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Vida. Abû Hâmid Muhammad ibn Muhammad al-Ghazâlî, 1058- 1111, foi um importante jurista (faqih), teólogo especulativo (mutakallim) e místico (sufi). Nasceu em Tûs, no Irã oriental. Teve a tradicional educação religiosa nas madrasas islâmicas. Ensinou teologia em Bagdá, sendo um dos intelectuais mais importantes de seu tempo. Em 1095, abandonou seu posto e, sob a influência do sufismo, foi para Damasco e Jerusalém, ficando algum tempo sem ensinar. Em 1106, passou a ensinar em Nishapur, na escola em que tinha estudado. Morreu em Tûs, onde voltara a ensinar. Escreveu uma grande quantidade de livros. Cerca de setenta livros tratando de assuntos como a lei isâmica, os aspectos teóricos e práticos do sufismo, críticas de filosofia e teologia, tratados poliemicos e discussões sobre ética e política. Seus três textos mais importantes são A Libertação do Erro, autobiográfico, narrando sua crise espiritual que o fez se aproximar do sufismo, A Incoerência dos Filósofos e A Revivificação das Ciências Religiosas. Em A Libertação do Erro, conta sua trajetória intelectual, que, segundo ele, começou aproximadamente aos 20 anos, quando, perplexo com a grande quantidade de doutrinas, decidiu se empenhar em encontrar a verdade. Procurou-a nos teólogos escolásticos (kalam), na filosofia (falsafa) e no sufismo. Mas os raciocínios dos teólogos, ainda que refutassem o erro, não eram suficientes para provar suas conclusões e os argumentos dos filósofos facilmente conduziam à heresia. Com a experiência do sufismo, não só teórico, mas prático, descobriu uma intuição superior à razão que safisfez o seu anseio.

Ghazali

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Vida. Ab Hmid Muhammad ibn Muhammad al-Ghazl, 1058-1111, foi um importante jurista (faqih), telogo especulativo (mutakallim) e mstico (sufi). Nasceu em Ts, no Ir oriental. Teve a tradicional educao religiosa nas madrasas islmicas. Ensinou teologia em Bagd, sendo um dos intelectuais mais importantes de seu tempo. Em 1095, abandonou seu posto e, sob a influncia do sufismo, foi para Damasco e Jerusalm, ficando algum tempo sem ensinar. Em 1106, passou a ensinar em Nishapur, na escola em que tinha estudado. Morreu em Ts, onde voltara a ensinar.Escreveu uma grande quantidade de livros. Cerca de setenta livros tratando de assuntos como a lei ismica, os aspectos tericos e prticos do sufismo, crticas de filosofia e teologia, tratados poliemicos e discusses sobre tica e poltica. Seus trs textos mais importantes so A Libertao do Erro, autobiogrfico, narrando sua crise espiritual que o fez se aproximar do sufismo, A Incoerncia dos Filsofos e A Revivificao das Cincias Religiosas.Em A Libertao do Erro, conta sua trajetria intelectual, que, segundo ele, comeou aproximadamente aos 20 anos, quando, perplexo com a grande quantidade de doutrinas, decidiu se empenhar em encontrar a verdade. Procurou-a nos telogos escolsticos (kalam), na filosofia (falsafa) e no sufismo. Mas os raciocnios dos telogos, ainda que refutassem o erro, no eram suficientes para provar suas concluses e os argumentos dos filsofos facilmente conduziam heresia. Com a experincia do sufismo, no s terico, mas prtico, descobriu uma intuio superior razo que safisfez o seu anseio.Filosofia. A formao de Ghazali da teologia ash'arita. Para os ash'aritas, os atributos divinos da vida, poder, etc., so coeternos essncia divina, mas no podem ser identificados a ela. Para Avicena, como esses atributos divinos fazem parte da essncia, o poder criador do mundo, como parte da essncia, se torna necessrio. Mas, para Ghazali, isso