Educação Infatil práticas

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    Educao Infantil

    e prticas promotorasde igualdade racial

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    Realizao

    Ministrio da Educao

    Secretaria de Educao Bsica

    Coordenao Geral de Educao Infantil

    NEAB (Ncleo de Estudos Afro-brasileiros) da

    UFSCar (Universidade Federal de So Carlos)

    CEERT (Centro de Estudos das Relaes de Trabalho

    e Desigualdades)

    Instituto Avisa L Formao Continuada

    de Educadores

    Coordenao geral

    Hdio Silva Jnior CEERT

    Maria Aparecida Silva Bento CEERT

    Silvia Pereira de Carvalho Instituto Avisa L

    Superviso tcnica

    Lucimar Rosa Dias UFMS (Universidade Federal de Mato

    Grosso do Sul )/CEERT

    Maria Virginia Gastaldi Instituto Avisa L

    Formadoras

    Ana Carolina Carvalho Instituto Avisa L

    Daniela Martins Pereira CEERT

    Luciana Alves CEERT

    Consultoras

    Carolina de Paula Teles CEERT

    Lauro Cornlio CEERT

    Marcio Silva CEERT

    Waldete Tristo de Oliveira CEERT

    Cisele Ortiz Instituto Avisa L

    Equipe tcnica CEERT

    Ana Paula Lima

    Angela Barbosa Cardoso Loureiro de Mello

    Fernanda Pestana

    Mrio Rogrio Silva

    Shirley Santos

    Vanessa Fernandes

    Responsvel pela publicao

    Coordenao e edio geral

    Silvia Pereira de Carvalho

    Projeto grfico e diagramao

    Azul Publicidade

    Reviso de texto

    Airton Dantas de Arajo

    Educao Infantil e prticas

    promotoras de igualdade racial

    Aguardando pois a ficha catalogrfica

    ser feita pelo CEERT

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    Decises do cotidiano escolar podem ensejar grandes transformaes na

    educao e na sociedade brasileira, a fim de construirmos um pas forte, coeso,

    no qual todos os brasileiros sejam tratados com igualdade e dignidade.

    (Educao infantil e prticas promotoras de Igualdade racial Apresentao)

    Agradecimentos aos profissionais:

    CEI Josefa Jlia

    Dir. Cristiane da Silva Francinelli Cruz

    Coord. Flvia dos Santos Rodrigues

    Profa Fabola de Souza Silva Amorim

    EMEI Guia Lopes

    Dir. Cibele Racy

    Coord. Carmem Alexandre

    Profa Ana Lcia Guimares Caetano

    Profa

    Fernanda Costa de Oliveira Santos

    Secretaria Municipal de Educao

    da Cidade de So Paulo

    Elisabeth Fernandes de Souza

    DesenhosdoProjetoAfro-brasileiro,da

    ProfaBeatrizRebello

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    Apresentao 8

    Introduo 9Carta aos profissionais da Educao Infantil Professora Maria Aparecida Bento

    Apresentao do projeto 10

    Marcos legais para a Educao Infantil igualitria 11Professor Hdio Silva Jnior

    Captulo 1 13

    Gesto Todos juntos 13

    1.1. Compromisso para conhecer, agir e mudar 13

    1.2. Um projeto de todos 15

    1.3. Dimenso formativa 16

    1.4. Dimenso das parcerias 17

    1.4.1.Parceria com as famlias 17

    1.4.2.Parcerias com ONGs e museus que trabalham a questo racial 181.5. Dimenso organizacional Recursos humanos, financeiros, espao, tempo, materiais e

    experincias de aprendizagem 18

    1.5.1. Recursos humanos e financeiros 18

    Captulo 2 19

    A organizao dos espaos, materiais e tempos para apoiar as prticaspromotoras da igualdade racial 19

    2.1. Organizao de um ambiente de aprendizagem 192.1.1.Organizao dos materiais, brinquedos e livros 21

    2.1.2.Escolha de brinquedos e de livros 22

    2.1.3.Os livros, as revistas e os demais portadores de textos 22

    2.1.4. Objetos de amplo alcance, jogos, instrumentos musicais, CDs, DVDs e muito mais 24

    2.2. Organizao do tempo 25

    2.2.1.Atividades permanentes (crianas de 0 a 5 anos) 26

    2.2.2.As sequncias e os projetos didticos (crianas de 4 a 5 anos) 28

    Sumrio

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    Captulo 3 29

    Experincias de aprendizagem na Educao Infantil 29

    A) Identidade afro-brasileira e construo de uma

    autoimagem positiva 29

    B) Patrimnio cultural afro-brasileiro 31

    3.1. Experincias com o corpo: cuidados, brincadeiras, movimento

    expressivo e a msica 31

    3.1.1.Cuidados consigo e com o outro 32

    3.1.2.Brincar e imaginar: o jogo simblico como linguagem 33

    3.1.3.Jogos de destreza e de raciocnio 34

    3.1.4.Movimento expressivo e a msica 35

    3.2. Experincias com linguagem oral e escrita 37

    3.2.1.Linguagem oral 37

    3.2.2.Falar para se comunicar 37

    3.2.3.Roda de conversa 37

    3.2.4.Ouvir histrias e narrativas orais 39

    3.3. O papel da literatura 403.4. Experincias acerca do conhecimento de mundo 41

    3.4.1.Conhecer os povos e suas formas de ser e estar 41

    3.4.2.Expresso plstica 42

    Bibliografia 46

    Livros Infantis 46

    Referncias bibliogrficas 48

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    O objetivo deste material apoiar os profissio-

    nais de Educao Infantil e as Secretarias de Educao

    a implementar o Art. 7, inciso V, das Diretrizes Curri-

    culares da Educao Infantil, que indica que as pro-

    postas pedaggicas dessa etapa devem estar compro-

    metidas com o rompimento de relaes de dominao

    etnicorracial. O material compe-se deste documento

    e de trs vdeos compilados em um DVD, que apre-

    sentam experincias desenvolvidas em duas unidades

    educativas, o Centro de Educao Infantil (CEI) Josefa

    Jlia da Unio de Ncleos, Associaes e Sociedades

    de Moradores de Helipolis e So Joo Clmaco (UNAS)

    e a Escola Municipal de Educao Infantil (EMEI) Guia

    Lopes. Teve a colaborao da Secretaria Municipal de

    Educao da cidade de So Paulo. Essas aes foram

    realizadas por formadoras com ampla experincia em

    Educao Infantil e por meio de estudos relativos

    questo racial.

    Este material resulta de intervenes em situaes

    reais, na quais todos os sujeitos envolvidos, equipe ges-

    tora, professores e especialistas puderam refletir, cada

    qual em seu campo de atuao, sobre como as prticas

    pedaggicas na educao infantil podem promover a

    igualdade racial. Esse processo resultou em momentos

    de reviso de muitas atividades, da organizao do

    tempo e de espao e tambm das aes de gesto.

    A produo deste material teve a colaborao de

    diferentes instituies: do Ministrio da Educao por

    meio da Secretaria de Educao Bsica e Coordenao

    de Educao Infantil, da Universidade Federal de So

    Carlos, por meio do Ncelo de Estudos Afro-brasileiros,

    do Centro de Estudos das Relaes de Trabalho e Desi-gualdades e do Instituto Avisa L Formao Continu-

    ada de Educadores. Constitui rica experincia que com-

    partilhamos, pois acreditamos que por meio de sua

    leitura e das discusses geradas pelos contedos dos

    vdeos, possvel desenvolver um processo consistente

    de formao continuada para incluir a dimenso da

    igualdade racial nas prticas pedaggicas das institui-

    es de Educao Infantil.

    Apresentao

    8 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    ImagemcapturadadovdeoExperinciasdeAprendizagem

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    Existe a crena de que a discriminao e o precon-

    ceito no fazem parte do cotidiano da Educao Infan-

    til, de que no h conflitos entre as crianas por conta

    de seus pertencimentos raciais, de que os professores

    nessa etapa no fazem escolhas com base no fentipo

    das crianas. Em suma, nesse territrio sempre houve a

    ideia de felicidade, de cordialidade e, na verdade, no

    isso o que ocorre.

    Os estudos de mestrado e de doutorado que tra-

    tam das relaes raciais na faixa de 0 a 6 anos apon-

    tam que h muitas situaes de discriminao que

    envolvem crianas, professores, profissionais de educa-

    o e famlias. Isso prova de que a concepo de quena Educao Infantil no h problemas raciais uma

    falcia. Portanto, temos que fazer uma interveno nes-

    sa etapa da educao bsica, pois esta uma fase fun-

    damental para a construo da identidade de todas

    as crianas. Os estudos referidos apresentam situaes

    em que aquelas que so negras esto em desvanta-

    gem, pois so as que mais vivenciam situaes desa-

    gradveis em relao ~as suas caractersticas fsicas.

    Por outro lado, as crianas brancas recebem fortes in-

    formaes de valorizao de seu fentipo. Nesse per-

    odo, elas se conscientizam das diferenas fsicas (o fe-ntipo) relacionadas ao pertencimento racial Por

    que o meu cabelo assim? Por que a cor da minha

    pele de um jeito e a da minha amiga de outro?. Se

    uma criana negra se sente bem com o seu corpo, seu

    rosto e seus cabelos, e uma criana branca tambm se

    sente bem consigo mesma, pode haver respeito e acei-

    tao entre elas. Essa a importncia do trabalho com

    a promoo da igualdade racial nesta etapa. Se houver

    uma interveno qualificada e que no ignore a raa

    como um componente importante no processo de

    construo da identidade da criana, teremos outra his-

    tria sendo construda.

