23
Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011 ESTUDO LÉXICO-SEMÂNTICO DE VOCÁBULOS RELACIONADOS AO CAMPO DA ALIMENTAÇÃO EM PONTA PORÃ - MS 1 Raquel Pereira Maciel – PG – UFGD [email protected] Elza Sabino da Silva Bueno - UEMS/Dourados [email protected] RESUMO: Sabendo que o léxico é a parte da língua mais vulnerável a mudanças e a que recebe mais influências internas ou externas ao sistema linguístico, é que nos propomos a realizar esse estudo do português falado em Ponta Porá, em que se analisa aspectos léxico- semântico do campo da alimentação comum à região. De posse do material linguístico, procedemos à pesquisa e à confecção de um glossário dos campos semânticos para divulgar, entre a comunidade pontaporanense, os vocábulos utilizados e os seus contextos linguísticos de uso, considerando variáveis linguísticas e sociais como gênero, idade e nível de escolaridades do falante como influenciadoras do uso dos vocábulos comuns à fala local. Acreditamos que esta pesquisa se justifica considerando-se a necessidade de registro da oralidade para a caracterização das lexias linguísticas usadas pelos falantes, além de sua história de vida, suas crenças e costumes, para divulgar a cultura desse povo e que outros sul-mato-grossenses também tenham acesso à realidade linguística, entendendo a como uma forma de valorização da cultura popular. PALAVRAS-CHAVE: Português falado, variação linguística, léxico, alimentação. ABSTRACT: Knowing that the lexicon is part of the language more vulnerable to changes and also to get more influence inside or outside the linguistic system, is that we intend to complete the study of Portuguese spoken in Ponta Pora, which examines aspects lexical-semantic the field of food to the region. On receipt of the linguistic material, we proceeded to scientific research and the preparation of a glossary of semantic fields to spread among the community pontaporanense, used the words and their contexts of language use, considering linguistic and social variables such as gender of speaker, age and schooling as influencers of the use of words common to the speech site. We believe that research is justified considering the need to record the oral to the characterization of lexis is considered language used by informants, and his life history, beliefs and customs, to spread the culture of the people and other south-kill Grosso also have access to linguistic reality, understanding as a form of appreciation of popular culture. KEY WORDS: Portuguese spoken language change, lexical, food. 1 Pesquisa desenvolvida no Programa de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq-UEMS, no período de 2008 e 2009, com recursos financeiros da UEMS. Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 1

ESTUDO LÉXICO-SEMÂNTICO DE VOCÁBULOS … · Web-Revista SOCIODIALETO • Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande

  • Upload
    doduong

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

ESTUDO LÉXICO-SEMÂNTICO DE VOCÁBULOS RELACIONADOS AO CAMPO DA ALIMENTAÇÃO EM PONTA

PORÃ - MS1

Raquel Pereira Maciel – PG – [email protected]

Elza Sabino da Silva Bueno - UEMS/[email protected]

RESUMO: Sabendo que o léxico é a parte da língua mais vulnerável a mudanças e a que recebe mais influências internas ou externas ao sistema linguístico, é que nos propomos a realizar esse estudo do português falado em Ponta Porá, em que se analisa aspectos léxico-semântico do campo da alimentação comum à região. De posse do material linguístico, procedemos à pesquisa e à confecção de um glossário dos campos semânticos para divulgar, entre a comunidade pontaporanense, os vocábulos utilizados e os seus contextos linguísticos de uso, considerando variáveis linguísticas e sociais como gênero, idade e nível de escolaridades do falante como influenciadoras do uso dos vocábulos comuns à fala local. Acreditamos que esta pesquisa se justifica considerando-se a necessidade de registro da oralidade para a caracterização das lexias linguísticas usadas pelos falantes, além de sua história de vida, suas crenças e costumes, para divulgar a cultura desse povo e que outros sul-mato-grossenses também tenham acesso à realidade linguística, entendendo a como uma forma de valorização da cultura popular.

PALAVRAS-CHAVE: Português falado, variação linguística, léxico, alimentação.

ABSTRACT: Knowing that the lexicon is part of the language more vulnerable to changes and also to get more influence inside or outside the linguistic system, is that we intend to complete the study of Portuguese spoken in Ponta Pora, which examines aspects lexical-semantic the field of food to the region. On receipt of the linguistic material, we proceeded to scientific research and the preparation of a glossary of semantic fields to spread among the community pontaporanense, used the words and their contexts of language use, considering linguistic and social variables such as gender of speaker, age and schooling as influencers of the use of words common to the speech site. We believe that research is justified considering the need to record the oral to the characterization of lexis is considered language used by informants, and his life history, beliefs and customs, to spread the culture of the people and other south-kill Grosso also have access to linguistic reality, understanding as a form of appreciation of popular culture.

KEY WORDS: Portuguese spoken language change, lexical, food.

1 Pesquisa desenvolvida no Programa de Iniciação Científica - PIBIC/CNPq-UEMS, no período de 2008 e 2009, com recursos financeiros da UEMS.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 1

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Introdução

A linguagem é de suma importância para o homem, é ela que define a interação com o exterior e com as demais pessoas do seu meio social. Por ser um fato social, como diz Saussure (1989), as relações entre língua e sociedade têm sido motivo de muitos estudos, pois as ações humanas estão ligadas às estruturas da língua e à dinâmica da linguagem no processo da comunicação linguística (Elia, 1987). Assim, eis o que Saussure (1989) diz a respeito da língua como elemento interacional:

A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro. Finalmente: [...] A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução: a cada instante ela é uma instituição atual e um produto do passado. (SAUSSURE, 1989, p. 16).

Ao tomar por base os estudos sociolinguísticos, podemos afirmar que as diferentes formas de falar de uma região estão ligadas a fatores históricos, linguísticos e sociais como gênero, idade, profissão, escolaridade do falante, entre outros, Taralo (2007), o que nos leva a inferir que estes fatores influenciam a língua e a maneira de falar do indivíduo.

Partindo dos pressupostos teórico-metodológicos dos estudos sociolinguísticos, verifica-se que as formas diferenciadas de falar de uma determinada região podem depender de fatores linguístico-históricos característicos daquela região e a língua exerce grande importância nas relações sociais e humanas, uma vez que ela funciona como elemento de interação entre o indivíduo e a sociedade, Elia (1987).

Ao conceber a língua como elementos interacional entre o falante e a sociedade, não podemos deixar de considerar fatores sociais como gênero e idade do falante, profissão, o nível de escolaridade, e outros, como condicionadores do uso de uma determinada variante linguística. Assim, a presente pesquisa trabalha as formas linguístico-lexicais usadas para expressar aspectos referentes à alimentação no português falado na região fronteiriça de Ponta Porá, uma vez que a referida região possui três línguas em contato: o guarani, o espanhol e o português. Essas línguas caracterizam a identidade local e a fala em sua modalidade oral, como afirma Biderman (1978, p.161):

É da essência da linguagem oral buscar o máximo de expressividade: assim os usuários da língua a consideram, com frequência, desgastada e descolorida, o que os leva a inventarem novos matizes metafóricos e metonímicos para palavras velhas, ou a inventarem novas formas que eles julgam corresponder melhor àquilo que pretendem dizer.

Assim, realizamos entrevistas com doze falantes residentes na cidade de Ponta Porã, homens e mulheres com idades e nível de escolaridade variados, no sentido de

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 2

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

registrar as formas linguísticas usadas por esses falantes para expressar o léxico da alimentação, seja sólida ou líquida, como veremos no decorrer deste estudo.

