109
0 FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO DOUGLAS MACHADO SIMÃO AGRONEGÓCIO E AGROECOLOGIA EM RELAÇÃO COM A AGRICULTURA FAMILIAR SÃO PAULO 2016

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS PROGRAMA DE …arquivo.fmu.br/prodisc/mestradoadm/dms.pdf · The said plan seeks the insertion of this public ... agricultores”, e que a agricultura

  • Upload
    hadiep

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

0

FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

DOUGLAS MACHADO SIMÃO

AGRONEGÓCIO E AGROECOLOGIA EM RELAÇÃO COM A AGRICULTURA

FAMILIAR

SÃO PAULO

2016

1

DOUGLAS MACHADO SIMÃO

AGRONEGÓCIO E AGROECOLOGIA EM RELAÇÃO COM A AGRICULTURA

FAMILIAR

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Administração do Centro

Universitário das Faculdades Metropolitanas

Unidas como requisito para a obtenção do

título de Mestre em Administração.

Orientadora: Profª Dra. Maria da Gloria

Marcondes Gohn

SÃO PAULO

2016

2

FICHA CATALOGRÁFICA

Simão, Douglas Machado

Agronegócio e agroecologia em relação com a agricultura

familiar / Douglas Machado Simão. – São Paulo: D. M. Simão,

2016.

108 f. : il. ; 30 cm

Orientadora: Maria da Gloria Marcondes Gohn

Dissertação (Mestrado) – Faculdades Metropolitanas

Unidas, Mestrado em Administração, 2016.

1. Agricultura. 2. Agroecologia. 3. Agronegócio. 4.

Agricultura familiar. I. Título. II. Orientador.

CDD 658

3

DOUGLAS MACHADO SIMÃO

AGRONEGÓCIO E AGROECOLOGIA EM RELAÇÃO COM A AGRICULTURA

FAMILIAR

Data de aprovação: _______de __________________ de 2016.

Banca Examinadora:

Presidente: Profª Dra. Maria da Glória Marcondes Gohn – Orientadora

Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)

Membro Externo: Profª Dra. Andréia de Oliveira Silva

UNICAMP/GEMDEC e FMC/ UNIESP - Faculdade Metropolitana de Caieiras

Membro Interno: Prof Dr Celso Machado Júnior

Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU)

4

Dedico este trabalho a Vicentina Rosa Machado,

minha avó. Por sua fibra, garra, justiça e por mesmo

frente às dificuldades da vida ter feito de sua

passagem um exemplo de amor, afeto e

generosidade.

5

AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos estão entre as últimas coisas que escrevemos na dissertação e, por

isso, eu peço desculpas antecipadamente caso venha a esquecer de alguma pessoa que fez

parte dessa jornada repleta de sensações tão diversas: excitação, desespero, susto, alívio,

cansaço, e finalmente, felicidade!

Em primeiro lugar, agradeço imensamente à minha querida professora orientadora

Dra. Maria da Glória Marcondes Gohn, por ter tido a oportunidade de trilhar o caminho dessa

pesquisa junto com a senhora e nesse processo ter a chance de absorver um pouco de sua

fonte inesgotável de conhecimento. Agradeço, sobretudo, por sua humildade, por ter me

ouvido, ponderado, considerado muitas das minhas opiniões, estas, por vezes imaturas e

carregadas de inexperiência, mas ansiosas na tentativa de acertar.

Meu agradecimento se estende a todo o colegiado do programa de pós-graduação em

Administração da FMU, pelo grande aprendizado deste período e por serem sempre tão gentis

e dispostos no exercício do ensinar.

Agradeço à minha família – Marisa (minha amada mãe), minhas queridas irmãs

Luciane e Patrícia, meus lindos sobrinhos Giovanna e Felipe – por me aguentarem nesses dois

anos, onde eu por muitas vezes não tive tempo para nada e para ninguém. Nas poucas

oportunidades que nos vimos nestes dois anos, obrigado por encherem esses momentos de

carinho e compreensão.

Se tratando de família, obviamente eu não poderia deixar de agradecer ao meu amado

marido Raphael, que, diariamente, se mostrou um grande aliado. Por ter vivenciado essa

experiência em praticamente todos os momentos e ter uma participação fundamental em todos

eles, debatendo comigo por horas ou simplesmente me dando um abraço nos momentos onde

eu me via completamente perdido. Te amo muitíssimo.

Outra pessoa, que não é família de sangue, mas de alma, meu querido amigo e filósofo

brilhante Brunno Almeida Maia. Querido, muito obrigado por todo o apoio desde a concepção

do pré-projeto dessa pesquisa, pelas longas conversas e “pirações” que gerou na minha cabeça

a cada debate que travamos. Você tem um potencial imenso, e certamente trilhará um

caminho muito belo.

A todos os amigos queridos – e não posso ser injusto em enumerar apenas alguns –

que estiveram na torcida para que eu concluísse esta etapa, agradeço imensamente o carinho e

apoio.

6

Na terra há o suficiente para satisfazer as necessidades de todos,

mas não para satisfazer a ganância de alguns.

Mahatma Gandhi

7

RESUMO

A pesquisa tem por objetivo fazer um estudo de caso intrínseco avaliativo, com o uso da

análise do discurso, do pilar educacional do plano intitulado “The Good Growth Plan”, da

empresa Syngenta, o qual consiste em “capacitar pequenos agricultores”. O referido plano

busca a inserção deste público no modus operandi do agronegócio, com o uso de defensivos

químicos e sementes biotecnológicas sob a justificativa de gerar o aumento da produção nas

menores propriedades e, com isso, abastecer pequenas comunidades. Buscou-se, portanto,

realizar um confronto do modelo de negócio proposto pelo plano com o modelo

agroecológico, o qual tem por prerrogativa a agricultura orgânica como método ideal e

sustentável de cultivo para pequenas propriedades a fim de tornar este agricultor mais

competitivo no mercado.

Palavras-chave: Agricultura. Agroecologia. Agronegócio. Familiar

8

ABSTRACT

The research aims to make an intrinsic evaluative case study, using the discourse analysis, of

the educational pillar in the plan called "The Good Growth Plan" from the company Syngenta,

which consists of "empowering small farmers". The said plan seeks the insertion of this public

in the modus operandi of the agribusiness, with the use of chemical defenses and

biotechnological seeds under the justification of generating the increase of the production in

the smaller properties and, with that, to supply small communities. It was therefore sought to

make a comparison of the business model proposed by the plan with the agroecological

model, which has the prerogative of organic agriculture as an ideal and sustainable method of

cultivation for small farms in order to make this farmer more competitive in the market.

Keywords: Agribusiness. Agroecology. Family. Farming.

9

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 ― Diagrama do Agronegócio ................................................................................... 26

Figura 2 ― Gráfico produção total de grãos por cultura ........................................................ 29

Figura 3 ― Comercialização anual de agrotóxicos e afins, por área plantada - Brasil –

2000 a 2012 ......................................................................................................... 30

Figura 4 ― Vendas Nacionais - Maquinário Agrícola e Rodoviário - Brasil - 2003 - 2013 .. 31

Figura 5 ― Estabelecimentos de agricultura familiar no número de estabelecimentos totais

por setor censitário (%) ....................................................................................... 34

Figura 6 ― Créditos Rurais Concedidos (por ha) - 1999 a 2009 ............................................ 36

Figura 7 ― Ações do “The Good Growth Plan” ..................................................................... 49

Figura 8 ― Imagem da vinheta de abertura do programa Giro Business (Band News) ......... 50

Figura 9 ― Material de divulgação – Convite para evento da Syngenta para segmento de HF

(horti fruti) ........................................................................................................... 51

Figura 10 ― Material de divulgação – Sementes de soja Syngenta ....................................... 52

Figura 11 ― Material de divulgação: 17ª Encontro Sul Mineiro de Cafeicultores................. 69

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 ― Con ceito de Ideologia ....................................................................................... 23

Quadro 2 ― Área da Agricultura Familiar X Bancada Ruralista no Centro-Oeste ................ 34

Quadro 3 ― Centros de Formação e Capacitação Técnica em Agroecologia Organizados

pelo MST/PR, 2008 ........................................................................................... 44

Quadro 4 ― Classificação toxicológica e ambiental, por produto ......................................... 76

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 ― Dados da Balança Comercial de 2014, Agronegócio, por cultura ....................... 28

Tabela 2 ― Principais diferenças entre a produção orgânica e convencional sob plantio

direto .................................................................................................................... 38

Tabela 3 ― Custos de Certificação (Valores para o período 2000/01) ................................... 40

Tabela 4 ― Tabela comparativa de preços dos produtos orgânicos e convencionais ............. 46

12

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABAG RP Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto

ANFAVEA Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

BM&Fbovespa Bolsa de Valores de São Paulo

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

DETRAE Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo

DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

ELAA Escola Latino Americana de Agroecologia

EMATER Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPAMIG Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São

Paulo

FAEPE Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão

FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

FDA Food and Drug Administration

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

FPA Frente Parlamentar da Agropecuária

IAPAR Instituto Agronômico do Paraná

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBD Associação de Certificação Instituto Biodinâmico

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatística

IEA Instituto de Economia Agrícola

IFOAM Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

ISAAA International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications

LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

NECAF Núcleo de Estudo em Cafeicultura

NERA Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária

ONG Organização Não-Governamental

13

PIB Produto Interno Bruto

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar

PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PT Partido dos Trabalhadores

SAFs Sistemas Agroflorestais

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

UFLA Universidade Federal de Lavras

UNESP Universidade Estadual Paulista

14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 15

2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 20

3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 21

3.1 Objetivo Geral ................................................................................................................... 21

3.2 Objetivos Específicos ........................................................................................................ 21

4 METODOLOGIA ............................................................................................................ 22

5 AGRONEGÓCIO NO BRASIL ..................................................................................... 25

5.1 Contextualização do Agronegócio ..................................................................................... 25

5.2 Modus Operandi ................................................................................................................ 29

5.3 Agronegócio e o Poder Público ......................................................................................... 32

6 O MODELO AGROECOLÓGICO ............................................................................... 37

6.1 Conceitualização da Agroecologia .................................................................................... 37

6.2 A agroecologia sob a ótica das ONGs e dos Movimentos Sociais .................................... 41

6.3 O Mercado de Produtos Orgânicos .................................................................................... 45

7 ESTUDO DE CASO – “THE GOOD GROWTH PLAN” ........................................... 49

7.1 O discurso da Syngenta sobre o agronegócio brasileiro .................................................... 49

7.2 “The Good Growth Plan” - uma análise de discurso ......................................................... 64

7.2.1 Análise discursiva do diretor responsável pelo The Good Growth Plan ........................... 64

7.2.2 Análise de uma ação do The Good Growth Plan, eixo de “capacitação de pequenos

agricultores” ....................................................................................................................... 68

8 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ...................................................................................... 79

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 81

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 84

ANEXOS ...................................................................................................................................... 87

Anexo A - The Good Growth Plan - Brochura. ............................................................................. 87

Anexo B – Release de Lançamento do Plano The Good Growth Plan ....................................... 103

Anexo C – Release de 1 ano do Plano The Good Growth Plan .................................................. 105

Anexo D – Imagens do treinamento efetuado no 17ª Encontro Sul Mineiro de Cafeicultores -

07/05/2014 ................................................................................................................................... 108

15

1 INTRODUÇÃO

Ao tratar da agricultura familiar, o agronegócio e a agroecologia aparecem em

posições antagônicas. O agronegócio traz o discurso no qual o uso de tecnologias, como

sementes transgênicas e agrotóxicos, são necessários para alavancar a produção agrícola

brasileira.

Constratando essa visão, o modelo da agroecologia sinaliza que o agronegócio é

desfavorável ao agricultor familiar, pois o uso desses produtos representaria um risco à saúde

de quem as aplica e de quem as consome. O principal movimento social de luta pela terra, o

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o qual é adepto do modelo

agroecológico, afirma ainda que o modus operandi do agronegócio é apenas vantajoso para os

grandes proprietários de terra – os latifundiários – já que a aplicação destes produtos

potencializados com maquinário tecnológico proporciona a estes uma “agricultura sem

agricultores”, e que a agricultura familiar deveria adotar um método de cultivo que seja feito

de maneira orgânica, sustentável e manual, compondo assim a classe trabalhadora no campo.

Este modelo também é defendido pela principal ONG ambientalista, a Green Peace,

pois além do método de plantio orgânico ser benéfico ao meio ambiente, já que não utiliza

produtos químicos que contaminam o solo, a aplicação desse modelo na agricultura familiar é

sustentável, já que reduziria a dependência de agentes externos e movimentaria as economias

locais1.

O agronegócio é composto não só das propriedades agrícolas, mas também de seus

fornecedores de maquinário e insumos. No que tange ao mercado de insumos, seis grandes

corporações - Monsanto, Syngenta, Bayer, Basf, Dow e Du-Pont - controlam 76% do mercado

de agrotóxicos, segundo apontamento do Grupo ETC, publicado na revista Caros Amigos em

20142.

As áreas de marketing dessas empresas desenvolvem ações constantes com foco no

médio e grande agricultor. Investem fortemente na presença de suas marcas no campo e em

feiras do mercado agro. Ao viajar pelas cidades interioranas brasileiras, não é incomum se

deparar com plantios de beira de estrada emplacados com a marca da empresa fornecedora da

semente ou do agrotóxico usado naquela plantação. Nas cidades com grande influência do

1 GREEN PEACE. Agroecologia é a bola da vez. Acessado em 16/05/2016. Disponível em:

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/agroecologia-a-bola-da-vez/blog/51945/ 2 CAROS AMIGOS: “As multinacionais que controlam o agronegócio”. Acessado em 15/01/2015. Disponível

em: http://www.carosamigos.com.br/index.php/economia-2/4186-as-multinacionais-que-controlam-o-

agronegocio

16

agronegócio são frequentes ações de demonstração de lavouras, chamadas de “dias de

campo”, montadas em fazendas e com maciça presença dos agricultores locais. 3

No entanto, essas empresas estão iniciando suas inserções no mercado do pequeno

agricultor, visando o crescimento de suas marcas e lucros. Um exemplo é uma ação da

Syngenta, uma das gigantes do setor, que lançou em 2013 um plano global chamado “The

Good Growth Plan”, que sob o mote de “enfrentar o desafio de alimentar a população

mundial, que até 2050 chegará a nove bilhões de pessoas” aponta seis iniciativas. As ações

são: tornar as culturas mais eficientes; por meio de mais tecnologia para plantio usando menos

recursos naturais; recuperar mais terras cultiváveis; promover a biodiversidade; promover a

segurança das pessoas; cuidar de cada trabalhador e capacitar pequenos agricultores.

Na página da empresa, no tópico “capacitar pequenos agricultores”, diz: “Atingir

diretamente e capacitar 20 milhões pequenos agricultores para o uso responsável de

tecnologias, aumentando a produtividade em 50%”4. No Brasil, serão um milhão. A empresa

destaca que a importância dessa ação é devido à fundamental contribuição desses pequenos

agricultores para a segurança alimentar mundial, porém muitos deles estão sujeitos a elevados

riscos financeiros e baixos rendimentos, o que vem ocasionando um êxodo rural nos países

subdesenvolvidos.

Portanto, a ideia é apresentar uma gama de produtos, chamados pela Syngenta de

“soluções integradas” - agrotóxicos e sementes transgênicas – a fim de alavancar a produção

desses agricultores. Nesse trabalho analisaremos as implicações dessa ação, pois, apesar do

discurso emancipatório e aparentemente favorável a este grupo social, essa ação ambiciosa

abre uma série de discussões no campo socioeconômico e ambiental.

A agroecologia conflita com os interesses do agronegócio, pois defende um modelo

sem o uso destes insumos, o qual é difícil de ser seguido pelos latifundiários que são

essenciais para o faturamento das grandes organizações produtoras de insumos agrícolas,

afinal são estes seus maiores clientes.

Na visão do MST, a reforma agrária combinada à agroecologia teria por resultado a

descentralização da produção, apoio à agricultura familiar e a divisão de terras para a

população trabalhadora. Brancolina Ferreira, pesquisadora do Instituto de Pesquisa

3 REDE RECORD – SC, matéria sobre “Dia de Campo” da Syngenta. Acessado em 18/01/2015. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=ei1SijzWi0M 4 SYNGENTA – The Good Growth Plan Brochura. Acessado em 20/04/2015. Disponível em:

https://www.syngenta.com/global/corporate/en/goodgrowthplan/Documents/pdf/The%20Good%20Growth%20P

lan_16pp%20brochure%20BRA-POR.pdf

17

Econômica Aplicada (IPEA), aponta o agronegócio como um dos principais entraves para

uma reforma agrária efetiva no país:

(...) as dificuldades enfrentadas pela pequena produção agrícola em unidades

familiares e em assentamentos rurais passam pelo enfrentamento ao oligopólio

transnacional de produção de sementes e insumos, pela liberalização e

desregulamentação dos mercados, pela ausência de regulação estatal sobre a

atividade produtiva, pela imposição da lógica mercantil comandando a produção de

alimentos, pela introdução de capitais especulativos no processo de aquisição de

terras, diminuição da disponibilidade global de alimentos em razão dos

agrocombustíveis, a par da elevação da demanda global por alimentos,

especialmente em países em desenvolvimento como Brasil, Índia e China.

(FERREIRA, 2014, p. 9)

De ambos os lados, existem tensões referentes às questões políticas. Com forte

representação, a bancada ruralista, apoiadora do agronegócio, vem despontando nos últimos

tempos como uma das mais influentes dentro do governo federal. Inclusive, um de seus

membros, a senadora Katia Abreu (PMDB), foi nomeada em 2015 como Ministra da

Agricultura e Pecuária pela presidenta Dilma Rousseff.

A carreira política de Kátia é composta por uma série de polêmicas. De acordo com a

página “Congresso em Foco”, as doações realizadas para sua campanha ao Senado em 2014

vieram de latifundiários e agroindústrias com forte presença na região centro-oeste.5 Sua

atividade em prol do agronegócio é duramente criticada pelos movimentos sociais de luta pela

terra e por ambientalistas, tanto que a Green Peace lhe concedeu o “prêmio” Motosserra de

Ouro, destinado aos maiores responsáveis pelo desmatamento no planeta6.

Essa tomada de poder está ligada ao constante crescimento da produção agrícola no

Brasil impulsionada pelo uso de agrotóxicos e outras tecnologias pelos grandes produtores,

que gerou o aumento da exportação, trazendo ao agronegócio protagonismo no cenário

econômico, sendo este um agente importante no equilíbrio da balança comercial. Segundo a

FIESP:

[…] em 2013, as exportações do agronegócio registraram um novo recorde,

somando US$ 99,97 bilhões, o que supera em 4,3% a receita de US$ 95,81 do ano

anterior. As importações também elevaram-se, 4,0%, atingindo US$ 17,06 bilhões.

Como resultado, o saldo do comércio exterior do agronegócio foi positivo em US$

5 CONGRESSO EM FOCO. “Quem financiou a eleição de Kátia Abreu”. Acessado em 23/04/2015. Disponível

em http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/quem-financiou-a-eleicao-de-katia-abreu/ 6 O ESTADO DE SÃO PAULO. “Senadora Kátia Abreu (DEM-TO) recebe prêmio 'Motosserra de Ouro’ do

Greenpeace” Acessado em 23/04/2015. Disponível em http://goo.gl/kHYOT7

18

82,91 bilhões, o que compensou o déficit de US$ 80,35 bilhões dos demais setores

da economia 7.

No entanto, a agroecologia também está inserida no contexto político atual,

principalmente na relação do atual governo com o MST, sendo este o movimento que carrega

as prerrogativas da agroecologia, e tem uma relação histórica junto aos movimentos e partidos

da esquerda, sobretudo o Partido dos Trabalhadores (PT).

Essa união resiste até hoje, mesmo em meio aos últimos acontecimentos e decisões

tomadas pelo governo petista a favor do latifúndio e dos senhores da terra. É um tanto

contraditória a aproximação de um movimento social que tem sofrido constantes derrotas no

âmbito político, manter uma parceria com um governo que caminha a passos lentos na

questão da reforma agrária, fortalecimento da agricultura familiar e por consequência, a

agroecologia.

Mesmo após a posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) (2003-2010), que

devido à sua história de luta junto aos movimentos sociais era apontado como favorável ao

tema, e Dilma Rousseff (2011-2014), que é do mesmo partido, observaram-se poucos avanços

e chegaram a ter até menos assentamentos do que o antecessor Fernando Henrique Cardoso

(PSDB) – (1995-2002). Segundo estudo do NERA (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos

de Reforma Agrária) da UNESP, o governo tucano criou 4.228 assentamentos, mais do que o

governo petista, que até 2011, havia criado 3.525 assentamentos.8

Em meio a este embate, está a figura do agricultor familiar sendo abordado pelos dois

lados. Um lado que trabalha com a dinâmica do capital, da maximização da produção e do

lucro e propõe uma relação de concorrência com os grandes produtores que, já pertencentes

ao agronegócio e adeptos do modus operandi deste mercado, estão capitalizados e têm

potencial produtivo e de investimento no campo. De outro lado, a agroecologia que propõe

um fortalecimento das comunidades, agricultura orgânica e sustentável, a qual poderia

representar uma alternativa de cultivo à agricultura familiar, porém, mesmo que esteja em

crescimento – conforme será visto neste trabalho – ainda está muito distante de representar o

grande capital na agricultura brasileira.

Pretende-se, portanto, a realizar um estudo dialético, sobre essa correlação de forças

entre o agronegócio e agroecologia, tomando como base o plano “The Good Growth Plan”.

7 FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo: “Balança Comercial do Agronegócio Consolidado

2013”. Acessado em 16/01/2015. Disponível em: http://goo.gl/7TSwkR 8 UNESP – DATALUTA - Relatório Brasil 2012 - Banco de Dados da Luta pela terra, pag 19, gráfico 3.

Acessado em 20/01/2015. Disponível em: http://www.ippri.unesp.br/Home/pos-graduacao/desenvolvimentoter

ritorialnaamericalatinaecaribe/relatorio_dataluta_brasil_2012_2013.pdf

19

Por meio de análise de documentos, conteúdo e discursos, elaboraremos a tese. O contraponto

utilizado será o modelo definido pela agroecologia, com base nos referenciais teóricos

elencados, compondo a antítese. O resultado deste debate, estabelecerá a síntese.

Dessa forma, instala-se a seguinte pergunta desta pesquisa: “Para o agricultor

familiar, quais são as principais tensões entre o modelo de agricultura do agronegócio e

o modelo da agroecologia, tomando por base o plano “The Good Growth Plan?”.

20

2 JUSTIFICATIVA

Essa pesquisa justifica-se por abordar aspectos referentes à agricultura, sendo esta a

provedora da segurança alimentar. Quanto à compreensão do termo “segurança alimentar”,

cabe mencionar o artigo 3º da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN,

lei federal, nº 11.346, de 15 de setembro de 2006:

Art. 3o A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de

todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade

suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como

base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e

que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL,

2006)

Com base no direito explicitado na lei, há uma série de questões que precisam ser

analisadas. Se a segurança alimentar engloba tanto a questão da segurança dos alimentos

produzidos no que refere-se à nossa saúde, meio-ambiente e atendimento de demanda, quanto

a questão da fome “na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a

alimentos”, oportunamente apresenta-se esta pesquisa, na qual serão confrontados dois

modelos agrícolas distintos: o agronegócio e agroecologia.

