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Estudio Sectorial
Sector cárnico de Brasil
Por:Orlando Martinelli
Informe FinalFecha: mayo 2010
Número de Proyecto IDRC: 104958
Título del Proyecto: Políticas regionales de Innovación en el MERCOSUR: obstáculos yoportunidades
Argentina-Uruguay
Centro RedesMansilla 2698, piso 2, Bs. As. (C1425BDP) Argentina
CEFIRAv. Joaquín Suárez 3568, 11700, Montevideo – Uruguay
Nombres de los miembros del equipo de investigación:Fernado Porta (Cood.)– Centro RedesDiana Suárez – Centro RedesJésica De Angelis – Centro RedesCristina Zurbriggen – CEFIRMariana González – CEFIR
Información de contacto de los miembros del equipo de investigación:[email protected]@centroredes.org.arjdeangelis@centroredes.org.arcristinazurbriggen@[email protected]
Este informe se presenta tal como se recibió de parte del(los) becario(s) del proyecto.No ha sido evaluado por expertos ni ha pasado por otro proceso de evaluación.
Este trabajo se utiliza con el permiso del Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo yEducación Superior (Redes) y el Centro de Formación para la Integración Regional(CEFIR)
Copyright 2010, Centro de Estudios sobre Ciencia, Desarrollo y Educación Superior(Redes) - Centro de Formación para la Integración Regional (CEFIR)
Resumen:Brasil ha incrementado significativamente su participación en el mercado cárnicomundial y regional; a pesar de que el principal mercado en términos de volumen loconstituyen las ventas al mercado doméstico, la participación de las exportaciones hamostrado una tasa creciente. El contexto del sector en Brasil es de expansión yupgrading tecnológico, pero hay sin embargo fuertes impulsos a la concentración. Entérminos regionales dichos impulsos pueden tener impactos en la configuración de losrespectivos mercados nacionales, especialmente en Argentina y Uruguay. Un aspectorelevante, si no se desarrollan políticas más agresivas de fomento al desarrollo localde conocimiento para el sector, el mismo podría acabar siendo completamentedependiente del valor agregado generado en (y apropiado por) los países desarrollados.
1
Palabras clave: dinamica innovativa, perspectivas, estrategias, políticas, desempeñoexportador, estructura de mercado
2
Proyecto: Políticas regionales de Innovación en elMERCOSUR: obstáculos y oportunidades
IDRC-REDES-CEFIR
Estudo Setorial
Setor de Carnes no Brasil
Orlando Martinelli(Universidade Federal de Santa Maria, Brasil)
2009
Estrutura, Evolução e Considerações Macroeconômicas Gerais
3
A fabricação e o processamento de carnes são atividades antigas na estrutura industrial
brasileira, cuja origem remonta aos primeiros esforços de industrialização. Acompanhando o
padrão de desenvolvimento de diversos segmentos produtivos, o abate e fabricação de
produtos de carnes teve seu início baseado em pequenas unidades produtivas, com mercado
fundamentalmente local/regional. A atividade ganha intensidade e maior importância
econômica com o desenrolar do processo de crescimento e de urbanização da economia,
especialmente a partir dos anos 70, quando também tem-se surgimento das empresas lideres e
a consolidação das cadeias produtivas –especialmente nos segmentos de aves e suínos. No
caso da carne bovina, esse processo ocorreu mais tarde, ganhando maior importância a partir
dos anos 90.
Este trabalho aborda algumas características e/ou especificidades recentes –notadamente, a
partir dos anos 90 em diante– das estruturas produtivas, comerciais e tecnológicas dos
segmentos produtores e do processamento de carnes bovinas, de frango e suína. Nesse
propósito, são priorizados analiticamente os segmentos produtivos mais importantes, quais
sejam: a) a avicultura de corte (Classificação CNAE-IBGE1 - 0155-5/01); b) a suinocultura
industrial (Classificação CNAE-IBGE – 0154-7/00); c) a pecuária de corte (Classificação
CNAE-IBGE – 0151-2/01); e; d) as atividades de abate e processamento desses tipos de
carnes, com as classifições: CNAE-IBGE –0151-2 (para carnes bovina); CNAE-IBGE –
1012-1 (para aves e suínos); e CNAE-IBGE – 1013-9 (para fabricação de produtos de
carnes). Portanto, não são focos analíticos, por exemplo, a avicultura de postura, o segmento
de gado de leite, ou mesmo as atividades de comércio final de produtos cárnicos.
1. Condições Macroeconômicas
1.1. Crescimento e mudanças no consumo
A dinâmica de longo prazo do setor de carnes brasileiro está fortemente conectada ao
crescimento e às mudanças no consumo de carnes, cujas causas encontram-se tanto no plano
econômicos, bem como no sociocultural. No plano econômico, um fator fundamental é a
elevação do poder de compra familiar, decorrente tanto do crescimento tendencial, de longo
prazo, da renda per capita2 e, mais recentemente, pela ação das políticas econômicas, sejam
1 O CNAE – Código Nacional de Atividade Econômica– é uma classificação realizada pelo Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE), seguindo a classificação do ISIC - International Standard IndustrialClassification – das Organização das Nações Unidas (ONU). A classificação ISIC (Rev. 4) seriam, a 4 dígitos:ISIC 1010 – atividades de processamento de carnes; ISIC 0141 - criação de gado e búfalos; ISIC 0145 – criaçãode porcos e suínos; ISIC – 0146 – criação de frango.2 Tem-se que, entre 1960 e 1980, período principal de formação do consumo urbano, o crescimento da renda percapita brasileira elevou-se de US$ 2.700 (US$ de 2008) para US$ 6.700, portanto uma variação de 148% no
4
as de combate às altas taxas de inflação3, ou mesmo, as políticas sociais de renda mínima. A
consequência disso foi, no plano econômico stricto sensu, a ampliação do tamanho absoluto
do mercado de carnes (e, diga-se, do mercado de alimentos, em geral).
No plano sociocultural, além do importante crescimento absoluto da população4, o mercado
de carnes foi afetado, também pelas importantes transformações na estrutura etária e sócio-
territorial ocorridas na sociedade brasileira. Nesse aspecto podem ser destacadaso os
crescimentos da taxa de urbanização (especialmente a decorrente do êxodo rural) e da taxa de
“esperança de vida média”, especialmente a partir dos anos 80 em diante5. A maior taxa de
urbanização e o surgimento/desenvolvimento das grandes e médias cidades (e seus correlatos
“novos estilos de vida”) significou a ampliação e a alteração do padrão de consumo de
alimentos. Os “novos consumidores urbanos” passam a valorizar produtos alimentares
industrializados, mais práticos no seus preparos e/ou que possam ser acoplados à
funcionalidade de freezers e/ou microndas.
Num sentido agregado, o crescimento do consumo de carnes, entre 1970 e 2008, pode ser
visto pelo Gráfico 1; ganham destaque especialmente o crescimento do consumo das carnes
bovinas e de frango.
Gráfico 1: Brasil - Consumo de Carnes Bovina, de Frango e Suína – 1970-2008 (Kg/per capita/ano)
período. O Brasil cresceu com taxas mais elevadas em todo o mundo. Entre os anos 1980 e 2000, a economiabrasileira se expandiu mais lentamente. Mesmo assim, a renda per capita elevou-se do patamar de US$ 6150entre 1981/85 para cerca de US$ 7150, pós Plano Real (1994). O Gráfico Anexo 1 (na parte de Anexo destetrabalho) mostra visualmente o comportamento do PIB per capita brasileiro.3 Fatores mais recentes, tais como a implementação de programas sociais, os reajustes do salário mínimo, e aampliação da cobertura da previdência contribuíram positivamente também para a ampliação do mercado dealimentos em geral, e de carnes, em particular.4 Em 1960, a população brasileira de de cerca de 70 milhões de habitantes; em 2008, cerca de 193 milhões. Ouseja, em aproximadamente 50 anos, a população multiplicou-se por 2,7. Se, por hipótese, considerarmos queapenas 40% da população consomem carnes o mercado passou absoluto de 2,8 milhões de pessoas para 7,7milhões, nesse período.5 Nos anos 60, o Brasil ainda era um país basicamente agrícola, com taxa de urbanização de 44,7%. Em 1980,diferentemente, 67,6% do total da população já vivia nas cidades . Nos anos 2000, a taxa média de urbanizaçãoera de 84%. No que tange ao aumento da taxa de esperança de vida ao nascer, os dados do IBGE monstram que,entre 1940 e 1990, a esperança de vida ao nascer aumentou de 41,5 para 67,7 anos de idade, ou seja, uma médiade mais de 5 anos por década. Em 2007 a taxa elevou-se para 72,7 anos.
5
Fonte: FAO e Conab
A maior urbanização da sociedade induziu também mudanças do comércio final de
alimentos, destacando-se o crescimento econômico das grandes empresas varejistas
(nacionais e internacionais). Esse fato, no plano econômico, implicou na modificação do
padrão de concorrência (no mercado final de carnes) e na modernização das formas de gestão
da cadeia produtiva, notadamente entre os elos da indústria processadora e do consumo final.
Desse modo, no que tange ao mercado de carnes, a ação conjunta desses fatores induziu tanto
a “expansão horizontal do mercado” –isto é, pela incorporação de mais consumidores no
mercado de produtos básicos e de baixa agregação de valor–, bem como a “expansão vertical
dos mercados”, isto pela criação de segmentos e/ou nichos de mercados com produtos
diferenciados e/ou com maior agregação de valor. No plano das empresas processadoras de
carnes, por sua vez, a manifestação da tendência de expansão dos mercados domésticos de
carnes viabilizou a ampliação de seus investimentos em plantas produtivas, bem como a
formulação de estratégias de crescimento, de diversificação e diferenciação de produtos.
Essas condições domésticas favoráveis –juntamente com a política cambial (em geral, em
patamares “não desfavoráveis” às exportações) e com os benefícios das vantagens
comparativas da estrutura produtiva agrícola (discutido adiante) brasileira– alavancaram, por
sua vez, as estratégias das empresas na conquista de importantes fatias dos mercados
externos.
6
1.2. Vantagens comparativas da base agrícola
A partir dos anos 70, ocorrem dois movimentos importantes e interconectados na
agropecuária brasileira. O primeiro é o processo de modernização da base produtiva agrícola,
que induziu a geração de uma oferta de grãos e cereais com níveis de produtividade
(produção/área) e a um custo produtivo viáveis e compatíveis às necessidade de expansão da
criação animal e da indústria processadora6. Neste aspecto, deve-se destacar o papel
importante do sistema de inovação agrícola brasileiro que permitiu a construção de um grau
de capacitação tecnológica no setor agroindustrial, e viabilizou a introdução e difusão
sustentada de inovações –especialmente na base agropecuária–, e a elevação do grau de
produtividade da estrutura técnico-produtiva ao longo do tempo.
O segundo movimento diz respeito ao deslocamento geográfico da produção agrícola e da
atividade pecuária –incorporando o “fator terra” (mais fértil e mais barata) na função de
produção–, que supriram as necessidades domésticas de matérias-primas para os diversos
setores das cadeias produtivas, sem incorrer em problemas de escassez e/ou de
incompatibilidade de custos de produção. No plano competitivo isso foi de fundamental
importância, uma vez que o principal item do custo produtivos de frangos e suínos é o da
ração, baseada especialmente em milho e outros grãos. O custo da ração corresponde a cerca
de 60-70% do custo total da produção de frangos e suínos.
No caso da pecuária bovina de corte, o crescimento da oferta de matéria-prima (rebanho de
gado) exigiu maiores extensões de terras para a criação, uma vez que o principal sistema
produtivo de gado brasileiro é o do tipo pastagens-extensivo. Portanto, o menor custo
comparativo da aquisição de terras mais distantes e mais baratas nesse caso foi importante.
De modo complementar, cabe observar que o crescimento sustentado do agronegócio de
carnes no Brasil também atraiu filiais de importantes empresas multinacionais do “setor
insumidor”, tais como de genética, de rações, de medicamentos e de saúde animal. Em função
do crescimento da importância do mercado brasileiro, diversas empresas passaram a
internalizar algumas funções de P&D, especialmente as de adpatação de produtos às
condições produtivas e edafilo climáticas locais. Isso foi realizado, em diversos casos, em
6 A a tecnificação e modernização de grande parte da agricultura brasileira foi feita basicamente pelaimplementação de uma política agrícola fortemente amparada em crédito agrícola subsidiado e em outrosbenefícios fiscais e creditícios.
7
parceria com empresas, IP, Embrapa, cooperativas e universidades locais, fato que gerou um
certo efeito de transbordamento (spillover) de conhecimento, que pode ser incorporados, em
alguma medida, pelos agentes produtivos locais.
Esses fatores, somados aos aspectos edáfilo e climáticos favoráveis de grande parte do
território brasileiro, foi possível a criação de vantagens comparativas ricardianas importantes
para as empresas brasileiras. Essas vantagens podem ser ilustradas, por exemplo, pela
comparação entre alguns países dos patamares de custo de produção de bovinos, frango e
suínos. Embora não sejam dados precisos e imutáveis –uma vez que os valores reais são
dependentes das mudanças relativas das taxas de câmbio– eles podem evidenciar que os
custos brasileiros nesses produtos são extremamente competitivos quando comparados aos
demais principais produtores. (Quadro 1)
Quadro 1: Estimativa Comparativa de Custo de Produção de Carnes
Custo Bovino (*) Custo Frango (**) Custo Suíno (***)
Brasil: US$ 0,90-1,00/Kg Brasil: US$ 0,44/Kg Brasil: US$ 0,73/Kg
Nova Zelandia US$ 1,23/Kg EUA: US$ 0,55/Kg EUA: US$ 0,77/Kg
Argentina US$ 1,30/Kg China: US$ 0,61/Kg Canadá: US$ 1,14/Kg
EUA US$ 1,90/Kg Mexico US$ 0,65/Kg UE: US$ 1,25/KgFonte: (*) dados em Andrade (2007); dados em Souza Alves (2003), (***) dados em Miele & Waquil, 2007.
1.3. Modernização das empresas processadoras de carnes
As mudanças no ambiente macroeconômico da economia brasileira (especialmente derivados
da maior abertura comercial e do plano de combate a inflação – o Plano Real) induziram as
empresas agroprocessadoras líderes a um processo de modernização tecnoprodutiva,
financeira e organizacional. Além da modernização de plantas produtivas e instalações, as
empresas passaram a acessar novas formas de financiamento do circuito financeiro global
(tais como, bolsa de valores, mercados de derivativos, financiamento de bancos públicos e de
desenvolvimento, sistemas cooperativos, etc) que alavancaram tanto suas estratégias de
crescimento orgânico, bem como as estratégias de expansão horizontal, por meio de F&A.
Em alguns casos, a participação estatal –especialmente via Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)– no capital das empresas foi fundamental
para alavancar as suas estratégias de internacionalização produtiva.
No plano organizacional, foram implementados novos modelos de gestão nas empresas,
destacando a ampliação de sistemas de terceirização de atividades, de estabelecimento de
alianças e parcerias com diversos agentes do sistema agroindustrial, e de investimentos em
8
infra-estrutura dos sistemas de distribuição e logística, tais como o uso da utilização de
tecnologias de informação (TI) para o gerenciamento, não apenas das firmas individualmente,
mas do conjunto de atores que formam as cadeias agroindustriais.
As empresas líderes de carnes brasileiras deixam de ter o caráter de “empresas familiares”
tornando-se corporações produtivas profissionalizadas nos âmbitos econômicos e gerenciais,
dinamizando comercialmente os mercados domésticos, e tornando-se importantes players nos
mercados internacionais.
2. Sistemas Produtivos
Os sistemas produtivos de carne bovina e os sistemas de frango e de suíno apresentam mais
diferenças do que similaridades, no que se refere aos aspectos produtivos, comerciais e
tecnológicos. As diferenças têm suas raízes principalmente nas formas diferenciadas de
atuação dos agentes econômicos e/ou de instituições na organização das cadeias produtivas, e
na geração assimétrica de embeddedness social entre os agentes e entre agentes e suas
organizações. Analiticamente, as diferenças e similaridades entre os sistemas produtivos
podem ser focadas a partir dos seguintes itens das cadeias produtivas: a) aos condicionantes
da oferta, qualidade e custo da matéria-prima. O acesso eficiente (lato sensu) às fontes de
materias-primas é de fundamental importância para a competitividade das empresas. Seja em
função da importância relativa dos seus preços na composição do custo, mas também em
função de outros atributos –tais como, a qualidade do produto, a frequência da oferta.
Portanto, numa perspectiva de formulação de estratégia competitiva, a montagem de um
sistema adequado e eficiente de acesso e fornecimento de matérias-primas alavanca as
possibilidades produtivas, tecnológicas e comerciais das empresas de processamento final; b)
aos condicionantes técnico-produtivos do processamento industrial. Este item se relaciona
com os ganhos de competitividade dinâmicos, advindos tanto da atualização tecnológica da
planta industrial, pelos ganhos de escala e pelas possibilidades de diferenciação de produtos;
c) aos acesso aos canais de comercialização e à eficiência da logística. Este item diz respeito
aos ganhos advindos das formas de acesso ao consumidor final, tais como rapidez, eficiência
e qualidade; d) às formas de inserção nos mercados internacionais. Este item relaciona-se
com as formas de inserção externa, se por via comercial (exportações) e/ou pela inserção
produtiva, isto é, pela produção local nas economias internacionais.
Uma síntese comparativa entre os sistemas produtivos de carne de boi de frango/suínos pode
ser vista no Quadro 2. O sistema de frango e suíno estão agrupados por que eles apresentam
praticamente as mesmas características técnico-produtivas e comerciais.
9
Quadro 2: Principais Características das Cadeias Produtivas de CarnesCadeia
ItemBOI FRANGO/SUÍNO
Matéria-prima
Regularidade de oferta Baixa/Safra Alta
Produtividade Baixa Alta
Controle da Indústria sobre o Progresso Técnico Crescente Alto
Tipo de Relação com a Indústria Mercado Spot Contrato
Pagamento por Qualidade/Produtividade Raro Freqüente
Sanidade dos animais Crescente Grande
Indústria Processadora
Atualização tecnológica Heterogênea Homogênea
Padrão Sanitário Heterogêneo Bom
Economias da Escala Limitadas Grandes
Custos de Coordenação Baixos Altos
Esforços para a Diferenciação do Produto Fraco Grande
Canais de Comercialização
Atacadistas Sim Não
Supermercados Sim Sim
Grau de Intermediação Decrescente Baixo
Internacionalização
Produtiva Alta Baixa
Comercial Alta Alta
Fonte: (Siffert Filho, N. & Favaret Filho, 1998), com modificações do autor.
A base produtora de matérias-primas (os animais) e a indústria processadora de carnes são
setores formados quase que totalmente por capitais nacionais. Na indústria processadora, há
um movimento intenso de fusões e aquisições (F&A) e, no caso de carne bovina, há um
concomitante processo de internacionalização, notadamente a partir dos anos 90. Isso tem
induzindo a formação de grandes empresas brasileiras processadoras de carnes, uma vez que
são as empresas de capital doméstico que comandam o processo de F&A. A participação
mais importante do capital estrangeiro está em dois elos das cadeias produtivas: nas
atividades produtoras de insumos para a produção/criação de animais, especialmente nos
segmentos de genética, medicamento/saúde animal e de alimentação, onde as empresas
estrangeiras são os principais pólos geradores e difusores de tecnologia. Em geral, as
empresas de capital nacional são empresas seguidoras, com papel subordinado na dinâmica
inovativa desses setores7. O capital estrangeiro tem participação importante também no
7 Este ponto será aprofundado posteriormente neste trabalho.
10
comércio final de carnes doméstico (destacando-se o de produtos com maior elaboração
industrial), através das grandes redes multinacionais de supermercados8.
2.1. Carne Bovina
A estrutura produtiva de carne bovina brasileira pode ser segmentada em dois sistemas
produtivos bastante diferenciados. O primeiro sistema é formado por pecuaristas tecnificados,
normalmente utilizadores de técnicas avançadas de produção animal, por frigoríficos
modernos e bem equipados nos aspectos técnico-produtivos e comerciais, e por uma logística
adequada às diversas etapas da produção. As empresas processadoras, além de cumprirem os
quesitos do sistema de fiscalização sanitária federal (SIF) praticam outras técnicas de controle
de qualidade, tais como as de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), e
de Boas Práticas de Fabricação. Com isso, podem ofertar produtos que atendem as exigências
dos mercados nacional e internacional, no que diz respeito à flexibilidade e diferenciabilidade
de cortes, à quantidade de oferta, ou dos quesitos de normas técnicas e qualidade.
O outro sistema, por sua vez, é composto por agentes menos competitivos da cadeia
produtiva. Fazem parte deste grupo os pecuaristas menos intensivos em utilização de
tecnologia e os pequenos e médios abatedouros/frigoríficos, que operam sob os sistemas de
fiscalização estadual (SIE) e municipal (SIM). Os mercados atendidos são os regionais e/ou
os locais, tais como açougues e feiras-livres. Infelizmente também é comum na atividade os
denominados “abates clandestinos”, realizados em condições de higiene não-adequadas à
margem da fiscalização, e cuja distribuição dos produtos normalmente realizada localmente
em açougues e feiras livres, em geral também sob inadequadas condições de armazenamento,
transporte e exposição do produto.
Em ambos os sistemas, a coordenação vertical entre os agentes da cadeia é predominantmente
via preço de mercado (preço spot), sujeito aos ciclos comerciais típicos da atividade. No
entanto, observa-se que no sistema produtivos moderno, além dos mecanismos de mercado,
há uma forte tendência de manifestação de outros instrumentos de governança que buscam
maior eficiência, estabilidade e coordenação ao longo da cadeia produtiva9.
8 Cabe destacar que há um movimento importante de F&A entre as redes de varejo de alimentos no Brasil, cujaconsequência tem sido a elevação da importância econômica das grandes redes multinacionais no comércio finalde alimentos.9 Esses pontos serão mais detalhados mais adiante neste trabalho.