Para caracterização do trabalho dividimo-no em quatro partes distintas: em que a primeira trata dos pressupostos teóricos que consistem em uma explanação sobre língua, cultura e sociedade; nos princípios teóricos relacionados à questão lexical, da teoria do campo léxico-semântico e do fenômeno de bilinguismo e diglossia frequentes na região, por ser uma área de fronteira territorial e linguística em que se fala, além do português, o espanhol, e várias línguas indígenas que influenciam o falar local.

A segunda trata da metodologia utilizada no estudo, a ênfase é dada à seleção dos informantes, à organização do corpus da pesquisa, considerando variáveis linguísticas e sociais cujo objetivo é mostrar de que forma elas influenciam na escolha de um determinado vocábulo referente ao campo semântico da alimentação.

A terceira analisa os vocábulos específicos do campo da alimentação encontrados no corpus da pesquisa e discute os resultados obtidos com relação às variáveis e os campos semânticos estudados, colocando em pauta os léxicos encontrados e a discussão de sua origem e significados.

Na quarta arrolamos os vocábulos encontrados com a explicação linguística de seus significados. Esses vocábulos também podem ser visualizados em quadros.

Fundamentação teórica

Língua, cultura e sociedade - algumas reflexões

As pessoas estão inseridas em uma determinada comunidade e para a interação e a sobrevivência se comunicam por meio de signos linguísticos, pois é por meio da língua que os povos interagem entre si e com o meio externo. Partindo do princípio da interação linguística, Saussure (1989) diz que “a linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro”, fica evidente aqui a estreita relação entre língua e sociedade.

Então, percebemos que, de acordo com Saussure (1989), a linguagem está inteiramente relacionada às questões sociais, isto é, o externo e o interno estão totalmente correlacionados, uma vez que a língua existe para a comunicação, sem ela não conseguiríamos interagir com outros; então ela é um veículo de cultura, pois tudo que caracteriza uma região (geografia, influências de colonização, etc) se refletirá na língua e por consequência na linguagem do indivíduo.

E quando tratamos de cultura, logo nos vêm ao pensamento questões relacionadas aos costumes, às lendas e, não imaginamos que a linguagem esta inserida nesta definição. Entende-se que a cultura é toda a forma de expressão; seja ela nos modos de se vestir, comer, dançar e/ou na religião. Elia (1987), explica que a cultura está no âmbito antropológico e, pode ser material e estrutural. E a língua se caracteriza

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 3

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

sendo cultural, pois ambas foram estruturadas pelo homem, para atender os seus desejos e anseios.

Afirma Lyons (1987), que “a cultura pode ser descrita como conhecimento adquirido socialmente: isto é, como o conhecimento que uma pessoa tem em virtude de ser membro de determinada sociedade”. Então, é uma assertiva que a linguagem faz parte da cultura, pois os seus usuários a adquirem em grupo, ou seja, socialmente e a utilizam também no meio social em que vivem.

Com relação aos aspectos linguísticos, como sabemos, há várias linhas; a Etnolinguística, a Sociolinguística. Explicando, Oliveira (1999) (apud SANTOS, 2007, p.11) diz que a sociolinguística “trata das relações entre traços linguísticos e fatores socioculturais, no seio de uma comunidade”, em referência à Etnolinguística, esta “aborda problemas que se referem às relações entre a língua e a visão de uma comunidade linguística” Então, todos os aspectos abordados anteriormente nos fazem entender que Linguística e Sociolinguística enquanto ciências, possuem a finalidade de explicar as variáveis linguísticas da língua em determinada cultura.

Princípios teóricos – a questão lexical

Entende-se por léxico todo conjunto de palavras de uma língua. É como um dicionário, onde estão contidas as palavras e seus respectivos significados. O indivíduo ao se socializar com o seu meio compartilhará com os demais falantes as suas significações; ou seja, ele irá dar nomes e conceitos aos objetos e às coisas. Assim, formam-se uma rica e abundante gama de léxicos utilizados por uma comunidade para interagir com os demais membros dessa mesma comunidade, como afirma Biderman:

O patrimônio da comunidade por excelência, juntamente com outros símbolos da herança cultural. Dentro desse ângulo de visão, esse tesouro léxico é transmitido de geração em geração como signos operacionais, por meio dos quais os indivíduos de cada geração podem pensar e exprimir seus sentimentos em ideias. (BIDERMAN, 1981, apud TENO, 2003).

Por conseguinte, as questões relacionadas à linguagem estão sendo objeto de pesquisa e docência, em todo o mundo. Por outro lado, às vezes nem está incluída nos planos de estudo a questão da lexicologia. A “lexicologia se ocupa do léxico das línguas de forma completa e integrada”, conforme Isquerdo (2004, p.18-19), o que a torna um grande aliado para as pesquisas que envolvam questões lexicais. Eis o que aponta Isquerdo (2004), a respeito da importância da pesquisa de cunho lexical:

Como se sabe, a constituição de dicionários, de glossários e de vocabulários de cunho regionalista pode contribuir para o registro e a descrição de particularidades lexicais, uma vez que possibilitam, sobretudo por meio de estudos contrastivos, a verificação de ocorrência ou não de determinadas variantes em diferentes regiões do País. (ISQUERDO; KRIEGER, 2004, p. 153)

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 4

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

E para entender melhor, temos então o léxico como um agrupado de realidades obtidas pelo homem através do seu dia a dia e de suas vivências em sociedade. E é através desta experiência social que o léxico vai se concretizando, funcionando assim como uma reunião de símbolos e significados, exteriorizando o comportamento cultural e social do homem (ISQUERDO, 2004).

Teoria dos campos léxico-semânticos

Os campos lexicais são compostos de um grupo de palavras aplicadas que irá identificar, qualificar e designar uma ideia e formas de um indivíduo. No conjunto dos léxicos há os subconjuntos, que possuem praticamente as mesmas significações em uma mesma área de conhecimento. Outro ponto de vista é que os campos lexicais não são fixos numa língua, sendo que a cada momento criamos novas terminologias, significados, ou seja, léxicos para nomear os fatos e as coisas que nos rodeiam.

O campo semântico é definido assim: “um campo léxico integra uma rede semântica juntamente com muitos outros. Uma rede semântica é composta da integração estruturada de vários campos léxicos, outros campos léxicos”. (BIDERMAN, 1981, apud TENO, p.58, 2003)

Como sabemos, toda pesquisa se embasa em teorias pertinentes a determinado assunto, então esta pesquisa se pauta no princípio teórico do campo léxico-semântico da alimentação da fronteira Brasil-Paraguai, especificamente entre as cidades Ponta Porá – Brasil e Pedro Juan Caballero- Paraguai.

A questão do bilinguismo e diglossia

Podemos definir o bilinguismo como algumas características individuais, não necessariamente de certo grupo; em que o usuário pode ou não utilizar uma ou mais línguas para a sua comunicação. Mas em contra partida, existem lugares, como é o caso das regiões de fronteira (Ponta Porá – Pedro Juan Caballero) em que o bilinguismo ou trilinguismo são mais naturais e frequentes, ou seja, a pessoa adota uma língua materna, mas utiliza outras línguas conhecidas em momentos de necessidade comunicativa, é o que chamamos de diglossia.

