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Um olhar sobre a “América”: Experiências afro-americanas nas páginas deO Clarim da Alvorada.SANKOFA
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Sankofa. Revista de Histria da frica e de Estudos da Dispora Africana Nr. 2 dez./2008
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Documentao:
Um olhar sobre a Amrica:
Experincias afro-americanas nas pginas de
O Clarim da Alvorada.
Flvio Thales Ribeiro Francisco1
Introduo No ms de janeiro de 1924, surgia o jornal O Clarim da Alvorada, criado por Jayme
de Aguiar e Jos Correia Leite. O peridico fazia parte da imprensa negra paulista, um
conjunto de jornais editados por jornalistas negros e voltados para os negros da cidade e do
Estado de So Paulo2. J no ano de 1915, eles circulavam pelas cidades para trazer aos seus
leitores informaes relacionadas principalmente aos clubes sociais da populao negra. Os
jornais estampavam imagens dos scios mais ilustres destas instituies e publicavam notas
de solenidades e outras atividades recreativas.
Apesar da condio de pobreza de grande parte dos negros que viviam na cidade de
So Paulo, a publicao de artigos tratando da penria destes e do preconceito de cor no
era freqente. Contudo, os jornalistas no deixavam de chamar a ateno para a
necessidade do negro se educar e andar bem trajado para que pudesse ser visto com bons
olhos pelos outros. Essas publicaes das comunidades negras paulistas foram
consideradas como uma primeira etapa da imprensa negra, uma espcie de ensaio para
peridicos com abordagens deliberadamente polticas que viriam pela frente.
Nesse sentido, O Clarim da Alvorada inaugura uma nova fase dessa imprensa que, se
sempre teve uma carncia de recursos financeiros, pelo menos naquele momento passou a
contar com jornais estveis e com uma tiragem maior do que a das publicaes da fase
anterior. Ao invs de se restringir ao universo dos clubes sociais dos negros da cidade, o
jornal procurou trazer notcias e opinies de lideranas negras que problematizavam o
papel do negro na sociedade brasileira.
As opinies publicadas nas pginas de O Clarim da Alvorada eram relacionadas ao
papel da populao negra na construo da nao brasileira. O argumento dos jornalistas e
colaboradores que escreveram para o jornal era o de que, apesar da abolio da escravatura,
o negro no havia se integrado sociedade brasileira de maneira satisfatria. Mesmo com a
1 Mestrando do Programa de Histria Social da FFLCH-USP. E-mail: [email protected]. 2 FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista (1915-1963). So Paulo: FFLCH/USP, 1986.
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liberdade em mos, ele no soube se preparar para uma nova fase que exigia, sobretudo,
uma mudana nos seus valores morais, voltados para a tica do trabalho no universo
capitalista.
Assim no deixa de ser comum a idia de que a populao negra do perodo ps-
abolio vivia em condies semelhantes, ou piores, do que as da escravido. Alguns dos
textos publicados no peridico sugerem que a gerao de jovens negros da dcada de 1920
colocava em risco todo o legado das geraes anteriores. Tanto os escravos como os
abolicionistas negros so considerados como heris e representantes de um patriotismo
negro que perdia o seu significado medida que a mocidade preta de So Paulo
mergulhava em vcios como a bebedeira e a vadiagem.
Os jornalistas de O Clarim da Alvorada e os ativistas do movimento negro que se
formara na dcada de 1920 se apresentaram como uma liderana para elevar o moral dos
negros da cidade de So Paulo. Esse grupo se organizou a partir da criao do Centro
Cvico Palmares no ano de 1927, espao onde se reuniam e discutiam a questo racial. No
peridico, Jos Correia Leite e Jayme de Aguiar defendiam uma disciplina rgida para o
comportamento dos negros, que deveriam usar a educao formal como um meio de
assimilar os valores vigentes da elite paulistana. A instruo, nesse sentido, seria o elemento
primordial para a ascenso social dos negros da cidade de So Paulo.
O processo de integrao dos negros brasileiros, entretanto, no viria somente com
a aquisio de uma boa educao e a conquista de um bom emprego. Era necessrio
tambm que a populao negra fosse reconhecida como parte fundamental da nao
brasileira. Aqui fundamental lembrar que as idias racistas e evolucionistas ainda
condicionavam de maneira profunda o pensamento de intelectuais, determinando o uso de
polticas oficiosas contra as populaes negras do pas. Nesse sentido, o trabalho dos
militantes negros do perodo era o de criar uma imagem digna e modernizada do negro
brasileiro, ou uma imagem que fosse completamente dissociada da natureza degradada da
escravido.
A inteno por trs da publicao de artigos sobre a questo do negro no Brasil era
a de afirmar uma identidade brasileira que levasse em considerao o papel do negro no
progresso econmico do pas. Antes mesmo que Gilberto Freyre estabelecesse as bases da
idia de democracia racial, valorizando o papel do negro na constituio da sociedade
brasileira, os jornalistas de O Clarim da Alvorada j refletiam sobre um imaginrio nacional
onde a populao negra, assim como a indgena, pudesse ocupar o espao de protagonista.
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Este negro protagonista deveria ser uma figura moderna, que acompanhasse o
desenvolvimento da economia, assim como acontecia no Estado de So Paulo. Por isso, o
discurso do jornal deixava de lado a questo da cultura brasileira, pois esta representava o
atraso do negro, um conjunto de manifestaes que contrastava com a modernidade
paulista.
Embora, por volta de 1930, O Clarim da Alvorada comeasse a questionar as
relaes entre negros e brancos no pas, deixando de culpar a populao negra pela sua
prpria condio, a idia de integrao ainda continuou pautada pelo ingresso do negro a
uma modernidade brasileira. Nesse sentido, a imagem do Brasil enquanto uma comunidade
formada pelo amlgama de negros, indgenas e brancos permanecia forte entre as lideranas
que publicavam seus artigos em O Clarim da Alvorada. Assim, as experincias negras norte-
americanas surgiram aqui como um dos elementos definidores do lugar do negro no Brasil.
Imprensa negra norte-americana em O Clarim da Alvorada
Como possvel observar em algumas pginas de O Clarim da Alvorada, a
experincia dos negros norte-americanos e os movimentos anti-coloniais no continente
africano foram fontes de inspirao para a representao do negro moderno no peridico.
medida que os artigos publicados tratavam mais da questo de raa no Brasil e
questionavam uma suposta harmonia racial na sociedade brasileira, passavam a discutir
tambm a importncia da poltica racial entre os negros dos Estados Unidos. O exerccio
de comparao entre a condio dos negros brasileiros e a dos negros norte-americanos
ampliou o debate para fora dos limites territoriais do Brasil, levando os jornalistas a tratar
de aes polticas negras pelo mundo.
As principais fontes sobre estes temas foram os jornais publicados pela imprensa
negra norte-americana. Os jornalistas de O Clarim da Alvorada recebiam exemplares do
Chicago Defender e uma verso traduzida do Negro World. No ano de 1923, ao participar de
uma srie de encontros com ativistas negros em So Paulo e no Rio de Janeiro, Robert
Abbot, editor do jornal afro-americano Chicago Defender, estabeleceu seus primeiros
contatos com jornalistas negros do Brasil. Como resultado deste evento, os brasileiros e o
editor passaram a trocar exemplares de suas publicaes.
