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    SNDROME DE BURNOUT: UM ESTUDO NO INSTITUTO FEDERAL DA BAHIA

    Jos Lamartine de A. Lima NetoIFBA Campus Salvdor. E-mail: [email protected] ou [email protected]

    Henrique Queiroz Coqueiro

    FTC-Salvador. Graduando em Psicologia.

    Vnia Nora Bustamante DejoFTC-Salvador. Professora de Pesquisa em Psicologia.

    Paulo Srgio Rodrigues ArajoFTC-Salvador. Professor de Pesquisa em Psicologia.

    As condies de trabalho no Brasil tm exposto diversos profissionais, especialmente professores, a um desgaste emocional que pode atingir nveiselevados, conhecido como Estresse Crnico do Trabalho, ou Sndrome de Burnout (SBO), provocando diversas perdas em qualidade de trabalho ede vida, alm de prejuzos organizacionais, especialmente quando o profissional perde a motivao, adoece ou se afasta para tratamento. Foirealizado um estudo no Instituto Federal da Bahia (IFBahia), na poca Centro Federal de Educao Tecnolgica da Bahia (CEFET-BA), cominformaes coletados atravs do Inventrio Burnoutde Maslach (Maslach Burnout Inventory, MBI) (MASLACH e JACKSON, 1981), buscandoidentificar a possibilidade de existncia desta Sndrome entre professores de ensino profissionalizante da Instituio. Os resultados foram analisadoscom base em mtodos estatsticos de anlise fatorial, mostrando-se condizentes com outros j realizados no Brasil.

    Palavras-chave: Sndrome de Burnout; Inventrio de Burnoutde Maslach (MBI); Sade docente; Anlise Fatorial.

    INTRODUO

    O valor do trabalho vem sofrendo muitas mudanaspor influncia de questes sociais, polticas, competies,avanos cientficos e tecnolgicos, comunicao digital,etc., implicando em alteraes no seu valor intrnseco.Estas mudanas ocorridas no Brasil nas ltimas dcadasrefletiram diretamente em diversos setores da sociedade,inclusive nesta Instituio de ensino profissionalizante,desde sua infra-estrutura, estrutura organizacional,acadmica, recursos humanos, remunerao quando, nadcada de 1990 ocorreu a mudana de Escola TcnicaFederal da Bahia para Centro Federal de EducaoTecnolgica da Bahia (Cefet-Ba), uma nova instituio,com um novo paradigma no cenrio da formaotcnica/tecnolgica. Professores que formaram muitasgeraes de profissionais e cidados, todos, fazendo parteda mais antiga rede de ensino tcnico do pas com quaseum sculo de existncia, se defrontaram com algo novoque ampliou as possibilidades de formao com averticalizao do ensino em que, na mesma instituio possvel fazer o ensino tcnico profissionalizante,

    tecnolgico, graduao, e ps-graduao e inserir apesquisa e extenso no trip da formao (CEFET-BA,2008)

    Sob uma tica ontolgica, o trabalho assume umaimportncia crucial na sociabilidade humana, j que, aotransformar a natureza e o ambiente, adapta-os as suasnecessidades e dos demais, atravs da produo de valoresteis vida em comum. Esta relao com o trabalho passaa ter uma importncia ainda maior quando se percebe quea mudana que o homem promove na natureza tambm omodifica, e isso ocorre mediante a (co)laborao, divisode tarefas e (co)operao com os da mesma espcie.

    O objetivo desta pesquisa investigar a presena da

    Sndrome de Burnout entre os docentes da Instituio,medida atravs de um ndice que ser proposto nestetrabalho, justamente pela dificuldade em se localizar naliteratura especializada, algo semelhante. A forma dequantificao fica atrelada a resultados estatsticos globais.

    Para dar incio a este trabalho partimos da condiode hiptese nula baseada no pensamento do filsofoPopper (2001, p 86) que defende a idia de que todahiptese ou teoria dever ter uma grande possibilidade defalseabilidade, permitindo que possa vir a ser facilmentesubstituda por uma nova e melhor hiptese ou teoria.Assim, a hiptese nula um ponto de partida dainvestigao. Desta forma adotaremos que no existeSndrome de Burnout entre seus docentes.

