAGOSO, 1994; IUCN, 1997; FRAGOSO, 1997; MIKICH e BÉRNILS, 2004).

O Índice de Seletividade é dado pela seguinte fórmula:

AU = (U-A) / (U+A)Onde, AU= Índice de seletividade;A= proporção de disponibilidade do habitat no local (%) (proporção de habitat em relação à área total amostrada);U= FO

As análises supracitadas também foram rea-lizadas para cada estação estudada, obtendo-se dados de uso sazonal dos habitats.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 400 parcelas amostradas, a presença do quei-xada foi diagnosticada em 125 parcelas (31,25%) e da anta em 136 (34,00%), ou seja, em 65,25% do total de parcelas visitadas foram encontrados vestí-gios do queixada ou da anta ou de ambos.

As maiores frequências da presença da anta fo-ram obtidas para os habitats de várzea (66,07%), seguido dos habitats floresta com predomínio de folhosas (38,37%), floresta com predomínio de pinheiro (36,36%), e vegetação ciliar (26,87%). Para o queixada, os habitats de floresta com

predomínio de pinheiro (47,73%) e de várzeas (42,86%) obtiveram as maiores frequências de ocorrência da espécie, seguido dos habitats de ve-getação ciliar (35,82%) (Tabela 1). Estes cálculos de frequência de ocorrência, no entanto, indicam os habitats de maior e menor concentração de uso, mas não indicam se há seleção ou preferência dos mesmos pelos animais. Sendo assim, esses valores foram utilizados para os cálculos de seletividade de habitat, que associam a proporção de utiliza-ção de determinado habitat com a sua proporção de disponibilidade na paisagem. Constatou-se a partir dessa análise, que tanto o queixada quanto a anta, selecionam os tipos de habitats de uma for-ma não aleatória em comparação à sua disponibi-lidade na FLG. Este resultado já era esperado, já que as espécies tendem a selecionar habitats com características correspondentes aos seus requisitos ecológicos, ou seja, onde o conjunto ótimo de ca-racterísticas de habitat esteja presente.

Embora a porcentagem de ocupação das vár-zeas na paisagem da FLG seja pequena (4,9% = 135,25 ha), este foi o tipo de ambiente mais sele-cionado pelas espécies. A anta seleciona o habitat várzea 14 vezes mais que sua respectiva disponi-bilidade na área (IS = 0,8698), e o queixada 10 vezes mais (IS = 0,8108). O segundo tipo de habi-tat mais selecionado por ambas as espécies foram as áreas de preservação permanente (vegetação ciliar), que também possui pequena proporção de área ocupada na paisagem (8,0% = 221,51 ha), sendo utilizada pela anta três vezes mais que sua disponibilidade na área (IS = 0,5434) e pelo queixada cinco vezes mais (IS = 0,6367).

As Tabelas 2 e 3 trazem a relação da disponi-bilidade e seleção de habitats pelas espécies na FLG, onde os sinais + (mais) e – (menos) indi-cam a força de seleção (simbologia baseada em CULLEN JR. et al., 2005).

Hábitat FO (%)/ Anta FO (%)/ QueixadaVAZ 69,6 46,6VGC 26,8 35,8FPF 37,2 22,1FPP 31,8 44.3REF 18,7 16,3AIA 0,0 0,0VGS 0,0 0,0

Tabela 1. Freqüência de Indícios (FO%) da anta e do quei-xada encontradas nos habitats amostrados.

Table 1. Frequency of Signs (FO %) of Tapirus terrestris and Tayassu pecari in the sampled habitats.

VAZ = Várzea; VGC = Vegetação Ciliar; FPF = Floresta com predo-mínio de folhosas; FPP = Floresta com predomínio de pinheiro; REF = Plantío com exóticas/reflorestamento; AIA = Área de influência antró-pica; VGS = Vegetação secundária.

