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GILVAN MATEUS SOARES
A VARIAO LINGUSTICA E O ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA:
crenas e atitudes
Montes Claros/MG 2014
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS
GILVAN MATEUS SOARES
A VARIAO LINGUSTICA E O ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA:
crenas e atitudes
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao Mestrado Profissional em Letras da Universidade Estadual de Montes Claros, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Letras. rea de Concentrao: Linguagens e Letramentos
Linha de Pesquisa: Teorias da Linguagem e Ensino
Orientadora: Prof. Maria do Socorro Vieira Coelho Universidade Estadual de Montes Claros
Montes Claros/MG 2014
S676v
Soares, Gilvan Mateus. A variao lingustica e o ensino de lngua portuguesa [manuscrito] : crenas e atitudes / Gilvan Mateus Soares. Montes Claros, 2014. 282 f. : il. Bibliografia: f. 213-223. Dissertao (mestrado) - Universidade Estadual de Montes Claros -Unimontes, Programa de Ps-Graduao em Letras Linguagens e Letramentos/PPGL , 2014. Orientadora: Profa. Dra. Maria do Socorro Vieira Coelho. 1. Lngua Portuguesa - ensino. 2. Variao lingustica. 3. Crenas. 4. Preconceito. I. Coelho, Maria do Socorro Vieira. II. Universidade Estadual de Montes Claros. III. Ttulo. IV. Ttulo: Crenas e atitudes.
Catalogao: Biblioteca Central Professor Antnio Jorge
Dedico este trabalho aos meus amados pais, pilares da
minha existncia, Geraldo e Enedina. Obrigado pelos
ensinamentos e incentivos, fundamentais para meu
sucesso.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelos dons do Esprito Santo com que sempre me abenoa e protege.
Aos irmos Gilson, Genilson e Gensio, o companheirismo e apoio durante a caminhada.
Lilia, a sempre Ponguinha, a amizade, o carinho e a disposio em ajudar.
s minhas outras mes, Dona Maria, Tia Fiica, Dona Geralda, Graa, por terem me acolhido
em seus lares como filho, s quais serei eternamente grato; Dona Regina, as oraes e
conselhos, e Floripe, as preces.
s minhas irms Marcilene, a amizade e os conhecimentos, e Jacinta, o apoio em todos os
momentos.
Aos amigos, por sempre estarem perto.
Aos professores da Escola Bonequinha Preta e da Escola Estadual Coronoel Joo Barreto, a
formao inicial.
professora Marilda, por me fazer apaixonar pela lngua portuguesa.
Aos professores da Funcesi e da Fale-UFMG, a formao acadmica.
s professoras Evelyne Dogliani, Maria do Carmo e Glaucia Muniz, que compartilharam
comigo esse fascinante mundo da lngua e da pesquisa.
Aos professores da Unimontes, a aprendizagem.
Aos funcionrios do ProfLetras e da Unimontes, a ateno e prontido.
CAPES, o apoio financeiro que permitiu a realizao da maior parte deste trabalho.
Aos professores que participaram da banca de qualificao e da banca de defesa, as sugestes
e encaminhamentos.
s professoras Helena Gramiscelli e Wanessa Quadros, as constantes e fundamentais
contribuies.
Aos colegas de curso, o saber compartilhado e a amizade construda.
Danbia e Orando, o caminhar conjunto e os bons momentos de alegria; Helen Josy e
Ana Bezerra, a amizade e o carinho de me com que me aconselhavam sempre.
minha orientadora Socorro Coelho, a amizade e conselhos, por ter me acolhido como
orientando e compartilhado comigo experincias, saberes e momentos de alegria, e tambm
pelas oraes.
Secretaria Municipal de Educao e Secretaria Municipal de Cultura de Baro de Cocais,
pelo apoio e pelas informaes disponibilizadas.
Diretora da Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia Luciene Gonalves, o apoio
fundamental que me permitiu realizar o Mestrado.
A todos os colegas de trabalho da Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia, que em
muito contriburam comigo.
Aos meus alunos do 6 Ano Cidadania e 8o Ano 2 e os responsveis por eles, por terem
participado da pesquisa.
A todos que, de uma forma ou de outra, contriburam para este trabalho.
"O servio mais til que os lingistas podem prestar hoje varrer a iluso da 'deficincia verbal' e oferecer uma noo mais adequada das relaes entre dialetos-padro e no-padro." (William Labov)
A aprendizagem que fica...
RESUMO
O processo de ensino e aprendizagem da lngua portuguesa deve ter como objetivo o
desenvolvimento e a ampliao das competncias lingustico-comunicativas, considerando, na
prtica escolar, as necessidades, demandas, habilidades e potencialidades do alunado. Esta
pesquisa analisa, com base nos pressupostos terico-metodolgicos da Sociolingustica
Educacional, da pesquisa etnogrfica e da pesquisa-interveno, a variao no ensino da
lngua portuguesa em duas turmas do Ensino Fundamental II 6 ao 9 ano da Escola
Municipal Jos Maria dos Mares Guia, de Baro de Cocais Minas Gerais. Focaliza o ensino
do portugus como um conjunto de variedades, buscando apreender a imagem que os alunos
tm da lngua portuguesa, mais especificamente aquela relacionada aos usos diferentes do
padro e sugere aes e estratgias para que a variao lingustica venha a se tornar um
componente curricular. Para isso o texto esclarece a noo de preconceito lingustico, ao
mesmo tempo em que aponta a necessidade de o aluno conhecer e usar o portugus padro e
avalia a aplicabilidade daquelas aes e estratgias que enfatizam a importncia do domnio
satisfatrio dessa variedade da lngua. Os resultados apontam que a abordagem da variao
lingustica pela perspectiva dos contnuos oralidade-letramento, monitorao estilstica e
rural-urbano pode ser muito produtiva, pois, potencializa o uso da linguagem de acordo com a
situao sociomunicativa, desmitifica crenas negativas e preconceitos e desenvolve hbitos
de reflexo e conscientizao lingustica, o que contribui para a construo de imagens
positivas sobre a lngua e suas variedades.
Palavras-chave: Ensino da lngua portuguesa. Variao. Crenas. Preconceito.
ABSTRACT
The aim of teaching and learning the Portuguese language must be the development and
improvement of the linguistic and communicative skills while students needs, demands,
abilities and potentialities are comsidered. Based upon the theoretical and methodological
principles of the Educational Sociolinguistics, Etnography and the Intervention Research, this
work analyses the linguistic variation in the teaching of the Portuguese language in two
groups of the Ensino Fundamental II 6th to 9th grade of the Municipal School Jos Maria
dos Mares Guia, Baro de Cocais City, Minas Gerais state, Brazil. The text focuses on the
teaching of Portuguese as a set of variations in order to find the images students make of their
native language, mainly that referring to the uses different from the Standard language and
suggests strategies and actions so that the linguistic variation issue would become part of the
school curriculum. To accomplish such a goal, text discusses linguistic prejudice while points
at the necessity of students knowing and using the Standard Portuguese and evaluates the
aplicability of those strategies and actions that emphasize the relevance of a satisfactory
control over the Standard Portuguese. Results showed that the approach of the linguistic
variation under the continums of orality/literacy, stylistic control and rural-urban language
may be highly productive because it potentializes the use of language according to the
communicative situation, desmythicize negative thoughts and prejudices, stimulate reflexion
and linguistic consciousness, aspects which may contribute the construction of positive
images about language and its variations.
Keywords: Teaching the Portuguese language. Variation. Thoughts. Prejudice.
LISTA DE ILUSTRAES
Tabela 1 Taxas de matrcula na rede pblica de ensino de Baro de Cocais............. 23
Tabela 2 Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia: nveis de ensino e nmero
de alunos.....................................................................................................
25
Tabela 3 Avaliao dos Mdulos............................................................................... 184
Figura 1 Sequncia didtica ......................................................................................... 102
Quadro 1 Cronograma de Aplicao dos Mdulos da Sequenciao de
Atividades...................................................................................................
161
Quadro 2 Cronograma de Aplicao dos Exerccios de Verificao de
Aprendizagem ...........................................................................................
162
Quadro 3 ndice de Participao dos Alunos nos Mdulos ...................................... 163
Quadro 4 Exerccio de Verificao de Aprendizagem 1 .......................................... 191
Quadro 5 Exerccio de Verificao de Aprendizagem 3 ........................................... 193
Fluxograma 1 Fases de Desenvolvimento da Pesquisa ............................................. 210
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Idade dos alunos ........................................................................................
30
Grfico 2 Situao dos alunos nas turmas ................................................................. 30
Grfico 3 Distoro idade-ano escolar Alunos ...................................................... 30
Grfico 4 Nascimento em Baro de Cocais Alunos ............................................... 31
Grfico 5 Local onde mora Alunos ........................................................................ 31
Grfico 6 Percepo sobre o local onde vive Alunos ............................................ 32
Grfico 7 Nascimento em Baro de Cocais Responsveis ..................................... 38
Grfico 8 Localidade onde mora Responsveis ..................................................... 39
Grfico 9 Percepo sobre o local onde vive Responsveis .................................. 39
Grfico 10 Percepo sobre a vida que tem Responsveis .................................... 40
Grfico 11 Escolaridade Responsveis................................................................... 41
Grfico 12 Habilidades de leitura e escrita Responsveis ..................................... 41
Grfico 13 Percepo sobre a escola Responsveis ............................................... 43
Grfico 14 Imagens dos alunos sobre como eles mesmos usam a lngua ................. 46
Grfico 15 Imagens dos alunos sobre como os responsveis usam a lngua ............ 47
Grfico 16 Imagens dos responsveis sobre como eles mesmos usam a lngua ....... 48
Grfico 17 Imagens dos responsveis sobre como os alunos usam a lngua ............ 49
Grfico 18 Modo como a lngua portuguesa foi utilizada na msica Saudosa
Maloca ....................................................................................................
107
Grfico 19 Modo como Mirna e Crispim falam ........................................................ 110
Grfico 20 Voc falaria do modo como Mirna e Crispim falam .............................. 110
LISTA DE SMBOLOS
Apresenta os objetivos de cada mdulo.
Aborda conjunto de atividades de reflexo, com o objetivo de desenvolver a argumentao e a oralidade.
Contempla tpicos ou conceitos relativos aos contedos em estudo.
Apresenta atividades de leitura ou aes a serem realizadas conforme os objetivos de cada mdulo.