J o jornal Negro World, publicao do ativista negro de origem jamaicana Marcus
Garvey, se transformou em fonte de informaes sobre as experincias negras
internacionais para O Clarim da Alvorada atravs de Alcino dos Santos e Joo Stero da
Silva, que foram at a redao do jornal para propor a traduo de matrias pan-
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africanistas. Com a ajuda de Mrio Vasconcellos, que se responsabilizou pela traduo, O
Clarim da Alvorada introduziu uma coluna em 1930 no jornal sob o ttulo de O Mundo
Negro, traduo literal do ttulo do jornal norte-americano 3.
Ou seja, durante a trajetria de O Clarim da Alvorada, vrias informaes
relacionadas s experincias negras fora do Brasil foram selecionadas no sentido de ajudar a
delinear atitudes, aes, compromissos e, por sua vez, uma identidade da populao negra
de So Paulo. Tudo indica que grande parte das notcias publicadas sobre a vida dos negros
nos Estados Unidos e, curiosamente, na frica vieram dos dois jornais afro-americanos
acima mencionados. O Clarim da Alvorada ento usou estes peridicos como fontes de
informao, imagens e smbolos para refletir sobre a experincia dos negros de So Paulo.
No h dvida de que a comparao entre os padres de relaes raciais brasileiro e
norte-americano no foi um fenmeno que se manifestou pela primeira vez nas pginas de
O Clarim da Alvorada. Nas obras de Joaquim Nabuco e Nina Rodrigues, no final do sculo
XIX, j possvel perceber a preocupao dos brasileiros em conduzir a integrao do
negro sociedade brasileira de modo a evitar a violncia que se deu nesse mesmo processo
na sociedade norte-americana4. Nesse sentido, a Guerra Civil e a Reconstruo norte-
americana apareceram como eventos definidores de uma diferena entre os dois pases. O
primeiro evento desmontou a sociedade escravocrata no sul dos Estados Unidos no
conflito entre os estados sulinos e o resto da Unio. J a Reconstruo foi marcada pelo
processo violento de integrao do negro sociedade norte-americana5.
Os resultados destes eventos, tratados pelos brasileiros como desastrosos, ajudaram
a delinear a j tradicional narrativa das trs raas, presente desde a obra de Francisco
Adolfo Varnhagen, considerada como a primeira histria do Brasil. Enquanto o pas se
transformara em uma nao com relaes harmnicas entre negros e os brancos, os
Estados Unidos caminhara para o segregacionismo, mantendo a populao negra distante
dos recursos materiais e polticos para a reproduo de riqueza. Mesmo com a presena da
escravido, e com a crena de inferioridade da raa negra, ainda se considerava que os
negros no Brasil viviam em condies melhores do que a dos norte-americanos.
A questo da diferena entre os dois pases apareceu, naturalmente, nas pginas da
imprensa negra paulista. O Clarim da Alvorada no foi a primeira publicao a discutir tal
3 LEITE, Jos Correia. ... E disse o velho militante Jos Correia Leite. So Paulo: Noovha America, 2007, p. 77. Ver tambm GOMES, Flvio. Negro e poltica (1888-1937). So Paulo: Jorge Zahar , 2005. 4 Ver NABUCO, Joaquim. O abolicionismo: conferncias e discursos abolicionistas. So Paulo: Progresso, 1929. Tambm ver RODRIGUES, Raimundo Nina. Os africanos no Brasil. Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 2004. 5 Para entender a abolio da escravatura nos Estados Unidos e a Reconstruo ver FONER, Eric. Reconstructon: Americas unfinished revolution (1863-1877). New York: Harper & Row, 1988.
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assunto, jornais publicados anteriormente j traziam uma pequena quantidade de artigos
que comparavam as experincias dos negros da Amrica do Norte e da Amrica do Sul. Na
sua edio de 28 de dezembro, por exemplo, A Liberdade publicou um artigo sobre o
preconceito contra a raa negra. O autor, que no se identificou, comentava sobre a
condio infeliz dos negros pelo mundo. Aqui, a simples meno aos negros da nao
norte-americana serviu para retratar uma experincia comum aos negros brasileiros e norte-
americanos. Mesmo vivendo em uma nao civilizada, os negros dos Estados Unidos
estavam sujeitos s inconvenincias do preconceito que tambm afligia os brasileiros6.
No artigo mencionado acima o autor reconhece o preconceito de cor na sociedade
brasileira e enxergava semelhanas entre as experincias de negros brasileiros e norte-
americanos. Contudo, na coluna de ttulo Vagando, publicada na mesma pgina, Matuto
enfatizava as diferenas entre os conflitos raciais dos dois pases. O autor criticava
efusivamente os mulatos e negros de pele clara que no reconheciam a sua identidade racial
e procuravam se afastar de suas famlias negras. Diferente do outro artigo, Matuto negava
veementemente o preconceito de cor na sociedade brasileira. Este tipo de conflito era
comum nos Estados Unidos onde a luta do branco contra o preto. No caso do Brasil, a
preocupao do negro no deveria ser dirigida aos brancos, de fato eles no eram
preconceituosos, mas sim ao prprio preto que renegava a sua raa7.
Em O Clarim da Alvorada, apesar de o jornal ter sido criado no ano de 1924, a
primeira referncia aos negros norte-americanos aparece na edio de julho de 1925. Aqui,
como no artigo Hypocrisia da cor do peridico A Liberdade, a experincia dos negros dos
Estados Unidos usada de forma a delinear uma narrativa histrica comum a todos os
negros do mundo8. Booker questionava a justificativa religiosa da diferena entre as raas,
que afirmava que os negros faziam parte de um povo historicamente amaldioado. Ele
retornou aos tempos do Egito clssico para mostrar como na histria da humanidade a raa
negra j havia sido soberana e criadora de conhecimento. Os brancos e outras raas haviam
bebido muito dos ensinamentos dos negros, mas continuavam a maltrat-los,
principalmente os brancos selvagens da Norte Amrica que trucidavam os negros de l.
Este artigo deu incio a uma srie de outros que trataram do preconceito de cor no
Brasil, nos Estados Unidos e, conseqentemente, em outras partes do mundo. Na maioria
das vezes, as experincias negras norte-americanas surgiram nas pginas do jornal como um
meio de caracterizar e, at mesmo, de mensurar a natureza harmnica das relaes entre
6 Hypocrisia da cor. A Liberdade. (So Paulo, 28 de dezembro de 1919). 7 Vagando. A Liberdade. (So Paulo, 28 de dezembro de 1919). 8 A raa maldita. O Clarim da Alvorada. (So Paulo, 26 de julho de 1925).
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negros e brancos no Brasil. Ao mesmo tempo em que os jornalistas e colaboradores de O
Clarim da Alvorada exaltavam o carter pacfico das relaes raciais do Brasil, criavam um
outro ambiente permeado pela violncia racial que afligia a sociedade norte-americana .