    A identidade tem mil faces, mas h duas caracters-

    ticas que contribuem de forma decisiva para sua forma-

    o: a relao que estabelecemos com nosso corpo e a

    relao que estabelecemos com o grupo ao qual perten-

    cemos. Como construir uma histria de respeito e valori-zao de todos os tipos fsicos aps tantos anos de dis-

    criminao racial? Uma das possibilidades repensar as

    prticas pedaggicas na Educao Infantil, rever os es-

    paos, os materiais, as imagens, as interaes, a gesto,

    e incluir como perspectiva a igualdade racial o que cer-

    tamente produzir um movimento em que muitas aes

    e atitudes sero reformuladas, ressignificadas e outras,

    abandonadas. Um olhar atento ao que vem acontecen-

    do nessa etapa em relao ao tema ora tratado igual-

    dade racial ser benfico para as crianas negras, para

    as crianas brancas e para o futuro do Pas.

    Mos obra!

    Professora Maria Aparecida Bento

    Introduo

    Carta aos profissionais da Educao Infantil

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    Desde a Constituio de 1988 poca por pres-

    so exclusiva do Movimento Negro Brasileiro , o Brasil

    vem se preocupando com a incluso do tema da diver-

    sidade racial na educao escolar.

    interessante perceber, por exemplo, que em obedi-

    ncia ao princpio da autonomia didtica, a Constituio

    Federal absteve-se de detalhar o currculo escolar, mas

    previu trs contedos curriculares obrigatrios em todos

    os nveis de ensino: a lngua portuguesa1, as contribui-

    es das diferentes culturas e etnias para a formao do

    povo brasileiro2 e a educao ambiental3. Este fato revela

    a importncia atribuda temtica da diversidade racial

    na conformao da poltica educacional.

    Lembremos que o Estatuto da Criana e do Ado-

    lescente (ECA) assegura a toda criana o direito de

    igualdade de condies para a permanncia na esco-

    la, de ela ser respeitada pelos educadores, de ter sua

    identidade e seus valores preservados e ser posta asalvo de qualquer forma de discriminao, neglign-

    cia ou tratamento vexatrio.

    Em uma primeira aproximao, portanto, a poltica

    educacional igualitria assume contornos de uma obri-

    gao preventiva imposta ao Estado e aos particulares,

    a fim de editarem normas e tomarem todas as provi-

    dncias necessrias para evitar a sujeio das crianas a

    qualquer forma de desrespeito, discriminao, precon-

    ceito, esteretipos ou tratamento vexatrio.

    Vale ressaltar ainda a existncia de normas cons-

    titucionais que prescrevem textualmente a valoriza-

    o da diversidade tnica4 e da identidade dos dife-

    rentes grupos formadores da sociedade brasileira5.

    Ancoradas neste preceito, as Diretrizes Curriculares

    Nacionais para a Educao Infantil (DCNEIs) estabele-

    cem que a identidade tnica, assim como a lngua ma-

    terna, elemento de constituio da criana6.

    Alteraes recentes impressas na Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional (LDBEN) acrescentaram-

    lhe dois artigos 26-A e 79-B , que preveem o estu-

    do da histria e cultura afro-brasileira e indgena e a

    incluso no calendrio escolar do dia 20 de novembro

    como Dia Nacional da Conscincia Negra.

    Encontra-se em questo, portanto, no a especifici-

    dade ou o tema de interesse de negros ou indgenas,

    algo secundrio, incidental, marginal gesto da edu-

    cao, mas assunto que constitui verdadeiro pilar jur-dico-poltico da educao brasileira.

    No pode haver dvida, portanto, quanto ao fa-

    to de que a previso normativa de que a Educao

    Infantil torne-se um ambiente de aprendizado de

    valorizao da diversidade racial condio bsica

    para a construo de uma poltica educacional igua-

    litria e pluralista.

    Professor Hdio Silva Jnior

    Marcos legais para aEducao Infantil igualitria

    1 Conforme art. 13 e art. 210, 2o.2 Conforme art. 242, 1o.3 Conforme art. 225, inciso VI.4 Conforme art. 215, 3o.5 Conforme art. 216, caput.6 CNE, Resoluo no 5, 17122009.

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    12 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    Apresentao

    Ilustrao:Thaiane

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    A gesto de um ambiente educativo que tem

    como objetivo educar para a igualdade racial no

    tarefa de uma pessoa s. As Secretarias de Educao

    dos municpios, por meio de suas equipes tcnicas,

    os gestores das unidades educativas, diretores, co-ordenadores pedaggicos, os professores e equipe de

    apoio, as famlias e a comunidade precisam se unir

    com o objetivo de transformar a situao de discrimi-

    nao existente nos ambientes escolares. Muitas so

    as dimenses que precisam ser pensadas para que

    uma real mudana de atitudes, procedimentos e con-

    ceitos em relao s desigualdades sejam implantadas

    em uma creche ou pr-escola.

    1.1. Compromisso para conhecer,agir e mudar

    Conhecer as leis, a histria da populao negra, as

    suas lutas, e reconhecer a herana dos povos africanose suas culturas na formao do Brasil um bom come-

    o. Outra ao importante estudar os documentos

    oficiais, por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacio-

    nais para a Educao Infantil, a Lei de Diretrizes e Ba-

    ses da Educao Nacional, assim como ler documentos

    orientadores como os Referenciais Curriculares Nacio-

    nais para a Educao Infantil (RCNEIs) e outros docu-

    mentos e experincias que tratam da igualdade racial

    na Educao Infantil.

    Essas atitudes so fundamentais para a cons-

    truo de prticas pedaggicas que estejampreocupadas com o pleno desenvolvimento da

    criana e que considerem o reconhecimen-

    to do pertencimento racial como questo

    importante para a construo da identi-

    dade. O compromisso dos profissionais da

    rea com a educao de qualidade e

    igualitria o principal motor pa-

    ra que procurem o conhecimen-

    to necessrio a fim de construir

    novas prticas que promovam

    Gesto Todos juntos

    Captulo1

    Essas atitudes s

    ruo de prtipreocupadas co

    criana e que

    o do perte

    importante

    dade. O co

    rea

    ig

    ra

    Foto:EstfiMachado

    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 13

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    14 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    a igualdade racial nessa etapa. A especificidade do tra-

    balho educativo para crianas de 0 a 5 anos est na

    busca do desenvolvimento integral que se faz de modointencionalmente planejado. Para que todas as crianas

    tenham acesso aos diferentes conhecimentos que ad-

    vm do processo educativo, na variedade de experin-

    cias com objetos, materiais e espao, e na interao

    com pessoas que as cercam. No entanto, a constatao

    da discriminao e do preconceito racial ainda existente

    na sociedade brasileira tem onerado as crianas negras

    impossibilitando-lhes ocupar-se to somente dessas ex-

    perincias de forma produtiva e integral. Para elas, o

    contato cotidiano com a rejeio sua aparncia e a

    desvalorizao de suas heranas culturais causam im-

    pacto no seu pleno desenvolvimento, e muitas vezes as

    tornam presas a um pessimismo racial7, j que requer

    grande equilbrio emocional conviver com tal situao e

    ainda ter disposio e energia para aprender.

    Com o intuito de garantir que professores e gesto-

    res estejam atentos ao tema, a reviso das DCNEIs in-

    cluiu em seu artigo 8o, 1o, a exigncia de que a pro-

    posta pedaggica das instituies de Educao Infantil

    explicitasse as aes sobre o tema:

    (...) devero prever condies para o trabalho coleti-

    vo e para a organizao de materiais, espaos e tempos

    que assegurem:

    VIII a apropriao pelas crianas das contribuies his-

    trico-culturais dos povos indgenas, afrodescendentes,

    asiticos, europeus e de outros pases da Amrica;

    IX o reconhecimento, a valorizao, o respeito e a inte-

    rao das crianas com as histrias e as culturas africa-

    nas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e

    discriminao;

    X a dignidade da criana como pessoa humana e a prote-

    o contra qualquer forma de violncia fsica ou simb-

    lica e negligncia no interior da instituio ou praticadas

    pela famlia, prevendo os encaminhamentos de violaes

    para instncias competentes. (DCNEIs CNE 2009)

    No entanto, mesmo antes da exigncia legal e ex-

    plcita presente nas DCNEIs de que necessrio incluir

    na proposta pedaggica prticas promotoras da igual-

    dade racial, os RCNEIs, no exatamente com esta cla-

    reza em relao s crianas negras, j indicavam a di-

    versidade como uma dimenso importante no trabalho

    da Educao Infantil, especialmente ao tratar da for-

    mao pessoal e social, da identidade, da socializao,do acesso ao conhecimento construdo pela humani-

    dade e da organizao da escola a fim de atingir os

    objetivos para as diferentes faixas etrias.

    Nas DCNEIs est explcito que:

    O currculo da Educao Infantil concebido como um

    conjunto de prticas que buscam articular as experincias e

    os saberes das crianas com os conhecimentos que fazem

    parte do patrimnio cultural, artstico, ambiental, cientfico

    e tecnolgico, de modo a promover o desenvolvimento in-

    tegral de crianas de 0 a 5 anos de idade. (Art. 3o)

    Considerando que o currculo um conjunto de

    prticas pedaggicas, as Orientaes Curriculares para

    a Valorizao da Igualdade Racial na Educao Infan-

    til8 pretendem colaborar para que os profissionais da

    Educao Infantil desenvolvam um olhar atento s ati-

    7 Crena na impossibilidade de sucesso na escola do aluno que negro.8 A pr-proposta das Orientaes encontra-se disponvel em: e esto sendo elaboradas sob a coordena-

    o de Lucimar Rosa Dias e Hdio Silva Jnior e discutidas em cinco seminrios regionais: Minas Gerais, Par, Recife, Curitiba e So Paulo.