    FUNDAMENTAO TERICA

    Na hegemonia capitalista, o trabalho converteu-seem valor de uso e de mercadoria, ambos valores de troca.Quando ocorre isso, o trabalhador utiliza a si mesmo comovalor de intermediao entre mercadoria e fora detrabalho, numa relao contraditria (SANTOS e LIMAFILHO, 2004). Submetido a este jogo dialtico, otrabalhador v sua atividade destituda de sentido

    produz bens que no lhe pertencem e cujo destinoescapa ao seu controle. Assim, no pode se reconhecer

    no produto de seu trabalho, no concebe aquilo quecriou como fruto de sua livre atividade criadora. Acriao (o produto), na medida em que no pertence aocriador (ao trabalhador) se apresenta como um serestranho, uma coisa hostil e no como resultado de suaatividade e do poder de modificar livremente a natureza.A fora humana de trabalho, ao invs de serreconhecida e valorizada, transformou-se emmercadoria. Por outro lado, na medida em que otrabalho no produz a mercadoria para seu uso e simpara o mercado, na medida em que o produto do seutrabalho escapa totalmente ao seu controle e pareceadquirir vida prpria, o processo da produo ecirculao das riquezas obscurece e foge aoentendimento do trabalhador e o movimento das coisas

    no mercado aparece como um movimento automtico,superior vontade dos homens. A mercadoria no vista como a expresso de um trabalho humanoconcreto, o que Marx denominou como fetichismo damercadoria. (KONDER, 1945; 151-152).

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    Howell (1969) reportou que desde sempre os povosde alguma forma tentam exercer o controle sobre osoutros, ou sobre as situaes e para isso se valeram deoferendas aos deuses, no passado, at recursos damatemtica avanada, estatstica e computao, naatualidade. Porm, o exerccio do controle se d numcontexto de relaes interpessoais no qual todos buscam amesma coisa. Com freqncia tambm as pessoas dedicam

    certo esforo para controlar eventos que afetam o seucotidiano e, sem dvida, agradvel acreditar que isso possvel. Segundo Castells (2004) a alta tecnologia daatualidade trouxe como contrapartida a possibilidade depermeabilidade muito maior das relaes e um aumentosignificativo de variveis que torna impossvel o controle.

    Os tempos mudaram e, com ele, mudou o ensino, aescola e o professor. Estas transformaes supem umprofundo e exigente desafio pessoal para os professoresque se propem a responder s novas expectativasprojetadas sobre eles (ESTEVE, 1999, p.31). Isso temproduzido impacto na qualidade da educao,especialmente a pblica, e no exerccio profissional dos

    educadores. Com o meritrio reconhecimento social, adocncia j foi considerada um sacerdcio, uma vocaoque exigia dedicao abnegada, quase herica, que traziaum sentimento de identidade carregada de orgulhoprofissional. Esta profisso, que no passado, inserida emoutro contexto scio-poltico-econmico, tinhareconhecido prestgio social, implicava tambm emmnimas preocupaes com as condies de trabalho(CODO, 1999).

    Nas ltimas dcadas as atividades profissionais setornaram complexas, especialmente a atividade educativa,desdobrando-se em reas muito diversas, como as geradasa partir das novas tecnologias e dos desenvolvimentos

    cientficos e culturais. Oliveira (2005) afirma que, mesmoos docentes com formao considerada adequada (ps-graduados), mas que esto exercendo suas funessubmetidas a condies inadequadas, travam uma batalhadiria para convencerem-se de que todo dia importanteacordar, e ir trabalhar, demonstrando que a organizao daescola contribui para o fortalecimento da identidadedocente, e essa por sua vez no permite que o professoradmita que deseja abandonar a profisso. Santos e LimaFilho (2004) afirmam que esses docentes apresentam asmarcas do sofrimento sob a forma de doenasocupacionais relacionadas sade mental, nas quais opsiquismo humano afetado pelo sentimento de

    impotncia e desvalorizao.O Estresse Crnico do Trabalho, conhecido como

    Sndrome de Burnout (SBO), um sentimento dedesesperana que acomete aqueles que desistem, poisperderam a confiana em seu poder de modificarcircunstncias, a impotncia diante do que pareceirreversvel, do imutvel (COSTA, 2002, p. 34). Foidefinida como uma reao tenso emocional crnicagerada a partir do contato direto e excessivo com outrosseres humanos (MASLACH e JACKSON, 1981, p. 99).

