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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS Programa de PósGraduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais Análise de Municípios Mineiros quanto à Situação de seus Lixões Belo Horizonte Março de 2009

Gerson Freire

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Análise de Municípios Mineiros em Relação à situação de seus lixões

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  • UNIVERSIDADEFEDERALDEMINASGERAISINSTITUTODEGEOCINCIAS

    ProgramadePsGraduaoemAnliseeModelagemdeSistemasAmbientais

    AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    BeloHorizonteMarode2009

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    GersonJosdeMattosFreire

    AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    Dissertao apresentada ao Programa de Psgraduao emAnlise e Modelagem de Sistemas Ambientais doDepartamento de Cartografia e Centro de SensoriamentoRemotodoInstitutodeGeocinciasdaUniversidadeFederaldeMinasGerais, como requisitoobtenodo ttulodeMestreemAnliseeModelagemdeSistemasAmbientais.readeconcentrao:AnlisederecursosambientaisLinha de pesquisa: reas de Disposio de Resduos SlidosUrbanosOrientadora:Profa.Dra.IlkaSoaresCintraCoorientador:Prof.Dr.FriederichEwaldRenger

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    Freire,GersonJosdeMattos

    2009 AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes/GersonJosdeMattosFreire2009

    104p.:Il.

    Orientadora:IlkaSoaresCintra

    Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Minas Gerais InstitutodeGeocinciasDepartamentodeCartografia1.AnliseAmbiental.2.ResduosSlidos.3.Geoprocessamento.4.Ttulo.

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    Agradecimentos A Deus, por andar sempre comigo e pelas oportunidades que me d;

    A Minha Me, Maria Izabel, que com sua fora me tirou do fundo do abismo, pelo seu

    exemplo de tenacidade e vontade;

    A Meu Pai, Gerson Crisstomo, onde estiver, com a certeza de que vamos nos reencontrar;

    A Meu Filho, Joo Victor, amigo e companheiro de todas as horas, por seu amor

    desinteressado, que me lembra a todo momento que tudo possvel;

    minha Orientadora, Professora Dra. Ilka Soares Cintra, pela pacincia e boa vontade em

    todas as horas;

    Professora Dra. Ana Clara Mouro Moura, por sua acolhida e companheirismo. Contar com

    sua amizade uma honra e um privilgio;

    Ao Professor Dr. Friederich Ewald Renger, que com seu humor nico e dedicao para mim

    um exemplo de docncia;

    A todos os professores e funcionrios do IGC, especialmente ao funcionrio Paulo Gonalves

    de Lima, do Laboratrio de Topografia;

    Aos companheiros alunos dos programas de Ps-Graduao em Anlise e Modelagem de

    Sistemas Ambientais e de Geografia, pela harmonia na convivncia e apoio nas disciplinas

    que cursamos juntos;

    s Colegas Sheyla Aguilar Santana, Renata Hungari, Ana Maria Coimbra, pela orientao e

    apoio nas mais diversas dvidas;

    Gegrafa Letcia Oliveira Freitas, pelo companheirismo e apoio na confeco de mapas

    temticos;

    Graduanda em Geografia Clarissa Malard, pela pacincia e empenho no levantamento de

    dados;

    Ao Engenheiro Marclio Felcio Pereira, MSc. Eng. Amrica Maria Eleuthrio Soares,

    MSc.Geloga Luciana Felcio Pereira e demais companheiros de trabalho na Aluvial

    Engenharia e Meio Ambiente Ltda., pelo apoio na execuo deste trabalho;

    Finalmente o meu agradecimento especial ao Professor Emrito Dr. Jorge Xavier-da-Silva e

    ao Tcnico Matemtico Osvaldo Elias Abdo, pela especial acolhida no LAGEOP- UFRJ, uma

    oportunidade nica que tornou possvel a execuo deste trabalho;

    A todos os meus amigos e companheiros de jornada, os meus sinceros agradecimentos.

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    EonomedaestrelaeraAbsinto,

    eaterapartedasguastornouseemabsinto,emuitoshomensmorreramdasguas,

    porquesetornaramamargas.

    Apocalipse8:11

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    ndice 1 Introduo...........................................................................................................................1 2 Objetivos.............................................................................................................................2 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................2 2.2 Objetivos Especficos .................................................................................................2 3 Reviso da Literatura..........................................................................................................3 3.1 Os Resduos Slidos Urbanos ....................................................................................3 3.1.1 Conceituao de resduos ...................................................................................3 3.1.2 Classificao de Resduos Slidos Urbanos.......................................................4 3.1.3 Composio dos Resduos Slidos Urbanos ......................................................9 3.1.4 Gerao Per Capita ...........................................................................................12 3.1.5 Os Resduos como fonte de poluio ...............................................................13 3.2 Os RSU aps sua disposio ....................................................................................14 3.2.1.1 Fase Slida....................................................................................................15 3.2.1.2 Fase Lquida Chorume ..............................................................................16 3.2.1.3 Fase Gasosa ..................................................................................................21 3.3 Formas de disposio adotadas para os RSU ...........................................................22 3.3.1 Lixo.................................................................................................................22 3.3.2 Aterro Controlado.............................................................................................22 3.3.3 Aterro Sanitrio ................................................................................................23 3.3.3.1 Tratamento de chorume nos aterros sanitrios .............................................24 3.3.4 Usinas de Triagem e Compostagem .................................................................24 3.4 Riscos sanitrios e ambientais da disposio inadequada de RSU para os municpios 25 3.5 Legislao referente disposio de Resduos Slidos Urbanos em Minas Gerais.26 3.5.1 Marcos regulatrios iniciais..............................................................................26 3.5.2 Deliberao Normativa COPAM 07/1994 .......................................................27 3.5.3 Deliberao Normativa COPAM 52/2001 .......................................................28 3.5.4 O Programa Minas Sem Lixes........................................................................29 3.5.5 Desenvolvimento do Programa ........................................................................29 3.5.5.1 Deliberao Normativa COPAM n. 074/2004, de 02/12/2004 ...................29 3.5.5.2 Deliberao Normativa COPAM n. 75/2004 ..............................................29 3.5.5.3 Deliberao Normativa COPAM n. 81/2005 ..............................................29 3.5.5.4 Deliberao Normativa COPAM n. 105/2006 ............................................30 3.5.5.5 Deliberao Normativa COPAM n118/2008 ..............................................30 3.5.6 Legislao prevista ...........................................................................................31 3.5.7 Aes em curso poca da elaborao do presente trabalho ...........................32 3.6 Ferramentas de Geoprocessamento e Anlises Espaciais.........................................36 3.6.1 Definies.........................................................................................................36 3.6.2 Sistemas de Informao Geogrficos ...............................................................36 3.6.3 Vetor .................................................................................................................37 3.6.4 Raster................................................................................................................38 3.6.5 Comparao entre sistemas raster e Vetoriais .................................................38 3.6.6 Histrico de SIG ...............................................................................................39 3.6.7 Modelagem cartogrfica ou lgebra de mapas .................................................42 3.6.8 Operaes Locais..............................................................................................43 3.6.8.1 Reclassificao .............................................................................................43 3.6.8.2 Sobreposio.................................................................................................43 3.6.9 Operaes de vizinhana local .........................................................................44 3.6.9.1 Filtragem.......................................................................................................44

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    3.6.9.2 Declividade...................................................................................................44 3.6.10 Operaes de vizinhana geral .........................................................................45 3.6.10.1 Distncia, Proximidade e Conectividade..................................................45 3.6.10.2 Criao de Buffers (Buffering).................................................................45 3.6.11 Anlise da paisagem .........................................................................................45 3.6.12 Operaes em regies.......................................................................................46 3.6.12.1 rea e permetro .......................................................................................46 3.6.13 Anlise Ambiental ............................................................................................46 3.6.13.1 Anlise de multicritrios...........................................................................47 4 Metodologia de trabalho...................................................................................................49 4.1 Metodologia de anlise dos dados de lixes desativados no Estado de Minas Gerais 50 4.2 Metodologia de Anlise de dados de Lixes em atividade no Estado de Minas Gerais 52 4.3 Metodologia de definio dos planos de informao ...............................................54 4.4 Metodologia de Sntese dos Planos de Informao ..................................................55 4.5 Definio de Fatores naturais ...................................................................................55 4.5.1 Declividade dos Locais.....................................................................................56 4.5.2 Distncia de Cursos Dgua .............................................................................57 4.5.3 Permeabilidade de solos e tipologia de aqferos.............................................58 4.5.4 Vazes crticas devido s precipitaes nos locais...........................................60 4.6 Definio de Fatores antrpicos ...............................................................................62 4.6.1 Dependncia de guas subterrneas .................................................................62 4.6.2 Gerao diria de resduos................................................................................64 4.6.3 Distncia de Ncleos Populacionais.................................................................64 4.6.4 Unidades de Conservao.................................................................................64 5 Resultados preliminares....................................................................................................65 5.1 Declividade nos lixes..............................................................................................65 5.2 Distncia de Cursos Dgua .....................................................................................66 5.3 Permeabilidade e Tipologia de Aqferos ................................................................68 5.4 Vazes crticas devido s precipitaes nos locais...................................................71 5.5 Distncia de Ncleos Populacionais.........................................................................72 5.6 Unidades de Conservao.........................................................................................74 5.7 Gerao diria de resduos........................................................................................75 5.8 Usos de recursos hdricos subterrneos ....................................................................76 5.9 Integrao dos Planos de Informao.......................................................................80 5.9.1 Pr-Processamento ...........................................................................................82 5.9.2 rvore de Deciso ............................................................................................82 6 Resultados Finais da pesquisa ..........................................................................................89 7 Discusso de resultados obtidos .......................................................................................91 7.1 Aplicao dos resultados ..........................................................................................91 7.2 Validao..................................................................................................................91 7.3 Categorizao dos municpios conforme a situao de seus lixes..........................94 8 Concluso .........................................................................................................................95 9 Referncias Bibliogrficas................................................................................................97