11
Figura1: Brasil - Sistemas de Produção, Industrialização e Comércio de Carne Bovina
Fonte: Sebrae, 2000
2.1.1.Produção de carne bovinaSegundo os dados do USDA, em 2008, o Brasil possuia o segundo maior rebanho bovino do
mundo (com 175,4 milhoes de cabeças), sendo superado apenas pela Índia (281,7 milhões de
cabeças), onde, em função de aspectos culturais, a produção de carne não assume importância
econômica significativa. Em seguida do Brasil estavam principalmente os rebanhos da China
(105,9 milhoes de cabeças), União Européia (89,0 milhões), Argentina (55,7 milhões),
Colombia (30,1 milhões) e da Austrália (28 milhões). No Brasil, a bovinocultura é uma
atividade que está presente quase em todo o território, sendo os principais estados produtores
Minas Gerais (com 12% do total), Mato Grosso (11%), Mato Grosso do Sul (10%), Goias
(9,8%) e Pará (7,5%). (IBGE, 2009)
Os maiores produtores mundiais de carne bovina em 2007 foram: Estados Unidos (12,0
milhões de toneladas); União Européia (8,2 milhões); Brasil (7,0 milhões); China (5,8
milhões) e Argentina (2,8 milhões). A produção brasileira de carne bovina tem se destacado
em termo internacionais; é a segunda maior, ao não se considerar a produção agregada da
UE. Segundo dados da Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas
(FAO), a produção mundial de carne bovina cresceu, em quantidade, a uma taxa média anual
de 1% entre 1990 e 2007, atingindo, no último ano, o patamar de 61,9 milhões de toneladas.
No mesmo período, a produção brasileira cresceu a uma taxa de 3,8% ao ano, saltando de 4,1
milhões de toneladas, em 1990, para 7,0 milhões de toneladas em 2007. A participação
brasileira na produção mundial aumentou de 7,7% para quase 12,0% do total produzido em
12
2007. Dentre os principais países produtores, destaca-se o desempenho da China, cuja
produção cresceu a uma taxa média anual de 11,5%, influenciada, principalmente, pelo
aumento do consumo doméstico. A produção brasileira, por sua vez, teve seu crescimento
determinado, em grande parte, pelo crescimento das vendas externas. (Gráfico 2). Enquanto o
consumo doméstico expandiu a uma taxa média anual de 1,9% na última década, as
exportações de carne bovina cresceram, em quantidade, 26,1% ao ano no período
compreendido entre 1997 e 2007.(MAPA, 2008)
Gráfico 2: Principais Produtores de Carne Bovina – 1990 – 2007 (milhões de toneladas)
Fonte: FAO
2.2. Carnes de Frango e de Suíno
Os sistemas produtivos da avicultura de corte e da suinocultura industrial estão baseadas no
denominado “sistema integração”. Nesse sistema, sob relações contratuais, os agentes
processadores (que podem ser as empresas de capital privado e/ou cooperativas) fornecem ao
produtor, animais de linhagens genéticas selecionadas, ração, assistência veterinária,
medicamentos e garantia de compra. Os produtores, por sua vez, é responsável pelos
investimentos em instalações e equipamentos, e pelos custos de mão-de-obra e outros. Ao
final do ciclo de engorda, o pagamento dos lotes de animais varia de acordo com índices de
eficiência atingidos no processo (conversão alimentar, mortalidade, tempo de engorda, etc).
13
O contrato elimina os custos envolvidos em transações de mercado, como o acompanhamento
e a negociação do preço, a busca de compradores e as operações de logística, aspectos
razoavelmente definidos no contrato. Ao se concentrar na atividade pecuária, os produtores se
especializam e podem buscar ganhos de produtividade e qualidade para o produto final
(conversão alimentar, tempo de engorda e sanidade). Tal processo industrial depende
relativamente pouco das condições naturais externas, o que acaba por conduzir o processo de
produção de frangos e suínos muito similares a um sistema de produção industrial
propriamente dito, dada a previsibilidade de sua produção.(Vieira et alli, 2006).
Verifica-se também a concentração geográfica da estrutura produtiva nos estados do Sul do
Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). No caso de frango, esses estados
respondem por cerca de 55% do total. No caso de suíno, a parcela detida por esses estados é
ainda maior, com cerca de 80%. Em função da necessidade técnico-produtiva de proximidade
geográfica entre as granjas e as atividades de processamento, as principais plantas
processadoras de carnes de frango e suinícola também se concentram nos principais estados
produtores10.
Mais recentemente tem ocorrido investimentos importantes na região Centro-Oeste
(especialmente dos grupos Sadia e Perdigão), em busca de condições melhores de oferta de
grãos da fronteira agrícola. É comum também a integração vertical das empresas
processadoras com a produção e esmagamento de grãos (com a internalização da fabricação
da ração para os animais), em função da importância do custo e das características
composicionais desse insumo para a criação diferenciada dos animais para atender diferentes
tipos de mercados. A Figura 2 abaixo retrata os principais fluxos econômicos dos sistemas
produtivos de frango e suíno.
Considerando o sistema de classificação de inspeção sanitária, pode-se classificar as
empresas processadoras e cooperativas em dois grupos distintos. No primeiro, estão as
grandes unidades produtivas sob inspeção SIF (Sistema de Inspeção Federal), cujas regras
sanitárias lhes permite a venda interestadual e internacional de produtos. Essas unidades
maiores também se caracterizam por operarem com diversas plantas produtivas em diversos
estados. No segundo grupo estão as unidades menores, sob inspeção estadual (Sistema de
10 A distância entre o abatedouro e as granjas de criação, além de aumentar o risco de stress nos animais (epossíveis perda do animal e/ou da qualidade da carne), eleva o custo de transporte aumenta o grau de risco deefetivação da escala de abate, em função das condições de acesso, e de possíveis acidentes ou outros tipos deatraso.
14
Inspeção Estadual-SIE) e municipal (Sistema de Inspeção Municipal-SIM), que operam nos
limites dos mercados estaduais e municipais. (Miele & Waquil, 2007)
As maiores empresas, em geral atuam conjuntamente –e majoritariamente– em ambas
atividades (frango e suíno). A inserção na atividades de carne bovina é recente e ainda
marginal para as empresas. Nos planos produtivo e comercial tem-se que as plantas
industriais dessas empresas são modernas nos aspectos tecnológicos, colocando-se nos
mesmo níveis das empresas de paises desenvolvidos (especialmente as americanas), seja em
termos de capacitação técnico-produtiva –e, portanto, de gerar economias de escala e escopo,
seja nas formas de capacitação gerencial e de gestão na implementação de estratégias
competitivas. Entre as empresas e cooperativas líderes, o mercado caracteriza-se pela busca
por ganhos de escala, a promoção da marca, a coordenação da cadeia produtiva, a inovação
em produtos e processos e diversificação das atividades em alimentos em geral.
Figura 2: Sistema Produtivo de Frango e Suínos - Fluxos de Produtos
Fonte: Perdigão, Relatório Anual, 2006
2.2.1. Produção carne de frango
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de carne de frango, superado pelos Estados
Unidos e pela China. A produção brasileira quadruplicou desde 1990, passando de 2,4
milhões de toneladas em 1990, para 9,7 milhões, em 2007. No período de 1990 a 2007, o
crescimento da quantidade produzida brasileira foi muito superior ao crescimento mundial,
15
fato que induziu a elevação da participação relativa brasileira na produção mundial de 6,7%
para cerca de 12%.(Gráfico 3)
Gráfico 3: Principais Produtores de Carne de Frango – 1990-2007 (milhões de toneladas)
Fonte: FAO
2.2.2. Produção de carne suína
A carne suína é a fonte de proteína animal mais importante no mundo, representando quase
metade do consumo e da produção de carnes. Em 2007, a produção mundial foi cerca 99
milhões de toneladas, seguida da produção de carne de aves com 76 milhões de toneladas, e
da carne bovina com 60 milhões (FAOstat). Ao longo dos anos 1990 e boa parte dos 2000 a
produção brasileira de carne suína foi a terceira maior em termos mundiais. Mais
recentemente essa posição tem sido dipustada, além do Brasil, pelo Vietnam, Rússia e
Canadá, cujas produções estão muito próximas. A China é, de longe, o principal produtor de
carne suína com 46% do total mundial, seguida da União Europeia, Estados Unidos e Brasil,
16
com 23%, 14% e 2,5%, respectivamente. Partindo de um nível de produção menor, a
produção brasileira foi a que apresentou maior taxa de crescimento média anual, 6,6% ao ano
entre 1990 e 2007; no entanto, a taxa caiu para cerca de 3% entre 1997 e 2007. A União
Europeia, por outro lado, apresentou a menor taxa de crescimento entre os principais
produtores, cerca de 1% ao ano. Tanto a China quanto os Estados Unidos apresentaram taxas
de incremento em torno da média de 2% ao ano. (Gráfico 4) (MAPA, 2008).
Gráfico 4: Principais Produtores de Carne Suína – 1990-2007 (milhões de toneladas)
Fonte: FAO
3. Estrutura de Mercado
O mercado de carnes pode, grosso modo, ser analisado a partir de duas configurações básicas
de mercados. A primeira configuração é a do mercado de produtos in natura e semi-
industrializados mais padronizados e de menor valor agregado. Nesse mercado, embora as
empresas adotem algumas estratégias de inovação e diferenciação produtos, a sua efetividade
competitiva é baixa, e raramente impõe barreiras à entrada, uma vez que essas estratégias
estão fundamentalmente ancoradas em condicionantes produtivos, tecnológicos e comerciais
já plenamente difundidos entre os agentes produtivo. O crescimento do consumo desses
produtos está positivamente associado ao crescimento da renda pessoal (ou familiar)
17
disponível –não apenas de salários/ordenados das atividades produtivas, mas também de
rendas monetárias derivadas de políticas públicas.
O segundo tipo de configuração de mercado é composto por produtos mais industrializados,
com maior valor agregado e conteúdo tecnológico. Isso faz com que as estratégias de
inovação e diferenciação por parte das empresas sejam mais intensas e efetivas na construção
de barreiras competitivas. A taxa de expansão de consumo nesse tipo mercado está
condicionada pelo poder de compra e pela capacidade das empresas em introduzirem e
difundirem eficientemente novos produtos no mercado. A combinação desses dois fatores
gera o potencial de crescimento vertical do mercado e induz a multiplicação de nichos de
mercados, especialmente em faixas de renda mais altas. Diferentemente do tipo anterior, o
maior conteúdo tecnológico dos produtos, especialmente em ingredientes e em embalagens
diferenciados, permite que as empresas possam obter lucros schumpeterianos com a
introdução de novos produtos nos mercados.
Essas configurações de mercado não são, à priori, excludentes no que diz respeito às
estratégias das empresas. No entanto, devido às barreiras à entrada típicas existentes nos
mercados de produtos de maior valor agregado, a presença –e, notadamente, a permanência–
das PME no segundo tipo de configuração de mercado é, de um modo geral, relativamente
mais difícil.
3.1. Principais Fatores do Ambiente de Competição
Pode-se, num plano geral, arrolar os seguintes principais fatores que compõem a dinâmica
competiva nos mercados de carnes:
a) Preço: embora uma gama ampla de segmentos de mercados –especialmente os de produtos
com maior valor agregado– sejam controlados por grandes empresas, o grau elevado de
substituibilidade entre produtos faz com que a concorrência em preço, em certos momentos
do ciclo do mercado, tornar-se importante. A competição em preço é mais utilizada nos
segmentos comerciais da configuração de carnes in natura, com baixa potencialidade para
diferenciação de produtos.
b) Inovação e diferenciação de produtos: a inovação e a diferenciação de produtos estão
conectadas às mudanças nas características e tendências/necessidades do mercado
consumidor final, especialmente no segmento de produtos de maior valor agregado. A
inovação e diferenciação de produtos em geral demanda específica dos setores insumidores
(tais como embalagens e ingredientes), e se caracterizam como formas de imposição de
barreiras à entrada em nichos de mercados, e de obtenção de lucros schumpeterianos. Nesse
18
sentido, em muitos segmentos essa prática induz a configuração de uma estrutura de mercado
do tipo “oligopólio diferenciado”, cuja estratégia de diferenciação de produtos passa a ser de
fundamental importância na dinâmica competitiva.
c) Publicidade e propaganda (P&P): em função do item anterior, os gastos com P&P ganham
relevância competitiva, uma vez que a difusão e aceitação ampla e rápida do produto novo
e/ou diferenciado pode conquistar maior grau de fidelidade dos consumidores para as
respectivas marcas comerciais das empresas. Em geral esses gastos são relativamente
vultosos (frequentemente ultrapassando os gastos com P&D), constituindo-se em fortes
barreiras à entrada para os concorrentes de menor porte.
d) O acesso eficiente (lato sensu) às fontes de materias-primas é de fundamental importância
para a formulação de estratégia competitiva das empresas processadoras. Além do custo
produtivo (em função da importância relativa das matérias-primas na composição do custo), o
maior controle no fornecimento de matérias-primas pode fazer com que outros atributos
derivados das relações comerciais –tais como, a garantia da qualidade do produto, da
frequência da oferta– alavanquem possibilidades produtivas, tecnológicas e comerciais das
empresas de processamento final
e) Logística e acesso às (grandes) redes varejistas: a montagem de um sistema logístico
compatível com as condições de perecibilidade dos produtos e com frequência adequada
varejistas de alimentos é de fundamental importância para a competitividade das empresas.
Isso é importante por que minimiza a disputa do “espaço” das prateleiras e/ou dos balcões nas
lojas das grandes redes de varejo entre as empresas, ou mesmo com as próprias redes (e seus
produtos de marcas próprias), bem como permite a exposição do produto com qualidade e em
quantidades adequadas, valorizando assim a marca comercial da empresa.
3.2. Marco legal-regulatório
O setor de carnes está submetido a diversos tipos de controles e normatizações no que diz
respeito à produção de animais, ao processamento industrial, e ao consumo final11. Um
primeiro tipo está relacionado ao mercado consumidor final, cada vez mais exigente no que
tange aos critérios de qualidade lato sensu dos produtos, de uso de ingredientes, ou mesmo
quanto a aspectos ecológicos (exemplo: relação entre a produção de carne bovina e o
desmatamento da Amazonia). Nesse âmbito manifestam-se ações de organizações com o
poder de “selecionar” ad hoc a oferta de produtos em função de suas importâncias
11 No que diz respeito à normatização e fiscalização das ações concorrênciais das empresas, tais como as fusõese aquisições (F&A), e as condições dos contratos entre os agentes na cadeia produtiva, os agentes estão,evidentemente, submetidos à lei geral antitruste (8884/94 – Lei da Defesa de Concorrência).
19
econômicas no varejo final. Este é o caso, por exemplo, das associações de de grandes redes
de varejo, que tem imposto exigência quanto à qualidade e procedência dos produtos
cárnicos12. No que se refere ao consumo, o principal órgão é o Instituto de Defesa do
Consumidor (IDEC) que pode (via meios jurídicos) proibir, ou exigir modificações dos
produtos e/ou de suas embalagens.
Um segundo tipo de controle, com maior alcançe e robustez jurídica, está relacionado à
imposição de normas e pela fiscalização exercida pelas instituições e organismos públicos
oficias (nacionais e internacionais). A imposição de normas jurídicas nesse caso pode
diversos aspectos dos perigos à saúde pública, tais como os associados ao uso de ingredientes
nocivos à saúde já conhecidos (e.g. contaminação de alimentos por algum tipo de bactéria),
bem como ao uso de novos ingredientes com pouco conhecimento científico sobre seus
efeitos na saúde humana e ambiental (e.g. uso de ingredientes derivados de engenharia
genética na alimentação animal, tipos e/ou grau de uso de ingredientes químicos na
composição de ração, etc.).
No plano doméstico os principais orgãos normativos e fiscalizadores são o Departamento de
Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento13 –que é responsável
pela fiscalização e implementação dos quesitos de saúde animal exigidos na produção local e
nos acordos internacionais–, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as
agências oficiais (estaduais e federal) relacionadas ao meio ambiente, e os serviços públicos
de inspeção produtiva nas três esferas de governo: o Sistema de Inspeção Federal (SIF) se
encarrega da fiscalização dos estabelecimentos que processam e comercializam carne entre
estados e para o exterior; o Serviço de Inspeção Estadual (SIE) é responsável pela
12 Nesse sentido, o exemplo a seguir é ilustrativo:”(Em junho, 2009), o Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour,em nota também assinada pela Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) anunciaram a suspensão decompras de produtos bovinos de 11 empresas frigoríficas do estado do Pará, incluindo a Bertin, por não teremgarantias de que a carne não vem de áreas desmatadas na Amazônia. A decisão é resultado da ação civil pública(ACP) do Ministério Público Federal (MPF) no Pará, que encaminhou, na semana passada, recomendação àsgrandes redes de supermercados e outros 72 compradores de produtos bovinos para que parem de comprar carneproveniente da destruição da floresta. O descumprimento do pedido pode resultar em multa de R$ 500,00 porquilo de produto comercializado”. http://www.agrosoft.org.br/agropag/210676.htm. Ou nos mercadosinternacionais: por exemplo, os frigoríficos que vendem para a Tesco, maior rede de varejo da Europa, devematender aos requisitos do EurepGAP – IFA (European Retailers Produce Working Group – Integrated FarmAssurance), denominado GlobalGap a partir de 2007.13 No comércio de carnes, um exemplo é o da Portaria 304 do MAPA, editada em abril de 1996, estabeleceu quetoda a carne vendida pelos frigoríficos seja resfriada (até 7 graus centígrados no centro da musculatura da peça)e embalada. Nesta embalagem deve constar, no mínimo, a designação da origem do animal, a marca dofrigorífico, o prazo de validade, e o telefone para contatos. A Portaria 145, editada em setembro de 1998,específica para carne suína e de búfalos, somente entrou em vigor em princípios de 1999. Esta portaria prevê avenda de carne desossada ou de cortes com osso, dos frigoríficos ou distribuidores para o varejo. Nesta etapa dacomercialização, o fornecimento para o setor varejista deverá ser feito em caixas ou contêineres apropriados.
20
fiscalização dos estabelecimentos que comercializam produtos somente no respectivo estado,
e; o Serviço de Inspeção Municipal (SIM) responsável pela fiscalização dos estabelecimentos
que operam apenas no âmbito municipal. O SIF adota criérios mais rígidos e goza de melhor
reputação do que a maioria dos sistemas estaduais e municipais. Além disso, há ainda
“programas de autocontrole” que as empresas implementam e são sistematicamente
submetidas à verificação oficial, tais como o Programa de Procedimentos Padrão de Higiene
Operacional (PPHO), o Programa de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle
(APPCC) e, num contexto mais amplo, as Boas Práticas de Fabricação – BPFs (GMPs).
No âmbito internacional, o Brasil é signatário de dois acordos na Organização Mundial do
Comércio (OMC) que afetam a os aspectos produtivos, comerciais e tecnológicos da cadeia
de carnes. O primeiro é o Acordo sobre Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (Acordo SPS),
que estabelece o direito dos países de adotar medidas sanitárias e fitossanitárias, necessárias
para “a proteção da vida ou saúde humana, animal ou vegetal”. O segundo é o Acordo sobre
Barreiras Técnicas ao Comércio (Acordo TBT), que tem como objetivo garantir padrões de
qualidade e de segurança e proteção à saúde dos consumidores, bem como de proteção ao
ambiente. Os membros signatários do SPS comprometem-se a seguir os procedimentos de
avaliação de risco e as orientações estabelecidas internacionalmente, a partir dos padrões
internacionalmente reconhecidos pelo Codex Alimentarius (CODEX) e pela Organização
Internacional de Epizootias (Office International des Epizooties - OIE). Esses acordos visam
proteger o mercado local: a) dos perigos associado ao consumo de carnes com algum tipo de
doença de animal, tais como a febre aftosa (nos casos de bovinos e suínos), a influenza (ou
gripe aviária) e a new castle (nos casos de frangos); e b) dos perigos derivados do uso de
ingredientes e/ou insumos em níveis considerados nocivos à saúde, tais como os níveis de uso
de antibióticos, de hormônios e de outros medicamentos. Além disso, há restrições e/ou
exigências relativas às condições de transporte, de embalagem, ou mesmo de natureza
cultural e religiosa14.
14 A carne suína enfrenta barreiras comerciais em países islâmicos por motivos religiosos, como na Malásia, no -Marrocos, no Egito, na Argélia, na Arábia Saudita e no Irã. O Alcorão (livro sagrado) considera a carne suínaimpura. Também por motivos religiosos, todas as carnes importadas pela Arábia Saudita devem passar por umprocesso de abate dos animais denominado “HALAL”, esta exigência é supervisionada e certificada por umcentro islâmico da Arábia Saudita. A Arábia Saudita exige ainda que os animais não tenham sido alimentadoscom proteínas animais e que não tenham sido utilizados hormônios de crescimento na criação dos animaisabatidos.
21
Da perspectiva comercial, o resultado efetivo desses acordos é a manifestação de barreiras
comerciais não-tarifárias, que afetam profundamente o mercado internacional de carnes in
natura e industrializadas. O não cumprimento das normas e exigências contidas nesses
acordos por parte dos produtores de carnes brasileiros (notadamente pela ocorrência
sistemática de doenças nos rebanhos, destacando-se o caso da febre aftosa) tem acarretado na
imposição de fortes restrições à carne in natura brasileira no comércio internacional.
4. Indústria Processadora
Os dados do IBGE do valor agregado dos setores da indústria de alimentos mostram que a
setor processador de carnes, no período 1996 e 2007, foi o mais dinâmico, especialmente a
partir do inicío dos anos 2000. O setor processador de carnes passou de um valor agregado de
US$ 3,8 bilhões em 1996 para cerca de US$ 10,7 bilhões em 2007, comportamento muito
superior aos demais setores da indústria de alimentos brasileira (Gráfico 5).
Gráfico 5:Valor da Transformação Industrial(*) do Setor de Carnes(**) – 1996-2007 (US$ bilhões)
3,833 4,311 4,2153,284 3,207 3,692 3,663
4,7505,849
7,255
8,84410,667
01,0002,0003,0004,0005,0006,0007,0008,0009,000
10,00011,00012,000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
US$
milh
ões
Carnes Conservas/frutas Óleos/gorduras
Laticínios Prepar. Rações Refino Açúcar
Torref. Moagem Café Outros Prod. Alimentos
(*)É diferença entre valor bruto da produção industrial e o custo das operações industriais. (**)inclui pescados
Fonte IBGE-PIA
Em 2007, a indústria de abate e fabricação de produtos de carnes era a atividade com o maior
número de pessoas ocupadas na indústria de produtos alimentícios brasileira (contando com
446.221 pessoas), correspondendo a cerca de 30% do total. Em número de empresas a
atividade estava na terceira colocação, com 4226 empresas, atrás das atividades de laticínios
22
e de moagem e fabricação de alimentação animal.(IBGE, 2008) Cabe destacar que a
distribuição dessas empresas no território nacional não era homogênea. Do total das
empresas, cerca de 73% localizam-se nas regiões Sul (38%) e Sudeste (35%), regiões que
concentram os maiores mercados consumidores, vindo, em seguida, as regiões do Centro-
Oeste (12%) e Nordeste (11%) e a região Norte (5%).
