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Patrícia Aparecida Barbosa Silva FATORES ASSOCIADOS À QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS ADSCRITOS NO DISTRITO SANITÁRIO NOROESTE DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS Belo Horizonte Escola de Enfermagem da UFMG 2012

fatores associados à qualidade de vida de idosos adscritos no

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Fatores associados qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito Sanitrio Noroeste de Belo

Horizonte, Minas Gerais

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Patrcia Aparecida Barbosa Silva

FATORES ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA DE

IDOSOS ADSCRITOS NO DISTRITO SANITRIO

NOROESTE DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS

Belo Horizonte

Escola de Enfermagem da UFMG

2012

Fatores associados qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito Sanitrio Noroeste de Belo

Horizonte, Minas Gerais

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Patrcia Aparecida Barbosa Silva

FATORES ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA DE

IDOSOS ADSCRITOS NO DISTRITO SANITRIO

NOROESTE DE BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS

Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem. rea de concentrao: Enfermagem e Sade Orientadora: Prof. Dr. Snia Maria Soares

Belo Horizonte

Escola de Enfermagem da UFMG

2012

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Esta pesquisa vinculada ao Ncleo de

Estudos e Pesquisas em Cuidado e

Desenvolvimento Humano da Escola de

Enfermagem da Universidade Federal de

Minas Gerais.

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Universidade Federal de Minas Gerais

Escola de Enfermagem

Programa de Ps-Graduao

Dissertao intitulada Fatores associados qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais, de autoria da mestranda Patrcia

Aparecida Barbosa Silva, aprovada pela banca examinadora constituda pelos seguintes professores:

______________________________________________________

Prof. Dr. Snia Maria Soares - Escola de Enfermagem da UFMG - Orientadora

______________________________________________________ Profa. Dra. Dacl Vilma Carvalho - Escola de Enfermagem da UFMG

______________________________________________________

Prof. Dr. Srgio Viana Peixoto - Fundao Oswaldo Cruz e UFMG

______________________________________________________ Prof. Dr. Francisco Carlos Flix Lana

Coordenador do Programa de Ps-Graduao da Escola de Enfermagem da UFMG

Belo Horizonte, 20 de setembro de 2012

Av. Professor Alfredo Balena, 190 - Belo Horizonte, MG - 30130-100 - Brasil - tel.: (031)3134099855 - fax: (31)34099855

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In Memorian,

Aracy Cajulina do Nascimento Martins,

Pela sua amizade, brigas e discusses

num nico sentido de fazer-me chegar a uma definio de amizade.

Creio que somente aps a sua passagem desse plano terreno

ficou mais claro o verdadeiro sentido de uma amiga.

Saudades!

Obrigada, amiga!

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Dedicatria Especial,

Prof. Dr. Snia Maria Soares,

pelos cinco anos de convivncia, ensinamentos, orientao e credibilidade. Como aluna e

amiga tenho conscincia de que te dei muito trabalho e algumas horas de sono perdido. Mas,

porque iria me abdicar de minha teimosia, se isto que me faz prosseguir e alcanar vitrias

inimaginveis? Vibro viemente a cada superao, e com s um olhar posso dizer tudo.

Hoje, mais do que nunca, estou convicta que nossos caminhos se cruzaram no por acaso.

Temos muito o que fazer e com esmero poderemos alcanar todos nossos objetivos. Para isso,

precisaremos de alegria, humor e uma boa noite de sono para que os tropeos no caminho

no nos faam cair. E, se cairmos novamente, levantaremos e prosseguiremos em frente.

Isso porque os sonhos no morrem, apenas adormecem em nossas almas. Transformar a dor

e a angstia num marco de superao digno de nota. Obrigada pela compreenso, pacincia

e palavras incentivadoras nos momentos mais difceis com minha famlia e por no ter

desistido de mim. O distanciamento no final se fez necessrio, pois o luto de um sonho

postergado caberia a mim reacender a luz que eu tinha apagado. Mesmo com sua incansvel

insistncia, j sabia que estava diante de uma pessoa de gnero forte e cabea dura. J que

sobrevivi, agora voc ter uma rdua misso de mant-la acessa, e ser nesse cenrio que

poderemos construir um novo captulo em nossa jornada de pesquisadoras.

Para grandes conquistas, uma vitria a ser festejada. Obrigada por tudo.

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Dedico este trabalho

A Deus, pela oportunidade da vida. Nos momentos mais difceis, sua presena Invisvel nos acolhe e d

foras para prosseguir e vencer nossos propsitos.

Ao Sr. Olinto e Sr. Teresinha, que tamanha alegria em t-los como pais. Passamos por momentos difceis, mas a f e a

persistncia que move nossa famlia nos d coragem para refazermos nossos caminhos.

Ao irmo Adriano, pelo carinho e amizade. Sua confiana e apoio nos torna cada vez mais unidos.

Ao irmo Bruno,

nesse momento estou convencida de que sua excentricidade e loucura nada mais do que a vontade de vencer. Te admiro pela fora de vontade de superar as dificuldades, ansiedade e criatividade. Deixo aqui registrado o mais jovem ranicultor da cidade e que to jovem, vem

conquistando elogios de pessoas conceituadas na rea. Parabns e nunca desista de seus sonhos. Sempre estarei com voc, em qualquer situao.

minha irm Lliam,

que desde a concepo nos tornamos inseparveis. Juntas, conseguimos o impossvel. Essa vitria nossa.

Ao Prof. Dr. Joseph Fabiano Guimares Santos,

que trouxe esperana quando tudo se achava por terminado. Sua contribuio tem um valor inestimvel e o aprendizado foi fantstico.

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Agradecimentos

Meu reconhecimento e minha admirao a todos os participantes deste estudo que, dia aps dia, enfrentam o paradoxo do passar dos anos. Como tudo na vida, a senescncia

marcada por perdas e ganhos.

Aos familiares, pela torcida oficial e por compreenderem que, para todas as grandes conquistas, exigem-se

lutas penosas. Desculpas pelas ausncias. Foram necessrias.

s amigas Aneilde, Gisele, Teresinha, Thabata e Vera, pelos anos de convivncia, amizade e confiana. Obrigada pelo apoio moral e incentivo em

no desistir.

Aos colegas de Mestrado, em especial Adriana, Anglica, Amanda, Cleydson, Daniele, Delma, Helen, Izabel, Josiane, Rassa, Raquel e Tatiana

pela amizade, opinies e fora pela finalizao desta pesquisa.

s amigas Ftima, Francielle, Magda e Thas, pela ajuda na coleta de dados e confiana depositada em minha pessoa. Agora, com mais

tranquilidade retomaremos o ponto de partida e a chegada contemplada.

Aos bolsistas de Iniciao Cientfica e integrantes do NEPCDH, em especial, Ana Luiza, Gisele, Graziela, Lirica e Dinamara,

que aproveitem a oportunidade de crescimento profissional e intelectual. Ser pesquisadora no fcil, mas vivenciada com toda intensidade pode se tornar agradvel.

Secretaria Municipal de Sade de Belo Horizonte, em especial, ao Distrito Sanitrio Noroeste,

por conceder espao para a realizao deste estudo.

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Agradecimentos

Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais, pelo auxlio financeiro concedido.

equipe e pacientes do setor de hemodilise do Hospital Governador Israel Pinheiro, pela acolhida. Cada um faz parte de minha histria, construda com muitas alegrias, algumas

frustraes, mas sempre convicta que encontro-me no melhor local de se trabalhar. Aqui me sinto vontade, trabalhamos muito, mas tambm sempre arranjamos um momento

de descontrao. As risadas, as bagunas e os cochichos fazem parte deste ambiente, que traz no cerne um cuidado especial a nossos amigos pacientes,

amenizando as tristezas e recusas de estarem presos a uma mquina. Fada Marina, primeira pessoa a me intimar a fazer a prova do mestrado,

ciente de meu potencial. Lembro de nossa conversa como se fosse hoje. Obrigada por tudo. Ao meu chefe Dr. Jos Gabriel, que apesar de no compartilharmos das mesmas ideias,

ainda persisto em te considerar uma pessoa alta, barriguda, careca e feioso risos. S para te lembrar, quero meus cinquenta centavos, quem manda torcer contra! Obrigada pela

oportunidade de integrar-me sua equipe, sinto honrada em fazer parte desta. Andria Lidiane, Maria Jos e Sheilla pelas trocas de planto e apoio diante s

adversidades. Vocs, de forma particular, foram luzes que iluminaram meu caminho. s secretrias Joanice, Vanessa, Laina e Shirley, pela amizade, carinho, palavras amigas e

confiana que sempre demonstraram por mim. Aos auxiliares e tcnicos de Enfermagem e equipe mdica, aqui daria uma lista de nomes

extensa, mas o breve anonimato se transforma em uma enorme admirao e apreo por todos vocs. Salve os atleticanos risos e castigo para os cruzeirenses.

Ao Bruno Ramos, Cristiane, Irene, Juliana, Rosa e Simone, que do um toque de alegria e vivacidade em nosso setor.

Andrea Maia, Lisa Paula e Tatiana, pela convico de minha vitria e amizade.

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O sentido da palavra envelhecer

Envelheo, quando o novo me assusta e minha mente insiste em no aceitar. Envelheo, quando me torno impaciente, intransigente e no consigo dialogar.