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    Lista de Ilustraes Figura 1. Fases da formao de chorume em reas de disposio de RSU (adaptado de Qasim e Chiang, 1994) .............................................................................................................19 Figura 2. Tipologias de disposio de RSU Minas Gerais 2007 ...................................34 Figura 3. Tipologias de disposio de RSU.........................................................................35 Figura 4. Distribuio populacional de disposio de RSU ................................................35 Figura 5. Mapa do estado americano de Connecticut, produzido pelo SYMAP. ................40 Figura 6. Municpios com Lixes no Estado de Minas Gerais ............................................54 Figura 7. Diagrama explicativo da metodologia GOD. Fonte: Foster (1993)..................59 Figura 8. Declividade nos locais de disposio de resduos, por municpio........................66 Figura 9. Distncia de lixes a cursos dgua, por municpio .............................................67 Figura 10. Permeabilidade de solos em Minas Gerais .......................................................69 Figura 11. Sistemas aqferos de Minas Gerais.................................................................70 Figura 12. Precipitaes mximas em municpios com lixes em MG.............................72 Figura 13. Criao de Buffer para aferio de distncia de ncleos urbanos a reas de disposio de RSU....................................................................................................................73 Figura 14. Distncia de ncleos urbanos a reas de disposio em RSU ..........................74 Figura 15. Municpios cujos lixes interferem com unidades de conservao..................75 Figura 16. Classificao de porte de Municpios conforme a gerao diria de RSU.......76 Figura 17. Outorgas subterrneas no estado de Minas Gerais (IGAM, 2008)...................77 Figura 18. Classificao de municpios conforme consumo de gua subterrnea usos urbanos 79 Figura 19. Classificao de municpios conforme consumo de gua subterrnea usos no urbanos 80 Figura 20. rvore de decises adotada ..............................................................................83 Figura 21. Fatores Topogrficos e geolgicos ...................................................................84 Figura 22. Fatores Hidrolgicos ........................................................................................85 Figura 23. Fatores Locacionais ..........................................................................................86 Figura 24. Fatores Dinmicos ............................................................................................87 Figura 25. Fatores Naturais................................................................................................88 Figura 26. Fatores antrpicos.............................................................................................89 Figura 27. Resultados finais...............................................................................................90

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    Lista de Tabelas Tabela 1. Composio de RSU.............................................................................................10 Tabela 2. Composio mdia dos resduos slidos urbanos ................................................11 Tabela 3. Composio mdia dos RSU x Renda per capita .................................................11 Tabela 4. Gerao de resduos por regio geogrfica e per capita .......................................13 Tabela 5. Gerao de RSU x populaes .............................................................................13 Tabela 6. Evoluo da composio do chorume ao longo do tempo ...................................20 Tabela 7. Processos e tipos de tratamento de chorume em Aterros Sanitrios ....................24 Tabela 8. Porte de unidades de tratamento e/ou disposio de RSU DN 07/94................27 Tabela 9. Municpios de Minas Gerais e forma de disposio de RSU adotada..................33 Tabela 10. Sntese de resultados da pesquisa em processos de licenciamento ambiental da FEAM 51 Tabela 11. Lixes em operao - Dados do Inventrio de Resduos Slidos Estaduais ....53 Tabela 12. Classes de vulnerabilidade de aqferos...........................................................59 Tabela 13. Tipologia de solos e permeabilidade ................................................................69 Tabela 14. Aqferos e caractersticas gerais .....................................................................71 Tabela 15. Classificao e atribuio de pesos e notas aos planos de informao ............81 Tabela 16. Municpios com pior classificao e suas populaes......................................91 Tabela 17. Eixos classificatrios, pesos e probabilidades de obteno aleatria de notas.93 Tabela 18. Piores notas na classificao obtida..................................................................94

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    Lista de Abreviaturas e Siglas AAF Autorizao Ambiental de Funcionamento

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    ALMG Assemblia Legislativa de Minas Gerais

    CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem

    CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental So Paulo

    CMRR Centro Mineiro de Referncia em Resduos

    CNEN Comisso Nacional de Energia Nuclear

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

    COPAM - Conselho de Poltica Ambiental COPAM Minas Gerais

    COPASA Companhia de Saneamento de Minas Gerais

    DBO - Demanda Bioqumica de Oxignio

    DN Deliberao Normativa

    DQO - Demanda Qumica de Oxignio

    EIA Estudo de Impacto Ambiental

    EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural Minas Gerais

    FEAM Fundao Estadual do Meio Ambiente - Minas Gerais

    GEOMINAS - Programa de Uso Integrado de Geoprocessamento pelo Governo de Minas

    Gerais

    IBAM - IBAM - Instituto Brasileiro de Administrao Municipal

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    ICMS Imposto sobre a Circulao de Mercadorias e Servios

    IEF Instituto Estadual de Florestas

    IGAM Instituto Mineiro de Gesto de guas

    IPT - Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo

    LAGEOP - Laboratrio de Geoprocessamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro

    LI Licena de Instalao

    LO Licena de Operao

    LP Licena Prvia

    NARC - Ncleo de Apoio as Regionais do COPAM Minas Gerais

    NBR Norma Brasileira

    OMS Organizao Mundial da Sade

    PCA Plano de Controle Ambiental

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    PET - Politereftalato de etila

    PGIRS Plano de Gesto Integrada de Resduos Slidos

    PL Projeto de Lei

    PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico

    PVC - Policloreto de Vinila

    RCA Relatrio de Controle Ambiental

    RIMA Relatrio de Impacto Ambiental

    RSU Resduos Slidos Urbanos

    SAGA - Sistema de Anlise Geo-Ambiental

    SDT Slidos Dissolvidos Totais

    SGBD Sistema de Gerenciamento de Banco de Dados

    SIG(s) - Sistema(s) de Informao Geogrfico(s)

    SLU Superintendncia de Limpeza Urbana Belo Horizonte

    SST Slidos em Suspenso Totais

    SUPRAM - Superintendncia Regional de Minas Gerais

    UC Unidade de Conservao

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    URC Unidades Regionais Colegiadas

    UTC Usinas de Triagem e Compostagem

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    Resumo Desde 2001, a legislao ambiental no Estado de Minas Gerais Brasil prev que cada municpio ou consrcio de municpios deve apresentar o Projeto de Aterro Sanitrio, contemplando sistemas apropriados de drenagem pluvial, coleta dos efluentes lquidos e drenagem de gases. O processo de licenciamento exige a identificao de todas as reas no municpio que j foram, em algum momento, utilizadas para a disposio de resduos, bem como a descrio das medidas a serem adotadas para recuperao da rea do antigo lixo, caso se preveja a mudana de local de disposio. O emprego destas medidas, apesar de necessrias, vem sendo negligenciado na maior parte dos locais, gerando passivos ambientais de difcil controle e quantificao. A pulverizao dos locais gera dificuldades aos gestores municipais, tanto na fiscalizao dos locais em operao quanto na verificao da eficincia das medidas necessrias para recuperao de locais abandonados; Anlises de processos de reas de lixes que tiveram suas atividades encerradas indicam um baixo ndice de implementao destas medidas. Os custos envolvidos na total recuperao de qualquer uma destas reas indicam a necessidade de priorizao e sistematizao de aes. Este trabalho tem o objetivo de discutir a temtica de recuperao de reas j degradadas por Resduos slidos urbanos. Vrias tcnicas vm sendo utilizadas como contribuio questo de recuperao de reas degradadas, entre elas as tcnicas de geoprocessamento que, aplicadas aos dados disponveis, permitem a anlise e a obteno de diversos planos de informao homogneos para locais distintos. Palavras Chave: geoprocessamento, lixes, anlise multicritrios Abstract Since 2001, the environmental legislation in State of Minas Gerais, Brazil, foresees that every county or consortium of counties must present a Sanitary Landfill Project, contemplating the appropriate systems of pluvial drainage, liquid effluent collection and gas drainage. The licensing process requires the identification of all areas in the county that were, at some point, used for the disposition of wastes, as well as the description of the measures to be adopted for the recovery of the former landfill area, if the change of the disposal area is foreseen. The use of these measures, although necessary, has been neglected in most of the areas, generating environmental liabilities that are difficult to control and to quantify. Dispersion of the areas raises difficulties to the municipal managers, both to the inspection of the areas in operation and to the checking the efficiency of the required measures to recover the abandoned areas. Analyses of landfill areas processes, which had their activities closed, indicate a low index of implementation of these measures. The costs involved in the total recovery of any of these areas indicate the need of prioritization and systematization of actions. This paper aims at discussing the subject matter of the recovery of areas already degraded. Several techniques have been used as a contribution to the subject matter of recovery of degraded areas, among them, the geoprocessing techniques which, applied to the data available, allows the analysis and obtainment of several homogenous information plans for different areas. Key-words: geoprocessing, landfill, multi-criteria analysis

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    1 Introduo Os municpios do Estado de Minas Gerais foram convocados a efetuarem o licenciamento

    ambiental dos seus sistemas de disposio de resduos slidos urbanos - RSU. Desde 2001, a

    legislao ambiental no estado prev que cada municpio ou consrcio de municpios deve

    apresentar o Projeto de Aterro Sanitrio, contemplando sistemas apropriados de drenagem

    pluvial, coleta dos efluentes lquidos e drenagem de gases. A Fundao Estadual do Meio

    Ambiente (FEAM) a entidade executora do programa denominado de Minas sem Lixes e

    vem exercendo aes de capacitao e fiscalizao visando a adeso das prefeituras

    municipais legislao atual. O processo de licenciamento exige a identificao de todas as

    reas no municpio que j foram, em algum momento, utilizadas para a disposio de

    resduos. Normalmente, estas reas so denominadas lixes. Ainda, exige-se a descrio das

    medidas a serem adotadas para recuperao da rea do antigo lixo, caso se preveja a

    mudana de local de disposio. Estas medidas incluem cercamento, cobertura, identificao

    e sistema de drenagem pluvial, dentre outras, necessrias reabilitao da rea. O emprego

    destas medidas, apesar de necessrias, vem sendo negligenciado na maior parte dos locais,

    gerando passivos ambientais de difcil controle e quantificao. O poder pblico municipal

    tem a atribuio constitucional de gerir e dispor corretamente os resduos gerados em seu

    territrio, sendo estimulado pelo Estado, para adeso ao programa Minas Sem Lixes, com o

    aumento da participao destas na receita do ICMS Ecolgico. Este mecanismo, entretanto,

    vem demonstrando baixa eficincia em sua capacidade de mobilizao, em especial nos

    municpios de menor porte. A pulverizao dos locais gera dificuldades aos gestores do

    programa, tanto na fiscalizao dos locais em operao quanto na verificao da eficincia

    das medidas necessrias para recuperao de locais abandonados. Anlises de processos de

    reas de lixes que tiveram suas atividades encerradas indicam um baixo ndice de

    implementao destas medidas. Os custos envolvidos na total recuperao de qualquer uma

    destas reas indicam necessidade de priorizao e sistematizao de aes. Alm disso, os

    estudos existentes sobre o tema concentram-se na anlise de reas propcias instalao de

    aterros sanitrios para disposio de Resduos Slidos Urbanos, abrindo-se a perspectiva da

    discusso da temtica de recuperao de reas j degradadas.