Na edio de novembro de 1926, Gervsio de Moraes, um dos principais
colaboradores do jornal, fez uma crtica contundente aos Estados Unidos. O jornalista
condenou o esprito intolerante dos cidados norte-americanos, que apesar de responsveis
por grandiosas obras da modernidade, estavam por trs dos espetculos mais violentos de
conflito racial. (...) em meio quele progresso que assombra e quela civilizao que
intimida, desdobra-se o manto negro de ridcula intolerncia9. Moraes defendia que os
negros brasileiros estavam em vantagem em relao aos negros dos Estados Unidos, pois
no alimentavam nenhum tipo de dio em relao aos brancos.
At o momento em que os artigos e notcias no contavam com as informaes
vindas dos jornais negros norte-americanos, o debate em torno da diferena entre ser negro
nos Estados Unidos e no Brasil se restringiu a oposio entre um ambiente violento e
outro harmnico. Mesmo assim, ainda possvel encontrar alguns artigos sobre a
contribuio importante de inventores negros e a presena do Jazz entre os bailes
danantes dos clubes recreativos negros da cidade de So Paulo.
Na edio de maro de 1926, por exemplo, Booker apresentou aos leitores do
jornal os inventores do primeiro relgio da Amrica, do auto-piano e de um aparelho que
registrava chamadas telefnicas. Ele deu destaque a Joseph Hunter Dickinson, que alm de
ser inventor do auto-piano e portador de doze patentes, se revelara um excelente
empreendedor com sua grande fbrica de pianos10. Em um outro artigo nas mesma pgina,
um autor que se identificara como Tuta comentava como o Jazz e sua esttica futurstica
havia influenciado desastrosamente a juventude negra. Ele manifestava o seu sentimento
nostlgico ao criticar a atual gerao que perdia o seu tempo com uma msica barulhenta
ao invs de valorizar os ritmos musicais que revelavam o lirismo do verbo amar11.
O debate em torno da experincia negra nos Estados Unidos ganharia novos
contornos em 1928. A partir desse ano que possvel perceber a prtica jornalstica em
torno desse tema. Embora a passagem do editor do Chicago Defender pelo Brasil tenha
acontecido no ano de 1923, o intercmbio de informaes entre o jornal norte-americano e
O Clarim da Alvorada s apresentou seus resultados alguns anos depois. A primeira
referncia que se faz ao jornal de Robert Abbot nas pginas de O Clarim da Alvorada
9 A inquisio moderna. O Clarim da Alvorada. So Paulo (14 de novembro de 1926). 10 Negro!.... O Clarim da Alvorada. (So Paulo, 21 de maro de 1926). 11 Amor e jazz. O Clarim da Alvorada. (So Paulo, 21 de maro de 1926).
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somente ocorre em 1926 como resposta a artigos publicados no Chicago Defender. Gervsio
Moraes relembrava a passagem de Abbot pelo Brasil para fazer uma crtica falta de
sensibilidade do editor norte-americano realidade brasileira. Ao que tudo indica, o
jornalista brasileiro teve acesso a esses artigos publicados no Chicago Defender em 1923.
Moraes condenava Abbot por no se preocupar em aprofundar o seu conhecimento sobre
o Brasil, j que o jornalista da Amrica irm havia retornado ao seu pas e feito alguns
comentrios inapropriados sobre alguns dos costumes dos Brasileiros. Sem especificar
quais deles, Gervsio Moraes acusava Robert Abbot de semear a intolerncia racial norte-
americana no seio da sociedade brasileira12.
Dispora jornalstica
Ainda no ano de 1928, a maioria dos artigos publicados por O Clarim da Alvorada
estava baseada em opinies abstratas sobre as relaes entre negros e brancos nos Estados
Unidos. Sem citar especificamente os eventos do conflito racial do pas, os jornalistas
brasileiros se restringiam a tratar de maneira sumaria fatos como a violncia racial ou a
organizao dos negros norte-americanos. Na edio de dezembro de 1925, Horcio da
Cunha fez uma comparao entre as experincias negras no Brasil e nos Estados Unidos. O
jornalista argumentava que o problema de instruo da populao negra era compreensvel,
j que faziam apenas 36 anos que a Lei urea havia sido assinada pela Princesa Isabel. Para
reforar a sua idia de que a culpa pelo problema da educao do negro no Brasil era do
governo, Cunha teceu um rpido comentrio de que nos Estados Unidos, apesar dos
transtornos das relaes de raa, o negro teve acesso educao e se desenvolveu. Por
isso, aqueles que afirmavam que a prpria populao negra havia sido responsvel pelo seu
trgico destino estavam equivocados. Cunha utilizou a experincia americana, sem entrar
em detalhes, para ilustrar o atraso dos negros brasileiros em relao sociedade brasileira e
ao negro norte-americano13
Podemos encontrar esta mesma lgica em um artigo escrito por Luis Barbosa em
1926. Ao discutir a relao entre trabalho e riqueza na histria da humanidade, o jornalista
citou de maneira sucinta a nao norte-americana como o grande exemplo de pas
moderno. Regressando at o suposto perodo em que os homens viviam na caverna, ele
procurou demonstrar a importncia do trabalho e como ele estava associado a um ideal de
progresso, que somente poderia ser alcanado pelas naes de povos perseverantes. Aqui
os Estados Unidos, pas que considerava como a grande potncia, aparecia em oposio a
12 A inquisio moderna. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 14 de novembro de 1926). 13 Os homens pretos e a instruo. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 27 de dezembro de 1925).
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um pas asitico (que parece ser a China) mergulhado em vcios. Luis Barbosa considerava a
nao norte-americana como a terra do trabalho e o exemplo a ser seguido por outras
naes14. Aqui j encontramos a reproduo daquele imaginrio sobre os Estados Unidos
que retorna sempre para delimitar as fronteiras entre a nao brasileira e norte-americana.
A leitura de artigos sobre outros temas poderiam indicar que o modo como as
informaes sobre os Estados Unidos tratadas por O Clarim da Alvorada no seriam
diferentes de outros como a escravido e a marginalizao do negro no perodo ps-
abolio. A prtica de sumarizao da informao seria muito mais da natureza de um
pequeno jornal do que a falta de informao sobre os Estados Unidos e as experincias
negras norte-americanas. Contudo, medida que as referncias sobre os jornais norte-
americanos aumentavam, os temas relacionados aos irmos da Amrica do Norte foram
tratados com uma maior variedade. No h dvida de que muitas das vagas referncias
sobre a nao norte-americana continuaram ser reproduzidas por alguns artigos de O
Clarim da Alvorada, contudo a prtica jornalstica deu espao maior a assuntos como o
linchamento, as organizaes racistas, o movimento negro norte-americano e a cultura
negra nos Estados Unidos.