    Captulo 1

    ImagemcapturadadovdeoEx

    perinciasdeAprendizagem

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    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 15

    vidades realizadas no cotidiano das instituies, para

    que elas sejam inclusivas e promovam a igualdade e

    no reproduzam a discriminao racial.Com base nos documentos oficiais e naqueles de

    carter orientador, nas experincias desenvolvidas es-

    pecificamente para a organizao desses materiais,

    nas mltiplas experincias coletadas pelo CEERT e pe-

    los pesquisadores envolvidos na construo da Rede

    Educar para a Igualdade Racial na Educao Infantil,

    apresentamos a seguir algumas possibilidades para os

    profissionais iniciarem a construo da proposta pe-

    daggica que promova a igualdade, tendo sempre em

    vista que as experincias de aprendizagem com as

    crianas de 0 a 5 so articuladas entre si e no com-

    partimentadas e fragmentadas, como poder ser visto

    no Captulo 3 Experincias de aprendizagem na Edu-

    cao Infantil.

    Para refletir

    Os profissionais de sua equipe conhecem:

    O parecer no

    20/2009, que apresenta a Revisodas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-

    cao Infantil?

    A Coleo Histria Geral da frica?

    A Histria dos Negros no Brasil?

    As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educa-

    o Infantil?

    As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-

    o das Relaes Etnicorraciais e para o Ensino de

    Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana?

    1.2. Um projeto de todos

    Transformar prticas educacionais que no incorpo-

    ram da mesma forma todas as crianas e suas famlias

    tarefa exigente e que necessita de uma equipe decidida.

    Os gestores da unidade educativa tm papel-chave neste

    processo quando possibilitam a vivncia democrtica,

    pluralista e, ao mesmo tempo, profissional; quando or-

    ganizam as aes, planejam, avaliam constantemente

    o processo e o reorganizam sempre que necessrio. Os

    profissionais da instituio de Educao Infantil consti-

    tuem um corpo vivo e dinmico, responsvel pela cons-

    truo do projeto educacional, conhecido como projeto

    pedaggico. Nele, os conhecimentos relativos ao tema

    racial devem ser contemplados. Alm deste documentogeral norteador, outros pequenos projetos podem dina-

    mizar as intenes e a prtica cotidiana.

    Para isto, nada melhor do que elaborar e implantar

    um projeto institucional, que tem como maior mri-

    to conjugar, ao mesmo tempo, informao, conheci-

    mento, formao continuada e prticas pedaggicas

    transformadas coletivamente. Esses projetos podem

    durar um ou mais semestres, e as prticas desenvol-

    vidas devero ser incorporadas paulatinamente rotina

    da instituio.

    FotocapturadadoCatlogoHeranaAfricana.AcervoBaArtes,MAM

    -Salvador(BA)

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    16 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    1.3. Dimenso formativa

    Criar e manter espaos de formao tem funda-

    mental importncia. Momento e lugar especialmente

    destinados formao devem possibilitar o encontro

    entre os profissionais para a troca de ideias sobre a

    prtica, para a superviso, estudos sobre a questo

    racial, organizao e planejamento de uma rotina pra-

    zerosa do tempo e das atividades e outras questes

    relativas ao projeto em pauta. A instituio deve pro-

    porcionar condies para que todos os profissionais

    participem de momentos de formao de natureza

    diversa: tematizao da prtica, palestras sobre ques-

    tes especficas, visitas a museus, ONGs e espaos cul-

    turais, atualizaes por meio de filmes, vdeos e acesso

    a informaes em livros e em sites.

    Passo a passo de um projeto institucional

    com enfoque nas questes raciais

    Diagnstico

    Como essas questes da diversidade racial esto sen-

    do tratadas na unidade educativa?

    a. Para isto, fazer uma anlise dos documentos e iden-

    tificar se a questo tratada e como est explicita-

    da nos textos escritos.

    b. A organizao do espao fsico, materiais dispon-

    veis para as crianas, a utilizao do tempo e as

    atividades desenvolvidas incluem a temtica racial

    (como ser especificado a seguir).c. O uso dos Indicadores de Qualidade para a Edu-

    cao Infantil com questes que abordam o te-

    ma podem tambm ser uma boa opo, para

    identificar problemas relativos ao assunto. Orga-

    nizar os dados encontrados em um documento e

    socializar com a equipe de profissionais, famlias

    e comunidade em uma reunio interativa pode

    apontar caminhos de transformao de uma

    prtica que discrimina.

    Escolher um foco

    De tudo que foi levantado, o que possvel mexer

    de imediato?

    O que prioritrio? O que mais estratgico?

    Por exemplo: um olhar e uma ao diante dos

    momentos de jogo simblico? ou organizar um

    espao que traduz a igualdade (veja o Captulo 3

    e assista aos vdeos 2 e 3).

    Itens de um projeto institucional

    Justificar os ob jetivos para os gestores, diretor e

    coordenador pedaggico, professores, equipe de

    apoio, crianas e famlias.

    Contedos de formao, ensino e aprendizagem,

    metas a curto e mdio prazo, indicadores de ava-

    liao para os diferentes participantes.

    Delinear as etapas provveis.

    Captulo 1

    Foto:EstfiMachado

    o? o

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

    16/50

    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 17

    Diretor e coordenador podem avaliar como

    esto os processos de formao continuadaem sua unidade.

    As equipes tcnicas podem fazer o diagnstico da

    rede em relao formao continuada.

    1.4. Dimenso das parcerias

    1.4.1. Parceria com as famlias

    A faixa etria das crianas atendidas e a inten-

    o da construo de uma sociedade democrtica e

    pluralista, que respeita a todos e valoriza a diversi-

    dade, exigem ateno especial s famlias de todas

    as crianas, sejam elas negras ou brancas. O funda-

    mental no partir de uma imagem de famlia ide-

    alizada, hegemnica, mas valorizar e investir nas

    singularidades dos arranjos familiares e nas contri-

    buies de todos na construo de uma educao

    de qualidade e igualitria.

    O trabalho com a diversidade e o convvio com a diferen-

    a possibilitam a ampliao de horizontes tanto para o

    professor quanto para a criana. Isto porque permite a

    conscientizao de que a realidade de cada um apenas

    parte de um universo maior que oferece mltiplas esco-

    lhas. Assumir um trabalho de acolhimento s diferentes

    expresses e manifestaes das crianas e suas famlias

    significa valorizar e respeitar a diversidade, no implican-

    do a adeso incondicional aos valores do outro. Cada

    famlia e suas crianas so portadoras de um vasto reper-trio que se constitui em material rico e farto para o

    exerccio do dilogo aprendizagem com a diferena, a

    no discriminao e as atitudes no preconceituosas.

    (MEC/SEF, Referencial Curricular Nacional para Educao

    Infantil,1998, volume 1, p. 77)

    A relao com as famlias parte de alguns princpios:

    Considerar a famlia uma instituio plural, que

    apresenta diferentes composies, dinmica, na

    qual emergem sentimentos, necessidades e inte-

    resses nem sempre coesos.

    Considerar o conhecimento e a cultura das famliascomo parte integrante do processo educativo.

    Manter canais abertos de comunicao entre as

    instituies, permitindo uma cooperao significa-

    tiva e enriquecedora para ambos.

    Aes a ser desenvolvidas com as famlias:

    Acolhimento inicial: matrcula, apresentao da

    unidade educacional.

    Desenvolver os processos de adaptao nos pri-

    meiros dias.

    Realizar entradas e sadas cuidadosas e acolhedoras.

    Organizar reunies em pequenos grupos para dis-

    cutir o currculo, as atividades e demais assuntos.

    Estimular a participao na organizao de eventos.

    Convidar as famlias para participar da construo

    dos projetos pedaggicos.

    Incluir a famlia, sempre que possvel, nos projetos

    didticos desenvolvidos com as crianas.

    Vejam alguns exemplos nos trs vdeos de

    como as famlias podem ser includas.

    Depoimento da diretora Cibele Racy sobre a festa

    junina afro-brasileira (vdeo 1 Gesto e Famlias)

    Famlia da EMEI Guia Lopes

    ImagemcapturadadovdeoGestoeFamlias

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    18 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    1.4.2. Parcerias com ONGs e museusque trabalham a questo racial

    A luta pela igualdade racial e o combate a toda for-

    ma de discriminao deve muito s diferentes organiza-

    es negras que atuam na rea. Com diferentes enfo-

    ques, algumas voltadas para a educao, outras para o

    trabalho, gerao de renda, sade etc., atingem amplo

    espectro de problemas e apontam e encaminham solu-

    es interessantes. Por isso, so fontes importantes de

    conhecimento e parcerias.

    As instituies organizadas com base em aspectos

    das culturas africanas e do povo negro no Brasil tam-

    bm fornecem um conjunto de conhecimentos impres-

    cindveis ao trabalho educativo. Museus fsicos ou vir-

    tuais, espaos culturais, bibliotecas, escolas de samba,

    grupos de dana, capoeira podem ser contatados para

    enriquecer o dia a dia das instituies educativas.

    Quais parcerias sua instituio tem estabele-

    cido com esses grupos?