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em áreas próximas à água, sempre nos mesmos pontos e horários do dia. Pode defecar também em terra firme, mas também é fiel aos pontos de defecação. Nos dois tipos de ambientes há um acúmulo de material escatológico denomi-nado de latrina (FRAGOSO, 1994). A privação a corpos d’água, como é o caso de alguns animais em cativeiro, causa alterações comportamentais e pode gerar um quadro de estresse no animal; termorregulação - a forma fusiforme e tamanho corporal do animal possui uma relação superfí-cie versus volume pouco favorável para a perda do excesso de calor metabólico, situação que é agravada pela espessura da pele. Sendo assim, a anta procura com muita frequência corpos d’água onde possa submergir. O animal pode permanecer horas dentro d’água realizando ati-vidades de forrageamento, como limpeza do corpo, consumo de vegetação aquática flutu-ante, ou simplesmente caminhadas no fundo totalmente submergido como fazem os hipopó-tamos. A realização desses exercícios facilita o fluxo de calor entre o corpo do animal e a água; Eliminação de ectoparasitos - os frequentes ba-nhos da anta ajudam-na a eliminar ectoparasi-tos como carrapatos e moscas. Para tanto utiliza movimentos bruscos dentro d’água, de forma que os ectoparasitos se soltem completamente. Esta atividade é realizada por animais de todas as faixas etárias; refúgio contra predadores - os corpos d’água fornecem à anta um refúgio se-guro contra predadores e são buscados sempre quando se sente perseguida. Nesses casos, o ani-

Com relação aos demais tipos de habitats, a anta não seleciona os ambientes com predomínio de folhosas (783,00 ha; IS = 0,1395) e refloresta-mentos (490,00 ha; IS = 0,0319); e rejeita os am-bientes com predomínio de pinheiro (1.229,78 ha; IS = -0,1206), mesmo sendo este o que ocupa a maior proporção na paisagem; bem como os ambientes de vegetação secundária (11,71 ha; IS = -1,0000) e onde há grande influência antrópica (14,87 ha; IS = -1,0000) (Tabela 2).

Já, o queixada seleciona muito pouco os ambientes com predomínio de pinheiro (1.229,78 ha; IS = 0,0444); e rejeita os am-bientes com predomínio de folhosas (783,00 ha; IS = -0,1197) e reflorestamentos (490,00 ha; IS = -0,0396); os ambientes de vegetação secundária (11,71 ha; IS = -1,0000) e os antró-picos (14,87 ha; IS = -1,0000) (Tabela 3).

Resultados de uma relação de estreita inter-dependência com os seus determinados tipos de habitats também foram corroborados por vá-rios pesquisadores, onde as várzeas são citadas como habitats extremamente importantes para a anta e para o queixada, pois disponibilizam às espécies ambientes úmidos, como barreiros ou lugares pantanosos, usualmente frequentados para forrageio (IUCN, 1993; PUERTAS, 2006; CORDEIRO e OLIVEIRA, 2006). As antas, por exemplo, são altamente dependentes da água ou de ambientes úmidos para realizar várias funções vitais de seu ciclo de vida (RICHARD e JULIÁ, 2000), tais como: regulação do trato in-testinal - a anta geralmente defeca na água, ou

Hábitat % na área % de uso pela anta

Índice de seletividade (IS)

Proporção de uso em relação à disponibilidade do hábitat

Força de seleção

VAZ 4,9 69,64 0,8698 14 + + + + +VGC 8,0 26,87 0,5434 3 + + + +FPF 28,1 37,21 0,1395 1 + +REF 17,6 18,75 0,0319 1 +FPP 40,6 31,82 -0,1206 1 - -AIA 0,5 0,00 -1,0000 0 - - - - -VGS 0,4 0,00 -1,0000 0 - - - - -

Tabela 2. Relação da disponibilidade e seleção de habitats pela anta na Fazenda Lageado Grande.Table 2. Correlation between habitat availability and selectivity by Tapirus terrestris in Lageado Grande Farm.