A mudana em relao questo do negro brasileiro e influncia do Chicago
Defender foram anunciadas pelo prprio jornal. Na edio de junho de 1928, O Clarim da
Alvorada trazia um artigo em que o autor, no identificado, comparava a publicao
brasileira norte-americana. O Clarim da Alvorada retornava na quarta edio daquele ano
para levar adiante a luta dos negros do Brasil, assim como o jornal norte-americano lutava
em defesa dos negros dos Estados Unidos. Embora os negros tivessem o direito
cidadania no Brasil, diferente da condio dos negros da grande Republica Americana, era
necessrio que o jornal se fizesse presente para manifestar a opinio da populao negra de
So Paulo15.
A referncia direta ao Chicago Defender apareceria em outras edies como fonte de
informaes, ou, at mesmo, como revelao dos interesses dos norte-americanos nos
rumos do ativismo negro no Brasil e na cidade de So Paulo. No ms de setembro de 1928,
a edio de comemorao Lei do Sexagenrio trazia mais um artigo que homenageava a
Me Preta16. O interessante, entretanto, foi o fato de o autor, Cnego Olympio de Castro,
fazer meno ao Chicago Defender que j h algum tempo demonstrava interesse na
campanha pela canonizao da imagem da Me Preta. Castro reproduziu uma frase de
14 O trabalho. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 20 de junho de 1926). 15 Um jornal pelo interesse dos homens pretos. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 3 de junho de 1928). 16 Os militantes do movimento negro daquele perodo usavam a imagem da Me Negra como a conciliadora entre as raas negras e brancas no Brasil, smbolo da harmonia racial entre elas.
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uma carta enviada pelo Robert Abbot em que o jornalista pedia mais imagens e
informaes sobre a organizao em torno do monumento Me Preta. Para situar o
jornalista norte-americano, o cnego enviou uma edio de O Clarim da Alvorada do ms de
maio do mesmo ano17.
J no ano seguinte, na edio de maro, O Clarim da Alvorada publicou uma nota
sobre erros de uma notcia do Chicago Defender sobre a presena do presidente norte-
americano Hebert Hoover no Brasil. O jornal havia noticiado uma solenidade no palcio
do governo brasileiro em que Hoover havia comparecido. Com a presena de pessoas de
diferentes tons de pele, o evento foi retratado pelo Chicago Defender como um aprendizado
para Hoover, pois o episdio revelava ao presidente a possibilidade de convvio
harmonioso entre pessoas de diferentes raas. Entre eles estaria Joo Cndido, heri
negro da Revolta da Chibata. A nota de O Clarim da Alvorada, entretanto, questionava a
presena do almirante negro. O jornal, sem provar, alegava que era infundada a notcia
veiculada pela publicao negra norte-americana18.
Contudo, a coluna de Robert Abbot, editor do Chicago Defender, foi tambm motivo
de elogio do jornal brasileiro. Na edio de novembro do mesmo ano, O Clarim da Alvorada
trazia mais uma nota sobre o parceiro norte-americano com o ttulo que reproduzia o seu
cabealho na lngua original: Chicago Defender, The Worlds Greatest Weekly. Depois
de elogiar a publicao pelo papel que vinha desempenhando como uma liderana na
orgulhosa terra dos preconceitos raciais, o jornal brasileiro assinalou que os negros norte-
americanos haviam criado os instrumentos necessrios para reinvindicar os direitos da
raa negra19.
Esses casos revelam as conexes entre Chicago Defender e O Clarim da Alvorada.
Tanto um quanto o outro foram utilizados pelos seus pares internacionais como fonte de
informao sobre experincias negras em outro contexto cultural. medida que
intelectuais e ativistas negros se organizaram politicamente em suas respectivas naes no
perodo ps-abolio, surgiu o interesse por aes polticas e vivncias que supostamente
fossem diferentes ou reservassem algumas distines daquelas experimentadas
domesticamente.
Um artigo escrito por William Du Bois pode ser considerado o grande exemplo do
modo como pensadores negros olharam para outras experincias negras no mundo,
especificamente a brasileira. Em 1914, o socilogo e historiador, que naquele momento j
17 Me preta. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 28 de setembro de 1928). 18 O almirante negro. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 3 de maro de 1929). 19 Chicago Defender, worlds greatest weekly. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 24 de novembro de 1929).
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era a grande referncia do ativismo negro norte-americano, teceu alguns comentrios sobre
um artigo escrito pelo ex-presidente Theodore Roosevelt, que tratara das relaes entre
negros e brancos durante sua visita ao Brasil em 1913. Du Bois, aps fazer uma breve
apresentao do Brasil como uma nao predominantemente negra, discutiu as
observaes de Roosevelt. Segundo ele, o presidente havia sido preciso em algumas
informaes, principalmente quando afirmara que o negro havia sido integrado sociedade
brasileira e que no pas no existia qualquer tipo de obstculo racial populao negra.
Contudo o intelectual discordou da afirmao de Theodore Roosevelt de que, apesar do
processo de miscigenao, o sangue negro no Brasil era considerado inferior. William Du
Bois, a partir de um comentrio de Joo Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional
brasileiro, demonstrou como o negro participou efetivamente da histria brasileira,
desqualificando o comentrio do presidente de que a raa negra era inferior branca. Du
Bois acusou o ex-presidente norte-americano de estimular o racismo e a segregao na
sociedade norte-americana ao confirmar a inferioridade racial20.
O intelectual, ao contra-argumentar Theodore Roosevelt, utilizou o padro racial
brasileiro para refutar as teses de inferioridade da raa negra. O interesse de William Du
Bois na experincia negra brasileira revela o modo como imagens e informaes de
experincias negras internacionais foram incorporadas ao discurso de ativistas negros de
diferentes contextos nacionais. Esse trnsito de impressos e de ativistas em busca de outras
experincias negras configurou um espao amplo de circulao de idias e smbolos entre
as populaes de ascendncia africana21.
Em 1921, por exemplo, Marcus Garvey desembarcou em Cuba para divulgar os
seus ideais de retorno para a frica. O ativista jamaicano, radicado nos Estados Unidos, foi
recebido de maneira calorosa pelos jamaicanos que viviam na ilha, e com certo ceticismo
pelos negros cubanos22. Enquanto os primeiros aclamavam Marcus Garvey, os segundos
alegavam que a sua presena incitava um racismo que no era comum naquela sociedade.
Em vez de retornar frica, os cubanos preferiam seguir com a cidadania cubana, uma
conquista garantida com a participao na luta pela independncia do pas. O fato que a
presena do lder jamaicano irrompeu um debate sobre a questo racial entre a populao
negra da ilha, levando as principais referncias da poltica negra cubana a se posicionarem
20 HELLWIG, David J. (org.) African-American reflections on Brazil's racial paradise. Philadelphia: Temple University Press, 1992, pp. 31-34. 21 Sobre a definio de um espao de circulao de idias entre as populaes negras ver GILROY, Paul. O Atlntico Negro. So Paulo: Editora 34, 2001. 22 ROBAINA, Toms Fernndes. Marcus Garvey in Cuba: Urrutia, Cubans and Black Nationalism. In: BROCK, Lisa; FUERTES, Digna Castaeda (org.). Between race and empire : African-Americans and Cubans before the Cuban Revolution. Philadelphia: Temple University Press, 1998.