    O que existe em sua cidade de recursos que podem

    contribuir com o tema?

    1.5. Dimenso organizacional Recursos humanos,financeiros, espao, tempo,materiais e experinciasde aprendizagem

    1.5.1. Recursos humanos e financeiros

    Estes so dois pontos importantes que nem sempre

    esto totalmente nas mos dos gestores, principalmen-

    te se a instituio for pblica. A contratao, avaliao,

    promoo e demisso tambm no costumam ser da

    alada da direo, mas, quando , vale a pena incluir a

    temtica racial para equilibrar a contratao de pessoas

    e mesmo para avaliar os preconceitos existentes.

    Em relao compra de materiais necessrios a uma

    educao promotora da igualdade racial, h diferen-

    tes possibilidades para as escolas pblicas. Programas

    como: PDDE (Dinheiro Direto na Escola) do Ministrio

    da Educao (MEC), o PNLD (Programa Nacional do Li-

    vro Didtico) e o PBE (Programa de Bibliotecas Escola-res) podem ser acessados pelos Estados, municpios e

    suas escolas. A preocupao do Ministrio com a pro-

    moo da igualdade racial encontra-se em todos os

    programas, conduzindo, por exemplo, compra de li-

    vros e materiais apropriados para trabalhar a diversida-

    de. (Fonte:www.mec.gov.br)

    Nos municpios, existem ainda diferentes formas

    de a escola contar com recursos. As Secretarias de

    Educao so responsveis por prover as unidades de

    brinquedos, livros, mobilirio e de demais materiais e

    formao para as questes especficas sobre o tema.

    Sabe-se tambm da enorme disposio dos gestores

    para organizar eventos nos quais recursos so amea-

    lhados para comprar materiais especficos.

    Espao, tempo, materiais e experincias de en-

    sino e aprendizagem sero objeto de um cap-

    tulo e de um vdeo prprio, considerando sua

    importncia para a Educao Infantil.

    Captulo 1

    ImagenscapturadasdosvdeosGestoeFamlia

    s

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 19

    Captulo2

    2.1. Organizao de um ambientede aprendizagem

    Considerar o espao como ambiente de aprendi-

    zagem significa compreender que os elementos que o

    compem constituem tambm experincias de apren-

    dizagem. Os espaos no so neutros; sua organizao

    expressa valores e atitudes que educam.

    Lina Fornero, em A organizao dos espaos na

    educao infantil, de 1998, prope, ao pensar o am-

    biente escolar, uma importante distino entre espao

    e ambiente, especialmente relevante quando pensa-mos a Educao Infantil. Para ela o termo espao refe-

    re-se ao espao fsico, incluindo locais e objetos, en-

    quanto o ambiente refere-se no s ao espao fsico,

    mas ao conjunto espao e relaes que nele se estabe-

    lecem. Assim, no conceito de ambiente, que inclui as

    relaes, contemplam-se tambm os afetos, as rela-

    es interpessoais entre as crianas, entre elas e os

    adultos prximos e da comunidade.

    Sabemos que, ao organizar as salas dos grupos e

    demais ambientes das unidades de educao, os gesto-

    res e os professores colocam disposio das crianas

    artefatos culturais, brinquedos, livros, imagens etc.

    Em geral, no h conscincia de que esses objetos tra-

    duzem determinadas ideologias e concepes, que

    A organizao dos espaos, materiaise tempos para apoiar as prticaspromotoras da igualdade racial

    Foto:ArquivoInstitutoAvisal

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    20 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    educam em uma direo que esses profissionais no

    planejaram e que no o fariam intencionalmente. Isso

    especialmente importante na Educao Infantil, emque muito do que se ensina se faz por meio das opor-

    tunidades criadas na organizao do tempo, do espao

    e dos materiais, no s explicitamente, mas por meio

    das atividades orientadas.

    Em uma proposta de trabalho para a igualdade

    racial importante lembrar que os artefatos cultu-

    rais presentes nas creches e nas pr-escolas podem

    oferecer imagens distorcidas, muitas vezes preconcei-

    tuosas e estereotipadas dos diferentes grupos raciais.

    Propomos aqui considerar a organizao do espao,

    dos materiais e do tempo, tambm como um elemen-

    to curricular.

    Os ambientes de aprendizagem para a igualdade

    racial devem ser abertos s experincias infantis e pos-

    sibilitar que as crianas expressem seu potencial, suas

    habilidades e curiosidades e possam construir uma au-

    toimagem positiva. Educar para a igualdade racial na

    Educao Infantil significa ter cuidado no s na esco-

    lha de livros, brinquedos, instrumentos, mas tambm

    cuidar dos aspectos estticos, como a eleio dos ma-

    teriais grficos de comunicao e de decorao condi-zentes com a valorizao da diversidade racial. A es-

    colha dos materiais deve estar relacionada com sua

    capacidade para estimular, provocar determinado tipo

    de respostas e atividades. Para a escritora Fanny Abra-

    movich, no livro Quem educa quem?, o modo como

    so decoradas as escolas revela muito sobre as con-

    cepes das pessoas envolvidas. Entrando em salas

    de aula de escolinhas e escolonas, em geral, toma-se

    o maior susto... Uma olhada e j se percebe qual a proposta da escola, como a professora encaminha

    o processo educacional, quais os valores em jogo

    (Abramovich, 1985, p. 77).

    Quando as paredes esto repletas de desenhos fi-

    xos pintados por adultos, com personagens infantis de

    origem europeia ou norte-americana, exortaes reli-

    giosas de uma nica religio, ou ainda letras e nmeros

    com olhos, bocas e roupas etc., h uma concepo de

    infncia explicitada. Uma viso de criana homognea,

    infantilizada e branca.

    No h espao para a variedade de imagens ou para

    a produo da criana real que habita a instituio.

    Assim, a escolha das imagens que povoam a uni-

    dade educativa devem incluir a questo racial. Belas

    imagens de negros em posio de prestgio, motivos

    da arte africana, reprodues de obras de artistas ne-

    gros, fotos das crianas e de suas famlias, e nos espa-

    os mais destacados, os desenhos e as produes das

    crianas etc. so exemplos que podem fazer parte do

    acervo das instituies de Educao Infantil.

    Direto da prtica

    Imagens que alimentam

    Yasmim, do berrio dois: o pai negro e e a me

    branca. Quando viu a imagem de um homem

    negro no mural da sala, logo associou a seu pai

    e apontou a fotografia, demonstrando satisfao

    enorme, e falou: Papai! Papai! Quando observa-

    mos essa cena, ns nos demos conta de que talvezas crianas negras nunca houvessem tido a oportu-

    nidade de fazer esse tipo de associao ou identifi-

    cao entre os seus familiares e imagens expostas

    nas paredes do CEI. Isso teve muito impacto.

    Isso mudou nosso olhar e nos fez ver como a ques-

    to da diversidade racial precisa estar presente em

    todos os espaos da escola.

    Professora Ana Carolina,

    CEI Josefa Jlia 25/5/2011.

    Captulo 2

    ImagemcapturadadovdeoExperinciasdeApre

    ndizagem

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    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 21

    Para gestores, diretores e

    coordenadores pedaggicos

    Diagnosticar

    Ser que todas as crianas so representadas

    ou sentem-se representadas nas imagens de

    crianas, famlias etc., que, em geral, compem

    os murais?

    Quais imagens predominam na decorao das

    paredes, murais, capas de livros e caixas, pastas,

    toalhas e cortinas da sua instituio?

    Propor que os elementos mencionados sejam

    fotografados.

    Socializar as fotos e refletir com seu grupo de

    trabalho sobre as imagens que aparecem

    Agir

    Pesquise com seu grupo imagens que podem

    compor um acervo para a igualdade racial: re-

    produes de imagens de arte africana, de ne-

    gros em situaes de protagonismo etc.

    Comentem e apreciem as imagens e selecionem

    aquelas que mais gostarem.

    Onde essas imagens podem ser usadas?

    2.1.1. Organizao dos materiais,brinquedos e livros

    Esses elementos so importantssimos na Educao

    Infantil: espelhos, brinquedos, livros, lpis, pincis, te-souras, instrumentos musicais, massa de modelar, argi-

    la, jogos diversos, blocos para construo, materiais de

    sucata, roupas e tecidos.

    A forma como esto dispostos no ambiente po-

    de facilitar ou dificultar a independncia das crian-

    as, favorecer a socializao, possibilitar as escolhas

    e a criao. A organizao das salas ou de outros

    espaos em cantos de atividades diversificadas

    opo particularmente interessante para as creches

    e pr-escolas.

    Assim como os demais elementos da organizao

    dos ambientes educativos no so neutros, eles trazem

    consigo ideias e valores sobre o mundo e podem apoiar

    a educao para a igualdade racial.

    Direto da prtica

    A hora da hidratao j estava se aproximando,

    ento eles foram tomar um suco e, enquanto isso,

    arrumamos a sala para a prxima atividade, queseriam os cantos diversificados. Pelo fato de o gru-

    po ser pequeno, optou-se por ter apenas dois can-

    tos, um canto de desenho e outro de jogo sim-

    blico, com bonecas negras. Quando as crianas

    voltaram, explicamos como funcionaria aquele

    momento. Quem quisesse poderia ir para um can-

    to ou para o outro, dependendo da vontade. Esse

    foi um momento muito rico de nossa ao. Sabe-

    mos que desde muito pequenas, as crianas po-

    dem fazer as suas escolhas. Desse modo, conhe-

    cem mais sobre si mesmas e tambm do dicasimportantes professora sobre suas prefern-

    cias, suas singularidades. Por tudo isso, mas tam-

    bm por organizar o tempo e o espao, e ainda

    por favorecer as interaes em pequenos grupos, a

    proposta de trabalhar com cantos de atividades

    interessante como atividade diria (permanente)

    na Educao Infantil.

