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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EVASÃO ESCOLAR:
EXCLUSÃO OU OPÇÃO?
LEILA MARIA DE MEDEIROS
ORIENTADOR: Nelsom J. V. de Magalães
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
FEVEREIRO DE 2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
EVASÃO ESCOLAR:
EXCLUSÃO OU OPÇÃO?
LEILA MARIA DE MEDEIROS
Trabalho monográfico apresentado
como requisito parcial para obtenção do
Grau de Especialista em Supervisão
Escolar.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
FEVEREIRO DE 2002
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
LEILA MARIA DE MEDEIROS
EVASÃO ESCOLAR:
EXCLUSÃO OU OPÇÃO?
TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO
DO GRAU DE ESPECIALISTA EM SUPERVISÃO ESCOLAR.
__________________________________________
Leila Maria de Medeiros
APROVADO POR
__________________________________________
Nelsom J. V. de Magalhães
__________________________________________
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
FEVEREIRO DE 2002
VI
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VEZ DO MESTRE
RESUMO DO TRABALHO MONOGRÁFICO APRESENTADO COMO
REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA
EM SUPERVISÃO ESCOLAR.
LEILA MARIA DE MEDEIROS
EVASÃO ESCOLAR: EXCLUSÃO OU OPÇÃO?
ORIENTADOR: Nelsom J. V. de Magalhães
Este trabalho desenvolve um raciocínio sobre a exclusão escolar, submetendo a
uma análise crítica os variados projetos e programas governamentais. Partindo do princípio
já bastante difundido e estudado de que a exclusão escolar é fruto da exclusão social,
contextualiza as dimensões do problema e busca modestamente apontar algumas possíveis
soluções.
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
FEVEREIRO DE 2002
VII
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
Introdução ............................................................................................................. 1
CAPÍTILO II
A exclusão social - a exclusão escolar ................................................................. 4
CAPÍTULO III
A exclusão: na escola e da escola ........................................................................... 8
A pedagogia da repetência. ......................................................................... 9
CAPÍTULO IV
Os incentivos à permanência na escola: solução ou paliativo .............................. 12
Merenda escolar ........................................................................................ 13
Programa Nacional do Livro Didático ..................................................... 14
Transporte ................................................................................................ 16
Amigos da Escola .................................................................................... 17
Bolsa-escola ............................................................................................. 17
Outros projetos ......................................................................................... 17
CAPÍTULO V
Conclusão ............................................................................................................. 20
BIBLIOGRAFIA: ............................................................................................................ 23
ANEXOS .......................................................................................................................... 24
1
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1.1. TEMA
Evasão escolar
1.2. DELIMITAÇÃO DO TEMA
A Evasão Escolar nas escolas públicas do país, no Ensino Fundamental, nos 1º e 2º
Ciclos.
1.3. JUSTIFICATIVA
Devido à grande evasão de alunos na escola, que continua alarmante, mesmo
existindo os subsídios do Estado (merenda escolar, livro didático, transporte, bolsa-escola,
etc.), e leis que determinam a obrigatoriedade do aluno na escola.
Tendo em vista a necessidade de abordar vários aspectos para listar as causas da
evasão escolar, serão utilizados os dados do Ministério da Educação e Cultura,
apresentando a realidade nacional, apontando as alternativas para as possíveis soluções.
1.4. OBJETIVOS
Comprovar que a evasão escolar está diretamente ligada à exclusão social.
Apresentar alternativas para possíveis soluções na evasão escolar.
1.5. PROBLEMA
As causas da evasão escolar está diretamente relacionada aos fatores econômicos e
culturais das crianças?
2
1.5. HIPÓTESE
A condição subumana da maioria da população é responsável pela evasão escolar.
1.7. METODOLOGIA
Coleta de informações através de leitura de autores renomados, numa bibliografia
ampla.
Tendo em vista a amplitude do assunto, os dados estatísticos foram coletados
através da Internet, em home-pages governamentais.
1.8. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O autor que norteou esta pesquisa foi o saudoso Paulo Freire, mais que educador
prestou uma grande contribuição com a teoria e a prática de educação e, em especial, para
com a educação popular comunitária, pois a sua obra e muito maior que uma obra
acadêmica: o seu coração está no centro do conhecimento e jamais esqueceu a paixão pelos
seus sonhos.
1.9. DEFINIÇÃO DOS TERMOS DA PESQUISA
Entende-se por exclusão social a pobreza que impera no país das desigualdades
econômicas e sociais, decorrentes de inúmeras situações de miséria vivida pela sociedade
excluída dos direitos mínimos de sobrevivência e da prática da cidadania, proporcionada
por uma sociedade desigual e excludente.
1.10. CONTEÚDO DO TRABALHO
No Capítulo II, desenvolve-se o raciocínio de que a exclusão social promove a
exclusão escolar. Apresentamos dados que apontam fatores culturais e sociais, externos e
internos à escola, proporcionando a discriminação e a desigualdade, contribuindo, assim,
cada vez mais para a evasão escolar.
3
No Capítulo III, abordamos a contribuição da escola na evasão escolar, apontamos
a discriminação que a escola promove no seu interior, tanto na ordem econômica quanto
cultural. Observa-se no processo educacional conteúdos, currículos, métodos e avaliação
que legitimam as concepções elitistas, seletivas e excludentes.
O Capítulo IV refere-se aos programas nacionais de incentivos e permanência dos
alunos na escola pública, programas que apontamos como paliativos, criticando os projetos
enquanto assistencialistas e sem soluções para uma sociedade oprimida e excluída.
