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1 ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEUROLOGIA THIAGO TOSCANO CAVALCANTE PERFIL DOS PACIENTES COM MIASTENIA GRAVIS ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO DE NEUROLOGIA DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA Fortaleza-CE 2017

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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEUROLOGIA

THIAGO TOSCANO CAVALCANTE

PERFIL DOS PACIENTES COM MIASTENIA GRAVIS ACOMPANHADOS

NO AMBULATÓRIO DE NEUROLOGIA DO HOSPITAL GERAL DE

FORTALEZA

Fortaleza-CE

2017

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THIAGO TOSCANO CAVACANTE

PERFIL DOS PACIENTES COM MIASTENIA GRAVIS ACOMPANHADOS

NO AMBULATÓRIO DE NEUROLOGIA DO HOSPITAL GERAL DE

FORTALEZA

Projeto de Monografia apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa Médica do

Hospital Geral de Fortaleza, para conclusão da Residência Médica em

Neurologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará

Orientador: Prof. Dr. Cleonísio Leite Rodrigues

Fortaleza-CE

2017

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THIAGO TOSCANO CAVACANTE

PERFIL DOS PACIENTES COM MIASTENIA GRAVIS ACOMPANHADOS

NO AMBULATÓRIO DE NEUROLOGIA DO HOSPITAL GERAL DE

FORTALEZA

Projeto de Monografia apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa Médica do

Hospital Geral de Fortaleza, para conclusão da Residência Médica em

Neurologia pela Escola de Saúde Pública do Ceará

BANCA EXAMINADORA

Dr. Cleonísio Leite Rodrigues

______________________________________________________________________

Dr. Norberto Anízio

Dr Paulo Ribeiro

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Dedido este trabalho à minha amada esposa,

pela compreensão, pelo apoio incondicional e

companheirismo nestes 3 anos tão difíceis.

Também dedico ao meu pai amado pai,

cuja ausência ainda é sentida, e que foi o

responsável por me iniciar nessa profissão

tão bela. Seu exemplo de médico e pai

sempre serão seguidos por mim.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe e meus irmãos, por estarem sempre ao meu lado, nos momentos

felizes e também nos mais difíceis. Por serem meu alicerce e meu orgulho.

Ao Dr João José De Freitas Carvalho, cuja determinação levou a minha

transferência da residência médica para o HGF, em um momento delicado da minha

vida.

Ao Prof. Dr. Cleonísio Leite Rodrigues, que muito me ensinou, contribuindo

para meu crescimento profisisonal, além da atenção e apoio durante o processo de

orientação.

Aos neurologistas Dra Fernanda Maia e Dr Norberto Anízio, por apoiarem e

aceitarem minha transferência ao serviço.

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RESUMO

INTRODUÇÃO: A miastenia gravis é uma doença crônica autoimune,

resultante, na maioria dos casos, da ação de auto-anticorpos que afetam a porção

pós-sináptica da junção neuromuscular (JNM). A avaliação inicial dos pacientes

suspeitos se baseia na história clínica e exame físico, porém teste sorológico

(anticorpos) ou método complementar (eletroneuromiografia) são necessários para

concluir o diagnóstico. OBJETIVOS: avaliar o perfil clínico, epidemiológico,

sorológico e eletrofisiológico dos pacientes portadores de MG acompanhados no

Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).

Metodologia: Estudo transversal e descritivo, realizado em pacientes

acompanhados no Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Geral de

Fortaleza (HGF), um dos centros de referências no tratamento de pacientes com MG

no estado do Ceará, Brasil. Para análise estatística foi utilizado o programa

Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0. Resultados: foram

selecionados 41 pacientes, dos quais 19 (46,3%) eram do sexo masculino e 22 do

sexo feminino (53,7%), com média de idade 45,1anos ( ± 15,9 ). A idade de início

dos sintomas foi de 39,7 anos (± 18). O tempo médio de doença foi de 5,5anos (±

4,8). Em 59,1% das pacientes do sexo feminino a doença teve início antes dos 40

anos; em 40,9% delas a doença iniciou-se após os 40 anos. Nos homens, em 73,7%

o início da foi após os 40 anos e em 26,3% antes dos 40 anos. Tivemos 5 casos de

MG ocular (12,2%,) e 36 (87,8%) de MG generalizada. Os sintomas iniciais foram

oculares em 68,3% (n=28) dos casos, dos quais 23 (82,1%) apresentaram

generalização do quadro (MG generalizada); 22% (n=9) se apresentaram com

sintomas bulbares, 7,3% (n=3) com fraqueza axial ou em membros, e 1 caso (2,4%)

com sintomas bulbares e oculares simultaneamente. MG anti-AChR apresentou

prevalência de 51,2% em nosso estudo, anti-MuSK 7,3%, os soronegativos 19,5% e

sorologia indeterminada 22%. No grupo MG anti-AChR, 5 pacientes com MG

ocular 60% (n=3) foram postivos para o anticorpo; na MG generalizada, dos 36

pacientes, apenas 50% (n=18) foram anti-AChR. Todos os pacientes foram

submetidos ao exame eletromiográfico (100%), com 92,7% (n=38) mostrando PER

a 3-5Hz com decremento > 10 % nos músculos estudados. A classificação clínica

da MG, na nossa amostra, mostrou: (48,8%) MGFA IIA; (12,2%) MGFA V;

(12,2% ) MGFA I; (9,8%) MGFA IIIA; (7,3%) MGFA IIIB; e apenas 1 caso (2,4%)

de cada-MGFA IIB, MGFA IVA, MGFA IVB e MG congênita. No estudo, 26,8%

dos pacientes apresentaram crise miastênica, a maioria (82%) no 1º ano da doença.

No tratamento da crise miastênica (n=11), 72% fizeram plasmaférese ou

imunoglobulina, 18,1% plasmaférese e 9% imunoglobulina. Dos 41 pacientes,

mestinon foi utilizado em 95,1%, prednisona em 90,2% e azatioprina em 83%. Os

efeitos adversos das medicações, considerando o total de 41 pacientes, foram: ganho

de peso em 29 (70,7%), queixas gastrointestinais em 14 (34,1%), osteoporose em 3

(7,3%), alopecia em 2 (4,9%) e alterações oftalmológicas em 2 (4,9%). Em relação à

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presença de alterações laboratoriais com a azatioprina, 11,8% (n=4) apresentaram

hepatoxicidade, 11,8% (n=4) apresentaram leucopenia isoladamente, 2,9% (n=1)

plaquetopenia isoladamente e 2,9% (n=1) bicitopenia (leucopenia e plaquetopenia).

Alterações no timo, dos 41 pacientes, estiveram presentes em 9,8%, porém 14

pacientes (34,1%) não fizeram o exame. Das 6 timectomias realizadas, 2 foram por

timoma, 2 por hiperplasia tímica e por refreatariedade clínica; em 4 casos houve

melhora do quadro clínico (66,7%). A pontuação média do QOL-15 foi de 14,2 (±

13,6 ). Comparando os subtipos, obtemos uma média nos MG anti-MuSK de 33 (±

8,7 ), nos MG ant-AChR uma média de 14,1(± 14,8 ) e nos MG soronegativos uma

média 13,4 (± 11), porém a comparação não mostrou significância estatística.

Conclusão: a casuística do serviço é bastante próxima da literatura quanto ao perfil

epidemiológico dos pacientes, com maior frequência no sexo feminino antes dos 40

anos e maior frequência no sexo masculino em idades avançadas, confirmando o

pico bimodal da doença. Também mostrou que a maioria dos pacientes apresentam-

se com sintomas iniciais oculares e, posteriormente, grande parte (>80%)

apresentam generalização da doença, o que está de acordo com a literatura

internacional, assim como os achados no exame eletromiográfico, pois a maioria do

pacientes apresentou anormalidades no exame. Identificamos um percentual elevado

de pacientes com sorologias negativas para Ac AchR, notadamente na vigência de

coleta tardia por razões logísticas. É fundamental aprofundar a investigação

solorógica desses doentes para anticorpos não rotineiros (anti-AChR de baixa

afinidade ou novos anticorpos). Também é necessário melhorar a oferta de

medicações para pacientes não respondedores a Azatioprina ou cujo efeitos adversos

implicaram na suspensão dessa medicação, para minimizar complicações como crise

miastênica ou descompensação da doença, que podem vir a gerar gastos excessivos

para o sistema de saúde, assim como elevar a morbimortalidade da doença.

Palavras-chave: miastenia gravis, perfil epidemiológico, classificação clínica, MG

subtipos, crise miastênica, perfil de anticorpos.

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ABSTRACT

INTRODUCTION: Myasthenia gravis is a chronic autoimmune disease,

resulting, in most cases, from the action of autoantibodies that affect the

postsynaptic portion of the neuromuscular junction (JNM). The initial evaluation

of suspected patients is based on clinical history and physical examination, but

serological tests (antibodies) or complementary method (electrophysiological)

are necessary to complete the diagnosis. OBJECTIVES: To evaluate the

clinical, epidemiological, serological and electrophysiological profile of MG

patients followed in Neuromuscular Diseases Clinic of the General Hospital of

Fortaleza (HGF). METHODOLOGY: cross-sectional descriptive study

conducted in patients followed in Neuromuscular Diseases Clinic of the General

Hospital of Fortaleza, one of the centers of reference in the treatment of patients

with myopathy in the state of Ceará, Brazil. RESULTS: 41 patients were

selected, of which 19 (46.3%) were male and 22 female (53.7%), mean age 45.1

years (± 15.9 SD). The age at onset of symptoms was 39.7 years (± 18 SD). The

mean disease time was 5.5 years (± 4.8 SD). In 59.1% of the female patients the

disease started before the age of 40; In 40.9% of them the disease began after the

age of 40 years. In men, in 73.7% the onset was after the age of 40 years and in

26.3% before the age of 40 years. We had 5 cases of ocular MG (12.2%,) and 36

(87.8%) of generalized MG. The initial symptoms were ocular in 68.3% (n = 28)

of the cases, of which 23 (82.1%) presented generalization of the condition

(generalized MG); 22% (n = 9) presented with bulbar symptoms, 7.3% (n = 3)

with axial or limb weakness, and 1 case (2.4%) with bulbar and ocular

symptoms simultaneously. MG anti-AChR presented prevalence of 51.2% in our

study, anti-MuSK 7.3%, the seronegative 19.5% and undetermined serology

22%. In the anti-AChR MG group, 5 patients with ocular MG 60% (n = 3) were

positive for the antibody; In generalized MG, of the 36 patients, only 50% (n =

18) were anti-AChR. All patients underwent electromyography (100%), with

92.7% (n = 38) showing PER at 3-5Hz with a decrease> 10% in the muscles

studied. The clinical classification of MG in our sample showed: (48.8%)

MGFA IIA; (12.2%) MGFA V; (12.2%) MGFA I; (9.8%) MGFA IIIA; (7.3%)

MGFA IIIB; And only 1 case (2.4%) of each MGFA IIB, MGFA VAT, MGFA

IVB and congenital MG. In the study, 26.8% of the patients presented

myasthenic crisis, the majority (82%) in the first year of the disease. In the

treatment of myasthenic crisis (n = 11), 72% did plasmapheresis or

immunoglobulin, 18.1% plasmapheresis and 9% immunoglobulin. Of the 41

patients, mestinon was used in 95.1%, prednisone in 90.2% and azathioprine in

83%. The adverse effects of medications, considering a total of 41 patients,

were: weight gain in 29 (70.7%), gastrointestinal complaints in 14 (34.1%),

osteoporosis in 3 (7.3%), alopecia in 2 (4.9%) and ophthalmological alterations

in 2 (4.9%). In relation to the presence of laboratory abnormalities with

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azathioprine, 11.8% (n = 4) had hepatoxicity, 11.8% (n = 4) presented

leucopenia alone, 2.9% (n = 1) thrombocytopenia alone and 2.9% (n = 1)

bicytopenia (leukopenia and thrombocytopenia). Alterations in the thymus of the

41 patients were present in 9.8%, but 14 patients (34.1%) did not take the test.

Of the 6 thymectomies performed, 2 were by thymoma, 2 due to thymic

hyperplasia and by clinical refreatment; In 4 cases there was improvement of the

clinical picture (66.7%). The mean QOL-15 score was 14.2 (± 13.6 SD).

Comparing the subtypes, we obtained an average of 33 (± 8.7 SD) anti-MuSK

MG, an anti-AChR MG an average of 14.1 (± 14.8 SD) and in the seronegative

MG an average 13.4 ( ± 11 SD), but the comparison did not show statistical

significance. CONCLUSION: The case series of the service is very close to the

literature regarding the epidemiological profile of the patients, more frequently

in females before the age of 40 and a higher frequency in males at advanced

ages, confirming the bimodal peak of the disease. It also showed that the

majority of patients present with initial ocular symptoms and, later, a large part

(> 80%) present generalization of the disease, which is in agreement with the

international literature, as well as the findings in the electromyographic exam,

since the Majority of patients had abnormalities in the examination. We

identified a high percentage of patients with negative serology for Ac AchR,

especially in the late collection period due to logistic reasons. Further research

into these patients' solorogens for non-routine antibodies (low affinity anti-

AChR or new antibodies) is essential. It is also necessary to improve the supply

of medications to non-Azathioprine patients, or whose adverse effects have led

to the suspension of this medication, to minimize complications such as

myasthenic crisis or decompensation of the disease, which may generate

excessive expenditures for the health system, as well as morbidity and mortality.

KEYWORDS: myasthenia gravis, epidemiological profile, clinical

classification, MG subtypes, myasthenic crisis, antibody profile.

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SUMÁRIO

Lista de abreviaturas e siglas

1. INTRODUÇÃO_______________________________________________14

2. REVISÃO DE LITERATURA___________________________________16

2.1 Epidemiologia_________________________________________________16

2.2 Apresentação clínica____________________________________________16

2.3 Fisiopatologia e imunopatogênese_________________________________18

2.4 Timo________________________________________________________20

2.5 MG Subtipos__________________________________________________20

2.6 Genética _____________________________________________________25

2.7 Diagnóstico___________________________________________________25

2.8 Testes eletrodiagnósticos_________________________________________29

2.9 Tratamento e manejo____________________________________________30

2.10 MG refratária_________________________________________________39

2.11 Timectomia__________________________________________________40

2.12 Crise miastênica______________________________________________ 41

2.13 MG e associação com outras doenças______________________________41

2.14 Classificação clínica____________________________________________42

3. JUSTIFICATIVA______________________________________________44

4. OBJETIVOS__________________________________________________44

4.1 Objetivo geral

4.2 Objetivos específicos

5. MATERIAL E MÉTODOS______________________________________45

5.1 Delineamento do estudo

5.2 Local do estudo

5.3 Período do estudo

5.4 Amostra

5.5 Coleta de dados

5.6 Critérios de inclusão

5.7 Critérios de exclusão

5.8 Variáveis analisadas

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6. ANÁLISE ESTATÍSTICA_____________________________________47

7. ASPECTOS ÉTICOS_________________________________________47

8.RESULTADOS______________________________________________48

9.DISCUSSÃO________________________________________________60

10.CONCLUSÃO______________________________________________65

11.REFERÊNCIAS____________________________________________67

12. APÊNDICES______________________________________________75

Questionário

Escala QOL-15

13. ANEXOS_________________________________________________80

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

HGF – Hospital Geral De Fortaleza

MG – Miastenia Gravis

MGO- Miatenia gravis ocular

MGG – Miastenia gravis generalizada

MGFA - Myasthenia Gravis Foundation

CM – Crise miastênica

AChR - receptor de acetilcolina

AcsStr - anticorpos anti-músculo estriado

RiR - receptor de rianodina

MuSK - receptor quinase-músculo-específico

SFEMG - eletromiografia de fibra única

PER – prova de estimulação repetitiva

IChE - inibidores da acetilcolinesterase

IVIg - imunoglobulina intravenosa

PLEX - plasmaférese

AZA - Azatioprina

MMF - micofenolato de mofetil

CYA - ciclosporina

FK506 - tacrolimus

MTX - metotrexato

SMC - Síndrome Miastênica Congênita

SLE - Síndrome de Lambert-Eaton

LEMP - Leucoencefalopatia multifocal progressiva

TGO / AST – Transaminase Glutâmico Oxaloacética/Aspartato aminotransferase

TGP / ALT – Transaminase Glutâmico Pirúvica/Alanina aminotransferase

HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica

DM – Diabetes Mellitus

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DLP – Dislipidemia

ENMG – Eletroneuromiografia

LRP4 - Lipoproteína de baixa densidade do receptor relacionado a proteína 4

anticorpo contra o canal de K+ e Ca² + voltagem-dependentes,

anti-Hu - autoanticorpo nuclear antineuronal 1

anti-KCNA4 – anticorpo anti-canal de potássiio voltagem dependente,

subfamília A, membro 4

ANTI-GAD - anticorpos anti-ácido glutâmico descarboxilase

EM - Esclerose Múltipla

PDIC - Polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica

AR - Artrite Reumatóide

SUS – Sistema público de saúde

VCM – volume corpuscular médio

QOL-15: qualidade de vida na miastenia gravis (15 itens)

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1. INTRODUÇÃO

Miastenia gravis (MG) é uma doença crônica autoimune, resultante, na maioria

dos casos, da ação de auto-anticorpos que afetam a porção pós-sináptica da junção

neuromuscular (JNM), frequentemente o receptor acetilcolina (AChR) e menos

frequentemente o receptor quinase-músculo-específico (MuSK) (Paola Cavalcante

et al, 2011).

O curso da doença é variável, mas geralmente progressivo. Fraqueza permanece

restrita aos músculos oculares em aproximadamente 10% -15% dos casos (MG

ocular), apesar de uma proporção mais elevada ter sido relatada em populações

asiáticas (Meriggioli and Sanders, 2009). No restante, a fraqueza progride,

envolvendo os músculos não oculares durante o primeiros 3 anos e, finalmente,

envolvendo as musculaturas facial, orofaríngea e dos membros (MG generalizada).

Fraqueza máxima ocorre durante o primeiro ano da doença em dois terços dos

pacientes (Guptill and Sanders, 2016). Ptose e / ou diplopia são os sintomas iniciais

de MG em até 85% dos pacientes (Grob et al., 2008), e quase todos os pacientes

desenvolverão ambos os sintomas dentro de 2 anos do início da doença.

A fraqueza caracteriza-se por ser flutuante, melhorando com o repouso e

piorando com exercício, infecções, menstruação, ansiedade, estresse emocional e

gravidez (Drachman, 1994). A crise miastênica é definida por insuficiência

respiratória associada a fraqueza muscular grave (Drachman, 1994) .

MG pode começar em qualquer idade, desde a infância à idade muito avançada.

Estudos relatam uma variabilidade considerável na incidência e prevalência em todo

o mundo (Meriggioli and Sanders, 2009). Embora diferenças metodológicas possam

explicar parte dessa variabilidade, fatores biológicos e genéticos também podem

desempenhar um papel. Estudos epidemiológicos têm mostrado uma crescente

prevalência ao longo dos últimos 50 anos, relacionado com um aumento na

frequência de diagnóstico em pacientes idosos, mas também provavelmente devido

à melhoria na acurácia diagnóstica, redução das taxas de mortalidade e um aumento

da longevidade da população (Carr et al., 2010). Sexo e idade influenciam a

incidência de MG, sendo as mulheres afetadas cerca de três vezes mais do que os

homens antes 40 anos de idade, enquanto que a incidência é maior no sexo

masculino após os 50 anos e aproximadamente igual durante a puberdade. Como a

população está envelhecendo, a idade média de início aumentou proporcionalmente.