    Professora Luciana,

    CEI Josefa Jlia, 28/4/2011.

    ImagemcapturadadovdeoOrganizao

    doEspaoFsicoedosMateriais

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    22 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    2.1.2. Escolha de brinquedos e de livros

    Ter em mos bonecas e bonecos negros, instru-mentos musicais usados nas manifestaes afro-bra-

    sileiras e livros que contemplem personagens negros

    representados de modo positivo fundamental para

    o desenvolvimento de uma educao para a igualda-

    de racial.

    Ao escolher bonecas e bonecos negros, preciso

    olhar para a diversidade de tonalidades de pele, de tra-

    os e de tipos de cabelo. Ser que as bonecas escolhi-

    das expressam essa diversidade? Assim como a boneca

    loira e de olhos azuis no traduz a diversidade de tipos

    da raa branca, tambm ao escolher as bonecas e os

    bonecos negros devemos procurar aqueles que repre-

    sentam os negros na sua variedade de tons de pele e

    tipos de cabelo,a pluralidade fenotpica que caracteriza

    a populao negra. Alm disso, h os critrios bsicos

    que jamais deveriam ser esquecidos: os bonecos so

    bonitos e benfeitos? D vontade de brincar com eles?

    So interessantes para as crianas?

    Direto da prtica

    Agora era o momento da roda e de a Luciana

    trazer a sua surpresa de casa. Muitas bonecas e

    bonecos. Dos mais variados tipos. De pano, de

    plstico, boneca me com a filhinha na barriga,

    bonecas-bebs, crianas com lao na cabea. Havia

    tambm bonecas brancas e uma de origem asi-

    tica. Conversando com as crianas, Luciana apon-

    tava as caractersticas da boneca ou do boneco:

    vocs perceberam como a pele deles? Ela ne-

    gra, sua pele escura. Parece a minha pele, no

    ? Nesse momento, algumas crianas j estavam

    mais perto e passavam a mo na boneca confor-

    me Luciana ia mostrando e apontando as carac-

    tersticas. Na sala, havia a Sofia e o Eduardo, que

    em uma heteroclassificao so negros. As bone-

    cas fizeram sucesso entre as crianas! A Yasmin, a

    todo momento ia at a mala e pegava uma bone-

    ca negra, seguida pela Ana Beatriz.

    Professora Ana Carolina,

    CEI Josefa Jlia, 28/4/2011.

    2.1.3. Os livros, as revistas e os demaisportadores de textos

    As creches e as pr-escolas devem ser cuidadosas

    ao escolher, adquirir e apresentar os materiais escritos

    para as crianas. Alm da qualidade do texto e das ilus-

    traes, importante analisar os portadores de texto do

    ponto de vista da igualdade racial, especialmente, os

    livros de literatura.Estudos realizados pelo CEERT, por Flvia Rosem-

    berg e Regina Pahim Pinto, em Criana pequena e raa

    na PNAD 87, de 1997, e por Silva, em sua dissertao

    de mestrado Esteretipos e preconceitos em relao ao

    negro no livro didtico de comunicao e expresso de

    primeiro grau nvel 1, de 1988, trazem referncias que

    orientam profissionais a tomar decises importantes no

    momento de escolher livros de literatura que considera-

    mos tambm adequados para os demais portadores de

    quais texto que sero apresentados para as crianas.

    Captulo 2

    Imagenscapturadasdo

    svdeosOrganizaodoEspaoFsicoedosMateriais

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

    22/50

    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 23

    Na hora da escolha, preciso ficar atento para

    questes como:

    H pessoas negras que ocupam diversas posies

    sociais e profissionais, como mdicos, professores,

    empresrios etc.

    As crianas negras encontram-se em posio de

    destaque de um modo positivo.

    A imagem de pessoas negras apresentada de

    modo positivo e no pejorativamente.

    A populao negra apresentada como protago-

    nista importante de fatos histricos e no apenas

    como escrava.

    Direto da prtica

    Quando li o livro As tranas de Bintou, de Sylvianne

    Diouff, fiquei encantada com a histria e com as

    ilustraes. A personagem principal uma linda

    menina negra, com a qual tinha certeza , as me-

    ninas certamente se identificariam. Essa era uma

    preocupao nossa, como professoras, escolher li-

    vros em que as personagens negras tivessem umarepresentao bela, condizente com a realidade e

    com os aspectos culturais desse grupo, apresentan-

    do-os de forma a valoriz-los. No caso de Bintou, a

    padronagem de sua roupa, bonita e bem retrata-

    da, assim como os enfeites nos cabelos, certamente

    cumpriam todos esses critrios. Alm disso, os as-

    pectos culturais que surgem na histria, como o ba-

    tizado do irmo, o modo de as mulheres se arruma-

    rem de acordo com a idade, os rituais em geral so

    apresentados de forma a fazer o leitor pensar: Pu-

    xa! Que interessante essa cultura, como diferente

    da minha, ou ainda, esse livro me fez conhecer mais

    um pouco de uma parte da cultura africana.

    A histria tambm traz algo universal, que refora

    nossos vnculos com a literatura, quando percebe-

    mos que sentimos algo semelhante a uma persona-

    gem ou mesmo quando a histria nomeia aquiloque sentimos e no sabemos muito bem o que .

    No caso de Bintou, a menina traz um drama e um

    desejo comum a todas as crianas do mundo: a

    vontade de ter algo que faz parte do mundo dos

    adultos, dos mais velhos. Que criana no deseja

    crescer para ter algo que ainda no pode alcanar?

    Professora Ana Carolina,

    EMEI Guia Lopes, 1o/6/2011.

    ImagemcapturadadovdeoOrga

    nizao

    doEspaoFsicoedosM

    ateriais

    ImagenscapturadasdovdeoGestoeFamlias

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

    23/50

    24 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    2.1.4. Objetos de amplo alcance, jogos,instrumentos musicais, CDs,

    DVDs e muito mais

    Nem s de brinquedos e livros se faz a Educao

    Infantil

    Objetos de amplo alcance

    interessante que se tenha materiais versteis e me-

    nos estruturados que podem se transformar em muitas

    coisas, como tecidos, tocos de madeira, sucatas etc. Es-

    ses materiais so polivalentes, pois podem ser utilizados

    com diferentes finalidades, ser transformados pelo pro-

    fessor na organizao dos ambientes ou pelas crianas

    nas interaes e brincadeiras. E justamente porque so

    to importantes e to presentes no cotidiano da ins-

    tituio infantil, preciso estar atento esttica e aos

    valores que apresentam e representam para as crian-

    as. Os tecidos, por exemplo, apresentam mltiplas

    funes: podem se transformar em cabanas, delimitar

    um castelo, ser a capa do rei, a vela de um navio pirata

    e muito mais...

    Alm disso, os tecidos com padronagens que reme-tam ao continente africano podem compor bonitos ce-

    nrios para brincar ou decorar as paredes da instituio.

    Direto da prtica

    Arrumamos o espao com tecidos, uma chita colo-

    rida, um tecido angolano e dois grandes tecidos/

    murais com motivos africanos. Esses panos foram

    usados para cobrir o mural do tempo e o calend-

    rio da sala e os demais delimitaram os espaos deatividade no cho. Um serviu de tapete

    para as rodas de conversa e hist-

    ria, os demais se transformaram

    tambm em tapete para os can-

    tos de msica e casinha, alm de

    uma toalha de mesa para o can-

    to de casinha.

    Professora Luciana,

    CEI Josefa Jlia, 13/6/2011

    .

    Os jogos estruturados de tabuleiro, os quebra-ca-

    beas, jogos da memria, domin, os de origem afri-

    cana e de outros povos, assim como materiais comocorda, garrafa pet para o boliche, bolas de diferentes

    tamanhos e propsitos devem compor o acervo das

    instituies.

    Os instrumentos sonoros

    Os brinquedos, os instrumentos de efeito sonoro,

    os CDs, os DVDs so materiais bastante apreciados pe-

    las crianas e muito adequados ao trabalho com a mu-

    sicalidade, importante marca da cultura afro-brasileira.

    Devem-se valorizar os instrumentos/brinquedos po-

    pulares como a matraca, a maraca, os pies sonoros, os

    chocalhos, entre outros. Os tambores tambm podem

    ser utilizados no trabalho musical; eles so instrumen-

    tos dotados de funo ritual ou sagrada para muitos

    povos e as crianas os apreciam muito. Esses materiais

    podem fazer parte de atividades de improvisao ou

    pequenos arranjos, de exerccios de discriminao de

    sons ou ainda podem ser utilizados na sonorizao de

    histrias e brincadeiras.

    Os instrumentos/brinquedos podem ser industria-lizados, feitos por artesos ou confeccionados pelas

    crianas, como parte de sequncias didticas organi-

    zadas pelo professor. Esta pode ser uma excelente

    oportunidade de trabalho com as crianas maiores:

    pesquisar seus usos e origens, bem como sobre a est-

    tica do acabamento.

    o ca e

    espaos dete

    -

    e

    an-

    na,

    Captulo 2

    ImagemcapturadadovdeoExperin

    cias

    deAprendizagem

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

    24/50

    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 25

    Observar, refletir e agir

    Para a equipe gestora (diretor e coordenador

    pedaggico)

    Observar e fotografar os materiais, identificando

    a disposio e a organizao no espao.