No plano comercial, o setor de carnes tem sido um dos mais dinâmicos da indústria de
alimentação brasileira. Os dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentação
(ABIA) mostram que, considerando os valores médios entre os anos 2003 e 2007, o
faturamento do mercado de derivados de carnes foi de US$ 16 bilhões, seguido de longe pelo
de beneficiamento de café, chá e cereais (US$ 9,4 bi); óleos e gorduras (US$ 8,9 bi);
laticínios (US$8,3 bi); açúcares (US$ 6,8 bi); derivados de trigo (US$ 6 bi); derivados de
frutas e vegetais (US$4,7 bi); alimentos diversos (US$3,7 bi); chocolate, cacau e balas (US$
2,5 bi); desidratados e supercongelados (US$ 1,5 bi); conservas de pescados (US$ 0,7 bi). O
setor de carnes foi o que apresentou a maior variação no período (189,8%), bastante superior
à variação total da indústria que foi de 126,3%. No pós anos 90, os mercados externos
passaram a ganhar mais importância para o faturamento das empresas. Isso pode ser
constatado pela parcela do mercado externo no faturamento total das principais empresas em
2008. No caso da Sadia a parcela externa foi cerca de 52%; na Perdigão (28%); na JBS
(53%), na Marfrig (43%), e na Minerva (61%).(“Relatórios Anuais” das empresas)
4.1. Empresas Líderes
A indústria processadora de carnes é bastante assimétrica no que diz respeito à distribuição
do porte econômico das empresas. Num primeiro momento, a assimetria foi resultado das
taxas diferenciadas de crescimento orgânico das empresas que, por sua vez, refletiam as
diferentes capacitações internas (lato sensu) das empresas na formulação de estratégias
competitivas diferenciadas. Nessa fase, o mercado doméstico era, de longe, o mais importante
para as empresas. Num segundo momento, a partir de meados dos anos 80, mas
especialmente nos anos 90 e 2000 em diante, as maiores empresas de carnes (e de alimentos
em geral) realizaram grande número de F&A, aprofundando ainda mais a concentração
produtiva e comercial no setor. No caso das empresas líderes que atuam nos mercados de
frangos e suínos, as F&A e os investimentos foram basicamente no mercado brasileiro.
Apenas a Sadia e a Perdigão, possuem plantas no exterior. A Sadia construiu em 2007 sua
primeira planta industrial fora do país, em Kaliningrado (Rússia). No caso da Perdigão, a
23
entrada no mercado europeu ocorreu com a aquisição da Plusfood (em 2008), que opera 3
unidades de processamento de carnes, distribuídas no Reino Unido, Holanda e Romênia.
No caso de carnes bovinas, o processo de internacionalização produtiva é muito mais intenso,
notadamente aquela protagonizada pelos dois principais grupos, o JBS e o Marfrig. A
internacionalização produtiva teve início em 2005, quando o grupo JBS comprou duas
unidades da Swift na Argentina (Rosario e San Jose). Em 2006, o grupo Marfrig seguiu
caminho semelhante comprando a empresa Tacuarembo, no Uruguai. Depois disso, as
empresas fizeram diversas aquisições no âmbito da América do Sul, EUA, Europa e
Austrália, tornando-se nas maiores empresas mundias de carnes bovinas.
A seguir os Quadros (3) e (4) apresetam algumas informações sobre as principais empresas
dos segmentos de carnes de frango e suíno e de carne bovina.
Quadro 3: Principais empresas processadoras de carnes de frango e suínos
Empresa(Capital)
Breve descrição da empresaVendas Valor
(em R$milhões)
2007
Sadia(Brasileiro)
Possui 11 unidades industriais, duas agropecuárias e diversos centros dedistribuição. A partir da década de 80, inicia a produção de alimentosindustrializados prontos e semiprontos. Em 2001, lançou ADRs na Bolsade Nova York. Exporta para 92 países e tem representações comerciaisem 10 países, abrangendo América Latina, Europa, Ásia e Oriente Médio.Foi incorporada pela Perdigão em 2009 (operação pendente da aprovaçãodo CADE)
9 592,70
PerdigãoAgroindustrial
(Brasileiro)
Possui 13 fábricas nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, SantaCatarina e Goiás. Abate semanalmente, 9 milhões de cabeças de frangos e64 000 cabeças de suínos. Por ano, pode frigorificar 570 000 toneladas defrangos e 450 000 toneladas de suínos. Desde 1994, a Perdigão écontrolada por um grupo de fundos de pensão, liderado pela Previ.
9315,00
Seara- Possui nove unidades industriais (abatedouros e frigoríficos) e mais de 2 364,50
24
-Grupo Marfrig-(Brasileiro)
10.000 funcionários. Opera de forma verticalizada e totalmente integrada,com matrizes, ovos, incubatórios, engorda e terminação de frangos esuínos, produzindo integralmente as rações empregadas na alimentaçãode seu plantel..
Aurora(Brasileiro)
Unidade da Cooperativa Central Oeste Catarinense (Coopercentral),possui 28 unidades, entre granjas, fábricas, armazéns, escritórioscomerciais e parcerias.
2 347,50
Doux(Francês)
Atual Frangosul Doux, é uma das maiores exportadoras de frangosexportador de frangos da Europa, atendendo a 150 países no mundo todo.
1 630,70
C. Vale(Brasileiro)
Cooperativa com capacidade para processar 500 mil frangos por dia. Acooperativa abastece a maioria dos estados brasileiros e ainda exportapara mais de 50 países.
1 479,40
Diplomata(Brasileiro)
Empresa avícola com gestão integrada de todos os processos desuprimentos. Cerca de 55% das receitas são obtidas com exportações.
1 198,90
Coopavel(Brasileiro)
A Cooperativa abate suínos (1.500 animais/dia); frangos (150 milfrangos/dia) e bovinos (200 animais dia). Atuação nacional, com 50%destinados à exportação para Europa, Oriente Médio e Ásia.
742,70
Pif Paf(Brasileiro)
Comercializa mensalmente em torno de 12 mil toneladas, sendo 55% decortes de frango e 45% de suínos e produtos industrializados.
653,90
DaGranja-Grupo Marfrig-
(Brasileiro)
Abate 60 milhões de cabeças de frango/mês. A DaGranja leva seusprodutos para 25 mil clientes de 25 países. 635,80
Frimesa(Brasileiro)
Cooperativa conta com doze unidades fabris e de abate de suínos.613,50
Globofrangos(Brasileiro)
Maior fornecedora do País de ovos férteis. A empresa se posicionaria em2008 entre os dez maiores frigoríficos brasileiros.
479,60
Copagril(Brasileiro)
A unidade de frangos tem capacidade total de abate para 160.000frangos/dia.
425,60
Fonte: Revista Exame e relatórios anuais das empresas
Quadro 4: Principais empresas processadoras de carne bovinaEmpresa(Capital)
Breve descrição da empresa Vendas Valor(em R$ milhões)
2007JBS
(Brasileiro)Fundada em 1953, tem sete abatedouros no Brasil e fornece cerca de 70 itenspara os mercados interno e externo. O grupo realizou forte estratégia deF&A no Brasil e no exterior. Atualmente é a maior empresa de carnes nomundoCapacidade de abate: 18.400 (cabeças/dia)
4 668,70
Marfrig(Brasileiro)
Possui 57 plantas para produção de carnes bovina, suína, ovina e de frangosna América do Sul, na América do Norte e na Europa.Capacidade de abate: 20.950 (cabeças/dia)
2 702,40
FrigoríficoMinerva
(Brasileiro)
O grupo Minerva é composto por sete complexos industriais. Capacidade deabate de 5.400 (cabeças/dia).
1 701,50
FrigorificoIndependência
(Brasileiro)
A companhia tem unidades em sete Estados brasileiros e no Paraguai, com14 plantas de abate e desossa, três curtumes, três fábricas de charque, cincomódulos de produção de biodiesel.Capacidade de abate: 10.000 (cabeças/dia)
1545,00
Margen(Brasileiro)
Empresa atua desde o abate, produção de charque, até a comercialização decarne in natura e subprodutos de origem bovina. Exporta para mais de 30países.
1 341,80
25
Capacidade de abate: 6.000 (cabeças/dia)
Bertin(Brasileiro)
Além de carne in natura, a Companhia fabrica grande variedade de produtosindustrializados que usam a carne bovina como matéria-prima: são carnesenlatadas, beef jerky, supergelados, pratos prontos, entre outros. Aempresaexporta 50% da produção.Capacidade de abate: 14 mil (cabeças/dia).
1 224,60
FrigoríficoMercosul
(Brasileiro)
A empresa tem 11 plantas processadoras, e exporta para mais de 70 países.Capacidade de abate: n/d.
816,50
Frigoestrela(Brasileiro)
Capacidade de abate de 1.500 bovinos/dia e de 2.000 suínos/dia. Exportamais de 30% de sua produção.
726,70
QuatroMarcos
(Brasileiro)
O Quatro Marcos tem oito fábricas no país. Exporta cerca de 30% daproduçãoCapacidade de abate: 7.200 (cabeças/dia)
745,00
Mataboi(Brasileiro)
O grupo possui frigoríficos nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso.Capacidade de abate: 1.950 (cabeças/dia)
451,90
Frigol(Brasileiro)
Com 3 plantas, a empresa produz 50.000 toneladas/ano que são distribuídosem todo o Brasil e exportados para diversos países.Capacidade de abate: 2.500 (cabeças/dia)
380,80
Fonte: Revista Exame e relatórios anuais das empresas.
5. Exportações
O mercado internacional de carnes é condicionado por dois fatores principais. O primeiro, no
plano macroeconômico, diz respeito à taxa de crescimento das economias importadoras de
carnes, que podem ser diferentemente afetadas pelas políticas econômicas doméstica. O
segundo fator diz respeito a maior ou menor facilidade de acesso aos mercados
consumidores, considerando-se, neste caso, os níveis de barreiras tarifárias e não-tarifárias
presentes nos diferentes mercados, especialmente dos mercados dos países desenvolvidos.
Isso é importante por que, nos mercados mais importantes, o acesso das empresas é permitido
somente sob a inspeção e o credenciamento dos agentes importadores, avaliando tanto as
condições de empresas processadoras/frigoríficos, como também das condições de
estados/regiões produtores15. O credenciamento e liberação das empresas e das regiões
geográficas são feitos sob regras próprias de inspeção e liberação dos agentes importadores16.
15 Por exemplo, em certo momento, o estado de Santa Catarina, região livre sem vacinação reconhecido pelaOIE, não está exportando suíno para a Rússia porque não tinha unidades frigoríficas (matadouros) habilitadassegundo as exigências da Rússia. O suíno de Santa Catarina podia ser abatido em outro estado por umfrigorífico habilitado.16 A carne bovina importada pelos Estados Unidos deve seguir todos os padrões de segurança que são aplicadosa produtos similares produzidos nos Estados Unidos. Qualquer país pode solicitar elegibilidade para exportaçãode carnes para aquele país. Normalmente, o processo começa com uma carta do país requerente enviada para oFsis, solicitando a aprovação da exportação de seus produtos. Em resposta, informações sobre o sistemaregulatório norte-americano de carne bovina e expectativas sobre medidas sanitárias que o Fsis espera dos paísesfornecedores são enviadas ao país requerente. Quando o requerimento completo é recebido pelo Fsis, é iniciadauma análise deste para comparar as medidas adotadas domesticamente àquelas adotadas pelo Fsis. Em muitoscasos, são necessárias informações adicionais. Após uma completa análise dos documentos, o Fsis planeja umaauditoria on-site em todo o sistema regulatório de carne bovina do país estrangeiro. Essa auditoria é feita por
26
Alguns países são mais rígidos que outros na concessão do credenciamento à exportação, seja
no que diz respeito ao tipo de carne a ser exportada (in natura, processada, com osso
desossada, em cortes, inteira, etc.), seja em relação aos critérios estabelecidos ao longo da
cadeia produtiva (tais como, a exigência ou não de rastreabilidade, do uso de determinados
insumos na criação, ou mesmo de critérios ecológicos e sociais).
Em termos comerciais, a ação desses fatores acaba por estabelecer certa divisão internacional
do mercado de carne. Por exemplo, o mercado de carne bovina possui uma divisão entre dois
grupos de países. Num primeiro grupo estão os países que possuem maiores restrições para a
importação de carne e um nível de renda elevado, e com isso adquirem apenas cortes de
qualidade superior, como Japão, Coréia do Sul, Estados Unidos, Canadá. Esses países fazem
parte do “Bloco do Pacífico” (em função da localização geográfica), e proíbem as
importações de carne bovina in natura de países onde ainda existam riscos de focos de febre
aftosa e que possuam programas ativos de vacinação do rebanho bovino contra esta doença.
Por outro lado, há o grupo dos países que não possuem restrições à importação do produto,
mas possuem como característica, a importação de cortes de segunda linha, até por possuírem
um nível de renda mais baixo, como é o caso da Rússia e do Egito. Estes dois últimos
mercados são atendidos principalmente pelo Brasil e pela Índia, enquanto Japão e Coréia são
atendidos pelos Estados Unidos e pela Austrália.
A União Européia (UE) permite as importações de carne bovina in natura de certas regiões
de países que foram afetados pela febre aftosa, respeitando as regras de regionalização
sugeridas pela OIE. Entretanto, a U E restringiu o livre comércio de carne bovina in natura
por meio de um sistema de quota de importação e uma taxação mais severa para a carne
bovina in natura importada; além disso, a UE também impediu a importação de carne bovina
tratada com hormônios e anabolizantes.
A despeito da ação dessas restrições –muitas delas legítimas, pois visam a sáude do
consumidor local–, observa-se o grande desempenho das exportações de carnes brasileiras,
pelo menos nos últimos dez anos. Considerando a participação dos setores agroindustriais na
pauta de exportações do agronegócio nos anos compreendidos entre 1998 e 2008, o valor
exportado do complexo carnes foi o segundo maior em crescimento, com uma variação de
795%, muito superior à variação do total da pauta (233,3%). O complexo carnes é o segundo
uma equipe de especialistas no território do país candidato a exportador. Quando a análise dos documentos e aauditoria on-site estiverem terminadas, o Fsis publica uma regra no Registro Federal, anunciando os resultadosdesses dois primeiros passos e propõe adicionar o país à lista dos países qualificados a exportar carne bovinapara os Estados Unidos.
27
mais importante na pauta brasileira (com participação de 20,3%), atrás do complexo soja.
(MAPA, 2008)
Em valor, as exportações de carnes de frango e bovinas são as mais importantes. Nos anos de
2007 e 2008, a carne de frango superou as exportações de bovinas. No caso de carnes suínas,
o valor é bem inferior às demais. (Gráfico 6).
O desempenho favorável, por sua vez, elevou a participação relativa das exportações das
carnes brasileiras no total do comércio internacional. Os dados das exportações mundiais (em
volume), organizados pelo USDA, mostram que a participação relativa das exportações
brasileiras de carne bovina elevou-se de 4,0% em 1998 para cerca de 24% em 2008. A
participação da carne de frango brasileira saltou de 15% para aproximadamente 40%; e a
participação de carne suína elevou-se de um patamar de 3% para cerca de 10%, embora tenha
chegado a 15% no início dos anos 2000.
Gráfico 6: Brasil- Exportações do Complexo Carnes – 1998 – 2008 (US$ Milhões)
171 134 183375 486 551
7751165 1036
12301478
0300600900
12001500180021002400270030003300360039004200450048005100540057006000630066006900
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
US$
Milhões
Carne Bovina Carne de Frango Carne Suína
Fonte: MAPA- Secex
28
O principal mercado para as empresas, em termo de volume, ainda continua sendo o mercado
doméstico. No entanto, é forçoso destacar que a participação das exportações está crescendo
consideravelmente nos três tipos de carnes (Gráfico 7). O mercado externo para a carne de
frango é relativamente o mais importante; em 1995, a parcela da exportação representava
cerca de 10% da produção, elevando-se para 30% em 2008. Vale dizer, a participação relativa
foi multiplicada por 3 vezes em 13 anos. No caso das carnes bovinas e suínas, a participação
saltou de 4,8% e 2% respectivamente para cerca de 20% em 2008 (embora tenham chegado
em 24,4% e 23,5%, respectivamente em 2007).
Gráfico 7: Participação da Exportação na Produção de Carnes: 1995 - 2008
4.8% 4.5% 4.8%6.1%
7.7% 7.5%
10.8%12.2%
15.9%
18.4%
21.5%23.1% 23.5%
20.0%
2.0%3.5% 4.2%
4.4% 4.2%
8.1%
15.1%
23.0% 23.6%21.9%
27.2%
22.6%
24.4%
20.7%
10.5%
14.0% 14.6% 13.7% 13.1%14.5%
18.7%
21.2%
24.9%26.8%
29.3%
26.7%28.4%
29.4%
0.0%2.5%5.0%7.5%
10.0%12.5%15.0%17.5%20.0%22.5%25.0%27.5%30.0%32.5%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
% Produção Exportada - Bovina % Produção Exportada - Suína % Produção Exportada - Frango
Fonte: USDA
5.1. Carne Bovina
29
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina desde o ano de 2004, quando superou
as exportações da Austrália. Em 2008, as exportações brasileiras (em volume) responderam
por 21,8% do total mundial (7.490 mil ton. métricas); foram seguidas, principalmente, pelas
exportações da Austrália (18,8%), Índia (10%), Nova Zelândia (7,1%), Canadá (5,6%) e
Argentina (4,8%).
O tipo de carne exportada mais importante é a in natura, que corresponde cerca de 75% do
total. (Gráfico 8). Considerando os 20 (vinte) principais importadores de carne bovina in
natura em 2007, o Brasil possuía participação nula ou insignificante nos mercado mais
exigentes, tais como, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, e Canadá, devido ao não
cumprimento de quesitos da qualidade da carne e/ou do rebanho. Sendo assim, os principais
mercados foram a União Europeia (com participação de 31%); Rússia (27,7%), Egito (9,5%);
Irã (4,2%) e Venezuela (3,5%).
A presença do Brasil no mercado de carne bovina industrializada também é importante. Em
2007, o comércio mundial de carne bovina industrializada somou 411 mil toneladas. Desse
total, o Brasil participou com 50,9%, o que representou exportações de 209 mil toneladas. Os
principais mercados foram: União Europeia (com parcela de 43%); Estados Unidos (41%);
Jamaica (1,5%).
Gráfico 8: Brasil – Exportações de Carne Bovina – 1998 – 2008 (US$ Milhões)
277444 503
739 7761155
1963
2419
31353486
4006
296 318 252 252 299 338 447 525 654 694853
616815 814
1049 1144
1590
2525
3060
3923
4426
5325
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
5500
6000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
US$
Milhões
Bovina In Natura Bovina Industrializada Total Complexo Carne Bovina
Fonte: MAPA- Secex
30
5.2. Carne de Frango
O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, seguido de perto pelos EUA. Em
2008, de um total mundial de 8.418 mil toneladas métricas, a participação relativa do Brasil
foi de 38,5%, e a dos EUA foi de 37,5%. Portanto, esses países controlam cerca de 76% do
mercado mundial da carne de frango. O terceiro maior exportador é a UE (com parcela de
8,8%) e a Tailândia (com 3,4%).
O tipo de carne exportada mais importante é a in natura, que corresponde cerca de 92% do
total.(Gráfico 9). A participação brasileira é significativa nos principais mercados
importadores internacionais. Em 2007, os principais importadores foram a UE (15,1%), Japão
(13,7%), Arábia Saudita (12,3%), Hong Kong (10,2%) e Rússia (6,7%). O mercado de carne
de frango industrializada é mais concentrado, uma vez que as importações da UE respondem
por cerca de 80% do total exportado pelo Brasil.
Gráfico 9: Brasil – Exportações de Carne de Frango – 1998 – 2008 (US$ Milhões)
739 875 8061292 1335
1710
2494
33242923
4217
5822
14 17 23 42 58 89 101 184 281 402 531
753 893 829
1334 13931799
2595
35093203
4620
6353
0500
1000150020002500300035004000450050005500600065007000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
US$
Milhões
Carne Frango In Natura Carne Frango Industrializada Total Complexo Carne Frango
Fonte: MAPA-Secex
5.3. Carne Suína
O Brasil é o quarto maior exportador mundial de carne suína. Em 2008, a exportação mundial
em volume foi de 5.465 mil toneladas métricas, os principais exportadores foram EUA (com
participação de 34,5% no total), UE (22,9%), Canadá (20,1%) e o Brasil (12%). O
crescimento das exportações brasileiras de carne suína é limitado devido a problemas
31
sanitários, que impedem o acesso das empresas aos principais mercados internacionais. O
Brasil não tem acesso a sete dos dez maiores mercados importadores: Japão, Coreia do Sul,
Estados Unidos, México, Canadá, Austrália e China. As exportações de carne in natura
correspondem a cerca de 92% do total exportado de carnes suínas.(Gráfico 10).
Historicamente, o mercado da Rússia tem sido o mais importante, correspondendo a cerca de
50% do total exportado pelo Brasil, em 2008; foi seguido pelos mercados de Hong Kong
(15%) e da Ucrãnia (9%).
No que diz respeito ao comércio de carne industrializada, os dados das Nações Unidas
mostram que, em 2007, as importações mundiais totalizaram 423 mil toneladas. Os maiores
importadores mundiais são Japão, Hong Kong, Estados Unidos, Rússia, Canadá e Filipinas.
Juntos esses países foram responsáveis por cerca de 85% das importações totais dos produtos.
A participação brasileira no mercado de carne suína industrializada é pouco significativa
totalizando apenas 2,0%. Os principais mercados para a carne brasileira são Hong Kong com
participação de 53%, e a Argentina com 15,3%, Uruguai e Paraguai comparticipções em
torno de 6% cada um.
Gráfico 10: Brasil – Exportações de Carne Suína – 1998 – 2008 (US$ Milhões)
148 115163
346
469527
744
1123
990
1162
1364
12 11 11 16 4 4 6 7 9 15 35
171 134183
375486
551
775
1165
1036
1230
1478
0100200300400500600700800900
1000110012001300140015001600
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
US$Milhões
Carne Suína In Natura Carne Suína Industrializada Total Complexo Carne Suína
Fonte: MAPA-Secex
Da perspectiva dos agentes exportadores, fica evidente a concentração dos negócios nas
grandes empresas. No caso de carne bovina, as quatro primeiras empresas respondem por
cerca de 74% do total exportado; no caso de carne de frango a participação é de 67%; e, no
32
caso da carne suína a parcela é de 64%. (Quadro 5). O cálculo destes dados não considerou as
importantes fusões & aquisiões recentes, como são os casos da Sadia e Perdigão (tornando-se
BRFoods), a compra da Seara pela Marfrig, e a compra da Bertin pela JBS, uma vez que
ainda não foram aprovados pelo CADE.
