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1 Fibra Alimentar Alessandra Carolina Munhoz do Amaral Nutricionista Clínica do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN) Pós Graduada em Administração Daniel Magnoni Médico Cardiologista e Nutrólogo Diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN) Celso Cukier Médico Cirurgião do Aparelho Digestório e Nutrólogo Diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN)

Fibra Alimentar IMEN

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Fibra Alimentar

Alessandra Carolina Munhoz do Amaral

Nutricionista Clínica do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN)

Pós Graduada em Administração

Daniel Magnoni

Médico Cardiologista e Nutrólogo

Diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN)

Celso Cukier

Médico Cirurgião do Aparelho Digestório e Nutrólogo

Diretor do Instituto de Metabolismo e Nutrição (IMeN)

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ÍNDICE

Resumo 3

Introdução 4

Definição e características 5

Tipos de fibras e classificação 5

Fontes de fibras 12

Efeitos preventivos das fibras 15

Efeitos fisiológicos 15

Aplicações clínicas 17

Recomendações de ingestão de fibras 22

Referências bibliográficas 23

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3

RESUMO

Fibras são substâncias de origem vegetal, carboidratos (ou derivados dos mesmos) com

exceção da lignina e que resistem à ação das enzimas digestivas humanas, chegando

intactas ao cólon e aí são parcialmente hidrolisadas e fermentadas pela flora bacteriana

colônica.

Existem vários tipos de fibras: lignina, celulose, pectinas, gomas, mucilagens,

frutooligossacarídeos (FOS), inulina e amido resistente, que são classificadas de acordo

com sua solubilidade em água (solúveis e insolúveis), sua estrutura e o grau de

fermentação.

Vários trabalhos sobre as fibras têm sido realizados nos últimos tempos e vêm constatando

seus inúmeros benefícios para a saúde, tanto no tratamento como na prevenção de doenças

como diabetes, hiperlipidemias, obesidade, constipação e câncer de cólon.

As fibras são encontradas em muitos alimentos que fazem parte da alimentação diária da

população, ou seja, nas frutas, verduras, legumes, grãos como o feijão e a soja, cereais

como aveia, farelo e germe de trigo, oleaginosas como avelã e amêndoa.

O consumo diário de fibras beneficia o trato gastrintestinal, como, por exemplo, estimulam

a mastigação prolongada e a produção de saliva, retardam o esvaziamento gástrico,

aumentam a saciedade, aumentam a velocidade do trânsito intestinal, aumentam o peso e a

maciez das fezes, aumentando a freqüência de evacuações.

Na terapia de nutrição enteral as fibras também apresentam muitos benefícios, dentre os

quais se destacam: a melhora da diarréia e constipação, integridade intestinal e tolerância à

glicose e lipídios do sangue.

A indústria alimentícia promove de forma objetiva a possibilidade de ofertar suplementos

de fibras como substitutos alimentares e/ou coadjuvantes ao tratamento clínico.

A ingestão de fibras deve ser de acordo com as recomendações, devendo respeitar sexo,

idade e o estado fisiológico (gestação, presença ou não de patologia).

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INTRODUÇÃO

Fibra alimentar ou fibra dietética é a parte dos alimentos (vegetais) ingeridos que não é

digerida e absorvida pelo organismo para produzir energia. São classificadas em fibra

solúvel e insolúvel. 35

As fibras são importantes na alimentação porque aceleram a passagem dos produtos

residuais do organismo, absorvem substâncias perigosas (toxinas) e mantém o tubo

digestivo saudável. 7, 35 Outro benefício importante da fibra em relação ao trato

gastrintestinal, é que ela serve de substrato para formação de ácidos graxos de cadeia curta

(AGCC), que fornecem energia para as células intestinais desempenharem bem suas

funções.3

Verifica-se que vêm ocorrendo mudanças nos hábitos alimentares e na qualidade da

alimentação, principalmente nos grandes centros urbanos, comprometendo a ingestão

adequada de fibras. Alguns trabalhos demonstram aumento no consumo de alimentos

processados e refinados (pobres em fibras) e diminuição na ingesta de alimentos vegetais e

integrais, que apresentam altos teores de fibras. 1, 4

Os pesquisadores Burkitt e Trowell, na década de 70, relacionaram à falta na ingestão de

fibras a algumas doenças, dentre as quais destacam-se afecções do cólon, constipação e

doenças sistêmicas (hiperlipidemia, doença cardiovascular, diabete e obesidade).2 Desde

então, muitos trabalhos vêm comprovando os benefícios das fibras para manutenção da

saúde e prevenção de doenças.2

As pesquisas avançaram também em relação à aplicação clinica das fibras na nutrição

enteral, e têm comprovado os benefícios de sua utilização em pacientes que necessitam

desse tipo de alimentação. Dentre eles destacam-se a melhora da diarréia, constipação,

tolerância à glicose e à lipídios do sangue.5

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5

DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS

É difícil uma definição ideal do que são fibras, pois elas são constituídas por uma grande

variedade de substâncias com propriedades físicas, químicas e fisiológicas diferentes. 5

