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03 20 de março de 2011 Rua do Cruzeiro, 639 - CEP 18270-840 - Tatuí - SP CENTRO RADIOLÓGICO TATUÍ Fone 3251-1736 / 3251-6370 (15) Dr. José Roberto Simões de Almeida - CRM 33.423 Dr. Mário Menezes - CRM 46.453 Segunda a sexta das 8 às 19h Sábado das 8 às 12h HORÁRIO PARA RAIO-X Há 18 anos servindo Tatuí e região Raio-X Digital Mamografia Digital Ultrassonografia 4D Duplex Scan Ecodopplercardiograma Envelhecendo com qualidade de vida Projeto de sucesso do Fundo Social de Solidariedade de Tatuí comemora 4 anos Da reportagem O tempo é cruel e você não é mais o mesmo. A agilidade e a facilidade de locomoção foram prejudicadas. Seu corpo sente o peso do tempo. Está mais frágil e as rugas de seu rosto são os sinais de que a terceira idade chegou. A vi- são já não é mais aquela da juventude, você precisa de cuidados especiais de paren- tes e a aposentadoria está depositada todo mês na sua conta bancária. Esta pode ser a história de várias pessoas com mais de 60. E será dos jovens daqui a al- guns anos. Ser idoso não é fá- cil. Doenças nas articulações, diabetes e depressões são al- guns dos principais problemas enfrentados por aqueles que alcançaram a chamada “me- lhor idade”. Segundo dados do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí), essa parcela de pessoas representa 10% da população da cidade. São cerca de 11 mil pessoas. Pensando nessa situação, a presidente do Fusstat, Maria José Vieira de Camargo, criou há quatro anos o projeto “En- velhecer com Qualidade de Vida”. O aniversário do progra- ma aconteceu dia 3 de março, bastante comemorado pelos 120 idosos atualmente assisti- dos. “É um projeto de atenção ao idoso, pois a população de Tatuí está envelhecendo. Rea- lizamos atendimentos preven- tivos para pessoas com mais de 60 anos”, disse a presidente. “Temos histórias de assistidos que chegaram com depressão e hoje são outras pessoas. Os idosos nos tratam com muito carinho e estou satisfeita pelo resultado do Envelhecer”. O “Envelhecer” começou num espaço reduzido, com 30 integrantes, nas UBS (uni- dades básicas de saúde) dos bairros vila Esperança e vila Dr. Laurindo. “Estamos a cada ano melhorando, princi- palmente nas atividades rela- cionadas ao idoso”, comentou Ivan Rezende, coordenador do projeto. “A ideia veio desde o início da gestão da Maria José Vieira de Camargo. Não tínha- mos espaço e nem como am- pliar, porém, era a nossa pro- posta ajudar os idosos”. Atualmente, o Envelhecer cresceu, utilizando o espa- ço do Núcleo de Atenção ao Idoso, localizado no Parque Ecológico Municipal “Maria Tuca”. Um benefício que, se- gundo o coordenador do pro- grama, foi fundamental para a boa aceitação dos assistidos. “Temos aqui (no parque eco- lógico) uma área verde extensa. E muitos deles (idosos) traba- lharam na roça quando eram mais jovens”. Rezende também conta que os integrantes do En- velhecer partem de dez bairros do município, sendo necessá- rios cinco micro-ônibus para levá-los ao local. Apenas são permitidas pes- soas com mais de 60 anos no projeto. Eles passam toda ma- nhã, de segunda a sexta, das 9h às 11h, praticando ativida- des como comunicação social, artesanato, exercícios físicos, reciclagem, teatro, coral. O projeto, neste ano, conta com três novidades: xadrez, vôlei e aulas bíblicas. Além disso, o Núcleo de Atenção ao Idoso e o Fusstat oferecem assistência médica, com fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista e en- fermeiras. O clima das atividades no Parque “Maria Tuca” é des- contraído. Muito difícil ver alguém que não se divirta nas atividades. Sorridentes, os idosos estão sempre dispostos a conversar. “Eu estou gostan- do bastante de vir aqui. Eu faço exercício e caminho todo o dia”, contou Maria Apareci- da Chieira Pires, 68. “É muito legal. Faz qua- se um ano que estou aqui, e a gente passeia, se diverte, pinta, e tudo que nós aguen- tarmos, nós fazemos. Desfila- mos no Carnaval, coisa que eu nunca tinha feito. Pena que foi pouco, mas se tivesse mais dias, a perna não aguentaria”, brincou. Maria Aparecida não teve problemas em relatar os mo- mentos difíceis que passou durante a vida, principalmen- te por estar longe da família e ter perdido o marido. “Faz quatro anos que