Envelheo, quando meu pensamento abandona sua casa e retorna sem nada a acrescentar. Envelheo, quando muito me preocupo e depois me culpo porque

no tinha tantos motivos para me preocupar. Envelheo, quando penso demasiadamente em mim mesmo

e consequentemente me esqueo dos outros. Envelheo, quando penso em ousar e antevejo o preo que terei que pagar

pelo ato mesmo que os fatos insistam em me contrariar. Envelheo, quando tenho a chance de amar e deixo o corao que se pe a pensar.

Ser que vale a pena correr o risco de me dar? Ser que vai compensar? Envelheo, quando permito que o cansao e o desalento tomem conta

da minha alma que se pe a lamentar. Envelheo, enfim, quando paro de lutar!

Conselho Municipal dos Idosos de Florianpolis - CMI

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RESUMO SILVA, P. A. B. Fatores associados qualidade de vida de idosos adscritos no Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais. 2012. 184 f. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

INTRODUO: Atualmente o mundo se depara com o envelhecimento global da populao. Com isso surgem desafios relacionados qualidade de vida dos idosos, devido ao declnio funcional, doenas crnicas, maior dependncia, perda da autonomia e isolamento social. de fundamental importncia o estudo da qualidade de vida entre os idosos a fim de se conhecer os determinantes do envelhecimento bem-sucedido. OBJETIVO: Verificar a associao de fatores sociodemogrficos, econmicos, clnicos e comportamentais com a qualidade de vida em idosos adscritos no Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais. METODOLOGIA: Estudo analtico correlacional de corte transversal, envolvendo uma amostra de 401 idosos com 60 anos ou mais acompanhados nas 20 unidades bsicas de sade do Distrito Sanitrio Noroeste, Belo Horizonte. Na coleta de dados, foram utilizados o instrumento WHOQOL-bref para avaliao da qualidade de vida e um questionrio contendo informaes sobre aspectos sociodemogrficos, econmicos, clnicos e comportamentais. Os dados foram inseridos, digitados e analisados utilizando-se o programa SPSS verso 20.0. Foi realizada anlise de regresso logstica condicional stepwise backward para ajuste dos fatores de confuso e regresso logstica multivariada, com modelos binomiais ditos zeroinflated, para avaliao da probabilidade de associao da qualidade de vida com as variveis de interesse. Os dados da anlise multivariada final foram apresentados com os respectivos Odds Ratio (OR) e seus intervalos de confiana de 95% (IC 95%). Nesta anlise, um p cinco anos, sexo masculino, renda familiar R$1.100,00, andar sem auxlio de acessrio, aposentadoria por tempo de servio, consumo de bebida alcolica, domnios do WHOQOL-bref e QVG. Enquanto depresso, diabetes mellitus e aposentadoria por invalidez mantiveram-se inversamente associadas e independentes ao grupo G5. A anlise da curva ROC indicou o valor crtico 60 como o melhor ponto de corte para avaliao da percepo de qualidade de vida e satisfao com a sade. Concluso: A populao estudada apresentou uma percepo de qualidade de vida e satisfao com a sade mediana nos diversos domnios da escala WHOQOL-bref. Dentre as variveis mais fortemente associadas qualidade de vida destacaram-se baixo escore para diagnstico de depresso, prtica de atividade fsica e maior nvel de escolaridade. A interpretao diagnstica da curva ROC permitiu dizer que para o ponto de corte QVG < 60 obteve tima sensibilidade e valor preditivo negativo para rastreamento de idosos com provvel QV ruim/insatisfeito com a sade. A apropriao das percepes de qualidade de vida do idoso pode ser interpretada de forma distinta, de acordo com o campo estrutural e multidimensional desse processo. Desenvolver conceitos da qualidade de vida trazidos pelos idosos e contrapostos com suas percepes de forma dialgica permite fundamentar as concepes de um novo modelo de cuidado dispensado terceira idade. Palavras-chave: Envelhecimento. Idoso. Qualidade de Vida. Sade do Idoso.

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ABSTRACT

SILVA, P. A. B. Factors associated with quality of life of elderly ascribed in the Northwest Sanitary District of Belo Horizonte, Minas Gerais. 2012. 184 f. Dissertation (Master Degree in Nursing) - Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.

BACKGROUND: Currently the world is faced with an global aging of the population. With that arise challenges related to the quality of life for seniors, due to functional decline, chronic diseases, greater dependency, loss of autonomy and social isolation. It is of fundamental importance the study of the quality of life among the elderly in order to understand the determinants of the successful aging. OBJECTIVE: To verify the association of sociodemographic, economic, clinical and behavioral factors with the quality of life in elderly ascribed in the Northwest Sanitary District of Belo Horizonte, Minas Gerais. METHODS: Analytical study correlational cross-sectional, involving a sample of 401 elderly with 60 aged or more accompanied in the 20 basic health units of the Northwest Sanitary District, Belo Horizonte. During data collection, we used the WHOQOL-bref to evaluate of the quality of life and a questionnaire containing information on sociodemographic, economic, clinical and behavioral aspects. Data were entered, typed and analyzed using SPSS version 20.0. Analysis was performed stepwise backward conditional logistic regression to adjust for confounding factors and multivariate logistic regression, with models binomial said "zeroinflated" to evaluate of the likelihood of association of the quality of life with variables of interest. The final multivariate analysis data were presented with their Odds Ratio (OR) and confidence intervals of 95% (95% CI). In this analysis, a p five years, male, household income U.S. $ 1,100.00, floor without aid of accessory, service time retirement, alcohol consumption, areas of the WHOQOL-bref and OQL. While depression, diabetes mellitus and disability retirement remained inversely associated and independent to group G5. The ROC curve analysis indicated the critical value 60 as the best cutoff point for assessing of the perceived of quality of life and satisfaction with health. CONCLUSION: The study population presents a perception of quality of life and satisfaction with health median in the various fields of scale WHOQOL-bref. Among the variables most strongly associated with quality of life stood out low score for diagnosing depression, practicing physical activity and higher level of education. The diagnostic interpretation of the ROC curve allowed to say that the cutoff point OQL < 60 obtained excellent sensitivity and negative predictive value for screening of elderly with probable QL bad / dissatisfied with health. The appropriation of the perceptions of quality of life of the elderly can be interpreted differently, according with the field structural and multidimensional of this process. Develop concepts of quality of life brought by the elderly and contrasted with their perceptions of dialogic form allows substantiate the concepts of a new model of care given to the elderly. Key-words: Aging. Aged. Quality of Life. Health of the Elderly.

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LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 - Os determinantes do envelhecimento ativo................................................. 31

Figura 2 - Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais.......................... 49

Figura 3 - Mapa esquemtico da localizao das unidades bsicas de sade do

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais..........................

50

Grfico 1 - Composio absoluta da populao, por idade e sexo, Brasil, 1980, 2000,

2010 e 2050.............................................................................................

34

Grfico 2 - Boxplot dos domnios Fsico, Psicolgico, Relaes sociais, Meio ambiente

e Qualidade de Vida Geral. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte,

2010-2011................................................................................................

92

Grfico 3 - Boxplot dos valores do escore QVG segundo variveis WHOQOL-1,

WHOQOL-2 e grupos de QV/Satisfao. Distrito Sanitrio Noroeste de

Belo Horizonte, 2010-2011........................................................................

94

Grfico 4 - Grficos de disperso dos escores de Qualidade de Vida Geral entre os

domnios Fsico, Psicolgico, Relaes sociais e Meio ambiente. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011........................................

97

Grfico 5 - Grficos de disperso dos escores do grupo G5 entre os domnios Fsico,

Psicolgico, Relaes sociais e Meio ambiente. Distrito Sanitrio Noroeste de

Belo Horizonte, 2010-2011........................................................................

97

Grfico 6 - Grficos de disperso dos escores do grupo G6 entre os domnios Fsico,

Psicolgico, Relaes sociais e Meio ambiente. Distrito Sanitrio Noroeste de

Belo Horizonte, 2010-2011........................................................................

98

Grfico 7 - Curva ROC demonstrando a sensibilidade e especificidade de pontos de

corte para predizer QV boa/satisfeito ou QV ruim/insatisfeito, considerando

os grupos G5 e G6, na amostra estudada...................................................

107

Quadro 1 - Domnios e facetas do WHOQOL-bref......................................................... 45

Quadro 2 - Sintaxe SPSS para o clculo dos escores do WHOQOL-bref.......................... 68

Quadro 3 - Sntese das variveis independentes que se associaram ao grupo G5,

por meio dos modelos univariado e multivariado. Distrito Sanitrio Noroeste

de Belo Horizonte, 2010-2011....................................................................

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LISTA DE TABELAS

1 - Distribuio da amostra por grupos de sexo e unidade bsica de sade. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010..............................................................

53

2 - Grupos de idosos carcaterizados segundo qualidade de vida e satisfao com a sade.

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..........................................

67

3 - Sntese das caractersticas sociodemogrficas, econmicas, clnicas e

comportamentais da amostra estudada. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte,

2010-2011..............................................................................................................

76

4 - Distribuio da amostra estudada segundo caractersticas sociodemogrficas por

sexo. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..................................

77

5 - Comparao de anos estudados segundo faixa etria por sexo. Distrito Sanitrio

Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011....................................................................

78

6 - Distribuio da amostra estudada segundo condies econmicas por sexo. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011......................................................

79

7 - Distribuio da amostra estudada segundo caractersticas clnicas por sexo. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011......................................................