Potencializa o processo de pesquisa, propondo desafios aos alunos.
Prope a avaliao de cada mdulo realizado.
Prope avaliar a sequenciao de atividades.
Detalha o tempo de cada mdulo.
Prope um pensamento para reflexo.
Disponibiliza recurso de udio ou vdeo.
SUMRIO
1 PALAVRAS INICIAIS .................................................................................. 18
2 CONTEXTUALIZAO DA PROPOSTA ................................................
21
2.1 O municpio de Baro de Cocais ................................................................... 21
2.2 A Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia ........................................ 24
2.3 O pblico-alvo da pesquisa ............................................................................ 27
2.3.1 Perfil dos alunos do 6 Ano Cidadania e do 8o. Ano 2...................................... 29
2.3.1.1 Caractersticas prprias e percepes sobre a vida e a famlia ........................ 29
2.3.1.2 Prticas de letramento ...................................................................................... 33
2.3.1.3 Relao entre responsveis e alunos com a leitura e a escrita, com os estudos
e com a escola ..................................................................................................
35
2.3.2 Perfil do responsvel por aluno ....................................................................... 38
2.3.2.1 Caractersticas prprias e percepes sobre a vida e a famlia ........................ 38
2.3.2.2 Prticas de letramento ...................................................................................... 41
2.3.2.3 Relao dos responsveis com a leitura, com a escrita, com os estudos e com
a escola dos alunos ...........................................................................................
43
2.4 As imagens da lngua ..................................................................................... 46
2.4.1 Como os alunos percebem os usos da lngua ................................................... 46
2.4.2 Como os responsveis percebem os usos da lngua ......................................... 48
2.5 Cruzamento das informaes extradas das respostas ao Questionrio No
1 Perfil de Aluno e ao Questionrio No 2 Responsvel por Aluno(a) ..
50
3 FUNDAMENTAO TERICA ................................................................
53
3.1 Viso tradicional sobre o ensino de lngua materna ................................... 54
3.2 Viso da Lingustica sobre o ensino de lngua materna .............................. 59
3.3 A abordagem da lngua portuguesa em sala de aula .................................. 69
3.3.1 A Sociolingustica ............................................................................................. 72
3.3.1.1 A Sociolingustica Educacional ....................................................................... 77
3.4 Crenas e atitudes sobre a linguagem .......................................................... 81
3.4.1 Preconceito lingustico ..................................................................................... 85
4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ................................................ 96
4.1 Instrumental de interveno ......................................................................... 96
4.2 Coleta de dados ............................................................................................... 106
4.2.1 Cruzamento das informaes extradas das Atividades de Percepo
Lingustica No1, No2, No3 e No4 .......................................................................
114
4.3 A sequenciao de atividades ........................................................................ 115
4.3.1 Baro de Cocais: da variao lingustica valorizao do cocaiense ........... 117
5 INTERVENO: APLICAO E RESULTADOS .................................
161
5.1 Participao dos Alunos ................................................................................ 163
5.2 Resultados ....................................................................................................... 164
5.2.1 Descrio dos Mdulos .................................................................................... 164
5.2.2 Avaliao dos Mdulos e da Aprendizagem pelos Alunos ............................... 184
5.2.3 Exerccios de Verificao de Aprendizagem .................................................... 190
5.2.3.1 Exerccio de Verificao de Aprendizagem 1 .................................................. 190
5.2.3.2 Exerccio de Verificao de Aprendizagem 2 .................................................. 191
5.2.3.3 Exerccio de Verificao de Aprendizagem 3 .................................................. 192
5.2.4 Questo em Avaliao Bimestral ..................................................................... 194
5.2.5 Anlise dos Resultados ..................................................................................... 197
6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................................
209
REFERNCIAS .............................................................................................
213
ANEXOS .........................................................................................................
ANEXO A Questionrio N 1 Perfil de Aluno...........................................
224
225
ANEXO B Questionrio N 2 Responsvel por Aluno(a) ........................ 233
ANEXO C Atividade de Percepo Lingustica No 1 .................................. 240
ANEXO D Atividade de Percepo Lingustica No2 ................................... 243
ANEXO E Atividade de Percepo Lingustica No3 ................................... 244
ANEXO F Atividade de Percepo Lingustica No4 .................................... 246
ANEXO G Grficos Complementares ......................................................... 249
ANEXO H Exerccio de Verificao de Aprendizagem No 1 ....................... 276
ANEXO I Exerccio de Verificao de Aprendizagem No 2 ........................ 277
ANEXO J Exerccio de Verificao de Aprendizagem No 3 ........................ 278
ANEXO K Ficha de Avaliao ..................................................................... 279
ANEXO L Questo da Avaliao Bimestral de Lngua Portuguesa ............. 280
ANEXO M Comentrio sobre Questo da Avaliao Bimestral .................. 281
ANEXO N Ficha de Comentrio .................................................................. 282
18
1 PALAVRAS INICIAIS
de se esperar que o processo de ensino e aprendizagem da lngua portuguesa
venha a contribuir para o desenvolvimento das competncias lingustico-comunicativas do
educando. Para tanto, fundamental considerar, na prtica escolar, as necessidades,
demandas, habilidades e potencialidades daquele que a razo primeira e ltima da
instituio escolar.
Diante disso, questes de diversas ordens e complexidades permeiam as reflexes
sobre os encaminhamentos didtico-pedaggicos a serem considerados em sala de aula: Quem
o aluno? Quais so as suas caractersticas? Quais so seus interesses? A prtica
pedaggica tem contribudo, de fato, para a vida social desse aluno? Seriam os recursos
utilizados, realmente, os mais eficazes e adequados?Como tornar a abordagem da linguagem
prtica ainda mais efetiva e produtora de letramento? Seria a lngua abordada em suas
variedades, de acordo com os contextos de uso?
No nosso contexto de atuao profissional na Escola Municipal Jos Maria dos
Mares Guia, em Baro de Cocais MG, percebemos a necessidade da elaborao de
objetos/recursos de aprendizagem que permitam ao educando construir, (re)ver, criticar,
analisar, buscando, assim, o desenvolvimento de competncias gramaticais, lingusticas,
textuais e discursivas, pois, como bem destaca Cagliari (2009), no se pode somente submeter
os alunos ao processo de ensino, mas tambm pensar a aprendizagem.
Por termos detectado vrios casos de percepo negativa de alguns alunos sobre
sua lngua nativa, tornou-se fundamental avaliarmos a prtica em sala de aula e delinear o
perfil do alunado em questo, visto que so diversos os fatores que podem se concorrer para a
construo dessas imagens, desde os especficos da realidade de cada aluno at os mtodos e
materiais utilizados, que podem resultar em uma aprendizagem pouco significativa. Foi, pois,
essencial, conhecer, em detalhes, as caractersticas escolares, sociais, culturais, histricas e
demogrficas dos educandos (QUEIROZ; PEREIRA, 2013), considerando que esses fatores
podem influenciar o sucesso ou fracasso escolar (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2000).
Surgiu, ento, a necessidade de se desenvolver uma pesquisa que abordasse a
etnografia da sala de aula e as prticas de letramento escolares e no escolares e, a partir
disso, elaborar materiais que inovassem os procedimentos didticos e contribussem para uma
prtica educativa multiletrada e cidad, por meio de dilogo estreito com a realidade em que o
aluno est inserido, observando, a, os elementos de sua vivncia e de sua cultura de forma a
19
promover aprendizagens, a valorao da terra e da comunidade, a percepo da importncia
da escola e o uso da lngua de acordo com os eventos comunicativos, ou seja, as situaes
sociocomunicativas como conjunto de prticas de linguagem que, cristalizadas sob a forma de
gneros textuais, so social e historicamente (re)construdas (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004).
Assim, traamos como hipteses norteadoras desta pesquisa: a) alunos
demonstram ter conceitos equivocados ou deturpados a respeito da variao lingustica,
principalmente com relao aos usos diferentes do padro; b) a abordagem do portugus
padro e o tratamento da variao podem ser favorecidos com a aplicao de atividades e
exerccios de uso e reflexo sobre a lngua, por meio dos quais se poder proporcionar
aprendizagem. Com base nessas hipteses, delimitamos como objetivo geral abordar a
variao lingustica em sala de aula e, a partir disso, delineamos como objetivos especficos:
a) apreender a imagem que os alunos possuem sobre a lngua portuguesa, sobretudo com
relao aos usos diferentes do padro; b) sugerir aes e estratgias para que a variao torne-
se componente curricular e, consequentemente, seja esclarecido, ou mesmo banido, o
preconceito lingustico; c) reconhecer a importncia e a necessidade de o aluno ter acesso ao
portugus padro, desenvolvendo atividades que contribuam para a anlise dessa variedade.
Como forma de operacionalizar esses objetivos, procedemos, com base nos pressupostos
terico-metodolgicos da Sociolingustica Educacional, da pesquisa etnogrfica e da
pesquisa-interveno, elaborao e aplicao de sequenciao de atividades, procurando
articular a abordagem da variao lingustica percepo da lngua como patrimnio.
A anlise dos dados obtidos a partir das atividades aplicadas durante a
sequenciao de atividades, de exerccios de verificao de aprendizagem e de questo em
avaliao bimestral, permitiu-nos antever o sucesso de um fazer pedaggico que
desmitificasse crenas e preconceitos, que conhecesse e respeitasse a linguagem do aluno,
levando-o a uma situao de uso da lngua de forma consciente, criativa e adequada s mais
diversas situaes de interao e comunicao. Por isso, as aes empreendidas, visando
melhoria do processo de ensino e aprendizagem da lngua portuguesa em sala de aula,
encontram-se em consonncia com os pressupostos e objetivos que constam no Projeto do
Programa do Mestrado Profissional em Letras ProfLetras 2013, quando este objetiva
ampliar a qualidade do Ensino Fundamental, melhorar a proficincia dos alunos nas
habilidades leitoras e escritoras e desenvolver pedagogias que efetivem os multiletramentos.
nesse sentido que propomos contribuies para a melhoria da abordagem da lngua
portuguesa em sala de aula, na medida em que, focalizando o tratamento da variao
20
lingustica e sua relao com a realidade social do aluno, colaboramos para a execuo de um
fazer pedaggico construtivo, significativo, crtico e contextualizado.
