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Ano XI • N.º 34 • 22 de Dezembro a 21 de Março 2011 Esta Revista faz parte integrante da edição do Jornal de Notícias e não pode ser vendida separadamente • Distribuição gratuita Interview: Mushrooms Report: Gerês National Park Library: Flore Portugaise Entrevista COGUMELOS: FUNGOS MISTERIOSOS Reportagem GERÊS: PARQUE NACIONAL Biblioteca FLORE PORTUGAISE Ano Internacional das Florestas

Flore Portugaise

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Page 1: Flore Portugaise

Ano XI • N.º 34 • 22 de Dezembro a 21 de Março 2011

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Interview: MushroomsReport: Gerês National ParkLibrary: Flore Portugaise

EntrevistaCOGUMELOS: FUNGOS MISTERIOSOSReportagemGERÊS: PARQUE NACIONALBibliotecaFLORE PORTUGAISE

Ano Internacional

das Florestas

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Page 3: Flore Portugaise

FICHA TÉCNICARevista “Parques e Vida Selvagem” · Direc-

tor Nuno Gomes Oliveira · Editor Parque Bio-

lógico de Gaia · Coordenador da Redacção

Jorge Gomes · Fotografi as Arquivo Fotográ-

fi co do Parque Biológico de Gaia · Proprieda-

de Águas e Parque Biológico de Gaia · Pes-

soa colectiva 504763202 · Tiragem 90 000

exemplares · ISSN 1645-2607 · N.º Registo no

I.C.S. 123937. Dep. Legal 170787/01 · Ad-

ministração e Redacção Parque Biológico

de Gaia · Rua da Cunha · 4430-681 Avintes

· Portugal · Telefone 227878120 · E-mail:

[email protected] · Página na in-

ternet http://www.parquebiologico.pt · Con-

selho de Administração José Miranda de

Sousa Maciel, Nuno Gomes Oliveira, Serafi m

Silva Martins, José António Bastos Cardoso,

Brito da Silva · Publicidade Jornal de Notícias

· Impressão Lisgráfi ca - Impressão e Artes

Gráfi cas, Rua Consiglieri Pedroso, 90 · Casal

de Santa Leopoldina · 2730 Barcarena, Portu-

gal · Capa Gravura da Flore Portugaise, Thy-

mus cephalotos, tomilho endémico gravado

por J. F. Krethlow e pintado por G. W. Volker,

publicado em Berlim em 1-9-1809.

Esta revista resulta de uma parceria entre

o Parque Biológico de Gaia e o “Jornal de Notícias”

Inverno 2010 • 2011

36 COGUMELOS entrevistaFrutos breves de um complexo organismo imerso na terra, os cogumelos encantam-nos como duendes selvagens: alguns deliciam o paladar, outros, face aos químicos que transportam, são capazes de despachar do patamar da vida qualquer mortal. À conversa connosco, a bióloga Gabriela Santos tem muito para dizer.

40 PENEDA-GERÊSreportagem

Portugal só tem um parque nacional, o estatuto máximo entre as áreas protegidas. Para uns é o Gerês do lírio endémico, para outros é o das alcateias, das paisagens e das gentes. Igual a si próprio fi ca o património natural que une três distritos no Parque Nacional da Peneda-Gerês: Braga, Viana do Castelo e Vila Real.

54 FLORE PORTUGAISEbiblioteca

Contar a história da Flore Portugaise leva a referir o contexto da viagem de Hoffmannsegg e Link que deu origem, além da Flore, a três livros e vários artigos. Com esta obra emerge Portugal na viragem do século XVIII para o século XIX. É uma publicação monumental que descreve 659 espécies da fl ora portuguesa…

SUMÁRIO 3

SECÇÕES

9 Ver e falar

11 O voo das aves

12 Fotonotícias

14 Portfolio

18 Quinteiro

20 Contra-relógio

23 Dunas

28 Espaços verdes

46 Reportagem

49 Cartoon

50 Actualidade

63 Crónica

Os conteúdos editoriais da revista PARQUES E VIDA SELVAGEM são produzidos pelo Parque Biológico de Gaia, sendo contudo as opiniões nela publicadas da responsabilidade de quem as assina.

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 3

José M. Carvalho

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4 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Reorganização da gestão do Parque BiológicoA partir de 1 de Janeiro de 2011, a empresa municipal “Parque Biológico de Gaia, EEM” fundiu-se com a sua congénere “Águas de Gaia, EEM”, dando origem a uma entidade empresarial local denominada “Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM”. Esta alteração resulta da reestruturação do sector empresarial local, que a Câmara Municipal de Gaia entendeu por bem levar a cabo, como forma de resposta aos tempos de crise em que vivemos.O Parque Biológico continuará a desenvolver o seu projecto, como até aqui, apenas mudando o modelo de gestão e administração, rentabilizando serviços comuns.

Ano Internacional das FlorestasPor decisão de 20 de Dezembro de 2006, da Assembleia Geral das Nações Unidas, 2011 será o Ano Internacional das Florestas, que o Parque Biológico vai comemorar com diversas iniciativas, a primeira das quais será a apresentação de uma exposição, já no início de Fevereiro.

No rescaldo do Ano Internacional da BiodiversidadeOs 193 países-membros da Convenção para a Diversidade Biológica, reunidos no Japão, em Outubro passado, aprovaram 20 metas de conservação até 2020, fixadas num documento designado “Protocolo de Nagoya”, a cidade japonesa onde decorreu a conferência; entre essas medidas, destacamos: • Eliminar as formas de apoio e subsídio

prejudiciais ao ambiente;• Evitar a superexploração das reservas

pesqueiras;• Proteger 17% das áreas terrestres

(actualmente estão protegidos 12,5%) e

10% das áreas marinhas (actualmente está protegido 1%);

• Restaurar, pelo menos, 15% dos ecossistemas degradados.

Na conferência foi introduzido o termo “capital natural”, em substituição da designação “património natural”, com o objectivo de valorizar esse capital e de o incorporar nas contas dos países. Essa medida consta do “Protocolo sobre o Acesso e Repartição dos Benefícios” (Protocolo ABS) que vai, por exemplo, determinar como pode uma empresa farmacêutica aceder a determinada floresta para retirar uma substância específica e que contrapartidas deve dar ao país. Ainda na conferência de Nagoya, e na sequência da segunda reunião de Curitiba sobre Cidades e Biodiversidade (Janeiro de 2010) as cidades de Curitiba, São Paulo, e outras do Brasil, Montreal (Canadá), Montepellier (França), Bona (Alemanha), Nagoya (Japão), Cidade do México e Singapura apresentaram um documento sobre o papel das cidades na protecção da biodiversidade, e a conferência aprovou a “Declaração Aichi/Nagoya sobre Autoridades Locais e Biodiversidade”, cuja discussão prosseguirá em Janeiro deste ano, em Montpellier.Tudo isto, porque as cidades e as autoridades locais também têm um papel importante a desempenhar na conservação da biodiversidade, veja-se o caso de Vila Nova de Gaia.Entretanto, a Assembleia Geral das Nações Unidas deu “luz verde”, em Dezembro, à criação do IPBES (Painel intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas), que irá acompanhar, a nível mundial, todo o trabalho de monitorização e conservação.Durante a conferência foi, ainda, apresentado o ProtectedPlanet.net um

site que permite explorar cerca de 150 000 áreas protegidas do Mundo, iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN); embora ainda muito incompleto, este site merece uma visita e a colaboração de todos.

Sempre novas espéciesAinda se continuam a descobrir, nos cantos mais recônditos do Mundo, espécies de médio e grande porte; foi o caso, em Outubro, de uma nova espécie de primata descoberta na Birmânia, o Rhinopithecus strykeri, de que apenas restarão cerca de 300 exemplares e de que não há nenhuma fotografia de exemplar vivo. Embora desconhecido da ciência, este macaco era conhecido dos caçadores locais; o único exemplar visto pelos cientistas foi caçado e comido pouco tempo depois pela população local.Mas também no Parque Biológico vão aparecendo novas espécies, senão novas para a ciência, novas para o Parque; outra libélula se veio juntar, em Outubro, às já aqui conhecidas, a Sympetrum striolatum.E ainda há dias, já em 2011, a revista “Arquivos Entomológicos Galegos” publicava um artigo do Dr. José Manuel Grosso-Silva, com mais 23 espécies de insectos encontrados no Parque Biológico, alguns raros para Portugal como, por exemplo, o Anaesthetis testacea, um coleóptero que apenas tinha sido recolhido em Coimbra pelo Dr. Manuel Paulino de Oliveira, em 1891, ou seja, há 120 anos que se desconhecia a sua ocorrência em Portugal.

Papagaios ameaçadosEm Dezembro o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, do Brasil, aprovou um Plano de Acção Nacional para a Conservação dos Papagaios Ameaçados

Por Nuno Gomes Oliveira

Director da Revista “Parques e Vida Selvagem”

4 EDITORIAL

Chegou o Ano Internacional das Florestas

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 5

Chegou o Ano Internacional das Florestasda Mata Atlântica. Este plano abrange as espécies Amazona brasiliensis, Amazona rhodocorytha, Amazona pretrei e Amazona vinacea e o seu objectivo é garantir a integridade genética e demográfica das populações naturais.No Centro de Recuperação do Parque Biológico temos três exemplares de Amazona rodocorytha e um de Amazona vinacea, provenientes de apreensões feitas pelas autoridades. Um protocolo feito com o Instituto Chico Mendes, em 2005, prevê a devolução destes exemplares ao Brasil, o que aguarda, desde então, ratificação do ICNB. Aqui, estes papagaios nada estão a fazer, no Brasil poderiam ser úteis para a conservação das espécies.

Um milhão de plantasBotânicos do Jardim Botânico de Londres (Kew Gardens) e do Jardim Botânico do Missuri (USA) publicaram em www.theplantlist.ptg um inventário de 1,25 milhão de plantas, na que passou a ser a maior e mais actualizada base de dados da flora mundial.Ao mesmo tempo, em Portugal, uma equipa de 18 botânicos, que trabalhou no âmbito da ALFA (Associação Lusitana de Fitossociologia) publicou uma lista de 3995 espécies de plantas de Portugal, das quais 3314 do Continente, 1006 dos Açores e 1233 da Madeira. Destas, 157 são endémicas da Madeira, 78 dos Açores e 150 do Continente. Quanto a exóticas, a lista regista 412 no Continente, 710 nos Açores e 435 na Madeira. Esta, cuja publicação pelo ICNB se aguarda com ansiedade, passará a ser a lista de referência da flora portuguesa.

Borboletas em declínioO Butterfly Conservation Europe anunciou que as populações europeias de algumas das espécies de borboletas mais ameaçadas

caíram 70% nos últimos 20 anos. Caminham para a extinção 10% das 435 espécies residentes de borboletas da Europa, e 37 espécies estão à beira da extinção; uma, a Borboleta branca-grande-da-Madeira (Pieris brassicae wollastoni), endémica daquela ilha, está provavelmente extinta, pois não é vista desde Maio de 1977.

Chuvas de avesEm Janeiro, 5000 aves caíram mortas no Arkansas (EUA) e pouco depois outras 500 no estado vizinho de Louisiana, a cerca de 500 km. O fenómeno alastra, e 50 a 100 aves são encontradas mortas ou feridas numa estrada rural da Suécia; a Sociedade de Ornitologia daquele país aponta como causa o fogo-de-artifício que lhes terá causado perturbação, desorientação e stress, surgindo a mesma explicação no Arkansas.Esta explicação pode ser muito razoável pois tivemos a experiência, em 13/10/2010, da perturbação criada nas aves da Reserva Natural Local do Estuário do Douro, com o lançamento de fogo-de-artifício e foguetes; nos dias seguintes aumentou consideravelmente o número de aves que ali foram encontradas feridas ou mortas.Em 7 de Janeiro, é a vez de mais de mil rolas-turcas caírem nos telhados e ruas de Faença, no Norte da Itália, ao que tudo aponta em resultado de envenenamento.Agora, a meados de Janeiro, dezenas de estorninhos apareceram mortos em Costanta, na Roménia; segundo as autoridades veterinárias romenas, os pássaros comeram demasiado bagaço (produto sobrante do esmagamento da uvas para produção de vinho) e caíram por efeito do álcool. É uma razão aparentemente consistente, pois é frequente algumas espécies de aves alimentarem-se das sementes das uvas presentes no bagaço e dos abundantes

insectos que são atraídos; só não nos parece muito normal estar a vindimar e pisar vinho na Roménia, em Janeiro.De resto, não nos parece que este surto de “chuvas de aves” seja alarmante pois, por uma razão ou outra, sempre houve mortandades em grupo; há, aqui, claramente um efeito de contágio da comunicação social que, após um primeiro episódio, relata outros que, em condições normais, só dariam notícias regionais.

Gomes Pedro: in memoriamA 27 de Dezembro faleceu em Azeitão, com 95 anos, o engenheiro agrónomo Gomes Pedro, um dos mais conhecidos botânicos portugueses e grande especialista na flora da Arrábida. José Gomes Pedro nasceu em 1915, foi director-geral da Agricultura de Moçambique e descreveu várias espécies de plantas, de que destacamos a Euphorbia pedroi, endémica da Arrábida, e cujo nome é uma homenagem ao seu notável trabalho.

Rachid Amirou: in memoriamFaleceu no passado dia 9 de Janeiro o Prof. Richard Amirou, da Universidade de Perpignan, internacionalmente conhecido pelos seus trabalhos sobre o imaginário do turismo e das viagens e sobre a política do património, trabalhos que muito contribuíram para o desenvolvimento o aperfeiçoamento das teorias sobre ecoturismo e turismo de natureza. “Cada viagem é sonhada, vivida, idealizada, depois contada com base nas imagens e símbolos. Descoberta de lugares míticos, “regresso às origens” busca de uma autenticidade perdida: o turista procura bem mais do que uma simples mudança de país”, escrevia Rachid em 1995. Nascido na Argélia, em 1957, ainda há poucos anos deu aulas no Porto; morreu em Paris, aos 53 anos, vítima de doença prolongada.

João L. Teixeira

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Parques e Vida SelvagemParque Biológico de Gaia | 4430 - 757 AvintesTelemóvel: 916 319 197 | e-mail: [email protected]

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 7

OPINIÃO 7

Em Dezembro decidimos reestruturar o sector empresarial municipal de Vila

Nova de Gaia, fundindo algumas empresas com áreas de actividade próximas;

ao Parque Biológico de Gaia coube a fusão com a empresa municipal Águas

de Gaia, dando origem, a partir de 1 de Janeiro de 2011 à redenominada

entidade empresarial local, “Águas e Parque Biológico de Gaia, EEM”

Por Luís Filipe MenezesPresidente da Câmara Municipalde Vila Nova de Gaia

Crise não trava projectos

Os objectivos desta reestruturação foram a rentabilização de meios, a diminuição de custos de estrutura e o fortalecimento do

know-how e da massa crítica das empresas municipais.Pretendemos, naturalmente, preservar as marcas, já consagradas, “Águas de Gaia” e “Parque Biológico” e manter a individualidade das duas instituições, mas com uma gestão e administração comuns.Num tempo de crise como o que atravessamos, todos os esforços de racionalização e economia são necessários, pois só assim poderemos continuar a

desenvolver os múltiplos projectos em execução e em carteira. Quando as receitas diminuem, forçoso é diminuir as despesas, sob pena de colapso.Na área de actividade do Parque Biológico temos alguns grandes projectos que queremos que avancem em 2011: o Parque Verde da Ponte Maria Pia, o Museu da Afurada, o Parque do Vale de S. Paio e muitas outras intervenções que ajudarão a tornar o concelho de Gaia mais sustentável.Queremos, também, continuar o importante trabalho de conservação e fomento da biodiversidade em Vila Nova de Gaia, ao lado das várias cidades do mundo que assinaram a

“Declaração Aichi/Nagoya sobre Autoridades Locais e Biodiversidade”, porque também entendemos que as cidades podem dar um contributo para os objectivos internacionais de suster a perda de espécies e habitats.Gaia já deu o exemplo, com a Reserva Natural Local do Estuário do Douro, com o Regulamento Municipal de Parques e Conservação da Biodiversidade (pioneiro e único em Portugal), com a defesa empenhada do Cordão Dunar e com a Estrutura Ecológica, plasmada no Plano Director Municipal, um instrumento fundamental de ordenamento do território e conservação da natureza.

João L. Teixeira

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8 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

8 OPINIÃO

Sustentabilidade ambiental em Gaia

Os carros eléctricos, para além de garantirem um sistema de mobilidade ecológico e silencioso, são baratos: embora, no início, o carro possa apresentar um custo mais elevado, a longo prazo, é mais barato, já que o preço da energia eléctrica ficará pelos 10% do preço dos combustíveis líquidos tradicionais, com muito menores custos, também, para o ambiente e, especialmente, sem libertação de CO2. A Câmara de Gaia assumiu um conjunto de práticas na área da sustentabilidade,

nomeadamente, na área da mobilidade. O Município é conhecido pela tradição de estar na vanguarda da modernidade. Este é mais um passo direccionado para a inovação.Recordo que, há dois anos, em Bruxelas, o Município de Vila Nova de Gaia assinou o “Pacto de Autarcas”, no qual assumiu o compromisso de reduzir, até 2020, as emissões de gases com efeito de estufa. Nesse sentido, Vila Nova de Gaia foi também um dos seis Municípios europeus seleccionados para o desenvolvimento do

“Plano de Acção para a Sustentabilidade Energética”, no âmbito do Programa Elena. A aposta na iniciativa ambiental passa, também, pela construção de parques para usufruto da população, e Vila Nova de Gaia será, em breve, o Município com a maior rede de parques públicos para utilização colectiva; ainda recentemente se submeteu ao QREN uma candidatura para a construção de mais dois parques, o do Vale de S. Paio (Canidelo) e do Vale de Santarém (Afurada).

Por Marco António Costa

Vice-presidente da Câmara Municipal

de Vila Nova de Gaia

Gaia continua a liderar nas questões ambientais: há dias, inaugurámos

o primeiro posto de abastecimento de veículos eléctricos do País,

situado na Avenida de Vasco da Gama, em Vilar de Andorinho.

Na ocasião, a autarquia recebeu quatro viaturas movidas a energia eléctrica,

destinadas a integrar a frota do Município

João L. Teixeira

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 9

VER E FALAR 9

Parabéns pelo conteúdo!No próprio dia em que saiu a revista com o «Jornal de Notícias», 20 de Outubro, Paulo Rio diz por e-mail: «Olá a todos! Antes de mais queria aqui deixar os meus sinceros parabéns, pela revista e pelo seu conteúdo. É muito bom saber que existem pessoas que se preocupam com a natureza e com tudo o que ela envolve. Obrigado por nos presentearem com esta revista “Parques e vida selvagem”, e com estes seres maravilhosos.(...) Por agora é tudo, uma vez mais parabéns e continuem o bom trabalho que têm feito com a publicação desta revista».

Descobrir a revistaJorge Rodrigues escreve no seu e-mail datado de 27 de Outubro: «Boa tarde. Só mesmo agora estou a ver a revista, pela primeira vez. Estou muito satisfeito com o vosso trabalho. Os meus parabéns. Tem fotografi as soberbas, parabéns igualmente aos fotógrafos. Eu conheço bastante da vida animal. Sou fotógrafo da vida selvagem há alguns anos em África e por isso sei ver o que são fotos fabulosas como as que estão publicadas aqui. Por esse motivo mais uma vez os meus parabéns. (...)».

Que planta é esta?De Penafi el, Vítor Aragão pergunta-nos:«Boa tarde, agradeço que me informem sobre o nome da planta de que anexo fotografi as. Tenho vários espécimes numa propriedade e costumo comer as bagas que, embora um pouco adstringentes, são saborosas».Assunto que ultrapassa a redacção, seguiu para Henrique N. Alves, botânico: «Reencaminharam-me um mail seu com uma planta para identifi car. A planta parece-me ser uma planta de jardim, a Elaeagnus umbellata Thunb. da família das Elaeagnaceae. Trata-se de uma planta de jardim originária da Ásia, que nalguns casos pode ser uma planta invasora.Os frutos são realmente comestíveis, ainda que não seja nada aconselhável comer bagas ou qualquer outro fruto de plantas que desconhecemos, ainda para mais se tiverem frutos vermelhos, pois corremos o risco de estes serem tóxicos ou mesmo mortais».

Rato-do-campo«Olá», escreve em 23 de Outubro João Petronilho, «nas muitas deambulações que faço regularmente pela pista ciclopedonal de Mira encontrei um pequeno Rato-do-campo, Apodemus sylvaticus, atropelado por um automóvel (que não deveriam transitar por este circuito!).

Ler e participarOs comentários dos leitores surgem assim que a revista

se solta das páginas do «Jornal de Notícias»...

Os comentários dos leitores surgem assim que a revista

Não resisti e tirei algumas fotos rápidas. Enquanto isso surgiu uma vespa que logo aproveitou a oportunidade de uma refeição fácil. O azar de uns é a sorte de outros!».

Pesquisa em sala de aula Joana Carvalho lecciona na escola EB 2,3 de Beiriz. Diz em 21 de Outubro: «Sou professora de Ciências Naturais de 3.º Ciclo e Secundário e tomei conhecimento da vossa revista por uma aluna minha de Secundário do presente ano lectivo. Desconhecia totalmente a existência da vossa revista! Mas assim que me deparei com a mesma fi quei fascinada com a qualidade das imagens fotográfi cas, bem como pelo conteúdo de âmbito científi co apresentado na mesma. Além disso, a revista é um óptimo meio de divulgação das espécies existentes em Portugal. Raramente se encontra informação com a mesma qualidade na internet. Entretanto tomei conhecimento de que

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número bastante antigo da revista nun centro de interpretación na costa de A Coruña (Ponteceso - Costa da Morte, concretamente).Repito as miñas felicitacións polo voso traballo e espero comezar a ser un lector habitual.Unha aperta dende Galicia!».

Serra da LousãCasimiro Vaz anexa a fotografi a do sapo-comum e diz no seu e-mail: «Numa viagem nocturna à serra da Lousã, cerca das 22h00 do dia 23 de Setembro, atravessaram os aceiros vários destes batráquios. Essa altura marcou o aparecimento da maior Lua Cheia do ano, Lua Cheia do Caçador, Lua Cheia de Outono. Com quatro amigos que gostam de fotografi a, fi zemos de jipe a viagem até vários pontos da serra. Estava uma noite agradável mas enevoada, o que não permitiu que víssemos o nascer da Lua. Como o condutor conhece bem a serra passámos parte da noite a percorrê-la pelos aceiros. Deu para ver duas famílias de javalis, talvez de cinco ou seis elementos cada. Foram fugazes. Vi vários destes sapos. Uma das vezes pedi para me deixarem sair do jipe para fotografar. Àquela altitude e com o tempo tão seco poderia ser uma espécie pouco conhecida, pensei eu. Vimos também o que nos pareceu um peneireiro num dos aceiros de terra batida e ainda um lindo coelho. Saímos da serra cerca da meia-noite com um outro jipe a cruzar por nós junto do Trevim».

Mais revistasPor parte de vários leitores chegam-nos com frequência pedidos de aquisição de revistas mais antigas.Como entretanto já não há exemplares em armazém para atender a todos os pedidos, a alternativa de reunir uma colecção completa resume-se à internet: basta ir ao site www.parquebiologico.pt, procurar Recursos e aí Revistas — as anteriores edições da revista «Parques e Vida Selvagem» estão aí disponíveis.

10 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

10 VER E FALAR

os números anteriores à revista deste mês de Outubro se encontram disponíveis na versão pdf no vosso site. Embora tenha procedido ao download dos números anteriores, gostaria imenso de obter os mesmos em formato papel, até porque ao abordar o tema ambiente e desenvolvimento sustentável, especialmente, nos conteúdos das paisagens/áreas protegidas, factores bióticos dos ecossistemas e recursos biológicos, gostaria de poder distribuir aos alunos as diversas revistas para eles poderem efectuar uma pesquisa em sala de aula! Seria possível enviarem-me todos os números anteriores a Outubro da revista?». Resposta pronta: «Agradecemos a sua mensagem. Iremos procurar as edições anteriores ainda em armazém, que enviaremos pelo correio, incluindo a Agenda do professor 2010/2011. Apresentamos-lhe os nossos melhores cumprimentos».

Aranha: será perigosa?Belmiro Ribeiro faz-nos chegar a sua inquietação em 23 de Outubro por correio

electrónico: «Fotografei esta aranha perto de minha casa... será perigosa? Pelo aspecto tem tanto de bela como de perigosa; alguém

me pode dizer alguma coisa?».Reencaminhamos a pergunta a quem sabe, no caso José Manuel Grosso-Silva,

investigador do Cibio da Universidade do Porto: «É uma Argiope

bruennichi (que não é perigosa)».