Segundo a Association of Official Analytical Chemists (AOAC), órgão americano, “fibra

alimentar é a parte comestível das plantas ou análogos aos carboidratos que são resistentes

à digestão e absorção pelo intestino delgado humano, com fermentação parcial ou total no

intestino grosso”.36 Essa definição permite incluir substâncias, que fisiologicamente são

semelhantes às fibras, façam parte dessa categoria de nutrientes. São elas: a inulina, os

frutooligossacarídeos (FOS) e os amidos resistentes. 5, 6

As fibras apresentam as seguintes características: 2, 5, 7

São de origem vegetal; São carboidratos ou derivados dos mesmos, com exceção da lignina;

Resistem à hidrólise pelas enzimas digestivas humanas;

Chegam intactas no cólon, e então, podem ser hidrolisadas e fermentadas pela florabacteriana do cólon.

É importante ressaltar que a fibra dietética ou fibra alimentar é diferente de resíduo e fibra

crua. Fibra crua é o conteúdo das fibras vegetais obtida após tratamento de ácido e álcali, é

um conceito químico e não biológico. Os valores de fibra crua não expressam a quantidade

total de fibras do alimento, e sim uma fração das fibras totais. O resíduo “corresponde à

quantidade de fezes sólidas formadas por produtos alimentares não digeridos ou não

absorvidos”. 6

TIPOS DE FIBRAS E CLASSIFICAÇÃO

Os principais tipos de fibra dietética são os polissacarídeos: celulose, hemicelulose,

pectinas, gomas, mucilagens, frutooligossacarídeos, inulina, amido resistente e a lignina

(que não é polissacarídeo e sim um polímero de fenilpropil álcool e ácidos). 2, 3, 8, 36

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6

Tipos de fibras:

Frutooligossacarídeos (FOS), Inulina e Amido Resistente:

FOS e inulina são carboidratos com propriedades fisiológicas semelhantes às fibras.

Normalmente estão presentes na alimentação (aspargos, cebola, alho poro, trigo e chicória),

não sofrem ação das enzimas digestivas, mas são fermentadas no cólon. São hidrossolúveis

e fermentáveis, mas não são viscosas. Recebem atenção maior dos pesquisadores devido

sua capacidade de modificar a flora intestinal e promover proliferação de bactérias

benéficas (bifidobactérias), redução das bactérias patogênicas, redução de metabólitos

tóxicos e de enzimas patogênicas, prevenção de diarréia e constipação. 5, 6, 10, 36

Os FOS são carboidratos de cadeia curta (oligossacarídeos), e têm duas qualidades,

resistência à ação das enzimas hidrolíticas e uma preferência por bifidobactéria, ou seja, são

bifidogênicos, daí seu efeito prebiótico. Alimentando as bactérias benéficas que habitam o

intestino e provocando uma redução do PH, proporcionam uma melhor absorção de certos

minerais como cálcio e magnésio. São obtidos pela hidrólise de inulina através da enzima

inulase e sintetizados a partir da sacarose pela enzima frutosiltransferase, enzima fúngica

obtida do Aspergilusninger. 5, 6

A inulina é um polímero de glicose (contém de 2 a 60 unidades de frutose ligadas a uma

unidade de glicose). É fermentável e bifidogênica (função de prebiótico). É encontrada na

raiz de chicória, alho, cebola, banana, e pode ser sintetizada a partir da sacarose. 5, 6, 7

O Amido resistente (AR) foi classificado como a soma do amido e dos produtos de

degradação que não são absorvidas no intestino delgado de uma pessoa saudável. Existem 3

(três) categorias de AR: AR1, amido fisicamente envolvido (grãos e sementes parcialmente

moídos); AR2, grânulos cristalinos não gelatinizados (encontrados em bananas e batata);

AR3, amilose invertida (formada durante o cozimento do amido gelatinizado pelo calor

úmido). Os fatores intrínsecos e extrínsecos interferem na digestão e/ou degradação dos

ARs. Fator intrínseco é a própria estrutura física do amido que pode interferir na sua

digestão. Fatores extrínsecos são: mastigação, tempo de trânsito digestivo, concentração de

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7

enzimas digestivas (amilase e outras), pH, quantidade de amido e outros componentes da

alimentação que interferem na digestão do amido. O AR age como fibra solúvel, não é

digerido no intestino delgado, mas é fermentado pelas bactérias colônicas (porção distal do

cólon). 6, 12

Goma arábica, celulose, pectinas:

As gomas são polissacarídeos com um número variável de monossacarídeos em sua cadeia,

ou seja, são polissacarídeos complexos 37. São consideradas parte não estrutural das plantas

e têm alta capacidade de formação de gel, por isso é amplamente utilizada na indústria

alimentícia como emulsificante ou estabilizante de alimentos36.

