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Antônio Ruas: Professor Universitário UERGS, Bacharelado em Gestão Ambiental (docente regular); Administração dos Serviços e Sistemas de Saúde (docente colaborador). Enfoque ecossistêmico em saúde: do conhecimento comunitário popular e tradicional ao ecossanitarismo.

Enfoque ecossistêmico em saúde: do conhecimento ...professor-ruas.yolasite.com/resources/Ecossanitarismo_1a.pdf · Um conceito de cultura é apresentado por Gomes, 2010 e diz que:

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Antônio Ruas:

Professor Universitário

– UERGS, Bacharelado

em Gestão Ambiental

(docente regular);

Administração dos

Serviços e Sistemas de

Saúde (docente

colaborador).

• Enfoque ecossistêmico

em saúde: do

conhecimento

comunitário popular e

tradicional ao

ecossanitarismo.

1. Objetivos e ementa

Ementa:

• Fundamentos da Saúde Coletiva com o enfoque

ecossistêmico, da Ecologia Política, Antropologia Ecológica e

Ecologia Cultural para o entendimento dos dualismos,

ontogenias e identidades culturais nas relações natureza,

cultura e saúde. A atualidade do debate sobre injustiças

sociais, insustentabilidade da economia globalizada e

degradação ambiental. Histórico e contextos das correntes

políticas e do ativismo ecologista. O ecologismo relacionado ao

conhecimento comunitário, popular e tradicional, o

desenvolvimento sustentável e a ecossustentabilidade. A

concepção ecossistêmica na saúde coletiva, o planejamento

popular nas dimensões ecológica e sanitária e o

ecossanitarismo.

1. Objetivos e ementa

Objetivos:

• O reconhecimento da insustentabilidade dos modelos

desenvolvimentistas concentradores e esgotadores dos

recursos naturais e degradadores das condições de saúde. O

reconhecimento do conhecimento comunitário, popular e

tradicional para a sustentabilidade a partir de uma avaliação

relativista das relações ecológicas e sanitárias propostas pelas

comunidades populares e tradicionais. Valorizar o meio

ambiente, a biodiversidade, a promoção da saúde e o

pertencimento ecológico a partir do legado cultural. Contribuir

para o trabalho acadêmico integrado às demandas sanitárias

das comunidades tradicionais e populares.

• Referências Bibliográficas Básicas:

• ALIER, J. M. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de

valoração. São Paulo: Contexto, 2007.

• BECK, U. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. 2 ed. São

Paulo, Ed. 34, 2010.

• CHARRON, D. F. Ecohealth research in practice. IDRC. SPRINGER.

Ottawa, 2012. Pdf.

• DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. 6. ed. São Paulo:

Hucitec: Nupaub – USP/CEC, 2008.

• DESCOLLÁ, P. Más allá de la naturaleza y de la cultura. In: Martinez, L. M.

(ed). Cultura y Naturaleza, pp. 75 – 98. Bogotá: Jardín Botánico de Bogotá,

José Celestino Mutis, 2011.

• LALONDE, M. A. A new perspective of the health of Canadians: a work

document. Ottawa: [s.e.], 1974

• LEBEL, J. Health: an ecosystem approach. IDRC. Ottawa, 2003. Pdf.

• MINAYO, M. C. S. de & MIRANDA, A. C. de (org). Saúde e ambiente

sustentável: estreitando nós. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2002.

• MINAYO, M. C. S. de. Saúde e ambiente: uma relação necessária. In:

CAMPOS, G. W. S. C. de (et al.). Tratado de saúde coletiva. 2ª ed, pp: 79 –

108. São Paulo. HUCITEC, 2012.

• Referências Bibliográficas Básicas:

• MORIN, E. O método II: a vida da vida. Porto Alegre: Sulina, 2005.

• NEVES, W. A. Antropologia Ecológica: um olhar materialista sobre as

sociedades humanas. 2 ed. São Paulo, Cortez, 2002.