Quadro 5: Principais Empresas Exportadoras de Carnes (% do volume exportado) - 2008
Bovina Carne de Frango Carne Suína
Empresa % Empresa % Empresa %
JBS 24,8 Sadia 23,3 Perdigão 21,6
Bertin 23,6 Perdigão 21,9 Sadia 17,4
Minerva 15,0 Seara 11,9 Aliben 14,2
Independência 10,5 Doux Frangosul 10,0 Seara 11,1
Marfrig 6,5 Marfrig 4,7 Pamplona 8,4
Mercosul 3,2 Diplomata 4,2 Aurora 6,8
Fonte: Bradesco (2009), Abipecs, Abef.
Políticas e Instrumentos de Promoção
O setor de carnes, em geral, não tem sido objeto de formulação específica e/ou preferencial
de políticas tecnológicas. Em geral, os instrumentos de promoção ocorrem no âmbito dos
programas de incentivos que contemplam tecnologias mais genéricas, como é o caso, por
exemplo, da biotecnologia. A biotecnologia pode transmitir inovação à cadeia de carnes, seja
pelo campo da tecnologia genética (e de saúde animal em geral), ou, de forma indireta, pelo
desenvolvimento de grãos mais eficientes e/ou apropriados à alimentação animal. No plano
do Mercosul podem ser citados dois programas que têm estimulado pesquisas e capacitações
em biotecnologia: o Centro Argentino-Brasileño de Biotecnología (CABBIO), criado no
início dos acordos de cooperação bilateral entre os dois países em 1986; e o BiotecSur, criado
em 2005, resultado da cooperação entre a União Européia e o Mercosul.
No caso brasileiro, a modernização produtiva e tecnológica do setor agroindustrial tem um
dos principais pilares o sistema de inovação agrícola brasileiro, implantado e comandado por
instituições de ensino e/ou pesquisa públicos, e fundações de apoio à pesquisa. Esse sistema
tem sido um dos mais bem sucedidos na capacitação de desenvolvimento tecnológico
nacional. A oferta adequada de capital humano (em níveis de ensino técnico e superior) tem
33
permitido a construção de um grau de capacitação tecnológica no setor agroindustrial que,
certamente, tem sido fundamental para a introdução e difusão sustentada de inovações –
especialmente na base agropecuária–, e para o crescimento do grau de produtividade
sistêmica da estrutura técnico-produtiva ao longo do tempo.
Uma quantificação dos gastos dessas instituições em C&T e I para a agropecuárias foi
realizada por Batalha et alii (2009), considerando o ano de 2004. A amostra da pesquisa
compreendeu 48 instituições, cobrindo praticamente o universo de agências e institutos de
pesquisa estaduais e federais, além de instituições de pesquisa sem fins lucrativos, também
conhecidas por pertencerem ao terceiro setor. No âmbito dos estados, encontram-se as
Agências de Fomento ou Fundações de Apoio à Pesquisa (FAP’s) e Institutos Públicos de
Pesquisa Agropecuária (IP’s). No âmbitofederal, estão o CNPq, a FINEP (ANF’s) e a
Embrapa.
Os autores classificaram os gastos públicos com C&T e I em 28 áreas ou cadeias produtivas,
de acordo com a importância de cada cadeia para o instituto de pesquisa. O Quadro 6 traz os
valores despendidos nas dez mais importantes. Observa-se que algumas cadeias possuem um
volume de investimentos superior, como soja e milho, frutas, carne bovina e de bubalinos,
carne suína e de frango, e leite. Outra área de destaque é a de Sistemas Agrosustentáveis e
Recursos Ambientais. Isso se pode justificar pelo fato que, nesta área, foram incorporados os
gastos referentes a projetos voltados ao desenvolvimento sustentável de uma região, sendo
muito influenciado pelos gastos da Embrapa. Outras áreas que também se destacaram como
recebedoras de recursos foram: Sistemas de Produção e Manejo de Solos, Controle Biológico,
Fitopatologia e Pragas e Biotecnologia e Melhoramento Genético.
Pela amostra, a Embrapa representa a maior parte destes investimentos. Do total de R$ 1.214
mil, a Embrapa participou com 76,7%. As Agências Nacionais de Fomento deram maior
destaque às Cadeias Suína e de Frango (valor influenciado por um projeto financiado pela
Finep para melhoria da genética de suínos). Os gastos das Fundações de Apoio à Pesquisa
foram equilibrados entre as diversas cadeias. Os maiores investimentos ocorreram em Carne
Bovina e Bubalinos, Sistemas Agrosustentáveis e Recursos Ambientais, Outros Pecuária,
Sistemas de Produção e Manejo de Solos, Aqüicultura e Frutas. Por sua vez, os Institutos de
Pesquisa deram maior destaque às pesquisas em Frutas e Café, Sistemas Agrosustentáveis e
Recursos Ambientais. Os gastos dos IP’s, assim como das FAP’s, foram equilibrados, sem
grandes contrastes.
34
Quadro 6: Gastos Públicos com C&T e I por Área/Cadeia (10 principais) em 2004 – (em R$
mil)
Área/cadeia ANF’s FAP’s IP’s Embrapa Total (%) dosInvestimentos
Totais
Recursos Ambientais 1425 1995 28758 122873 155052 12,8
Sistemas e manejo de solos 274 1898 10774 83786 96731 8,0
Soja e milho 761 1003 11800 78203 91768 7,5
Frutas 1384 1471 25428 60336 88619 7,3
Controle biológico, fitopatologia epragas
2215 1436 521 62412 66584 5,5
Carne bovina e bubalina 308 2224 12650 47543 62724 5,2
Biotecnologia e melhoramentogenético
3548 908 210 52829 57494 4,7
Leite 146 665 14363 41468 56642 4,6
Olerícolas / hortícolas 505 1104 14318 37675 53602 4,4
Carne suína e frango 15918 1293 4961 20522 42693 3,5
Total 33644 24727 224081 932433 1214886 100,0
Fonte: Batalha, M. et alii (2009)
No caso da Embrapa, os maiores gastos/investimentos da instituição em 2004 estavam
voltados para o tema sustentabilidade, visto que 13,2% do seu orçamento foi direcionado às
atividades relacionadas. Em seguida, a área de Sistemas de Produção e Manejo de Solos
alcançou 9% e as atividades vinculadas à produção de Soja e Milho representou 8,4% dos
gastos em C&T e I. No entanto, a participação dos gastos agregados das áreas ou cadeias de
carne bovina e bubalina, carne suína e frango e biotecnologia e melhoramento genético (que
são áreas de pesquisas relacionadas com a produção de carnes e/ou com a alimentação de
animais via grãos e cereais) é de 13% dos gastos totais da Embrapa. Ou seja, essas áreas
relacionadas à carnes estão entre os principais campos de pesquisa contemplados com
recursos financeiros da Embrapa, no ano de 2004.
No caso específico do setor de carnes pode-se destacar a contribuição importante da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) –unidades da Embrapa Frangos e Suínos e a
Embrapa Gado de Corte–, que há mais de 30 anos realizam, sistemativamente, pesquisas para
o setor em diversas áreas. Essas pesquisas apresentam, em geral, um forte viés de “pesquisa
aplicada”; isto é, são pesquisas que, além da inovação per se, apresentam soluções práticas os
35
agentes econômicos, especialmente acoplados com os serviços de assistência técnica e de
extensão rural, destacando-se, no caso de criação animal, as áreas de melhoramento e manejo
genético dos animais, e das atividades correlatavas de alimentação e de saúde animal. Nesse
sentido, o caso da Embrapa Suínos e Frangos é ilustrativo. Desde que a empresa (pública) foi
criada, em 1975, disponibilizou mais de 400 tecnologias, que melhoraram a renda dos
produtores, o desempenho das agroindústrias e a satisfação dos consumidores. Um estudo
realizado entre 1999 e 2000 (que ouviu representantes de vários segmentos da cadeia
produtiva e do poder público), mostrou que o trabalho da Embrapa Suínos e Frangos foi
responsável por 40,3% do progresso tecnológico total da suinocultura brasileira. Na
avicultura, a contribuição no progresso técnico foi de 20,8%. (Embrapa, 2009)
De modo complementar, cabe observar que o crescimento da importância do mercado
agroindustrial brasileiro, diversas filais de importantes empresas multinacionais do “setor
insumidor agropecuário” –tais como do setor de genética, de rações, de medicamentos e de
saúde animal– posicionaram-se estrategicamente no Brasil. No plano tecnológico, ocorreu
inclusive certa internalização de algumas funções/etapas de P&D, especialmente as de
adpatação de produtos às condições produtivas e edafilo climáticas locais, em parceria com
empresas, IP, Embrapa, cooperativas e universidades locais. Com isso, gerou-se também um
efeito de transbordamento (spillover) de conhecimento, que pode ser incorporados, em
alguma medida, pelos agentes produtivos locais.
1. Políticas e instrumentos de incentivo à inovação
O acesso dos agentes da cadeia de carnes aos instrumentos de financiamento e/ou de
incentivos relativos ao desenvolvimento tecnológico tem ocorrido, em geral, no âmbito de
políticas econômicas (agrícola, industrial e tecnológica). No que tange especificamente aos
incentivos para inovação, faz-se, a seguir, uma breve exposição das principais políticas
recentes, e dos principais instrumentos e agentes promotores de mudanças tecnológicas.
A política de incentivos às atividades de P&D é recente no Brasil, e as linhas e o volume de
financiamento específicas para a atividade são pouco importantes economicamente para as
empresas17. Os primeiros instrumentos de incentivo à adoção de inovação foram criados em
17 No Brasil mais de 95% dos gastos em P&D das empresas são realizados com recursos próprios ou privados,ou seja, os fundos públicos participam com menos de 5% dos gastos em P&D das empresas. Nos paísesdesenvolvidos o financiamento público é especialmente mais relevante e os fundos públicos participam compercentuais que chegam a 50%.(De Negri & Lemos, 2009).
36
1993, com os Programas de Desenvolvimento Tecnológico Industrial e de Desenvolvimento
Tecnológico Agropecuário– PDTI/PDTA. Esses programas permitiam que as empresas
realizassem deduções de despesas de P&D do imposto de renda e isenção do imposto sobre
produtos industrializados incidente sobre os equipamentos e instrumentos destinados a
atividades de P&D, além de permitir a depreciação acelerada desses equipamentos e
instrumentos. Em 2004, o Governo Federal reformula esses incentivos com o lançamento da
Política Industrial Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), que tem como um dos
principais pontos de referência a “Lei da Inovação” (regulamentada somente em 2005). Esta
“lei” está organizada em três vertentes: 1) constituição de ambiente propício às parcerias
estratégicas entre as universidades, institutos tecnológicos e empresas; 2) estímulo à
participação de instituições de ciência e tecnologia no processo de inovação; 3) incentivo à
inovação no âmbito da empresa. O apoio à inovação é feito sob a forma de subvenção, isto é,
faz-se o aporte financeiro não reembolsável às atividades de pesquisa, desenvolvimento
tecnológico e inovação realizadas pelas empresas brasileiras, públicas e privadas, que estejam
relacionadas aos setores considerados prioritários pela PITCE.
No mesmo âmbito da Lei de Inovação, destaca-se a Lei 11.196/2005, denominada com a “Lei
do Bem”, que estipula os incentivos fiscais, destacando-se: a) a dedução, na apuração do
Imposto de Renda devido, dos dispêndios com P&D, inclusive aqueles com instituições de
pesquisa, universidades ou inventores independentes; b) a redução de Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) na compra de equipamentos destinados a P&D; c) a
depreciação acelerada dos equipamentos comprados para P&D; d) a amortização acelerada
dos dispêndios para aquisição de bens intangíveis para P&D; e) criação de crédito do imposto
de renda retido na fonte incidente sobre as remessas ao exterior de valores para pagamento de
royalties relativos à assistência técnica ou científica e de serviços especializados para P&D;
f) a redução a zero da alíquota do imposto de renda retido na fonte nas remessas efetuadas
para o exterior destinadas ao registro e manutenção de marcas, patentes e cultivares. Além
desses incentivos fiscais, também foram estabelecidas subvenções econômicas concedidas em
virtude de contratações de pesquisadores, titulados como mestres ou doutores, empregados
em empresas para realizar atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica.
1.1. Principais instituições
O Ministério da Ciência e Tecnologia, especialmente através da Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP) atua na promoção de atividades relacionadas à pesquisa e ao
desenvolvimento de inovações tecnológicas, bem como no financiamento de tais atividades
37
em empresas, universidades e outras instituições de desenvolvimento científico e tecnológico.
A FINEP fornece financiamento para esse tipo de atividades através de “crédito
reembolsável” e de “crédito não reembolsável”. O crédito reembolsável provém de recursos
da própria FINEP ou de fontes que repassam recursos à mesma e pode ser requerido por
qualquer empresa ou instituição cuja proposta seja adequada ao perfil exigido pela FINEP. O
crédito não-reembolsável é um tipo de financiamento que não exige retornos financeiros, e
aporta-se dos recursos provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FNDCT). O crédito não-reembolsável é fornecido a instituições de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico públicas ou privadas sem fins lucrativos, cujas propostas sejam
adequadas ao perfil requerido pelos gestores dos “fundos setoriais” que compõem o
FNDCT18.
O BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social– também opera com
crédito não-reembolsável em diversos programas para investimentos em inovação e
desenvolvimento tecnológico. Além disso, há o Programa de Modernização do Parque
Industrial Nacional – MODERMAQ– tem com objetivo financiar, em condições financeiras
mais atraentes, a aquisição de novas máquinas e equipamentos nacionais pelas empresas
brasileiras.
No caso específico de projetos agropecuários, o BNDES financia apenas os projetos que
envolvem algum tipo de uso de tecnologias mais modernas de plantio, criação e/ou manejo.
Até o início dos anos 90 o BNDES não financiava a pecuária de corte. No início da década,
com o desenvolvimento de técnicas de plantio de pasto, melhorias genéticas e de manejo e
com a introdução da criação de novilho precoce, a atividade passou a ser financiada, desde
que incorporasse a modernização tecnológica. Os principais programas em que os criadores
de animais podem ter acesso são: a) PRODECOOP – Programa de Desenvolvimento
Cooperativo para Agregação de Valor à Produção Agropecuária, destinado a cooperativas de
produção agropecuária e a cooperados, para integralização de cotas-partes vinculadas ao
projeto a ser financiado. O principal objetivo é o incremento da competitividade do complexo
agroindustrial das cooperativas, por meio da modernização dos sistemas produtivos e de
comercialização. Esse programa é mais relavante para os segmentos de frangos e suínos,
18 Os “fundos setorias” foram criados entre 1999 a 2002, com a concepção e operacionalização de: a) criar umpadrão de financiamento de longo prazo, com fontes estáveis e diversificadas; b) ampliar a base instalada emC&T, reduzindo as disparidades regionais; c) estimular a maior interação entre universidades e institutos depesquisa com o setor produtivo; d) priorizar e focar áreas críticas, que se mostrem potencialmente estratégicaspara o país. Atualmente há 16 Fundos Setoriais, sendo 14 relativos a setores específicos e dois transversais.Destes, um é voltado à interação universidade-empresa (FVA – Fundo Verde-Amarelo), enquanto o outro édestinado a apoiar a melhoria da infra-estrutura de ICTs (Infra-estrutura).
38
onde as cooperativas de produtores tem participação importante. b) MODERAGRO –
Programa de Modernização da Agricultura e Conservação de Recursos Naturais, destinado a
produtores rurais (pessoas físicas e jurídicas) e suas cooperativas, com o objetivo de
incentivar a correção de solos, a recuperação de áreas de pastagens cultivadas degradadas, a
sistematização de várzeas com vistas ao aumento da produção de grãos e a implantação de
projetos de adequação ambiental de propriedades rurais. c) MODERFROTA – Programa de
Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras,
destinados a produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, e suas cooperativas. d)
MODERINFRA – Programa de Incentivo à Irrigação e à Armazenagem, destinados a
produtores rurais, pessoas físicas ou jurídicas, e suas cooperativas. Tem o objetivo de apoiar
o desenvolvimento da agricultura irrigada e sustentável e ampliar a capacidade de
armazenamento nas propriedades rurais. Neste caso, os produtores de frangos e suínos se
enquadram pela necessidade de silos de armazenagem para rações dos animais. e)
PRODUSA – Programa de Estímulo à Produção Agropecuária Sustentável, que visa
disseminar o conceito de agronegócio responsável e sustentável, destinado a produtores
rurais, pessoas físicas ou jurídicas e suas cooperativas. Deste programa faz parte o Prolapec,
Programa de Integração Lavoura Pecuária, instituído em setembro de 2008. f) FINAME
(Agrícola) que financia aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas novos.
O papel do BNDES tem sido importante para a cadeia de carnes, uma vez que foi a que
recebeu mais recursos do BNDES, a partir dos anos 90 em diante. Inicialmente para
modernização e expansão da indústria avícola, cujos recursos foram para atender ao aumento
da procura interna e, a partir da metade dos anos 90, para concretizar investimentos na
capacitação exportadora da atividade. Em 2008, a cadeia de carnes absorveu cerca de 50%
dos desembolsos totais do BNDES para a agroindústria. No segmento da carne bovina, a
participação do BNDES também foi fundamental na reestruturação e modernização
empresarial de grandes frigoríficos. Podem ser citados os casos do grupo JBS-Friboi, onde o
BNDES participa com cerca de 14% do capital social, na Bertin S/A (onde participa com
26,92% da empresa), na Marfrig Frigoríficos (participação de 14,66%) e mais recentemente
na Independência Participações S/A (participação de 13,89%).
Interação Intra-Zona
1. Inserção Comercial
39
O Quadro 7 mostra os dados do comércio brasileiro de carnes para os países do Mercosul19
desde 1994, ano da criação oficial dessa organização, até o ano de 2008. Constata-se que
nesse período: a) o comércio de carne suína foi o mais importante, sendo que as exportações
brasileiras para esses países correpondeu a cerca de 10% do total exportado pelo Brasil nesse
período. As exportações brasileiras totais de carne suína, diferentemente das outras,
paresnetou a tendência de crescimentos, passando de um valor de US$ 26,7 milhões em 1994
para cerca de US$ 80 milhões em 2008, uma variação de 2004 %. Em seguida vieram as
exportações de carne de frango (correspondendo a 1,3% do total exportado), e as exportações
de carne bovina (com apenas 0,14% do total);
b) a exportação de carnes brasileiras para o mercado argentino foi a mais importante,
correspondendo a 84% do total, destacando se as exportações de carne suína e de frango;
c) o Brasil foi importador líquido de carne bovina, sendo que as importações da Argentina foi
a mais importante, seguida das importações do Uruguai;
2. Inserção Produtiva
No que tange à inserção produtiva, observa-se que apenas as grandes empresas de carne
bovina (destacando-se a JBS e a Marfrig) realizaram investimentos significativos,
especialmente na Argentina e no Uruguai. A partir de 2005, diversas operações de F&A e de
alianças foram realizadas nesses países por essas empresas (Quadro 8). Dadas as melhores
condições de saúde e de qualidade na criação do animal, ou mesmo do processamento de
carnes, os investimentos dessas empresa têm visado, fundamentalmente, a possibilidade de
saltar barreiras não-tarifárias do comércio internacioanl e, com isso, acessar mercados
externos mais exigentes –e rentáveis–de carne bovina.