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em relao aos seus ideais. Mesmo com a discordncia em relao ao nacionalismo negro
norte-americano e o panafricanismo23, as organizaes ligadas Garvey continuaram a
funcionar at 1930, perodo em que se iniciou uma forte investida do governo cubano
contra qualquer tipo de ao poltica baseada na idia de raa. A publicao de Marcus
Garvey, Negro World, circulou na ilha em verses em ingls e espanhol por cerca de dez
anos, o que revela a importncia, mesmo que incmoda, de Garvey em Cuba.
O estabelecimento de unidades da UNIA (Universal Negro Improvement
Association), instituio responsvel por captar recursos para viabilizar o retorno frica,
parece ter encontrado resistncia tambm em outros pases, principalmente nos africanos
submetidos ao poder dos imprios europeus. Nesse sentido, o jornal Negro World serviu
como instrumento para a infiltrao das idias de Marcus Garvey onde no eram desejadas.
Este foi o caso do Malau, protetorado britnico onde a publicao circulou de maneira
clandestina at o momento em que foi interceptada pelas autoridades em 1926. Na frica
do Sul, cerca de milhares de exemplares foram distribudos, sendo que um deles chegou at
as mos do ministro do interior, que se tornaria um assinante da publicao24.
O Negro World, embora tenha tido uma circulao estvel dentro do territrio norte-
americano, tornando-se uma das publicaes mais populares entre a populao negra na
dcada de 1920, internacionalmente contou com esforos individuais de ativistas ou
admiradores de Marcus Garvey, o que determinou uma irregularidade na sua distribuio.
Embora no existam registros de como o Negro World chegou at os representantes baianos
de O Clarim da Alvorada, podemos sugerir que a publicao de Marcus Garvey chegou at a
redao do jornal brasileiro a partir de agentes informais que transitavam pelo Atlntico
com o desejo de divulgar os ideais do lder jamaicano.
A primeira vez que O Clarim da Alvorada atribuiu alguma informao ao Negro World
foi em 1929. Na edio de fevereiro, o jornal brasileiro publicou a traduo de um
manifesto que clamava pela unio dos negros. Com o ttulo de Eduquemos nossas
massas e com um subttulo que indicava o jornal norte-americano como um rgo
defensor da raa negra disseminado por toda a parte do globo, o autor, com um
argumento que nos lembra em muito o discurso do jornal brasileiro, tratou da necessidade
da construo de uma coletividade negra. Relembrando um passado doloroso que
23 O nacionalismo negro considerado como toda a ideologia que prega separatismo dos negros em relao ao resto da sociedade como forma de defesa contra o racismo. O panafricanismo, que tambm teve as suas diferentes verses, oscilou entre um projeto de retorno frica e a solidariedade entre naes africanas contra os imprios europeus. 24 Sobre a circulao das idias de Marcus Garvey atravs de impressos, ver HILL, Robert A. (org). The Marcus Garvey and Universal Improvement Association papers: Africa for the Africans (1923-1945). Berkeley, California: University of California Press, vol. X, 2006.
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despertara o sentimento de vergonha, o manifesto no fez aluso direta escravido, mas
descreveu um perodo em que os inimigos da humanidade haviam privado o negro dos
seus direitos de ser humano. Com um tom que soava como os ideais de Marcus Garvey, o
autor finalizava com a mensagem de que a fora da nossa raa bastava para a conquista
do progresso.
E bastante essa experiencia para remdio de nossos males. Rechacemos as offertas lisonjeiras que quotidianamente nos offerece, as quaes aniquillam as iniciativas do progresso que comeam a sentir-se no seio de nossa collectividade. Digamos com orgulho: Nossas foras nos bastam! No esperemos glorias que outros nos offerecem; adquiramos estas estas por nosso proprio impulso. Ellas garantiro nosso porvir e de nossas geraes vindouras, que robustecidas com o nosso labor econmico, chegaro mui breve cobrir a restaguarda no campo de aco de nossa raa, e occuparo o posto que lhes correspondde na vida da civilizao25.
As notcias que tinham o Negro World como fonte, inicialmente foram publicadas
em meio aos artigos que tratavam de outros assuntos, porm logo elas foram reunidas
juntamente com informaes de outros jornais em uma coluna especializada nas
experincias negras. Em 1930, no ms de dezembro, foi inaugurado O Mundo Negro, um
espao que, de acordo com o jornal brasileiro, publicaria notcias, trabalhos transcritos e
traduzidos para O Clarim da Alvorada dos mais importantes rgos negros da Amrica26.
O que observamos aqui uma entre as vrias prticas que configuraram uma rede
de trocas de informaes e idias no Atlntico. Se por um lado havia um trnsito de
intelectuais norte-americanos, caribenhos e africanos como William Du Bois, Claude
Mckay, Lopold Sdar Senghor que estava relacionada a um circuito pautado por relaes
acadmicas e por um mercado editorial vido pela produo de pensadores negros, por
outro existia esse circuito pautado pela atividade jornalstica de ativistas negros27. As
tradues de textos do Negro World e a troca de exemplares entre as redaes de O Clarim da
Alvorada e o Chicago Defender revelam como os ativistas brasileiros ingressaram no Atlntico
Negro como produtores de conhecimento.
Parasos e infernos raciais
Embora algumas das idias propagadas pela imprensa negra norte-americana
fossem publicadas em O Clarim da Alvorada, nem todas elas foram aceitas pelos jornalistas
brasileiros. A idia de retorno frica talvez tenha sido a que mais se chocou com os ideais
da publicao brasileira e do ativismo negro da poca. A luta pela soberania do continente
25 Eduquemos nossas massas. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 3 de fevereiro de 1919). 26 O Mundo Negro. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 7 de dezembro de 1930). 27 EDWARDS, Brent Hayes. The pratice of dispora: literatura, translation, and the rise of Black internationalism. Cambridge: Harvard University Press, 2003.
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africano e sua concepo como a nao para a raa negra espalhada pelo mundo
comprometia a inteno dos negros de So Paulo de promover a integrao sociedade
brasileira. Segundo Jos Correia Leite, o grupo responsvel pela traduo dos jornais e pela
coluna Mundo Negro de O Clarim da Alvorada era reconhecido como uma ala garvesta, mas
com muito pouca influncia na redao. Ainda assim, no havia nenhum tipo de meno a
um retorno ao continente africano, o que mais interessava em Marcus Garvey era a sua
mensagem que estimulava a autodeterminao entre os negros brasileiros:
O movimento garveysta entre ns ficou restrito, mas serviu para tirar certa dubiedade do que ns estvamos fazendo. Procurvamos fazer doutrinao, uma espcie de evangelizao. As idias de Marcus Garvey vieram reforar as nossas. Com elas ns criamos mais convico de que estvamos certos. Fomos descobrindo a maneira sutil do preconceito brasileiro, a maneira de como a gente era discriminado28 [...]