    O termo Burnout foi utilizado pela primeira vezpelo mdico psicanalista Freudenberger, que descreveueste fenmeno como um sentimento de fracasso eexausto causado por um excessivo desgaste de energia erecursos (FREUDENBERGER, 1974) e,complementando seus estudos em 1975 e 1977, incluiu emsua definio comportamentos de fadiga, depresso,

    irritabilidade, aborrecimento, sobrecarga de trabalho,rigidez e inflexibilidade.

    Pesquisas tm demonstrado que o Burnout ocorreem trabalhadores altamente motivados, que reagem aoestresse trabalhando ainda mais at entrar em colapso(SANTOS e LIMA FILHO, 2004). O entendimento dosconceitos multidimensionais da SBO envolve trscomponentes: a) Exausto Emocional, que se reflete no

    fato de os trabalhadores sentirem que no podem dar maisde si mesmos a nvel afetivo; b) Falta de envolvimentopessoal no trabalho com tendncia a uma evoluonegativa, com perda da qualidade, representando naspesquisas como a Relao Profissional e:c)Despersonalizao gerando cinismo, desafetao eesfriamento no trato com o outro.

    As primeiras pesquisas sobre a SBO so resultadode um estudo das emoes e das maneiras de lidar comelas, desenvolvido com profissionais que necessitavammanter contato direto com outras pessoas (trabalhadores darea da sade, servios sociais, educao, etc.), uma vezque se percebia nestes profissionais a manifestao de

    estresse emocional e sintomas fsicos. Os estudos iniciaisforam realizados a partir de experincias pessoais dealguns autores, estudos de caso, estudos exploratrios,observaes, entrevistas ou narrativas baseadas emprogramas e populaes especficos (CORDES eDOUGHERTY, 1993; MASLACH, SCHAUFELI eLEITER, 2001).

    Verificou-se que somente a partir de 1976 osestudos sobre SBO adquiriram um carter cientfico, umavez que foram construdos modelos tericos einstrumentos capazes de registrar e compreender estesentimento crnico de desnimo, apatia edespersonalizao. Christina Maslach, psicloga social

    americana, foi quem primeiramente entendeu, em estudoscom profissionais de servios sociais e de sade, que aspessoas com SBO apresentavam atitudes negativas e dedistanciamento pessoal. Christina Maslach, Ayala Pines eCary Cherniss foram as estudiosas que popularizaram oconceito de Burnout e o legitimaram como uma importantequesto social (FARBER, 1991).

    No meio destes estudos, identificou-se umasintomatologia bastante ampla da SBO, cujos indicadores,citados por Volpato (2003, p. 99) so:

    Fsicos - fadiga constante e progressiva, distrbios dosono, dores musculares ou osteo-musculares, cefalias,enxaquecas, perturbaes gastrointestinais,

    imunodeficincias, transtornos cardiovasculares,distrbios do sistema respiratrio, disfunes sexuais,alterao menstrual;

    Comportamentais - negligencia ou excesso deescrpulos, irritabilidade, incremento da agressividade,incapacidade para relaxar, dificuldade na aceitao demudanas, perda de iniciativa, aumento do consumo desubstancias psicoativas estimulantes (anfetaminas,cocana e seus derivados), comportamento de alto-risco,suicdio;

    Psquicos - falta de ateno, de concentrao, alteraode memria, lentificao do pensamento, sentimento dealienao, sentimento de solido, impacincia,sentimento de insuficincia, baixa auto-estima,labilidade emocional, dificuldade de auto-aceitao,

    desnimo, depresso, desconfiana, parania.

    No meio das discusses sobre qual o modelo dedesenvolvimento mais adequado para explicar o processoda SBO, diversos autores fazem suas proposies em que

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    abordam contextos diferentes, empregando mtodosdistintos, obtendo resultados diversos. O modelo adotadona anlise deste trabalho mostrado na tabela 1, foidesenvolvido por Golembiewski, Munzerider e Carter(1983), que consideraram as diversas fases de progressoda sndrome, e foi baseado na diviso das pontuaesconsideradas elevadas ou rebaixadas das trs dimenses

    consideradas pelo Maslach Burnout Inventori (MBI). uma escala composta por 8 nveis de gradao, comeandode graus baixos em exausto emocional (EE),despersonalizao (DE) e reduzida realizao profissional(RP), at culminar em valores altos nestes trs fatores.Segundo os autores, no necessariamente estes nveis sesucedem um a um, podendo haver saltos entre eles.