82

8 - Distribuio da amostra estudada segundo respostas do The Patient Health

Questionnaire-2. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011.................

85

9 - Distribuio da amostra estudada segundo escore total do The Patient Health

Questionnaire-2 por sexo. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011....

85

10 - Distribuio da amostra estudada segundo a varivel ndice de Katz por sexo.

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..........................................

86

11 - Distribuio da amostra estudada segundo teste de mobilidade por sexo. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011......................................................

86

12 - Distribuio da populao estudada segundo consumo de bebida alcolica por sexo.

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..........................................

87

13 - Distribuio da populao estudada segundo tabagismo por sexo. Distrito Sanitrio

Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011....................................................................

88

14 - Distribuio da populao estudada segundo prtica de atividade fsica, por sexo.

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..........................................

89

15 - Frequncia para as variveis WHOQOL-1 e WHOQOL-2. Distrito Sanitrio Noroeste

de Belo Horizonte, 2010-2011..................................................................................

90

16 - Frequncia para as variveis WHOQOL-1 e WHOQOL-2 por grupos de QV/Satisfao.

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..........................................

91

17 - Anlise descritiva dos domnios do WHOQOL-bref e da Qualidade de Vida Geral.

Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011..........................................

92

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18 - Valores do escore QVG segundo variveis WHOQOL-1, WHOQOL-2 e grupos de

QV/Satisfao. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011....................

93

19 - Valores dos escores dos domnios do WHOQOL-bref segundo variveis WHOQOL-1,

WHOQOL-2 e grupos de QV/Satisfao. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte,

2010-2011..............................................................................................................

95

20 - Correlao de Spearmans-Rho dos escores de Qualidade de Vida Geral e grupos de

QV/Satisfao entre os domnios do WHOQOL-bref. Distrito Sanitrio Noroeste de

Belo Horizonte, 2010-2011......................................................................................

96

21 - Associaes entre os domnios do WHOQOL-bref e grupos de QV/Satisfao. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011......................................................

99

22 - Medianas e intervalos interquartil dos domnios do WHOQOL-bref, da Qualidade de

Vida Geral e dos grupos de QV/Satisfao. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo

Horizonte, 2010-2011..............................................................................................

99

23 - Anlise univariada entre variveis categricas de interesse e grupos G5 e G6. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011......................................................

101

24 - Anlise univariada entre variveis contnuas de interesse e grupos G5 e G6. Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011......................................................

102

25 - Variveis de interesse diretamente associadas ao grupo G5 por meio da anlise

multivariada. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-2011.......................

103

26 - Variveis de interesse inversamente associadas ao grupo G5 (associadas ao G6) por

meio da anlise multivariada. Distrito Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, 2010-

2011......................................................................................................................

103

27 - Capacidade diagnstica do QVG, utilizando ponto de corte 60, em predizer QV

boa/satisfeito no grupo G5......................................................................................

106

28 - Indicadores de capacidade diagnstica do QVG segundo ponto de corte 60 para

rastreamento de QV boa/satisfeito no grupo G5........................................................

106

29 - Capacidade diagnstica do QVG, utilizando ponto de corte < 60, em predizer QV

ruim/insatisfao no grupo G6.................................................................................

106

30 - Indicadores de capacidade diagnstica do QVG segundo ponto de corte < 60 para

rastreamento de QV ruim/insatisfao no grupo G6...................................................

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS - Ateno Primria Sade

AIQ - Amplitude Interquartil

AUDIT-C - The Alcohol Use Disorders Identification Test-Consumption

AVE - Acidente Vascular Enceflico

BH - Belo Horizonte

DM - Diabetes Mellitus

DP - Desvio-padro

E - Especificidade ou conegatividade

EEUFMG - Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas

Gerais

G5 - Grupo com qualidade de vida boa e satisfeito com a sade ou

QV boa/satisfeito

G5 e G6 - Grupos de QV/Satisfao

G6 - Grupo com qualidade de vida ruim e insatisfeito com a sade

ou QV ruim/insatisfeito

HAS - Hipertenso Arterial Sistmica

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IC 95% - Intervalo de Confiana de 95%

IQ - Intervalo Interquartil

NEPCDH - Ncleo de Estudos e Pesquisas em Cuidado e Desenvolvimento

Humano

OMS - Organizao Mundial da Sade

OR - Odds Ratio

PA - Presso Arterial

PAD - Presso Arterial Diastlica

PAS - Presso Arterial Sistlica

PHQ-2 - The Patient Health Questionnaire-2

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios

QV - Qualidade de Vida

QVG - Qualidade de Vida Geral

ROC - Receiver-Operating Characteristic

S - Sensibilidade ou copositividade

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sm - Salrio Mnimo

SPSS - Statistical Package for the Social Sciences

SUS - Sistema nico de Sade

WHO - World Health Organization

WHOQOL - World Health Organization Quality of Life

WHOQOL Group - World Health Organization Quality of Life Group

WHOQOL-bref - World Health Organization Quality of Life-bref

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SUMRIO

1 INTRODUO............................................................................................... 19

1.1 Contextualizao do problema........................................................................... 20

1.2 Objetivos...................................................................................................... 25

1.2.1 Objetivo geral.............................................................................................. 25

1.2.2 Objetivos especficos...................................................................................... 25

2 REFERENCIAL TERICO.............................................................................. 27

2.1 O processo de envelhecimento populacional........................................................ 28

2.2 Transio demogrfica e epidemiolgica no Brasil................................................ 32

2.3 A ateno sade do idoso na Sade da Famlia................................................. 36

2.4 Concepes tericas sobre qualidade de vida....................................................... 38

2.4.1 Qualidade de vida de idosos............................................................................... 41

2.4.2 Instrumentos de medida da qualidade de vida..................................................... 43

3 METODOLOGIA............................................................................................... 47

3.1 Delineamento do estudo..................................................................................... 48

3.2 Local do estudo................................................................................................. 48

3.3 Trabalho de campo............................................................................................ 50

3.4 Amostra do estudo............................................................................................. 51

3.4.1 Clculo do tamanho amostral.............................................................................. 51

3.4.2 Critrios de seleo............................................................................................ 53

3.5 Coleta de dados................................................................................................. 54

3.5.1 Instrumentos de coleta de dados........................................................................ 54

3.6 Variveis........................................................................................................... 57

3.6.1 Varivel dependente.......................................................................................... 57

3.6.2 Variveis independentes..................................................................................... 57

3.6.2.1 Variveis sociodemogrficas............................................................................... 57

3.6.2.2 Variveis econmicas......................................................................................... 59

3.6.2.3 Variveis clnicas................................................................................................ 60

3.6.2.4 Variveis comportamentais................................................................................. 62

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3.7 Anlise dos dados.............................................................................................. 63

3.7.1 Descrio do clculo estatstico........................................................................... 64

3.7.2 Definio dos grupos de QV/Satisfao................................................................ 65

3.7.3 Clculo dos escores do WHOQOL-bref por meio do software

Statistical Package for the Social Sciences............................................................

67

3.7.4 Teste diagnstico para definio de ponto de corte para o WHOQOL-bref.............. 72

3.8 Aspectos tico-legais.......................................................................................... 73

4 RESULTADOS.................................................................................................. 74

4.1 Caractersticas gerais da amostra estudada.......................................................... 75

4.2 Qualidade de vida da amostra estudada por meio da aplicao do WHOQOL-bref... 90

4.2.1 Anlise descritiva............................................................................................... 90

4.3 Fatores associados qualidade de vida na amostra estudada................................ 100

4.3.1 Anlise univariada.............................................................................................. 100

4.3.1.1 Variveis categricas.......................................................................................... 100

4.3.1.2 Variveis contnuas............................................................................................ 102

4.3.2 Anlise multivariada........................................................................................... 102

4.4 Proposta de ponto de corte para o instrumento WHOQOL-bref............................. 106

5 DISCUSSO.................................................................................................... 109

5.1 Caractersticas sociodemogrficas e econmicas................................................... 110

5.2 Caractersticas clnicas........................................................................................ 119

5.3 Caractersticas comportamentais......................................................................... 123

5.4 Fatores associados qualidade de vida na amostra estudada................................ 129

6 CONCLUSES.................................................................................................. 143

7 CONSIDERAES FINAIS.............................................................................. 146

REFERNCIAS................................................................................................. 152

ANEXOS.......................................................................................................... 175

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Introduo

Primeiro, necessrio determinar se o objeto que desejamos conhecer, ou sobre o qual pretendemos

instruir algum, simples ou multiforme.

Plato

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20

1 INTRODUO

1.1 Contextualizao do problema

O envelhecimento populacional hoje um fenmeno natural, irreversvel e

mundial (BRASIL, 2010). Teve incio nos pases desenvolvidos, cujo envelhecimento

ocorreu de forma lenta e progressiva, sendo acompanhado pelo crescimento

socioeconmico, realidade no observada nos pases em desenvolvimento. Nessas

regies, verifica-se o embate entre o rpido envelhecimento da populao e o

desafio do desenvolvimento, visto que tiveram menos tempo para se adaptar s

consequncias do sbito envelhecimento (UNITED NATIONS, 2002). Para ilustrar,

enquanto a Frana levou 115 anos para duplicar a proporo de idosos de sete para

14,0%, a China levar apenas 27 anos para atingir o mesmo aumento (WORLD

HEALTH ORGANIZATION/WHO, 2005).