Quadro 7: Brasil – Exportações e Importações de Carne para Argentina. Paraguai e Uruguai (US$)- 1994-2008
AnosCarne Bovina (SITC 011)
Argentina Paraguai UruguaiExportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo
1994 119.554 62.979.176 (62.859.622) 20.000 17.516.776 (17.496.776) - 34.058.928 (34.058.928)1995 - 120.556.776 (120.556.776) 24.600 19.831.908 (19.807.308) - 34.460.024 (34.460.024)1996 - 103.203.840 (103.203.840) 7.704 17.116.932 (17.109.228) - 57.788.884 (57.788.884)1997 24.390 78.417.800 (78.393.410) 15.152 12.809.294 (12.794.142) - 94.272.592 (94.272.592)1998 339.676 40.681.256 (40.341.580) 42.958 26.245.272 (26.202.314) - 76.270.688 (76.270.688)1999 638.638 29.124.106 (28.485.468) - 10.669.370 (10.669.370) 28.542 28.695.026 (28.666.484)2000 320.632 32.592.182 (32.271.550) - 27.332.666 (27.332.666) 237.674 37.555.982 (37.318.308)2001 1.447.537 19.845.895 (18.398.358) - 17.141.723 (17.141.723) 300.181 20.876.673 (20.576.492)2002 - 22.597.897 (22.597.897) - 23.054.142 (23.054.142) 2.556 22.520.225 (22.517.669)2003 - 17.321.210 (17.321.210) - 28.550.364 (28.550.364) 22.007 14.069.550 (14.047.543)2004 - 23.013.262 (23.013.262) - 34.638.988 (34.638.988) 1.066.496 14.270.757 (13.204.261)2005 55.425 30.521.829 (30.466.404) - 30.913.020 (30.913.020) 7.550.600 18.229.142 (10.678.542)2006 49.531 32.314.811 (32.265.280) - 9.443.174 (9.443.174) 5.453.417 24.026.445 (18.573.028)
19 Considera-se aqui os quatro estados membros efetivos do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
40
2007 - 46.399.368 (46.399.368) 6.535 13.801.788 (13.795.253) 4.983.481 34.018.874 (29.035.393)2008 - 57.294.301 (57.294.301) - 18.351.830 (18.351.830) 5.084.490 44.451.363 (39.366.873)Total 2.995.383 716.863.709 (713.868.326) 116.949 307.417.247 (307.300.298) 24.729.444 555.565.153 (530.835.709)
Carne Suína (SITC 0122)1994 19.855.106 30.000 19.825.106 17.919 6.479 11.440 6.852.774 - 6.852.7741995 22.612.528 - 22.612.528 23.058 - 23.058 5.744.976 9.131 5.735.8451996 55.711.632 - 55.711.632 15.740 - 15.740 7.621.554 5.729 7.615.8251997 58.806.904 - 58.806.904 24.214 - 24.214 9.829.348 - 9.829.3481998 61.100.468 - 61.100.468 37.207 - 37.207 8.730.615 - 8.730.6151999 47.521.606 30.707 47.490.899 15.924 - 15.924 9.404.882 - 9.404.8822000 55.157.279 - 55.157.279 12.773 - 12.773 6.861.483 - 6.861.4832001 52.323.645 - 52.323.645 2.060 - 2.060 11.093.389 - 11.093.3892002 11.216.524 - 11.216.524 1.054 - 1.054 5.886.622 - 5.886.6222003 39.489.440 - 39.489.440 9.960 - 9.960 8.422.904 - 8.422.9042004 39.967.462 - 39.967.462 - - - 10.748.897 - 10.748.8972005 28.674.197 - 28.674.197 - - - 10.443.625 - 10.443.6252006 30.968.397 - 30.968.397 2.045 - 2.045 12.619.124 - 12.619.1242007 47.796.516 - 47.796.516 2.580 - 2.580 17.737.369 - 17.737.3692008 57.881.981 - 57.881.981 - - - 22.060.338 - 22.060.338Total 629.083.685 60.707 629.022.978 164.534 6.479 158.055 154.057.900 14.860 154.043.040
Carne de Frango (SITC 0123)1994 53.025.272 - 53.025.272 203.704 - 203.704 19.531 18.268 1.2631995 27.025.100 533.779 26.491.321 322.670 - 322.670 40.867 157.217 (116.350)1996 37.340.164 925.470 36.414.694 585.889 - 585.889 61.300 247.355 (186.055)1997 52.665.736 1.325.815 51.339.921 660.755 59.934 600.821 - 433.142 (433.142)1998 65.419.776 1.474.952 63.944.824 613.110 131.315 481.795 - 186.788 (186.788)1999 50.065.435 316.988 49.748.447 298.136 24.800 273.336 250.606 27.889 222.7172000 37.875.443 453.914 37.421.529 180.088 9.700 170.388 345.367 - 345.3672001 23.401.535 156.818 23.244.717 220.576 8.800 211.776 - - -2002 737.682 156.250 581.432 115.509 - 115.509 6.229 - 6.2292003 5.846.252 201.059 5.645.193 97.776 - 97.776 - - -2004 1.629.460 255.166 1.374.294 79.357 - 79.357 7.045 - 7.0452005 3.782.739 481.979 3.300.760 98.536 - 98.536 - - -2006 4.957.359 575.402 4.381.957 347.270 - 347.270 - - -2007 7.406.699 1.206.546 6.200.153 629.875 - 629.875 - - -2008 6.715.385 1.366.532 5.348.853 975.855 - 975.855 - - -Total 377.894.037 9.430.670 368.463.367 5.429.106 234.549 5.194.557 730.945 1.070.659 (339.714)
Fonte: Comtrade, Onu
2.1. Argentina
Após as diversas F&A, a JBS ocupa atualmente o primeiro lugar nas exportações de carne
bovina, alcançando em 2007 a soma de US$ 160 milhões, sendo responsável por 87% das
exportações de carne industrializada naquele país. Os principais destinos das exportações são
os Estados Unidos e a Europa, que somam uma base de 190 clientes. A JBS também
comercializa marcas próprias e de terceiros, dentre as quais se destacam: Swift, Cabaña Las
Lilas, Armour, Plate, Fray Bentos, Safra, Exeter e Corte Buona. Com essas marcas, a
empresa é líder em diversos mercados doméstico, tais como hambuegueres, salsichas e carne
em conserva.
Por sua vez, a unidade de negócios na Argentina da Marfrig é o maior nas atividades de
abate, vendas e exportações de carne bovina. A empresa possui na Argentina cinco plantas de
abate com capacidade diária de 3.900 cabeças, e cinco plantas de industrializados com
capacidade de 249 toneladas por dia. As marcas da Marfrig na Argentina incluem a Paty,
líder no mercado argentino de meatsnacks e de hambúrgueres.
41
2.2. Uruguai
A Marfrig é hoje a maior empresa privada do Uruguai, com quatro plantas de abate de
bovino, duas de abates de cordeiro e três de produtos industrializados. A capacidade instalada
de abate é de 3.900 bovinos por dia e 5.400 cordeiros por dia e a capacidade de
industrialização é de 268 toneladas por dia. A Marfrig representa cerca de 30% de todo o
abate e das exportações de carne bovina realizados no Uruguai. As condições sanitárias dão
ao Uruguai – e, consequentemente, ao Grupo Marfrig – o status de único produtor da
América do Sul capaz de exportar carne fresca a todos os destinos do mundo.
Quadro 8: Principais F&A e Joint Ventures da JBS e da Marfrig na Argentina e no UruguaiModo de Entrada Bertin JBS MarfrigGreenfield
(A JBS incorporou a Bertin em 2009)2006, Marfrig Chile2007, Marfrig Uruguai
Aquisições 2006, Quality Meat,Paraguai2006, UI Canelones,Uruguai
2005, Swift (3), Argentina2005, CEPA(2), Argentina2006, Consig. Rurales, Argentina2006, Venado, Argentina2006, Tuerto, Argentina2006, Pontevedra, Argentina2007, Rio Platense, Argentina2007, Colonoa Caroya,Argentina2007, Argenvases, Argentina
2006, Elbio, Uruguai2006, La Caballada,Uruguai2006, Tacuarembo, Uruguai2006, Inaler, Uruguai2006, AB&P, Argentina2007, Estab. Colonia,Uruguai2007, EDSA, Argentina2007, Best Beef, Argentina2008, Mirab, Argentina
Alianças/Arrendamentosde Plantas
2006, Quinto Cuarto, Chile2007, Frig.Patagonia, Chile2007, Quickfood, Argentina2008, Fray Bentos, Uruguai
Fonte: Relatórios das empresas
Dinâmica Inovativa Setorial
A dinâmica tecnológica nos segmentos de carnes tem apresentado três características mais
gerais. A primeira é a quase ausência de difusão exitosa de produtos finais radicalmente
novos, uma vez que o padrão de consumo alimentar é bastante estável, em função dos fortes
atributos intrinsecos aos produtos (tais como sabor, aparência, etc..). Isso induz que a
inovação em produtos nesses setores seja majoritariamente do tipo incremental.
A segunda característica é que há uma forte e progressiva conexão entre as inovações dos
setores insumidores da criação animal e as inovações no setor processador de carnes. Assim
as inovações na base produtiva primárias no sentido de maior diferenciação qualitativa do
42
produto primário (os animais) está conectada à maior diferenciação e valorização e/ou
agregação de valor do produto processado final.
A terceira característica é o crescente papel das instiutições regulatórias no âmbito geral do
ambiente inovador, seja as regulações sobre o consumo final, bem como as regulações que
afetam outras dimensões da da cadeia produtiva, tais como o uso de insumo e ingredientes20.
Para fins expostivos, pode-se representar simplificadamente o sistema setorial de inovação de
carnes conforme a Figura 3. A figura mostra os principais elementos e fluxos tecnológicos
desse sistema. Este trabalho analisa as características e as tendências mais importantes da
inovação da base primária –focando os segmentos da genética, da saúde animal e da
alimentação/ração– e da base industrial, procurando ainda posicionar brevemente a
capacitação brasileira em cada segmento.
Figura 3: Principais Fluxos Tecnológicos nos Setores de Carnes
Fonte: o autor
20 Por exemplo, a produção e a comercialização de medicamentos veterinários e de nutrição para animais éautorizada e fiscalizada pela SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária) do Ministério da Agricultura eAbastecimento); ou, no caso dos medicamento veterinários se aplica a Lei de Patentes; ou, no caso dosdefensivos animais, há a obrigatoriedade de registrados no Departamento de Defesa Animal (DDA), ligado aSDA.
Inovaçãoda base primária
Inovação da base industrial
Criação deAnimais
Processamentode Carnes
Distribuição &Embarque
Genética
AlimentaçãoRação
M & EIngredientesEmbalagens
TIEmbalagens
Dinâmicas Macroeconômicas, Tecnológicas, Regulatórias e Padrão de Consumo
Saúde Animal
Equipamentos
43
1. Inovação da base primária
As inovações que ocorrem na base primária são as mais importantes para o setor de carnes,
uma vez que são elas que afetam mais diretamente os aspectos econômicos (por exemplo, os
patamares de custo e produtividade), bem como os aspectos comerciais das empresas
processadoras (por exemplo, afetando o leque de diferenciação de produtos). As principais
fontes de inovações advêm dos segmentos de genética, de saúde animal (veterinária) e de
alimentação e ração animal. Esses segmentos, no entanto, não estão isolados na dinâmica do
processo inovativo, havendo interações de fluxos de conhecimento e de produtos entre os
agentes desses segmentos, que criam sinergias e transbordamentos tecnológicos. As relaçãoes
entre esses segmentos e os fluxos mais importantes de conhecimento e de serviços e produtos
–que se alimentam mutuamente (embora com importância diferenciadas) na dinâmica setorial
de inovação tecnológica– estão representados na Figura 4. Observa-se que o segmento de
desenvolvimento genético é receptor de fluxos de insumos e de inovações dos segmentos de
medicamentos e aditivos e de nutrição. Este útimo segmento é receptor, por sua vez, de
insumos de inovações do setor produtor de medicmanetos e aditivos. Captar todas as relações
e caraterísticas dos fluxos é uma tarefa complexa, uma vez que, muitas vezes são específicas
à cada trajetória tecnológica e à cada tipo de animal (ou mesmo de cada linha genética dos
animais). O aprofundamento desse tema foge às pretensões deste trabalho, que se limitará à
exposição das características e especificidades mais importantes dos vetores de inovação da
genética, da ração e da saúde animal.
Figura: 4 - Sistema setorial de inovação na base agrícola produtora de carnes
Desenvolvimento
Genético
(Embrapa, Empresas)
Universidades /centros de pesquisas
Criação de animais(integrados ouindependentes)
Medicamentos e aditivos
Nutrição (ração, pastagem)Abate e processamento
44
LegendaTroca e desenvolvimento de conhecimentoFluxo de produto entre insumidoresFluxo de produto para a criação e abateFonte: o autor com base em Rohenkohl (2006)
1.1.Desenvolvimento Genético
A inovação em genética é fundamental no sistema de inovação da base agrícola de carnes. É
um segmento baseado em ciência e, nos últimos anos, tem apresentado mudanças importantes
nos atributos da dinâmica tecnológica, pelo uso mais complexo uso da biotecnologia, biologia
molecular, bem como pela maior incorporação de tecnologia da informação. O
desenvolvimento genético consiste na oferta de novas linhas genéticas influencia a
velocidade de crescimento dos animais, a quantidade e a quantidade de carne na carcaça, e os
atributos de resistência e de reprodutibilidade dos animais. Para o desenvolvimento e
multiplicação de animais de alto valor genético é necessário a utilização de insumos dos
outros grupos (rações e medicamentos/aditivos).
No plano internacional, o mercado de genética animal está cada vez mais concentrado
comercialmente, em função de intenso processo de F&A ocorrido recentemente. Esse
mercado é comandado por poucas empresas, notadamente dos EUA e da Europa, que atuam
globalmente por meio de filiais e subsidiárias.(Quadro 9)
Quadro 9: Principais Empresas de Genática Animal
Grupo País Empresa Genética
Tyson EUA Cobb Vantress Frango
Erich Wesjohann Alemanha Aviagen Frango
Grimaud França Hubbard Frango
Hendrix Genetics Holanda Hybro Frango
Genus Plc Reino Unido PIC Porco
Hendrix Genetics Holanda Hypor Porco
Pigture Groupe Holanda Topigs Porco
Danish Meat Coop Dinamarca Danbred Porco
Pen Ar Lan França Pen Are Lan Porco
JSR Reino Unido JSR Porco
Genus Plc Reino Unido ABS Bovina
Koepon Hold. Holanda Alta Genetics Bovina
Semex Alliance Canadá Semex Bovina
CRV Holanda CRV Bovina
Fonte: o autor
45
O padrão de inovação em genética caracteriza-se pelo constante esforço de desenvolvimento
de linhas genéticas diferenciadas. Na pesquisa genética propriamente dita é predominante o
papel dos laboratórios de P&D das grandes empresas multinacionais, que desenvolvem e
centralizam as atividades nucleares do processo inovativo. As parcerias com universidades
também são importantes nessa fase tanto pelo acesso ao avanço do conhecimento das áreas
científicas fundamentais da biotecnologia, bem como no desenvolvimento de softwares
específicos para a análise de dados relativos aos animais no que diz respeito: a) à predição de
desempenho de seus descendentes (genética quantitativa); b) à análise de correlações entre
genes e características de baixa herdabilidade nos animais, combinando o uso de genética
molecular com os referidos programas de genética quantitativa. Nesta etapa de pesquisa,
bastante sofisticada, a apropriação está relacionada à obtenção de patentes de métodos de
identificação de genes ou segmentos genéticos ligados à transmissão hereditária de uma
característica. Com isso pode-se construir e reter no âmbito da empresa o patrimônio de
genético animal, que é fundamental para a ampliação de novas raças e linhas de animais.
Na etapa de desenvolvimento das linhas genéticas também é dominante a ação da matriz
multinacional, embora ocorram exceções. As filiais faz a adaptação às condições locais e
teste de desempenho das novas linhas importadas, em parcerias com laboratórios de
universidades e de centros de pesquisa locais. Isto equivale apenas a um desenvolvimento
incremental (ou aprimoramento) do produto. A concorrência entre as empresas de genética
ocorre através da capacidade de diferenciação de produto, e de seus diferentes trade offs
intrínsecos (custo, desempenho reprodutivo, conversão alimentar, resistência física, etc..).
Nesta fase menos sofisticada do esforço inovativo, o desenvolvimento de produto e processo
se confundem. O cruzamento entre linhas genéticas diferentes, uma alteração no processo de
desenvolvimento genético, implica na própria diferenciação de produto, o animal. Reter a
posse/propriedade dos novos animais é uma forma de proteção do processo inovativo e de
apropriação dos frutos econômicos derivados da inovação.(Rohenkohl, 2006)
A inovação de ponta em genética é central para a competitividade, mas não se impõe como
fator de sobrevivência das empresas no curto prazo, uma vez que o padrão de consumo de
carnes e seus derivados é relativamente estável. Há espaço para quem está um passo atrás da
fronteira de adoção de novas técnicas, ou seja, usar apenas a genética quantitativa (softwares)
para orientar o desenvolvimento genético. Mas no longo prazo, as empresas que não
combinarem genética quantitativa e molecular tendem a perder precisão no desenvolvimento
46
de produto, comprometendo o desempenho relativo de seus animais e a sua participação no
mercado.
1.1.1. Genética avícola
Os avanços ocorridos na genética avícola nos anos 60 constituíram-se como mola propulsora
que viabilizou a estrutura avícola dos países desenvolvidos e, posteriormente, dos países em
desenvolvimento. A partir de então, as diversas linhagens de frangos produzidas
disseminaram-se internacionalmente via filiais de empresas multinacionais detentoras das
marcas, que além de produzirem para o seu próprio consumo, vendiam no mercado a
linhagem representada. Em alguns países, empresas nacionais desenvolveram programas
próprios de melhoramento genético difundindo conhecimento técnico. A melhora das rações
associadas ao melhoramento genético possibilitou ganhos de performance ainda maiores, de
tal modo que as pesquisas na área de nutrição acompanharam a evolução genética.
Na década de 60 o melhoramento genético era basicamente voltado para o aumento do ganho
de peso. Atualmente as exigências ampliaram os critérios de seleção para atender as novas
necessidades do mercado, tais como: 1 – Reprodutiva (produção de pintos), 2 – Produtivas
(desempenho do frango vivo); 3 – Rendimentos da carcaça (rendimentos da carcaça e de
cortes nobres) e qualidade da carne (teor de gordura, pH, etc.) e 4 – Robustez do animal.
O mercado mundial de genética avícola é dinâmico, dominado por empresas dos países
desenvolvidos, e com fortes barreiras à entrada, derivadas tanto do conhecimento científico e
tecnológico acumulado dentro das empresas –destacando-se o patrimônio dos bancos
genéticos–, como também do volume de investimento exigido para manter as atividades de
P&D. As empresas Aviagen Internacional (Erich Wesjohann Group- Alemanha) e a Cobb-
Vantress (Tyson – EUA) dominam cerca de 80% do mercado internacional de genética
avícola (Souza Alves, 2003).
O desenvolvimento de genética avícola é uma sequência de diversas etapas, envolvendo as
seguintes segmentos (Figura 5):
as granjas de seleção genética reprodutoras primários (linhas puras) produtoras de
ovos férteis e frangos de um dia para produção de bisavós,
as granjas de bisavós (bisavozeiras) produtoras de ovos férteis e frangos de um dia
para a produção de avós;
47
as granjas de avós (avozeiras) produtoras de ovos férteis e frangos de um dia para a
produção de matrizes;
as granjas de matrizes (matrizeiras) reprodução das frangos, tendo como produto
final os híbridos, denominados pintos de um dia;
os pintos de um dia que são vendidos aos criadores comerciais de frangos de corte ou
de galinhas para produção de ovos.
As aves matrizes são o resultado mais importante do pacote tecnológico desenvolvido pelo
setor genético da avicultura e funcionam como uma “máquina”, com todos os seus
componentes instalados, pronta para produzir em série o produto final: o pinto de um dia.
Este, por sua vez, é transformado pelas mãos do avicultor, no frango que a indústria
processadora irá abater. As áreas de atuação de cada setor são bem definidas. A seqüência
avozeiro matrizeiro criador comercial pode ser constituída por uma ou várias empresas,
sendo esta seqüência diferenciada para a produção de ovos ou de frangos. Para a produção de
frangos de corte, tanto os machos como as fêmeas são aproveitados e, para a postura de ovos
somente as fêmeas são utilizadas e os machos descartados. O período de criação da ave dura,
aproximadamente, 11 meses e o da engorda, 41 dias. (Jesus Jr, 2007)
Figura 5. Fluxo de Produção no Segmento da Genética do Frango
Fonte: Programa Nacional de Sanidade Avícola; MAPA 2002, apud Souza Alves (2003)
Capacitação Brasileira
O Brasil não tem ainda plena capacidade tecnológica para a produção de material genético
em escala e em qualidade adequados para a produção industrial da avicultura industrial. A
capacitação é de domínio de grandes grupos internacionais, que importam aves puras
BizavozeirosAvozeiros Matrizeiros Reprodução
Produção deOvos
IncubatórioPinto de 01dia
Período = 24 meses
Granjas de SeleçãoGenética
IntegradosAbate
48
(melhoradas geneticamente), dificultando a identificação do tipo de genes das raças puras,
pois seria necessário identificar os genes das gerações anteriores às bisavós (Souza Alves,
2003).
A dependência brasileira das linhagens puras importadas pode ser comprovada pelas
linhagens de frango utilizadas pelas maiores empresas processadoras nacionais são todas de
empresas estrangeiras. (Quadro 10) Essa dependência poderia trazer vantagens e
destavantagens. As principais vantagens à indústria nacional, e ao país, quais sejam: a) maior
controle da oferta da cadeia; b) melhor controle sanitário dos elos da reprodução; c)
facilidade de correção de problemas do pacote tecnológico. As desvantagens seria, além da
dependência tecnológica em si, a concentração da oferta genética em poucas empresas
mundiais poderia, em tese, gerar um risco de diminuição da variedade genética, expondo até
mesmo a conservação da espécie, uma vez que o sistema produtivo ocorre em grandes lotes e,
portanto, propensa à transmissão de doenças com extrema velocidade. Isto justifica a
manutenção pelas empresas da política de utilização de várias linhagens em seu plantel.
(Jesus Jr. 2007)
Até recentemente o Brasil apenas importava avós e matrizes melhoradas de frangos, porém
verifica-se, mais recentemente, a importação também de bisavós, ou seja, frangos com maior
potencial genético. A importação de bisavós permite uma participação mais qualificada das
filiais no desenvolvimento de melhorias em avós e matrizes. Não há indício de que essa
qualificação implique competição com a matriz. No entanto, ainda hoje são importados todos
os materiais genéticos puros mas algumas empresas já fazem, no país, diretamente ou por
intermédio de parcerias, desenvolvimento genético a partir de linhagens puras, como o caso
da brasileira Agroceres, incorporada pelo Aviagen (Aviagen Brasil), ou criação de frangos
bisavós, como é o caso da Cobb-Vantress em granja própria e em parcerias com grandes
integradoras. Com isso, iniciou-se timidamente a exportação de avós, matrizes melhoradas e
ovos incubados para a América Latina, Oriente Médio, África e Ásia.
Quadro 10. Genética das Empresas Processadoras de Carne de Frangos
Empresa Processadora Linhagem Empresa Fornecedora
Sadia Ross/Cobb/Arbor Acres Ross Breeders/Cobb Vantress/ Arbor Acres
Perdigão Ross/Cobb/Hubbard Ross Breeders/Cobb Vantress/ISA
Penasul Ross/Cobb Ross Breeders/Cobb Vantress
Dagranja Ross/Cobb Ross Breeders/Cobb Vantress
Douxfrangosul Ross/Cobb Ross Breeders/Cobb Vantress
49
Seara Ross/Cobb/Arbor Acres Ross Breeders/Cobb Vantress/ Arbor Acres
Aurora Ross/Cobb Ross Breeders/Cobb Vantress
Fonte: Estudo sobre as Atividades Tecnológicas das Empresas, FINEP; 2002.
No que tange à capacitação pública, a principal instituição é a Embrapa Aves e Suínos que
com a aquisição do banco de germoplasma da extinta Granjas Guanabara e, desde os anos 80,
tem desenvolvido programa de melhoramento genético, a partir de duas linhagens paternas e
duas maternas de aves. O resultado comercial é em pequena escala, e a oferta serve para
atender especialmente as demanda de pequenos e médios produtores. De modo
complementar, desde 1999, a capacitação da Embrapa tem ocorrido também através de
programas de pesquisa em genômica, especialmente em marcadores genético para a
identificação de atributos quantitativos e de resistência dos animais.
1.1.2.Genética Suína
Em uma perspectiva histórica, somente nos anos 80 ocorre a expansão de firmas
especializadas em genética suína, tais como PIC, JSR, NPD, Dalland, Pen Ar Lan, Dan Bred,
entre outras. A partir de então tem ficado mais definida a divisão de trabalho e uma certa
hierarquia no âmbito das atividades de P&D. Na etapa de desenvolvimento genético as
atividades de P&D são orientadas considerando as oportunidades/necessidades dos criadores,
da indústria de abate e das preferências de consumo final. Na obtenção das linhas genéticas é
dominante as atividades de P&D das empresas multinacionais, em geral realizados na
matrizes.