Em se tratando de bilinguismo e diglossia, no âmbito regionalista, inclusive nas regiões de fronteira, como é o caso do estado de Mato Grosso do Sul, que faz divisa com o Paraguai, há incidências de duas ou mais línguas, em que o usuário se adéqua aos costumes e às necessidades locais. É aí que entra a questão do bilinguismo nesta região, embasado na obra de Helio Serejo, há evidências e registros de que as pessoas ao se adequarem à realidade, tiveram o contato com o espanhol e o guarani, e para as comunicações básicas, tanto brasileiros e paraguaios aprenderam as línguas utilizadas naquela região, e, por conseguinte resultou em uma grande influência em todo o estado, principalmente nas regiões de fronteira internacional.

Quanto aos vocabulários, estes são ricamente encontrados na região específica,

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 5

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

em nossas entrevistas encontramos termos como: “sopa paraguaia” (bolo de milho, queijo e cebola), “locro” (uma espécie de canjica com carne bovina), “chipa” (pãezinhos de queijo, ovo, leite e banha), e “vori vori” (bolinhos de milho) e o famoso “tereré”, que é uma espécie de chimarrão, mas para ser consumido gelado.

Os itens alimentação e bebidas são analisados significativamente pelas pesquisas sociolinguísticas, no âmbito do léxico, pois na região de fronteira há a troca de cultura de dois países, pois o que se consta é que o “tereré” é comum aos paraguaios, e isso influenciou tanto o estado de MS, em que entre os estados brasileiros somos reconhecidos como o povo do chimarrão gelado. Fato que contribui para o aparecimento de novas designações lexicais, como veremos no decorrer deste estudo.

O estudo da questão alimentícia favorece o entendimento tanto das variações linguísticas como do bilinguismo e da diglossia, como da aquisição de novos léxicos. Esses dados serão tratados detalhadamente na terceira parte desse estudo, parte essa em que se analisam os vocábulos usados pelos informantes. O capítulo quatro traz um glossário explicativo dos termos usados pelos falantes.

Considerações metodológicas

Seleção dos informantes

Após a elaboração de um questionário, foi realizada a pesquisa com informantes da cidade de Ponta Porá. Procuramos pessoas que tivessem residido por toda a vida na cidade ou parte dela, com idades variadas. Para isso nos embasamos em Tarallo (2007) que diz que às diferentes formas de falar de uma determinada região estarem ligadas a fatores históricos e sociais, como gênero, idade, profissão, escolaridade, entre outros.

Ao explicitar a finalidade da pesquisa e a sua execução, algumas pessoas desistiram de ceder a entrevista, o motivo não foi constatado, suponhamos que seja devido à timidez. Sendo assim saímos à procura de outras pessoas que estivessem dispostas a nos ajudar e a nos deixar gravar a sua fala sobre suas experiências de vida com relação ao léxico da alimentação. Obtivemos bastante êxito, pois houve informantes que nos forneceram não somente as entrevistas solicitadas, mas inclusive, receitas de pratos típicos da culinária fronteiriça, o que contribuiu para a nossa pesquisa.

Contudo, desde a escolha das pessoas até a concretização da entrevista, estas foram feitas de preferência na residência dos informantes, com a finalidade de a conversa fluir o mais natural possível, para que a pessoa se sentisse à vontade com os aparelhos de gravação e com a pesquisadora. Os informantes no começo da conversa ficavam apreensivos; mas após alguns minutos de conversação se acalmavam e contavam suas histórias, seus hábitos e costumes alimentares.

Concluída a pesquisa de campo, partimos para a transcrição, em que os dados coletados foram salvos em programa computacional. A transcrição foi realizada

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 6

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

conforme as normas do projeto NURC/SP2, com adaptações para a linguagem popular falada.

Organização do corpus da pesquisa

A organização do corpus partiu primeiramente das leituras teóricas. Em seguida a montagem do questionário e depois a sua execução. Como o assunto parte da culinária fronteiriça, montamos um questionário com assuntos conhecidos dos informantes, de forma que estes falassem do seu dia a dia e dos seus preparos alimentícios corriqueiros.

O corpus dessa pesquisa foi composto por um total de doze entrevistas, sendo seis mulheres e seis homens com idades variadas. Estas entrevistas foram realizadas na cidade de Ponta Porá – MS e algumas na cidade de Pedro Juan Caballero – Paraguai. Algumas das pessoas entrevistadas trabalhavam ou residiam na cidade de Pedro Juan.

A variação gênero do falante

Embasados em Elia (1987) percebemos que a questão do gênero difere claramente na fala e nos assuntos discutidos entre homens e mulheres. Os assuntos abordados pelos homense os vocábulos utilizados são diferentes daqueles abordados pelas mulheres. Paiva (2004, p. 33-34) no que diz respeito ao gênero, ressalta que essas variantes são mais diferenciadas no campo lexical, pois algumas palavras soam melhor da boca de uma mulher do que a de um homem, e vice e versa. Com efeito, o gênero do falante determina os vocábulos utilizados e os assuntos abordados; pois percebemos que mulheres falam mais do seu dia a dia do que o homem.

Na pesquisa, percebemos que poucos homens souberam descrever os seus costumes alimentícios. Já a maioria das mulheres até receitas da sopa paraguaia (uns dos léxicos encontrados), descreveram em suas entrevistas.

A variável idade do falante

A idade do falante também é um fator importante nessa pesquisa e várias entre 17 a 25 anos, 26 a 50 anos e falantes com 51 anos em diante, pois é fácil perceber que há diferenças linguísticas devidas à idade do falante (NARO, 1994). Labov (1972) (apud MONTEIRO, 2000, p. 59) acreditam que há diferenças marcantes entre a linguagem de pessoas de mais idades e de adolescentes, basta mencionar que aqueles mantêm certas construções léxicas ou sintáticas que podem parecer estranhas aos falantes mais jovens, como verificaremos no decorrer dessa pesquisa.

A variável escolaridade do falante

2 Projeto desenvolvido nas cinco capitais do país para trabalhar a linguagem culta falada por falantes com nível superior de escolaridade.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 7

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

O nível de escolaridade dos falantes selecionados, para essa pesquisa, variou entre analfabetos e alfabetizados que tenham cursado até o ensino fundamental, pois segundo Votre (2003), o domínio maior ou menor do registro culto padrão da língua depende de muitas variáveis, inclusive do nível de escolaridade do falante, que desempenha um papel crítico na configuração geral do domínio da língua e, no uso de um determinado vocábulo.

Esse assunto será discutido mais detalhadamente na terceira parte deste estudo que trata da análise e discussão dos resultados obtidos dos dados levantados do corpus.

Apresentação e análise dos resultados

Podemos dizer que existem duas modalidades linguísticas distintas: a linguagem escrita e a linguagem oral. Essas duas linguagens não trabalham isoladamente, elas dependem de fatores externos, socioeconômicos, por exemplo, para constituírem o contexto histórico da formação de uma sociedade e colaboram para a formação e a sistematização da fala. O falante sofre essas influências em sua fala e com isso conseguimos designar a cultura, a ascendência, a idade de um determinado falante inserido na sociedade em questão.

Serão analisados e apresentados os léxicos encontrados na pesquisa em tabelas para uma melhor visualização dos resultados obtidos, separados de acordo com as variáveis idade, gênero e escolaridade do falante, como orienta Tarallo (2007) e, para finalizar, relacionamos um glossário com léxicos mais significantes e comuns encontrados na pesquisa.

