32

Geo em revista

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Geo em revista
Page 2: Geo em revista

LINHA REVISTA E CORRIGIDA

João Ferreira de Almeida

www.geograficaeditora.com.br

Ler a Bíblia é um diálogo incessante:

A Palavra falae a alma responde.

Page 3: Geo em revista

Editorial

Céus e terra passarão, mas a Palavra de Deus não há de passar. Com base nessa garantia das Escrituras Sagradas, a GEOGRÁFICA EDITORA preparou uma edição especial da Geo em revista sobre a Bíblia Sagrada na versão de Almeida. Do século 17 até hoje, a pioneira tradução em língua portuguesa atravessou gerações, edificou a fé de milhões e milhões de pessoas e con-

solidou o Brasil como uma potência evangélica. Nesta edição, você vai descortinar o universo da Bíblia Sagrada, conhecendo a trajetória heroica do tradutor, as primeiras edições de seu texto e aquelas que passaram à posteridade como as melhores versões de todos os tempos, como a Almeida Revista e Corrigida (RC), a primeira a ser inteira-mente produzida em território nacional pela Imprensa Bíblica Brasileira e que é, até hoje, uma das preferidas do leitor cristão.

Eterna em seu santo conteúdo, mas sempre renovada através de novos lançamen-tos, edições modernas e com recursos multimídia, a Bíblia Sagrada como produto é o destaque da edição. Conheça a Bíblia do Discípulo, magnífica edição de estudo com fer-ramentas capazes de auxiliar o leitor naquela que é uma das prioridades da vida cristã: o crescimento espiritual. Os principais aspectos do Cristianismo – ética cristã, liderança, criação, evangelismo, família etc – são amplamente tratados, de maneira acessível tanto ao estudioso da Palavra como ao iniciante na leitura bíblica. Outro destaque da Bíblia do Discípulo são suas notas doutrinárias, que aparecem sempre abaixo do texto sagrado e apresentam a opinião de pesquisadores da Palavra de Deus e eruditos em Teologia.

Outro destaque da edição é o novo site da GEOGRÁFICA EDITORA. Lançada recente-mente, a renovação da homepage da editora com informações, blog, vídeos, revista vir-tual, pesquisa bíblica, loja virtual entre outras coisas. Uma das principais casas editoriais do mercado evangélico brasileiro, a GEOGRÁFICA disponibiliza também em seu site um mix que inclui Bíblias especiais e de estudo; hinários; lançamentos, produtos infanto-juvenis; linha feminina e produtos diversos – isso, sem falar na tradição e excelência da qualidade dos produtos que conta com o serviços gráfico e de impressão, consagrados por sua tradição em qualidade.

Geo em revista é sua. Boa leitura e bons negócios!Maria Fernanda Vigon

Quem fazEditor Maria Fernanda Vigon

Jornalista responsável Marcos Simas

(MTB 35185)

Redator Carlos Fernandes

(MTB 17336)

Diretor de arte Well Carvalho (zaghaz.com)

Revisão Alzeli Simas Angela Baptista

Consultoria e produção Editorial Msimas editora Ltda.

Fotos Divulgação Geográfica IngImage Dreamstime

Impressão Geográfica

Tiragem 5.000 exemplares

Caixa Postal 763CEP 09380-340

geograficaeditora.com.br

Eterna, mas sempre renovada

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 3

LINHA REVISTA E CORRIGIDA

João Ferreira de Almeida

www.geograficaeditora.com.br

Ler a Bíblia é um diálogo incessante:

A Palavra falae a alma responde.

Page 4: Geo em revista

Sumário

HistóriaMarcas na históriaPág 05

Nas mais diversas versões ao longo do tempo, a Bíblia de Almeida tem edificado gerações

CulturaComo a Bíblia chegou ao BrasilPág 26

Dos primeiros exemplares impressos na Holanda até o início da produção nacional, pela Imprensa Bíblia Brasileira, foram quase 250 anosPor Carlos Fernandes

Mundo da BíbliaUm livro, muitas históriasPág 18

A trajetória da Bíblia Sagrada ao longo dos tempos encerra muitas curiosidades e fatos pitorescosPor Antonio Cabrera Mano Filho

TecnologiaToda a excelência da Geográfica ao alcance de um cliquePág 22

Novo site da editora traz excelentes opções em produtos, serviços e conteúdos de orientação cristã

DestaqueO discipulado em suas mãosPág 24

Bíblia de estudo do discípulo oferece ao leitor um amplo panorama de doutrinas

InfantilFábulas abençoadasPág 20

Lançamento da Geográfica une pais e filhos em torno da mensagem do amor de Cristo

EntrevistaO “doutor Bíblia”Pág 12

Especialista nas Escrituras, o pastor batista Pedro Moura destaca a qualidade das bíblias produzidas no país

MercadoO valor do pioneirismoPág 29

Imprensa Bíblica Brasileira, ligada à Convenção Batista Brasileira, foi a primeira a imprimir as Sagradas Escrituras no Brasil

LegadoA obra de uma vidaPág 9Tradução da Bíblia por João Ferreira de Almeida teve contornos épicosPor Paulo Pancote

CapaAs versões de AlmeidaPág 6Desde o texto traduzido no século 17, as Escrituras chegaram a mais de 300 milhões de leitores

Page 5: Geo em revista

História

1681 – Sai a primeira publicação do Novo Testamento na tradução de João Ferreira de Almeida

1753 – É impressa a primeira Bíblia completa em português

1840 – É publicada, no Porto (Portugal), a edição Revista e emendada

1847 – A edição Revista e Reformada do texto de Almeida é lançada pela Sociedade Bíblica Trinitariana

1875 – Chega ao público a edição Revista e Correcta

1898 – A versão Almeida Revista e Corrigida (RC) é lançada pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Esta versão foi a primeira a ser totalmente impressa no Brasil, em 1944, pela Imprensa Bíblica Brasileira

1940 – É fundada a Imprensa Bíblica Brasileira, (IBB), editora ligada à Convenção Batista Brasileira e pioneira na impressão da Palavra de Deus no país

1944 – Os primeiros exemplares da Bíblia Sagrada feitos inteiramente no Brasil são distribuídos pela IBB

1956 – A Sociedade Bíblica do Brasil lança a Almeida Revista e Atualizada (ARA)

1968 – A Imprensa Bíblica Brasileira publica a versão Revisada de acordo com os melhores textos em hebraico e grego

Anos 1990 – Várias versões e adaptações do texto de Almeida chegam ao mercado. A Editora Vida lança a Versão Contemporânea. A tradicional Revista e Corrigida ganha novas edições, visando à sua modernização em face do vocabulário brasileiro: a Corrigida Fiel, da Sociedade Bíblica Trinitariana (1994); e a Corrigida 2ª edição, da SBB, lançada em 1995. A Imprensa Bíblica Brasileira chega com a Revista e Corrigida, edição de 1997, e a SBB publica a versão Revista e Atualizada 2ª edição

2008 – Fruto de profunda revisão do texto de Almeida feita por um grupo de editoras evangélicas, sob a coordenação da IBB e da Vida Nova, chega ao mercado a versão Almeida Século 21

Geralmente a abreviatura, da versão de Almeida Revista e Corrigida é simbolizada como “ARC”, mas por ser mais usual utilizamos “RC”.

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 5

Page 6: Geo em revista

Capa

O leitor brasileiro tem hoje à disposição uma enorme diversidade de textos e modelos de Bíblias. A cada ano, chegam ao mercado novas edições, contando a boa e eterna Palavra de Deus em linguagens e estilos compatíveis com

cada faixa de público. Maior produtor mundial das Sagradas Escrituras, o Brasil é realmente privilegiado quando o assun-to é a Bíblia Sagrada. Antes que se chegasse a isso, porém, o caminho foi longo, envolvendo inúmeros estudiosos e gru-pos editoriais e missionários. Ao contrário do que se costuma pensar, o pastor lusitano João Ferreira de Almeida não foi o primeiro a trazer para a língua portuguesa a luz das Sagradas Escrituras. Ainda na Idade Média, um compatriota seu, o rei D.Diniz (1279-1325), teve a iniciativa de traduzir os primeiros vinte capítulos de Gênesis a partir da Vulgata Latina, de Jerôni-mo, antes mesmo que qualquer movimento de tradução bíbli-ca se iniciasse na Inglaterra e na Alemanha – países que, mais tarde, se tornariam protagonistas do movimento reformista protestante que tinha como uma de suas bandeiras principais fazer a Bíblia chegar às mãos dos fiéis.

Contudo, o pioneirismo do monarca lusitano não teve con-tinuidade, apesar do interesse de alguns de seus sucessores, como D.João I e da infanta D.Filipa, que providenciaram a tradu-

ção de alguns outros trechos das Sagradas Escrituras no século 15. Foi somente cerca de 150 anos mais tarde, com Almeida, que a Bíblia Sagrada finalmente teria sua versão na língua por-tuguesa. Hoje, cerca de 300 milhões de falantes do português – dois terços deles, no Brasil – têm acesso fácil ao livro sagrado, através das diversas versões produzidas, ao longo dos tempos, a partir daqueles originais. E tudo teve uma única origem: Al-meida dispunha somente do Textus receptus (“Texto recebido”), originado no Novo Testamento grego editado por Erasmo de Roterdã em 1516 e baseado em alguns poucos manuscritos na língua helênica copiados durante a Idade Média. A ausência de material disponível se explica – ao longo da chamada Ida-de das Trevas, a Igreja fizera o possível para afastar a Palavra de Deus das mãos do povo. Mas o Senhor tinha outros planos e, em 1681, saiu uma edição que se tornaria histórica: o Novo Testamento na tradução de Almeida, impressa em Amsterdã, na Holanda. A primeira Bíblia completa em português só chegaria em 1753 – e, embora seja chamada, com justiça, de Bíblia de Almeida, ela só foi concluída graças ao trabalho do pastor e mis-sionário holandês Jacobus den Akker, que assumiu a tradução após a morte do colega e amigo, em 1691.

As línguas são organismos dinâmicos, e logo ficou claro que o texto de Almeida necessitava de ajustes. Ainda na re-

6 Geo em revista

Page 7: Geo em revista

gião da Batávia – então colônia holandesa tomada dos por-tugueses na Ásia e hoje parte da Indonésia –, foi feita uma revisão completa do texto. Esse material foi a base da edição Almeida Revista e Emendada, publicada no Porto (Portugal) em 1840 e que constou, basicamente, de pequenos acertos de ortografia. Curiosamente, o trabalho foi realizado por um inglês, o capelão E. Whitely. Sete anos depois, saía a Almeida Revista e Reformada, esta sim, fruto de revisão mais acurada por parte da Sociedade Bíblica Trinitariana. O grupo editorial surgiu no ano de 1831 como dissidência da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira em protesto, entre outras coisas, con-tra a inclusão, em algumas Bíblias publicadas na Europa, dos livros apócrifos.

Significativamente, o primeiro projeto de tradução da nova publicadora foi o da Bíblia em português. A empreitada foi liderada pelo reverendo Thomas Boys, estudioso do hebrai-co do prestigiado Trinity College, de Cambridge. Ortodoxos, os tradutores empregaram o método da equivalência formal, pelo qual o foco é voltado prioritariamente para a mensagem original, tanto em termos de forma quanto de conteúdo. O texto traduzido é constantemente comparado com o que lhe deu origem, a fim de se determinar o seu grau de exatidão, evitando-se ao máximo as adaptações na língua receptora.

Outro trabalho do gênero foi realizado a partir da Bíblia em português no ano de 1869, na Inglaterra, e ficou conhecido como a “revisão de Londres”.