A goma arábica é considerada uma fibra solúvel. Alguns trabalhos têm mostrado efeito

sinérgico entre FOS e goma arábica, que quando presentes em uma mesma solução

potencializam o efeito bifidogênico. Devido ao seu alto peso molecular, a goma arábica não

possui efeito laxativo, não contribuindo para um possível quadro de diarréia. Os humanos

toleram bem doses de até 50 g/dia 36, 37. Em virtude de sua estrutura química altamente

ramificada, que dificilmente é degradada pelas enzimas bacterianas, a fermentação da goma

arábica é lenta, assim, a produção de gás é retardada e distribuída pelo cólon sem provocar

a sensação de inchaço e distenção abdominal. A produção de AGCC também fica mais

lenta, atingindo todo o cólon favorecendo seus efeitos fisiológicos benéficos para toda a

mucosa do intestino grosso 36. Na alimentação são encontradas em farelo de aveia, farinha

de aveia e farelo de cevada.

A celulose é substância orgânica mais abundante na natureza e o componente mais comum

das paredes celulares das plantas (filamentos finíssimos chamados microfibrilas), é uma

fibra do tipo insoluvel. 36, 38. É um polissacarídeo linear, de alto peso molecular, constituído

por unidades de glicose unidas por ligação do tipo beta, que é mais resistente, o que permite

menor ação das enzimas digestivas. As principais propriedades da celulose são: retém água

nas fezes, aumenta o volume e peso das fezes, favorece o peristaltismo do cólon, diminui o

tempo de trânsito colônico, aumenta o número de evacuações, reduz a pressão intraluminal36, 37, 38, 39.

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8

A pectina é um termo genérico para um grupo de polissacarídeos ramificados, presentes nas

paredes celulares de plantas que produzem sementes, formados por unidades de ácido

galacturônico, mas que podem incluir outras moléculas de monossacarídeos (frutose, xilose

e ramnose) 37, 38. A quantidade de ácidos galacturônicos é que proporcionam o poder a

viscosidade e o poder geleificante. Grande parte da pectina comercializada é extraída como

subproduto da indústria de frutos cítricos enlatados. A casca desses frutos é grande fonte de

pectina, e sua quantidade varia segundo a estação e a variedade do fruto. É classificada

como agente protetor e suspensor, por isso está presente em várias fórmulas antidiarréicas.

No trato intestinal superior, a pectina possui uma superfície composta por partículas

ultramicroscópicas (micelas) que têm a capacidade de absorver as toxinas. A eficácia da

pectina no tubo digestivo deve-se em grande parte à sua ação coloidal 38. Nas frutas, a

pectina é encontrada na forma insolúvel (protopectina), e é convertida na forma solúvel por

aquecimento da fruta com ácido diluído. Embora sejam encontradas em todos os vegetais,

as frutas cítricas e as maçãs são as mais ricas em pectina 37.

Classificação:

As fibras podem ser classificadas de acordo com a sua estrutura, sua solubilidade em água e

em relação ao grau de fermentação. 6, 36

Estrutura:

Grande parte das fibras pertence ao grupo de polissacarídeos, os quais são muito variáveis

física e quimicamente, sendo definidas de acordo com a estrutura dos alimentos.

Normalmente, o que difere as fibras é: 36

Quantidade de monossacarídeos; Tipo de monossacarídeos na cadeia polimérica; Seqüência dos monossacarídeos na cadeia; Cadeias secundárias; Tipo de ligação, alfa ou beta, entre os monossacarídeos.

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Assim, a classificação de acordo com a estrutura é: polissacarídeo amídico ou amiláceo e

polissacarídeo não amídico ou não amiláceo.

Solubilidade em água:

Tomando-se por base suas propriedades de solubilidade em água, as fibras classificam-se

em solúveis e insolúveis.

Fibras solúveis: pectinas, mucilagens, gomas (goma arábica e goma guar), inulina, FOS

(frutooligossacarídeos), beta-glucan, psyllium, e hemiceluloses tipo A. Estas fibras têm a

capacidade de se ligar à água e formar géis. No trato gastrintestinal, retardam o

esvaziamento gástrico, o tempo de transito intestinal, diminuem o ritmo de absorção de

glicose e colesterol, são substratos para fermentação bacteriana que resultam em gases

(hidrogênio, metano e dióxido de carbono) e ácidos graxos de cadeia curta (AGCC),

importantes para o metabolismo intestinal. 3, 6, 8, 36

São encontradas principalmente em frutas e verduras, mas também em cereais (aveia e

cevada) e leguminosas (feijão, grão de bico, lentilha e ervilha). 8

Os principais efeitos metabólicos das fibras solúveis são descritos a seguir: 3, 6, 7, 8

Retardam esvaziamento gástrico e o transito intestinal; Alteram o metabolismo colônico através da produção dos AGCC; Modulam a mobilidade gastrintestinal Reduzem a diarréia (aumento na absorção de água); Promovem o desenvolvimento da mucosa intestinal (íleo e cólon); Proporcionam energia (devido à fermentação) para mucosa intestinal; Diminuem o pH do cólon; Melhoram a proteção contra infecção (função de barreira, imunidade); Aumentam tolerância a glicose; Diminuem os níveis de colesterol total e de LDL.