Para a análise das lexias e busca dos significados de cada palavra utilizamos os dicionários Novo Aurélio (2001), Houaiss (2001) e o Dicionário Castelhano guarani de Guasch e Ortiz (1998).

Vocabulário da alimentação na fala dos informantes

Pode se definir vocabulários como o conjunto de palavras utilizadas por alguém que está inserida em uma sociedade. Ele se renova a cada instante, e caracteriza a cultura daquela comunidade. Na região de fronteira, encontramos um vasto vocabulário, com significações e origens diversas. Essa região possui uma história bastante importante para os brasileiros. Pois para entendermos os vocábulos e suas significações é preciso conhecer um pouco dessa história cheia de mistérios e alimentos saborosos.

A cidade brasileira Ponta Porã faz divisa com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero. Conta a história, como bem diz Gressler (2005) que o Paraguai e a Bolívia viviam brigando por limites de terras. Em 1950, muitas brigas e rixas começaram a surgir entre Brasil e Paraguai, o motivo eram os limites de terras, porque os limites propostos pelos brasileiros não foram aceitos pelos paraguaios. Assim, ocorreram muitos conflitos que resultaram na guerra do Paraguai, o Brasil saiu vitorioso e demarcou os limites.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 8

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Hoje, toda a região fronteiriça, inclusive Dourados, era tudo terras pertencentes ao Paraguai, depois da guerra, então, o Tenente Antonio João, retomou territórios como a colônia de Dourados. É por isso que nesta área do Brasil, a influência do país vizinho é muito significativa, seja nas músicas, nos hábitos alimentares, na danças, nos sotaques e na culinária, podemos dizer que tais influências já se tornaram a identidade dessa comunidade.

Diante do exposto, para efeito de análise, abordamos apenas os léxicos comuns à alimentação da região, seja ela sólida ou líquida. Assim, o tereré, é uma bebida típica dos fronteiriços que já se tornou identidade do estado de Mato Grosso do Sul, entre outros.

Partindo para a questão do vocabulário, iniciamos nossa exposição com o vocábulo arroz. Esse alimento é bem comum na região, pois acompanha a alimentação diária das pessoas. A lexia arroz significa segundo Dicionário Aurélio (2001) uma “planta das gramíneas, cujo grão, do mesmo nome, é importante alimento”. Tem forma cilíndrica e coloração branca, é servido com outros alimentos ou utilizado em receitas como arroz a grega, que é mistura de arroz com milho, queijo, e temperos diversos; como podemos verificar na fala de uma de nossas informantes, que mencionou o uso desse tipo de arroz na sua alimentação “carne assada carne de galinha carne assada: um arroz a grego mandioca: sopa maionese... outra salada::...” ((MS-F-48-EF) 3·.

A lexia churrasco aparece na fala de um dos informantes: "bom minha família ela costuma faze churrasco ... quando eu to ne? porque quasinessas datas festivas quase num passo cu minha família ... passu cu/ na casa di algum amigu ... i:: i tipu assim im algum lugar mais ... quandu eu to cu minha familia eu veju qui elis fazem mais pru ladu du churrasco” (JA-M-56-EF).

A lexia churrasco denota uma habito comum, em que a família e os amigos se socializam para assar a carne, seja carne de boi ou peixe. Essa carne pode ser assada na churrasqueira ou no forno, mas se chama churrasco pelo fato se ser assada na churrasqueira, com brasa e fogo alto, como explica o dicionário Aurélio. Churrasco está inserido no campo semântico da carne, assim como o peixe, que é muito utilizado na região de Ponta Porá e em Pedro Juan Caballero, pois a existência de rios favorece a pesca.

Outro alimento importante na culinária fronteiriça é a chipa que não pode faltar na mesa de um paraguaio. Feito de ovo, leite, queijo, milho fervido ou polvilho socado e peneirado e assado ao forno elétrico ou em fornos de barro, por caracterizar uma tradição do preparo em formato de rosquinha ou de pãenzinhos. O dicionário Aurélio define a chipa como parte da culinária brasileira dos Estados Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Já o dicionário de Guasch e Ortiz (1998) a define como sendo uma “torta típica do Paraguai”.

3 As siglas se referem ao (MS) nome e sobrenome da informante do gênero (F) feminino com 48 anos e nível de instrução (EF) ensino fundamental.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 9

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

A lexia canjica é também muito comum entre os informantes. É alimento típico não só da região de fronteira, mas também de outros estados brasileiros como São Paulo, Mato Grosso e Goiás. O preparo se constitui de leite de vaca acrescentado milho verde ralado e açúcar e polvilhada com canela; ferve até ficar com uma consistência cremosa. Mas, na fronteira a canjica é mais conhecida como Locro, que é uma versão salgada, que leva puchero. As duas formas de preparo são aceitas na região, mas entre os paraguaios é mais consumido o locro, que pode variar de gosto, uma vez que cada pessoa escolhe qual receita vai utilizar no preparo, doce ou salgado. Eis a fala de uma entrevistada: “costumi eu mi lembro qui minha mãe gostava muitu de faze:: (locru) qui eu nu gostu ... eu desdi piquena nunca gostei ... canjica ne (locru) minha mãe fazia cu puxero essi daí te qui minha filha gosto du (locro) ma eu nunca fiz por que eu nu gosto ...” (HP-F-50-EM)

Não podemos esquecer de falar do milho e da mandioca, um cereal e uma raiz que são a base da alimentação na região fronteiriça. O dicionário Aurélio define o milho como um cereal e a mandioca uma planta euforbiácea de tubérculos alimentícios, leitoso e rico em amido. Há duas espécies de mandioca: uma venenosa e outra comestível. A venenosa serve para fazer farinha, a comestível serve para fritar e cozer. Nas diferentes regiões do País, a mandioca recebe nomes diversos: macaxera, no norte e aipim, no sul. Na região de fronteira do MS ela recebe o nome de mandioca, inclusive há até lendas a respeito dessa raiz.

O lexicógrafo Aurélio a defina como uma raiz de origem tupi e ela toma importância na alimentação dos fronteiriços e das diferentes regiões do País.

O milho serve para fazer farinha, bolos, pipoca e outros alimentos que levam milho, como é o caso da sopa paraguaia. A palavra milho tem origem latina – miliu, como encontramos no dicionário Aurélio, é originária da América do Sul. Aurélio e Houaiss confirmam que o milho é nutritivo e que possui espiga frutífera, por isso a importância de seu cultivo no território brasileiro.

E por fim o vori vori e a sopa paraguaia, que compõem a alimentação sólida. O alimento vori vori ainda não é muito conhecido entre os brasileiros, é mais popular no Paraguai. Não temos uma definição precisa para este alimento, ele só foi mencionado nas entrevistas, como explica à informante: “é eu facu tamem vori vori qui a genti chama aqui nu Paraguay ((comu qui chama?)) vori vori ((risos)) é uma:: que nem u milhu da sopa ne ... ((um)) ai você faiz o:: o caldo di frango aí você faiz a bolinha molha faiz a bolinha i joga na água quenti i nu é nu caldo di grango i:: sai gostosu coloca quejo: ((::am)) sai gostosu tamem ...” (HP-F-50-EF).