Mesmo com a presena do preconceito de cor e a introduo de discusses sobre a
questo racial, a idia de que as oportunidades aos negros no Brasil estavam abertas ainda
era muito forte. O apelo racializado dos negros norte-americanos em meio ao ambiente
segregado significava o desvio de um projeto de nacionalizao do negro no Brasil. As
histrias de linchamento dos Estados Unidos j eram bem conhecidas pelos jornalistas de
O Clarim da Alvorada, o que requeria qualquer tipo de cautela por parte deles antes de fazer
um comentrio positivo sobre o modo de vida dos irmos da Amrica do Norte.
Entre 1890 e os primeiros anos do sculo XX, uma massa de trabalhadores brancos
afligidos pela pobreza nos estados do sul do territrio norte-americano se levantou contra a
populao negra que havia sido alada ao nvel de cidados pelos programas do governo
dos Estados Unidos durante o perodo da Reconstruo na dcada de 1870. Em Lousiana,
por exemplo, esse perodo foi marcado pela cassao do direito de votos dos negros. A
partir da evocao de uma superioridade racial branca, limites rgidos de cor foram
estabelecidos entre negros e brancos. O estado que, diferente dos demais, tinha uma
tradio de classificao racial que considerava o mulato como figura intermediria no
universo birracial norte-americano, logo se transformara em um terreno de conflito entre a
raa branca e a raa negra29.
O receio dos jornalistas de O Clarim da Alvorada de que um apelo acima da medida
pudesse criar um quisto racial entre os brasileiros se manifestava nos argumentos de que os
negros eram parte integral de uma sociedade harmnica racialmente. Na edio de junho de
28 LEITE, Jos Correia. ...E disse o velho militante Jos Correia Leite. So Paulo: Noovha Amrica, 2007, pp. 80-81. 29 PFEIFER, Micheal J. Rough justice: lyinching and American society, 1874-1947. Chicago: University of Illinois, 2004, p. 71.
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1925, o jornal publicou um artigo sobre a gratido que o povo brasileiro devia aos africanos
e seus descendentes que trabalharam forte para a construo da nao. Aqui eles tiveram
mais oportunidades, os senhores eram mais benvolos que os dos Estados Unidos, e
formaram uma classe de negros formidveis. Enquanto nos Estados Unidos brancos e
negros se separavam at na morte, no Brasil os obstculos raciais eram vencidos desde o
perodo colonial:
[...] J nos tempos coloniaes, determinava o rei (proviso de 9 de Maio de 731) que o accidente de cor no constituia obstculo para que um homem exercesse o cargo de procurador da cora. Por alvar de 12 de janeiro de 733, approvava ter um governador alistado, nos corpos de infanteria de ordenanas, pardos com brancos, sem distinco, confiando que os primeiros o servissem com o mesmo zelo e fidelidade dos segundos. Nos Estados Unidos, mesmo agora, a desigualdade social entre pretos e brancos subsiste at depois da morte; em certos lugares ha cemiterios defferentes para uns e outros! Durante o reinado de D. Pedro II vrios descendentes de africanos mereceram condecoraes e titulos nobiliarchicos. Que bella galeria de negros e filhos de negros illustres a que apresenta o Brasil30 [...]
Jos Correia Leite reforaria tal idia ao afirmar que no Brasil no existia o
preconceito de cor. Diferente dos Estados Unidos, onde negros e brancos viviam
separados, cada qual cuidando de suas coisas, no Brasil todas as coisas eram dos
brasileiros. O jornalista procurava demonstrar que O Clarim da Alvorada lutava pela
evoluo moral dos pretos de So Paulo sem carregar nenhum tipo de ofensa aos cidados
brasileiros. Ao fazer a comparao com o ambiente segregado da sociedade norte-
americana, Leite manifestava o sentimento patritico que permeava a maioria dos artigos
de sua publicao.
[...] O dia que grupos escolares no acceitarem mais os nossos filhos, se as academias no receberam mais a nossa mocidade, para maior gloria da raa, que descendemos, ento os homens pretos do Brasil se unir para a formao de tudo quanto necessitamos. L na Amrica do Norte, onde o preconceito um fato, o que do preto do preto, o que do branco do branco. Aqui no, tudo quanto do Brasil, nosso com excepo de qualquer cousinha que se no pode qualificar preconceito31 [...]
A vontade de afirmar a brasilidade do negro brasileiro e evitar uma identidade
fechada como a dos negros norte-americanos provocou reaes agressivas como a de
Gervsio Moraes. A associao direta no modo como O Clarim da Alvorada discutia a
questo racial no Brasil com ideais como o de Marcus Garvey poderia significar um desvio
em relao a uma tradio brasileira que surgira do caldeamento entre as trs raas
(negra, branca e indgena). A base do apelo do jornal e do ativismo daquele perodo era
30 Os negros. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 26 de julho de 1925). 31 Quem somos. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 14 de novembro de 1926).
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justamente a idia de que o negro, devido sua participao fundamental na histria
econmica brasileira, era o elemento representativo da nacionalidade. De fato, a presena
do redator do Chicago Defender no Brasil, h trs anos atrs, poderia ser interpretada como
uma espcie de conluio entre os ativistas das duas nacionalidades, de modo a criar um
quisto racial e transformar a poltica dos negros em uma mcula da sociedade brasileira.
[...] Do formidvel paiz de Lincoln, daquella nao slida e viril, de frrea vitalidade economica , no nos servem os credos e doutrinas sociaes. A ida Abbotina, importando capacidades negras para a separao racial no Brasil, equivale a uma desjuno dynamica e violenta. Enquanto o negro norte americano desabota o peito e se atira contra o branco numa luta exterminante, barbara e sanguinria, arrastado pelo dio mortal; enquanto corre pelas sargetas os jactos estuantes de sangues irmos, o negro brasileiro estende a mo da fraternidade aos brancos e fortallecem o cunho de amisade que os ligam porque, apesar de tudo, do nosso esforo educativo, no nutrimos odio contra quem, em pocas longiquas, dominou pelo poderio e venceu pela chibata32 [...]
Nos comentrios de Moraes sobre a presena do jornalista norte-americano no
Brasil, podemos perceber duas questes que perpassam os artigos publicados em O Clarim
da Alvorada sobre os Estados Unidos: a violncia racial das polticas segregacionistas, e a
imagem da nao norte-americana como uma potncia econmica, a nao que melhor
expressava a modernidade to aspirada pelos paulistas naquele perodo. Ainda que, nas
palavras dos jornalistas, os Estados Unidos fosse uma nao forte e tivesse uma economia
vigorosa, estava longe de ser um exemplo para os brasileros, sobretudo para os negros. Na
opinio de Gervasio Moraes, os Estados Unidos eram a a nao pensadora do universo,
contudo os excessos na ordem e na harmonia logo deram origem a uma srie de prticas
intolerantes. A terra das originalidades e do utilitarismo prtico havia se transformado
num cenrio de espetculos deprimentes como as aes da organizao racista Klu Klux
Klan.