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Fibras insolúveis: celulose, hemicelulose tipo B, amido resistente e lignina. Fazem parte da

estrutura das células vegetais. Apresentam efeito mecânico no trato gastrintestinal, são

pouco fermentáveis, aceleram o tempo de transito intestinal devido à absorção de água. 3

São encontradas principalmente em verduras, farelo de trigo e grãos integrais.

Os principais efeitos metabólicos são: 3, 6, 7, 8

Aumentam o peso e a maciez das fezes;

Aumentam a freqüência da evacuação e diminuem o tempo de trânsito no cólon;

Reduzem a constipação;

Retém água;

São pouco fermentáveis;

Não são viscosas;

Intensificam a proteção contra infecção bacteriana.

Fermentação bacteriana:

A fermentação das fibras ocorre no cólon pela ação das bactérias anaeróbicas. O grau de

fermentação colônica sofre interferência da composição da flora intestinal e das

características químicas e físicas, ou seja, o tipo de fibra, a solubilidade, a fonte, a forma e o

tamanho das partículas. 3, 5

Além das fibras, FOS, inulina, amidos resistentes, outros substratos (açúcares arabinose,

xilose, manose e ramnose) e muco intestinal também são fermentados no intestino. 6

Os produtos da fermentação bacteriana das fibras são: 3

Ácidos graxos de cadeia curta (AGCC): os mais importantes da fermentação das

hemiceluloses e pectinas são o ácido acético, butírico e propiônico. São removidos do

lúmen intestinal por difusão iônica e facilitam a absorção do sódio e potássio.

Gases: hidrogênio, metano e dióxido de carbono, que são excretados via retal.

Energia: utilizada para crescimento e manutenção das bactérias.

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A fermentação das fibras varia de 0% a 90%, e, só é considerada fermentável, se for no

mínimo 60% fermentada. 6 Quanto mais solúveis a fibra, maior o seu grau de fermentação7, a saber: lignina, 0%; celulose, 15% a 60%; hemicelulose, 56% a 85% e pectinas, 90% a

95%. 3

O trato gastrintestinal possui, mais de 500 espécies diferentes de bactérias. No cólon, a

flora bacteriana consiste quase que totalmente de bactérias anaeróbias estritas, como

Bacteróides, Bifidobacterium, Clostridium e Lactobacillus. 2, 5, 6

Efeitos da fermentação bacteriana:2, 3, 7, 10, 14, 15

A formação de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) é o resultado do metabolismo

bacteriano. Os AGCCs são formados a partir da degradação bacteriana de carboidratos e

proteínas da dieta e os mais abundantes são o acetato, propianato e butirato. Os principais

substratos para fermentação são as fibras da dieta, frutooligossacarídeos e o amido. Uma

vez formados são rapidamente absorvidos na luz intestinal.

O AGCC tem importante papel na fisiologia do intestino: é reconhecido como principal

fonte de energia para o enterócito; estimula a proliferação celular do epitélio; melhora o

fluxo sanguíneo; aumentam a absorção de água e sódio, importantes nos casos de diarréia;

diminui o pH intraluminal (diminui a absorção da amônia), importantes para pacientes com

encefalopatia hepática e insuficiência renal.

Uma dieta com quantidade adequada de fibras fermentáveis, diminui a necessidade de

insulina em diabéticos, devido aos mecanismos relacionados à metabólitos do AGCC. Os

AGCC favorecem a absorção de vitamina K e magnésio devido à acidificação do lúmen

intestinal. O acetato e o propianato favorecem a absorção de cálcio no cólon.

O propianato tem efeitos diretos no metabolismo de carboidratos, ou seja, é substrato para a

gliconeogênese. O acetato influencia indiretamente o uso de glicose ao reduzir as

concentrações de ácidos graxos livres séricos. O efeito dos AGCC no metabolismo lipídico

é de grande interesse, em especial sobre o mecanismo redutor de lipídios da fibra solúvel.

In vitro, o propianato inibe a síntese de colesterol em tecido hepático, entretanto, a

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quantidade de propianato necessária para isso é muito grande e não é alcançada na veia

porta. Em estudos com alimentação humana o propianato não tem efeito sobre o colesterol

sérico. O acetato é substrato preferencial para a lipogênese, sendo o único ácido graxo que

atinge os tecidos periféricos. O efeito do acetato no aumento do colesterol sérico foi mais

sugerido após estudo em que se administrou lactulose em indivíduos sadios por duas

semanas e o resultado mostrou aumento nas concentrações séricas de colesterol total, LDL,

apoliproteína B e triacilgliceróis.

Há grande interesse nos substratos que produzem AGCC, pois se acredita que o butirato

pode melhorar a saúde do cólon. Há evidências que a fermentação colônica de amidos

resistentes (AR) aumenta a concentração de butirato e propianato no cólon, dependendo da

fonte de amido. Esses achados levantam a possibilidade do uso de AR no tratamento da

colite ulcerativa e prevenção do pólipo e câncer de cólon.

FONTES DE FIBRAS

Os principais tipos de fibras (celulose, hemicelulose, pectina e lignina), são encontrados

nos diversos vegetais e alimentos que fazem parte da dieta, em concentrações variadas

(tabela 1).