    Tabela 1. Modelo de fases de Golembiewski, Munzerider e Carter (BENEVIDES-PEREIRA, 2007, p 43)

    FASES DO PROCESSO DE BURNOUT

    1 2 3 4 5 6 7 8EE B A B A B A B ARP B B A A B B A ADE B B B B A A A A

    A=Valor alto em relao mdia B=Valor baixo em relao mdia.

    MTODO

    Populao, amostra e rea, Fonte de dados, Coleta deDados

    De um universo de 238 professores dos cursos deformao de tcnico-profissional do Centro Federal deEducao Tecnolgica da Bahia no bairro do Barbalho emSalvador, este trabalho contou com a adeso de 48sujeitos, representando 20,17%, sendo que o mnimoestatstico requerido corresponde a raiz quadrada do total,ou seja, 16 professores ou 6,7%.

    O perodo de coleta ocorreu nos meses de abril emaio de 2008, tendo sido realizada divulgao prvia, comconvite participao, pela intranet. Isso resultou na

    participao voluntria de muitos profissionaispreenchendo os dados e devolvendo por e-mail, sendo quea maior parte foi obtida no processo corpo-a-corpo, nassalas de trabalho, laboratrios e coordenaes.

    Instrumentos de investigao - Definio de variveisA metodologia da pesquisa envolveu reviso

    bibliogrfica, seguida da aplicao de um questionrioscio-demogrfico e um questionrio-padro desenvolvidopor Maslach Jackson e Leiter (1997), o MBI MaslachBurnout Inventary, a amostra selecionada correspondente aprofessores de ensino profissionalizantes, anterioresqueles incorporados com a mudana para Cefet-Ba.

    O MBI traduzido e adaptado, auto-aplicado etotaliza 22 itens que so afirmaes a fim de apontar equalificar a ocorrncia de Burnout. Em sua versoamericana, a freqncia das respostas avaliada atravs deuma escala de pontuao que varia de 0 a 6. Utilizamos,neste estudo, o sistema de pontuao de 1 a 5, usado porTamayo (1997) na adaptao brasileira do instrumento,uma vez que foi verificado que os sujeitos daquelapesquisa apresentavam dificuldade em lidar com muitasopes de resposta dos instrumentos, devido especificidade dos critrios da escala original. Emboratenhamos optado pela escala de cinco respostas, foiutilizado o mesmo tipo de categoria de freqncia utilizada

    na verso americana, isto , 1 para nunca, 2 para algumasvezes ao ano, 3 para algumas vezes ao ms, 4 para indicaralgumas vezes na semana e 5 para diariamente.

    O questionrio scio-demogrfico tem a finalidadede identificar qual o perfil do pblico que participa da

    pesquisa, suas caractersticas pessoais e funcionais. Osdados obtidos correlacionados com os dados do MBI,sero apresentados em trabalho futuro.

    Plano de AnlisePara a coleta dos dados, primeiramente foi

    realizado um contato com a Direo Geraldo CEFET-BA,quando foi apresentado o objetivo do estudo a fim de obtera autorizao e o apoio para a aplicao do instrumento. Apesquisa tem aprovao do Comit de tica da Instituiode afiliao dos pesquisadores, tendo sido realizados osprocedimentos ticos conforme resoluo 196 do ConselhoNacional de Sade (CNS), no que diz respeito pesquisacom seres humanos (MINISTRIO DA SADE, 2008). Apartir dos dados coletados em campo, e luz do referencial

    terico-metodolgico estabelecido, fez-se a sistematizaodos dados e a anlise dos resultados obtidos. Os dadosforam digitados em planilha do Excel Microsoft e,posteriormente, o banco de dados foi analisado no pacoteestatstico STATISTICA, verso 6.0.