Mais homens agora são afetados do que as mulheres, e a maioria dos pacientes com

MG nos Estados Unidos têm mais de 50 anos de idade (Guptill and Sanders, 2016).

O timo desempenha um papel importante na patogênese da MG relacionada com

anticorpos anti-AChR: ele mostra alterações patológicas (hiperplásicas ou tumorais)

na maioria dos pacientes AChR-positivos e contém os elementos necessários para

iniciar e sustentar uma reação auto-imune (Paola Cavalcante et al, 2011).

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O diagnóstico é baseado na história e achados do exame físico, que fornecem

usualmente as pistas iniciais mais importantes para definição de MG, seguidos pelos

exames complementares (Drachman DB, 1994). Os testes que estão disponíveis para

confirmar o diagnóstico clínico de MG incluem testes de cabeceira, tais como o teste

do edrofônio ou o teste bloco de gelo (―ice-pack test‖), assim como os testes

eletrofisiológicos e os testes para medir as concentrações de anticorpos séricos

(Meriggioli and Sanders, 2009).

O tratamento de pacientes com MG deve ser individualizado de acordo com a

apresentação clínica ou o subtipo, e requer uma avaliação global do

comprometimento funcional do paciente e seu efeito na vida diária. A meta

terapêutica é que o paciente retorne ao seu funcionamento normal tão rapidamente

quanto possível, ao mesmo tempo minimizando os efeitos colaterais da terapia.

Inibidores da colinesterase (p. ex, piridostigmina) podem ser suficientes em alguns

pacientes com MG ocular ou doença generalizada leve (com ou sem timectomia

prévia) (Meriggioli and Sanders, 2009), mas podem piorar o quadro de alguns

pacientes com MG anti-MusK. Em pacientes tratados com imunoterapias, a menor

dose eficaz deve ser sempre determinada. Riscos a longo prazo de infecções e

malignidades não estão claramente definidos, mas as infecções oportunistas e

neoplasias têm sido associados com os imunossupressores comumente utilizados na

MG (Gedizlioglu et al, 2008; Vernino et al, 2005). É importante assegurar que os

pacientes também estejam cientes dos medicamentos que podem agravar os

sintomas da MG (Meriggioli and Sanders, 2009).

Existem várias terapias emergentes para MG, incluindo tacrolimus, rituximab, e

aférese antígeno específico, ao passo que outros tratamentos aguardam melhor

definição da eficácia e do seu papel na MG (Timectomia, micofenolato mofetil)

(Meriggioli e Sanders, 2009). Além disso, o etanercept, um bloqueador do receptor

do fator de necrose tumoral, tem sido utilizado com algum sucesso, como um agente

poupador de esteróide em um pequeno número de pacientes com MG, porém mais

estudos são necessários, pois foi observado piora da doença em alguns pacientes

(Rowin et al, 2004). Estudos preliminares com um oligonucleotídeo antisense

(EN101), que bloqueia a expressão de uma isoforma de splicing da

acetilcolinesterase tem sido recentemente publicados (Argov Z, McKee D, Agus S,

et al. , 2007). A administração oral de EN101 produziu melhora acentuada nos

sintomas da MG e parece ser seguro e bem tolerado, com efeitos colaterais

colinérgicos mínimos. Os ensaios clínicos de EN101 estão em andamento. Terapia

inibidora do complemento tem sido demonstrada ser eficaz na MG experimental

(Zhou et al, 2007) e pode ser promissora na crise miastênica e particularmente na

MG ocular, devido a baixa expressão dos reguladores do complemento nos

músculos extra-oculares ( Kaminski et al, 2004; Soltys et al, 2008). Ensaios clínicos

preliminares em humanos também estão sendo organizados.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

MG adquirida é o distúrbio primário da JNM mais comum. Na MG, a ligação de

auto-anticorpos às proteínas, mais comumente o receptor de acetilcolina (AChR)

interrompe transmissão neuromuscular (TNM) normal. Isto resulta em fraqueza

muscular que predomina em certos grupos musculares e flutua em resposta ao esforço e

repouso. O diagnóstico depende do reconhecimento de um padrão distinto de fraqueza

na história e no exame físico, e confirmação por testes diagnósticos. Um número de

tratamentos potencialmente eficazes estão disponíveis, e o tratamento da maioria dos

pacientes é eficaz com um mínimo morbidade a longo prazo (Guptill and Sanders,

2016).

2.1 EPIDEMIOLOGIA

A MG é uma doença relativamente incomum, embora a prevalência tenha

aumentado ao longo do tempo com estimativas recentes aproximando-se de 20 por 100

000 na população dos EUA (Phillips, 2003). O aumento da prevalência provavelmente é

devido ao melhor diagnóstico e tratamento da MG, e um aumento longevidade da

população em geral (Meriggioli and Sanders, 2009). A ocorrência da doença é

influenciada pelo sexo e idade: as mulheres são afetadas quase três vezes mais do que os

homens antes dos 40 anos, enquanto a incidência é relativamente igual na puberdade

(Grob et al., 2008). Após os 50 anos de idade, a incidência é maior nos homens (Grob et

al., 2008).

MG na infância é incomum na Europa e América do Norte, compreendendo 10-

15% de casos de MG (Phillips, 2003), mas é muito mais comum em países asiáticos,

como a China, onde até 50% dos doentes têm início da doença com idade inferior a 15

anos, muitos com manifestações puramente oculares (Zhang et al, 2007).

Cerca de 15 a 20% dos pacientes com MG desenvolverão crise miastênica (CM),

geralmente no primeiro ano de doença (Bedlack and Sanders, 2002). CM pode ser a

apresentação inicial da MG em cerca de 20% dos pacientes e um terço dos

sobreviventes podem experimentar outra crise (Bedlack and Sanders, 2002)

2.2 APRESENTAÇÃO CLÍNICA

A característica clínica da MG é a fatigabilidade, e os pacientes

apresentam caracteristicamente fraqueza muscular que geralmente se agrava com

atividade e melhora com o repouso. Os pacientes podem ter graus variáveis de ptose,

diplopia, disartria, disfagia, dispnéia, fraqueza facial ou membro fatigável ou fraqueza

axial (Meriggioli and Sanders, 2009). Embora também possam ter fadiga ou mal-estar

generalizado, geralmente não é a principal queixa. Fraqueza ocular, apresentando-se

como ptose flutuante e / ou diplopia, é a apresentação inicial mais comum da MG,

ocorrendo em proximadamente 85% dos pacientes (Grob et al., 2008). Progressão da

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doença para fraqueza generalizada geralmente ocorre dentro de 2 anos do início da

doença. Dificuldade de mastigação, deglutição, ou para falar é o sintoma inicial em um

sexto dos pacientes, e fraqueza nos membros em 10%. Raramente, a fraqueza inicial é

limitada a grupos musculares únicos, tais como musculatura cervical, extensores dos

dedos, flexores do quadril ou dorsiflexores de tornozelo (Guptill and Sanders, 2016).

A fraqueza dos músculos faciais é comum e muitos pacientes com MG têm

fraqueza do fechamento da pálpebra com ou sem fraqueza facial inferior quando

examinadas cuidadosamente. Sintomas bulbares, apresentando-se com disfagia,

disartria, ou dificuldades de mastigação, é o sintoma inicial em até 15% dos pacientes

(Grob, 1953). A ausência de sintomas oculares nestes pacientes podem sugerir

erroneamente um diagnóstico de doença do neurônio motor. A fraqueza envolvendo os

músculos respiratórios raramente é a apresentação característica da doença, mas pode

ser fatal, requerendo ação terapêutica imediata. Embora raro, uma distribuição

proeminente de fraqueza em cinturas ou mesmo fraqueza focal em determinados grupos

musculares pode ocorrer (Rodolico et al, 2002; Nations et al, 1999).

Fraqueza miastênica normalmente oscila durante o dia, sendo geralmente menos

intensa na parte da manhã e pior à medida que o dia progride, especialmente após uma

utilização prolongada dos músculos afetados. Os sintomas oculares podem ser

intermitentes nas fases iniciais, tipicamente com piora à noite ou durante a leitura,

assistindo televisão, ou dirigindo um carro, especialmente sob luz solar intensa (Guptill

and Sanders, 2016).

O curso da doença é variável, mas geralmente progressivo. Fraqueza permanece

restrita aos músculos oculares em aproximadamente 10% -15% dos casos, apesar de que

uma proporção mais elevada tem sido relatada em populações asiáticas (Meriggioli and

Sanders, 2009). No restante, fraqueza progride, envolvendo os músculos não oculares

durante os primeiros 2 a 3 anos da doença, acometendo as musculaturas facial,

orofaríngea e dos membros (MG generalizada). Fraqueza máxima ocorre durante o

primeiro ano da doença em dois terços dos pacientes. Antes da introdução de

corticosteróides para o tratamento, cerca de um terço dos doentes melhorava

espontaneamente, um terço piorava, e um terço falecia em virtude da doença. Melhora

clínica, ou mesmo remissão, pode ocorrer no início, mas raramente é permanente (isto é,

há uma recaída subsequente). Os sintomas geralmente oscilam ao longo de um período

de tempo relativamente curto e, em seguida, se tornam mais graves (fase ativa). Depois

de muitos anos, a fraqueza não tratada torna-se fixa, e os músculos mais gravemente

envolvidos são frequentemente atróficos (estágio burnt-out). Fatores que pioram os

sintomas miastênicos são distúrbios emocionais, doença sistêmica (especialmente

infecções respiratórias virais), hipotireoidismo ou hipertireoidismo, gravidez, ciclo

menstrual, drogas que afetam TNM, febre, cirurgias, particularmente durante o primeiro

ano da doença (Meriggioli and Sanders, 2009; Guptill and Sanders, 2016).

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A maioria dos pacientes com MG têm fraqueza dos músculos oculares. Fraqueza

assimétrica dos vários músculos em ambos os olhos é típica, sendo o reto medial o mais

frequentemente e, geralmente, mais gravemente envolvido. O padrão de fraqueza não é

localizável de lesão de um ou mais nervos, e as respostas pupilares são normais. Ptose é

geralmente assimétrica e varia durante a atividade sustentada. Para compensar a ptose,

ocorre uma contração crônica do músculo frontal, produzindo um olhar preocupado ou

surpreendido. O teste do gelo (―Ice pack test‖) pode ser utilizado para evidenciar

melhora transitória da ptose. Quando leve, a fraqueza ocular pode não ser óbvia em

exame de rotina e aparecer apenas mediante teste de provocação (isto é, com olhar para

cima persistente). Geralmente há fraqueza do fechamento palpebral, mesmo quando a

força é normal em todos os outros músculos faciais, e pode ser a única fraqueza residual

em casos de remissão completa. Fadiga desses músculos pode resultar em ligeira

abertura involuntária dos olhos quando o paciente tenta manter os olhos fechados (o

chamado sinal espiada) (Guptill and Sanders, 2016)..

Fraqueza muscular orofaríngea provoca alterações na voz, dificuldade de

mastigação e deglutição e manutenção inadequada das vias aéreas superiores. A voz

pode ser anasalada (especialmente depois de falar por período prolongado) e líquidos

podem escapar através do nariz ao engolir (por causa da fraqueza da musculatura

palatal). Fraqueza dos músculos da laringe provoca rouquidão. Uma história de

engasgos frequentes, pigarro ou tosse depois de comer indica dificuldade na deglutição.

Disfunção respiratória e disfagia isolada (sem disartria) raramente são sintomas iniciais

de MG (Guptill and Sanders, 2016).

Fraqueza começa nos membros ou músculos axiais em cerca de 20% dos

pacientes com MG (Kuks e Oosterhuis, 2004). Qualquer grupamento muscular pode ser

acometido, mas alguns são mais frequentemente afetados. Os flexores do pescoço são

geralmente mais fracos do que os extensores do pescoço; deltóides, tríceps e extensores

do punho e dedos, assim como dorsiflexores dos tornozelos são frequentemente mais

fracos do que outros músculos dos membros. Raramente, MG apresenta-se inicialmente

com fraqueza focal em grupos musculares individuais, tais como a "síndrome da cabeça

caída" (devido à fraqueza do extensor cervical) ou da corda vocal ou fraqueza dos

músculos respiratórios. Nos doentes não tratados com a doença de longa data, a

fraqueza pode ser fixa, e os músculos gravemente envolvidos podem ser atróficos,

dando a aparência de uma miopatia crónica; isto é particularmente provável nas MG

anti-Musk positivo (Guptill and Sanders, 2016).

2.3 FISIOPATOLOGIA E IMUNOPATOGÊNESE

O transmissor neuromuscular acetilcolina (ACh) é liberado a partir do terminal

do nervo motor em discretas quantidades, que atravessam a fenda sináptica e se ligam a

receptores (AChR) na membrana da placa terminal. A contração muscular resulta

quando a ligação ACh-AChR despolariza a região da placa terminal e, em seguida, a

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membrana muscular. A acetilcolinesterase ligada à membrana pós-sináptica hidrolisa a

ACh liberada, encerrando sua ação e impedindo despolarização prolongada do músculo.

Em cerca de 80%-85% dos pacientes com MG, a fraqueza resulta os efeitos de

anticorpos anti-AChR circulantes. Estes anticorpos ligam-se ao AChR nas expansões

terminais da junção pós-sináptica e causam destruição mediada pelo complemento,

internalização e degradação acelerada do AChR, e em alguns casos, eles bloqueiam a

ligação de ACh-AChR. A destruição das pregas juncionais resulta em distorção e

simplificação da região pós-sináptica, com perda da função do AChR. Isso leva a uma

falha da TNM e fraqueza do músculo (Guptill and Sanders, 2016).

Os linfócitos T desempenham um papel central na iniciação e na manutenção da

resposta auto-imune contra o complexo AChR. No entanto, o mecanismo exato de como

a resposta é iniciada e mantida não é completamente compreendido.

Os pacientes com MG tem aumento do número de células T CD4 +, que regulam

a produção de anticorpos anti-AChR. A subunidade-α do AChR contém a maioria dos

locais de reconhecimento de célula T. A sensibilização para as células T CD4 + se

dissemina por todo o complexo AChR como doença progressiva e a maioria dos

pacientes com MG têm células T que reconhecem múltiplos epítopos na subunidade-α

do AChR (ContiFine et al, 1997), levando a síntese de anticorpos anti-AChR e a

variedade de anticorpos do paciente miastênico.

Aproximadamente 10% dos pacientes com MG (até 50% dos pacientes com MG

generalizada anti-AChR negativos) têm anticorpos circulantes contra a tirosina quinase

específica do músculo (MuSK), um componente da membrana de superfície essencial

no desenvolvimento do junção neuromuscular (JNM). Estes anticorpos anti-MuSK, que

são predominantemente IgG4 e não fixam o complemento, afetam negativamente a

manutenção do agrupamento do AChR na placa terminal, levando à redução do número

de AChRs funcionais (McConville et ai, 2004; Niks et ai, 2008). A fisiopatologia

precisa da fraqueza muscular e da atrofia na MG anti-MuSK é desconhecida. Estudos de

biópsia muscular demonstraram pouca perda AChR, mas estudos detalhados da TNM

na maioria músculos afetados não estão disponíveis. Os eventos que levam a

autossensibilização para MuSK são desconhecidos, mas o timo provavelmente não está

envolvido. A imunopatologia celular é em grande parte desconhecida, mas recentes

estudos em pacientes MG anti-MuSK demonstraram resposta pró-inflamatória

associada a Th1 e Th17 (Yi et al, 2014).

Os chamados pacientes duplo-soronegativos não têm anticorpos conhecidos por

ensaios convencionais, embora possam melhorar com tratamentos imunossupressores,

plasmaférese, ou mesmo timectomia. Descobertas recentes começaram a esclarecer a

imunopatologia destes casos duplo-soronegativos. Anticorpos IgG de baixa afinidade

têm sido encontrados em cerca de dois terços dos pacientes com MG que eram

soronegativos utilizando ensaios convencionais para anticorpos anti-AChR e anti-

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MuSK (Leite et al., 2008). Estes anticorpos se ligam a AChRs que foram agrupadas em

matrizes de alta densidade, o que sugere que eles têm uma afinidade relativamente baixa

e não podem se ligar fortemente a AChRs em solução, mas se ligam a AChRs

imobilizadas em uma conformação nativa. Anticorpos contra o proteoglicano agrina, o

qual é liberado a partir do neurônios motores e se liga a lipoproteína de baixa densidade

do receptor relacionado com a proteína 4 (LRP4), foram detectados em pacientes com

MG (Zhang et al, 2014). Além disso, alguns pacientes MG MuSK e 3% a 54% dos

pacientes duplo-seronegativos têm anticorpos IgG1 LRP4 que parecem ser patogênicos

(Higuchi et al, 2011; Pevzner et al, 2011). Interação entre agrina e LRP4 é necessária

para uma JNM saudável, mas mais trabalhos são necessários para esclarecer o papel

desses autoanticorpos na MG.

2.4 TIMO

O timo é anormal na maioria dos pacientes com MG: 70% têm hiperplasia

folicular linfóide e mais de 10% têm timoma. A hiperplasia tímica de pacientes com

MG contêm todos os componentes necessários para o desenvolvimento de uma resposta

imune contra o AChR: células T, células B e o células do plasma, bem como células

mióides musculares que expressam AChR (Hohlfeld and Wekerle, 2008).

Além disso, timócitos em cultura geram espontaneamente anticorpos anti-AChR.

Estes resultados suportam o conceito de uma patogênese intratímica e argumentam que

o timo hiperplásico está envolvido no início da resposta imunológica na MG anti-AChR

nos pacientes com hiperplasia do timo. Subunidades de AChR derivados do timo podem

servir como um antígeno para a autossensibilização contra AChR. Expressão do anti-

MuSK nas células mióides tímicas humanas tem sido relatadas, sugerindo que o timo

pode também desempenhar um papel no desenvolvimento MG anti-MuSK (Mesnard-

Rouiller, 2004).

Células epiteliais neoplásicas em timomas podem expressar numerosos

antígenos ―self-like‖, incluindo epítopos do receptor de AChR, titina e rianodina.

Timomas associados a MG também são ricos em células T autorreativas. A regulação de

células T potencialmente autorreativas pode estar prejudicada no timoma devido a uma

deficiência na expressão do gene regulador auto-imune, e perda seletiva de células T

reguladoras em timomas humanos (Meriggioli and Sanders, 2009).

2.5 MG SUBTIPOS

As diferenças na apresentação clínica, idade de início, perfil de autoanticorpos e

a presença ou ausência de patologia tímica permitem a identificação de vários subtipos

clínicos.

MG ocular

Ptose e / ou diplopia são os sintomas iniciais de MG em até 85% dos pacientes

(Grob et al, 2008), e quase todos os pacientes desenvolverão ambos os sintomas dentro

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de 2 anos do início da doença. A fraqueza miastênica que permanece limitada à

musculatura ocular é composta por 17% de todos os MG em populações brancas (Grob,

2008). Se a fraqueza continuar limitada aos músculos oculares após 2 anos, há uma

probabilidade de 90% da doença não generalizar. MGO é mais comum nas populações

asiáticas (até 58% de todos os pacientes com MG) (Zang, 2007).

Até 50% dos pacientes com MG ocular têm anticorpo anti-AChR, mas títulos de

anticorpos elevados não necessariamente prediz generalização da doença. Anticorpos

anti-MuSK raramente são encontrados em MG ocular (Bennett, 2006; Chan and

Orrison, 2007).

A confirmação do diagnóstico de MGO pode ser um desafio e exames como

estimulação nervosa repetitiva (PER) e anticorpos anti-AChR são muitas vezes

negativos, situações nas quais a eletromiografia de fibra única (SFEMG) pode ser

necessária.