estou viúva. Foi muito triste, e minha fa- mília está longe. Pelo menos, até meio dia, estou com meus ‘irmãos’. Vivemos o passado, estamos no presente e o futu- ro a Deus pertence”. “Eu fui criada no sítio e não tive in- fância. E isso eu estou fazendo agora. Comecei a trabalhar aos 14 anos, e, quando fiz 18 anos, eu casei”. Franquelin Dias da Silva, 79, também relembrou os tempos de infância. “Aquele tempo era muito vazio, não tinha diversão para quem morava no sítio e também não existiam brinquedos como atualmente. Fazíamos caminhões com carretel, e a nossa diversão era no cipó das árvores”. Das “brincadei- ras” atuais, Silva comentou que pratica apenas ativida- des físicas leves e fisiotera- pia, porque tem dores muscu- lares. O ex-auxiliar de produção também mostrou alguma me- lancolia ao falar sobre a saúde dele antes de entrar no Enve- lhecer. “Eu fumava e bebia, ti- nha uma vida até que agitada. Sempre tomava a minha pin- ga. Porém, quando dava 20h30 ou 21h, eu voltava para casa, não ficava dormindo na rua. Tem uma turminha que se en- tregou à bebida e morreu”. “A vida não é tão boa, mas eu não quero sofrer. Hoje, a minha saúde melhorou 100%. Aqui, cigarro e bebida não tem vez. O Envelhecer é a oportuni- dade para alguns idosos con- seguirem viver numa realida- de paralela, onde só há espaço para alegria. Maria Jacó de Oliveira é uma dessas pesso- as. “Eu faço tudo aqui. Estou há quatro anos e vou à escola, trabalho com argila, entre ou- tras atividades que faço. Eu sou viúva e, se não estivesse aqui, estaria muito nervosa. Acho que já estaria morta, pois perdi minha neta de 26 anos. Além disso, perdi minha sobri- nha, o marido e os dois filhos dela, queimados num aciden- te de carro”. “Quando esta- mos no projeto, nós cantamos, dançamos, e até saímos no Carnaval e ganhamos troféu. E as pernas aguentam”, garan- tiu. Entre os prêmios levados pelo bloco do projeto, estava o título de mais simpático do Carnaval tatuiano. De acordo com Gisele Maria dos Santos, enfermeira do En- velhecer, o projeto conta com uma equipe multiprofissional que trabalha, basicamente, na prevenção dos problemas físi- cos e psicológicos enfrentados pelos idosos. “As principais doenças que eles apresentam são: hiper- tensão, diabetes, articulares (artrite ou artrose) e um pou- co de depressão. Só pelo con- tato social nós conseguimos controlar a depressão e per- cebemos que eles ficam mais alegres e interessados. Mas os assistidos também passam por psicólogos. Outro fator que conseguimos melhorar é a diminuição dos medicamen- tos. Eles passam por médicos a cada dois meses, e fazemos medição da pressão a cada semana. Com esse contato, aprendemos a conhecer o tra- tamento que os idosos fazem”, contou. A oficina de comunicação social tem como objetivo au- mentar a autoestima das pes- soas tratadas pelo projeto. A professora Elizabete Roseiro, aposentada pelo Judiciário e professora de direito, leva re- vistas, jornais, enfim, conhe- cimentos para que os idosos possam ter assuntos para con- versar. “Eles interagem muito co- migo, é uma troca. Eu sempre trago muita revista, pois, com a boa informação, se vai além da autoestima. Faz com que eles saiam de casa, não ficando sentados em frente à televisão, assistindo novela e comen- do pipoca. E, com isso, eles sabem o que conversar e não ficam falando das doenças”. Elizabete também pediu do- ações de livros para a biblio- teca do Núcleo de Atenção ao Idoso, porque, segundo ela, os assistidos “amam ler”, prin- cipalmente os romances. Depois de rezarem e de uma reunião inicial com a professo- ra de comunicação social, os idosos formam uma fila para a medição de saúde. Neste momento, Maria do Carmo J. de Camargo, 83, esbanjou saú- de ao chegar correndo – não “ligando”para as varizes que cortavam sua perna - e sentar num banco para descansar. Ela não soube informar o motivo de tanta vontade de praticar atividade física, mas afirmou que dá prazer. “Eu corri e voltei no mesmo pique. Ando sozinha porque os outros vão muito devagar. Não sei por que gosto des- te tipo de atividade física. Sempre andei muito a minha vida inteira. Quando morava em Laranjal Paulista, jogava bola. Faz muito tempo que pratico ginástica. Ainda te- nho uma cirurgia no joelho, devido a um