    RESULTADOS E DISCUSSES

    A quantidade de respostas ao questionrio foi acimado esperado, tanto pela forma eletrnica (e-mail) comopela coleta padro, realizada pessoalmente pelospesquisadores com os sujeitos. Feito o contato, foi

    explicado a finalidade da pesquisa de uma forma quereduzisse ao mximo a interferncia no resultado, j que osujeito pode responder para atender a expectativa dopesquisador e no do prprio instrumento de pesquisa. Emseguida foi lido o instrumento de proteo do sujeito que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, uma vezque este projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit detica em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e Cincias.

    Comparando a anlise destes resultados comtrabalhos realizados por Esteves (1999), por Santos e LimaFilho (2004) e por Carlotto (2004), mostra que houve umacoerncia na aplicao do mtodo, evidenciando suacapacidade em identificar a presena da SBO. Este mtodo

    indica uma possibilidade estatstica e no um diagnsticomdico definitivo.

    O ambiente dos entrevistadosest sob influencia dealgumas variveis, identificadas pelo questionrio scio-

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    demogrfico. Neste grupo, 55% pertence ao sexomasculino, 56% casado ou est em relao estvel, 70%possui filhos, 66% concentra-se na faixa de idade de 41 a50 anos e 60% possui mais de 18 anos de profisso dedocncia.

    Destes entrevistados, 18% esto no incio daprofisso com at 5 anos de atividade. uma fase em quealguns podem se sentir mais ansiosos pela expectativa de

    relacionamento com os novos colegas, o desempenhofrente aos alunos, mas tambm por estarem em plenoperodo de Estgio Probatrio, que tem durao de 3 anos,sentindo uma diferena de tratamento e, algumas vezes, decarga de trabalho em relao ao professores mais antigos.

    Do grupo estudado 6,3% eram graduados, 33,3%especialistas, 43,8% mestres e 14,6% doutores ou ps-doutores.

    Quanto moradia, 19% sinalizaram que vivem noaluguel no possuindo casa prpria. Isso pode ser umavarivel com alguma importncia pelo aspecto emocional,

    j que ter casa prpria implica em segurana eindependncia socialmente aceitos.

    Os professores trabalham em mdia 40,6 horassemanais variando em um mximo de 80 horas e ummnimo de 16 horas (no regime de trabalho de 20 horassemanais). No quesito horas de lazer 12,5% noresponderam e 10,4% informaram zero horas de lazer,ou seja, 22,9% dos professores, j contatado que a SBOtem uma preferncia por esse tipo de postura profissional,

    que nas condies extremas so conhecidos vulgarmentecomo viciados em trabalho ou workaholic.

    Do questionrio scio-demogrfico o item valoresque podem ser melhorados na Instituio, em primeirolugar citado por 71% dos entrevistados, est a necessidadede melhorar a Cooperao, comunicao e integrao.Os entrevistados (60%) assinalaram que a melhoria deveocorrer Inovao e modernizao e na Competncia,

    qualidade, limpeza, rigidez, ordem, disciplina equalificao dos recursos humanos foram os valorescitados por 56%. Em ultimo lugar, esto os valores daambio, competitividade, audcia escolhido por 19%dos entrevistados.

    Validao do construtoOs trabalhos de Carlotto (2004) e de Tamayo

    (1997) foram os norteadores para a utilizao de mtodoestatstico de anlise fatorial. A adequao da amostra foimensurada pelo critrio determinante da matriz decorrelao. Existem intercorrelaes estatisticamentesignificativas e de valores altos. Isso indica que a matriz de

    dados adequada para proceder anlise fatorial e pararealizao da anlise fatorial foram includos os 22 itensdo MBI.

    Foi observado que as afirmaes constantes noinstrumento MBI dos itens de Q1 a Q22 esto relacionadasumas com as outras com graus variados de proximidade(Grfico 01), refletindo uma proximidade estatstica paragrupos associados s trs dimenses ou fatores constantesdo MBI

    Grfico 01.Arvore de conexes entre as 22 itens do MBI (STATISTICA for Windows, 1998)

    Considerando-se que as dimenses ou fatores quecompe a SBO podem ser representados de formaindependentes entre si (MASLACH, JACKSON eLEITER, 1996), foi utilizado o mtodo de extrao defatores usando componentes principais, com rotao

    ortogonal Varimax. Os trs primeiros fatores encontrados apartir da distribuio de seus componentes e de seusautovalores (eigenvalue

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    (despersonalizao) 8,99 % da varincia. Os trs fatoresencontrados atravs da anlise fatorial do MBI na amostraconfirmam, tanto em nmero de itens comosemanticamente, as dimenses de Burnout propostas porMaslach e Jackson (1981): exausto emocional, baixarealizao profissional e despersonalizao.