MG generalizada

Pacientes com MG generalizada podem ser divididos em doença de início

precoce e de início tardio. O subtipo precoce geralmente é definido como início antes

dos 40 anos de idade (Compston et al, 1980). Esses pacientes (MGG de início precoce)

são mais frequentemente do sexo feminino, têm anticorpos anti-AChR e hiperplasia do

timo. Além de anti-AChR, outros autoanticorpos podem estar presentes, e os pacientes

podem ser afetados por outras doenças autoimunes, mais comumente doença da tireóide

autoimune (Christensen, 1995; Tola et al, 1994). Anticorpos contra componentes

musculares não-AChR não são tipicamente vistos na MG de início precoce (Oosterhuis,

1989).

Já os pacientes com início após os 40 anos (início tardio) são geralmente do sexo

masculino e têm histologia tímica normal ou atrofia tímica. Contudo, existem

relativamente poucos estudos histológicos nesta faixa etária, pois a timectomia

raramente é realizada em pacientes com idade superior a 50 anos, a menos que tenham

um timoma (Meriggioli and Sanders, 2009). Doentes com sintomas tardios podem

apresentar-se com fraqueza ocular ou generalizada, mas tipicamente têm uma doença

mais grave em relação a MG de início precoce, e remissões espontâneas são raras

(Aarli, 1999). Além dos anticorpos anti-AChR, estes pacientes geralmente possuem

anticorpos contra proteínas musculares estriadas tais como titina e o receptor de

rianodina (Romi et al, 2005). A presença destes anticorpos estracionais, particularmente

o anti-receptor de rianodina, tem sido associada a alterações mais graves, generalizadas

ou fraqueza predominantemente orofaríngea, e frequentes crises miastênicas (Romi et

al, 2007).

MG Timomatosa

Cerca de 10-15% dos doentes com MG têm um Tumor epitelial - Timoma. MG

associada ao timoma é igualmente comum em homens e mulheres, e pode ocorrer

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qualquer idade, com pico de início em torno dos 50 anos (Skeie and Romi, 2008; Evoli

et al, 2002).

As apresentações clínicas tendem a ser mais graves do que nos pacientes com

MG de início precoce não-timomatosos, comumente com fraqueza progressiva

generalizada e orofaríngea. No entanto, o prognóstico a longo prazo é semelhante ao

dos pacientes com MG de início tardio não-timomatosos (Romi et al, 2003; Perrot et al

2002). Com raras exceções (Maggi et al, 2008), os pacientes (MG) com timoma têm

altos títulos de anticorpos anti-AChR, e geralmente também têm anticorpos contra titina

(Skeie and Romi, 2008).

Adicionalmente, anticorpos associados a paraneoplasia (e síndromes

relacionadas) podem ocorrer em pacientes com MG-timomatosos, incluindo anticorpo

contra o canal de K+ e Ca² + voltagem-dependentes, anti-Hu (autoanticorpo nuclear

antineuronal 1), anti-dihidropirimidinase relacionada a proteína 5 (anteriormente

proteína mediadora de resposta anticolapsina 5), e anticorpos anti-ácido glutâmico

descarboxilase (GAD) (Vernino and Lennon, 2004). A presença de autoanticorpos

contra um canal de K+ voltagem-dependente, KCNA4 (anteriormente Kv1.4), foi

recentemente relatado em pacientes japoneses com MG grave, timoma e miocardite ou

miosite concomitantes ( Suzuki et al, 2005).

Em pacientes com timoma, cirurgia (timectomia) muitas vezes remove o tumor

completamente e permanentemente, mas os sintomas de MG geralmente persistem e

requerem imunoterapia crônica (Meriggioli and Sanders, 2009).

MG MuSK

Os anticorpos contra tirosina quinase específica do músculo (MuSK) têm sido

relatados em até 50% dos pacientes com MGG com anticorpo anti-AChR negativo

(Guptill and Sanders, 2010) e foram relatados na MGO também (Bau et al, 2006; Caress

J.B et al, 2005). A incidência de MG-Musk varia entre as regiões geográficas, sendo

mais elevada perto do equador e menor perto dos pólos (Vincent and Lang, 2006).

Fatores genéticos ou ambientais (ou ambos) presumivelmente desempenham um papel

nestas diferenças. MG-Musk afeta predominantemente mulheres e pode começar desde

a infância até a meia-idade. Pacientes com anticorpos anti-MuSK podem ter

apresentações semelhantes à MG anti-AChR, mas geralmente apresentam características

clínicas atípicas, como fraqueza seletiva facial, bulbar, cervical e fraqueza da

musculatura respiratória, podendo haver marcada atrofia muscular, ocasionalmente

poupando os músculos oculares (Evoli et al, 2003; Sanders et al, 2003).

As crises respiratórias são mais comuns do que na MG generalizada anti-AChR

(Meriggioli and Sanders, 2009). A fraqueza pode envolver músculos que usualmente

não são sintomáticos na MG, tais como paraespinhal e esofageano superior (Sanders

and Juel, 2008). Anormalidades eletrodiagnósticas podem não ser tão generalizadas

como em outras formas de MG e pode ser necessário examinar diferentes músculos para

demonstrar anormalidade na TNM (Stickler et al, 2005).

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Muitos pacientes com MG-Musk não melhoram com inibidores da

acetilcolinesterase (IChE); alguns, inclusive, tem piora do quadro e muitos têm

fasciculações profusas com estes medicamentos (Hatanaka et al, 2005). A doença tende

a ser mais grave, mas a maioria dos pacientes melhoram com a plasmaférese ou com

corticosteróides (Sanders et al, 2003). Imunossupressão mais intensa geralmente é

necessária; no entanto, o resultado a longo prazo é bom (Guptill e Sanders, 2010).

Alterações do timo estão ausentes ou são mínimas (Lauriola et al, 2005; Leite et al,

2005), e o papel da timectomia na MG-MuSK ainda não está clara (Guptill and Sanders,

2010; Sanders et al, 2003).

MG soronegativa (MGSN)

Aproximadamente 10-15% dos pacientes com MG generalizada não possuem

anti-AChR ou anti-MuSK (os chamados MG soronegativos). São clinicamente

heterogêneos e podem ter a doença puramente ocular, generalizada leve ou generalizada

grave. A verdadeira prevalência da MGSN pode ser bastante baixa, porque alguns

pacientes podem ter anticorpos anti-AChR de baixa afinidade que não são detectados

com os ensaios usuais (Meriggioli and Sanders, 2009). Não surpreendentemente, esses

pacientes são muitas vezes indistinguíveis de doentes com MG anti-AChR em termos

de características clínicas, resposta terapêutica farmacológica, e até mesmo

anormalidades tímicas em alguns casos (Vincent et al, 2004).

Há evidências de que nos pacientes com MGSN a fraqueza muscular também é

causada por autoanticorpos patogênicos: os pacientes se beneficiam da plasmaférese, a

fraqueza miastênica tem sido passada de uma mãe afetada para o bebê via

transplacentária e a imunização passiva de camundongos com o soro de pacientes

afetados com a doença tem produzido com defeitos na transmissão neuromuscular

(Burgeset al, 1994; Mossman et al, 1986). Além disso, pacientes com MGSN

respondem a imunoterapias (Muppidi and Wolfe, 2009). Não está claro qual o antígeno

alvo na MGSN. Clinicamente e demograficamente este grupo é muito semelhante aos

miastênicos com anti-AChR, mas o diagnóstico e o manejo clínico permanecem

complicados, dando origem à necessidade de um biomarcador (Gallardo et al, 2014).

Leite et al relataram que até 66% dos pacientes com MGSN têm anticorpos IgG1

de baixa afinidade contra o AChR, que são detectáveis apenas em um ensaio celular

usando células HEK (Human embryonic kidney) cotransfectadas com subunidades

AChR humanas e rapsyn para induzir o agrupamento AChR na superfície celular.

Posteriormente, os mesmos autores relataram que até 50% dos pacientes com MGSN

(generalizada ou ocular) possuem anticorpos que reconhecem a AChR agrupada e seus

níveis correlacionam-se com as características eletrofisiológicas. O mecanismo

patogênico nesse caso parece semelhante ao da MG-AChR típica (Jacob et al, 2012).

Recentemente, foram identificados anticorpos contra a proteína 4 relacionada

com o receptor de lipoproteína de baixa densidade (LRP4) em proporções variáveis de

pacientes MGSN (2% a 50%) (Higuchi et al, 2011; Zisimopoulou et al, 2013), sendo

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proposto que eles podem inibir a interação do complexo agrina-LRP4-MuSK e

interromper a agregação do AChR. O papel desses anticorpos na produção de sintomas

miastênicos in vivo não foi completamente elucidado (Verschuuren, 2013).

Um novo candidato a autoantígeno é a cortactina, uma proteína concentrada na

JNM e que atua diretamente no complexo agrina-MuSK promovendo a agregação do

AChR. Dado o seu papel na regulação da polimerização de actina e agregação do AChR

em resposta à estimulação sinaptogênica (Dai et al, 2000; Peng, 1997), Gallardo E. et al

investigaram a presença de autoanticorpos cortactina em uma série de pacientes com

MG, sendo detectados autoanticorpos cortactina em 19,7% dos pacientes com MGSN,

uma proporção significativamente maior do que nos pacientes com MGSP (4,8%) e do

grupo controle (12,5%), que incluia outras doenças neurológicas ou imunológicas,

indicando que esses anticorpos poderiam ser usados para reforçar um processo

imunológico na MG soronegativa (Gallardo et al,2014). O ensaio para estes anticorpos,

adicionalmente a estudos clínicos e eletrofisiológicos, pode ser utilizado como potencial

marcador de um mecanismo imune subjacente relacionado com MGSN.

No entanto, o fato de que os auto-anticorpos cortactina são encontrados não

somente na MGSN, mas também em alguns pacientes com anticorpos anti-AChR, pode

indicar que seu papel na patogênese da doença é secundário ao processo da doença,

talvez como conseqüência da disseminação epitópica ou danos estruturais da JNM

(Gallardo et al, 2014).

No estudo (Gallardo et al, 2014) , intrigantemente foram encontrados auto-

anticorpos cortactina em pacientes com outras doenças, como Esclerose Múltipla (EM),

Polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (PDIC), Artrite Reumatóide (AR),

Tireoidite autoimune, Diabetes tipo I e Glomerulonefrite. A presença de autoanticorpos

LRP4 também foi relatada em 2 pacientes com NMO (Zhang et al, 2012). Essa

associação de múltiplas condições pode indicar a presença de um determinado contexto

auto-imune em alguns pacientes. Além disso, a presença de autoanticorpos musculares

(estracionais) tem sido relatada em aproximadamente 59% dos pacientes com timoma,

mas sem qualquer distúrbio neurológico (Vernino and Lennon, 2004).

Dessa forma, embora não tenha sido encontrado um fenótipo clínico distinto, a

descrição de auto-anticorpos cortactina em pacientes com MGSN pode ser relevante

como marcador de doença autoimune, potencialmente indicando a presença de um

processo imunopatológico que influencia a função da JNM e apoiando o uso de

tratamento imunomodulador.

Outros estudos identificaram previamente anticorpos contra antígenos

intracelulares concentrados na JNM. Anticorpos estriacionais, os quais reagem contra

epítopos nas proteínas musculares titina, receptor de rianodina e o canal de potássio

voltagem-dependente Kv1.4, são freqüentemente encontrados em pacientes miastênicos

com início tardio e timoma e sua presença tem sido associada a doenças mais graves

(Aarli et al, 1990; Mygland et al, 1992).

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Contudo, os anticorpos anti-músculo estriado são raramente encontrados na MG

com anticorpos negativos para AChR e não há evidência de que estes anticorpos possam

realmente induzir alterações estruturais no músculo esquelético (Gallardo et al, 2014).

Mais estudos são necessários para desvendar o real papel destes autoanticorpos

na MGSN.

2.6 GENÉTICA

A transmissão da MG não é por herança mendeliana clássica, mas os membros

da família dos pacientes têm 1.000 vezes mais probabilidade de desenvolver a doença

do que é a população geral. Além disso, 33% a 45% dos membros da família (primeiro

grau) assintomáticos mostram jitter na EMGFU e anticorpos anti-AChR ligeiramente

elevados em até 50%. Tais observações sugerem que existe uma predisposição

geneticamente determinada para desenvolver MG (Guptill and Sanders, 2016).

Existem várias correlações entre a MG e de genes HLA (antígeno leucocitário

humano). Certos tipos de HLA (-DR2, -DR3,-B8, -DR1) predispõem à MG, enquanto

outros podem oferecer resistência à doença. HLA-B8, -DR2, e -DR3 ocorrem mais

comumente em pacientes com EOMG; HLA-B7 e -DR2 em LOMG; e HLA-DR1 em

MGO. MG-Musk está associada com HLA-DR14-DQ5 (Niks et al., 2006). Diferentes

associações HLA tem sido relatadas em pacientes MG asiáticos, incluindo uma

associação de MGO com HLA-BW46 em pacientes chineses (Meriggioli and Sanders,

2009). Genes não-HLA (PTPN22, FCGR2, CHRNA 1, CTLA4) também foram

encontrados para em associação com MG-alguns também estão associados com outras

doenças auto-imunes, e, assim, podem representar uma suscetibilidade à autoimunidade

inespecífica (Avidan et al, 2014; Klein et al, 2013). Uma exceção para isso é o gene

CHRNA1, que codifica a subunidade alfa da AChR e pode fornecer pistas patogênicas

específicas para MG (Meriggioli and Sanders, 2009).

2.7 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é baseado na história e achados do exame físico, que fornecem

usualmente as pistas iniciais mais importantes para a definição de MG, seguidos

pelos exames complementares (Drachman, 1994). Os testes que estão disponíveis

para confirmar o diagnóstico clínico de MG incluem testes de cabeceira, tais como o

teste do edrofônio ou o teste bloco de gelo (―ice-pack test‖), assim como testes

eletrofisiológicos e testes para medir as concentrações de anticorpos séricos

(Meriggioli and Sanders, 2009).

TESTES DE CABECEIRA

Teste do cloreto de edrofônio

Edrofônio e outros inibidores da colinesterase (ChEIs) impedem a degradação

enzimática da ACh pela inibição da ação da acetilcolinesterase, permitindo, assim, a

ACh a se difundir amplamente em toda a fenda sináptica e ter uma interação mais

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prolongada com AChR na membrana muscular pós-sináptica. Isso facilita a interação

repetida da ACh com o reduzido número de AChRs e resulta em maior despolarização

da placa terminal. Fraqueza proveniente de uma TNM anormal caracteristicamente

melhora após a administração de ChEIs, e esta é a base do teste do edrofônio. Esse teste

tem perdido o valor como uma ferramenta de diagnóstico, devido a grande

disponibilidade de testes de auto-anticorpos, mas pode ser útil em pacientes

soronegativos e quando os estudos eletrodiagnósticos estão indisponíveis ou tem

resultados duvidosos (Guptill and Sanders, 2016).

O teste consiste na administração de edrofônio intravenoso e na observação

quanto a melhora na força muscular, que pode ser objetivamente e confiavelmente

interpretada com a resolução da ptose palpebral ou melhoria na força de um único

músculo extraocular parético (Pascuzzi, 2003).

Efeitos colaterais comuns do edrofônio são aumento da salivação e sudorese,

náuseas, dores de estômago e fasciculações. Complicações graves como bradicardia e

síncope são raras (Ing et al, 2000), sendo relatados em apenas 0,16% dos testes com a

substância (Ing et al., 2005). Monitorização cardíaca durante o procedimento é

defendida por alguns (Pascuzzi R, 2003). Atropina (0,4-2 mg) deve estar disponível

para injeção IV se a bradicardia for grave.

O teste do edrofônio é positivo em cerca de 60% a 95% dos pacientes com MGO

e em 72% a 95% com MGG (Pascuzzi, 2003). Melhora após edrofônio não é exclusiva

para MG; também ocorre na Síndrome Miastênica Congênita (SMC), Síndrome de

Lambert-Eaton (SLE), aneurismas intracranianos, lesões de tronco encefálico, tumores

do seio cavernoso, doença renal em fase terminal e doenças musculares afetando os

músculos oculares (Guptill and Sanders, 2016).

Teste do bloco de gelo

O teste do bloco de gelo é um teste não-farmacológico sem morbidade, que

consiste em colocar uma bolsa de gelo sobre o olho por 2 a 5 minutos , avaliando

posteriormente a melhora da ptose palpebral (Meriggioli and Sanders, 2005). Este

teste apresenta alta sensibilidade e especificidade para MG, sugerindo que pode ser

útil em pacientes com ptose palpebral, particularmente se o teste com edrofônio for

negativo ou contra-indicado (Larner, 2004). O teste também pode ser positivo em

outras desordens da JNM (Alaraj et al., 2013), mas um teste do gelo negativo torna

improvável a MG (Fakiri et al., 2013).

TESTES IMUNOLÓGICOS

Os anticorpos do receptor de acetilcolina (anti-AChR) geralmente são

considerados como marcadores sorológicos específicos para MG. O teste amplamente

utilizado é ensaio da ligação do anticorpo anti-AChR. A sensibilidade do teste é cerca

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de 85% para o MGG e 50% para MGO (Stålberg et al, 2010). Quase todos os pacientes

MG timomatosos têm níveis elevados anticorpo anti-AChR (Guptill and Sanders, 2016).

Encontrar níveis elevados do anticorpo anti-AChR em um paciente com

características clínicas compatíveis essencialmente confirma o diagnóstico de MG, mas

medições de anticorpos normais não excluem a doença. O teste pode ser normal no

início dos sintomas e tornar-se anormal posteriormente no curso da doença; assim, a

repetição do teste é apropriada quando os valores obtidos dentro de 6 a 12 meses do

início dos sintomas forem normais (Guptill and Sanders, 2016).

Níveis de anticorpos anti-AChR tendem a ser menores em pacientes com MG

ocular ou generalizada leve, mas as concentrações de anticorpos anti-AChR variam

amplamente entre pacientes com graus semelhantes de fraqueza e, assim, não pode

prever com segurança a gravidade da doença em pacientes individuais. Os pacientes

podem ser falsamente soronegativos devido à imunossupressão ou se o teste for

realizado precocemente (Chan et al, 2007).

Além disso, o nível do anticorpo não é um marcador consistente da resposta

global para a terapia, e pode aumentar em alguns doentes com melhora dos sintomas.

Embora os níveis de anticorpos reduzam na maioria dos pacientes após tratamento

imunossupressor, podem reduzir também em pacientes que não melhoram (Sanders et

al, 2014). No entanto, se o nível de anti-AChR não cair após a imunoterapia, isso pode

indicar terapia inadequada.

Teste falso-positivo para anticorpo anti-AChR é raro, mas relatado na doença

hepática auto-imune, no lúpus sistêmico, em neuropatias inflamatórias, na esclerose

lateral amiotrófica, em pacientes com artrite reumatóide tratados com penicilamina,

pacientes com timoma sem MG, e em familiares de primeiro grau de pacientes com MG

adquirida auto-imune (Guptill and Sanders, 2016).