Salamandra-de-fogo Em 25 de Outubro Rafael Moreira escreve: «Parabéns por todo o vosso trabalho.Na imagem anexada está uma salamandra-de-fogo e, embora já tenha visto alguns exemplares desta espécie, nunca tinha visto com coloração vermelha. Sei que a sua pele é tóxica mas gostaria de saber, se me souberem explicar, se esta coloração vermelha é realmente causada pelas toxinas venenosas que produz ou se indicam alguma outra situação como a época de reprodução ou doenças. Obrigado e aproveitem para ver as minhas galerias de fotos através de http://fotografi asdenatureza.blogspot.com».Esta pergunta requer também resposta da especialidade. Pedimos a Raquel Ribeiro,

electrónico: «Fotografei esta aranha perto de minha casa... será perigosa? Pelo aspecto tem tanto de bela como de perigosa; alguém

me pode dizer alguma coisa?».

investigador do Cibio da Universidade do Porto: «É uma

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investigadora do Cibio/UP que esclarecesse o nosso leitor: «A salamandra da fotografi a é um representante da espécie Salamandra-de-pintas-amarelas (Salamandra salamandra). Esta espécie, muito comum em Portugal, apresenta uma vasta distribuição geográfi ca ocorrendo em quase todos os países da Europa. Ao longo da sua distribuição, esta espécie apresenta várias subespécies identifi cáveis morfologicamente. No território nacional é possível encontrar duas destas subespécies: S. s. crespoi no Sul (região do Algarve) e S. s. gallaica no resto do país. Uma vez que este indivíduo foi encontrado no concelho do Marco de Canaveses (distrito do Porto) não há dúvida que se trata de uma S. s. gallaica. Nesta subespécie as manchas avermelhadas pelo corpo são comuns e consequentemente não indicam qualquer estado reprodutivo ou doença. No entanto, a coloração avermelhada não é uma consequência directa das substâncias tóxicas que este anfíbio produz como mecanismo de defesa mas antes uma maneira de alertar potenciais predadores para essa toxicidade. Esta estratégia, chamada de coloração apossemática, é comum em anfíbios assim como em invertebrados, peixes e répteis».

Da GalizaCésar Blanco Arias, em 8 de Novembro, envia um e-mail: «Hola! Son un lector galego da vosa revista. Escribo en galego e espero que entendades o meu correo. A verdade é que actualmente vivo en Lugo (Norte de Galicia) xa que estudio aquí Enxeñería de Montes, pero eu realmente son da fronteira con Portugal (de O Rosal, en frente de Caminha mais ou menos). Son un apasionado da natureza, principalmente a nivel botánico.Foi mediante o JN que coñecín a súa existencia. Tamén vos podo comentar que atopei varios exemplares dun

ainda um lindo coelho. Saímos da serra cerca da

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 11

Nordland / Noruega01/09/2010

freixo / Évora01/12/2010

3464

km

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ia: 3

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Tordo-comumTurdus philomelus

Anilha nº 8B17878Stavanger Museum

Noruega

Até fi nais da década de 70 do século passado havia uma pequena secção no “Jornal de Notícias”, do Porto, intitulada

“O voo das aves”, onde eram divulgadas as capturas de aves anilhadas, a partir de notícias dadas por caçadores ou pessoas que as encontravam mortas.Esta secção, quase diária, pelo menos na época da caça, era um interessante contributo para a recolha de dados com vista ao estudo das migrações mas, também, uma forma de divulgação dos comportamentos migratórios, junto do grande público.Vamos recriá-la na “Parques e Vida Selvagem”, dando conta das recapturas de aves anilhadas que nos vão chegando.

Tordo de FrançaEm 31/01/2010 foi capturado em Mirandela um tordo-comum (Turdus philomelos) com a anilha JA.555146, do Centro de Investigações sobre Migrações do Museu de História Natural de Paris. Tinha sido anilhado em 27/09/2008, no Nord-Pas-de-Calais, na França, e percorreu 1218 km num ano e 4 meses.

Garça-real da BélgicaEm 23/10/2010 capturou-se acidentalmente

no Parque Biológico uma garça-real (Ardea cinerea) com a anilha K38480 do Instituto Belga de Ciências Naturais. A garça foi imediatamente libertada. Tinha sido anilhada em 8 de Maio, ainda juvenil e no ninho, em Woumen, na Bélgica. Deslocou-se 1410 km em 5 meses e 15 dias.

Tordo da NoruegaO Sr. Joaquim Quadrado comunicou-nos a captura, em 01/12/2010, em Freixo, Évora de um tordo-comum (Turdus philomelos) com anilha n.º 8B17878, do Centro de Anilhagem do Museu Stavanger, da Noruega. Este tordo tinha sido anilhado em Nordland, na Noruega, em 01/09/2010 e percorreu 3464 km em 91 dias.

Tordo da BélgicaNa data e local anterior, a mesma pessoa capturou outro tordo, com a anilha 22Z04886, do Instituto Belga de Ciências Naturais; aguardamos informações do centro de anilhagem.

Tordo da HolandaO Eng.º Paulo Pessoa comunicou-nos a captura, em 19/12/2010, de um tordo com a anilha H310811, do Centro Holandês

de Migração de Aves e Demografi a. Foi capturado em Idanha-a-Nova, Castelo Branco; aguardamos informações do centro de anilhagem.

Garça-real de PortugalEm 21/12/2010 foi capturada por uma Lontra, no Parque Biológico, uma Garça-real (Ardea cinerea), com a anilha MR06298 do Centro de Estudo de Migração de Aves do ICNB; aguardamos informações do centro de anilhagem.

Anilhado no Parque Biológico e encontrado em TaviraEntretanto, um Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula), anilhado no Parque Biológico de Gaia, com a anilha A255189, do CEMPA/ICNB, em 17/10/2009, ainda jovem, foi encontrado morto pelo Sr. António Marques, em Tavira (Algarve), em 28/10/2009, tendo percorrido 449 km em 11 dias

Para saber mais sobre a anilhagem no Parque Biológico de Gaia, consulte: http://anilhagemdeaves.weebly.com/index.html

Por Nuno Gomes Oliveira

O voo das aves

BATER DE ASA 11

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12 FOTONOTÍCIAS

12 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Bufa-de-lobo?

Não se sabe por aqui se já deparou com alguma destas bufas, mas de qualquer forma convém começar por dizer:

não fomos nós quem lhe deu o nome. Também não temos nada contra! Visto o assunto de uma certa maneira, é garantido que se um dia algum educador quiser falar aos seus pupilos de cogumelos tem aqui um bom ponto de partida. Nenhum lhe regateará atenção mas, se alguém recalcitrar, pode deitar a mão a outro nome usual, que até tem mais ritmo à maneira do Norte profundo: peido-de-lobo.Conhecido entre cientistas por Lycoperdon perlatum, este carpóforo costuma ver-se aos grupos, ao contrário do cão que tenha

lá em casa, entre outros mamíferos, que raramente darão aos bandos os outros que tais... Ainda assim, olhe que estes cogumelos não se medem aos palmos! Com uma altura de seis a oito centímetros, dizem os livros que a sua carne solta um odor a rábanos — não é gralha! — e os seus habitats distribuem-se pelos bosques de folhosas e de coníferas. Dizem os entendidos que os esporos saem à pressão pelo vértice, como uma nuvem de pó, disseminando por tal processo esta espécie de fungo.Eu cá nunca vi a cor dessas projecções gasosas mas o cogumelo propriamente dito, a bufa-de-lobo, é numa fase inicial

evidentemente... esbranquiçada. Passados dias, torna-se acastanhada.Ainda sem o privilégio de ter deparado com um destes elementos da biodiversidade, cá ficarei à espera do dito dia, nariz perfilado aos brandos ares do bosque.Se não fossem estes outros tempos, poderia alguém pensar não ser adequado às senhoras que o conheçam designarem-no pelo nome vulgar, à semelhança do que aconteceu com os luze-cus, hoje conhecidos por todos como pirilampos. Já dizia o velho poeta — mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...

Foto: Henrique N. AlvesTexto: Jorge Gomes

Page 13: Flore Portugaise

FOTONOTÍCIAS 13

Molécula egoísta

Se os seres vivos não se reproduzissem não estariam cá para a fotografia.Sejam eles anfíbios ou aves, répteis

ou invertebrados, peixes ou mamíferos, há sempre os que petiscam fora do prato... mais do que outros.Para alguns pensadores, isso terá a ver com uma conhecida molécula que tudo indica só pensar em si própria, o ácido desoxirribonucleico — mais conhecido por ADN — que está na base do mecanismo biológico da transmissão genética entre progenitores e descendentes.Ora, há quem pense que essa molécula usa e abusa de artimanhas maquiavélicas, tudo apenas para adoçar o gosto aos reprodutores e, assim, levá-los até onde lhe convém.Mas não é assim que se deve escrever estas linhas. O fio cronológico não se pode perder, por isso, em muitos casos, antes, muito antes do prémio natural oferecido e retirado após o acto fatídico, eles e elas... têm de se encontrar!E as linhas separadoras podem até

confundir-se... será que ela é mesmo ela, ou, em última análise, é de uma espécie parecida?A pulsão leva aos rituais de acasalamento.Se não acenares assim e assado é porque não pertences a este código de barras... a tal da molécula do ADN, onde as características dos mais aptos da espécie se transmitem no roteiro da selecção natural.É que o ADN dá cabo da molécula aos namorados, não só pelo presente especial a conceber no terrível dia 12, mas porque se torna a ideia fixa dos mortais. Giza caminhos

ao pensamento, dispara interesses cheios de curvas que, no final, desembocam sempre na replicação de si próprio.Que raio de molécula será esta sempre a rabear com o sonho da imortalidade? A verdade é que de uma ou de outra maneira dispara pulsões estratégicas que fariam do autor da Arte da Guerra um autêntico menino de coro.Acha que não?Esta efeméride de índole comercial, o Dia dos Namorados, celebrada a 12 de Fevereiro, explora a dialéctica da semente e da terra, tendo estas um preâmbulo idílico que tapa as agruras que será vulgar afinal todos

possuírem.Agora, siga o nosso conselho de

amigo: nunca se ponha no lugar do macho de louva-a-deus que, ao contrário do que deseja, quase sempre acaba por ser comido por ela…

Texto: Jorge GomesFoto: Hugo Borges

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 13

Page 14: Flore Portugaise

A crise que atravessa o país não desanimou a maior parte dos concorrentes do concurso nacional de fotografi a da

natureza “Parques e vida selvagem” que decorreu entre a Primavera e o Outono do ano passado. Ao serem entregues no passado dia 6 de Novembro os respectivos prémios, verifi cou-se a participação de muita gente nova.Este certame já vai na sua 8.ª edição e em 2010 teve como júri Ricardo Fonseca, Gaspar de Jesus e Nuno Oliveira, que seleccionaram entre 755 fotografi as 47 trabalhos para exposição. O prémio na vertente Arte Fotográfi ca foi atribuído a «Guincho com véu», de Luís Pinheiro Torres, correspondendo-lhe equipamento fotográfi co no valor de mil euros. A outro prémio, o que valoriza a vertente Registo Documental, coube equipamento fotográfi co no valor aproximado de 250 euros, e apurou “Imagine”, de Jorge Nelson Alves. Por sua vez, o prémio Júnior, destinado aos concorrentes mais jovens, foi atribuído a Manuel Brandão Malva, de 14 anos, graças ao seu trabalho «O voo do garajau». Presente na abertura da exposição, o júri congratulou-se com a qualidade da grande maioria dos trabalhos e salientou a importância deste certame na panorâmica da Fotografi a da Natureza em Portugal.Esta exposição pode ser visitada no horário de abertura do Parque Biológico de Gaia até 28 de Janeiro de 2011.

ConcursoParques e Vida Selvagem

14 PORTFOLIO

Manuel Malva: prémio Júnior

14 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Luís Pinheiro Torres: prémio Arte Fotográfi ca

A edição de 2010 do concurso nacional de fotografi a da natureza «Parques e Vida Selvagem» contou 134 concorrentes, tendo 14 menos de 15 anos de idade

“Guincho com véu”, de Luís Pinheiro Torres

Manuel Brandão Malva, «O voo do garajau».

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 15

“Guincho com véu”, de Luís Pinheiro Torres

Jorge Nelson Alves, «Imagine»Manuel Brandão Malva, «O voo do garajau».

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16 PORTFOLIO

16 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

“Osga moura”, Pedro Costa

“Pétalas azuis”, Guilherme Limas

“Matreira”, João Almeida “Lembrança”, José Borges“Lembrança”, José Borges“Lembranças da minha infância”, de José L. Borges

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 17

“Rã-comum”, Fábio Faria

“Dragonfl y”, Paulo Pinto

“Subtileza”, Humberto Ramos

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18 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

18 QUINTEIRO

C om nomes fofos e aspecto de boneco de pelúcia, poucos humanos lhes resistem ao encanto.

Mas há uma verdade que se levanta: os bichanos revelam ter um peso considerável na diminuição da biodiversidade do seu jardim.A investigadora Rebecca Thomas, da Universidade de Reading, na Inglaterra, concluiu recentemente um trabalho nesta área e confirma o alerta dado em 2003 por instituições britânicas(1) como o British Trust for Ornithology e a Royal Society for the Protection of Birds. A pesquisa aponta para uma média preocupante. Anualmente, os gatos domésticos podem ser responsáveis pela morte de cerca de 2500 animais selvagens por quilómetro quadrado de cidade, afectando particularmente as aves de menor porte. Para além das causas mais conhecidas de declínio da biodiversidade – como a destruição de habitat, a sua fragmentação e a mudança de tratamento da terra – esta vertente começa a ganhar significado.Rebecca mediu na população em causa as taxas de predação destes felinos, bem como os seus movimentos de caça e a extensão dos respectivos territórios.Para conseguir estes resultados, logo de início a investigadora convenceu 210 pessoas de uma cidade inglesa – e os seus 250 gatos – a ajudarem-na no presente estudo, até porque impunha-se um procedimento preliminar: colocar-lhes coleiras GPS. Para além de registar as deambulações dos bichanos com esse dispositivo, os donos faziam o registo diário de presas que estes predadores domésticos acabavam por levar para casa.A investigadora descobriu que cada gato regressava ao lar com uma média de 4,39 presas/ano. Se este número espelhar a realidade, ao ser generalizado, só na Inglaterra — onde se estima que haja dez milhões de gatos — haverá 45 milhões de animais selvagens mortos, englobando aves, pequenos mamíferos, anfíbios, répteis, insectos…Mas atenção: estes números não contemplam as vítimas que os gatos fizeram e não levaram para casa, o que aumentará os números. Esta pesquisa também não permite uma comparação entre os danos causados pelos

Mesmo de papo cheio, o instinto está lá: autênticas panteras miniaturizadas os gatos domésticos

adicionam pressão à vida selvagem e fragilizam a biodiversidade do seu jardim

gatos na biodiversidade urbana e na das zonas rurais.

Presas boas e másOs gatos foram especialmente desejados nas sociedades agrícolas europeias do passado, altura em que os picos populacionais de roedores causavam prejuízos avultados e fome por consumirem o grão das colheitas. O serviço predatório era obviamente bem-vindo.É normal por isso que se um gato aparecer no seu jardim com um rato-cego, Microtus lusitanicus, espécie endémica da península Ibérica, sem saber concretamente o que é,

não se importará muito e até o aplaudirá pela eficácia. Mas o mesmo não se passará se tal animal de estimação lhe aparecer com um lindo pisco inerme ou até um pombo-torcaz ainda capaz de bater as asas. Será justo?

Cadeia alimentarO seu jardim pode não ter por predadores apenas os gatos domésticos. Nos ecossistemas naturais há aves de rapina como os gaviões, doninhas, toirões e outros animais que, com populações menos abundantes do que o efectivo de gatos de cidade, regulam as espécies.

Bichanos de dupla faceOs gatos domésticos são uma das causas da perda de biodiversidade do seu jardim

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 19

Mesmo de papo cheio, o instinto está lá: autênticas panteras miniaturizadas os gatos domésticos

adicionam pressão à vida selvagem e fragilizam a biodiversidade do seu jardim

Aves enfraquecidas, doentes ou com malformações entram na cadeia alimentar eventualmente sem se reproduzirem, o que fará com que essa espécie de ave se fortaleça geneticamente. Quando a pressão dos predadores é excessiva, as suas presas diminuem e pela fome aqueles reduzem o seu número, permitindo a repovoação espontânea do habitat pelas espécies que lhes são adequadas. No que toca a predadores selvagens isto funciona bem, mas quando se trata de gatos, a concorrência é desleal. E porquê?

Simplesmente porque o gato doméstico tem o dono como reserva infalível de subsistência, o que lhe permite em situação crítica manter sempre a pressão sobre as espécies selvagens.

Diminuir danosSe tem algum gato, pode ajudar a reduzir este problema de perda de biodiversidade causada por animais domésticos. Uma coleira com guizos irá alertar as vítimas da aproximação do predador, proporcionando-lhes uma fuga de sobrevivência. Se, porém, gosta destes felinos

e dos pássaros que visitam o seu jardim, verá bem menos os últimos. É assim porque a frequência de aves perto de casa reduz-se pelo pânico que a presença de um predador lhes causa. Os alimentadores de aves selvagens — sejam eles de mesa, de rede, tubulares ou de outro formato — devem ser instalados de forma a impedir o assalto dos gatos ao património natural representado por chapins, pardais, melros, lugres e outros, ou seja, devem estar afastados de arbustos densos onde os felinos gostam de se esconder para um salto mortífero.Outra solução para mitigar o problema passa por não deixar o seu gato sair à noite, altura em que se supõe ser acentuadamente letal.Se nos permite outra sugestão, pode sempre torná-lo estéril através de um veterinário.Para perceber de forma mais completa este problema, leia o opúsculo(2) editado pelo Parque Biológico de Gaia em 2004.

Texto: Jorge Gomes

(1) – Em 2003 a Mammal Society, britânica, estimou que estes felinos

produziam 92 milhões de vítimas num período de 5 meses.

(2) – Em www.parquebiologico.pt vá a Recursos/Outras publicações.

Bichanos de dupla faceOs gatos domésticos são uma das causas da perda de biodiversidade do seu jardim

NinhosJá preparou as suas caixas-ninho? Até fi m de Janeiro ainda as pode limpar e reinstalar. Está apenas a propor a essas aves o local de nidifi cação, mas elas poderão escolher espontaneamente outros pontos do seu jardim para fazerem ninho.

Pequenos répteisQue répteis vê no seu jardim? Nesta época é à hora de almoço de um dia de sol que conseguirá detectá-los.

AnfíbiosDê uma olhadela ao seu jardim para contar as espécies de anfíbios e os espécimes que consegue ver...

Veja as fi chas de iniciação que fi zemos para si em www.parquebiologico.pt/revista

Vá registando os dados do seu jardim

Pisco-de-peito-ruivo

Os alimentadores de aves selvagens — sejam eles de mesa, de rede, tubulares

instalados de forma a impedir o assalto

Rato do campo

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Two-faced catsEven with fi lled bellies, the instinct is there: Authentic, miniaturized versions of panthers, the Domestic cat pressurizes wildlife and weakens the Biodiversity of your garden. Researcher, Rebecca Thomas, of the University of Reading in England, recently completed a study in this area and her results confi rm this fact.

Page 20: Flore Portugaise

20 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

20 CONTRA-RELÓGIO

O chão que nos sustenta É o mundo dos fungos, de miríades

de bactérias e outros microrganismos,

que reciclam folhas, ramos, areias, aconchegam

vermes produtivos e túneis de toupeiras.

No patamar em que mais alto fala a reciclagem

dos nutrientes, sem o solo não haveria florestas

Passa uma brisa fria e a folha amarela do grande plátano, preguiçosa, cai na terra.Parece uma mão estendida, dedos

abertos, a cobrir um palmo de chão. Junto ao muro de granito há movimento. Vê-se uma minhoca: sai a céu aberto, e não pára… O anelídeo, fossador por natureza, não gosta — sente-se desprotegido, ao alcance do bico de qualquer pássaro. Um pouco atrás do verme a terra preta agita-se, sobreleva-se. Apressada, alguma coisa escava um túnel.É uma toupeira! Do tamanho de um pequeno rato, olhos diminutos, sentido táctil e olfacto apuradíssimos, tem fobia ao ar livre. Voraz, persegue a minhoca avermelhada, sem se dar à vista.

Terra vivaNão as vemos senão pelos vestígios que afloram à superfície, indisfarçáveis nos terrenos relvados.

O monte de terra fresca, tipo cratera, um óbvio levantamento do nível do solo, e o assunto torna-se evidente. Aqui há toupeira… Neste submundo, os micromamíferos não existem isolados. Em torno deles há toda uma constelação de outros seres que sustentam o ecossistema em que vivem de forma interdependente.Por razões de memória visual, ter-nos-emos habituado a olhar sobretudo para a vida acima do solo.O canto das aves extasia, a luz do sol condimenta a vista, a copa das árvores encanta a paisagem que se oferece aos olhos, e o chão que pisamos fica escondido dos sentidos, como se não existisse.Pura ilusão: existe mesmo e, com toda a propriedade, revela-se um sustentáculo da vida na Terra. Apesar do ditado «longe da vista, longe do coração», percebe-se com facilidade que a terra que pisamos é um outro mundo não menos importante do que aquele em que existimos, ao ar livre.É por si só um outro patamar afundado na

escuridão, onde penetram as raízes dos bosques e da vida. Já disso sabiam os antigos agricultores, mestres do aproveitamento da água e da terra, para que colheitas periclitantes não castigassem a mesa.

Sucessão versus regressãoO solo faz-se de milénios. Os líquenes presenciaram esta história quase no primeiro momento, quando se agarraram com unhas e dentes à rocha nua. Nutrem-se de minerais e, à medida que crescem, lentamente dão a mão a musgos e outras plantas rupícolas que começam a cobrir a pedra como um tecido de luxo.Agora a humidade já consegue permanecer mais tempo e a vegetação ali residente reúne mais recursos para acolher espécies um pouquito mais encorpadas.Essa vegetação é já de si um minibosque rasteiro que proporciona abrigo e território de caça a diversos invertebrados.

Page 21: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 21

• O solo ajuda a depurar a água que bebemos e o ar que respiramos, de graça.

• O solo mais à superfície é a camada mais produtiva.

• Dez toneladas de solo superficial espalhado sobre um hectare é tão fino como uma moeda de um euro.

• O solo representa a camada externa do planeta e forma-se pela degradação de pedras e de restos de animais e plantas.

• Pequenos animais, como as minhocas, digerem matéria orgânica, reciclam os nutrientes e enriquecem o solo.

• São os fungos e as bactérias que conseguem decompor a matéria orgânica que vai enriquecer o solo. As raízes da vegetação dispersam, subterrâneas, permitindo que o oxigénio penetre nele. Isso beneficia os animais que vivem enterrados na terra. Um solo com vegetação adequada ao clima de uma dada região ajuda a prevenir a erosão.

• Um solo bem conservado reduz o risco de cheias e protege a água infiltrada, neutralizando ou reduzindo os poluentes e armazenando em média 3750 toneladas de água potável por hectare.

• O solo de todo o planeta Terra contém 1550 bilhões de toneladas de carbono orgânico. Quando comparado com o carbono atmosférico apontado em 760 bilhões de toneladas e 560 bilhões de toneladas de carbono em organismos vivos.

• O solo captura e armazena cerca de 20% das emissões de carbono produzidas pelo ser humano.

• Há vários tipos de solo, de acordo com a quantidade e o tipo de matéria orgânica, derivada da decomposição de organismos, minerais e nutrientes.

• Uma amostra de solo pode ter 45% de minerais, 25% de água, 25% de ar e 5% de matéria orgânica.

• Os investigadores identificaram só na Europa 10 mil tipos diferentes de solo.

Quanto valerá o solo?

Pequenas aranhas saltitam em busca de moscas à sua medida. Deambulam formigas à cata de pistas de alimentação. Ocultam-se anelídeos entre raízes e toda esta parceria orgânica enriquece o tecido vegetal de nutrientes.Com o tempo a vegetação torna-se mais variada, os habitat diversificam-se e as espécies de seres vivos que lhes são compatíveis instalam-se, tomando depois de muitos e muitos anos o clímax da sucessão ecológica com a instalação de árvores, como o carvalho-alvarinho, se olharmos para a região Norte de baixa altitude.É desta oficina natural que sai a terra fértil da agricultura mais promissora e as nascentes de água que catapultaram o ser humano do horizonte das tribos errantes às comunidades sedentárias, só possíveis com base numa agricultura regular. Ao longo desta sucessão há percalços. Uns revelam-se esporádicos, naturais; outros contumazes, quase sempre com origem humana, são dramáticos.Entre os primeiros temos um incêndio

causado por um relâmpago. Entre os segundos contam-se as dezenas de fogos-postos que se têm registado nos meses mais quentes dos últimos anos. A pior das hipóteses configura uma série de recuos na riqueza do solo, de regressões ecológicas, em ondas sucessivas, frequentes, que em última instância acabam por criar desertos de areia solta, onde a água fenece.