Hábitat % na área % de uso pelo queixada

Índice de seletividade (IS)

Proporção de uso em relação à disponibilidade do hábitat

Força de seleção

VAZ 4,9 46,4 0,8108 10 + + + + +VGC 8,0 35,8 0,6367 5 + + + +FPP 40,6 44,3 0,0444 1 + FPF 28,1 22,1 -0,1197 1 - - REF 17,6 16,3 -0,0396 1 - AIA 0,5 0,0 -1,0000 0 - - - - -VGS 0,4 0,0 -1,0000 0 - - - - -

Tabela 3. Relação da disponibilidade e seleção de habitats pelo queixada na Fazenda Lageado Grande.Table 3. Relationship between habitat availability and selectivity by Tayassu pecari in Lageado Grande Farm.

Vidolin, Biondi e Wandembruck – Seletividade de habitats pela anta (Tapirus terrestris) e pelo queixada (Tayassu pecari) na Floresta com Araucária

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de taquara (Bambusa sp.) e caratuva (Chusquea sp.). Também as várzeas são os habitats onde praticamente inexistem estradas, justamente por serem ambientes menos produtivos do ponto de vista econômico, além de estarem sujeitas a alagamento durante um período do ano.

Sazonalmente, considerando-se a frequência de indícios das espécies encontrados em cada tipo de habitat, foi possível observar uma va-riação na utilização dos ambientes ao longo do ano. Na estação seca, que se estende do mês de março a agosto, por exemplo, indícios da anta foram encontrados em 57% das várzeas amos-tradas; em 45% das áreas de floresta com predo-mínio de folhosas e em 42% das áreas de floresta com predomínio de pinheiro. Este fato repetiu-se para este tapirídeo durante a estação úmida, que se estende do mês de setembro a fevereiro, onde nesses mesmos habitats foram encontradas as maiores frequências de indícios da espécie, com 64%, 48% e 40%, respectivamente (Tabela 4).

Para o queixada, na estação seca, as áreas de floresta com predomínio de pinheiro obtiverem a maior frequência de indícios encontrados deste pecarídeo (57%), seguido pelas várzeas (56%) e áreas de preservação permanente (41%). Na es-tação úmida as maiores frequências de indícios da espécie continuaram sendo para as de flores-ta com predomínio de pinheiro (43%), e houve uma inversão entre as áreas de preservação per-manente (33%) e as várzeas (29%) (Tabela 5).

Na estação seca, tanto a anta quanto o quei-xada tiveram um acréscimo nas frequências de indícios encontrados nas áreas de floresta com predomínio de araucária (Araucaria angustifo-lia), fato que está associado à produção de pi-nhão, o qual está disponível a partir do mês de maio até agosto. O maior percentual de evidên-cias das espécies nesse tipo de ambiente, no mês de agosto, pode estar associado à maximização do consumo do estoque dessas sementes, já que este é o final do período onde ainda é encontra-do o pinhão, e o início de uma fase de déficit de alimento, uma vez que frutos zoocóricos madu-ros passam a estar disponíveis em maior diversi-dade apenas a partir de novembro/ dezembro. O pinhão pode ser considerado, portanto, como o alimento básico dos animais durante o inverno. Este fato também foi corroborado por Kulchets-cki et al. (2003) na Fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba no Paraná. A anta e o queixada, devido à forma de consumo do pinhão (destrui-ção total ou parcial) atuam como predadores de sementes de pinhão.

mal pode submergir totalmente. Este comporta-mento é realizado tanto por adultos como por filhotes; cópula - a anta normalmente copula na água, onde os movimentos de cópula e monta são facilitados. Também durante o cortejo, no qual o macho persegue a fêmea, é frequente que a perseguição termine na água.

Nesse sentido, a ocorrência de corpos d’água, particularmente em mosaicos abertos, onde a escassez dos mesmos pode ser expressi-va, constituem componentes notáveis da paisa-gem, podendo afetar de maneira significativa a ocorrência e abundância da anta (CORDEIRO e OLIVEIRA, 2006).