Pacientes com MG generalizada que são negativos para anti-AChR devem ser

testados para anticorpos anti-MuSK, que são encontrados em aproximadamente

aproximadamente 10% dos pacientes com MG ( aproximadamente 40% dos pacientes

(MGG negativos para o AChR) (McConville et al, 2004) e em alguns pacientes com

MG ocular) têm anticorpos circulantes anti-MuSK, um componente da membrana de

superfície essencial no desenvolvimento do junção neuromuscular (JNM). Estes

anticorpos anti-MuSK, que são predominantemente IgG4 e não fixam o complemento,

afetam negativamente a manutenção de do agrupamento do AChR na placa terminal,

levando à redução do número de AChRs funcionais (McConville et al, 2004; Niks et al,

2008). A fisiopatologia precisa da fraqueza muscular e da atrofia na MG anti-MuSK é

desconhecida. Estudos de biópsia muscular demonstraram pouca perda de AChR, mas

estudos detalhados da TNM na maioria dos músculos afetados não estão disponíveis. Os

eventos que levam a autossensibilização para MuSK são desconhecidos, mas o timo

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provavelmente não está envolvido. A imunopatologia celular é em grande parte

desconhecida, mas recentes estudos em pacientes MG anti-MuSK demonstraram

resposta pró-inflamatória associada a Th1 e Th17 (Yi et al, 2014).

Autoanticorpos IgG4 demonstraram ser o fator patogênico crucial da MG-

MuSK, causando defeitos de JNM pré e pós-sinápticos combinados com uma ausência

de resposta homeostática sináptica adequada, contribuindo para a fraqueza muscular

(Huijbers et al, 2013). Títulos de anticorpos anti-MuSK correlacionam-se com a

gravidade da doença e com a resposta à imunoterapia (Diaz-Manera et al, 2012; Evoli et

al, 2003).

Os anticorpos anti-AChR de baixa afinidade foram encontrados em cerca de

66% dos pacientes com MG generalizada soronegativos (Leite et al. 2008), mas o teste

não está atualmente comercialmente disponível.. Se os anticorpos de baixa afinidade

estão presentes na MG ocular ainda continua a ser determinado, mas este ensaio

baseado em células pode eventualmente fornecer um teste de diagnóstico mais sensível

para este subgrupo (Meriggioli and Sanders, 2009) (mais detalhes sobr e a MGSN, ver

texto descrito anteriormente).

Os anticorpos anti-músculo estriado (AcsStr), que reagem com elementos

contráteis do músculo esquelético, foram os primeiros auto-anticorpos descobertos na

MG. Estes anticorpos reconhecem proteínas musculares citoplasmáticas (titina, miosina,

actina e os receptores de rianodina), e são encontrados em 75% a 85% dos pacientes

com MG timomatosos e também em alguns timomas em pacientes sem MG (Romi et al,

2005; Cikes et al, 1988). A presença destes anticorpos na MG de início precoce levanta

a suspeita de um timoma. Os anticorpos contra a titina e outros anticorpos anti-músculo

estriado também são encontrados em até 50% dos pacientes com MG de início tardio,

não timomatosos, por isso são menos úteis como preditores de timoma em pacientes

com idade superior a 50 anos (Romi et al, 2005; Buckley et al, 2001).

A maioria dos anticorpos timoma-associados anti-músculo estriado são contra a

titina. O receptor de rianodina (RiR) é um canal de liberação de cálcio no retículo

sarcoplasmático do músculo esquelético. Os anticorpos anti-RiR ocorrem em 75% dos

pacientes com MG timomatosos, mas também podem estar presentes em pacientes com

LOMG sem timoma (Guptill and Sanders, 2016).

AcsStr não são patogênicos e são encontrados também em um terço de pacientes

com timoma que não têm MG e em um terço de pacientes com MG sem timoma. Eles

são mais frequentes em pacientes com MG mais velhos e naqueles com mais doença

mais grave, sugerindo que a gravidade da doença está relacionada com uma mais

resposta humoral vigorosa contra vários antígenos musculares (Romi et al., 2005).

StrAbs raramente são elevados na MG na ausência de anticorpos anti-AChR e

são, portanto, de uso limitado para confirmar o diagnóstico. O principal valor clínico da

StrAbs está na previsão timoma: 60% dos pacientes com MG com início antes dos 50

anos que apresentam níveis elevados de StrAbs têm timoma. A combinação de níveis

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elevados de anticorpos anti-AChR e StrAbs tem um valor preditivo positivo de 50%

para timoma na MGO de início precoce (DeCroos et al., 2013). Valores elevados de

StrAbs podem estar presentes na doença hepática auto-imune, no LES (infrequente) e

no câncer primário de pulmão.

A descoberta destes diferentes anticorpos indica que a MG é, imunologicamente,

uma doença heterogênea, e o real papel deles ainda é motivo de controvérsias.

2.8 TESTES ELETRODIAGNÓSTICOS

Testes eletrofisiológicos também são utilizados para o diagnóstico da MG, como

a prova estimulação repetitiva (PER), que é o teste eletrofisiológico mais comumente

usado na avaliação da transmissão neuromuscular (TNM). Em baixas frequências de

estimulação (3-5 Hz), a PER depleta o estoque de ACh prontamente liberado em placas

motoras doentes, causando falha da TNM. Caracteristicamente na MG, há um

decremento acima de 10%, com estímulos de 3-5 Hz. Isso pode estar presente no

repouso ou após um período de exercício (exaustão pós-ativação) (Guptill and Sanders,

2016). O resultado da PER é anormal em aproximadamente 75% dos pacientes com MG

generalizada (< 50% na MG ocular) e é mais provável que seja anormal em um músculo

proximal ou facial e nos músculos clinicamente fracos (Meriggioli and Sanders, 2005).

Para máximo rendimento diagnóstico, devem ser testados vários músculos,

particularmente aqueles que são fracos.

Se a PER for normal e existir uma forte suspeita para uma desordem da JNM,

deve-se executar a eletromiografia de fibra única (SFEMG) de, pelo menos, dois

músculos (incluindo pelo menos um músculo facial). A SFEMG é realizada utilizando-

se um eletrodo de agulha especial, que permite a identificação de potenciais de ação de

fibras musculares individuais. O exame revela jitter anormal em 95-99% dos pacientes

com MG se os músculos apropriados forem examinados (Sanders et al, 1979; Oh SJ et

al, 1992). Jitter normal em um músculo fraco exclui TNM anormal como a causa da

fraqueza (Guptill and Sanders, 2016). Embora altamente sensível, o aumento no jitter

não é específico para a doença primária da JNM, e pode ser encontrada em doenças do

nervo ou do músculo (Meriggioli and Sanders, 2005), devendo esse achado ser

obviamente correlacionado com os dados clínicos a fim de se excluir outras doenças

associada como neuropatias, doenças do neurônio motor ou miopatias.

Como referido acima, a SFEMG é o teste clínico mais sensível da TNM e mostra

aumento do jitter em alguns músculos em quase todos os pacientes com MG (Stålberg

et al., 2010). Jitter é maior em os músculos fracos, mas geralmente é anormal mesmo

em músculos com força normal. 60% dos pacientes com MG ocular mostram jitter

aumentado em um músculo do membro (classicamente, o músculo extensor comum dos

dedos), mas este resultado não prevê o desenvolvimento posterior de miastenia

generalizada.

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Em raros pacientes com fraqueza restrita a alguns músculos dos membros,

apenas um músculo fraco pode mostrar jitter anormal. Isto é particularmente verdade

em alguns pacientes com MG-MuSK (Stickler et al, 2005).

Atualmente, a utilização de agulha concêntrica com baixa área de captação tem

sido ampliada, contando inclusive com tabela de valores de normalidade. Dessa forma,

os custos limitantes da SFEMG tem sido amenizados pelo jitter com agulha concêntrica,

alem da expansão do exame como método diagnóstico na MG (Satlberg et al, 2016).

Outros procedimentos de diagnóstico

Pacientes com diagnóstico de MG devem ter um teste de função tireoidiana e um

exame de imagem torácica (TC ou RM) para avaliar um timoma possível. Timoma é

excepcionalmente raro em MG soronegativos, mas tem sido relatado (Maggi et al.,

2014; Rigamonti et al., 2014). Teste de tuberculose deve ser considerado se a utilização

de imunossupressão é contemplada.

2.9 TRATAMENTO E MANEJO

As perspectivas para pacientes com MG melhoraram consideravelmente nos

últimos anos, em grande parte devido aos avanços na medicina intensiva e ao uso de

agentes imunomoduladores. O objetivo terapêutico é devolver ao paciente a função

normal o mais rapidamente possível e ao mesmo tempo minimizar os efeitos colaterais

da terapia. Um certo número de opções terapêuticas estão disponíveis, mas o tratamento

deve ser individualizado de acordo com a extensão (ocular versus generalizada) e

gravidade (leve a grave) da doença, e a presença ou ausência de doenças concomitantes

(incluindo, mas não se limitando, a outras doenças auto-imunes e timoma).

O tratamento de pacientes com MG deve ser individualizado de acordo com a

apresentação clínica ou o subtipo, e requer uma avaliação global do comprometimento

funcional do paciente e seu efeito na vida diária. A meta terapêutica é que o paciente

retorne ao seu funcionamento normal tão rapidamente quanto possível, ao mesmo

tempo minimizando os efeitos colaterais da terapia. Inibidores da colinesterase (p. ex,

piridostigmina) podem ser suficientes em alguns pacientes com MG ocular ou doença

generalizada leve (com ou sem timectomia prévia) (Meriggioli and Sanders, 2009), mas

podem piorar o quadro de alguns pacientes com MG anti-MusK. Em pacientes tratados

com imunoterapias, a menor dose eficaz deve ser sempre determinada. Riscos a longo

prazo de infecções e malignidades não estão claramente definidos, mas as infecções

oportunistas e neoplasias têm sido associados com os imunossupressores comumente

utilizados na MG (Gedizlioglu et al, 2008; Vernino et al, 2005). É importante assegurar

que os pacientes também estejam cientes dos medicamentos que podem agravar os

sintomas da MG (medicamentos como antibioticos, betabloqueadores, bloqueadores do

canal de cálcio, lítio, toxina borulínica, contraste iodado etc) (Meriggioli and Sanders,

2009). Recentemente, exacerbações de MG foram relatadas em pacientes tomando

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estatinas (Oh SJ et al, Muscle Nerve 2008). A relação causal nesses casos pode ser

questionável dado o uso generalizado desses agentes, mas estatinas provavelmente

devem ser retiradas em caso de piora da MG na vigência da terapia (Meriggioli and

Sanders, 2009).

Inibidores da colinesterase (IChe)

Os inibidores da colinesterase oral aumentam a quantidade de acetilcolina

disponível para ligação na JNM e são considerados tratamento de primeira linha em

pacientes com MG (Drachman, 1994). Brometo de piridostigmina e o brometo de

neostigmina são os IChE mais utilizados. A piridostigmina é geralmente preferida,

porque tem uma menor frequência de efeitos gastrintestinais e maior duração de ação. A

dose oral inicial em adultos é de 30-60 mg a cada 4-8 horas e 1 mg / kg em lactentes e

crianças. A dose equivalente de neostigmina em adultos é de 7,5-15 mg e 0,3 mg / kg

em lactentes e crianças. A piridostigmina pode ser administrada durante 30-60 minutos

antes das refeições em pacientes com sintomas bulbares. Os inibidores da colinesterase

raramente induzem remissão sustentada dos sintomas de MG e não afetam a progressão

da doença, mas podem ser suficientes em alguns pacientes com doença puramente

ocular ou doença generalizada leve não progressiva. Doses de piridostigmina excedendo

450 mg diários (ou mesmo doses menores em doentes com insuficiência renal) pode

induzir piora da fraqueza muscular devido ao bloqueio da despolarização da transmissão

neuromuscular. A sobredosagem colinérgica é muitas vezes (mas nem sempre)

acompanhada por sintomas muscarínicos como hipersalivação, bradicardia, hiperidrose,

lacrimejamento e miose (Meriggioli and Sanders, 2009).

A piridostigmina também está disponível em xarope (60 mg / 5 mL) para

crianças ou para administração por sonda nasogástrica em pacientes com disfagia.

Piridostigmina de liberação controlada (180 mg) é útil como uma dose ao deitar

(―bedtime‖) para os pacientes que são demasiado fracos para engolir na parte da manhã.

A absorção é errática, no entanto, levando a uma possível sobredosagem ou

subdosagem, e não é útil durante as horas de vigília (Guptill and Sanders, 2016).

Os efeitos adversos dos IChE resultam da acumulação de ACh nos receptores

muscarínicos no músculo liso, nas glândulas autonômicas e nos receptores nicotínicos

do músculo esquelético. Efeitos secundários do sistema nervoso central são raros com

as doses preconizadas para MG. As queixas gastrointestinais são comuns: náuseas,

vômitos, dores abdominais e diarréia. Aumento das secreções brônquica e oral pode ser

um problema grave em pacientes com distúrbio da deglutição ou insuficiência

respiratória. Estes sintomas de sobredosagem muscarínica podem indicar que a

sobredosagem nicotínica (fraqueza) está ocorrendo também. Drogas que suprimem os

efeitos colaterais gastrointestinais incluem cloridrato de loperamida, brometo de

propantelina, glicopirrolato, e cloridrato de difenoxilato com atropina (Guptill and

Sanders, 2016).

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Os pacientes com MG anti-MuSK podem ter piora do quadro com o IChE ou,

então, necessitar de doses maiores do que pacientes MG não-Musk. Bromismo, que se

apresenta como uma psicose aguda, é uma rara complicação relacionada a grandes

quantidades de brometo de piridostigmina. Medição do nível de brometo sérico

confirma o diagnóstico. Alguns pacientes são alérgicos a brometo e podem desenvolver

uma erupção cutânea mesmo em doses modestas (Guptill and Sanders, 2016).

Imunoterapias de curto Prazo (rápido início)

A plasmaférese (PLEX) reduz temporariamente os níveis de anticorpos

circulantes, produzindo melhora clínica em questão de dias na grande maioria dos

pacientes com MG adquirida. Geralmente, é utilizada para o tratamento de curto prazo

da MG grave, crise miastênica, preparação para a cirurgia (por exemplo, timectomia),

ou para impedir as exacerbações induzidas por corticosteróides. Um curso típico de

plasmaférese consiste de 5-6 trocas administradas em dias alternados, durante o qual 2

de 3 litros de plasma são removidos. A decisão quanto ao número total de sessões

dependerá da resposta clínica e da tolerabilidade, e alguns pacientes podem requerer

mais do que seis trocas (Meriggiol and Sanders, 2009).

O benefício de um curso de PLEX normalmente começa a reduzir após 4

semanas, mas pode persistir por até 3 meses. No entanto, terapia imune de longa-

duração mantém o controle dos sintomas. A maioria dos doentes que respondem ao

primeiro curso de PLEX respondem novamente a cursos subseqüentes. Trocas repetidas

não têm um benefício cumulativo e a PLEX não deve ser utilizada como terapia de

manutenção crônica, a menos que outros tratamentos falhem ou sejam contra-indicados

(Guptill and Sanders, 2016).

Os efeitos colaterais durante a PLEX incluem parestesias por hipocalcemia

citrato-induzida, hipotensão sintomática, arritmias cardíacas transitórias, náuseas,

tonturas, calafrios. As complicações mais graves estão relacionadas com o uso do

acesso venoso central, como tromboses, infecções e pneumotórax (Meriggioli and

Sanders , 2009; 8: 475–90). A PLEX também pode reduzir fatores da coagulação,

particularmente com tratamentos repetidos, levando a tendências hemorrágicas

(Seybold, 1987).

A imunoglobulina intravenosa (IgIV) é amplamente utilizada em pacientes com

MG exacerbada. O suporte para o seu uso vem de ensaios controlados randomizados

que mostram eficácia semelhante à plasmaférese (Zinman et al, 2007), com eficiência

igual das duas doses (1 g / kg vs 2 g / kg) (Gajdos et al 2005).

Com a IgIV melhora clínica em MG ocorre em 50 a 100% dos pacientes após

infusão de altas doses de IgIV, tipicamente administrada numa dose de 2 g / kg dada ao

longo de 2 a 5 dias. A melhora geralmente começa dentro de 1 semana e dura várias

semanas ou meses. Classe I de evidência suporta o uso de IgIV para tratar pacientes

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com exacerbações refratárias (Donofrio et al., 2009), mas há pouca evidência para

aconselhar o clínico sobre a dose adequada de IgIV e a duração de terapia. Um estudo

duplo-cego, controlado por placebo em pacientes com MG, com piora da fraqueza,

mostrou que IgIV induzia melhora rápida da força muscular, mas este efeito foi mais

pronunciado e provavelmente mais clinicamente significativo em pacientes com MG

moderada a grave (Zinman et al, 2007). IgIV induz uma melhora rápida em pacientes

com doença grave ou crise e reduz a morbidade perioperatória antes de cirurgia, e pode

ser utilizado cronicamente em pacientes selecionados refratários. Pode ser

particularmente útil como uma alternativa à PLEX em crianças com acesso vascular

limitado. Embora a IgIV tenha demonstrado uma eficácia semelhante à PLEX no

tratamento das exacerbações da MG, não está claro se é tão eficaz na crise miastênica,

uma vez que os estudos de comparação publicados não têm um número suficiente de

pacientes com crise e não há comparações diretas em relação ao início da melhora

(Barth et al, 2011).

Efeitos colaterais comuns da IgIV incluem cefaléia, calafrios e febre, que

geralmente melhoram quando se utiliza uma taxa de infusão lenta. Complicações graves

são raras, mas incluem toxicidade renal, acidente vascular cerebral, leucopenia e

meningite asséptica. Formas liofilizadas de IgIV podem estar associadas a uma maior

prevalência de eventos adversos em pacientes com doenças neuromusculares (Nadeau et

al, 2010).

Imunoterapias de longo prazo

Com relação a terapia de manutenção, os corticosteróides foram os primeiros

imunossupressores a serem amplamente utilizados na MG, e continuam a ser os mais

utilizados até hoje (Vincent and Drachman, 2002). Em quatro grandes séries

retrospectivas de tratamento com esteróide na MG generalizada, administrada em várias

doses, mais de 73% dos 422 doentes tratados obtiveram melhora acentuada ou remissão

dos sintomas (Pascuzzi et al, 1984; Evoli et al, 1992). A prednisona geralmente é

utilizada quando os sintomas da MG não são adequadamente controlados apenas por

inibidores da colinesterase (Vincent and Drachman, 2002). Pode ser administrada em

doses elevadas (0,75-1,0 mg / kg por dia) inicialmente e, em seguida, diminui-se

gradualmente a dose ou mantém-se em doses baixas por muitos anos.

Aproximadamente um terço dos doentes têm uma exacerbação temporária após o início

da medicação; isso geralmente ocorre dentro dos primeiros 7-10 dias com doses

elevadas de prednisona e dura vários dias (Pascuzzi et al, 1984; Evoli et al, 1992).

Em casos de piora leve, os inibidores da colinesterase podem ser utilizados. Em

doentes com fraqueza de musculatura orofaríngea ou envolvimento respiratório, a

plasmaférese ou a imunoglobulina intravenosa podem ser administradas antes da

prednisona, para prevenir ou reduzir a gravidade da exacerbação induzida pelo

corticosteróide e induzir uma resposta mais rápida. Uma vez que ocorre melhora do

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quadro inicial, exacerbações subsequentes induzidas por corticosteróides são incomuns

(Meriggioli and Sanders, 2009).

Alguns clínicos preferem iniciar a prednisona com doses menores (10-25 mg) e

aumentar gradualmente a dose (Seybold and Drachman, 1974). A dose é mantida até

que uma máxima melhora seja obtida e, em seguida, a dose é lentamente reduzida.