O ano das florestasA própria terra fértil é o resultado de milhares e milhares de anos de produto de uma preciosa máquina natural chamada bosque.Sendo 2011 o Ano Internacional das Florestas, segundo a escolha das Nações Unidas*, este tema tece-se entre raízes e ressalta a importância deste alicerce dos bosques: o solo, tão pisado e esquecido. Uma boa parte do planeta Terra cobre-se de florestas, segundo o clima e o tipo de solo de cada região. Gerir estes recursos ergue uma faca de

Ilustração: Ernesto Brochado

Page 22: Flore Portugaise

dois gumes. Sendo certo que uma má gestão das florestas degrada o solo, geri-las correctamente faz com que este se torne uma mais-valia sustentável, com muito ainda para dar à humanidade seja na área

alimentar, médica, industrial e tantas outras.Os benefícios que produzem passam despercebidos, mas quando elas caem por todo o mundo a um ritmo preocupante começam a entrever-se dificuldades, graças

* A Assembleia Geral da Organização das Nações

Unidas (ONU) adoptou a Resolução A/RES/61/93 em

20 de Dezembro, declarando o ano de 2011 como o

Ano Internacional das Florestas. Actividades em apoio

ao ano internacional terão como foco a promoção

do desenvolvimento sustentável, a conservação, o

desenvolvimento das florestas em todo o mundo e

a sensibilização da população para o papel decisivo

que as florestas desempenham no desenvolvimento

global sustentável. O AIF tem como principal objectivo

mobilizar a comunidade mundial para assegurar que

as florestas são geridas de modo sustentável para as

gerações actuais e futuras.

22 CONTRA-RELÓGIO

22 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Matéria orgânica

Plantas

Bactérias

Fungos

Nemátodes

ArtrópodesArtrópodes

Nemátodes

Protozoários

Nemátodes

Diversos

Avesdas raízes

dos fungos

carnívoros

predadores

Primeiro nível trófico Segundo nível trófico Terceiro nível trófico Quarto nível trófico Quinto nível trófico

fotossintetizadores decompositores

mutualistas

patogénicos, parasitas

consumidores de raízes

predadores predadores predadores

a vários estudos científicos que apontam consequências tais como alterações do clima e perda de biodiversidade.Este ano será marcado por actividades que levam a uma maior tomada de consciência da importância dos bosques no quotidiano da população mundial.As florestas autóctones criam terra fértil, protegem a diversidade biológica de que dependemos, defendem a água potável, fornecem oxigénio, reduzem a presença na atmosfera de gases ligados ao aquecimento global... Toda a floresta depende do solo, uma das chaves da vida, um recurso natural complexo, difícil de renovar.

Texto e foto: Jorge Gomes

Bibliografia:“Environment fact sheet: soil protection – a new policy for the EU”, Jan. 2007. http://eusoils.jrc.ec.europa.eu

The ground that supports us Soil is the world of fungi, myriads of bacteria and other microorganisms that recycles leaves, twigs, sand, mud and sludge, which also includes an important contribution made by worms and mole tunnels. At the highest level of the recycling of nutrients, without soil there would be no forests. This is a mandatory subject for the “International Year of Forests,” which will be celebrated in 2011.

Page 23: Flore Portugaise

DUNAS 23

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 23

Cordão dunarQuando o oceano Atlântico ali chega, no Inverno em passos de gigante, ora encontra rocha, como em Lavadores, ora encontra areia.Se por um lado a pedra é firme, de erosão lenta, por outro a areia é já de si dinâmica e, se não for estabilizada, depressa vai a

mando das ondas. Esta ténue linha onde o mar acaba e a terra começa faz-se de uma instabilidade natural. Ao pôr o pé na praia, já se familiarizou decerto com as estruturas de madeira que visam atenuar o avanço do mar: os passadiços.

A aplicação destas estruturas evita que as plantas dunares sejam pisadas e destruídas, o que viabiliza a estabilização das dunas. É possível reforçar a acção desta flora instalando regeneradores, cuja função consiste em reter a areia movida pelo vento, ancorando-a na duna.

Em 9 de Dezembro decorreu a primeira reunião da Rede de Cooperação da Gestão Activa de Espaços Protegidos e Classificados na Região Norte (QREN/ON2). Através da constituição desta rede de cooperação de carácter informal, pretende-se criar uma dinâmica de grupo entre os promotores e os parceiros beneficiários da tipologia de operações Gestão Activa de Espaços Protegidos e Classificados na Região Norte (GAEPC) que aceitem este desafio, para que esta sinergia entre todos potencie ainda mais o trabalho individual de cada um e, ao mesmo tempo, crie um novo paradigma no desenvolvimento dos espaços de maior qualidade ambiental da Região Norte.

A área costeira de Vila Nova de Gaia é extensa: cobre cerca de 14 quilómetros

Entre os objectivos a atingir através da criação e animação da rede de cooperação GAEPC fica a criação de uma identidade de grupo entre as entidades beneficiárias da tipologia de operações GAEPC, promovendo uma dinâmica comum na região. Pretende-

se também dar a conhecer aos promotores e parceiros beneficiários os projectos que estão a ser desenvolvidos na Região Norte no âmbito da medida GAEPC.Mais: http://plataforma.ccdr-n.pt/gaepc/gaepc-1/a-rede/o-que-e

Gestão activa de espaços protegidos

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Page 24: Flore Portugaise

visitar o local, na baía de S. Paio, onde o rio que faz fronteira com Espanha atinge o mar.

Espécies peculiaresEntre as espécies de aves mais frequentemente vistas neste estuário é natural que se destaquem as menos habituais. Algumas delas são as que se lêem a seguir.Viu-se uma águia-pesqueira foi vista sobre o

juncal em 20 de Setembro, um migrador de passagem para sul.O ano passado a permanência invernal de um merganso nesta Reserva fez furor sobretudo entre fotógrafos de natureza. Este ano, em 22 de Novembro, andaram dois no estuário.Entre 21 de Outubro e os primeiros dias de Novembro apareceu uma mobelha. Surgiu pela mesma altura uma coruja-do-nabal, que permaneceu mais tempo. Paulo Dias, fotógrafo, registou ainda a passagem de uma

24 DUNAS

24 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Carla Matos é exemplo disso. Começa por falar no Facebook do Parque Biológico de Gaia de uma garça-real, entre as

centenas que se podem ver no estuário do Douro: «Imponente, com o seu longo pescoço cinzento, a garça-real é muitas vezes a maior ave aquática que a vista alcança. Devido à facilidade com que se observa, é frequentemente uma das primeiras espécies a serem vistas por quem se inicia na observação de aves». Depois, refere o guincho: «Sendo uma gaivota muito abundante em Portugal, o guincho-comum não cativa geralmente a atenção dos ornitólogos. No entanto, quem observar esta espécie ao longo do ano notará que as aves se tornam mais atraentes a partir de Fevereiro ou Março, quando os adultos vestem o seu capuz cor de chocolate».Carla explica ainda que «fotografar para mim é um vício bom desde que descobri este local. Não me canso de ir ali fotografar» e acrescenta que aconselha as pessoas a

Reserva Natural Local do Estuário do Douro: regresso dos mergansos-de-poupa, Mergus serrator

Reserva Natural Local do Estuário do Douro, 31 de Outubro: libertação de uma garça-real recuperada

Estuário do DouroA Reserva Natural Local

do Estuário do Douro

é a coqueluche

de Canidelo: visitada

com curiosidade mais

do que nunca depois

da sua inauguração

em Setembro passado,

já tem novos fãs...

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Page 25: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 25

DUNAS 25

Estão de parabéns todos aqueles que participaram nestas actividades realizadas no 1.º domingo de cada mês. Esperamos ter difundido o interesse pela observação e identificação das aves selvagens e contribuído para que todos os interessados tenham conhecido mais sobre as extraordinárias aves que ocorrem na RNLED, particularmente o grande grupo de Charadriiformes que inclui as gaivotas limícolas e andorinhas-do-mar. Dia 5 de Dezembro, foi um dia chuvoso, não ideal para sair de casa e ir observar aves, mas mais uma vez se comprovou que no que se refere às aves selvagens tudo se pode esperar. Com o auxílio da experiência do técnico que acompanhou os participantes e o material óptico utilizado, a que se juntou a persistência, paciência e curiosidade de todos, observaram-se 23 espécies diferentes de aves registadas, das quais algumas pouco vulgares e normalmente de difícil observação: falcão-peregrino (Falco peregrinus), colhereiro (Platalea leucorodia), pisco-de-peito-azul (Luscinia svecica). É de referir também a interessante observação de uma fêmea de Catulo híbrido Aythya ferina x nyroca. Este híbrido chegou a ser descrito no século XVIII como uma espécie diferente (Fuligula ferinoides e Fuligula homeyeri). Estiveram presentes no estuário cerca de cem limícolas de 8 espécies diferentes, destacando-se as excelentes observações realizadas de narceja (Gallinago gallinago). No que respeita ao grupo das gaivotas foram observadas 6 espécies diferentes onde se inclui a gaivota-de-cabeça-preta (Larus melanocephalus) e a gaivota-parda (Larus canus). Entre 500 corvos-marinhos registou-se a presença de pelo menos 130 garças-reais. É de salientar que a observação de algumas espécies foi mais além que um simples avistamento e registo, sendo possível partilhar verdadeiros momentos de “vida selvagem”.

Por Paulo Faria

Observações em grande

ave das regiões árticas: a escrevedeira-das-neves.Neste período avistou-se uma raridade: a limícola americana perna-amarela, Tringa flaviceps.Passaram colhereiros em 28 de Novembro. Registe-se igualmente a libertação de uma ave reacuperada. Bem mais comum no estuário, uma garça-real debilitada chegou ao Centro de Recuperação do Parque Biológico de Gaia em 15 de Outubro e

«apresentava uma postura anormal de asas “descaídas” que se deviam a escoriações ligeiras e extensos hematomas na face medial (face interna) de ambas as asas», lembra Sara Loio, médica-veterinária. «Foi instalada na nossa enfermaria com tratamento de suporte e analgésico/anti-inflamatório» e, uma vez resolvidas as lesões, após novo exame geral da ave, «foi libertada a 22 de Outubro, juntamente com uma rola-do-mar também entretanto recuperada».

Narceja

Pau

lo F

aria

Mobelha-de-garganta-preta, Gavia articaEscrevedeira-das-neves

Paulo Dias

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26 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

26 DUNAS

As cracas, bálanos e percebes, chamados cirrípedes, são crustáceos diferentes de todos os outros e sésseis. A carapaça

é constituída por uma concha calcária formada por várias placas. À noite, quando estão cobertos de água, estendem os seus membros articulados para capturar zooplâncton e pequenas partículas orgânicas suspendidas. As cracas (Chthamalus stellatus e C. montagui) ocupam os níveis superiores e médios do eulitoral rochoso e formam uma cintura distinta, com milhares de indivíduos por metro quadrado(1). O limite inferior da sua distribuição parece ser determinado pela competição com o bálano Balanus perforatus que abunda na zona inferior do eulitoral e na franja sublitoral(2). Os percebes Pollicipes pollicipes fi xam-se

Flora e fauna marinhas do litoral de Gaia8 - Caranguejo Pilumnus hirtellus

5 - Isópode Idotea chelipes 6 - Camarão Palaemon serratus

1 - Cracas Chthamalus stellatus e C. montagui

O Parque de Dunas

da Aguda tem por

principal meta sensibilizar

a população

para a importância

de conservar as dunas

As dunas são fundamentais para travar o avanço do mar. No caso em pauta, se a duna frontal desaparecesse a estrada passaria a ser marginal, podendo nas marés vivas o mar avançar sobre as moradias.Logo numa das entradas do Parque encontra o acesso ao centro de interpretação.Esta casa disponibiliza informação sobre as muitas espécies de plantas dos habitats dunares que depressa se foram instalando espontaneamente no local desde a criação deste parque de dunas.Como na natureza nada vive sem uma profunda interdependência, pode aqui compreender a base do funcionamento dos ecossistemas dunares.

Encontra expostas fotografi as e textos sucintos que trazem à luz alguns dos protagonistas da fauna mais visível do Parque, sobretudo no que às aves (borrelhos-de-coleira-interrompida) e aos répteis (sardões) diz respeito. Pode ainda encontrar um simulador de ondas e marés que miniaturiza a movimentação da areia face à erosão ou acumulação da mesma. Este dispositivo funciona nas visitas guiadas, sempre sujeitas a marcação.Mas este parque é igualmente um jardim botânico. Ilustra na perfeição como a natureza recupera, se o ser humano lhe dá essa oportunidade. Há até, entre dezenas de espécies, duas plantas das dunas que só existem no Douro Litoral: a mostarda-das-dunas (Coyncia johnstonii) e o botão-das-dunas (Jasione lusitanica). O que mais destrói estas plantas em qualquer parte — e com elas as dunas — é o pisoteio, o trânsito de jipes e motos, o despejo de lixo e as obras de construção ilegais.Com os passadiços suspensos sobre a areia torna-se possível respeitar a dinâmica própria dos sistemas dunares e possibilitar às vastas raízes destas plantas a fi xação da areia. As dunas fazem parte de um mosaico natural que suporta a diversidade biológica da Terra.

Aguda

Parque de Dunas

João

L. T

eixe

ira

Page 27: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 27

LITORAL 27

ELA - Estação Litoral da AgudaRua Alfredo Dias, Praia da Aguda,4410-475 Arcozelo • Vila Nova de Gaia

Tel.: 227 536 360 / Fax: 227 535 [email protected]

Entre os crustáceos marinhos existe grande

variação morfológica. Geralmente o corpo

divide-se em cabeça, tórax e abdómen.

Possuem membros articulados, dois pares

de antenas, um par de mandíbulas,

dois pares de maxilas e uma carapaça,

o exoesqueleto, formado por sais de cálcio,

que envolve grande parte do corpo.

Flora e fauna marinhas do litoral de Gaiapreferencialmente nas rochas da zona de rebentação, a partir do eulitoral inferior, onde são alvos de uma forte procura do Homem(3). Os anfípodes são comprimidos lateralmente e não têm carapaça dura. A pulga-do-mar (Talitrus saltator) é a espécie mais característica que habita nas areias da franja litoral, com densidades verdadeiramente espectaculares(4).Os isópodes são comprimidos dorso-ventralmente e também não possuem carapaça dura. Alguns são parasitas de peixes e outros crustáceos. Uma espécie representativa é Idotea chelipes que habita os espaços entre os agregados de mexilhões(5). Os decápodes são os crustáceos mais familiares, pois muitos fazem parte da alimentação humana, tais como o camarão,

a navalheira, a sapateira ou a santola. A cabeça e o tórax são fundidos (cefalotórax), recobertos pela carapaça e o abdómen é bem definido. São dotados de cinco pares de patas locomotoras, dos quais o primeiro está transformado em pinças manipuladoras ou garras e os restantes pares são usados para andar ou nadar. A carapaça é mudada esporadicamente durante o crescimento. Muitos decápodes são predadores activos e necrófagos, recolhendo tudo o que seja comestível. Na zona-entre-marés observam-se, dentro deste grupo, espécies de todos os tamanhos. O camarão Palaemon serratus frequenta as poças de maré da zona eulitoral, colonizadas por algas(6) e Pachygrapsus marmoratus é um caranguejo pequeno e muito rápido, que corre sobre as rochas durante a

maré baixa(7). Uma outra espécie, ainda mais pequena, é Pilumnus hirtellus, que está associada aos “recifes” da barroeira, aproveitando os esconderijos entre os casulos(8). De tamanho médio aparece, sobretudo à noite, a navalheira Necora puber, outro alvo da procura do Homem(9), e entre as espécies maiores destacam-se a santola Maja squinado (10) e a sapateira Cancer pagurus, com pinças robustas e perigosas(11).

Por Mike Weber e José Pedro Oliveira

10 - Santola Maja squinado9 - Navalheira Necora puber

6 - Camarão Palaemon serratus 7 - Caranguejo Pachygrapsus marmoratus

11 - Sapateira Cancer pagurus

4 - Pulga-da-areia Talitrus saltator

3 - Percebes Pollicipes pollicipes2 - Bálanos Balanus perforatus

Page 28: Flore Portugaise

28 ESPAÇOS VERDES

28 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Parque da LavandeiraEm Oliveira do Douro,

orientado essencialmente

para o lazer, este Parque

é um espaço verde

cada vez mais procurado

pela população

Aberto todos os dias das 9h às 18hPraia da Aguda • Vila Nova de Gaia

Aquário e Museu das Pescas

Com os seus 11 hectares, este Parque localiza-se perto do centro de Gaia e resulta da aquisição, pelo Município, da antiga Quinta da Lavandeira. O Parque da Lavandeira proporciona a quem ali se desloca várias vertentes recreativas, nomeadamente percursos pedestres, zonas de merendas e jardins temáticos.No solo rico e fresco das margens do ribeiro, sob o coberto arbóreo dos salgueiros, desenvolvem-se muitas espécies de plantas selvagens espontaneamente.A entrada é gratuita desde que abriu ao

público nos idos de Agosto de 2005.Para além de dispor de cafetaria, desdobram-se ali as mais variadas iniciativas, nomeadamente venda de legumes sem pesticidas aos sábados de manhã, feiras de artesanato, actividades de yoga, entre outras. Apesar do Inverno não ser visto pela maioria como a época mais adequada ao passeio, não desperdice, podendo, pelo menos os dias de sol, altura em que poderá ver este parque com novos olhos.Para mais informações consulte o sitewww.parquebiologico.pt ou envie um e-mail para [email protected].

João L. Teixeira

Page 29: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 29

Parque Botânico do CasteloEm Crestuma, este

Parque surpreende

os visitantes sobretudo

pelos socalcos em que

se desenvolve, resultado

do uso agrícola a que

este espaço era sujeito

há algumas décadas

Inaugurado em 13 de Setembro de 2009, o Parque Botânico do Castelo, em Crestuma, fica ao lado do Clube Náutico e consiste na recuperação de uma quinta que se encontrava em ruínas, entretanto adquirida pelo Município, que a transformou através dos serviços do Parque Biológico de Gaia.Neste parque botânico a entrada é gratuita. Quanto mais sobe no percurso do parque botânico mais encanta a paisagem sobre o rio Douro, que corre em baixo. Passo a passo, as espécies que se vêem são sobretudo freixos e carvalhos autóctones, agora quase sem folhas, e sobreiros, loureiros, gilbardeiras, entre muitas outras.

À sombra dos medronheiros, há também endemismos diversos, como é o caso da planta endémica do Norte de Portugal chamada Omphalodes nitida. Este parque incluirá a seu tempo um centro de interpretação de flora, arqueologia e geomorfologia, a instalar na Casa da Eira, estrutura que já existia no topo deste espaço verde.No Verão passado decorreu um campo de trabalho nessa área orientado pelos arqueólogos Gonçalves Guimarães e António Manuel Silva, cujo resultado, após análise detalhada, virá a constituir uma exposição no local.

A partir de agora já pode caçar (com máquina fotográfica, é claro) no Parque Biológico,sem necessidade de licença de caça. E pode levar os seus troféus: corços, bisontes,açores, pica-peixes e muitas outras espécies vão decorar as paredes de sua casa.

Poderá fotografar ao longo do Parqueou utilizar um dos novos abrigos de caça-fotográfica,

instalados em locais calmos e fora do circuito de visitas.

João L. Teixeira

Page 30: Flore Portugaise

30 ESPAÇOS VERDES

30 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Os campos e as ofi cinas

de Inverno já passaram

com um cheirinho

de rabanadas: não tarda,

chegam as ofi cinas

de Carnaval

Passada a recriação de um magusto tradicional, na tarde de 6 de Novembro, com a colaboração

do Rancho Folclórico Danças e Cantares de Santa Maria de Olival, chegaram as férias natalícias e,

com elas, as Ofi cinas de Inverno.Entre variadas actividades as crianças e jovens

inscritos divertiram-se à farta.Em breve, estão aí as Ofi cinas de Carnaval. Para crianças e jovens dos seis aos 15 anos de idade

que se inscrevam, estas ofi cinas decorrem dias 7 e 9 de Março, com entrada diária às 9h00

e saída às 17h30.

Sábado no ParqueTodos os primeiros sábados de cada mês o Parque Biológico propõe um programa diferente e contempla os seus visitantes com várias actividades.Em de 5 de Fevereiro, às 10h00, há uma saída em autocarro do Parque Biológico para observação de aves na Reserva Natural Local do Estuário do Douro, com regresso ao meio-dia. Às 14h30 decorre uma conversa sobre «Zonas húmidas», seguindo-se às 15h00 a abertura da exposição de fotografi a da natureza “A serra encantada”, de João Petronilho e David Guimarães. Pelas 15h30 há uma visita guiada pelos técnicos do Parque e percurso ornitológico. Entre as 22h00 e as 23h30, há ainda observações astronómicas (inscrição necessária).

Observação de aves selvagens na Reserva Natural Local do Estuário do DouroNos domingos de 6 de Fevereiro e 6 de Março, entre as 10h00 e o meio-dia, leve, se tiver, um guia de campo de aves europeias e binóculos à baía de S. Paio, no estuário do rio Douro, do lado de Gaia. Com telescópio, estará um técnico do Parque para ajudar os presentes a identifi car as aves do Litoral.

III Curso de Educação e Maneio de Asininos Decorre no de 25 a 27 de Fevereiro, numa organização conjunta do Parque Biológico de Gaia e da AEPGA – Associação para o Estudo e Promoção do Gado Asinino. Inscrição necessária.

Máscaras da Natureza De 28 de Fevereiro a 4 de Março, ateliers alusivos à época de Carnaval para crianças e jovens das escolas (sob marcação).

Percursos de descoberta: Serra de Arga Dia 12 de Março, o Parque organiza uma saída de campo a esta serra em autocarro. Em território de quatro concelhos - Caminha, Ponte de Lima, Viana do Castelo e Vila Nova de Cerveira - é um espaço importante para a conservação da natureza. Esta serra foi incluída na Rede Natura 2000.

Exposição “Polinização: um negócio natural” Mostra colectiva de fotografi a da natureza

AgendaTome nota de alguns destaques das iniciativas do Parque Biológico de Gaia a breve prazo...

Ofi cinas de Carnaval

O magusto decorreu no percurso de descoberta da natureza do Parque, na quinta de Santo Tusso

Page 31: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 31

enquadrada nas comemorações do Ano Internacional das Florestas que abre dia 2 de Abril às 15h00.

Receba notícias por e-mailPara os leitores saberem das suas actividades a curto prazo, o Parque Biológico sugere uma visita semanal a www.parquebiologico.pt. A alternativa será receber os destaques, sempre que oportunos, por e-mail. Para isso, peça-os a [email protected]

Mais informações Gabinete de [email protected] directo: 227 878 1384430-681 Avintes - Portugalwww.parquebiologico.pt

Tome nota de alguns destaques das iniciativas do Parque Biológico de Gaia a breve prazo...

A leitora mais rápida a acertar numa das duas espécies publicadas na passada edição desta revista foi Emília Fonseca, no próprio dia em

que a revista foi distribuída, 20 de Outubro: «Boa tarde! A fotografi a do cogumelo tem o nome de Boleto e o nome científi co é Boletus sp», escrevia-nos às 13h42. Por sua vez, a mesma página 16 da revista mereceu o seguinte comentário de Sérgio Lento, de Cinfães do Douro, que nos chegou também por e-mail, dois dias depois, às 11h12: «Bom dia, a ave em questão é um papa-moscas (Ficedula hypoleuca)».Tendo os prémios entretanto sido enviados aos concorrentes, surpreendeu a facilidade com que o boleto foi identifi cado pelos leitores face ao papa-moscas. Para esta edição de Inverno, aqui fi ca uma planta e um mamífero. É capaz de identifi car algum deles? Se for, não deixe de nos dizer!As fotografi as publicadas são sempre de vida selvagem que já foi observada na região. As respostas mais rápidas recebem como prémio um livro editado pelo Parque, neste caso a obra “Manual do cultivo e confecção do linho”, de Domingos Quintas Moreira.As respostas devem indicar um dos nomes vulgares reconhecidos ou, melhor ainda, o nome científi co. Se na sua resposta acertar numa só

Que será isto?

de ambas as espécies, é igualmente considerada no ranking das mais rápidas. Envie-nos o seu e-mail ([email protected]) ou carta (Parque Biológico de Gaia - Revista PVS - 4430-681 Avintes)! O prazo para as respostas termina em 10 de Fevereiro de 2011. Os leitores já premiados em edições anteriores só o serão se não houver outra resposta certa (este item só é válido durante um ano a partir da atribuição do prémio).Então, já sabe o nome de alguma destas duas espécies?