Esta realidade preocupante, pois projees demogrficas indicam que

64,0% de todas as pessoas mais velhas vivem em locais menos desenvolvidos, um

nmero que dever aproximar-se a 80,0% at 2050 (UNITED NATIONS, 2012).

No Brasil, o aumento do contingente de idosos vem ocorrendo desde o incio

da dcada de 60, quando a queda nas taxas de fecundidade comeou a alterar a

estrutura etria do pas, estreitando progressivamente a base da pirmide

populacional (CHAIMOWICZ, 1997). Alm disso, o pas tem experimentado um

importante aumento da longevidade (ALVES; RODRIGUES, 2005).

Segundo o Censo brasileiro, em 2010, o nmero de idosos ultrapassou os 20

milhes de pessoas, destacando-se o aumento proporcional e mais acelerado do

grupo denominado mais idosos, muito idosos ou idosos em velhice avanada (a

partir de 80 anos), que constitui o segmento populacional que mais cresce na

atualidade, abrangendo hoje mais de 14,2% da populao idosa (BRASIL, 2010;

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATSTICA/IBGE, 2010a).

Projees demogrficas estimam que a cada ano acrescenta-se 650 mil

indivduos maiores de 60 anos populao, a maior parte com doenas crnicas

(CONSELHO ESTADUAL DO IDOSO - RIO GRANDE DO SUL/CEI-RS, 1997; RAMOS et

al., 1993) e alguns com limitaes funcionais (VERAS, 2007). Em 2050, 22,7% da

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21

populao total pertencer terceira idade, deixando o pas como a quinta nao em

nmero de idosos, com um contingente superior a 64 milhes de pessoas (BRASIL,

2010; UNITED NATIONS, 2009).

Mediante a esse cenrio, o desafio maior no sculo XXI ser cuidar de uma

grande populao idosa, a maioria com nvel socioeconmico e educacional baixo e

uma alta prevalncia de doenas crnicas e incapacitantes (RAMOS, 2003), o que

tem exigido um maior investimento em pesquisas na rea do envelhecimento. Como

primeiros estudos populacionais, com avaliao multidimensional de idosos

residentes no Brasil, pode-se citar os estudos Projeto Epidoso (RAMOS, 2003) e

SABE (Sade, Bem-estar e Envelhecimento) (LEBRO; DUARTE, 2003), ambos

realizados em So Paulo, e o Projeto Bambu (LIMA-COSTA et al., 2002), em Minas

Gerais.

Esses estudos evidenciaram que a problemtica decorrente do

envelhecimento, no que diz respeito sade, tende a ser a mesma verificada em

pases desenvolvidos, com o aumento das doenas crnicas no transmissveis

(DCNT), associado s exigncias significativas na economia, nos servios de sade e

na estrutura familiar.

Na verdade, a reduo da fora de trabalho e o aumento dos gastos para

cuidar dos idosos impem um estresse brusco sobre os servios pblicos de sade e

sistemas de servio social (AUCELLA, 2010). Este seguimento populacional tende a

consumir mais servios de sade, apresentando taxas de internao hospitalar bem

mais elevadas do que as observadas em outros grupos etrios, assim como uma

permanncia hospitalar mais prolongada (AMARAL et al., 2004).

A esse respeito, enfatiza-se que 75,4% dos idosos brasileiros apresentam pelo

menos uma doena crnica no transmissvel, predominando hipertenso arterial

sistmica, acidente vascular enceflico e diabetes mellitus (DANILOW et al., 2007;

GIACOMIN et al., 2005), os quais exigem acompanhamento de equipes

multidisciplinares e internaes frequentes.

No entanto, apesar de a maioria dos quadros de dependncia desta populao

estar associada a condies crnicas, as mesmas podem ser adequadamente

manejadas, muitas vezes, fora de instituies hospitalares ou asilares, destacando-se

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22

os servios prestados na Ateno Primria Sade1 (APS).

A Organizao Mundial da Sade (OMS) reconhece o papel crucial que esses

servios desempenham na manuteno da sade das pessoas idosas em todo o

mundo e a necessidade de serem adaptados e acessveis s populaes mais velhas.

Lembra-se que a APS a porta de entrada do indivduo no nvel local de um sistema

de sade do pas, sendo responsvel por aproximadamente 80,0% dos cuidados de

sade prestados comunidade (WHO, 2004).

Particularmente, no Brasil, a Sade da Famlia uma estratgia que visa a

reorganizao da Ateno Bsica, encontrando no envelhecimento da populao um

grande desafio. Sabe-se que o expressivo nmero de idosos traz um forte impacto

sobre as demandas sociais, como as de educao e emprego, sade e previdncia

social, exigindo mudanas radicais na APS (LEBRO; DUARTE, 2003).

Nesse intuito, em Minas Gerais, no ano de 2002, foi criada no mbito da

Secretaria de Estado da Sade de Minas Gerais a Coordenadoria de Ateno ao Idoso

que tem por finalidade planejar, coordenar e implantar as polticas pblicas de

ateno populao da terceira idade. Ressalta-se que nesse Estado h

aproximadamente 2,3 milhes de pessoas idosas, que corresponde a 8,4% da

populao geral (IBGE, 2010b).

Diante da realidade inquestionvel da transio demogrfica e suas

consequncias, evidencia-se a importncia de garantir aos idosos uma sobrevida

maior pautada em um envelhecimento ativo com a manuteno de boa qualidade de

vida e melhorias no status de sade desse segmento etrio (FLECK;

CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2003).

Entretanto, do conhecimento a existncia de muitas ameaas qualidade de

vida da populao idosa, tais como, riscos de queda, doenas crnicas no

transmissveis, dentre as quais destacam-se as doenas cardiovasculares, a

hipertenso arterial, o diabetes mellitus e o cncer, abandono familiar, depresso e

baixo poder aquisitivo. A preveno deve ser amplamente implementada

______________

1 Devido ambiguidade das definies, os termos Ateno Primria Sade e Ateno Bsica so

utilizados como sinnimos no contexto brasileiro (MELLO; FONTANELLA; DEMARZO, 2009).

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23

considerando uma abordagem interdisciplinar e intersetorial do cuidado o que pode

contribuir para a melhoria do status de sade e qualidade de vida desta populao.

Mediante o exposto, parece imprescindvel conhecer o que, para a maioria

dos idosos, est relacionado ao bem-estar, felicidade, realizao pessoal, enfim,

qualidade de vida nessa faixa etria (VECCHIA et al., 2005, p. 247).

A expresso qualidade de vida tem vrias definies, refletindo tanto as

influncias macrossociais quanto sociodemogrficas, sendo tambm subjetiva,

igualmente dependente das interpretaes e percepes de cada indivduo

(GABRIEL; BOWLING, 2004).

Para o grupo de estudiosos em qualidade de vida da OMS, a definio de

qualidade de vida reflete a percepo individual da qualidade de vida prpria, a qual

influenciada por uma gama de fatores, sejam fsicos, psicolgicos, sociais ou

ambientais. Esse grupo define qualidade de vida como:

A percepo individual de sua posio na vida, no contexto da cultura e

sistema de valores em que a pessoa vive, em relao aos seus alvos,

expectativas, padres e interesses. um conceito de ampla abrangncia, afetado de modos complexos pela sade fsica da pessoa, seu estado

psicolgico, nvel de dependncia, relacionamentos sociais, e relacionamentos com os mais importantes aspectos dentro do seu ambiente

(WORLD HEALTH ORGANIZATION QUALITY OF LIFE GROUP, 1995, p.

1405).

Alguns estudos tm abordado a qualidade de vida em idosos, chamando

ateno para aspectos como grau de dependncia (SOUSA; GALANTE; FIGUEIREDO,

2003), capacidade fsica funcional (KEMPEN et al., 2006), depresso e ansiedade

(VANT VEER-TAZELAAR et al., 2006), recursos materiais (PRICE, 2006), dentre

outros. Fatores como sade e boa funo fsica, bem-estar, autoestima, autoeficcia,

autonomia, coerncia, o prprio ambiente fsico, social, econmico e espiritual tm

sido considerados chaves para uma boa qualidade de vida entre os idosos (JOIA;

RUIZ; DONALISIO, 2007; LOW; MOLZAHN; KALFOSS, 2008; MEIRELLES et al., 2010;

MORAES; SOUZA, 2005; PEREIRA et al., 2011).

Dessa forma, ao almejar que a crescente populao com mais de 60 anos

continue ativa, participante e produtiva na sociedade, fica evidente a importncia de

atentar no apenas para os aspectos biolgicos e psicolgicos na assistncia aos

idosos, mas tambm sociais, ambientais e espirituais (LOW; MOLZAHN, 2007).

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24

Mesmo com as variveis sociodemogrficas e epidemiolgicas disponveis no

Censo BH Social da Rede Municipal de Informtica e Gesto em Sade observa-se

escassez de estudos que utilizaram estas variveis de forma conjunta na populao

de idosos para o desenvolvimento de pesquisas com anlise multivariada em que se

prope associao e correlao entre as mesmas. A falta de evidncias

epidemiolgicas sobre a magnitude desse problema acarreta importantes

consequncias econmicas e clnicas, limitando o planejamento de aes e

avaliaes da ateno aos idosos.