Considerando o fato de os corticosteroides serem altamente eficazes na MG, além do

baixo custo da medicação, geralmente devem ser utilizados cronicamente, havendo,

porém, um risco significativo de efeitos adversos, tais como obesidade, catarata,

glaucoma, hipertensão, hipocalemia, retenção de fluidos e de sódio, osteoporose,

alteração da glicemia, ansiedade e depressão, miopatia por esteroide, doença ulcerosa

péptica, dentre outros (Frauman, 1996). A maioria dos efeitos colaterais melhoram com

a redução da dose e tornam-se mínimos com uma dose menor que 20 mg em dias

alternados. Uma dieta com baixo teor de gordura e baixo teor de sódio, além de

exercício, pode minimizar o ganho de peso associado com a medicação. Suplemento de

cálcio e vitamina D com bisfosfonatos são úteis para combater a osteopenia,

particularmente em mulheres na pós-menopausa. Ansiolíticos e antidepressivos podem

ser necessários em alguns casos de transtorno do humor, assim como suplementação

com potássio (se desenvolvimento de hipocalemia) e anti-hipertensivos (se hipertensão

persistente). Exame oftalmológico anual (pelo menos) deve ser realizado em pacientes

com uso prologado de esteróide (Meriggioli and Sanders, 2009).

Na MG ocular, a prednisona oral em doses relativamente baixas (20 mg / dia, ou

aumento de 5-10 mg / dia a cada 3 dias até resolução dos sintomas) pode ser mais eficaz

do que os anticolinesterásicos (Bhanushali et al, 2008) , devendo ser considerada em

todos os pacientes que não conseguem o controle total dos sintomas com os inibidores

da colinesterase. Embora não definitivo, evidências sugerem que o tratamento com o

corticosteróide pode retardar ou reduzir a frequência de progressão para a forma

generalizada da doença (Kupersmith et al, 2003).

Pacientes com timoma geralmente respondem bem à prednisona, antes ou depois

a remoção do tumor (Guptill and Sanders, 2016).

A dose inicial de prednisona (0,75-1,0 mg / kg / dia) é alta e deve ser mantida até

que ocorra uma melhora sustentada, geralmente dentro de 2 semanas. Em seguida, deve-

se reduzir a dose ao longo de muitos meses para a menor quantidade necessária, que é

idealmente inferior a 15 mg em dias alternados. Se alguma fraqueza retornar durante a

redução da dose, a medicação deve ser aumentada novamente, ou outro

imunossupressor deve ser adicionado, ou ambos, para evitar deterioração. A interrupção

da droga quase invariavelmente leva ao retorno de fraqueza, mas uma dose muito baixa

(5 a 10 mg em dias alternados) pode ser suficiente para manter o quadro estável em

muitos pacientes.

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A associação da prednisona com outros imunossupressores, tais como

azatioprina, ciclosporina, micofenolato de mofetil ou outras drogas imunossupressoras

pode produzir mais benefícios do que qualquer um dos fármacos isoladamente.

Agentes imunossupressores não esteroidais

Vários imunossupressores são supostamente eficazes na MG. A azatioprina

(AZA) é um antimetabólito da purina que interfere com a proliferação de células T e B e

é o imunossupressor não esteroidal com o histórico mais longo na MG. Estudos

retrospectivos indicam que a azatioprina é eficaz em 70-90% de pacientes com MG,

mas o início do benefício pode demorar de 6 a 12 meses (Witte, 1984; Mantegazza,

1988). A AZA ( iniciada com 50 mg por dia) pode ser utilizada isoladamente ou como

agente poupador de esteróide, mas quando utilizada em combinação com a prednisona

pode ser mais eficaz e melhor tolerada do que a prednisona isoladamente (Palace et al,

1998) Na ausência de efeitos secundários sistêmicos, a dose é aumentada gradualmente

( 50 mg por semana) até a dose de 2-3 mg / kg. Após atingir o benefício máximo, deve-

se reduzir (AZA) lentamente para a dose mínima eficaz, que pode ser tão baixa quanto

50 mg / dia. O efeito poupador de esteróide durante a terapia de longo prazo é

especialmente benéfico em pacientes mais velhos (Evoli et al, 2000; Hart et al, 2007;

Slesak et al, 1998).

Uma reação idiossincrática, com sintomas "gripais" (influenza-like), pode

ocorrer dentro de 10 a 14 dias após o início da AZA, em 15% a 20% dos pacientes. Esta

reação requer a interrupção da medicação. O uso de doses divididas após as refeições ou

a redução da dose minimiza a irritação gastrointestinal. Hepatotoxicidade e leucopenia

são também efeitos adversos importantes (Kissel et al, 1986), mas são reversíveis se

detectados precocemente e se a dose da AZA for reduzida ou descontinuada. A

leucopenia e até pancitopenia podem ocorrer em qualquer momento durante o

tratamento, mas não são comuns em fases mais tardias do tratamento. Dessa forma,

hemograma e enzimas hepáticas devem ser solicitadas semanalmente durante o primeiro

mês, a cada 1 a 3 meses no primeiro ano, e a cada 3 a 6 meses após esse período. Deve-

se reduzir a dose se a contagem de células brancas do sangue periférico cair abaixo de

3.500 células / mm3 e depois, gradualmente, aumentar a dose, após a contagem de

leucócitos elevar-se. Suspender imediatamente a droga se a contagem cair abaixo de

1.000 células / mm3. Além disso, deve-se interromper o tratamento se a concentração

das transaminases no soro excederem o dobro do limite superior normal; reiniciar em

doses mais baixas após valores normalização dos valores. Cerca de 80% de doentes

tratados com azatioprina tem um aumento significativo volume corpuscular (VCM) dos

eritrócitos, que é visto mais frequentemente nos pacientes que respondem ao tratamento

(em relação aos não-respondedores) (Guptill and Sanders, 2016).

Pacientes com deficiência da tiopurina metiltransferase não metabolizam a

azatioprina completamente, e uma dose normal (de AZA) pode levar a leucopenia grave

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(Slanar et al, 2008). A medição das concentrações de tiopurina metiltransferase é

recomendada antes de iniciar a terapêutica com azatioprina, e é certamente aconselhável

no caso de leucopenia precoce ou importante induzida pela medicação (Slanar et al,

2008).

O uso de longo prazo da azatioprina pode aumentar o risco de desenvolvimento

de certas malignidades (Confavreax et al, 1996). Este risco é provavelmente dose e

tempo dependente, de modo que a dose mínima efetiva de manutenção deve ser

utilizada (Meriggioli and Sanders, 2009). A AZA não parece aumentar o risco de câncer

com um tempo de tratamento inferior a 10 anos (Confavreux et al., 1996). Linfoma,

síndromes mielodisplásicas e infecções oportunistas graves têm sido raramente

observadas em pacientes miastênicos sob terapêutica com AZA (Herrlinger et al, 2000;

Hohlfeld et al, 1988). Há uma incidência significativamente aumentada de

hiperqueratose cutânea e câncer de pele, o que é atribuído ao aumento da

fotossensibilidade a UVA, requerendo, portanto, avaliação dermatológica regular nesses

pacientes (Guptill and Sanders, 2016).

Sintomas miastênicos podem recorrer na retirada abrupta da azatioprina, apesar

de um curso estável, podendo até mesmo apresentar crise miastênica (Hohlfeld et al,

1985; Michels et al, 1988). Em 10%-20% de pacientes com MG, estabilização

satisfatória não é conseguida com a AZA em combinação com corticosteróides,

exigindo o uso de outros agentes imunossupressores (Guptill and Sanders, 2016).

O micofenolato de mofetil (MMF) é um bloqueador seletivo da síntese de

purina, suprimindo assim tanto a proliferação de células B quanto de células T. Estudos-

piloto e uma análise retrospectiva com 85 pacientes tem sugerido eficácia na MG (Hehir

et al, 2010; Meriggioli et al, 2003). Doses mais elevadas estão associadas à

mielossupressão e hemogramas completos devem ser solicitados pelo menos

mensalmente. Dois ensaios controlados com o micofenolato de mofetil falharam em

demonstrar benefícios adicionais em relação a 20 mg de prednisona por dia como

imunoterapia inicial na MG (Muscle Study Group, 2008) e outros não mostram um

efeito poupador de esteróide significativo com o MMF (Sanders et al., 2008). Vários

fatores foram citados para explicar esses resultados negativos, incluindo doença

generalizada leve dos pacientes, resposta melhor do que a esperada a doses

relativamente baixas prednisona e a curta duração dos estudos (Sanders and Siddiqi,

2008). Embora a eficácia clínica do MMF na MG continue a ser uma questão em aberto,

a droga continua sendo amplamente utilizada no tratamento da MG (Meriggioli and

Sanders, 2009), como monoterapia ou como agente poupador de esteróide, e foi

aprovada como um tratamento off-label para MG na Alemanha em 2012 (Guptill and

Sanders, 2016).

A dose padrão do MMF é de 1000 mg duas vezes por dia, mas doses de até 3000

mg por dia podem ser utilizadas. Em geral, os efeitos secundários são relativamente

leves e mais comumente consistem em diarréia, náuseas e dor abdominal. O MMF é

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contra-indicado durante gravidez por causa de uma elevada taxa de malformações e

abortos espontâneos (FDA, 2007) e deve ser descontinuado pelo menos 4 meses antes

de se planejar uma gravidez. Em caso de gravidez não programada, deve ser

interrompido imediatamente e um exame ultra-sonográfico com consulta a um

especialista deverá ser realizado. A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP)

tem sido observada raramente em pacientes fortemente imunossuprimidos recebendo

MMF, e casos isolados de linfoma primário do SNC e distúrbio proliferativo de células

T têm sido relatados em pacientes com MG tratados com a droga (Dubal et al, 2009;

Vernino et al, 2005).

A ciclosporina (CYA) é um potente imunossupressor que se liga à proteína

citosólica ciclofilina de linfócitos imunocompetentes, especialmente linfócitos T. Este

complexo de CYA e ciclofilina inibe a calcineurina, que ativa a transcrição da

interleucina-2. Também inibe a produção de linfocinas e a liberação de interleucina e

reduz a função de células T efetoras. Análises retrospectivas relataram melhora na

maioria dos pacientes com MG sob terapia com ciclosporina, com ou sem

corticosteróides (Ciafaloni et al., 2000). Efeitos colaterais são comuns e incluem

hirsutismo, tremor, hiperplasia gengival e anemia, mas hipertensão e nefrotoxicidade

cumulativa são os principais efeitos adversos (Ciafaloni et al., 2000).

A dose diária inicial recomendada de ciclosporina é de 4-6 mg / kg em duas

doses divididas, mas doses diárias de 3-4 mg / kg ou menos são frequentemente

adequadas para manter o efeito (Meriggioli and Sanders, 2009). Monitorar a pressão

arterial e a creatinina sérica mensalmente e ajustar a dose visando uma creatinina

inferior a 150% dos valores pré-tratamento. Depois disso, medir a concentração de

creatinina sérica a cada 2 a 3 meses (pelo menos), ou mais frequentemente, se um outro

medicamento for iniciado e interagir com a ciclosporina (Guptill and Sanders, 2016).

Melhora se inicia dentro de 2 a 3 meses na maioria dos pacientes; a melhora

máxima necessita de 6 meses ou mais. Assim como com a AZA, a prednisona pode ser

iniciada simultaneamente com a ciclosporina e a dose reduzida ou interrompida após a

ciclosporina se tornar eficaz. Em seguida, reduzir a ciclosporina à mínima dose eficaz,

que pode ser tão pequena como 50 mg / dia (Guptill and Sanders, 2016).

O tacrolimus (FK506) é um inibidor da calcineurina com mecanismo de ação

semelhante à ciclosporina e inibe seletivamente a transcrição de citocinas pró-

inflamatórias e IL-2 em linfócitos T. O efeito dose-dependente do tacrolimus é 10 a 100

vezes mais forte do que o da ciclosporina e o perfil de efeitos colaterais é comparável.

Doses diárias de 3-5 mg têm sido utilizados em diferentes séries, com um efeito lateral

que sugere que a droga é menos nefrotóxica do que a ciclosporina nas doses utilizadas

na MG, mas hiperglicemia, devido à inibição da insulina, é relativamente comum no

transplante de pacientes que receberam tacrolimus. Níveis de potássio aumentados

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podem ocorrer e há interações com outros fármacos e alimentos, em particular com suco

de uva (Guptill and Sanders, 2016).

O potencial benefício do tacrolimus tem sido sugerido por vários relatórios

(Ponseti et al, 2008; Nagane et al, 2005), incluindo um estudo randomizado, não cego,

com 36 pacientes com MG adquirida (Nagane et al, 2005). Benefício sustentado tem

sido relatado em pacientes anti-receptor de rianodina positivos, sendo aventada a

hipótese de estar relacionada ao aumento do número de receptores de rianodina

relacionados a liberação de cálcio sarcoplasmático (Takamori et al, 2004).

Até o momento, não existem resultados de estudos bem desenhados, controlados

e ensaios clínicos randomizados com relação ao tacrolimus. Enquanto se aguarda um

estudo mais aprofundado, deve ser considerada como terapia adjuvante na MG refratária

e como um agente poupador de esteróide em doentes intolerantes ou não respondedores

a AZA, o MMF e CYA (Guptill and Sanders, 2016).

Um estudo prospectivo de metotrexato (MTX) em MG está atualmente em

andamento, mas estudos sistemáticos não estão disponíveis. Ele pode ser usado como

uma reserva de tratamento na forma como é utilizado na artrite reumatóide-uma dose de

7,5-25 mg por via oral ou IV, administrada uma vez por semana. Alguns especialistas

preferem MTX mais ciclosporina como imunossupressão de segunda linha em idosos

(Hilton-Jones, 2007).

Uma pequena porcentagem de pacientes com MG são refratários ou

desenvolvem efeitos colaterais intoleráveis ao tratamento com corticosteróides em

combinação com um ou mais dos imunossupressores descritos acima. Agentes que

podem ser considerados nestes pacientes refratários incluem ciclofosfamida e rituximab

(Meriggioli and Sanders, 2009).

Em um ensaio controlado randomizado, pulsoterapia com ciclofosfamida

intravenosa (500 mg / m²) administrada a pacientes com MG refratária melhoraram a

força muscular e reduziram a necessidade de esteróides (De Feo et al, 2002). Respostas

terapêuticas notáveis também foram relatadas em pacientes com MG refratária que

receberam um ciclo IV de 50 mg / kg de ciclofosfamida por uma única vez, durante 4

dias, seguido de terapêutica de resgate, com benefícios que persistiram durante vários

anos sem recorrência (Drachman et al, 2003; Drachman et al, 2008). Efeitos colaterais

da droga são comuns e potencialmente graves, e incluem mielossupressão, cistite

hemorrágica e um risco aumentado de infecção e malignidades (Martin et al, 1997).

Rituximab é um anticorpo monoclonal quimérico dirigido contra o marcador de

superfície de células B CD20. Reduz efetivamente a contagem de células B em

circulação e, com base no seu potencial para direcionar clones de células B

autorreativos, tem um papel terapêutico em doenças auto-imune mediadas por

anticorpos. Vários relatos de casos sugeriram benefícios em pacientes com MG

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refratária (Gardner et al,2008; Tandan et al, 2008), particularmente nos pacientes com

MG anti-MuSK (Diaz-Manera et al, 2012.; Guptill e Sanders, 2010; Keung et al., 2013;

Meriggioli e Sanders, 2009). Apesar da ausência de ensaios rigorosamente controlados,

as respostas positivas relatadas, com melhora muitas vezes dramática e remissões

duradouras, além de um perfil de segurança favorável, justificam o uso de rituximab em

pacientes com MG-MuSK. Ensaios controlados em curso devem definir melhor o papel

do rituximab em MG anti-AChR.

2.10 MG REFRATÁRIA

A utilização de imunossupressores para o tratamento da MG tem notavelmente

reduzido a mortalidade e melhorado a qualidade de vida (Newsom-Davis, 2003). No

entanto, um subgrupo de pacientes com MG não responde a este tratamento, apesar do

uso de múltiplas combinações de fármacos e são conhecidos como pacientes resistentes

a fármacos. Os doentes com MG com anticorpos anti-MuSK mais frequentemente têm

uma resposta limitada às terapêuticas padrão do que os pacientes com anti-AChR

(Pasnoor et al, 2010). Assim, vários autores descobriram que o rituximab é eficaz no

tratamento da MG fármaco-resistente (Pescovitz, 2006; Guptill and Sanders, 2010).

Em um artigo publicado em 2012 (Díaz-Manera et al,2012), os pacientes

foram considerados fármaco-resistentes quando não houve melhora clínica após a

paciente ter recebido prednisona e pelo menos 3 imunossupressores de segunda linha

(há uma variação na literatura). Foi administrado rituximab em uma dose padrão de 375

mg / m2 por semana durante 4 semanas consecutivas e, em seguida, mensalmente por 2

meses. A repetição das infusões foram administradas somente quando os sintomas

miastênicos reapareceram e interferiram nas atividades da vida diária. O estudo mostrou

que dos 17 pacientes com MG refratária (6 anti-MuSK: 5 MGFA IVB e 1 classe V; e 11

anti-ACh+), o tratamento com rituximab resultou em melhora em 16 dos 17 pacientes;

não houve diferença na resposta obtida com base na duração da doença antes indicação

do rituximab . A resposta foi qualitativamente diferente nos pacientes de anti-MuSK

(melhor status clínico após tratamento e manutenção da resposta em longo prazo em

relação aos anti-AChR), que adquiram uma manifestação mínima 3 meses após o

tratamento e, depois de um seguimento médio de 35 meses, todos eles permaneceram

com manifestações mínimas ou estado de remissão, não necessitando de mais infusões.

Estudos prévios também já relataram eficácia com o rituximab, com uma boa

resposta clínica em 96% (25/26) de pacientes MG anti-MuSK e 81% (30 /37) dos

doentes com MG anti-ACh após um seguimento médio de 19 meses (Guptill and

Sanders, 2010; Blum et al, 2011). Contudo, os dados referentes às condições clínicas e a

resposta a longo prazo entre os dois grupos não foi comparada. No artigo Díaz-Manera

et al. 2012, com base em um longo período de acompanhamento (31 meses), os

resultados indicam que a resposta foi melhor e mais persistente no grupo anti-MuSK,

porque todos os pacientes mantiveram uma remissão ou manifestações mínimas 3 anos

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após o tratamento, em contraste com anti-AChR, nos quais observou-se que 54%

tiveram recidivas requerendo reinfusões e imunossupressores simultâneos de cujo

tratamento imunossupressor não pode ser reduzido.

O rituximab tem uma baixa taxa de eventos secundários em pacientes com

doenças auto-imunes. O mais comum são efeitos adversos relacionados com a infusão e

podem ser facilmente prevenidos com um pré-tratamento com com hidrocortisona e

difenidramina. Apesar deste perfil de efeitos secundários favorável, casos de

Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) foram ocasionalmente relatados em

pacientes com doença auto-imunes, como a artrite reumatóide, tendo uma frequência

estimada de 1 / 25.000 casos tratados. Até o momento, não há relatos de pacientes com

MG tratados com rituximab que desenvolveram LEMP, mas é recomendável fazer um

acompanhamento da complicação(Díaz-Manera, et al, 2012).