Este trabalho busca fomentar a discussão em torno destes dois modelos, contribuindo

com mais informações neste debate de alta relevância que traz como tema central a questão da

alimentação, a qual é uma necessidade primária e inerente à condição humana. Entende-se

que há uma série de questões ordens éticas, políticas, econômicas e sociais a serem estudadas,

com o propósito de entender melhor o contexto do agricultor familiar e as perspectivas de

futuro e sobrevivência dessas famílias.

21

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Confrontar o modelo de agricultura proposto pelo agronegócio com o modelo da

agroecologia para a agricultura familiar tomando como objeto de estudo o “The Good Growth

Plan”.

3.2 Objetivos Específicos

a) Analisar o contexto histórico, socioeconômico, ambiental e político do

agronegócio

b) Abordar o modelo da agroecologia como alternativa ao agronegócio

c) Análise de discursos acerca do “The Good Growth Plan”, de acordo com as

problemáticas elencadas nos dois primeiros objetivos.

22

4 METODOLOGIA

Para atingir os objetivos propostos nessa pesquisa, este trabalho foi dividido em três

partes: na primeira, realizou-se uma análise do agronegócio brasileiro ao abordar a sua

construção ideológica e conceitual, seu modus operandi enquanto modelo agrícola e de que

maneira este setor ganhou protagonismo econômico e representação política no país.

Na segunda parte, apresentou-se o modelo da agroecologia, colocada neste trabalho

como a antítese do agronegócio. Aqui, estudou-se a concepção desse modelo, seus desafios, a

apropriação deste formato agrícola por ONGs e movimentos sociais, como o Movimento dos

Sem Terra (MST) e Greenpeace, e pelo capital, por meio do crescimento do mercado de

produtos orgânicos.

Finalmente, após apresentar esses dois modelos, iniciou-se o estudo de caso, que

buscou compreender o plano “The Good Growth Plan” da Syngenta. A partir das

problematizações que foram expostas no decorrer das duas primeiras partes, a análise

concentrou-se, especialmente, em um dos pilares desse plano, o qual almeja “Capacitar 20

milhões de pequenos agricultores para o uso de tecnologias”, sendo um milhão somente no

Brasil.

Por tratar-se de um programa que tem, à primeira vista, viés educacional, escolheu-se

como referencial teórico do método de estudo de caso o livro da Profª Dra. Marli Eliza

Dalmazo Alfonso de André: “Estudo de Caso em Pesquisa e Avaliação Educacional”. A partir

dessa literatura, categorizou-se, dentre as diversas modalidades do estudo de caso, qual delas

seria a mais apropriada. Dessa forma, estabeleceu-se que a metodologia utilizada será o

estudo de caso intrínseco avaliativo, o qual, nas palavras de André:

Há o que Stake chama de estudo de caso intrínseco, quando o pesquisador tem um

interesse intrínseco naquele caso particular. Por exemplo, quando se deseja

investigar a prática pedagógica de uma alfabetizadora bem sucedida, o interesse é no

caso em si, quer-se conhecer mais aquela unidade específica. Pode-se utilizar, como

método de coletas de dados: história de vida da professora, observação participante

das aulas e de outras situações escolares, análise de documentos como os planos da

professora, as produções dos alunos, entrevistas com os alunos. (ANDRE, 2008, p.

19)

Quanto ao estudo de caso avaliativo, utilizou-se a técnica conforme explicou

Stenhouse (apud André, 2008, p. 21), a qual trata-se de estudar um ou vários casos em

profundidade para fornecer aos atores educacionais informações que os auxiliem a julgar o

mérito ou o valor de políticas, programas ou instituições.

23

Mesmo tratando-se de uma pesquisa que propõe estudar um plano empresarial, este

tem cunho educacional, onde os métodos de coleta apontados por André (2008) mostraram-se

cabíveis. No entanto, devido à escassez de materiais didáticos utilizados nas ações

educacionais do plano, nessa pesquisa, optou-se por realizar diversas análises de discurso

sobre o plano em três níveis: falas do presidente da empresa e do diretor responsável pelo

programa – por meio de entrevistas – e da argumentação do instrutor durante um dos

treinamentos oferecidos.

Nesse sentido, utilizou-se como principal referência a obra da Profª Dra. Helena

Hathsue Nagamine Brandão, Introdução à análise do discurso. Em linhas gerais, pode-se

afirmar que todo discurso carrega uma ideologia. No entanto, este termo “é ainda hoje uma

noção confusa e controversa” (BRANDAO, 2006, p.18). O conceito de ideologia fora

abordado por diversos autores, de acordo com o apanhado pela pesquisa da Brandão, a qual

transitou pelas definições de ideologia de Marx, Althusser e Ricoeur.

O quadro a seguir exibe um panorama das três teorias:

Quadro 1 ― Con ceito de Ideologia

Em Marx Em Althusser Em Ricoeur A ideologia é a separação

que se faz entre a

produção de ideias e as

condições sociais e

históricas em que são

produzidas.

A classe dominante gera

mecanismos de perpetuação ou de

reprodução de condições materiais,

ideológicas e políticas de

exploração, pelo Estado, através de

Aparelhos Repressores (ARE) e

pelas instituições como a igreja,

escola, família e cultura através de

Aparelhos Ideológicos (AIE)

A ideologia:

a) é um ato fundador inicial,

confere a um grupo social uma

imagem de si mesmo.

b) é dinâmica e motivadora:

justificação da práxis

c) é simplificadora e esquemática:

racionalizadora, com slogans e

formas lapidares, onde a retórica

está sempre presente

d) é operatória e não-temática:

possui estatuto não-reflexivo e

não-transparente, vinculando-a à

noção de dissimulação e distorção

e) é intolerante, onde o novo põe

em perigo as bases estabelecidas,

devido ao caráter esquematizador

da ideologia, ela se sedimenta,

podendo levar ao enclausuramento

ou à cegueira.

24

Segundo Chauí (1980), na

ótica marxista a ideologia

é um instrumento de

dominação de classe

porque a classe dominante

faz com que suas ideias

passem a ser ideias de

todos. Para isso eliminam-

se as contradições entre

força de produção,

relações sociais e

consciência, resultantes da

divisão do trabalho

material e intelectual.

Necessária à dominação

de classe, a ideologia é

ilusão, isto é, abstração e

inversão da realidade.

Explica a ideologia sobre três

hipóteses:

a) "a ideologia representa a relação

imaginária de indivíduos com suas

reais condições de existência":

alienação no imaginário da

representação das condições de

existência dos homens

b) "a ideologia tem uma existência

porque existe sempre num aparelho

e na sua prática ou suas práticas": a

ideologia é material, porque sua

representação é concebida no

contexto de práticas e rituais no

interior de aparelhos ideológicos

concretos

c) "a ideologia interpela indivíduos

como sujeitos": o sujeito se insere,

a si mesmo e suas ações, em

práticas reguladas pelos aparelhos

ideológicos.

Apresenta duas funções básicas:

1. Função de dominação:

hierarquiza a organização social,

onde a autoridade busca

legitimação atraindo a crença dos

indivíduos

2. Função de deformação:

escamoteamento a realidade

social, apagando as contradições

que lhe são inerentes (ligado a

Marx), e de outro lado, a

convicção de que todos os

discursos são ideológicos, são

concepções de mundo inerentes a

determinada comunidade, numa

circunstância histórica e assim

distanciando-se de uma falsa

consciência, estabelecendo que há

também uma liberdade de relação

entre signos e sentidos particulares

onde permite se produzir sentidos

novos, atenuar outros e eliminar

os indesejáveis. Fonte: Do Autor.

Nota: Com base na obra de BRANDÃO (2006)

Em suma, pode-se inferir que a ideologia é “(...) um recorte da realidade, embora, por

um mecanismo de manipulação, o real não se mostre na medida em que, intencionalmente, se

omitem, atenuam ou falseiam dados, como as contradições que subjazem as relações sociais”.

(BRANDÃO, 2006, p. 31). Neste sentido, se todo o discurso é ideológico e se a ideologia é

um recorte da realidade em um terreno repleto de contradições, aqui se instala o objetivo da

análise do discurso:

(...) o desafio a que a análise do discurso se propõe é o de realizar leituras críticas e

reflexivas que não reduzam o discurso a análises de aspectos puramente linguísticos

nem o dissolvam num trabalho histórico sobre a ideologia. Ela opera com o conceito

de ideologia que envolve o princípio da contradição que está na base das relações de

grupos sociais, cujas ideias entram em confronto, numa correlação de forças;

considera também as noções de interpelação/assujeitamento e de aparelhos

ideológicos de Estado que governam, regulam essas ações. (BRANDÃO, 2006, p.

103)

25

5 AGRONEGÓCIO NO BRASIL

Como ponto de partida, faz-se necessária uma breve análise do agronegócio brasileiro.

Nesta seção, buscou-se abordar a construção e consolidação desse setor econômico no país,

colocando em pauta sua relação com poder público e também buscar na teoria sua definição

como termo, ideologias e modus operandi.

5.1 Contextualização do Agronegócio

O termo agronegócio provém do conceito agribusiness cunhado pelos pesquisadores

John Davis e Davi Goldberg, o qual apareceu pela primeira vez em 1957 na Universidade de

Harvard. Os pesquisadores brasileiros Araújo, Wedekin e Pinazza (1990) traduziram essa

conceitualização da seguinte forma:

Pela definição de Goldberg e Davis, o “agribusiness” é “a soma total das operações

de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas

unidades agrícolas; e o armazenamento, processamento dos produtos agrícolas e

itens produzidos com eles”.

Dessa forma, o ‘’agribusiness” engloba os fornecedores de bens e serviços à

agricultura, os produtores agrícolas, os processadores, transformadores e

distribuidores envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agrícolas até o

consumidor final. Participam também nesse complexo os agentes que afetam e

coordenam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades

comerciais, financeiras e de serviços. (ARAÚJO; WEDEKIN; PINAZZA, 1990, p.3)

Na obra de Araújo, Wedekin e Pinazza (1990) há uma interessante ilustração sobre a

abrangência do agronegócio no Brasil. A ABAG RP – Associação Brasileira do Agronegócio

da Região de Ribeirão Preto, ao conceituar o agronegócio, reproduziu o diagrama desses

autores conforme apontado na Figura 1:

26

Figura 1 ― Diagrama do Agronegócio

Fonte: ABAG RP – Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto9

A partir desse esquema é possível inferir que o agronegócio se coloca como um

“supersetor”, pois, de acordo com seus conceitualizadores, marca uma presença fundamental

em diversos setores, do começo da cadeia até o consumidor final com participação em uma

série de negócios desde a produção “dentro da porteira”, ou seja, na propriedade agrícola,

como “fora da porteira”, por ser o provedor da matéria-prima de uma série de mercadorias e

serviços.

Diversos teóricos fazem uma crítica a essa abordagem, entre eles, parte dos

pesquisadores do NERA – Núcleo de Estudos Rurais e Agrários da UNESP – Universidade

do Estado de São Paulo. Em um dos trabalhos publicados pela Revista NERA, a qual tem a

curadoria deste grupo, há uma interessante abordagem da construção ideológica do

agronegócio e uma análise crítica da conceitualização original desse agente econômico.

Segundo Juscelino Bezerra, em seu artigo “Agronegócio e ideologia: contribuições teóricas”:

9 Disponível em: http://www.abagrp.org.br/agronegocioConceito.php. Acessado em 08/05/2016.

27

Diante do quadro exposto, torna-se imprescindível esclarecer alguns mitos

erroneamente associados ao setor do agronegócio. Por exemplo, apesar da ideia

generalizada segundo a qual as grandes propriedades que produzem a maioria dos

produtos do campo, os dados analisados por Oliveira (2004) mostram o inverso, ou

seja, devemos creditar às pequenas unidades a responsabilidade pela maior produção

dos produtos no campo. Tal fato pôde ser evidenciado mediante análise da produção

das lavouras permanentes e temporárias. (BEZERRA, 2010, p. 120)

Para Bezerra (2010), a apropriação do agronegócio quanto ao protagonismo da

produção agrícola brasileira, o qual se auto intitula um “supersetor", não deve ser considerada

uma unanimidade. Alguns dados que corroboram a constatação de Bezerra, podem ser

conferidos no Censo Agropecuário de 2006, realizado pelo IBGE – Instituto Brasileiro de

Geografia Estatística. Tanto que, com base neste documento, Bernardo Mançano,

coordenador do NERA, concluiu que “a agricultura familiar é responsável pela produção de

cerca de 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros […], em algumas regiões o

setor também bate o agronegócio na produção de commodities, como café, arroz e milho.”10

Embora a agricultura familiar seja a principal mantenedora do consumo interno de

alimentos no Brasil, é evidente um cenário de distribuição de terras bastante desigual no país.

Conforme analisamos no Censo Agropecuário, a agricultura familiar detém muito mais

estabelecimentos de agricultura que a não-familiar, mas com tamanhos extremamente

menores, pois a área ocupada por estes estabelecimentos somados, representa 24,3% de toda a

área agricultável nacional. A cartilha do Censo apresenta a seguinte informação:

No Censo Agropecuário 2006, foram identificados 4.367.902 estabelecimentos da

agricultura familiar, o que representa 84,4% dos estabelecimentos brasileiros. Este

numeroso contingente de agricultores familiares ocupava uma área de 80,25 milhões

de hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários

brasileiros. Estes resultados mostram uma estrutura agrária ainda concentrada

no País: os estabelecimentos não familiares, apesar de representarem 15,6% do

total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da área ocupada. A área média dos

estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não familiares, de 309,18

hectares. (IBGE, 2006, p. 19). Grifo nosso.

Além disso, mesmo com domínio de apenas um quarto da área disponível para

agricultura no país, a agricultura familiar emprega muito mais que a não familiar. “O Censo

Agropecuário 2006 registrou 12,3 milhões de pessoas vinculadas à agricultura familiar

(74,4% do pessoal ocupado) em 31.12.2006 […], com uma média de 2,6 pessoas, de 14 anos

ou mais, ocupadas.” (IBGE, 2006, p. 21)

10 SÍTIO DO IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em:

http://desafios.ipea.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2512:catid=28&Itemid=23

Acessado em 12/05/2016

28

De acordo com o levantamento realizado pelo Censo, pode-se verificar que a cultura

onde a agricultura familiar tem a menor participação é a da soja, respondendo por apenas 16%

da produção nacional. A soja é a commoditie que tem grande destaque no agronegócio, 49%

da área plantada do país é dedicada a esta cultura. Segundo dados divulgados pela

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 95 milhões de toneladas foram

produzidas no Brasil na safra 2014/2015. A maior parte do volume produzido, 58% - o

equivalente a 55,1 milhões de toneladas – foi exportada, gerando uma soma de US$ 31,4

milhões de dólares.11

Nos dados disponíveis no AGROSTAT - Estatísticas de Comércio Exterior do

Agronegócio Brasileiro, sistema mantido pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento, em 2014, o agronegócio foi responsável pela exportação de US$ 96,7 bilhões,

representando 43% do total exportado pelo país. A cultura da soja responde por 32,5% do

montante comercializado nas exportações do agronegócio, conforme Tabela 1:

Tabela 1 ― Dados da Balança Comercial de 2014, Agronegócio, por cultura

Fonte: AGROSTAT12

11 Fonte: Sítio da EMBRAPA. Disponível em: https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos .

Acessado em 11/05/2016 12 Disponível em: http://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm Acessado em 11/05/2016

Setor Valor(US$) Peso(Kg) % do Total ExportadoCOMPLEXO SOJA 31.403.497.459 60.710.405.437 32,5%

CARNES 17.429.296.884 6.382.037.623 18,0%

COMPLEXO SUCROALCOOLEIRO 10.366.872.216 25.257.514.416 10,7%

PRODUTOS FLORESTAIS 9.950.706.288 17.148.406.408 10,3%

CAFÉ 6.661.873.394 2.071.063.367 6,9%

CEREAIS, FARINHAS E PREPARAÇÕES 4.641.434.831 22.135.963.555 4,8%

COUROS, PRODUTOS DE COURO E PELETERIA 3.449.008.954 512.606.055 3,6%

FUMO E SEUS PRODUTOS 2.501.867.835 476.217.446 2,6%

SUCOS 2.168.268.586 2.024.698.977 2,2%

FIBRAS E PRODUTOS TÊXTEIS 1.841.765.641 873.457.871 1,9%

DEMAIS PRODUTOS DE ORIGEM VEGETAL 1.015.321.691 434.538.462 1,0%

FRUTAS (INCLUI NOZES E CASTANHAS) 841.295.785 733.719.524 0,9%

ANIMAIS VIVOS (EXCETO PESCADOS) 742.199.317 305.885.862 0,8%

DEMAIS PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL 647.466.034 259.064.184 0,7%

PRODUTOS ALIMENTÍCIOS DIVERSOS 551.222.632 271.526.191 0,6%

CHÁ, MATE E ESPECIARIAS 485.415.363 80.974.455 0,5%

BEBIDAS 428.042.851 207.732.365 0,4%

LÁCTEOS 345.406.696 86.037.191 0,4%

CACAU E SEUS PRODUTOS 337.423.812 79.824.041 0,3%

PRODUTOS OLEAGINOSOS (EXCLUI SOJA) 268.800.447 457.644.241 0,3%

RAÇÕES PARA ANIMAIS 239.543.529 193.342.737 0,2%

PESCADOS 207.219.010 32.178.215 0,2%

PRODUTOS APICOLAS 103.843.898 25.357.029 0,1%

PRODUTOS HORTÍCOLAS, LEGUMINOSAS, RAÍZES E TUBÉRCULOS 96.275.522 116.797.355 0,1%

PLANTAS VIVAS E PRODUTOS DE FLORICULTURA 23.812.077 6.350.827 0,0%

Total 96.747.880.752 140.883.343.834 100%

29

Portanto, ao representar praticamente a metade de tudo que é exportado, o

agronegócio tem forte protagonismo econômico, sendo assim, um negócio extremamente

importante para o país sob a ótica capitalista. Ainda que sejam visíveis as diversas

implicações sociais causadas pela acumulação de terras do latifúndio, que não é o maior

produtor de alimentos e nem gerador de empregos no campo, há um direcionamento dos

recursos públicos muito maior para esse setor devido à esta dependência. A seguir,

aprofundaremos a discussão quanto às políticas públicas direcionadas à agricultura e o modus

operandi desse mercado.

5.2 Modus Operandi

O agronegócio tem por característica a monocultura. Os dados da CONAB (2015) –

Companhia Nacional de Abastecimento, em boletim divulgado em setembro de 2015,

referentes à produção de grãos da safra 2014/2015, apontam que 86% da produção de grãos

resumiu-se a milho e soja. Das 208,8 milhões de toneladas de grãos produzidos nessa safra,

96,2 milhões referem-se à soja e 84,3 milhões ao milho. Ressalta-se que os dados da CONAB

não contemplam a produção de café e sucroalcooleira, na qual o agronegócio também tem

expressiva participação, principalmente no Sudeste.

Figura 2 ― Gráfico produção total de grãos por cultura

Fonte: CONAB (2015)13

13 Disponível em:

http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/15_09_11_10_42_03_boletim_graos_setembro_2015.pdf

Acessado em 21/05/2016.

30

Ao que se pode observar, no que se refere à produção de grãos, o elevado volume de

produção de soja e milho está atrelado à produção latifundiária focada nessas duas culturas, já

que se a agricultura familiar é responsável por 70% da produção para consumo interno, as

grandes propriedades dispõem-se a produzir um estoque excedente e comercializá-los como

commodities no mercado externo.

Para produzir em larga escala, as grandes propriedades utilizam diversos recursos

tecnológicos. Entende-se aqui por tecnologia não só o maquinário da propriedade, como

plantadeiras, colheitadeiras, máquinas de debulha, tratores, entre outros, mas também a

utilização de defensivos agrícolas – popularmente conhecidos como agrotóxicos – e sementes

híbridas e transgênicas, as quais são comercializadas pela empresa que lançou o plano que é

objeto deste estudo.

Segundo dados pelo IBGE (2015) na cartilha “Indicadores de Desenvolvimento

Sustentável”, lançada em 2015, é possível constatar um aumento significativo na utilização de

agrotóxicos nos últimos 12 anos. Se comparamos o nível de utilização diagnosticado em 2000

(por volta de 3kg/ha) com o nível registrado em 2012 (por volta de 7kg/ha), observa-se que o

consumo mais que dobrou no país.

Figura 3 ― Comercialização anual de agrotóxicos e afins, por área plantada - Brasil – 2000 a 2012

Fonte: IBGE14

Com relação ao maquinário utilizado no cultivo, pode-se observar um expressivo

aumento nas vendas nacionais, segundo os dados ANFAVEA – Associação Nacional dos

14 Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94254.pdf. Acessado em: 22/05/2016

31

Fabricantes de Veículos Automotores, que em estatísticas divulgadas sobre o mercado de

máquinas agrícolas e rodoviárias, no qual são consideradas as quantidades vendidas de

tratores de rodas e esteiras, cultivadores motorizados, colheitadeiras e retroescavadeiras,

apontam que no período de 2003 a 2013 as vendas destes equipamentos mais que dobraram15.

Figura 4 ― Vendas Nacionais - Maquinário Agrícola e Rodoviário - Brasil - 2003 - 2013

Fonte: Do autor.

Nota: Com base nos dados da ANFAVEA

No que se refere às sementes transgênicas, um levantamento realizado em 2014 pelo

ISAAA – International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications, revela que,

nos principais cultivos do Brasil – soja, milho e algodão – foram utilizadas sementes

transgênicas 89,2% dos plantios:

Em 2014, o total de hectares de culturas biotecnológicas no Brasil compreenderam:

29,1 milhões de hectares de soja biotecnológica, 12,5 milhões de hectares de milho

biotecnológico e 0,6 milhões de hectares de algodão biotecnológico. De 47,3

milhões de hectares da área total plantada com soja, milho e algodão no Brasil em

2014, 89,2%, ou 42,2 foi biotecnologia. A soja biotecnológica foi plantada em

29,1 milhões de hectares, contra 26,9 milhões de hectares, em 2013, o equivalente a

um crescimento de 7,9% e taxa de adoção de 93,2%. (ISAAA, 2014, p. 1) Grifos

nossos. Tradução livre.

15 ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. Produção, vendas e exportação

de máquinas agrícolas e rodoviárias. Disponível em: http://www.anfavea.com.br/docs/SeriesTemporais.zip

Acessado em 22/05/2016

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

90000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

37918 37616

2303525378

37688

52792 53677

6767163800

67959

81355

Total

32

É importante informar que a nomenclatura “biotecnologia” aparece em diversas

pesquisas na área agrícola, no entanto, refere-se às plantas transgênicas. Este esclarecimento

pode ser obtido através da página da EMBRAPA:

A Biotecnologia é um ramo da ciência que aplica os conceitos da moderna

engenharia genética na geração de novos produtos na agricultura, nos processos

industriais ou na medicina. Na agricultura, por exemplo, o principal resultado da

biotecnologia são as plantas geneticamente modificadas que ficaram conhecidas no

jargão popular como plantas transgênicas.16

Portanto, a partir dessa breve análise quanto aos mercados que movimentam o modus

operandi do agronegócio, no qual o uso do agrotóxico e maquinários agrícolas vêm crescendo

em ritmo acelerado e constante e a hegemonia da biotecnologia nas sementes utilizadas nas

culturas predominantes da grande propriedade, fica evidente que este modelo de negócio é

bastante rentável, dada a medida de crescimento de seus componentes.