    Socializar com a equipe as fotos, e fazer as per-

    guntas: os materiais e sua disposio explicitam

    uma concepo de Educao Infantil centrada

    na criana, em seu bem-estar, autonomia e cria-

    tividade? Eles valorizam a diversidade racial?

    Observem separadamente os livros, os brinque-

    dos, os materiais decorativos luz de um am-

    biente que objetiva a educao para a igualda-

    de racial.

    O que teramos que organizar para ter os mate-

    riais adequados para o trabalho?

    2.2. Organizao do tempo

    A rotina na Educao Infantil pode ser facilitadora ou

    cerceadora dos processos de desenvolvimento e apren-

    dizagem. Prticas pedaggicas rgidas e inflexveis des-

    consideram a criana, e exigem que ela se adapte, e no

    o contrrio, como deve ser. Essas prticas desconsideram

    tambm o adulto, tornando seu trabalho montono,

    repetitivo e pouco participativo. Como tudo o que acon-

    tece no ambiente educativo, a rotina no neutra e po-

    de trazer marcas do preconceito e da discriminao.

    Uma rotina clara e compreensvel para as crian-

    as fator de segurana, que dinamiza a aprendiza-gem e facilita as percepes infantis sobre o tempo e o

    espao. A rotina pode orientar as aes das crianas,

    assim como dos professores, possibilitando a antecipa-

    o das situaes que iro acontecer.

    importante que a organizao do tempo na ins-

    tituio no perca de vista a necessidade de favorecer

    o brincar, as iniciativas infantis, os cuidados e a apren-

    dizagem em situaes orientadas, ou seja, combinar e

    equilibrar perodos para aprendizagens intencionais,

    planejadas pelo professor com perodos para mais in-

    dependncia, em que as crianas construam conheci-

    mentos nas aes de sua escolha.

    A organizao do trabalho pedaggico deve pos-

    sibilitar que as crianas sejam atendidas de diferentes

    maneiras: individualmente, quando for o caso; em agru-

    pamentos definidos ou no pelo professor; em situa-

    es nas quais possam escolher com quem trabalhar

    (como nos cantos de atividades diversificadas).

    necessrio haver momentos que favoream tanto

    as produes mais individualizadas quanto as coletivas,

    as atividades que exigem mais concentrao ou que somovimentadas, com dispndio de mais energia moto-

    ra. O olhar atento do professor essencial para que o

    respeito diversidade seja sempre valorizado nas inte-

    raes que se estabelecem entre as crianas.

    A organizao do tempo em uma creche e na pr-

    -escola envolve uma variedade de aes e possibilidades.

    Para facilitar o arranjo e dar conta de todas as demandas

    de cuidar e educar crianas em espaos coletivos os RC-

    NEIs elencaram trs modalidades: atividades permanen-

    tes, sequencias de atividades e projetos didticos.

    Foto:EstfiM

    achado

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

    25/50

    26 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    2.2.1. Atividades permanentes (crianasde 0 a 5 anos)

    So aquelas que atendem s necessidades bsicas

    de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crian-

    as, cujos contedos e/ou aes necessitam de cons-

    tncia. Os objetivos so os de aproximar as crianas deum contedo, de criar hbito e familiaridade. A frequn-

    cia pode ser diria ou de alguns dias na semana. Consi-

    deram-se atividades permanentes, entre outras:

    cuidados com o corpo;

    brincadeiras e jogos no espao interno e externo;

    roda de histria;

    roda de conversas;

    atelis ou momentos de desenho, pintura, mode-

    lagem e msica;

    cantos de atividades diversificadas.

    Em todas as situaes, o planejamento dos profis-

    sionais de Educao Infantil precisa contemplar a pro-

    moo da igualdade racial.

    Dentre as situaes cotidianas, elegemos para deta-

    lhar e servir de exemplo durante a formao, os cantos

    de atividades diversificadas devido a seu potencial pa-

    ra permitir interaes, criatividade e contribuio para

    a construo de uma autoimagem positiva. Organizar

    cantos de atividades diversificadas (que so arranjos na

    sala eou no ptio, em que h variedade de materiais

    agrupados por reas especficas) uma das formas degarantir a organizao de tempo muito adequada s

    necessidades infantis. Essa modalidade, em geral, pos-

    sibilita atividades de 30 a 40 minutos de durao, reali-

    zadas com frequncia regular, em que a organizao

    do espao e dos materiais incentiva escolhas (do que

    fazer e com quem fazer) e movimentao autnoma

    das crianas pelos cantos. Nessa modalidade, as crian-

    as podem aprender a: escolher com autonomia, e ter

    suas decises respeitadas e apoiadas pelos adultos; rea-

    lizar aes sozinhas ou com a ajuda do adulto e de

    outros parceiros; valorizar aes de cooperao, solida-

    riedade e dilogo, desenvolvendo atitudes de colabora-

    o e compartilhando suas vivncias; relacionar-se com

    os outros adultos e crianas demonstrando suas ne-

    cessidades, interesses, gostos e preferncias; cuidar dos

    materiais de uso individual e coletivo; participar em si-

    tuaes de brincadeiras e jogos, leitura, expresso pls-

    tica etc. Esse tipo de proposta contribui muito para

    auxiliar a construo de uma autoimagem positiva.

    E o professor? O que ganha com essa modalidade

    de organizao do tempo?

    Isso permite que ele possa atender e, principal-

    mente, observar as crianas em situaes varia-

    das: individualmente, em grupos, interagindo

    com outros parceiros, para compreend-las me-

    lhor, conhecer suas dificuldades e incentivar as

    potencialidades.

    Aps refletir sobre as dinmicas e os temas que

    ocorrem durante o jogo simblico, por exemplo,

    o professor pode organizar aes durante as ati-

    vidades orientadas, visando ampliar o repertriodas crianas. Ler livros informativos sobre pases

    do continente africano e proporcionar que nos

    cantos existam materiais relativos cultura dos

    povos africanos, como adereos para jogos sim-

    blicos e instrumentos, ampliando o brincar e as

    relaes entre as crianas

    So muitos os cantos que podem ser organizados

    para os jogos simblicos: casinha, feira, posto de sade,

    escritrio, canto da beleza. E os que incentivam a brin-

    Captulo 2

    ImagemcapturadadovdeoExperinciadeAprend

    izagem

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

    26/50

    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 27

    cadeira a partir de temas trabalhados nos projetos ou em

    sequncias didticas. Para promover a igualdade racial

    possvel incluir temticas africanas, por exemplo, espaospara que as crianas brinquem de princesas, rainhas, reis,

    prncipes brancos e prncipes negros, com livros, mate-

    riais e objetos inspiradores do assunto.

    Alm desses que favorecem o brincar, cantos de ex-

    presso artstica, de livros e jogos so tambm bem-

    -vindos para as crianas de 4 a 5 anos.

    Direto da prtica

    Canto da beleza

    Com as crianas de 1 a 3 anos

    O cantinho da beleza enfocava de maneira mais

    direta a temtica racial. Foi organizado no espao

    da sala que decorado com um espelho mdio

    em que os bebs podiam ver seu corpo inteiro

    refletido, que era circundado por espelhos meno-

    res tambm fixados na parede, nos quais era pos-

    svel ver o rosto. Levei alguns materiais como: es-pelhos, escova de cabelo, pentes para diferentes

    tipos de cabelo, frascos de xampu, gel, tiaras, els-

    ticos e presilhas.

    As crianas circularam livremente pelos dois can-

    tos, esse e o de caixinhas com surpresas, ora brin-

    cando, ora admirando-se no espelho e tocando o

    prprio cabelo ou o meu. Comearam a brincadei-

    ra timidamente. Primeiro, uma das crianas, a Ana,

    se aproximou, curiosa, e provavelmente atrada pe-

    lo colorido dos objetos. Expliquei-lhe que ela pode-

    ria us-los sua maneira, e, por tratar-se de umcanto com materiais mais estruturados, os objetos

    em si sugeriam o uso para o brincar. Ana logo pe-

    gou um pente e comeou a pass-lo em seus cabe-

    los, em seguida, voltou-se para mim e penteou os

    meus tambm. Percebendo a atividade da Ana, ou-

    tras crianas foram se achegando e observando os

    materiais com certa curiosidade.

    Professora Luciana,

    CEI Josefa Jlia, 14/4/2011.

    Com as crianas de 5 anos

    No primeiro momento, o canto de cabeleireiro

    chamou muito a ateno das meninas: certamen-

    te eram os pentes de diferentes tipos e para vrios

    cabelos, elsticos, pingentes em forma de contas

    para prender os cabelos, tecidos coloridos que as

    atraram! Estas mesas estavam estrategicamentecolocadas num dos cantos da sala, o que nos per-

    mitiu colocar nas janelas as fotografias de cabelos

    de pessoas negras utilizadas na roda de conversa

    e, num varal prximo, os panos coloridos para

    adornar a cabea. Em volta de duas mesas esta-

    vam oito cadeiras e, nelas, clientes e cabeleirei-

    ras experimentavam os adornos. Somente um

    garoto ficou por perto, bem perto mesmo obser-

    vando, s vezes pegando alguns dos objetos para

    olhar... Sem nenhuma dvida as meninas brancas

    e negras comearam a mexer nos cabelos umasdas outras. Em determinado momento, sugeri que

    elas experimentassem utilizar os tecidos como vi-

    mos no livro e na foto que estavam expostos. Eu

    tambm fiz o meu turbante e em poucos instantes

    as crianas, inclusive os meninos, j estavam inte-

    ressadas em mudar o visual.