2.11 TIMECTOMIA

Outro consideração importante no tratamento diz respeito ao papel do timo. O

uso da timectomia em MG foi inicialmente baseado em observações empíricas que os

pacientes com MG melhoravam após a remoção do timo (Blalock et al, 1946). Não

houve nenhum ensaio clínico randomizado, e conclusões a partir de estudos

retrospectivos, não-randomizados, comparando diferenças basais entre os grupos

cirúrgicos e não-cirúrgicos (Meriggioli e Sanders, 2009). Uma meta-análise abrangente

concluiu que havia provavelmente algum benefício com a timectomia, e que deveria ser

considerada como uma opção de tratamento em doentes selecionados (Gronseth and

Barohn, 2000). A maioria dos especialistas consideram a timectomia como uma opção

terapêutica nos casos de anti-AChR-positivo, MG generalizada, com o início da doença

antes da idade de 40 anos, e alguns também recomendam em pacientes que não

possuem anticorpos anti-AChR (Meriggioli e Sanders, 2009). No momento, a única

indicação absoluta de timectomia é a presença de timoma (Meriggioli e Sanders, 2009).

O papel da timectomia na MG anti- MUSK não está claro (Sanders et al, 2003; Lavrnic

et al, 2005) e à princípio não deve ser indicada.

2.12 CRISE MIASTÊNICA (CM)

Todos os pacientes com MG que apresentem insuficiência respiratória por

fraqueza muscular e que necessitam de assistência ventilatória devem ser considerados

em CM (Lacomis, 2005; Bedlack and Sanders, 2002).

Embora não haja uma definição universalmente aceita, a CM deve ser

considerada uma verdadeira emergência neurológica caracterizada por "fraqueza grave

dos músculos bulbares e/ou respiratórios, o suficiente para causar incapacidade de

manter uma ventilação e/ou permeabilidade adequada das vias aéreas superiores,

causando insuficiência respiratória que requer ventilação artificial ou suporte

ventilatório" (Lacomis, 2005; Bedlack and Sanders, 2002). Pacientes miastênicos em

pós-operatório, cuja extubação foi adiada por mais de 24 horas também deve ser

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considerado CM (Chaudhuri A, Behan PO. Myasthenic crisis. QJM 2009;102:97-107).

Geralmente, pacientes com CM correspondem à classe 3 ou 4 na classificação de

Osserman e Genkins (Nicolle, 2002) ou classe V de acordo com a Myasthenia Gravis

Foundation (Nicolle, 2002).

Intubação geralmente é indicada se houver evidência de fadiga da musculatura

respiratória, com o aumento da taquipnéia e diminuição do volume corrente, hipoxemia,

hipercapnia, e risco de broncoaspiração (Meriggioli and Sanders, 2009). É recomendado

descontinuar o uso de inibidores da colinesterase após a intubação, porque pode

complicar o manuseio das secreções das vias aéreas e não são necessários para suporte

das funções vitais (Meriggioli and Sanders, 2009). Devido ao seu rápido início de ação,

a plasmaférese é o tratamento de escolha para a crise miastênica (Meriggioli and

Sanders, 2009). Os estudos de comparação sugerindo que imunoglobulina intravenosa é

igualmente eficaz na crise miastênica geralmente utilizam regimes subótimos de

plasmaférese e não comparam o início da resposta (Gajdos et al., 1997). Como o efeito

da troca de plasma é apenas temporário, tratamento com imunossupressores de longa

duração devem ser adicionados para manter um efeito terapêutico mais duradouro

(Meriggioli e Sanders, 2009).

O momento da extubação e os fatores que predizem o sucesso não estão bem

estabelecidos, mas um relato indica que a atelectasia é o maior preditor da necessidade

de reintubação (Seneviratne et al, 2008). Ventilação mecânica não invasiva com o uso

de pressão positiva de dois níveis (BiPAP) pode reduzir a necessidade de intubação em

pacientes miastênicos com hipercapnia não desenvolvida (pressão parcial de CO2 > 50

mm Hg) (Rabinstein and Wijdicks, 2002; Seneviratne et al, 2008).

2.13 MG E ASSOCIAÇÃO COM OUTRAS DOENÇAS

MG é frequentemente associada a outras doenças imunomediadas, especialmente

hipertireoidismo e artrite reumatóide (Nakata et al, 2013; Ramanujam et al, 2011).

Estudos têm mostrado associações com a síndrome de Guillain-Barré, Pênfigo e

dermatomiosite (Eaton et al., 2007). As convulsões ocorrem com maior freqüência

em crianças com MG. Diabetes mellitus e outras doenças da tireóide também podem

ocorrer. Neoplasia extratímica também tem sido relatada, especialmente na idade

avançada, possivelmente devido a um quadro desregulação imune (Levin et al,

2005).

2.14 CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA

A severidade e extensão flutuante dos sintomas de miastenia grave, assim como

a grande variabilidade de grupos musculares envolvidos, tornam extremamente

difícil a classificação destes pacientes. Classicamente, a escala de Osserman tenta

classificar os pacientes de acordo com o acometimento ocular ou sistêmico, assim

como em relação à evolução da doença.

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Classificação de Osserman OSSERMAN e GENKINS (1971):

-Grau I – Ocular Pura Grau .

-Grau II a – Generalizada leve com lenta progressão, sem crises, responsiva a

drogas.

-Grau II b – Generalizada moderada, envolvimento esquelético e bulbar, mas

sem crises, com respostas limitadas às drogas.

-Grau III – Aguda fulminante com rápida progressão para insuficiência

respiratória.

-Grau IV – Tardia grave a qual progride como a grau 3, porém fica mais de dois

anos como grau I ou II.

Com o intuito de minimizar o aspecto subjetivo da classificação de Osserman, e

tentar uniformizar os grupos de pacientes de acordo com a gravidade dos sintomas

para tentar estabelecer linhas terapêuticas comparáveis, criou-se uma nova

classificação clínica, a Myasthenia Gravis Foundation of America (MGFA)

Clinical Classification (JARETZKI III et al., 2000):

-Classe I – Fraqueza ocular, sem comprometimento de outros músculos.

-Classe II – Fraqueza leve afetando além da musculatura ocular.

IIa – Afetando predominantemente membros, musculatura axial ou ambos. Pode

ter menor envolvimento de musculatura orofaríngea.

IIb – Afetando predominantemente orofarínge, musculatura respiratória ou

ambos. Pode ter menor ou igual envolvimento de membros, musculatura axial ou

ambos.

-Classe III – Fraqueza moderada afetando além da musculatura ocular.

IIIa – Afetando predominantemente membros, musculatura axial ou ambos.

Pode ter menor envolvimento de musculatura orofaríngea.

IIIb – Afetando predominantemente orofaringe, musculatura respiratória ou

ambos. Pode ter menor ou igual envolvimento de membros, musculatura axial ou

ambos.

-Classe IV – Fraqueza grave afetando além da musculatura ocular.

IVa – Afetando predominantemente membros, musculatura axial ou ambos.

Pode ter menor envolvimento de musculatura orofaríngea.

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IVb – Afetando predominantemente orofaringe, musculatura respiratória ou

ambos. Pode ter menor ou igual envolvimento de membros, musculatura axial ou

ambos.

-Classe V – Definida por intubação, com ou sem ventilação mecânica, exceto

quando utilizada de rotina no pós operatório. O uso de catéter de oxigênio sem

intubação classifica o paciente como IV b.

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3. JUSTIFICATIVA

A Miastenia Gravis é uma doença neuromuscular relativamente comum que, apesar

de ter uma mortalidade cada vez menor, representa uma importante causa de morbidade

na população geral, gerando custos com internações por descompensação da doença e

complicações associadas (infecções hospitalares, intubação, etc) e relativas às opções

terapêuticas de resgate (plamaférese, imunoglobulina etc). O diagnóstico e o tratamento

adequado, quando realizados precocemente, podem aumentar o tempo de sobrevida, a

qualidade de vida dos portadores da doença e até mesmo evitar internações.

Com o acompanhamento em um ambulatório especializado, pode-se dar ao paciente

a oportunidade de obter uma estabilização da sua doença e um menor número de

recidivas, com uma melhora importante na qualidade de vida do enfermo.

Com esta pesquisa esperamos comparar nossos resultados com os já publicados

em outros centros (nacionais e internacionais) e acrescentar ao nosso serviço

informações sobre a patologia em questão.

É necessário conhecer nossa epidemiologia e nos embasar nos resultados do

nosso estudo, para melhor intervir no manejo dos pacientes com miastenia. .

4. OBJETIVOS

4.1 GERAL

Avaliar o perfil clínico, epidemiológico, sorológico e eletrofisiológico dos

pacientes portadores de Miastenia Gravis acompanhados no Ambulatório de

Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).

4.2 ESPECÍFICOS

Estratificar critérios utilizados para diagnóstico da miastenia gravis

(clínico/exame físico, exames laboratoriais/testes sorológicos e

eletrofisiológicos).

Classificar os pacientes selecionados em categorias como: fatores causais

(primários ou secundários), início dos sintomas (congênita, infância,

adolescência ou idade adulta), número de internações (crises miastênica,

exacerbação da miastenia, má adesão), medidas tomadas durante as

internações (plasmaférese, imunoglobulina, corticóide, intubação e

ventilação mecânica).

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5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO

Estudo descritivo e transversal.

5.2. LOCAL DE ESTUDO

O presente projeto será realizado no Ambulatório de Neurologia do Hospital

Geral de Fortaleza, às segundas no período da manhã (7h30 às 12horas).

5.3 PERÍODO DE ESTUDO

Outubro de 2016 a Janeiro de 2017.

5.4 AMOSTRA

Constituída de pacientes acompanhados no ambulatório de Neurologia do

HGF cujas consultas são realizadas nas segundas-feiras pela manhã das 7h30

às 12horas. Foram selecionados os pacientes acompanhados no Serviço no

período de Outubro de 2016 a Janeiro de 2017, com diagnóstico clínico,

sorológico e eletrofisiológico de Miastenia Gravis, além de imagem do tórax

(TC OU RM ).

5.5 COLETA DE DADOS

O pesquisador entrevistará todos os pacientes que aceitarem participar do

estudo, através da aplicação de 2 questionários (ver anexo), durante a

consulta realizada no ambulatório de Neurologia do HGF. Foi realizada

também a pesquisa dos dados dos pacientes nos seus respectivos prontuários.

5.6 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

-Idade a partir de 18 anos.

-Paciente alfabetizado ou presença de acompanhante alfabetizado, capaz de

assinar termo de consentimento livre e esclarecido (no caso de não

alfabetizado ou incapaz de responder pelos seus atos, como em casos de

retardo mental moderado a grave).

-Diagnóstico de miastenia gravis comprovado por história clínica/achados do

exame físico, testes sorológicos e/ou eletrofisiológicos (ou pelo menos a

combinação de 2 deles).

5.7. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

-Pacientes que não aceitarem participar do estudo.

-Pacientes com sintomas compatíveis, porém com anticorpos negativos e

exames eletrofisiológicos normais (incluindo SFEMG quando realizada).

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-Paciente com suspeita clínica de MG e com PER alterada, porém com

exame eletrofisiológico sugestivo de doença do neurônio motor.

5.8 VARIÁVEIS ANALISADAS

Dados demográficos:

Sexo

Idade

Escolaridade

Profissão e situação de emprego

Dados clínicos:

Dados clínicos (sinais e sintomas da doença).

Acesso a terapias de reabilitação (fisioterapia, fonoterapia).

Necessidade de terapias de suporte ventilatório (ex: ventilação não

invasiva ou invasiva).

Internações prévias.

Comorbidades.

Medicações em uso.

Exames complementares e laboratoriais necessários para o diagnóstico e

acompanhamento:

Eletroneuromiografia (ENMG) com PER: DECREMENTO

SIGNIFICATIVO >10% EM PELO MENOS 1 MÚSCULO

ESTUDADO. SFEMG com valores de jiiter anormais individuais em

mais de 10% das amostras ou média de MCD (mean consecutive

difference) acima do limite superior da normalidade, em pelo menos 1

músculo.

Exames laboratoriais (Hemograma, TGO, TGP, função renal e

eletrólitos, perfil glicídico e lipídico).

Perfil de anticorpos (anti-AChR, anti-Musk, MG soronegativa).

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6. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados qualitativos e quantitativos foram provenientes do questionário

em anexo, sendo compilados e analisados pelo software Statistical Package for

Social Science (SPSS), versão 20.0. As variáveis contínuas foram expressas

com médias e desvio padrão e as variáveis categóricas foram representadas

através de frequências e percentuais.

Foram calculadas as frequências absoluta e relativa para as variáveis

categóricas e a média e desvio padrão para variáveis numéricas. O estudo das

variáveis idade de início versus sexo foi proveniente do teste do Qui-Quadrado

e estudo das variáveis perfil do anticorpo versus crise miastênica foi

proveniente do Teste Exato de Fischer, para verificar se a associação entre as

variáveis é significante ou não. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para

verificar a associação entre 3 ou mais variáveis não paramétricas

O nível de significância utilizado foi de 5% (valor do p<0,05). Como

critério de exclusão ou não da hipótese nula (H0) comparou-se o valor do p do

teste como o nível de significância, no qual se o p-valor do teste for menor do

que 5%, rejeitamos a hipótese nula, ou seja, haverá associação entre as

variáveis, caso contrário, aceitamos a hipótese nula, ou seja, não há associação

entre as variáveis.

7. ASPECTOS ÉTICOS

Todos os participantes do estudo assinarão um termo de consentimento livre e

esclarecido (em anexo), feito de acordo com as normas da resolução n. 466/12

do Conselho Nacional de Saúde. Os pacientes não serão identificados e poderão

deixar de participar do estudo se assim o desejar.

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8. RESULTADOS

Foram avaliados 42 pacientes no ambulatório de doenças neuromusculares do

HGF durante o período do estudo, sendo selecionados 41 pacientes, com exclusão de 1

paciente, aplicando-se os critérios de inclusão e exclusão.

Dos 41 pacientes selecionados , 22 (53,7%) eram do sexo feminino e os outros

19 (46,3%) do sexo masculino. A idade de início dos sintomas foi de 39,7 anos ( ± 18

DP) e tempo médio de doença foi de 5,5anos (± 4,8 DP) A média de idade dos pacientes

foi de 45,1 anos (± 15,9 DP). 43,9%( n=18) tiveram MG de início precoce (antes dos 40

anos) e 56,1% (n=23) MG de início tardio (após os 40 anos). Não houveram casos de

história familiar positiva para MG. As Tabelas 1 e 2 descrevem as características

demográficas e epidemiológicas da população estudada.

Tabela 1 - Características epidemiológicas dos pacientes portadores de MG,

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017. N=41.

Variáveis Frequência Porcentagem

Sexo

Masculino 19 46,3

Feminino 22 53,7

Faixa etária

20 a 29 10 24,4

30 a 39 8 19,5

40 a 49 7 17,1

50 a 59 7 17,1

60 ou mais 9 22

MG início

MG início precoce (<40 anos) 18 43,9

MG início tardio (>40) 23 56,1

Tabela 2 - Características demográficas e epidemiológicas dos pacientes

portadores de MG, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares

do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017. N=41.

Variáveis Frequência Porcentagem

Naturalidade

RMF 21 51,2

Interior/ Outros estados 20 48,8

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Anos de estudo

< 8 anos 9 22

8 a 10 anos 5 12,2

11 a 14 anos 19 46,3

15 ou mais 8 19,5

Situação profissional

Afastado 14 34,1

Exercendo 17 41,5

Aposentado 5 12,2

Desempregado 5 12,2

Estado civil

Solteiro 17 41,5

Casado/ UE 18 43,9

Divorciado 4 9,8

Viúvo 2 4,9

Histórico familiar

Sim - -

Não 41 100

Com relação à divisão da idade de início da doença, nos pacientes do sexo

masculino, 26,3% (n=5) tiveram a doença antes dos 40 anos (MG início precoce) e

73,7% (n=14) tiveram a doença após os 40 anos (MG de início tardio). No sexo

feminino, 59,1% (n=13) tiveram MG precoce e 40,9% (n=9) tiveram MG de início

tardio. A análise, realizada pelo teste qui-quadrado, mostrou relevância estatística

(p=0,035).

Tabela 3 – Comparação entre a idade de início da doença (precoce vs

tardia) e o sexo nos pacientes portadores de MG, acompanhados no ambulatório

de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017.

Análise através do teste do qui-quadrado.

Idade de início Sexo masculino Sexo feminino Valor p

Antes dos 40 5 (26,3) 13 (59,1) 0,035

40 ou mais 14 (73,7) 9 (40,9)

Teste Qui-quadrado N=41

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Quanto ao perfil de anticorpos, a classificação foi: MG anti-AChR em 51,2%

(n=21), MG anti-MuSK em 7,3% (n=3), MG soronegativa em 19,5% (n=8) e 22% (n=9)

com sorologia indeterminada (tabela 4, gráfico 1).

Tabela 4 - Perfil de anticorpos dos pacientes portadores de MG

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017.

Anticorpo (n=41) Frequência Porcentagem

Anti-AChR 21 51,2

Anti-MuSK 3 7,3

Soronegativos 8 19,5

Indeterminado 9 22

Gráfico 1 - Perfil de anticorpos dos pacientes portadores de MG

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017.

Do total de 41 pacientes, o quadro clínico inicial foi: ocular em 68,3% (n=28);

bulbar 22%; fraqueza em membros 4,9% (n=2); ocular e bulbar 2,4% (n=1); fraqueza

cervical 2,4% (n=1).

Nos pacientes com quadro inicial ocular (n=28), 82,1% (n=23) evoluíram para

MG generalizada e 17,9% (n=5) persistiram com MG ocular.

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Tabela 5 – Quadro clínico inicial nos pacientes portadores de MG

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017.

Variáveis Frequência Porcentagem

Quadro clínico inicial (n=41)

Ocular 28 68,3

Bulbar 9 22

Fraqueza em membros ou cervical 3 7,3

Ocular e bulbar 1 2,4

Quadro inicial ocular (n=28)

MG ocular 5 17,9

MG generalizada 23 82,1

Gráfico 2 – Perfil das queixas clínicas iniciais dos pacientes portadores de

MG, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de

outubro de 2016 a Janeiro de 2017.

Na investigação da MG eletroneuromiografia, todos os pacientes foram

submetidos ao exame (100%): 92,7% (n=38) com ENMG compatível e 7,3% (n=3) com

o resultado do exame normal.

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Tabela 6 – Resultado da ENMG dos pacientes portadores de MG

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017. PER 3-5 Hz com resultado de decremento > 10% em

pelo menos 1 músculo estudado. N=41.

ENMG Frequência Porcentagem

Compatível 38 92,7

Normal 3 7,3

Tendo por base a classificação clínica da MGFA para a doença (tabela 7): 48,8%

(n=20) foram MGFA IIA; 12,2% (n=5) MGFA V; 12,2% (n=5) MGFA I; 9,8% (n=4)

MGFA IIIA; 7,3% (n=3) MGFA IIIB; 2,4% (n=1) MGFA IIB; 2,4% (n=1) MGFA IVA;

2,4% (n=1) MGFA IVB. Tivemos apenas 2,4% (n=1) de MG congênita.

Tabela 7 – Classificação clínica dos pacientes portadores de MG,

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017. Classificação utilizada: MGFA. N=41.

Classificação MGFA Frequência Porcentagem

MGFA IIA 20 48,8

MGFA IIB 1 2,4

MGFA IIIA 4 9,8

MGFA IIIB 3 7,3

MGFA IVA 1 2,4

MGFA IVB 1 2,4

MGFA V 5 12,2

MGFA I 5 12,2

Congênita 1 2,4

Dos 41 pacientes, 61% (n=25) foram internados e 39% (n=16) não tiveram

nenhuma internação durante o curso da doença; 26,8% (n=11) apresentaram crise

miastênica, dos quais 63,6% (n=7) necessitaram de suporte ventilatório invasivo; 36,6%

(n=15) tiveram MG descompensada (dos 15 pacientes, 5 eram pacientes que já haviam

apresentado crise miastênica previamente); 48,8% (n=20) não tiveram crise ou

descompensação. Dos 21 pacientes com crise miastênica ou MG descompensada, 81%

(n=17) ocorreram no 1º ano da doença e 19% (n=4) nos anos subsequentes.