Numa etapa posterior, ocorre o processo de multiplicação do material genético. Os animais, e
seus parentes, - alojados nas diversas granjas de desenvolvimento genético e de multiplicação
do material genético – são multiplicados. Os dados de desempenho produtivo coletados,
armazenados e analisados com softwares específicos, servem para a firma de
desenvolvimento genético fazer inferências sobre o desempenho das novas gerações,
direcionando a seleção e os cruzamentos entre os animais. Isto é chamado de melhoramento
genético, com base no uso da “genética quantitativa”. Ganham destaque nesta etapa as tarefas
das filiais internacionais das grandes empresas de genética, que buscam a adequação dos
animais às condições de clima locais. Isso ocorre por meio de testes de desempenho das
novas linhas, importadas como “animais bisavós”. Em geral tais testes são realizados com
parcerias de universidades e IPs locais. Os dados de desempenho dos animais são coletados e
50
armazenados na matriz, orientando novas seleções genéticas através de programas
computadorizados de genética quantitativa (estatística). Isto equivale a uma adaptação (ou
aprimoramento) do produto, e é importante dada as variações do ambiente climáticos e das
características do mercado.
A Figura 6 mostra a sequência e resume as principais características do processo inovativo ao
longo das atividades de geração e multiplicação de suínos.
Figura 6: Características da Sequência da Produção e da Inovação em Suínos
Fonte: Rohenkohl (2006)
Capacitação brasileira
O início do melhoramento genético de suínos no Brasil ocorreu anos 60, com a importação
de diversas raças em substituição ao material genético nativo. Foram importados as raças
Large White, Landrace, Duroc, e Pietrain. Na década de 70, empresas no Brasil começam a
dar atenção à genética de suínos. No entanto, os esforços de pesquisa não conseguiram
acompanhar a evolução internacional na área.
No que diz respeito às filiais de empresas multinacionais de genética presentes no Brasil,
pode-se dizer que, de forma geral, elas repetem a estratégia mundial de desenvolvimento
Bisavós(2)
Desenvolvimento de linhas genéticas. Bisavóscriadas em núcleos filiais ou joint-ventures defirmas de desenvolvimento genético. São animais"puros" de uma linha, ativos estratégicoscomercializados mediante contratos que dificultama transferência de genética a terceiros. Registro demarcas.
Avós = bisavós x 12(3)
Animais de primeirocruzamento, criados em filiaisou multiplicadoresterceirizados, granjas deelevado padrão sanitário. Sãocomercializados para omelhoramento genético deindústrias ou de produtoresindependentes. Registro demarcas.
Matrizes = avós x 15(4)
Criados emgranjas deprodutoresindependentes oude integradoras,de acordo com opróprio programademelhoramento.
Direito autoral,patentes.
Animais cevados para o abate =matrizes x 20. As bisavós são multiplicadas por 3.600.
(5)
Linha divisóriaentredesenvolvimento emelhoramento
genético.
P&D deprocesso
(1)
51
genético de linhas sintéticas puras desenvolvidas e centralizados nos laboratórios de P&D da
matriz. A partir da importação de bisavós faz-se a multiplicação dos reprodutores e matrizes
em avôs e avós vendidos para as integradoras, bem como realizam teste complementares de
qualidade de carne e desempenho dos animais, em convênio com universidades e IPs locais.
Portanto, não ocorre, de forma sistemática, o transbordamento de conhecimento científico
nuclear das atividades de inovação em genética –etapas (1), (2) e (3) da figura acima – para
as empresas locais. A capacitação das empresas locais ocorre mais frequentemente nas
atividades períféricas, isto é nas técnicas de melhoramento genético (etapas (4) e (5)).
No entanto, tem ocorrido alguns esforços de capacitações tecnológicas dos agentes locais em
atividades mais complexas (Rohenkohl, 2006). Dentre esses esforços, podem ser citados os
casos da:
- Embrapa-CNPSA, que faz desenvolvimento de material genético voltado a pequenos e
médios produtores. Quando começou a trabalhar com genética de suínos em 1973/1975, o
único melhoramento feito no Brasil era realizado por meio da importação de material
genético de multinacionais. Com o passar do tempo, a firma voltou-se à oferta de linhas de
macho terminal cujo desenvolvimento pode ser realizada com um rebanho pequeno. Este
trabalho teve como parceiro a Cooperativa Aurora. O desenvolvimento empreendido pela
Embrapa perseguiu animais com melhor conformação, com grande percentual de carne para
carcaça e menor expressão de gordura–Programa Porco Light. A empresa possui ainda como
objetivos da área de desenvolvimento produzir material genético para a agricultura familiar,
condicionando a produção às necessidades desse segemento do sistema de mercado. As
importações de sêmen e animais feitas no passado recente pala Embrapa ainda garantem uma
variabilidade genética suficiente para novos produtos. A empresa trabalha com a perspectiva
de incrementar o seu banco genético a partir de raças nativas, descendentes dos primeiros
suínos trazidos por portugueses e espanhóis, e que, melhorados e selecionados, pode
introduzir características desejáveis para o consumo in natura (marmoreio da carne).
- Agroceres PIC: foi criada em 1977 como uma divisão da Agroceres voltada à genética de
suínos. Iniciou o trabalho com o apoio da firma inglesa PIC, importando material genético
para realizar a seleção e cruzamento de animais no Brasil. Todo o conhecimento decorrente
de pesquisa a Agroceres obtém por meio da joint-venture com o grupo PIC. No entanto,
algumas linhagens são totalmente desenvolvidas no Brasil, com a utilização de marcadores
genéticos. Nestes casos, o material genético desenvolvido no país é exportado para a
52
Inglaterra. Em outros, material genético é importado da PIC para a atualização tecnológica.
Assim, há troca de informações e de material genético entre as várias unidades visando a
racionalização de custos e melhores resultados;
- Sadia S.A, que possui um programa de melhoramento genético próprio há mais de 25 anos,
programa este que garante a Sadia independência e diversidade em termos de material
genético e de qualidade da matéria prima utilizada em seus produtos. No topo deste programa
estão as linhas puras alojadas em suas granjas núcleo, sendo nestas linhas desenvolvido todo
o trabalho de melhoramento genético utilizando modernas técnicas de genética quantitativa e
molecular. Como empresa de alimentos, integradora de suínos e empresa de desenvolvimento
genético de suínos, com a verticalização de atividades ela objetiva reter conhecimento,
garantir a “rastreabilidade” da produção desde a genética suína, e ter um pacote genético
específico para a sua produção. Centro de Pesquisa Genética Animal e Biotecnologia é o
maior da América Latina em desenvolvimento genético suíno.
1.1.3. Genética bovina
O melhoramento genético em bovinos está baseado em diversas técnicas biotecnológicas que
visam o aprimoramento do animal para fins reprodutivos e de melhorias na carne e no leite. A
primeira técnica, e também a mais difundida, é a inseminação artificial (IA), a segunda é a
transferência de embriões, a terceira é sexagem de embriões junto com a fertilização in vitro e
a clonagem de animais, e a quarta é a produção de animais transgênicos.
A IA é o principal meio de disseminação de genes no âmbito mundial. (Severo, 2009). Em
2008 o mercado mundial de produtos da genética foi de US$ 6,78 bilhões (incluídos sêmen,
embriões, animais para reprodução e abate). O Brasil participou com aproximadamente 8%
do total, comercializando aproximadamente US$530 milhões em 200721. O mercado
exportador restrito ao sêmen em 2008 foi cerca de US$ 305 milhões, onde EUA, Canadá e
Holanda respondem por 85% das vendas. O Brasil é o oitavo maior importador de sêmen
mundial com US$11,45 milhões no período (Simão, 2008).
Capacitação brasileira
A IA na pecuária brasileira é antiga. Em 1964 é iniciado o Plano Nacional de Inseminação
Artificial, e, em 1968, foi criado pelo Ministério da Agricultura a Divisão de Fisiopatologia
21 Dados de Gollin (2009) mostram uma outra realidade. Em 2005, o Brasil participava apenas com 0,3% dasexportações mundiais de sêmem bovino, e com apenas 0,2% das exportações de bovinos para reprodução.
53
da Reprodução e Inseminação Artificial (DFRIA), encarregada mais de orientar e de
fiscalizar o método do que de fomentar seu uso em todos os Estados da Federação. Em 1974
foi criada a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), com o objetivo básico
de fomentar e de difundir essa prática no rebanho bovino. Na década de 60, registra-se o
primeiro grande impulso oficial à produção brasileira com a criação do Programa Nacional de
Desenvolvimento da Pecuária, quando o país desenvolveu um ciclo frigorífico e passou a
investir em tecnologias de produção para melhorar as condições sanitárias do abate. Dez anos
depois tiveram início as pesquisas clássicas de genética quantitativa aplicada, implementadas
por universidades, instituições de pesquisa e associações de criadores para o melhoramento
do rebanho. Esses programas tinham por objetivo produzir animais com características
comerciais superiores, ou seja, com crescimento mais rápido, reprodução precoce e carne de
melhor qualidade.
A capacitação brasileira está assentada quase que exclusivamente na inseminação artificial22.
Existem dois tipos básicos desse tipo de atividade de melhoramento genético. O primeiro tipo
diz respeito àquelas atividades realizadas com o uso de tecnologias mais avançadas e com
criadores especializados em selecionar animais da mais alta estirpe e criar matrizes de alto
valor econômico em função de suas qualidades reprodutoras. Nessa categoria estão
principalmente as filiais de grandes empresas com atuação global, tais como ABS Global,
Alta Genetics, CRV Lagoa, que contam com o suporte das pesquisas dos laboratórios de
P&D das matrizes. Essas empresas possuem laboratórios no Brasil, com equipamentos e
instrumentos para a realização de pesquisa e seleção mais precisas –mas, basicamente, de
genética quantitativa–, e que atendem protocolos sanitários exigidos no Mercosul, União
Européia e Organização Mundial de Epizootias (OIE), permitindo assim a conquista de
mercados internacionais.
A segunda atividade diz respeito as empresas que basicamente difundem tecnologia genética
mais básica, mais baratas, e economicamente mais acessíveis às criações comerciais,
22 No âmbito da biotecnologia, pode ser citado também a iniciativa entre a Central Bela Vista Genética Bovina ea FAPESP, que financiarão o projeto Genoma Funcional do Boi, a primeira iniciativa brasileira noseqüenciamento genético e a sua análise funcional com vistas em sua aplicação. O projeto está focado nosanimais da raça nelore, a mais importante da bovinocultura brasileira, e tem como objetivo identificar genesbovinos com potencial para utilização no desenvolvimento de produtos e tecnologias que possam ajudar asuperar as limitações relacionadas ao crescimento, qualidade da carne, sanidade e eficiência reprodutiva, queimpedem uma maior competitividade da pecuária nacional. O Genoma Funcional do Boi está orçado em US$ 1milhão, dividido entre a FAPESP e o parceiro privado. Ele será desenvolvido pelos pesquisadores do ProgramaGenomas Agronômicos e Ambientais (AEG), da FAPESP, responsáveis por 20 laboratórios da Rede Onsa, uminstituto virtual de genômica criado em 1997 para desenvolver o primeiro projeto brasileiro na área, o dabactériaXylella fastidiosa. (FAPESP, 2003).
54
principalmente àquelas que praticam o ciclo completo (cria, recria e engorda) da pecuária de
corte.
Os principais programas de melhoramento genético estão principalmente nas raças zebuínas,
altamente adaptadas às condições locais. De acordo Soares e Radames de Sá (2007) há no
Brasil 29 programas de melhoramento direcionados para diversas raças zebuínas. Dentre
estes, destacam-se 5 programas de abrangência nacional que trabalham com a raça Nelore:
Embrapa, CFM Nelore, PMGRN – Nelore, PAINT e Aliança Nelore. A existência de tais
programas de melhoramento genético voltado para as raças zebuínas é um ponto bastante
positivo, pois permite intensa evolução e competitividade, garantindo constantes melhorias e
desenvolvimento de tecnologias direcionadas às raças. Segundo é registrado na Associação
Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), em 2007, havia 122 denominações de raças
bovinas, entre raças puras, adaptadas e compostas, das quais 12 raças de aptidão leiteira e 68
de corte, que foram objeto de produção, importação e comercialização de sêmen.
Embora o Brasil seja também um importador de sêmen, as atividades de pesquisa brasileiras
começaram a resultar inclusive em exportações, especialmente para países da América
Latina. O volume exportado passou de 29,5 mil doses em 2002 para cerca de 280.000 em
200723. As exportações destinam-se especialmente para os mercados da Colômbia,
Venezuela, Bolívia, Paraguai e Equador24.
1.2.Medicamentos/Saúde Animal
O segmento de medicamentos veterinários produz medicamentos, vacinas, antisépticos,
pesticidas, vitaminas, compostos minerais, promotores de crescimento, ácidos orgânicos e
imunoestimulantes. Essas substâncias podem ser diretamente ministradas aos animais ou
misturadas aos alimentos. Esse segmento é também fornecedor de insumos para a nutrição
animal (especialmente para frangos e suínos, no caso brasileiro), que utiliza os aditivos
(vitaminas, compostos minerais, aminoácidos) na formulação de rações. O mercado
farmacêutico mundial dedicado à saúde humana é cerca de 30 vezes maior do que o mercado
farmacêutico veterinário. No entanto, por economias de escala que vão desde a fase de
23 Este é uma cifra ainda bastante reduzida se comparada com a venda de 7,5 milhões de doses no mercadointerno.Desse total, 62% foram produzidos no Brasil.(ASBIA, 2007).24 No caso das empresas brasileiras, destaca-se a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) que, em2003, criou o Brazilian Cattle Genetics, cujo foco são os mercados das regiões tropicais do planeta, uma vez queas características da raça Zebu são mais compatíveis à rusticidade, tolerância ao calor e também, aos parasitas, ecom boa conversão de forragem de baixa qualidade em carne e leite. Segundos dados da empresa, em 2007 asempresas do consórcio exportaram para 25 países.
55
pesquisa e desenvolvimento até a ponta final, de distribuição, a maioria das grandes empresas
farmacêuticas tem divisões de negócios dedicadas exclusivamente à saúde animal.
O Brasil é um dos cinco maiores mercados veterinários em todo o mundo. O setor vem
apresentando crescimento sustentado graças, principalmente, a três fatores: 1) aumento das
exportações de produtos veterinários, uma vez que o Brasil é um centro de produção
importante para as multinacionais; 2) maior fiscalização sanitária e critérios cada vez mais
exigentes para a comercialização, seja interna ou externamente; e 3) maior conscientização
dos criadores da importância de manter os rebanhos saudáveis, com programas sanitários
eficientes e regulares.
O mercado brasileiro de produtos veterinários teve, em 2008, um faturamento anual de US$
1.467 milhões (SINDAN – Sindicato Nacional de Produtos para a Saúde Animal). Uma
grande parte do mercado de produtos veterinários (90%), está ligada a defensivos
farmacêuticos, biológicos, parasitários e microbianos. Disto, em torno de 55% estão
direcionados à produção de bovinos, aproximadamente 15% são para frangos, 14% são para
suínos e, 13% vão para cães e gatos, e restante para outras espécies.
Capacitação brasileira
O mercado brasileiro de medicamento animal é basicamente dominado por empresas
multinacionais. Este é um setor considerado de uso intensivo em pesquisa e desenvolvimento.
A competitividade da indústria está fortemente calcada nos novos produtos a partir da
descoberta de novos princípios ativos e de suas possibilidades de uso, operando num modelo
interativo determinado pelo sistema regulatório público e pelo sistema de patentes. As
empresas buscam, estrategicamente, um conjunto próprio de produtos, cujos aspectos
químicos-moleculares sejam passíveis de patenteamento, e que tenham efeitos biológicos
adequados sobre doenças específicas. Em geral, a P&D de princípios ativos, vacinas
(fundamentais para sanidade animal), minerais orgânicos, aminoácidos e vitaminas fica a
cargo da matriz da empresa multinacional. Muitas vezes há o aproveitamento do
desenvolvimento de um produto ou processo para saúde humana em medicamentos
veterinários. O desenvolvimento de alterações na composição final do medicamento para
melhor absorção e eficiência ou adequação de custos, e o desenvolvimento de embalagens,
são feitos nas filiais. As universidades locais podem ser parceiras nesta tarefa, geralmente
testando os produtos. O espaço para uma participação mais qualificada no desenvolvimento
ou em pesquisa não está se ampliando. O Brasil é importador de conhecimento e participa do
desenvolvimento em atividades de menor importância. As empresas multinacionais suprem
56
em sua ampla maioria os produtos deste mercado. Na sanidade avícola, basicamente, todas as
vacinas são importadas e distribuídas por empresas multinacionais.
A indústria farmacêutica veterinária brasileira pode, portanto, ser caracterizada por dois tipos
de empresas: as multinacionais químicas farmacêuticas, empresas de grande porte e com
atuação global, e as empresas brasileiras, de pequeno porte e atuação, normalmente, local.
Em 2005, considerando as dez maiores empresas do mercado, havia apenas uma de capital
nacional (Ouro Fino), com participação de apenas 3,8% no mercado.(Capanema, et alii,
2007) As empresas locais comercializam produtos mais simples em termos tecnológicos, fora
do prazo de proteção patentárias, e adotam a estratégia de selecionar nichos nos quais possam
atuar sem se confrontar diretamente com as grandes empresas de atuação global.
1.3. Nutrição Animal
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de rações balanceadas para animais (47 milhões
de toneladas em 2005), sendo superado pela China (96 milhões), e pelos Estados Unidos (146
milhões). As rações para frangos representam 48%, as para suínos 27% e as para bovinos
11% da produção nacional de rações balanceadas animais. (Sindirações, 2009)
A indústria de rações no Brasil pode ser dividia em três segmentos de mercado. O primeiro é
o dos produtores verticalmente integrados, que adquirem o premix e fazem a mistura na
própria propriedade; o segundo é o mercado composto pelos grandes processadoras
integradores (especialmente de frangos e suínos), que produzem e fornecem a ração para seus
integrados; e o terceiro segmento é o das empresas de rações que atuam diretamente no
mercado. Nossa análise restringe-se somente a este terceiro segmento.
A oferta de nutrição animal é composta basicamente por dois produtos: as rações (prontas, a
de concentrados) e o premix. O premix é um composto de microingredientes (minerais,
vitaminas, aminoácidos, etc) que é incorporado às rações e/ou minerais (sal no caso do gado).
Esses produtos objetivam cobrir as lacunas nutricionais da alimentação normal, prevenir
enfermidades, melhorar o aproveitamento dos alimentos e estimular o crescimento. As
formulações das rações, especialmente dos micronutrientes do premix, vêm se sofisticando e
tornando-se mais complexas tecnologicamente. Atualmente, mais de 30 ingredientes podem
ser utilizados para confecção das diferentes rações. Os microingredientes do premix são
justamente o que agrega valor à ração, e onde se constata a presença de grupos multinacionais
57
que atuam globalmente na compra, produção e distribuição desses produtos25. Destacam-se
nesse mercado as empresas BASF, Adisseo, Roche, Nutris, a Nutron, a Cargill/Agribrands, a
Socil Guyomarch's. (Souza Alves, 2003)
Capacitação brasileira
A indústria de rações pode ser caracterizada por dois tipos de atividades. A primeira é a
formulação/combinação de grãos e cereais processados com ingredientes básicos, cuja
tecnologia é basica e plenamente difundida. A segunda atividade diz respeito à produção e
formulação do(s) premix(es), que requer maior complexidade tecnológica, e se constitui no
núcleo da dinâmica inovativa do segmento de rações. A produção de microingredientes do
premix é um segmento baseado em ciência, cujos principais ofertantes são as empresas das
indústria farmacêutica e de química fina. O Brasil não produz internamente os principais
elementos constitutivos dos premix, tais como os suplementos minerais, aminoácidos,
antibióticos, e as vitaminas, que são, em sua maioria, importados (com exceção da vitamina
K, do ferro, do manganês e do cobre). No caso brasileiro, pode-se dizer que ocorre
basicamente a “montagem” do premix a partir da importação dos principais ingredientes –
vale dizer, as empresas fazem a denominada formulação do produto-premix segundo os
critérios bioquímicos e farmacêuticos de cada cliente específico (frangos, suínos e gado). O
processo de formulação do premix também não é banal, pois exigem-se testes laboratorias de
controle de qualidade dos ingredientes, ou mesmo critérios de ratreabilidade, especialmente
para os setores exportadores de carnes, que devem cumprir exigências de acordos
internacionais sobre o uso de ingredientes/insumos produtivos.
Sendo assim há na indústria de rações brasileiras basicamente dois tipos de empresas: as
empresas estrangeiras de grande porte e com atuação no mercado global de ingredientes; e as
empresas brasileiras, de pequeno porte e com atuação em mercados locais/regionais. As
empresas multinacionais são, evidentemente, as empresas mais capacitadas tecnologicamente
no processo de desenvolvimento e inovação do premix, uma vez que elas possuem
laboratórios de P&D nas matrizes que elaboram composições de ingredientes
tecnologicamente mais evoluídos e/ou com atributos diferenciados para cada segmento de
animais. Além disso, elas mesmas produzem grande parte dos micronutrientes mais
sofisticados nos países centrais, ou pode ter acesso, em condições econômicas relativamente
25 Por exemplo, o mercado internacional de vitaminas para ração, é dominado, praticamente, por três grandesempresas: as alemãs Basf AG e Degussa e a empresa de capital franco-belga Adisseo.
58
mais vantajosas, ao mercado global desses produtos, em função de suas capacitações
organizacionais, e de suas vantagens em termos de escalas e de escopos produtivos.
Diferentemente, as empresas nacionais, que desenvolvem formulações específicas, voltadas
para necessidades locais e/ou nichos de mercado, estão subordinadas à importação dos
ingredientes e à dinâmica inovacional das empresas estrangeiras. Os testes de qualidade e,
por vezes, o desenvolvimento de novas formulações, costumam ser contratados juntos à
universidades e centros de pesquisas. No escopo das empresas nacionais, podem ser
destacadas a Tortuga, a M.Cassab, e a Poli-Nutri, que produzem premix, concentrados e
rações completas, utilizando-se do apoio de consultores nacionais e internacionais, e de testes
laboratoriais para controle de qualidade. Elas adquiriram capacidade técnica para produzir
premix, mas dependem das vitaminas ofertadas pelas multinacionais. Cabe destacar que
algumas filiais brasileiras de grandes empresas, passaram a exportar o premix para mercados
da América do Sul.