A sopa de origem paraguaia e muito popular, é um bolo feito de milho, cebola, leite, óleo de soja, queijo e ovos. Não pode faltar à mesa dos paraguaios e, até de muitos brasileiros, é um alimento forte, e substitui uma refeição. Temos aqui a receita de seu preparo “eu:: preparu assim be/ nu é qui é bem diferenti eu preparu qui nem minha mãe preparava qui eu gostu assim ... a maioria coloca tudu nu liquidificador tudos os

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 10

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

ingredientis coloca u:: óleo na: (tarta) eu já não ... eu faço assim coloco na panela o óleo pra esquentá i eu botu a cebola qui eu fritu a cebola eu gostu di frita a cebola a maioria bota pra bate .. eu nu batu eu fritu a cebola com óleo cum sal depois dexo esfria umpoquinho coloco leite u ovu ... i u queju i u milhu ... eu coloco ... inquanto eu coloco assim nu fornu quandu vo coloca na ( ) forma quandu eu vo coloca nu fornu eu derramu um poquinhu di leiti dinovu pra:: pra (sai bem) fofinhu ... eu aprendi issu ai cu minha mãe eu faço igualzinhu qui minha mãe fazia.” (HP-F-50-EF)

Com relação aos alimentos líquidos, temos o Tereré, bebida à base de ervas usadas como chá, no tereré e no chimarrão. O tereré é servido gelado, o seu preparo é simples, pois são necessários apenas cuia, bomba, jarra água e gelo e a erva mate.

Tanto o chimarrão, como o tereré e o mate, em forma de chá, são feitos da erva mate, muito utilizada por paraguaios e brasileiros do MS e um costume típico da região.

O chimarrão, por sua vez, uma bebida quente é característica de lugares frios, como o sul do país, mas no estado de MS e na região de fronteira com o Paraguai, essa bebida ganhou destaque e aceitação. Assim como o chimarrão e o tereré, outras bebidas como o café, o cucidru também aparecem na fala de nossos informantes: “é cafezinhu nossu é ne é u (cucidu) ... intao hoji nois já temu aqui u café frontericu nus hotéis ((um:: )) ... sabi ... i u pessual us turista qui vem di fora adoraru qué a chipinha quenti a sopa u (cucidru) qui é u cha ne ((ham ham)) intao u negociu nossu aqui ne nois temu qui.” (JBM-M-79-EF).

A lexia cucidru é a mesma coisa que chá. Ela não é muito conhecida pelos brasileiros, em geral, apenas as pessoas fronteiriças conhecem esse léxico e seu significado. Para essa pesquisa nos depararmos com lexias significativas que fazem parte da cultura local e que os brasileiros de outras localidades as desconhecem, porque são típicas da fronteira Brasil-Paraguai, em que há uma troca de cultura que caracteriza a língua falada na região.

Contudo, ao nos deparar com léxicos tão significativos, podemos afirmar que os alimentos aqui discutidos fazem parte da cultura desse lugar, dessas pessoas. Ao verificar que os brasileiros de outras localidades não conhecem esses léxicos, porque alguns são específicos da fronteira Brasil-Paraguai em que há a troca de cultura, não só no meio musical, linguísticos, mas também na culinária local.

Resultados da variável gênero com relação ao vocabulário da alimentação

Segundo Paiva (2003), a variável gênero tem um significado muito representativo diante de uma pesquisa quantitativa. Pois, no campo lexical, as diferenças entre fala feminina e a masculina se acentuam, uma vez que as mulheres estão mais atentas aos detalhes e à forma, ainda segundo Paiva, a mulher está sempre preocupada com a aparência, cuidando da roupa, do cabelo e da fala. São verificadas, segundo pesquisas, certos vocábulos na sua forma diminutiva são mais utilizados na fala das mulheres do que na dos homens, por isso, vê-se a importância de uma análise lexical

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 11

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

com base na variável gênero do falante, no sentido de se comprovar tais diferenças.

Entretanto, Paiva aponta que em determinadas situações a atuação da variável gênero não é fiel, pois outros fatores podem diferenciar a fala de homens e mulheres, como por exemplo, a idade e status social.

Conforme Paiva (2003) é na fala feminina que se encontram sinais de sensibilidade, que pode aumentar ou diminuir de acordo com o grau de formalidade, é na fala delas que se destacam as formas de narrar algo ou em uma conversa corriqueira; como exemplo, em nossa pesquisa, foi na fala das mulheres que encontramos dicas e receitas culinárias, diferente do homem, que apensa menciona os alimentos.

A seguir apresentamos quadros com os léxicos encontrados na fala de homens e mulheres. O primeiro sistematiza os alimentos sólidos, e o segundo, os líquidos.

As siglas colocadas no quadro sequem em todos os demais. A sigla H significa homem (1, 2, 3, 4, 5 e 6) e a sigla M (1, 2, 3, 4, 5 e 6) para mulheres e o R corresponde aos resultados encontrados.

Quadro 1 - alimentos sólidos, de acordo com o gênero do falante.HOMENS MULHERES

ALIMENTO H1 H2 H3 H4 H5 H6 M1 M2 M3 M4 M5 M6 R.Alho - + - - - - - + - - - - 2Arroz + + - + - + + + + + + + 10Batata - + - - - - - - + + - - 3Beiju - - - - - - - - - + - - 1

Bolacha + - - - - - + + - - + - 4Bolo - - - - - - - - + - - - 1

Cachorro quente + - - - - - + + + + - - 5Caldoavá - - - - + - - - - - - - 1Canjica - - - - - - - - + - - - 1Caracu - - - - + - - - - - - - 1Carne + + - + + + + - - - - - 6

Carne de galinha - - - - - - - + - - - - 1Cebola + + - - - - - + - - - - 3

Cebolinha - - - - - - - + - - - - 1Chipa - + + + - - - - + + + - 6

Chipaguaçu - + - - - - - - + - - - 2Churrasco + - + + + + + - - - - - 5

Compota de guavira - - + - - - - - - - - - 1Cuciro - - + - - - - -- - + - - 2

Doce de leite - - - - - - - + - - - - 1Doce de mamão - - - - - - - + - - + - 2

Farinha - - - - - - - - - + - - 1Farinha de mandioca

- - - + - - - - - - - - 1

Farofa - - - - - - + - - - - - 1

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 12

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Feijão + + - + - - + - + + - - 6Frango assado - + - - - + - - + - - - 3Frango frito - + - - - - - - + - - - 2

Frutas + - - - - - - + - - - + 3Fubá - - - - - - - + - - - - 1

Guavira - - - - - - - - - - + - 1Guizado - - - - + - - - - - - - 1Lasanha + - - - - - - + + + - - 4Legumes - + - - - - - + - - + - 3

Leite - - - - - - - + - - - - 1Limão - - - + - - - - - - - - 1Locro - - - - - - - - + - - - 1

Macarrão + + - - - - - + - - - - 3Mandioca + + + + - - + + - - + + 8

Milho - + - - + - - - - - + - 3Peixe - + + - + - - - + - - - 4Pipoca - + - - - - - - + + - - 3

Pizza de cremosa + - - - - - - + - - - - 2Pizza de frango + - - - - - - + - - - - 2Pizza de lasanha + - - - - - - + - - - - 2Pizza de queijo + - - - - - - + + - - - 3Pizza de milho + - - - - - - + - - + + 3

Polvilho - - - - - - - - - + - - 1Pucherada - - - - + + - - - - - - 2Puchero - - - - - - - - + + + 3Queijo - - - - - - + + + + - - 4Salada + + - - - - - + - - - - 3

Salgado + - - - - - + - + + - - 4Soja - - + - - - - - - + - - 2

Sopa paraguaia + - - + - - + + + + - - 6Verdura - - - - - - - + - - - + 2Vori vori - - - - - - - - + + - - 2

Quadro 2 - alimentos líquidos de acordo com o gênero do falante.