• Referências Bibliográficas Complementares:

• FILLION, M. & LEMIRE, M. Degradação ambiental, mercúrio e saúde no

Tapajós. Projeto Caruso. Universidade de Brasília, 2008. Cartilha. Pdf.

• GOMES, M. A. O. Diagnóstico rápido participativo (DRP): uma ferramenta

de ação e aprendizagem coletiva. In: BROSE, M. Metodologia participativa.

Uma introdução a 29 instrumentos. 2ª ed., pp: 67 – 80. Tomo Editorial, 2010.

• SCRIMSHAW, N. S. & GLEASON, G. R. ed. RAP. Rapid Assessment

Procedures. Qualitative methods for planning and evaluation of health

related programmes. International Nutrition Foundation for Developing

Countries (INFDC), Boston, MA, USA, 1992.

• SÁ, R. F. de; ARAÚJO, J. A.; FREIRE, M. S. M.; SALLES, R. S.; CHUMA, J.;

ROYAMA, H.; YUASA, M.; YAMAMOTO, S.; MENEZES FILHO, A.;

NISHIDA, M.; TRINDADE, C. M. A.; OLIVEIRA, A. A. de Manual do método

Bambu: construindo municípios saudáveis. Recife: Editora Universitária da

UFPE, 2007. Pdf.

• Referências Bibliográficas Complementares:

• VICTORA, C. G.; KNAUTH, D. R. & HASSEN, M. N. de. Pesquisa qualitativa

em saúde. Porto Alegre. Tomo Editorial, 2000.

• VÍCTORA, C. G. & RUAS NETO, A. L. Educação popular e planejamento

participativo na comunidade indígena Charrua: aplicação do método

Bambu. Revista de Extensão, 8: 24 – 30, 2014).

1. Afinal, cultura é o que?

Cultura no âmbito da relação ambiente e saúde, deve seguir oconceito ampliado e não restrito da concepção.

Um conceito de cultura é apresentado por Gomes, 2010 e dizque: ”Cultura é o modo próprio de ser do homem emcoletividade, que se realiza em parte consciente, em parteinconscientemente, constituindo um sistema mais ou menoscoerente de pensar, agir, fazer, relacionar-se, posicionar-seperante o Absoluto e, enfim, reproduzir-se”. Correto?

2. Homo sapiens e cultura: houve um ponto crítico?

Geertz no capítulo “Transição para a Humanidade” (O papel

da cultura nas Ciências Sociais) menciona a teoria do “ponto

crítico” de Alfred Kroeber segundo a qual o desenvolvimento

cerebral cortical promoveu o “ponto” do surgimento da cultura.

O ponto de Kroeber refletia a influência da Antropologia

Evolucionista e o predomínio da “singularidade” da espécie

humana, única a ter cultura.

O próprio Geertz apresenta no texto uma série de refutações,

a saber: (i) evidências culturais marcantes dos ancestrais

humanos; (ii) evidências de aprendizado/cultura em primatas

próximos dos humanos como chimpanzés e bonobos, bem

como de gorilas e orangotangos, nem tão próximos assim.

2. Homo sapiens e cultura: houve um ponto crítico?

Geertz conclui que a cultura ao invés de produto do

desenvolvimento cortical, marca da evolução biológica, foi

promotora da evolução, como uma parte do meio ambiente. A

pressão seletiva foi também cultural até o surgimento do H.

sapiens, a nossa espécie e o seu poder de fala e organização.

A partir deste ponto, não iniciou-se, mas acelerou-se o

desenvolvimento cultural de forma inexorável.

A reflexão de Geertz conduz ao debate do dualismo do

pertencimento biológico e separação da cultura (Descollá) que

marca ainda hoje a nossa sociedade.

• 3. Descollá e separação histórica e cultural cultura e natureza:

como explicar? Mas allá de la naturaleza y de la cultura

No capítulo “Mas allá de la naturaleza y de la cultura” de

Phillip Descollá (Cultura y Naturaleza), o autor inicia com uma

analogía da superioridade das “ciencias da natureza” vistas

num museu e na vida real, com as metodologías

classificatórias e quantitativas sobre os estudos culturais mais

simbólicos.