No caso do segmento bovino, a nutrição do animal se dá pela ingestão de pastagens. Nesse
campo, o Brasil conta com importante capacitação tecnológica, especialmente com o suporte
da Embrapa (seção Gado de Corte), que tem liderado as pesquisas no desenvolvimento de
composição de pastagens, desde o início dos anos 1970s, quando introduziu as pastagens de
braquiárias (com melhores qualidades nutritivas) no país26. Desde então, o sistema
organizacional e de pesquisa da Embrapa27 em conjunto com as universidades, e com a
indústria de sementes têm desenvolvido novas tecnologias para a nutrição de cultivares de
sementes de pastagens que: a ) são mais adaptadas aos diversos biomas existentes no país; b)
são alimentos com maiores teores de fibra e proteína; c) permitem a flexibilização dos
sistemas de cultivos intercalados com diversas espécies de leguminosas (como guando e
estilosante –, plantas que recuperam áreas degradadas), e; d) permitem a incorporação de
técnicas de silagem e de utilização de resíduos industriais (bagaço de cana, caroço de
algodão, polpa cítrica etc.) como nutrição do gado. A difusão dessas novas tecnologias tem
permitido, por um lado a criação de um maior número de animais em menor espaço (maior
26 O Brasil possui atualmente 210 milhões de hectares de pastagens, dos quais aproximadamente 60% sãocultivadas (130 milhões de hectares).27 Por exemplo, a Associação para o Fomento à Pesquisa de Melhoramento de Forrageiras Tropicais (Unipasto)é uma associação composta por empresas e produtores de sementes de forrageiras distribuídos pelos Estados daBahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo. A entidade foi criada em 2002 apartir da parceria junto à Embrapa, com o objetivo de apoiar financeiramente a pesquisa no desenvolvimento denovas variedades de forrageiras tropicais.
59
capacidade de suporte) e, por outro, tem viabilizado a maior amplitude geográfica dos
sistemas de criação de gado. Com isso, no plano econômico, tem induzindo a diminuição dos
custos de produção, em função da possibilidade de incoporação produtiva de terras de menor
valor monetário.
2. Inovação da base industrial
Os setores que compõem o sistema de processamento, embalagem e distribuição de carnes
podem ser caracterizados como “tomadores de inovações” e/ou “dominados por
fornecedores”, considerando taxonomia de Pavitt. As mudanças tecnológicas ocorrem via
incoporporação de novas máquinas, novos equipamentos, novos ingredientes e sistemas de
embalagens, etc, fornecidos por setores especializados externos. Estes setores embarcam em
seus produtos os avanços tecnológicos advindos dos campos da microeletrônica, da
mecatrônica, da química e da bioquímica, dentre outros, repassando-os indiretamente ao
setor de carnes. Desse modo, em tese, não exitem para as empresas barreiras tecnológicas
endógenas ao acesso às inovações da base industrial. As máquinas, os equipamentos e os
insumos estão plenamente disponíveis nos respectivos mercados.
É interessante notar, no entanto, que, em alguns segmentos, há uma relação positivamente
relacionada entre a introdução de novos processos e sistemas industriais e a flexibilidade de
inovação e de diferenciação de produtos, seja pelo uso de novos ingredientes e insumos, bem
como pela incoporporação de embalagens28 e sistemas logísticos tecnologicamente mais
avançados. Nesses casos, as barreiras à entrada surgem da assimetria da capacidade
econômica e/ou comercial das empresas em implementar estratégias de diferenciação de
produtos.
No que diz respeito à dinâmica tecnológica específica do processamento de carne, pode-se
dizer que ela não tem sido muito intensa. Em geral tem ocorrido inovações incrementais
relacionada ao aprimoramento de processos e de linhas produtivas, notadamente pela
incoporação de novos componentes que visam, conjuntamente, a maior precisão, eficiência,
28 Ganham relevância, por um lado, as embalagens que possam ter maior funcionalidade de uso e/ou consumodo produto, ou permitem melhor conteúdo informacional, ou ainda que crie nova estética. Por outro, amplia-se odesenvolvimento e uso das denominada “embalagens ativas”. Estas embalagens, através de um processointerativo, desempenham algum tipo de função após o conteúdo do alimento ou terem sidos embalados, taiscomo o improvimento da qualidade do produto, do tempo de prateleira, da segurança e utilização (e.g.embalagens absorventes de oxigênio, etileno, microbióticas etc.).
60
controle e qualidade sanitária das tarefas. O pólo dinâmico de difusão dessas inovação são as
empresas estrangeiras, especialmente as européias, que disponibilizavam equipamentos
tecnologicamente avançados e diversificados, voltados a diferentes escalas.
Os exemplos de inovação mais evidentes adotados pelas empresas são os sistemas
automáticos de depenagem (no caso de aves), escaldagem, evisceração, os processos de
resfriamento químicos dos produtos mais eficientes (e.g. os túneis de congelamento
contínuo), a introdução de equipamentos de classificação e pesagem nas máquinas para
desossa mecanizada, e a máquinas automáticas à laser para corte de carne. (SANTINI e
SOUZA FILHO, 2004).
Capacitação brasileira
Como foi visto, as características do processo inovativo da base industrial e do sistema
processador de carne permitem que as empresas nacionais tenham acesso às novas máquinas
e equipamentos nacionais ou importados. Contudo, a incoporação de tecnologias mais
avançadas não têm ocorrido de modo amplo nas empresas. Isso configura um grau relevante
de heterogeneidade entre empresas da indústria processadora de carnes nos três segmentos
(frango, suíno e bovino). Essa heterogeneidade está associada, principalmente, ao porte da
empresa e ao mercado que ela atende. Empresas de maior porte e voltadas para o mercado
externo tendem a ser mais intensivas em tecnologia modernas do que as empresas de menor
porte voltadas para operaem majoritariamente em mercados regionais.
As empresas líderes de carnes apresentam, no entanto, alto grau de atualização tecnológica,
comparável às empresas mais importantes internacionalmente. Isso tem sido obtido pela
atualização tecnológica via importação da maior parte das máquinas e equipamentos de suas
linhas produtivas. Em geral os produtos importados apresentam maiores quesitos de
sofisticação tecnológicas. Diferentemente é o caso das empresas de menor tamanho, cuja
necessidade de máquinas e equipamentos é suprida basicamente por fornecedores locais, em
geral com tecnologia mais simples. Cabe destacar que a indústria de máquinas e
equipamentos brasileira, embora tenha uma oferta de linhas de produtos mais simples nos
quesitos tecnológicos, é capacitada para atender a demanda local, sem problemas de limitação
no que tange ao conhecimento tecnológico básico, ou às necessidades de insumos para a suas
confecções.
61
Estratégia de Competitividade e Projeções
1. Montagem e coordenação do suprimento de matéria-prima
A coordenação e o controle do suprimento da matéria-prima podem ser de fundamental
importância para a competitividade do setor de carnes, uma vez que as matérias-primas (os
animais) são, ao mesmo tempo, elementos centrais do custo de produção e portadores
importantes de inovação tecnológica. O setor de carnes brasileiro caracteriza-se por
apresentar diferenças importantes nas formas organizacionais das fontes de suprimento de
matérias primas.
Nas cadeias de frangos e suínos as empresas líderes montaram a configuração organizacional
denominada integração vertical. Neste tipo de organização, o produtor de animais é
responsável pelos investimentos em instalações e equipamentos, e pela mão-de-obra. Ao final
do ciclo de engorda, o pagamento dos lotes de frangos e suínos varia de acordo com índices
de eficiência atingidos no processo (tais como, as taxas de conversão alimentar, de
mortalidade, e do tempo de engorda). O contrato elimina os custos envolvidos em transações
de mercado e nas operações de logística que, em geral, ficam sob controle das empresas
processadoras. O produtor concentra-se na atividade de criação e engorda, e pode buscar
ganhos de produtividade e qualidade para o produto final (conversão alimentar, tempo de
engorda e sanidade). Essas características organizacionais favorecem relativamente a taxa e a
velocidade de difusão das inovaçãoes tecnológicas ao longo da cadeia produtiva, uma vez
que, sob contrato, a empresa processadora é indutora do processo inovativo ao fornecer ao
produtor (ou exigir do produtor), linhagens selecionadas de animais para a engorda, e
especificar níveis de composição de ração e nutrientes adequados para os animais, bem como
ao fornecer assistência veterinária e medicamentos. Portanto, a taxa e os fluxos de inovação
tornam-se mais concentrados, sincronozados, e homogêneos entre os agentes. Isso permite a
maior e mais homogênea atualização tecnológica nas empresa de frangos e suínos, resultando
em economias de escala, de escopo e de sinergias produtivas e comerciais.
Assim, os maiores custos da coordenação da cadeia de frangos e suínos são compensados
pelos ganhos obtidos em termos de constância, quantidade e qualidade da matéria-prima, pela
eficiência e produtividade na indústria processadora e pelo melhor acesso aos canais de
distribuição, alavancando inclusive os mercados externos mais amplos, principalmente no
caso do frango. De forma complementar, o custo da montagem desse sistema de integração –
e a necessidade da constante melhoria genética dos animais e de seu manejo, em geral–,
62
aliado às de verticalização das principais empresas em vários segmentos, tais como a
produção de ração, de matrizes de frangos e suínos, e de pintos de um dia, constiuem-se em
barreiras à entrada significativas nesses segmentos.
No caso da cadeia bovina de corte, observa-se um cenário diferente, com baixa presença de
níveis de integração contratual e vertical. Isso devido, dentre outros fatores, tanto pela maior
dispersão geográfica da atividade (quando comparada com frangos e suínos) que dificultou o
surgimento de agentes econômicos e/ou organizações que “comandassem” um processo mais
virtuoso de coordenação da cadeia produtiva, ou mesmo a criação de embeddedness social
entre os agentes e entre agentes e organizações. Ao mesmo tempo, é característico da
atividade o ciclo de preço. Em função do clima, a oferta de carne bovina apresenta duas fases
distintas no ano: o período da safra, que corresponde aos meses de maior precipitação
pluviométrica (setembro-outubro a abril-maio) e o período da entressafra, durante o período
de inverno seco, quando a precipitação pluviométrica é menor e, assim, menos favorável ao
crescimento das forrageiras. Isso estimula ganhos de curto prazo, oriundos das oscilações do
ciclo de preços, e que tornam as relações entre os produtores rurais e a indústria frigorífica
caracterizadas historicamente por ações oportunistas.
Os frigoríficos de carne bovina, na sua maioria, se abastecem diretamente do mercado spot de
animais gordos, em geral adquirindo o produto de intermediários especializados. O agente
indutor de fluxos tecnológicos não é suficientmente forte, nem mesmo bem definido ao longo
da cadeia de pecuária de corte. Portanto, a taxa e os fluxos de inovação tornam-se mais
atomizados, difusos, não-sincronozados, e heterogêneos entre o setor produtor de gado, uma
vez que depende, em última instância, da decisão baseada na perspectiva e avaliação
econômica individual do produtor –isto é, não está forçado a cumprir quesitos mais rígidos de
seu produto. Essas características dificultam a mobilização efetiva e rápida da cadeia frente
aos desafios estratégicos representados pelos riscos sanitários, especialmente a febre aftosa,
de implantação da rastreabilidade e, de forma mais ampla, de elevação da produtividade.
Mesmo assim, verifica-se uma tendência de melhoria na qualidade das condições sanitárias
do rebanho, bem como a de melhor coordenação no plano nacional. No primeiro aspecto,
observa-se que, durante os anos 90, o Brasil experimentou melhorias significativas no
controle sanitário do rebanho, principalmente com relação à febre aftosa. Os mapas (Figura
7) abaixo mostram os estados brasileiros considerados livres da febre aftosa em fevereiro de
2007 e evidenciam a forte evolução, quando comparados com os dados de 1998.
Figura 7: Brasil – Evolução das Condições da Febre Aftosa nas Regiões Brasileiras
63
No que tange ao segundo aspecto, tem-se observado diversas tentativas de se elevar a
eficiência, a produtividade e o grau de coordenação da cadeia produtiva, destacando-se, por
exemplo:
1) o crescimento de sistemas de engorda intensiva: tomando-se os dados dos cincoenta
maiores sistemas de confinamento do Brasil, observa-se que, desde 2002, o crescimento no
número de animais confinados foi de 265%, passando de 438 mil em 2002 para 1,599
milhões em 2008, e a previsão para 2009 é de 1,673 milhões de animais (Cavalcanti &
Camargo, 2008). Segundo os dados da Anualpec (2008), tomando-se os dados totais para o
sistema de semi-confinamento no Brasil, observa-se a mesma tendência. Em 1996, havia
985.000 cabeças de gados semi-confinadas; em 2008, a quantidade saltou para 2.804.000.
Portanto uma variação de 185%. Por sua vez, o rebanho total variou apenas em 4,4% nesse
mesmo período (de 158,3 milhões para 165,0 milhões de cabeças). Mesmo assim, o gado
confinado no Brasil representa apenas 5% do total do rebanho. Para efeitos comparativos, em
2006, nos Estados Unidos, o sistema de confinamento foi superior a 24,4 milhões de animais,
ou cerca de 66% do rebanho abatido naquele país (DIAS, 2007).
2) o maior uso de genética selecionada: o processo de melhoramento genético do gado
nacional pode ser ilustrado através da evolução da comercialização nacional de sêmen
registrada pela ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) para raças bovinas
de corte. Os dados demonstram que o crescimento foi de 77,7% no período de 1997 a 2004.
Entre 1988 e 2007, o percentual de fêmeas inseminadas cresceu de 1,5% para 5%. Isso foi
64
decorrente da implantação recente de diversos programas (públicos e/ou privados) de
melhoria genéticas de diversas raças bovinas.
3) o surgimento de alianças e/ou parcerias entre os agentes da cadeia produtiva, que
caminham no sentido de:
a) montar coordenação ao longo da cadeia visando a melhoria das condições produtivas e da
qualidade da carne, especialmente para os mercados internacionais. Neste caso enquadra-se a
criação, em 2002, do Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e
Bubalina (SISBOV)29. Este sistema foi reformulado em 2006, que passou a ser conhecido
como Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos. Embora ainda
pouco adotado, ele consiste num conjunto de ações, medidas e procedimentos estabelecidos
para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a segurança dos alimentos
provenientes de bovinos e bubalinos, que é importante para o mercado internacional30;
b) criar vantagens econômicas (via incentivos que premiam a produção de produtos de maior
valor percebido pelos consumidores), e/ou maior confiabilidade entre os elos pela
intensificação do fluxo de informações e/ou maior conhecimento entre os agentes, e/ou
reduzir o grau de incerteza quanto aos atributos, fornecimento e preços dos bens
transacionados. No caso brasileiro, existem exemplos de alianças em que:
i) o varejo exerce o papel de liderança: por exemplo, o Carrefour e o Pão de Açúcar, duas
importantes redes nacionais de hipermercados, criaram programas de compra de carnes com
qualidade diferenciada. A diferenciação ocorre inclusive quanto a quesitos ecológicos, tais
como a prova de que a criação do animal não danificou o meio ambiente, especialmente o
desmatamento amazônico;
ii) a indústria coordena o estabelecimento de padrões de qualidade, distribuição e premiação
dos produtores. Por exemplo: o projeto Montana Premium Beef, liderado pelo Frigorífico
Marfrig, que visa a produção de cortes embalados a vácuo e com qualidade superior de carnes
da raça de gado “montana”, e;
29 A criação do SISBOV foi em grande parte motivada pelas exigências européias por carne bovina rotulada erastreada a partir de 2000, após passarem por problemas relacionados à segurança alimentar, como oaparecimento do Mal da Vaca Louca, da contaminação por dioxina e do ressurgimento de focos de febre aftosa.30 Pode-se citar ainda o Programa Marfrig de Qualidade: O frigorífico Marfrig abastece aproximadamente 60%das churrascarias e restaurantes especializados do Rio de Janeiro e São Paulo. Devido à demanda por cortesespeciais com alto padrão e ótimas qualidades sensoriais, este grupo iniciou um trabalho apoiado pelo Fundepec(fundo público para o desenvolvimento da pecuária em S. Paulo), de qualificação de fornecedores de novilhospara atender as especificações do mercado de restaurantes. Segundo a empresa, uma das exigências do Programade Qualidade Marfrig é a certificação de origem dos animais. A Marfrig afirma que 100% dos animais abatidosno Marfrig são rastreados pelo SISBOV.
65
iii) as associações de produtores criam coordenação de laços e/ou alianças mercadológicas
com a indústria e o com o varejo, visando à comercialização de carnes de animais com
certificação de origem (exemplo: o Programa Carne Angus Certificada: é uma iniciativa
realizada pela Associação Brasileira do Angus (ABA) com os frigoríficos Mercosul (RS) e
Marfrig (SP), e as redes de supermercados Pão de Açúcar e Zaffari; ou o PNN- Programa
Nelore Natural, criado pela Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), em que
os frigoríficos bonificam o animal por precocidade e por qualidade de carcaça. O PQNN
define normas e procedimentos que garantem o padrão de carcaças bovinas.
2. Sistema de logística e de distribuição
A montagem de um sistema logístico e de distribuição eficiente e moderno (contando com
recursos da tecnologias da informação) foi fundamental para a alavancagem da
competitividade mais recente das empresas líderes processadoras de carnes brasileiras. Além
disso, o sistema logístico faz o papel de barreiras à entrada, devido aos seus elevados custos
financeiros de implantação e de manutenção. Embora custoso, a montagem e
operacionalização de um sistema logístico eficiente tornou-se parte do padrão de
concorrência setorial, baseado de modo crescente nas estratégias de diferenciação de produtos
e de segmentos produtivos, e mesmo como fonte de retenção (ou agregação) de valor ao
longo da cadeia produtiva (pelos ganhos que podem advir da diminuição da intermediação
comercial).
De um lado, o sistema logístico a montante gerou economias e eficiência, especialmente: a)
com tipos de transportes específicos e padronizados para cada tipo de animal (frangos e
suínos), uma vez que as diferentes condições de transporte podem influenciar as
características fisio-químicas da carne (em função do stress dos animais), causando perdas
físicas dos animais e de qualidade nos produtos processados; b) com a implantação de fluxos
físicos adequados entre o embarque de animais nas granjas e a entrada deles na linha de
processamento; isso é importante, dado que o processamento industrial é do tipo fluxo
contínuo, e a falha no fluxo pode implicar problemas de estoque e/ou de abastecimento nos
mercados finais.
De outro lado, a jusante do processamento industrial, as empresas montaram sistemas de
logística e distribuição adequados com as sua linhas de produtos mais amplas e com atuação
em mercados mais espalhados geograficamente, sejam o varejo doméstico ou o internacional.
66
Com isso, as empresas através do investimento em centros de distribuição próximos aos
principais centros consumidores, em frotas de transportes frigorificados, e em armazéns
frigorificados em portos puderam obter ganhos econômicos e sinergias relacionados às
diferentes formas de transporte, ao tipo e a frequência adequada de suprimento, em função
dos diferentes tipo de produtos, tais como os diversos graus de perecibilidade dos produtos,
as necessidades relativas de refrigeração.
Esses fatores são importantes notadamente quando se considera as empresas processadoras de
frangos e suínos, que são as mais diversificadas comercialmente e geograficamente. Por
exemplo, a Sadia possui 17 unidades fabris em oito estados brasileiros, e opera na
distribuição dos cerca de 680 itens que são levados para mais de 300 mil pontos-de-venda no
país. Para o mercado externo, a empresa exporta cerca de mil produtos para mais de 100
países. Além disso, a empresa contratou serviços da ALL Logística que desenvolveu para a
empresa um sistema de transporte de produtos congelados por vagões frigorificados, inédito
no Brasil, pela adaptação de vagões-plataforma para o transporte desses produtos. Assim a
Sadia pode produzir produtos congelados no Centro-Oeste (MT), aproveitando as vantagens
de custo local, e transportar até o porto de Santos (no litoral de São Paulo) ainda com custo
inferior aos seus concorrentes.
A Perdigão, por seu turno, somente para a produção de processados e abate de frangos, possui
25 unidades, também distribuídas em oito estados. A empresa possui mais de 4 mil
produtores integrados de frangos, 1.600 produtores de suínos, 90 mil clientes ativos no
mercado interno, 850 clientes no mercado externo, com uma linha de produtos composta por
mais de 400 itens.
No caso de bovinos as empresas (ainda) são menos diversificadas, e os mercados locais ainda
são mais importantes comparativamente aos de carne de frangos e suínos. Portanto, os
quesitos logísticos da distribuição final são mais frágeis, heterogêneos e pesam menos nas
estratégias das empresas. No entanto, com o deslocamento regional da atividade em direção
ao Centro-Oeste e ao Norte do país –em função dos menores custos produtivos– e com a
tendência das empresas líderes operarem com produtos mais eleborados –e acessar mercados
mais exigentes com produtos de maior valor agregado– o sistema logístico passou a ganhar
mais importância para as empresas enquanto estratégia competitiva. Dessa forma, os
principais frigoríficos vêm atuando mais fortemente neste segmento da logística, investindo
na frota de carretas frigorificadas e em armazéns específicos para cadeia de frio, inclusive nos
67
portos de exportação. Estes esforços ocorrem na tentativa de se obter uma estrutura ágil,
fazendo com que se tenha alto giro dos produtos e que se mantenha a qualidade em todas as
etapas, desde a separação das cargas até a estufagem dos contêineres em plataformas
climatizadas.
3. Diversificação Produtiva e Comercial
A diversificação de atividades –em diferentes segmentos produtivos e/ou em linhas de
produtos–tem sido marcante nos setores de alimentos, e no de carne em particular. Esta
estratégia induz a empresa a atuar em atividades e/ou segmentos que apresentam algum tipo:
a) de similaridade produtiva e/ou comercial, em especial as que geram economias (de escala,
de escopo, de gastos compartilhados de P&P nas linhas produtivas e da valorização comercial
da marca da empresa); e, b) de sinergias econômicas, sejam as derivadas da operacionalidade
das plantas produtivas, ou mesmo as associadas aos serviços dos ativos complementares da
empresa, tais como a logística, as redes de distribuição, a gestão dos departamentos
comerciais, nos estilos semelhantes de administração etc.
A estratégia mais comum no segmento de frangos e suínos tem sido a “diferenciação
horizontal”, mais relacionada aos mercados alimentícios finais. Nesse mercado, as vantagens
de spillovers (ou complementaridade) tecnológicos e de marketing em linhas de produtos
comuns têm possibilitado à empresa ampliar os retornos sobre os investimentos (via
economias de escala e escopo), como também fortalecer sua posição concorrencial em
produtos com maior valor agregado. Isso é importante quando se tem em vista os ganhos de
precedência no mercado (e a valorização da marca comercial nesses mercados), e a crescente
concorrência das “marcas próprias” (private label) das grandes redes de comércio
alimentício.