Desse modo, torna-se necessrio produzir conhecimentos referentes

populao da terceira idade a fim de avaliar sua problemtica especfica e enfrentar

os desafios da pesquisa no campo do envelhecimento dentro das peculiaridades do

pas. Nessa perspectiva, o estudo enseja responder seguinte questo: quais so os

fatores sociodemogrficos, econmicos, clnicos e comportamentais que influenciam

na qualidade de vida dos idosos, acompanhados na Rede de Ateno Bsica Sade

de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Conforme ressalta Paskulin (2006), a premissa maior ir alm dos dados

epidemiolgicos, conhecendo a perspectiva subjetiva da populao geritrica acerca

de sua qualidade de vida inserida dentro do contexto local, apoiando as intervenes

dos servios responsveis pela prestao de cuidados aos idosos, bem como,

promovendo novas possibilidades de ensino para os profissionais de sade.

Diversos aspectos justificam o atual interesse em estudar e aprofundar sobre

a temtica, em especial, abordando a populao idosa: a) conhecimento do impacto

das transformaes demogrficas e epidemiolgicas, marcadas pelo avano da

tecnologia em detrimento da melhoria das condies de vida e cogitadas para as

prximas dcadas, sobre a qualidade de vida; b) necessidade de avaliao contnua

do estado de sade desta populao e qualificao da ateno sade e c)

pesquisas sobre qualidade de vida em pessoas idosas ainda so incipientes.

medida que estudos avanam na rea da Sade do Idoso e se aprofundam

em conhecimentos sobre seu perfil, os gestores pblicos podero se valer das

informaes disponibilizadas para elaborao de estratgias especficas e indicadores

de sade, em prol da promoo de um envelhecimento ativo e saudvel,

fortalecendo inclusive, a Poltica Nacional de Sade do Idoso (BRASIL, 1999).

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25

O delineamento de polticas especficas agregadas s linhas de aes para a

ateno ao idoso vem sendo apontado como altamente necessrio, respaldado em

critrios cientficos para o conhecimento de suas reais necessidades e condies de

vida. Face ao aumento da longevidade das pessoas, a obteno de dados de

caracterizao da qualidade de vida e bem-estar dos idosos um dado que pode ser

fundamental para dinamizar medidas adequadas a essa populao, contribuindo para

se alcanar um envelhecimento bem sucedido.

Autonomia, autossatisfao, cuidado, elaborao de novos significados para a

vida na idade avanada, participao e possibilidade de atuar em variados contextos

sociais so, atualmente, elementos chaves para qualquer poltica destinada aos

idosos (VERAS, 2007).

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a associao de fatores sociodemogrficos, econmicos, clnicos e

comportamentais com a qualidade de vida em idosos adscritos no Distrito

Sanitrio Noroeste de Belo Horizonte, Minas Gerais.

1.2.2 Objetivos especficos

Caracterizar a amostra segundo variveis sociodemogrficas, econmicas,

clnicas e comportamentais;

Analisar a qualidade de vida percebida pela amostra estudada, a partir do

instrumento World Health Organization Quality of Life-bref (WHOQOL-

bref);

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26

Analisar a associao entre as variveis de interesse e a qualidade de vida

percebida, considerando os grupos definidos no estudo (G5 - qualidade de

vida boa e satisfeito com a sade e G6 - qualidade de vida ruim e

insatisfeito com a sade);

Propor diferentes pontos de corte para indicao de melhor e pior

qualidade de vida entre os idosos, considerando os grupos definidos no

estudo (G5 e G6).

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27

Referencial terico

um paradoxo que a ideia de ter vida longa agrade a todos, e a ideia de envelhecer

no agrade a ningum. Andy Rooney

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28

2 REFERENCIAL TERICO

2.1 O processo de envelhecimento populacional

Um dos fenmenos de maior impacto no incio deste novo sculo o

envelhecimento da populao mundial, que impe mudanas profundas nos modos

de pensar e viver a velhice na sociedade (ALEY, 2007; BRASIL, 2010).

Usualmente, o envelhecimento populacional conceituado como a mudana

na estrutura etria da populao, o que produz um aumento do peso relativo das

pessoas acima de determinada idade, considerada como definidora do incio da

velhice (BRASIL, 2010).

Para a OMS, nos pases em desenvolvimento, como o Brasil, considerada

idosa a pessoa com 60 anos ou mais, enquanto que nas naes desenvolvidas idoso

aquele que possui 65 anos ou mais (BRASIL, 2010).

Entretanto, importante lembrar que existem basicamente quatro tipos de

idade: cronolgica (mensura a passagem do tempo decorrido em dias, meses e anos

desde o nascimento); biolgica (considera as modificaes corporais e mentais que

ocorrem ao longo do processo de desenvolvimento, iniciando antes do nascimento),

social (infere-se obteno de hbitos e status social pelo indivduo para o

preenchimento de muitos papis sociais ou expectativas em relao s pessoas de

sua idade, em sua cultura e em seu grupo social) e psicolgica (relao que existe

entre a idade cronolgica e as capacidades psicolgicas, tais como, percepo,

aprendizagem e memria, as quais prenunciam o potencial de funcionamento futuro

do indivduo ou habilidades adaptativas dos indivduos para se adequarem s

exigncias do meio) (HOYER; ROODIN, 2003; NERI, 2008; SCHNEIDER; IRIGARAY,

2008).

Mediante o exposto, Nunes (2004) alerta para o problema em conceituar

quem idoso a partir do marco cronolgico, pois diferenas individuais dificultam, se

no impedem, a associao do envelhecimento idade cronolgica. Esta fornece

uma aproximao do processo de envelhecimento, mas o organismo humano nem

sempre respeita essa idade, sendo comum encontrar pessoas idosas com fsico e

intelecto mais jovem e vice-versa. Para esse mesmo autor,

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29

o envelhecimento associado a um processo biolgico de declnio das capacidades fsicas, relacionado a novas fragilidades psicolgicas e

comportamentais. Ento, o estar saudvel deixa de ser relacionado com a

idade cronolgica e passa a ser entendido como a capacidade do organismo de responder s necessidades da vida cotidiana, a capacidade e motivao

fsica e psicolgica para continuar na busca de novos objetivos e conquistas pessoais e familiares (p. 428).

Dessa forma, pode-se dizer que a associao do envelhecimento idade

cronolgica aproxima-se tambm do conceito de longevidade, entendida como o

nmero de anos vividos por uma pessoa ou ao nmero de anos que, em mdia, os

indivduos de uma mesma gerao ou coorte vivero, definindo-se como gerao ou

coorte o conjunto de recm-nascidos em um mesmo momento ou mesmo perodo de

tempo (CARVALHO; GARCIA, 2003). Ademais, essa associao permite, somente,

uma percepo grosseira do processo de envelhecimento, alm de desconsiderar a

sua feio social e a sua condicionante histrica, at mesmo porque o processo de

envelhecimento individual assume diferentes particularidades (ALBUQUERQUE,

2005).

Figueiredo e Tonini (2006) fazem consideraes semelhantes acerca do

processo de envelhecimento, o qual visto como delimitador de mudanas

expressivas de ordem individual, familiar e social, cada uma com seus significados e

relevncias. Para essas autoras, ao envelhecer, tanto o idoso quanto sua famlia se

modificam, adquirindo determinados direitos legais e perdendo outros pelas

dificuldades orgnicas e mentais decorrentes do envelhecimento.

Na tentativa de classificar os indivduos de idade mais avanada, considerando

a complexidade que permeia o processo do envelhecer, outras expresses ganham

destaque na atualidade como a do envelhecimento ativo, proposto pela OMS que

define o envelhecimento como uma experincia positiva. Envelhecimento ativo o

processo de otimizao das oportunidades de sade, participao e segurana, com

o objetivo de melhorar a qualidade de vida medida que as pessoas ficam mais

velhas (WHO, 2005, p. 13).

Ressalta-se que, para a OMS, o termo ativo alude participao continuada

do idoso nas questes socioeconmicas, culturais, espirituais e civis, e no apenas

capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da fora de trabalho.

Portanto, o envelhecimento ativo visa elevar a esperana de uma vida saudvel e a

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30

qualidade de vida para todas as pessoas que esto envelhecendo, inclusive as

frgeis, fisicamente incapacitadas e que requerem cuidados (WHO, 2005).

Posto isso, a OMS tambm delineou os principais fatores determinantes do

envelhecimento ativo os quais se encontram esquematizados na FIG. 1 (WHO,

2005).

Ao analisar a FIG. 1, observa-se que o envelhecimento ativo depende de uma

variedade de fatores determinantes, os quais tm em comum a convergncia na

cultura e no gnero, englobando indivduos, famlias e pases. A compreenso das

evidncias que se tem sobre esses fatores contribuem no delineamento de polticas e

programas nessa rea (WHO, 2005).

Destaca-se que no possvel atribuir uma causa direta a qualquer um dos

fatores determinantes; no entanto, as evidncias substanciais sobre o que determina

sade sugerem que todos estes fatores e a interao entre eles so bons indcios de

como indivduos e as populaes envelhecem (WHO, 2005).

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31

FIGURA 1 - Os determinantes do envelhecimento ativo

Fonte: WHO, 2005, adaptado pelas pesquisadoras.