Trabalho minuciosoA Bíblia de Almeida continuaria a sofrer as necessárias altera-

ções com o passar dos anos. Em 1875, aparece a edição Revista e Correcta, com um texto cuidadosamente revisado para elimina-ção de erros ainda remanescentes, projeto da Sociedade Bíblica Americana e elaborado pelo português João Nunes Chaves. Essa edição não teve grande sucesso comercial, mas acabou sendo es-sencial para o surgimento daquela que é considerada a mais im-portante Bíblia em português: a Almeida Revista e Corrigida (RC). Lançada em 1898 pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, ela foi a primeira versão da Bíblia na língua portuguesa a contar com a participação de brasileiros em sua produção.

A “Bíblia Corrigida”, como passou a ser popularmente conhe-cida, teve como base, além da Revista e Correcta, a edição Revis-ta, publicada em 1894. “O advento dessa versão bíblica foi aceito com a alegria esfuziante que o profeta retratou ao dizer: ‘Acha-ram-se as tuas palavras, e eu as comi; e as tuas palavras eram para mim o gozo e a alegria do meu coração’ (Jeremias 15.16). Os bra-sileiros receberam a Palavra de Deus na língua que lhes falava ao

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 7

Page 8: Geo em revista

coração”, comenta o pastor e professor Pedro Moura, ex-dirigen-te da Imprensa Bíblica Brasileira, à qual coube o pioneirismo e a honra de ser a primeira publicadora a imprimir a Palavra de Deus no Brasil (ver entrevista mais adiante nesta edição).

“O desafio de traduzir a Bíblia começa com a questão do texto original. É do conhecimento geral que não temos os ma-nuscritos originais das Escrituras – mas há milhares de cópias guardadas em bibliotecas, museus e instituições religiosas de todo o mundo. Todas as traduções são feitas a partir dessas có-pias”, comenta o teólogo e tradutor Luiz Alberto Sayão, um dos mais respeitados especialistas contemporâneos em Bíblia Sa-grada. Erudito em hebraico e professor da Faculdade Batista de São Paulo, o pastor Sayão diz que, sempre que se quer lançar uma nova versão, é preciso um trabalho minucioso de crítica textual a partir dos originais, para se obter o máximo em fide-dignidade. “Graças a Deus, a Bíblia é um dos livros mais bem preservados da história.”

De larga aceitação pelos evangélicos brasileiros, sobretudo pelas denominações pentecostais surgidas na primeira década do século 20, como a Congregação Cristã no Brasil e a Assem-bleia de Deus, a RC logo se tornou a mais popular versão das Es-crituras em português. Elaborada com zelo missionário, ela apro-ximou a Palavra de Deus do povo brasileiro, embora mantivesse a necessária formalidade e o zelo pela fidelidade. “Por sua riqueza, o leitor que tenha tido um nível de escolaridade média poderá entender a mensagem de Deus através da versão Almeida Revis-ta e Corrigida da Bíblia Sagrada”, aponta o professor Eduardo Trin-dade, da Campbellsville University, nos Estados Unidos.

Referência das Sagradas Escrituras em português, a edição Almeida Revista e Corrigida serviu de base para diversas outras Bíblias que a sucederam. “Seu texto prevaleceu sobre traduções famosas em português, como a do padre Antônio Pereira de Fi-gueiredo, do século 18, baseada na Vulgata; e também sobre a Tradução Brasileira (1902-1914), que teve ninguém menos que Rui Barbosa entre os colaboradores. As versões que derivaram da Almeida Revista e Corrigida são outro legado. Umas mantiveram a linguagem escorreita, primaram por literalidade possível, cui-daram do estilo, significação etc. São as melhores, no meu enten-dimento”, continua Moura. A RC, em suas primeiras edições, ser-viu como base para diversas outras traduções, como a Almeida Revista e Atualizada, a Almeida Revisada de acordo com os Me-

lhores Textos em Hebraico e Grego, a Almeida Edição Contempo-rânea e a Almeida Corrigida Fiel.

“Melhor, não”A sociedade se desenvolvia e novos conhecimentos eram ad-

quiridos, inclusive no campo da linguística. Por outro lado, o surgi-mento da chamada arqueologia bíblica, com grandes descobertas ligadas aos fatos bíblicos, reclamava constantes modernizações textuais. O espetacular achado dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947, entusiasmou os tradutores, já que eram os mais antigos tex-tos bíblicos já encontrados. Ainda nos anos 1940, paralelamente ao lançamento da RC inteiramente produzida no Brasil, a Imprensa Bíblica Brasileira iniciou um grandioso trabalho de revisão que du-raria mais de duas décadas, a cargo de uma comissão de alto nível acadêmico e espiritual. Essa tradução viria a público em 1968, na forma da versão Revisada da Tradução de João Ferreira de Almeida de Acordo com os Melhores Textos em Hebraico e Grego. Por sua complexidade, ela pode ser considerada uma nova revisão da tra-dução de Almeida, tendo como base a RC, e foi realizada com o in-tuito de incorporar os avanços da crítica textual bíblica à Bíblia bra-sileira, além de atualizar o vocabulário. “Certa vez, recebi uma carta do doutor Edgard Hallock, que participou daquela comissão e en-tão vivendo nos Estados Unidos, dizendo o seguinte: “Eu ando pro-curando por aqui uma versão melhor que a nossa Revisada. Tenho encontrado semelhante. Melhor, não”, conta o pastor Pedro Moura.

Várias versões e adaptações do texto de Almeida têm chega-do ao mercado. A Editora Vida lançou a versão Contemporânea. A tradicional RC ganhou novas edições, como a Corrigida Fiel, de 1994, e a Corrigida 2ª Edição, no ano seguinte. A Imprensa Bíbli-ca Brasileira lançou a nova versão da Corrigida edição em 1997. A necessária modernização de estilo do texto bíblico, além dos avanços no campo das ciências bíblicas, motivam uma comissão de estudiosos a produzir a versão Almeida 21. Fruto de profunda revisão da versão Revisada, o texto tem como prioridade a exa-tidão exegética e a fluência, sem abrir mão da elegância e do es-tilo, trabalho que contou com a participação da Junta de Educa-ção Religiosa e Publicações (Juerp) e do biblista Luiz Sayão como coordenador. “Graças a Deus pela vida das dezenas de traduto-res que têm trabalhado incansavelmente para dar continuida-de, fundamentação científica, relevância e atualidade à magistral obra de João Ferreira de Almeida”, frisa Sayão.

Revista e Corrigida e Revisada e Atualizada na Nova Ortografia

A Geográfica Editora disponibiliza a Sagradas Escri-turas em duas versões de João Ferreira de Almeida. A Edição “Revista e Corrigida” é a versão mais utilizada e consagrada pelos evangélicos do Brasil. Traduzida dos textos originais pelo missionário português, esta obra se destaca por sua linguagem elegante e erudita.

Você vai encontrar também a conhecida versão Revi-sada e Atualizada, disponível em conformidade com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Para acompanhar a leitura

8 Geo em revista

Page 9: Geo em revista

História

João Ferreira de Almeida nasceu por volta de 1628, em Torre de Tavares, uma pequena localidade em Portu-gal. No português da época, seu nome era grafado como Ioaõ Ferreira Annes d’Almeida ou Yoam Ferreira Annes d’Almeida. Ainda criança, ele ficou órfão de pai

e de mãe – por isso, acabaria sendo levado para Lisboa, onde ficou sob os cuidados de um tio que pertencia a uma ordem re-ligiosa. Não há muitas informações sobre a infância e o início da adolescência de Almeida, mas tudo indica que aquele parente lhe proporcionou uma educação excelente, com vistas ao seu ingresso no sacerdócio católico.

Não existe certeza do que levou o jovem Almeida, então com 14 anos, a deixar seu país, então uma das potências do mundo, em direção à Holanda. Possivelmente, tenha sido pela forte in-fluência da Inquisição em Portugal naquela época. De terras flamengas, embarcou em um navio rumo à Batávia (atualmente Jacarta, capital da Indonésia). Naquela época, a cidade Batávia era o centro administrativo da Companhia Holandesa das Índias Orientais, no sudeste da Ásia. Mas João Ferreira de Almeida não permaneceu ali; em 1642, partiria para Málaca, atual Malásia. Um ano antes, a região havia sido tomada de Portugal pelos holande-ses, após um período de dominação lusitana.

Foi durante a viagem de navio entre a Batávia e Málaca que Almeida, que ainda não completara 15 anos, leu um folheto em espanhol, produzido pelos protestantes e intitulado Diferencias de la cristan-dad (“Diferenças da cristandade”). O texto, de inspiração reformada, ata-cava algumas doutrinas e conceitos católicos, como a utilização do latim na celebração dos ofícios religiosos, afastan-do boa parte dos fiéis do entendimento da Palavra de Deus. A leitura causou-lhe grande impacto; ao desembarcar em Málaca, Almeida converteu-se à Igreja Reformada Holandesa.

Inspirado pela necessidade de aproximar o texto sagrado dos leitores de fala portuguesa, o jovem Almeida decidiu dedicar-se à tradução bíbli-ca. Por volta de 1644, já havia traduzido, a partir do espanhol, o livro de Atos dos Apóstolos. A ideia era copiar os textos à mão e distribuí-los entre as co-

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 9

Page 10: Geo em revista

munidades portuguesas. Após a expansão marítima e comercial iniciada em fins do século 15, a língua portuguesa era muito uti-lizada no sudeste asiático. Quando o domínio colonial da região passou para mãos holandesas, as congregações da Igreja Refor-mada que iam surgindo utilizavam como língua dominante o português, tanto por asiáticos quanto por cristãos protestantes que haviam se convertido, principalmente do catolicismo.

Com o passar dos anos, a quantidade de cristãos de fala portuguesa foi aumentando em Málaca e na Batávia, chegando mesmo, em certas ocasiões, a exceder o de cristãos de língua ho-landesa. Por isso, era um privilégio ter ali, disponível, a presença de um professor e tradutor como João Ferreira de Almeida, que podia ensinar e pregar tanto em português quanto em holandês ao povo das congregações. Ainda em 1644, por iniciativa pessoal, Almeida começou a traduzir para o português o Novo Testamen-to. Ele tomou como base uma parte dos Evangelhos e das cartas do Novo Testamento em espanhol, da tradução de Reina Valera, de 1569. O tradutor usou ainda, como fontes para o seu trabalho, as versões Latina (de Beza), Francesa (Genebra, 1588) e Italiana (Diodati, 1641), todas traduzidas diretamente das línguas origi-nais, o hebraico e o grego. Concluída em 1645, essa tradução de Almeida não chegou a ser publicada. Entretanto, o tradutor fez cópias à mão de seu trabalho, as quais foram mandadas para as congregações de Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka).

Ministério atuanteJoão Ferreira de Almeida permaneceu em Málaca até

o ano de 1651, quando se transferiu para o Presbitério da Batávia. Ali, foi aceito como capelão e começou a estudar teologia; durante os três anos seguintes, também revisou as partes do Novo Testamento que havia traduzido. Depois des-se período, passou por um exame preparatório e foi aceito como candidato ao pastorado. Almeida entrou no ministério da Igreja Reformada Holandesa, primeiramente como “visita-dor de doentes” e, logo depois, como “pastor suplente”. Pas-sou, então, a acumular novas tarefas – dono de uma mente privilegiada, dava aulas de português a pastores, traduzia li-vros de literatura geral e ensinava catecismo aos professores em escolas primárias.

Em 1656, João Ferreira de Almeida foi ordenado pastor e indicado para o Presbitério do Ceilão, para onde foi acom-panhado do colega Baldaeus. Ao que se depreende de seus escritos, aquele acabou sendo o período mais conturbado da vida do tradutor, agora também ministro religioso. Durante o seu pastorado em Galle, no sul da ilha, Almeida assumiu uma posição tão fortemente contrária ao que ele denomina-va de “superstições papistas” que o governo local apresentou contra ele uma queixa ao governo da Batávia. Entre 1658 e 1661, época em que exerceu o pastorado na capital cingale-

sa, Colombo, o pastor português voltou a enfren-tar problemas. As autoridades passaram a tentar, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português.