O Capítulo V está destinado às conclusões, comentários e possíveis soluções.
Apontamos para a escola que queremos numa sociedade justa e igualitária.
4
CAPÍTULO II
A EXCLUSÃO SOCIAL = A EXCLUSÃO ESCOLAR
2.1. INTRODUÇÃO
Neste capítulo serão apresentados argumentos que buscam demonstrar a exclusão
social enquanto promotora da exclusão escolar e que a desigualdade social e as políticas
econômicas contribuem negativa e decisivamente na vida escolar dos alunos das classes
menos favorecidas e, ainda, que a escola discriminatória reforça a “indústria da exclusão”.
2.2. DESENVOLVIMENTO
Desde a década de 80, o Brasil, vem apresentando dados consideráveis na oferta de
vagas no sistema educacional e na expansão da rede escolar em relação às décadas
anteriores (BIE, 1995), em contraste com os índices de melhoria de acesso à escola,
deparamos com o fato de que fatores culturais e sociais externos à escola, têm gerado
discriminações e desigualdades nas oportunidades educacionais para as crianças pobres.
Neste contexto, o ensino público, gratuito e obrigatório, propicia a possibilidade de
uma verdadeira democratização ao acesso escolar dos pobres. Este acesso de
universalização é, sem dúvida, observado como um instrumento de emancipação e de
educação indiscriminado, inclusive para as classes menos favorecidas. Ocorre que neste
processo estão embutidos dispositivos que geram distorções de caráter sócio-econômico,
oriundos da estrutura curricular remanescente. Os alunos começam seus estudos num
mesmo tipo de escola e é neste ponto comum que se dará a seleção, isto é, a separação dos
alunos em grupos onde uma minoria continua o estudo enquanto uma maioria vai
abandonando a escola.
A evasão escolar ocorre numa fase posterior à massificação do acesso, uma vez que
“a exclusão escolar está ligada à questão da exclusão social
(..) é falsa a idéia de que a exclusão social se inicia com a
exclusão escolar. O oposto é mais verdadeiro: a exclusão
escolar é uma conseqüência da exclusão social. O
5
desemprego gera a desagregação familiar e tem levado cada
vez mais crianças a deixarem a escola para ingressar no
mercado de trabalho infantil” (Rainho, 2001, p. 58).
Nesta perspectiva de entendimento, é certo que o atual exercício da pedagogia escolar de
uma concepção teórica da sociedade, está se dando como um mecanismo de conservação e
reprodução de uma sociedade excludente.
O Brasil hoje tem 1,3 milhão de adolescentes que não sabem ler e escrever,
localizados nas camadas populares, os mais pobres, resultado do fato de que a escola não
está disponível para essa população. Dos alunos que conseguem vagas nas escolas, nem
todos permanecem, ela expulsa.
Segundo a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão
governamental, dois terços da população brasileira – ou 111 milhões de pessoas –
sobrevivem de renda familiar mensal de até dois salários mínimos. Outros 20% da
população atravessam o mês com menos de meio salário mínimo. Existem 15 milhões de
sem terra. Para complicar, um requinte de perversidade econômica: 1% dos brasileiros (1,6
milhão de pessoas) concentra em suas mãos fortuna equivalente ao rendimento dos 50%
mais pobres – ou 83 milhões de pessoas. Portanto, nós não somos o país mais pobre do
mundo, mas com certeza, um dos que apresentam maiores desigualdades.
Em grande parte, notadamente nas esferas políticas e econômicas, a visão
predominante tem um caráter técnico-operativo, que impõe uma perspectiva tecnicista com
fortes tendências à exclusão social e, por conseqüência, a exclusão escolar. Isto decorre
“quando a técnica está a serviço de uma classe em
particular, ela é, desde o início, essencialmente imoral. O
pensamento técnico moderno é, em si mesmo, excludente. Em
busca da eficiência, que é sempre um valor relativo, ele
exclui os incapazes, os feios, os doentes e os velhos. O
homem passa a ser o instrumento de uma velha utopia, a da
sociedade vista como uma máquina perfeita, que a
arrogância acadêmica contemporânea fez ressurgir. É a
metáfora do mundo social como um relógio, contra a
metáfora mais perfeita que deseja ver o mundo como uma
balança, isto é, como equilíbrio. E como o pensamento
técnico, em nossos dias, sobrepôs-se ao pensamento
6
humanista, vem dominando a razão política”. (Santayana,
1995, p. 91).
No início dos anos 80, pode-se observar um movimento que buscava transformar a
educação brasileira, mas que aos poucos foi perdendo o fôlego que o animava. Desta forma
“Reformar currículos, transmitir conteúdos críticos foi a
empolgação do momento. Mas os sonhos cívicos não foram
acompanhados pelo desenvolvimento econômico e social. Os
anos 80 passaram como uma década perdida, a
marginalidade, a pobreza e a miséria estão aí afetando os
setores populares, os trabalhadores, a infância e a
adolescência de nossas escolas. Estamos num momento
sensível às velhas realidades: as desigualdades e os
múltiplos processos de exclusão e marginalização. O
fracasso escolar volta, ou melhor, nunca nos abandonou. As
motivações para tanta sensibilidade são diversas, desde o
medo dos conflitos sociais, da violência dos meninos de rua,
até os velhos ideais de uma escola igualitária, passando pela
redução dos custos na administração de reprovados –
repetentes”. (ARROYO, 2001, pp. 11/12).