Envelhecimento

ativo

Determinantes econmicos

(Renda; proteo social; trabalho)

Servios sociais e de sade

(Promoo da sade e preveno de doenas; servios curativos;

assistncia a longo prazo; servios de sade mental)

Determinantes comportamentais

(Tabagismo; atividade fsica; alimentao saudvel; sade oral; lcool; medicamentos; iatrogenia;

adeso comportamental)

Determinantes pessoais

(Biologia e gentica; fatores psicolgicos)

Ambiente fsico (Moradia segura; quedas;

gua limpa, ar puro e alimentos seguros)

Determinantes sociais

(Apoio social; violncia e maus tratos contra o idoso; educao e

alfabetizao)

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32

2.2 Transio demogrfica e epidemiolgica no Brasil

Atualmente, o incremento da populao idosa brasileira no mais um

discurso distante, mas algo muito contemporneo decorrente da rpida transio

demogrfica que vem acompanhada por mudanas epidemiolgicas.

Esse maior prolongamento da vida foi determinado principalmente pela ao

mdico-sanitria do Estado do que pelas transformaes estruturais que se

traduziriam em melhoria na qualidade de vida da populao: nas primeiras dcadas

do sculo XX, por meio de polticas urbanas com nfase em campanhas sanitrias

como vacinao e higiene pblica, e a partir da dcada de 1940 pela ampliao e

desenvolvimento tecnolgico da ateno mdica na rede pblica (CHAIMOWICZ,

1997).

A acelerada mudana na estrutura etria no pas pode ser ilustrada em

nmeros. Enquanto em 1960 havia trs milhes de idosos, em 2008, essa cifra

passou para 20 milhes - um aumento de quase 700,0% em menos de 50 anos

(VERAS, 2009).

Segundo Camarano (2002), a mudana no padro etrio da populao

resultado da elevada taxa de fecundidade no perodo de 1950 a 1960 e da

diminuio da taxa de mortalidade entre idosos, o que ocasionou tambm no

aumento da expectativa mdia de vida ao nascer. Posteriormente, a taxa de

fecundidade caiu de forma sistemtica a partir de 1970, o que fez com que a maior

proporo de pessoas idosas surgisse nas dcadas seguintes, visto que a reposio

de jovens foi diminuindo.

Em relao vida mdia dos brasileiros, dados do IBGE mostram que

superior mdia global. Enquanto no mundo, a esperana de vida ao nascer foi

estimada, para 2008, em 67,2 anos e, para 2045-2050, em 75,4 anos, no Brasil, a

expectativa de vida em 1940, foi projetada para 45,5 anos, chegando a 72,7 anos,

em 2008 (27,2 anos de vida a mais). Em 2050, espera-se alcanar o patamar de

81,29 anos, o nvel atual de expectativa de vida na Islndia (81,8), Hong Kong,

China (82,2) e Japo (82,6) (IBGE, 2008a).

Outro aspecto importante a ser destacado diz respeito diferenciao da

expectativa de anos vividos segundo o sexo. Em 2008, a mdia de vida entre

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33

mulheres e homens era de 76,6 e 69,0 anos, respectivamente, uma diferena de 7,6

anos (IBGE, 2008a).

Informaes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) de 2002

a 2006 demonstraram taxa de crescimento populacional de 1,05% ao ano. Se

continuar assim, a populao do pas dever atingir o patamar de crescimento zero

em 2039. A partir da, sero registradas taxas de crescimento negativas e queda no

contingente populacional (IBGE, 2008a).

O GRAF. 1 ilustra a transio da estrutura etria brasileira no perodo de 1980

a 2050, cujo formato tipicamente triangular da pirmide populacional, com base

alargada, cede lugar a uma pirmide populacional com base mais estreita e

alargamento do pice caracterstico de uma sociedade em pleno processo de

envelhecimento (BRASIL, 2010).

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34

Homens Mulheres

GRFICO 1 - Composio absoluta da populao, por idade e sexo, Brasil, 1980, 2000, 2010 e 2050 Fonte: IBGE, 2008a.

A partir do GRAF. 1, constata-se a tendncia de menor participao relativa de

crianas e jovens, acompanhada do maior peso proporcional de adultos e,

particularmente, de idosos, esta ltima com predomnio do sexo feminino, em funo

de sua maior sobrevida (BRASIL, 2010; PINTO; SORANZ, 2004).

Alm das transformaes demogrficas, o Brasil tem experimentado uma

transio epidemiolgica, com alteraes relevantes no quadro de morbimortalidade.

Observam-se complexas mudanas nos modelos de sade-doena, que passou da

predominncia de doenas transmissveis a uma maior prevalncia de doenas

crnicas no transmissveis (MENDES, 2012; TEIXEIRA, 2004).

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35

A PNAD de 2008 demonstrou o aumento das doenas crnicas medida que a

idade avana, de tal modo que 79,1% dos brasileiros de 65 anos ou mais relataram

ser portadores de algum tipo de doena crnica (MENDES, 2012). Inclusive,

comum entre os idosos a presena simultnea de uma ou mais condies crnicas,

associadas ou no limitaes de desempenho decorrentes dessas ou de suas

sequelas (RODRIGUES et al., 2008).

Para alguns autores, doenas mais simples podem tornar-se mais complexas

com o aumento da idade, visto que sintomas associados a essas doenas alteram

com o envelhecer (FRIED; WALLACE, 1992), exigindo, portanto, o conhecimento do

comportamento dos agravos que acometem este segmento populacional.

Em decorrncia do aumento das condies crnicas de sade, o perfil de

mortalidade no pas tambm mudou, como o previsto, e hoje acompanha a

tendncia mundial de morte por doenas crnicas no transmissveis, principalmente

de origem cardiovascular (CAMPOLIM, 2009).

Em 1930, as doenas infecciosas respondiam por 46% das mortes,

decrescendo para um valor prximo a 5% em 2000; ao mesmo tempo, as doenas

cardiovasculares que representavam em torno de 12% das mortes em 1930,

responderam, em 2009, por quase 30% de todos os bitos (MENDES, 2012).

Esse predomnio tende a aumentar em funo da produo social de

condies crnicas, a partir de uma prevalncia significativa e, em geral, crescente,

dos determinantes sociais da sade ligados aos estilos de vida, como alimentao

inadequada, tabagismo, sedentarismo, excesso de peso e consumo excessivo de

lcool e outras drogas (BRASIL, 2008a).

Mediante a nova realidade social e epidemiolgica que se impe por meio da

mudana do perfil demogrfico e epidemiolgico da populao h necessidade de

mudanas no paradigma na ateno sade. Se de um lado, um pas

essencialmente jovem, caracterizado pelo predomnio de doenas infectocontagiosas,

possui como modelo de resoluo o dualismo cura/morte, por outro lado, uma nao

longeva tem o predomnio de doenas crnicas, o que se deve considerar a

possibilidade de compensao/no compensao. Lembra-se que o modelo de no

compensao da doena crnica inclui maior disfuno, dependncia e quedas

(NASRI, 2008).

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36

Dessa forma, fica evidente que o prolongamento da vida uma aspirao de

qualquer sociedade. No entanto, s pode ser considerado como uma real conquista

na medida em que se agregue qualidade aos anos adicionais de vida (VERAS, 2009,

p. 549).

2.3 A ateno sade do idoso na Sade da Famlia

A mudana na estrutura etria mundial suscitou s autoridades

governamentais maior foco de ateno sade do idoso, exigindo, principalmente, o

delineamento de estratgias de preveno e tratamento das doenas crnicas no

transmissveis e suas complicaes, no intuito de evitar incapacidades e perda de

autonomia (CHAIMOWICZ, 1997).

Nesse contexto, o Brasil, nas ltimas dcadas, tem conquistado importantes

avanos na rea da ateno sade do idoso, coincidindo com a prpria criao do

Sistema nico de Sade (SUS). O processo de construo do SUS prope uma

reforma no modelo assistencial que vai de encontro ao modelo biomdico e

hospitalocntrico, voltando-se para a potencializao da Ateno Bsica,

complementada pela rede de servios especializados e hospitalares (SILVESTRE;

COSTA NETO, 2003).

Visando reestruturar o primeiro nvel de assistncia no pas, o Ministrio da

Sade assumiu, a partir de 1994, a Sade da Famlia que se fundamenta em uma

nova tica social e cultural, com vistas preveno de doenas, promoo da

sade e qualidade de vida das pessoas, famlias e comunidades (BRASIL, 2001).

Os cuidados primrios prestados pelas equipes de Sade da Famlia buscam

oferecer aos idosos de sua rea de abrangncia uma assistncia integral,

concernente s suas particularidades (LEMOS; SOUZA; MENDES, 2006).

Dessa forma, necessrio realizar inquritos e diagnsticos de sade

populacionais, pois os mesmos podero subsidiar o planejamento de aes que

visem eliminao de fatores de risco relacionados com a capacidade funcional da

populao atendida. Alm disso, contribuir para o estabelecimento de aes de

promoo da sade e de reabilitao que possam estar presentes em programas

sociais que facilitem a formao de grupos de idosos, estimulando a autonomia e

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37

manuteno do convvio familiar e social saudvel (LEMOS; SOUZA; MENDES, 2006;

PILGER, 2010; SILVESTRE; COSTA NETO, 2003).

Concomitante ao processo de criao e regulamentao do SUS, verificou-se

gradativa reestruturao na concepo das polticas de previdncia e sade que

visem especificamente a melhoria ou manuteno da qualidade de vida da populao

idosa (COSTA; CIOSAK, 2010; GARCIA; RODRIGUES; BOREGA, 2002; LITVOC;

BRITO, 2004; NUNES, 2004; REIS, 2000).