HOMENS MULHERESALIMENTO H1 H2 H3 H4 H5 H6 M1 M2 M3 M4 M5 M6 R.

Café - - + - - - - - - - - - 1

Cha - - + - - - - - - - - - 1

Chimarrão - - + - - - - - - - - - 1

Cuciro - - + - - - - - - - - - 1

Refrigerante + - - - - - - - - - - - 1

Sorvete + - - - - - - - - - - - 1

Tereré + - - + - - + - - - - - 3

Leite - - - - - - + - - + + - 3

Percebemos a existência de léxicos comuns utilizados tanto por homens como

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 13

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

por mulheres, eis os mais utilizados: sopa paraguaia, queijo, peixe, pipoca, mandioca, legumes, chipa, arroz, feijão e outros.

As lexias que não são muito comuns são: vori vori, locro, cuciro e sopa paraguaia. Esses léxicos não são muito usuais na fala de brasileiros, por isso se configuram como vocábulos novos, herdados dos paraguaios e falados na fronteira Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. As bebidas chimarrão e tereré também são bem evidenciadas nessa região.

Resultados da variável idade a respeito do vocabulário da alimentação

Podemos dizer que a idade do falante é definidora de estilos de vida e por consequência de hábitos alimentares. Segundo Naro (1994) a idade do indivíduo está diretamente relacionada às mudanças linguísticas, pois as pessoas de mais idade, não costumam aderir a gírias e hábitos diferentes dos que estão acostumados, diferentemente dos mais jovens que têm necessidades de comunicação rápida, por isso, acabam utilizadas gírias e formas linguísticas reduzidas que as auxiliarão na comunicação.

Na presente pesquisa, foi observado que os falantes mais jovens gostam de alimentos mais comuns como: pizza, salgados, sorvete, refrigerantes e outros; diferentes das pessoas entre 30 anos para mais. Eis um exemplo de um informante jovem e logo em seguida, de uma pessoa adulta: “a nois vamus nu shopping a genti:: comi salgadu ... toma refrigerantis ... chupa sorveti ... a genti vai nas praças ... lagoa ... estrangero ... a: genti ... custuma caminha tamem por todo Paraguay ... pelu por Ponta Porá ... (mesmu) a genti costuma i na casa di outros amigus ... toma tereré ... genti costuma tamem si reuni pra:: pode a genti fica insaiandu musica atoa assim mesmu”. (CPC-M-19-EF). “Eu alguma veiz eu im casa memo chego uma vez assim sabi ::um gosto de come uma: costela na pa-nela sabe assim sabi cuzidao intao sabi ... gostu muito de sopa cum verdura Sab/ ... sabi i agora eu faço cum guizado ou intao caldo de peixe sabi e:: vai bem ma eu não so exigente ( ) u que me convida (eu vo) sabi:. (MRS-F-45-EM)

Os hábitos relatados pelos entrevistados são bem diferentes. O jovem gosta de ir ao shopping comer lanche e tomar refrigerante e a pessoa mais velha preferem preparar uma carne na panela, fazer um “cuzidão”, com verduras e outros alimentos.

Podemos dizer que a idade é uma variável importante para a língua, pois cada faixa etária irá se utilizar de vocábulos próprios de sua idade. O quadro a seguir demonstra com mais exatidão os resultados obtidos com relação às lexias.

Quadro 3 - variável idade e gênero do falante com relação às lexias17- 25 25-50 51 3M

DIANTE17-25

25- 50 51 ANOS

ALIMENTO H1 H2 H3 H4 H5 H6 M1 M2 M3 M4 M5 M6 R

Alho + - - - - - - - - - - - 1

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 14

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Arroz + + + - + - - + - + + - 7Batata + - - - - - - - - - - - 1

bolacha - + - - - - - - - - - - 1Cachorro

quente- + - - - - - - - - - - 1

Carne + + + - + + + + + + + + 11Cebola + + - - - - - - + + - - 4Chipa + - - + + - + - + - - + 6

chipaguaçu + - - - - - + - - - - - 2churrasco - + + + + - - - - - - - 4

Compota de guavira

- - - + - - - - - - - - 1

Cuciro - - - + - - - - - - - - 1Farinha - - - - + - - - - - - - 1Feijão + + - - + - - + - - + - 5Frango assado

+ - - - - - - - - - - - 1

Frango frito + - - - - - - - - - - - 1Guizado - - - - - + - - - - - - 1lasanha - + - - - - - - - - - - 1

Legumes- - + - - - - - - - - - - 1Limão - - - - + - - - - - - - 1

macarrão + + - - - - - + - - - - 3mandioca + + - + + - + + - + - - 7

Milho + - - - + + + - + - - + 6Peixe + - - + - + - - - - - - 3Pipoca + - - - - - - - - - - - 1Pizzas - + - - - - - - - - - - 1

Polvilho - - - - + - - - - - - + 2Pucheiro - - + - - - - + - - - + 3Queijo + - - - - - + - + + - + 5Saladas - + - - - - - - - - - - 1Salgado - + - - - - - - - - - - 1

Soja - + - - - - - - - - - - 1Sopa - - - - - + - - + + - - 3Sopa

paraguaia- + - - + - + - + + - + 6

Farofa - - - - - - + - - - - - 1Pastel - - - - - - + - - - - - 1

Canjica - - - - - - - - + - - - 1Cebolinha - - - - - - - - - + - - 1Doce de mamão

- - - - - - - + - + - - 2

Fubá - - - - - - - - - + - - 1Locro - - - - - - - - - + - - 1

Maionese - - - - - - - - - + - - 1Ovos - - - - - - - - - + - - 1

Vori vori - - - - - - - - - - - + 1Beiju - - - - - - - - - - - + 1

Tapioca - - - - - - - - - - - + 1Goiaba - - - - - - - - - - - + 1

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 15

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Quadro 4 – Vocábulos referentes à alimentação líquida

Primário E. Fundamental

E. Médio E. Fundamental E. Médio

Alimento H1 H2 H3 H4 H5 H6 M1 M2 M3 M4 M5 M6 RChá + - - - - - - + - - - - 1

Chimarrão - + - - - - - - - - - - 1Cuciro + - - - - - - - - - - - 1

Refrigerante - - + - - - - - - - - - 1Sorvete - - + - - - - - - - - - 1Tereré - + + - + - - - - + - - 4Café - - + - - - - - - - - 1

Resultados da variável escolaridade sobre o vocabulário da alimentação

A variável escolaridade é bastante discutida no que diz respeito a sua influência no só da língua, pois quanto mais estudamos, mais vocabulários internalizamos, diferente de uma pessoa que não tem o hábito de ler ou que não frequentou a escola. Vejamos o que diz Votre (2003, p. 136) sobre a ação do ensino na fala do indivíduo:

O aspecto importante, a destacar, em relação à escolaridade, é que os fenômenos de uso da língua têm sido abordados exclusivamente até o nível da cláusula. Pouco se sabe, até agora, dos condicionantes discursivos, e por isso a escola nada oferece em termos de uso.

Não é nosso objetivo discutir sobre ensino, mas o apontamento de Votre (2003) nos leva a refletir que para uma interação com o outro, não é preciso, necessariamente, ser uma falante implacável da língua Portuguesa ou qualquer outra língua, se duas pessoas se entendem então o papel da comunicação foi efetuado com sucesso.