Entretanto cientistas e governos ainda estão por encontrar um consenso sobre a
viabilidade de que as novas políticas de desenvolvimento científico e tecnológico possam
repercutir sobre o desenvolvimento social e o desenvolvimento humano. Do lado dos
cientistas, já despontam as primeiras manifestações no sentido de que nenhum
desenvolvimento será legítimo se ignorar soluções para a pobreza do país. Em outras
palavras, a “nova economia” e a globalização são fatores que sobredeterminam em todo o
mundo, mas o desafio consistirá exatamente em combinar avanços científicos e
tecnológicos com horizontes mais dignos para toda a população em geral e não apenas para
as elites.
O tema fracasso-sucesso escolar é encarado pela realidade social com toda
premência, porém o que resulta é pouco atraente, pois o grande desafio é como encará-lo.
Anterior ao fracasso escolar existem fatores externos ao processo ensino/aprendizagem e
sua organização é o aspecto mais preocupante, pois se constata a existência de uma
“indústria de exclusão” que reforça uma sociedade desigual e excludente.
7
2.3. CONCLUSÃO
Num país onde 111 milhões de pessoas (dois terços da população) sobrevivem com
uma renda familiar mensal de até dois salários mínimos, e que 20% da população tem
menos que meio salário mínimo por mês para viver e apenas 1% de toda população
acumula um rendimento equivalente a 83 milhões de brasileiros, com certeza é um país
desigual. Ao mesmo tempo em que essa minoria concentra uma renda relativa a 50% da
população, ela também determina o destino do país, pois temos uma nação que direciona
suas leis e regras sociais em benefício dessa minoria dominante. Portanto, se a extorsão
não é preocupante, se usurpar o direito à uma vida digna, não é crime contra o próximo,
então, a exclusão escolar é mera “conseqüência do acaso”.
Neste quadro de opressor e oprimido, infelizmente a escola desempenha o papel de
reprodutora dessa sociedade injusta, auxiliando na exclusão escolar, dificultando mais
ainda a transformação e libertação das camadas populares. Dessa forma, a exclusão escolar
é uma conseqüência da exclusão social.
8
CAPÍTULO III
A EXCLUSÃO NA ESCOLA E DA ESCOLA
3.1. INTRODUÇÃO
Ao abordar a exclusão escolar, deve-se definir dois pontos fundamentais. Neste
capítulo serão apresentados os tipos de exclusão que ocorrem na escola pública: a exclusão
da escola e a exclusão na escola, e os fatores que são inerentes à evasão escolar promovida
pela própria escola
3.2. DESENVOLVIMENTO
A exclusão praticada pela escola é um dos grandes males do sistema educacional
brasileiro. Este problema se agrava na medida em que tem como base um preconceito
cultural, pois a cultura que adotamos é basicamente de classe média, branca, individualista
e urbana. Isso culmina com a expulsão do exército de crianças das camadas populares, para
as quais a escola é quase um país estrangeiro. Elas sofrem discriminações tanto de ordem
econômica quanto racial que ajuda a afastá-las, e a escola não sabe como lidar com esse
problema.
As escolas têm um processo perverso, o currículo não é interessante para os alunos,
pois
“as crianças dos meios populares sentem grande estranheza
diante da linguagem, normas e valores da escola, que são
totalmente diferentes daqueles a que estão habituadas. Elas
se sentirão ainda mais inferiorizadas pelo fato de não
poderem trazer para a escola sua maneira de falar e sua
experiência na família e no bairro menos favorecido. Elas se
sentirão perdidas diante da falta de sentido e utilidade
imediata dos exercícios escolares, confusas pelo lado
artificial das situações vividas em sala de aula. Este mal-
estar experimentado pelas crianças dos meios menos
favorecidos pode desembocar numa atitude de recusa da
escola, que se traduz em erros constantes, num mutismo
9
dentro da sala de aula, em suma, na instalação progressiva
do aluno numa situação de fracasso”. (Harper et al.,1985, p.
75).
Segundo o Professor Alceu Ferraro, pesquisador do CNPq, é preciso distinguir
entre os que deveriam freqüentar a escola e não freqüentam – os excluídos da escola dos
alunos marginalizados por apresentarem altos índices de reprovação e repetência esses são
os excluídos na escola.
Em 1991, seiscentas mil crianças na faixa de nove anos estavam fora da escola.
Cinco anos depois, esse total havia diminuído para 223 mil crianças – uma queda superior
a 60%, que revela uma significativa redução no número dos excluídos da escola. Ao
mesmo tempo, contudo, ocorreu um grande aumento nas taxas de reprovação e repetência,
que registram a exclusão na escola.
Trabalhadores rurais, pedreiros, caseiros, funcionário públicos ou desempregados,
incentivam a permanência de seus filhos na escola, alguns que vivem em casas sem água
encanada, sem energia elétrica e instalação sanitária, com uma renda per capta mensal de
até R$ 45,00, ou seja, R$ 1,50 por dia, para comer, se vestir e estudar (isso se
considerarmos uma família com quatro pessoas e com o salário mínimo nacional), é uma
realidade que torna impossível falar em melhoria da aprendizagem e o fim da repetência.
Os cidadãos que historicamente são alijados dos seus direitos mais fundamentais
contribuem para uma real vulnerabilidade da criança e das famílias, que sequer conseguem
ser atendidos pelos sistemas educacionais públicos, pois os pais, em sua maioria
analfabetos ou alfabetos funcionais, sem conseguirem transpor o “muro da escola”, por
desinformação, ignorância ou alienação, auxiliam na dura realidade de exclusão dos seus
próprios filhos. Estranhamente os governos ignoram essas crianças que não entram na
escola, mas também não fazem parte das estatísticas oficiais, muito embora elas existam o
governo informa que o acesso à escola está praticamente universalizado.