    Professora Waldete,

    EMEI Guia Lopes, 25/5/2011.

    ImagemcapturadadovdeoExperinciasdeAprendizagem

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    28 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    Observar, refletir e agir

    Equipe Gestora (Diretores e coordenadores)

    Observem a rotina diria durante uma semana,

    fotografem e, se for possvel, filmem e anotem

    quais atividades realmente ocorrem e com que

    frequncia.

    Do que viram e analisaram, o que gostariam de

    mudar para incluir as questes da educao para

    a igualdade racial?

    Por onde comeariam e o que discutiriam primei-

    ro com sua equipe?

    2.2.2. As sequncias e os projetosdidticos (crianas de 4 a 5 anos)

    A sequncia didtica, assim como os projetos did-

    ticos integram as aes que visam a aprendizagens

    orientadas pelo professor. Podem tratar de assuntos os

    mais diversos, com o objetivo de fazer avanar determi-nadas aprendizagens, por exemplo, aprimorar o dese-

    nho de observao por meio do autorretrato, comunicar

    o sentido e o prazer de ler para conhecer outros mundos

    possveis por meio da leitura de contos africanos etc.

    A sequncia promove ganhos nas aprendizagens

    das crianas, diferentes daquelas atividades permanen-

    tes. As atividades so planejadas como um conjunto de

    aes desenvolvidas em um tempo especfico, organi-

    zadas em ordem crescente de complexidade e finaliza-

    das com a sistematizao das aprendizagens.

    Projetos didticos

    Os projetos permitem uma insero entre temas/contedos de diferentes eixos de trabalho. Integram

    sempre sequncias didticas, mas tm propsitos so-

    ciais e comunicativos compartilhados com as crian-

    as. Por exemplo, aprender sobre lendas africanas para

    apresent-las em um sarau. Esses projetos tm em geral

    durao de meses, ou de todo o semestre.

    E o que mais compe o tempo nos espaos edu-

    cativos para as crianas?

    Os contatos com as famlias e a comunidade, os

    passeios e as festas... Que tal uma festa junina afro-

    -brasileira? Saiba mais assistindo ao vdeo 1 sobre Gesto

    e Famlia. Nele, a diretora, os pais e as crianas apresen-

    tam como foi a festa junina afro-brasileira da Escola

    Municipal de Educao Infantil (EMEI) Guia Lopes.

    Famlia da EMEI Guia Lopes

    Captulo 2

    ImagemcapturadadovdeoGestoeFamlias

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    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 29

    Experincias de aprendizagemna Educao Infantil

    Captulo3

    O planejamento e o desenvolvimento de boas pr-

    ticas para a igualdade racial deve ser organizado respei-

    tando-se as DCNEIs e podem ser expressos em umaproposta pedaggica que contemplem dois eixos: iden-

    tidade afro-brasileira e patrimnio cultural.

    A) Identidade afro-brasileirae construo de umaautoimagem positiva

    Segundo pesquisas, a discriminao e a formao

    do pensamento racial comeam muito cedo, ao contr-

    rio do que pensa o senso comum. As crianas perce-bem as diferenas fsicas, principalmente a cor da pele

    e o tipo de cabelo.

    Se as crianas negras receberem mensagens positi-

    vas dos adultos e de seus pares acerca de seus atributos

    fsicos e demais potencialidades, aprendero a se sen-

    tir bem consigo. De outro lado, se as crianas brancas

    aprendem que seus atributos fsicos e culturais no so

    os melhores nem os nicos a ser valorizados, os dois

    grupos aprendero a considerar as diferenas como

    parte da convivncia saudvel.

    Ao reivindicarmos que necessrio abordar na Educa-

    o Infantil aspectos que tratem das relaes raciais,

    porque as marcas raciais, cor, cabelo, aspectos culturaisso elementos presentes no cotidiano das crianas nes-

    ta faixa etria suscitando-lhes curiosidades e conflitos que

    no podem ser desconsiderados. Muitas vezes, a edu-

    cadora percebe prontamente esses conflitos e curiosi-

    dades, e age sobre eles (...). Outras vezes cala-se por

    medo de tocar num assunto que a sociedade brasileira

    quis esconder sentindo-se despreparada para abord-lo.

    (Dias; Silva Jr., 2011 p. 7)

    ImagemcapturadadovdeoExperincias

    deAprendizagem

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    30 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    Direto da prtica I

    Expliquei aos profissionais da creche os objetivos

    da atividade desenvolvida no grupo com o canti-

    nho de beleza. Este tipo de espao de jogo simb-

    lico uma oportunidade para as crianas entrarem

    em contato com as caractersticas dos cabelos em

    relao cor, textura, formato, e permite que se-

    jam tocadas pela professora independentemente

    da pertena racial e auxiliam a valorizao de ma-

    neira igualitria. Expliquei ao grupo que a questo

    no estimular uma vaidade precoce, ao contrrio,

    trata-se de auxiliar as crianas na construo de au-

    toimagem positiva e permitir que todas tenham

    acesso aos elogios e ao toque da professora e dos

    colegas. Isto particularmente importante j que

    tal experincia de ateno e cuidado tem sido sis-

    tematicamente negada boa parcela de crianas

    negras e/ou que tm cabelos crespos.

    Professora Luciana,

    CEI Josefa Jlia, 13/6/2011.

    O trabalho com os atributos fsicos, como ocorre em

    um canto da beleza, importante para a educao para

    a igualdade racial, alm claro das atitudes e aes que

    permeiam os cuidados e as brincadeiras.

    Outra atividade enriquecedora para a temtica o

    trabalho com imagens que podem desencadear mo-

    mentos que contribuem para a construo de uma

    autoimagem positiva. So imagens do cotidiano, mas

    selecionadas com o cuidado de apresentar cenas que

    valorizam as boas situaes de trabalho, a coragem, a

    delicadeza das relaes entre as pessoas etc. Em ne-nhuma delas os negros aparecem como subalternos,

    em subempregos, situao de pobreza ou descuido,

    porque a inteno mostrar momentos de protago-

    nismo afirmativo.

    Essas aes foram planejadas considerando-se a

    faixa etria das crianas,o apoio ao desenvolvimento da

    oralidade com base no recurso de imagens e a questo

    da identidade afro-brasileira.

    Direto da prtica II

    As crianas que mais aproveitaram o canto de

    imagens foram o Carlos e o Davison. Alis, o Da-

    vison est cada vez mais solto, embora ainda te-

    nha momentos de muita timidez. Neste canto, ele

    olhou muito atentamente as fotos das meninas de

    Angola que traziam enfeites em seus cabelos.

    Tambm se interessou muito pela foto de dois

    meninos maiores de Angola que esto se abraan-

    do e sorrindo. Enquanto ele olhava as fotos, eu

    aproveitava para apontar os cabelos das meni-

    nas, marcando algumas diferenas: uma tinha

    enfeites de peixinhos azuis, outra, contas todas

    coloridas. Mostrei tambm algumas fotos de

    crianas meninas da sala que usavam maria-

    -chiquinha, mas no enfeites to coloridos quan-

    to os das meninas africanas.

    Professora Luciana,

    CEI Josefa Jlia, 13/6/2011,

    Captulo 3

    ImagenscapturadadovdeoExperinciasdeAprendizagem

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    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 31

    B) Patrimnio culturalafro-brasileiro

    Vindos de diversas partes da frica, os negros trou-

    xeram suas matrizes culturais e participaram ativamen-

    te da formao do povo brasileiro.

    As influncias africanas esto na linguagem, na co-

    mida, na religio, na msica, nas brincadeiras, nas artes

    visuais, nas festas etc. No entanto, sabemos que a valo-

    rizao e o reconhecimento dessas heranas no tm o

    mesmo peso do passado europeu. As matrizes indge-

    nas e africanas so muitas vezes consideradas inferio-

    res, menos sofisticadas e ficam relegadas a segundo

    plano. O valor e a importncia desse patrimnio cultu-

    ral devem ser considerados pelas unidades escolares e

    precisam ser includos entre os temas trabalhados na

    Educao Infantil no dia a dia. A proposta de que esse

    eixo possa incluir as manifestaes presentes nas comu-

    nidades e que, desse modo, as crianas sintam-se valo-

    rizadas medida que os saberes locais adentrem os

    espaos educacionais como produo de bens civiliza-

    trios e produto de diferentes grupos.

    Os dois eixos delineados anteriormente foram pen-

    sados para estar presentes nas atividades permanentes,nas sequncias e nos projetos didticos, nas festas co-

    memorativas, na relao com a famlia e com a comu-

    nidade. Servem de base tambm na organizao dos

    espaos, dos murais, na escolha de livros, dos brinque-

    dos, dos instrumentos musicais.

    Os eixos podem ser expressos em campos de expe-

    rincias que se articulam de diferentes maneiras, ali-

    mentadas por iniciativas e curiosidades infantis, consi-

    derando os diferentes modos de as crianas pequenas

    serem, pensarem e construrem o conhecimento.

    3.1. Experincias com o corpo:cuidados, brincadeiras,movimento expressivoe a msica

    O trabalho com o corpo, o movimento e a brinca-

    deira merecem ateno especial, porque no corpo que

    o racismo ganha concretude e visibilidade na Educao

    Infantil, como constataram Oliveira e Abramowicz em

    sua obra O que as prticas educativas na creche podem

    nos revelar sobre a questo racial?, de 2009.