Foi também durante a sua estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu a mu-lher com quem veio a se casar. Oriunda do cato-licismo romano para o protestantismo, como ele, ela se chamava Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lu-crécia de Lemos). Um curioso acontecimento mar-cou o começo da vida do casal: em uma viagem pela região, então dominada pelas selvas, Almei-

da e Lucrécia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais tarde, a família completou-se com o nascimento de um casal de filhos.

Contudo, enquanto Almeida construía sua vida naquele canto do mundo, sua Europa natal fervia. Após décadas de ex-pansão por diversas nações, a Reforma Protestante enfrentava seu período de maior perseguição. A Inquisição elegera como inimigos preferenciais as igrejas protestantes e seus pastores, cuja pregação era contrária aos ritos romanos. Almeida assumiu publicamente posições e ideias anticatólicas, o que lhe rendeu vários problemas. O furor inquisitório atravessou os mares e che-gou ao mundo colonial europeu, tanto na América Latina quanto no Sudeste Asiático.

Devido aos confrontos que teve nas cidades de Galle e Co-lombo, assim como em Tuticorin, no sul da Índia, onde foi pastor por cerca de um ano, Almeida foi julgado e condenado à mor-te por heresia pelo tribunal da Inquisição, na cidade de Goa,em 1661. Só escapou da execução porque o governador-geral holan-dês na Batávia o convocou de volta, agora em definitivo. Aos 35 anos de idade, o pastor português começaria, então, seu período mais frutífero, tanto em termos ministeriais como na condição de tradutor da Palavra de Deus.

Os registros da época informam muito a respeito de suas ideias e personalidade nesse período. João Ferreira de Almeida conseguiu persuadir o Presbitério de que a congregação onde ministrava poderia realizar a sua própria Ceia do Senhor. Em outro momento, propôs que aqueles que recebessem ajuda em dinheiro da igreja tivessem a obrigatoriedade de frequentá-la e participar das aulas de catecismo. Também se ofereceu para vi-sitar os escravos da Companhia das Índias Orientais nos bairros em que moravam, para dar-lhes aula de religião – proposta que o Presbitério não aceitou – e, com muita frequência, alertava a congregação a respeito da influência católica, que considerava perniciosa à fé. Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradu-ção da Bíblia, que havia iniciado na juventude. Foi somente então que passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico, as línguas em que a Bíblia foi originalmente escrita.

“Novo concerto”Em 1676, após um árduo trabalho, Almeida apresentou sua tra-

dução do Novo Testamento ao Presbitério da Igreja Reformada Ho-landesa na Batávia. Teve início, então, a batalha pessoal do tradutor para conseguir a publicação do texto. O processo era complicado, e o tradutor sabia disso – era preciso que os líderes só autorizassem a impressão depois que o trabalho fosse aprovado por revisores in-dicados pelo próprio Presbitério. Aquele era um momento crucial: sem a concordância da comissão de revisão, o governo da Batávia e a própria Companhia das Índias Orientais, o braço colonial holan-dês na Ásia, não permitiriam a distribuição do livro.

Almeida assumiu publicamente posições e ideias anticatólicas, o que lhe rendeu vários problemas

10 Geo em revista

Page 11: Geo em revista

Com os revisores escolhidos, o trabalho começou, mas foi desenvolvido lentamente. Quatro anos mais tarde, irritado com a demora, João Ferreira de Almeida decidiu não esperar mais e mandou o seu manuscrito para a Holanda por conta própria, para tentar a impressão lá. Contudo, o Presbitério conseguiu interromper a manobra e a impressão não foi au-torizada. Mais alguns meses se passaram e, após desgastantes desentendimentos, Almeida estava a ponto de desistir quan-do chegaram correspondências da Holanda. O manuscrito, finalmente, fora revisado e estava sendo impresso. Finalmen-te, em 1681 – cinco anos depois do término da tradução de Almeida – o Novo Testamento em português foi impresso em Amsterdã. O título do trabalho, escrito no português da época, dizia o seguinte:

“O Novo Testamento Isto he o Novo Concerto de Nosso Fiel Senhor e Redemptor Iesu Christo traduzido na Língua Portu-guesa pelo reverendo Padre João Ferreira de Almeida, ministro pregador do Sancto Evangelho nesta cidade de Batávia, em Java Maior”.

Outro fato digno de destaque é que, nesse título – assim como também em alguns outros escritos, e inclusive na folha de rosto de suas bíblias –, Almeida aparece com o título de padre. Entretanto, é preciso esclarecer que, naquele tempo, tal título eclesiástico era também usado pelos pastores protestantes nas Índias Orientais.

Como a distância entre a Holanda e o Sudeste Asiático era muito grande e os exemplares do Novo Testamento seguiriam de navio, somente um ano depois os volumes impressos chega-ram à Batávia, mesmo assim com erros de tradução e revisão. O fato foi informado às autoridades holandesas e todos os demais exemplares que ainda estavam na Europa, aguardando o envio, foram destruídos. As autoridades flamengas também determina-ram que os Novos Testamentos que já se encontravam na Batávia também fossem eliminados. Contudo, nem todos os exemplares do Novo Testamento recebidos na Batávia tiveram esse fim. Al-guns deles foram corrigidos à mão e enviados para as congre-gações da região. Um deles está, hoje, em exposição no Museu Britânico, em Londres.

Concomitantemente, a metrópole holandesa determinou que fosse iniciada, o mais rapidamente possível, uma nova e cui-dadosa revisão do texto. Os revisores se reuniram para realizar essa verificação, solicitada na tradução de Almeida do Novo Tes-tamento, e também para dar partida na revisão do Antigo Testa-mento, à medida que o pastor fosse entregando a tradução da primeira parte da Bíblia Sagrada, iniciada em 1689. O trabalho de correção e revisão do Novo Testamento foi iniciado e levou dez anos para ser concluído.

Já com a saúde debilitada, João Ferreira de Almeida dei-xou o trabalho missionário pastoral e passou a dedicar-se exclusivamente à tarefa de tradução. Porém, em outubro de 1691, dois anos depois, sua pena parou no versículo 21 do último capítulo do livro do profeta Ezequiel. Aquele era o fim de um obreiro que dedicou sua vida a levar a Palavra de Deus às mãos do povo, falecido aos 63 anos. E somente em 1693, dois anos após a morte de João Ferreira de Almeida, é que a segunda versão de seu Novo Testamento foi impressa e dis-tribuída na própria Batávia. Quanto ao Antigo Testamento, o trabalho foi finalizado em 1694 por Jacobus den Akker, pas-tor holandês e amigo pessoal de Almeida. O texto do Antigo Testamento completo só viria a ser impresso em 1751. E a

Bíblia completa em português, em um único volume, seria publicada pela primeira vez somente no século seguinte, em 1819.

A tradução da Bíblia para o português, feita por João Fer-reira de Almeida, pode ser considerada uma jornada épica que envolveu muito trabalho, uma boa dose de fé, muita oposição e até risco de vida. Ela teve lugar na Batávia, uma região longín-qua e inóspita, habitada por povos cujas línguas nada tinham a ver com o português, à qual os colonizadores europeus chega-ram a bordo de seus navios com objetivos muito mais comer-ciais que religiosos. A presença de Al-meida ali foi fruto de uma conjunção de fatores, inclusive a perseguição religiosa. Era a décima terceira tradução da Bíblia feita numa língua moderna depois da Re-forma, e realizada por um pastor protes-tante. E destinava-se a um país católico – Portugal – e a seus cidadãos d’além mar, além dos povos de colonização lusitana ao redor do mundo, que só poderiam re-ceber de boa vontade uma tradução das Escrituras que fosse feita diretamente da Vulgata Latina. Até hoje, tantos séculos depois, essa tradução, apesar das mais diversas reformas e adaptações, ainda é usada – e querida – pelo povo de Deus.

Frontispício da segunda edição do Novo Testamento de Almeida, publicada em 1693

Paulo Pancote é escritor, editor

e atua em publicadoras

cristãs. Teólogo e professor, é pastor

de confissão batista

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 11

Page 12: Geo em revista

Entrevista

Há pessoas que, por sua erudição e conhecimento das Escrituras Sagradas, bem que poderiam ser chama-das de doutores da Bíblia. O pastor, teólogo e escri-tor Pedro Moura, 64 anos, é um desses. Baiano de Salvador, ele é especialista na Palavra de Deus e PhD

em teologia. Dirigiu a Imprensa Bíblica Brasileira (IBB) de 1990 a 1996, tendo lecionado no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, no Rio de Janeiro – uma das mais prestigiadas escolas do gênero no país. Também atuou como professor em instituições es-trangeiras, como o New Orleans Baptist Theological Seminary e a Florida Christian University, ambas nos Estados Unidos. É lá que ele

vive desde 1997, na cidade de Louisville, no Kentucky, ao lado de mulher, Dulce Edry. O casal tem três filhos e sete netos.

Como pastor, Pedro Moura liderou diversas congregações no Rio e na Bahia, assim como a Missão Batista Brasileira em West Kendall, na Flórida, e a Igreja Batista Brasileira em Basileia, na Suíça. Tamanha vivência ministerial e acadêmica fez dele um estudioso respeitado não apenas no seio da denominação Batista. “Posso dizer que trabalho com a Bíblia desde a infância, já que meus pais faziam os 13 filhos decorar e recitar versículos”, lembra, divertido. Entusiasta do texto sagrado, Moura gosta de fundamentar o que diz na Palavra de Deus, mesmo quando a avalia sob o ponto de vista linguístico e

12 Geo em revista

Page 13: Geo em revista

histórico. “Basta ao cristão o que Jesus afirma sobre a Bíblia em João 17.17: ‘A tua palavra é a verdade’”, comenta, referindo-se à qualidade e fidedignidade das versões hoje disponíveis em português. Sobre o texto de João Ferreira de Almeida, ele resume o trabalho do pastor reformado do século 17 numa frase que contém, naturalmente, uma referência bíblica: “Sabemos que tudo estava no propósito eterno do nosso Deus, de encher a terra brasileira com sua Palavra, “como as águas cobrem o mar”, conforme Habacuque 2.14”. Pedro Moura conversou com a reportagem da REVISTA GEO:

REVISTA GEO – Como especialista em Bíblia Sagrada, como o senhor avalia a qualidade das traduções bíblicas hoje exis-tentes no mercado brasileiro?

PEDRO MOURA – Com todas as dificuldades e desafios que um tradutor enfrenta, e vai sempre enfrentar, as traduções bíblicas em português são boas e testemunham do grande zelo que Deus tem por sua Palavra. O profeta Jeremias ouviu o testemunho divino: “Eu velo sobre a minha palavra” (Jeremias 1.12). É por isso que, ao longo dos séculos, aqui e ali, o Senhor tem levantado homens e mulheres para cuidarem da tradução da Biblia a partir dos originais em ara-maico, hebraico e grego. A história começou em Alexandria, no Egi-to, com a Septuaginta (LXX), a tradução grega do Antigo Testamento (300-200 a.C.). E não parou por aí, porque depois vieram a Vulgata; as traduções em inglês de John Wycliffe e William Tyndale; a versão em alemão, de Martinho Lutero; até chegar a João Ferreira de Almeida, cuja tradução completa foi publicada em 1748. Há versões derivadas dessa tradução, e umas são mais acuradas que outras.

Qual a importância da tradução de Almeida para a expansão do Evangelho no Brasil?