5.3 Agronegócio e o Poder Público

Conforme já visto, o agronegócio e a grande propriedade agrícola esbarram em

questões sociais bastante importantes, despertando assim uma série de tensões no campo, com

frequente enfrentamento com os movimentos sociais de luta pela terra e também dos

movimentos ambientalistas. Também foi citado outro ponto importante, referente ao

protagonismo econômico deste setor, que é o principal exportador do país.

Essas questões se apresentam fortemente também na esfera pública e o embate político

envolvendo essas problemáticas é constante. Sem ater-se a este debate, pretende-se aqui exibir

um panorama sobre a configuração atual do poder público no que tange às políticas voltadas à

agricultura.

No governo federal, a presidenta eleita para seu segundo mandato em 2014, Dilma

Rousseff (PT), empossou Kátia Abreu (PMDB) para o MAPA – Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento. Conhecida por seu discurso amplamente favorável ao agronegócio

e à grande propriedade, Kátia é persona non grata pelos ambientalistas, tanto que a Green

Peace a “premiou” com a “Motosserra de Ouro”, a qual é destinada aos inimigos do meio

16 EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em:

https://www.embrapa.br/recursos-geneticos-e-biotecnologia/sala-de-imprensa/se-liga-na-ciencia/a-biotecnologia-

e-voce Acessado em 22/05/2016

33

ambiente17, e também pelos movimentos de luta pela terra, como o MST que repudiou a

indicação: “’Kátia Abreu representa o agronegócio, o atraso, o trabalho escravo. E representa,

principalmente, em seu Estado a grilagem de terra’, afirmou Alexandre Conceição,

coordenador nacional do movimento”.18

O agronegócio também está fortemente consolidado no Congresso Nacional, devido

ao grande número de deputados federais que compõem a FPA – Frente Parlamentar da

Agropecuária, popularmente conhecida como bancada ruralista. De acordo com os dados da

página do Congresso, 191 deputados fazem parte da bancada, o que representa 38% de todos

os 505 deputados em exercício19.

Na região centro-oeste, onde o agronegócio tem hegemonia (conforme a figura 5), a

razão entre deputados totais versus deputados ruralistas é muito maior. Conforme análise,

apresentam-se os dados do Censo Agropecuário de 2006, referente à porcentagem de terras

destinadas à agricultura familiar nos três estados da região: Goiás, Mato Grosso e Mato

Grosso do Sul e, ao lado, a porcentagem de deputados ruralistas sobre o número de deputados

totais.

17 O ESTADO DE SÃO PAULO. “Senadora Kátia Abreu (DEM-TO) recebe prêmio 'Motosserra de Ouro’ do

Greenpeace” Acessado em 23/04/2015. Disponível em http://goo.gl/kHYOT7 18 FOLHA DE SÃO PAULO. “Em reunião com Dilma, MST repudia indicação de Abreu para a Agricultura”.

Acessado em 22/05/2016. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1562668-em-reuniao-

com-dilma-mst-repudia-indicacao-de-katia-abreu-para-a-agricultura.shtml 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - Frente Parlamentar Mista da Agropecuária – FPA - Disponível em

http://www.camara.leg.br/internet/deputado/frenteDetalhe.asp?id=53476. Acessado em 24/04/2016

34

Figura 5 ― Estabelecimentos de agricultura familiar no número de estabelecimentos totais por setor censitário (%)

Fonte: IBGE. Censo Agropecuário 2006.

Quadro 2 ― Área da Agricultura Familiar X Bancada Ruralista no Centro-Oeste

Fonte: Do autor.

Nota: Com base nos dados Censo Agropecuário de 2006 e do Congresso Nacional.

Como pode ser observado no mapa e no quadro, a região com a menor área destinada

à agricultura familiar é a centro-oeste. Acompanhando este cenário, verifica-se que a bancada

ruralista que representa estes estados é maior do que a metade de todos os deputados eleitos

Agricultura

familiar

Não

familiar

Área

(ha)

Área

(ha)

Área Total

(ha)

%Agric

Familiar

Deputados

em Exercício

Deputados

Ruralistas%Ruralistas

Mato Grosso do Sul 1 184 217 29 090 759 30 274 975 4% 8 6 75%

Mato Grosso 4 837 564 43 851 146 48 688 711 10% 8 6 75%

Goiás 3 317 908 22 818 173 26 136 081 13% 17 9 53%

Unidades da Federação

35

nessas unidades da federação. Aqui configura-se um quadro no qual é visível a dominação dos

grandes proprietários de terra, alinhados com uma bancada forte em Brasília para que essa

situação continue sendo mantida.

Essa penetração do agronegócio na esfera pública também pode ser percebida quando

analisamos a distribuição do crédito rural no Mato Grosso, durante o período de 1980 e 2000,

onde a soja foi o produto principal dos recursos emprestados – entre 50 e 75% do montante

total e 95% dos valores fora destinado para os agricultores compreendidos como “não

familiar”. (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE, 2010).

No artigo de Heredia, Palmeira e Leite (2010), também consta um recorte interessante

sobre a alocação de recursos do crédito rural no estado da Bahia, onde em 2004 foram

disponibilizados R$1,245 bilhões em linhas de crédito, porém, 22,33% deste recurso ficou

somente no município de São Desidério, no qual há um grande processo de concentração

fundiária:

Somente São Desidério chegou a representar mais de 1/5 dos recursos nos anos de

2003 e 2004. Essa situação reflete ainda um forte processo de concentração

fundiária. Para tomarmos o município citado, as Estatísticas Cadastrais do Incra, de

1998, indicavam que os imóveis acima de 5 mil hectares representavam apenas 0,5%

do total de imóveis, mas 43% do total da área. (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE,

2010, p. 168).

Em uma análise mais abrangente, pode-se verificar a desigualdade na alocação dos

recursos de crédito rural no país, “o volume de crédito do PRONAF (Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar), por unidade de área desse segmento, é […] inferior à

metade do crédito concedido a cada unidade de área da agricultura não-familiar no país.”

(SOUZA et al., 2011, p. 119).

Analisando a evolução do crédito em reais por hectare, verifica-se que, em 2009, a

disponibilidade de crédito para a agricultura não familiar foi de R$240,90 por hectare, 55%

acima do que na agricultura familiar, na qual o índice estabelecido foi de R$107,60 por

hectare. Considerando os dez anos anteriores, constata-se que a disponibilidade de crédito

para agricultura não familiar representou o dobro ou mais que a da agricultura familiar.

36

Figura 6 ― Créditos Rurais Concedidos (por ha) - 1999 a 2009

Fonte: Do autor.

Nota: Com base no artigo de Souza et al. (2011)

Diante dessas informações, pode-se compreender que a junção do protagonismo

econômico do agronegócio devido aos resultados favoráveis na balança comercial com a

construção de uma sólida presença de representação política do setor no poder público, pode

ter criado um ambiente propício para a promoção de políticas voltadas com maior ênfase ao

grande proprietário de terra, tendo em vista a alocação de recursos do governo federal para

essas áreas.

A partir dessas constatações, supostamente poderia se afirmar que o melhor caminho

para o sucesso do agricultor familiar seria atuar no mesmo modus operandi do agronegócio,

utilizando agrotóxicos, transgênicos e assim se capitalizar e crescer. Junto a este crescimento,

ele poderia usufruir dos recursos oferecidos para esse segmento. O “The Good Growth Plan”

sinaliza este tipo de abordagem, tentando convencer que esse é o caminho para mais

produtividade e por consequência, riqueza.

No entanto, conforme apresenta-se na próxima seção, a agroecologia aparece como

uma alternativa de negócio, como oportunidade na qual o pequeno agricultor tenha a

capacidade de produzir de forma orgânica e assim ganhar vantagem competitiva sobre o

grande proprietário, o qual, sendo dono de uma área muito grande, teria grandes dificuldades

para produzir sem o uso de aditivos químicos.

R$-

R$50,00

R$100,00

R$150,00

R$200,00

R$250,00

R$300,00

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Crédito Rural Agricultura Não Familiar (R$/ha) PRONAF Agricultura Familiar (R$/ha)

37

6 O MODELO AGROECOLÓGICO

Nesta seção, buscou-se abordar a conceitualização da agroecologia e os principais

desafios de implementação da agricultura orgânica. Em seguida, trataremos das ONGs e

movimentos sociais (Greenpeace e MST) que apoiam este modelo agrícola e finalizamos com

uma breve análise do mercado de produtos orgânicos.

6.1 Conceitualização da Agroecologia

Ao conceitualizar a agroecologia, é importante que seja feita uma divisão sobre dois

termos: a agroecologia e a agricultura orgânica. O primeiro, refere-se à ciência, a qual,

“[…]busca o entendimento do funcionamento de agroecossistemas complexos […] tendo

como princípio a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas como

base para produzir auto-regulação e consequentemente sustentabilidade.” (DE ASSIS,

ROMEIRO, 2002, p. 77).

A segunda refere-se à técnica de cultivo, baseada na ciência agroecológica, que “tem

por princípio estabelecer sistemas de produção com base em [...] um conjunto de

procedimentos que envolvam a planta, o solo e as condições climáticas, produzindo um

alimento sadio e com suas características e sabor originais, que atenda as expectativas do

consumidor” (PENTEADO apud DE ASSIS, ROMEIRO, 2002, p. 81).

Tomando a abordagem de Gliesmann, na qual, a agroecologia “é a aplicação dos

princípios e conceitos da ecologia ao desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis”

(GLIESMANN apud FEIDEN, 2005, p. 53), pode-se afirmar que a prática da agricultura

orgânica deve seguir os requisitos elencados por este autor que caracterizam a agricultura

sustentável, os quais são:

• Ter efeitos mínimos no ambiente e não liberar substâncias tóxicas ou nocivas na

atmosfera, em águas superficiais ou subterrâneas.

• Preservar e recompor a fertilidade, prevenir a erosão e manter a saúde do solo.

• Usar a água de maneira a permitir a recarga dos depósitos aqüíferos e manter as

necessidades hídricas do ambiente e das pessoas.

• Depender dos recursos internos do agroecossistema, incluindo comunidades

próximas.

• Valorizar e conservar a diversidade biológica e garantir igualdade de acesso a

práticas, conhecimentos e tecnologias agrícolas, possibilitando o controle local dos

recursos agrícolas. (GLIESMANN apud FEIDEN, 2005, p. 53)

38

Portanto, partindo para a práxis, trataremos aqui da agricultura orgânica como método

de cultivo representante da ciência agroecológica. Como as técnicas são diferentes para cada

cultura, para fins de recorte, vamos tomar como exemplo a soja, a qual, conforme já vimos, é

o cultivo mais realizado no país.

Segundo Darolt e Skora Neto (2002, p. 29), do IAPAR - Instituto Agronômico do

Paraná, “não existem receitas ou pacotes prontos em agricultura orgânica, e a cada safra a

estratégia de controle das infestantes pode ser alterada em função de variáveis como clima,

nível de infestação, quantidade de cobertura, variedade utilizada, mercado etc.”.

No entanto, o estudo aponta as principais diferenças entre a produção orgânica e

convencional, conforme Tabela 2:

Tabela 2 ― Principais diferenças entre a produção orgânica e convencional sob plantio direto

Fonte: Darolt e Skora Neto (2002)

Quanto à tabela apresentada, cabe uma ressalva referente ao valor da saca. O indicador

de referência do preço da soja no mercado - Esalq/BM&FBOVESPA – não menciona

diferenciação entre a soja orgânica e convencional. Apenas para fins informativos, em

consulta realizada no dia 03/06/2016, o valor da saca, de acordo com este indicador, era de

US$27,2920.

20 INDICADOR DE PREÇO. Disponível da Soja Esalq/BM&FBOVESPA - Paranaguá - Estado do Paraná.

Disponível em: http://www2.bmf.com.br/pages/portal/portal/boletim1/IndicadoresAgropecuarios1.asp?

pagetype=pop. Acessado em 03/06/2016

39

No entanto, de acordo com informações do SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas21, o mercado europeu compra a soja orgânica por um valor 50%

superior a convencional. Grosso modo, ao tomarmos o índice da Esalq/BM&FBOVESPA

como referência, a saca de soja orgânica teria um valor em torno de US$40,94.

Voltando ao diagrama apresentado por Darolt e Skora Neto (2002), constata-se que há

diferenças em três principais aspectos de cultivo entre os dois modelos, os quais referem-se à

adubação, controles de pragas e doenças e controles de invasoras (popularmente conhecido

por “ervas daninhas”).

Quanto ao último, vale destacar que o principal produto vendido para o controle de

daninhas é o glifosato, herbicida com o maior volume de vendas no Brasil. De acordo com a

cartilha sobre os dados de comercialização divulgados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do

Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) de 2000 a 2012, “o herbicida Glifosato

aparece sempre na primeira colocação e que representou mais de 30% das vendas nacionais

em cada um desses anos.” (IBAMA, 2012, p. 16).

Neste cenário, torna-se necessário compreender alguns desafios acerca da utilização do

modelo da agricultura orgânica no Brasil. Para isso, o trabalho de Machado e Corazza (2004),

traz importantes contribuições neste sentido. Segundo as autoras, “ainda são muitos os

entraves encontrados pelo produtor orgânico brasileiro, constituindo barreiras à entrada neste

mercado.” (MACHADO; CORAZZA, 2004, p. 31), os quais são apresentados sob três

principais aspectos: conversão, certificação e crédito.

Referente ao processo de conversão, segundo as autoras:

A Instrução Normativa 007/99 define os critérios para conversão do solo manejado

de forma convencional para solo orgânico. Desta forma é exigido um período

mínimo para que o produtor possa se adaptar às normas técnicas de produção

orgânica e então se realize a desintoxicação completa de resíduos químicos deste

solo.

O período mínimo de conversão estabelecido pela Instrução Normativa 007/99 de

acordo com a produção é: 12 meses: hortaliças, culturas anuais e pastagens e 18

meses: culturas perenes. (MACHADO; CORAZZA, 2004, p. 31)

Portanto, além dos custos de desintoxicação do solo, essa etapa demandará uma pausa

no plantio da propriedade no período de 12 a 18 meses, até que o processo esteja concluído.

Após essa fase, inicia-se a fase de obtenção da certificação, na qual o agricultor deve arcar

21 SEBRAE: Europa paga 50% a mais pela saca de soja orgânica produzida no Paraná. Disponível em:

http://www.df.agenciasebrae.com.br/sites/asn/uf/DF/europa-paga-50-a-mais-pela-saca-de-soja-organica-

produzida-no-parana,b5eae7290b526410VgnVCM1000003b74010aRCRD Acessado em 03/06/2016.

40

com custos relacionados à análise química do solo e com despesas com o inspetor da empresa

certificadora.

Resumidamente, os custos deste processo são apresentados na tabela abaixo:

Tabela 3 ― Custos de Certificação (Valores para o período 2000/01)

Fonte: Ormond et al. apud Machado e Corazza (2004)

Quanto à questão do crédito, utilizaremos outro referencial, pois na época do trabalho

de Machado e Corazza (2004), ainda não havia sido criado uma linha de crédito específica

para a agricultura orgânica. A pesquisa de Magalhães (2010) faz uma abordagem sobre o

PRONAF Agroecologia, criado em 2005. Nas palavras de Magalhães:

O PRONAF-Agroecologia – Criada no âmbito do Pronaf, em 2005, esta linha de

crédito se destina a agricultores familiares interessados em desenvolver sistemas de

produção agroecológicos e/ou orgânicos ou que já utilizam sistemas agroecológicos

ou orgânicos, incluindo-se os custos relativos à implantação e manutenção.

(MAGALHÃES, 2010, p. 96)

Apesar de representar um avanço no campo das políticas públicas voltadas à

biodiversidade, foram observados entraves para obtenção do crédito nesta linha, pois os

bancos públicos - Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste do Brasil –

encaram como o risco a concessão desses créditos “pela falta de modelos de produção de

SAF22 e de sistemas agroecológicos que apresentem coeficientes técnicos e financeiros

reconhecidos”. (MAGALHÃES, 2010, p. 97).

22 Segundo a EMBRAPA, “Os sistemas agroflorestais (SAFs) são consórcios de culturas agrícolas com espécies

arbóreas que podem ser utilizados para restaurar florestas e recuperar áreas degradadas. Disponível em:

https://www.embrapa.br/busca-de-produtos-processos-e-servicos/-/produto-servico/112/sistemas-agroflorestais-

safs Acessado em 05/06/2016

41

Além de outros desafios de ordem técnica, os quais a pesquisa não se atém, pois

tratam-se estudos da área biológica, pode-se concluir que o ingresso na agricultura orgânica

não se trata de uma tarefa fácil para os agricultores. No entanto, a seguir, abordaremos a

tratativa deste modo de cultivo pela ótica dos movimentos sociais, bem como as alternativas

sugeridas por estes grupos para a inserção dos pequenos agricultores neste modelo.

6.2 A agroecologia sob a ótica das ONGs e dos Movimentos Sociais

A prática da agricultura orgânica sustentável, criada a partir dos estudos referentes à

agroecologia, ganhou adesão de ONGs (organizações não governamentais) ambientalistas e

movimentos sociais de luta pela terra. A seguir, traremos as posições de dois atores

importantes ligados a essas duas causas: a ONG Greenpeace, no que tange ao ambientalismo

e o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, quanto a luta por reforma agrária

e aplicação das práticas de agricultura orgânica nos assentamentos.

Inicialmente, é importante que se diferencie as ONGs dos movimentos sociais, e

também, que se apresente suas conjunturas atuais. Neste sentido, a obra de Gohn (2003) traz

importantes colaborações. Quanto à diferenciação,

As organizações são institucionalizadas, os movimentos não. Elas podem ter

sistemas de relações internas informais, pouco burocráticas, mas precisam ser, no

mínimo, eficientes. Elas têm de se preocupar com a perenidade para sobreviver, e ter

um cotidiano contínuo. Os movimentos não; eles têm fluxos e refluxos, não são

exatamente estruturas funcionais. São aglomerados polivalentes, multiformes,

descontínuos, pouco adensados, não necessitam compromisso com a eficácia

operacional. (GOHN, 2003, p. 49)

Como as ONGs têm um perfil técnico e corporativo, passaram a assumir um papel de

interlocutoras entre o poder público e a população, bem como, de implementadoras de ações

custeadas pelo Estado ou por financiadores internacionais, nas áreas onde há necessidade de

se promover melhorias nas condições de vida das comunidades. Tanto que, durante os anos 80

e 90, notam-se dois movimentos simultâneos que seguiram numa conjuntura global: o

encolhimento dos movimentos sociais e o crescimento das ONGs. (GOHN, 2003)

Os movimentos sociais têm um perfil mais combativo, politizado e podem ser

definidos da seguinte forma:

(...) são ações coletivas de caráter sociopolítico, construídas por atores sociais

pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e

criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-

42

se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos,

litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que

cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta

identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da

base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo. (GOHN,

1995, p. 44)

Retomando, do ponto de vista das ONGs, Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha

de agricultura e alimentação da Greenpeace no Brasil, de acordo com o posicionamento da

FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), durante o Fórum de

Agricultura e Mudanças Climáticas, realizado em 2015, afirma que:

Aumentar a produção não significa acabar com a fome. Está evidente que toda a

produção do mundo já é suficiente para alimentar toda a população do planeta. No

entanto, a fome segue sendo um problema. […] O desafio está na distribuição do

que é produzido, no acesso aos meios de produção agrícola e na produção de

alimentos para pessoas sem destruir o planeta. […] Qualquer modelo de agricultura

que não faça uso de fertilizantes à base de nitrogênio estará contribuindo com a

redução dos gases de efeito estufa. Por isso defendemos a adoção do modelo

agroecológico, que não prevê a utilização de fertilizantes químicos. […] A questão

vem avançando, e agora com o respaldo da FAO esperamos que a agroecologia seja

cada vez mais estudada, debatida e colocada em prática como forma de mitigar as

mudanças climáticas e erradicar a fome global.23

De acordo com nossa pesquisa, não encontramos nenhum modelo prático de

agricultura orgânica sugerido pela Greenpeace. As ações deste movimento estão focadas na

conscientização e mobilização ambiental da população, diálogos com o Estado, produções

científicas e ocupação dos espaços públicos com protestos com foco na mídia, conforme

apontado pela pesquisa de Gomes (2014):

Podemos resumir as ações da seguinte maneira: ações voltadas para a

conscientização ambiental […]; coleta de assinaturas para ingressar com alguma

ação que pode ser realizada tanto de forma presencial como virtual […]; busca de

diálogos com o Estado, com intuito de participar na gestão das políticas públicas

ambientais; o trabalho junto ao Ministério Público Federal, tanto para entrar com

uma ação civil pública, como para participar em audiências públicas; a produção de

relatórios científicos; e, por fim, as ações diretas, que se caracterizam pela inserção

presencial no espaço público de modo a protestar de forma pacífica e não violenta,

as quais são ações de caráter espetacular e midiático. (GOMES, 2014, p. 45)

Quanto ao MST, encontramos uma maior disponibilidade de referenciais, tanto na

questão discursiva quanto na prática, já que este movimento aplica o modelo agroecológico

em alguns de seus assentamentos. Embora o movimento não tenha se iniciado com essa pauta,

23 GREENPEACE: Para ONU, agricultura convencional não combate a fome. Disponível em:

http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Para-ONU-agricultura-convencional-nao-combate-a-fome/.

Acessado em 28/05/2016.

43

sem sequer identificação com movimentos ambientalistas, o mesmo incorpora em sua agenda

de luta e em suas reivindicações alguns dos temas sinérgicos à questão ambiental.

(GIULIANNI apud NETO; CANAVESI, 1997).

Essa sinergia, bem como o enfrentamento ao agronegócio, fica claro na proposta de

Reforma Agrária do MST, que dentre os seus quatro pilares, nota-se que um deles trata-se da

(...) mudança do modelo tecnológico agrícola existente no Brasil, baseado em

oligopólios e nas multinacionais, para um modelo que considere, além do problema

social da fome e do desemprego, as especificidades da natureza, um modelo não

predatório, que tenha compromisso com as gerações futuras. (GOHN, 2010, p. 147)

Desde 1985, conforme Neto e Cavanesi (2001), o MST foi agregando em seu discurso,

alguns pontos referentes à sustentabilidade e ao meio ambiente atrelados ao projeto proposto

de reforma agrária. Porém, o momento no qual essa pauta foi colocada de maneira mais

incisiva foi no Congresso Nacional do MST do ano 2000, onde as lideranças criticavam o

governo da época, quanto ao “estímulo à implantação de grandes fazendas de grãos, sobretudo

na região Centro-Oeste, destinadas à exportação; estímulo à oligopolização do controle do

mercado interno agrícola, por parte de grandes empresas agroindustriais, em sua maioria

multinacionais” (NETO; CAVANESI, 2001, p. 209)

Entende-se que a crítica vinha de encontro aos apoios do governo Fernando Henrique

Cardoso (1994-2002) destinados à expansão do agronegócio. Como tal agenda política seguiu

sendo adotada pelos governos subsequentes, Luís Inácio Lula da Silva (2003 – 2010) e Dilma

Rousseff, o MST intensificou suas ações no âmbito da agroecologia, afinal “[…] se a meta

dos movimentos sociais globalizados do campo é lutar pela Reforma Agrária, pela Soberania

Alimentar e contra o modelo global do agronegócio liberal” (GONÇALVES, 2008, p. 199),

estes perceberam que:

Enquanto o modelo dominante, também denominado de agricultura industrial, está

referenciado na monocultura, nas grandes extensões de terra, nas práticas predatórias

dos recursos naturais e de uso intensivo de substâncias químicas (agrotóxicos,

fertilizantes, corretivos, insumos sintéticos), e sementes geneticamente modificadas,

o modelo da Soberania Alimentar contrapõe-se e defende uma mistura de práticas de

conhecimento tradicional e agricultura sustentável de base agroecológica.