Na edio de fevereiro de 1928, Horacio Cunha fez uma ressalva sobre os negros
da Amrica do Norte. Seguindo a mesma lgica do argumento de Gervasio Moraes, Cunha
advertia aqueles que demonstravam uma admirao sem limites s conquistas dos negros
nos Estados Unidos. Para conter o entusiasmo dos brasileiros, ele fazia a observao de
que o progresso dos negros norte-americanos nada mais era do que conseqncia do alto
nvel de industrializao dos Estados Unidos. Assim que o Brasil, uma nao jovem,
atingisse o estgio dos norte-americanos, naturalmente os negros do Brasil chegariam ao
nvel dos seus irmos. Cunha demonstrava, sobretudo, certa preocupao com a
afirmao de superioridade dos negros norte-americanos sobre os brasileiros, de que o
32 A inquisio moderna. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 14 de novembro de 1926).
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caminho a ser seguido deveria ser aquele trilhado pelos irmos dos Estados Unidos.
Horacio Cunha, para rebater a imagem sublimada dos negros norte-americanos, tambm
comentou sobre o caso de alguns deles que vinham para o Brasil e no se preocupavam em
aprender o portugus, demonstrando certa arrogncia e indiferena em relao aos
brasileiros. O jornalista de O Clarim da Alvorada, assim como alguns dos seus colegas,
reforava a idia de um convvio singular entre negros brancos, afirmando que o
preconceito no Brasil poderia ser facilmente contornado com educao e trabalho.
No entanto, como o jornal recebia artigos de pessoas que no pertenciam ao seu
quadro, havia abertura para opinies diferentes sobre os negros norte-americanos. Numa
edio posterior que Horacio Cunha havia criticado o modo como alguns negros da
capital se referiam aos irmos da Amrica do Norte com certo deslumbre, O Clarim da
Alvorada publicou um artigo sem o autor identificado que se opunha ao argumento
apresentado pelo jornalista. O objetivo era o de demonstrar que, apesar dos inmeros atos
violentos de racismo, os negros dos Estados Unidos ainda poderiam se orgulhar de suas
conquistas. O tal orgulho a que ele se referia era o de encarar o prprio grupo de forma
positiva, o de triunfar em momentos de extrema dificuldade. Segundo o desconhecido
autor, os norte-americanos haviam chegado a tal nvel de organizao porque tiveram que
encarar o preconceito dos brancos em seu pas.
No caso dos brasileiros, a histria havia tomado um outro rumo: existia realmente
uma comunho entre negros e brancos. O problema do negro no era o preconceito que
sofria da sociedade, caso existisse algum tipo de tenso racial entre os brasileiros, os negros
do Brasil j teriam se organizado h muito tempo. No pas no existia uma questo racial, o
negro deveria apenas trabalhar para o prprio bem e para o bem da ptria. Contudo essa
situao no privava o brasileiro de admirar os feitos dos negros na nao norte-americana.
Apesar de tentar fazer uma comparao que demonstrasse a singularidades de negros
brasileiros e norte-americanos, o autor, no entanto, no conseguiu esconder o seu
desconforto em relao a uma certa lentido dos brasileiros. No final de seu artigo, para
demonstrar a capacidade dos norte-americanos, ele fez a citao de jornais publicados por
negros nos Estados Unidos, demonstrando um grande conhecimento sobre a imprensa
negra norte-americana:
[...] No podemos viver toda a vida a esperar... a esperar... e num eterno retrocesso. Os negros norte-americanos tm o direito de ser admirados, a prova est neste bello exemplo. Possuem os negros da Amrica do Norte, actualmente, mais de duzentos jornaes, sem se contar suas revistas. Entre elles destacam-se em primeiro plano o The Chicago Defender, Philadelphia Tribune, The Afro American, The Negro World e The Washington Eagle. Agora, ns aqui? Numa capital como esta, temos o que!... Com grande sacrifcio, um minsculo peridico:
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O Clarim da Alvorada, e l em Piracicaba outros patricios nobres e sensatos luctam para a publicao dO Patrocnio. E aqui fica a mais pura das verdades.
A partir de 1928, se tornaria comum a convivncia nas pginas do jornal de uma
tendncia de sublinhar as singularidades brasileiras, rechaando o modelo norte-americano,
e uma outra de admirao organizao poltica dos negros norte-americanos, realando a
necessidade de modernizao da imagem do negro. Talvez o caso que melhor represente
essa convivncia tenha sido a publicao de dois artigos que tratavam da violncia racial
nos Estados Unidos publicados na edio de setembro de 1929. No primeiro deles,
Evaristo de Moraes, jornalista do carioca A Notcia e colaborador de O Clarim da Alvorada,
discutia, a partir da notcia do linchamento de um jovem negro no estado norte-americano
do Tenessee, a onda de violncia racial nos Estados Unidos. O evento, que havia ocorrido
h seis meses, se tratava de uma reao de dois mil homens brancos ao suposto estupro de
uma mulher branca pelo jovem Joe Boxley. Moraes ressaltava que atos como esses eram
completamente naturais nos estados do sul, na regio que envolvia a Georgia, Alabama,
Texas e Mississipi. A intolerncia dos norte-americanos ia alm da condenao do
casamento entre pessoas de diferentes raas, ela tambm se manifestava na religiosidade,
com a proibio do ensino de qualquer outra narrativa da criao do homem que no fosse
a da Bblia Sagrada. O jornalista ento procura responder aos argumentos de alguns norte-
americanos que evitavam associar a srie de linchamentos ao preconceito racial nos
Estados Unidos. Reunindo opinies e trabalhos de alguns intelectuais, Evaristo de Moraes
demonstrou com dados que a grande maioria deles havia sido perpetrados contra negros,
com a interpretao sempre equivocada de estupro contra mulheres brancas. Aps montar
um quadro dramtico da relao entre brancos e negros nos Estados Unidos, o jornalista
ainda lamentou o fato de que em uma nao to avanada como a norte-americana pudesse
existir uma mentalidade intolerante e agressiva33.
Na mesma edio, O Clarim da Alvorada publicava um artigo de Mario Serva sobre
sentimentalismo do brasileiro. O texto sugeria que o orgulho de ser caridoso deveria ser
repensado. Na verdade, a caridade nada mais significava do que a falta de caridade. A
bondade, que poderia ser considerada como uma das marcas fundamentais do carter do
brasileiro, no passava de uma falcia. No Brasil reinava uma soberba em relao
generosidade e a piedade que era manifestada como prova de que no pas a dose de
sentimentalismo era muito mais elevada do que em outros pases. O grande exemplo era o
modo como se comparava o tratamento dispensado aos negros no Brasil e nos Estados
33 Mais uma selvagem conseqncia do preconceito racial nos Estados Unidos. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 28 de setembro de 1929).
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Unidos. No Brasil no havia dio racial e os descendentes de africanos eram tratados de
forma benigna devida ao caldeamento de raas, diferente dos norte-americanos que
linchavam dezenas de negros por ano. Contudo, os negros dos Estados Unidos,
diferente dos brasileiros, eram muito mais educados. Apesar da segregao da sociedade
norte-americana entre espaos exclusivos de brancos e de negros, o acesso educao
permitiu que os descendentes de africanos daquela nao tivessem uma instruo mais
elevada do que a dos brancos brasileiros. Para Serva, a caridade brasileira no havia sido
suficiente para integrar a populao negra. Os brasileiros no lincharam os negros, mas os
abandonaram e os deixaram degradar em meio sfilis, o analfabetismo e a promiscuidade.