A tradução de Almeida para o idioma português foi uma por-ta soberanamente aberta pelo amor insondável de Deus para a consolidação e a expansão do Evangelho entre os países lusófo-nos. Em sua infinita misericórdia, o Senhor cumulou o povo bra-sileiro com a bênção da sua Santa Palavra, na língua que lhe fala ao coração. Sabemos que tudo estava no seu propósito eterno de encher a terra brasileira com sua Palavra – “como as águas co-brem o mar”, conforme Habacuque 2.14.

Quais foram os textos usados por Almeida em seu trabalho? Almeida foi vocacionado e chamado por Deus para a tarefa

de traduzir a Bíblia. Sua vida inteira, dos 14 anos até a morte, foi

dedicada a esse labor. Nunca desistiu diante de incompreensões, perdas de originais, perseguições, enfermidades… Sua tarefa, às vezes, parecia inglória, mas ele permanecia firme como quem vê o invisível. A primeira tentativa, quando ele contava 16 anos, foi baseada na tradução tradicional espanhola, a Reina-Valera, publi-cada em 1569 na cidade de Basel, na Suíça. Mais tarde, Almeida usou a Vulgata e algumas traduções do Novo Testamento Grego de Erasmo (século 16), o Textus Receptus. Erasmo, por sua vez, também usou a Vulgata na tarefa de revisar, e traduziu textos de lá para o Receptus. Almeida fez um grande trabalho com o que estava à sua mão, sem conhecer, à época, os manuscritos mais antigos, mais próximos do “autógrafo” dos autores inspirados. Ele usou sempre os textos mais novos disponíveis naquele tempo.

A versão Almeida Revista e Corrigida (RC), com sua versão da Imprensa Bíblica Brasileira (IBB) feita no país na década de 1940, chegou ao público com adaptações e adequações para o português falado no Brasil de então, e na grafia sim-plificada. Estamos falando de uma Igreja que, na época, re-presentava menos de 3% da população nacional. Como esses lançamentos foram aceitos, já que, até então, os cristãos bra-sileiros dependiam de bíblias impressas no exterior?

Na verdade, a Almeida Revista e Corrigida não foi “feita” no Brasil, inicialmente. Foi apenas impressa pela IBB. Três sociedades bíblicas internacionais detinham os direitos dessa versão, e abas-teciam o mercado interessado: a Sociedade Bíblica Trinitariana, a Sociedade Bíblica Americana e a Sociedade Bíblica Britânica e Es-trangeira. O advento dessa versão bíblica foi aceito com a alegria esfuziante que o profeta retratou ao dizer: “Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi; e as tuas palavras eram para mim o gozo e a alegria do meu coração” (Jeremias 15.16). Assim os brasileiros encontraram a Palavra de Deus em sua própria língua.

A RC teve grande importância para o leitor nacional, entre outras características, porque foi a primeira Bíblia em português a contar com brasileiros em sua elaboração. Pas-sados tantos anos de sua primeira publicação, quais são os principais legados dessa versão?

Ela teve e continua tendo importância. Inicialmente, o texto da RC pertencia às sociedades estrangeiras. Depois, a Imprensa Bíbli-ca Brasileira promoveu sua revisão – uma revisão mais completa, de conteúdo, foi posterior, e deu origem à Almeida Revisada. As

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 13

Page 14: Geo em revista

versões que derivaram da RC são outro legado. Umas mantiveram a linguagem escorreita, primando pela literalidade possível, em termos de estilo, significação etc. São as melhores, no meu enten-dimento. A tradução é sempre difícil. Alguém já disse que o tra-dutor deve ser o mais atento leitor. E eu ajunto: para não fazer do original mero coadjuvante. Voltanto à RC, o texto dela prevaleceu sobre traduções famosas em português, como a do padre Antônio Pereira de Figueiredo, do século 18, baseada na Vulgata, mas sem os livros apócrifos; e também sobre a Tradução Brasileira (1902-1914), que teve Rui Barbosa entre os colaboradores.

E sob o ponto de vista linguístico e cultural, a RC continua sendo uma versão rica e útil, mesmo diante de tantas outras versões e traduções?

Esta é uma questão mais filológica. Li recentemente esta opi-nião, do professor Eduardo Trindade, da Campbellsville Universitym, nos EUA: “Considerando o aspecto sócio-linguístico, creio que, pela sua riqueza, a língua portuguesa, mesmo que do ponto de vista oral (e agora, com o fenômeno da globalização), vá se modificando de modo mais acelerado do que acontecia no passado. O leitor que tenha tido um nível de escolaridade média poderá entender a men-sagem de Deus através da versão Almeida Revista e Corrigida da Bí-blia Sagrada”. Naturalmente, o caso específico nesse ponto não diz respeito ao binômio língua fonte-língua destino, mas não se pode negar as diferenças entre o português de Portugal e o português brasileiro. Aliás, ao longo dos séculos, as peculiaridades se avolu-maram a ponto de haver referência a uma língua brasileira. Mesmo aqui, Almeida não é exceção, não pode ser neutro; é por isso que tradutores transferem valores, traço e cultura, deixando marcas in-deléveis, como impressões digitais, na obra que passam aos leitores. A RC é uma versão rica e utilíssima – mas, volto a frisar, a Almeida Revisada da IBB, que a teve por útero, é bem mais acurada.

O que determina, de maneira geral, o surgimento de novas versões bíblicas e revisões nas já existentes?

Novas traduções surgem e é bom que aconteça, porque a se-mente –“a palavra do Reino”, citada em Mateus 13.19 – deve ser espalhada. Pode ser que haja mero interesse comercial de algum segmento em lançar bíblias por tratar-se, afinal de contas, de um best-seller. Não me compete julgar; mas a ideia de uma nova tra-dução da Bíblia é sempre bem-vinda. Há os opositores, que cre-ditam a um único texto traduzido a fidelidade absoluta, e são capazes de referir às demais versões como “diabólicas”, “heréticas”, “infames” etc. É um zelo desprovido de entendimento e amor, que aduba o terreno para a ira. Cada tradutor, cada revisor é responsá-vel diante de Deus, e deve rejeitar todo trabalho açodado em torno da Bíblia, ainda que o prejuízo financeiro seja grande. Não importa! Os irmãos que menosprezam todas as versões que não a sua co-

locam-se no lugar de Deus para fazer justiça. Há uma boa palavra do Senhor sobre isso: “A ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tiago 1.20). Revisões são importantes e necessárias quando buscam a acurácia do texto, o melhor estilo de apresentar cada palavra de Deus ao leitor do livro sagrado. Um exemplo desse trabalho é a versão Almeida Revisada da IBB. Foi uma revisão cuidadosamente feita por homens tementes a Deus, que nunca visaram lucro e foram talhados para esse mister: Roque Monteiro de Andrade, Reinaldo Pu-rin, João Soren, Eber Vasconcelos, A.B. Langston, A.R. Crabtree, Edgard Hallock, entre outros. A Almeida Re-

vista e Corrigida, que deu origem ao novo texto, foi revisada por eles ao longo de 26 anos.

A tradução, muitas vezes, é uma arte de juntar fragmentos oriundos de diversas fontes. Como pode o cristão, que depo-sita a base de sua fé nas Sagradas Escrituras, ter a certeza de que a Bíblia que tem em mãos é fidedigna, em termos de con-teúdo e inspiração, em relação aos originais?

O leitor cristão não deve ter esse tipo de dúvida. As versões cristãs são dignas de crédito. Há milhares de originais que, utili-zados conjuntamente, levam os estudiosos à melhor leitura. A Bí-blia é o livro antigo mais documentado que existe. Entre a Bíblia e os livros famosos da história da humanidade, há uma distância infinita. Enquanto a Palavra de Deus conta com milhares de ma-nuscritos, não existe um único livro antigo famoso cujo número de cópias alcance a casa dos mil originais. A Ilíada, de Homero, talvez seja o mais documentado, e mesmo assim conta com 643 cópias. Recentemente, li um livro sobre versões da Bíblia em que o autor dizia que não há originais do texto sagrado. Mas, a verda-de é que há originais, sim. Milhares!

O que pode ser considerado um original? Original é todo documento na língua original. O que não há

é o autógrafo, isto é, o documento que saiu da pena do autor ins-pirado – no entanto, os originais estão aí, aos milhares, inclusive fragmentos de papiros, que são as testemunhas mais próximas dos autógrafos. Portanto, se há um original, deve haver confiabilidade. Não há o que temer. Pequenas diferenças são corrigidas pela cola-ção erudita. Além de tudo isso, Deus sempre teve e terá homens e mulheres dispostos ao estudo, às vezes sacrificial, de sua Palavra, nas línguas originais e em outras disciplinas afins. Eles se levantam nos púlpitos, nas cátedras e onde mais for necessário para ensinar com firmeza e anunciar “todo o conselho de Deus” (Atos 20.27).

A versão Almeida Revista e Corrigida é largamente utilizada por grandes denominações, como Assembleia de Deus, Brasil para Cristo e Congregação Cristã, que, juntas, correspondem a quase 40% dos evangélicos brasileiros. Na sua opinião, por que esta versão, considerada rebuscada pelo leitor médio, continua sendo tão utilizada nos dias de hoje? Trata-se de uma simples questão de fidelidade afetiva do leitor em rela-ção àquele texto que, na maioria das vezes, marcou sua con-versão e os primeiros passos nas Escrituras?

Creio que isso aconteça por uma questão de apego. Lembro-me que, em uma das reuniões do Conselho Editorial da IBB, após um dia de muito trabalho, à noite, o presidente, pastor Eber Vasconcelos nos dirigiu uma abençoada palavra. Ele disse que nosso maior desafio não tem a ver com variantes textuais, ou com o uso e interpretação

O leitor cristão não deve ter dúvida acerca da fidedignidade da Bíblia que tem em mãos. As versões cristãs são dignas de crédito

14 Geo em revista

Page 15: Geo em revista

desta ou daquela versão, mas sim, com o apego à Palavra de Deus. O povo mais antigo continua demonstrando o que ele dizia. A RC é a mais antiga versão entre as mais usadas e tornou-se uma espécie de versão tradicional, amada e recitada pelos evangélicos, embora sua linguagem nem sempre seja muito bem entendida. Aliás, a maioria dos leitores das versões tradicionais não sabe o significado de pala-vras e expressões utilizadas ali, como fundibulário, colaço, bárbaro ou escalvado. A mesma coisa vale para termos como azazel, beulá, nephilim, ami, lo-ami, hefzibá, hosana etc. É claro que cada versão tem suas próprias dificuldades, nesse sentido. Cabe ao líder, ao pas-tor, ao professor, o cuidado de ensinar o povo. Embora eu use como texto principal a Almeida Revisada IBB, não a tenho como único texto fiel ou como amuleto. Uso também em meus estudos outras versões, inclusive estrangeiras. Tenho apego pela RC, pois foi nessa versão que eu dei os primeiros passos na caminhada cristã e muitos textos que cito de cor são dela. Em relação à Almeida Revista e Cor-rigida, entre as versões tradicionais, eu creio que a Almeida Revisada da IBB e Almeida Revista e Atualizada, da Sociedade Bíblica do Brasil, são mais acuradas.

Há alguma versão que o leitor cristão deva evitar? É preciso ter cuidado com uma versão chamada Tradução do

Novo Mundo das Escrituras Sagradas, da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados de Nova York. Essa versão é a utilizada pelo grupo Testemunhas de Jeová e que, em alguns textos, passa por cima da leitura original, com o claro propósito de defender dou-trinas que pregam. Há também versões que, talvez, por fobia da tradução literal, exageram na interpretação – e, de certa forma, desfiguram o texto.

Quais as vantagens da chamada tradução literal, utilizada na RC?