A pedagogia da repetência
Sob aspectos gerais, encontramos a idéia de que
“Existe entre nós uma cultura do fracasso que dele se
alimenta e o reproduz. Cultura que legitima práticas, rotula
fracassados, trabalha com preconceitos de raça, gênero e
10
classe, e que exclui, porque reprovar faz parte da prática de
ensinar – aprender – avaliar”. (Arroyo, 2001, p. 12).
A reação dos professores para inovações é impressionante. Abolir os “mecanismos
seguros” em avaliação, significa abrir mão das notas e das provas, que funcionam como
rede de segurança em termos de controle exercido pelos professores sobre seus alunos.
Controle que parece não garantir o ensino de qualidade que tanto é pretendido. Apoiar-se
nos conteúdos listados e nos métodos tradicionais de transmissão, legitimam as concepções
elitistas, seletivas e excludentes. A questão que passa a ser central é qual cultura escolar é
essa, quais seus componentes e qual o seu peso sobre o fracasso escolar. Dessa forma,
“Essa cultura escolar legitima condutas, currículos, avaliações, grades, séries, disciplinas,
tornando tradicionais processos de exclusão popular explicáveis e legítimos, pedagógica e
socialmente”. (ARROYO, 2001, p. 17).
Isto se explicita mais claramente,
“Como por exemplo, lembremos que a gramática escolar, a
matemática escolar, a física escolar... não fazem parte – a
exceção de alguns conceitos mais globais – da cultura do
homem moderno. Nós não dominamos, não precisamos
dominar uma grande porcentagem de ´saberes` sobre os
quais nossos filhos são avaliados, e até são reprovados, nas
cinco ´disciplinas` que têm que suportar cada dia, por
duzentos dias anuais, por oito anos de suposta educação
básica”. (Arroyo, 2001, p. 22).
Nos últimos anos surgiram como programas de governo, propostas de promoção
automática para o ensino fundamental, em resposta, justamente, a séria constatação sobre
índices de evasão e repetência na escola pública, com isso surgem diversas correntes
antagônicas, pois diante da perspectiva da promoção automática uns afirmam que o aluno
passará de série sem o conhecimento necessário para a série posterior. Outros, que é uma
decisão governamental para mascarar as estatísticas deprimentes. Ainda encontra-se a
corrente que, por resistência às mudanças, engordam a fileira dos opositores.
Essas correntes encontram o entendimento, que a proposta pedagógica de
não-reprovação no ensino fundamental, como sendo uma proposta de não-avaliação, uma
total eliminação da prática avaliativa nas escolas. Seus comentários sugerem um abandono
total dos alunos pelos professores, que deduz a prática de avaliação como apenas a
11
realização de provas e atribuições de notas, observando-os em situações programadas. Ou
seja, consideram o não reprovar como não-avaliar. Portanto, defendem a prática
classificatória e seletiva em nome da modernidade sem repensar o processo de avaliação.
Esse controle não garantirá o ensino de qualidade, uma vez que
“A verdade é que tal sistema classificatório é tremendamente
vago no sentido de apontar as falhas do processo. Não
aponta as reais dificuldades dos alunos e dos professores.
Não sugere qualquer encaminhamento, porque discrimina e
seleciona antes de mais nada. Apenas reforça a manutenção
de uma escola para poucos”. (Hoffmann, 1994, p. 26).
Todos estes aspectos contribuem para a permanência da pedagogia da repetência.
3.3. CONCLUSÃO
Na evasão escolar encontra-se o aluno numa situação de fracasso traduzida em
constantes erros e, por conseqüência, a reprovação e a competência. Isso resulta de um
processo equivocado, pois o currículo, a linguagem, normas e valores da escola são
estranhos a ele. A sua história de vida é abandonada para que ele possa adotar “as
verdades” que a escola já determinou.
Os filhos das camadas populares sentem-se como estranhos e inferiorizados diante
da falta de sentido e utilidade das atividades escolares.
A escola exclui os alunos na medida em que trata todos de maneira uniforme,
professores apóiam-se em conteúdos listados e nos métodos tradicionais, resistentes à
mudança, pois não adaptam o currículo à sua clientela, atribuem à avaliação uma
concepção de medida e classificação, reforçando os mecanismos seguros de controle sobre
seus alunos.
A solução seria professores prontos para a jornada de construir conhecimentos,
interligar a teoria à prática, estabelecendo relações entre conteúdos do ensino e a realidade
social escolar, sobretudo construindo uma perspectiva crítica que além de refletir sob sua
própria realidade procure examinar a finalidade do seu papel nesta triste história.
12
CAPÍTULO IV
OS INCENTIVOS À PERMANÊNCIA NA ESCOLA:
SOLUÇÃO OU PALIATIVO.
4.1. INTRODUÇÃO
No alvorecer do Século XXI, o Brasil tem dentre seus maiores desafios a
universalização do Ensino Fundamental e a garantia desses alunos nas escolas.
Pesquisas mostram que a primeira parte desse desafio está em curso e tem
apresentado resultados significativos, que será abordado no próximo capítulo; porém, no
que diz respeito à permanência dessas crianças pelo menos até a conclusão do Ensino
Fundamental, ainda nos deparamos com um quadro desastroso.
O Estado investe muito, mas as estratégias utilizadas têm sido uma verdadeira
tragédia nacional, traduzida no desperdício de imensos recursos materiais e humanos, sem
alcançar a escola de qualidade, que atenda aos anseios da população e os objetivos de
desenvolvimento do país.