    Comparando-se com o trabalho de Carlotto (2004)que apresenta a exausto emocional com 30,07%, arealizao profissional com 10,09% e a despersonalizaocom 6,72 % da varincia, totalizando 46,89%, conclumosque foram obtidos valores muito prximos evidenciandouma coerncia de aplicao do mtodo.

    Grfico 02. Distribuio de todos os Autovalores conforme seu valor (usados 1, 2 e 3)(STATISTICA for Windows, 1998).

    Tabela 2. Matriz estrutural das dimenses de Burnout.

    Inventrio de MBI EE RP DEAutovalor 5,96 2,55 1,98

    Percentagem de varincia explicada 27,07 11,59 8,99O instrumento de coleta de informaes de Burnout

    (MBI) composto de 22 afirmaes, est distribudo daseguinte forma: nove afirmaes que compem o fator 1expressam claramente a dimenso de exausto emocional.O fator 2, composto de 8 afirmaes, refere-se diretamenteaos sentimentos e situaes que caracterizam a realizaoprofissional. J o fator 3 focaliza aspectos indicativos dedistanciamento emocional, ou seja, de despersonalizao,composto por 5 afirmaes.

    Os Grficos 03, 04 e 05 foram obtidos atravs da

    anlise das mdias das respostas de todos os participantes.O resultado est condizente com a teoria nos seguintesaspectos:

    a) 15,28% dos entrevistados apresentam indcios deExausto Emocional. Destes, 3,24% percebem isso todosos dias (Grfico 03).

    Grfico 03. Exausto Emocional

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    b) 14,32% entre os pesquisados apresentam umamaior dificuldade na Realizao Profissional, e deste total,

    2,86% tm a percepo de que nunca se sentem realizados(Grfico 04).

    Grfico 04. Realizao Profissional

    c) 3,8% dos entrevistados se identificam com aDespersonalizao ocorrendo algumas vezes na semana e destes, 2,1% sente isso todos os dias (Grfico 05).

    Grfico 05. Despersonalizao

    Neste trabalho est sendo proposto um ndice deBurnout com variao de 0 a 100%. Para isso as respostade cada questo (de Q1 a Q22) dos diferentes fatores sonomalizados e por fim compatibilizados na referida escala.Logo, pode-se verificar individualmente o quanto cada

    sujeito apresenta de possibilidade de comprometimento.Para cada resposta dada pelo sujeito aos fatorescomponentes SBO (Exausto Emocional, RealizaoProfissional e Despersonalizao), atribu-se um peso oumultiplicador crescente de 1 a 5, desde aquelas que iniciamcom a resposta nunca at a resposta todos os dias. Por

    exemplo, para o fator Exausto Emocional tem-se E1=peso1; E2= peso 2; ...; E5= peso 5 conforme equao (1).Aplicamos o mesmo raciocnio para a Despersonalizao(DE) conforme equao (3).

    J os multiplicadores do fator Relao Profissional

    - RP esto invertidos uma vez que para a identificao daSBO, a construo do Instrumento MBI prev estainverso semntica das questes, distribudasaleatoriamente entre os 22 itens. Logo, quanto menor onumero da resposta nos itens RP, maior comprometimentono resultado, conforme equao (2).

    EE=(E1x1)+(E2x2)+(E3x3)+(E4x4)+(E5x5) equao (1)

    RP=(T1x5)+(T2x4)+(T3x3)+(T4x2)+(T5x1) equao (2)

    DE=(D1x1)+(D2x2)+(D3x3)+(D4x4)+(D5x5) equao (3)

    NDICE SBO = EE+RP+DE equao (4)

    A partir da anlise dos dados, os resultados obtidosneste conjunto de equaes, esto expostos na Tabela 3,

    indicando que um valor maior implica em maiorpossibilidade de desenvolver a SBO.