A tradução literal, ou por equivalência exata, formal – em contraste com a equivalência dinâmica –, procura traduzir as palavras e, às vezes, a ordem das palavras, seguindo a índole da língua original, mais do que a do idioma receptor. Em se tratando da Palavra de Deus, no meu entendimento, se esse tipo de tradu-ção comunica o significado original com justeza, simplicidade e clareza, deve ser preferido a qualquer outro tipo de tradução. Por exemplo, “princípio do Evangelho de Jesus Cristo” (Marcos 1.1) é literal, inclusive observa a ordem das palavras no original. Mas se eu digo algo como : “Aqui tem começo a maravilhosa história de Jesus, o Messias de Israel”, eu traduzo desprezando a impressio-nante vantagem que o original me deu de não se afastar dele.

Diversas disciplinas, como linguística, arqueologia, história, filosofia e, naturalmente, teologia, são utilizadas quando o assunto é tradução das Escrituras Sagradas. Como o tradutor se aproveita delas?

Essas disciplinas – e também a hermenêutica e a exegese – são ferramentas importantes que devem ser dominadas pelo tra-dutor, e nunca dominá-lo. O tradutor nelas versado faz uso des-sas ferramentas sem tergiversar, sem se desviar do foco. A tarefa do tradutor é traduzir, não inventar ou inserir – a menos que haja necessidade extrema, para que determinado trecho faça sentido na língua receptora. A mensagem da Bíblia é cristocêntrica, e ele não pode fugir dela. Veja a experiência do diácono Filipe com o africano, na estrada de Jerusalém para Gaza: “Entendes tu o que lês?” (Atos 8.30), perguntou ele. Havia ali uma questão herme-nêutica, que Filipe soube muito bem conduzir. E, no momento da

aplicação da Palavra, o alvo foi o Senhor Jesus. Prossegue o texto: “E começando nessa Escritura, lhe anunciou a Jesus” (Atos 8.35). Se, em nosso labor, usarmos todas essas ferramentas dissociadas do centro, do Senhor Jesus, nossa tarefa será infrutífera. Com isso, e com outras coisas mais, o tradutor não pode negociar.

Como o senhor se iniciou no trabalho com bíblias e o que isso representa em seu ministério?

Posso dizer que trabalho com a Bíblia desde a infância. Todos os dias, meu pai, o pastor José Moura, reunia os 13 filhos, à noite, para ler a Bíblia. Cada um lia uma parte do texto do dia; além disso, recitá-vamos versículos, cantávamos hinos e oravamos. Não nos era permi-tido faltar a essa reunião, do mais velho ao caçula. Minha mãe, Nice Moura, ensinava o versículo de cada um quando éramos menores. Era sempre um versículo novo. Quando éramos maiores, a tarefa de escolher e decorar era nossa. Meus pais amavam a Palavra de Deus, e tinham até uma estranha reverência: eles não permitiam que colo-cássemos objeto algum sobre a Bíblia; só outra Bíblia. E cada um de nós tinha a sua própria Bíblia, na mesma versão de todos. No meu primeiro dia no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, após a aula magna, estávamos na cantina, conhecendo os novos colegas, quando um aluno do quarto ano vociferou: “Olha aqui, primeiro ano: ninguém sai deste seminário sabendo grego e, muito menos, hebraico”. Naquela hora eu senti que o Senhor estava falando comi-go, e aceitei o desafio. Ao regressar de Israel, onde estudei, fui con-vidado a dirigir a Imprensa Bíblica Brasileira. O Senhor me chamou desde criança, e foi confirmando esse chamado ao longo dos anos.

O senhor está envolvido, no momento, em algum projeto de tradução ou qualquer outro que envolva o texto bíblico?

No momento, estou aposentado, dedicando tempo ao Minis-tério Pastor Pedro Moura e a Edições Moura. Já são cinco livros editados: A Carta aos Hebreus: Um sermão sobre o sacerdócio de Jesus Cristo; Carta de Paulo a Tito: Introdução e comentário; Carta de Judas, irmão de Jesus: Introdução e comentário; Carta de Paulo a Filemom: Introdução e comentário; e Oração do Pai Nosso: A voz unânime da Igreja. Passo alguns meses do ano no Brasil, pregando em igrejas, dando aulas em seminários, falando em ordens de pastores, congressos, encontros de casais etc, e uso essa literatura como meio de sustento para o ministério. Tenho um projeto de lançamento, a longo prazo, de uma tradução da Bíblia. Muito material já foi coletado, mas preciso buscar um tem-po em que possa me dedicar com exclusividade.

Nos últimos tempos, têm surgido muitos questionamen-tos acerca da veracidade de fatos narrados na Bíblia, como a queda do homem, o dilúvio, a torre de Babel etc. Muitos intérpretes do texto bíblico argumentam que tais eventos não aconteceram de fato, sendo apenas alegorias com base na cultura da época e que contêm lições morais e religiosas. Para o senhor, tais eventos aconteceram realmente da forma como foram escritos?

Basta ao cristão o que Jesus afirma sobre a Bíblia: “A tua pala-vra é a verdade” (João 17.17). Toda Escritura é theópneustos, diz Paulo (II Timóteo 3.16). A Escritura toda, sem exceção, é soprada por Deus. Há quem não creia na queda do homem, como você disse, porque, para isso, é preciso exercitar a fé. Mas crê na morte, porque os cemitérios estão aí, à vista de todos. Pois bem, no pró-prio contexto da queda, o Senhor decreta: “Porquanto és pó e em pó te hás de tornar” (Gênesis 3.19).

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 15

Page 16: Geo em revista

16 Geo em revista

@geogracaed/geogracaeditoraocial

www.geograficaeditora.com.br/site/videos

Acesse nosso novo site e confira ovídeo da Bíblia Comparativa

Com o passar das épocas,palavras são atualizadas

Mas a Palavra do SENHORcontinua a mesma!

A Bíblia Sagrada Edição Comparativa tem a proposta de deixar lado a lado

duas versões bíblicas, destacadas pela delidade às escrituras na versão

Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida e a clareza do atual com a

Nova Versão Internacional.

Fé Fé

Page 17: Geo em revista

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 17

@geogracaed/geogracaeditoraocial

www.geograficaeditora.com.br/site/videos

Acesse nosso novo site e confira ovídeo da Bíblia Comparativa

Com o passar das épocas,palavras são atualizadas

Mas a Palavra do SENHORcontinua a mesma!

A Bíblia Sagrada Edição Comparativa tem a proposta de deixar lado a lado

duas versões bíblicas, destacadas pela delidade às escrituras na versão

Revista e Corrigida de João Ferreira de Almeida e a clareza do atual com a

Nova Versão Internacional.

Fé Fé

Page 18: Geo em revista

Mundo da Bíblia

A Bíblia é um dos alicerces da nossa moderna civili-zação ocidental. Seus dois testamentos constituem um dos mais importantes documentos da humani-dade, mesmo fora de seu uso teológico. Afinal, é o único livro que podemos ler com o autor sempre

ao lado... Por consequência, é o livro mais traduzido, distribuído e lido do mundo, como também o que tem mais comentários, estudos e trabalhos escritos a seu respeito.

Estando no maior produtor de bíblias do planeta, o Brasil, de-veria ser fácil escrever sobre as Escrituras. Mas, ao contrário, não é uma tarefa tão simples – as suas mais de 1.200 páginas trazem registros de praticamente todas as grandes civilizações do passa-do, como egípcia, mesopotâmica, grega, romana e muitos outros povos. Ela foi elaborada ao longo de um período que abrange mais de dezessete séculos, em diversos lugares, e por cerca de 40 escritores das mais diferentes origens e ocupações: pastores de ovelhas, pescadores, guerreiros, reis, sacerdotes, profetas, criadores de gado e até mesmo um cobrador de impostos, entre outras. Sobrenaturalmente, eles produziram textos em harmo-nia perfeita em termos de doutrina. Folheando suas páginas, o leitor encontra histórias, biografias, leis, poesias, hinos, canções, provérbios, cartas, sermões, profecias e relatos de visões – e, de maneira impressionante, tudo aponta para Jesus!

É impossível não ter o interesse despertado pela Bíblia Sa-grada, esse livro maravilhoso que constitui um precioso legado divino ao ser humano. Diante de uma obra espetacular como as Escrituras, todos os seus detalhes e curiosidades tornam-se atrativos irresistíveis. Você sabia, por exemplo, que um leitor de instrução mediana demora cerca de 70 horas e 40 minutos para devorar toda a Bíblia? Seriam apenas 52 horas e 20 minutos na leitura do Antigo Testamento e 18 horas e 20 para o Novo. Outro detalhe fascinante é que, no início – quando não havia a palavra escrita – seu conteúdo era transmitido de boca em boca. Ou seja, antes mesmo de inventarem seu próprio sistema de escrita, os hebreus relatavam a sua experiência com Deus através dos con-

tadores de histórias, como relatado em Deuteronômio 6 e no Sal-mo 44.1: “Ouvimos, ó Deus, com os nossos próprios ouvidos: nos-sos pais nos tem contado o que outrora fizestes, em seus dias”.

Com o passar dos tempos, houve a necessidade de registrar os episódios, e aqui vai uma outra particularidade. Embora Davi tenha granjeado grande parte da sua fama pela épica batalha com o gigante Golias, talvez a sua maior contribuição tenha sido o fato de ter dado início ao processo de escrever a Bíblia, algo que levou mais de mil anos, conforme ensina I Crônicas 27.24: “(...) Se registrou na história do rei Davi”. Desse modo, introduziu-se a fi-gura do escriba nas cortes dos reis, com a finalidade de perpetuar tais registros. Para evitar que um manuscrito fosse adulterado, os judeus estabeleceram regras rígidas para sua transcrição: depois de copiado, o manuscrito era lido doze vezes e, caso fosse encon-trado algum erro, aquela cópia era destruída. Havia também re-gras entre as distâncias entre as palavras e as linhas e não poderia haver nenhuma palavra de memória. Contava-se as palavras e, se sobrava uma palavra, o rolo inteiro era destruído.

Algo muito interessante que também vale o registro é que a palavra “Bíblia” não se encontra em nenhum desses manus-critos. A realidade é que os primeiros escritos foram feitos em papiros, que os gregos chamavam de biblos (nome também de um importante porto marítimo daquela época). Era costu-me chamar-se os rolos de papiro de biblión. Desse modo, pela primeira vez, em 1487, um impressor colocou em seu volume titulo de Bíblia, pois o seu conteúdo tinha saído de um biblión. Daí vem a palavra Bíblia.

Cobra na dietaVocê, que hoje tem em suas mãos o seu exemplar das Escri-

turas, adquirido com facilidade na livraria da esquina, saiba que, séculos atrás, possuir um exemplar da Palavra de Deus era pri-vilégio para poucos. O avanço da propagação da Bíblia se deu apenas com o advento da Reforma Protestante, iniciada em 1517. Martinho Lutero, o reformador, queria que ela fosse como a “fala

18 Geo em revista

Page 19: Geo em revista

das crianças nas ruas, a conversa dos homens nos mercados ou o diálogo das mulheres nas casas”, dando um imenso impulso na tradução da Bíblia na língua nativa de uma nação. Embora, atual-mente, as Sagradas Escrituras estejam traduzidas em mais de 2,7 mil línguas, cada tradução ainda é um imenso desafio. As parti-cularidades de cada idioma, principalmente aqueles falados por povos de culturas exóticas aos nossos olhos, cria situações en-graçadas e até embaraçosas. Entre o povo bambara, que vive no Mali a Burkina Faso, na África, por exemplo, serpentes são parte importante da dieta. Nesse caso, é preciso um cuidado especial na tradução de textos como o de Mateus 7.10. Falando sobre os cuidados dos pais pelos filhos, Cristo disse: “Ora, qual é o pai que, se o filho lhe pedir um peixe [para comer], lhe dará uma cobra?”