Uma nação de recorte tecnológico e que pretende a modernização, não pode excluir
os despreparados fingindo que nada tem com isso, negando uma educação que permita a
população escolar enfrentar o mundo competitivo em que viverá. Perpetuando a
ignorância, o Brasil está formando gerações de perdedores e está assassinando o seu
próprio futuro.
4.2. DESENVOLVIMENTO
Através de publicação do próprio Ministério da Educação e Cultura – MEC, que
divulga resultados nos quais constata discretamente que as estatísticas revelam um
“fenômeno independente do sucesso escolar incluindo para todos os países os anos que os
alunos eventualmente repetem as séries”. A tradução deste fato, segundo Aloysio Biondi,
decano do jornalismo brasileiro, é que “em bom português, o avanço estatístico é
enganoso, reflete exatamente o índice da repetência na rede nacional brasileira, como os
próprios dados do relatório de MEC comprovando o fenômeno”. (Biondi, 2000, p. 70).
13
Para garantir o acesso à escola, a Constituição da República Federativa do Brasil de
1988, em seu artigo 208, no inciso XII, estabelece que:
“O dever do Estado com a educação será efetivado mediante
a garantia de atendimento ao educando, no ensino
fundamental, através de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde”. (Alves, 2001,
p. 160).
Merenda Escolar
Dentre as medidas implantadas pelo governo para minimizar a baixa qualidade de
ensino, a merenda escolar, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAF),
foi uma das primeiras, que se iniciou há quarenta anos. Este programa deu origem à atual
Fundação de Assistência ao Estudante (FAE).
A parceria representada pelo binômio Darcy Ribeiro e Leonel Brizola,
respectivamente secretário estadual de educação e cultura e governador do Estado do Rio
de Janeiro (1983/86), iniciou uma considerável reestruturação na qualidade da merenda
escolar, que se caracterizou pela descentralização da aquisição dos gêneros alimentícios
pelos próprios municípios do Estado, com isso melhorando sensivelmente a qualidade da
merenda oferecida. Esta iniciativa, inicialmente de caráter limitado, pois que, efetivada no
Estado do Rio de Janeiro, por seus resultados, foi estendida a todos os demais estados
federados, uma vez que encampada pela União.
Com a criação da merenda escolar de qualidade estendida a todos os
estabelecimentos de ensino fundamental, surgiram várias críticas no sentido de que “a
escola não é restaurante”, sendo tal iniciativa considerada mero assistencialismo.
Entretanto, a realidade nacional demonstrou ao correr dos anos, o acerto de tal medida,
pois se constituiu num fator fundamental para a melhoria geral da escola. Observe-se que:
“a assistência alimentar de uma escola brasileira ainda é um dos grandes atrativos para a
população que chega em busca de matrícula. Um pequeno pão é abençoado por uma mãe
de aluno pobre, com quinze filhos para alimentar, quanto mais uma merenda completa e
um almoço-lanche”. (EBOLI, 1983, p. 47). Com a implantação desse projeto alimentar o
governo solucionou um grande problema quanto à permanência e o aprendizado do aluno,
pois “aquele imenso grupo de meninos desnutridos, anêmicos, corroídos pela verminose,
14
dentes cariados, não prenderiam nada, nem ao menos se beneficiariam do convívio dos
colegas”. (Eboli, 1983, p. 47).
Programa Nacional do Livro Didático
Outro recurso utilizado pelo governo federal para a manutenção do aluno na escola
e melhoria na qualidade do ensino, foi a criação do Programa Nacional do Livro didático,
em 1985, que distribui gratuitamente livros didáticos para os alunos das escolas públicas
do Ensino Fundamental de todo o Brasil.
No ano de 2000, foram distribuídos por este programa 72 milhões de livros
didáticos, beneficiando diretamente 33 milhões de alunos em 170 mil escolas.
O ministro de Educação e Cultura, Paulo Renato de Souza, declarou que “há muitas
ações para melhorar a qualidade de ensino no país, como o Programa Nacional do Livro
Didático e os Parâmetros Curriculares”. (Jornal do Commércio, 30/09/2001). Desde
1995, o Ministério da Educação e Cultura vem desenvolvendo ações que visam a melhoria
da qualidade do livro didático utilizado nas escolas públicas de todo o país. Para tanto, uma
das estratégias foi criar critérios para a realização de uma avaliação dos livros inscritos no
programa.
Em 1997, nos primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental, existiam 466
obras inscritas, que ao final do processo de avaliação foram assim classificadas: 63
recomendadas, 42 recomendadas com ressalvas, 281 não recomendadas e 80 excluídas.
Após esta avaliação, foi publicado um guia de livros didáticos até a 4ª série do Ensino
Fundamental, que foi distribuído às escolas para servir de instrumento auxiliar na escolha
do livro pelo professor.
Já na segunda avaliação, em 1998, foram feitas algumas inovações, entre elas, a
inscrição de cartilhas para a avaliação. Desta feita foi apresentado um total de 454 títulos,
que foram assim classificados: 19 recomendados com distinção, 47 recomendados, 111
recomendados com ressalvas, 211 não recomendados e 76 excluídos.
Segundo avaliação do próprio governo, “durante esta avaliação foi possível
detectar uma melhoria considerável dos livros, o que se refletiu no resultado final que
comparativamente no ano anterior apresentou um número menor de livros excluídos”.