Segundo o Ministrio da Sade, funo das polticas de sade relacionadas

ao envelhecimento contribuir para que mais pessoas alcancem idades avanadas

com o melhor estado de sade possvel, sendo o envelhecimento ativo e saudvel, o

principal objetivo. Se considerar sade de forma ampliada, torna-se necessria

alguma mudana no contexto atual em direo produo de um ambiente social e

cultural mais favorvel para os idosos (BRASIL, 2010).

Para tanto, a partir de uma retrospectiva histrica, tem-se que a Poltica

Nacional do Idoso promulgada pelo Projeto de Lei n. 8.842 em 1994 e

regulamentada pelo Decreto n. 1.948 em 1996, foi o passo inicial no reconhecimento

e importncia desse segmento populacional. Esta Poltica foi criada devido s

crescentes demandas que surgiram a partir do aumento da expectativa de vida das

pessoas e teve como objetivo assegurar os direitos sociais dos idosos, criando

condies para promover sua autonomia, integrao e participao efetiva na

sociedade (BRASIL, 1994, 1996a).

Ainda, o Ministrio da Sade, por meio da Portaria n. 1.395 em 1999,

implantou a Poltica Nacional de Sade do Idoso, que estabelece diretrizes

primordiais para o direcionamento ou redirecionamento dos planos, projetos,

programas e atividades pautadas de acordo com as normas nela estabelecida. Essa

Poltica assumiu um dos principais problemas que impactam os idosos que consiste

na perda de sua capacidade funcional (BRASIL, 1999).

No ano de 2003, foi aprovado o Estatuto do Idoso, que tem como objetivo

regular os direitos assegurados aos idosos. O captulo IV do Estatuto traa diretrizes

para o cuidado e manuteno da sade da pessoa idosa de forma integral (BRASIL,

2003).

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38

Em 2006, por meio da Portaria n. 399, o Ministrio da Sade divulgou o Pacto

pela Sade que possui trs eixos: o Pacto pela Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o

Pacto de Gesto do SUS. O eixo Pacto pela Vida tem como prioridades

responsabilidades que abrangem a populao idosa (BRASIL, 2006a).

Por sua vez, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa (PNSPI) foi

instituda pela Portaria n. 2.528 em 2006, como uma das prioridades do Pacto pela

Vida e tem como finalidade promover, manter e recuperar a sade e autonomia dos

idosos pautados nos princpios que regem o SUS. Tal poltica refora a Ateno

Bsica como porta de entrada para a ateno sade do idoso no SUS e a referncia

para a rede de servios especializados de mdia e alta complexidade (BRASIL,

2006b).

Mediante os avanos polticos conquistados na rea da sade do idoso,

importante que os profissionais da Ateno Bsica estejam capacitados em termos

de conhecimentos, habilidades e atitudes para elaborar e operar protocolos para

aes programticas especficas s necessidades dos idosos de maneira integrada

com as demais prticas da rede de cuidado social (BRASIL, 1999).

Porm ainda h escassez de equipes multiprofissionais com formao

especfica nessa rea (BRASIL, 2006c), sobressaindo a desinformao sobre a sade

do idoso e as particularidades e desafios do envelhecimento populacional para a

sade pblica no contexto social, o que confirmado por alguns estudos (BRAGA et

al., 2011).

Portanto, nos dizeres de Martins et al. (2007a), observa-se que o grande

desafio da equipe de Sade da Famlia passa a ser a construo do cuidado integral

pessoa idosa; um novo modo de ser e agir em sade vislumbrando a

multidimensionalidade do ser que envelhece e do processo de envelhecimento

humano.

2.4 Concepes tericas sobre qualidade de vida

A preocupao com a qualidade de vida tem se tornado crescente nas ltimas

dcadas. Trata-se de um conceito complexo, que admite uma diversidade de

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significados, com variadas abordagens tericas e inmeros mtodos para medida do

conceito (KIMURA; SILVA, 2009).

Sua terminologia varia segundo os diversos autores que utilizam sinnimos

como sentido da vida, felicidade, estado funcional, ajustamento social,

satisfao, sade, bem-estar, entre muitos outros que so to abstratos quanto

os anteriores e, portanto, geram impreciso e falta de clareza (GUSMO, 2004).

Farquhar (1995) explica que exatamente o uso multidisciplinar da expresso

um dos principais fatores que determina a falta de consenso para defini-la.

Magri e Kluthcovsky (2007) traam uma evoluo histrica do constructo e

relatam que, os conceitos propostos inicialmente sobre o tema priorizavam fatores

externos (objetivos) na vida das pessoas, ou seja, preocupavam-se com questes

materiais como salrio, bens adquiridos e sucesso na rea profissional. A seguir, foi

enfatizado o quanto uma sociedade havia se desenvolvido economicamente, como

medida e comparao da qualidade de vida. Alguns anos depois, o conceito se

ampliou, de forma gradativa, significando, alm do crescimento econmico, o

desenvolvimento social, como educao, sade, lazer, entre outros. Alm destes

aspectos objetivos, hoje, percebe-se uma abordagem diferenciada, apontando uma

valorizao de fatores subjetivos como satisfao, realizao profissional e pessoal,

bom relacionamento com a sociedade e acesso a cultura e ao lazer como exemplos

reais de bem-estar.

Especificamente, na rea da sade, quando visto no sentido ampliado, o

conceito de qualidade de vida se apoia na compreenso das necessidades humanas

fundamentais, materiais e espirituais e possui no conceito de promoo da sade seu

maior foco. Quando vista de forma mais focalizada, qualidade de vida em sade

coloca sua centralidade na capacidade de viver sem doenas ou de superar as

dificuldades dos estados ou condies de morbidade. Isso porque, em geral, os

profissionais atuam no mbito em que podem influenciar diretamente, como por

exemplo, aes que promovam o alvio da dor, do mal-estar e das doenas,

intervindo sobre os agravos que geram dependncias e desconfortos, seja para

evit-los, seja para amenizar consequncias dos mesmos ou das intervenes

realizadas para diagnostic-los ou trat-los (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000).

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Frente necessidade de uma definio do conceito e do desenvolvimento de

instrumentos de avaliao da qualidade de vida, com base cientfica, a OMS reuniu

um conjunto de peritos (World Health Organization Quality of Life Group2/WHOQOL

Group) para responder a esta necessidade numa perspectiva transcultural

(CANAVARRO et al., 2005).

Esse grupo compreende a qualidade de vida como sendo a percepo do

indivduo de sua posio na vida, no contexto de sua cultura e no sistema de valores

em que vive em relao a suas expectativas, seus padres e suas preocupaes. Tal

conceito baseia-se na prpria definio de sade proposta pela OMS, compreendida

como a percepo individual de um completo bem-estar, mental e social, e no

simplesmente a ausncia de doena (WHO, 1958).

Segundo Fleck et al. (2008), a definio proposta pela OMS a que melhor

traduz a abrangncia do constructo qualidade de vida e, portanto, hoje uma das

definies mais utilizadas.

Dessa forma, chegou-se a um conceito dinmico e multidimensional, que est

relacionado com uma variedade de aspectos como a capacidade funcional, o nvel

socioeconmico, o estado emocional, a interao social, a atividade intelectual, o

autocuidado, o suporte familiar, o prprio estado de sade, os valores culturais,

ticos e a religiosidade, o estilo de vida, a satisfao com o emprego e/ou com

atividades dirias e o ambiente em que se vive (VECCHIA et al., 2005).

No entanto, refora-se que o termo em questo subjetivo, pois as

necessidades podem mudar de um indivduo para outro, assim como as necessidades

de hoje podem no ser as necessidades de amanh (KURCGANT, 2010). At mesmo

porque esse conceito sofre variaes segundo a bagagem histrica, cultural e

socioeconmica de cada um: A histrica, na qual em um determinado tempo de

uma sociedade, existe um parmetro de qualidade de vida, que pode ser diferente

em outra poca, da mesma sociedade; a cultural, [...] na qual os valores e

necessidades so diferentes nos diferentes povos e a socioeconmica, reconhecida

________________ 2 Grupo de Qualidade de Vida da Organizao Mundial da Sade. (Traduo nossa).

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41

a partir de [...] padres de bem-estar estratificados entre as classes sociais, com

desigualdades muito fortes, onde a ideia de qualidade de vida relaciona-se ao bem-

estar das camadas superiores (KLUTHCOVSKY; TAKAYANAGUI, 2007, p. 14).

Mediante a polissemia que envolve o termo qualidade de vida, Minayo, Hartz e

Buss (2000), ao refletirem esse termo na rea da sade, ampliam a discusso e

afirmam que a questo da qualidade de vida diz respeito ao padro que a prpria

sociedade define e se mobiliza para conquistar, consciente ou inconscientemente, e

ao conjunto das polticas pblicas e sociais que induzem e norteiam o

desenvolvimento humano, as mudanas positivas no modo, nas condies e estilos

de vida, cabendo parcela significativa da formulao e das responsabilidades ao

denominado setor sade.

Mediante o exposto, observa-se que o desenvolvimento do conceito de

qualidade de vida necessrio, pois poder resultar em mudanas nas prticas

assistenciais e na consolidao de novos paradigmas do processo sade-doena, o

que pode ser fundamental para a superao de modelos de atendimento

eminentemente biomdicos, que negligenciam aspectos socioeconmicos,

psicolgicos e culturais importantes nas aes de promoo, preveno, tratamento

e reabilitao em sade (SEIDL; ZANNON, 2004).