Nosso trabalho se encontra assim estruturado: no captulo 2, contextualizamos a
proposta desta pesquisa; apresentamos, no captulo 3, os referenciais que embasam nossas
reflexes: os pressupostos terico-metodolgicos da Sociolingustica Educacional, da
pesquisa etnogrfica e da pesquisa-interveno. O captulo 4 dedicado proposta de
interveno e, no captulo 5, analisamos os resultados verificados. No captulo 6 so
apresentadas algumas consideraes sobre o trabalho desensolvido. Finalmente, arrolamos as
referncias que embasaram nossa pesquisa e apresentamos, em anexo, grficos
complementares analise empreendida e os procedimentos aplicados aos alunos e
colaboradores da pesquisa (seus responsveis).
oportuno enfatizar que a pesquisa realizada, cujos resultados aqui se
apresentam, obedeceu s normas ticas e legais vigentes, sendo devidamente inserida na
Plataforma Brasil sob o projeto intitulado A variao lingustica e o ensino de lngua
materna: o portugus padro como segundo dialeto e, tambm, devidamente detalhada
direo da escola, aos responsveis pelos alunos e aos alunos das duas turmas envolvidas, os
quais permitiram a realizao do estudo. Eles, por sua deciso livre e espontnea vontade,
assinaram, respectivamente, termos de concordncia, consentimento e assentimento.
Esperamos, com esta pesquisa, propiciar aos alunos maior entendimento sobre o
tema variao lingustica e o uso da linguagem de acordo com as mais diversas situaes
sociointerativas, e contribuir com os diversos trabalhos que abordam as aplicaes (e
implicaes) da Sociolingustica em sala de aula.
21
2 CONTEXTUALIZAO DA PROPOSTA
O processo de ensino/aprendizagem no pode desconsiderar, na prtica, os
elementos da vivncia e da cultura dos alunos, a relao com a terra e a comunidade, a
percepo sobre a escola e o uso da lngua nos eventos comunicativos, de forma a promover
aprendizagens. Por essas razes, neste captulo, ser descrito e analisado o contexto em que se
insere a Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia, considerando os dados sobre o
municpio de Baro de Cocais, as caractersticas da escola e os perfis dos alunos e dos
responsveis por eles, personagens com cuja colaborao desenvolvemos esta pesquisa.
Diante da hiptese de que alunos demonstram ter conceitos equivocados ou
deturpados a respeito da variao lingustica, principalmente com relao aos usos
dissonantes da variedade padro, procedemos ao desenvolvimento de pesquisa etnogrfica.
Para tanto, aplicamos questionrio aos alunos e aos responsveis por eles, foram analisados
documentos da escola e das Secretaria Municipal de Cultura e Secretaria Municipal de
Educao e consideramos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE e da
Prova Brasil (2011), com o objetivo de discutirmos o problema desta pesquisa: a percepo
negativa dos alunos sobre sua lngua nativa e os possveis fatores intervenientes, analisando
dados referentes ao muncipio e sua histria, caractersticas socioeconmicas e grau de
escolaridade dos responsveis envolvidos, resultados de avaliaes externas e internas
aplicadas aos alunos, prticas de letramento tanto de alunos quanto de responsveis, as
percepes sobre a vida, o lugar onde moram e a famlia, a relao entre responsveis, alunos
e escola e, finalmente, as imagens sobre a lngua, elementos que, analisados de forma
articulada e integrada, permitiram-nos identificar o problema-foco deste trabalho. A partir
dele, delineamos a proposta de pesquisa, a escolha dos fundamentos terico-metodolgicos e
a elaborao e aplicao da proposta de interveno.
2.1 O municpio de Baro de Cocais
Conforme os documentos Contexto Histrico, Informaes sobre Baro de
Cocais, Informaes Resumidas de Baro e Manifestaes Populares e Folclricas, da
22
Secretaria Municipal de Cultura, o municpio de Baro de Cocais, que se localiza na Serra da
Cambota, regio Centro-Leste do Estado, distando 93 km de Belo Horizonte, conhecido
nacionalmente como "Portal do Caraa", tendo sido fundado em 29 de agosto de 1704, pelo
bandeirante portugus Manoel da Cmara Bittencourt, e vindo a se oficializar pelo Decreto-
Lei Estadual N 1058, de 31 de dezembro de 1943. O gentlico cocaiense denomina os
habitantes do municpio, cujo dia comemorado em 24 de junho. O surgimento da localidade
remete s antigas bandeiras. Em busca das riquezas que o rio oferecia, novos habitantes iam
chegando, formando o ncleo humano de So Joo do Morro Grande (devido ao fato de o
antigo arraial ter-se formado no sop de um extenso morro), que mais tarde se tornaria Baro
de Cocais, em homenagem a Jos Feliciano Pinto Coelho, o Baro de Cocais, que dava
trabalho aos moradores da regio. Segundo dados do IBGE (BRASIL, 2012), a cidade
apresentava, em 2012, uma populao de 28.442 (estimada, para 2013, em 30.501 habitantes),
sendo 2656 na rea rural e 25786 na zona urbana, dos quais 25086 foram considerados
alfabetizados. Apresenta ndice de Desenvolvimento Humano de 0,722.
O municpio, inserido na regio do Quadriltero Ferrfero, tem sua economia
sustentada pela minerao, atividade com que se envolvem grandes empresas como a Vale do
Rio Doce e Gerdau. Estando na rota da Estrada Real, firma-se cada vez mais no contexto
nacional, destacando-se por sua riqueza natural, cultural e artstica: obras de Aleijadinho e
Mestre Atade; o Santurio de So Joo Batista; o Centro de Referncia Histrico; a Igreja
Nossa Senhora Me Augusta do Socorro; o Cruzeiro das Almas; o Stio Arqueolgico da
Pedra Pintada, com pinturas rupestres que datam de 6.000 a. C. e que reproduzem smbolos da
arte pr-colombiana; as belas cachoeiras da Pedra Pintada e da Cambota; os campos do
Garimpo; as runas do Gongo Soco; a Vila Colonial de Cocais, com casario antigo, as Igrejas
de SantAnna e do Rosrio, o museu Fernando Toco; os grupos folclricos da Cavalhada, de
Folia de Reis, de Congos Nossa Senhora do Rosrio; a Banda Santa Ceclia e o Coral
Querubins; e as inmeras festividades, como: Jubileu de So Joo Batista, Nossa Senhora do
Rosrio, SantAnna, Nossa Senhora Me Augusta do Socorro, Encontro Motociclstico,
Circuito Cultural Festa Ps de Pomba e Baile Brega.
Em relao aos dados educacionais, no ano de 2012, houve, para o Ensino Pr-
Escolar 812 matrculas, para o Ensino Fundamental 4253 e para o Ensino Mdio 1373. Sobre
os docentes, 41 lecionavam no Ensino Pr-Escolar, 251 no Fundamental e 109 no Mdio.
Para atender a essa clientela, havia 16 escolas do Ensino Pr-Escolar, 17 para o Fundamental
e 6 para o Mdio.
23
Segundo a Secretaria Municipal de Educao, atualmente, as taxas de matrculas
so:
Tabela 1 Taxas de matrcula na rede pblica de ensino de Baro de Cocais
Modalidade
Rede
Educao Infantil
Ensino Fundamental 1 ao
5 ano
Educao Fundamental 6 ao 9
ano
Ensino Mdio
Educao de Jovens
e Adultos Total
Municipal 1080 2080 769 51 25 4005
Estadual - 157 1157 1205 87 2606
Total 1080 2237 1926 1256 112 6611
Fonte: Secretaria Municipal de Educao (2014).
A rede municipal de ensino atende, ainda, 76 alunos em tempo integral e 16
alunos em Atendimento Educacional Especializado. O ensino estadual compreende 5 escolas,
sendo uma do Ensino Fundamental I, Escola Estadual Padre Heitor; quatro do Ensino
Fundamental II, Escola Estadual Efignia de Barros, Escola Estadual Jos Maria de Morais,
Escola Estadual Coronel Cncio, Escola Estadual Padre Heitor; trs do Ensino Mdio, Escola
Estadual Odilon Behrens, Escola Estadual Jos Maria de Morais, Escola Estadual Padre
Heitor; e duas destinadas Educao de Jovens e Adultos, Escola Estadual Coronel Cncio,
Escola Estadual Odilon Behrens.
A rede municipal, por sua vez, compreende 14 escolas. A Educao Infantil
ofertada pelas instituies Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia, Escola Municipal
Professora Rosina Rodrigues Soares Silva, Escola Municipal Professora Norma das Graas
Horta, Escola Municipal Trenzinho da Alegria, Centro Municipal de Educao Monsenhor
Gerardo Magela Pereira, Escola Municipal Maria da Glria Tavares Chamonge, Escola
Municipal Capito Soares, Escola Municipal Mestre Quinto, Escola Municipal Pedro
Gonalves, Escola Municipal Monsenhor Joo Raimundo, Escola Municipal Casinha Feliz.
Atendem ao Ensino Fundamental I o Centro Municipal de Educao Nossa Senhora do
Rosrio, a Escola Jos Maria dos Mares Guia, a Escola Municipal Professora Rosina
Rodrigues Soares Silva, a Escola Municipal Professora Norma das Graas Horta, a Escola
Municipal Maria da Glria Tavares Chamonge, a Escola Municipal Capito Soares, a Escola
Municipal Mestre Quinto, a Escola Municipal Pedro Gonalves, a Escola Municipal
Monsenhor Joo Raimundo e a Escola Municipal Alvina Campos. O Ensino Fundamental II,
24
por sua vez, oferecido pelo Centro Municipal de Educao Nossa Senhora do Rosrio, pela
Escola Municipal Alvina Campos e pela Escola Jos Maria dos Mares Guia, enquanto que o
Ensino Mdio tambm atendido pela primeira, e a ltima ainda atende a Educao de Jovens
e Adultos.
A rede privada tem como principais escolas o Centro Educacional Beldani, que
oferta Educao Infantil, Ensino Fundamental I e II, Ensino Mdio e Ensino Tcnico em
Minerao e em Mecatrnica, e o Colgio Pitgoras, que oferta a Educao Infantil, Ensino
Fundamental I e II e Ensino Mdio.
H ainda o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI, que oferece
cursos tcnicos na rea industrial e cursos de aprendizagem, e o Centro de Formao de
Ensino Tcnico Profissional CENFOTEC, que oferece cursos tcnicos variados.