    A meta do programa Minas Sem Lixes erradicar, at o ano de 2011, 70 % dos locais de

    disposio inadequada de RSU. Considerando-se somente sobre o estoque atual de 559 lixes

    em operao, sero cerca de 380 locais nos quais devero ser adotadas medidas mnimas de

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

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    controle, para evitar que os resduos se constituam em risco para a sade de populaes

    vizinhas e para o meio ambiente.

    Vrias tcnicas vm sendo utilizadas como contribuio questo de recuperao de reas

    degradadas, entre elas as tcnicas de geoprocessamento que, aplicadas aos dados disponveis,

    estes embasados em experincias anteriores e na observao da realidade, permitem a anlise

    e a obteno de diversos planos de informao homogneos para locais distintos. Torna-se

    oportuno o desenvolvimento de uma ferramenta de anlise que permita a categorizao dos

    locais, com a proposio de medidas globais para categorias semelhantes, que unifiquem o

    dilogo e facilitem a tarefa dos administradores.

    Assim, com este trabalho pretende-se desenvolver uma formatao metodolgica e uma

    anlise dos dados disponveis como contribuio para o entendimento da situao dos

    municpios mineiros em relao aos seus lixes, categorizando-os em nveis de situao de

    risco que permitam a tomada de decises em favor da recuperao de reas mais crticas.

    2 Objetivos 2.1 Objetivo Geral

    Desenvolver uma proposta de anlise ambiental para a rea de influncia de lixes,

    utilizando as ferramentas do geoprocessamento de maneira integrada s informaes de

    conformidade legal, fsica e de operao nestes locais.

    2.2 Objetivos Especficos Como objetivos especficos, pretende-se:

    Aplicar a ferramenta de anlise ambiental por geoprocessamento do SAGA/UFRJ,

    integrando-a s condies previstas pela legislao que rege a destinao de RSU no estado

    de Minas Gerais;

    Prover uma ferramenta de deciso para orientar as aes futuras e/ou definir o tipo de

    interveno para mxima eficincia na reabilitao ambiental da rea de influncia de lixes a

    serem desativados no estado de Minas Gerais.

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    3 Reviso da Literatura 3.1 Os Resduos Slidos Urbanos 3.1.1 Conceituao de resduos A conceituao legal para a temtica de resduos slidos adotada atualmente no Brasil a

    prescrita pela ABNT 10.004/2004 Resduos Slidos Classificao. Esta norma foi

    elaborada em 1987, passando por um processo de reviso em 2004. Essa reviso foi baseada

    no Regulamento Tcnico Federal Norte-americano denominado Code of Federal Regulation

    (CFR) Title 40 Protection of environment Part 260-265 Hazardous Waste

    Management. O objetivo da NBR 10.004 o de classificar os resduos slidos quanto aos seus

    riscos potenciais ao meio ambiente e sade pblica, para que possam ser gerenciados

    adequadamente.

    A NBR 10.004 define os resduos slidos como:

    Resduos nos estados slidos e semi-slidos, que resultam de atividade

    da comunidade de origem: industrial, domstica, hospitalar, comercial,

    agrcola, de servios e de varrio. Ficam includos nesta definio os

    lodos provenientes de sistemas de tratamento de gua, aqueles gerados

    em equipamentos e instalaes de controle de poluio, bem como

    determinados lquidos cujas particularidades tornem invivel o seu

    lanamento na rede de esgotos ou corpos de gua, ou exijam para isto

    solues tcnica e economicamente inviveis, devido a uma melhor

    tecnologia disponvel no Pas.

    J o Projeto de Lei 1991/2007, que institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos, em

    tramitao no Congresso nacional poca da elaborao deste trabalho, apresenta em seu

    Art.7, inciso XIII, a definio de Resduos Slidos como

    aqueles resduos no estado slido e semi-slido, que resultam de

    atividades de origem urbana, industrial, de servios de sade, rural,

    especial ou diferenciada.

    O PL em questo apresenta tambm as seguintes definies, em seu Art. 11.

    . Resduos Slidos Urbanos: Resduos slidos gerados por residncias, domiclios,

    estabelecimentos comerciais, prestadores de servios e os oriundos dos servios

    pblicos de limpeza urbana e manejo de resduos slidos, que por sua natureza ou

    composio, tenham as mesmas caractersticas dos gerados nos domiclios.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

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    . Resduos slidos especiais ou diferenciados: Aqueles que por seu volume, grau de

    periculosidade, de degradabilidade ou outras especificidades, requeiram

    procedimentos especiais ou diferenciados para o manejo e a disposio final dos

    rejeitos, considerando os impactos negativos e os riscos sade e ao meio ambiente

    . Rejeitos: resduos slidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de

    tratamento e recuperao por processos tecnolgicos acessveis e disponveis, no

    apresentem outra possibilidade que no a disposio final ambientalmente adequada.

    Ressalte-se aqui o entendimento popular corrente de que a palavra lixo em Portugus, do latim

    lix (que significa cinzas), o que os tcnicos denominam resduos slidos. Esta expresso,

    resduos slidos, traz certa uniformidade de nomenclatura, pois outros graves problemas

    ambientais esto relacionados com resduos lquidos e resduos gasosos (Cintra, 2003).

    Considerando-se a definio de resduos como todo aquele material inservvel e no

    aproveitvel, neste trabalho adotar-se- a nomenclatura Resduos Slidos, consagrada na

    bibliografia.

    3.1.2 Classificao de Resduos Slidos Urbanos Um resduo pode ser enquadrado em mais de uma forma de classificao. O tipo de

    tratamento adotado depende da classificao dos resduos slidos. Estes so classificados de

    diferentes formas, a saber: periculosidade, origem, natureza fsica e outras. Quanto

    periculosidade, conforme a norma ABNT 10.004/2004 os resduos slidos podem ser

    classificados como:

    Classe I Perigosos: So aqueles que, em funo de suas propriedades fsicas,

    qumicas ou infecto-contagiosas, podem apresentar riscos sade pblica ou ao meio

    ambiente, ou ainda os inflamveis, corrosivos, reativos, txicos ou patognicos.

    Classe II A No inertes: Aqueles que no se enquadram na classificao de

    resduos Classe I ou resduos Classe II B.

    Classe II B Inertes: - Quando amostrados de forma representativa, conforme

    NBR 10.007, e submetidos aos procedimentos da NBR 10.006, no tiverem nenhum

    de seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de

    potabilidade da gua, excetuando-se aspecto, turbidez, dureza e sabor.

    A periculosidade de um determinado resduo definida em funo do grau de inflamabilidade

    (ex. plvora suja, frascos pressurizados de inseticidas, etc.), corrosividade (ex. resduos de

    processos industriais contendo cidos e bases fortes), reatividade (ex. resduos industriais

    contendo substncias altamente reativas com gua), toxicidade (ex. lodo de processos

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    5

    contendo altas concentraes de metais pesados) e finalmente, pela sua patogeneicidade (ex.

    materiais com presena de vrus e bactrias).

    Quanto a sua origem, os resduos podem ser divididos em

    a) Resduos domiciliares: so os gerados nas atividades dirias em residncias,

    constitudos geralmente por restos de alimentos, jornais e revistas, embalagens em geral,

    papel higinico e diversos outros itens como at alguns resduos txicos;

    b) Resduos comerciais: so gerados em estabelecimentos comerciais variando de

    acordo com a atividade desenvolvida. So, normalmente, constitudos dos mesmos itens

    encontrados no lixo domstico, porm em maior proporo;

    c) Resduos urbanos: so gerados pela limpeza pblica (ruas, praas, praias,

    terrenos, entre outros) e constitudos por restos vegetais diversos, corpos de animais,

    embalagens;

    d) Resduos de servios de sade: so gerados por hospitais, farmcias, clnicas e

    outros servios de sade. Merecem cuidados especiais em seu manuseio, transporte ou

    disposio final. Geralmente, o tratamento mais indicado a incinerao. Subdividem-se,

    conforme a Resoluo CONAMA 358/05, em:

    GRUPO A: Resduos com a possvel presena de agentes biolgicos que, por suas

    caractersticas de maior virulncia ou concentrao, podem apresentar risco de

    infeco. Estes subdividem-se conforme se segue.