Assim como a anta, o queixada possui uma relação bastante estreita com ambientes úmidos como barreiros, várzeas, banhados e vegetação ciliar (BODMER, 1990; BODMER, 1991; DES-BIEZ et al., 2004; REYNA-HURTADO e TANNER, 2005). Keuroghlian e Eaton (2008) verificaram que na Estação Ecológica de Caetetus (SP) a es-pécie utiliza com maior frequência faixas de ve-getação ciliar entre 50 e 100 metros e que as áre-as úmidas são os ambientes mais utilizados pela espécie, mesmo que menos disponíveis na Uni-dade de Conservação. Nos ambientes úmidos ambos ungulados realizam a geofagia (ingestão de terra) para obtenção de sais e outros minerais depositados, que ficam expostos nos períodos em que esses ambientes não estão alagados. A geofagia é reconhecida para muitas espécies de ungulados em diversas regiões do mundo, suge-rindo que esses locais sejam importantes com-ponentes dos habitats. Oliveira et al. (2006), por exemplo, realizaram um estudo da caracteriza-ção da composição química de barreiros utili-zados por ungulados no nordeste do Pantanal do Mato Grosso, analisando Ca, Cl, Cu, Fe, K, Mg, Mn, Na, S, SO4 e Zn do horizonte do solo consumido pelos animais (antas e catetos) e verificaram que o sódio e o sulfato constituem elementos presentes em baixas concentrações e que o enxofre, ferro e magnésio apresentam-se em altas concentrações, sendo os barreiros fonte desses minerais para as espécies.

Além disso, as espécies encontram nesses ambientes recursos alimentares importantes. Nas várzeas da FLG que abrangem áreas de ve-getação herbácea, por exemplo, há grandes con-centrações de Baccharis spp.; e nas várzeas onde ocorre associação com espécies folhosas, entre muitas outras espécies, o butiá (Butia eryospatha). Além desses recursos, as espécies encontram, ainda, nas bordaduras desses ambientes brotos

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Almeida et al. (2007) verificaram que a anta consome e mastiga a semente inteira, sendo seus restos (cascas) observados somente nas fe-zes. Da mesma forma, os queixadas apresentam comportamentos variados de predação do pi-nhão, sendo que: as sementes podem ser total-mente consumidas; pode haver mordeduras na casca, onde o animal deixa as marcas dos den-tes, com posterior devolução ao solo; o animal pode utilizar as patas dianteiras para abrir o pi-nhão, pressionando-o contra o chão e puxando o endosperma com os dentes; ou ainda a casca ser totalmente destruída por rasgadura e cortes em vários pontos ou amassamento. De qual-quer forma, tanto a dispersão como a predação de sementes são processos fundamentais para a manutenção da comunidade vegetal e da estru-tura da floresta, evidenciando a importância da anta e do queixada nesses processos.

Durante esse período de escassez as espé-cies, em especial o queixada, reviram o solo em busca das sementes de pinhão e também das amêndoas do butiá (Butia eryospatha), que fi-cam enterradas nas camadas mais superficiais do solo. Olmos (1993), no Parque Nacional da Serra da Capivara no Piauí, constatou que 33% do alimento dos queixadas é constituído por raízes e sementes, recursos que para a Caatinga são uma fonte de alimento mais confiável do que frutas e folhas, uma vez que os últimos são produzidos apenas quando há uma pluviosi-dade adequada. Durante secas prolongadas,

que ocorrem nessa região, os queixadas sobre-vivem porque cavam e se alimentam das raízes e tubérculos. Este fato é também observado na Fazenda Lageado Grande e seu entorno duran-te o período de escassez de recursos.

Também durante esse período, conforme ob-servado durante as amostragens realizadas, as espécies, em especial o queixada, tendem a se deslocar mais entre as propriedades do entorno em busca de recursos alimentares, e neste caso as áreas de vegetação ciliar assumem papel cru-cial no deslocamento dos animais.

Já nas áreas de floresta com predomínio de folhosas, de uma forma geral, a frutificação de es-pécies ocorre durante a época de maior precipita-ção e temperatura (PAISE e VIEIRA, 2005). Como apresenta maior riqueza de espécies vegetais do que as áreas de floresta com predomínio de arau-cária, a oferta e diversidade de alimento é maior.