tombo que le- vei”, conversou a atleta. “Eu tinha comércio e sem- pre saia à noite para caminhar. Também trabalhei na roça, com uma enxada, e o nosso corpo ficava agitado”, lembrou Maria do Carmo, que entrou para o projeto Envelhecer no mês de dezembro de 2010. Enquanto algumas pessoas praticam atividades físicas, como o caso de Maria do Car- mo, outras preferem estudar. Na oficina de alfabetização, ministrada pela professora Nancy da Silva Miranda, as alunas Maria José Conceição, Terezinha Miguel e Domin- gues Medeiros escutavam atentamente aos ensinamen- tos. As três estão aprenden- do a escrever. “Antigamente, a escola era muito longe e a gente tinha dificuldades”, contou Domingues Medeiros. “Minha mãe disse que só es- tava me colocando na escola para não ficar ‘cega’. E na es- cola tinha palmatória. Eu che- gava em casa chorando, com as minhas mãos vermelhas. Só que a minha mãe ia na escola e falava para a professora que poderia bater mais”, revelou Maria José. Segundo a professora Nancy, a maioria dos frequentadores de suas aulas não estudou quando criança. Além dos fatos conta- dos por Maria José e Domin- gues Medeiros, os estudantes pouco frequentaram a escola, porque, afirmou a professora, antes não havia a importância e a cobrança sobre os estudos. Entre os principais pedidos dos idosos, está a leitura. Po- rém, a profissional explicou que existe a barreira da idade, pois a visão e a memória dos alunos já estão debilitadas. “Às vezes, eu dou uma aula num dia e, no outro, eles já es- queceram”. “Porém, eu nunca me senti tão valorizada como profes- sora. Trabalhei com criança durante 15 anos, e tinha di- ficuldades em chamar a aten- ção. Os idosos sempre pedem ensinamentos que utilizam no dia-a-dia e acham maravilho- so poderem voltar a estudar. Quando descobrem algo, é muito bonito”. A quinta-feira, 17, quando a reportagem visitou o proje- to Envelhecer, era o primeiro dia de trabalho da voluntária Rosana Cristina Lorente de Almeida. Ela atuará na oficina de artesanato. “Espero pas- sar um pouco do que a gente sabe. Estou gostando do pes- soal, eles me receberam su- perbem. Pelo que eu percebi, aqui é bem divertido”. Ela dá risada, fala rápido, sente bastante calor e sempre precisa beijar as pessoas. Ca- racterísticas que tornam Mar- garida Aparecida Ramos Ma- chado, 69, uma pessoa única no Envelhecer. Com um sor- riso no rosto, a “beijoqueira” disse que sempre sofreu com o ciúme do marido, mas que atualmente está “livre”. “O ‘véio’ não deixava eu ir à igreja, no médico, porque tinha ciúme. Mas, agora, deu uma parada porque eu venho no projeto. Antes, também, era só acordar que tinha uma dor nas pernas”, reclamou. “Estou em tratamento. As coisas que não estavam certo, aqui eles corrigem”. ANIVERSÁRIO Na cerimônia de aniversário do projeto Envelhecer, dia 3 de mar- ço, no Pólo de Assistência Social do Fusstat, no Vale da Lua, a pre- sidente da entidade, a primeira- dama Maria José, anunciou no- vidades para 2011. Ela pretende formar uma equipe esportiva, com integrantes do projeto para disputar os Jori (Jogos Regionais do Idoso), em outubro, na cida- de de Itapetininga, reunindo 60 cidades. Ainda na comemoração, Maria José contou que não es- perava que a iniciativa tomasse a atual proporção. “Atendemos a 120 e temos uma fila de espera”. Não é todo idoso que pode participar do projeto Enve- lhecer, informou o coordena- dor Rezende. A pessoa pre- cisa ter, no mínimo, 60 anos. Além disso, uma equipe faz uma triagem social, com ava- liação médica para saber se o interessado tem condições de participar das atividades. Mais dados sobre a inscrição no pro- jeto podem ser obtidas pelo telefone 3305-2585, ou pelo e-mail projetoenvelhecer@ yahoo.com.br. O Fusstat, disse o coordena- dor, também oferece cursos de capacitação para cuidadores de idosos. Na quarta-feira, 16, houve a primeira aula da sex- ta turma, com 30 alunos. Eles receberão treinamento de dois meses numa escola de enfer- magem. O curso é uma parce- ria do Fusstat, “Envelhecer”e da escola “Gualter Nunes”. Fotos: Kaio Monteiro Idosos assistidos pelo projeto se reúnem pela manhã para realizar a reza antes das atividades coordenadas pelas professoras Mulheres se divertem nas aulas de artesanato oferecidas pelo projeto