(THOMAZ JUNIOR apud GONÇALVES, 2008, p. 10).

Dentre as ações voltadas à agroecologia, destaca-se no âmbito educacional a ELAA -

Escola Latino Americana de Agroecologia, fundada em 27 de agosto de 2015, a fim de formar

acampados, assentados e agricultores de diferentes movimentos sociais e organizações rurais

da América Latina a qual é fruto de uma parceria firmada entre: Governo do Estado do

44

Paraná; Universidade Federal do Paraná; Governo da Venezuela; Ministério do

Desenvolvimento Agrário e Via Campesina. (GONÇALVES, 2008)

Além da ELAA, de acordo com a pesquisa de GONÇALVES (2008), foram criados

sete “Centros de Formação e Capacitação Técnica em Agroecologia” no estado do Paraná,

nos quais são oferecidos uma série de cursos oficinas, palestras e dias de campo em

experiências agroecológicas. No Quadro 3, constam mais informações sobre estes centros.

Quadro 3 ― Centros de Formação e Capacitação Técnica em Agroecologia Organizados pelo MST/PR, 2008

Fonte: Gonçalves (2008)

Além das políticas educacionais, a adoção de agricultura orgânica é uma realidade nos

assentamentos do MST. Somente a Cooperativa de Assentados da Região de Porto Alegre, no

Rio Grande do Sul, conta com 522 agricultores, de 16 assentamentos, que produzem juntos

cinco mil hectares de arroz orgânico certificado.24

Os produtos são comercializados em feiras realizadas pelo MST no Brasil e também

via contratos com governos. Um exemplo desses contratos é junto à Prefeitura de São Paulo,

24 CAROS AMIGOS: MST faz feira, em SP, com alimentos produzidos em assentamentos da reforma agrária.

Disponível em: http://www.carosamigos.com.br/index.php/cotidiano/5506-mst-faz-feira-em-sp-com-alimentos-

produzidos-em-assentamentos-da-reforma-agraria Acessado em 02/06/2016

45

que em 17 de março de 2015 aprovou a Lei nº 16.140, a qual dispõe sobre a obrigatoriedade

da inclusão de alimentos orgânicos na merenda escolar servida nas escolas municipais.

Segundo a página do movimento, “cooperativas ligadas ao MST fecharam um contrato

com a prefeitura de São Paulo para a venda de 650 toneladas de feijão e 72 toneladas de

farinha de mandioca pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)”.25

Atualmente, o mercado de produtos orgânicos não é composto somente de feiras

regionais e contratos com o poder público. A seguir, analisa-se a conjuntura do mercado de

agricultura orgânica fora dos movimentos sociais e dados de comercialização no país.

6.3 O Mercado de Produtos Orgânicos

Obter uma dimensão real do mercado de produtos orgânicos no Brasil não é uma

tarefa fácil. A começar pelo alto índice de produtores orgânicos não certificados, que não

entram na contabilização realizada pelo MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. Segundo o órgão, o mercado de orgânicos havia movimentado em 2014 cerca

de R$2 bilhões, e que havia 11.084 produtores no Cadastro Nacional de Produtores

Orgânicos26.

No entanto, este número pode ter um grau de subnotificação, pois segundo o estudo de

Madail, Belarmino e Bini (2008), em análise dos dados do Censo Agropecuário de 2006,

foram diagnosticados 90.497 estabelecimentos de agricultura orgânica e apenas 5.106

estavam certificados. Portanto, devido à grande maioria dos agricultores que se categorizam

como orgânicos estarem sem certificação, verifica-se certa dificuldade para considerar a

produção orgânica real no país.

No Brasil, segundo o IBGE (2006) 90.497 estabelecimentos agrícolas praticam a

agricultura orgânica, seja cultivada ou extrativista. A maioria dos estabelecimentos,

94,35% que produz orgânico, o faz sem certificação por entidades credenciadas.

(MADAIL; BELARMINO; BINI, 2008, p. 12)

A questão da certificação, conforme já apontada na seção 6.2., é um dos desafios para

consolidação do modelo de agricultura orgânica e por consequência, dificulta o crescimento

da produção e movimentação de mais produtos orgânicos no mercado nacional. Entretanto,

25 MST: Alimentação escolar recebe 650 toneladas de feijão da Reforma Agrária, em SP. Disponível em:

http://www.mst.org.br/2015/06/17/prefeitura-de-sp-compra-mais-de-650-toneladas-de-feijao-da-reforma-agraria-

para-merenda-escolar.html. Acessado em: 03/06/2016 26 MINISTÉRIO DA AGRICULTURA: Mercado brasileiro de orgânicos deve movimentar R$ 2,5 bi em 2016.

Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2015/09/mercado-brasileiro-de-organicos-

deve-movimentar-rs-2-bi-em-2016 Acessado em 05/06/2016

46

apesar dessa e de outras dificuldades, a produção no Brasil vem aumentando em ritmo

acelerado, a qual no período de 1999 a 2013 aumentou em 300%. Segundo Fernandes e

Karnopp (2014):

Durante a 9ª edição do Fórum Internacional de Agricultura Orgânica e Sustentável,

realizada em junho de 2013, em São Paulo, a IFOAM27 divulgou a informação de a

produção de orgânicos cresceu mais de 300% entre os anos 1999 e 2012 e que a área

produtiva totaliza 3,7 milhões de hectares. (FERNANDES; KARNOPP, 2014, p.

131)

Quanto aos preços, segundo o trabalho de Santos et al. (2015), no qual foi realizada

uma pesquisa na cidade de Olinda, estado do Pernambuco, verifica-se que “os produtos

orgânicos apresentados têm um preço elevado no mercado, devido aos diversos revendedores

(atravessadores) até a chegada ao consumidor e a baixa oferta de produtos de forma contínua”

(SANTOS et al., 2015).

Tabela 4 ― Tabela comparativa de preços dos produtos orgânicos e convencionais

Fonte: Santos et al. (2015)

27 IFOAM - Federação Internacional de Movimentos de Agricultura Orgânica

47

Essa grande diferença de preços no mercado dificulta o acesso aos orgânicos pelas

classes mais populares, o que acaba resultando numa visão de que este mercado é voltado

para um grupo mais elitizado. Não à toa, segundo a pesquisa de Boas, De Souza Sette e De

Brito (2011), acerca do comportamento do consumidor de produtos orgânicos, revela que o

fator preço não é essencial para este tipo de cliente. Nas palavras dos autores:

Observou-se, pela análise do mapa hierárquico de valores, que o comportamento dos

consumidores de produtos orgânicos tem sido orientado por valores terminais

(longevidade, qualidade de vida, tranquilidade e felicidade) que se referem aos

estados finais que eles buscam alcançar para si mesmos e por valores instrumentais

(harmonia interior e com a natureza, consumo responsável, viver bem a vida, cuidar

da saúde, economizar tempo e dinheiro) que são representativos de seus modos

preferidos de conduta. (BOAS; DE SOUZA SETTE e DE BRITO, 2011, p. 21)

Segundo o SEBRAE, 75% das propriedades certificadas como cultivo orgânico, são da

agricultura familiar e a produção nacional vem crescendo mais de 20% ao ano. No entanto,

esse crescimento é inferior à demanda pelos produtos. O quadro se agrava pelo fato de que

70% da produção é exportada para a Europa.28

Portanto, pode-se compreender que o preço elevado destes produtos parte de uma

conjuntura que envolve custos altos na produção – referentes aos desafios já elencados como

os processos de conversão, certificação e adaptação técnica – e também de uma questão

mercadológica na qual não há produto orgânico o suficiente para atender à demanda, o que

incide no aumento de preços.

Diante de tal cenário, pode-se concluir que enquanto não houver fomento à entrada de

novos agricultores nesse mercado, o acesso a estes produtos continuará inviável para

consumidores de baixa renda. Os dados indicam uma expressiva maioria da agricultura

familiar neste mercado, pois a aplicação deste é mais fácil em propriedades menores do que

nas grandes propriedades. Segundo De Campos e Leandro (2012), que afirmam:

O IBD29 […] acredita que o pequeno produtor rural, por possuir importante posição

como produtor de alimentos e por necessitar de uma produção diversificada, tem

maior facilidade de se adaptar aos princípios da agricultura orgânica. (DE CAMPOS

e LEANDRO, 2012, p. 56)

Dada a dificuldade de adequação da grande propriedade, poderia se deduzir que o

modelo agroecológico traria uma vantagem competitiva para a agricultura familiar, a qual

28 SEBRAE - O mercado para os produtos orgânicos está aquecido – Disponível em:

http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-mercado-para-os-produtos-organicos-esta-

aquecido,5f48897d3f94e410VgnVCM1000003b74010aRCRD Acessado em 06/06/2016 29 IBD – Associação de Certificação Instituto Biodinâmico

48

poderia servir a um mercado em expansão e que, devido aos altos preços praticados na

comercialização de alimentos orgânicos, estes agricultores poderiam obter uma considerável

rentabilidade.

49

7 ESTUDO DE CASO – “THE GOOD GROWTH PLAN”

Para a realização do estudo de caso, dividiu-se esta seção em duas partes: na primeira,

foi realizada uma análise discursiva sobre o posicionamento da Syngenta quanto ao

agronegócio num aspecto geral e, para isso, utilizaremos uma entrevista concedida pelo atual

diretor geral da empresa. Na segunda parte, a pesquisa enfoca o objeto de estudo, o “The

Good Growth Plan, a qual consiste em analisar criticamente discursos e conteúdos sobre o

programa com enfoque no pilar de “capacitação de pequenos agricultores”.

Tal plano consiste em seis ações focadas nesses agricultores, de modo a inseri-los no

modus operandi do agronegócio, sob a justificativa de que é necessário aumentar a produção

agrícola para suprir a crescente demanda global de alimentos.

As ações do plano, podem ser observadas no esquema abaixo:

Figura 7 ― Ações do “The Good Growth Plan”

Fonte: Do autor.

Pretende-se explorar as premissas do pilar da capacitação, que, segundo a brochura de

divulgação do plano, disponível no Anexo A, informa: “treinamento para 20 milhões de

pequenos agricultores ao redor do mundo, sendo um milhão no Brasil, para o manejo de

agrotóxicos e sementes transgênicas, a fim de aumentar a produtividade nessas localidades”.

7.1 O discurso da Syngenta sobre o agronegócio brasileiro

Nessa seção, buscaremos analisar o discurso da Syngenta, empresa idealizadora do

“The Good Growth Plan” sobre o agronegócio brasileiro. Por meio de uma entrevista,

dividida em cinco partes, concedida por Laércio Giampani, diretor geral da empresa no Brasil

50

no programa “Giro Business” do canal Band News em maio de 2015. Foram tratadas diversas

questões acerca do setor agrícola e problematizaremos algumas falas captadas.

Figura 8 ― Imagem da vinheta de abertura do programa Giro Business (Band News)

Fonte: YouTube

Série de Entrevistas – Programa Giro Business – BAND News 30

Apresentador: Sergio Waib

Entrevistado: Laércio Giampani, diretor geral da Syngenta no Brasil

Entrevista 1

Sérgio: Olá assinante do Band News, começa agora a coluna Giro Business. O tema

da semana: o setor do agronegócio e conosco, Laércio Giampani que é o diretor-geral da

Syngenta no Brasil. Laércio, um prazer recebe-lo, você como diretor-geral da Syngenta, uma

empresa presente em mais de noventa países, uma multinacional suíça, com ações listadas na

bolsa da Suíça e em Nova Iorque e que obteve no ano de 2014 um faturamento acima de 45

bilhões de reais. Isso te credencia, Laércio. Muito bem-vindo ao Giro Business.

Logo no início da entrevista, o apresentador faz questão de ressaltar a grandeza da

empresa, e utiliza tal fato, para “credenciar” Laércio como uma referência no assunto, de

modo a validar previamente o discurso que será construído no decorrer da entrevista. A

30 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=HmglLwcBr5A . Acessado em 15/09/2016

51

tendência corporativista também pode-se deduzir pelo nome do programa Giro Business, e

por seu apresentador que é um empresário31.

Láercio: Obrigado Sérgio, muito obrigado pelo convite. É um prazer estar aqui e de

ter a oportunidade de debater e falar de um assunto tão relevante, tão importante, que faz tão

bem pro Brasil.

Sérgio: A tecnologia e soluções integradas são fundamentais para tornar qualquer

setor da economia sustentável e competitivo. E assim também se dá no agronegócio. Vou

chamar a reportagem que fala mais a respeito, Laércio, pra gente poder debater sobre este

tema.

Não podemos afirmar se houve algum tipo de “jogral” antes do programa, porém, é

um tanto curioso que os termos “tecnologia e soluções integradas” apareçam logo na primeira

pergunta do programa. Tal fato é destacado devido à Syngenta, por diversas vezes, usar estes

termos em sua estratégia de marketing. Na sequência, verifica-se alguns exemplos de material

publicitário da empresa nos quais tais termos são usados:

Figura 9 ― Material de divulgação – Convite para evento da Syngenta para segmento de HF (horti fruti)

Fonte: Blog Cia da Terra 32

31 Conheça mais sobre Sergio Waib. Portal R7. Disponível em:

http://cartaodevisita.r7.com/conteudo/13798/conheca-mais-sobre-sergio-waib. Acessado em 28/09/2016 32 Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-XjvLtpeiNlU/U07VY9D5suI/AAAAAAAAA-4/aVB0RtNLdRw/s1600/

image002.jpg. Acesso em 28/09/2016

52

Figura 10 ― Material de divulgação – Sementes de soja Syngenta

Fonte: Agência McGarry Bowen 33

Repórter: O Brasil investe entre 1,2 e 1,4% do PIB em pesquisa e desenvolvimento

em ciências agrárias. Apesar do percentual ser baixo quando comparado a países

desenvolvidos como Estados Unidos e Japão, que investem respectivamente 3,4% e 2,7% do

PIB, a agricultura brasileira é exemplo de inovação. Com uso de tecnologia e soluções

integradas para proteger o campo contra adversidades, entre elas: climáticas, pragas e

infertilidade do solo. Tanto que desde a década de 1970 até o ano passado, a produção de

grãos do país cresceu quase sete vezes chegando a 200 milhões de toneladas, enquanto área

plantada pouco mais que dobrou, passando de 27 milhões para 57 milhões de hectares,

segundo a Embrapa. Outra mudança expressiva foi a mecanização do campo. Mais de um

milhão de máquinas agrícolas estão operando por todo Brasil número que não passava de 61

mil nos anos de 1960.

Sérgio: Essa reportagem foi muito feliz porque ela conseguiu nos trazer de fato como

o Brasil vem se desenvolvendo no que tange a tecnologia no campo. Isso, mesmo com

investimento tão baixo: 1,4% do PIB. Laércio, a que fatores podemos atribuir então a um

desenvolvimento tão positivo mediante um investimento ainda baixo?

Laércio: Sérgio, essa é a nossa realidade no Brasil e é uma realidade na verdade

orgulhosa, porque o setor do agronegócio tem conseguido, ainda que com um investimento

dessa natureza, avançar. Se nós olharmos os índices de produtividade que temos conseguido

longo dos últimos anos mostram isso, ou seja, nós estamos crescendo muito mais o nível de

produtividade do que o nível de expansão de área. E isso tem grandes atores que são

contribuintes para que isso aconteça no Brasil. Desde as empresas, os órgãos de governo

oficiais, e o grande exemplo disso é a Embrapa, passando pelas empresas da iniciativa

33 Fonte: http://www.mcgarrybowen.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Semente-de-Soja-outdoor.jpg Acesso

em 28/09/2016

53

privada acreditamos que somos, com os nossos investimentos, com as nossas tecnologias,

com nossa estratégia focada em agronegócio, uma das grandes contribuidoras para que o

Brasil tenha tido e tenha esse sucesso na produção agrícola.

Embora os interlocutores critiquem que o investimento brasileiro no agronegócio seja

inferior aos dos Estados Unidos e Japão, é importante ressaltar que os dois países usados

como base de comparação são economias desenvolvidas e, principalmente, mesmo que o

investimento seja considerado insuficiente, este é substancialmente maior comparando o

agronegócio com a agricultura familiar. Conforme mencionado no referencial teórico desta

pesquisa, o valor destinado em linhas de crédito do governo federal para a agricultura

comercial foi mais que o dobro recebido pelos programas de agricultura familiar.

O fato comemorado por Laércio de que o agronegócio está “crescendo muito mais o

nível de produtividade do que o nível de expansão de área” está correto. No entanto, conforme

também foi informado no referencial teórico, o uso de agrotóxicos mais que dobrou (no

período de 2000 a 2012) e o uso de sementes transgênicas obteve estrondoso crescimento nos

últimos anos (na safra de soja de 2014, houve 93,2% de utilização de sementes com

biotecnologia). Deduz-se que tal crescimento foi impulsionado pela utilização destes insumos,

posto pelos interlocutores como “tecnologias” e “soluções integradas”, a qual trata-se da

combinação do agrotóxico e da semente transgênica.

Sérgio: Eu fico realmente feliz de poder promover aqui no Giro Business essa

situação para um setor tão relevante que é o agronegócio. Agora, existe um ponto bastante

importante na mesma proporção, porém que deveria ser revisto, que é a baixa penetração

hoje da tecnologia de ponta na grande maioria dos estabelecimentos rurais do país. Do total

de 5,2 milhões de estabelecimentos rurais, apenas 20% trabalha com tecnologia de ponta. Ao

que se deve este fator e como o setor vem trabalhando pra tornar a tecnologia mais acessível

melhorando essa penetração?

Laércio: É uma realidade, ou seja, desses mais de 5 milhões de estabelecimentos que

nós temos no Brasil hoje, a gente tem agricultura de ponta e a gente tem uma agricultura

ainda em desenvolvimento. No caso da Syngenta, nós temos programas hoje voltados pra

ambos os lados: os grandes agricultores, uma agricultura mais profissionalizada mas ao

mesmo tempo, um foco muito grande em programas direcionados para uma agricultura mais

familiar e aí os objetivos maiores desses programas é levar o acesso. De forma que eles

possam fazer o uso, aprender o uso e automaticamente se beneficiar da tecnologia que é o

que tem feito o Brasil se mover e mudar de patamares de produtividade aos níveis que nós

temos longe e tem sido crescente, Sérgio, ano a ano.

54

Sérgio: Realmente uma agenda importante que é a democratização então da alta

tecnologia no campo no setor rural brasileiro. Giampani continuará conosco para durante a

semana falar do setor de Agronegócios.

Conforme o entrevistador: “do total de 5,2 milhões de estabelecimentos rurais, apenas

20% trabalha com tecnologia de ponta”. Se tomarmos como base o Censo Agropecuário de

2006, apontado no referencial teórico, nota-se o seguinte dado: “os estabelecimentos não

familiares, apesar de representarem 15,6% do total dos estabelecimentos, ocupavam 75,7% da

área ocupada. A área média dos estabelecimentos familiares era de 18,37 hectares, e a dos não

familiares, de 309,18 hectares”.

Pode-se deduzir, portanto, que os 20% dos estabelecimentos com tecnologia

certamente fazem parte do grupo de estabelecimentos não familiares, pois, se estes têm, em

média, 309 hectares, demandam muito mais tecnologia para cultivo. Visto que a agricultura

familiar é a principal provedora de alimentos para consumo interno – 70% da demanda – e

não está dentro deste modus operandi defendido pelo agronegócio, cabe aqui confrontar a

ideia de que estas tecnologias são imprescindíveis.

Os programas, nos quais o Laércio se refere, estão mirando este público ainda não

atingido pelo agronegócio. O maior programa é o “The Good Growth Plan”, objeto de nosso

estudo que terá sua abordagem aprofundada na seção 7.2.

Entrevista 2 34

Sérgio: Olá assinante do Band News. O tema da semana: o setor do agronegócio. E

conosco, diretor-geral da Syngenta no Brasil, Laércio Giampani. Laércio, queria discutir

sobre um tema bastante importante, dentre outros da indústria do agronegócio, que é a

demanda mundial por alimentos. Estima-se que até 2050, a demanda por alimentos no mundo

crescerá na ordem de 70%. E dentro desse contexto, certamente o Brasil tem uma grande

responsabilidade. Vou chamar uma reportagem que contextualiza, como encontra-se essa

situação, pra gente poder falar a respeito.

Repórter: Em 2050, a população mundial chegará a 9,6 milhões de habitantes, mais

de 30% superior a população atual. Esse crescimento acontece principalmente nos países

menos desenvolvidos. A previsão da ONU é que o número de habitantes dobre nesses países,

enquanto nas economias desenvolvidas, ele se mantenha. A expectativa de vida até o final

deste século será de 89 anos em países desenvolvidos e 81 anos nas economias em

34 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_0valZPKzMM Acessado em 15/09/2016

55

desenvolvimento. Para suprir a demanda mundial, estima-se que será necessário aumentar

em 70% a produção de alimentos até 2050. Segundo a organização para cooperação e

desenvolvimento econômico, enquanto se espera que várias economias do mundo aumentem

em torno de 20% a produção de alimentos, para o Brasil a meta proposta é o dobro.

Sérgio: Realmente um fato importante que pode até mesmo ser visto com uma grande

oportunidade pro Brasil. Para que isso se dê, é necessário que se faça a incorporação de

tecnologia e integração de uma cadeia produtiva e, não menos importante, que se

implementem legislações políticas-legislativas que favoreçam o setor. Nesse contexto, como

encontra-se o Brasil?

Laércio: Na verdade é uma grande oportunidade pro Brasil, é uma grande

oportunidade para o agronegócio brasileiro. Na verdade, essa meta de 40% pro Brasil, ela

não nasceu do nada, na verdade é 40% por que acredita-se que nós seremos capazes de

atingir ou pelo menos de ir ao encontro dela. E aí tem uma combinação de possibilidades de

fatores que levariam esses 40%, que vão, desde o aumento de área, o incremento da

produtividade, sempre pensando numa coisa equilibrada. Já não se discute mais a produção

pela produção. Hoje se discute de que forma que a gente pode suprir essa demanda,

contribuir com esse aumento da produção, assegurando que, ao mesmo tempo, a gente está

seguro do ponto de vista de segurança na produção, segurança do ambiente, segurança

alimentar, enfim, combinando essas coisas. Eu vou te dar um exemplo: nós temos um

programa que nós queremos, até 2020, aumentar em 20% a produtividade da soja no Brasil.