Fontes especiais de fibras:

Aveia

A aveia é um cereal de muito boa qualidade nutricional, pois apresenta altas quantidades de

proteínas, vitaminas, ácido oléico e linoléico, e, o carboidrato presente, é rico em fibras

solúveis denominadas β-glucanas.7 As β-glucanas são polissacarídeos lineares, não

ramificados, compostos por unidades de glicose unidos por ligações beta (β-1,4 e β-1,3).

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São solúveis em água e resistentes aos processos digestivos e aos tratamentos aplicados

durante o processamento da aveia. 7, 11 As beta-glicanas são componentes da fibra alimentar

solúvel presente na aveia e sua importância é devido às propriedades funcionais e aos

efeitos hipocolesterolêmicos e hipoglicêmicos apresentados 40. O teor de beta-glicanas na

aveia é variável, dependendo do cultivo e é influenciado por fatores genéticos e ambientais.

Soja

As fibras da soja, também denominadas de polissacarídeos da soja (PS), extraídas após

maceração do feijão, são preferencialmente do tipo insolúvel, com ampla utilização na

dietoterapia e indústria alimentícia, porque possui ótima estabilidade em meio aquoso, sem

comprometimento da viscosidade 13, 36. Devido à sua composição, aproximadamente 90 a

95% de fibras insolúveis, mantém os efeitos fisiológicos observados nesse tipo de fibra. 36

Os PS auxiliam na redução dos níveis plasmáticos de colesterol e glicose em pessoas com

diabetes tipo II. O PS consiste de uma cadeia não linear contendo galactose, xilose, frutose,

ramnose e manose.

Grão de trigo

O grão de trigo é formado por endosperma, farelo de trigo e germe de trigo, sendo que cada

um tem suas características especificas. O endosperma representa 83% do grão do trigo; o

farelo representa 14% do grão e a sua celulose acelera o trânsito intestinal; o germe do trigo

representa apenas 2% do grão. O grão de trigo é rico em nutrientes e energia, por isso é

bastante utilizado na produção de farinhas, pães (integrais ou enriquecidos) e cereais. 7

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Tabela 1: Fontes Alimentares ricas (em ordem crescente) de acordo com os tipos de fibras

Pectina Celulose Hemicelulose Lignina

Pinhão cozido Feijão adzuki cozido Arroz integral cozido Cenoura crua

Farinha trigo especial crua Feijão branco cozido Pão dietético Jiló cozido

Flocos de trigo Goiaba branca Farinha mandioca crua Mostarda cozida

Pão dietético Amêndoa Farinha aveia crua Feijão preto cozido

Pão milho Farinha mandioca crua Feijão roxinho cru Feijão mulatinho cozido

Farinha mandioca crua Feijão roxinho cozido Pinhão cozido Caqui mole sem casca

Aveia flocos crua Lentilha cozida Pão francês Caqui mole com casca

Lentilha crua Feijão branco cru Trigo quibe cru Farinha centeio crua

Trigo quibe cru Feijão carioca cozido Feijão adzuki cozido Farinha aveia crua

Feijão preto cru Grão de bico cru Pão integral Goiaba branca

Germe de trigo cru Tremoço conserva comcasca

Cogumelo cozido Goiaba vermelha

Feijão branco cru Lentilha crua Cogumelo conserva Tremoço conserva comcasca

Mandioca cozida e frita Feijão carioca cru Flocos de trigo Avelã

Fécula batata crua Feijão vermelho cru Pão centeio Flocos de arroz

Feijão carioca cru Feijão mulatinho cru Pipoca Farelo aveia cru

Banana terra frita Feijão roxinho cru Germe de trigo cru Trigo quibe cru

Farinha aveia crua Feijão preto cru Feijão roxinho cozido Pipoca

Pipoca Trigo quibe cru Farinha centeio crua Amêndoa

Flocos de milho Farinha trigo crua Farinha trigo crua Farelo trigo cru

Feijão vermelho cru Farelo trigo cru Farelo trigo cru Farinha trigo crua

Adaptado por IMeN: Tabela de Composição dos alimentos/Mendez M. et al, 2001 9

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EFEITO PREVENTIVO DAS FIBRAS

Muitos trabalhos têm sido realizados com intuito de comprovar os benefícios das fibras.

Conforme o que já foi descrito, pode-se verificar que o consumo de fibras beneficia o trato

gastrintestinal como um todo, e que, a falta ou ingestão inadequada deste nutriente pode

prejudicar a motilidade e o metabolismo do intestino.

Algumas doenças do intestino têm sua causa relacionada ao consumo de fibra (ingestão

nula ou baixo consumo). Os AGCC têm influência direta, no tratamento ou prevenção, em

doenças como colite por desuso e regeneração da mucosa colônica. Alguns trabalhos foram

realizados para verificar a ação de AGCC no desenvolvimento ou tratamento de retocolite

ulcerativa, mas os resultados foram contraditórios, necessitando tal comprovação. 3

Portanto, é necessário que trabalhos sejam realizados para comprovar se a falta de consumo

de fibras ou ingestão insuficiente é motivo para desenvolvimento de doenças.