Jorg

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João

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32 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

32 ESPAÇOS VERDES

Flora

Longicórnio-testáceoAnaesthetis testacea (Fabricius, 1781)

Fauna

Este musgo, que não muda de aspecto ou cor mesmo quando desidrata, pode ser facilmente reconhecido pela sua cor verde dourada e pela diferença entre os seus fi lídeos (órgãos análogos às folhas): os do caulóide (órgão análogo ao caule) principal têm a forma de coração com uma longa ponta e estão muito espaçados, enquanto os dos ramos são muito mais pequenos e ovais e dispõem-se densamente nos ramos. Todos os fi lídeos desta planta têm uma margem dentada e uma nervura e são estruturas frágeis já que apenas têm uma célula de espessura, tal como em tantos outros musgos. Todas estas estruturas são bem visíveis com uma lupa de mão em qualquer altura do ano uma vez que os tufos desta planta são perenes e chegam a atingir os 10 cm de comprimento. Esta espécie está amplamente distribuída por muitos tipos de habitats e é frequente em países do reino holártico do planeta (zonas árcticas e temperadas do hemisfério

Norte). Também no nosso país e no Parque Biológico de Gaia, este musgo é um dos mais comuns, principalmente nos recantos sombrios e húmidos dos taludes e dos bosques. O seu crescimento prostrado sobre o solo ou restos de folhas e pequenos ramos ajuda a reter e fi xar a manta-morta. É portanto uma espécie primocolonizadora de substratos orgânicos que impede a erosão, retém humidade e favorece a formação do húmus, sendo por isso essencial para a estabilização dos solos em terrenos mais inclinados. Entre os fi lídeos e os ramos desta planta também se acumulam pequenas gotas de água que hidratam a planta e mantêm viva toda a comunidade de pequenos animais e outras plantas que vivem no “micro-ambiente” criado pelos seus tufos.Como cresce sob a forma de tufos grandes, laxos e suaves esta planta recebeu o nome comum de “musgo-pena” e este aspecto fez com que tenha sido usada para encher almofadas ou forrar botas

Musgo-penaKindbergia praelonga (Hedw.) Ochyra

pouco confortáveis durante a Idade Média. Actualmente é um dos musgos colhidos para servir de camada de retenção de humidade na horticultura ou para enfeitar presépios. No entanto, como qualquer espécie de musgo, demora bastantes anos a crescer e a sua colheita anual provoca grandes decréscimos nas suas populações. No caso desta espécie e de muitas outras, recolocar

O Longicórnio-testáceo é um escaravelho de cor negra ou castanho-alaranjada, com um comprimento de 5 a 10 mm

e antenas quase tão compridas quanto o corpo, uma característica comum à maioria das espécies da família a que pertence, a dos cerambicídeos (Cerambycidae), e que justifi ca plenamente a designação “longicórnios” que normalmente lhes é atribuída. É uma espécie associada a árvores caducifólias, como carvalhos, castanheiros e amieiros. As fêmeas realizam as posturas em ramos recentemente mortos e as larvas desenvolvem-se debaixo da casca, onde escavam galerias circulares. É considerada uma espécie esporádica na Península Ibérica, principalmente na metade

ocidental, onde é conhecida dum número muito reduzido de locais. Em Portugal, até à primavera passada, o Longicórnio-testáceo apenas tinha sido encontrado em Coimbra, remontando o único registo à década de 1880. Por essa razão, a descoberta da sua ocorrência no Parque Biológico de Gaia, realizada em Maio de 2010, permitiu não apenas acrescentá-lo ao inventário dos coleópteros do Parque como confi rmar a sua presença no país, revelando-se um dos resultados mais interessantes da inventariação da fauna de invertebrados do Parque durante o ano de 2010.

Texto e foto: J. M. Grosso-Silva (CIBIO-UP) e Patrícia Soares-Vieira

Page 33: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 33

os tufos num local húmido e sombrio (de preferência o mesmo de onde se retirou) pode funcionar como “semente” e o tufo pode voltar a fi xar-se e crescer ou funcionar como propágulo vegetativo para uma nova população nas imediações. Faça a experiência…

Texto e foto: Cristiana Vieira (CIBIO-UP)

A cor salta à vista e está na origem do nome da espécie: líquen-laranja-dos-muros (Xanthoria parietina) – um dos

líquenes mais utilizados como fonte de matéria corante na actividade tintureira. Paradoxalmente, é também uma das espécies mais sujeitas a alterações de cor, podendo adquirir tons claros de amarelo e verde-alface nos locais mais ensombrados. O pigmento cor-de-laranja de Xanthoria parietina constitui uma protecção natural contra os efeitos nocivos da radiação solar, não sendo necessário quando o líquen se encontra à sombra. A cor da tintura produzida é geralmente muito distinta da cor original do líquen e inclui tons de amarelo, cor-de-laranja, castanho, vermelho ou mesmo púrpura. A história da produção de corantes de origem liquénica está intrinsecamente associada à púrpura fenícia. É bem conhecida a importância desta cor como símbolo de poder na época romana e o custo, quer do corante natural quer dos têxteis tingidos, tornou-se lendário. A urzela (Rocella tinctoria, entre

outras espécies do mesmo género) é um líquen que partilha o habitat dos moluscos usados pelos fenícios e parece ter constituído uma alternativa mais económica, banalizando a obtenção de certos tons de púrpura. A espécie de líquen que motiva este texto tem em comum com a urzela a possibilidade de tingir de púrpura, mas a sua distribuição é consideravelmente mais ampla: pode ocupar grandes extensões de rocha costeira e colonizar os muros e as árvores de ambientes humanizados. O líquen-laranja-dos-muros é bastante tolerante à poluição e favorecido pela eutrofi zação, razão pela qual prolifera quando os níveis de amónia e outros compostos azotados atingem valores mais elevados. Não será portanto de estranhar que os espécimes de Xanthoria parietina do Parque Biológico de Gaia mostrem alguma preferência pela companhia do animado grupo de cabras-bravas que reside na zona Norte do parque.

Texto: Joana Marques (CIBIO-UP)

Um líquen com pintaLíquen-laranja-dos-muros (Xanthoria parietina)

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34 ESPAÇOS VERDES

34 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Centro de RecuperaçãoUm abutre-preto debilitado foi recolhido em Valadares no passado

dia 26 de Setembro pelo Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR...

O Centro de Recuperação de Fauna Selvagem do Parque Biológico de Gaia teve um hóspede singular: um juvenil de abutre-preto, Aegypius monachus.Fragilizado, aterrou literalmente na auto-estrada (A29). Um automobilista que ali passou terá visto esta ave e avisou a GNR, que recolheu o abutre. Chegado ao Centro de Recuperação «não levantava a cabeça, estava esgotado e algo desidratado. Tratou-se primeiro da hidratação e, no dia seguinte, já estava mais arrebitado», diz Vanessa Soeiro, médica-veterinária. «Experimentámos então oferecer-lhe comida e percebemos que a fome era muita».

Recuperação no novo túnel de voo do Parque

Anilhagem científica de aves selvagens

Dia 4 de Dezembro, sábado, entre as 35 aves selvagens capturadas na estação de esforço constante do Parque Biológico, o serviço de anilhagem científica detectou um “velho” pisco-de-peito-ruivo, anilhado com o n.º A199487 em 7 de Abril de 2007 por António Cunha Pereira. Pedro Andrade, em formação neste grupo de anilhadores, informa que este ornitólogo «determinou que a ave nasceu em 2006» e que houve recapturas subsequentes, nomeadamente em 5 de Maio de 2007, 7 de Julho de 2007, 15 de Dezembro de 2007, 19 de Janeiro de 2008, 5 de Julho de 2008, 19 de Julho de 2008, 18 de Outubro de 2008, 28 de Março de 2009, 17 de Outubro de 2009 e 4 de Dezembro de 2010», assinala.Depois de «dez recapturas após a captura inicial, a ave está a completar o seu quinto ano de vida. Segundo os dados do Euring (http://www.euring.org/data_and_codes/longevity-voous.

htm), o pisco mais velho registado de sempre morreu com 19 anos e 4 meses na Polónia», adianta Pedro, embora «se pense que a longevidade média de um pisco na natureza seja de sensivelmente dois anos e meio», adianta.Aos primeiros e terceiros sábados de manhã de cada mês, se não chover, a Estação de Esforço Constante do Parque Biológico de Gaia continua em franca actividade. Pode ver este grupo de trabalho em acção se, nessas datas, puser o pé na quinta do Chasco quando palmilhar o percurso de descoberta da natureza.Orientado por dois anilhadores credenciados, há uma dúzia de formandos que prosseguem os seus objectivos de aprenderem sempre mais nesta actividade útil para um melhor conhecimento da população de aves da área.Pode neste momento ver mais se clicar em http://anilhagemdeaves.weebly.com.

São diversas as actividades desenvolvidas pelo Parque Biológico de Gaia com base no seu observatório astronómico. Este ano, organiza os seus primeiros cursos de Iniciação à Astronomia, que vão desde a iniciação propriamente dita até às observações mais avançadas. Pode consultar o programa no site www.parquebiologico.pt indo a Venha

daí e clicando em Astronomia. Para se inscrever e obter mais informações, telefone 227 878 137/138 ou [email protected] com o intuito de servir os visitantes e a comunidade de astrónomos amadores, o observatório astronómico do Parque proporciona um bom local para observações regulares.

Cursos de astronomia

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 35

RECUPERAR 35

Centro de RecuperaçãoUm abutre-preto debilitado foi recolhido em Valadares no passado

dia 26 de Setembro pelo Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR...

Em 30 de Setembro a ave passou para o novo túnel de voo deste centro, a fi m de fortalecer a musculatura e ganhar peso através de uma alimentação adequada.Não era ali o único. Um grifo em recuperação e um açor estavam num processo idêntico.Encontrando-se em bom estado geral e a pesar cerca de 9,2 Kg, por fi m, em 29 de Outubro, foi transferido para o Centro de Recuperação de Castelo Branco (CERAS), onde foi feita uma avaliação fi nal do seu estado e, por fi m, libertado no seu habitat.Trata-se da primeira vez que há registo desta espécie na região Norte.O abutre-preto é a maior ave de rapina da Europa e é considerada uma espécie

“criticamente em perigo” em Portugal. Esta espécie de abutre já só cria em Espanha, junto à fronteira com o Alentejo. Necrófago, abre carcaças que os grifos não conseguem encetar, graças ao poderoso bico.Nidifi cou em Portugal até à década de 70. A partir dos anos 90 tem aumentado o número de observações no interior sul de Portugal e o ano passado, em Idanha-a-Nova, até se registou excepcionalmente um caso de nidifi cação desta espécie de abutre. O indivíduo recuperado, que se afastou acidentalmente do habitat que lhe é próprio, será em breve restituído à natureza próximo de Castelo Branco.

Uma pata na terra outra na águaEsteve patente de 1 de Dezembro a 15 de Janeiro no Biorama do Parque Biológico de Gaia a exposição de anfíbios “Uma pata na água outra na terra”.Uma exposição didática e divertida, planeada para o público jovem e adulto por uma equipa do Cibio/UP.Itinerante, esta mostra seguiu para Viana do Castelo. Se não a conhece, visite o site www.expoanfi bios.org.

Seminário sobre Centros de RecuperaçãoEm 19 e 20 de Novembro o Parque Biológico de Gaia acolheu um seminário promovido pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade em que participaram diversos centros de recuperação do país. No certame começou por se fazer o ponto de situação sobre o reconhecimento destes centros, sublinhando-se o reforço dos parâmetros de coordenação em rede. Depois formaram-se grupos de trabalho, fi cando cada um com temas como a gestão dos centros de recuperação, biologia e seguimento, veterinária, sanidade e educação ambiental. Após a apresentação dos resultados do trabalho destes grupos, na tarde do último dia houve lugar a uma visita às instalações do Parque Biológico.

João L. Teixeira

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Page 36: Flore Portugaise

36 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

36 ENTREVISTA

Cogumelos: fungos misteriosos

É fácil identificar fungos? Gabriela Santos — Bem, realmente acho que não se pode dizer que seja lá muito fácil. Sobretudo porque implica muita prática para adquirir um certo “olho” que esteja atento às características mais importantes para cada grupo de espécies. Os cogumelos são polimórficos, o que quer dizer que variam muito de aspecto, de cor e de tamanho, mesmo os que pertencem à mesma espécie. Aliás, mesmo entre os que são produzidos pelo mesmo fungo, temos de estar atentos àquele punhado de características que não mudam dentro da mesma espécie.Os cogumelos não são organismos por si só, representam órgãos reprodutores de seres chamados macrofungos, tal como as maçãs são órgãos de um ser chamado macieira. Para além disso, há milhares de espécies e também espécies diferentes que produzem cogumelos parecidos e que podem facilmente ser confundidos se não formos

relativamente experientes na identificação. Estas confusões podem ser trágicas no caso de tomarmos por comestível um cogumelo tóxico.Ouve-se falar da técnica da colher...Gabriela Santos — A crença da colher de prata diz que a prata escurece se for posta em contacto com a água de cozedura de um cogumelo venenoso, o que não é verdade. O escurecimento da prata apenas detecta a presença de enxofre, que não é tóxico, e não as toxinas (venenos). Também há outras crenças, como a que diz que se podem comer todos os cogumelos com anel – a verdade é que o cogumelo responsável pelo maior número de envenenamentos mortais tem um bonito anel branco. Todas as crenças populares estão, neste caso, erradas e podem ser muito perigosas se as pessoas se basearem nelas para consumirem cogumelos silvestres. Os de supermercado são perfeitamente seguros.

Não há “atalhos” para distinguirmos cogumelos venenosos de comestíveis – a única maneira consiste em identificar a espécie, de preferência com a ajuda de um micólogo experiente. No recente levantamento das espécies de macrofungos* no Parque Biológico de Gaia havia expectativas. Cumpriram-se?Gabriela Santos — Diria que as expectativas foram excedidas. Estava à espera de encontrar uma menor diversidade fúngica, que é como quem diz, menos espécies de cogumelos. Isto porque, por um lado, este estudo foi de curta duração e teve um esforço de amostragem limitado. Por outro lado, apesar de parcialmente naturalizado, o Parque insere-se num contexto agrícola suburbano e, portanto, muito sujeito ao risco de contaminação atmosférica, edáfica (dos solos) e aquática. Segundo alguns estudos de conservação, os fertilizantes usados na agricultura intensiva e outros poluentes químicos são a principal causa do declínio do número de

Frutos breves de um complexo organismo imerso na terra, os cogumelos encantam-nos como duendes selvagens: alguns deliciam o paladar; outros, face aos químicos que transportam, são capazes de despachar do patamar da vida qualquer mortal. Metemo-nos à conversa com Gabriela Santos, bióloga

Abortiporus biennis

Suillus bovinus

* Fungos que produzem cogumelos visíveis a olho nu.

Coprinus micaceus

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 37

cogumelos que se tem verificado na Europa nos últimos 50 anos. Uma outra causa importante deste declínio é, tal como para a biodiversidade em geral, a perda dos habitats naturais dos fungos pelas mudanças drásticas do uso do solo provocadas pela pressão urbanística, rodoviária e industrial, bem como pela silvicultura intensiva de produção (o abate de floresta autóctone e a plantação generalizada de monocultivos de pinheiro e eucalipto, por exemplo). Outro factor de perda de habitat muito importante no nosso país é a colonização de áreas florestais por espécies vegetais infestantes, como as acácias, que impedem o estabelecimento de manchas de bosque autóctone. O bosque autóctone proporciona micro-habitats para muitas espécies de fungos.Quantas espécies foram detectadas? Gabriela Santos — Detectei cerca de 75 espécies, das quais 66 foram identificadas. É já um número significativo para uma área

relativamente pequena.Entre essas espécies há alguma surpresa a assinalar? Gabriela Santos — Essencialmente surpreendeu-me ter encontrado duas espécies (Boletus fragrans e Entoloma sinuatum) citadas na Lista Vermelha dos Fungos Ameaçados da Europa, um documento científico que ainda não foi oficializado com mais de 1600 espécies propostas. Para além disso, encontrei numerosos cogumelos de cada uma delas no recinto do Parque. Ambas as espécies são consideradas vulneráveis nas listas vermelhas nacionais de vários países europeus, embora o estatuto de conservação global europeu ainda não tenha sido avaliado. Infelizmente, o projecto da oficialização da Lista Vermelha Europeia está actualmente parado por falta de financiamento dos estudos de ecologia e distribuição das espécies que são necessários.

Como descrever o ciclo de vida de um fungo? Gabriela Santos — Este é um ponto importante para a micologia se pensarmos que as grandes divisões dentro do reino Fungi se basearam precisamente nos ciclos de vida dos organismos. Há uma diversidade enorme de ciclos de vida, indo desde os exclusivamente assexuados aos exclusivamente sexuados com todas as formas intermédias pelo meio, sendo que, para um enorme número de espécies, o ciclo de vida ainda é perfeitamente desconhecido por não se conseguirem cultivar em laboratório. Existe até o filo Deuteromycota (ou Fungos Imperfeitos) que agrupa todos os fungos dos quais não se conhecem as fases sexuais do ciclo de vida (quer por não existirem quer por ainda não terem sido descobertas pelos cientistas).Contudo, posso ilustrar abreviadamente o ciclo de vida de um fungo pertencente ao filo Basidiomycota, divisão em que se

MushroomsMushrooms are complex organisms that fascinate us, in the same way as forest goblins. Some delight our taste, others, due to their chemical composition, are deadly. Gabriela Santos, a Biologist, speaks of this important subject.

Entoloma sinuatum

Gabriela Santos

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38 ENTREVISTA

38 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

incluem a maioria dos fungos que produzem os cogumelos que encontramos nos nossos bosques: nos cogumelos destes fungos formam-se os esporos, que são células com apenas um núcleo e que vão funcionar como células sexuais. Os esporos são dispersados pelo vento, pela chuva ou através de animais transportadores. Se atingirem um substrato favorável, vão germinar e dar origem a um micélio (espécie de teia emaranhada de filamentos fúngicos – as hifas) primário (cujas células têm apenas um núcleo). Se este micélio primário entrar em contacto com outro da mesma espécie e que seja bioquimicamente compatível (pode dizer-se que os fungos também possuem a tal “química sexual” de que os humanos estão sempre a falar), as células de ambos vão unir-se e dar origem a novas células com dois núcleos. Estas células dinucleadas vão dividir-se dando origem a hifas que formam um micélio secundário (cujas células têm dois núcleos) e que vai, por sua vez gerar os cogumelos. É nos cogumelos que ocorre a meiose – recombinação dos cromossomas e redução do seu número para metade – e que se vão formar novamente os esporos uninucleados, reiniciando o ciclo de vida. Qual o papel ecológico dos fungos? Gabriela Santos — Classicamente são referidos os papéis que se relacionam com as modalidades de nutrição dos fungos – saprófitas ou decompositores, micorrízicos ou simbiontes e parasitas – e que definem verdadeiros grupos funcionais em termos ecológicos. Os decompositores, como o próprio nome indica, alimentam-se de matéria orgânica morta (quer de origem animal quer de origem vegetal), decompondo-a e absorvendo-a sob a forma de moléculas mais simples. Têm um importantíssimo papel na reciclagem de nutrientes para as cadeias alimentares pois decompõem moléculas complexas que, se não fossem os decompositores (fungos e bactérias), aprisionariam os nutrientes sem que estes voltassem a estar disponíveis para os restantes organismos. Por exemplo, imaginemos um fungo que digere uma molécula complexa como a celulose de uma árvore morta. Através da digestão vai libertando os açúcares contidos nessa molécula. Essas novas moléculas, mais simples, já poderão ser utilizadas por outros organismos (fungos,

bactérias, animais, protozoários) que de outra forma não conseguiriam obtê-los por não terem as ferramentas bioquímicas necessárias para degradar a celulose. É a isto que se referia Antoine Lavoisier quando dizia que, na Natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.Por outro lado, os simbiontes são fungos que estabelecem relações de cooperação com as plantas vasculares através de contactos íntimos entre as hifas do fungo e as raízes das plantas. A planta fornece ao fungo alguns açúcares provenientes da fotossíntese em troca de inestimáveis favores por parte dos fungos, nomeadamente o aumento da capacidade de absorção de água e sais minerais, protecção contra o fogo e organismos patogénicos e o fornecimento à planta de moléculas que funcionam como coadjuvantes do crescimento, quase como “vitaminas”. É por tudo isto que cerca de 85% das plantas vasculares estabelecem micorrizas (associações fungo-planta) com uma ou várias espécies de fungos e as florestas como as conhecemos não poderiam existir sem eles. Por último, os parasitas, que debilitam e matam as plantas hospedeiras, regulam a expansão populacional das espécies que parasitam e, no caso de contágios descontrolados, podem ter um impacto devastador nos ecossistemas florestais. É bem conhecido o caso do fungo que provoca o cancro do castanheiro (Cryptonectria parasitica) e que em apenas dez anos provocou o maior desastre ambiental da América do Norte ao destruir 800 mil hectares de floresta autóctone. Deve-se mexer nos cogumelos? Gabriela Santos — Os cogumelos podem ser tocados e manipulados sem preocupações,

desde que tenhamos o cuidado de não levar as mãos à boca nem aos olhos e de lavar bem as mãos depois do contacto, para o caso de termos tocado em algum que seja tóxico. Nunca, a não ser que os saibamos identificar muito bem, ingerir qualquer cogumelo. Embora isto não se aplique apenas aos cogumelos, devemos redobrar as atenções com as crianças pequenas, que têm tendência para mexer e levar à boca tudo o que encontram. E se isso acontecer? Gabriela Santos — Se ocorrer uma ingestão acidental de cogumelos, devemos levar a pessoa em questão imediatamente a um serviço de urgências para uma lavagem estomacal, mesmo que não haja sintomas imediatos de intoxicação — a maioria das toxinas fúngicas levam algumas horas a manifestar-se e algumas podem levar dias ou até semanas. É importante recolher e levar connosco para o hospital uma amostra dos cogumelos ingeridos para se saber mais rapidamente qual o antídoto a administrar. É por este motivo que se aconselha, mesmo aos micólogos experientes, a deixar sempre alguns cogumelos frescos por cozinhar. Contudo, aconselha-se a que as pessoas não apanhem nem destruam nunca cogumelos que não se destinem ao consumo. Eles integram o delicado equilíbrio dos ecossistemas e desempenham funções importantes como já vimos. Para além disso, se forem tóxicos e entrarem em contacto com os comestíveis que tivermos colhido, pode haver transferência de toxinas entre eles.Alguns cogumelos são mesmo mortais? Gabriela Santos — É verdade, alguns são

Abortiporus biennisMycena stipata

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 39

mesmo mortais por provocarem falência generalizada dos órgãos e hemorragias internas extensas. Não só provocam a morte como o fazem de uma forma extremamente dolorosa. Para algumas intoxicações, o único tratamento possível passa por transplantes, sobretudo hepáticos. Estes fungos servem só para desempenhar o papel ecológico referido e serem comidos? Gabriela Santos — A relação dos fungos com a medicina convencional ocidental começou nos anos 1920 quando o médico e microbiólogo Alexander Flemming se apercebeu acidentalmente das propriedades antibacterianas do fungo Penicillium notatum, dando origem à descoberta da molécula que mais tarde seria chamada de penicilina. Hoje sabe-se que alguns fungos, incluindo macrofungos, produzem substâncias citostáticas e são utilizados em tratamentos experimentais contra o cancro. Como contribuir para a conservação da natureza na vertente dos fungos?Gabriela Santos — As principais ameaças que os fungos, em geral, enfrentam são a poluição química e a perda dos habitats naturais. Logo, as iniciativas de conservação têm necessariamente de contemplar esses dois riscos. Do ponto de vista dos cidadãos há alguns cuidados que podemos ter quando passeamos pelos bosques no sentido de preservar a biodiversidade fúngica. Por exemplo, não colher nem destruir os cogumelos que não tenciona aproveitar, ou de espécies que não conhece: as espécies de macrofungos não comestíveis e tóxicas são igualmente importantes para os ecossistemas florestais; recolher apenas os cogumelos que

já tenham atingido a maturidade e libertado os seus esporos (com o chapéu já aberto); colher os cogumelos pela base, sempre que possível cortando-os pelo pé, tendo o cuidado de não danificar a vegetação nem o sistema radicular das árvores; nunca colher todos os cogumelos de uma dada espécie presentes em determinado local: os cogumelos que ficarem vão garantir a dispersão dos esporos, garantindo a sobrevivência da espécie; com um pequeno pincel, limpar bem os cogumelos no próprio local em que os recolheu: facilita a limpeza posterior, ajuda a mantê-los em bom estado durante o transporte e favorece a dispersão dos esporos para o substrato; para transportar cogumelos devem utilizar-se cestos de vime, palha, cana ou outro material, com uma estrutura rígida e orifícios que permitam o arejamento e a dispersão dos esporos dos cogumelos recolhidos; e nunca usar sacos ou recipientes de plástico. Como recurso natural, os cogumelos também se podem extinguir? Gabriela Santos — Essa é uma questão que tem levantado controvérsia porque, em primeiro lugar, não há conhecimento suficiente relativamente à abundância e distribuição geográfica dos fungos que permita tirar conclusões quanto aos estatutos de conservação e probabilidades de extinção das espécies. Por outro lado, é inequívoco o declínio que se tem registado nas frutificações (produção de cogumelos) para algumas espécies de macrofungos na Europa e que se devem às ameaças que referi acima. Mas o declínio no número de cogumelos não é necessariamente indicador da diminuição do

número de indivíduos viáveis (muitos fungos podem ficar durante anos em estado de dormência sexual, sem produzir cogumelos) embora em alguns casos as duas situações pareçam estar associadas. Enquanto alguns micólogos conservacionistas referem que muitas espécies estão na iminência de extinções generalizadas ou localizadas, há também quem defenda que os fungos não se podem extinguir por serem ubíquos (terem uma distribuição global ou quase) por causa das elevadas quantidades e modos de dispersão dos esporos produzidos. Quanto a mim, penso que a verdade deve estar algures no meio destas duas hipóteses extremas. Se é verdade que muitas espécies são cosmopolitas e estão presentes em quase todo o lado, há também fungos que têm requisitos de habitat muito específicos e que, se aquele habitat desaparecer, desaparecem com ele os fungos que dele dependem. Como investigadora nesta área que comentário deixa em relação ao presente Ano Internacional das Florestas?Gabriela Santos — As florestas mundiais enfrentam problemas gravíssimos que se traduzem na redução rápida e acentuada da área florestal mundial. A maior parte destes problemas relacionam-se com a expansão das áreas urbanas e suburbanas, alterações do uso do solo e extracção descontrolada de recursos florestais. Penso que a efeméride foi pensada pelas Nações Unidas para chamar a atenção para estas situações e, sobretudo, para promover a utilização sustentada da floresta. A questão é se, nos contextos nacionais e locais, serão dinamizadas iniciativas que a promovam de facto. A floresta é, sem dúvida, um espaço valioso de biodiversidade mas é também um espaço social, afectivo e económico. Só se todas estas valências forem equilibradas e compatibilizadas — o que, mais do que ser possível, é uma realidade em muitos pontos do planeta desde há milénios incontáveis — as florestas podem sobreviver e prosperar e nós, os seres humanos, com elas. O único obstáculo à conservação das florestas, dos seus recursos e dos serviços que prestam é de índole psicológica – a ganância e a necessidade de poder e controlo

de alguns (poucos) seres humanos.