E para isso, nós estamos com um grupo de produtores, todos eles mapeados e cadastrados ao

longo do Brasil todo, onde se planta soja. E nós vamos, de 2014 até 2020, medir como que a

produtividade nesse grupo de produtores e nas comunidades em torno, vai ser se dar ao

longo desse período. Buscando, o aumento dessa produtividade, o uso seguro, correto e na

menor quantidade possível dos insumos agrícolas. Ou seja, nossa proposta é trocar

quantidade de insumos por qualidade de insumos. E isso, ao mesmo tempo que beneficia esse

aumento de produtividade, assegura que o Brasil vai de encontro a essa meta. Ao mesmo

tempo, você tem aqui toda uma segurança ambiental, toda uma segurança de todo o

processo.

O entrevistador é categórico no que tange ao aumento da produção agrícola, para ele

“é necessário que se faça a incorporação de tecnologia e integração de uma cadeia produtiva

e, não menos importante, que se implementem legislações políticas-legislativas que

favoreçam o setor”. Essa declaração não deve ser tomada como verdade absoluta, pois 70%

da demanda por alimentos é atendida pela agricultura familiar, sem estar no modus operandi

56

do agronegócio e contando com menos apoio do governo, ao tomar por base a questão do

acesso ao crédito, por exemplo. Cabe questionar se não seria a agricultura familiar que

necessita de mais políticas públicas.

Outro ponto colocado é sobre o aumento da produtividade das áreas agrícolas. Um

aspecto que fica de lado no discurso é a problemática das terras sem função social, ou seja,

inutilizadas, sintoma da alta concentração fundiária causada pelo latifúndio, sendo tal

problema objeto de muitos embates no plano sociopolítico por meio dos movimentos sociais

de luta pela terra que reivindicam a reforma agrária. Em nenhum momento, tal reforma é

colocada como uma alternativa para o aumento de produtividade agrícola.

Ao invés disso, para o aumento da produtividade, Laércio afirma que a solução é o uso

de insumos mais modernos, que produziriam mais com menos aplicações. À primeira vista,

tal proposta soa interessante, mas ao consideramos que o fato da Syngenta ser uma empresa

tecnológica e após a quebra de patente de seus produtos acaba perdendo mercado para os

genéricos, esta busca colocar no campo produtos novos e mais caros.

Deduz-se que a empresa deseja que os clientes usem menos insumos antigos, já

disponíveis em versão genérica, como o Glifosato e o Paraquate, os quais, atualmente, são

usados em demasia e têm pouco valor agregado. Dentro do mix de defensivos agrícolas da

Syngenta, tomando por exemplo a cultura da soja, a discrepância de preço é absurda. Segundo

pesquisa realizada na página do IEA – Instituto de Economia Agrícola35, com base nos preços

do mês de agosto de 2016, o herbicida Zapp (Glifosato) custava, em média, R$19,30 por litro,

enquanto o produto topo de linha, o fungicida Elatus, custava por volta de R$568,00 por

quilo.

Sérgio: Um ponto não menos importante ainda falando sobre segurança alimentar, é

o desperdício de comida, de alimentos que vem se dando no Brasil. Estima-se 40 mil

toneladas/dia em todo o seu processo, ou seja, da colheita, transporte, armazenagem e

manipulação. Como setor percebe e vem trabalhando para reverter esse desperdício?

Laércio: É verdade, Sérgio, é muito grande. Por exemplo, o que se perde no Brasil

hoje, imagina-se que pudéssemos alimentar 19 milhões de pessoas por dia, ou seja, é uma

quantidade muito grande que se perde, é um dos desafios que nós temos hoje dentro da

indústria de trabalhar isso, nos diferentes setores. Desde a fazenda, no momento da

produção, no momento da colheita, no momento do transporte, na armazenagem e na

distribuição. Então veja, nós por exemplo, tivemos um encontro aonde nós conseguimos

35 Instituto de Economia Agrícola. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/defensivos.aspx Acessado em

29/09/2016

57

colocar todas as partes envolvidas da cadeia pra começar a discutir isso, de que forma cada

um pode contribuir para que isso seja melhor equilibrado

Referente ao desperdício, a agricultura familiar também enfrenta diversos desafios,

principalmente no que tange à logística e distribuição da produção. A forma mais utilizada

para superá-los é através das cooperativas de produtores, porém, em regiões menos

desenvolvidas, tais associações enfrentam dificuldades para estruturar esse modelo. Entende-

se que são necessárias ações do poder público nesses locais.

Sérgio: Muito obrigado, Laércio Giampani, diretor-geral da Syngenta no Brasil e que

está conosco no Giro Business, para falar deste importante o setor que é o setor do

agronegócio.

Entrevista 3 36

Sérgio: Olá assinante do Band News. O tema da semana: o setor do agronegócio. E

conosco, diretor-geral da Syngenta no Brasil, Laércio Giampani. A representatividade do

setor do agronegócio pode ser medida por diversos fatores, por diversos coeficientes. Como,

por exemplo, o fato do agronegócio representar algo em torno de 23% do Produto Interno

Bruto e, não menos importante, responsável por 43% do total exportado pelo país. Vou

chamar a reportagem que contextualiza este cenário, este importante cenário, pra gente

poder falar mais a respeito.

Repórter: O agronegócio é de total relevância para a economia do Brasil. Com

participação superior a 23% do PIB nacional, ou seja, praticamente um quarto de toda a

riqueza produzida no país, vem do agronegócio. Globalmente, a cadeia que envolve o

agronegócio, desde a sua produção na fazenda até a distribuição, movimenta cerca de 45

trilhões de reais. Os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada,

mostram que esse valor é superior ao PIB dos Estados Unidos. No Brasil, esta cadeia

movimenta 2,7 trilhões de reais. O que coloca o país, comparativamente, ao vigésimo maior

PIB mundial, constituídos por países como a Suíça, Suécia e Bélgica.

Sérgio: Entendendo um pouco mais do mercado e a sua relevância, e aí pontuando o

mercado brasileiro, como a Syngenta, uma multinacional suíça, presente em mais de 90

países, percebe as políticas públicas implementadas no Brasil e que tem como missão

incentivar e permitir o crescimento do agronegócio?

36 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MKI8LlLnq24 Acessado em: 15/09/2016

58

Laércio: Sérgio, nós temos muito orgulho, como empresa, de fazer parte dessa

história, desse negócio. E o Brasil é, pra nós, o maior negócio hoje ao redor do mundo. E

lógico que faz disso o nosso foco, e nós termos aqui grandes investimentos. E isso é um pouco

de trabalhar o que nós podemos, como iniciativa privada versus o que o país, o governo tem

feito como iniciativa pública... que aliás, a gente sente falta de mais. Existem algumas que

são extremamente relevantes, por exemplo, como foi ao longo desses últimos anos, o crédito.

Há desafios ainda a serem vencidos como é o seguro agrícola, que o Brasil praticamente não

tem um formato ideal em que possa assegurar realmente o produtor rural. Então, como

política pública, eu posso dizer que esses dois é o que nós temos de muito bom e o que ainda

falta ser vencido. Enquanto iniciativa privada, nós enquanto Syngenta, nós temos trazido pro

Brasil altos investimentos. Introduzido tecnologias que têm ajudado o produtor no aumento

de produtividade, automaticamente isso é aumento de receita, isso é contribuição para a

exportação, que tem feito o que, por exemplo, hoje nós sejamos capazes de produzir 70 sacas

de soja por hectare, que já é um dos melhores índices a nível mundial.

Conforme citamos no quadro referencial teórico, o agronegócio tem grande

protagonismo econômico no país, dadas as cifras apresentadas no que tange à exportação e ao

Produto Interno Bruto. Tal protagonismo, possibilitou a este setor uma forte presença no

cenário político do Brasil, através da expressiva bancada ruralista no Congresso e na

nomeação da ruralista Kátia Abreu para o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento.

Nas palavras de Laércio, “há desafios ainda a serem vencidos como é o seguro

agrícola, que o Brasil praticamente não tem um formato ideal em que possa assegurar

realmente o produtor rural.”. No entanto, sendo a agricultura uma atividade exposta aos

diversos problemas climáticos, entende-se que o Estado não deveria oferecer seguros para tal

fim, principalmente para os grandes produtores. Este “seguro” traria ao latifundiário um

capitalismo sem riscos, onde a máquina pública estaria a disposição para ressarcir danos

decorrentes de fenômenos naturais, os quais, obviamente, não se pode controlar.

Sérgio: Laércio, importante expor aos assinantes do canal Band News como

encontram-se as políticas públicas no Brasil, que como muito bem dito, falta ainda uma

atenção no que tange ao crédito e não menos importante ao seguro rural. O setor do

agronegócio, falando da sua macroeconomia, vem vivendo dois fatores bastante importantes:

a alta do dólar, a valorização da moeda e também a depreciação, a queda no valor das

commodities. Como isso vem afetando o setor?

59

Laércio: Esse é o desafio do momento, esse é o desafio da safra 15/16, que se inicia a

partir de agora, de alguns meses. E ela é um desafio a ser vencido, do ponto de vista de que

esse aumento do dólar, a volatilidade é a maior preocupação. Se nós tivéssemos uma

definição de um patamar já fixo, talvez a gente pudesse tomar as decisões que hoje não

estamos tomando. O agricultor não está tomando e vem postergando o que vai levar para a

última hora. A decisão vai acontecer próximo do plantio, que vai acarretar toda aquela

correria pré-safra, e consequentemente, aumento de custo.

Sérgio: Realmente um dado triste, que afetará certamente a inflação do país e,

portanto, o poder de consumo dos brasileiros. Fato relatado por Laércio Giampani, que é o

diretor-geral da Syngenta no Brasil.

As flutuações cambiais influenciam fortemente o setor do agronegócio. Devido grande

parte da produção agrícola ser exportada como commodities e os insumos utilizados na

produção terem precificação com base no dólar, a moeda instável torna o ambiente de

negócios mais complexo. Por exemplo: se o agricultor compra seus insumos a uma cotação do

dólar em R$3,50 e no próximo ano, na venda da colheita, a moeda cai para R$3,00, o

agricultor perde dinheiro na comercialização. No entanto, pode ocorrer o inverso e moeda

subir ainda mais, gerando mais lucratividade.

Portanto, num cenário de desvalorização do real, conforme observado na safra

2015/2016, a decisão de compra do agricultor torna-se tardia, pois este irá aguardar uma

melhora neste quadro. Em consequência da compra dos insumos de última hora, o cenário é

desafiador para as empresas fornecedoras pois acabam tendo que contratar mão-de-obra extra

para entregar esses produtos em tempo hábil para a safra.

Entrevista 4 37

Sérgio: Olá assinante do Band News. O tema da semana: o setor do agronegócio. E

conosco, diretor-geral da Syngenta no Brasil, Laércio Giampani. Laércio, entre vários

pontos importantes relacionados ao agronegócio, pontos esses que estamos discutindo

durante a semana, a geração de emprego não é menos importante. Hoje, o agronegócio é

responsável por 37% dos empregos formais do país. Eu vou chamar a reportagem que

contextualiza essa situação, que explica bem no detalhe, pra gente poder falar a respeito.

Repórter: No Brasil, entre 25 milhões e 30 milhões de pessoas, trabalham com o

agronegócio, 37% dos empregos gerados no país. Entre os trabalhadores rurais, grande

37 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=aeIni1ESQ-k Acessado em: 15/09/2016

60

parte dos 4 milhões de assalariados está na informalidade. Um contingente que soma 2,4

milhões de trabalhadores ou 60% do total. Em muitos lugares a condição dos trabalhadores

rurais permanece precária. Com desrespeito às leis trabalhistas e até denúncias de trabalho

análogo à escravidão. Além de intoxicação por agrotóxicos e trabalho exaustivo, já que a

remuneração é pela produtividade. Hoje a população rural corresponde a pouco mais de

15% da população do país, percentual que já foi superior a 54% na década de 1960 e que

deverá situar-se 8% em 2050. Conforme previsões do DIEESE.

Sérgio: Giampani, eu queria entender, como em pleno século 21, 60% da mão-de-

obra rural do Brasil encontra-se trabalhando na informalidade e, pior, em situação precária.

Como o setor percebe e como setor vem trabalhando pra reverter essa situação?

Laércio: Sérgio, durante a semana nós temos falado sobre os desafios do

agronegócio, a relevância do agronegócio e a pujança desse setor, desse seguimento. Aqui

não é diferente. Nós temos, de um lado, uma demanda por mão-de-obra qualificada, o campo

hoje ressente da falta dela, pra aquele grupo de estabelecimentos aonde você tem uma

agricultura altamente profissionalizada, máquinas de última geração, tecnologias sendo

empregada de última geração e que você precisa de uma mão de obra qualificada e ela não

existe. Ao mesmo tempo, em outra parte do Brasil, em outro grande grupo de

estabelecimentos rurais, nós ainda temos que buscar uma evolução dessa mão de obra que

existe lá hoje, qualificando ela. E qualificando ela, nós acreditamos que é também através do

uso de tecnologias mais modernas, mais seguras, com maior facilidade na empregabilidade

delas. Então são programas que o setor tem, que nós enquanto Syngenta temos, por exemplo,

um programa que é o “Mais Feijão” pro sul do país, aonde nós temos, junto com órgãos

oficiais de governo, programas que ajudam os produtores, levamos tecnologias a eles e

automaticamente vem um aumento da produtividade, vem uma coisa mais saudável de você

trabalhar a agricultura de forma muito mais segura.

Os 37% dos empregos mencionados não são propriamente referentes ao agronegócio,

e sim a toda ocupação agrícola do país. Neste número, estão incluídos também os agricultores

familiares, e segundo o Censo Agropecuário de 2006, são eles os que mais empregam,

representando 74,4% do pessoal ocupado.

Neste aspecto, o caminho apontado por Laércio para aumento da empregabilidade é

gerar mão-de-obra técnica e especializada para trabalhar nos grandes estabelecimentos rurais

tecnológicos e modernizar a agricultura familiar. Entende-se que essa abordagem é

questionável, pois o modelo familiar, principalmente o agroecológico, exige mais

funcionários e os dados do Censo corroboram essa constatação.

61

Sobre a questão colocada pelo entrevistador quanto ao grande contingente de

trabalhadores na informalidade, não houve resposta. É importante salientar que a agricultura e

pecuária foram as atividades com maior incidência de trabalho escravo do ano de 2014, de

acordo com os dados do DETRAE - Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho

Escravo, do governo federal.38

Sérgio: Quer dizer que então é percebida essa situação precária que se dá no campo,

e aí eu tô me referindo a mão-de-obra rural e, por outro lado, o setor privado junto com o

governo, vem trabalhando na intenção de reverter essa situação, tornando essa mão de obra

mais qualificada e preparada para o crescimento que vem se dando no setor?

Laércio: É verdade, eu acho que ao nosso ver essas duas coisas existem e são

desafios que tem que acompanhar, acontecer junto com essa busca pelo aumento da

rentabilidade, pelo aumento da produtividade. E nós temos a satisfação, temos orgulho de

fazer parte desse desafio e de assegurar que a gente está contribuindo, sim, para essas duas

coisas, Sérgio.

A resposta foi um tanto evasiva. A questão do emprego e da qualificação profissional,

não foi tratada em profundidade. Laércio continuou enfatizando o aumento da produtividade e

da rentabilidade. Tais aspectos são interessantes ao produtor rural, não aos trabalhadores da

propriedade. Uma das principais críticas feitas por interlocutores contrários ao agronegócio, é

por considera-lo uma “agricultura sem agricultores”39. Esta crítica deve-se ao perfil de

monocultura da grande propriedade agrícola, feito de forma altamente mecanizada e com alto

uso de agrotóxicos.

Sérgio: Laércio, fica a torcida do Giro Business para que, de fato, essa situação seja

resolvida e que as pessoas que atuam no campo hoje, no campo do nosso país, no Brasil...

pessoas que devem e têm o direito à oportunidade, possam se ver em situações melhores e

assim, toda a cadeia do agronegócio. Muito obrigado, Laércio Giampani que é o diretor

geral da Syngenta e que está conosco no Giro Business para falar do setor de agronegócios.

Entrevista 5 40

Sérgio: Olá assinante do Band News. O tema da semana: o setor do agronegócio. E

conosco, diretor-geral da Syngenta no Brasil, Laércio Giampani. Queria bater num tema

38 Disponível em: http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/01/ministerio-divulga-balanco-do-trabalho-

escravo-em-2014. Acessado em 02/10/2016 39 “Estamos Diante De Uma Agricultura Sem Agricultores, Artigo De Gustavo Soto” Disponível em:

https://www.ecodebate.com.br/2008/07/12/estamos-diante-de-uma-agricultura-sem-agricultores-artigo-de-

gustavo-soto/ Acessado em: 04/10/2016 40 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=liouKgk-jWc Acessado em: 15/09/2016

62

bastante importante que está relacionado à tecnologia, e aí eu estou falando da produção

transgênica. Uma produção que desde 1996, quando aprovada, iniciou-se no Brasil, vem

revolucionando o agronegócio. Vou chamar a reportagem que contextualiza essa situação,

pra gente poder falar a respeito.

Repórter: O desenvolvimento de variedades transgênicas resistentes a pragas,

patógenos, e tolerantes a herbicidas, tem figurado como uma das tecnologias responsáveis

pela redução das perdas nas lavouras, provocando a diminuição dos custos da produção e a

conservação do ambiente. Segundo o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em

Agrobiotecnologia, entre 1996 e 2013, foram produzidas globalmente mais de 440 toneladas

adicionais de alimentos e fibras. O órgão estima que sem o uso do cultivo geneticamente

modificado, seria preciso o adicional de 132 milhões de hectares, o que equivale somar as

áreas dos estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Atualmente, a produção de

transgênicos abrange 181 milhões de hectares em todo o mundo, com um crescimento de

cerca de 100 vezes, desde primeiro ano de cultivo em 1996.

Sérgio: Giampani, eu queria levar o conhecimento pro assinante do Band News, esse

assinante que atua em diversos segmentos da economia e não no agronegócio. O que é, de

fato, transgênico? Como se dá essa tecnologia, como ela é implementada e quais são as

consequências de forma prática para a economia nacional?

Laércio: Sérgio, na verdade é a modernidade da tecnologia aplicada às plantas,

aonde nós temos mudanças genéticas nessas plantas, de uma forma bem simples, que alteram

determinadas cadeias nessas plantas e que acabam trazendo algum tipo de benefício como,

ou maior produtividade, ou maior sensibilidade a condições climáticas, ou algum tipo de

controle de ervas ou de pragas ou de doenças. No caso do Brasil, nós já temos várias

culturas em uso e que tem sido ao longo desses últimos anos, responsáveis por esse aumento

da produtividade, esse aumento da renda no campo, automaticamente por esse aumento das

exportações brasileiras conforme nós vimos na reportagem.

Sérgio: Laércio, o Brasil ocupa o segundo lugar em área de cultivo, tratando do tema

produtos geneticamente modificados. E aí eu estou me referindo a três culturas, culturas essas

que já estão bem avançadas no Brasil: algodão, milho e soja, que somados representam 89%

de toda a produção nacional. Isso, de fato, torna o Brasil mais competitivo? Gera vantagens ao

setor do agronegócio, que torna-se setor ainda mais sustentável?

Laércio: Eu acredito que são irreversíveis, Sérgio. Nós temos outras culturas em

menor escala que também já são modificadas, a própria Embrapa é uma empresa que tem

trabalhado nisso e hoje nós já temos, por exemplo, feijão e algumas frutas que já apresentam

63

essa modificação. E no caso dessas três culturas que você se referiu, elas são responsáveis

hoje por esse volume da produção e trazendo uma relação de custo-benefício pro agricultor,

pro país e que é positivo. E considerando que, do ponto de vista de segurança alimentar nós

já temos debatido e temos conseguido segurança, de que é seguro para a população.

Sérgio: Laércio, com bastante objetividade: a produção transgênica oferece algum

risco seja ao produtor ou seja ao consumidor final?

Laércio: Sérgio, todos os estudos realizados até hoje, e eu te asseguro que são

milhões, eles atestam que até então, não.

Conforme informado pelo entrevistador e em conformidade com o referencial teórico

já apresentado, a produção do agronegócio tem por característica a monocultura. Os dados da

CONAB mostram que o milho e a soja, representam cerca de 86% da produção. Embora

informado pelo Laércio que outras culturas menores já possuem sementes transgênicas, o

protagonismo do produto transgênico está nas culturas do agronegócio. Segundo relatório da

ISAAA, a biotecnologia foi utilizada em 89,2% dos cultivos de soja, milho e algodão no

Brasil.

Referente aos riscos dos transgênicos, há muita polêmica. De fato, não foram

encontrados estudos que comprovem riscos à saúde, porém, um dos maiores críticos dos

transgênicos, Jeffrey Smith, diretor do Instituto de Responsabilidade Tecnológica dos EUA,

denuncia que há um grande lobby das grandes empresas fabricantes de sementes transgênicas,

em dificultar e não financiar pesquisas, e a liberalidade dada pelo FDA – Food and Drug

Administration para a produção das sementes sem estudos que comprovem a inexistência

riscos aos consumidores.41

Além disso, movimentos ambientalistas atentam para o problema do oligopólio da

alimentação. Estas sementes trazem grande produtividade e, neste sentido, são atrativas ao

produtor rural. No entanto, o hegemônico plantio do transgênico, poderia deixar a sociedade

refém das grandes empresas detentoras dessas tecnologias.

Sérgio: Laércio Giampani, foi um enorme prazer recebe-lo. Você, como diretor-geral

da Syngenta Brasil aqui no Giro Business e durante a semana, falar do setor do agronegócio.

Laércio: Obrigado, Sérgio. O prazer foi meu. Fiquei muito feliz de ter essa

oportunidade, de podermos expor o que somos como Syngenta e principalmente porque, pra

41 ‘As leis não garantem segurança para consumir alimentos transgênicos’, diz ativista americano – Disponível

em: http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/as-leis-nao-garantem-seguranca-para-consumir-

alimentos-transgenicos-diz-ativista-americano-14427813 Acessado em 03/10/2016

64

cada um dos temas que nós tratamos a cada dia, faz parte de cada um dos pilares da

Syngenta aqui no Brasil.

Sérgio: Obrigado, Laércio. O prazer foi todo meu e obrigado a você, assinante do

Band News, que acompanha as colunas do Giro Business, colunas essas que em breve voltam

com muito mais.

7.2 “The Good Growth Plan” - uma análise de discurso

Nesta seção, dividida em duas partes, realizaremos uma análise crítica a partir de dois

discursos. A primeira será do diretor responsável pelo plano realizado em uma entrevista na

qual o mesmo explica, em linhas gerais, as disposições do The Good Growth Plan. Em

seguida, apresenta-se a análise de um treinamento do eixo de “capacitação de pequenos

agricultores” conduzido por um funcionário da empresa.

7.2.1 Análise discursiva do diretor responsável pelo The Good Growth Plan

A seguir, a transcrição e análise discursiva de uma entrevista realizada pelo Portal

AgroLink42, no evento “The Good Growth Plan: Um ano de Jornada”, na cidade de São Paulo

– SP no dia 25/09/2014, pelo repórter Lucas Rivas. O entrevistado é Leandro Conti, diretor de

assuntos corporativos da Syngenta.