Envelhecendo com qualidade de vida · Seu corpo sente o peso do tempo. ... problemas em relatar os mo- ... para o projeto Envelhecer no mês de dezembro de 2010

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0320 de março de 2011

Rua do Cruzeiro, 639 - CEP 18270-840 - Tatuí - SP

CENTRO RADIOLÓGICO TATUÍ

Fone 3251-1736 / 3251-6370(15)

Dr. José Roberto Simões de Almeida - CRM 33.423

Dr. Mário Menezes - CRM 46.453

Segunda a sexta das 8 às 19hSábado das 8 às 12h

HORÁRIO PARA RAIO-X Há 18 anosservindo Tatuí

e região

Raio-X Digital

Mamografia Digital

Ultrassonografia

4D

Duplex Scan

Ecodopplercardiograma

Envelhecendo com qualidade de vidaProjeto de sucesso do Fundo Social de Solidariedade de Tatuí comemora 4 anosDa reportagem

O tempo é cruel e você não é mais o mesmo. A agilidade e a facilidade de locomoção foram prejudicadas. Seu corpo sente o peso do tempo. Está mais frágil e as rugas de seu rosto são os sinais de que a terceira idade chegou. A vi-são já não é mais aquela da juventude, você precisa de cuidados especiais de paren-tes e a aposentadoria está depositada todo mês na sua conta bancária.

Esta pode ser a história de várias pessoas com mais de 60. E será dos jovens daqui a al-guns anos. Ser idoso não é fá-cil. Doenças nas articulações, diabetes e depressões são al-guns dos principais problemas enfrentados por aqueles que alcançaram a chamada “me-lhor idade”. Segundo dados do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí), essa parcela de pessoas representa 10% da população da cidade. São cerca de 11 mil pessoas.

Pensando nessa situação, a presidente do Fusstat, Maria José Vieira de Camargo, criou há quatro anos o projeto “En-velhecer com Qualidade de Vida”. O aniversário do progra-ma aconteceu dia 3 de março, bastante comemorado pelos 120 idosos atualmente assisti-dos. “É um projeto de atenção ao idoso, pois a população de Tatuí está envelhecendo. Rea-lizamos atendimentos preven-tivos para pessoas com mais de 60 anos”, disse a presidente. “Temos histórias de assistidos que chegaram com depressão e hoje são outras pessoas. Os idosos nos tratam com muito carinho e estou satisfeita pelo resultado do Envelhecer”.