    Subgrupo A1:

    1. Culturas e estoques de microrganismos; resduos de fabricao de produtos

    biolgicos, exceto os hemoderivados; descarte de vacinas de microrganismos

    vivos ou atenuados; meios de cultura e instrumentais utilizados para

    transferncia, inoculao ou mistura de culturas; resduos de laboratrios de

    manipulao gentica;

    2. Resduos resultantes da ateno sade de indivduos ou animais, com

    suspeita ou certeza de contaminao biolgica por agentes classe de risco 4,

    microrganismos com relevncia epidemiolgica e risco de disseminao ou

    causador de doena emergente que se torne epidemiologicamente importante

    ou cujo mecanismo de transmisso seja desconhecido;

    3. Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes rejeitadas por

    contaminao ou por m conservao, ou com prazo de validade vencido, e

    aquelas oriundas de coleta incompleta;

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    6

    4. Sobras de amostras de laboratrio contendo sangue ou lquidos corpreos,

    recipientes e materiais resultantes do processo de assistncia sade, contendo

    sangue ou lquidos corpreos na forma livre;

    Subgrupo A2:

    1. Carcaas, peas anatmicas, vsceras e outros resduos provenientes de

    animais submetidos a processos de experimentao com inoculao de

    microorganismos, bem como suas forraes, e os cadveres de animais

    suspeitos de serem portadores de microrganismos de relevncia epidemiolgica

    e com risco de disseminao, que foram submetidos ou no a estudo

    anatomopatolgico ou confirmao diagnstica;

    Subgrupo A3:

    1. Peas anatmicas (membros) do ser humano; produto de fecundao sem

    sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou estatura menor que 25

    centmetros ou idade gestacional menor que 20 semanas, que no tenham valor

    cientfico ou legal e no tenha havido requisio pelo paciente ou familiares;

    Subgrupo A4:

    1. Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando descartados;

    2. Filtros de ar e gases aspirados de rea contaminada; membrana filtrante de

    equipamento mdico-hospitalar e de pesquisa, entre outros similares;

    3. Sobras de amostras de laboratrio e seus recipientes contendo fezes, urina e

    secrees, provenientes de pacientes que no contenham e nem sejam suspeitos

    de conter agentes Classe de Risco 4, e nem apresentem relevncia

    epidemiolgica e risco de disseminao, ou microrganismo causador de doena

    emergente que se torne epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo

    de transmisso seja desconhecido ou com suspeita de contaminao com

    prons.

    4. Resduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspirao, lipoescultura ou

    outro procedimento de cirurgia plstica que gere este tipo de resduo;

    5. Recipientes e materiais resultantes do processo de assistncia sade, que

    no contenha sangue ou lquidos corpreos na forma livre;

    6. Peas anatmicas (rgos e tecidos) e outros resduos provenientes de

    procedimentos cirrgicos ou de estudos anatomopatolgicos ou de confirmao

    diagnstica;

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    7

    7. Carcaas, peas anatmicas, vsceras e outros resduos provenientes de

    animais no submetidos a processos de experimentao com inoculao de

    microorganismos, bem como suas forraes; e

    8. Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual ps-transfuso.

    Subgrupo A5:

    1. rgos, tecidos, fluidos orgnicos, materiais perfuro cortantes ou

    escarificantes e demais materiais resultantes da ateno sade de indivduos

    ou animais, com suspeita ou certeza de contaminao com prons.

    GRUPO B: Resduos contendo substncias qumicas que podem apresentar risco

    sade pblica ou ao meio ambiente, dependendo de suas caractersticas de

    inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.

    a) produtos hormonais e produtos antimicrobianos; citostticos;

    antineoplsicos; imunossupressores; digitlicos; imunomoduladores; anti-

    retrovirais, quando descartados por servios de sade, farmcias, drogarias e

    distribuidores de medicamentos ou apreendidos e os resduos e insumos

    farmacuticos dos medicamentos controlados pela Portaria MS 344/98 e suas

    atualizaes;

    b) resduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resduos contendo

    metais pesados; reagentes para laboratrio, inclusive os recipientes

    contaminados por estes;

    c) efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores);

    d) efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em anlises clnicas; e

    e) demais produtos considerados perigosos, conforme classificao da NBR

    10.004 da ABNT (txicos, corrosivos, inflamveis e reativos).

    GRUPO C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham

    radionucldeos em quantidades superiores aos limites de eliminao especificados nas

    normas da Comisso Nacional de Energia Nuclear - CNEN e para os quais a

    reutilizao imprpria ou no prevista.

    a) enquadram-se neste grupo quaisquer materiais resultantes de laboratrios de

    pesquisa e ensino na rea de sade, laboratrios de anlises clnicas e servios

    de medicina nuclear e radioterapia que contenham radionucldeos em

    quantidade superior aos limites de eliminao.

    GRUPO D: Resduos que no apresentem risco biolgico, qumico ou radiolgico

    sade ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resduos domiciliares.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    8

    a) papel de uso sanitrio e fralda, absorventes higinicos, peas descartveis de

    vesturio, resto alimentar de paciente, material utilizado em anti-sepsia e

    hemostasia de venclises, equipo de soro e outros similares no classificados

    como A1;

    b) sobras de alimentos e do preparo de alimentos;

    c) resto alimentar de refeitrio;

    d) resduos provenientes das reas administrativas;

    e) resduos de varrio, flores, podas e jardins; e

    f) resduos de gesso provenientes de assistncia sade.

    GRUPO E: Materiais perfuro cortantes ou escarificantes, tais como: lminas de

    barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodnticas, pontas

    diamantadas, lminas de bisturi, lancetas; tubos capilares; micropipetas; lminas e

    lamnulas; esptulas; e todos os utenslios de vidro quebrados no laboratrio (pipetas,

    tubos de coleta sangunea e placas de Petri) e outros similares.

    e) Resduos de Portos, Aeroportos, Terminais Rodovirios e Ferrovirios: possuem

    legislao prpria e no se encaixam nos urbanos e nos comerciais, pois podem hospedar

    doenas provenientes de outras cidades, estados ou pases. So constitudos por restos de

    alimentos e material de higiene pessoal;

    f) Resduos industriais: so gerados pelas atividades industriais apresentando

    caractersticas diversificadas, pois dependem do tipo do produto manufaturado, podendo ser

    exemplificados por leos, plsticos, papel, madeira, borracha, metal, vidros, fibras, resduos

    alcalinos e cidos;

    g) Resduos radioativos: so provenientes das atividades nucleares (resduos de

    atividades com urnio, csio, trio, radnio e cobalto) devendo ser manuseados apenas com

    equipamentos e tcnicas adequadas;

    h) Resduos agrcolas: gerados nas atividades pecurias e agrcolas como embalagens de

    rao, adubos, etc. O lixo proveniente de fertilizantes qumicos e pesticidas so tidos como

    txicos e necessitam de tratamento especial;

    i) Resduos da Construo Civil Aqueles oriundos de atividades especficas de

    edificaes. Conforme a Resoluo CONAMA n. 307, de julho de 2002, classificam-se em:

    Classe A: so os resduos reutilizveis ou reciclveis como agregados, tais

    como os oriundos de:

    Pavimentao e de outras obras de infra-estrutura, inclusive solos

    provenientes de terraplanagem;

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    9

    Edificaes: componentes cermicos (tijolos, blocos, telhas, placas de

    revestimento), argamassa e concreto;

    Processo de fabricao e/ou demolio de peas pr-moldadas em

    concreto (blocos, tubos, meios-fios) produzidas nos canteiros de obras.

    Classe B: so os resduos reciclveis para outras destinaes, tais como:

    plsticos, papel/papelo, metais, vidros, madeiras e outros.

    Classe C: so os resduos para os quais no foram desenvolvidas tecnologias

    ou aplicaes economicamente viveis que permitam a sua

    reciclagem/recuperao, tais como os produtos fabricados com gesso.

    Classe D: so os resduos perigosos oriundos do processo de construo, tais

    como: tintas, solventes, leos, amianto e outros, ou aqueles contaminados

    oriundos de demolies, reformas e reparos de clnicas radiolgicas,

    instalaes industriais e outros.

    3.1.3 Composio dos Resduos Slidos Urbanos A composio dos resduos slidos variada, podendo apresentar os materiais indicados na

    Tabela 1.

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    10

    Tabela 1. Composio de RSU Categoria Exemplos

    Matria orgnica

    putrescvel

    Restos alimentares, flores, podas de rvores.

    Plstico

    Sacos, sacolas, embalagens de refrigerantes, gua e leite, recipientes de produtos de

    limpeza, beleza e alimentcios, esponjas, isopor, utenslios de cozinha, ltex, sacos de

    rfia.

    Papel e papelo Caixas, revistas, jornais, cartes, papel, pratos, cadernos, livros, pastas.

    Vidro Copos, garrafas de bebidas, pratos, espelhos, embalagens de produtos de limpeza, beleza

    e alimentcios.

    Metal ferroso Palha de ao, alfinetes, agulhas, embalagens de produtos alimentcios.

    Metal no- ferroso Latas de bebidas, restos de cobre e chumbo, fiao eltrica

    Madeira Caixas, tbuas, palitos de picol e de fsforos, tampas, mveis, lenha.

    Panos, trapos, couro

    e borracha

    Roupas, panos de limpeza, pedaos de tecido, bolsas, mochilas, sapatos, tapetes, luvas,

    cintos, bales.

    Contaminante

    qumico

    Pilhas, medicamentos, lmpadas, inseticidas, raticidas, colas em geral, cosmticos, vidro

    de esmaltes, embalagens pressurizadas, canetas com carga, papel carbono, filme

    fotogrfico.

    Contaminantes

    biolgicos

    Papel higinico, cotonetes, algodo, curativos, gazes e panos com sangue, fraldas

    descartveis, absorventes higinicos, seringas, lminas de barbear, cabelos, plos,

    embalagens de anestsicos, luvas.

    Pedra, terra e

    cermica

    Vasos de flores, pratos, restos de construo, terra, tijolos, cascalho, pedras decorativas.

    Diversos Velas de cera, restos de sabo e sabonete, carvo giz, pontas de cigarro, rolhas, cartes de

    crdito, lpis de cera, embalagens longa-vida, embalagens metalizadas, sacos de

    aspiradores de p, lixas e outros materiais de difcil identificao.

    Fonte: Manejo de Resduos Slidos Urbanos Aterros Sanitrios PUC - Rio http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/9/docs/rsudoutrina_01.pdf - acessado em 03/02/2009

    A Tabela 2 apresenta a composio gravimtrica dos resduos slidos urbanos em Belo

    Horizonte e no Brasil.

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    11

    Tabela 2. Composio mdia dos resduos slidos urbanos

    Tipos de materiais presentes nos resduos slidos urbanos Brasil

    % em peso

    Belo Horizonte

    % em Peso

    Borracha 0,3 0,4

    Couro 0,1 0,2

    Madeira 0,1 0,6

    Matria orgnica 52,5 64,4

    Metais ferrosos 1,4 2,5

    Metais no ferrosos 0,9 0,2

    Papel e papelo 24,5 13,5

    Plsticos 2,9 6,5

    Trapos 0,2 1,5

    Vidros 1,6 2,2

    Outros 15,5 8,0

    TOTAL 100 100

    Fonte: Modificado de Cintra, 2003; Pereira Neto, 1992 / SLU

    J a Tabela 3 relaciona os percentuais de materiais encontrados nos RSU, e sua variao em

    funo da renda per capita em diversos pases.