EFEITOS FISIOLÓGICOS

A estrutura e as características das fibras é que vão determinar os efeitos que esses

polímeros desempenharão no trato gastrintestinal.3 Fatores como a viscosidade, a área e o

tamanho das partículas, solubilidade e insolubilidade das fibras, cristalinidade, densidade e

a relevância da troca iônica são importantes para determinar os efeitos das mesmas.2, 3, 7

Efeitos fisiológicos das fibras no estômago e duodeno:

A refeição rica em fibras tem mais volume, portanto exige mastigação prolongada. Além

disso, as fibras estimulam a salivação e melhoram a viscosidade do suco duodenal, pois

diminuem o pH do mesmo (pectina), importante para indivíduos com úlcera duodenal.

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Também retardam o esvaziamento gástrico (pectina e gomas) e aumentam a saciedade

(redução na ingesta alimentar), relevante para dietas de emagrecimento.3, 7, 15

Efeitos fisiológicos das fibras no intestino delgado:

No intestino delgado é que ocorre a maior parte dos processos da digestão e absorção dos

nutrientes. Ao contrário do que acontece no estômago, no intestino as fibras aumentam a

velocidade do trânsito no delgado proximal e reduzem nas porções distais.7 Também no

delgado as fibras retardam a captação de açúcares, aminoácidos e drogas como a digoxina e

acetaminofeno. Estudos mostram que a pectina tem capacidade de aumentar a espessura da

camada de água não agitada, que atua como barreira à difusão de nutrientes.2 As fibras

formadoras de géis, como a pectina, auxiliam na redução dos níveis séricos de colesterol e

triglicerídeos em ratos e em humanos.16 A goma guar tem efeito hipoglicemiante em

indivíduos saudáveis e portadores de diabetes. 15

Efeitos fisiológicos das fibras no cólon:

No cólon é que predomina um maior aproveitamento dos alimentos mediante um contato

mais intenso com a mucosa intestinal. 19

As fibras insolúveis aumentam o peso e a maciez das fezes, aumentando a freqüência de

evacuações. A captação de água e fermentação de fibras, FOS, inulina e amido resistente

têm relação com o aumento de peso das fezes. As fibras alimentares diminuem a pressão do

cólon, aumentam o peso e melhoram a consistência das fezes (controla a diarréia),

aumentam a velocidade do trânsito intestinal, mantêm a flora intestinal e as funções do

cólon.7, 18

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APLICAÇÕES CLÍNICAS

Constipação:

A passagem ordenada de conteúdo intestinal gera uma equilibrada absorção de água e sal.

Quando o trânsito intestinal apresenta-se lento, ocorre excessiva absorção de água, o

conteúdo intestinal torna-se menos úmido e as fezes ficam duras, resultando na

obstipação. 20

A obstipação pode ser definida objetivamente como um distúrbio ou diminuição da

freqüência de evacuações em intervalos maiores que 48 a 72 horas, o que permite maior

absorção de água pela mucosa intestinal, resultando e fezes duras e de difícil passagem pelo

reto. A obstipação é uma queixa gastrointestinal freqüente e está relacionada a hábitos

alimentares inadequados, (baixa ingestão de fibras e líquidos), doença vascular do intestino,

anormalidade metabólica, uso freqüente de laxantes, falta de exercícios, fatores emocionais,

entre outros. 8

Indivíduos com constipação crônica, onde não foi encontrada causa orgânica, apresentavam

baixa ingestão de fibras na maioria dos casos. A indicação de fibras solúveis e insolúveis

em quantidade adequada aumenta o bolo fecal. O farelo de trigo tem sido usado para aliviar

os sintomas, pois, pela retenção de água, forma fezes macias e pesadas. 3

A forma mais freqüente de obstipação crônica está associada ao trânsito intestinal lento, em

que a alimentação inadequada, o baixo consumo de fibras, a diminuição ou perda do reflexo

evacuatório e a vida sedentária exercem papel fundamental. Marlett et al, 2000, estudou a

função intestinal de indivíduos que receberam fibras provenientes de um isolado de

psyllium e demonstrou que eles apresentaram fezes mais macias, além de facilidade na

evacuação, sensação de alívio e aumento do volume fecal. Além de macias, a maioria das

fezes coletadas era visivelmente mais gelatinosa. 21

Embora poucos estudos tenham avaliado o emprego da fibra alimentar no tratamento da

constipação crônica na infância, trabalhos com adultos e animais demonstram que, em

geral, suplementos contendo muita fibra insolúvel geram maior volume fecal que os

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contendo muita fibra solúvel e/ou diminuem o tempo de transito colônico.22 No entanto,

Chen et al. não encontraram diferenças no peso fecal úmido de voluntários humanos

recebendo farelo de trigo ou de aveia (cozidos) contendo 95 ou 50% de fibra insolúvel.23

No caso de crianças, o farelo de trigo parece ser a fibra ideal, pelo seu alto teor de fibra

insolúvel (lignina, celulose e polissacarídeos não celulósicos) e grande quantidade de

pentose, o que já foi comprovado em estudos com adultos constipados.22

Obesidade:

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a obesidade o problema número um de

saúde publica mundial, causando grande preocupação entre os profissionais de saúde.