Repórter: Portal AgroLink, falando diretamente aqui de São Paulo. Um ano depois

da Syngenta ter apresentado um plano para a agricultura sustentável, trouxe agora os dados

preliminares para conversar conosco. Está ao meu lado o Leandro Conti, ele que é diretor de

assuntos corporativos da Syngenta aqui no Brasil. Conti, num primeiro momento, um balanço

que o senhor faz deste plano que foi apresentado um ano atrás.

Leandro Conti: O plano é muito importante para trazer a segurança alimentar para

o mundo. Um plano global da Syngenta feito em todos os países, inclusive aqui no Brasil, que

tem como pilares, na verdade, aumentar produtividade dos principais cultivos no mundo,

cuidar da sustentabilidade, da biodiversidade e cuidar das pessoas. Nesse primeiro ano, nós

fizemos uma série de parcerias e contatos com agricultores para poder fazer a medição do

plano para os próximos sete anos. Esse é um plano que termina em 2020, que vai garantir um

aumento de 20% por cento dos principais cultivos, no caso do Brasil a gente está falando de

soja, milho, cana, tomate e café. A gente vai treinar 160 mil agricultores em segurança no

42 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OolxXPNC_QI Acessado em: 05/10/2016

65

uso dos produtos, vamos aumentar a produtividade de uma série de agricultores, de pequenos

agricultores em 50%, a produtividade deles... E também recuperar terras degradadas e

aumentar e de polinizadores.

Nos Anexos B e C deste trabalho, encontram-se dois releases que a empresa

direcionou à imprensa. Um deles trata-se de um balanço de ações do primeiro ano do The

Good Growth Plan. No que tange ao pilar “capacitar pequenos agricultores”, o texto aborda

principalmente um projeto com foco em pequenos cafeicultores. Na seção 7.2.2. da pesquisa,

aborda-se este projeto, a partir de um “treinamento” dado pelo plano.

Repórter: Essa iniciativa, Conti, essa preocupação da Syngenta em programar o

futuro para tentar sanar a fome no mundo é uma iniciativa que ganha um grande destaque.

Não teria que ter também um apoio, uma parceria também com o poder público?

Leandro Conti: Sem dúvida e nós buscamos isso. Nós buscamos parceria tanto com a

academia quanto com o governo, outras empresas e organizações não governamentais.

Algumas que nós temos, a Embrapa, é uma grande parceira nossa no projeto de integração

lavoura-pecuária, por exemplo, para recuperar terras degradadas. Nós temos uma parceria

coma a EMATER e IAPAR, no Paraná, para um projeto para pequenos agricultores que se

chama “Centro-sul”, de feijão e milho. Anunciamos aqui hoje a renovação da parceria com a

The Nature Conservancy que é uma ONG internacional ambiental para recuperar áreas de

proteção permanente degradadas no Cerrado, e acredito que nesses sete anos teremos muitas

outras para nos ajudar nesses objetivos.

Quanto à parceria com a ONG The Nature Conservancy, é importante ressaltar que

esta organização esteve envolvida em alguns escândalos nos últimos anos. Em 2014, de

acordo com uma publicação do jornal americano The New York Times, a entidade permitiu a

perfuração de solo para exploração de petróleo em uma área que estava sob sua

responsabilidade para fins de conservação no estado do Texas. Esta área, de 2.300 acres, fora

doada pela Mobil Oil – uma gigante do setor petrolífero – em 1995, para preservar uma

espécie de ave em risco de extinção predominante na região. Ainda, segundo o texto, tais aves

desapareceram da região em 2012.43

Em 2010, de acordo com um documentário realizado por uma emissora de TV

estadunidense – PBS – chamado “The Carbon Hunters”44, a The Nature Conservancy atuou

43 THE NEW YORK TIMES. Group Earns Oil Income Despite Pledge on Drilling. Disponível em:

http://www.nytimes.com/2014/08/04/science/group-earns-oil-income-despite-pledge-on-drilling.html?_r=0.

Acessado em 18/10/2016 44 PBS. The Carbon Hunters. Disponível em: http://www.pbs.org/frontlineworld/stories/carbonwatch/

2010/05/the-carbon-hunters.html. Acessado em: 18/10/2016

66

em uma região no estado do Amazonas, com o apoio do governador do estado, na época,

Eduardo Braga. A organização foi acusada de utilizar a área para concessões de créditos de

carbono para três grandes empresas norte-americanas: General Motors, American Electric

Power – AEP e Chevron Oil, ao invés de garantir a preservação ambiental da área. Estas

empresas teriam investido 18 milhões de dólares no projeto da ONG.

Em 2013, a entidade publicou em sua página oficial, o reconhecimento da revista

IstoÉ Dinheiro Rural, “como a organização ambiental mais bem conceituada do Brasil em

pesquisa realizada com as grandes empresas do setor agropecuário.”45

Repórter: Conti, 2014, Ano Internacional da Agricultura Familiar. Sabemos que este

projeto de agricultura sustentável envolve diretamente os agricultores familiares. Qual é o

cenário, o balanço que a Syngenta faz da agricultura familiar no Brasil?

Leandro Conti: A agricultura familiar é muito presente, ela é fundamental para a

segurança alimentar do mundo. Esses pequenos agricultores estão espalhados em vários

lugares do Brasil e têm uma responsabilidade enorme na produção de alimentos,

principalmente aqueles que a gente consome no nosso dia-a-dia: as hortaliças, no sul, arroz,

feijão... aquilo que está mais próximo do consumidor urbano é muito servido pela agricultura

familiar. E a grande oportunidade é dar acesso à tecnologia a esses pequenos produtores

para permitir que eles estejam incluídos na economia rural, que eles tenham uma vida

confortável, que eles fiquem no campo e produza cada vez mais alimentos saudáveis, gerando

renda pra eles e alimentos do mundo de forma sustentável. Nós vamos ajudar nisso também.

Neste trecho, é possível inferir que a empresa tem o conhecimento do protagonismo da

agricultura familiar na alimentação da população. Tal informação, está contida nos

referenciais teóricos desta pesquisa. Aqui, a dita “grande oportunidade” de “dar acesso à

tecnologia a esses pequenos produtores”, colocada por Conti, traria uma série de benefícios

para esses agricultores: a “inclusão na economia rural” e “uma vida confortável”.

Cabe a reflexão de que a “grande oportunidade”, nesse caso, seria da Syngenta em

colocar este grupo de agricultores em seu modus operandi e assim ampliar a sua carteira de

clientes. Na fala, o interlocutor reduz a abrangência da economia rural somente ao

agronegócio, ou seja, aquele que não opera neste mercado, não estaria incluído nesta

economia. Esta caracterização desconsidera outros meios de produção agrícola, sobretudo, o

da agroecologia que vem crescendo economicamente em ritmo acelerado nos últimos anos.

45 THE NATURE CONSERVANCY - The Nature Conservancy é reconhecida pelo agronegócio brasileiro.

Disponível: http://www.tnc.org.br/nossas-historias/press-releases/the-nature-conservancy-e-reconhecida-pelo-

agronegocio-brasileiro.xml Acessado em 18/10/2016

67

Repórter: Conti, como aumentar a produtividade em 20%, por exemplo,

economizando... trazendo economias no sistema de irrigação, por exemplo?

Leandro Conti: Tem uma série de técnicas e tecnologias que você pode usar para

atingir esse objetivo. O primeiro, na verdade é o treinamento, é o conhecimento. Se os

agricultores tiverem acesso à informação, acesso às tecnologias que tem as práticas mais

modernas de manejo, ele já consegue aumentar a produtividade sem aumentar o uso de

insumos. Além disso tem outras tecnologias que nós produzimos, como defensivos e sementes.

Assim como a tecnologia de máquinas de agricultura de precisão, uma série de soluções vão

tornar possível atingir esses objetivos. Por isso que a gente precisa tanto das parcerias

também.

Conforme já abordado, o discurso da Syngenta equipara o uso de maquinários e

práticas de manejo mais recentes com o uso de defensivos e sementes transgênicas, ao

caracterizar que seus produtos também representam a “tecnologia”. É importante observar

que, ao colocar seus produtos dessa forma, cabe refletir se a empresa busca associar a imagem

de seus produtos como algo moderno e avançado.

Para corroborar essa estratégia de ressignificação dos termos “agrotóxicos” e

“transgênicos”, ressalta-se que, em 2013, a Syngenta encomendou uma pesquisa que ouviu

500 participantes, com foco no público com ensino superior e alta renda, para captar a

percepção do público sobre diversos aspectos relacionados à agricultura. Abaixo, seguem

alguns resultados:

- somente 24% dos brasileiros apoiam o uso de tecnologias como pesticidas,

fertilizantes e transgênicos;

- 84% acreditam que deve ser dada prioridade às práticas agrícolas locais e orgânicas;

- para 93% dos entrevistados, mais hortas comunitárias deveriam ser utilizadas;

- para 91%, deveria haver crescimento da agricultura orgânica;

- 81% acham que mais mão de obra também deveria ser utilizada;

- para 79% a produção agrícola é conduzida de forma irresponsável.

Os números aqui relacionados foram veiculados pelo Portal UOL46. Não foi possível

encontrar a pesquisa nas páginas da Syngenta.

46 UOL. Brasileiro é contra agrotóxicos e a favor de pequeno produtor, diz pesquisa. Disponível em:

http://economia.uol.com.br/agronegocio/noticias/redacao/2013/09/19/brasileiro-e-contra-agrotoxicos-e-a-favor-

de-pequeno-produtor-diz-pesquisa.htm Acessado em 19/10/2016

68

Repórter: Para concluirmos, a avaliação que o senhor fez deste fórum, que reuniu

diversas entidades que movimentam o agronegócio, trazendo soluções e sugestões para

potencializar ainda mais agricultura familiar no Brasil e no mundo...

Leandro Conti: É muito positivo, estamos muito contentes com o evento. Como eu

disse, nós não temos todas as respostas, né. Um evento como esse traz a discussão. Traz

gente pensando de vários ângulos diferentes, de vários... tanto de ONGs quanto de academia,

governo, produtores rurais... para que juntos consigamos construir uma solução conjunta

para resolver a questão da agricultura sustentável. A gente vai promover outros eventos

como esse. Já é o segundo, né. No lançamento fizemos um evento assim. E é um evento, como

vocês acompanharam, de grande discussão. Não é evento de trazer todas as respostas, muito

pelo contrário, e a gente acredita que junto com a sociedade civil, a sociedade rural e a

sociedade urbana, a gente vai fechar essa desconexão, esse desentendimento, que muitas

vezes acontece entre urbano e rural e construir a segurança alimentar para gente alimentar

população crescente que vai precisar se vestir, que vai precisar comer, né, e vai precisar de

energia renovável também.

Conti diz que esses eventos são utilizados para debates, e a partir dessas discussões

“fechar essa desconexão, esse desentendimento, que muitas vezes acontece entre urbano e

rural e construir a segurança alimentar”. Este “desentendimento”, conforme o discurso, refere-

se a ideia da empresa, de que as pessoas precisam “entender” que os produtos que esta

comercializa, não oferecem riscos à saúde. No entanto, essa caracterização não leva em conta

uma série de pesquisas acadêmicas que confrontam as teses do agronegócio e alertam, por

exemplo, quanto aos resíduos de agrotóxicos. (SANTOS et. al, 2015)

Não há registros de que este evento esteve aberto ao grande público e nem quanto aos

participantes das “discussões”, as quais o interlocutor afirma ter. Dessa forma, fica

impossibilitada uma análise de viés dos debates.

Repórter: Agradeço a entrevista com Leandro Conti, ele que é Diretor de Assuntos

Corporativos da Syngenta aqui no Brasil. Para o portal Agrolink, Lucas Rivas.

7.2.2 Análise de uma ação do The Good Growth Plan, eixo de “capacitação de

pequenos agricultores”

Nesta seção, analisaremos um dos treinamentos do The Good Growth Plan, o qual foi

realizado no 17ª Encontro Sul Mineiro de Cafeicultores, dia 07/05/2014, no Núcleo de

Estudos em Cafeicultura da UFLA – Universidade Federal de Lavras, com realização da

69

EMATER47 – MG, Governo de Minas Gerais e Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e

Extensão (FAEPE). 48

Figura 11 ― Material de divulgação: 17ª Encontro Sul Mineiro de Cafeicultores

Fonte: Página da UFLA49

A palestra se inicia numa lavoura, onde foi montada uma tenda equipada com um

cartaz da empresa, um flipchart contendo um pôster explicando um cronograma de ações que

devem ser realizadas no cultivo do café, mês a mês, elucidando os produtos da Syngenta em

cada etapa. Além disso, havia uma mesa com panfletos com produtos do portfólio da empresa

à disposição dos espectadores. Estes panfletos também foram utilizados pelo funcionário da

Syngenta que comandava o treinamento. A seguir, a transcrição do que foi dito durante os

quinze minutos de treinamento e a análise dos discursos:

Boa tarde, pessoal. Tudo bom? Queria agradecer primeiro a todo mundo por dar essa

atenção pra gente. Pra gente tá falando um pouquinho da Syngenta. Queria

47 Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural 48 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PR0i3gPzHpI Acessado em: 08/10/2016 49 Disponível em: http://www.ufla.br/ascom/2015/04/28/encontro-sul-mineiro-de-cafeicultores-ocorrera-na-ufla-

em-7-de-maio/ Acessado em 09/10/2016

70

agradecer ao NECAF50, à EMATER por dar essa oportunidade, também. Queria

começar fazendo uma pergunta para vocês: não sei se você chegaram notando, vocês

já viram um pouquinho de muda, de lavoura... Se vocês tiverem curiosidade de ver

essa lavoura do lado... O que vocês estão achando da lavoura aqui?

A gente está num lugar estratégico, montado e a gente usa isso aqui como um

exemplo... Primeiro ponto que a gente olha pra ela e a gente não quer isso aqui? A

gente não quer isso aqui dentro da nossa casa, né? Se desse um monte de ferrugem51

dentro de casa, o que vai acontecer? Não vai ter folha, não vai ter café, não vai ter

produção e não vai ter dinheiro, né? Então, gente, isso aqui é um exemplo do quê?

Tratar café é muito importante. Isso aqui não é um gasto. Isso aqui é uma aplicação.

Todo mundo aqui faz aplicação, todo mundo aqui deve ter poupança no banco ou

quem não tem, tem um dinheirinho investido em alguma coisa... tem uma terra...

Essa aqui é a maior aplicação que você pode tá fazendo no seu negócio. E é a

aplicação mais barata que tem e que traz o maior retorno.

Nesta introdução, o interlocutor enfatiza a importância do controle de pragas

utilizando a lavoura onde a estrutura da palestra foi montada como um exemplo de cultivo

correto de café. Inicialmente, tenta traçar um paralelo do uso dos produtos como uma

aplicação monetária, de baixo custo e maior retorno, trazendo a ideia de que a utilização dos

produtos da empresa tem por consequência o aumento de produtividade da lavoura e, assim,

gerar mais rentabilidade ao agricultor.

Então, pessoal, a intenção hoje aqui, que a gente tem discutido, é voltar a falar um

pouquinho mais sobre a nossa linha de produtos. Eu sei que muita gente conhece o

produto, conhece a ação, mas, às vezes, desconhece um pouco o momento das

aplicações. Não sabe para que aquele produto serve, não sabe a hora de colocar.

Então, cada vez mais, é importante a gente focar que se a gente deixar de fazer isso

aqui (aponta para o folder com um calendário de aplicação dos produtos da

Syngenta), que é um pré e pós florada, a gente vai começar a enxergar isso aqui na

nossa lavoura. (pega um ramo de café) Seca de ponteira52 e phoma53. Então,

primeiro trato que a gente faz depois que colheu aqui (aponta no folder para o mês

de Julho), é entrar com tratamento para controlar a phoma, importante também tá

entrando junto com Amistar, o óleo. Não se aplica Amistar sem óleo. A gente entra

com o Nimbus junto com Amistar, e mais, a gente sempre entra com a sugestão do

cloro.

Neste momento, são iniciadas as primeiras citações do portfólio da empresa para os

agricultores, com dois produtos: Amistar (fungicida) e Nimbus (óleo mineral adjuvante). De

acordo com a tabela do IEA - Instituto de Economia Aplicada, dados de agosto de 2016, o

50 NÚCLEO DE ESTUDOS EM CAFEICULTURA DA UFLA – Universidade Federal de Lavras 51 A principal doença do cafeeiro é a ferrugem, causada pelo fungo Hemileia vastatrix. Pode ser encontrada em

todas as lavouras de café do Brasil, chegando a atingir 35% da produção em regiões de condição climática

favorável (THAMADA, T. T.; DI GIROLAMO NETO, C.; MEIRA, C. A. A. apud Zambolim et al., 2013) 52 “(...) as linhagens mais vigorosas e com menos seca de ponteiros são mais produtivas.” (SEVERINO et al.,

2002) 53 Segundo a página da EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais: “A mancha-de-phoma

do cafeeiro é uma doença fúngica que ocorre em vários países do mundo onde se cultiva café em áreas de

altitudes mais elevadas.” Disponível em: http://www.epamig.br/index.php?option=com_content&task

=view&id=1926. Acesso em: 12/10/2016

71

Amistar tem um preço médio de R$82,58 por 100 gramas de produto. O valor do Nimbus não

pôde ser encontrado nas tabelas de preços disponibilizadas, pois em todos os índices de preços

que foram pesquisados, os óleos minerais adjuvantes não foram incluídos.

Não foi possível obter os valores exatos de quanto o agricultor gastaria pois em

nenhum momento deste treinamento houve alguma explicação no que tange às quantidades a

serem aplicadas em cada caso.

Em uma base de dados disponibilizada pelo MAPA – Ministério da Agricultura e

Pecuária – AGROFIT54 – pode-se obter informações mais detalhadas de cada produto. O

Amistar tem sua classificação ambiental de nível II: “produto muito perigoso ao meio

ambiente” e o Nimbus, nível III: “produto perigoso ao meio ambiente”. Tal escala varia entre

níveis I e IV, sendo o I - produto altamente perigoso ao meio ambiente e o IV - produto pouco

perigoso ao meio ambiente.

Nunca deixar de aplicar também o cloro, porque quando a gente colhe, o que

acontece? Nossos ramos começam a quebrar, não quebra? Rapaz começa a colher

aqui, às vezes quebra, abre. Isso aqui é tudo porta de entrada para fungo e para

bactéria. Se a gente começar a deixar nossas portas de entrada aqui e não for cuidar,

vai ter muito mais disso aqui (mostra o ramo de café aparentemente seco), além de

fungo, a gente vai começar ver bactéria entrando. Sempre (no) pré e pós florada, isso

aqui é importante. (aponta para o folder que indica aplicação de Amistar no mês de

setembro).

Alguém conhece esse produto aqui? O Verdadero? (aponta para o logo de Verdadero

sinalizado no folder para aplicação no mês de outubro) Esse aqui é nosso carro-

chefe. Verdadero é nosso carro-chefe. Verdadero é um produto que sempre trouxe

valor. E aí, não sei se alguém já teve oportunidade de ver nossa barraca lá em cima

que tá passando um videozinho... a gente fala que é o nosso carro chefe, por quê? A

gente tinha uma lavoura que a gente fazia a tudo isso aqui (mostra no folder as

etapas preliminares ao uso de Verdadero) e entrava com o Verdadero. O produtor

trocou, vendeu a fazenda, o outro cliente (provavelmente o novo proprietário

daquela fazenda) não quis fazer mais Verdadero e deixou a lavoura sem fazer dois

anos. A gente voltou nessa lavoura dele para ver como que tava o solo dele.

Fizermos uma trincheira num café e nós encontramos 90 ninfas de cigarra55 num pé

de café. Você sabe o que representa isso? Três vezes mais do que um pé de café

pode ter de cigarra.

Imagina o que esse café vai produzir? São as 90 ninfas puxando o café. É muita

coisa, não é? Isso aqui é barato. (apontando para o logo do Verdadero) É barato,

perto do que você pode estar perdendo, certo? Então, Verdadero nós vamos estar

entrando sempre entre outubro e novembro no chão. Isso aqui é receita. Nós temos

que entrar por que é preventivo. Nós não vamos esperar a nossa lavoura pedir,

porque quando ela estiver pedindo já, isso é prático, é notado, em outra lavoura... Na

hora que ela estiver pedindo, ela já está quase morrendo. Isso aqui é preventivo.

54 Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons Acesso em: 20/10/2016 55 Em 2006, evidenciou-se, seguramente, que as cigarras que atacam o cafeeiro estão presentes em toda a

cafeicultura de Minas Gerais, em infestações controladas ou não. (SOUZA; REIS; SILVA, 2007, p. 27)

72

Porque é preventivo? Porque o Verdadero, além de ter todo esse controle de

ferrugem e todas as pragas, que é cigarra, bicho-mineiro, ele entrega vigor. E vigor

não é só folhinha verde, não. Vigor é crescimento de ramo, vigor é uma planta forte

que é o que isso aqui entrega. Que é uma planta sanitizada e com um bom produto,

entrega isso aqui. E depois nós vamos estar complementando o nosso controle de

ferrugem e cercosporiose56 com triazol e estrobilurina do Priori (Priori Xtra) na

folha.

Aqui, são apresentados mais dois produtos: Verdadero (inseticida) e Priori Xtra

(fungicida). Conforme a tabela do IEA, o primeiro custa em média R$450,00, por quilo, e o

segundo, R$160,00, o litro. Ambos têm nível II de classificação ambiental, produto muito

perigoso ao meio ambiente.

Os ingredientes ativos de Verdadero são o ciproconazol e o tiametoxam, sendo o

último, grande responsável pelo extermínio de abelhas. De acordo com uma pesquisa

realizada pelo departamento de entomologia da UFLA – Universidade Federal de Lavras:

(...) uma hora após a pulverização, tiametoxam e metidationa causaram mortalidade

de 71% e 68% das abelhas, respectivamente, e nove horas após, provocaram a morte

de 100% dos adultos. Durante as primeiras horas foi possível observar que as

abelhas tratadas com esses produtos apresentaram distúrbios de coordenação motora,

incapacidade de voo e prostração; porém, tiametoxam foi mais tóxico em um menor

espaço de tempo, com TL57 de 1,7 horas e metidationa de 2,62 horas.

(CARVALHO, S. M. et al., 2009, p. 599)

A problemática do extermínio de abelhas, as quais têm um papel bastante importante

na polinização e no equilíbrio ambiental, está colocada pela brochura de lançamento do The

Good Growth Plan, como uma das preocupações do programa, no qual é dito que serão

realizadas algumas ações para “aumentar a população de abelhas em até 300 vezes”. Este

objetivo seria alcançado “plantando nas margens dos campos sementes de flores selvagens

locais em toda a Europa e nos EUA”. No entanto, as ações do plano são globais e não há

sinalização de algum tipo de reparação dos danos em outras partes do mundo.