    Tabela 3. Composio mdia dos RSU x Renda per capita

    Tipos de materiais

    presentes nos RSU

    Pases de baixa renda

    per capita

    Pases de mdia renda

    per capita

    Pases de elevada renda

    per capita

    Orgnicos

    Restos de alimento 40-85 20-65 6-30

    Papel a e papelob 1-10 (a+b) 8-30 (a+b) 20-45 e 5-15

    Plsticos 1-5 2-6 2-8

    Txteis 1-5 2-10 2-6

    Borracha e couro 1-5 2-10 0-2

    Podasc e madeirad 1-5 (c+d) 1-10 (c+d) 10-20 e 1-4

    Inorgnicos

    Vidro 1-10 1-10 4-12

    Metais em geral 1-5 1-5 3-12

    Terra, p, cinzas 1-40 1-30 0-10

    Fonte: HAMADA, J. - Caracterizao de Resduos Slidos UNESP Bauru, 2007

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    12

    3.1.4 Gerao Per Capita A gerao de resduos slidos vem merecendo a ateno de diversos analistas ao longo dos

    anos. Desde os estudos clssicos de McBean et al, que definiam o padro de gerao em

    funo da populao das comunidades variando de 0,91 a 1,63 kg/habitante/dia, os valores

    vm sendo aprimorados e adaptados realidade dos locais envolvidos. A evoluo envolve

    no s a metodologia para o levantamento dos dados com tambm a natureza dos resduos

    gerados. Esta vem sofrendo alteraes com o tempo, com a introduo, no padro de consumo

    das famlias, de novos materiais antes inexistentes, como os plsticos, PET (Politereftalato de

    etila) e PVC (Policloreto de Vinila) em suas diversas formas, alm do desenvolvimento de

    novas formas de embalagem e acondicionamento de produtos alimentcios e de higiene. Alm

    disso, bens semidurveis como os produtos da indstria eletro-eletrnica tiveram seu uso

    disseminado ao longo dos ltimos vinte anos e seu descarte necessita ser levado em

    considerao nas estimativas mais recentes.

    Em todas as anlises efetuadas, os avanos do consumo e da industrializao adicionados

    integrao de pequenas comunidades aos mercados indicam que vem aumentando a gerao

    de RSU em todo o mundo. Nos pases ditos desenvolvidos, os ndices atingem nos dias de

    hoje cerca de 1,77 kg/hab./dia (ROSA et al., 2001) Dados da Organizao Pan-Americana da

    Sade - OPAS (1999) indicam uma produo de 0,92 kg/hab./dia; Para as grandes cidades

    brasileiras, os dados mais recentes indicam que a gerao de resduos slidos domiciliares no

    Brasil de cerca de 0,6kg/hab./dia e mais 0,3kg/hab./dia de resduos de varrio, limpeza de

    logradouros e entulhos (IPT/CEMPRE, 2000). No Brasil, de acordo com a Pesquisa Nacional

    de Saneamento Bsico (PNSB, 2000), coletam-se coleta cerca de 228.413 toneladas de

    resduos slidos diariamente, sendo 125.258 toneladas referentes aos resduos domiciliares. A

    Tabela 4 apresenta a populao brasileira e sua distribuio regional, a quantidade de resduos

    slidos gerados diariamente e a gerao por pessoa e por regio.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    13

    Tabela 4. Gerao de resduos por regio geogrfica e per capita Populao total Gerao de Resduos (tonelada/dia)

    Valor Percentual

    (%) Valor

    Percentual

    (%)

    Gerao per capita

    (kg/hab./dia)

    Brasil 169.799.170 228.413 100,0 1,35

    Norte 12.900.704 7,6 11.067 4,8 0,86

    Nordeste 47.741.711 28,1 41.558 18,2 0,87

    Sudeste 72.412.411 42,6 141.617 62,0 1,96

    Sul 25.107.616 14,8 19.875 8,7 0,79

    Centro-Oeste 11.636.728 6,9 14.297 6,3 1,23

    Fonte: PNSB (IBGE, 2000)

    De uma forma geral, os valores apresentados na Tabela 4 so compatveis com o

    levantamento realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da

    Repblica, em 1998, quando foram obtidos os seguintes valores: 0,58 Kg/hab./dia para a

    Regio Norte; 1,08 Kg/hab./dia para a Regio Nordeste; 1,3 Kg/hab./dia para a Regio

    Sudeste; 0,95 Kg/hab./dia para a Regio Centro-Oeste; e 0,89 Kg/hab./dia para a Regio Sul.

    Em relao gerao de resduos domiciliares, a PNSB indica um valor mdio nacional de

    0,74 kg por habitante por dia; J a Tabela 5 sintetiza os dados da CETESB/IBGE (2000).

    Tabela 5. Gerao de RSU x populaes Classificao Populao Kg/habitante/dia Toneladas/dia %

    At 100 mil hab. 84.433.133 0,4 33.773 39

    100 e 200 mil hab. 16.615.355 0,5 8.308 10

    200 e 500 mil hab. 22.040.778 0,6 13.224 15

    Acima de 500 mil

    hab.

    45.777.000 0,7 32.044 37

    Total 169.544.443 0,52 87.349 100

    Fonte: Modificado de CETESB (2001) e Censo IBGE (2001)

    3.1.5 Os Resduos como fonte de poluio A disposio inadequada de resduos slidos urbanos constitui-se numa considervel fonte de

    propagao de poluentes. Estes poluentes podem alcanar as guas superficiais ou

    subterrneas atravs do lanamento direto, precipitao, escoamento pela superfcie do solo

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    14

    ou infiltrao. As fontes de poluio da gua podem ser caracterizadas como localizadas ou

    pontuais, quando o lanamento da carga poluidora feito de forma concentrada, em

    determinado local, e no-localizadas ou difusas, quando os poluentes alcanam um manancial

    de modo disperso, no se determinando um ponto especfico de introduo. O chorume,

    resduo gerado nos processos de degradao dos resduos slidos urbanos em locais de

    disposio de resduos slidos urbanos (Santos, 2004) um lquido que apresenta

    caractersticas de altas cargas de contaminantes orgnicos e inorgnicos e sendo assim,

    representam uma fonte de poluio significativa, seja em grandes centros ou pequenos

    aglomerados urbanos. A percolao do chorume resultante de depsitos de resduos no solo

    caracterizada como difusa, no se podendo determinar com exatido o grau de contaminao

    gerado. Ressalte-se que as guas superficiais e subterrneas se encontram interligadas na

    maioria dos casos; Em algumas situaes, os mananciais de superfcie proporcionam a recarga

    dos reservatrios subterrneos, enquanto, em outras, as guas do subsolo descarregam em

    recursos hdricos superficiais. Assim, um manancial de superfcie, poludo, pode causar a

    poluio de um aqfero subterrneo e vice-versa, conforme ser abordado em outra seo

    deste trabalho; Alm disso, a disposio de RSU associa, poluio da gua, alteraes

    provocadas no solo ou no ar. O carreamento de resduos pelas chuvas e a precipitao de

    impurezas do ar constituem tambm mecanismos de poluio da gua.

    A disposio inadequada dos resduos slidos constitui um grande problema para o mundo

    moderno. O aumento gradual do consumo, conseqentemente da gerao e descarte de

    resduos, contribui para o agravamento da situao de reas que funcionavam como depsito

    de lixo e que hoje se encontram contaminada com os diferentes tipos de materiais l

    depositados. Em sua maioria, tratam-se de substncias txicas que tiveram seu uso

    disseminado durante a vida til do lixo.

    Assim, as reas ocupadas pelos chamados lixes destacam-se por seu potencial de danos

    ambientais, sanitrios e sociais, necessitando de especial ateno por parte da sociedade. Este

    trabalho tem seu enfoque nestas reas.

    3.2 Os RSU aps sua disposio

    Aps a disposio dos RSU no solo, inicia-se o processo de decomposio e transformao.

    Estes processos sero analisados no presente trabalho dando enfoque separadamente a cada

    um das fases nas quais os RSU se transformam: Fase slida, fase lquida e fase gasosa.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    15

    Entretanto a fase lquida denominada chorume ou lquido lixiviado requer maior detalhamento

    por se constituir em elemento contaminante dos corpos hdricos.

    3.2.1.1 Fase Slida Conforme se viu, a fase slida composta principalmente por restos de alimentos, papel e

    papelo, plsticos, txteis, borracha e couro, podas e madeira, alm dos inorgnicos vidro,

    metais em geral, terra, p e cinzas. A composio bastante variada, utilizando-se para a sua

    caracterizao os seguintes parmetros e propriedades fsicas:

    Peso Especfico

    Trata-se do resultado da diviso da massa dos resduos pelo seu volume. O peso especfico do

    lixo varia em funo de sua composio, e aumenta proporcionalmente com a profundidade,

    como resultado do peso da pilha de lixo e a compactao diria aplicada ao aterro, sendo

    aceitos valores entre 3 a 18 KN/m3 (Carvalho, 2008).

    Umidade

    O teor de umidade em aterros de resduos slidos dependente de vrios fatores incluindo:

    composio e condies iniciais do lixo, condies climticas do local, procedimento de

    operao do aterro, presena de lixiviao, cobrimento e quantidade de umidade gerada pelo

    processo biolgico de degradao dos resduos. O teor de umidade do lixo slido pode ser

    expresso de acordo com o peso mido ou peso seco. Conforme Carvalho (op.cit.) so aceitos

    valores entre 15 e 40 % (Carvalho, 2008).

    Tamanho das partculas e sua distribuio

    analisada com peneiras previamente calibradas. De um modo geral, ocorre uma tendncia

    de aumento da quantidade de material granular fino com a idade do lixo, servindo este

    parmetro para indicar sua idade.