Texto e fotos: Jorge Gomes

Stropharia aurantiaca

Mata-boisAmanita muscaria

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40 REPORTAGEM

40 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Gerês: um mundo à parte

E stá tudo branco. A pureza da neve domina a paisagem e o manto de cinzas do Estio passado esboroa-se entre

os serviços que os ecossistemas processam, indiferentes a todas as loucuras. Estamos em Castro Laboreiro, na Vila, e no segundo dia de Inverno manda ali o frio, depois de um nevão nocturno. A temperatura baixa não belisca todos. Um inacreditável parente do lobo, com apenas dois palmos, negro e afável, rebola na neve fofa, patas para o ar, numa autêntica festa. Atira um olhar amistoso e abana a cauda... Ponho o capuz. Está a nevar.Da alcateia que domina o planalto nem um uivo. Para se ser lobo perto do homem a discrição é como pão para a boca.A memória dos fojos de lobo, activos ainda no século passado, chega até hoje pela mão de evidentes vestígios. Se quiser visitar um, reabilitado como monumento e mais acessível, basta ir à aldeia de Fafi ão. A armadilha tinha dupla face. Os fojos de paredes consistiam numa batida que enfi ava

Portugal só tem um parque nacional, o estatuto máximo no universo

das áreas protegidas: para uns é o Gerês do lírio endémico, para outros

é o das alcateias, o da geologia, das paisagens e das gentes...

igual a si próprio fi ca o património natural que une três distritos no Parque

Nacional da Peneda-Gerês — Braga, Viana do Castelo e Vila Real

os lobos por um caminho ladeado de muros altos e convergentes, desembocando num fosso camufl ado, onde os carnívoros caíam. Outro era o fojo de cabrita, circular, onde uma cabra deixada no fosso rodeado por um muro de pedra atraía os lobos. Estes, depois de estarem com os dentes no isco, já não conseguiam sair dali. Nenhuma culpa cai solteira nas serranias. Quando o gado aparece morto é sempre ao lobo que se aponta o dedo, mesmo que o dano venha de cães assilvestrados.

Diante da praça e lá para cima estão as muralhas do castelo, polvilhadas de uma neve que as dilui na paisagem. No vento que sopra ainda se ouvem os ecos das mães revoltadas, ali encarceradas no século XVIII a mando de um conde de Bobadela, por se recusarem a entregar os fi lhos à guerra. A meio caminho das muralhas o granito ganhou vontade própria e leva a forma de uma tartaruga, mimética, que quer subir a encosta, mil metros acima do mar.

Castelo de Castro LaboreiroVale glaciar do troço superior do rio Homem Duarte Silva

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XXXXXXXX 41

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 41

Gerês: After the fi re Will the National Park of Peneda-Geres continue to be a great destination for Nature Tourism, after last summers’ season of forest fi res? Opinions are not unanimous, but Adere Peneda-Gerês, a private nonprofi t-making organization created in 1993, contradicts the already-accepted ideas and proposes to run Courses and offer Accommodation in the Park.

destaque para boa parte das bacias dos rios Cávado, Minho, Lima e Homem. A variedade climática – atlântica, continental, mediterrânica – que cobre esta área protegida e as variações de altitude criaram condições para que os habitats naturais se multiplicassem. Muitos deles são prioritários, segundo a directiva emanada da União Europeia. É o caso das turfeiras, por exemplo. No planalto da Mourela vimos uma, coberta de neve, com nome a condizer: Poço das Rãs. Em breve, após o degelo e bem conferidos os sinais da Primavera, as plantas na borda do espelho de água preparam-se para fl orir abraçadas aos fartos musgos do género Sphagnum.Espalham-se ali plantas insectívoras como as orvalhinhas (Drosera sp.), acompanhadas das favas-de-água (Menyanthes trifoliata) e das bolas-de-algodão (Eriophorum angustifolium). Envolventes, há os matos húmidos, com urzes (Erica ciliaris, Erica tetralix), e onde aparecem várias orquídeas-bravas do género Serapias ou a Dactylorhiza maculata, gencianas, as

Apesar de andarem hoje menos a esse ritmo, aqui há placas que esclarecem sobre que caminho tomar ora para as inverneiras ora para as brandas.

RelíquiasAo longo dos cerca de 70 mil hectares do parque nacional, aqui e ali surgem espécies reliquiais. Sobreviventes de um clima subtropical, há azereiros e louro. Por sua vez, da presença do frio glacial

fi caram como testemunho os bosques de vidoeiro, árvores de tronco branco, sem culpa da neve. Agora nus e avermelhados nas pontas, os ramos indicam o céu. Não são só as plantas que falam assim. No parque há vestígios de glaciares, segundo a evidência de alguns vales, de moreias, de rochas aborregadas, de blocos erráticos.Nesta região abunda a chuva que se refugia no solo da fl oresta. Não admira que nas serranias haja inúmeras cascatas e a área englobe uma densa rede hidrográfi ca, com

Castro Laboreiro: pasto próximo de uma das inverneiras, aldeias que se distribuem próximo do rio Laboreiro

Os elementos atmosféricos desenharam no granito uma tartarugaCastelo de Castro Laboreiro

Jorg

e G

omes

João L. Teixeira

João L. Teixeira

João L. Teixeira

João L. TeixeiraPlanalto da Mourela em pleno Inverno: turfeira de Poço das Rãs

Page 42: Flore Portugaise

42 REPORTAGEM

42 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

campainhas (Narcissus bulbocodium), ou até um feto, o Lycopodiella inundata.Entre os habitats mais sensíveis, as ameaças sentidas pelas turfeiras vêm do pastoreio, do pisoteio, da drenagem e do fogo.

Prados de limaDiferentes são os lameiros, criados pelo homem, com uma origem que se perde no tempo, quiçá entre os alvores da agricultura. Quando se passeia nas serras do parque nacional — Peneda, Soajo, Amarela, Gerês —junto das aldeias é inevitável deparar com estes também chamados prados de regadio.Acompanham-nos Vítor Sousa e Alda Mesquita, técnicos em serviço de educação ambiental. Diz Alda: «O homem teve de se adaptar a um território com declives e para esse efeito construiu quer socalcos quer prados de lima». Uns e outros, «especialmente os lameiros, evitam a erosão, resistem aos incêndios, são bolsas de biodiversidade». Como a água se distribui «de forma constante por canais de rega, no Verão

as ervas mantêm-se verdes e no Inverno consegue-se evitar o congelamento do solo que destruiria o pasto». Típicos do Norte português, apesar de não serem um habitat natural, o valor dos lameiros para a biodiversidade não é menor.À margem de qualquer regra, na região torna-se até fácil ver, ao amanhecer e ao entardecer, corços a mordiscarem nestes prados, como ocorre em Tourém.

Ao sabor da estação Para apreciar alguns aspectos do parque na época em que ali vá, nada melhor do que pedir opinião a quem sabe.Com vista a dinamizar o turismo de natureza e o desenvolvimento rural, os vários concelhos envolvidos e o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade criaram há 17 anos uma parceria, surgindo a partir daí a Adere-Peneda Gerês, uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve tarefa na região dos cinco municípios abrangidos pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês.

Além das numerosas propostas de alojamento dirigidas aos visitantes, estão a funcionar as chamadas portas de acesso a esta área protegida, cada uma com um centro de interpretação voltado para um ângulo específico: a de Lamas de Mouro centra-se no ordenamento do território; a do Mezio expõe aspectos da conservação da natureza e da biodiversidade; a porta de Lindoso liga-se à água e à geologia; a de Campo do Gerês agarra o tema história e civilizações; e a porta de Montalegre volta-se para a paisagem.Embora sem portão nem fechadura, como é óbvio, nestes locais encontra os dados que lhe permitem talhar a visita ao seu gosto.Há uma vasta rede de trilhos com percursos sinalizados que anda à volta de 300 km. Quem desejar, pode requisitar um PDA, caso queira conhecer a parte mais interior do parque. Estes dispositivos contêm dados que orientam o turista nos percursos não sinalizados. No fundo, revive-se os caminhos dos pastores.Mas atenção: aqui é fácil perder-se se vier armado em artista — na montanha o tempo facilmente muda. Mesmo com sol pode

No Cávado, próximo da aldeia do Outeiro, há habitat de toupeira-d’água Ao passear no parque nacional vai encontrar inúmeras aldeias

Lindoso: nesta eira comunitária, junto ao castelo, há mais de 30 espigueirosSubstituindo a eira uma varanda serve para a secagem do milho

João L. Teixeira

João L. TeixeiraJoão L. Teixeira

João L. Teixeira

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Rio C

astro

Labore

iro

Rio Homem

Rio Lima

Rio

Cabr

il

Albufeirade Salas

Albufeirado Alto Rabagão

Albufeirade Venda Nova

Albufeirade SalamondeAlbufeira

da Caniçada

Albufeirade Touvedo

Albufeirado Alto Lindoso

Albufeirado Alto Cávado

GALIZA

Portela do Homem

Arcos de Valdevez

Serra do Gerês

Serra do Soajo

Serra Amarela

Serr

a da

Pen

eda

Castro Laboreiro

Lovios

Cabril

Pitões das Júnias

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 43

CARTOON 43

SedeAvenida António Macedo4704-538 Braga Portugal

Tel.: 253 203 480Fax: 253 613 169E-mail: [email protected]

www.icnb.pt

Adere-Peneda-GerêsLargo da Misericórdia, nº 104980-613 Ponte da BarcaPortugal

Telef.: 258 452 250Fax: 258 452 450E-mail: [email protected]

www.adere-pg.pt

aparecer nevoeiro, cair neve. A experiência diz que «quem mais se perde são os que pensam saber mais sobre o local», sublinha Vítor, «os turistas que não dominam a região não se perdem».

GarranosApesar da neve abundante vêem-se cavalos castanhos nas vertentes ao longo da estrada. Não é missão para qualquer equídeo. Rústicos, aguentam sem soçobrar os invernos rigorosos destas serras altas.Será de supor que escavem a neve com os cascos e deitem o dente à variedade herbácea que faz o seu gosto.Mas ali há alcateia. Como se darão com os lobos? Vítor Sousa, engenheiro zootécnico, explica: «Quando faltam presas selvagens ao lobo, é natural que este procure animais mais acessíveis, como o gado doméstico». Entre esta paleta de soluções, «atacar uma vaca é mais difícil, os chifres podem ferir». O instinto dos garranos é claro: «Formam um círculo com as crias e as cabeças para dentro,

ficando os cascos para fora». Se os lobos se aproximam, «os cavalos dificilmente falham, têm uma boa visão periférica», e um coice bem apontado causa estrago.

TransnacionalO Parque Nacional da Peneda-Gerês abriga um carvalhal antigo, um dos ex-líbris desta área protegida — a mata de Albergaria — e integra o grupo dos Pan-Parks, uma certificação que retém a nata dos melhores parques de vida selvagem europeus. De mão dada com a sua continuidade no lado espanhol, o Parque Natural da Baixa-Limia Xurês, cobre em ambos cem mil hectares, formando o Parque Transfronteiriço Gerês-Xurês. Pelo seu valor, esta área protegida transnacional alcançou o estatuto de Reserva da Biosfera e encontra-se certificada pela Carta Europeia de Turismo Sustentável em Áreas Protegidas.

Texto: Jorge Gomes

Parque Nacional da Peneda-Gerês

Um bando de estorninhos pousa num prado de lima

Porta de Lamas de Mouro

João L. Teixeira

João L. Teixeira João L. TeixeiraGarranos: rústicos, aguentam sem soçobrar os invernos rigorosos

Page 44: Flore Portugaise

44 BLOCO DE NOTAS

Avifauna do Estuário do Cávado

O variado conjunto de habitats naturais e seminaturais envolventes ou integrados no estuário do Cávado é, nesta fase

do ano, a hospedaria e até a casa de um número considerável de diferentes espécies que, apesar de manterem exigências ecológicas distintas, apresentam, não raras vezes, plumagens muito semelhantes. Assim, e deslumbrados pela ocorrência de uma ímpar profusão de aves, os seus observadores encontram sérias difi culdades em registarem com rigor toda essa diversidade.Em oposição aos conspícuos pernas-verdes (Tringa nebularia), comuns nesta época na região e que reconhecemos sem grandes hesitações, os poucos bandos de tarambolas-douradas (Pluvialis apricaria) que aqui repousaram eram facilmente confundidos com os das tarambolas-cinzentas (Pluvialis squatarola) com que estamos mais familiarizados, sobretudo quando nos julgávamos atraiçoados por um qualquer capricho da luz solar. Experimentámos igualmente muitas difi culdades ao tentar assinalar a presença

das escassas cotovias-de-poupa (Galerida cristata) por entre o relevo ondulado das terras lavradas onde as gregárias lavercas (Alauda arvensis) se atropelavam às centenas. Muitas vezes associadas a estas, as petinhas-dos-prados (Anthus pratensis) ocorreram com tal abundância que só os mais atentos percebiam que pela orla do rio ainda pontuavam algumas petinhas-ribeirinhas (Anthus spinoletta). Ali ao lado, o alarme dado pelos piscos-de-peito-azul (Luscinia svecica), sempre empoleirados nos juncos, desviavam-nos a atenção para as suas vizinhas escrevedeiras-dos-caniços (Emberiza schoeniclus), cujas vestes invernantes se confundem com as das fêmeas das escrevedeiras-de-garganta-preta (Emberiza cirlus) distribuídas pelo pinhal próximo. E nesta ténue fronteira entre terra fi rme e as zonas inundáveis, onde a felosa-do-mato (Sylvia undata) se destacou pelo aspecto pitoresco da longa cauda, o bem notado aumento de outros silvídeos (toutinegras e felosas) baralhou quase irremediavelmente os nossos apontamentos de campo.No sentido inverso e com os primeiros cogumelos a emprestarem outros atributos

Caracterizado nestas

latitudes temperadas

pela passagem da grande

mole de aves em migração

pós-nupcial, seguida

pelo regresso em catadupa

das mensageiras do frio,

o Outono é encarado pelos

ornitólogos amadores

como o decisivo teste

à sua perícia na

identifi cação de espécies

mais próximas

na escala evolutiva

44 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Galeirão Cotovia-de-poupa Tarambola-dourada

Page 45: Flore Portugaise

BLOCO DE NOTAS 45

Avifauna do Estuário do Cávado

Mergulhões-de-pescoço-preto

cromáticos ao torpor sazonal, as quadrilhas de chapins-rabilongos (Aegithalos caudatus), também com as suas caudas invulgares, representavam as muitas espécies que, embora desenvolvam hábitos idênticos, se distinguem pela singularidade dos padrões e dos coloridos das suas penas. Foi, pois, sem grande esforço que entre os chapins-reais (Parus major) se salientaram os aqui tão raros quanto cintilantes chapins-azuis (Parus caeruleus). Igualmente pincelados pela genialidade pictórica da Natureza, os assediados pintassilgos (Carduelis carduelis) acabaram ofuscados pelo registo da passagem efémera dos dom-fafes (Pyrrhula pyrrhula). Responsável pelo alvoroço constante entre estes e outros fringilídeos, e na árdua tarefa de reivindicar o seu pequeno nicho no reino sobrelotado das rapinas, o gavião (Accipiter nisus) parece já ter decorado o traçado das margens e dos canais desenhados pelo Cávado antes de se entregar ao mar.E foi precisamente daqui que recebemos a ilustre visita das minúsculas gaivinas-pretas (Chlidonias niger), “achadas” a custo entre os bandos das suas primas

mais regulares (andorinhas-do-mar) e que nos remeteram para um olhar mais atento sobre as gaivotas perfi ladas nas línguas de areia numa disciplina quase militar. Nos tons resumidamente cinzentos destas, cada vez mais interrompidos pelo negro dos insaciáveis corvos-marinhos-de-faces-brancas (Phalacrocorax carbo), procuraram-se com maior acuidade alguns larídeos ocasionais e que há muito andavam arredados destas paragens. Tardaram as novidades, mas quando o frio se intensifi cou e a rotina desanimadora já se limitava à avaliação das idades dos imaturos de gaivota-de-patas-amarelas (Larus michahellis), de gaivota-de-asa-escura (Larus fuscus) e dos guinchos (Larus ridibundus), abrigaram-se neste estuário as primeiras raras gaivotas-pardas (Larus canus).Era tempo de outros palmípedes seguirem o exemplo na procura de locais de invernada seguros e deixar-nos ainda mais desconcertados. Com os bandos habituais de anatídeos (patos) a atingirem as largas centenas de casais, debatíamo-nos na difícil identifi cação de indivíduos com a

enigmática plumagem de eclipse, isolados dos seus pares e bem dissimulados entre as espécies dominantes. Neste intrigante jogo das escondidas foi possível descobrir uma piadeira (Anas penelope) e ainda “desmascarar” um pato-de-bico-vermelho (Netta rufi na) ao qual se veio juntar outro macho mas já com o típico traje luminoso. Entretanto, o encolher dos dias trouxe-nos três excêntricos mergansos-de-poupa (Mergus serrator) e um inesperado ganso-grande-de-testa-branca (Anser albifrons) que timidamente fez do prado juncal o seu secreto retiro. De igual modo recatado, um frango-d’água (Rallus aquaticus) apenas se permitiu a breves vislumbres entre a vegetação ribeirinha, enquanto os galeirões-comuns (Fulica atra) e os mergulhões-de-pescoço-preto (Podiceps nigricollis), bem mais indiscretos, se disseminaram por toda a zona húmida a anunciarem o fi m de ciclo com a chegada de um novo Inverno.

Texto e fotos: Jorge Silvawww.verdes-ecos.blogspot.com

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 45

Tarambola-dourada Gavião Perna-verde

Page 46: Flore Portugaise

46 REPORTAGEM

46 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Jantar lusitanoImagine que recuou a

um tempo antigo, muito

antes da epopeia dos

Descobrimentos, antes

até das rotas comerciais

da Idade Média:

está agora na Lusitânia,

na época que precedeu

a invasão romana

Embora para o que der e vier não possa contar com a ajuda do famoso Astérix, da Gália, dispõe do talento de alguém ainda mais valente: Viriato, dos Lusitanos. Que ementas seriam capazes de nutrir estes clãs que, nas palavras de Estrabão — historiador, geógrafo e fi lósofo grego — nem se governam nem se deixam governar?Torna-se imperioso recuar no tempo e excluir uma grande parte dos alimentos que hoje consumimos: batata, arroz, tomate, frango, vaca…À hora de jantar, o que é que poderia aparecer à mesa? Já que para comer toda a gente se apronta, com este pensamento aliava-se o útil ao agradável e estava lançada a estrutura para sessões anuais demonstrativas de educação ambiental, envolvendo neste dia 12 de Novembro, em Tomar, 220 pessoas. A diversidade das espécies nativas, o património natural genuinamente português fi caria evidenciado, sustentado por um argumento defendido por Jorge Paiva:

a espécie humana não depende só da diversidade das espécies, depende, sim, de uma elevada biodiversidade.

Vai uma bolota?Em cada mesa uma mistura a dois tons: castanhas e bolotas de azinheira, «são mais adocicadas». Habituado a vê-las na árvore ou caídas, ao comê-las pela primeira vez suponho que sejam duras. Com um dedo, como se fosse uma castanha, afasta-se a casca entreaberta pela ida ao forno e uma metade do tegumento solta-se. Na boca, ao trincá-la surge um sabor algo neutro a lembrar talvez avelãs. Descascam-se mais bolotas e castanhas,

na companhia de medronhos, cor vermelha acesa, viva. Fora desta enorme sala de jantar alguém diria pejorativamente que bolotas são para os porcos, mas neste contexto é evidente que esse lugar-comum ultrapassa o ridículo.Ao lado, sobre a toalha branca, pão de farinha de castanha-pilada (pão-do-monte) ou de farinha de bolota (pão-de-lande) às fatias... que bom aspecto. As palavras ditas por Jorge Paiva uma hora antes, no auditório da biblioteca municipal vizinha da Escola Secundária de Santa Maria do Olival, permaneciam no jantar. A conferência que destacou a relevância da biodiversidade foi essencial para enquadrar este jantar “lusitano”. Depois disso, também as espécies de plantas e de animais que constam da ementa foram já no vasto refeitório referenciadas. Agora é o momento de provar as entradas. Além do já referido, há aperitivos com castanhas e bolotas assadas, queijo de

A salada “Jorge Paiva” conta uma dúzia de plantas nativas portuguesas

A variedade dos alimentos sublinha a importância de uma elevada biodiversidade para o ser humano

Devem contar-se pelos dedos de uma mão os que não provaram um bocadinho de tudo

A actuação dos alunos abriu o apetite e deu ainda mais consistência ao tema

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 47

CalduloSopa de castanha-pilada.

ChícharosPlanta leguminosa (Lathyrs sativus) adaptada aos terrenos serranos, devido à resistência à seca e por não precisar de grandes cuidados no amanho.

Maçã bravo-de-esmolfeEsta variedade terá aparecido na aldeia de Esmolfe, em Penalva do Castelo.

Paparote de saramagos Sopa de puré de castanha-pilada com folhas de uma planta da família das crucíferas conhecida como Saramago (Raphanus raphanistrum).

Miniglossário

cabra, medronhos, pinhões, avelãs, mirtilos e murta, adornados pela excelência das fatias de presunto de porco-bísaro, crescido à base de castanha, e de porco-preto, alimentado a bolota. Dentes fracos os meus, nem por isso se queixaram — fi zeram uma festa. Água e cidra, esta resultante da fermentação de maçãs, foram as bebidas do momento.Chegam as sopas. Surge o caldulo ou paparote, sopa de castanha-pilada, consistente, adequada ao tempo frio. O sabor é o de uma boa sopa, normal, mas minutos depois um calor súbito. Quem é que ligou o aquecimento? Afi nal é problema de um só...Outros comensais preferiram o creme de chícharos com agriões em vez do paparote de saramagos.