O compartilhamento de experiência, a relação social se dá pelo esforço e pela necessidade de comunicação, de entender e de ser entendido no complexo processo da comunicação verbal. Contudo, os informantes que participaram desta pesquisa possuem ensino fundamental e médio, fato que não afeta os resultados, pois a temática do trabalho é abordar o campo léxico-semântico da alimentação no português falado na região fronteiriça de Ponta Porã - MS. Vejamos a seguir o quadro com as lexias encontradas sobre a variação no uso de vocábulos referentes à alimentação com relação ao nível de escolaridade do falante.

Quadro 5 - variável escolaridade e gênero do falante, agindo sobre as lexias Primário E.

FundamentalE. Médio E. Fundamental E. Médio

Alimento H1 H2 H3 H4 H5 H6 M1 M2 M3 M4 M5 M6 RAlho + - - - - - - - - - - - 1Arroz + - + - + + + + - - - - 6Batata - - - - + - - - - - - - 1Beiju - - - - - - - - - - + - 1

Bolacha - - + - - - - - - - - - 1

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 16

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Bolo - - - - - - - - + - - - 1Cachorro

quente- - + - - - - - + - - - 2

Canjica - - - - - - - + - - - - 1Carne + + + - + + + + + + + + 11Cebola - - + - + - - + - - - - 3

Cebolinha - - - - - + - - - - - - 1Chipa + - - + + - - - + - - - 4

Chipaguaçú - - - - + - - - - + - - 1Churrasco + - + - - + - - - - - 3

Compota de guavira

- - - + - - - - - - - - 1

Doce de mamão

- - - - - - + + - - - - 2

Farinha + - - - - - - - - - - - 1Farofa - - - - - - - - - + - - 1Feijão + - + - + - - - - - - + 4Frango - - - - + - - - - - - - 1Guavira - - + - - - - - - - - - 1Lasanha - - + - - - - - - - - - 1Limão + - - - - - - - - - - - 1Locro - - - - - - - - + - - - 1

Macarrão - - + - + - - + - - - - 3maionese - - - - - - + - - - - - 2Mandioca + - + + + - + + - + - - 7

Milho + + - - + - - - + + + - 6Ovo - - - - - - + - - - + - 2

Pastel - - - - - - - - - + - - 1Peixe - + - + + - - - - - - - 3Pipoca - - - - + - - - - - - - 1Pizza - - + - - - - - - - - - 1

Polvilho + - - - - - - - - - + - 2Puchero - + - - - - - + - - + - 3Queijo - - - - + - - - - + + - 3

Salgado - - + - + - - - - - - - 2Sopa - + - - + - + - + - - - 2Sopa

paraguaia+ - + - - - + - + + + - 6

Tapioca - - - - - - - - - - + - 1Verdura - + - - - - + - - - + 3Vori vori - - - - - - - - + - + - 2

Quadro 6 – Vocábulos referentes à alimentação líquida

17- 25 25-50 51 3M DIANTE

17-25

25- 50 51 ANOS

ALIMENTO H1 H2 H3 H4 H5 H6 M1 M2 M3 M4 M5 M6 R

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 17

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Café - - - + - - - - - - - - 1

Cha - - + - - - - - - - - - 1

chimarrão - - + - - - - - - - - - 1

Cuciro - - - + - - - - - - - - 1

Refrigerante + - - - - - - - - - - - 1

Sorvete + - - - - - - - - - - - 1

Tereré + + - - - - + - - - - - 3

Glossário dos vocábulos da alimentação encontrados no corpus analisado

Alho- gênero de ervas bulbosas da família das Liliáceas, que se distinguem por seu cheiro característico.

Arroz a grego- uma modalidade de arroz, cujo cereal se mistura com ingredientes variados.

Arroz- planta graminácea de que há muitas variedades; grão produzido por essa planta e pratos preparados com os grãos dessa planta.

Batata- o tubérculo comestível da batata inglesa. Qualquer tubérculo, comestível ou não.

Beiju- espécie de bolo de tapioca ou de massa de mandioca. Prato típico no norte brasileiro e no Paraguai.

Bolacha- biscoito achatado.

Bolo- tipo de pastelaria, de formas variadas, feita, em geral, de farinha, ovos, açúcar, e gorduras.

Café- fruto do cafeeiro. Esse fruto possui dupla elipóide ou globosa, vermelha, com escassa polpa adocicada e duas grandes sementes, as quais constituem a matéria prima para o preparo do café. Pelo francês – café e pelo italiano – caffe.

Canjica- Papa consistente e cremosa feita de milho verde ralado, a que se acrescenta açúcar, leite de vaca ou de coco, e polvilho com canela. Encontrados em SP, MT e GO, curau; em MG e RJ, coral e papa de milho; no RJ, canjiquinha.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 18

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Carnes- tecido muscular, animal ou humano, ou seja, a parte vermelha dos músculos que se considera comestível.

Cebola- da botânica: erva bulbosa liliácea, condimentosa, de cheiro e sabor acres. É utilizada como tempero em preparos de alimentos, sobretudo alimentos salgados.

Cebolinha- da botânica: erva liliácea de folhas compridas, cilíndricas, comestíveis. È utilizada como tempero em vários pratos.

Chimarrão- espécie de planta chimarrón. Mate amargo, tomado quente numa cuia com o auxílio de uma bomba.

Chipa- vocábulo brasileiro das regiões de MS, MT e RS. Bolo que se prepara com a massa de milho fervido, socado e passado na peneira, misturado com leite e assado no forno, e que se faz de polvilho e queijo ralado, em forma de rosquinha, assado ao forno.

Chipaguaçú- preparado com leite, massa de milho fervido, socado e peneirado, adicionado leite, ovos e queijo. È uma variedade da chipa, apenas o nome a diferencia.

Churrasco- porção de carne, assada ao calor da brasa, em espeto ou sobre a grelha. Alimento típico dos gaúchos, mato-grossenses e sul-mato-grossenses, mas que se encontra em várias regiões do Brasil.

Cuciro- bebida quente, conhecida como chá, feita de ervas.

Doce de guavira- doce feito a partir da fruta, que é tipicamente regional. Leva açúcar e canela ou cravo. Fruta específica de regiões de calor intenso e invernos rigorosos, como é o caso do estado de MS.

Doce de mamão- doce feito a partir da polpa da fruta, bem madura; leva açúcar e cravo.

Farinha de mandioca- mandioca ralada ou moída, torrada. É uma farinha feita da mandioca. Do latim farina. Pó a que se reduzem cereais moídos.

Frango- o filho da galinha, já crescido, mas antes de ser galo. Em geral é abatido e servido como alimento.

Frutas- plural de fruta, nome comum a frutos, pseudofrutos e infrutescências comestíveis. Do latim fructu.

Guavira- fruto avermelhado, com aroma adocicado. Sinônimo de guariroba.

Lasanha- tiras largas de farinha de trigo. Prato preparado com massa entremeada de

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 19

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

carne moída, fatias de mozarela e molho de tomate.

Legumes- fruto seco monocarpelar, de deiscência mista, característico das leguminosas. Planta ou parte da planta que serve para a alimentação humana; hortaliça, verdura. Qualquer cereal.

Locro- carne guisada; geralmente pucheiro, com milho ou canjica. Comida regional dos paraguaios. Comida nutritiva e de grande sustança.