Nós temos dois cenários: um cenário de uma planta de média carga, que não vai ter

uma produção tão grande lá na frente, ou seja, não vai ter tão sugada pelos frutos,

certo? Não vai ter um dreno tão grande. Quando não tem esse dreno tão grande,

nosso controle pode ser menor. Nós vamos chegar até aqui, certo? Uma (dose) de

750 em dezembro e uma de fevereiro. Mas, nós temos o cenário de uma lavoura, às

vezes, que é esqueletada, que vai entregar para a gente uma safra de 60 sacas por

hectare, 70... O que vai acontecer com essa lavoura se não tiver um trato maior? Vai

ficar só um gravetinho lá no meio, não vai? Temos que ver, temos que esqueletar ela

56 A cercosporiose ou “mancha-de-olho-pardo”, causada por cercospora coffeicola Berk. & Cooke, constitui uma

das principais doenças da fase de viveiro da cultura do café (Coffea arabica L.). As plantas doentes apresentam

desfolha, redução no desenvolvimento e raquitismo, tornando-se impróprias ao plantio (POZZA et. al. apud

Fernandez-Borrero et al., 2004, p. 185) 57 TL: tempo letal (CARVALHO, S. M. et al., 2009)

73

de novo. Num cenário desse, até seria importante entrar com mais uma (dose) de

Priori, porque o dreno é muito forte. É muita produção. Muita produção e menos

energia para a planta se cuidar. Menos energia para se cuidar, é mais chance de

entrar... É que nem a gente: quando a gente tá com muita necessidade, a gente tá

fraco, tem mais gripe, resfriado... a gente sempre tem que tá cuidando mais.

Esse é o básico da Syngenta. Esse é o mais básico. Só que a gente já tem feito

muitos campos demonstrativos aí, tanto no PROCAFÉ58, quanto no EPAMIG59 de

São Sebastião do Paraíso, que a gente vem notando uma entrega muito maior com

essa agregação aqui na frente, do Actara. O Actara é o tiametoxam, que é um

inseticida, que é um bioestimulante na raiz, que vai tá entregando, além do controle

de bicho mineiro60 numa época crucial, que a gente sabe que pra muitas áreas é

importante estar controlando nessa época de seca, ele é um bicho de raiz... Que vai

tá agregando duas, três sacas a mais no nosso café.

Além da indicação de uso de Verdadero, que apresenta uma mistura de ciproconazol e

tiametoxam, há a recomendação de mais um produto, o Actara, que é somente tiametoxam.

Ou seja, a aplicação de produtos nocivos às abelhas ocorre em dois momentos, sendo nesse

último, uma aplicação pura do inseticida.

Actara, conforme o IEA, apresenta preço médio de R$29,77 pela embalagem de 100

gramas, e de acordo com o MAPA, tem classificação nível III - produto perigoso ao meio

ambiente, considerada baixa. Pode-se inferir que tal classificação talvez não corresponda ao

real risco, de modo que há estudos comprobatórios de que este ativo é o mais eficaz no

extermínio de abelhas.

As classificações do MAPA, são alvo de diversos questionamentos, principalmente

devido ao decreto 991/93, que alterou Lei nº 7.802/89, conhecida popularmente como “Lei

dos Agrotóxicos). Tal decreto, eliminou a validade de cinco anos para o registro de

agrotóxicos, portanto, de acordo com Garcia, Bussacos e Fischer (2005):

Eliminou-se a necessidade de renovação, mantendo-se a possibilidade de reavaliação

do registro a qualquer tempo caso os agrotóxicos apresentem redução da sua

eficiência agronômica ou riscos à saúde ou ao meio ambiente. Na prática, isso

implica aspectos muito importantes do ponto de vista do controle dos agrotóxicos:

não se possibilita que produtos já registrados venham necessariamente a ser

periodicamente reavaliados à luz de novos conhecimentos e testes mais modernos e

precisos. (GARCIA; BUSSACOS; FISCHER, 2005, p. 833)

Portanto, considerando que, de acordo com a lei, não há necessidade de renovação e

submissão do produto a testes mais modernos, e os produtos Actara e Verdadero tiveram suas

58 Fundação Procafé, Varginha (MG) 59 EPAMIG - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais 60 “O bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Méneville, 1842) (Lepidoptera :Lyonetiidae), é a principal

praga da cultura cafeeira, chegando a causar prejuízos superiores a 50% na produção, em virtude da queda

prematura das folhas e redução da área fotossintética.” (RAMIRO et. al, 2004, p. 363)

74

respectivas aprovações nos anos de 2000 e 2004, deduz-se que tal classificação pode estar

desatualizada.

O que esse agregado pode estar fazendo? Isso aqui não custa mais que meia saca de

café. E a gente tá ganhando três sacas. É muito barato pelo que está entregando.

Então, a gente tá notando muito isso aqui. E onde a gente tem notado nos campos

experimentais nossos? (pega um panfleto dos produtos) Aqui na nossa área, que

deve ser a maioria do pessoal da região aqui de Três Corações (MG), nós temos

treze campos experimentais. Nós vamos tá colhendo lá agora. Quem tiver interesse

de ir até lá para ver, vocês vão ver a diferença de uma área que tem Verdadero e uma

área que não tem.

E se alguém não acredita no trabalho feito pela própria empresa, porque isso é um

dado... Tá aqui: (mostra o panfleto) isso aqui é um dado do PROCAFÉ. Depois, se

alguém quiser, fica à vontade para pegar os panfletos aqui. Então tá aqui, ó... São

dez anos de produto na mesma área e eu aposto que aqui dentro alguém já ouviu

falar: “ah, você tem que trocar de produto, porque cria resistência...” Isso aqui tem

10 anos de produto na mesma área. E aí? Tá tendo resistência de alguma coisa? Eu

tô vendo é uma baita de uma raiz aqui, certo? Quando fizeram essas fotos aqui, tá

até aqui embaixo, depois podem ler, isso aqui é uma média de oitos safras... Na

média, pegando a safra alta e com a safra baixa, na nossa média, tá dando 47 sacas

por hectare. Alguém produz isso aqui? Alguém sonha em produzir isso aqui, de

média? É uma produção grande, não é? É uma produção boa, não é? Olha a hora que

a gente não trata (mostra no panfleto): 19 sacas. Tô perdendo aqui 28 sacas, porque

eu não tratei meu café. Vocês sabem quanto custa um tratamento desse aqui,

completo, hoje? Com a oferta Syngenta? Chega a custar uns dois sacos por hectare.

Ou seja, eu tô investindo dois sacos por hectare e tô colhendo 28 de lucro. Agora, eu

não quis investir dois e eu tô perdendo 28. O que é melhor? Investir, não é?

Embora o interlocutor enfatize a alta produtividade obtida com a utilização dos

produtos da empresa, não se pode, contudo, afirmar que somente o modus operandi da

agricultura convencional, com uso de agrotóxicos e sementes transgênicas possibilitam tais

resultados.

Um estudo publicado no ano de 2012 na Revista Brasileira de Agroecologia, de

pesquisadores da ESALQ, UFSCar e UFRRJ, realizou a mensuração da produção de café,

nesta mesma região – sul de Minas Gerais – em lavouras que adotaram os métodos de

agricultura convencional e outras de agricultura orgânica, sem uso de agrotóxicos. Segundo a

pesquisa:

(...).verificou-se que o agroecossistema convencional é extremamente dependente de

fontes externas de insumos, principalmente agroquímicos (fertilizantes e

agrotóxicos). O sistema orgânico também utiliza insumos de fora da propriedade

como o farelo de mamona, estercos de animais e produtos orgânicos industrializados

e atingiu a maior média de produtividade entre os sistemas (45 sacas ha). (...) A

produtividade do agroecossistema convencional é inferior ao organo-mineral e

orgânico, apesar de ser o sistema que mais utiliza inputs externos (insumos), o que

pode concorrer para a sua sustentabilidade a médio e a longo prazo. (LOPES et al.,

2012)

75

Portanto, visto que a produção entregue com os produtos da empresa, conforme o

próprio interlocutor, foi de 47 sacas por hectare em média, ao confrontarmos com o estudo

realizado, pode-se inferir que é possível obter uma produtividade similar com o sistema

orgânico, que apresentou uma média de 45 sacas por hectare.

A mensagem geral que a gente queria deixar, gente, por que isso é imprescindível

para um produtor que tem intenção de ser empresarial, que quer se sustentar na

cadeia. Nós temos que trabalhar com produtos de qualidade, com empresas de

qualidade e com empresas que tragam retorno. E o retorno tá aqui, certo? Então nós

temos um ciclo, que é o que a gente tá sempre falando: produto que traz o controle,

produtividade... porque produtor nenhum que investir dinheiro para não colher,

também... eu preciso do meu dinheiro. Ninguém trabalha para não comer nada, eu

acredito que todo mundo que quer cafeicultura aqui, quer dinheiro, certo? Faz isso

para se sustentar, para trabalhar, porque gosta disso aqui... Não é? Não adianta a

gente trabalhar, além de tudo, com produtos que não tragam revolução. O Verdadero

foi uma revolução. Nós estamos fazendo onze anos, doze anos de Verdadero. Quem

aplicava no solo... ninguém acreditava que um produto aplicado no chão ia subir ir

para folha e hoje tá aí o resultados.

Neste trecho, aparece outra caracterização questionável no que tange a “ser

empresarial”. Conforme já tratado nessa pesquisa (seção 6.3), há um mercado em franca

expansão para produtores orgânicos e estes, apresentam ganhos superiores aos da agricultura

convencional. O mesmo trabalho citado na análise da fala anterior, corrobora:

Nos últimos três anos têm-se alcançado cerca de R$ 500,00 reais pela saca de café

beneficiado (quase o dobro do preço em relação à saca de café convencional) e a

safra de 2008 poderá ser vendida em torno de U$210,00 dólares a saca de 60 kg.

(LOPES et al., 2012)

Neste caso, se a produção do café orgânico é similar à do convencional e este foi

vendido por quase o dobro do preço, infere-se que a agricultura orgânica é competitiva, e

pode ser mais vantajosa do ponto de vista empresarial.

É uma revolução na lavoura. E outra coisa que é o respeito ao meio ambiente. Pega

os produtos da Syngenta que tão aqui (pega o panfleto) quem tiver curiosidade

depois, abre. Tão todos aqui. Nós trabalhamos com produto tarja azul, produto tarja

verde61 que é o Nimbus, que é o óleo. Priori: tarja azul. A gente tem respeito ao

meio ambiente. Nossos produtos que estão aqui, que a gente entrega ao produtor são

tarja azul, certo? O que é o mais importante. A gente não pode pensar em ser

lucrativo só pra empresa e entregar um produto, às vezes, para o nosso parceiro, que

seja um produto que só vai trazer dinheiro para empresa, certo?

61 De acordo com a EMBRAPA: “A classificação dos produtos agrotóxicos é apresentada no parágrafo único do

art. 2º, sendo classificados de acordo com a toxicidade em: I- extremamente tóxico (faixa vermelha); classe II -

altamente tóxica (faixa amarela); classe III - medianamente tóxica (faixa azul) e classe IV - pouco tóxica (faixa

verde).” Disponível em: https://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Uva/UvasRusticas

ParaProcessamento/normas.htm Acesso em: 12/10/2016

76

Para analisar as informações passadas pelo interlocutor sobre a questão ambiental,

apresenta-se o Quadro 4 a seguir com as classificações toxicológicas e ambientais dos

produtos da empresa apresentados durante a palestra:

Quadro 4 ― Classificação toxicológica e ambiental, por produto

Produto

Classificação

Toxicológica Classificação Ambiental

Actara 750 SG II - Altamente Tóxico III - Produto Perigoso ao Meio Ambiente

Nimbus IV - Pouco Tóxico III - Produto Perigoso ao Meio Ambiente

Verdadero 600 WG

III - Medianamente

Tóxico II - Produto Muito Perigoso ao Meio Ambiente

Priori Xtra

III - Medianamente

Tóxico II - Produto Muito Perigoso ao Meio Ambiente

Amistar 500 WG IV - Pouco Tóxico III - Produto Perigoso ao Meio Ambiente

Durivo

III - Medianamente

Tóxico II - Produto Muito Perigoso ao Meio Ambiente Fonte: Do autor.

Nota: Com base nos dados disponíveis na plataforma AGROFIT – MAPA.

A partir das informações do Quadro 4, pode-se afirmar que não é verdade que a

empresa só trabalha com produtos de tarja azul e tarja verde, pois o Actara se enquadra na

tarja amarela, ou seja, representa alta toxidade. Constata-se aqui, uma certa confusão, pois o

interlocutor ressalta que a importância que a empresa dá à questão ambiental, mas para isso,

argumenta sobre as cores das tarjas, as quais tratam-se de classificação toxicológica e não

sobre a classificação ambiental. Esta última apresenta níveis mais desfavoráveis a empresa,

pois três dos produtos apresentados no treinamento, são de nível II nessa classificação, muito

perigosos ao meio ambiente.

Além disso, o portfólio da empresa para outras culturas apresenta produtos

extremamente tóxicos, classificados com tarja vermelha. Um exemplo é o Gramoxone,

utilizado em diversos cultivos, que tem como ingrediente ativo o paraquate. Tal ativo foi

proibido na União Europeia em 2005 e na China em 2006, após diversas pesquisas apontaram

a correlação entre doenças crônicas e o uso inadequado de pesticidas. (BENEVIDES;

MARINHO, 2015)

E complementando, esse ano, só pra gente dar oportunidade de alguém perguntar se

tiver alguma dúvida, esse ano nós lançamos um produto novo que é o Durivo. O

Durivo nada mais é do que uma associação do tiametoxam com o clorantraniliprole,

certo? São os dois inseticidas líderes de mercado, que a gente juntou num só. Então,

são dois inseticidas, que eu falei que é a maior pancada que a gente tem no campo, a

gente aplica isso no nosso foco principal hoje que é a lavourinha nova. Porque ele é

um bioestimulante muito grande, então, a lavoura espicha muito rápido, ela desponta

77

das outras. Quem tiver alguma curiosidade, no nosso estande lá em cima, tá tendo

resultados dele já em campo, e outra coisa que importante, melhor: o Durivo hoje, a

gente tem muito teste lá no cerrado já que é a área crítica de bicho mineiro, essas

lavourinhas novas que estão entrando aplicando Durivo, chegam a passar 180 dias

até um ano, dependendo... sem problema nenhum com bicho mineiro. E a gente

sabe, quem planta café sabe que, bicho mineiro, cercóspora, são problemas críticos

do nosso plantio, porque toda folhinha que a gente perde da mudinha nova, atrasa

muito mais o crescimento.

Então, pessoal, é um produto novo, um produto de qualidade, que nós estamos aí

juntando, e que vai continuar na nossa parte de revolução de aplicação. Que é

aplicado no chão, no pé da mudinha. E a gente sabe, quanto mais a gente conseguir

isso aqui, é melhor. Porque aplicação é difícil fazer. É imprescindível. Porque a

gente também precisa fazer nutricional da planta, todo mundo sabe disso. E esse

complemento aqui é muito importante, também. Quanto mais a gente tá nesse

patamar aqui (mostrando todo o esquema de aplicações no folder) a gente tá fugindo

daqueles medos que vêm na gente. A gente sabe tudo o que é crítico, a gente vai tá

sempre focando no controle do homem com o meio ambiente. Certo, pessoal?

Nesta parte final da palestra, é apresentado um produto de lançamento, Durivo, cujo

preço não foi localizado na base do IEA e suas classificações foram apontadas no quadro da

análise do trecho anterior.

A palavra “revolução” aparece por diversas vezes no discurso do interlocutor. Os

conceitos que circulam essa palavra estão relacionados a transformação, mudanças profundas

e rupturas. A aplicação desse conceito no discurso vem trazer a ideia de que estes produtos

são tão eficazes, tecnológicos, que seus lançamentos representaram um marco, uma mudança

na forma de cultivar o café, dado seus ditos elevados níveis de produtividade e combatividade

às pragas. Dessa maneira, influencia o agricultor a não ficar de fora dessa suposta revolução,

preso à uma agricultura colocada como antiquada.

Quanto a esta última colocação, abriu-se uma breve exceção no método da análise de

discurso para a análise de conteúdo, a qual apresenta “um conjunto de técnicas para análise

das comunicações visando obter por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do

conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de

conhecimentos” (BARDIN, 1977, p. 42).

Dentre diversas técnicas da análise de conteúdo, a maioria são do tipo temático ou

frequencial, sendo esta última aqui utilizada em pouca profundidade. A partir da percepção da

utilização da palavra “revolução” buscou-se atribuir uma significação, num processo

dedutivo.

A gente vai tá disponível aqui em cima também. Nós vamos estar aqui disponíveis a

tarde inteira, aqui no evento. Nós temos as ofertas, qualquer dúvida que é para tirar

também estamos aqui hoje disponíveis. A Syngenta fica muito satisfeita do pessoal

procurar a gente. Se alguém tiver interesse, a gente vai visitar também. A gente tem

78

um segmento de pessoas que está disponível para visitar o produtor, para ver o que

realmente a gente pode esquematizar, precisar... que nem eu tava dizendo das

aplicações, aqui... E ficamos abertos também a qualquer sugestão, também,

pergunta... Tá bom, pessoal? Obrigado, pessoal!

Além da análise discursiva, cabe pontuar que este evento teve patrocínio de diversas

empresas além da Syngenta. Bertanha Eclética, fabricante de maquinários agrícolas, Adama,

Ciclus e Calcário Solo Fértil, todas empresas fornecedoras de insumos agrícolas. Este evento

foi realizado por uma universidade pública e tratava-se de um “encontro de cafeicultores”.

Neste caso, mesmo com tais empresas patrocinando o evento, entende-se que seria necessário

abrir um espaço para discussões sobre o cultivo de café para além do modelo de agricultura

convencional.

79

8 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Quanto às limitações, pontuam-se como principais:

a) Escassez de materiais impressos do plano que poderiam ser utilizados para

uma análise documental.

Na divulgação do plano, foram localizados apenas três materiais impressos: dois

releases e uma brochura do programa. Estes elementos estão presentes nos Anexos A, B e C,

respectivamente, desta pesquisa, porém, não foram submetidos a uma análise pois os

discursos aqui tratados, expunham, além do conteúdo destes textos, pontos mais

problematizadores, os quais proporcionaram maior possibilidade de análise.

Caso houvesse uma gama de materiais didáticos do treinamento disponíveis, por

exemplo, estes trariam maior amplitude à pesquisa.

b) Conjuntura política do país em 2016

Em diversos pontos da pesquisa, especialmente nos referenciais teóricos, foram

realizadas algumas citações referentes ao ambiente político e econômico do Brasil entre os

anos de 2015 e 2016. Muitas dessas questões foram abordadas considerando as medidas do

governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), a qual sofreu um processo de afastamento em 31

de agosto de 2016.

Essa ruptura provocou diversas mudanças conjunturais, principalmente quando o atual

presidente Michel Temer trocou toda a equipe ministerial, destituindo, inclusive, a ministra

Kátia Abreu (PMDB) e colocando Blairo Maggi (PP) como o responsável pela pasta do

Ministério da Agricultura e Pecuária. Conhecido como o “rei da soja”, o ministro figurou na

lista de bilionários da revista Forbes em 2015. Sua família, é detentora da AMAGGI, uma

grande agroindústria62.

Neste momento, este governo tem se empenhado em aprovar pautas para diminuição

de despesas e tal fato, pode agravar ainda mais o problema de acesso ao crédito ou a

promoção de políticas públicas para a agricultura familiar.

62 VEJA: Senador Blairo Maggi estreia na lista da Forbes ‘em família’. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/economia/senador-blairo-maggi-estreia-na-lista-da-forbes-em-familia/ Acesso em

10/11/2016

80

c) Estudo de caso realizado com foco na cultura de café e no pilar de

capacitação, no Brasil

A Syngenta é uma empresa muito grande e seu portfólio abrange uma vasta

quantidade de culturas como cana, soja, milho, feijão e hortifruti. Para fins de recorte de

conveniência, utilizou-se como exemplo um treinamento da cultura de café. Entende-se que

para uma maior abrangência da análise, a aplicação do plano poderia ser analisada em outras

culturas.

Além disso, o The Good Growth Plan conta com seis ações e esta pesquisa dedicou-se

a enfocar o pilar de “capacitação de pequenos agricultores”. Ressalta-se que a análise das

outras cinco ações do plano traria grande contribuição para formar-se um panorama mais

completo.

Complementa-se, ainda, que o plano é global e esta pesquisa debruçou-se apenas sobre

parte de sua aplicação no Brasil, portanto, abre-se espaço para outras pesquisas que avaliem

estas ações em outros países.

81

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que este trabalho tenha dialogado, por diversas vezes, com várias áreas do

conhecimento, como política, economia, sociologia e agronomia, a fim de se delinear uma

contextualização do tema e do problema, pode-se afirmar que as considerações finais dessa

pesquisa cabem, de forma mais preponderante, em um construto da administração e do

marketing: o marketing crítico, o qual, é conceitualizado da seguinte forma:

(...) o marketing crítico relaciona-se a uma abordagem contextualizada social,

histórica, política e culturalmente, além do enfoque acadêmico-disciplinar. Tem-se o

marketing como sendo reflexivo, que aborda os fenômenos de forma

multidimensional a partir da teoria, da questão gerencial, da prática, do

conhecimento, do consumo e dos seus efeitos para a sociedade. Portanto, nas

descrições conceituais, destacam-se a relevância do pluralismo metodológico e da

visão não-reducionista do consumo, envolvendo questões morais e ideológicas, bem

como tem-se a ênfase da ideia de que o marketing é político (DINIZ et al., 2016, p.

7)

A partir da análise das entrevistas, pode-se constatar que no discurso dos gestores The

Good Growth Plan há uma forte tendência a posicionar tal plano como uma ação de marketing

societal, tal conceito que é assim definido por Kotler:

A orientação de marketing societal sustenta que a tarefa da organização é determinar

as necessidades, os desejos e os interesses dos mercados-alvo, satisfazê-los de

maneira mais eficiente e eficaz que os concorrentes, de um modo que conserve ou

aumente o bem-estar do consumidor e da sociedade como um todo.(KOTLER apud

VEBER, 2010, p. 20)

Dessa forma, apresentando ao público geral um plano com premissas tão respeitáveis,

elencadas pelas seis ações do plano – tornar as culturas mais eficientes; recuperar mais terras

cultiváveis; promover a biodiversidade; promover a segurança das pessoas; cuidar de cada

trabalhador; e capacitar pequenos agricultores – a Syngenta buscou divulgá-lo amplamente

como um projeto de enfoque na agricultura sustentável e respeito ao meio ambiente. Essas

intenções são percebidas conforme os releases de imprensa dos Anexos B e C e também nas

falas da entrevista de Leandro Conti, diretor responsável pelo plano.

Agrotóxicos e sementes transgênicas são produtos mal avaliados pela população em

geral, como assim definiu uma pesquisa aqui replicada feita pela própria Syngenta. Deduz-se

que, ao constatar índices de repulsa bastante altos sobre seus produtos, a empresa deu início a

um processo para melhorar sua imagem perante a opinião pública. Entende-se que este plano

é um dos componentes para tal missão.

82

No entanto, o que se percebeu ao acompanhar o treinamento oferecido para os

produtores de café é que as atividades desenvolvidas se aproximaram muito mais de uma ação

comercial, claramente focada em oferecer produtos da empresa para serem vendidos –

reforçando sempre que possível aos espectadores, sua eficácia – do que um treinamento,

propriamente dito. No evento analisado, não houve nenhuma orientação sobre técnicas de

manejo, quantidades a serem utilizadas e outras questões. Tratou-se de uma ação muito curta,

de apenas quinze minutos, bastante expositiva no que tange aos produtos oferecidos pela

empresa e com uma abordagem bastante persuasiva do funcionário que os apresentava, de

modo a tentar convencer o público a compra-los.