(MEC, 2001, p. 2). Entretanto, ao analisar tais dados e afirmações, é necessário considerar
alguns pontos. O primeiro é que se existe uma equipe no MEC especializada -
“especialistas de diversas áreas, dirigentes e equipe técnica do MEC, da FAE, da União
15
Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), do Conselho Nacional de
Educação (CONCED), da Câmara Brasileira do Livro (LBL), da Associação Brasileira de
Livros Educativos (ABRALE), da Associação Brasileira de Editores de Livros
(ABRELIVROS), e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) - em promover
análises da qualidade dos livros e se essa equipe excluiu determinadas obras por estarem
fora do padrão e dos critérios determinados pelo MEC, por que o PNLD não os excluiu do
Guia de Livros Didáticos? Por que estes livros excluídos foram oferecidos aos alunos das
escolas públicas, já que não estavam dentro dos critérios de qualidade da avaliação?
O segundo ponto diz respeito aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que
preconizam uma reformulação profunda nas práticas educacionais, dentre elas a de adotar
um livro para servir de “guia” às aulas do professor, prática esta cristalinamente antagônica
aos objetivos e tratamento didático propostos, pelo próprio MEC, nos PCNs. O MEC
investe uma verba astronômica anualmente nos “livros-bengalas”, inclusive os livros
excluídos por seus critérios.
Levando-se em conta que o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) investe
valores que ultrapassam a quantia de 250 milhões de reais anuais na compra de livros
didáticos, não podemos perder de vista que o Tribunal de Contas da União (TCU),
verificou uma perda anual de 90 milhões de reais através de uma auditoria realizada no
PNLD, oriunda de “ausência de adequado monitoramento quanto a utilização dos livros
após a entrega às escolas, ocorrência de eventuais sobras ou faltas, baixo índice de
reutilização e reposição” recomendou “que estudem formas de reduzir o número de títulos
constantes no Guia do Livro Didático e os custos com composição, impressão e
distribuição”.(TCU, 2001).
De toda sorte, o PNLD se apresenta como apenas um paliativo que se presta para
avançar na qualidade de educação do país e de garantir a permanência dos alunos nas
escolas, na medida em que não se configura como um instrumento coerente com a política
educacional traçada pelo MEC que, através dos PCNs, reafirma a necessidade de
“uma proposta flexível a ser concretizada nas decisões
regionais e locais sobre currículos e sobre programas de
transformação da realidade educacional empreendidos pelas
autoridades governamentais, pelas escolas e pelos
professores. Não configuram, portanto, um modelo
curricular homogêneo e impositivo , que se sobreporia à
16
competência político-executiva dos estados e municípios, à
diversidade sociocultural das diferentes regiões do país ou à
autonomia de professores e equipes pedagógicas”. (Abreu et
al. 1998, p. 13).
TransporteAlém das Constituições Federal e Estadual
determinarem a garantia do transporte dos
alunos da rede pública como dever
governamental, a Lei Orgânica de Teresópolis,
de 1990, estabelece que:
ART. 176 - O dever do Município com a educação será
efetivado mediante a garantia de:
V - transporte gratuito aos alunos do primeiro grau
da rede pública de Teresópolis.
Isto reforça o dever do município em relação a esta questão, uma vez que necessita
de regulamentação para a sua efetiva implementação.
Esta lei está entre as estratégias governamentais para impedir a evasão dos alunos
da escola, pois é uma contribuição necessária devido à baixa renda dos alunos das classes
menos favorecidas que os impedem de pagar as passagens dos ônibus para ir e vir às
escolas. Era comum, anteriormente, os alunos freqüentarem as escolas apenas no início de
cada mês, pois os salários dos seus responsáveis sempre acabavam antes do mês.
Como exemplo, em Teresópolis-RJ, temos um monopólio instaurado no transporte
coletivo, que tem dificultado sobremaneira a plena vigência de um transporte gratuito aos
alunos das escolas públicas, monopólio este que em dadas circunstâncias submete o poder
público aos interesses e às regras estabelecidas pela empresa. Este cenário implica em
cadastramento dos alunos, em confecção de carteirinhas, em determinação de linhas e
horários fixados pela empresa, que também determina o ano letivo, uma vez que estabelece
que nas férias os alunos sejam impedidos de participarem de quaisquer atividades
promovidas pela escola. Uma vez estabelecida a linha e o horário (impressos nas
carteirinhas) a empresa interfere em atividades educacionais “fora da escola”, como por
exemplo a ida a uma biblioteca pública, bem como impõe regras autoritárias à organização
17
familiar, uma vez que tem o poder de proibir que um aluno utilize outra linha de ônibus
para se hospedar na casa de um parente, por necessidade imperiosa.
Neste caso, no município de Teresópolis, uma empresa concessionária de transporte
coletivo consegue infringir pelo menos duas vezes a Carta Magna, primeiro a gratuidade
do transporte (Art.280, Inciso VI) e na segunda vez quando não observa que “é livre a
locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos
da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com os seus bens”.
Perante todos esse fatos o direito ao transporte à escola está garantido apenas
parcialmente. É evidente que houve uma contribuição ao acesso à escola, mas o
autoritarismo e a insensibilidade de empresários, quando da regulamentação da lei do
transporte gratuito, dificultam uma das soluções das mais eficientes propostas do governo
até o presente momento.