Desenhando um quadro dramtico para a populao negra, o autor sugeria que o
sentimentalismo brasileiro era homicida, a possibilidade do negro desaparecer no Brasil era
muito maior que nos Estados Unidos. Por isso, a caridade verdadeira consistiria na
organizao de instituies que protegessem a vida do homem e lhe desse desde a infncia
carter e competncia. Ou seja, a questo racial, para Mario Serva, deveria ser tratada
como um problema a ser resolvido pelo Estado, e no pela compaixo do povo brasileiro34.
Alm da j tradicional narrativa de confronto das relaes raciais no Brasil e nos
Estados Unidos, outro elemento comum nesses artigos emerge no texto de Mario Serva: o
negro norte-americano como representao ideal de negro moderno, ou dos descendentes
de africanos na modernidade. Se parte do projeto de O Clarim da Alvorada estava
relacionada a reelaborar a imagem do negro paulistano e brasileiro para um novo contexto,
os feitos dos ativistas negros norte-americanos eram utilizados como referncia de
organizao poltica.
Talvez o melhor exemplo desse fenmeno seja o modo como o peridico brasileiro
tratou de retratar figuras da arte e do cenrio poltico do meio negro nos Estados Unidos.
Na edio de dezembro de 1930, O Clarim da Alvorada publicou em suas pginas uma
pequena biografia de Booker T. Washington, proeminente ativista negro na virada do
sculo XIX para o XX. Logo na introduo, havia a indicao de que Washington era o
smbolo do progresso dos negros na Amrica do Norte. A sua trajetria no poderia ser
melhor referncia para os negros de So Paulo: nascido em 1856, foi obrigado em sua
infncia a conviver com a escravido, mas o contato com instituies de educao
industrial aps a abolio da escravatura o levaria a se tornar um bem sucedido lder na
rea, se responsabilizando pela direo de institutos como o Tuskegee, especializado no
ensino de ofcios para estudantes negros. O Clarim da Alvorada destacou justamente o
34 O sentimentalismo brasileiro. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 28 de setembro de 1929).
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trabalho de Booker T. Washington no instituto, ressaltando a sua funo na educao de
senhores e senhoras de cor, habilitando-os para serem lderes nas sociedades onde
viveriam, verdadeiros chefes de respeito em suas residncias35.
No entanto a passagem que nos chama a ateno a que se refere ao Booker T.
Washington como o Moiss da raa. A sua associao figura bblica responsvel pela
libertao dos hebreus revela claramente a representao de sua imagem como um
responsvel pela redeno da raa negra. O Clarim da Alvorada voltaria a us-la no editorial
da edio de junho de 1931, na homenagem ao abolicionista negro brasileiro Luis Gama.
Aqui, ambos foram evocados como smbolos de orgulho racial, como defensores dos
negros contra a usurpao dos escravocratas. No entanto, de acordo com o editorial, Gama
no havia realizado no Brasil a obra civilizadora de Washington na Amrica do Norte36.
Tanto o artigo como o editorial sugeriam que os norte-americanos estavam em um
processo adiantado, que poderia ser seguido pelos brasileiros.
O jornal brasileiro incorporou a imagem do lder norte-americano a um imaginrio
composto por heris negros brasileiros para reforar a mensagem de solidariedade racial.
Luis Gama, Booker T. Washington, Marcus Garvey, e outras figuras de importncia
poltica, ao serem manejadas pelo jornal, revelaram o olhar dos jornalistas brasileiros para a
experincia estrangeira. Nesse sentido, as pginas de O Clarim da Alvorada apresentavam
uma convivncia entre uma identidade transnacional, olhando as lideranas norte-
americanas como referncias de organizao poltica, e uma nacional, do negro brasileiro
enquanto elemento fundamental da nao. Esses dois elementos combinaram-se de
maneira tensa em todos os artigos que comparavam, de maneira direta ou indireta, os
padres de relaes entre brancos e negros no Brasil e nos Estados Unidos.
A publicao de O Clarim da Alvorada foi abreviada em 1932, aps um longo
conflito com a Frente Negra Brasileira, eminente organizao negra que se transformaria
em um partido poltico37. Jos Correia Leite e mais o grupo que comandava a jornal
questionavam a centralizao da Frente Negra Brasileira nas mos dos irmos Arlindo e
Isaltino Veiga. Para revidar a contestao por parte dos jornalistas, a milcia da organizao
invadiu a redao e destruiu todo o equipamento de impresso do jornal, dando um ponto
final histria de O Clarim da Alvorada de maneira violenta.
35 Eduquemos nossas massas. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 7 de dezembro de 1930). 36 O Moyses da sua raa. O Clarim da Alvorada (So Paulo, 21 de junho de 1931). 37 Para conflitos entre lideranas do movimento negro, ver Andr Crtes Oliveira, Quem a gente negra nacional?: Frente Negra Brasileira e a Voz da Raa (1933-1937). Campinas, 2006. Tese (Mestrado): Departamento de Histria do IFCH-Unicamp. (Mimeogr.)
Sankofa. Revista de Histria da frica e de Estudos da Dispora Africana Nr. 2 dez./2008
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Bibliografia: 1. EDWARDS, Brent Hayes. The pratice of dispora: literatura, translation, and the rise of Black
internationalism. Cambridge: Harvard University Press, 2003. 2. FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista (1915-1963). So Paulo:
FFLCH/USP, 1986. 3. FONER, Eric. Reconstructon: Americas unfinished revolution (1863-1877). New York: Harper &
Row, 1988. 4. HELLWIG, David J. (org.). .African-American reflections on Brazil's racial paradise.
Philadelphia: Temple University Press, 1992. 5. HILL, Robert A. (org). The Marcus Garvey and Universal Improvement Association papers: Africa
for the Africans (1923-1945). Berkeley, California: University of California Press, vol. X, 2006.
6. LEITE, Jos Correia. ... E disse o velho militante Jos Correia Leite. So Paulo: Noovha America, 2007.
7. NABUCO, Joaquim. O abolicionismo: conferncias e discursos abolicionistas. So Paulo: Progresso, 1929.
8. PFEIFER, Micheal J. Rough justice: lyinching and American society, 1874-1947. Chicago: University of Illinois, 2004.
9. OLIVEIRA, Andr Crtes. Quem a gente negra nacional?: Frente Negra Brasileira e a Voz da Raa (1933-1937). Campinas, 2006. Tese (Mestrado): Departamento de Histria do IFCH-Unicamp. (Mimeogr.)
10. ROBAINA, Toms Fernndes. Marcus Garvey in Cuba: Urrutia, Cubans and Black Nationalism. In: BROCK, Lisa; FUERTES, Digna Castaeda (org.). Between race and empire : African-Americans and Cubans before the Cuban Revolution. Philadelphia: Temple University Press, 1998.
11. RODRIGUES, Raymundo Nina. Os africanos no Brasil. Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 2004.