Sabores diferentesChega a altura de ir à mesa povoar o prato. Pedaços de coelho, de lebre, de pato-real,

de veado, de javali, de porco-preto... sempre acompanhados de castanha ou bolota e faz-se uma paleta de sabores diferentes, com louvor a quem tem o condão de cozinhar assim, o próprio pessoal da Escola que deita mãos à obra só ao fi m do dia, depois de abastecer a cantina na lida diária. Sabido é que até os estudantes mais piscos têm de abastecer o corpo. Ora vamos provar uma salada única, a salada “Jorge Paiva”. Reabastecidas diversas vezes, as grandes taças esvaziavam, até que passado um tempo esgotou. Nela, conta-se uma dúzia de espécies de plantas nativas de Portugal, nomeadamente dente-de-leão, alface, beldroega, chicória, endívia, rúcula, valverde-do-sapal, gramata, salgadeira, “arthrocnemum” e gramata-branca, cenoura... O acompanhamento do prato principal incluía também puré de maçã, castanhas com cogumelos e salada de chícharos.Já não havia lugar no estômago para mais,

mesmo assim apareceu uma mão-cheia de apetitosas sobremesas: pudim de castanhas, castanhas e bolotas assadas, maçã bravo-de-esmolfe e requeijão com geleia de mirtilos. Ainda se está para descobrir se houve alguém que não tenha provado um bocadinho de tudo, mas o fantástico jantar não tinha terminado. Ali estava a medronheira e licores diversos, vinham a calhar, digestivos. O de amoras-silvestres, o de bolota, de castanha...

Sete contadosA ideia de fazer o Jantar Lusitano surgiu há pouco mais de sete anos. Jorge Paiva falou a Maria de Deus Monteiro, uma antiga aluna e actual professora da Escola. Com entusiasmo, aderiu também toda a gente da casa, desde a directora Maria Celeste de Sousa aos próprios alunos. Sendo certo que uma boa parte da matéria-prima deste jantar é tão específi ca que requer colheita de campo especializada, pela mão sábia de Jorge Paiva, o envolvimento de toda a Escola é evidente.As numerosas mesas são postas com a ajuda de um pelotão de alunos e também são estes que ajudam as cozinheiras a separar as folhas das plantas que compõem a salada. Findo o jantar, o salão polivalente tem de deixar a vertente de super-refeitório e regressar depressa à sua real função. É que no dia seguinte há aulas e esta Escola, de Tomar, tem de estar no seu melhor. Tudo para que nesta actividade anual, sujeita a inscrição prévia, sempre nesta cidade, se sublinhe sem sombra de dúvida o valor da elevada biodiversidade como ingrediente nuclear da sobrevivência da espécie humana.

Texto: Jorge GomesFotos: João L. Teixeira

Devem contar-se pelos dedos de uma mão os que não provaram um bocadinho de tudo

A actuação dos alunos abriu o apetite e deu ainda mais consistência ao tema

Lusitanian dinnerImagine that you stepped back into ancient times, long before the era of the great overseas discoveries, even before the Trade routes of the Middle Ages: you are now in Lusitania (Portugal), at a time that preceded the Roman invasion. What would appear at the table at the dinner table?

Chícharos

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48 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

48 PESQUISA

O regresso às origens da vida na TerraOs Açores têm

paisagens únicas,

apaixonantes. Mas,

como qualquer

arquipélago vulcânico,

escondem segredos

que muito interessam

aos investigadores

Viajamos até São Miguel e estacionamos na localidade das Furnas. O nosso objectivo era mais científico do que propriamente turístico. É que as furnas, as caldeiras, a água quente ou o borbulhar cinzento das nascentes de lama escondem segredos transformados numa verdadeira “máquina do tempo”.Dão-nos a conhecer os primeiros seres vivos a habitarem o planeta terra.Uma biodiversidade escondida que nasceu há 400 milhões de anos.É a fauna microbiana.Acompanha-nos neste regresso ao passado a bióloga Paula Aguiar, directora do Observatório Microbiano dos Açores. Ela estuda há vários anos os pequenos seres que evoluíram mas que pouco se modificaram desde os primeiros tempos em que apareceram no nosso planeta.

Paula Aguiar recolhe amostras em permanência. Um trabalho fundamental para ir percebendo aos poucos que tipos de seres começaram por viver… no planeta que todos nós hoje habitamos.Em alguns casos são microrganismos que vivem a temperaturas de 70 a 85 graus centígrados.Autênticos fósseis vivos que só se podem observar ao microscópio.Paula Aguiar dá um exemplo bem claro daquilo de que estamos a falar: “Às vezes esquecemos que eles existem, simplesmente porque não os vemos. Quando tenho de falar para turmas do primeiro ciclo, geralmente digo-lhes que são seres tão pequenos que se eles (os alunos) têm dificuldade em ver o seu fio de cabelo, imaginem algo 20 vezes mais fino, mais pequeno do que a espessura de um fio de cabelo”. Depois de recolhidas as amostras é no laboratório que se fazem as descobertas. Seres com pigmentos verdes são colónias de cianobactérias. O nome é complicado mas foram estes os primeiros seres vivos a produzirem oxigénio na terra. Algas douradas, que retiram o carbono da atmosfera, e ajudam assim a combater o aquecimento global.É impressionante pensar como é possível viver a tão altas temperaturas.Depois das observações ao microscópio estamos de regresso ao terreno. É que há muito mais história natural para perceber.Águas quentes ricas em enxofre, tapetes das chamadas cianobactérias.

Paula Aguiar explica: “São seres vivos que existem no planeta Terra há muito tempo. Alguns julgavam-se extintos mas é óbvio que esses seres vivos chegaram aos dias de hoje porque conseguiram evoluir. Há tipos de fósseis vivos nas nascentes termais por exemplo, um habitat em que terão ficado vestígios do que teria sido o planeta numa fase muito inicial dessa vida”. Há também fluxos viscosos, óleos flutuantes com pH ácido.Como vemos, aqui existe vida da mais primitiva, que foi evoluindo ao longo de milhares de anos para sobreviver até aos dias de hoje.Durante a nossa viagem por este cenário das Furnas, com muito fumo e cheiro a enxofre, paramos junto a um riacho carregado de filamentos cor-de-rosa.A bióloga Paula Aguiar explica: “São também fósseis vivos, todo o seu metabolismo é feito à base de hidrogénio e formaram então estas estruturas para maximizar essa obtenção de energia com a dos riachos quentes em que vivem. São estruturas com grandes quantidades de sílica e cálcio”.Esta fauna microbiana pode também ajudar a estudar outros fenómenos… outras interrogações… é que se há vida fora da Terra, dizem os investigadores que alguma… pode muito bem ser assim.

Texto: Luís Henrique Pereira, jornalista da RTPFotos: Marcos Prata

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 49

CARTOON 49

ACTUALIDADE

Uma bicicleta branca armada com apetrechos muito peculiares andou por Vila Nova de Gaia em Outubro e quem com ela deparou terá ficado no mínimo perplexo.Ao ver estas fotografias, tiradas perto de uma das entradas do Parque de Dunas da Aguda, ora diga-nos lá se faz favor se não lhe iria acontecer o mesmo? Afinal, a explicação é simples: a Google Maps andou a colher imagens para o Street View dos parques, nomeadamente do Parque Biológico de Gaia, do Parque de Dunas da Aguda, do Parque da Lavandeira, da Reserva Natural Local do Estuário do Douro e do Parque Botânico do Castelo...Embora o resultado final demore algum tempo a ficar ao seu serviço, caso queira experimentar o Google Maps com o Street View, deve ir a http://maps.google.com/help/maps/streetview.

Parques no Google

João L. Teixeira

Por Ernesto Brochado

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50 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

50 ACTUALIDADE

O Banco Mundial lançou um programa global para ajudar cada país a incluir os custos da destruição da natureza nas contas públicas. O programa foi anunciado durante a Convenção da ONU sobre diversidade biológica em Nagoya, no Japão, em 29 de Outubro. O presidente do banco, Robert Zoellick, disse em Outubro que a destruição ambiental acontece em parte porque os governos não contabilizam o valor da natureza.Dez nações participarão do projecto na fase-piloto – entre elas, Índia e Colômbia.“Sabemos que o bem-estar do homem depende de ecossistemas e biodiversidade”, disse Zoellick. “Também sabemos que eles estão a degradar-se de forma alarmante”.“Uma das causas é o nosso fracasso ao avaliar propriamente os ecossistemas e tudo o que fazem por nós. A solução, portanto, está em contabilizar os serviços oferecidos pelo ecossistema quando os países estabelecem as suas políticas”.O novo programa toma como base as conclusões do estudo “A economia dos ecossistemas e biodiversidade” e traz

consigo a proposta de ajudar governos a incorporar as revelações do estudo nas suas políticas.A principal conclusão da pesquisa, feita com o apoio da ONU, foi que a degradação do mundo natural está custando à economia global entre US$ 2 bilhões e US$ 5 bilhões por ano.O estudo também concluiu que o valor económico do mundo natural, em termos de sua provisão de água limpa, solo de boa qualidade, polinização e outros serviços é negligenciado pelos governos por ser “invisível”.“Esse relatório (...) ajudou a definir a importância da biodiversidade de uma nova maneira”, disse a secretária britânica do Meio Ambiente, Caroline Spelman.“O que ficou absolutamente claro é que precisamos de mudar a forma como atribuimos valor ao capital natural e serviços do ecossistema e integrá-los nos processos principais de tomada de decisões.”E as empresas? Opor-se-iam estas a esse tipo de contabilidade ambiental porque ela afectaria o seu balanço? Caroline diz que elas não farão objecções a partir do momento em que entendam as razões por detrás dela.

“As abelhas, por exemplo, valem cerca de 440 milhões de libras para a economia da Grã-Bretanha”, diz.“Quando se pensa em ter de substituir o que a natureza oferece, de graça, acho que não haveria reacções negativas”. Achim Steiner, director executivo do Programa Ambiental da ONU, acrescentou que uma análise recente mostrou que a perda de biodiversidade é vista como uma ameaça maior do que o terrorismo. A informação veio originalmente de um relatório do Fórum Económico Mundial, que indicou que as empresas viam 8% de probabilidade de que uma perda da biodiversidade as afectaria – principalmente por prejudicar a sua reputação – enquanto cerca de 4% viam o terrorismo internacional como uma ameaça.“Alguns negócios extraem vantagens da legislação pouco eficaz para fazer coisas que não poderão fazer no futuro”, disse Steiner. “Mas muitos negócios estão a procurar formas de minimizar os seus riscos.” Mais: http://correiodobrasil.com.br/banco-mundial-quer-calcular-custo-da-destruicao-ambiental/188530

Banco Mundial quer destruição ambiental traduzida em contas

Informar em contexto

Sob a batuta da Comissão Nacional da Unesco, em 23 de Outubro o Centro de Interpretação da Serra da Estrela, em Seia, acolheu uma formação dedicada a quem trabalha na imprensa, tudo para que os assuntos de natureza científica possam transitar com facilidade entre o mundo das palavras técnicas e o ouvido do homem da rua. Cerca de duas dezenas de profissionais da comunicação social ouviram conferências de diversos especialistas — Jorge Paiva, Domingos Rodrigues, Maria João Cruz, Iva Miranda Pires — sobre temas como as alterações climáticas, a biodiversidade ou as catástrofes naturais. Na manhã seguinte, domingo, teve lugar uma saída de campo ao Parque Natural da Serra da Estrela. Jo

rge

Gom

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 51

ACTUALIDADE 51

Lesmas fotossintéticasUma equipa de cientistas portugueses – Bruno Jesus, Gonçalo Calado, Patrícia Ventura – deu mais um passo no estudo das lesmas-do-mar fotossintéticas ao publicar no final do ano passado um artigo científico no «Journal of Experimental Marine Biology and Ecology».Durante muito tempo pensou-se que a capacidade fotossintética estava limitada às plantas, até se descobrir que algumas lesmas-do-mar também possuem essa faculdade através do “roubo” de cloroplastos das algas de que se alimentam, incorporandos-os nos seus tecidos, sendo esta uma alternativa para obter energia.A pergunta a que os cientistas pretenderam responder era esta: até que ponto este processo seria funcional? O que constataram foi surpreendente. Estudando a lesma-do-mar Elysia timida, concluíram que alguns destes gastrópodes

aproveitam melhor a luz solar do que as próprias algas. Isto é, devido a aproveitarem melhor o ciclo da xantofila, usando pigmentos para transferir electrões, e, aproveitando o facto de serem animais, para além de se deslocarem, podem enrolar partes do corpo,

ou torná-lo mais achatado, para controlar a absorção de luz.O Instituto Português de Malacologia está envolvido neste projecto. Mais: http://news.bbc.co.uk/earth/hi/earth_news/newsid_9026000/9026409.stm

Paisagem Protegida da Albufeira do AziboNa praia da Ribeira, com início às 8h30 de 12 de Março, Paulo Travassos dá início a uma sessão de observação de aves na Paisagem Protegida da Albufeira do Azibo, próximo de Macedo de Cavaleiros. Esta mesma área protegida acolheu em 15 de Janeiro a oficina “Ambiente com expressão”, orientada por Marco Ferraz.

Esta área protegida tem como objectivos a conservação da natureza e a valorização do seu património natural, como pressuposto de um desenvolvimento sustentável, bem como a promoção do repouso e do recreio ao ar livre em equilíbrio com os valores naturais salvaguardados.

Ocupando 3327,146 hectares, localiza-se na sua quase totalidade no concelho de Macedo de Cavaleiros, abrangendo as freguesias de Vale da Porca, Santa Combinha, Podence, Salselas, Vale de Prados e Quintela de Lampaças do concelho de Bragança.

Bruno Jesus

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52 MIGRAÇÕES

52 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

Uma viagem e pêras Entre as aves dos pauis,

os rouxinóis-pequenos-dos-caniços

são dos migradores que visitam

os caniçais portugueses todos os anos.

É assim graças à necessidade

de fazerem ali ninho

Rouxinol-pequeno-dos-caniços Acrocephalus scirpaceus (Hermann, 1804)

Andam longe os rouxinóis-pequenos-dos-caniços nestes dias frios.

Muitos deles batem asas em países para além do deserto do Sara, como a Guiné-Bissau, mas estão

todos de ouvido atento: o apelo do Norte agarra estas pequenas aves, a exemplo do que aconteceu

há um par de anos com o indivíduo que protagoniza a migração descrita no mapa ao lado.

Esta história surge como a ponta de um icebergue que se avista em 2 de Maio de 2009 num caniçal

no Sudeste de Inglaterra, quando investigadores do British Trust for Ornithology (BTO) capturaram

um destes rouxinóis.

No uropígio, leia-se dorso, foi-lhe aplicado um geolocalizador, um dispositivo que funciona

com uma bateria que lembra uma pequena moeda, como as que se usam nos comandos dos

automóveis, associada a um chip.

Com essa aplicação, na prática é como se levasse uma minimochila munida de sensor,

calendário e relógio, bem como a necessária memória que, na recaptura do ano seguinte,

tornou possível depositar num computador inúmeros dados sobre a sua viagem, da Grã-

Bretanha à África Central.

Não se trata de uma banalidade: esta seria entre todas as aves a mais pequena a ter sido

seguida alguma vez ao longo da sua fantástica viagem transariana.

No grupo de vinte indivíduos desta espécie esverdeada, típica das zonas húmidas, só esta

ave regressou no ano seguinte com o dispositivo a funcionar.

Com esta iniciativa, o BTO quer apurar dados que na prática através da anilhagem

científi ca de aves selvagens não seria possível.

Estima-se que nidifi quem em Portugal populações com um número superior a 2500

rouxinóis-pequenos-dos-caniços que ocupam caniçais de média ou de grande

extensão em zonas húmidas quando o tempo começa a aquecer. Mas é no fi m do

Verão que se vê no nosso país maior quantidade destas aves, quando passam em

migração vindas dos países do Norte.

O Dia Mundial das Zonas Húmidas comemora-se em 2 de Fevereiro

e os rouxinóis-dos-caniços, o pequeno e o grande, podem bem ser um ex-líbris:

este item de biodiversidade depende das áreas em que residem os ecossistemas

mais produtivos da Terra.

Texto: Jorge Gomes

e pêras e pêrasLondres

Gaia

Guiné-Bissau

O British Trust for Ornithology

está a conceber estudos que

localizem as «estações de

serviço» que estas aves

migradoras utilizam nas suas

viagens de milhares de

quilómetros.

Sem nutrição nas viagens perecem e será uma das razões por que se está a ver que essas migradoras são cada vez menos quando regressam em cada Primavera.Quanto às que chegam, que impacto pode ter essa carência alimentar no que toca à sua reprodução?

Os habitats da vida selvagem em África estão a mudar progressivamente. O aumento da agricultura intensiva ignora os locais de alimentação e repouso das aves migradoras. Quando por ali passam, de que dispõem para a sua sobrevivência?

The fl ight of the Reed-warblerAmong the birds of the reed beds, the Eurasian Reed Warbler is a migratory species that visits the Portuguese wetlands every year in search of the reeds where they nest and breed. It was possible to track one of these birds on its way between England and Guinea-Bissau.

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Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 53

• As fêmeas dos cucos, também eles aves migradoras, utilizam os ninhos de outras espécies como o rouxinol-pequeno-dos-caniços para porem os seus ovos. É por isso que quando uma cria de cuco aparece num destes ninhos no caniçal não se trata de uma extraordinária aberração genética, mas simplesmente de uma estratégia de sobrevivência pouco habitual.

• No século XVIII pensava-se que, por exemplo, as andorinhas hibernavam no fundo dos lagos. Apesar dos navegadores verem na época dos Descobrimentos andorinhas na costa africana e se tivesse então começado a perceber a migração das aves, só em 1891 é que um inglês, lord Percy, aplicou anilhas nas patas a 375 galinholas, conseguindo recapturar posteriormente 58.

• Hoje, concretamente nos EUA, até as libélulas estão a desvendar as suas deslocações através da aplicação de chips com o peso de apenas um grama e meio. Este processo assenta no funcionamento de um radiotransmissor suportado por uma bateria que dura cerca de dez dias.

No futuro, estes recursos serão bem mais férteis na

investigação, graças à nanoengenharia

electrónica.

Per

H. O

lsen

/Wik

iped

ia

Bibliografi a • «Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal», edição ICNB.• www.bto.org

Londres

Gaia

Guiné-Bissau

2 de Maio de 2009Aplicação do dispositivo num caniçal do Sul de Inglaterra.25 de Julho Os investigadores apuram que esta ave do caniçal inicia

a sua migração para África voando de noite.

Finais de Julho Atravessa a França, os Pirenéus e voa para sul pela parte leste da Península Ibérica.

Meados de Agosto Atravessa o mar Mediterrâneo no ponto em que este se faz mais curto.

Finais de Agosto

Passa lentamente

por Marrocos, descansa,

alimenta-se.

GaiaGaia

Curiosidades

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 53

Descobrimentos andorinhas na costa africana e se tivesse então começado a perceber a migração das aves, só em 1891 é que um inglês, lord Percy, aplicou anilhas nas patas a 375 galinholas, conseguindo recapturar posteriormente 58.

• Hoje, concretamente nos EUA, até as libélulas estão a desvendar as suas deslocações através da aplicação de chips com o peso de apenas um grama e meio. Este processo assenta no funcionamento de um radiotransmissor suportado por uma bateria que dura cerca de dez dias.

No futuro, estes recursos serão bem mais férteis na

investigação, graças à nanoengenharia

electrónica.

Bibliografi a• «Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal», edição ICNB.• www.bto.org

é-Bissau

Outubro Evita o cerne do deserto do Sara – vai pelo litoral para sul.

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54 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

54 BIBLIOTECA

É uma obra monumental, que descreve 659 espécies da flora portuguesa, das 2059 recolhidas (das mais de 3000 actualmente

conhecidas), impressa em Berlim, com 54 x 36 cm, 504 páginas de texto, 114 gravuras impressas pelo, então inovador, processo da calcografia e acabadas de colorir manualmente, e um mapa de Portugal (nunca publicado), que foi editada em 22 fascículos, entre 1809 e 1840. O original, com 150 desenhos, ficou destruído num bombardeamento aéreo que atingiu a biblioteca do Jardim Botânico de Berlim, na primeira noite de Março de 1943.Contar a história da Flore Portugaise obriga a contar as histórias dessa viagem, que deu origem, além da Flore, a três livros e vários artigos e contar, também, muitas outras histórias que com essa obra se entrecruzam e dão um interessante panorama de Portugal na viragem do séc. XVIII para o séc. XIX.

Contexto histórico (1792-1814)Em 10 de Fevereiro de 1792 o príncipe D. João assumiu o governo do reino de Portugal, uma vez que a rainha D. Maria I fora declarada mentalmente incapaz. O reinado de D. João decorreu numa época em que o mundo estava a mudar profundamente: a independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa, o Bloqueio Continental, a guerra de Portugal com a Espanha, as invasões francesas, a transferência da corte

portuguesa para o Brasil, e a independência do Brasil, haveriam de marcar a viragem do século.Foi neste contexto histórico que, no Outono de 1795, o conde Hoffmannsegg fez a sua primeira viagem a Portugal, na companhia de Wilhelm Gottfried Tilesius e que em Setembro de 1797 se aventuraria a vir de novo a Portugal, agora na companhia do Prof. Henrich Friedrich Link, atravessando por terra a França revolucionária. Entrariam em Portugal, por Elvas, a 11 de Fevereiro de 1798; Link ficaria até 1799 e Hoffmannsegg até Agosto de 1801.

Quem foi o conde HoffmannseggJohann Centurius Hoffmann nasceu a 23 de Agosto de 1766, em Dresden (Prússia, actual Alemanha), ficando órfão aos 14 anos; estudou em Leipzig e entrou, em 1783, para o Corpo da Guarda do rei da Saxónia, onde ficaria até ingressar, em 1786, na Universidade de Gottingen. A família adoptaria, a partir de 1778, o título de nobreza “Graf von Hoffmannsegg”, por nomeação do imperador Joseph II.Hoffmannsegg viveu até aos 28 anos no castelo barroco de Rammenau, na vila do mesmo nome, perto de Dresden, castelo que é, hoje, um museu, com um espaço dedicado a outro filho famoso de Rammenau, e contemporâneo de Hoffmannsegg, o grande filósofo Johann Gottlieb Fichte. Rico proprietário, “zeloso e activo patrono da

História Natural” (Link, 1802), Hoffmannsegg era um coleccionador, botânico, entomologista e ornitologista alemão, que fez longas viagens pela Hungria, Áustria, Itália e Portugal e promoveu outras, nomeadamente ao Brasil.Era uma pessoa simples. O sacerdote sueco Carl Israel Ruders que viveu em Portugal de 1798 a 1802, descreve-o do seguinte modo: “...um dos meus amigos mostrou-mo [o conde Hoffmannsegg], uma noite, na ópera, e teve a seu respeito, este curioso dito: “Que este homem,” disse ele, “é Sábio, vê-se claramente, mas que seja conde, é necessário dizê-lo” (Ruders, 2002).Como Hoffmannsegg reconhece no prefácio da Flore Portugaise, a seguinte frase de Lineu foi um estímulo à sua vinda a Portugal: “Depois dos Botânicos terem percorrido todas as partes da Europa só lhes falta examinar Portugal, país dos mais abundantes, que pode ser apelidado da Índia da Europa... Não haverá, então, uma pessoa... que possa dar ao Mundo literário uma Flora exacta desta região? Meu Deus! Que Obra desejável não fará, quem esquecerá uma tal Flora!”.Viria a morrer na terra que o viu nascer, em 13 de Dezembro de 1849 e está sepultado no Antigo Cemitério Católico de Dresden.

Quem foi o Prof. Link Johann Heinrich Friedrich Link nasceu a 2 de Fevereiro de 1767 na cidade de Poggenhagen (Alemanha). Em 1786 Link começou a estudar

A Flore Portugaise e a Viagem a Portugal de Hoffmannsegg e Link (1795 a 1801)

Passaram 200 anos sobre a edição da “Flore Portugaise ou

description de toutes lês plantes que croissent naturellement au Portugal”,

de Johann Centurius Graf von Hoffmannsegg (conde de Hoffmannsegg)

e Johann Heinrich Friedrich Link, resultado de uma “expedição”

feita por aqueles naturalistas, a Portugal, entre 1779 e 1801

Page 55: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 55

medicina em Gotingam, e tornou-se professor na Universidade de Rostock.Junto com o botânico Christoph Friedrich Otto deu ao Jardim Botânico de Berlim prestígio internacional, tornando-o o jardim científico com a maior variedade de espécies da Europa. Em 1818 Link criou as bases do Museu Botânico de Berlim. Quando os recursos públicos não eram suficientes para a realização dos seus projectos, Link usava os seus próprios recursos.No primeiro dia de Janeiro de 1851 Link faleceu em Berlim, em consequência de uma forte gripe, na presença das suas filhas.