Mudanças no hábito alimentar, o aumento na inatividade física e do sedentarismo são

considerados fatores cruciais para explicar a dimensão do problema.

Há varias definições para obesidade, a mais sintética e atual é de Edwards, que define o

obeso como portador de uma doença endócrino-metabólica, crônica, heterogênea e

multifatorial, caracterizada pelo excesso de peso e de gordura no corpo. 24

A obesidade representa grave risco para saúde, pois está associada a um grande número de

estados patológicos, dentre eles, a hipertensão, diabetes, coronariopatias, desordens

lipidicas. Também é considerada como fator de risco para alguns tipos de câncer, está

relacionada com problemas articulares, cálculos biliares e problemas respiratórios. 25

Vários estudos mostram que dietas ricas em fibras podem prevenir ou auxiliar no

tratamento da obesidade. Segundo Howarth et al a maioria dos estudos publicados indicam

que o consumo de fibras solúveis e insolúveis proporciona saciedade e diminui

conseqüentemente a fome. De acordo com o pesquisador, 14 g de fibra/dia por mais de 2

dias está associado a uma diminuição de 10% no consumo de energia e a uma perda de

peso de 1,9 kg após 3,8 meses. 26

De acordo com vários estudos, e dentre os mecanismos de ação das fibras para auxiliar naredução de peso corpóreo vale ressaltar: 27

Contribuição na redução da densidade calórica da dieta em razão da alta capacidade dasfibras solúveis em reter água (pectinas, gomas, mucilagens, psyllium).

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19

Estimulo da secreção salivar e do suco gástrico, favorecendo a sensação de saciedadeem razão da maior necessidade de mastigação das fibras.

Redução da velocidade do esvaziamento gástrico, diminuindo a fome e prolongando asensação de saciedade.

Diminuição da absorção de ácidos graxos e de sais biliares no intestino delgado.

Hipercolesterolemia:

As fibras da dieta também influenciam nas concentrações de colesterol (Co). Normalmente,

as fibras insolúveis, como a celulose, hemicelulose e lignina, presentes nos grãos vegetais,

possuem efeitos limitados nos níveis de Co, embora as fibras solúveis, como as gomas e as

pectinas encontradas em legumes e frutas, possuam propriedades mais intensas de redução

do Co. Além da substituição e/ou redução de alimentos hipercolesterolêmicos da dieta, as

fibras auxiliam na redução dos níveis de Co por três (3) outros mecanismos. Primeiro, as

fibras podem atuar como agente seqüestrador de ácidos biliares. Segundo, as fibras

provavelmente reduzem as taxas de aumento da insulina pela redução da velocidade de

absorção de carboidratos e retardando, assim, a síntese de Co. Terceiro, as fibras produzem

AGCC, que são absorvidos pela circulação portal e inibem a síntese de Co.28

Diabetes:

O Diabetes mellitus é um distúrbio crônico caracterizado por comprometimento do

metabolismo da glicose e de outras substâncias produtoras de energia, bem como pelo

desenvolvimento tardio de complicações vasculares e neuropáticas29, gerando disfunção,

danos ou falência de múltiplos órgãos, especialmente coração, rins, olhos, nervos e vasos

sanguíneos. 30, 31

A principal característica do Diabetes é o aumento da glicemia, decorrente da falta ou

diminuição de insulina circulante, ou mesmo da resistência dos tecidos periféricos em

utilizar a insulina disponível.

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20

A fibra insolúvel geralmente não baixa os níveis sanguíneos de glicose ou colesterol. Já a

fibra solúvel torna-se viscosa ou gomosa quando misturada com água, aumenta o tempo de

trânsito intestinal retardando o esvaziamento gástrico e a absorção de glicose.32 De acordo

com Lima e Sabaa,16 alimentos adicionados com goma guar, melhoram a curva glicêmica e

a glicemia pós-prandial em indivíduos sadios e diabéticos.

As fibras também aumentam a sensibilidade periférica à insulina. 32

Dentre os inúmeros benefícios que a fibra traz para portadores de diabetes, destacam-se: 32

Digestão e absorção lentas dos nutrientes. Diminuição da glicose plasmática pós-prandial. Aumento da sensibilidade dos tecidos à insulina. Aumento do número de receptores à insulina. Estimulação do uso da glicose. Controle da produção hepática de glicose. Diminuição da liberação de hormônios contra-reguladores (glucagon). Diminuição do colesterol sérico. Diminuição dos triacilgliceróis séricos em jejum e pós-prandiais. Possível atenuação da síntese de colesterol pelo fígado. Pode aumentar a saciedade entre as refeições.

No final dos anos 90 foram realizadas pesquisas relacionadas aos fatores hormonais e sua

relação no controle glicêmico, sendo então descoberta a importância do hormônio GLP-1

(Glucagon Like Peptide-1).