Quanto ao nosso idioma, os esforços pioneiros começaram com o rei de Portugal D. Diniz (1279-1325), traduzindo os 20 pri-meiros capítulos do livro de Gênesis usando a Vulgata – tradução latina das Escrituras. Mas a tradução definitiva só ocorreu com o pastor reformado João Ferreira de Almeida, a partir de 1644. Escreveu ele sobre o início de seu inestimável trabalho: “No se-gundo ano após minha conversão” – do catolicismo para a fé pro-testante – “e meu décimo-sexto ano de idade”. A primeira versão de Almeida do Novo Testamento foi publicada em 1681. A obra custou-lhe forte perseguição por parte da Inquisição, o braço da Igreja Católica que estava à frente da contra-Reforma. Uma está-tua sua foi queimada em Goa, então território português na Índia.

Embora a tradução de Almeida tenha sido a 13ª a ser feita em um idioma moderno, João Ferreira de Almeida pode ser conside-rado o maior escritor da língua portuguesa. Quase três séculos depois, em 1945, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) fez a edição Revista e Atualizada, baseando-se em textos melhores. Esta é, hoje, a versão mais utilizada pelas igrejas brasileiras.

O trabalho de tradução bíblica, aliás, é um dos mais preciosos ministérios cristãos. De maneira geral, elas continuam avançan-do. A cada ano, mais e mais povos recebem a Palavra de Deus no idioma que podem entender e fala ao seu coração. Contudo, esse

campo é vasto e necessita de obreiros dedicados e habilidosos, para que a Bíblia possa alcançar novos povos e nações em suas línguas maternas. Com muita propriedade, o filósofo e escritor Martin Buber (1878 – 1965), judeu de ascendência austríaca, es-creveu o seguinte: “Uma nação que passa a ter a Bíblia em sua própria língua nunca mais será a mesma”.

“Seu idiota”Há também fatos pitorescos nas muitas traduções bíblicas

feitas ao longo dos tempos. Uma impressão da tradução da Bí-blia em alemão, publicada em 1580, registra que, depois que Eva pecou (fato narrado em Gênesis 3.16), Deus avisa que o marido a governará, o que seria algo como: “E ele será o seu senhor”. Contudo, o vocábulo alemão herr (“senhor”) foi substituído, no texto, por narr, cujo significado é completamente diferente – e de efeito desconcertante! A frase ficou assim, em tradução direta: “E ele será o seu idiota”. Dá até para se suspeitar que a mulher do impressor, quem sabe uma feminista à frente do seu tempo, tenha sabotado o trabalho...

Por fim, independentemente de qual versão você possa gostar mais – no meu caso, a que mais aprecio é a versão dos meus pais –, temos de entender que a Bí-blia não foi publicada para a nossa infor-mação. O propósito de Deus, aos nossos, é deixar sua santa Palavra, é a nossa trans-formação. Para tanto, é primordial que, antes de qualquer estudo ou debate teo-lógico, o primeiro passo do cristão seja o da leitura completa da Bíblia. Afinal, é com a sua leitura que vamos estar preparados a, (como nos estimula Pedro em sua pri-meira Epístola), responder a todo aquele que nos pedir a razão da esperança que há em nós.

Antonio Cabrera Mano Filho é diretor

da Sociedade Bíblica do Brasil,

estudioso das Escrituras Sagradas

e colecionador de bíblias

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 19

Page 20: Geo em revista

Infantil

A mensagem do amor é universal. E, quando se fala em crianças, a ternura dos sentimentos aflora de maneira ainda mais singela. Como resistir ao sorriso de uma bo-quinha sem dentes ou às deliciosas palavrinhas balbu-ciadas por quem ainda não aprendeu a falar, mas já tem

condições de expressar o que vai no coração? Por isso mesmo, en-sinar às crianças, desde a mais tenra idade, a realidade do amor de Deus e do caminho da fé é a melhor maneira de garantir que, como dizem as Escrituras, elas não se desviem dele.

o Maior Amor do Mundo é um lançamento que leva às crianças a mensagem mais importante da vida – a de que Jesus está sem-pre ao nosso lado, em todos os momentos, em qualquer situa-ção. Esta foi a grande verdade que aqueceu o coração de um dos autores, o músico americano Matt Hammitt (da banda Sanctus Real), durante os momentos mais sombrios de sua vida, quan-do seu terceiro filho, Bowen, nasceu com uma doença cardíaca congênita. Os meses de internação ao lado do bebê não deixa-ram alternativa a Hammitt e sua mulher, Sarah, além de confiar integralmente no amor de Deus. Pois é isso que ele e outro artista, o compositor cristão Jason Ingran – um dos autores da música que deu origem ao livro –, desejam transmitir a crianças como o pequeno Bowen.

Com doces ilustrações da artista plástica eslovena Polona Lovsin, a obra tem o condão de unir pais e filhos em torno da síntese do Evangelho: a de que não há maior amor que o de Cristo. Algo tão simples que mesmo as crianças mais novinhas são capazes de entender, assim como o amor de mãe. Ursinhos, gatinhos, coelhinhos, porquinhos e cãezinhos, além de pás-saros, ilustram a rotina – se é que se pode chamar de rotina – dos pequenos da hora de levantar ao momento de dormir. Ao longo das brincadeiras e pequenas descobertas do dia a dia, a criança é convidada a descobrir que Jesus, o amigo de todas as horas, é aquele em quem se pode confiar, contar segredos e compartilhar a vida.

20 Geo em revista

Page 21: Geo em revista

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 21

Page 22: Geo em revista

Tecnologia

Desde meados deste ano, já está disponível para o internauta o novo site da Geográfica Editora. Com visual clean e moderno, a Home Page traz ao pú-blico um pequeno resumo do que é a empresa se-diada em Santo André, na grande São Paulo. Tarefa

difícil é resumir tudo na telinha do computador: com três gran-des divisões – Editora, Serviços gráficos e Embalagens –, o grupo Geográfica é uma das mais tradicionais e atuantes corporações do mercado cristão nacional. Mesmo assim, quem acessa a pági-

na pode ter um panorama amplo dos produtos e serviços ofereci-dos. Se a excelência é a marca de tudo que sai com o selo da Geo-gráfica, o site não poderia ser diferente. Melhor para o internauta, que no meio da infinidade de opções disponíveis na grande rede, sabe que, através do endereço www.geograficaeditora.com.br, sempre vai haver algo que ele procura com a qualidade exigida.

Já no interior do site da Editora, no menu “Quem Somos”, o usuário pode conhecer, através de um vídeo de grande beleza visual, a visão e a missão da empresa. “Oferecer ao mercado edi-

22 Geo em revista

Page 23: Geo em revista

torial produtos e serviços de qualidade diferenciada e soluções inovadoras”, além de “Trabalhar de forma ética e produtiva”, são mensagens que resumem parte da filosofia do grupo. A partir daí, o usuário pode navegar pelo site e acessar as categorias de produtos que a Geográfica oferece: Bíblias especiais e de estudo; Hinário; Infanto Juvenil; João Ferreira de Almeida; Linha feminina; NVI e Produtos diversos, além de ficar por dentro dos últimos lan-çamentos. Uma ajuda e tanto para quem quer oferecer um pre-sente bonito e com conteúdo, ou conhecer mais a fundo a linha de produtos, que auxiliam a leitura e o aprofundamento na Pala-vra de Deus.

Modernidade e interatividadeA nova concepção do site está alinhada com a modernidade

e a exigência por parte do internauta, que está em busca de inte-ratividade. “No início, tínhamos apenas uma Home Page com as três divisões da empresa. Notamos, nos últimos meses, que seria melhor para os usuários terem a opção de acessar o site de cada setor individualmente. Por isso, reunimos as três divisões em uma

página padrão, onde é possível escolher com qual setor prosse-guir na navegação”, explica a equipe e criação da editora.

Além da apresentação dos serviços editoriais, reconhecidos em todo o país pelo excelente custo-benefício – o setor gráfico é um dos mais movimentados do mercado e possui material de ponta, capaz de imprimir grandes tiragens com alta tecnologia –, o site da Geográfica Editora traz um conteúdo muito interessante para o público, sobretudo aquele interessado em adquirir conhe-cimento, além de excelentes produtos. Na revista online, o inter-nauta tem acesso a matérias relacionadas ao universo cristão.

O site conta também com um blog cujo destaque são as no-tícias para o público interessado em curiosidades e novidades do universo bíblico e do mercado cristão como um todo. Além disso há também uma newsletter onde o usuário se cadastra para re-ceber as últimas novidades da editora. Recheado de novidades o site segue com downloads, hotsites, vídeos, loja virtual e muito mais. Agora o consumidor tem uma ponte direta com com a edi-tora que aprimora seus produtos com este contato direto com seus leitores.

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 23

Page 24: Geo em revista

Destaque

24 Geo em revista

Page 25: Geo em revista

Apenas 12 homens tiveram o extremo privilégio de andar com Jesus e aprender pessoalmente com o Filho de Deus os caminhos da fé, da vida cristã e da salvação. Ser um discípulo do Senhor, contudo, é uma possibilidade para todo cristão – e, para isso,

nada mais necessário do que conhecer a fundo a Palavra de Deus. Melhor ainda se a leitura bíblica tiver como base um amplo mate-rial de estudo, capacitando qualquer cristão a seguir o Mestre de maneira mais efetiva. A Bíblia de estudo do Discípulo, da Geográfi-ca Editora, oferece um rico panorama para que qualquer pessoa, dois mil anos depois da passagem do Salvador por este mundo, possa entender como os ensinos de Jesus eram compreendidos na sua época, onde e em quais contextos os fatos bíblicos ocor-reram e por que as Sagradas Escrituras permanecem tão impor-tantes até hoje.

Com ênfase no estudo das doutrinas bíblicas e na estrutura-ção de cada uma delas, além de ensinar como aplicar os ensina-mentos cristãos nas necessidades da vida, a Bíblia de estudo do Discípulo vai ajudar desde pessoas pouco acostumadas com a leitura bíblica até àqueles que já têm uma longa caminhada na fé no caminho do discipulado eficiente. Ao estudar as principais doutrinas, o leitor será orientado através de diferentes ferramen-tas, que o auxiliarão no estudo das Escrituras. Conhecimento teo-lógico, devoção pessoal e crescimento espiritual esperam pelo leitor a cada página!

A Bíblia de estudo do Discípulo traz as 27 principais doutri-nas cristãs de maneira clara, exemplificada e fundamentada na mais equilibrada abordagem bíblica: ética cristã, Igreja, lideran-ça, criação, discipulado, educação, eleição, evangelismo, o mal e o sofrimento, Deus, família, História, Bíblia Sagrada, Espírito San-to, humanidade, Jesus Cristo, escatologia, milagres, missões, ora-ção, proclamação, revelação, salvação, pecado, mordomia e ado-ração. Um verdadeiro manual para a vida, rico em informação e essencial para a construção de uma boa conduta cristã, essen-cial a todo discípulo de Jesus. Nada fica sem resposta – de meras curiosidades bíblicas até temas fundamentais da fé são tratados de maneira clara, abrangente e independente, útil para cristãos de qualquer confissão doutrinária e para leitores interessados em conhecer mais sobre o Cristianismo.

Além do texto bíblico revisado e atualizado de acordo com os originais em hebraico e grego e as recentes descobertas no campo da linguística e da arqueologia bíblica, a Bíblia de estudo do Discípulo adota os padrões da Nova Ortografia da Língua Por-tuguesa, o que confere ainda mais atualidade aos eternos con-teúdos da Palavra de Deus. Para contextualizar a leitura, o leitor encontra, no início de cada um dos 66 livros, uma introdução di-vidida em quatro seções: Ambiente teológico – Auxilia a entender as circunstâncias dos leitores originais do livro e as perguntas que o escritor inspirado por Deus buscou responder no textoEsboço teológico – Ajuda a acompanhar a linha de pensamento no livro e ver seus ensinamentos básicosConclusões teológicas – Um resumo dos principais temas levan-tados e ensinados no livro, como um guia para facilitar a com-preensãoEnsino contemporâneo – Oferece sugestões de aplicação do conteúdo à vida diária

Outro destaque da Bíblia são suas Notas doutrinárias, que aparecem sempre abaixo do texto bíblico e apresentam a opi-nião de pesquisadores da Palavra de Deus e eruditos em Teolo-gia, visando a fundamentar os conhecimentos adquiridos pelo leitor. Isso, sem falar das diversas outras ferramentas disponí-veis na Bíblia de estudo do Discípulo, como Mapas das terras bíbli-cas, Ilustrações e quadros, Resumo e história das doutrinas bíblicas, Glossário de termos doutrinários e muito mais.