A primeira viagem a Portugal (1795-1796)Em 1795 Hoffmannsegg convidou Wilhelm Gottfried Tilesius, um médico, explorador e naturalista alemão, conhecido pelo seu talento como ilustrador científico, a vir com ele a Portugal para elaborarem a tão desejada Flora. Chegaram a Lisboa no Outono de 1795, mas algo correu mal pois regressaram à Alemanha na Primavera de 1796. Mas dessa viagem em conjunto ficou uma admiração de Tilesius por Hoffmannsegg que se adivinha na dedicatória de uma suas mais famosas ilustrações oferecida a Hoffmannsegg: “Meu venerável patrono, Senhor Conde de Hoffmannsegg, como recordação e prova da minha alta consideração e gratidão do autor, ex-companheiro de viagem, WG Tilesius”.

A segunda viagem a Portugal (1797-1801)Em 1797 o Conde Hoffmannsegg regressaria a Portugal, dessa vez acompanhado por Johann Heinrich Friedrich Link. Partiram da Alemanha, em 18 de Agosto de 1797 a bordo de um navio que saiu de Hamburgo para Lisboa;

no entanto tiveram que fundear, devido ao mau tempo, e prosseguiram, em Setembro, por terra, para França e Espanha e Portugal, onde chegaram a 11 de Fevereiro de 1798, tendo entrado por Elvas.A partir de Lisboa fizeram diversas viagens nos seus arredores, nomeadamente a Queluz, à Serra de Sintra e Cabo da Roca e, em Abril de 1798, a Setúbal, Alcácer do Sal, Grândola e Serra da Arrábida. Em Maio de 1798, foram para o Norte através de Torres Vedras, Óbidos e Caldas da Rainha.Passaram por Coimbra, onde conheceram o Professor Félix de Avellar Brotero (“Dom Félix de Avelar Brotero, o professor de Botânica, ficou meu amigo” (Link, 1801). Regressaram a Lisboa em Agosto de 1798, devido ao forte calor e, na Primavera de 1799, atravessaram o Algarve, seguindo, no Verão desse ano, para Montejunto. Link embarca em 1799 para Falmouth,

atravessa a Inglaterra por Londres e Yarmouth, e regressa a Hamburgo. Em Dezembro de 1799, já sem a companhia de Link, Hoffmannsegg visita a Marinha Grande e o Buçaco; em Setembro de 1800 volta a Lisboa e em Agosto de 1801 regressa a Hamburgo, para iniciar a redacção da Flore.Os custos enormes desta expedição e da edição da Flore Portugaise foram totalmente suportados por Hoffmannsegg que para isso vendeu o seu castelo da Rammenau.

Viagem: o livro da segunda viagem a Portugal Contar a história da Flore Portugaise, obriga, também, a contar a de outro livro escrito por Link em 1801, a Viagem a Portugal, cujo conteúdo é resultado da viagem botânica

e, portanto, se torna indissociável do primeiro.Mas há algo de estranho na Viagem, o que próprio Link reconhece ao escrever, no prefácio “De um relato de viagem nunca se falou”; existe, de facto, alguma repetição em relação a este livro e ao prefácio da Flore Portugaise.O livro começa por ser publicado em Alemão (1801), no mesmo ano é traduzido para Inglês, depois para para Sueco (1802) e para Francês (1803); todas estas edições estão disponíveis na Biblioteca do Parque Biológico de Gaia. Duzentos anos depois é, finalmente, traduzido para Português pelo Prof. Fernando Clara e editado pela Biblioteca Nacional (2005).Em 1804 surge um terceiro volume em alemão, logo traduzido para francês no ano seguinte, escrito por Link, mas que descreve a parte da viagem a Portugal de Hoffmannsegg em que ele não participou.Estas obras são um retrato notável do Portugal do final de séc. XVIII; entre as imensas passagens extremamente mordazes, não resistimos a reproduzir

A Flore Portugaise e a Viagem a Portugal de Hoffmannsegg e Link (1795 a 1801)

Capa do 1.º fascículo da Flore Portugaise

O conde Hoffmannsegg, (Dresden, 1842, desenho

de Carl Christian Vogel von Vogelstein

(1788-1868)© Deutsche Fotothek - PBG

Johann Heinrich Friedrich Link (autor e data desconhecidos)

Page 56: Flore Portugaise

56 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

56 BIBLIOTECA

apreciação destas gravuras, “A nitidez do traço, a elegância da disposição, a fidelidade do colorido colocam esta iconografia entre as melhores da época” (Beau, 1957).Entretanto, em Portugal, Félix de Avelar Brotero, que tinha fugido em 1778, por causa das perseguições da Inquisição, regressa de Paris em 1790 e, no ano seguinte, é nomeado lente de botânica e agricultura da Universidade de Coimbra. É pressionado pelo governo português para publicar rapidamente uma flora. Em 5 de Dezembro de 1800, o ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho escreve a Brotero: “Finalmente o mesmo Augusto Senhor Manda recomendar a Vm.ce que cuide em publicar, ou em todo, ou em parte os seus trabalhos, e observações sobre as Plantas do Reino, e que não deixe roubar por Estrangeiros á Nação esta Gloria.” Desta pressão resultou a incompleta Flora Lusitanica, (Brotero, 1804), que identificava cerca de 1800 espécies.

O exemplar da Flore Portugaise do Parque BiológicoO Parque Biológico de Gaia adquiriu num alfarrabista da Califórnia um exemplar da Flore Portugaise; embora não tenha a totalidade das gravuras, nem o mapa referido na capa e no prefácio (e que nunca foi editado com a Flore), este raro exemplar

ficará em exposição ao público. Esta aquisição tem uma história que também vale a pena registar. Após a compra original foram adquiridas algumas gravuras em falta, que se encontraram à venda, avulsas, em antiquários e alfarrabistas de Nova Iorque, Holanda e Alemanha, tendo-se, assim, enriquecido o exemplar adquirido na Califórnia. Note-se que a Flore não foi publicada encadernada, mas sim em folhas soltas.Nessas buscas, conseguimos encontrar na Alemanha o filho de um alfarrabista já falecido que, após a queda do muro de Berlim (1989), adquiriu, na antiga Alemanha de Leste, 40 toneladas de “restos” da tipografia que fez a edição da Flore Portugaise, e que nos facultou algumas gravuras e folhas em falta no exemplar do Parque Biológico, bem como as sobrecapas dos primeiros 18 fascículos publicados.

A Flora LusitaneaeAlém da edição inacabada da Flore Portugaise, Hoffmannsegg e Link teriam planeado outra obra sobre Portugal, de maior fôlego, a Flora Lusitaneae. “No Verão de 1802”, escreve Link na Viagem, “tive o prazer de ver o senhor conde Hoffmannsegg em Rostock, onde dávamos os últimos retoques numa Flora Lusitanica....”. O que Link não acrescenta (nem o poderia prever) é que essa Flora Lusitanica, ou Flora Lusitaniae, como

Hoffmannsegg e Link encontram o rio Douro com aspecto idêntico a este, quando ali chegaram, pelo lado de Gaia, por volta do Dia do Corpo de Deus de 1798 (07/06/1798). “... o Porto surpreende pela sua localização sublime” (Link, 1801). Gravura de BATTY, 1829, colecção do Parque Biológico de Gaia. Quando Hoffmannsegg e Link estiveram no Porto e Gaia tiveram de atravessar o Douro de barco. Esta gravura já representa, ao fundo, a Ponte das Barcas, que viria a ser inaugurada apenas em 15/08/1806.

algumas, que mostram o espírito extremamente clarividente de Link.Logo à entrada em Portugal, por Elvas, Link avalia do seguinte modo os portugueses: “Os modos simples, polidos e alegres do povo mais humilde, chamam mais à atenção do estrangeiro, que em Espanha mas, logo que convivemos com as pessoas distintas, julgamos os Portugueses de maneira bem diferente.”A propósito da presença de muitos estrangeiros em Portugal, Link comenta: “Uma nação não pode ficar a dever a sua instrução senão a ela própria. Os estrangeiros podem-lhe servir de modelo, desde que não lhe demos preferência sobre os nacionais.”Sobre o terramoto que assolou Lisboa em 1755, diz-nos este autor que “Os padres atribuíam o colapso dos teatros à cólera de Deus, mas Pombal perguntou-lhes porque razão o tremor de terra havia respeitado o bairro das prostitutas.”Mais adiante escreve que, em pleno Carnaval de Lisboa, “Uma encantadora dama de condição despejou um bacio sobre mim, não me deixando qualquer consolo a não ser o de esperar que o bacio fosse o seu.” (na tradução de Fernando Clara, 2005).

A Flore PortugaiseA Flore Portugaise começaria a ser editada em 1 de Setembro de 1809 e terminaria, incompleta, em 1840; o Prof. Link morreria no ano seguinte e o conde de Hoffmannsegg nove anos depois.Esta obra foi oferecida à rainha da Prússia, a quem Hoffmannsegg fez uma extensa dedicatória, a que se segue um longo e interessante prefácio cuja tradução para Português se apresentará em breve.As belíssimas ilustrações da Flore Portugaise foram, em parte, feitas pelo próprio conde de Hoffmannsegg, durante a viagem a Portugal, perante plantas vivas e, também, por conhecidos pintores da época. Na comunicação “Sobre Iconografia da Flora Portuguesa”, Úrsula Beau faz a seguinte

Page 57: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 57

aparece escrito no prefácio latino, nunca viria a ser concluída nem editada.Em 1974 foi encontrado num arquivo alemão um manuscrito de Hoffmannsegg, em latim, que seria o prefácio dessa Flora Lusitaniae. Em breve apresentaremos, ao que julgamos saber pela primeira vez em versão portuguesa, o “prefácio” da malograda Flora Lusitaniae que, embora não tenha data, terá sido escrito depois de 1814, por dedução feita a partir da afirmação “Durante 8 anos houve uma guerra que incendiou quase toda a Europa e arrasou com qualquer empreendimento em curso”; Link refere-se, seguramente, às guerras de libertação contra Napoleão, que ocorreram de 1806 a 1814.

A questão do mapa de Portugal O mapa de Portugal, mencionado em subtítulo na capa da Flore Portugaise, e repetidamente referido no prefácio, nunca foi publicado com esta obra, pois dele não encontramos nenhuma referência, nem nenhum dos, poucos, exemplares existentes o inclui.No entanto, o mapa publicado por Link na Viagem, a que chamou o “...nosso mapa...” deve ser o que se destinava à Flore Portugaise.Ficamos sem saber porque razão Link publica o mapa sem esperar pela edição da Flore Portugaise. Parece que Link

assumiu posturas diferentes em 1801 e em 1805. De facto, é possível que Link tenha abandonado Portugal mais cedo que Hoffmannsegg, não por razões de serviço, mas por algum desentendimento. Ou será que a não publicação do mapa de Portugal, integrado na Flore Portugaise, se ficou a dever, simplesmente, ao facto da obra nunca ter sido concluída? Informa Link, na Viagem a Portugal que esse mapa “...foi em termos gerais copiado do novo mapa de Mannert...”, ou seja, do historiador e geógrafo alemão Konrad (ou Conrad) Mannert (1756-1834).

A cabra-brava do GerêsDe passagem pelo Gerês, Hoffmannsegg e Link viram e referenciaram, quer na Flore Portugaise, quer na Viagem a Portugal, a Cabra-brava que, já na altura, consideraram rara.Também no livro de Link “O mundo primitivo e a antiguidade explicados pelo estudo da Natureza” podemos ler “Registo uma pele [de Cabra-brava do Gerês] que está empalhada e conservada no Museu de Zoologia de Berlim.” Dessa pele que Hoffmannsegg comprou nas Caldas do Gerês e levou para Berlim, conservam-se ainda hoje restos do crânio, sendo um dos três únicos exemplares existentes no mundo, desta extinta espécie (os outros dois estão no Museu de Coimbra).

Nota finalNão parece restarem muitas dúvidas de que alguma coisa afectou as relacções de Link e Hoffmannsegg, entre 1799 e 1805, o que terá levado o primeiro a publicar sozinho o relato da viagem a Portugal e a antecipar a publicação do mapa presumivelmente destinado à Flore Portugaise.Talvez a projectada Flora Lusitaniae fosse o objectivo principal de Link, que terá considerado “apressada” a edição da Flore Portugaise. A diferença fundamental entre as duas obras é que a Flore Lusitaniae iria descrever 1628 espécies, enquanto a Flore Portugaise se quedou pelas 659; quanto às gravuras, seriam provavelmente as mesmas.Em 1805, Link escreve um terceiro volume da Viagem a Portugal relatando as expedições que Hoffmannsegg fez sozinho, em Portugal, após o regresso de Link à Alemanha; este livro é, talvez, o sinal do reinício da colaboração entre ambos, que culminaria quatro anos depois com o início da edição da Flore Portugaise.Sepultado no Antigo Cemitério Católico de Dresden, ao lado do compositor Franz Schubert, Johann Centurius von Hoffman, Conde de Hoffmannsegg, guarda consigo as respostas a todas estas questões.Deixou-nos uma das mais belas floras do Mundo.

Por Nuno Gomes Oliveira

Gravura 5 - Nepeta multibracteata, Népéta bractéolée, pintado por G. W. Voelker, gravado por F. W. Bollinger Data de publicação: 1/9/1809.Nome científico actual: Nepeta multibracteata Desf. Nome comum em português: Nêveda-ramosa. Ocorre em Portugal na zona centro e sul, na margem de carvalhais, azinhais, estevais, e em campos de cultivo.

Gravura 36 - Linaria spartea, Linaire Sparte, pintado por G. W. Voelker, gravado por P. Haas. Data de publicação: 1811Nome científico actual: Linaria spartea (L.) Willd., Nome comum em português: Avelino; Ansarina-dos-campos; Linária-do-esparto. Ocorre em Portugal de norte a sul em terrenos incultos e ruderais.

Portuguese Flora “Flore Portugaise ou description de toutes lês plantes que croissent naturellement au Portugal”, of Johann Centurius Graf von Hoffmannsegg and Johann Heinrich Friedrich Link, is the result of an expedition to Portugal between 1779 and 1801. It is a monumental achievement. This publication was printed in Berlin, and describes 659 species of Portuguese flora. The book is 54 x 36 cm in size and is composed of 504 pages of text, 114 printed engravings coloured by hand and a map of Portugal, (which was never published). The Publication was edited in 22 facsimiles between 1809 and 1840. The original edition, with 150 drawings, was destroyed in a bombing raid that struck the Library of the Botanical Garden of Berlin, on the first night of March 1943. These Naturalists have certainly left us one of the most beautiful records on flora in the world.

Page 58: Flore Portugaise

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O regulamento encontra-se disponível em www.parquebiologico.pt/sequestrodocarbono

Nome do Mecenas

Recibo emitido à ordem de

Junto se envia cheque para pagamento Procedeu-se à transferência para NIB 0033 0000 4536 7338 053 05

apoiando a aquisição de euros.

Para aderir a este projecto recorte o seguinte rectângulo e remeta para:

1 m2 = e 50 = menos 4 kg/ano de CO2

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N.º de Identificação Fiscal

O Parque Biológico pode divulgar o nosso contributo Sim Não

58 SEQUESTRO DE CARBONO

Agrupamento de Escolas Ovar Sul - Curso EFA B3Alice Branco e Manuel SilvaAmigos do Zé d’AdéliaAna Filipa Afonso MiraAna Luis Alves SousaAna Luis e Pedro Miguel Teixeira MoraisAna Miguel Padilha de Oliveira MartinsAna Rita Alves SousaAna Rita Campos, Fátima Bateiro, Daniel Dias, João Tavares e Cláudia Neves - 11.º A (2009/10) Escola Secundária de Oliveira do DouroAna Sofia Magalhães RochaAna Teresa, José Pedro e Hugo Manuel SousaAntónio Miguel da Silva SantosArnaldo José Reis Pinto NunesArtur Mário Pereira LemosBárbara Sofia e Duarte Manuel Carvalho PereiraBernadete SilveiraCarolina de Oliveira Figueiredo MartinsCarolina Sarobe MachadoCaroline BirchCatarina ParenteColaboradores da Costa & GarciaCónego Dr. Francisco C. ZangerConvidados do Casamento de Joana Pinto e Pedro RamosCursos EFA Básicos (2009/10) da Escola Secundária Dr Joaquim Gomes Ferreira AlvesDeolinda da Silva Fernandes RodriguesDepartamento Administrativo Financeiro da Optimus Comunicações, SA - DAF DAY 2010Departamento de Ciências Sociais e Humanas da Escola Secundária de ErmesindeDepartamento de Matemática e Ciências Experimentais (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do DouroDinah FerreiraDinis NicolaEduarda e Delfim BritoEduarda Silva GirotoEscola Básica da Formigosa

Escola EB 2,3 de ValadaresEscola EB 2,3 Dr. Manuel Pinto Vasconcelos - Pegada Rodoviária Segura - Ambiente e InovaçãoEscola Secundária Almeida Garrett - Projecto Europeu - Aprender a Viver de Forma SustentávelFamília Carvalho AraújoFamília LourençoFernando RibeiroFrancisco Gonçalves FernandesFrancisco SaraivaFrancisco Soares MagalhãesGraça Cardoso e Pedro CardosoGrupo ARES - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária dos CarvalhosGrupo Ciência e Saúde no Sec. XXI - Turma 12.º B (2009/10) da Escola Secundária Dr. Joaquim Gomes Ferreira AlvesHélder, Ângela e João Manuel CardosoInês, Ricardo e Galileu PadilhaJoana Fernandes da SilvaJoana GarciaJoão Guilherme StüveJoaquim Pombal e Marisa AlvesJorge e Dina FelícioJosé Afonso e Luís António Pinto PereiraJosé António da Silva CardosoJosé António Teixeira GomesJosé Carlos Correia PresasJosé Carlos LoureiroJosé da Rocha AlvesJosé, Fátima e Helena MartinsLina Sousa, Lucília Sousa e Fernanda GonçalvesLuana e Solange CruzManuel MesquitaMaria Adriana Macedo PinhalMaria Carlos de Moura Oliveira, Carlos Jaime Quinta Lopes e Alexandre Oliveira LopesMaria de Araújo Correia de Morais SaraivaMaria Guilhermina G. Maia da Costa, Rosa Dionísio Guedes da Costa e Manuel da Costa Dionísio

Maria Helena Santos Silva e Eduardo SilvaMaria Joaquina Moura de OliveiraMaria Manuela Esteves Martins AlvesMaria Violante Paulinos Rosmaninho PomboMariana Diales da RochaMário GarciaMário Leal e Tiago LealMarisa Soares e Pedro RochaMiguel ParenteMiguel, Cláudia e André BarbosaNuno TopaPaula FalcãoPedro Manuel Lima RamosPedro Miguel Santos e Paula SousaProfessores e Funcionários (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do DouroRegina Oliveira e Abel OliveiraRicardo ParenteRita NicolaSara PereiraSara Regueiras, Diana Dias, Ana Filipa S. Ramos - 11.º A (2009/10) Escola Secundária de Oliveira do DouroSerafim Armando Rodrigues de OliveiraSérgio Fernando FangueiroTiago José Magalhães RochaTurma A do 8.º ano (2008/09) da Escola EB 2, 3 de ArgoncilheTurma A do 9.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do DouroTurma A e C do 10.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do DouroTurma B e C do 12.º ano - Psicologia B (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do DouroTurma B e D do 11.º ano (2009/10) da Escola Secundária de Oliveira do Douro Turma E do 10.º ano (2008/09) da Escola Secundária de ErmesindeTurma IMSI do Curso EFA (2008/09) ISLA GaiaVânia Rocha

Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confiarem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

Parque Biológico de Gaia • Projecto Sequestro do Carbono • 4430 681 Avintes • V. N. Gaia

Page 59: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 59

Para mais informações pode contactar pelo n.º (+351) 227 878 120 ou em [email protected]

Parque Biológico de GaiaProjecto Sequestro do Carbono

4430-681 Avintes • Vila Nova de Gaia

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Ajude a neutralizar os efeitos das emissões de CO2, adquirindo área de fl oresta em Vila Nova de Gaia com a garantia dada pelo Município de a manter e conservar e de haver em cada parcela

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Cada dia que passa há mais empresas e cidadãos a confi arem ao Parque Biológico de Gaia o sequestro de carbono

Page 60: Flore Portugaise

60 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

60 ARQUIVO

A biodiversidade traduz-se na variedade e variabilidade de formas de vida e dos processos que as relacionam, incluindo

todos os organismos vivos. Neste âmbito, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo associou-se a esta comemoração apresentando alguns documentos, a partir do seu sítio web, disponível em http://antt.dgarq.gov.pt/exposicoes-virtuais/biodiversidadeDe entre os preciosos códices medievais existentes no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, e em conexão com o tema aqui abordado, saliente-se o designado “Livro das Aves”, com a descrição arquivística e as imagens disponíveis integralmente a partir de http://digitarq.dgarq.gov.pt/default.aspx?page=regShow&searchMode=as&ID=4381076Este códice, escrito em latim dos finais do século XII (1184), em letra gótica, sobre pergaminho, iluminado, tem 91 folhas, mede 210 x 137 mm, e pertenceu ao antigo mosteiro de Lorvão, localizado nas imediações de Coimbra.A propósito deste códice vale a pena referir que não se trata de um texto científico ou tratado de ornitologia, daí que talvez acompanhando Mário Martins1 o título

Biodiversidade na Torre do TomboA Assembleia Geral das Nações Unidas declarou 2010

Ano Internacional da Biodiversidade com o objectivo

de se poder reduzir significativamente

a taxa da perda de diversidade biológica

(1) MARTINS, Mário – O Livro das Aves. Brotéria (Lisboa), LXXVII (nº 5), 1963.

(2) MIRANDA, Adelaide, et al. – À descoberta da cor na iluminura medieval com o Apocalipse de Lorvão e o Livro das Aves. Projecto financiado pela FCT-MCTES.

(3) CRESPO, Firmino; FRADE, Fernando – Anotações e comentários sobre o Livro das Aves. Lisboa, Geographica, nº 9, 1967.

atribuído mais correcto seria “Tratado Sobrenatural das Aves”.O “Livro das Aves” foi executado no scriptorium do mosteiro de Lorvão em 1184 e tem como matriz o De bestiis et alliis rebus, escrito por Hugo de Folieto, entre 1130 – 1140, dedicado a Rainerus. “De edificação espiritual, usa as aves em alegorias morais para servirem de exemplo a monges e cónegos”.2

Nos comentários ornitológicos feitos por Firmino Crespo e Fernando Frade3 são

referidas as seguintes 27 espécies: Pomba (Columba); Açor ou falcão (Accipiter); Abutre (Vultur); rola (Turtur); Pardal (Passer); Pelicano (Pelicanus); Nicticorax; Corvo (Corvus); Galo (Gallus); Avestruz (Structio); Grou (Grus); Milhafre (Milvus); Andorinha (Hirundino); Cegonha (Ciconia); Melro (Merula); Bufo ou Mocho (Bubo); Gaio (Graculus); Ganso (Anser); Garça (Ardea); Calhandra (Calandria); Fénix (Phoenix); Perdiz (Perdix); Codorniz (Coturnix); Poupa (Huppupa); Cisne (Cygnus); Pavão (Pavo); Águia (Aquila).

Page 61: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 61

COLECTIVISMO 61

Abutre e andorinha. Portugal, Torre do Tombo, Livro das Aves. 1184. Ordem de Cister, Mosteiro de Lorvão, códice 5.

Três cisnes. Portugal, Torre do Tombo, Ministério do Reino, Colecção de plantas, mapas e outros documentos iconográficos, n.º 74

Núcleo Português de Estudo

e Protecção da Vida Selvagem

Parque Biológico de Gaia

4430 - 757 Avintes

Tel. + Fax: 227 878 120

[email protected]

www.vidaselvagem.pt

Apesar do silêncio, o projecto de refundação do NPEPVS (Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem), lançado em 2008, não tem estado parado. O compasso de espera prende-se com a procura de uma sede social própria, que permita o funcionamento independente da associação, o que não é fácil de conseguir dada a escassez de recursos.Em breve, dando cumprimento ao já aprovado em anterior assembleia geral, a Associação dos Amigos do Parque Biológico será integrada no NPEPVS, uma vez que foi esta associação que criou o Parque Biológico, em 1983.

Durante Fevereiro ou Março irá decorrer uma assembleia geral que vai, finalmente, dar o passo decisivo neste processo de relançamento da associação e de redefinição de objectivos, no ano em que a associação completa 36 anos de existência.

Por Nuno Gomes Oliveira

Está em curso uma campanha a favor da biodiversidade que aponta o elevado valor ecológico dos charcos. Jael Palhas, investigador do Cibio da Universidade do Porto, apresentou o projecto na tarde de 8 de Janeiro no Parque Biológico de Gaia: «Com frequência ignorados pela população em geral, os charcos desempenham funções ambientais importantes», disse. Alguns países do Norte da Europa calculam que metade dos charcos outrora existentes já desapareceu por força de actividades humanas e representam «30% de toda a água doce da Terra».