No que tange educao em nvel superior, duas so as instituies com sede
prpria: o Polo Universidade Aberta do Brasil UAB, que oferece, em parceria com a
Universidade Federal de Ouro Preto, as graduaes em Administrao, Geografia,
Matemtica e Pedagogia e especializao em Prticas Pedaggicas. Alm disso, h a
Faculdade Presidente Antnio Carlos de Baro de Cocais, que oferta o curso de Engenharia de
Produo.
2.2 A Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia
Fundada em 1996 com o nome provisrio de Escola Municipal Santa Cruz, situa-
se no Bairro Santa Cruz. Ofertando Educao Infantil, Ensino Fundamental I e Educao de
Jovens e Adultos, a escola teve autorizao de funcionamento em 09 de agosto de 1997 e, no
ano de 2005, foi implantado, gradativamente, o Ensino Fundamental II (6 ao 9o. ano). O
nome da instituio uma homenagem a um grande mdico nascido na cidade vizinha de
Santa Brbara que prestou servios comunidade. Segundo o documento Histria da Escola
Municipal Jos Maria dos Mares Guia, o objetivo da instituio :
[...] oferecer um ensino de qualidade, na formao, educao e processo de seus alunos, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo consciente para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho, acreditando tambm que os Pais e a Escola, sempre unidos, caminharo rumo ao sucesso educacional (ESCOLA MUNICIPAL JOS MARIA DOS MARES GUIA, 2014, s. p. ).
25
Atualmente, a instituo atende a 425 alunos oriundos dos bairros Santa Cruz,
Trs Moinhos, So Benedito, Rezende, Joo Paulo e Ponte Paixo e das comunidades do
Socorro, Gongo Soco, Crrego da Ona e So Gonalo do Rio Acima. Oferta Educao
Infantil, Ensino Fundamental I e II e EJA, de acordo com a seguinte distribuio de turmas:
Tabela 2 Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia: nveis de ensino e nmero de alunos
Fonte: Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia (2014).
A escola conta com 55 funcionrios: uma diretora, com curso de especializao;
uma vice-diretora, com curso superior; duas supervisoras, com curso de especializao; uma
secretria, com curso superior; duas auxiliares de secretaria, uma com curso superior e a outra
com curso de especializao; dezessete professores MAP I, dos quais nove possuem curso
superior e oito especializao; dezenove professores MAP II, sendo dois cursando o nvel
superior, sete com esse nvel, nove com curso de especializao e um cursando Mestrado;
Nvel de Ensino Nmero de Alunos Educao Infantil
Maternal Patati Patat 20 1 Perodo Galinha Pintadinha 14 2 Perodo Girassol 23 Total 57
Ensino Fundamental 1 Ano Vinicius de Moraes 20 1 Ano Elias Jos 21 2 Ano Turma da Mnica 29 3 Ano Amizade 23 4 Ano Prestgio 28 5 Ano Carlos Drummond 20 5 Ano Esperana 17 6 Ano Cidadania 23 6 Ano Harmonia 22 6 Ano Luz 18 7 Ano 01 29 7 Ano 02 20 8 Ano 01 17 8 Ano 02 19 9 Ano 01 23 9 Ano 02 19 Total 348
Educao de Jovens e Adultos EJA I e II 20
Total 20 TOTAL GERAL 425
26
uma auxiliar de biblioteca, fazendo curso superior; quatro serventes escolares, das quais trs
com ensino fundamental, e uma com ensino mdio; e sete auxiliares de servios gerais, uma
com ensino fundamental e as demais com o ensino mdio completo.
Em relao situao funcional, a diretora e a vice-diretora, embora em cargos
comissionados, so do quadro efetivo, respectivamente, supervisora e professora MAP I, uma
supervisora contratada e a outra efetiva; a secretria e as auxiliares de secretria so
efetivas; dos professores MAP I, nove so efetivos, sete so nomeados e trs so contratados;
em relao aos professores MAP II, oito esto na condio de efetivos, seis na de nomeados e
cinco na de contratados; a auxiliar de biblioteca efetiva; das serventes escolares, uma
efetiva e as demais contratadas; das auxiliares de servios gerais, trs so efetivas e quatro so
nomeadas.
A estrutura fsica da escola compreende 9 salas de aula, um espao destinado para
o laboratrio multimdia, uma sala para o ensino multi-seriado, uma biblioteca, uma sala para
o atendimento educacional especializado, uma cantina, um refeitrio, um espao para o ptio-
quadra, outro para o ptio-teatro, banheiro infantil, banheiro masculino e feminino, sala de
secretaria, sala de superviso, sala de diretoria. O entorno da escola arborizado e possui um
jardim. A escola encontra-se conservada e, recentemente, passou por uma reforma.
A biblioteca possui acervo relativamente bom, mas no possui uma grande
variedade ou nmero de volumes suficientes. Em seu acervo, h livros literrios de autores
diversos, a Biblioteca Gerdau, enciclopdias como a Barsa e a Pape, livros de formao para o
professor, revistas fornecidas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao Bsica e
o kit de livros do Pacto Nacional pela Alfabetizao na Idade Certa PNAIC. Uma questo
problemtica, talvez, resida no fato de que o espao seja tambm utilizado como sala dos
professores e de exibio de filmes, alm de servir como almoxarifado para guardar materiais
para os alunos, professores e secretaria e equipamentos como data-show, televiso, DVDs e
mquina de xerox. Dessa forma, no h um ambiente propcio leitura literria e pesquisa.
Por outro lado, os intervalos do recreio constituem momentos importantes de encontro e
viagem ao mundo fantstico da leitura.
Sobre os projetos desenvolvidos pela escola, h o 5S (na cultura nipnica, cinco
palavras iniciadas por s: seiri utilizao, seiton arrumao, seiso limpeza, seiketsu
normalizar e shitsuke disciplina), que, desenvolvido em parceria com a Empresa Gerdau,
focaliza os sensos de ordenao, limpeza, utilizao, sade e disciplina, e o Projeto Jornal 6
ao 9o Anos que, por meio do texto jornalstico, potencializa a leitura e a escrita.
27
Em relao Educao Infantil e ao Ensino Fundamenal do 1o ao 5o Ano, h: o
Projeto Poesia, que consiste na apresentao de um poema para os demais alunos por uma
turma no evento Toda Quinta Potica, o Projeto Teatro, no qual, mensalmente, uma turma
apresenta uma pea teatral; o Projeto de Lngua Portuguesa, no qual se escolhe um tema, por
exemplo, qualidade de vida, e elaboram-se aes com foco na oralidade, leitura e produo
escrita; o Projeto Toda Criana em Movimento, por meio do qual, dentro do eixo Corpo e
Movimento, prope-se aos alunos uma srie de brincadeiras cantadas, ensina-se como se
brinca e como se canta, trabalhando a coordenao motora e explorando os diversos
movimentos.
2.3 O pblico-alvo da pesquisa: aspectos socioculturais e reflexes
A abordagem da lngua portuguesa, para ser significativa, deve se basear nas
demandas do seu pblico-alvo. fundamental que o professor tenha conhecimento sobre a
clientela que lhe permita planejar eficientemente as aulas, o que requer a anlise de
documentos que a escola conserva sobre os alunos, a discusso sobre resultados em
avaliaes internas e externas e a percepo de suas caractersticas socioculturais. Em funo
disso, torna-se necessrio conhecer esses e outros aspectos da Escola Municipal Jos Maria
dos Mares Guia.
De acordo com o Plano de Desenvolvimento da Escola PDE Interativo (2010),
as maiores taxas de evaso se concentram entre as turmas do 6 ao 9o Ano; h alto ndice de
reprovao no 6 Ano e o sistema de avaliao tem priorizado aspectos quantitativos em
detrimento dos qualitativos. Com base no Plano de Interveno da Escola (2013), e
considerando os pontos pertinentes a este projeto, fica evidenciada a necessidade de se
melhorar a competncia em leitura e escrita, e de se adotarem medidas disciplinares e
promover o estreitamento das relaes entre escola e famlia.
Outro documento importante a ser analisado o Questionrio Perfil do Aluno
(2013) aplicado pela Escola aos alunos, dos quais 27 responderam. Pode-se, de modo geral, e
em relao ao foco deste projeto, constatar que:
48% deles afirmam que o ambiente de sala de aula precisa melhorar;
52% dos alunos se dispem a fazer as atividades propostas em sala;
55% deles fazem as atividades propostas para casa;
28
67% dos alunos querem menos tarefas escolares;
33% deles afirmam que colaboram com os colegas, no perturbando as aulas;
15% afirmam ter ajuda na realizao das tarefas propostas para casa;
82% dos alunos afirmam gostar de ler;
33% deles atestam que sua leitura lenta e precisam ler mais de uma vez para
entender o que est escrito;
41% dos alunos alegam precisar melhorar sua produo de textos ;
30% deles afirmam no gostar de produzir textos, pois tm muita dificuldade
para redigir.
Segundo dados da Prova Brasil 2011, disponibilizados pelo site Q Edu, referentes
a 31 alunos da Escola:
35% deles aprenderam o adequado na competncia em leitura e interpretao
de textos at o 9 Ano, ao passo que 50% esto no nvel bsico e 15% se
encontram no nvel insuficiente;
98% alegam que a me, ou a mulher responsvel, sabe ler e escrever;
73% deles j presenciaram a me ou mulher responsvel lendo;
91% afirmam que o pai, ou homem responsvel, sabe ler e escrever;
78% deles atestam que j presenciaram o pai, ou homem responsvel, lendo;
60% confirmam que os pais ou responsveis vo sempre, ou quase sempre,
reunio de pais;
12% deles afirmam que leem sempre, ou quase sempre, jornais (inclusive os
de distribuio gratuita);
21% deles disseram que leem sempre ou quase sempre livros em geral;
46% afirmam que leem sempre ou quase sempre revistas em geral;
48% deles atestam que leem sempre, ou quase sempre, revistas em
quadrinhos;
25% afirmam que frequentam sempre, ou quase sempre, bibliotecas;
79% deles admitem que gostam de estudar a lngua portuguesa;
72% atestam que fazem sempre, ou quase sempre, o dever de casa de lngua
portuguesa.