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Em relação ao tratamento realizada na vigência da crise miastênica (n=11), 72%

(n=8) fizeram plasmaférese ou imunoglobulina, 18,1% (n=2) plasmaférese, 9% (n=1)

imunoglobulina. (Tabela 8 ).

Tabela 8 - Características clínicas dos pacientes portadores de MG,

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017.

Variáveis Frequência Porcentagem

Internação (n=41)

Sim 25 61

Não 16 39

Crise miastênica (n=41)

Sim 11 26,8

Não 30 73,2

Suporte ventilatório (n=11)

Sim 7 63,6

Não 4 36,4

MG descompensada

Sim 15 36,6

Não 26 63,4

Crise ou descompensação (n=21)

Até 1º ano 17 81

Depois do 1º ano 4 19

Não teve (n=20) 20 48,8

Tratamento na crise (n=11)

Plasmaférese 2 18,1

Imunoglobulina 1 9

Plasmaferese ou imunoglobulina 8 72

Comparando-se os pacientes com anticorpos definidos (n=32) (antiAChR vs

MuSK vs soronegativos) com a presença ou não de crise miastênica, temos que: do

grupo MG anti-AChR, 33,3% (n=7) tiveram crise miastênica, enquanto nos MG anti-

MuSK, subtipo de maior gravidade geralmente, 66,7% (n=2) tiveram crise miastênica.

Não houveram casos de crise miastênica nos MG soronegativos. A análise, realizada

pelo teste exato de Fisher, mostrou p=0,073, portanto, sem significância estatística

(tabela 9).

Tabela 9 – Tabela comparando os pacientes com anticorpos definidos

(n=32) (anti-AChR vs MuSK vs soronegativos) com a presença ou não de crise

miastênica nos pacientes portadores de MG, acompanhados no ambulatório de

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Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017. A

análise, realizada pelo teste exato de Fisher, mostrou p=0,073, portanto, sem

significância estatística. N=32.

Anticorpo Teve crise Não teve crise Valor p

Anti-AChR 7 (33,3) 14 (66,7)

0,073 Anti-MuSK 2 (66,7) 1 (33,3)

Soronegativos - 8 (100,0)

Teste exato de Fisher

Comparando-se o número de internações, o grupo com maior média de

internações foi o do MG anti-MuSK (média de 4,0± 0,0), seguido pelo grupo do MG

anti-AChR (média de 1,6 ± 1,6) e sorologia indeterminada (média de 1,3 ± 1,9); o grupo

com menos internações foi o da MG soronegativa (média de 0,5 ± 0,8). Análise foi

realizada pelo Teste de Kruskal-Wallis, havendo diferença estatisticamente significativa

(p=0,036) entre a média do número de internações e anticorpo, em que o grupo MG

anti-Musk apresentou o maior número médio de internações (4,0). (Tabela 10).

Tabela 10 – Média de internações entre os grupos nos pacientes portadores

de MG, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de

outubro de 2016 a Janeiro de 2017. Análise foi realizada pelo Teste de Kruskal-

Wallis, havendo diferença estatisticamente significativa (p=0,036) entre a média do

número de internações e anticorpo, em que o grupo MG anti-Musk apresentou o

maior número médio de internações (4,0). N=41

Anticorpo N Número de internação

(Média ± desvio padrão) Valor p

Anti-AChR 21 1,6 ± 1,6

0,036

Anti-MuSK 3 4,0 ± 0,0

Soronegativos 8 0,5 ± 0,8

Sorologia

indeterminada 9 1,3 ± 1,9

Teste de Kruskal-Wallis

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No tratamento dos pacientes com MG foram utilizados: mestinon em 39

(95,1%), prednisona em 37 (90,2%) e azatioprina em 34 (83%). Em 7 pacientes (17%),

nenhum imunossupressor foi utilizado. (Tabela 11).

Tabela 11 – Medicamentos utilizados no tratamento nos pacientes

portadores de MG, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares

do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017. N=41.

Medicações Frequência Porcentagem

Mestinon 39 95,1

Prednisona 37 90,2

Azatioprina 34 83

Nenhum imunosupressor 7 17

Com as medicações acima referidas obtemos os seguintes efeitos adversos,

considerando o total de 41 pacientes: ganho de peso em 29 (70,7%), queixas

gastrointestinais em 14 (34,1%), osteoporose em 3 (7,3%), alopecia em 2 (4,9%) e

alterações oftalmológicas em 2 (4,9%).

Tabela 12 - Efeitos colaterais dos medicamentos utilizados no

tratamento nos pacientes portadores de MG, acompanhados no ambulatório de

Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017. N=41.

Efeitos colaterais Frequência Porcentagem

Ganho de peso 29 70,7

Queixas gastrointestinais 14 34,1

Osteoporose 3 7,3

Alopécia 2 4,9

Catarata / Glaucoma 2 4,9

Alterações laboratoriais encontradas nos pacientes tratados com azatioprina

(n=34) foram: hepatoxicidade (11,8%), leucopenia isolada (11,8%), plaquetopenia

isolada (2,9%), leucopenia e plaquetopenia (2,9%). Em 24 pacientes (70,6%) não

houveram alterações laboratoriais relacionadas à azatioprina.

Tabela 13 - Alterações laboratoriais encontradas nos pacientes portadores

de MG tratados com azatioprina, acompanhados no ambulatório de Doenças

Neuromusculares do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017 . N=34

Exames laboratoriais Frequência Porcentagem

Normais 24 70,6

Hepatoxicidade 4 11,8

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Leucopenia 4 11,8

Plaquetopenia 1 2,9

Leucopenia e plaquetopenia 1 2,9

Com relação a alterações no timo, do total dos 41 pacientes, 4 (9,8%) tiveram

alteração tímica ( hiperplasia ou timoma), 23 (56,1%) não tiveram alterações no timo e

14 (34,1%) não fizeram o exame até o momento.

À respeito da timectomia, tivemos 6: 33,3 % (n=2) por hiperplasia do timo e a

mesma quantidade por timoma e por refratariedade clínica, sendo que em 4 pacientes

(66,7%) houve melhora do quadro clínico após o procedimento cirúrgico; em 2

pacientes não houve alteração do quadro (1 com MG anti-MuSK e hiperplasia tímica,

sendo o procedimento indicado em outro serviço, antes da paciente iniciar o

acompanhamento no HGF; na outra paciente, de sorologia indeterminada, o

procedimento foi indicado em 2003 por timoma). (Tabela 14).

Tabela 14 – Perfil de alterações no timo, assim como timectomia e

percentual de melhora após o procedimento nos pacientes portadores de MG,

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017.

Variáveis Frequência Porcentagem

Imagem do tórax (n=41)

Não tem / não fez 14 34,1

Sem alteração 23 56,1

Com alteração 4 9,8

Timectomia (n=6)

Hiperplasia do timo 2 33,3

Timoma 2 33,3

Refratariedade clínica 2 33,3

Melhora após timectomia (n=6)

Sim 4 66,7

Não 2 33,3

No seguimento ambulatorial dos pacientes com MG acompanhadas no

ambulatório de neuromuscular do HGF, 75,6% (n=31) dos pacientes apresentaram

melhora clínica e estabilização dos sintomas (embora persistam com quadro leve),

14,6% (n=6) tiveram piora dos sintomas (quadro clínico de difícil controle) e 9,8%

(n=4) tiveram remissão clínica (atualmente assintomáticos).

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Tabela 15 - Evolução clínica e controle dos sintomas nos pacientes

portadores de MG, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares

do HGF, de outubro de 2016 a Janeiro de 2017. N=41.

Evolução clínica Frequência Porcentagem

Melhora 31 75,6

Piora 6 14,6

Remissão 4 9,8

Acesso a terapias de reabilitação, como fisioterapia ou fonoaudiologia, foi

mínimo, com apenas 2 pacientes (4,9%), do total de 41, com a terapia devida. (Tabela

16). Os motivos alegados pelos pacientes para isso foram vários, como

indisponibilidade na região onde residiam, falta de recursos financeiros para contratar

tais profissionais, falta de convicção na reabilitação (pacientes que acreditam que

apenas terapia farmacológica); mas o principal motivo alegado foi dificuldade de acesso

a terapias de reabilitação no SUS.

Tabela 16 – Acesso a terapias de reabilitação nos pacientes portadores de

MG, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de

outubro de 2016 a Janeiro de 2017. N=41.

Reabilitação Frequência Porcentagem

Sim 2 4,9

Não 39 95,1

O perfil de comorbidades presentes nos 41 pacientes foi, principalmente,

relacionado a doenças metabólicas (26,8%), como anemia, deficiência de B12 e

osteoporose. Comorbidades psiquiátricas também foram prevalentes em nosso estudo,

com 34,1% apresentando transtorno do humor (ansiedade ou depressão). Diabetes e

hipertensão apresentaram, cada qual, 24,4%. 19,5% dospacientes não apresentavam

nenhuma comorbidade. A tabela 17 mostra em detalhes o percentual das doenças

presentes em nosso estudo.

Tabela 17 – Perfil de comorbidades nos pacientes portadores de MG ,

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de outubro

de 2016 a Janeiro de 2017.

Comorbidades Frequência Porcentagem

Transtornos do humor 14 34,1

Doenças metabólicas 11 26,8

DM 10 24,4

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HAS 10 24,4

DLP 7 17,1

Doenças ortopédicas 5 12,2

Doenças auto-imunes 4 9,8

Doenças oftalmológicas 4 9,8

Neoplasia (CA de mama) 1 2,4

Sem comorbidades 8 19,5

Em relação a qualidade de vida dos pacientes, avaliada através do questionário

QOL-15, o grupo MG anti-AChR apresentou uma pontuação média de 14, 1 (± 14,8), os

MG soronegativos uma pontuação média de 13,4 (± 11) e os pacientes com sorologia

indeterminada 9,1 ±9,8, enquanto os MG-MuSK apresentaram a maior média de

pontuação (33,0 ± 8,7). Contudo, a comparação, realizada pelo teste de Kruskal-Wallis,

não evidenciou diferença estatisticamente significante (p=0,147) entre a média da

pontuação do QOL-15 e os diferentes tipos de anticorpo.

Tabela 18 – Média da pontuação do QOL-15 nos pacientes portadores de

MG , acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de

outubro de 2016 a Janeiro de 2017. A análise não mostrou significância estatística.

Anticorpo N QOL-15

(Média ± desvio padrão) Valor p

Anti-AChR 21 14,1 ± 14,8

0,147

Anti-MuSK 3 33,0 ± 8,7

Soronegativos 8 13,4 ± 11

Sorologia

indeterminada 9 9,1 ± 9,8

Teste de Kruskal-Wallis

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9. DISCUSSÂO

Em nossa casuística tivemos uma pequena diferença entre homens (46,3%) e

mulheres (53,7%), em relação ao número total de pacientes, mostrando uma alta

prevalência nos homens, sendo levemente maior nas mulheres (M:F – 1,16:1, o que

provavelmente se deve a uma maior média de idade dos pacientes do estudo (45,1 ±

15,9 anos), já que nas mulheres a doença se manifesta mais precocemente. 43,9% dos

pacientes tiveram MG de início precoce (<40 anos) e 56,1% tiveram MG de início

tardio (>40 anos). As faixas etárias mais acometidas foram entre 20-29 anos (24,4%) e a

partir dos 60 anos (22%), compatível com a literatura internacional, que relata que a

doença pode estar presente em qualquer idade, mas parece ser mais comum em

mulheres jovens e homens idosos (ALSHEKHLEE et al., 2009), apresentando dois

picos - um na segunda e terceira décadas de vida (afetando predominantemente as

mulheres) e outro na sexta e sétima décadas (predominando em homens)

(DRACHMAN, 1998; SANCHEZ et al., 2002; VINCENT; PALACE; HILTON-

JONES, 2001).

Comparando-se a idade de início, observa-se que em 59,1% das pacientes do

sexo feminino a doença teve início antes dos 40 anos; em 40,9% delas a doença iniciou-

se após os 40 anos. Nos homens, a relação inverte-se, com 73,7% dos pacientes do sexo

masculino tendo início da doença após os 40 anos e 26,3% antes dos 40 anos. Isso está

de acordo com a literatura internacional, que mostra maior prevalência da doença no

sexo feminino antes dos 40 anos (até 3 vezes mais) e uma maior ocorrência nos homens

na doença de início tardio, principalmente após os 50 anos (Grob et al, 2008).

Quanto aos subtipos de MG, tivemos 5 casos de MG ocular (12,2%,) e 36

(87,8%) de MG generalizada. A maioria dos trabalhos confirmam isso, mostrando que

em 10-15% dos casos de MG a fraqueza permanece restrita à musculatura ocular,

havendo generalização no restante (Meriggioli and Sanders, 2009; Sanders and Guptill,

2016).

No quadro clínico, os sintomas iniciais foram oculares em 68,3% (n=28) dos

casos, corroborando com a literatura mundial, na qual em aproximadamente 65% dos

casos de MG os doentes se apresentam inicialmente com sintomas oculares

(Kupersmith, 2009); alguns consideram que até 85% dos casos podem iniciar com ptose

ou diplopia (Grob et al, 2008). Dos 28 pacientes com quadro clínico inicial ocular, 23

(82,1%) apresentaram generalização do quadro (MG generalizada), em concordância

com alguns estudos que mostram que ocorre generalização da MG em até 80% dos

casos com início ocular (Luchanok, 2008). No restante dos pacientes acompanhados no

ambulatório de neuromuscular do HGF, 22% (n=9) se apresentaram com sintomas

bulbares, 7,3% (n=3) com fraqueza axial ou em membros, e 1 caso (2,4%) com

sintomas bulbares e oculares simultaneamente. Sintomas iniciais podem ser bulbares em

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16% dos pacientes (Sanders and Guptill, 2016); início nos membros ou axial pode

ocorrer em cerca de 20% dos casos (Kuks and Oosterhuis, 2004).

Com relação ao perfil de anticorpos, anti-AChR apresentou prevalência de

51,2% em nosso estudo, anti-MuSK 7,3%, os soronegativos 19,5% e sorologia

indeterminada 22%. No grupo MG anti-AChR, 5 pacientes com MG ocular 60% (n=3)

foram postivos para o anticorpo (os outros 2 pacientes: 1 soronegativo e 1 com

sorologia indeterminada); na MG generalizada, dos 36 pacientes, apenas 50% (n=18)

foram anti-AChR. A literatura mundial mostra presença de anti-AChR em cerca de 80-

85% dos casos de MG generalizada (nosso estudo foi bem abaixo da média: 51,2%) e

aproximadamente 50% na MG ocular (nossa casuística, 60%); anti-MuSK está presente

em 5-10% dos casos de MG (7,3% no nosso), sendo mais comum em mulheres jovens

(até 85% dos casos em mulheres jovens) (Evoli et al, 2003; Sanders et al, 2003),

compatível com nossa amostra, na qual constam 3 pacientes do sexo feminino com MG

anti-MuSK, todas diagnosticadas antes dos 30 anos(embora nossa casuística com MG-

MuSk tenha apresentado apenas mulheres, provavelmente pela amostra pequena). Parte

dos dados encontrados na nossa série (anti-AChR abaixo da média) se deve ao número

de pacientes soronegativos na nossa série - 19,5% (na literatura, em torno de 10-15%

(Romi et al, 2005)) e de pacientes com sorologia indeterminada - 22% (aguardando

resultado). Mas, também, a outros fatores: alguns pacientes iniciaram acompanhamento

em outro serviço hospitalar ou clínica, sendo encaminhados para a neurologia do HGF

já com tratamento e sem anticorpo (ou seja, fizeram a sorologia com o tratamento

imunossupressor); alguns se submeteram ao teste sorológico no início da doença (anti-

AChR pode vir negativo nos primeiros 6 a 12 meses) e não repetiram o exame; não

sabemos o número exato de pacientes nessas condições (ou seja, os que fizeram a

sorologia sob tratamento e os que fizeram logo no início da doença), por falta de dados

nos prontuários e pelo fato de os pacientes não saberem informar. Isso será revisto no

presente ano (2017) e um estudo posterior poderá ser realizado avaliando os casos

soronegativos.

Uma parte importante na propedêutica da MG é o exame eletromiográfico. Nos

pacientes do nosso estudo, todos foram submetidos ao exame (100%), havendo uma

positividade elevada, com 92,7% (n=38) evidenciando ENMG compatível e apenas

7,3% (n=3) com resultado do exame normal. Foi realizada a PER a 3—5Hz nesses

pacientes. O resultado da PER é anormal em aproximadamente 75% dos pacientes com

MG generalizada e < 50% na MG ocular (Meriggioli and Sanders, 2005), evidenciando

a alta positividade da nossa amostra. Estudo brasileiro realizado por Lorenzoni et al,

2013 também mostrou alta positividade do exame: PER anormal em 88.67%dos

pacientes e normal em 11.33%.No nosso trabalho, apenas 1 paciente foi submetido à

SFEMG, que foi normal (o paciente que foi excluído, pois apesar da clínica suspeita de

MG ocular, todos os exames foram normais: sorologia, ENMG com PER e SFEMG; o

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paciente veio encaminhado sob tratamento com prednisona e mestinon em doses

elevadas).

Tendo por base a classificação clínica da MGFA para a doença , nossa amostra

mostrou: (48,8%) MGFA IIA; (12,2%) MGFA V; (12,2% ) MGFA I; (9,8%) MGFA

IIIA; (7,3%) MGFA IIIB; e apenas 1 caso (2,4%) de cada-MGFA IIB, MGFA IVA,

MGFA IVB. Tivemos apenas 1 caso (2,4%) de MG congênita. Dados na literatura

internacional relacionados a essa classificação variam bastante, mas em uma série com

53 pacientes (Bedlack and Sanders et al, 2005), os resultados foram os seguintes:

MGFA IIA (45%), MGFA I (17%), IIB (19%), V,IIIa, IVB 0 (zero); também tiveram 8

casos (15%) de remissão (Bedlack and Sanders et al, 2005). Nossa casuística apresentou

apenas 4 casos de remissão completa (9,8%), 6 (14,6%) tiveram piora clínica e a

maioria evoluiu com melhora clínica e estabilização do quadro, referindo apenas

sintomas leves (75,6%). Uma série brasileira com 69 pacientes (Mourão et al, 2015)

mostrou mais casos de MGFA I (19%) e MGFA V (20%), porém menos casos de

MGFA IIA (20%); outra série brasileira, com 53 pacientes (Lorenzoni et al. 2013),

revelou MGFA I em 52.8% dos pacientes e MGFA IIA em 39.6% evidenciando a

variabilidade dos achados, do perfil epidemiológico dos pacientes e a heterogeneidade

da doença.

Na presente série, 26,8% dos pacientes apresentaram crise miastênica, a maioria

(82%) no 1º ano da doença, havendo concordância com a literatura mundial, que

considera que cerca de 15-25% dos MG desenvolverão crise miastênica, tipicamente no

1ª ano de doença (Bedlack and Sanders, 2002). Dos pacientes que tiveram crise

miastênica, 66,7% foram MG anti-MuSK contra 33,3% MG anti-AChR, compatível

com a literatura internacional, que refere que as crises são mais comuns na MG anti-

MuSK (Meriggioli and Sanders, 2009); porém, a comparação do nosso estudo não

revelou significância estatística, provavelmente pelo pequeno número de pacientes. Os

pacientes do grupo MG anti-Musk também apresentaram um maior número de

internações (mais de 2 vezes superior aos MG anti-AChR), evidenciando o quadro mais

grave e refratário nesses pacientes, e neste caso a amostra revelou significância

estatística (p=0,036).