Macarronada- preparado culinário, cujo principal elemento é o macarrão. Servido com frequência com molho de tomate ou outro molho

Mandioca- do tupi. Planta leitosa, da família das euforbiáceas, cujos grossos tubérculos radiculares, ricos em amido, são de largo emprego na alimentação, pela qual existem espécies venenosas que servem para fazer farinha e não para comer.

Mate- bebida quente preparada pela emução de folhas da erva mate; chá mate.

Milho- do latim miliu. Erva alta, da família das gramíneas, originária da America do sul, cultivada por causa dos seus grãos nutritivos, que se encontram agrupados a espiga.

Pastel- massa de farinha de trigo, recheada de carne, queijo, palmito e outros, assada ou frita.

Pipoca- o grão do milho arrebentado ao calor do fogo, no óleo ou na gordura. Geralmente preparado salgado, mas há a existência de uma variedade doce.

Polvilho- pó fino, obtido do resíduo da lavagem da mandioca ralada. Tapioca ou goma; muito utilizado em receitas.

Pucheiro- cozido de carne de boi ou carneiro, com legumes. Espécie de ensopado.

Pucherada- puchero + Ada. Culinária brasileira dos Estados de MS e também paraguaios. Ensopado ou bolo de milho, cebola, ovos, manteiga e leite.

Queijo- alimento arredondado com coloração amarelada. Derivado do leite, resultado da coagulação e fermentação do leite. Alimento que compõe várias receitas.

Soja- planta leguminosa largamente cultivada em todo o mundo por suas sementes, que fornecem produtos valiosos (óleo, farinha).

Sopa paraguaia- bolo salgado feito de milho ralado, ovos, leite, óleo e queijo. Alimento típico do Paraguai.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 20

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

Tereré- bebida gelada, oriunda dos paraguaios e indígenas. Estilo chimarrão, mas gelado. É preparado com erva mate socada, colocada em uma cuia e bomba, servido com água e gelo ou com outras ervas como hortelã. Bebida típica da fronteira entre Brasil – Paraguai e do estado de MS.

Verdura- a cor das plantas, das folhas das árvores, das ervas. Hortaliça e as plantas e vegetais. Alimento saudável que acompanha pratos culinários.

Vori vori- bolinho frito, alimento paraguaio.

Considerações finais

Toda pesquisa requer dedicação, leitura e entendimento das teorias que fundamentam o texto. Este trabalho em especial, proporcionou o conhecimento e reflexão das questões sociolinguísticas, a partir dos estudos culturais e linguísticos da região fronteiriça e, além desses conhecimentos técnicos obtidos, o contato com os informantes acomodou a troca de experiências pessoais e a prática das teorias estudadas para a execução da investigação linguística.

A escolha do assunto abordado se deve pela razão de registrar a língua, em sua modalidade oral, as lexias do campo da alimentação, pois como já foi discutido nos capítulos anteriores, o registro das lexias é uma forma de entender como a língua se integra na sociedade.

Entender as teorias que Calvet, Saussure e Biderman propõem no sentido de sentir a realidade linguística e compreender o mundo dos signos e de seus significados, uma vez que é função da língua, como cultura, inserida na sociedade, perceber a importância da linguagem como objeto de estudo não só das ciências da linguagem, mas também de outras ciências envolvidas na compreensão e na comunicação humana.

O presente trabalho abordou o estudo dos campos lexicais, a partir da fala fronteiriça, cujo diglossia e o bilinguismo são muito presentes, proporcionados pelo multiculturalismo presente na região, que além de enriquecer a fala local, nos faz entender como se estrutura a língua, ou as línguas em contato. Pois esses fenômenos linguísticos marcam a cultura local, caracterizam o povo fronteiriço pela fala; e a troca de léxicos, de cultura e a “mistura” das línguas espanhola, guarani e portuguesa.

A partir da análise do corpus coletado pudemos fazer o levantamento das lexias faladas pelos fronteiriços, que acabam influenciando e enriquecendo a língua Portuguesa com palavras tão significativas e, também; não podemos esquecer de mencionar a influência da língua guarani e de outras línguas indígenas faladas na região.

Não só a linguagem encanta e suscita a vontade de pesquisar, mas de saber que é na linguagem, que nos expressamos, como disse Sigrist, que a cultura se configura no ato de se expressar, seja na dança, no teatro, na música e na alimentação.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 21

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

A pesquisa se pautou no campo da alimentação, cujos costumes são preservados por aquelas pessoas entrevistadas, e percebemos que cada comida possui uma história, como a sopa paraguaia, que foi invenção de uma cozinheira presidencial. Cada lexia possui realidades que socialmente as pessoas fronteiriças foram criando, foram perpetuando de geração a geração. Por isso que o estudo do léxico é importante para o registro não só da forma que as pessoas falam na época em que foram registradas, mas para entender como a cultura se organiza, e como ela se mostra na vida das pessoas.

Enfim, pesquisar a fronteira e seus hábitos alimentares para abarcamos e conhecermos as lexias encontradas foi mais um ato de nos conhecermos melhor, de entender nossa história regional, pois como habitantes dessa região, pesquisá-la é entender mais sobre a nossa própria história.

Referências

BIDERMAN, M. T. C. Teoria linguística: linguística quantitativa e computacional. Rio de Janeiro: livros técnicos e científicos, 1978.

ELIA, S. Sociolinguística – uma introdução. Rio de Janeiro: Padrão, 1987.

GRESSLER, A. L.; VASCONCELOS, L. M. Mato Grosso do Sul Aspectos Históricos e Geográficos. Dourados – MS, 2005.

GUASH, Antonio e ORTIZ, Diego. Dicionário Castelhano-Guarani Guarani-Castelhano. 13º Ed. Asunción, Paraguay: CEPAG, 1998.

HOUAISS, A. e VILLAR, M. S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Instituto Antonio Houaiss de Lexicografia e banco de dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

ISQUERDO, A. N. e KRIEGER, M. da G. (Orgs.) As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia, terminologia, volume II. Campo Grande, MS: Editora UFMS, 2004.

LABOV, W. Modelos sociolinguísticos. Madrid: Cátedra, 1983.

LYONS, J. Linguagem e linguística – uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.

MONTEIRO, J. L. Para compreender Labov. Petrópolis – RJ: Vozes, 2000.

NARO, A. Idade. In: MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. (orgs). Introdução à sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 1994.

PAIVA, M. da C. Sexo. In: MOLLICA, M. C. e BRAGA, M. L. (orgs). Introdução à sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 22

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.brBacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo GrandeM e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d eISSN: 2178-1486 • Volume 1 • Número 4 • julho 2011

SANTOS, M. R. dos. Um estudo do léxico – vocabulário da alimentação. Dourados-MS: UEMS, 2007. (Trabalho de Conclusão de Curso)

SAUSSURE, F.de. Curso de linguística geral. Editora Cultrix, 1989.

SIGRIST, M. Chão Batido. A cultura Popular de Mato Grosso do Sul Folclore e Tradição. Campo Grande: UFMS, 2000.

TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. São Paulo: Ática, 2007.

TENO, N. A. C. Um estudo do vocabulário da erva-mate em obras de Hélio Serejo. Três Lagos – MS: UFMS, 2003. (Dissertação de Mestrado)

VOTRE, S. Escolaridade. In: MOLLICA, Maria Cecília e BRAGA, Maria Luisa (orgs). Introdução à sociolinguística – o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, 2003.

Recebido Para Publicação em 30 de maio de 2011.

Aprovado Para Publicação em 9 de julho de 2011.

Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 1, nº 4, jul. 2011 23