    Capacidade de campo

    definida como a quantidade mxima de gua retida na massa de RSU em oposio fora

    da gravidade. Seus valores reportados na literatura apresentam uma faixa muito ampla. Isto

    pode ser explicado pela influncia de diferentes fatores, tais como a composio, peso

    especfico, porosidade e idade dos RSU (YUEN et al., 2001).

    Porosidade

    a caracterstica de um meio poroso, permitir um lquido fluir entre suas partculas com

    maior ou menor velocidade. Representa o tempo necessrio para que um lquido percorra os

    vazios de uma massa de solo, ou de resduos (YUEN, op.cit.).

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    16

    A fase slida dos Resduos Slidos Urbanos deve ser analisada pelos seus principais aspectos

    causadores de impactos negativos no meio ambiente, a saber: a queima, a transmisso de

    vetores e a coleta irregular de materiais. Nos lixes, devido forma irregular de disposio e

    s reaes fsico-qumicas presentes, ocorre um aumento de temperatura no macio de

    resduos que favorece a combusto, espontnea ou induzida por agentes. A queima destes

    conduz gases txicos para a atmosfera bem como metais pesados e outros elementos, que se

    constituem em risco ao meio ambiente e sade das populaes vizinhas. Estas tambm so

    afetadas diretamente pelos vetores de doenas e pela atividade de catadores.

    3.2.1.2 Fase Lquida Chorume Conforme discutido anteriormente, um dos parmetros importantes na caracterizao dos

    resduos slidos urbanos o teor de umidade, que representa a quantidade de gua na massa

    de resduos. Est gua tender a solubilizar substncias presentes nos resduos slidos,

    principalmente as de composio orgnica, dando origem a uma mistura lquida complexa

    com composio qumica varivel (qualitativa e quantitativa) denominada chorume.

    Chorume pode ser definido como a fase lquida da massa de lixo aterrada, que percola atravs

    desta removendo materiais dissolvidos ou suspensos e tornando-se assim um lquido

    lixiviado. Na maioria dos aterros sanitrios, o chorume composto basicamente pelo lquido

    que entra na massa aterrada de lixo, advindo de fontes externas, tais como sistemas de

    drenagem superficial, chuva, lenol fretico, nascentes e aqueles resultantes da decomposio

    dos resduos slidos urbanos.

    SegundoYUEN et al (2001) a gerao de chorume pode ser influenciada pelos seguintes

    fatores:

    Climatolgicos e correlatos;

    Regime de chuva e precipitao pluviomtrica anual;

    Escoamento superficial;

    Infiltrao;

    Evapotranspirao e temperatura;

    Caractersticas do resduo slido;

    Composio;

    Densidade;

    Teor de umidade inicial;

    Tipo de disposio:

    Caractersticas de permeabilidade do aterro ou lixo;

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    17

    Idade do aterro ou lixo;

    Profundidade do aterro ou lixo.

    A quantidade de matria orgnica presente no resduo de Belo Horizonte de 64,4% e no

    Brasil superior a 50%, conforme apresentado na Tabela 2 (composio mdia dos resduos

    slidos urbanos), citado de Pereira Neto (2002). A presena da matria orgnica nos resduos

    slidos urbanos a principal responsvel pela gerao do chorume, que possui elevada carga

    orgnica capaz de contaminar o lenol fretico e cursos dgua localizados nas proximidades.

    A qualidade do chorume principalmente o resultado das caractersticas fsicas, qumicas e

    processos biolgicos assim como de outras variveis entre as quais a circulao da gua, os

    nutrientes e a presena de substncias txicas ou de compostos ou elementos inibidores. O

    processo gradual decomposio de RSU foi dividido em vrias fases (Qasim e Chiang, 1994;

    McBean et al., 1995; Oweis e Khera, 1998; McBean e Rovers, 1999). Apesar da grande

    variabilidade de composio gravimtrica presente nos aterros e lixes, o processo de

    decomposio da matria orgnica basicamente o mesmo, caracterizando-se inicialmente

    por uma fase aerbia, de pequena durao, e vrias fases anaerbias.

    Na fase inicial (descrita como "Fase I", por McBean e Rovers, 1999) h o predomnio de uma

    decomposio aerbia. Esse processo relativamente rpido, se comparado decomposio

    anaerbia. Durante essa fase uma grande quantidade de calor produzida e a temperatura do

    aterro sobe consideravelmente acima da temperatura ambiente. Picos de temperatura de at

    71o C podem ocorrer de poucos dias a poucas semanas aps a aplicao de cobertura (Oweis e

    Khera, 1998). Nessa fase no produzida uma quantidade muito grande de chorume, uma vez

    que se espera que a gua resultante no processo esteja reagindo com sais altamente solveis,

    tais como Nacl e outros (Qasim e Chiang, 1994). Esta fase normalmente muito curta,

    durando menos de um ms, devido quantidade limitada de oxignio no aterro e alta

    demanda de oxignio dos RSU.

    Quando o oxignio se esgota, predomina a decomposio anaerbica por microrganismos.

    Nesta fase, denominada Fase II" (McBean e Rovers, op.cit.), grande quantidade de cidos

    graxos, como o cido actico (CH3COOH), e dixido de carbono so produzidos. Esses

    cidos reduzem o pH para valores entre 4 e 5. A condio de baixo pH contribui para

    mobilizar materiais inorgnicos como os metais pesados. Chorume produzido durante esta

    etapa geralmente caracterizado por elevados valores de DBO (geralmente superiores a

    10.000 mg/L) e elevadas propores de DBO/DQO (geralmente superiores a 0,7), o que

    indica que altas propores de materiais orgnicos solveis so facilmente biodegradveis.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    18

    A decomposio anaerbia muito favorecida quando a populao de metanobactrias

    aumenta. O metano , depois do CO2, o gs que mais contribui para o efeito estufa de origem

    antropognica, tornando-se um dos gases importantes no estudo das alteraes climticas

    induzidas pelo homem. A produo de gs metano na natureza ocorre pela degradao de

    material orgnico por bactrias em meios livres de oxignio (meios anaerbicos), tais como

    sedimentos aquticos, trato gastrointestinal de alguns animais e nos esgotos. Vrios fatores

    qumicos e biolgicos influenciam a produo de metano em determinado meio, destacando-

    se a temperatura, o pH e a disponibilidade de alimento. As bactrias produtoras de metano,

    denominadas metanobactrias, podem processar apenas um pequeno nmero de compostos

    para o seu crescimento.

    cidos volteis e outros materiais orgnicos so, portanto, convertidos em metano e dixido

    de carbono. Assim, a concentrao de cidos volteis reduzida a nveis mais baixos, e a

    composio gasosa torna-se uma mistura de dixido de carbono e metano. O pH comea a

    subir, o que favorece a produo de metano ("Fase III-IV, McBean e Rovers, op.cit.).

    Prximo ao patamar de pH neutro, a condutividade cai porque uma menor quantidade de

    materiais inorgnicos solubilizada. O potencial redox deve ser menor do que durante as

    fases precedentes da decomposio anaerbia, refletindo o aumento da produo de metano e

    aumento no pH (Qasim e Chiang, 1994). Esta etapa dura anos, ou mesmo dcadas.

    A matria orgnica nos aterros varia desde compostos de cidos volteis com baixo peso

    molecular at compostos de intermedirio e alto peso molecular. A biodegradabilidade da

    matria orgnica em chorume geralmente inversamente proporcional ao peso molecular dos

    diversos componentes da matria orgnica, ou seja, um peso molecular mais baixo indica um

    maior grau de biodegradabilidade. No estgio seguinte, a taxa de decomposio bacteriana

    pode diminuir devido ao esgotamento do substrato ("Fase V", McBean e Rovers, op. cit.).

    Lentamente, pores de aterro podem restabelecer condies aerbicas enquanto guas com

    altos teores de oxignio continuarem a percolar atravs do aterro (Qasim e Chiang, 1994).

    O resultado que o chorume geralmente composto de centenas de contaminantes orgnicos

    e inorgnicos classificados em quatro grupos como se segue.

    1. Compostos orgnicos antropognicos, provenientes diretamente de produtos qumicos

    de uso domstico ou industrial;

    2. Matria orgnica, que consiste principalmente do produto de degradao de matria

    orgnica slida nos resduos, que tipicamente tm concentraes inferiores a 1 mg/L;

    3. Substncias inorgnicas incluindo clcio, magnsio, sdio, potssio, amnia, ferro,

    mangans, cloretos, sulfatos e bicarbonatos;

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    19

    4. Metais pesados, incluindo o cdmio, cromo, cobre, chumbo, nquel e zinco.

    Figura 1. Fases da formao de chorume em reas de disposio de RSU (adaptado de Qasim e Chiang, 1994)

    O alto grau de diferenciao interna e os diversos processos, ocorrendo simultaneamente em

    cada ponto da massa de resduos, levam os autores a propor outros modelos para a

    decomposio; Assim, o processo gradual decomposio de RSU foi dividido em vrias fases

    (Qasim e Chiang, 1994; McBean et al., 1995; Oweis e Khera, 1998; McBean e Rovers, 1999).

    Apesar da grande variabilidade de composio gravimtrica presente nos aterros e lixes, o

    processo de decomposio da matria orgnica basicamente o mesmo, caracterizando-se

    inicialmente por uma fase aerbia, de pequena durao, e vrias fases anaerbias. Alguns dos

    autores citados dividem o processo em duas fases somente (aerbica e anaerbica), outros em

    trs ou quatro fases, com diferentes divises do processo anaerbico, conforme discutido por

    CINTRA (2003). O chorume recolhido a partir de um nico local dentro de um aterro

    sanitrio bastante varivel ao longo do tempo. Alm disso, a heterogeneidade espacial na

    qualidade do chorume tambm pode ser observada, por exemplo, alguns locais dentro de um

    aterro sanitrio ou lixo podem estar em uma dada fase de decomposio, enquanto outros

    locais se encontram em diferentes estgios de decomposio.