Bolsa-escola
O Programa Garantia de Renda Mínima, é uma parceria da União com municípios
que queiram incentivar a escolarização das crianças de famílias carentes, com idade entre
sete e quatorze anos, e contribuir para o seu bem estar em casa. Esses recursos financeiros,
no valor de 15 reais por criança matriculada no Ensino Fundamental, são entregues em
espécie às famílias que morem no município participante e atendam aos seguintes critérios:
a) que a renda familiar seja inferior a meio salário-mínimo por pessoa; e
b) filhos ou dependentes menores de quatorze anos, com matrícula e freqüência
comprovadas em escola pública.
A lei 9533, de 11 de dezembro de 1997, que instituiu o Programa Bolsa-Escola
determina que os municípios que podem participar são os detentores de renda familiar per
capita “de acordo com o IBGE 91”, e uma receita tributária per capita “STN 96” inferiores
às médias do seu Estado. (LEI 9533, 97). Disso resulta que, além de ser uma quantia
insignificante para auxiliar alunos das classes miseráveis, a lei se restringe a alguns
municípios, como se em municípios de receita tributária superior à média do seu Estado,
não existissem pobres e nem crianças que abandonam a escola para auxiliar no orçamento
familiar. Mais que vergonhoso, é ultrajante, pois não tende a solucionar o problema e sim a
enganar o povo através da mídia com propagandas indecorosas.
18
Outros projetos
Além dos projetos acima analisados, existem outros implementados pelo governo,
sendo os mais importantes:
a) as classes de aceleração; e
b) o Brasil, um país de leitores.
O Projeto Classes de Aceleração, que tem como objetivo corrigir a defasagem
idade/série, atinge a uma minoria das escolas públicas e os seus resultados são limitados e
duvidosos, pois a criança com o tratamento específico para “acelerar” na aprendizagem,
quando realmente corrige essa defasagem, encontra uma grande dificuldade para
acompanhar a série adequada à sua idade. Portanto, acelera e depois larga novamente na
série recuperada. Essa criança encontra novamente, na série de acordo com a sua idade, um
ritmo de aprendizado já comprovado ser mais rápido que o seu, pois a defasagem
idade/série se apresenta, como uma das causas, nos diferentes ritmos de aprendizagem de
cada aluno. Esse programa foi colocado em prática pelo MEC, para justamente corrigir o
fluxo das crianças do ensino fundamental que estava congestionado, impedindo de abrir
novas vagas.
No Projeto O Brasil, um País de Leitores, é sempre tempo de leitura, sinaliza o
MEC em campanha. Desde 1997 o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), que
visa estimular o hábito da leitura entre professores e alunos e a construção da formação de
uma consciência crítica, com o Projeto Biblioteca da Escola, atingiu apenas 56 mil escolas
públicas, atendendo a 35% das escolas até hoje. Como o MEC pretende criar um país de
leitores se 65% das escolas públicas não tiveram acesso ao acervo básico da Biblioteca da
Escola?
Um menino, um livro. Uma professora lendo para a classe. Uma mãe na rede lendo
para o filho. A corrente de leitores desta história é o cenário do filme da campanha “Tempo
de Leitura”, que o MEC lançou. Nesta mensagem institucional, esqueceu-se apenas de
distribuir os livros às escolas.
Além dos programas oficiais, a sociedade civil se organiza e aparece uma gama de
programas na tentativa de auxiliar o país, como: TV-Escola, Amigos da escola, Axé, entre
outros, além de várias parcerias entre empresas privadas e entidades públicas.
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4.3. CONCLUSÃO
Com os números de evasão escolar tão alarmantes, o governo tenta aparar as arestas
na educação, criando projetos que despendem altos recursos e, intencionalmente,
ingenuamente ou por incompetência, não consegue resolver os problemas educacionais.
Somando os paliativos às demagogias, o ensino fundamental experimenta uma
fábula de projetos e programas faraônicos que na realidade é uma cortina de fumaça, pois a
problemática (fome, transporte, livros e material didático-pedagógico), poderia ser
resolvida sem assistencialismo, bastando que as famílias tivessem condições dignas de
trabalho e salário, através de justiça na distribuição de renda. Neste canário, as verbas
públicas seriam utilizadas na construção de mais escolas e no aperfeiçoamento e
valorização dos professores.
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CAPÍTULO V
CONCLUSÃO
“Mudar é difícil, mas é difícil e urgente”,dizia Paulo Freire. Hoje, Paulo não está
mais entre nós, mas ficou o seu legado de ser um ser humano especial, que acreditava na
possibilidade de superar a injustiça e a desigualdade. “A história é possibilidade” repetia
ele.
Estamos sempre buscando operar mudanças e inovando. Fala-se muito, hoje, em
experiências inovadoras que propõem mudanças, a inovação tem a ver com algo mais
antigo que se quer superar, com a instituição de algo novo no instituído, no existente.
Menos analfabetos e mais gente na escola. É esse o quadro apresentado pela
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE. A Taxa de
analfabetismo na faixa de 10 a 14 anos caiu de 14,8% em 1889 para 5,5% em 1999. A
pesquisa também apontou a queda do número de crianças fora da escola: de 16.2% para
4.3%. Embora os índices de repetência cheguem a atingir, em 1997, nada menos que 26%
dos alunos do ensino fundamental.
Nas entrevistas mais recentes do Ministro Paulo Renato, apoiadas pelo presidente
da República, afirmou que este governo fez mais pela educação do que todo os anteriores.
Além de mais recursos para atingir a melhora do nível de ensino como um todo, defende as
classes de aceleração, para enfrentar as taxas de repetência e atraso escolar - a exclusão
escolar.
