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GÊNEROS POÉTICOS E SUAS POSSIBILIDADES DIDÁTICAS
Profa. Dra. Martha Ribeiro ParahybaUNIOESTE – NRE
Foz do Iguaçu - 2011
A noção de gênero literário, na atualidade, está inscrita na noção de gênero de discurso.
Estudaram-se, mais que tudo, os gêneros literários. Mas estes, tanto na Antiguidade como na época contemporânea, sempre foram estudados pelo ângulo artístico-literário de sua especificidade, das distinções intergenéricas (nos limites da literatura), e não enquanto tipos particulares de enunciados, com os quais contudo têm em comum a natureza verbal (linguística). O problema de linguística geral colocado pelo enunciado, e também pelos diferentes tipos de enunciado quase nunca foi levado em consideração (BAKHTIN, 1952 – 1953/1979, p. 281).
GÊNERO POÉTICO
Base teórica de análise dos gêneros da tradição literária e da tradição não-literária (letras de canção e gêneros da tradição oral)
Os gêneros poéticos serão aqui considerados como objetos estéticos tal como entendido no interior da discussão de enunciados em gêneros discursivos.
Manual didático e os traços de suas formas arquitetônicas e composicionais” presentes e o perfil do leitor literário que se forma.
Manual didático e Autoria
Para tanto o livro didático de língua portuguesa será considerado como um enunciado num gênero de discurso. Nesse caso, aplica-se a noção de autoria (Bakhtin) para auxiliar a compreender os diferentes processos de didatização dos gêneros poéticos.
AUTORIA
• No processo de produção de um manual didático pode-se vislumbrar esta tripartição autoral (autor, herói, ouvinte), intimamente ancorado a elementos específicos de um todo arquitetônico.
“HERÓIS”
• O que envolve a avaliação de um manual didático: atores sociais envolvidos, instâncias educacionais, concepções teóricas sobre conteúdos e disciplinas, técnicas e métodos, discursos dos documentos oficiais, políticas públicas e práticas e coerções da esfera editorial.
O herói constitui-se aqui de todas as escolhas que o autor-criador faz, inclusive sobre o seu próprio olhar em torno de algumas determinações oficiais, e outras derivadas da própria tradição das práticas escolares.
• E, nesse caso, a relação axiológica emerge de um processo de elaboração entre pessoas reais, tal como o público a quem se dedica a obra, e de que se valerá dela.
CONTRATO DE LEITURA
• No caso do livro didático, as considerações sobre o ouvinte dizem respeito às formas de estruturação das obras tendo em vista os seus leitores: Alunos, professores, interlocutores, avaliadores do PNLD.
• A compreensão do livro didático como gênero discursivo mostrou-se necessária, porque não se pode desconsiderar a ação autoral nesse tipo de livro: porque a própria seleção dos textos, dos autores, das atividades e do discurso autoral vai organizar o ensino e enfocar um ou outro aspecto, do discurso literário, ou não. Todo esse conjunto espelha a visão que se tem sobre os objetos estéticos, poéticos e consequentemente sobre o leitor literário que se forma.
• Compreende-se que o poema, cujo principal objetivo, para a formação do leitor, é a percepção de seu aparato estético, dos usos da linguagem, dos valores subliminares na ótica de um AUTOR em condições especiais de produção, oculta-se no novo suporte que lhe é dado, no livro didático, alterando completamente o “contrato de leitura” implícito na leitura do discurso literário.
• A questão está na apreensão das características especiais do livro didático em lidar com a concepção do literário, sobretudo do poético, articulando a uma apreciação valorativa, de modo a permitir que o aluno-leitor possa perceber, e formar-se, como leitor desta categoria de discurso.
MAR PORTUGUÊSFernando Pessoa
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu/Mas nele espelhou o céu”
Para entender bem esses versos, é preciso entender sua estrutura sintática.
(Exercícios para a 7ª série, livro didático)
a)No primeiro verso, quem ao mar o perigo e o abismo deu?
b) Escreva em ordem direta o sujeito e o verbo da frase.
c) Deus deu o quê?
d)Deu a quem?
e)Reescreva o verso na seguinte ordem sintática: sujeito + verbo +
objeto indireto + objeto direto
f) O verso seguinte é introduzido por uma conjunção. Destaque-a e classifique-a
Vapt-vupt (Ulisses Tavares)
O discurso político
para o povo
entrou por um ouvido
e evacuou pelo outro
Exercício do livro didático para a 8ª série.
1) Indique o que nos permite afirmar que a função da linguagem nele empregada é poética.
2) Reescreva o poema em linguagem referencial
Sula Miranda e Mauro e Maurício Gasperini
Fragmento de canção (6ª série)
(...) Na primeira vez que eu te viNaquele instante pude entender
Alguma coisa estranha aconteceu [comigo]
................................................
Djavan
..............................................
Meu ar de dominador
Dizia que eu ia ser seu dono
E nessa eu dancei!
.............................................
Exercícios
Classifique o sujeito das orações destacadas e, quando possível, indique a sua composição morfológica.
Entre o objeto estético e o objeto didático
Por conclusão, espera-se que a abordagem do enunciado poético de forma discursiva, inclua aspectos do processo de produção, as dimensões sócio-históricos, a forma composicional e as escolhas linguísticas que configuram o estilo do autor ou do estilo marcado pelo gênero
Referência bibliográfica:
PADILHA, Simone de Jesus. Os gêneros poéticos em livros didáticos de língua portuguesa do ensino fundamental : uma abordagem enunciativo-discursiva. Tese de Doutorado. São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2005.Disponível na internet.