Em relação ao tratamento realizada na vigência da crise miastênica (n=11), 72%

fizeram plasmaférese ou imunoglobulina (não fizeram os dois na mesma internação),

18,1% plasmaférese, 9% imunoglobulina. Ambas as terapias são eficazes na MG, mas

devido ao seu rápido início de ação, a plasmaférese é o tratamento de escolha para a

crise miastênica (Meriggioli and Sanders, 2009). Os estudos de comparação sugerindo

que imunoglobulina intravenosa é igualmente eficaz na crise miastênica geralmente

utilizam regimes subótimos de plasmaférese e não comparam o início da resposta

(Gajdos et al., 1997). Contudo, nem sempre é possível fazer a plasmaférese

(dificuldade de acesso no Hospital, demora para autorização), sendo muitas vezes

indicada imunoglobulina em nosso serviço pela maior disponibilidade e facilidade e por

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não necessitar de acesso venoso central (uma paciente submetida a acesso central para

plasmaférese apresentou TVP).

No tratamento dos pacientes com MG foi utilizado Mestinon em 95,1% dos

pacientes, prednisona em 90,2% e azatioprina em 83%. Em 7 pacientes (17%), nenhum

imunossupressor foi utilizado, dos quais 2 tinham MG ocular, 1 MG congênita e 4 MG

generalizada (3 dos quais estão aguardando anticorpos e 1 paciente com doença leve

controlada com baixas doses de prednisona e anticolinesterásico). As medicações

referidas constituem o pilar do tratamento na MG, com mais de 70% de eficácia com a

prednisona (Pascuzzi et al, 1984; Evoli et al, 1992), sendo uma medicação amplamente

utilizada na MG (Vincent and Drachman, 2002; Merrigioli and Sanders, 2009), assim

como a azatioprina, que é eficaz em 70-90% dos pacientes com MG (Witte, 1984;

Mantegazza, 1988; Meriggioli and Sanders, 2009). Comparando com séries brasileiras,

o percentual das referidas medicações foi bem similar ao de Lorenzoni et al. 2013 (53

pacientes, com uso de AZA (86,7%), prednisona (94,3%) e piridostigmina (98,1%) e

diferente da série Mourão et al (69 pacientes, AZA (43%), prednisona (64%) e

piridostigmina (84%) .

Os efeitos colaterais das medicações utilizadas no tratamento da MG (AZA,

prednisona e piridostigmina) foram: ganho de peso em 29 pacientes (70,7%), queixas

gastrointestinais (empachamento, diarreia e náuseas) em 14 (34,1%), osteoporose em 3

(7,3%), alopécia em 2 (4,9%) e alterações oftalmológicas (catarata e glacoma) em 2

(4,9%). Em relação a prednisona, queixas como ganho de peso são muito frequentes e

alterações como osteoporose e alterações oftalmológicas também podem ocorrer, sendo

principalmente, dose e tempo dependentes (Frauman, 1996; Meriggioli and Sanders,

2009; Bradleys, 2016). A maioria desses efeitos colaterais melhoram com a redução da

dose e se tornam mínimos com uma dose menor que 20 mg em dias alternados

(Frauman, 1996; Sanders and Guptill, 2016). Os transtornos do humor também podem

ser efeitos colaterais da corticoterapia, porém, em nosso estudo, relacionamos mais ao

fato da existência de uma doença crônica e também pelo fato de alguns pacientes já

apresentarem as comorbidades psiquiátricas antes do início da medicação. As doenças

pquiátricas foram a comorbidade mais frequente na nossa amostrada, com 14 pacientes

(34,1%), Da mesma forma, a HAS e DM tipo 2, as comorbidades mais frequentes após

os transtorno do humor, foram encontradas em 24,4% (n=10) cada uma; também podem

ser efeitos colaterais do corticoterapia (Frauman, 1996; Meriggioli and Sanders, 2009;

Bradley‖s, 2016), contudo, nossos pacientes já tinham diagnóstico prévio (de HAS ou

DM), não havendo relação causal com prednisona, embora tenham tido maior

dificuldade em controlar tais doenças (com a tratamento em altas doses de prednisona)

no início da MG, principalmente 1 paciente com DM, que teve que fazer uso provisório

de insulina no início do tratamento com o corticóide, posteriormente suspendendo o uso

(da insulina) com o desmame da prednisona.

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Como citado acima, as comorbidades mais frequentes na nossa amostra foram:

transtorno do humor (34,1%) doenças metabólicas (26,8%), HAS (24,4%), DM tipo 2

(24,4%), DLP (17,1%), doenças ortopédicas (12,2%), doenças auto-imunes (3 casos de

Doença de Graves e 1 caso de AR) (9,8%), doenças oftalmológicas (9,8%) e 1 caso

(2,4%) de CA de mama. 19,5% (n-8) dos pacientes não eram portadores de

comorbidades. Uma paciente do sexo feminino com CA de mama recidivado e suspeita

de metástase pulmonar desenvolveu a doença, podendo estar relacionada à uma forma

paraneoplásica de MG, associada a Síndrome de Horner unilateral presente na doente.

Doenças auto-imunes, como hipertireoidismo e AR podem estar associadas com MG,

como referido anteriormente, assim como diabetes e neoplasia extratímicas (Sanders

and Guptill, 2016).

Em relação a azatioprina, 70,6% (n=24) dos pacientes que fizeram uso da

medicação (n=34) não tiveram alterações nos exames laboratoriais, enquanto 11,8%

(n=4) apresentaram hepatoxicidade e outros 11,8% (n=4) – não foram os mesmos

pacientes – apresentaram leucopenia. Um (n=1) paciente (2,4%) apresentou leucopenia

e plaquetopenia simultaneamente. Em todos os casos, tivemos que suspender a AZA,

porém apenas em 4 casos os efeitos voltaram a se repetir (hepatoxicidade e leucopenia),

sendo efetuada a troca da medicação por outros imunossupressores (micofenolato em 2

pacientes, ciclosporina e cilosfosfamida em 1 paciente cada). A literatura relata casos de

efeitos adversos importantes pela azatioprina, como reação idiossincrática (15-20%),

não encontrada em nossos pacientes, assim como hepatoxicidade e leucopenia, em

alguns casos, até mesmo pancitopenia, orientando a monitorização regular com exames

laboratoriais (hemograma, enzimas hepáticas), que devem ser solicitadas semanalmente

durante o 1º mês, a cada 1 a 3 meses no primeiro ano e a cada 3 a 6 meses após esse

período (Kissel, 1986; Meriggioli and Sanders, 2009; Guptill and Sanders, 2016).

Também recomendam monitorar o VCM, porém em nossa amostra não foi possível

fazer a associação em todos os pacientes, pois faltavam dados nos pontuários para que o

estudo ficasse completo. Não há, até o momento, casos de malignidades relacionadas ao

tratamento imunossupressor, porém os pacientes em estudo tem menos de 10 anos de

uso de azatioprina. Ambos (malignidades e VCM) podem vir a ser objeto de estudo,

posteriormente. Também não conseguimos detectar a frequência exata de infecções

oportunistas com a terapia imunossupressora, apesar de termos ciência que foram

poucos casos.

Quanto ao perfil de alteração no timo, dos 41 pacientes, 56,1% (n=23)

não apresentaram alterações, contra 9,8% com alteração (todas do sexo feminino); 14

pacientes (34,1%) não fizeram o exame (alguns porque perderam a solicitação, outros

estão aguardardando a marcação do exame). Dos pacientes com alteração no timo

(9,8%), 2 apresentavam timoma (ambos com sorologia indeterminada, 52 e 59 anos de

idade) e 2 apresentavam hiperplasia tímica (1 AChR positivo, com 27 anos de idade; a

outra paciente com MG-MuSK, 33 anos de idade). As 4 pacientes foram submetidas a

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timectomia, além de outros 2 pacientes sem alterações no timo, mas com refratariedade

clínica . Das 6 timectomias realizadas, em 4 casos houve melhora do quadro clínico

(66,7%)- nos 2 pacientes sem alterações no timo (refratariedade clínica; 1 paciente do

sexo masculino, com 52 anos, anti-AChR positivo; em 1 paciente do sexo feminino, 29

anos, anti-AChR negativo), em 1 paciente com timoma (59 anos, AChR negativo), em

1 paciente com hiperplasia e anti-AChR positivo (27 anos). Na literatura internacional,

cerca de 10-15% dos doentes com MG tem timoma (Bradley’s, 2016). MG associada ao

timoma é igualmente comum em homens e mulheres, e pode ocorrer qualquer idade,

com pico de início em torno dos 50 anos (Skeie and Romi, 2008; Evoli et al, 2002). As

apresentações clínicas tendem a ser mais graves do que nos pacientes com MG de início

precoce não-timomatoso, no entanto, o prognóstico a longo prazo é semelhante ao dos

pacientes com MG de início tardio não-timomatosos (Romi et al, 2003; Perrot et al

2002). Em nosso trabalho, pela pequena amostra, não podemos determinar bem tais

características, além do fato de muitos pacientes nossos não terem realizado o exame

(34,1%) e também por terem vindo de outros encaminhados de serviços já

timectomizados. Dos 2 pacientes com timoma, 1 obteve melhora, mas provavelmente

isso está relacionado ao tratamento clínico, e não a timectomia em si, já que, em

pacientes com timoma, a cirurgia (timectomia) muitas vezes remove o tumor

completamente e permanentemente, mas os sintomas de MG geralmente persistem e

requerem imunoterapia crônica (Meriggioli and Sanders, 2009).

Na nossa série, incluímos a escaa QOL-15, que avalia a qualidade de

vida e a funcionalidade dos doentes com MG. A escala é composta por um questionário

específico para MG com 15 itens (derivou de uma escala maior com 60 itens), que

variam de 0 a 4 pontos cada, com a pontuação máxima de 60. Não há na literatura ponto

de corte específico, porém sabe-se que, quanto maior a pontuação, pior a qualidade de

vida. Ela (QOL-15) tem, pelo menos, 3 potenciais funções: uma delas é informar o

clínico a percepção do paciente sobre a extensão da disfunção e o grau de satisfação (ou

insatisfação) com a doença, para que esta informações possam ser incorporadas nas

decisões quanto ao manejo da doença; uma segunda função do MG-QOL15, pode ser a

de seguir o MG-QOL de um paciente individual ao longo do tempo para auxiliar na

avaliação do doença e talvez para determinar a eficácia do tratamento; e uma terceira

função de uma medida da qualidade de vida em saúde (QVS) e monitorar as QVS

determinados grupos de pacientes com MG (subtipos) para auxiliar na determinação de

um tratamento (Burns and Sanders et al, 2010). Em virtude disso, decidimos incluí-la

em nosso estudo, porém já no final de 2016, não tendo tempo suficiente para avaliar

novamente a escala em cada paciente (todos os 41 pacientes foram submetidos à uma

primeira avaliação, porém na maioria não houve tempo para a segunda avaliação, sendo

considerada apenas a primeira), que seria o ideal. Assim, a pontuação média do QOL-15

foi de 14,2 (± 13,6 DP). Comparando os subtipos, obtemos uma média nos MG anti-

MuSK (média de 33 ± 8,7 DP), depois no MG ant-AChR com média 14,1( ± 14,8 DP)

e os soronegativos com média 13,4 (± 11DP). Isso poderia nos dizer que o grupo MG

anti-Musk teve uma pontuação bem acima dos demais, o que seria compatível com o

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fato de terem um quadro geralmente mais grave e refratário ao tratamento. Entretanto, a

análise, realizada pelo teste de Kruskal-Wallis, não mostrou significância estatística,

provavelmente pelo elevado desvio-padrão e pelo tamanho da amostra. Com o

seguimento que ocorrerá dos pacientes com MG no ambulatório de neuromuscular do

HGF, a escala será instituída em todas as consultas visando não apenas a pesquisa (e,

talvez, desdobramentos futuros, mas também um melhor seguimento clínico).

10. CONCLUSÃO

Miastenia gravis é uma doença crônica auto-imune, heterogênea, na maioria dos

casos adquirida. Anamnese, exame físico, testes sorológicos e a eletroneuromiografia,

são de fundamental importância para a suspeição diagnóstica, classificação clínica e

direcionamento propedêutico destes pacientes. Além disso, tais exames são, na grande

maioria das vezes, suficientes para elucidação do diagnóstico e subtipos de MG.

Contudo, em alguns casos, como nos pacientes soronegativos, necessita-se de mais

estudos na tentativa de avaliar a presença de anticorpos anti-AChR de baixa afinidade,

cujos testes ainda não estão disponíveis, mas que estudos revelam que podem estar

presentes em até 66% dos casos; ou então, avaliar ou tros anticorpos que possam estar

relacionados com a doença, conforme citado na revisão de literatura.

Como referido acima, 80,5% dos pacientes do nosso estudo apresentavam

comorbidades diversas, o que torna o acompanhamento multidisciplinar, sendo

necessárias terapias de suporte e reabilitação (fisioterapia, fonoterapia). Contudo, como

vimos, apenas 2 pacientes do estudo conseguiram a reabilitação, evidenciando a

dificuldade de acesso no SUS. Além disso, há também que se considerar a dificuldade

de acesso às medicações no SUS, pois alguns pacientes com o quadro clínico estável

podem ter deterioração clínica com a falta da medicação, assim como ampliar o acesso a

outras terapias, como Micofenolato, nos casos em que Azatioprina causou efeitos

adversos, ou Rituximab, nos casos refratários.

Também foi evidenciado na casuística a presença de 26,8% de crise miastênica,

além outros casos com MG descompensada, tornando necessário um diagnóstico

precoce e uma instituição rápida das terapias para os quadros agudos (plasmaférese ou

imunoglobulina), pois um manejo inadequado muitas vezes leve a piora do quadro, com

necessidade de ventilação mecânica, internação em UTI, às vezes prolongada, muitas

muitas evoluindo com complicações infecciosas, que prologam ainda mais o tempo de

internação, os gastos do SUS e a morbimortalidade da doença.

Assim, um acompanhamento adequado com o especialista, através de consultas

regulares, protocolo de atendimento, se possível escalas (como a utilizada neste

trabalho) são importantes no manejo, seguimento e prevenção de quadros graves, assim

como adesão a terapia de manutenção, pois mais de 70% dos nossos pacientes

consegiram estabilização da doença com o uso regular das medicações.

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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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12. APÊNDICES

a. QUESTIONÁRIO

Data da Consulta:

Sexo: _____

Data de nascimento: __/___/____ Idade: _____

Naturalidade: _________________ Procedência: ______________

Escolaridade: __________________ Profissão: ________________

Tempo de Doença: _______ Idade de início: _________

Comorbidades: __________________________________________

Medicações em uso:______________________________________

SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS, PELA ORDEM DE

ACONTECIMENTO:

( ) Ptose ou diplopia

( ) Disartria

( ) Disfagia

( ) Queixas respiratórias ( se presente especificar- ex: dispneia aos esforços) ___

( ) Fraqueza em mmii (proximal ou distal?) ____________

( ) Fraqueza em mmss (proximal ou distal?) ___________

( ) Outros sintomas (neurológicos ou não neurológicos) _____________

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EXAME FÍSICO

GERAL: _______________________________________________

EXAME CARDIOVASCULAR:_____________________________

EXAME APARELHO RESPIRATÓRIO:______________________

EXAME NEUROLÓGICO:

Funções mentais superiores: ________________________________

Nervos cranianos: ________________________________________

Motor:

Trofia:___________________________

Força :___________________________

Tônus:____________________________

Sensibilidade:____________________________________________

Coordenação: ____________________________________________

Reflexos: _______________________________________________

Equilibrio e marcha: ______________________________________

EXAMES COMPLEMENTARES/DATA:

Exames laboratoriais: hemograma, TGO, TGP, uréia, creatinina, eletrólitos,

função renal, perfil glicêmico e lipídico

Testes sorológicos

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ENMG:-presença ou não decremento

-quantificação do decremento em % (variação)

-músculos com decremento

-SFEMG quando realizado

EXAMES DE IMAGEM TÓRAX (RM , TC):

DIAGNÓSTICO PROVÁVEL: ___________________________________

CONDUTA: ________________________________________________]

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QOL-15 Indicar quão verdadeiro cada

afirmação tem sido (ao longo das

última semanas).

1. Estou frustrado por causa da MG

2. Tenho dificuldades para olhar

3. Tenho dificuldades para comer

4. Limitei minha atividade social por causa da MG

5. A MG limita meus hobbies e atividades de lazer.

6. Eu tenho dificuldade em atender às necessidades de minha família por causa da MG

7. Tenho que fazer meus planos em torno da MG

8. Meu trabalho foi prejudicado pela MG

9. Eu tenho dificuldade para falar devido a MG

10. Eu tenho dificuldade para dirigir devido a MG

Nunca

(0)

Um pouco

(1)

Às vezes

(2)

Bastante

(3)

Sempre

(4)

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11. Estou deprimido por causa da MG

12. Eu tenho dificuldade para andar devido a MG

13. Tenho problemas para me ir a locais públicos por causa da MG

14. Sinto-me sobrecarregado por causa da MG

15. Tenho dificuldade para realizar meus cuidados pessoais (higiene) por causa da MG

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80

12.ANEXOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) para participar, de forma voluntária, da

pesquisa intitulada: PERFIL DOS PACIENTES COM MIASTENIA GRAVIS

ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO DE NEUROLOGIA DO HOSPITAL

GERAL DE FORTALEZA , que está sob a responsabilidade do pesquisador

THIAGO TOSCANO CAVALCANTE e tem como objetivos: avaliar o perfil clínico,

epidemiológico, sorológico e eletrofisiológico dos pacientes portadores de Miastenia

Gravis acompanhados no Ambulatório de Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza

(HGF).

Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em

nenhum momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Os dados

coletados serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos

e/ou revistas científicas.

Você foi selecionado para uma coleta de dados do seu prontuário no Hospital

Geral de Fortaleza, além de uma entrevista para maiores informações sobre a sua

doença. Esta pesquisa poderá trazer riscos (constrangimento no momento da coleta dos

dados com pesquisador). Esta pesquisa poderá trazer o benefício de melhor

caracterizar o perfil da população atendida em nosso hospital e identificar os

fatores que estão relacionados à pior evolução neurológica de pacientes acometidos

por Miastenia Gravis, podendo o Sr.(a) interromper o procedimento se assim desejar.

A sua participação é de caráter voluntário, isto é, a qualquer momento o (a) Sr.(a) pode

recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar seu

consentimento, entrando em contato com o responsável pela pesquisa pelo telefone (85)

3101-7090. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou

com a instituição.

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é formado de um grupo de profissionais de

diversas áreas, cuja função é avaliar as pesquisas com seres humanos. O CEP foi criado

para defender os interesses dos participantes da pesquisa e também, dos pesquisadores.

Qualquer dúvida ética o Sr.(a) poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em

Pesquisa do Hospital Geral de Fortaleza, fone: 3101 7078. O Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido é feito em duas vias, no qual o Sr.(a) terá uma via e não terá

nenhum custo ou quaisquer compensações financeiras.

Fortaleza,_____de_________________de_______

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______________________________________

Participante da pesquisa:

Digitais caso não assine

____________________________

Pesquisador responsável pela coleta dos dados

9.2 – AUTORIZAÇÃO DO CHEFE DO SERVIÇO

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9.3- TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO

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