Cruzando os dados dos trs documentos da Escola e da Prova Brasil 2011,
podemos perceber a importncia de se aprofundarem os conhecimentos sobre a realidade
escolar, cultural, demogrfica, histrica e social do aluno, anlise que pode ser feita por meio
http://www.qedu.org.br/
29
de uma pesquisa etnogrfica para, a partir disso, propormos uma interveno pedaggica
significativa e eficiente. fundamental entender as causas das (considerveis) taxas de evaso
e reprovao, estudar os casos preocupantes de indisciplina e a (incipiente) participao da
famlia na vida escolar do filho, analisar os mtodos avaliativos e suas consequncias para o
processo educativo, os (altos) ndices de atividades no realizadas, as percepes lingusticas
do aluno, as prticas de letramento escolares e no escolares e o processo de ensino e
aprendizagem da lngua portuguesa. Procurando ampliar o conhecimento sobre esses dados,
foram aplicados questionrios ao pblico-alvo desta pesquisa, os alunos do 6 Ano Cidadania1
e os do 8o Ano 2, e aos responsveis por esses alunos.
Apresentamos, a seguir, os dados levantados.
2.3.1 Perfil2 dos alunos do 6 Ano Cidadania e do 8o Ano 2
A turma do 6 Cidadania composta por 23 alunos, sendo que 19 alunos,
matriculados na turma do 8o Ano 2, responderam ao Questionrio No 1 Perfil de Aluno
(Anexo A), que objetivou compreender a realidade socioeconmica dos alunos e as prticas
de leitura e escrita que lhes foram aplicadas.
2.3.1.1 Caractersticas prprias e percepes sobre a vida e a famlia
Em relao idade dos alunos, temos que:
1 Essa turma chamava-se, no incio do ano letivo, 6o Ano 1, e tinha 32 alunos. Depois, houve remanejamento de alunos e mudana de nome, passando a ser 6o Ano Cidadania, com 23 alunos. 2 O perfil dos alunos e dos responsveis pelos alunos foi codificado da seguinte forma: 6 ou 8 indica o ano ou turma em que est o aluno, recebendo o responsvel o mesmo nmero; aps esse nmero segue a letra A, indicando que se trata de aluno, ou a letra R, indicando que se trata do responsvel por esse aluno; depois dado a cada aluno (e seu respetivo responsvel) outro nmero, diferente do nmero da chamada, para evitar o reconhecimento do aluno, resguardando, assim, sua identidade. Por exemplo: 6A1 indica que o informante se refere ao 6o Ano, aluno, e recebeu a numerao 1; 8R3 indica que o informante referente ao 8o Ano, responsvel por aluno, e recebeu a numerao 3.
30
Grfico 1 Idade dos alunos
Fonte: Pesquisa do autor.
Analisando os dados, a maioria (61%) dos alunos do 6 Ano Cidadania est na
faixa etria esperada para esse ano escolar ou so novatos nesse nvel, ao passo que apenas
um aluno (5%) do 8o Ano 2 apresenta idade compatvel esperada para cursar essa srie,
demonstrando, neste caso, considervel ndice de distoro idade-ano escolar e de reprovao
dessa turma no ano passado, conforme o Grfico 2 e o Grfico 3:
Grfico 2 Situao dos alunos nas turmas
Fonte: Pesquisa do autor.
Grfico 3 Distoro idade-ano escolar Alunos
Fonte: Pesquisa do autor.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
11 anos
12 anos
13 anos
14 anos
15 anos
16 anos
17 anos
18 anos
0
5
10
15
20
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
novato
reprovado
0
5
10
15
20
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
sim
no
31
Como se pode perceber, a maioria dos alunos do 8o Ano 2 (60%) repetente e
apresenta a maior distoro (95%) entre idade do aluno e ano escolar em que deveria estar
frequentando, fator que tem influenciado, consideravelmente, na baixa autoestima em sala de
aula e que exige do professor no s uma atitude diferenciada de acolhimento e cuidado, mas
tambm mtodos e tcnicas diferentes para tornar a aprendizagem significativa.
Em resposta pergunta sobre o local de nascimento, a maioria dos alunos (71,5%)
afirmou ter nascido em Baro de Cocais: para os alunos do 6 Ano Cidadania, apenas oito
(19%) no nasceram nessa localidade e, entre eles, cinco se originavam de Santa Brbara, um
de Ipatinga e dois de Belo Horizonte. Em relao aos alunos do 8o Ano 2, apenas quatro
(9,5%) no nasceram em Baro de Cocais, sendo dois originados de Santa Brbara, um de
Belo Horizonte e outro de Nova Lima:
Grfico 4 Nascimento em Baro de Cocais Alunos
Fonte: Pesquisa do autor.
A maior parte dos alunos, tanto do 6 Ano Cidadania (87%) quanto do 8o Ano 2
(79%), reside na zona urbana:
Grfico 5 Local onde mora Alunos
Fonte: Pesquisa do autor.
A pergunta sobre local de residncia dos alunos foi importante para se verificar a
relao afetiva com a terra em que moram, tpico abordado no grfico seguinte:
0
5
10
15
20
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
sim
no
0
10
20
30
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
zona urbana
zona rural
32
Grfico 6 Percepo sobre o local onde vive Alunos
Fonte: Pesquisa do autor.
Os 74% dos 42 alunos que afirmaram gostar da localidade apontaram, de modo
geral, como causa disso, os fatos de ela ser alegre, tranquila, de eles estarem prximos aos
familiares e colegas, pela boa vizinhana, pela paisagem, pelo rio. Para os que pouco ou nada
gostam do local (26%), seu desgosto se explica pela presena do trfico de drogas, pela
violncia e m relao com a vizinhana.
Importante, tambm, foi considerar a relao estabelecida entre responsvel e
aluno (Grfico 1, Anexo G). Os alunos (50%) que achavam que a relao poderia ser melhor
destacam, de modo geral, a falta de ateno, a necessidade de mais dilogo, de maior
participao e incentivo da famlia, a ocorrncia de desentendimentos, indisciplina, brigas e a
questo das drogas. Os 45% que afirmaram que nada havia para se alterar na relao
ponderaram que se relacionam bem, que os responsveis j fazem muito por eles, so bons e
lhes tm amor. O restante (5%) no respondeu pergunta.
Procurando analisar mais criteriosamente a imagem que os alunos possuem de si
mesmos, foi-lhes perguntado se gostam da vida que tm (Grfico 2, Anexo G). Os 79% que
assinalaram que gostam da vida que tm afirmaram que isso se deve boa relao com a
famlia, a Deus, aos presentes que ganham, ao fato de terem tudo e no passarem por
necessidades, ao sossego do local e aos colegas. Os 7% que no gostam da vida que tm, e
justificaram sua afirmativa, alegaram que a famlia separada ou est longe, ou que tudo que
fazem resulta em fracasso (d errado). Os 7% que ficaram no meio termo justificaram sua
resposta dizendo que sua vida montona. O restante (7%) ou no sabe responder, ou no
quer faz-lo.
Com base nessa questo, foi perguntado aos alunos se realizariam mudanas na
vida (Grfico 3, Anexo G), caso pudessem. Os 52% que responderam afirmativamente
pergunta optaram, de modo geral, por dois tipos de resposta: uma referente prpria vida (a
reprovao escolar, sua ausncia na vida de um dos responsveis, o modo como a famlia se
0
5
10
15
20
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
gosto
gosto mais ou menos
no gosto
sem resposta
33
relaciona, o trabalho dos responsveis, o comportamento que os alunos adotam em casa ou na
escola, a casa onde moram) e outro referente ao contexto mais geral (como a violncia, a
maldade, os fatos ruins da vida). Os 40% que disseram que no promoveriam mudanas
apontaram, de modo geral, que a vida j boa, h alegria e felicidade, ou apenas alegaram que
nada havia a ser modificado. O restante (8%) ou no soube, ou no quis responder pergunta.
Perguntados se trabalhavam (Grfico 4, Anexo G), 36% dos 42 alunos afirmaram
que sim, e, nesse sentido, no 6 Ano Cidadania, os tipos de trabalhos especificados
basicamente se referem esfera domstica, como arrumar casa ou cuidar de irmo mais novo.
Nos trs casos referentes ao 8o Ano 2, um deles afirmou trabalhar com as tarefas de casa
mesmo, outro em um petshop e um terceiro em uma oficina mecnica.
2.3.1.2 Prticas de letramento
Sobre ter ou no biblioteca, ou livros para leitura em casa (Grfico 5, Anexo G),
78,5% dos alunos responderam negativamente, o que mostra que tm acesso a livros e outros
instrumentos de leitura, exclusivamente, na escola. necessrio, assim, que os responsveis
abram outros espaos de leitura, reforando o trabalho da escola.
Percebendo, ento, a importncia da biblioteca para a formao dos alunos, foi
perguntado se eles frequentam outras bibliotecas que no a da escola (Grfico 6, Anexo G).
As respostas deles, de modo geral, apontaram que: 40% dos 42 alunos nunca vo, 33%
raramente vo, 24% frequentemente vo e o restante (3%) no respondeu.
Especificamente em relao biblioteca da escola, o Grfico 7 (Anexo G), aponta
que: dos 42 alunos, 19% nunca a frequentam, 40,5% raramente a frequentam e 40,5% a
frequentam com mais assiduidade. Pela anlise dos dados, percebeu-se que a escola tem-se
constitudo no principal ambiente de leitura dos alunos. Mesmo assim, o ndice de alunos que
no frequentam a biblioteca considervel.
No entanto, sabendo-se que o espao da biblioteca utilizado para outras
atividades, perguntamos, tambm, o que os alunos faziam, quando se encontravam nesse
ambiente (Grfico 8, Anexo G). As respostas indicaram que apenas 36% dos 42 alunos vo,
especificamente, para tomar por emprstimo livros para leitura, 26% vo em busca de livro
didtico e livro literrio, 33% vo realizar outros tipos de atividades tais como fazer trabalhos
de grupo, e o restante (5%) no respondeu.
34
O mesmo grfico mostrou que a biblioteca da escola tem potencializado a
formao de leitores, embora muitos dos alunos do 8o Ano 2 tenham ido ao ambiente no para
pegar livros emprestados, mas para realizarem outros tipos de tarefas, tal como fazer trabalho
com colegas.
Sabendo-se da influncia do computador na vida de crianas e adolescentes, e que se pode utilizar esse instrumento para o acesso escrita e leitura, foi perguntado aos
alunos se possuam esse recurso tecnolgico em casa (Grfico 9, Anexo G). Quarenta e cinco
porcento (45%) dos 42 alunos afirmaram que no possuem computador em casa, 12%
possuem, mas sem acesso Internet e 43% disseram que tm computador com acesso
Internet. Essas informaes nos fizeram perceber a importncia de se desenvolverem
programas ou projetos de incluso digital. A escola, por possuir laboratrio de informtica,
pode, em muito, contribuir nesse sentido. necessrio, no entanto, que os recursos
tecnolgicos sejam usados eficientemente.