2.4.1 Qualidade de vida de idosos

Envelhecer um processo natural que caracteriza uma etapa da vida do

homem e d-se por mudanas fsicas, psicolgicas e sociais que acometem de modo

singular cada pessoa com prolongada sobrevida (MENDES, 2000).

Apesar de o envelhecimento ter sido uma grande conquista da humanidade no

ltimo sculo, somente o aumento de pessoas idosas no garante aos cidados a

dignidade para se viver bem (BRASIL, 2010).

Na opinio de Mendes et al. (2005), a sociedade no est preparada para a

nova realidade social e epidemiolgica que se impe por meio da mudana do perfil

demogrfico e epidemiolgico no pas. Mesmo que as pessoas vivem mais, a

qualidade de vida no acompanha essa evoluo.

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Alm disso, cabe ressaltar o fato do envelhecimento estar associado com

estigmas negativos, os quais

tm como um de seus pilares o declnio biolgico, ocasionalmente acompanhado de doenas e dificuldades funcionais com o avanar da idade.

As representaes sociais construdas em torno da velhice esto fortemente

associadas doena e dependncia, aceitas como caractersticas normais e inevitveis desta fase (BRASIL, 2010, p. 7).

Mediante ao exposto, observa-se o surgimento de grandes desafios quanto

implementao de estratgias vlidas de interveno, em programas

gerontogeritricos, ou polticas sociais que tenham a meta de promover o bem-estar

dos idosos garantindo, assim, no s uma sobrevida maior, mas tambm uma boa

qualidade de vida (FLECK; CHACHAMOVICH; TRENTINI, 2003).

Sabe-se que esse segmento populacional constitui um grupo particular e,

como tal, apresenta especificidades de importante relevncia para se manter um

envelhecimento saudvel. At mesmo porque os fatores relacionados idade afetam

a sade, dimenso importantssima para a qualidade de vida na velhice, e diversas

situaes sociais como aposentadoria, viuvez, dependncia, perda de autonomia e de

papis sociais, dentre outras, que colocam obstculos a uma vida de melhor

qualidade (PASCHOAL, 2000). Assim, necessrio buscar alternativas possveis,

sempre respeitando as potencialidades e limitaes de cada um.

Nessa perspectiva, Vieira (1996) comenta alguns fatores que contribuem para

a promoo do bem-estar geral do idoso e consequentemente, influenciam

diretamente numa melhor qualidade de vida como aceitar mudanas, prevenir

doenas, estabelecer relaes sociais e familiares positivas e consistentes, manter

um senso de humor elevado, ter autonomia e um efetivo suporte social.

Mais recentemente, com destaque do constructo qualidade de vida, os

pesquisadores passaram a demonstrar interesse por essa temtica em idosos

(XAVIER et al., 2003). Aps realizar uma reviso de literatura sobre o assunto,

observou-se que, de modo geral, os estudos buscam avaliar a percepo de

qualidade de vida nesse grupo etrio e identificar fatores relacionados a ela. A

seguir, descrevem-se dois desses estudos que ilustram a complexidade dos fatores

que influenciam a qualidade de vida e a importncia de considerar a

heterogeneidade dos idosos nos servios de sade.

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Braga et al. (2011), em um estudo observacional, de corte transversal,

avaliaram a qualidade de vida de idosos por meio do instrumento WHOQOL-bref.

Com uma amostra de 133 idosos, no municpio de Juiz de Fora/Minas Gerais,

identificaram associao moderada com a qualidade de vida os domnios fsicos,

psicolgico e ambiental, enquanto o social apresentou nvel de satisfao alto. Nesse

estudo, evidenciaram a necessidade de se investir em aes que visem

socializao, tais como, atividades sociais e de lazer, como estratgia para melhorar

a assistncia ao idoso da comunidade em questo.

Pereira et al. (2006) tambm realizaram um estudo observacional, de corte

transversal para avaliarem a qualidade de vida de 211 idosos, residentes no

municpio de Teixeiras, Minas Gerais, por meio do instrumento WHOQOL-bref. Esses

autores verificaram que o domnio que mais explicou a qualidade de vida global foi o

fsico, seguido do ambiental e do psicolgico.

A partir dos estudos apresentados, observa-se a necessidade de instrumentos

multidimensionais, que possam captar a enorme variabilidade sociodemogrfica,

econmica, comportamental e outros que influenciam a percepo da qualidade de

vida e de sade nos diferentes grupos de idosos. Todos so fatores que aumentam a

complexidade da mensurao da qualidade de vida, no podendo esquecer da

advertncia de Evans (1992) para quem o risco avaliar, somente, como o idoso se

adapta a ser velho.

2.4.2 Instrumentos de medida da qualidade de vida

O tema qualidade de vida, atualmente, tem sido tratado sob os mais distintos

olhares, tanto na escolha do instrumento de avaliao como no pblico-alvo

diversificado (BITTENCOURT; HOEHNE, 2009; GASPAR et al., 2011).

No cenrio brasileiro, pesquisas concernentes avaliao da qualidade de vida

em idosos vm sendo realizada por meio da utilizao de vrios instrumentos o que

dificulta a comparao dos resultados obtidos (FLORIANO; DALGALARRONDO, 2007;

GAMPEL; KARSCH; FERREIRA, 2010; MARTINS et al., 2009; NUNES; MENEZES;

ALCHIERI, 2010).

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Entre esses instrumentos destacam-se aqueles elaborados pelo grupo

WHOQOL da OMS: o WHOQOL-100, o WHOQOL-bref e o WHOQOL-old. Os mesmos

trazem consigo trs aspectos essenciais quanto ao constructo da qualidade de vida:

a subjetividade, a multidimensionalidade e a presena de dimenses positivas (por

exemplo, mobilidade) e negativas (por exemplo, dor) (FLECK, 2000; FLECK et al.,

2000).

O WHOQOL-100 avalia a qualidade de vida de forma global e est estruturado

em seis domnios: 1) Fsico, 2) Psicolgico, 3) Nvel de independncia, 4) Relaes

sociais, 5) Meio ambiente e 6) Aspectos espirituais/religio/crenas pessoais. Trata-

se de um instrumento bem completo, possuindo 100 questes que abrangem 24

facetas. Entretanto, a necessidade de instrumentos mais prticos que demandem

pouco tempo para seu preenchimento, e que no percam sensibilidade, fez com que

o grupo desenvolvesse uma verso abreviada do WHOQOL-100, chamado de

WHOQOL-bref (OMS, 1998a).

O instrumento abreviado de qualidade de vida da OMS, o WHOQOL-bref,

possui 26 itens, sendo duas questes que avaliam a percepo da qualidade de vida

geral (QVG) e das condies de sade e as 24 restantes representam cada uma das

24 facetas que compem o instrumento original (WHOQOL-100), sendo divididas em

quatro domnios: 1) Fsico, 2) Psicolgico, 3) Relaes sociais e 4) Meio ambiente.

Diferente do WHOQOL-100 em que cada uma das 24 facetas avaliada a partir de

quatro questes, no WHOQOL-bref cada faceta avaliada por apenas uma questo,

aquela que mais altamente se correlacionou com o escore total, calculado pela mdia

de todas as facetas (OMS, 1998a).

Como demonstrado no QUADRO 1, as facetas pertencentes ao domnio 3 Nvel

de independncia do WHOQOL-100 foram incorporadas ao domnio Fsico do

WHOQOL-bref, assim como a faceta pertencente ao domnio 6 Aspectos

espirituais/religio/crenas pessoais foi incorporada ao domnio Psicolgico (OMS,

1998a).

Ressalta-se que as questes que compem tanto o WHOQOL-100 quanto o

WHOQOL-bref (ANEXO A) no esto dispostas no questionrio seguindo uma

sequncia lgica por domnio ou faceta.

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QUADRO 1 Domnios e facetas do WHOQOL-bref

Domnios Facetas1

Domnio 1

Fsico

Q3 Q10 Q16 Q15 Q17

Q4 Q18

Dor e desconforto Energia e fadiga

Sono e repouso Mobilidade2

Atividades da vida cotidiana2

Dependncia de medicao ou de tratamentos2

Capacidade de trabalho2

Domnio 2 Psicolgico

Q5 Q7 Q19 Q11 Q26

Q6

Sentimentos positivos

Pensar, aprender, memria e concentrao Autoestima

Imagem corporal e aparncia Sentimentos negativos

Espiritualidade/religio/crenas pessoais3

Domnio 3 Relaes sociais

Q20 Q22 Q21

Relaes pessoais

Suporte (apoio) social Atividade sexual

Domnio 4 Meio ambiente

Q8 Q23 Q12 Q24 Q13 Q14 Q9 Q25

Segurana fsica e proteo

Ambiente no lar Recursos financeiros

Cuidados de sade e sociais: disponibilidade e qualidade Oportunidades de adquirir novas informaes e

habilidades Participao em, e oportunidades de recreao/lazer

Ambiente fsico: poluio/rudo/trnsito/clima

Transporte

Fonte: FLECK et al., 2000, adaptado pelas pesquisadoras. Nota: 1 Cada faceta encontra-se acompanhada pelo nmero da respectiva questo contida

no instrumento WHOQOL-bref; 2 Facetas pertencentes ao domnio 3 Nvel de

independncia no WHOQOL-100; 3 Faceta pertencente ao domnio 6 Aspectos espirituais/