Dentre alguns dos recursos alimentares dis-poníveis e consumidos pela anta e pelo quei-xada observados ao longo deste estudo nos ambientes de floresta com predomínio de fo-lhosas estão: a guabiroba (Campomanesia xan-thocarpa) que frutifica na região de novembro a dezembro; o ingá (Inga virescens), com fruti-ficação de dezembro a janeiro; o pessegueiro-bravo (Prunus brasiliensis) com frutificação de março a junho e de setembro a dezembro; a imbuia (Nectandra megapotamica) com fruti-ficação de janeiro a abril, o piper (Piper spp.) com frutificação em dezembro.

Hábitat % de uso pela anta Índice de seletividade (IS) Força de seleçãoEstação seca Estação úmida IS seca IS úmidaVAZ 57 64 1 1 + + + + +FPF 45 48 0 0 Não selecionaFPP 42 40 0 0 Não selecionaVGC 37 25 1 1 + + + + +REF 18 27 0 0 Não selecionaAIA 0 0 -1 -1 - - - - -VGS 0 0 -1 -1 - - - - -

Tabela 4. Relação da disponibilidade e seleção de habitats pela anta nas estações seca e úmida.Table 4. Relationship between habitat availability and selectivity by Tapirus terrestris in dry and rainy seasons.

Hábitat % de uso pela anta Índice de seletividade (IS) Força de seleçãoEstação seca Estação úmida IS seca IS úmidaVAZ 56 29 1 1 + + + + +FPF 14 16 0 0 Não selecionaFPP 57 43 0 0 Não selecionaVGC 25 25 1 1 + + + + +REF 41 33 0 0 Não selecionaAIA 0 0 -1 -1 - - - - -VGS 0 0 -1 -1 - - - - -

Tabela 5. Relação da disponibilidade e seleção de habitats pelo queixada nas estações seca e úmida.Table 5. Correlation between habitat availability and selectivity by Tayassu pecari in dry and rainy seasons.

Vidolin, Biondi e Wandembruck – Seletividade de habitats pela anta (Tapirus terrestris) e pelo queixada (Tayassu pecari) na Floresta com Araucária

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Embora haja uma diferença sazonal no uso dos ambientes durante as estações, que reflete a distribuição de fontes de recursos alimentares, quando se considera a seletividade de habitats, as várzeas e áreas de preservação permanente (vegetação ciliar) continuam sendo os habitats mais selecionados pela anta e pelo queixada em ambas as estações (IS seca = 1,000 e IS úmida = 1,000) (Tabelas 4 e 5). Com base nos valores de seletividade obtidos para os habitats é possí-vel afirmar que as várzeas e as florestas ciliares configuram-se como fragmentos de recurso am-biental ou habitats-chaves à sobrevivência des-ses ungulados na FLG.

CONCLUSÕES

O cálculo de seletividade de habitats pelas es-pécies indicou que as várzeas e a vegetação ciliar são habitats-chave para a sobrevivência das es-pécies; e por este motivo são altamente prioritá-rias e devem receber tratamento especial no que se refere à adoção de estratégias de conservação e/ou manejo da paisagem local.

Durante a estação seca, os ambientes consti-tuídos pela floresta com predomínio de pinhei-ro assumem papel fundamental para as espécies devido à disponibilidade de pinhão, principal recurso alimentar durante o período de escassez de outros alimentos.

Também durante a estação seca os queixadas se deslocam mais para as propriedades do en-torno, percorrendo distâncias de até 6,6 km até as Fazendas Etiene e Faxinal dos Santos, onde permanecem durante a época de disponibilida-de do pinhão.

Mesmo durante a estação seca, onde a flo-resta com predomínio de pinheiro é bastante procurada pelas espécies em virtude do pinhão, quando se considera a seletividade de habitats, as várzeas e áreas de vegetação ciliar continuam sendo os habitats mais selecionados pela anta e pelo queixada.

Embora as condições florísticas da FLG se encontrem bastante alteradas, a área represen-ta uns dos principais remanescentes florestais para a manutenção das espécies, e, por este mo-tivo, medidas de conservação como a criação de RPPNs ou a inserção desta propriedade em pro-gramas de incentivo florestal, devem ser direcio-nadas a esta fazenda.

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Recebido em 05/03/2009Aceito para publicação em 25/09/2009