significa diminuir o arbtrio de Deus na criao. Assim, a defesa dessa distino til para combater a noo de uma necessidade e eternidade do mundo.Para Ghazali, a ordem do nosso mundo, que parece ser baseada em uma cadeia de causa e efeito, na verdade, uma harmonia de eventos concomitantes. Deus a nica causa de todas as coisas (ocasionalismo). Os eventos do mundo so ocasies para a ao direta de Deus. Isso significa que tambm nossos atos no so causas de seus efeitos, mas apenas anteriores a eles. Tudo causado pela ao divina.No entanto, Deus a nica causa eficiente. O plano de Deus para o mundo escolhido entre alternativas pelo seu livre-arbtrio. O universo o melhor dos que poderiam existir.Crtica a falsafa. O movimento da falsafa (traduo rabe para filosofia) surge a partir da traduo de obras de filosofia grega para o rabe nos sc. VIII-X d.C. Aristteles e neoplatonismo (especialmente a partir da Teologia de Aristteles) Al-Farabi, em seu sistema, fala da eternidade do mundo e da inspirao proftica como no diferente da inspirao dos filsofos. Crtica em A Incoerncia dos Filsofos, de 1095, ainda que adote alguns de seus elementos. Discute vinte teses e mostra que no so demonstradas de modo conclusivo. Isso para mostrar que o raciocnio desses filsofos no superior teologia que parte da revelao.Ghazali afirma que algumas dessas teses, ainda que sejam falsas, no oferecem problemas religiosos. Outras, no entanto, oferecem: a doutrina sobre a eternidade do mundo, do conhecimento de Deus apenas dos universais, da alma aps a morte que no se liga novamente a um corpo. Como jurista, no fim da Incoerncia, emite uma fatwa, declarando quem defende essas doutrinas um incrdulo e um apstata.No entanto, em sua discusso contra o xiismo ismaelita, que atacam o poder da demonstrao, Ghazali defende o valor da demonstrao, afirmando que a harmonia entre a revelao e a razo e afirmando que, quando a razo aparentemente contradiz o texto sagrado, esse deve ser lido simbolicamente, como, por exemplo, escreve-se que Deus est sentado em um trono. Sua doutrina foi aceita por boa parte dos telogos islmicos.tica. Aps escrever a Incoerncia dos Filsofos, estabeleceu seus princpios ticos no Renascimento das Cincias Religiosas. Quatro sees, com dez livros cada. O primeiro trata de rituais prticos, o segundo de costumes sociais, o terceiro com aquilo que leva perdio e o quarto com o que leva salvao.No so nossas posies teolgicas, mas nossas boas aes que nos levaram ao cu. Crtica tica dos juristas, limitada sharia. importante o aperfeioamento do carter. Imitao do Profeta. Disciplinar a alma. No entanto, as aes do homem so causadas por Deus.Espiritualidade. Ghazali, na sua Alquimia da Felicidade, fala em uma alquimia expiritual que faz com que o homem deixe de buscar os prazeres carnais e passe a buscar a beleza eterna. Seus componentes essenciais so quatro: o conhecimento de si mesmo, o conhecimento de Deus, o conhecimento deste mundo, o conhecimento do prximo mundo.O conhecimento de si mesmo , em primeiro lugar, saber que somos constitudos de corpo e alma e que a alma que nos d a individualidade. E que, das potncias da alma, a racional superior, que deve governar. O conhecimento de Deus perceber nossa total dependncia para com Ele e a sua grandeza e beleza. O conhecimento desse mundo o conhecimento de sua vaidade e transitoriedade. O conhecimento do prximo mundo diz respeito ao entendimento das alegrias do paraso e dores do inferno.Outro ponto fundamental da espiritualidade de Ghazali a recordao de Deus, que o objetivo dos esforos dos sufis. a lembrana pelo homem que Deus observa todos seus atos e pensamentos.