Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº 1495

Quem chega à comunidade de Deus Dará em

Nordestina por volta das 3h da manhã já

ouve os batuques das panelas, o cheiro do

beiju assando, do café passando no famoso

coador de pano, de bolo fresquinho e quem

sabe de uma deliciosa torta salgada. Isso

porque o grupo de mulheres dessa

comunidade já está de pé para atender as

encomendas

para este dia.

O Grupo de Produção Comunitária de Deus Dará, existe há pouco mais de

6 anos, e é formado por 11 mulheres: Ana Maria, Amália, Marluce, Nilzete,

Sanete, Zilanda, Givanilda, Agostinha, Valdenice, Marlene, Ananias. Elas

nos conta com orgulho e emoção a trajetória e as

dificuldades enfrentadas para manter o grupo

firme e unido até os dias de hoje:

''Tudo começou através organização Mandacaru e

da organização Nova Cáritas, eles quem trouxeram

esse projeto para a gente. Surgiu também pela

falta de trabalho, enquanto muitas mulheres

esperam apenas pelo Bolsa Família, a gente queria

mais. Quando começamos não tínhamos nem uma

cozinha produtiva, a gente produzia nas nossas cozinhas. Produzíamos

apenas biscoitinhos. Éramos 8 mulheres. Depois, a gente mudou e

começou a fazer o biscoito, bolo e o beiju. Esse grupo de hoje se divide

em 2: o grupo do beiju que são com 6 mulheres e do bolo com 5 mulheres. Logo em seguida,

conseguimos um projeto para fazer uma cozinha, para dar uma força. Hoje, já evoluímos muito, até com

a chegada das cisternas, pois as hortaliças que comprávamos, não compramos mais, sem falar a questão

da água, pois é menos uma preocupação. E hoje, com 6 anos de lutas, o grupo fornece parte da merenda

Força e união de mulheres mantém grupo de produção na comunidade de Deus

Dará

Nordestina

Setembro/2014

‘’Sou faceira, sou guerreira, sou mulher’’ Maria Nilza

Grupo exibe com orgulho sua produção

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

escolar do município pelo PNAE ,e estamos brigando para entrarmos no

PAA. Sem falar nas feiras do município e das cidades vizinhas e em alguns

eventos onde montamos barracas e vamos vender nossos produtos.

Crescemos, mas falta muito ainda''.

Dificuldades - O grupo de produção não enfrenta problemas apenas de

infraestrutura. Para estas mulheres, que brigam por espaço, por

reconhecimento, por valorização do trabalho desenvolvido com tanto

carinho e esforço, ainda há muitas barreiras a serem rompidas. Abaixo,

elas tratam de estratégias para o crescimento e o fortalecimento do grupo

que tem a maioria dos seus produtos produzidos com elementos

oriundos da agricultura familiar.

''Ainda há uma resistência muito grande de uma alimentação natural, as

pessoas não valorizam tanto. Sem falar que sofremos com as licitações,

perdemos muitas para os municípios vizinhos. Esse ano, por exemplo,

ganharam [licitações] quase tudo: o beiju seco, a do biscoitinho, a polpa... Falta incentivo por parte do

município, mas assim mesmo ainda nos dá um suporte que é poder ter ao menos o beiju o bolo e a

torta incluídos na merenda escolar. A única renda de muitas dessas mulheres é proveniente do Bolsa

Família e da venda desses produtos. Temos também uma necessidade em aperfeiçoar nossas receitas,

renovar, pois, assim como nos enjoamos de uma comida todos os dias, também os nossos alunos que

são o nosso maior público, enjoa. Hoje, a gente faz o sequilho, o bolo e o beiju recheado que eles

adoram, mas aprender outras receitas será muito bom pra gente. Para

isso, precisamos de um curso que possa nos ajudar nesse processo. Algo

que já some ao que já temos, pois muitas coisas tiramos do nosso

quintal, como por exemplo: o frango que a maioria já vem do nosso

quintal, os que não vem a gente compra de outros grupos que trabalham

com criação de frangos. As verduras, legumes e hortaliças, como já disse,

são de alguns quintais da gente, pois todas nós temos cisternas, já são

frutos dessas cisternas, o que nos fortaleceu muito. A goma para o beiju,

quando tem mandioca, a gente separa também''.

Apesar das dificuldades enfrentadas pelo grupo, essas mulheres de fibra

desse nosso semiárido ainda tecem muitos sonhos e compartilham

conosco momentos e sorrisos largos de quem ainda espera muito da

vida. O grupo de produção de Deus Dará nasceu das lutas e da

resistência e da perseverança dessas mulheres, que decidiram

não esperar apenas pela providência divina ou de órgãos

governamentais, e hoje, pelos objetivos já alcançados por elas,

e pelos caminhos já percorridos, vão continuar lutando por

melhorias e tendo como um dos objetivos as sábias palavras

ditas por dona Sanete, uma das integrantes do grupo:

'' A gente reza e pede a Deus que possa ampliar e que cada

dia a gente cresça e aprenda uma com a outra. E que a gente

possa ter um sustento dentro da nossa comunidade e que não

precise sair daqui para trabalhar fora, e que possamos mostrar

para os nossos filhos que fazer e crescer não é só lá fora''.

Realização Apoio

Preparo da goma para fazer o beiju

Delicadeza no preparo das tortas de frango