O “Envelhecer” começou num espaço reduzido, com 30 integrantes, nas UBS (uni-dades básicas de saúde) dos bairros vila Esperança e vila Dr. Laurindo. “Estamos a cada ano melhorando, princi-palmente nas atividades rela-cionadas ao idoso”, comentou Ivan Rezende, coordenador do projeto. “A ideia veio desde o início da gestão da Maria José Vieira de Camargo. Não tínha-mos espaço e nem como am-pliar, porém, era a nossa pro-posta ajudar os idosos”.

Atualmente, o Envelhecer cresceu, utilizando o espa-ço do Núcleo de Atenção ao Idoso, localizado no Parque Ecológico Municipal “Maria Tuca”. Um benefício que, se-gundo o coordenador do pro-grama, foi fundamental para a boa aceitação dos assistidos.

“Temos aqui (no parque eco-lógico) uma área verde extensa. E muitos deles (idosos) traba-lharam na roça quando eram mais jovens”. Rezende também conta que os integrantes do En-velhecer partem de dez bairros do município, sendo necessá-rios cinco micro-ônibus para levá-los ao local.

Apenas são permitidas pes-soas com mais de 60 anos no projeto. Eles passam toda ma-nhã, de segunda a sexta, das 9h às 11h, praticando ativida-des como comunicação social, artesanato, exercícios físicos, reciclagem, teatro, coral. O projeto, neste ano, conta com três novidades: xadrez, vôlei e aulas bíblicas. Além disso, o Núcleo de Atenção ao Idoso e o Fusstat oferecem assistência médica, com fisioterapeuta, psicóloga, nutricionista e en-fermeiras.

O clima das atividades no Parque “Maria Tuca” é des-contraído. Muito difícil ver alguém que não se divirta nas atividades. Sorridentes, os idosos estão sempre dispostos a conversar. “Eu estou gostan-do bastante de vir aqui. Eu faço exercício e caminho todo o dia”, contou Maria Apareci-da Chieira Pires, 68.

“É muito legal. Faz qua-se um ano que estou aqui, e a gente passeia, se diverte,

pinta, e tudo que nós aguen-tarmos, nós fazemos. Desfila-mos no Carnaval, coisa que eu nunca tinha feito. Pena que foi pouco, mas se tivesse mais dias, a perna não aguentaria”, brincou.

Maria Aparecida não teve problemas em relatar os mo-mentos difíceis que passou durante a vida, principalmen-te por estar longe da família e ter perdido o marido. “Faz quatro anos que estou viúva. Foi muito triste, e minha fa-mília está longe. Pelo menos, até meio dia, estou com meus ‘irmãos’. Vivemos o passado, estamos no presente e o futu-ro a Deus pertence”. “Eu fui criada no sítio e não tive in-fância. E isso eu estou fazendo agora. Comecei a trabalhar aos 14 anos, e, quando fiz 18 anos, eu casei”.

Franquelin Dias da Silva, 79, também relembrou os tempos de infância. “Aquele tempo era muito vazio, não tinha diversão para quem morava no sítio e também não existiam brinquedos como atualmente. Fazíamos caminhões com carretel, e a nossa diversão era no cipó das árvores”. Das “brincadei-ras” atuais, Silva comentou que pratica apenas ativida-des físicas leves e fisiotera-pia, porque tem dores muscu-lares.

O ex-auxiliar de produção também mostrou alguma me-lancolia ao falar sobre a saúde dele antes de entrar no Enve-lhecer. “Eu fumava e bebia, ti-nha uma vida até que agitada. Sempre tomava a minha pin-ga. Porém, quando dava 20h30 ou 21h, eu voltava para casa, não ficava dormindo na rua. Tem uma turminha que se en-tregou à bebida e morreu”. “A vida não é tão boa, mas eu não quero sofrer. Hoje, a minha saúde melhorou 100%. Aqui, cigarro e bebida não tem vez.