Sobre as prticas de leitura (Grficos 10 a 17, Anexo G), em relao leitura de vrios suportes/gneros textuais, 42 alunos assim responderam: a) jornal: 0% l sempre, 57%
leem vez ou outra na semana e 43% nunca leem; b) revistas em geral: 5% leem sempre, 57%
leem vez ou outra na semana, 31% nunca leem e o restante (7%) no respondeu; c) revistas
de celebridades, novelas, seriados: 16,5% leem sempre, 40,5% leem vez ou outra na semana,
40,5% nunca leem e o restante (2,5%) no respondeu; d) histrias em quadrinhos: 24% leem
sempre, 59,5% leem vez ou outra na semana e 16,5% nunca leem; e) algo da Internet: 38%
leem sempre, 36% leem vez ou outra na semana e 26% nunca leem; f) livros em geral: 16,5%
leem um livro por ano, 2,5% leem dois por ano, 5% trs livros por ano, 62% leem mais de trs
por ano e 14% nunca leem; f) livros de literatura infanto-juvenil, relativos faixa etria do
pblico-alvo desta pesquisa: 7% leem uma vez ao ano, 7% leem duas vezes ao ano, 5% trs
vezes ao ano, 45% leem mais de trs vezes ao ano e 36% nunca leem; g) Bblia: 16,5% leem
sempre, 59,5% leem vez ou outra na semana e 24% nunca leem.
A anlise desses dados exige que faamos algumas reflexes sobre a necessidade
de se: a) estimular mais a leitura tanto pela escola quanto pelos responsveis; b) ampliar a
leitura de jornais e revistas; c) incluir digitalmente os alunos, para que leiam, criticamente, o
mundo virtual; d) instigar a leitura de livros; e) considerar a Bblia como um dos principais
instrumentos de leitura; f) repensar sobre as razes do nmero considervel de alunos que
apresentam pouco ou nenhum hbito de leitura.
Ainda sobre a iniciativa de leitura, verificamos se o que lido pelos alunos se
deve vontade prpria ou indicao de algum (Grfico 18, Anexo G). Dos 42 alunos, 8%
35
apontaram que o que leem por indicao de algum membro da famlia, 12% por algum
colega, 10% por professor, 54% por vontade prpria, 4% por sentir-se obrigado e o restante
(12%) ou no apontou, ou no respondeu.
Se, por um lado, importante a formao do leitor autnomo que, de forma
reflexiva, escolhe suas prprias leituras, por outro lado essencial que tanto responsveis
quanto professores sejam no s leitores, mas que, ao s-lo, possam indicar aos alunos leituras
em conformidade aos contedos nos planos de curso e nos currculos escolares e
extracurriculares. Os responsveis, mas no s eles, por passarem maior tempo (pressupe-se
que sim) com os alunos, devem no s incentivar a leitura e a escrita, mas tambm se
constiturem em leitores e produtores de texto.
2.3.1.3 Relao entre responsveis e alunos com a leitura e a escrita, com os estudos e
com a escola
Sobre a relao entre responsveis e filhos com a leitura (Grfico 19, Anexo G),
para 9,5% dos 42 alunos os responsveis no incentivam a ler, para 57% h o incentivo
leitura e para 33,5% os responsveis incentivam a ler e acham a leitura muito importante. Sem
dvida, fundamental o incentivo dos responsveis leitura, mas tambm muito importante
que eles sejam leitores. Assim, questionados se veem os familiares lendo (Grfico 20, Anexo
G), os 42 alunos indicaram que 50% dos responsveis, geralmente, leem, que boa parte
(40,5%) dos responsveis pouco l, assim como uma parte (9,5%) nunca l.
Ampliando essa anlise, os alunos foram interrogados sobre se os familiares leem
para eles (Grfico 21, Anexo G). A anlise do grfico indica que 28,5% dos responsveis
geralmente leem, 31% pouco leem e 40,5% nunca leem. Os responsveis, apoiados pela
escola, podem contribuir um pouco mais para a formao de alunos leitores, principalmente
na relao direta de sua leitura com o filho.
A escrita, tambm, pode ser muito mais vivenciada pelos responsveis (Grfico
22, Anexo G), muito embora seja pouco incentivada (Grfico 23, Anexo G). Isso porque,
perguntados se os responsveis, geralmente, so vistos escrevendo textos, os 42 alunos
apontaram que apenas 9,5% escrevem, 31% escrevem de vez em quando e 59,5% nunca
escrevem textos. Porm, os responsveis incentivam, de modo geral, a escrita: 4,5% no
incentivam o aluno a escrever, 47,5% incentivam e 48% incentivam e consideram a escrita
36
muito importante. Entretanto, apenas o incentivo pode no ser suficiente; o exemplo tudo.
Dessa forma, o aluno precisa ter, seja na escola, seja em casa, referncias de leitores e
escritores para que tambm o possa ser.
Acerca da pergunta sobre o tempo dedicado aos estudos fora da escola, o Grfico
24 (Anexo G) indicou que, dos 42 alunos, 43% dedicam menos de uma hora, 19% cerca de
uma hora, 16,5% cerca de duas horas, 9,5% entre duas e trs horas, 4,5% mais de trs horas e
7,5% no dedicam tempo algum.
Constatamos, ento, que os alunos tm dedicado pouco tempo aos estudos fora da
escola, o que pode estar relacionado ao longo tempo despendido com outras tarefas que no
sejam as escolares, fato que pode, conjugado a outros fatores, ter contribudo para o alto
ndice de reprovao no ano de 2013, na escola e, especialmente no 8o Ano 2, pblico-alvo
desta pesquisa.
Perguntados, ento, sobre o tempo que destinavam televiso, Internet ou aos
jogos eletrnicos (Grfico 25, Anexo G), 19% dos 42 alunos disseram que ficam menos de
uma hora, 28,5% entre uma e trs horas, 38% mais de trs horas e 14,5% no destinam tempo
algum a essas atividades. interessante observar que, embora, de modo geral, os alunos
afirmem que destinam pouco tempo aos estudos, gastam muitas horas com outras atividades.
importante, por outro lado, verificar se os responsveis tm definido o tempo de
estudo dos alunos (Grfico 26, Anexo G). Esse grfico indicou que 67% dos 42 alunos
responderam positivamente. Se a maioria, ento, afirma ter um horrio definido para estudar,
importante que os responsveis analisem como tem sido usado esse tempo de estudo, at
mesmo porque os alunos afirmaram, anteriormente, que reservam pouco tempo para os
estudos em casa.
Alm disso, vale observar, em relao ajuda nos estudos fora da escola (Grfico
27, Anexo G), que 27,5% dos 42 alunos afirmaram que no tm ajuda, 54% apontaram que os
familiares ajudam, 2,5% disseram ter a ajuda de professor particular, 9% recebem ajuda de
algum colega, e outras pessoas ajudam os 7% restantes.
Se os dados confirmam que importante ampliar a participao dos responsveis
no estudo dos alunos3, sobretudo no dos alunos do 8o Ano 2, por outro lado, em relao ao
incentivo (Grfico 28, Anexo G), 93% dos 42 alunos afirmaram que os responsveis os
incentivam a estudar, 5% indicaram que os responsveis acham o estudo desnecessrio e 2%
3 necessrio considerar, nessa varivel, o fato de que os responsveis, mesmo que a maioria saiba ler e escrever satisfatoriamente, como veremos adiante, podem no dominar todos os contedos das disciplinas, o que no os impede, por exemplo, de verificar os cadernos, entrar em contato com professores ou, ainda, buscar auxlio fora da escola para ajudar os filhos nos estudos.
37
apontaram que os responsveis nada dizem sobre o estudo, apenas mandam o aluno para a
escola.
Se os responsveis incentivam os alunos a estudarem, necessrio observar, pela
tica dos alunos, como tem sido a relao desses responsveis com a escola (Grfico 29,
Anexo G). Para 57% dos 42 alunos, os responsveis vo com muita frequncia escola, 36%
o com pouca frequncia e 7% nunca vo, mas telefonam para conversar com o diretor ou
professor, quando precisam. Percebemos, pelos ndices, que um bom nmero de responsveis
precisa estar mais presente na escola. Por outro lado, questionados se os responsveis, em casa, perguntam e conversam
sobre o que ocorre na escola (Grfico 30, Anexo G), segundo respostas dos 42 alunos, 78,5%
dos responsveis conversam muito, 21,5% pouco conversam e 0% nunca conversa. Os ndices
apontaram que os responsveis conversam com os alunos sobre o que ocorre na escola, muito
embora, conforme constatado anteriormente, uma parcela considervel dos responsveis no
ajuda ou procura saber sobre as tarefas dos alunos.
Perguntados sobre como percebem a escola (Grfico 31, Anexo G), as respostas
dos 42 alunos apontaram que: 26,5% consideram a escola muito boa, 36% boa, 3%
maravilhosa, 7% legal, 12% razovel, 2% pssima, 9,5% no gostam, 2% a consideram longe
e 2% no responderam. Os ndices confirmaram que a maioria dos alunos tem uma imagem
muito positiva da escola e percebe a importncia desse espao para sua vida.
Procurando, pois, ampliar essa percepo, foi perguntado aos alunos o que lhes
motivava a estudar. De modo geral, apontaram a importncia do estudo, a motivao da
famlia, a vontade prpria de estudar, a aprendizagem, o exerccio da cidadania, a presena
dos colegas, o incentivo do professor, a realizao de um sonho futuro, a obteno de um bom
emprego, o ingresso ao estudo superior.
Finalmente, foi perguntado aos 42 alunos como eles mesmos se percebiam na
escola (Grfico 32, Anexo G): 21% se consideram excelentes alunos, 36% bons alunos,
33,5% alunos razoveis e 7,5% pssimos alunos e 2% no responderam. Os dados indiciam
que a escola deve, juntamente com os responsveis, desenvolver aes que estimulem e
incentivem os alunos a perceberem no s a importncia dos estudos, mas tambm terem mais
autoestima e valorizarem a si mesmos.