Segundo vários estudos, «os charcos albergam mais biodiversidade do que os rios e lagos», bem como «um maior número de espécies raras e ameaçadas». Adiantou Jael que «muitas plantas aquáticas e animais estão totalmente dependentes destes habitats para sobreviver», e não só, «a um nível microscópico, inúmeras espécies de plâncton ocorrem apenas nos charcos».Fora isso, «os charcos recolhem e armazenam largas quantidades de dióxido de carbono da atmosfera e ajudam a regular o clima». A campanha charcos com vida destina-se a qualquer pessoa e tem site: www.charcoscomvida.org.

Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem

Charcos com vida

Por Silvestre Lacerda, Director-geral do Arquivo Nacional da Torre do Tombo

Jorg

e G

omes

Page 62: Flore Portugaise

62 • Parques e Vida Selvagem Inverno 2011

62 COLECTIVISMO

Tagis – Centro de Conservação das Borboletas de PortugalMuseu Nacional de História NaturalRua da Escola Politécnica, 58 • 1250-102 LisboaTel. + Fax: 213 965 [email protected] • www.tagis.org

SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das AvesAvenida da Liberdade, n.º 105 - 2.º - esq.1250 - 140 LisboaTel.: 21 322 0430 / Fax: 21 322 04 [email protected] • www.spea.pt

Ao fim de mais de dois anos de preparação, o projecto da Rede Nacional de Estações da Biodiversidade da responsabilidade do Tagis - Centro de Conservação das Borboletas de Portugal e do Museu Nacional de História Natural vai entrar na fase final de implementação das estações no terreno. Actualmente apenas foi inaugurada a Estação da Biodiversidade do Parque Biológico de Vinhais, onde os visitantes irão encontrar uma série de painéis de informação colocados em pontos estratégicos do parque, que os vão ajudar a identificar e conhecer melhor diversas espécies características, com destaque para libélulas, borboletas e plantas. Do trabalho de campo realizado para a elaboração dos conteúdos dos painéis, bem como da amostragem mensal das borboletas diurnas, foi criado um banco de imagens (com mais de 14000 fotos), uma colecção de insectos e um herbário. De acordo com o inventário da biodiversidade já efectuado é possível observar, na rede de estações da biodiversidade, pelo menos 967 espécies (554 plantas, 363 insectos e 50 espécies pertencentes a outros grupos taxonómicos). Neste ano contamos com a criação de 32 novas estações de norte a sul do país,

estando a maioria delas localizada na rede Natura 2000 (ver mapa). Com o apoio do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA grants), através do Fundo ONG-Compone Ambiente, estão asseguradas as inaugurações das seguintes estações: Carrazedo (Bragança), Campo Benfeito (Castro Daire), Vale do Bestança (Cinfães), Fóios (Sabugal), Souto da Casa (Fundão), Vale de Póios (Pombal), Monte Barata (Castelo Branco), Vale Gonçalinho (Castro Verde), Parque Natureza Noudar (Barrancos), Benafátima (Silves) e Barranco do Velho (Loulé). Da responsabilidade dos municípios aderentes ao projecto, está igualmente confirmada a criação das estações de Santa Combinha (Macedo de Cavaleiros), Dornes (Ferreira do Zêzere), Herdade de Cadouços e Mouriscas (Abrantes), Montejunto (Cadaval), Fluviário (Mora), Tôr (Loulé) e Ribeira de Alportel (São Brás de Alportel). Para saber mais sobre a biodiversidade das estações, assim como para notícias e outras informações úteis, pode consultar os websites www.biodiversity4all.org e http://bioeventos2010.ul.pt. Por Patrícia Garcia-Pereira

2011: Ano das Estações da Biodiversidade

A BirdLife International, da qual SPEA é o representante em Portugal, publicou um mapa que apresenta a localização e o estatuto de protecção de mais de 10 mil locais importantes para as aves e para a biodiversidade em todo o mundo. O mapa foi apresentado em Outubro na reunião COP-10 da Convenção sobre Diversidade Biológica, em Nagoya, no Japão, e mostra a rede global de Áreas Importantes para as Aves (IBA). As IBA são reconhecidas mundialmente como uma ferramenta prática para a conservação da natureza, permitindo optimizar acções de conservação. Com a publicação deste novo mapa mundial, a BirdLife expõe lacunas na rede mundial de áreas protegidas. Apenas 59% dos sítios são mostrados em verde-escuro, indicando que eles são total ou parcialmente protegidos, os restantes sítios são mostrados em verde-claro,

indicando que não têm qualquer estatuto de protecção. Isto é relevante para o programa de trabalho sobre Áreas Protegidas da Convenção para a Diversidade Biológica, em que cada país se comprometeu a analisar as lacunas da sua rede de áreas protegidas. Apesar dos progressos recentes, a actualização do estatuto de protecção das IBA em todo o mundo mostra que apenas 26% destas estão legalmente protegidas.As IBA são, na maior parte dos casos, identificadas e documentadas pelos parceiros nacionais da BirdLife. No caso de Portugal, a SPEA identificou 110 IBA, 93 delas terrestres (54 no Continente, 31 nos Açores e 8 na Madeira) e, num esforço pioneiro a nível mundial, 17 IBA marinhas (11 nos Açores, 4 na ZEE do Continente e 2 na Madeira). No total, as IBA terrestres representam 16% do território nacional, enquanto as marinhas representam apenas

0.8% do total da Zona Económica Exclusiva (ZEE) Portuguesa.É necessário que os políticos europeus que estiveram presentes na reunião de Nagoya dêem um passo à frente e concordem em investir os fundos necessários para que estas áreas sejam protegidas legalmente e monitorizadas regularmente, só assim será possível travar a actual perda da Biodiversidade Mundial.Veja o mapa: www.birdlife.org/community/2010/10/the-worlds-key-sites-for-conservation-on-one-map. Autoria: Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e Birdlife International

Áreas importantes para as aves num único mapa

Page 63: Flore Portugaise

Parques e Vida Selvagem Inverno 2011 • 63

É relevante para a Conservação da Natureza um turismo de natureza,

não só para a dar a conhecer, como também para educar e demonstrar

que sem a Natureza a Humanidade não sobreviverá

A biodiversidade e o turismo de natureza

CRÓNICA 63

Por Jorge Paiva

Biólogo, Centro de Ecologia Funcional

da Universidade de Coimbra

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Porém, esse turismo tem de ter regras muito específicas e duras, para não se destruir a Natureza, como está a acontecer

em algumas Reservas do Globo, que até são Património Mundial. Normalmente, às empresas turísticas interessa o maior lucro possível e esquecem-se que não podem destruir o “filão da mina de ouro”, neste caso a Natureza, que exploram e de que dependem.É o que está a acontecer, por exemplo, nas Reservas do Serengeti (Quénia e Tanzânia), onde os guias turísticos, para conseguirem gorjetas chorudas de turistas pouco escrupulosos, aproximam demasiadamente as viaturas dos animais em acção predatória (particularmente leões e chitas), acabando por afugentar as presas, tendo como resultado a magreza escanzelada desses predadores, podendo provocar-lhes a morte à fome ou por doença resultante da debilidade física em que se encontram. Algumas organizações não governamentais (ONGs) e até instituições pertencentes à ONU, alertaram os governos daqueles países para o que ali se estava a passar e que era urgente tomarem-se medidas. Infelizmente, pouco ou nada foi feito, pois já ali estivemos depois desses alertas e constatamos que continua tudo praticamente na mesma. Como é sabido, encontramo-nos numa sociedade mercantilista sem escrúpulos, controlada

pelo poder financeiro (não pelo poder político, como é exemplo a crise económica actual) e grande parte das pessoas não olha a meios para atingir os seus fins. A sociedade actual é dominada pelas grandes multinacionais, que absorvem tudo o que é lucrativo e que sabem ser de necessidade individual obrigatória. São disso exemplo, as multinacionais produtoras de alimentos (todos, sem excepção, temos de comer para sobreviver), de medicamentos (todos, sem excepção, temos de os tomar) e, até as que designo por multinacionais da “morte”, que descobriram que os funerais e os velórios têm de ser pagos (todos, sem excepção, vamos morrer). Já temos em Portugal uma dessas multinacionais, que tem vindo a comprar pequenas Agências Funerárias o que vai provocar o encerramento das outras pequenas agências funerárias, como aconteceu com as pequenas mercearias que foram à falência com a implantação dos supermercados por todo o lado. Uma dessas multinacionais da “morte” até já instalou cafetarias nos seus pavilhões “velórios”, para, assim, ajudar a passar o tempo com um cafezinho e ganhar mais um dinheirinho. Tudo isto foi já noticiado na Imprensa, como se pode constatar na página 14 do “Diário de Notícias” de 03.05.2010: Nos centros funerários da Servilusa já existem cafetarias. “Desde o ano passado servimos também sopa. Em casos pontuais – meia dúzia por mês – pedem-nos

mais conforto”, diz Paulo Carreira. As multinacionais do turismo não são, portanto, excepção e também controlam o turismo da natureza. E, como a maioria das pessoas não faz a mínima ideia que somos extraordinariamente dependentes da Biodiversidade Global, não lhes passa pela cabeça que o que está a acontecer a esses animais pode prejudicar a sobrevivência da nossa espécie. Isto tudo tem como resultado um turismo extraordinariamente prejudicial para a Natureza e para a sobrevivência da Humanidade.É, também, o que está a acontecer na zona da Torre (Serra da Estrela), cuja pressão turística e imobiliária está a destruir os ecossistemas de tal modo que, daqui a uns anos, até pode ficar sem qualquer panorâmica natural de lazer. Por exemplo, quando neva, há um enorme afluxo de turistas para a prática de ski e, também do que designo por “scu”, com sacos de plástico. Como a quase totalidade das pessoas que ali ocorre não tem a mínima educação ambiental e também porque as empresas turísticas que ali operam não se consideram responsáveis pelo lixo que os turistas ali deixam (os plásticos que utilizam para “scuar”, assim como as fraldas descartáveis e recipientes vazios das bebidas que utilizam e que, na maioria das vezes, atiram fora pelas janelas dos automóveis), depois da neve desaparecer, essa zona mais parece um

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aterro sanitário do que um extraordinário conjunto de ecossistemas de elevada e raríssima Biodiversidade (há espécies, que em todo o Globo, só ocorrem ali, como, por exemplo, a Festuca henriquesii, uma erva que o gado não gosta muito por ser rígida, escábrida e, portanto, áspera, devido a incrustações epidérmicas de sílica). Muitos desses plásticos são levados dali pelo vento forte que ali sopra, para grandes distâncias, e pelas linhas de água das bacias hidrográficas do Zêzere e Mondego, atulhando-as de lixo e plásticos, podendo inquinar reservatórios de águas de distribuição urbana (até de Lisboa, que recebe águas do Zêzere). Em Julho deste ano, apanhamos plásticos utilizados para “scuar” nas linhas de água que desaguam na Lagoa do Paixão. Assim, só numa acção de limpeza levada a efeito pelo Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), com o auxílio de voluntários, no início do último Verão (2010), recolheram cerca de uma tonelada desse tipo de lixo deixado ali por turistas sem escrúpulos.Outro exemplo de destruição pelo turismo desenfreado e sem regras, é o que aconteceu no Algarve com a orla litoral verde de pinhal (pinheiro-manso), com 5-10 km de largura (como ainda se pode ver na Reserva Natural da Mata dos Medos, entre a Fonte da Telha e as praias da Costa da Caparica) e que foi praticamente destruída pela densa construção de empreendimentos turísticos (restam alguns desses pinheiros nos jardins e nos campos de golfe). Na década de 70 (1970-1979), fiz, muitas vezes, a minha corridinha matinal de Loulé à Quarteira (cerca de 12 Km), sempre ao longo de uma

mata de pinheiro-manso que ali existia e que agora já lá não está (há resquícios dessa mata; raros pinheiros dispersos entre o casario). Actualmente, a indústria turística algarvia, que destruiu o “filão verde da mina de ouro”, queixa-se com a diminuição de turistas estrangeiros, porque estes, sem a paisagem verde, preferem as Canárias ou até Cabo Verde, pois aí há praticamente sempre Sol e é mais barato. O turista estrangeiro procurava o Algarve não apenas pelo Sol e temperaturas agradáveis, mas também pelo verde que essas matas de pinheiro-manso conferiam à paisagem.Este tipo de turismo balnear e, simultaneamente, de natureza, é dos menos escrupulosos que conheço. Basta ver o que fizeram nas ilhas atol do Pacífico e do Índico. Quando estive nas Maldivas, fiquei estarrecido ao ver “maisons” construídas sobre a areia coralígena e outras sobre o mar, com a estacaria assente no coral (“maisons” em palafita, como as designo). Ora esse arquipélago de 1200 ilhas (200 habitadas), agrupadas em 26 atóis, tem como altitude máxima 2,3 m, estando algumas ilhas quase ao nível do mar. Em 2004 um tsunami submergiu e fez desaparecer algumas delas. Também, com a subida do nível médio das águas oceânicas, devido ao aquecimento global, algumas destas ilhas já desapareceram. Quando estive na capital deste país (Malé), visitei um bairro onde estava alojada a população de algumas dessas ilhas desaparecidas. Essas referidas “maisons” turísticas não só deram cabo de muitos ecossistemas de coral, como também estão condenadas a desaparecer todas. Estes são apenas alguns exemplos

da enorme quantidade de casos que estas empresas de turismo balnear espalharam, particularmente, por muitas das ilhas do Planeta.Conheço Parques Nacionais estrangeiros em que não só o número de turistas é limitado, como também os circuitos são indicados pela administração desses Parques e, muitas vezes, não são sempre os mesmos. Além disso, os guias ou são funcionários dos respectivos Parques ou são guias habilitados com cursos ministrados por pessoal desses Parques. Já visitei Reservas que são disso exemplo como uma aqui bem próximo de nós, o Parque Nacional Doñana (Espanha) e outras bem mais longe, como o Parque Nacional de Praslin (Seychelles) e os Parques das Galápagos (Equador). Nas Galápagos, um arquipélago vulcânico (15 ilhas, 3 ilhotas e 107 rochedos) até há ilhas que não podem sequer receber visitas de turistas. Das que recebem turistas, estes só podem visitá-las acompanhados por guias encartados com cursos ministrados por pessoal do Parque, percorrendo trilhos determinados, não podendo sair desses trilhos, nem molestar os animais, nem podendo colher qualquer organismo, vivo ou morto. Quando os animais estão em época de reprodução ou de cio, a administração do Parque não permite visitas às zonas habitadas por eles. Assim, é a administração do Parque que indica às empresas turísticas os locais a que podem levar os turistas. Não são os guias turísticos ou as respectivas empresas a escolher as ilhas e os trilhos a percorrer. Por outro lado, o guia tem de ir sempre munido com o documento comprovativo passado pelo Parque, depois de habilitado com o

Serengeti: pressão turística sobre os predadores Tanzânia: cratera de Ngorongoro, manada de búfalos (Syncerus caffer) não incomodados Galápagos: Ilha de Santa Cruz, postura que se deve ter para não assustar as tartarugas gigantes (Geochelona elephantopus)

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referido curso para guia da natureza. Devo dizer que esses guias são não só muito competentes, como também extremamente cuidadosos, não permitindo qualquer abuso aos turistas. São pessoas muito bem habilitadas e bastante conhecedoras da Biodiversidade de cada uma das 15 ilhas do Arquipélago.As visitas ao Parque Nacional da ilha Praslin (Seychelles), Património Mundial desde 1983, são não só com número de visitantes limitados, como também com horários e trilhos bem determinados. Neste país do Oceano Índico, constituído por um conjunto de 115 ilhas (umas graníticas de 905 m de altitude máxima, outras coralígenas, quase ao nível do mar, tendo algumas menos de 1 m de altitude) de elevada Biodiversidade, sendo algumas delas, como a ilha Cousin, Reservas Naturais Integrais Especiais na totalidade da superfície, tal qual como acontece com algumas ilhas do Arquipélago das Galápagos. A ilha Cousin só está aberta a visitantes 3 manhãs por semana e com regras muito duras. Quando estive no Parque Nacional da ilha Praslin, lembro-me que, depois de sairmos do barco que nos levou até à ilha, ao entrarmos no autocarro que nos levou até ao Vallée de Mai, na parte central da ilha, onde se situa o referido Parque Nacional, o guarda do Parque, que nos iria guiar através de um trilho de terra batida, avisou que era expressamente proibido fumar no Parque. Quando chegamos ao Vallée de Mai e saímos do autocarro, um italiano apagou o cigarro já fora do autocarro. O guia foi ter com ele e disse-lhe que ele já não podia fazer a visita pelo trilho. Embora o italiano reclamasse que já tinha pago a visita por inteiro, o guia

meteu-o no autocarro, onde permaneceu até ao nosso regresso. Lembro-me também que, tendo eu visto um jovem exemplar da palmeira (Lodoicea maldivica) do coco-do-mar (com a maior e mais pesada semente do Globo), endémica (actualmente só existe nesta ilha e na ilha Cousin), acabado de nascer, solicitei autorização ao guia-guarda para sair um pouco do trilho para poder obter uma melhor fotografia. Embora lhe tivesse dito e demonstrado que era botânico, ele não me autorizou a sair do trilho. Acontece que só nessa Reserva existem 6 espécies de palmeiras endémicas, mais 28 espécies de plantas endémicas, das quais 4 espécies de pandanos (Pandanus spp.) e 14 espécies de árvores. Além disso tem 5 espécies de répteis endémicos e 5 espécies de aves também endémicas. Por isso, todo o cuidado é pouco.Assim, tal como nas Galápagos, é que é fazer Turismo de Natureza.Nós ainda não estamos suficientemente educados para aceitar regras dessas. Basta perguntarmos se as autarquias e os agentes de turismo aceitavam um número limitado de turistas na área da Torre (Serra da Estrela), na Serra da Arrábida ou nas Matas de Albergaria e da Bouça da Mó (Gerês).Por outro lado, quando uma pessoa não residente nas Galápagos (mesmo os equatorianos continentais) desembarca num dos portos ou aeroportos, tem de pagar uma taxa (100 dólares-americanos, da última vez que lá estive) destinada à Conservação da Natureza em todo o Arquipélago.Os portugueses não residentes no Parque Nacional da Peneda-Gerês aceitariam ter de pagar para entrar por qualquer das vias

de acesso desta nossa relevante Reserva? Tenho a certeza absoluta que isso não seria possível. Actualmente paga-se durante os meses de Verão uma pequena taxa para passar, sem paragem, pelas Matas de Albergaria e da Bouça da Mó, e não só a desobediência é bastante frequente, como também a contestação dos autarcas e dos agentes de turismo é constante. Em algumas Reservas que conheço, não é permitida a entrada a qualquer veículo motorizado, como, por exemplo, uma na vizinha Espanha, no Parque Nacional de Ordessa e Monte Perdido. Trata-se de um Parque com uma área enorme (15 608 ha. e 19 679 ha. de zona periférica de protecção). Nos 15 608 ha não é permitido acampar nem a utilização de qualquer veículo. Aceitavam-se regras destas em Portugal? Tenho a certeza absoluta que, actualmente, isso não era possível.Tenho visitado e até trabalhado não só em regiões do Globo ainda razoavelmente preservadas, como todas as já citadas, assim como, também, em regiões naturais ainda não exploradas turisticamente, como são muitas áreas da pluvisilva (florestas tropicais de chuva ou floresta equatoriais) do Globo, tais como o interior da Amazónia, da África, Ásia e Austrália. Muita gente, ou até toda a gente, devia conhecer “Santuários Naturais” como estes, mas sou de opinião que não se deve permitir o turismo por toda a Natureza. Sou dos que considero que as Reservas Integrais, como, por exemplo a Mata do Solitário (Arrábida), não só não devem estar abertas a qualquer tipo de turismo, como também, quando sujeitas a estudos científicos, os respectivos

Maldivas: “resort” sobre coralGalápagos: Ilha de Santa Cruz, postura que se deve ter para não assustar as tartarugas gigantes (Geochelona elephantopus)

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investigadores devem ser acompanhados por um vigilante da respectiva Reserva. É que há cientistas que não são nada cuidadosos, particularmente quando se trata de espécies raras ou em vias de extinção.Já estive em regiões paradisíacas e muito pouco conhecidas, que podiam ser uma mais-valia económico-turística para os respectivos países. Porém, não gosto de as mencionar, a não ser que tenha a certeza que a respectiva preservação está bem assegurada.Mas, a Humanidade vive, actualmente, numa sociedade de economia de mercado, cuja preocupação predominante é produzir cada vez mais, com maior rapidez e o mais barato possível, de modo a conseguir-se o máximo lucro e, desta maneira, é um risco indicarem-se os sítios onde existam espécies raras ou em vias de extinção, pois numa sociedade assim, o que é raro é mais caro e mais apetecível. É exemplo disso o que aconteceu com as populações de rinocerontes no Quénia. Apesar da proibição de caçar e estarem “protegidos” em Reservas, passaram de 20 mil indivíduos para 350 entre 1970 e 1983. Isto só porque os chineses estão convencidos que o pó resultante da trituração do corno dos rinocerontes é afrodisíaco. Assim, como a população humana tem vindo a aumentar, o número de solicitações chinesas é cada vez maior, no que resultou uma maior procura de rinocerontes, rareando-os a tal ponto que o corno de rinoceronte é cada vez mais caro, tornando-o cada vez mais apetecível para os negociantes sem escrúpulos. Apesar das duras penas e elevadas coimas que existem no Quénia para quem mate um

rinoceronte, a população de rinocerontes quenianos pouco aumentou num espaço de 20 anos (1983-2000), existindo actualmente no Quénia apenas cerca de 430 indivíduos e em Reservas muito vigiadas. Lembro-me que uma vez, apareceu um rinoceronte morto e sem o corno, na Reserva da cratera de Ngorongoro (Tanzânia). Como as vias de acesso para a cratera são reduzidíssimas e estritamente vigiadas, conclui-se que só podia ter sido um dos guardas da Reserva. Antes de se descobrir (levou pouco tempo) qual tinha sido o guarda, o director da Reserva foi demitido por não ter sabido identificá-lo de imediato. No nosso país não só não se demitia o director, como também nunca se conseguia descobrir o verdadeiro culpado. Seria um outro “Freeport”. Quando se incrementa o turismo numa área de pluvisilva como é, por exemplo a Amazónia, é preciso saber bem o que se está a fazer, pois numa floresta dessas a Biodiversidade é extremamente elevada (por exemplo, num hectare podem encontrar-se cerca de 175 árvores altas de 75 espécies diferentes) e qualquer pequena alteração pode provocar diminuições drásticas de Biodiversidade. Uma vez, estando eu a colher plantas numa área recôndita de uma floresta equatorial africana, encontrei um maracujazeiro (Passiflora edulis), que é uma planta nativa do Brasil. Essa planta só pode ter crescido ali por alguém (cientista descuidado ou eventual caçador) ter comido maracujás e ter deitado fora as cascas do fruto (maracujá) com algumas sementes aderentes ou ter cuspido sementes para o chão.Não somos contra o turismo de natureza,

mas é fundamental fazê-lo com as devidas regras. Em Portugal não temos ainda guias habilitados para tal, nem condições nas nossas Reservas para que regras duras possam ser cumpridas. Além disso, as nossas leis para a Protecção da Natureza são ainda muito brandas e praticamente ineficazes.Infelizmente, tenho assistido a muito mau comportamento de turistas de natureza, não só em Portugal basta observar a quantidade de plásticos e de fraldas descartáveis que ficam nas bermas das estradas para a Torre (Serra da Estrela), após 2-3 dias de neve; dos cumes da serra da Peneda (Parque Nacional da Peneda-Gerês) de onde já eu retirei duas cadeiras de plástico deixadas nas margens da lagoa-represa (Meadinha), que alguém tinha levado de um dos cafés ou restaurantes que existem junto ao Santuário da Peneda, situado a uma altitude 800 m mais baixa, como também no estrangeiro, pois em 2004, estando em Ainaro (Timor-Leste), no dia seguinte (23.01.2004) a um jantar-churrasco promovido por um grupo de membros de ONGs, não timorenses, muitos deles trajando camisolas com frases alusivas à protecção do Ambiente, o local estava pejado de lixo sólido, particularmente de latas vazias de refrigerantes. Actualmente, as vias que levam ao “altar do Mundo” (Himalaias ± 8000 m de altitude) estão pejadas de lixo deixado por alpinistas nada escrupulosos.Tudo isto sem falar do pior turismo de natureza, como é o turismo com veículos “todo-terreno” e o turismo de desportos radicais.Turismo de natureza sim, mas limitado, com guias bem preparados, com regras específicas, claras e muito duras.

Quénia, Lago Nakuru: Leoa (Panthera leo) numa acácia (Acacia xanthophloea) a olhar para mim, que tive o cuidado de não a incomodar

Serra da Estrela, próximo da Torre, Verão 2010: recolha voluntária de lixo

José

Con

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