O Envelhecer é a oportuni-dade para alguns idosos con-seguirem viver numa realida-de paralela, onde só há espaço para alegria. Maria Jacó de

Oliveira é uma dessas pesso-as. “Eu faço tudo aqui. Estou há quatro anos e vou à escola, trabalho com argila, entre ou-tras atividades que faço. Eu sou viúva e, se não estivesse aqui, estaria muito nervosa. Acho que já estaria morta, pois perdi minha neta de 26 anos. Além disso, perdi minha sobri-nha, o marido e os dois filhos dela, queimados num aciden-te de carro”. “Quando esta-mos no projeto, nós cantamos, dançamos, e até saímos no Carnaval e ganhamos troféu. E as pernas aguentam”, garan-tiu. Entre os prêmios levados pelo bloco do projeto, estava o título de mais simpático do Carnaval tatuiano.

De acordo com Gisele Maria dos Santos, enfermeira do En-velhecer, o projeto conta com uma equipe multiprofissional que trabalha, basicamente, na prevenção dos problemas físi-cos e psicológicos enfrentados pelos idosos.

“As principais doenças que eles apresentam são: hiper-tensão, diabetes, articulares (artrite ou artrose) e um pou-co de depressão. Só pelo con-tato social nós conseguimos controlar a depressão e per-cebemos que eles ficam mais alegres e interessados. Mas os assistidos também passam por psicólogos. Outro fator que conseguimos melhorar é a diminuição dos medicamen-tos. Eles passam por médicos a cada dois meses, e fazemos medição da pressão a cada semana. Com esse contato, aprendemos a conhecer o tra-tamento que os idosos fazem”, contou.

A oficina de comunicação social tem como objetivo au-mentar a autoestima das pes-soas tratadas pelo projeto. A professora Elizabete Roseiro, aposentada pelo Judiciário e professora de direito, leva re-vistas, jornais, enfim, conhe-cimentos para que os idosos possam ter assuntos para con-versar.

“Eles interagem muito co-migo, é uma troca. Eu sempre

trago muita revista, pois, com a boa informação, se vai além da autoestima. Faz com que eles saiam de casa, não ficando sentados em frente à televisão, assistindo novela e comen-do pipoca. E, com isso, eles sabem o que conversar e não ficam falando das doenças”. Elizabete também pediu do-ações de livros para a biblio-teca do Núcleo de Atenção ao Idoso, porque, segundo ela, os assistidos “amam ler”, prin-cipalmente os romances.

Depois de rezarem e de uma reunião inicial com a professo-ra de comunicação social, os idosos formam uma fila para a medição de saúde. Neste momento, Maria do Carmo J. de Camargo, 83, esbanjou saú-de ao chegar correndo – não “ligando”para as varizes que cortavam sua perna - e sentar num banco para descansar. Ela não soube informar o motivo de tanta vontade de praticar atividade física, mas afirmou que dá prazer.

“Eu corri e voltei no mesmo pique. Ando sozinha porque os outros vão muito devagar. Não sei por que gosto des-

te tipo de atividade física. Sempre andei muito a minha vida inteira. Quando morava em Laranjal Paulista, jogava bola. Faz muito tempo que pratico ginástica. Ainda te-nho uma cirurgia no joelho, devido a um tombo que le-vei”, conversou a atleta.

“Eu tinha comércio e sem-pre saia à noite para caminhar. Também trabalhei na roça, com uma enxada, e o nosso corpo ficava agitado”, lembrou Maria do Carmo, que entrou para o projeto Envelhecer no mês de dezembro de 2010.