38
2.3.2 Perfil do responsvel por aluno
Com objetivo de conhecer a realidade em que se inserem os alunos, especialmente
a das prticas de letramento, foi aplicado aos responsveis pelos alunos o Questionrio No 2
Responsvel por Aluno(a) (Anexo B). Ao questionrio relativo aos alunos do 6 Ano
Cidadania, 23 responsveis responderam, ao passo que 19 participaram da pesquisa sobre os
alunos do 8o Ano 2.
2.3.2.1 Caractersticas prprias e percepes sobre a vida e a famlia
Sobre o tipo de relacionamento que mantm com o(a) aluno(a) (Grfico 33,
Anexo G), dos 42 responsveis que responderam ao questionrio, 69% so mes, 21% pais,
2,5% avs, 2,5% tias, 2,5% madrastas, 2,5% outros. Observando os dados, notamos que a
maioria dos questionrios foi respondida pelas mes, muito embora um bom nmero de pais
tenha dado sua contribuio.
Em relao pergunta sobre o local de nascimento, a maioria (62%) dos
responsveis afirmou ter nascido em Baro de Cocais:
Grfico 7 Nascimento em Baro de Cocais Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
Quanto pergunta sobre morarem na zona urbana ou rural, a maioria dos
responsveis (83,5%) afirmou que reside na zona urbana, enquanto o restante (16,5%) na zona
rural, conforme ilustra o Grfico 8.
0
5
10
15
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
sim
no
39
Grfico 8 Localidade onde mora Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
Essa pergunta foi importante para se verificar a relao afetiva com a terra em que
moram, tpico abordado na questo seguinte:
Grfico 9 Percepo sobre o local onde vive Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
Todos os 23 responsveis pelos alunos do 6 Ano Cidadania afirmaram que
gostam do local onde vivem, justificando, de modo geral, que por causa da tranquilidade, da
boa convivncia com a vizinhana, dos empregos, da qualidade da educao, dos parentes que
moram perto. Em relao aos 19 responsveis pelos alunos do 8o Ano 2, a maioria (90%)
disse gostar pelos mesmos fatores, acrescentando o fato de terem passado a infncia na
localidade; o responsvel (5%) que assinalou o contrrio no quis justificar sua resposta; um
outro (5%) no quis responder a essa questo.
Relacionada a essa mesma temtica, a pergunta sobre a percepo da vida que tm
fundamental para verificarmos o ambiente em que vive o aluno. Os responsveis se
manifestaram conforme mostra o Grfico 10.
0
10
20
30
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
zona urbana
zona rural
0
5
10
15
20
25
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
gosto
gosto mais ou menos
no gosto
sem resposta
40
Grfico 10 Percepo sobre a vida que tem Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
A maioria (95%) dos 42 responsveis afirmou que gosta da vida que tem,
destacando a vitria sobre os desafios, o fato de que nada h a reclamar, que feliz, tem
tranquilidade no local onde vive e tm uma vizinhana, vida e sade boas, um bom emprego,
uma famlia maravilhosa, momentos de carinho e de brincadeiras com os alunos e as bnos
de Deus. Quem respondeu gostar mais ou menos (5%) apontou a falta de mais estudo e o
sofrimento por que passa.
Perguntados se, caso pudessem, mudariam algo na vida (Grfico 34, Anexo G), a
maioria (59%) dos 42 responsveis respondeu, de modo geral, que, se pudesse, mudaria algo
na vida, citando mudana no jeito de ser e agir, ter mais estudo, condies para os filhos
cursarem uma faculdade, melhoria na renda e na situao financeira, ampliar e melhorar a
estrutura da casa. Os 31% que alegaram no haver nada para mudar, e justificaram sua
resposta, mencionando que: a famlia que tm maravilhosa, so felizes e satisfeitos com o
que tm, ou que a sade boa. Para os 10% restantes, ou no sabem ou no responderam.
Em relao renda, o Grfico 35 (Anexo G) aponta que, no universo de 42
responsveis, 40,5% recebem um salrio mnimo, 35,5% entre dois e trs salrios, 12% mais
do que trs salrios e 12% no sabem ou no responderam. So famlias que se enquadram
entre a Classe C e a Classe Mdia, possuindo os bens necessrios a uma vida de qualidade.
Sobre entretenimento (Grfico 36, Anexo G), 2% dos 42 responsveis afirmaram
que vo ao teatro, 2% ao cinema, 65% assistem televiso, 22% acessam Internet e 9% no
fazem essas atividades. A televiso se constitui, ento, o principal meio de entretenimento.
Por isso, foi importante considerar o tempo que as famlias destinam a esse veculo (Grfico
37, Anexo G): 31%, cerca de uma hora; 21,5%, cerca de duas horas; 21,5%, entre duas e trs
horas; 9,5%, mais de trs horas; 16,5%, nenhuma das opes. As famlias, de modo geral,
conciliando esse lazer com outras atividades, assistem televiso entre uma e trs horas,
enquanto uma boa parte pouco ou nada assiste na TV.
0
10
20
30
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
gosto
gosto mais oumenos
no gosto
41
2.3.2.2 Prticas de letramento
Entender as prticas de leitura e escrita dos responsveis e suas consequncias
para as prticas dos alunos requer que, antes, se considere o grau de instruo que esses
responsveis possuem:
Grfico 11 Escolaridade Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
A maioria (40,5%) dos 42 responsveis possui formao at a antiga quarta srie,
enquanto apenas 5% possuem formao superior, nvel de estudos mais alto entre os
responsveis. Esses dados so importantes para se analisarem as prticas de letramento, a
relao da famlia e do aluno com o conhecimento e as contribuies dos responsveis para o
estudo do aluno.
Com base nisso, formulou-se uma pergunta para verificar as habilidades de leitura
e escrita dos responsveis. O grfico, a seguir, sintetiza as respostas.
Grfico 12 Habilidades de leitura e escrita Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
cursei pelo menos at aantiga quarta srie
cursei pelo menos at aantiga oitava srie
cursei pelo menos at oantigo segundo grau
tenho curso superior
nunca frequentei a escola
sem resposta
0
5
10
15
20
25
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
sabe ler e escrever
no sabe ler eescreversabe apenas ler
sabe apenasescrever
42
Se a grande maioria cursou at a antiga quarta-srie, o ndice dos que sabem ler e
escrever, isto , so alfabetizados, tambm alto. Isso importante para a anlise dos dados
posteriores, em que se verificam as contribuies dos responsveis para os estudos dos alunos
e para o incentivo leitura e escrita.
Sobre ter ou no biblioteca ou livros para leitura em casa, (Grfico 38, Anexo G),
apenas 16,5% dos 42 responsveis afirmaram que tm. Isso mostra que os alunos tm acesso
leitura, principalmente na escola. necessrio que os responsveis proporcionem outros
momentos de leitura, reforando o trabalho da escola.
Outro dado se refere aos bens materiais ou recursos das famlias. Se a grande
maioria possui, por exemplo, carro, moto, geladeira, televiso via satlite, sobre computador
(Grfico 39, Anexo G), os 42 responsveis assim responderam: 18,5% tm, mas sem acesso
Internet, 32,5% tm, com acesso Internet, 44% no tm e 5% no responderam. Deduzimos,
ento, a importncia de se desenvolverem programas ou projetos de incluso digital no s
dos alunos, mas tambm da prpria famlia. A escola, por possuir laboratrio de informtica,
pode muito contribuir nesse sentido, considerando que a maioria das famlias reside muito
prxima da instituio escolar.
Focalizando a iniciativa de leitura dos 42 responsveis, 7% apontaram que o que
leem por sugesto do aluno, 2,5% por algum membro da famlia, 0% por indicao do
vizinho, 57% por vontade prpria e o restante (33,5%) ou no apontou, ou no respondeu.
Se percebemos que os responsveis leem mais por vontade prpria, necessrio
analisar o que tm lido e a frequncia com que o fazem (Grficos de 41 a 46, Anexo G). Os
42 responsveis responderam, em relao ao suporte/gnero: a) jornal: 12% leem sempre,
33,5% leem uma vez ou outra na semana e 54,5% nunca leem; b) revistas em geral: 12% leem
sempre, 35,5% leem uma vez ou outra na semana e 52,5% nunca leem; c) revistas de
celebridades, novelas, seriados: 7% leem sempre, 31% leem uma vez ou outra na semana e
62% nunca leem; d) algo da Internet: 19% leem sempre, 26% leem uma vez ou outra na
semana e 55% nunca leem; e) livros (literrios: romance, aventura...): 9,5% leem uma vez ao
ano, 7% leem duas vezes ao ano, 0% trs vezes ao ano, 21,5% leem mais de trs vezes ao ano
e 62% nunca leem; f) Bblia: 28,5% leem sempre, 35,5% leem uma vez ou outra na semana e
36% nunca leem.
A anlise dos dados nos permite concluir que as famlias apresentam baixo ndice
de leitura e que a Bblia a principal fonte do ato de ler. Esse ser um fator determinante, a
partir de comparao com dados na subseo antecedente, para que os alunos acabem, de
alguma forma, reproduzindo e perpetuando esses mesmos hbitos.
43
Esse baixo ndice de leitura se refora, quando a maioria dos 42 responsveis
(86%), perguntados sobre visitas a bibliotecas em geral (Grfico 47, Anexo G), afirmaram
nunca irem a esse tipo de espao. Em relao especificamente biblioteca da escola (Grfico
48, Anexo G), 78,5% afirmaram que nunca vo.
A produo de textos (Grfico 49, Anexo G), por sua vez, tambm apresenta
cenrio pouco estimulante, pois se torna, pelo que apontaram os responsveis, prtica pouco
recorrente, uma vez que apenas 5% dos 42 responsveis afirmaram que sempre escrevem
textos, 28,5% que escrevem textos de vez em quando e 66,5% afirmaram que nunca escrevem
textos.
2.3.2.3 Relao dos responsveis com a leitura, com a escrita, com os estudos e com a
escola dos alunos
Em relao percepo que tm sobre a escola, os responsveis apontaram que:
Grfico 13 Percepo sobre a escola Responsveis
Fonte: Pesquisa do autor.
Os dados apontam que 95% dos responsveis tm imagem positiva ou muito
positiva sobre a escola, destacando-se a opinio de que os funcionrios marcam-se pelo
profissionalismo e de que a escola prima pela formao e preparao dos seus profissionais,
pela ateno e preocupao com os alunos, pelo dilogo com os responsveis, pela
aprendizagem proporcionada, pelo cuidado com o processo educativo, pela imagem que os
alunos tm da escola e as expressam aos responsveis, por ela querer o melhor para os alunos
e pela proximidade da escola com as casas.