Bíblia de Estudo do DiscípuloVersão: Revisada e Atualizada na nova ortografíaFormato: 16,5x24 cm1.964 páginas (papel bíblia 28g/m2 e couché 90g/m2)ISBN: 978-85-8064-004-5opções: Capa luxo cinza e grafite; capa luxo preta

Ficha técnica

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 25

Page 26: Geo em revista

Cultura

26 Geo em revista

Page 27: Geo em revista

O leitor brasileiro que abre sua Bíblia hoje dificil-mente se lembra de que a Palavra de Deus só chegou ao país após um longo e difícil processo. Ao longo dos últimos séculos, as Sagradas Escri-turas encontraram muita dificuldade para se fixar

no Brasil – foram barreiras políticas, comerciais, uma boa dose de intolerância religiosa e até mesmo uma guerra, que só foram superadas graças ao esforço e às iniciativas de pessoas temen-tes a Deus e grupos cristãos que entenderam a necessidade de oferecer ao povo brasileiro os mais preciosos textos que a hu-manidade já produziu. E logo nas primeiras páginas da maioria das Bíblias disponíveis no país, o nome de uma dessas pessoas nem sempre chama a atenção, entre outras informações como os créditos da publicadora e a data da edição. Embora não seja nenhum personagem bíblico, João Ferreira de Almeida, pastor reformado de nacionalidade portuguesa que viveu no século 17, tem uma importância enorme para a fé dos povos lusófonos. Foi ele que, entre os anos de 1644 e 1691, dedicou quase meio século de sua vida ao trabalho de tradução das Sagradas Escritu-ras para a língua lusitana. Passados 350 anos, milhões de cristãos brasileiros têm em suas mãos a genuína Palavra de Deus em sua língua, com toda a riqueza de estilos das diversas transformações feitas ao longo dos tempos, graças a Deus, é claro – mas também a Almeida. Parafraseando o primeiro-ministro britânico na épo-ca da II Guerra Mundial, Winston Churchill, dá até para dizer que nunca tantos deveram tanto a tão poucos.

Pois foi a partir do trabalho realizado em condições precárias, num tempo no qual a linguística ainda não existia como ciência e, ainda por cima, realizado contextos de perseguição à fé refor-mada, que o ministro português construiu seu precioso legado (ver texto na página 28). Hoje consolidada no país com mais de 40 milhões de fiéis, a Igreja Evangélica brasileira tem à disposição uma infinidade de modelos de Bíblias. São exemplares de estudo, Bíblias temáticas, versões para crianças e outras faixas etárias e, mais recentemente, os mais diversos modelos digitais, tanto para computador como para mídias móveis, trazendo à leitura das Sagradas Escrituras uma facilidade e acessibilidade inimaginável nos tempos dos manuscritos. Mas levou muito tempo para que o livro da fé cristã chegasse ao país. Na época de Almeida, o Brasil era nada mais que uma colônia portuguesa, fornecedora de ma-téria-prima – como madeiras, minérios e metais preciosos – para a Metrópole. Por aqui, nem sinal de protestantes. As duas únicas exceções datam de curtos períodos na infância do país. A pri-meira delas, na década de 1550, quando os huguenotes coman-dados pelo fidalgo Nicolas de Villegaignon estabeleceram um enclave no Rio de Janeiro chamado França Antártica. Debelada pelos portugueses em 1560, a colônia gaulesa tinha orientação protestante e dispunha de alguns exemplares da Bíblia, provavel-mente da edição francesa de 1478.

No século seguinte, holandeses invadiram o Nordeste, dando início àquela que foi uma verdadeira nação reformada dentro do Brasil. A chamada Nova Holanda, que durou de 1630 a 1654, che-gou a estabelecer 22 igrejas reformadas na região. Bem organiza-das, as congregações contavam com cultos também em inglês e francês – para mercadores e colonos de passagem – e uma boa estrutura eclesiástica. “As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores, além de pregadores auxiliares e outros oficiais. Havia também professores de escolas paroquiais”, explica o professor, historiador e pastor presbiteriano Alderi de Souza Matos. Cons-ta nos registros da Nova Holanda que Maurício de Nassau, que

governou a colônia em seu período de maior apogeu, chegou a encomendar 20 “bíblias grandes”. Havia até projetos de tradução dos textos bíblicos para o tupi. Inimigos dos portugueses, os líde-res da Nova Holanda preferiam investir na versão da Bíblia para a língua falada pelos indígenas. A ideia só não prosperou porque a Coroa portuguesa, após lutas sangrentas como a batalha dos Guararapes, em 19 de abril de 1648, conseguiu retomar o territó-rio, expulsando os europeus.

“Milhões de exemplares”As primeiras porções das Escrituras em português de que se

tem notícia no Brasil datam de 1712 – cerca de 150 exemplares do evangelho de Mateus, impressos em Amsterdã por ordem da Companhia das Índias Orientais, o braço colonial da Holanda na Ásia. Eram traduções feitas por Almeida meio século antes e que, após longo atraso devido a revisões e entraves burocráticos, fi-nalmente foram impressas. O destino desse material era a colônia de Goa, na Índia – tomada pelos flamengos dos portugueses –, mas a expedição que o conduzia foi atacada por corsários france-ses no Atlântico e acabou arribando no Brasil.

O que há de fato e de romance nessas histórias não se sabe ao certo. O que existe de concreto é que, no período colonial, as relações políticas e econômicas da Coroa portuguesa foram de-cisivas no processo da chegada das Sagradas Escrituras em terras brasileiras. Desde a ocupação flamenga no Nordeste até o perío-do de intensa influência britânica, intensificada a partir de 1808, com a chegada da Família Real ao país – sob a proteção inglesa –, foram poucas as oportunidades para os brasileiros conheceram a Palavra de Deus em seu idioma. O estabelecimento do Brasil como Reino Unido ao de Portugal e Algarve, sob reinado de D.João VI, começou a mudar as coisas. Capital da colônia e mais tar-de do Império, o Rio de Janeiro concentrava o que havia de mais avançado em termos sociais e políticos. Por isso mesmo, a cidade atraía muitos estrangeiros, sobretudo britânicos, que obtiveram permissão da Coroa lusitana para realizar cultos anglicanos.

Com a abertura comercial da colônia, processo imposto pela Coroa inglesa, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (BBS, na sigla em inglês), entidade de forte viés missionário, animou-se a imprimir as Escrituras em português. Já em 1809, a instituição produziu 12 mil exemplares do Novo Testamento, na versão de Almeida de 1773. Como aquela primeira edição esgotou-se ra-pidamente, mais 7 mil exemplares seriam impressos dois anos depois. A primeira Bíblia completa em português seria impressa em 1819. Produzida em um único volume, contendo o Antigo e o Novo Testamento – um luxo para a época –, essa edição teve custo mais em conta e a maior parte de sua tiragem foi destina-da ao Brasil. O restante foi enviado para as colônias lusófonas na África e na Ásia.

Foi só mais tarde, com a entrada do país à rota missionária mundial, que a Palavra de Deus entrou definitivamente às ter-ras nacionais. Pesou nesse processo a contribuição decisiva das sociedades bíblicas Britânica e Americana, esta última fundada em 1816. A chegada de evangelistas estrangeiros que fixaram residência e iniciaram grandes denominações protestantes no Brasil, como a Metodista, a Presbiteriana e a Batista, aumentou a procura por exemplares das Escrituras. De olho no filão espiritual as instituições bíblicas estrangeiras, de orientação protestante, aumentavam a produção e investiam em novas versões para o português. Os livros foram logo espalhados e alguns exemplares chegaram a ser desmembrados, para dar a mais cristãos a opor-

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 27

Page 28: Geo em revista

tunidade de conhecer os textos bíblicos. Até mesmo os católicos utilizavam essas edições protestantes, já que a Igreja Romana não estimulava a leitura das Escrituras por seus fiéis. Registros da época dão conta de que a Sociedade Bíblica Americana (ABS) enviou diversas remessas, sob a custódia dos capitães de navios mercantes. As bíblias eram entregues em consignação aos co-merciantes estabelecidos nas principais cidades do Império do Brasil. Um comunicado da ABS, datado de 1826, define assim a crescente procura: “Os povos que vivem no sul do continente americano estão preparados para receber não centenas de mi-lhares das Escrituras, mas milhões de exemplares.”

Predominaram no período as edições Almeida Revista e Emendada e a Revista e Reformada, na verdade aperfeiçoamento dos textos até então disponíveis, com maior apuro na correção vernacular e na reorganização de muitos versículos, colocados em ordem mais direta. O trabalho de adaptação dos textos era patrocinado pelas sociedades bíblicas, interessadas em tornar o texto mais acessível aos leitores brasileiros, em sua maioria de baixa instrução.

Com a presença de cada vez mais missionários protestantes no país, a Sociedade Bíblica Britânica resolveu se estabelecer no Rio de Janeiro, então capital do Império, em 1856.

Vinte anos depois, chega à mesma cidade a Sociedade Ame-ricana. Pelos anos seguintes, coube a essas duas entidades a missão de distribuir a Palavra de Deus em uma nação ainda es-sencialmente católica. Uma nova versão, a Almeida Revista e Cor-recta, começou a circular em 1875, com o texto mais cuidadosa-mente revisado até então. Esta edição, juntamente com a Revista (1894), foi uma das bases para a produção da versão Almeida Revista e Corrigida (RC), lançada em 1898 pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. Pela primeira vez, o trabalho contou com a participação de estudiosos brasileiros, o que confere ao texto uma enorme aceitação pelo leitor nacional – a “Bíblia Corrigida”, como passou a ser conhecida, foi adotada pelas denominações pentecostais surgidas na primeira década do século 20, como a Congregação Cristã no Brasil e a Assembleia de Deus, e até hoje é a sua versão favorita das Sagradas Escrituras.

Uma guerra no caminhoCom o advento da República brasileira, em 1889, e o fim do

status do catolicismo como religião oficial do país, as sociedades bíblicas Britânica, Americana e Trinitariana expandiram a produ-ção e distribuição de bíblias em português. A primeira década do século 20 viu nascer um avivamento espiritual nos trópicos, a exemplo do que já ocorria nos Estados Unidos. Grandes igre-jas de teologia pentecostal surgiram no país, como a Assembleia de Deus, fundada no Pará por missionários suecos oriundos dos EUA, e a Congregação Cristã no Brasil, implantada no Paraná pelo

missionário ítaloamericano Louis Francescon. Com bases populares, essas denominações logo assumi-ram uma “cara” genuinamente nacional. Sua vibrante pregação pentecostal enfatizava a necessidade do cristão viver em santidade e de acordo com a von-tade de Deus, e o que poderia ser melhor para isso do que o conhecimento das Escrituras? Com isso, a demanda por novas bíblias não parava de crescer, movimentando as gráficas nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Trazidas de navio para o porto de Santos e do Rio de Janeiro, as cargas eram rapidamente distribuídas.

Além das lojas de comércio, as bíblias eram vendidas de porta em porta pelos colportores, que se encarregavam de espalhar exem-plares da Palavra de Deus nos rincões do interior.