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    Tabela 3. NDICE DE SNDROME DE BURNOUT

    CONSIDERAES FINAIS

    O adoecimento psquico, incluindo o Burnout, trazconseqncias negativas para o trabalhador e seudesempenho, gerando diversos problemas, no sorganizacionais como nas relaes interpessoais. Empresasprivadas cujo foco mais centrado em resultados

    econmicos, eficincia e em produtividade esto atendo-sea pesquisas sobre a SBO, buscando investir recursos paradiminuir os altos gastos com doenas, absentesmo,conflitos, desmotivao e abandono da profisso.

    Para a maior parte dos professores, muito difcilabrir mo de sua dedicao, j que o trabalho educacional,alm de envolvente, propicia (ou deveria propiciar) outrasrecompensas, que no apenas as financeiras. Quandocomeam a surgir os efeitos negativos das relaes comalunos, colegas, chefias e prticas pedaggicas, ahabilidade profissional e a disposio para atender snecessidades dos estudantes, comea a se comprometer.

    No foi constatada a participao dos trs fatoressimultaneamente com valores elevados (EE, RP e DE),sendo possvel identificar a maior influencia de dois, emtrs fatorespossveis.

    Seguindo uma tendncia encontrado em outrostrabalhos, a Exausto Emocional o fator central da SBO

    e sempre tem se manifestado em valores superiores aosdemais, sendo esta a manifestao mais bvia da Sndromee o que mais facilmente relatado pelas pessoas(MASLACH, 1998), portanto a hiptese original no foiconfirmada, pois existe a Sndrome de Burnout.

    Este NDICE DE SNDROME DE BURNOUTproposto aponta que 83% (n=40) est abaixo de cinqenta

    por cento e os 17% (n=8) restantes apresentam valores quechegam a 78,2%. Como mtodo de investigaoestatstico, o papel da anlise dos dados do MBI localizarindcios que passam despercebidos no dia-a-dia dosprofissionais, que s tomam conhecimento quando seinstalam os sintomas.

    A lista de complicaes geradas pela SBO bastante extensa. Alm dos aspectos fsicos ecomportamentais atinge a rea psquica gerando posturasdefensivas e quando constatada, mesmo em grausvariados, indicada a adoo de algumas medidas, no sreparadoras, mas tambm preventivas. Essas medidas sode carter individual, institucional e uma terceira que diz

    respeito a inter-relao indivduo/instituio. O ideal propor aes nestes trs nveis o que infelizmente nemsempre possvel. Sem o empenho e comprometimento dainstituio com este objetivo, as propostas acabam por sesituar apenas na esfera pessoal (BENEVIDES-PEREIRA,2004, p. 45).

    Medidas no plano individual (BENEVIDES-PEREIRA, 2004.p 47)

    Adotar hbitos saudveis de vida. Administrar o tempo.Aprender a dizer NO! Dispor de apoio social.Priorizar a comunicao Realizar aes de Relaxamento.Desenvolver talentos pessoais. Utilizar a Psicoterapia pessoal.

    Utilizar o tempo livre para atividades prazerosas, agradveis eno preenche-las com mais trabalho.

    Fazer um planejamento ambiental de seu localde trabalho

    Neutralizar dos agentes estressores.

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    No plano institucional Benevides-Pereira (2004)sugere a presena de um profissional para desenvolveraes em sade ocupacional procedendo a uma avaliaodos aspectos saudveis e/ou prejudiciais da organizao.Com isso possvel propor medidas no sentido depotencializar as variveis positivas e minimizar asnegativas. A autora alerta a importncia de contar com oapoio genuno da instituio na disponibilizao dos

    recursos necessrios.Considerando as concluses do estudo sugerimoscomo agenda de pesquisa:

    1. Realizar outros estudos com servidores daInstituio, com nmero maior de participantes,outras carreiras (tcnicos administrativos,docentes dos cursos superiores, etc.) e outroscontextos organizacionais, complementandoassim a anlise do problema.

    2. Realizar pesquisas longitudinais, considerandoque a SBO tem que ser analisado como umprocesso e que estudos desta naturezapossibilitariam a identificao da sua seqncia

    de desenvolvimento.

    AGRADECIMENTOS

    Ao Instituto Federal da Bahia, seus professoresparticipantes desta pesquisa, bem como aos professores docurso de Psicologia da FTC-Salvador. Por fim, a ClaudioReynaldo B. de Souza pela reviso cuidadosa e a NbiaMoura Ribeiro pelo cuidado e parceria constante.

    REFERNCIAS

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