Devido ao protagonismo econômico do agronegócio, bem como sua penetração na

política a partir da bancada ruralista e nomeação de ministros amplamente favoráveis a este

modo de produção, a empresa, assim como seus concorrentes, encontram espaço no poder

público para inserir seus interesses. Conforme apontado nessa pesquisa, no que tange a

concessão de créditos, por exemplo, os recursos destinados para a agricultura familiar foram

muito menores do que os da agricultura convencional (inserida no modus operandi do

agronegócio).

Ainda que tenham sido detectadas posições antagônicas na literatura colhida para

compor este trabalho, atenta-se que nenhuma delas foi categórica ao decretar qual seria o

melhor modelo para agricultura familiar e esta pesquisa seguirá a mesma direção. Embora o

confronto de ideias da dialética aqui estabelecida nos aponte um favoritismo ao modelo

agroecológico, entende-se que seriam necessárias mais pesquisas e de maior abrangência, a

fim de validar algum veredito.

Neste sentido, com base na análise do “The Good Growth Plan” e no arcabouço

teórico apresentado sobre o agronegócio e agroecologia, retoma-se à pergunta de pesquisa.

Pode-se resumir as principais tensões entre os dois modelos para agricultura familiar da

seguinte forma: constata-se maior facilidade de aderência ao modelo do agronegócio em

comparação ao agroecológico, já que o ingresso no segundo é repleto de desafios, como o

pouco acesso ao crédito e os custos de conversão e certificação.

Apesar das dificuldades e do baixo engajamento do poder público em tornar esse tipo

de agricultura mais viável, nota-se que aqueles que conseguem fazer essa transição, têm a

possibilidade de desenvolver manejos orgânicos e apresentar uma produtividade competitiva

ao agronegócio, tomando como exemplo a cultura do café – e, além disso, obter maior

rentabilidade na comercialização de seus produtos. Cabe considerar também que para uma

propriedade familiar, a não utilização de insumos químicos, representa uma atitude

83

sustentável, sendo assim, fundamental para a preservação da sua terra e também do meio

ambiente.

Portanto, conclui-se que este trabalho se dispôs a contribuir nos amplos debates

existentes acerca do marketing crítico e da questão agrária do Brasil, sendo esta última,

cenário de diversas tensões entre grandes empresas, latifundiários, agricultores familiares e

daqueles que mal tem seu pedaço de terra, organizados em movimentos sociais, que vêm

travando uma luta histórica no campo a qual, infelizmente, ainda não se enxerga solução no

curto prazo.

84

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Estudo de caso em pesquisa e avaliação

educacional. Liber Livro. Brasília. 2008

ARAUJO, Ney Bittencourt de; WEDEKIN, Ivan; PINAZZA, Luiz Antonio. Complexo

agroindustrial: o "agribusiness" brasileiro. AGROCERES. São Paulo. 1990

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Edições 70. Lisboa. 1977.

BENEVIDES, Jorgeana Almeida J.; MARINHO, Glória. Degradação de pesticidas por fungos

– uma revisão. HOLOS, v. 2, p. 110-129, 2015.

BEZERRA, Juscelino Eudâmidas. Agronegócio e ideologia: contribuições teóricas. Revista

NERA, n. 14, p. 112-124, 2012

BOAS, Luiz Henrique de Barros Vilas; DE SOUZA SETTE, Ricardo; DE BRITO, Mozar

Jose. Comportamento do consumidor de produtos orgânicos: uma aplicação da teoria da

cadeia de meios e fins. Organizações Rurais & Agroindustriais, v. 8, n. 1, 2011.

BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Introdução à análise do discurso. Editora da

Unicamp. Campinas. 2. ed. 2006.

CABRAL, Augusto Cézar de Aquino. A análise do discurso como estratégia de pesquisa no

campo da administração: um olhar inicial. XXIII Encontro da ANPAD. Anais de Congresso.

Foz do Iguaçu, 1999.

CARVALHO, S. M. et al. Toxicidade de acaricidas/inseticidas empregados na citricultura

para a abelha africanizada Apis mellifera L., 1758 (Hymenoptera: Apidae). Arquivos do

Instituto Biológico, v. 76, n. 4, p. 597-606, 2009.

DAROLT, Moacir Roberto; SKORA NETO, F. Sistema de plantio direto em agricultura

orgânica. Revista Plantio Direto, v. 70, p. 28-31, 2002.

DE ASSIS, Renato Linhares; ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Agroecologia e agricultura

orgânica: controvérsias e tendências. Desenvolvimento e meio ambiente, v. 6, p. 67-80,

2002.

DE CAMPOS, Sofia Alfredo; LEANDRO, José Benedito. A produção rural sustentável como

fonte de benefício aos pequenos produtores rurais de Botucatu. Tekhne e Logos, v. 3, n. 1,

2012.

DINIZ, Anna Paula Carvalho et al. Marketing Crítico: Precisamos falar sobre isso. VII

Encontro de Marketing da ANPAD. Anais de Congresso. Belo Horizonte, 2016.

FEIDEN, Alberto. Agroecologia: introdução e conceitos. In: AQUINO, AM e ASSIS, RL

Agroecologia: princípios e técnicas para uma agricultura orgânica sustentável. Embrapa

Informação Tecnológica. Brasília. 2005.

85

FERNANDES, Denise Medianeira Mariotti; KARNOPP, Erica. A AGRICULTURA

FAMILIAR E A CADEIA PRODUTIVA DE ALIMENTOS ORGÂNICOS:

CONQUISTAS. RDE-Revista de Desenvolvimento Econômico, v. 16, n. 29, 2014.

FERREIRA, Bracolina. Reforma Agrária: Assentamentos Rurais e Segurança Alimentar.

Revista Política Social e Desenvolvimento, n. 10, p. 6 – 20, 2014.

GARCIA, Eduardo; BUSSACOS, Marco Antonio; FISCHER, Frida Marina. Impacto da

legislação no registro de agrotóxicos de maior toxicidade no Brasil. Rev. Saúde Pública

[online]. 2005, vol.39, n.5, p. 832-839

GOMES, Marcela de Andrade. Política, estética e ativismo ambiental: um estudo sobre as

ações do Greenpeace no contemporâneo. Florianópolis, 2014. Tese (Doutorado em

Psicologia) - Universidade Federal de Santa Catarina.

GONÇALVES, Sergio. Campesinato, resistência e emancipação: o modelo agroecológico

adotado pelo MST no Estado do Paraná. Presidente Prudente, 2008. Tese (Doutorado em

Geografia) Universidade Estadual Paulista.

GOHN, Maria da Gloria Marcondes. Movimentos e lutas sociais na história do Brasil.

Loyola. São Paulo. 1995.

GOHN, Maria da Gloria Marcondes. Movimentos sociais e redes de mobilizações civis no

Brasil contemporâneo. Vozes. Petrópolis. 2010.

GOHN, Maria da Gloria Marcondes. Os sem-terra, ONGs e cidadania. Cortez. São Paulo. 3.

ed. 2003.

HEREDIA, Beatriz; PALMEIRA, Moacir; LEITE, Sérgio Pereira. Sociedade e economia do

“agronegócio” no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 25, n. 74, p. 159-196,

2010.

IBAMA. Boletim de Comercialização de Agrotóxicos e Afins. Disponível em:

http://www.ibama.gov.br/phocadownload/Qualidade_Ambiental/boletim%20de%20comercial

izacao_2000_2012.pdf Acesso em 05 de set. 2016.

IBGE. Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro, IBGE, 2006. Disponível em:

http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/51/agro_2006.pdf. Acessado em

15/03/2016

ISAAA, International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications, Facts and

Trends – Brazil. 2014. Disponível em:

https://www.isaaa.org/resources/publications/biotech_country_facts_and_trends/download/Fa

cts%20and%20Trends%20-%20Brazil.pdf Acessado em 25/05/2016.

LOPES, Paulo Rogério et al. Produção de café agroecológico no sul de Minas Gerais:

sistemas alternativos à produção intensiva em agroquímicos. Revista Brasileira de

Agroecologia, v. 7, n. 1, 2012.

MACHADO, Fernanda; CORAZZA, Rosana. Desafios tecnológicos, organizacionais e

financeiros da agricultura orgânica no Brasil. Aportes, v. 9, n. 26, p. 21-40, 2004.

86

MADAIL, João Carlos Medeiros; BELARMINO, Luiz Clovis; BINI, Dienice Ana. Evolução

da produção e mercado de produtos orgânicos no Brasil e no Mundo. RCA-REVISTA

CIENTÍFICA DA AJES, v. 2, n. 3, 2015.

MAGALHÃES, Rogério Marcos. A política de apoio à agricultura familiar na conservação da

biodiversidade no Brasil. Desenvolvimento e meio ambiente, v. 21, p. 89-101, 2010.

NETO, Canrobert Costa; CANAVESI, Flaviane. Sustentabilidade em assentamentos rurais: o

MST rumo à “reforma agrária agroecológica” no Brasil. Ecología Política. Naturaleza,

Sociedad y Utopia. Buenos Aires: CLACSO, p. 203, 2001.

PLEIN, Clério; FILIPPI, Eduardo Ernesto. Capitalismo, agricultura familiar e

mercados. Redes, v. 16, n. 3, p. 98-121, 2012.

POZZA et al. Efeito do silício no controle da cercosporiose em três variedades de cafeeiro.

Fitopatologia Brasileira, v. 29, n. 2, p. 185-188, 2004.

RAMIRO et al. Caracterização anatômica de folhas de cafeeiros resistentes e suscetíveis ao

bicho-mineiro. Bragantia (online). v.63, n.3, pp.363-372, 2004.

SANTOS et al. Análise comparativa de preços entre produtos orgânicos e convencionais em

um supermercado e hortifruti em Olinda-PE. Congresso Técnico Científico da Engenharia

e da Agronomia –CONTECC, 2015.

SANTOS et. al . Resíduos de Agrotóxicos no Brasil: Uma Análise Bibliométrica.. In:

Alexandre Rosa dos Santos; Carlos Antonio Alvares Soares Ribeiro; João Batista Esteves

Peluzio; Gleissy Mary Amaral Dino Alves dos Santos; Giselle Lemos Moreira; Ivo Augusto

Lopes Magalhães. (Org.). Geotecnologias & análise ambiental: aplicações práticas. 1ed.: ,

2015, v. 1, p. 210-229.

SEVERINO et al. Associações da produtividade com outras características agronômicas de

café (Coffea arabica L. “Catimor”). Acta Scientiarum, v. 24, n. 5, p. 1467-1471, 2002.

SOUZA, João Carlos; REIS, Paulo Rebelles; SILVA, Roberto Antônio. Cigarras-do-cafeeiro

em Minas Gerais: histórico, reconhecimento, biologia, prejuízos e controle. EPAMIG -

Boletim Técnico. n. 80, 2. ed., Belo Horizonte, 2007.

SOUZA, Paulo Marcelo; FORNAZIER, Armando; JOSE, Niraldo; NEY, Marlon Gomes.

Agricultura familiar versus agricultura não-familiar: uma análise das diferenças nos

financiamentos concedidos no período de 1999 a 2009. Documentos Técnico-

Científicos. Revista Econômica do Nordeste, v. 42, n. 1, p. 105-124, 2011.

THAMADA, T. T.; GIROLAMO NETO, C. D.; MEIRA, C. A. A. Sistema de alerta da

ferrugem do cafeeiro. Simpósio de Pesquisa de Cafés do Brasil, Salvador, 2013.

VEBER, P. A.. Aspecto do marketing social e do marketing societal e suas implicações

conceituais. Revista Trajetória Multicursos, v.1, n.1, p-35-56, 2010.

87

ANEXOS

Anexo A - The Good Growth Plan - Brochura.

Disponível em:

https://www.syngenta.com/global/corporate/en/goodgrowthplan/Documents/pdf/The%20Good%20Gr

owth%20Plan_16pp%20brochure%20BRA-POR.pdf. Acessado em 20/04/2015.

88

89

90

91

92

93

94

95

96

97

98

99

100

101

102

103

Anexo B – Release de Lançamento do Plano The Good Growth Plan

Disponível em: https://www.syngenta.com.br/press-release/noticia/syngenta-lanca-iniciativa-global-

para-o-fomento-de-praticas-sustentaveis-na Acessado em 20/10/2016

Syngenta lança iniciativa global para o

fomento de práticas sustentáveis na

agricultura Notícia

19.09.2013

Brasília, 19 de setembro de 2013 - A Syngenta divulga hoje uma iniciativa global, batizada

“The Good Growth Plan”, que foi desenhada para lidar com grandes desafios relacionados à

segurança alimentar, tais como o cuidado com o meio ambiente, com as comunidades rurais e

com a eficiência na utilização de recursos.

O Good Growth Plan reflete a visão da Syngenta de que a produtividade agrícola necessita

mais eficiência para que possamos alimentar uma população global que vem crescendo em

200 mil pessoas todos os dias. Ao mesmo tempo, terras cultiváveis estão sendo degradadas

pela urbanização e erosão do solo, enquanto recursos hídricos estão sob enorme pressão. As

comunidades rurais, responsáveis por cultivar alimentos, estão em muitos casos sofrendo com

a pobreza.

Para enfrentar cada desafio, foram estabelecidos seis compromissos com metas específicas e

mensuráveis. Entre os objetivos específicos da Syngenta no Brasil estão:

Tornar as culturas mais eficientes: aumentar em 20% a produtividade em soja, milho, cana

e café sem usar mais terra, água ou insumos

Recuperar mais terras cultiváveis: recuperar 50 mil hectares de pastagens degradadas,

convertendo-as em terras cultiváveis

Promover a biodiversidade: proteger as áreas com habitats para insetos polinizadores

Capacitar pequenos agricultores: acessar diretamente e capacitar 100 mil pequenos

agricultores para o uso responsável de tecnologias, aumentando a produtividade em 50%

Promover a segurança das pessoas: treinar 160 mil agricultores em boas práticas agrícolas

e uso responsável das tecnologias

Cuidar de cada trabalhador: promover condições justas de trabalho para toda nossa cadeia de fornecedores

“Essa é a iniciativa mais ambiciosa e abrangente já lançada por uma empresa do segmento

para enfrentar o desafio da segurança alimentar”, diz o presidente para a América Latina da

Syngenta, Antonio Carlos Guimarães. “O Good Growth Plan cria oportunidades de dialogar e

trabalhar em conjunto com diversos públicos para alcançar os objetivos comuns” conclui.

O plano está sendo apresentado hoje em Brasília, na sede da Embrapa, em evento voltado a

autoridades, ambientalistas, agricultores, ONGs e imprensa, no qual os participantes poderão

discutir e aportar novas ideias para o desenvolvimento da iniciativa. O mesmo evento

104

acontece hoje em Zurique (Suíça), Bruxelas (Bélgica), Jacarta (Indonésia) e Washington

(Estados Unidos).

Os resultados da pesquisa global sobre agricultura:

A Syngenta também divulga hoje globalmente uma pesquisa inédita, realizada em 13 países

incluindo o Brasil, com 8 mil formadores de opinião de diferentes setores da sociedade, que

avaliou as percepções da população urbana sobre os desafios da agricultura.

Os resultados mostram que as pessoas estão divididas sobre como a produção de alimentos

deve ser conduzida. Como exemplo, 78% dos entrevistados brasileiros apoiam o uso das

últimas tecnologias para a produção de alimentos. No entanto, somente 24% apoiam o uso de

defensivos agrícolas, fertilizantes e organismos geneticamente modificados, por exemplo.

Ainda no Brasil, apenas 11% acreditam que a agricultura é feita de maneira responsável hoje

em dia, e por outro lado, 54% acreditam que conforme a produtividade aumenta, a agricultura

será mais sustentável.

Para acompanhar o resultado dos eventos e da pesquisa, e conhecer o conteúdo integral dos

compromissos da Syngenta estabelecidos dentro do Good Growth Plan,

acesse http://www.syngenta.com

Sobre a Syngenta

A Syngenta é uma das maiores empresas do mundo, com mais de 27.000 funcionários em

mais de 90 países dedicados ao nosso propósito: trazer o potencial das plantas para a vida. Por

meio de ciência de ponta, alcance global e compromisso com nossos clientes, ajudamos a

aumentar a produtividade das plantações, proteger o meio ambiente e melhorar a saúde e a

qualidade de vida. Para mais informações sobre nós, acesse www.syngenta.com

105

Anexo C – Release de 1 ano do Plano The Good Growth Plan

Disponível em: https://www.syngenta.com.br/press-release/noticia/good-growth-plan-da-syngenta-

completa-um-ano Acessado em 20/10/2016

The Good Growth Plan da Syngenta

completa um ano NOTÍCIA

19.09.2014

Estabelecida rede global com mais de 3.500 fazendas para medir a produtividade

Primeiros dados de auditoria independente serão publicados em março de 2015

Projetos em andamento em todas as regiões; parcerias fechadas e expandidas

Basileia, Suíça, 19 de setembro de 2014 - A Syngenta anunciou hoje uma atualização sobre o

progresso do The Good Growth Plan, um ano após seu lançamento em setembro de 2013. O plano

engloba seis compromissos mensuráveis até o ano de 2020, para contribuir com o desafio da

segurança alimentar global, que incluem o aumento da produtividade agrícola com eficiência dos

recursos, rejuvenescimento dos ecossistemas e fortalecimento das comunidades rurais.

A Syngenta estabeleceu uma rede global com 893 fazendas de referência e 2.673 fazendas

benchmark. Dessas, 140 estão no Brasil. Essas propriedades estão adotando protocolos de cultivo

personalizados com o objetivo de aumentar a produtividade sem o uso de mais terras, água ou

insumos. O progresso é medido nas fazendas benchmark pela Market Probe, uma agência

independente de pesquisa de mercado, e passará por uma auditoria externa. Também são

coletados dados sobre produtividade da terra e eficiência de fertilizantes, defensivos, água e

energia na produção do cultivo. Os primeiros resultados estarão disponíveis no Relatório Anual

2014 da Syngenta, que será publicado em março de 2015.

Os projetos e as soluções para plantações desenvolvidos para atender os compromissos estão em

andamento em todas as regiões que a empresa atua no mundo e têm amplo engajamento dos

funcionários. A escala e o escopo dessas iniciativas estão sendo expandidos por meio de

colaborações, incluindo a parceria com a Soil Leadership Academy (Academia de Liderança de

Solos) com a UNCCD e a expansão das relações com a USAID e a Fair Labor Association.

Mike Mack, CEO, da Syngenta disse: “Embora ainda no começo da jornada, estamos satisfeitos

com o andamento do The Good Growth Plan. Criamos uma estrutura clara e transparente para

medir o progresso, e as novas ofertas de produtores refletem o nosso foco na produtividade e

sustentabilidade. Temos o apoio total dos nossos funcionários e de milhares de distribuidores e

produtores do mundo todo. A partir do próximo ano, o relatório independente sobre cada

compromisso vai submeter o nosso progresso ao escrutínio público, e é algo que estamos

buscando. Os nossos objetivos para 2020 são ambiciosos e sabemos que não podemos ter sucesso

sozinhos. Queremos trabalhar com quem compartilha do nosso compromisso com a segurança

alimentar global.”

106

O The Good Growth Plan reflete a crença da Syngenta de que a produtividade agrícola deve

aumentar para alimentar a população global, que aumenta em 200 mil pessoas por dia. Ao mesmo

tempo, as terras cultiváveis estão sendo reduzidas com a urbanização e a erosão do solo, e os

recursos hídricos estão sob pressão cada vez maior. As comunidades rurais – responsáveis pelo

cultivo de alimentos – muitas vezes se encontram em situações de pobreza, sem ferramentas e

acesso ao mercado, que poderiam viabilizar suas fazendas.

Destaques do primeiro ano em relação aos seis compromissos

1. Aumentar eficiência dos cultivos: Aumentar a produtividade média dos grandes cultivos do

mundo em 20%, sem usar mais terras, água ou produtos

A solução INTEGRARE™ garante o acesso às tecnologias Integradas Syngenta a pequenos e

médios produtores de soja. Nosso protocolo agronômico confere sustentabilidade ao cultivo,

maior produtividade e rentabilidade para o produtor. Atualmente, já ocupa 30 mil hectares,

envolvendo mais de 300 sojicultores.

2. Recuperar terras cultiváveis: Aumentar a fertilidade de 10 milhões de hectares de terras

cultiváveis à beira da degradação

A Syngenta patrocina e faz parte do comitê gestor da Rede de Fomento da ILPF, iniciativa

coordenada pela Embrapa para a difusão do conceito de produção intensiva sustentável que

integra atividades agrícolas, pecuárias e florestais numa mesma área, sendo possível a

recuperação de pastagens degradadas através dessa estratégia de utilização do solo.

3. Ajudar a biodiversidade florescer: Aumentar a biodiversidade de 5 milhões de hectares de

terras cultiváveis

O Operation Pollinator™ cria margens no campo para atrair insetos polinizadores e outros

animais selvagens. Foi estendido para fazendas mais comerciais e campos de golfe da Europa,

América do Norte e Ásia Pacífico.

4. Capacitar pequenos produtores: Atingir 20 milhões de pequenos produtores e ajudá-los a

aumentar a produtividade em 50%

Atrelado ao programa NUCOFFEE®, o programa Caminho Sustentia™ tem como objetivo

capacitar e organizar pequenos cafeicultores para que possam buscar a certificação de suas

propriedades. Para isso, estabelecemos uma parceria com uma organização internacional e

adotamos o modelo de certificação coletiva. Trabalhando junto com 16 cooperativas, vamos

ajudar os produtores a preparar suas fazendas para receber auditorias para certificação.

5. Melhorar a segurança das pessoas: Treinar 20 milhões de trabalhadores agrícolas sobre

segurança no trabalho, principalmente nos países em desenvolvimento

Em 2013, a Syngenta e seus parceiros realizaram 160 programas e atingiram 2,8 milhões de

trabalhadores agrícolas no mundo, ensinando-os a usar e descartar os produtos com segurança.

107

6. Cuidar de cada trabalhador: Lutar por condições de trabalho justas em toda a nossa rede da

cadeia de suprimento.

A Syngenta mantém uma política global de Saúde, Segurança Ocupacional e Meio Ambiente,

aplicada em todas as unidades no Brasil e no mundo. A Syngenta adota os protocolos da

FLA de promoção do trabalho decente no campo desde 2010 no país. Em 2013, iniciamos as

operações da Syngenta® Agrícola, por meio da qual os funcionários que atuam no campo são

contratados diretamente, com registro em carteira e adequação total à legislação trabalhista.

Veja mais informações em www.goodgrowthplan.com

Sobre a Syngenta

A Syngenta é uma das empresas líderes mundiais, com mais de 28.000 funcionários em mais de

90 países dedicados ao nosso propósito: Trazer o potencial das plantas para a vida. Por meio da

ciência de classe mundial, alcance global e compromisso com os nossos clientes, ajudamos a

aumentar a produtividade de cultivos, proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida.

Para saber mais, acesse: www.syngenta.com

108

Anexo D – Imagens do treinamento efetuado no 17ª Encontro Sul Mineiro de

Cafeicultores - 07/05/2014

Fonte das imagens: https://www.youtube.com/watch?v=PR0i3gPzHpI Acessado em 20/10/2016