O GLP-1 é um peptídeo derivado do Proglucagon, encontrado em grandes concentrações

na mucosa do íleo distal e intestino grosso. Também é considerado um potente agente

antidiabetogênico, porque estimula a secreção de insulina, inibe a secreção de glucagon e

retarda o esvaziamento gástrico. Essas reações levam à redução da glicemia, permitindo

melhor controle glicêmico nos pacientes diabéticos. Alguns pesquisadores têm avaliado a

relação entre a produção de GLP-1 através do consumo alimentar, sendo, portanto,

descoberto que dependendo da dieta ofertada, pode-se encontrar maior ou menor produção

de GLP-1. As fibras solúveis altamente fermentáveis produzem grandes quantidades de

AGCC, e estes são potentes estimuladores da secreção de GLP-1 36.

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21

O excesso na ingestão de fibras pode causar aumento na produção dos gases intestinais,

desconforto abdominal ou perturbação gastrintestinal e podem alterar a farmacocinética de

algumas drogas. 32 Mas estudos demonstram que dietas com teores de fibras adequados (de

acordo com as recomendações) por período prolongado, melhoram significativamente o

controle glicêmico e reduzem o requerimento diário de insulina exógena36.

Câncer de cólon:

Dados do Ministério da Saúde apontam que o câncer de cólon é a terceira neoplasia mais

letal em homens e a quarta em mulheres no Brasil, podendo ocupar o quarto ou quinto lugar

no mundo.

Estudos epidemiológicos e clínicos sugerem que uma dieta pobre em gorduras e rica em

fibras exerça papel protetor contra o desenvolvimento de câncer colorretal. Esses

mecanismos de proteção pelas fibras se dão na fisiologia do intestino (aumento do trânsito

intestinal e do bolo fecal, diluição dos constituintes fecais) e sobre o ambiente intestinal

(modificação da microflora, alteração do metabolismo dos sais biliares, da adsorção de

carcinógenos, diminuição do pH colônico e aumento da concentração fecal de AGCC).

Além disso, o butirato exerce in vitro ação supressora na proliferação celular, inibe síntese

de DNA, regula a diferenciação de células neoplásicas cultivadas e tem efeito modulador na

estrutura primária da cromatina. 3

O exato papel dos AGCC na etiologia e no tratamento de doenças colorretais ainda não

esta bem elucidado. Mas há perspectivas para sua utilização na prevenção ou tratamento

das seguintes condições clinicas: colite por desuso, proteção de anastomoses colorretais,

colite ulcerativa refratária, prevenção de atrofia mucosa em NPT, prevenção de

translocação bacteriana, prevenção de câncer colorretal, efeitos de má absorção. 3

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22

RECOMENDAÇÃO PARA INGESTÃO DE FIBRAS

Abaixo (tabela 2) verificam-se as recomendações para ingestão diária de fibras para

diferentes faixas etárias, sexo e idade.

Tabela 2: Ingesta Alimentar de Referencia – DRI: Macronutrientes

Nutriente Função Faixa etária(idade anos)

RDA/AI*g/dia

Alimentos fonte Efeitos adversos doconsumo excessivo

Fibra total Melhora efeitolaxativo, reduzrisco doençascoronarianas,ajuda namanutenção dosníveis sanguíneosde glicose.

Lactente0 – 6 m7 – 12 mCrianças1 – 34 – 8Homem9 – 1314 – 1819 – 3031 – 5050 – 70> 70Mulher9 – 1314 – 1819 – 3031 – 5050 – 70> 70Gestação< 1819 – 3031 – 50Lactação< 1819 – 3031 - 50

NDND

1925

313838383030

262625252121

282828

292929

Fibra alimentar estápresente nos grãos(p.ex: aveia, trigo,arroz) e fibrafuncionalsintetizada ouisolada de plantasou animais.

Fibra alimentar temcomposição variada,portanto, é difícilencontrar efeito adversocom um tipo de fibraespecifico, especialmentequando fitato tambémestá presente nas fibrasnaturais. Está concluídoque geralmente na dietasaudável, a alta ingestãode fibra alimentar nãoproduz efeito prejudicial àsaúde individual.Entretanto, ocasionaissintomas gastrintestinaissão observados quando seconsume alguma fibraisolada ou sintética,efeitos adversos gravenão são observados.Deve-se ter atenção ànatureza da fibra ecuidado no seu consumo.Por isso, a ULa paragrupos de fibras não foideterminado.

Adaptado de: Dietary Reference Intake – DRI: Applications in Dietary Planning; Food and NutritionBoard – 2003.

Nota:

(*) AI (Ingestão Adequada) é o consumo médio de um grupo/população.

(a) UL: nível mais alto de consumo diário de nutrientes que não apresenta risco de efeitos adversos paraquase todos os indivíduos da população geral.

A ADA (American Dietetic Association) recomenda, para adultos sadios, a ingestão de

fibras de 20 a 35 g/dia ou 10 a 13 g de fibras para cada 1.000 kcal ingeridas. Para crianças

(acima de 2 anos) e adolescentes (até 20 anos), a recomendação é igual à idade mais 5 g de

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23

fibras/dia. Para os idosos, recomenda-se de 10 a 13 g de fibras para cada 1.000 kcal

ingeridas. 3

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