Era Uma Vez Uma Velha Que Morava Num Sapato

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Era uma vez uma velha que morava num sapato;Tinha tantos filhos que no sabia o que fazer.Como os camponeses em toda parte, ela os alimentava com caldo, embora no pudesse oferecer-lhes po algum; e dava vazo a seu desespero surrando-os. A dieta das outras crianas em Mame Ganso no era l muito melhor:Papa de ervilha quente,Papa de ervilha fria,Papa de ervilha na panela,Velha de nove dias.E o mesmo acontecia com suas roupas:Quando eu era menina,A pelos sete anos,Eu no tinha anguaPara me proteger do frio.Algumas vezes, eles desapareciam pela estrada, como nestes versos do perodo Tudor-Stuart:Era uma vez uma velha que tinha trs filhosJerry, James e John.Jerry foi enforcado e James se afogou.John se perdeu e nunca foi encontrado.E assim se acabaram seus trs filhos,Jerry, James e John.A vida era dura no tempo antigo de Mame Ganso. Muitos personagens mergulham na penria:Trolol, Margery DawVendeu sua cama e dorme na palha.Outros,verdade, gozavam uma vida de indolncia, como no caso da garonete georgiana Elsie Marly (alis, Nancy Dawson):Ela no precisa levantar-se, para alimentar os porcos,Fica na cama at as oito ou nove horas,Curly Locksregalava-se com uma dieta de morangos, acar e creme; mas ela parece ter sido uma menina do fim do sculo XVIII. A velha Mame Hubbard, uma personagem elisabetana, tinha de enfrentar um armrio vazio, enquanto seu contemporneo, o Pequeno Tommy Tucker, era obrigado a cantar para poder jantar. Simo Simples que, provavelmente, pertence ao sculo XVII, no tinha um tosto. E ele era um inofensivo idiota da aldeia, ao contrrio dos ameaadores pobres errantes e marginais que aparecem nos versinhos mais antigos:Escuta, escuta,Os ces esto latindo,Os mendigos chegam cidade;Alguns esfarrapados,Outros embriagados.E um trajado em veludo.A pobreza impelia muitos personagens de Mame Ganso para a mendicncia e o roubo:O Natal est chegando;Os gansos engordam.Faz favor, ponha uma moedaNo chapu do velho.Roubavam crianas indefesas:Ento veio um mendigo arroganteE disse que ia ficar com ela:Levou a minha bonequinha.E seus companheiros de misria:Era uma vez um homem que nada tinha de seu,Mas vieram ladres para roub-lo;Ele subiu rastejando at o alto da chamin,E eles acharam que o haviam pegado.As antigas rimas contm muito nonsense e fantasia bem-humorada; mas, de vez em quando, ouve-se uma nota de desespero, atravs da alegria. Sintetiza vidas que eram brutalmente curtas, como no caso de Solomon Grundy, ou que eram acabrunhadas pela misria, como a de outra velha annima:Era uma vez uma velhaQue nada tinha,E se dizia que essa velhaEra louca.No tinha nada para comer,Nada para usar,Nada para perder,Nada para temer,Nada para perguntar,E nada para dar.E quando realmente morreuNo tinha nada para deixar.