    A Tabela 6 apresenta a evoluo da composio fsico-qumica do chorume ao longo do

    tempo.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    20

    Tabela 6. Evoluo da composio do chorume ao longo do tempo Idade do aterro

    Parmetros Unidade de anlise 1 ano 5 anos 16 anos

    Alcalinidade (CaCO3) mg/l CaCO3 800-4.000 5.810 2.250

    Cdmio mg / l -

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    21

    chorume contm matria orgnica tanto dissolvida como em suspenso coloidal. A

    caracterstica mais marcante que a matria orgnica do chorume aps percolao em mais

    de 30 metros de camada de aterros apresenta-se com baixa biodegradabilidade. A DQO do

    chorume velho tem variado na faixa de 1200 a 2200 mg O2/l. O chorume contm sais,

    principalmente cloretos e bicarbonatos de sdio e potssio, e em menores concentraes

    bicarbonato de clcio e magnsio. As concentraes de slidos totais dissolvidos variam de

    10.000 a 20.000 mg/L, com e sem recirculao do chorume pelo aterro respectivamente. A

    presena de nitrognio amoniacal relevante introduzindo um carter txico ao chorume

    (principalmente para a biota aqutica). A amnia, por sua solubilidade e altas concentraes

    um importante traador da contaminao do chorume nos corpos hdricos. Alm disso,

    anlises que permitam detectar a presena de metais pesados no devem ser negligenciadas.

    A composio qumica do chorume varia muito, dependendo da idade do aterro e dos eventos

    que ocorreram antes da amostragem do mesmo. Conforme HAMADA (1997), se o chorume

    coletado durante a fase cida, o pH ser baixo, porm parmetros como DBO, Coliformes

    Totais, DQO, nutrientes e metais pesados devero ser altos. Contudo durante a fase

    metanognica o pH varia entre 6,5 e 7,5 e os valores dos parmetros citados previamente

    sero bastante menores.

    3.2.1.3 Fase Gasosa J se viu como as reaes qumicas presentes no macio de resduos geram gases,

    principalmente metano e outros compostos volteis. Enquanto que nos aterros estes gases so

    drenados atravs de sistema de coleta especficos, nos lixes estes elementos so desprezados,

    ocorrendo um contnuo processo de dissipao destes gases na atmosfera. Caractersticas

    fsicas dos macios podem favorecer a formao de bolses de gs altamente inflamveis e

    por vezes explosivos, com os conseqentes riscos s pessoas envolvidas no manuseio de

    resduos. As taxas de gerao de gases so variveis em funo principalmente da composio

    dos resduos e dos teores de matria orgnica presente; Entretanto, consideram-se aceitveis

    para efeito de dimensionamento de sistemas de drenagem de gs os valores de 0,05 m3/kg/ano

    (Oliveira, 2007). Os gases gerados em lixes e seu desperdcio traduzem-se em perdas

    econmicas, uma vez que deixam de ser aproveitados para a gerao de energia. Os estudos

    sobre a gerao de metano no aterro da Cachimba, que recebe o lixo de Curitiba, indicaram

    um receita potencial de R$ 268,9 milhes ao longo de um perodo de 18 anos (Oliveira, op.

    cit.). Outras municipalidades nas quais a coleta realizada corretamente reduzem gastos com

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    22

    energia, como o caso de Hong-Kong, na China, onde o gs proveniente dos aterros

    responsvel por at 6 % da oferta energtica (LI, 2002).

    3.3 Formas de disposio adotadas para os RSU Apesar da presena do tratamento em suas diferentes modalidades, no Brasil predominam

    como forma de disposio adotadas para os RSU os Lixes, os Aterros Controlados e em

    muito menor escala os Aterros Sanitrios. A situao no diferente para Minas Gerais,

    embora algumas localidades tenham passado a adotar as Usinas de Triagem e Compostagem.

    3.3.1 Lixo Conforme o Manual de Gerenciamento Integrado, IPT/2000, lixo uma forma inadequada

    de disposio final inadequada de resduos slidos municipais, que se caracteriza pela simples

    descarga de resduos em determinadas reas, sem medidas de proteo ambiental e sem

    proteo a sade pblica. Est localizado em reas sem preparao anterior e que no tm

    nenhum sistema de tratamento de efluentes lquidos; Estes percolam atravs do solo

    conduzindo substncias txicas e contaminantes para o lenol fretico. A ausncia de

    qualquer sistema de mitigao ou controle favorece a proliferao de moscas, aves necrfagas

    como urubus, harpias e alguns tipos de gavio, alm de ratos e outros pequenos animais, que

    se transformam em vetores de agentes patognicos; Ao dano ambiental dessas reas est

    normalmente associado a presena de catadores de lixo, em busca de materiais reciclveis

    com aproveitamento econmico. Entretanto, no se adotam procedimentos que evitem as

    conseqncias sociais negativas, como o isolamento social dos catadores. Os lixes

    apresentam tambm grande impacto sobre a paisagem e sua simples presena causa

    desconforto e traz a desvalorizao das reas adjacentes. As conseqncias da operao de

    lixes se estendem por vrios anos; Como estas reas se situam normalmente nas periferias

    das cidades, a expanso urbana aumenta os riscos de contaminao das populaes e de

    acidentes relacionados instabilidade geotcnica e s emisses de gases, mesmo muitos anos

    aps o encerramento das atividades de disposio de resduos no local.

    3.3.2 Aterro Controlado O aterro controlado uma forma de disposio criada para mitigar os efeitos adversos do

    lanamento a cu aberto. Trata-se de uma instalao destinada disposio de resduos

    slidos urbanos, na qual alguns ou diversos tipos e/ou modalidades objetivos de controle

    so periodicamente exercidos, quer sobre o macio de resduos, quer sobre seus efluentes.

    Normalmente trata-se de uma clula adjacente a um lixo no qual se adotaram tentativas de

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    23

    remediao. Esta clula adjacente preparada para receber resduos com sistema de

    impermeabilizao adequado e operada de forma a reduzir os impactos negativos, com a

    adoo de providncias como a cobertura diria da pilha de lixo com terra ou outro material

    disponvel como forrao ou saibro. Admite-se que o aterro controlado se caracterize como

    um estgio intermedirio entre o lixo e o aterro sanitrio; Para efeitos legais no estado de

    Minas Gerais, definem-se os aterros controlados como aqueles onde as medidas do artigo 2

    da Deliberao Normativa COPAM No. 52/2001 so observadas, como se ver adiante. Deve-

    se ressaltar, entretanto, que todas as medidas adotadas nestes locais so ineficientes na

    mitigao dos impactos ambientais relacionados contaminao de guas subterrneas;

    opinio deste autor que a denominao Aterro Controlado inadequada, pois leva

    percepo errnea que a disposio de RSU atingiu o status de aterro, com uma operao sob

    controle: Uma forma mais apropriada de denominao seria lixo controlado.

    3.3.3 Aterro Sanitrio O aterro sanitrio a forma de disposio considerada adequada para a disposio de RSU.

    Em seu projeto, prevista a preparao do terreno com providncias para sua

    impermeabilizao, como o nivelamento e o selamento da base com argila ou mantas de PVC

    ou PEAD (Polietileno de Alta Densidade), para garantir que o lenol fretico no seja

    contaminado. So implantados tambm sistemas de drenagem de gases e tratamento de

    chorume. A coleta de chorume se d atravs de sistemas de drenagem especficos; Este

    ento dirigido a um sistema de tratamento adequado. Na operao do aterro sanitrio

    prevista a cobertura diria dos resduos, para que se evite a proliferao de vetores, mau

    cheiro e poluio visual. Este confinamento se d com material inerte, geralmente solo,

    segundo normas operacionais especficas, de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e

    ao meio ambiente. Alm disso, nos aterros sanitrios proibida a atividade de catadores e a

    quantidade de resduos que entra controlada. So implantados tambm sistemas de captao

    e armazenamento ou queima do gs metano, resultante da decomposio da matria orgnica.

    Ao final da vida til a empresa que opera responsvel por efetuar um plano de recuperao

    do terreno que em muitos casos deve incluir a recomposio da paisagem. A decomposio, a

    estabilizao e a remoo de poluentes provenientes de um aterro so dependentes de diversos

    fatores; da composio dos resduos, do grau de compactao, da presena de materiais

    inibidores, da quantidade de umidade presente, da entrada e sada de gua, da taxa de

    circulao da gua, das propriedades hidrolgicas do local e da temperatura.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    24

    3.3.3.1 Tratamento de chorume nos aterros sanitrios Devido cadeia de constituintes existentes no chorume, e s variaes quantitativas sazonais

    e ao longo da escala temporal, no se deve considerar uma soluo nica de processo para seu

    tratamento (Hamada & Matsunaga, 2000). Os autores citam o critrio de Forgie (1988) que

    permite a deciso na seleo de processos. Quando o chorume apresentar DQO elevada

    (acima de 10.000 mg/l), baixa concentrao de nitrognio amoniacal e uma relao

    DBO/DQO entre 0,4 e 0,8, associado a uma concentrao significativa de cidos graxos

    volteis de baixo peso molecular, o tratamento pode ser efetuado por ambos os processos, ou

    seja, anaerbio e aerbio.

    Assim, diversos tipos de tratamento e disposio final podem ser adotados para o chorume,

    ocorrendo grande divergncia entre os autores quanto ao modelo a ser adotado. No Brasil, os

    tratamentos abaixo listados j se encontram em uso, singularmente ou associados a outros

    processos.