O inegável aumento ao atendimento dos alunos no ensino fundamental verificado
nos últimos anos, principalmente nos dois mandatos do presidente Fernando Henrique
Cardoso, tem sua origem na Emenda Constitucional nº 14 de 12/09/96, que garantiu fonte
adicional de recursos especificamente para isso.
Art. 212 – A União aplicará, anualmente, nunca menos de
18, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios 25%, no
mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a
proveniente de transferências, na manutenção e
desenvolvimento do ensino. (Alves, 2001, p. 161).
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§ 5º O ensino fundamental público terá como fonte adicional
de financiamento a contribuição social do salário-educação,
recolhida pelas empresas na forma da lei.
Art 60. Nos 10 (dez) primeiros anos da promulgação desta
Emenda, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
destinarão não menos de 60% (sessenta por cento) dos
recursos a que se refere o caput do artigo 212 da
Constituição Federal, à manutenção e ao desenvolvimento do
ensino fundamental, com o objetivo de assegurar a
universalização de seu atendimento e a remuneração
condigna do magistério. (Alves, 2001, p. 250).
Universalizar a escola no ensino fundamental, garantindo acesso e a permanência a
todos é um objetivo tão gigantesco quanto conciso. Não é tarefa para um governo só,
talvez não seja para uma geração, mas as iniciativas desse processo já estão em curso, as
estratégias implementadas estão gerando mudanças substanciais. Porem é preciso
consolidá-las e apontar para futuros avanços para um ensino de qualidade e solucionar o
grande problema da exclusão escolar.
Além dos recursos, já garantidos por dez anos (vide a Constituição), é ainda
condição indispensável partir de uma concepção precisa sobre a importância política e
social. Uma concepção que forme uma política educacional lúcida, realista e conseqüente
que oriente os esforços, crie condições novas e sólidas sobre quais avanços futuros são
possíveis.
Dentre as novidades que se destacam hoje, está, certamente a idéia força que se
traduz pela palavra parceria, neste quadro é bom lembrar a Constituição de 1988, que
estabelece o principio da função social da empresa. A atividade econômica tem por fim
“assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social”(Art.170). O
princípio que deve ser buscado nas parcerias parece que foi dado no próprio preâmbulo da
nossa Constituição cidadã: instituir um Estado que assegure “o bem estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos.”
Nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 70, surgiram novas abordagens da
questão educacional, que procuram identificar e diagnosticar o fracasso escolar no país.
Neste momento emergem os projetos políticos de reforma educacional que desencadeiam
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programas de diversos tipos, convergindo para um mesmo objetivo: a inclusão escolar das
crianças das camadas populares. Infelizmente, entretanto, quase todos com caráter
paliativo, aparecem, apresentam as estatísticas com algumas distorções e acabam no
esquecimento com o passar dos anos. Poucos são os programas que atravessam governos.
Porém a questão da escola pública não se reduz apenas ao acesso e à permanência,
como querem alguns educadores. Esta questão é indissociável da qualidade de ensino e da
resposta à pergunta: que escola queremos?
A escola pública que queremos, hoje, não é apenas a extensão da escola burocrática
do Estado; queremos discutir a função social da escola, colocando em questão a função
social da escola, os seus conteúdos e a sua gestão. Não negamos o papel do Estado como
principal articulador das políticas sociais, o que está em questão são as políticas públicas
fundadas numa concepção da educação burguesa, que expulsa tantas crianças da escola.
De toda a sorte, o fato é que, sob uma estrutura que se pretende modernizante e
democrática, democratizar o ensino não significa apenas expandir a rede de escolas,
mantendo os padrões elitistas e o privilégio social. O ensino precisa ser democrático na sua
estrutura, na mentalidade dominante, nas pedagogias e nos produtos dos processos
educacionais.
Um grande movimento deve emergir, como em alguns países da América Latina,
que valoriza a experiência cotidiana e que coloca a qualidade de vida como objetivo da
educação; a satisfação das necessidades básicas das camadas populares - saúde, moradia,
trabalho e alimentação – também passa a ser preocupação da escola, mostrando que a
transformação da sociedade não se faz apenas com grandes idéias e a partir do poder do
Estado, mas também na luta invisível dos pequenos grupos. A tarefa da educação não pode
ser uma tarefa exclusiva do Estado: é também uma tarefa da sociedade e uma obrigação do
indivíduo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Ana Rosa et. al. Parâmetros Curriculares Nacionais – Primeiro e Segundo
Ciclos: Introdução,Brasília: MEC/SEF, 1998.
ALVES, Geraldo Magela., Constituição da República Federativa do Brasil. Rio de
Janeiro: Forense, 2001.
ARROYO, Miguel G. “Fracasso-sucesso: o peso da cultura escolar e do ordenamento da
Educação Básica”, In. Para além do Fracasso Escolar, Campinas: Papirus, 2001.
EBOLI, Terezinha. Uma experiência de Educação Integral. Rio de Janeiro: FAPERJ,
1983.
HARPER, Babbete., et al., Cuidado, Escola!, São Paulo: Brasiliense, 1985.
HOFFMANN, Jussara, Avaliação Mediadora – Uma prática em construção da pré-
escola à universidade. Porto Alegre: Educação & Realidade, 1994.
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MEC. Relatório. http://www/programanacionaldolivrodidático.gov.br.
RAINHO, João Marcos. Pela porta dos fundos, In. Revista Educação, nº 245, São Paulo:
Segmento, 2001.
SANTAYANA, Mauro. “O Terceiro Estado Nacional”, In. Em defesa do interesse
nacional, Rio de janeiro: Paz e Terra, 1995.
TCU. Informativo. http://www/tcu.gov.br.