Enquanto algumas pessoas praticam atividades físicas, como o caso de Maria do Car-mo, outras preferem estudar. Na oficina de alfabetização, ministrada pela professora Nancy da Silva Miranda, as alunas Maria José Conceição, Terezinha Miguel e Domin-gues Medeiros escutavam atentamente aos ensinamen-tos. As três estão aprenden-do a escrever. “Antigamente, a escola era muito longe e a gente tinha dificuldades”, contou Domingues Medeiros. “Minha mãe disse que só es-

tava me colocando na escola para não ficar ‘cega’. E na es-cola tinha palmatória. Eu che-gava em casa chorando, com as minhas mãos vermelhas. Só que a minha mãe ia na escola e falava para a professora que poderia bater mais”, revelou Maria José.

Segundo a professora Nancy, a maioria dos frequentadores de suas aulas não estudou quando criança. Além dos fatos conta-dos por Maria José e Domin-gues Medeiros, os estudantes pouco frequentaram a escola, porque, afirmou a professora, antes não havia a importância e a cobrança sobre os estudos.

Entre os principais pedidos dos idosos, está a leitura. Po-rém, a profissional explicou que existe a barreira da idade, pois a visão e a memória dos alunos já estão debilitadas. “Às vezes, eu dou uma aula num dia e, no outro, eles já es-queceram”.

“Porém, eu nunca me senti tão valorizada como profes-sora. Trabalhei com criança durante 15 anos, e tinha di-ficuldades em chamar a aten-ção. Os idosos sempre pedem ensinamentos que utilizam no dia-a-dia e acham maravilho-so poderem voltar a estudar. Quando descobrem algo, é muito bonito”.

A quinta-feira, 17, quando a reportagem visitou o proje-to Envelhecer, era o primeiro dia de trabalho da voluntária Rosana Cristina Lorente de Almeida. Ela atuará na oficina de artesanato. “Espero pas-sar um pouco do que a gente sabe. Estou gostando do pes-soal, eles me receberam su-perbem. Pelo que eu percebi, aqui é bem divertido”.

Ela dá risada, fala rápido, sente bastante calor e sempre precisa beijar as pessoas. Ca-racterísticas que tornam Mar-garida Aparecida Ramos Ma-chado, 69, uma pessoa única no Envelhecer. Com um sor-riso no rosto, a “beijoqueira” disse que sempre sofreu com o ciúme do marido, mas que atualmente está “livre”.

“O ‘véio’ não deixava eu ir à igreja, no médico, porque tinha ciúme. Mas, agora, deu uma parada porque eu venho no projeto. Antes, também, era só acordar que tinha uma dor nas pernas”, reclamou. “Estou em tratamento. As coisas que não estavam certo, aqui eles corrigem”.

AniversárioNa cerimônia de aniversário do

projeto Envelhecer, dia 3 de mar-ço, no Pólo de Assistência Social do Fusstat, no Vale da Lua, a pre-sidente da entidade, a primeira-dama Maria José, anunciou no-vidades para 2011. Ela pretende formar uma equipe esportiva, com integrantes do projeto para disputar os Jori (Jogos Regionais do Idoso), em outubro, na cida-de de Itapetininga, reunindo 60 cidades. Ainda na comemoração, Maria José contou que não es-perava que a iniciativa tomasse a atual proporção. “Atendemos a 120 e temos uma fila de espera”.

Não é todo idoso que pode participar do projeto Enve-lhecer, informou o coordena-dor Rezende. A pessoa pre-cisa ter, no mínimo, 60 anos. Além disso, uma equipe faz uma triagem social, com ava-liação médica para saber se o interessado tem condições de participar das atividades. Mais dados sobre a inscrição no pro-jeto podem ser obtidas pelo telefone 3305-2585, ou pelo e-mail [email protected].

O Fusstat, disse o coordena-dor, também oferece cursos de capacitação para cuidadores de idosos. Na quarta-feira, 16, houve a primeira aula da sex-ta turma, com 30 alunos. Eles receberão treinamento de dois meses numa escola de enfer-magem. O curso é uma parce-ria do Fusstat, “Envelhecer”e da escola “Gualter Nunes”.

Fotos: Kaio Monteiro

Idosos assistidos pelo projeto se reúnem pela manhã para realizar a reza antes das atividades coordenadas pelas professoras

Mulheres se divertem nas aulas de artesanato oferecidas pelo projeto