Contudo, um fato novo – e decisivo – logo impulsionaria a produção nacional. A eclosão da II Guerra Mundial, em 1939, provocou profundas mudanças em todo o mundo. Uma delas foi a inviabilização das rotas comerciais pelo Atlântico, a partir de 1940. Com os mares infestados por navios de guerra e submari-nos alemães, as remessas de bíblias para o Brasil foram interrom-pidas. Por outro lado, o Reino Unido, envolvido no conflito desde os seus primeiros dias, mobilizou sua cadeia industrial para o es-forço de guerra contra os nazistas. Já os EUA, inicialmente afasta-dos do front, foram arrastados para a guerra contra o Eixo a partir de 1941, com o ataque japonês ao Havaí.

A necessidade de se começar a produzir bíblias no Brasil já havia ficado clara. A procura era muito maior do que os estoques disponíveis. Em 1930, o diretor da ABS, Hugh Clarence Tucker, já sinalizava a necessidade premente de se iniciar a impressão das Escrituras no Brasil. Já àquela altura, havia um esforço unido nes-te sentido. A Casa Publicadora Batista se ofereceu para imprimir os livros, caso recebesse dos EUA as chapas prontas. Contudo, nada foi encaminhado neste sentido. Na assembleia anual da Missão Batista do Sul do Brasil, em junho de 1940, decidiu-se pela criação da Imprensa Bíblica Brasileira, entidade cujo objetivo era imprimir e distribuir a Bíblia Sagrada no país. Quatro anos depois, os primeiros exemplares das Escrituras made in Brasil chegavam ao mercado nacional. Encadernada com as duas partes da Pala-vra de Deus, esses volumes tinham duas versões: uma popular, pelo preço de 10 cruzeiros (o equivalente, naquele tempo, a cerca de 60 centavos de dólar), e outra mais elaborada, com capa de couro, ao custo de 50 cruzeiros. Com a impossibilidade de acesso a matérias-primas importadas, as primeiras impressões da Bíblia no Brasil utilizavam papel produzido pela mesma indústria que distribuía papel para cigarros, a Fábrica Piraí.

Hoje, o Brasil é celebrado como o maior produtor mundial da Bíblia Sagrada. Todos os anos, saem das gráficas das editoras na-cionais cerca de 8 milhões de exemplares completos das Sagradas Escrituras. Com tecnologia moderna, esse mercado cresce sem parar e já movimenta, todos os anos, bilhões de reais. As editoras evangélicas, responsáveis por cerca de 70% da distribuição, têm se empenhado em oferecer ao público edições cada vez mais ca-prichadas. As bíblias modernas trazem comentários, estudos, ma-pas, diagramas, índices remissivos e inúmeros outros recursos que tornam a leitura da Palavra de Deus um prazer para os olhos e o espírito. E pensar que tudo começou com um pastor debruçado décadas a fio sobre sua escrivaninha, à luz de velas, movido unica-mente pela certeza de que, se a fé vem pelo ouvir, era preciso que a Palavra de Deus pudesse ser lida na bela língua de Camões...

As primeiras impressões da Bíblia no Brasil utilizavam papel produzido pela mesma indústria que distribuía papel para cigarros

28 Geo em revista

Page 29: Geo em revista

Mercado

Fundada em 2 de julho de 1940, a Impren-sa Bíblica Brasileira (IBB) foi decisiva para a definitiva implantação da Bíblia Sagra-da em terras brasileiras. Surgida a partir da iniciativa pioneira da Missão Batista do

Sul do Brasil – criada em 1878 para fomentar o cres-cimento da denominação –, o grupo editorial teve papel de destaque na consolidação do Evangelho no país, através da distribuição de sua Palavra. A ta-refa não era fácil: o Brasil ainda engatinhava em ter-mos industriais e todas as Bíblias até então disponí-veis em português eram impressas no exterior, o que encarecia o custo para o comprador final e restringia o acesso dos cristãos ao livro sagrado. Àquele tempo, ter um exemplar era luxo para poucos, sobretudo no interior. Pois foi a IBB quem rodou a primeira Bíblia made in Brazil, abrindo o caminho para que o país entrasse no século 21 como o maior produtor mun-dial das Sagradas Escrituras.

A trajetória da IBB começa, na verdade, mais de dez anos antes daquela data histórica. Já em mea-dos dos anos 1920, missionários e obreiros evangé-licos em ação no Brasil queixavam-se da falta de Bí-blias para o povo. Àquela altura, o trabalho diligente de denominações como a Batista e a Assembleia de Deus já espalhava a semente do Evangelho país afo-ra. Com novos convertidos sendo acrescentados às igrejas a cada dia, o problema tornou-se crônico. As

Janeiro / Fevereiro / Março de 2014 29

Page 30: Geo em revista

remessas encaminhadas ao país pelas sociedades bíblicas Britâ-nica e Americana eram claramente insuficientes. E mercado ha-via – H. C. Tucker, da Sociedade Bíblica Americana, chegou a dizer, em 1930, que poderia ter distribuído quatro vezes o número de Bíblias vendidas naquele ano se tivesse estoques suficientes. Fi-cava clara a necessidade de começar a impressão no Brasil. Já por aquela ocasião, havia um esforço unido neste sentido. A Casa Pu-blicadora Batista (mais tarde, Juerp e hoje IBB) anunciou que po-deria fazer o trabalho, desde que recebesse as chapas de impres-são prontas do exterior.

A ideia acabou não se concretizando, mas a necessidade re-clamava novas atitudes. Na manhã de 1º de setembro de 1939, o mundo acordou com uma notícia sombria: os nazistas invadiram a Polônia e a II Grande Guerra, o mais pavoroso conflito da história da humanidade, começara. Em pouco tempo, a guerra se tornaria global, interferindo na produção industrial das nações europeias e dos EUA – justamente, os maiores exportadores de manufatura-dos para o Brasil. Quando os primeiros navios mercantes oriundos do Norte começaram a ser afundados no Atlântico, as remessas de bíblias, que já eram insuficientes, foram interrompidas de vez. “Há registro de um navio carregado de bíblias que foi torpedeado por submarino alemão”, diz o pastor Pedro Moura, ex-diretor da IBB. “A criação da Imprensa Bíblia Brasileira, na cidade do Rio de Janeiro, foi uma medida emergencial e providencial.”

“Homens capazes”Em junho de 1940, a Assembleia Anual da Missão Batista vo-

tou pela criação da entidade cuja finalidade seria imprimir e dis-tribuir a Bíblia no Brasil. O que havia disponível em termos de ver-são era a Almeida Revista e Corrigida (RC), o melhor texto bíblico em português até então. A impressão seria iniciada com essa ver-são, e ao mesmo tempo, seria iniciada uma nova adaptação mais de acordo com o português falado no Brasil. As transformações no léxico, desde 1898, quando a RC foi publicada pela primeira vez, já demandavam uma revisão ampla. Além disso. Novos co-nhecimentos em relação às línguas bíblicas, como hebraico e grego, lançavam luz sobre os textos sagrados, facilitando a com-preensão e o entendimento dos originais.

“A revisão foi cuidadosamente feita por homens capazes, eru-ditos tementes a Deus e talhados para essa missão, que nunca vi-saram lucro”, continua Moura. “Roque Monteiro de Andrade, Rei-naldo Purin, João Filson Soren, Eber Vasconcelos, A. B. Langston, A. R. Crabtree e Edgard Hallock, entre outros”, enumera. Diversas comissões foram nomeadas para iniciar os trabalhos, sob a presi-dência de S.L. Watson, ex-diretor dos seminários batistas do Rio de Janeiro e de Recife (PE), uma das maiores autoridades em he-braico. O pastor Manoel Avelino de Souza e o doutor W.E. Allen, especialista em grego, também tomaram parte no trabalho.

O primeiro resultado do trabalho da comissão apareceu foi a publicação de A harmonia dos Evangelhos, de Watson e Allen, impresso em 1942 com o texto revisado. Era preciso, sobretu-do, cuidado ao se selecionar o material-base, evitando-se muitas mudanças implementadas, ao longo dos tempos, pelos copistas. A comissão usou os melhores textos gregos, uma vez que a ve-lha tradução de Almeida do Novo Testamento foi feita a partir do chamado Textus Receptus, compilados por Erasmo de Roterdã e publicado em 1516. Em junho de 1942, os quatro evangelhos já estavam compostos e prontos para impressão. Finalmente, a 14 de junho daquele ano, os estatutos da IBB foram registrados e a entidade passou a existir formalmente.

Expansão O dia 25 de junho de 1943 marca o início da impressão da Bí-

blia no Brasil. A primeira edição foi concluída no ano seguinte, com distribuição imediata. E, a 4 de agosto, 22 mil exemplares da Bíblia na versão Revista e Corrigida na grafia simplificada estavam prontos. Aquele início promissor já deixava claro que seria preci-so expandir a IBB – mais um predio de grande porte foi adquiri-do e a seção de encadernação ganhou um novo pavimento no prédio do Rio de Janeiro. Em 1948, o espaço já ficara novamente pequeno. O pastor J.J. Cowsert, secretário da IBB e líder da Igreja Batista em Tomás Coelho, subúrbio do Rio, incentivou a aquisição de outro terreno, mais tarde ocupado pela gráfica da Junta de Educação Religiosa e Publicações (Juerp). Por essa época, a Junta de Missões Estrangeiras da Convenção Batista do Sul dos Estados Unidos começou a apoiar a IBB de maneira mais efetiva, inclusive com recursos para a compra de novos equipamentos.

O trabalho das comissões com os textos continuava a todo vapor. A revisão do Novo Testamento ficou pronta em 1949, sen-do publicado em edição especial. Já a conclusão da primeira par-te das Sagradas Escrituras foi bem mais árdua. Além da natural dificuldade com o volume de texto – o Antigo Tes-tamento tem praticamente o triplo do tamanho do Novo –, o hebraico, com alfabeto completa-mente diferente, representava um de-safio maior. Concluído em 1960, a nova versão só seria lançada em 1968, mais de duas décadas depois do início dos traba-lhos. Os primeiros volumes eram no formato de Bíblia de púlpito, mas, quatro anos depois, a tradução da Almeida Revisada de acordo com os melhores textos em hebraico e grego da Imprensa Bíblica já es-tava disponível ao cristão brasilei-ro em formato comum, com custo reduzido.

Já em 1977, haviam sido produzidas 35 im-pressões diferentes da Bíblia na tradução de Almeida – nada me-nos que 2,5 milhões de exemplares comple-tos, fora os Novos Testa-mentos, evangelhos e outras porções. Em 2009, a IBB al-cançou uma marca histórica, ultrapassando a barreira dos 20 milhões de bíblias editadas no país. No ano seguinte, a publicadora passou a ser gerida em convênio com o Conselho da Convenção Batista Brasileira (CBB), que está dando conti-nuidade à edição das Bí-blias da IBB em suas três versões: Revista e Corrigida, Re-visada e a Revisada Atualizada. As três versões hoje são comercializadas pela Geográfica Editora.

30 Geo em revista

Page 31: Geo em revista

SIGA-NOSnas redes sociais

em nosso canal

E outros vídeos. Acesse,inscreva-se e assista.

youtube.com/geoeditora

www.geograficaeditora.com.br

Inscreva-se

@geograficaed/geograficaeditora

Page 32: Geo em revista

www.geograficaeditora.com.br/site/videos

/geogracaeditoraocial

Trailler da Bíblia em Ação!

Já viu nosso novo site?! Acesse e confira

este

e outros vídeos dos produtos

da Geográfica.

Em Breve!Novo TestamentoEm Ação

São 752 páginas ilustrando a Bíblia de Gênesis ao Apocalipse em um texto bem escrito e imagens fortes. Seu ilustrador, o

brasileiro, SERGIO CARIELLO, tem em seu currículo obras para DC Comics e Marvel.