O autor reflete o etnocentrismo deste enfoque da antropología

e questiona as suas origens.

O museu é o de Historia Natural de la ciudad de La Plata,

capital de la provincia de Buenos Aires. Oferece una excelente

imagen del mundo tal como lo hemos concebido durante largo

tiempo ..

Desde Darwin, Mendel y sobre todo Spencer, los conservadores de la

planta baja se han empeñado también con mucha energía en extender su

dominio de competencia en detrimento de los saltimbanquis que se agitan

en el piso superior. Los comportamientos enigmáticos que ocupan a los

antropólogos, sociólogos e historiadores, las costumbres extrañas y

escandalosas que se obstinan en describir y contextualizar, las instituciones

sobre las que proponen tipologías que se rearman sin cesar, todo eso

reposa, nos dicen, sobre algunos resortes naturales tan simples que los

aduladores de la humanidad se obstinan en no ver, cegados como están por

su desprecio del método científico y por el deseo de conservar un territorio

autónomo, sumido no obstante en la confusión y asediado por vendettas

permanentes.

¿Para qué escribir frondosos volúmenes sobre el sistema de parentesco o

los mecanismos de control del poder dado que sexualidad y dominación, en

los humanos como en los no-humanos, se explican siempre por la ambición

de maximizar una ventaja reproductiva, es decir, de diseminar los propios

genes con la mayor tasa de éxito?

Comentar

Las antropologías materialistas consideraban el medioambiente físico o la

fisiología humana como los motores de la vida social e importaban de las

ciencias de la naturaleza modelos de explicación causal que, esperaban,

darían fundamentos más sólidos a las ciencias del hombre.

Para la ecología cultural, para la sociobiología o para ciertas corrientes de

la antropología marxista, el comportamiento humano, la forma y la

sustancia de las instituciones, las representaciones colectivas desde

entonces podían percibirse como respuestas adaptativas a los factores

limitantes de un ecosistema, con la expresión de condiciones engendradas

por la explotación de un cierto tipo de recursos o como la traducción de

determinaciones genéticas. Se comprenderá que estos abordajes hayan

podido dejar de lado el estudio del modo en que las sociedades no

modernas conceptualizaban sus cuerpos y su medioambiente, excepto para

evaluar las posibles convergencias o incompatibilidades entre los dominios

señalizados por la ciencia y las concepciones marcadas por el prefijo etno

(etnobotánica, etnozoología, etnobiología, etnofarmacología, etnomedicina)

para denotar con claridad su estatuto local y relativo. Al hacerlo, recortaban

a priori ciertos campos de conocimiento y de práctica de estas sociedades

de manera de volverlos comparables con los saberes naturalistas

occidentales que tenían el valor de patrón, sin preocuparse demasiado por

saber si esos dominios discretos existían como tales en las categorías

locales de los pueblos estudiados.

3.1 As cosmologias das sociedades atuais e relação

cultura - natureza

1.1 Animismo, totemismo e naturalismo.

A distinção entre Natureza e Cultura nas várias para aAntropologia (autores como Descola e outros) passa por váriosestados e é complexa em alguns casos. As classificações maisconhecidas, chamadas de cosmologias são:

1.1.1 Naturalismo.

O naturalismo é a separação entre a cultura humana e anatureza, em especial os outros animais, tratados comodistintos. É uma essência de uma cultura europeia e religiosamoralista.

3.1 As cosmologias das sociedades atuais e relação

cultura - natureza

1.1.2 Animismo.

No animismo a natureza é integrada à cultura e os animaissão tratados como parte do mundo simbólico. Viveiros deCastro é um autor que denomina o animismo indígenaamericano de perspectivismo, onde os animais vêem oshumanos da mesma forma que nós. O xamanismo é umaconsequência do animismo e representa a distinção entreindivíduos que cruzam as barreiras dos mundos, os xamãs.