Essa estratégia tem levado a uma segmentação do mercado de aves e suínos. As empresas
líderes apresentam-se com um perfil comercial amplo; essas empresas tornaram-se em
"empresas alimentares multiproduto". A atuação dessas empresas (tais como a Sadia e a
Perdigão), ocorre nas seguintes linhas de produtos: (a) produtos in natura, inteiros ou em
partes, na forma de carnes congeladas, resfriadas, defumadas embutidos, que formam a linha
mais tradicional de carnes industrializadas; b) produtos embutidos, que formam a linha mais
tradicional de carnes industrializadas; (c) produtos empanados, onde se destaca a linha
aperitivo; (d) pratos prontos e semiprontos, com destaque para os pratos à base de massas; e)
produtos lácteos (caso mais forte da Perdigão); f) produtos derivados de soja (óleos,
margarinas), remanescentes da estratégia anterior de verticalização em direção às matérias-
68
primas. Além disso, recentemente, observam-se também movimentos de diversificação de
segmentos produtivos da Sadia e da Perdigão na direção das atividades de carnes bovinas,
visando notadamente o mercado exterior. Diferentemente, as empresas menores (ou empresas
seguidoras) em geral são mais restritas nas sual linhas comerciais, não atuando no mercado
na linha de pratos prontos e semiprontos, e concentrando-se nos mercado de produtos in
natura, e de alguns embutidos.(Nicolau et alli, 2001)
No caso do segmento de carnes bovinas, a estratégia de diversificação a jusante da cadeia
produtiva é menos evidente, mas constata-se que grandes frigoríficos estão: a) diversificando
as atividades para outros tipos de carnes (frangos, suínos, ovinos); b) caminhando para a
maior atuação em mercados e/ou linhas de produtos de maior valor agregado (tais como, as
carnes industrializadas, carnes orgânicas, as com cortes desossados com embalagens
tecnologicamente diferenciadas), ou mesmo com diversificação de segmento31. Este sãos os
casos do frigorífico Bertin (que agora pertence ao grupo JBS) que atua também em couros,
em produtos industrializados e em lácteos (com a compra da Leco, em 2008), e da Marfrig
que passou a atuar em carnes de frangos e suínos com a compra, em 2009, da Seara (até
então, pertencente à Cargill)
4. Fusões & aquisições e internacionalização
No curso da implementação das estratégias de diversificação das empresas ganham relevo
especial o aumento de ativos por meio de aquisição total, tomada de controle ou participação
acionária, denominadas, genericamente, operações de fusões e aquisições (F&A). As F&A
resultam em dois efeitos: o primeiro, no plano da indústria (ou do setor), é a maior
concentração econômica que, em diversos segmentos, por sua vez, elevam as barreiras à
entrada nesses mercados. O segundo efeito, no plano da empresa, as operações de F&A
resultam numa “compra de mercados” (efetivos e potenciais). No plano doméstico, a compra
de mercado geram diversas vantagens competitivas, tais como as derivadas de custos
31 Essa diversificação da Bertin foi um dos pontos forte da sua incorporação ao grupo JBS. Segundo a revistaExame, o “novo líder mundial em proteínas animais, o JBS vai investir cada vez mais no segmento de produtosindustrializados. Cerca de 90% de sua receita ainda é gerada pelas vendas de carne in natura, mas o grupo buscainspiração em outros gigantes do setor agrícola, como a americana Cargill e a holandesa Bunge. Depois dedominar o mercado de commodities agrícolas - sobretudo, o de grãos - essas companhias migraramgradualmente para alimentos industrializados, e hoje detém marcas líderes em segmentos que vão de margarinasa óleo de soja, passando por maioneses e azeite. Segundo a empresas JBS o movimento é em direção a produtosde maior valor agregado. Esse é o futuro. É uma revolução nos hábitos de consumo, que abre um novo tipo demercado: produtos prontos, em pequenas porções, para consumo doméstico. Esta é a oportunidade do JBS.Agora, essa parte vai ser reforçada pelo Bertin, que também atua em industrializados. Esse é o desafio domarketing hoje. Para vender produtos industrializados, você precisa de marcas fortes”. Revista Exame on line.http://portalexame.abril.com.br/negocios/jbs-segue-passos-cargill-bunge-503639.html?page=1
69
logísticos, e as vantagens derivadas do maior tamanho da empresa –as “economias de
tamanho” (à la Penrose).
No plano internacional, além das vantagens competitivas descritas acima, ao comprar
parcelas do mercado internacional a empresa pode se beneficiar economicamente pelo fato
de: a) poder acessar mercados mais sofisticados (comercializando produtos de maior valor
agregado; por exemplo, o caso de carne bovia, o mercado da “cota Hilton”), e/ou com com
maiores potencialidades comerciais (isto é, que apresentam maior taxa de crescimento de
consumo), e/ou que propiciem maiores margens de lucro (em função da maior eficiência da
cadeia produtiva)32; b) poder saltar as barreiras tarifárias e, especialmente, as não-tarifárias
(tais como, as derivadas de quesitos sanitários e de saúde animal), com destaque para os
mercados dos EUA e da Europa. O salto –e, portanto, o acesso ao mercado final– pode
ocorrer pela via direta, isto pela compra de empresas americanas e/ou européias; ou pela via
indireta, isto é, pela compra de empresas em países que tenham maior acesso a esses
mercados, como são os casos das empresas do Uruguai e da Argentina (descritos
anteriormente, neste trabalho). Esses países detêm melhores quesitos de saúde, de qualidade,
e de zoonoses do rebanho e do produto in natura exigidos pelos órgão reguladores
internacionais, conseguem ter maior acesso aos mercados internacionais mais importantes de
carnes.
Uma estratégia também importante no processo de internacionalização tem sido a tomada de
controle dos canais de distribuição dos produtos para o consumidor final. Além da qualidade
da logística em si, esse controle permite a retenção de parcela, às vezes significativa, da
cadeia de valor no âmbito da empresa. Nesse aspecto as empresas de bovinos têm sidos mais
ativas comparativamente às frangos e suínos. Por exemplo, a Marfrig tem três tradings (Chile,
Estados Unidos e Reino Unido); a JBS comprou a SB Holdings, uma das maiores
distribuidoras de carne industrializada dos EUA (através de suas subsidiárias Tupman
Thurlow, Astro Sales International e Austral Foods), além de posuir também distribuidoras
no Chile, Egito, Inglaterra e Rússia. Diferentemente, a Sadia e a Pedigão limitaram-se mais
na implantação de representações comercias nos mercados externos e/ou na formação de
parcerias com empresas de distribuição no Mercosul, especialmente na Argentina.
32 Segundo o Consórcio de Exportadores de Carnes da Argentina (ABC), cinco frigoríficos estrangeiros detêmmais de 40% da Cota Hilton do país, já que respondem também por 45% a 50% das exportações de carneargentina, que beira as 300 mil toneladas anuais, com faturamento acima de US$ 700 milhões. São eles o Swift(que pertence ao JBS), Finexcor e Carnes Pampeanas (controlados pelas americanas Cargill e Tyson Foodrespectivamente), AB&P e Quickfood, do brasileiro Marfrig. Inhttp://www.remex.com.br/detalhes_noticia.asp?codigo=1504.
70
A internacionalização produtiva tem sido a estratégia mais comum para os frigoríficos líderes
de carne bovina, notadamente os grupo JBS e Marfrig. Nos segmentos de carnes de frango e
suíno, apenas a Sadia e a Perdigão possuem plantas no exterior. A Sadia iniciou a produção
no mercado russo em 2007, com a instalação de uma planta em Kaliningrado. A Perdigão
internacionalizou-se pela compra da Plusfood, em 2008, empresa que opera em três paises:
Reino Unido, Romênia e Holanda. As principais F&A (domésticas e internacionais) das
empresas de carnes podem ser vistas no Quadro 11.
71
Quadro 11: Principais F&A recentes das empresas de carnes
Ano EmpresaCompradora Empresa Adquirida País Atuação
2003 Sadia So Frango Brasil Frangos2003 Bertin Marfrig Brasil Bovinos2004 Friboi BF Alimentos Brasil Bovinos2005 Cargill Seara Brasil Frangos/Suinos2005 Perdigão Mary Loise Brasil Frangos2005 Sadia Frig. Nicolini Brasil Frangos2005 Pif Paf Tropical Sucos Brasil Sucos2005 JBS Swift Argentina Bovinos2006 Marfrig Tacuarembó Uruguai Bovinos2006 Marfrig Elbio Perez Rodrigues Uruguai Bovinos2006 JBS Venado Tuerto Argentina Bovinos2006 JBS Pontevedra Argentina Bovinos2006 Marfrig Cooriva Brasil Bovinos2006 Marfrig Rondonia Carnes Brasil Bovinos2006 Marfigri Frigoestela Brasil Bovinos2006 Friboi CEPA Argentina Bovinos2006 Frig. Mercosul Alegretense Brasil Bovinos2006 Perdigão Batavia Brasil Lácteos2007 Perdigão Plusfood Holanda Alimentos a base decarne
2007 Perdigão Sino dos Alpes BrasilAlimentos frangos e
frangos2007 Perdigão Paraiso Agro Brasil Frangos2007 Perdigão Eleva Brasil Lácteos2007 Bertin Vigor Brasil Lácteos2007 Sadia BigFoods Brasil Alimentos2007 Marfrig Mabella Brasil Bovinos2007 Marfrig La Caballada Uruguai Bovinos e ovinos2007 Marfrig Quikfood Argentina Bovinos
2007 MarfrigBest Beef S.A. e Estâncias
del SurArgentina Bovinos
2007 Marfrig Frigorífico Patagônia Chile Bovinos e ovinos2007 Marfrig Quinto Cuarto Chile Bovinos2007 Marfrig Establecimentos Colônia Uruguai Bovinos2007 Mrafrig Mirab EUA2007 JBS Berazategui Argentina Bovinos2007 JBS Colonia Caroya Argentina Bovinos2007 JBS SB Holdings EUA Bovinos2007 JBS Swift Foods Company EUA Bovinos e suínos2008 JBS Inalca S.p.A. (50%) Itália Bovinos2008 JBS Tasmangroup Austrália Bovinos2008 JBS National Beef EUA Bovinos2008 JBS Smithfield Beef EUA Bovinos2008 Bertin Riggamonti (50%) Itália Bovinos2008 Minerva Friasa S.A Paraguai Bovinos2008 Marfrig Braslo Brasil Carnes processadas2008 Marfrig OSI Europa Frangos2008 Marfrig Pena Branca Brasil Frangos2008 Marfrig Da Granja Brasil Frangos/Suínos2008 Independência Fernando de la mora Paraguai Bovinos2008 Sadia Goifrangos Brasil Frangos2008 Sadia Excelsior Brasil Frangos/Suínos2009 Marfrig Seara Brasil Frangos/Suínos2009 Marfrig Zenda Uruguai Couros2009 JBS Bertin Brasil Bovinos2009 JBS Pilgrim’s Pride EUA Frangos2009 Perdigão Sadia Brasil Carnes/alimentosdiversos
Fonte: diversas
Considerações finais
Este trabalho procurou abordar diversos aspectos do setor de carnes brasileiro. Como foi
visto, ao lado do intenso processo de crescimento econômico, estão em curso também no
72
setor algumas tendências econômicas, comerciais e tecnológicas, cujos impactos, podem
promover mudanças tanto no mercado brasileiro, bem como podem alcançar o mercado de
países do Mercosul. A seguir, procura-se, resumidamente, discutir algumas dessas tendências,
privilegiando os planos da estrutura de mecado e da tecnologia.
No plano da estrutura de mercado da indústria processadora de carnes podem-se destacar
duas tendências gerais mais importantes. A primeira, diz respeito à reconfiguração do padrão
da cancorrência e do tipo de empresas que compõem a indústria. A continuidade do
movimento de F&A “intra-segmentos” em curso na indústria processadora poderá induzir,
ainda mais, ao crescimento da concentração técnica e comercial da indústria processadora. A
segunda tendência diz respeito à F&A “entre-segmentos”, vinculadas à implementação de
estratégias de diversificação produtiva dos grandes grupos, destacando-se os de carne
bovinas, que buscam a maior inserção nas atividades de frango e suíno. O resultado desses
movimentos poderá, no âmbito do mercado brasileiro, induzir a indústria processadora de
carnes a configurar-se numa estrutura de mercado tendencialmente mais homogênea, onde as
empresas líderes que a compõem participam mais homogeneamente nos diferentes segmentos
de carnes.
Assim, a segmentação econômica e comercial atual das atividades de bovinos, frango e
suínos poderá ter menor grau de importância para as estratégias das empresas. A indústria
processadora de carnes poderá ser caracterizada fundamentalmente como um “setor e/ou
bloco produtor de proteína animal”, sob diferentes tipos de produtos cárnicos.
Analiticamente, a estrutura de mercado da indústria poderá caminhar para a configuração
mais homogênea do tipo “oligopólio diferenciado” (à la Steindl), redefinindo assim a
importância dos elementos dos padrões de concorrência, da formação de barreiras à entrada
(e permanência), e da formação dos mark-ups no processo competitivo da indústria.
No que tange aos mercados de carnes dos países do Mercosul, pode-se supor que a formação
de grandes empresas diversificadas de carnes no Brasil poderá afetar também a configuração
dos mercados de carnes, especialmente nos mercados da Argentina e do Uruguai. Uma vez
que essas empresas já possuem forte inserção produtiva e comercial nesses mercados, elas
poderão implementar estratégias competitivas mais agressivas nos mercados locais, em
função de benefícios adicionais oriundos das vantagens comparativas da base produtiva
brasileira de carnes de frango e de suíno. Essas empresas podem se utilizar com mais
freqência e intensidade, por exemplo, dos benefícios de diminuição de custos produtivos via
comércio intra-firmas e/ou de mecanismos de transferência de preços e/ou de estratégias de
73
mix de margens cruzadas de lucros entre mercados. Com isso, a elevação do nível de
concorrência nos mercados locais ocorrerá, sejam nos mercados de produtos in natura, ou,
mais importante, nos de produtos mais industrializados (dado o uso de matéria-prima
brasileira mais barata).
Como resultado dessas tendências é provável que hajam impactos econômicos e sociais
negativos para as pequenas e médias empresas processadoras (e para os segmentos produtivos
das respectivas cadeias produtivas) e, por consequências, nas economias locais a elas
atreladas.
No plano tecnológico, pode-se pensar que a tendência mais importante diz respeito à
crescente complexidade tecnológica dos segmentos insumidores agropecuários,
especialmente nas áreas de genética e de medicamento e saúde animal. As evidências indicam
que esses segmentos caminham para serem, cada vez mais, do tipo “baseado em ciência” e
progressivamente recortados por conhecimentos genéricos mais avançados, tais como a
biotecnologia molecular, ou mesmo a nanotecnologia biológica. Isso é preocupante por que,
como foi visto, embora ocorram esforços de P&D de IPs e Universidades locais, os setores
insumidores da agropecuária brasileira são dominados fundamentalmente por empresas
multinacionais, cujos laboratórios de P&D mais importantes estão centralizados nas matrizes.
Se não houver políticas industriais e tecnológicas mais efetivas de capacitação local, o
resultado é que a dinâmica inovativa, e, por consequência, a construção de vantagens
comparativas dinâmicas do setor de carnes continuarão, em grande medida, cada vez mais
dependentes das pesquisas de empresas e IPs dos países centrais.
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ANEXOS
Gráfio Anexo 1: Brasil: Evolução do PIB per capita (US$) 1960-2008
Fonte: IPEA
Quadro Anexo 1: Brasil - Exportações do Agronegócio: 1998 – 2008 (US$ Milhões)PRODUTOS 2008
(US$ milhões)Part. % 1998
(US$ milhões)Part. % Variação
1998-2008
COMPLEXO SOJA 17.980 25.00% 4.733 22.00% 279.90%
CARNES 14.545 20.30% 1.625 7.50% 795.00%
PRODUTOS FLORESTAIS 9.326 13.00% 3.370 15.60% 176.70%
COMPLEXO SUCROALCOOLEIRO 7.873 11.00% 1.979 9.20% 297.80%
CAFÉ 4.763 6.60% 2.606 12.10% 82.70%
COUROS, PRODUTOS DE COURO EPELETERIA
3.140 4.40% 1.895 8.80% 65.70%
FUMO E SEUS PRODUTOS 2.752 3.80% 1.559 7.20% 76.50%
CEREAIS, FARINHAS E PREPARAÇÕES 2.207 3.10% 0.520 0.20% 4172.20%
SUCOS DE FRUTA 2.152 3.00% 1.306 6.10% 64.80%
FIBRAS E PRODUTOS TÊXTEIS 1.587 2.20% 753 3.50% 110.70%
DEMAIS PRODUTOS 5.480 7.60% 1.669 7.70% 228.40%
TOTAL 71.806 100% 21.546 100% 233.30%
Fonte: AgroStat Brasil a partir de dados da SECEX/MDICElaboração: CGOE / DPI / SRI / MAPA
Quadro Anexo 2: Brasil - Exportações do Complexo de Carnes – 1997 - 2008Carne Bovina
Anos in natura Industrializada Total*
79
Valor(US$mi)
Quantidade(1000 t)
Valor/Quantidade
Valor(US$mi)
Quantidade(1000 t)
Valor/Quantidade
(US$ milhões)
1997 196 52 3.769 236 88 2.682 4621998 277 81 3.420 296 106 2.792 6161999 444 277 1.603 318 138 2.304 8152000 503 189 2.661 252 123 2.049 8142001 739 368 2.008 252 124 2.032 10492002 776 430 1.805 299 148 2.020 11442003 1155 620 1.863 338 161 2.099 15902004 1963 925 2.122 447 171 2.614 25252005 2419 1086 2.227 525 179 2.933 30602006 3135 1225 2.559 654 203 3.222 39232007 3486 1286 2.711 694 209 3.321 44262008 4006 1023 3.916 853 200 4.265 5325
Carne de Frangoin natura Industrializada
Total*(US$ milhões)Valor
(US$mi)Quantidade
(1000 t)Valor/
QuantidadeValor
(US$mi)Quantidade
(1000 t)Valor/
Quantidade1997 876 649 1.350 8 2 4.000 8841998 739 612 1.208 14 4 3.500 7531999 875 771 1.135 17 6 2.833 8932000 806 907 0.889 23 9 2.556 8292001 1292 1249 1.034 42 17 2.471 13342002 1335 1600 0.834 58 25 2.320 13932003 1710 1922 0.890 89 38 2.342 17992004 2494 2425 1.028 101 45 2.244 25952005 3324 2762 1.203 184 84 2.190 35092006 2923 2583 1.132 281 127 2.213 32032007 4217 3007 1.402 402 155 2.594 46202008 5822 3268 1.782 531 169 3.142 6353
Carne Suínain natura Industrializada
Total(US$ milhões)Valor
(US$mi)Quantidade
(1000 t)Valor/
QuantidadeValor
(US$mi)Quantidade
(1000 t)Valor/
Quantidade1997 142 56 2.536 12 6 2.000 1661998 148 73 2.027 12 7 1.714 1711999 115 75 1.533 11 8 1.375 1342000 163 116 1.405 11 8 1.375 1832001 346 247 1.401 16 11 1.455 3752002 469 449 1.045 4 4 1.000 4862003 527 458 1.151 4 4 1.000 5512004 744 471 1.580 6 5 1.200 7752005 1123 579 1.940 7 4 1.750 11652006 990 484 2.045 9 5 1.800 10362007 1162 552 2.105 15 9 1.667 12302008 1364 468 2.915 35 13 2.692 1478
(*) inclui outros derivados de carne de menor valor.
Fonte: Secex
Quadro Anexo 3: Exportações Brasileiras de Carne Industrializada para Argentina, Uruguai eParaguai
(Valor: US$)Anos Carnes
Bovina Suína FrangoArgentina
80
2000 37,881 682,183 1,524,640
2001 0 271,228 1,209,686
2002 1,852 55,484 373,435
2003 25,632 115,703 654,552
2004 0 62,030 1,032,966
2005 0 161,007 2,428,579
2006 0 67,944 1,953,589
2007 0 236,483 4,785,370
2008 0 453,136 6,881,615
Total 65,365 2,105,198 20,844,432
Uruguai2000 126,932 92,317 1,033,383
2001 184,608 106,557 1,210,399
2002 83,329 25,898 624,387
2003 23,213 82,829 378,329
2004 54,508 83,974 546,269
2005 92,444 127,166 782,733
2006 166,496 75,602 1,031,077
2007 200,652 109,840 1,356,961
2008 301,553 129,909 2,182,613
Total 1,233,735 834,092 9,146,151
Paraguai2000 731,898 192,625 176,247
2001 348,788 255,678 157,825
2002 159,731 48,268 53,845
2003 134,665 63,411 62,002
2004 222,934 105,056 115,339
2005 221,603 168,564 178,070
2006 344,112 180,269 351,700
2007 414,527 183,106 726,502
2008 650,848 275,403 1,012,816
Total 3,229,106 1,472,380 2,834,346
Fonte: Comtrade-ONU
Quadro Anexo 4: Exportações Brasileiras de Carne In Natura para Argentina, Uruguai eParaguai (Valor: US$)
Anos CarnesBovina Suína Frango
Argentina2000 50,000 55,157,279 37,875,4432001 939,751 52,323,645 23,401,5352002 270,632 11,216,524 737,6822003 0 39,489,440 5,846,252
81
2004 0 39,967,462 1,629,4602005 55,425 28,674,197 3,782,7392006 49,531 30,968,397 4,957,3592007 0 47,796,516 7,406,6992008 0 57,881,981 6,715,385Total 1,365,339 363,475,441 92,352,554
Uruguai2000 237,674 6,861,483 345,3672001 300,181 11,093,389 02002 2,556 5,886,622 6,2292003 22,007 8,422,904 02004 1,066,496 10,748,897 7,0452005 7,550,600 10,443,625 02006 5,453,417 12,619,124 02007 4,983,481 17,737,369 02008 5,084,490 22,060,338 0Total 24,700,902 105,873,751 358,641
Paraguai2000 0 12,773 180,0882001 0 2,060 220,5762002 0 1,054 115,5092003 0 9,960 97,7762004 0 0 79,3572005 0 0 98,5362006 0 2,045 347,2702007 6,535 2,580 629,8752008 0 0 975,855Total 6,535 30,472 2,744,842
Fonte: Comtrade-ONU