    Tabela 7. Processos e tipos de tratamento de chorume em Aterros Sanitrios PROCESSO TIPO DE TRATAMENTO DE CHORUME

    Drenagem de chorume - Recirculao sobre a massa de resduos

    - Tratamento conjunto com guas residurias;

    - Tratamento aerbio; Processos biolgicos

    - Tratamento anaerbio

    - Precipitao qumica; - Oxidao qumica - Adsoro com

    carbono ativo

    - Filtrao;

    - Osmose inversa;

    Processos fsico-qumicos

    - Charcos artificiais

    - Aplicao no terreno Tratamento natural

    - Jardinagem com aplicao no terreno

    Tratamentos Mistos - Diferentes combinaes de vrios tratamentos

    Fonte: Adaptado de JUC, J.F.T - Destinao Final dos Resduos Slidos no Brasil: Situao

    Atual e Perspectivas UFPE 2007

    3.3.4 Usinas de Triagem e Compostagem As Usinas de Triagem e Compostagem (UTCs) so locais onde os resduos so submetidos a

    um processo de separao sistemtica, no qual os resduos inorgnicos so destinados

    atividade de reciclagem e os orgnicos so conduzidos compostagem, definida como o

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    25

    processo natural de decomposio biolgica de materiais orgnicos, de origem animal e

    vegetal, pela ao de microorganismos (IBAM, 2001). Atravs de disposio adequada,

    controle de temperatura e umidade, produzido um composto orgnico rico em nutrientes que

    pode ser armazenado e aproveitado como fertilizante. AS UTC tm eficincia comprovada em

    locais onde so implantados programas de coleta seletiva de RSU, em que j ocorra a

    separao entre o chamado resduo seco (papel, papelo, latas, sacos plsticos e embalagens

    PET, etc.) e o resduo mido (restos de alimentos e outros dejetos orgnicos); Nestes locais, o

    processo de separao de resduos muito simplificado. Entretanto, o processo gera resduos

    orgnicos e inorgnicos que no podem ser adicionados s pilhas de composto, tais como

    carvo mineral e vegetal, papel colorido, plantas doentes, materiais biodegradveis, fezes de

    animais de estimao, lodos oriundos de sistemas de tratamento de esgoto, produtos qumicos

    txicos e outros, que devem ter outra forma de disposio em aterros. Assim, a operao de

    UTCs normalmente est associada a um aterro sanitrio, ocorrendo tambm em conjunto

    com aterros controlados.

    3.4 Riscos sanitrios e ambientais da disposio inadequada de RSU para os municpios

    Os gestores pblicos procuram em maior ou menor grau voltar sua ateno para a temtica da

    disposio de RSU, de acordo com as caractersticas e peculiaridades de cada comunidade. A

    distribuio da populao no espao municipal pode acarretar problemas logsticos na coleta

    de resduos; A predominncia de determinada atividade econmica pode acrescentar

    dificuldades, como a gesto de determinados tipos de resduos txicos, como nos plos

    produtores de tecidos ou curtumes. Entretanto, a operao de lixes sempre acarretar, em

    maior ou menor grau, em conseqncias danosas.

    A primeira conseqncia detectvel a poluio do solo. Com a alterao de suas

    caractersticas fsico-qumicas, os lixes representaro uma sria ameaa sade pblica,

    tornando-se tambm um ambiente propcio ao desenvolvimento de transmissores de doenas,

    alm do visual degradante associado ao local.

    De maior gravidade, pelos seus efeitos difusos, a poluio da gua ocorre com a alterao de

    caractersticas do ambiente aqutico, atravs da percolao do lquido gerado pela

    decomposio da matria orgnica presente nos resduos, associado com as guas pluviais e

    nascentes existentes nos locais de descarga dos mesmos.

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    26

    No deve ser esquecida a poluio do ar, devido formao de gases naturais na massa de

    resduos pela decomposio destes com e sem a presena de oxignio, originando riscos de

    migrao de gs, exploses e at de doenas respiratrias populao de entorno.

    Alm da poluio do solo, do ar e dos mananciais, os principais riscos associados disposio

    inadequada de RSU so:

    Proliferao de vetores e de doenas relacionadas poluio gerada;

    Fogo, deslizamentos e exploses devido aos gases gerados na decomposio de

    matria orgnica e queima clandestina dos resduos slidos; Emisso de partculas slidas em

    funo do trnsito de veculos e gerao de odores desagradveis oriundos dos processos de

    decomposio;

    Atividade de catadores, com a degradao, reduo da auto-estima e custos sociais

    decorrentes;

    Espalhamento dos resduos pelo vento, animais e guas superficiais provenientes das

    chuvas.

    Acrescentam-se, no caso de Minas Gerais, os danos econmicos. Ao manter seus lixes em

    operao, as municipalidades so consideradas inaptas para o recebimento de parcela do

    ICMS Ecolgico, com conseqente comprometimento de receita municipal.

    3.5 Legislao referente disposio de Resduos Slidos Urbanos em Minas Gerais 3.5.1 Marcos regulatrios iniciais A legislao ambiental em Minas Gerais sempre pioneira no trato das questes que

    envolvem o meio ambiente, desde a criao do COPAM, nos anos 80. Comisso de Poltica

    Ambiental - COPAM, criada pela Lei Estadual 7.772 de 8 de setembro de 1980, cabia atuar na

    proteo, conservao e melhoria do meio ambiente. Logo aps sua criao, emitiu a

    Deliberao Normativa COPAM n 07, de 29 de setembro de 1981, que j procurava

    disciplinar a disposio de resduos slidos urbanos, estabelecendo que a disposio de

    resduos no solo fosse feita de forma adequada, estabelecida em projetos especficos de

    transporte e destino final, ficando vedada a simples descarga ou depsito em propriedade

    pblica ou particular. Alm disso, previa procedimentos especficos para a disposio de

    resduos perigosos; Mas pecava na proteo ao ambiente ao somente exigir proteo para as

    guas subterrneas ou superficiais quando a disposio final exigisse a execuo de aterros

    sanitrios, no citando as outras formas de disposio, em especial os lixes.

    A Lei Estadual n 9.514, de 29 de dezembro de 1987 transformou a Comisso de Poltica

    Ambiental em Conselho Estadual de Poltica Ambiental. O COPAM, por intermdio das

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    27

    Cmaras Especializadas, das Unidades Regionais Colegiadas (URCs), das Superintendncias

    Regionais de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentvel (Suprams), da Feam e do

    Instituto Estadual de Florestas (IEF), exerce as atribuies de licenciamento ambiental e de

    Autorizao Ambiental de Funcionamento (AAF).

    A Constituio Federal de 1988 estabeleceu como competncia comum da Unio, dos

    Estados, do Distrito Federal e Municpios a proteo do meio ambiente, o combate poluio

    em qualquer de suas formas e a preservao das florestas, da fauna e da flora. Alm disso,

    incumbiu, em seu art. 12, o Distrito Federal os Municpios pela gesto dos resduos slidos

    gerados em seus respectivos territrios.

    3.5.2 Deliberao Normativa COPAM 07/1994 Em 1994, o COPAM estabeleceu critrios de porte, normas e etapas para enquadramento no

    licenciamento ambiental para a atividade de tratamento e/ou disposio final de resduos

    slidos urbanos, dispondo etapas para a concesso de licena ambiental, conforme se segue:

    - Licena Prvia (LP): fase preliminar de planejamento da atividade em que se avalia a

    concepo e localizao do empreendimento. Na maioria dos casos, nessa etapa so

    analisados o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatrio de Impacto Ambiental

    (RIMA) ou, conforme o caso, o Relatrio de Controle Ambiental (RCA).

    - Licena de Instalao (LI): autoriza a implantao do empreendimento. Nessa etapa

    analisado o Plano de Controle Ambiental (PCA), que contm projetos dos sistemas de

    tratamento e/ou disposio de efluentes lquidos, atmosfricos e de resduos slidos etc.

    - Licena de Operao (LO): autoriza a operao do empreendimento aps a verificao do

    cumprimento das medidas determinadas nas fases de LP e LI

    Posteriormente, a Deliberao Normativa n 36, de 07 de julho de 1999 (Publicao - Dirio

    do Executivo - "Minas Gerais" - 08/07/1999) alterou os critrios de porte, como se segue.

    Tabela 8. Porte de unidades de tratamento e/ou disposio de RSU DN 07/94 Porte Pequeno Mdio Grande

    Gerao de resduos por dia 3t/dia< QO< 15 t/dia 15t/dia< QO< 100 t/dia QO> 100 t/dia

    Fonte: FEAM (1994)

    Somente em 1997 a legislao federal, atravs da Resoluo CONAMA n. 237, determinou

    que a disposio de RSU constitusse uma atividade sujeita ao licenciamento ambiental,

    atravs de procedimentos de obteno de Autorizao Ambiental de Funcionamento ou

  • AnlisedeMunicpiosMineirosquantoSituaodeseusLixes

    28

    Licenciamento ambiental, em suas etapas: Licena Prvia, Licena de Instalao e Licena de

    Operao.

    3.5.3 Deliberao Normativa COPAM 52/2001 A principal diretriz da poltica de disposio adequada de resduos slidos urbanos a

    Deliberao Normativa (DN) Copam 52/2001. A DN 52/01 determina que todos os

    municpios, independente do porte, programem as seguintes medidas para dar fim aos lixes:

    Dispor os resduos slidos urbanos em local com solo e/ou rocha de baixa

    permeabilidade, com declividade inferior a 30%, boas condies de acesso, a uma distncia

    mnima de 300m de cursos dgua ou qualquer coleo hdrica e de 500m de ncleos

    populacionais, fora de margens de estradas, de eroses e de reas de preservao permanente;

    Implantar sistema de drenagem pluvial em todo o terreno para reduzir o ingresso das

    guas de chuva na massa de lixo aterrado;

    Compactar e recobrir os resduos slidos urbanos com terra ou entulho, no mnimo,

    trs vezes por semana;

    Isolar com cerca complementada por arbustos ou rvores que contribuam para

    dificultar o acesso de pessoas e animais;

    Proibir a permanncia de pessoas no local de disposio final de lixo para fins de

    catao. Esta determinao teve sua redao alterada pela DN COPAM N 67/2003, que

    imps aos Municpios a obrigao adicional de criar (...) alternativas tcnica, sanitria e

    ambientalmente adequadas para a realizao das atividades de triagem de reciclveis, de

    forma a propiciar a manuteno de renda para as pessoas que sobrevivem dessa atividade,

    prioritariamente, pela implantao de programa de coleta seletiva em parceria com os

    catadores.

    Alm disso, a DN 52/2001 estabelece que os municpios devem dar prioridade

    implementao dos Sistemas de Disposio Final de Resduos Slidos Urbanos por meio de

    consrcios intermunicipais; e veda (...) a instalao de sistemas de destinao final de lixo

    em bacias cujas guas sejam classificadas na Classe Especial e na Classe I da Resoluo

    CONAMA n 20, de 18 de junho de 1986 e na Deliberao Normativa COPA