3.1 As cosmologias das sociedades atuais e relação

cultura - natureza

1.1.3 Totemismo.

No totemismo, característico de vários povos indígenas comoos aborígenes, os indivíduos são ligados a tótens, querepresenta a complementaridade da identidade de seu grupo.Haveria uma relação mitológica de complementaridade entrehumanos e não-humanos, além de uma semelhança tantofísica como de interioridade entre o indivíduo e o seu totem. Nototemismo, para completar, como a origem do indivíduo estáligada a objetos, plantas e animais característicos de umdeterminado lugar, sua identidade já não se distingue doterritório.

3.1 As cosmologias das sociedades atuais e relação

cultura - natureza

1.1.4 Analogismo.

Para Descollá, o analogismo seria uma cosmologiaintermediária entre o naturalismo e o animismo, na qualalgumas explicações importantes culturalmente são obtidas danatureza não humana. Uma prática derivada do analogismoseria a astrologia. Outro caso, as explicações médicas a partirde fenômenos naturais.

Timothy Morton é um teórico moderno que escreveu oPensamento Ecológico, livro sobre a “rede” ecológica que unetudo e todos.

Para Morton, separar a natureza das atividades humanas éum grave equívoco que aumenta a crise ecológica.

4. Filósofos e ecofilosofias: O pensamento ecológico de

Timothy Morton e Edgard Morin.

Para Morin, o olhar ecológico consiste em distinguir todo ofenômeno autônomo (auto-organizador, produtor, determinado,etc.) na sua relação com o meio. Este meio é o ecossistema.

O ambiente social é uma socio-organização na qual se esboçaa dimensão eco-organizadora. Para o indivíduo é o seuecossistema (meio urbano, rural, inter-retroações).

Debate: como a concepçãode de Morin se relaciona com acultura?

Morin ainda detalha a concepção de outro autor, AmosHawley: “as interações entre classes, grupos, etc., são similaresàs interações entre as espécies ...”

4. Filósofos e ecofilosofias: O pensamento ecológico de

Timothy Morton e Edgard Morin.

.

Outra idéia de Morin: “Toda a sociedade comporta a suaprópria dimensão ecológica. Toda a vida humana comporta asua eco-inscrição e a sua ecodeterminação. Toda a vidahumana é simultaneamente eco-sócio-autodeterminada.

“He aquí, pues, un principio fundamental del pensamientoecologizado: no sólo no se puede separar un ser autónomo(Autos) de su hábitat cosmofísico y biológico (Oikos), sino quetambién es necesario pensar que Oikos está en Autos sin quepor ello Autos deje de ser autónomo y, en lo que concierne alhombre, éste es relativamente extranjero en un mundo que, noobstante, es el suyo. En efecto, somos íntegramente hijos delcosmos. Pero, por la evolución, por el desarrollo particular denuestro cerebro, por el lenguaje, por la cultura, por la sociedad,hemos llegado a ser extraños al cosmos, nos hemosdistanciado de este cosmos y nos hemos marginado de él”.

4. Filósofos e ecofilosofias: O pensamento ecológico de

Timothy Morton e Edgard Morin.

Uma outra forma de avaliarmos a relação das ciências, ou dascorrentes acadêmicas com a natureza é através dascontribuições da Antropologia, a ciência dos estudos culturais.

Vamos nos valer de Antônio Carlos Diegues, nos capítulossobre antropologia e natureza do livro “O mito moderno danatureza intocada”.

Diegues situa primeiro o Determinismo Ambiental ouGeográfico de Friederich Ratzel (século XIX). Ratzel ficouconhecido pelas conclusões determinísticas sobre a cultura serum resultado das condições geográficas. Isto levou à defesaposterior do do colonialismo e do darwinismo social.