0
2
4
6
8
10
12
Resp. 6 Ano Resp. 8 Ano
muito boa
boa
nada contra/areclamar
44
Essa imagem positiva da escola se relaciona muito com o motivo que os
responsveis tiveram para escolherem essa e no outra instituio, para que os filhos
pudessem estudar. A grande maioria (97,5%) dos 42 responsveis afirmou que colocou o(a)
aluno(a) na Escola Municipal Jos Maria dos Mares Guia, porque o estudo necessrio e
importante, para que o educando conquiste um futuro melhor, tenha um profisso e para que
aprenda.
Contudo, se, de um lado, h uma imagem positiva, por outro, a presena dos responsveis no ambiente escolar (Grfico 50, Anexo G) deixa a desejar, na medida em que a
grande maioria assinalou que poderia se fazer mais presente, j que 33,5% vo com muita
frequncia, 64,5% vo com pouca frequncia, e o restante (2%) no respondeu. Como se pode
perceber, necessrio que os responsveis frequentem mais a escola para acompanharem
mais de perto o processo educativo dos filhos.
Por outro lado, a maioria dos 42 responsveis afirmou dialogar, em casa, com os
filhos sobre o que ocorre na escola (Grfico 51, Anexo G). Esse foi um ponto muito positivo,
porque 76% dos responsveis conversam muito, 21,5% pouco conversam e 2,5% no
responderam, ndices muito semelhantes aos apresentados pelos alunos. Embora esses dados revelem que a maioria dos responsveis conversam com os alunos sobre o que ocorre na
escola, conforme veremos em tpico posterior uma parcela considervel dos responsveis no
ajuda os filhos nas tarefas escolares, ou procura se informar sobre elas.
Nas conversas que tm com os alunos (Grfico 52, Anexo G), a maioria (97,5%) dos 42 responsveis afirmou que incentiva os alunos a estudarem; o restante, 2,5%, no
respondeu.
Se conversar e incentivar um bom sinal, necessrio tambm agir, articulando
esforos conjuntos com a escola. Nesse sentido, os dados seguintes, relativos contribuio
dos responsveis para os estudos dos alunos (Grfico 53, Anexo G), apontam que, se por um
lado, h o incentivo, por outro, os responsveis poderiam transformar isso em ao,
participando mais decisivamente do sucesso escolar dos alunos: 33,5% dos 42 responsveis
afirmaram que ajudam sempre; 50% apontaram que ajudam de vez em quando, 14,5% que
pouco ajudam e 2% que no ajudam, mas pagam professor particular para ajudar. Esses
resultados mostram que essencial que os responsveis, mesmo com outras atividades do dia
a dia, destinem (mais) momentos para ajudar os alunos nos estudos.
Ainda em relao aos estudos, perguntados se definem e controlam o tempo
(Grfico 54, Anexo G) para que os alunos estudem em casa, as respostas dos 42 responsveis
assim indiciaram: 66,5% controlam e 33,5% no controlam. Os percentuais apontam que a
45
maioria controla o horrio de estudo dos filhos. Mesmo que os alunos do 8o. Ano 2
apresentem mais independncia do que os do 6 Ano Cidadania, devido sua faixa etria e
seu nvel de desenvolvimento, importante que as famlias se conscientizem da necessidade
de o aluno reservar, em casa, um tempo para o estudo, e que eles analisem como tem sido
utilizado esse tempo, mesmo porque os responsveis, embora sabendo ler e escrever
satisfatoriamente, poderiam ajudar mais, conforme mencionado anteriormente. Nesse
contexto, vale considerar as relaes dos responsveis com os alunos, e ampliar essa ajuda, no
sentido de se incentivarem a leitura e a escrita, de potencializar o hbito de estudo e,
consequentemente, que os alunos consigam uma aprendizagem efetiva.
Diante disso, foi perguntado aos 42 responsveis se: a) incentivam a leitura
(Grfico 55, Anexo G), a que responderam: 5% no incentivam, 19% incentivam e 76%
incentivam e acham a leitura muito importante; b) leem para os alunos (Grfico 56, Anexo
G): 14% geralmente leem, 45% pouco leem e 41% nunca leem; c) incentivam a escrita
(Grfico 57, Anexo G): 12% incentivam o aluno a escrever e 88% incentivam o aluno a
escrever e acham a escrita muito importante.
Se os responsveis incentivam, de modo geral, a leitura e a escrita, o aluno precisa
ter, seja na escola, seja em casa, referncias de leitores e escritores para que tambm possa vir
a ser um deles. Se a maioria dos responsveis apontou que sabe ler e que incentiva a leitura, a
maior parte deles tambm afirma que ou pouco ou nunca l para o aluno. Percebe-se, tambm,
que, quanto mais o aluno cresce em faixa etria, menos os pais leem para ele. necessrio,
assim, no s incentivar, mas construir na prpria casa uma comunidade leitora.
Essa mesma situao se verifica com a escrita. O incentivo ao ato de escrever
grande, mas a prtica de produo escrita baixa, conforme discutimos anteriormente.
Finalmente, foi perguntado aos 42 responsveis, considerando-se os desafios na
criao e educao dos alunos, na participao na formao de leitores e escritores e no
acompanhamento dos estudos e da escola, como eles se percebiam (Grfico 58, Anexo G):
50% se consideram excelentes responsveis, 43% bons responsveis, 5% responsveis
razoveis e 2% pssimos responsveis. Os dados revelam que a grande maioria apenas se
considera um bom responsvel e que uma percentagem menor se enquadrou como razovel.
Isso mostra que a relao entre responsvel e aluno poderia ser melhorada
(Grfico 59, Anexo G): para 74% dos 42 responsveis, a relao poderia ser melhor, 21,5%
apontaram que no precisaria melhorar e 4,5% ou no responderam ou no entenderam a
pergunta. Esses responsveis apontaram, de modo geral, como justificativa para o fato de que
a relao poderia ser melhor, a necessidade de mudana de comportamento do aluno, de
46
participao mais efetiva na vida escolar do aluno, a falta de uma formao adequada para
ajudar melhor os alunos, de mais rigor na forma de educar, de tempo por causa do trabalho, de
dar mais ateno, dialogar e interagir mais com os alunos, tendo em vista a melhoria de seus
estudos e aprendizagem.
Os que afirmaram que nada havia a mudar, justificaram sua resposta alegando que
j fazem de tudo e do melhor para se relacionarem com o aluno, que se do bem ou que
conversam muito com os alunos.
2.4 As imagens da lngua
Por termos detectado casos de percepo negativa de alguns alunos sobre sua
lngua nativa, delineamos como uma das hipteses norteadoras desta pesquisa o fato de alunos
demonstrarem ter conceitos equivocados ou deturpados sobre a variao lingustica,
principalmente com relao aos usos diferentes da variedade padro, tornando-se necessrio
verificar, por meio do questionrio etnogrfico/sociolingustico aplicado aos alunos e aos
responsveis por eles, essa hiptese, levantando imagens e percepes sobre a lngua que o
informante usa para se comunicar. Os resultados so apresentados a seguir.
2.4.1 Como os alunos percebem os usos da lngua
Perguntamos aos 42 alunos sobre a imagem que eles tinham sobre sua lngua
nativa. As respostas foram:
Grfico 14 Imagens dos alunos sobre como eles mesmos usam a lngua
Fonte: Pesquisa do autor.
0
2
4
6
8
10
12
14
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
negativa
positiva
normal
no sabe
no se aplica
sem resposta
47
Os dados apontam que 40,5% dos 42 alunos tm imagem negativa sobre a lngua
que usam. E, com base nas justificativas que foram apresentadas, podemos deduzir que,
infelizmente, est ainda impregnada a cultura do erro pautada na dicotomia do certo x
errado, que faz com que o falante no se sinta um usurio competente da lngua. Devido a
esse fato, tornam-se recorrentes percepes negativas muitas vezes relacionadas fala4 e
manifestadas pelos alunos em seus depoimentos, quando perguntados o que pensavam do
modo como falam sua lngua:
a) mais ou menos, porque tem vezes que eu falo muitas coisas erradas
(informante 6A8);
b) eu sou igual aos meus pais; s vezes falo errado; eu porque falo errado
mesmo, eu puchei a minha famlia eles tambm fala errado (informante
6A7);
c) errado, porque falo um pouco errada embolada (informante 6A6);
d) no ter [tem] muitas regras (informante 6A15);
e) muito ruim, porque a minha lngua presa (informante 6A4);
f) mais ou menos, porque eu escrevo muito errado (informante 6A14);
g) erro muito (informante 6A9);
h) nem todo mundo perfeito pra falar as coisas certas (informante 8A15);
i) muito mau, falo muito coisa errada (informante 8A13);
j) no gosto (informante 8A5);
k) s vezes, pecimo (informante 8A1);
l) mais ou menos, porque tem vezes que falo errado (informante 8A8);
m) ruim (informante 8A7).
Perguntados sobre como percebiam o modo como os responsveis ou a famlia usam a lngua, os 42 alunos assim se manifestaram:
Grfico 15 Imagens dos alunos sobre como os responsveis usam a lngua
Fonte: Pesquisa do autor.
4 Foi mantida a redao original do relato dos(as) alunos(as).
0
5
10
15
20
Alun. 6 Ano Alun. 8 Ano
negativa
positiva
no sabe
no se aplica
sem resposta
48
Diferente da maneira como avaliaram a si prprios, a maioria dos alunos (59,5%)
avaliou positivamente o modo como os responsveis usam a lngua. Por outro lado,
procuraram se esquivar de conferir juzos de valor, mesmo quando consideravam positivo o
modo como os responsveis falam ou escrevem.
2.4.2 Como os responsveis percebem os usos da lngua
Os 42 responsveis foram perguntados sobre a percepo que tinham sobre o
modo como eles mesmos usam a lngua portuguesa. Os dados levantados apontam:
Grfico 16 Imagens dos responsveis sobre como eles mesmos usam a lngua
Fonte: Pesquisa do autor.
Conjugando os dados, podemos perceber que prevalece uma imagem negativa (a
maioria 47,6%) sobre o modo como os prprios responsveis usam a lngua. Nessa imagem,
vinculada em certa medida fala e falta de estudo, aparecem, de modo geral, afirmaes5
como:
a) no muito bem n