5. Antropologia e natureza: as correntes principais

Ratzel e outros evolucionistas culturais foram desconstruídospelos trabalhos de Franz Boas, criador da corrente difusionistae da compreensão histórica das culturas.

A Ecologia Cultural segundo Diegues foi criada por JamesSteward e centrava-se na ideia de que os recursos ambientaiscondicionam a tecnologia e afetam a cultura.

A EC tem muito do funcionalismo radical de Malinowsky(Argonautas do Pacífico Sul) segundo o qual as culturas sãosempre adaptativas, funcionais e, portanto eco-determinadas.

A EC no entanto não desenvolve muito o conceito deecossistema, centrando-se mais nos processos de ajustesbásicos através dos quais as pessoas usam o meio ambiente.

5. Antropologia e natureza: as correntes principais

Certos aspectos da cultura são mais suscetíveis de relaçãocom o ambiente. Por exemplo, atividades econômicas desubsistência, tecnologia, organização social (núcleo central dacultura) e são responsáveis pelas repostas adaptativas dohomem ao meio. Inclui produção, troca, comercialização, tudoadaptativo.

A linha da EC recebeu críticas dos próprios eco-antropólogos,por não contemplar elementos ritualísticos, simbólicos e nãodesenvolver a questão do ecossistema, o que vai aparecer naAntropologia Ecológica, com Rappaport e seguidores.

5. Antropologia e natureza: as correntes principais

A Antropologia Ecológica também é considerada funcionalista,para alguns neofuncionalista.

A relação ecológica na AE é total, ao contrário da anterior.Parte do ecossistema onde os grupos humanos e suassociedades habitam. O pertencimento ecológico é claro nestalinha.

Os estudos culturais devem concentrar-se nas relaçõesecológicas dos recursos e como isto influencia a cultura. Oexpoente é Rapapport, autor de Pigs for Ancestors.

A AE tem seguidores na Sociologia Ambiental radical deCatton e outros eco-sociólogos que desenvolveram aconcepção eco-catastrofista.

5. Antropologia e natureza: as correntes principais

Segundo um dos expoentes da Sociologia Ambiental, FredericButtel, a Sociologia Ambiental originou-se dos estudossociológicos rurais, com o nome de Sociologia Rural. Osprimeiros estudos abordavam a partir da década de 1950, arelação a relação das sociedades e comunidades com osrecursos naturais.

A Sociologia Rural trabalhava muito com as comunidadesrurais, com pescadores e extrativistas (Rural Sociology, 1996,vol 61(1), pp. 56-75).

A Sociologia Rural aproximou-se da questão do uso eadaptação aos recursos naturais, objeto da Ecologia Humana,um ramo pró-funcionalista da Ecologia. Além disto, outraslinhas da Sociologia passaram a estudar os movimentospoliticos pró-conservacionismo dos recursos. Esta amálgama éa origem da Sociologia Ambiental.

6. A Sociologia Ambiental: primórdios

A Sociologia Ambiental seguiu diferentes visões, sobre o

componente “eco” da sociedade. Uma das mais conhecidas é o

neo-malthusianismo representado por Garret Hardin (1968)

observável no seu trabalho “A tragédia dos commons”, no qual

advoga um controle rígido da natalidade e o confisco (pelo

estado) de bens comuns para serem preservados. Hardin é

conhecido na Ecologia Humana.

6. A Sociologia Ambiental: os eco-sociólogos.

Outra vertente, mais recente é representada pelo eco-

marxista Allan Schnaiberg que recoloca a questão da

degradação ambiental fora do malthusianismo, mas na ordem

econômica capitalista. A sua teoria mais famosa é “treadmill” da

economia, ou da esteira da degradação: quanto mais capital

acumulado, mais degradado ficará:

Por exemplo: nas grandes florestas as sociedades

harmonicas com a natureza são afastadas e nas áreas inicia-

se o processo de degradação.

6. A Sociologia Ambiental: os eco-sociólogos.

A vertente mais ecológica da Sociologia Ambiental é

representada por Willam Catton.

Catton centra o seu trabalho no pertencimento ecológico e na

necessidade da questão ecológica ser central no planejamento

das sociedades, acima dos outros níveis.

Catton é bem conhecido pelos livros Overshoot e Bottleneck,

nos quais aprofunda uma visão catastrofista para humanidade

que organiza-se acima da capacidade regenerativa do planeta.

Esta visão se aproxima da concepção da “Sociedade de Riscos

de Ulrich Beck, também catastrofista, mas que tem uma linha

reformista, conforme veremos.

6. A Sociologia Ambiental: os eco-sociólogos.

Para entendermos melhor, Cattona e seguidores descontroem

primeiro a ideia do “Paradigma do Excepcionalismo Humano” –

HEP vigente na década de 1970: as atividades humanas

devem ser analizadas pela cultura e sociedades próprias, não

seguem regras ecológicas.

Catton contrapôs um outro paradigma: Novo Paradigma

Ecológico – NEP, o do pertencimento da espécie humana, da

mesma forma que as outras espécies.

6. A Sociologia Ambiental: os eco-sociólogos.

Beck e Giddens são conhecidos pela linha na Sociologia geral

e ambiental conhecida como modernidade reflexivista: as

sociedades modernas aprendem com os riscos e aprimoram-

se. Um destes riscos é o aquecimento global. Especialmente

Beck apresenta-se como um crítico à passividade frente aos

eco-problemas e eco-desastres e é uma referância nos

estudos de saúde e ambiente.

No livro mais famoso, “A Sociedade de Risco”, Beck declara

que há uma lógica na distribuição de riqueza e riscos.

7. A Sociologia Ambiental: a sociedade de risco.

Para Beck, na atual fase de modernidade tardia, a produção

social de riqueza é acompanhada da produção social de riscos.

Modernização significa o salto tecnológico de racionalização e

transformação do trabalho e organização.

A reboque das forças produtivas crescentes no processo de

modernização, são desencadeados riscos numa medida

desconhecida.

Convergem as situações e conflitos sociais de uma sociedade

que distribui riqueza com os de uma sociedade que distribui

riscos.

7. A Sociologia Ambiental: a sociedade de risco.

A arquitetura social e dinâmica política desta ameaça

civilizatória pode ser explicada em 5 pontos:

i) Riscos produzidos no estágio avançado de desenvolvimento

das forças produtivas diferenciam-se das riquezas. Provocam

danos irreversíveis, permanecem invisíveis, baseiam-se em

interpretações, apresentam-se no conhecimento científico ou

leigo, estão abertos a processos sociais de definição.

ii) Com a distribuição e incremento dos riscos surgem

situações sociais de ameaça. Inicialmente seguem a lógica da

sociedade de classe, acumulando-se nos patamares de baixo.

Após, ocorre o efeito bumerangue, alcançando aqueles que os

produziram, invertendo a lógica de classes.

7. A Sociologia Ambiental: a sociedade de risco.

iii) Mantém-se a lógica capitalista porque os riscos são

colocados no mercado. Representam necessidades sem fundo.

iv) Ao contrário das riquezas que podem ser possuídas, os riscos afetam e

são atribuídos. A consciência de classe é determinada pela existência, mas

nas ameaças, a consciência determina a existência. O potencial político tem

que ser analisado numa sociologia do surgimento e disseminação do

conhecimento sobre os riscos.

V) O reconhecimento social dos riscos torna o que era apolítico em político,

viabilizado no “combate às causas”. Isto gera modificações industriais e

modificações no mercado. Disputa-se o efeito direto e os efeitos colaterais

resultantes. Estabelece-se um potencial político das catástrofes. Sua

prevenção e manejo podem acabar envolvendo uma reorganização do

poder e responsabilidade. A sociedade de riscos é catastrófica. O estado de

exceção ameaça converter-se em normalidade.

7. A Sociologia Ambiental: a sociedade de risco.