    Nas brincadeiras na Educao Infantil, esse racismo apare-

    ce quando as crianas negras so as empregadas doms-

    ticas, quando as crianas brancas temem ou no gostam

    de dar as mos para as negras etc. O racismo aparece na

    Educao Infantil, na faixa etria entre 0 a 2 anos, quando

    os bebs negros so menos paparicados pelas professo-

    ras do que os bebs brancos. Ou seja, o racismo, na pe-

    quena infncia, incide diretamente sobre o corpo, na ma-

    neira pela qual ele construdo, acariciado ou repugnado.

    (Oliveira e Abramowicz,1985, p. 221-222)

    Propomos que o professor de Educao Infantil, aocontrrio do que foi encontrado na pesquisa apresenta-

    da, adote uma atitude de observao cuidadosa e inte-

    ressada de cada criana. Alm disso, ao utilizar seu cor-

    po de modo expressivo, em cada gesto, no modo de

    olhar, sorrir, abraar, pegar no colo, ele tambm consti-

    tui um modelo para as crianas, e por isso deve estar

    atento inteno comunicativa e qualidade de seus

    movimentos na interao com elas. fundamental de-

    senvolver atitudes que favoream o processo de de-

    senvolvimento infantil, reconhecendo e validando os

    avanos e as conquistas de cada criana, estimulandoa interao entre pares e crianas de diferentes faixas

    etrias. A tomada de conscincia do prprio corpo pela

    criana, sua capacidade de perceber cada parte sem

    perder a noo de unidade, de conhecer e reconhecer a

    sua imagem como parte da construo de uma identi-

    dade positiva, requer um trabalho especfico.

    O uso do espelho, desde o berrio, um recurso

    importante para as crianas se reconhecerem, perce-

    bendo e identificando a imagem refletida como sua e

    como sendo bonita.

    Fotocap

    turadadoCatlogoHeranaAfricana.

    AcervoBaArtes,MAM-Salvador(BA)

  • 7/31/2019 Educao Infatil prticas

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    32 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial

    Para que isso acontea, importante o apoio do

    professor, ao identificar a imagem com o nome da

    criana, descrever-lhe as caractersticas corporais, valori-

    zando-as, e as diferentes partes do corpo refletidas no

    espelho. Tratar cada criana como nica e especial.

    Alm do uso do espelho, trabalhar as fotos de cada

    criana e de sua famlia em atividades como caixas de

    imagens, lbum do beb, murais, so recursos inestim-

    veis para a construo de uma autoimagem positiva.

    Direto da prtica

    Havia uma foto nova para ser mostrada, era a foto

    da Yasmin, com os cabelos amarrados. Lamentei

    mentalmente no estar retratada sua famlia, j queseu pai negro e sua me branca, e eu poderia

    comparar a aparncia de ambos por meio da foto.

    Foi aps essa primeira rodada de fotos que decidi

    lanar mo de um dos retratos que Ana Carolina

    trouxera, escolhi o de um garoto negro e de cabea

    raspada. Carlos logo o pegou e comeou a balbuciar

    coisas que eu no compreendi. Resolvi empres-

    tar-lhe minha voz, dizendo: Ele se parece com

    voc, ele negro e careca, disse isso tocando sua

    cabea e seu rosto, e ele olhou para a foto nova-

    mente soltando gritos de satisfao tpicos de crian-as pequenas, e pendurou no rosto um sorriso lindo

    enquanto continuava a apreciar a foto daquele me-

    nino que no conhecamos. Aprendemos naquele

    momento com Carlos a admirar o menino da foto e

    a estabelecermos um vnculo com o que vamos,

    pois havia ali uma identidade coletiva sendo cons-

    truda: eu sou negro, ele negro e gostamos disso.

    Professora Luciana,

    CEI Josefa Jlia, 13/6/2011.

    3.1.1. Cuidados consigoe com o outro

    Em sua experincia de ser cuidadas, as crianas

    aprendem a se vestir, a se pentear, a comer, a fazer sua

    higiene e desenvolvem o sentimento de bem-estar com

    esses hbitos.

    O cuidar de si mesmo, o olhar-se com ateno e

    assumir as aes para o seu prprio bem-estar so ati-

    tudes que se aprendem desde pequeno. Aes muito

    simples, criadas nos momentos de lavar as mos, de

    arrumar os cabelos com cuidado, alimentar-se, hidra-

    tar-se e olhar-se no espelho, por exemplo, podem ge-

    rar importantes aprendizagens, com reflexos na autoi-

    magem que cada criana est construindo.

    Direto da prtica

    Dentre todos os materiais que eu havia preparado

    para as cestinhas-surpresa, dois se destacaram: as

    caixinhas de variados tamanhos e os espelhos in-

    dividuais. Como as crianas pequenas so fasci-

    nadas pelo espelho! Alm de se olharem muito

    nos espelhos pequenos, s vezes fazendo caretas,

    passando a mo em sua superfcie, ou chegando

    bem perto dele com o seu rosto. Algumas, logoaps brincar com os espelhinhos, foram at o

    maior, pendurado na parede. Achei esse movi-

    mento curioso e fiquei pensando se elas queriam

    comprovar se a imagem era a mesma, se elas

    eram as mesmas em um espelho e no outro. Tal-

    vez essa hiptese seja cabvel, j que os bebs

    esto ainda construindo uma autoimagem.

    Professora Ana Carolina,

    CEI Josefa Jlia, 13/6/2011.

    Captulo 3Captulo 3

    Imagenscapturad

    asdovdeoExperincias

    deAprendizagem

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    32/50

    Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 33

    Em todas as aes cotidianas, mas principalmente

    nessas que tratam especificamente da autoimagem fsi-

    ca, importante observar como as crianas interagemcom parceiros de diferentes tons de pele. O professor

    precisa estar atento s falas depreciativas em relao

    aos colegas, s excluses de brincadeiras, e deve mediar

    conflitos surgidos entre elas que tenham como motivo

    questes raciais. Apoiar boas experincias de relaciona-

    mento entre as crianas, fazendo com que reconheam

    positivamente as diferenas, ajuda a combater precon-

    ceitos e discriminaes.

    3.1.2. Brincar e imaginar: o jogosimblico como linguagem

    A brincadeira uma atividade que se transforma no

    tempo e se apresenta de diferentes modos nas comu-

    nidades humanas, mas aparece em diversas culturas

    como atividade importante da infncia.

    Nas brincadeiras de faz de conta, as crianas apren-

    dem a reproduzir os gestos e a fala de pessoas em di-

    ferentes papis sociais ou de personagens de filmes e/

    ou de histrias lidas. Podem inventar roteiros alimen-tados por sua fantasia e, por isso, devem ter espao

    garantido na Educao Infantil. No entanto, conforme

    Silva Jr. e Dias, em Orientaes Curriculares para a Va-

    lorizao da Diversidade Racial na Educao Infantil,

    de 2011, nem todas as crianas tm na brincadeira

    um momento positivo de expresso e elaborao pes-

    soal. Para as crianas negras, muitas vezes a brincadei-

    ra tambm espao de preconceito e cerceamento de

    desejos.

    Caso, por exemplo, as crianas negras sejam des-

    qualificadas nos papis que venham a ocupar nos jogos

    simblicos, o professor deve estar atento e proporcio-

    nar mudanas que estimulem formas positivas de inte-rao, alm de estimular novas perspectivas entre as

    crianas. Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio da

    leitura de histrias em que surjam heris e princesas

    negras, a fim de ressaltar situaes em que pessoas ne-

    gras em ao tm destaque positivo. Isso influenciar

    na construo de novos repertrios em relao iden-

    tidade das crianas afrodescendentes.

    Direto da prtica

    O canto da casinha foi muito visitado pelas meninas

    e pelos meninos. Observar as meninas tratando as

    bonecas negras como suas filhas, foi um momento

    muito especial. Duas crianas, uma menina e um

    menino, por um breve perodo, encenavam que

    eram a mame e o papai de uma das bonecas, ali-

    mentaram, trocaram suas roupas e cuidavam da

    boneca com demonstraes afetivas, acariciando,

    beijando, e o pai a levava para passear. Observa-

    mos que algumas meninas, ao brincarem com asbonecas, tocavam no nariz, nos lbios, ou seja, esta-

    vam explorando as caractersticas fsicas das bonecas

    e pareciam rever o que havamos feito com as ima-

    gens deles e de outras crianas. Era um processo de

    identificao, sem dvida positivo. Percebemos que

    todas as bonecas negras, nesta brincadeira, foram

    trocadas, tocadas e cuidadas pelas crianas.

    Professora Daniela,

    EMEI Guia Lopes, 1o/6/2011.

    ImagenscapturadasdovdeoExperincias

    deAprendizagem

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    3.1.3. Jogos de destreza e de raciocnio

    No processo de desenvolvimento corporal, cogni-tivo e afetivo, as crianas apreciam jogos de regras,

    nos quais precisam alcanar determinado objetivo,

    obedecendo a limitaes impostas pelas normas pree-

    xistentes ou acordadas no momento pelo grupo.

    As brincadeiras transmitidas de gerao em gera-

    o so muito apreciadas por elas e constituem impor-

    tante herana cultural.

    Algumas brincadeiras de outros tempos nem sem-

    pre continuam presentes hoje esconde-esconde, ca-

    bra-cega, pula-sela, amarelinha, jogos com pio, bola,

    corda, os de pontaria, de adivinhao, brincadeiras de

    outras tradies culturais etc. Muitas delas so parte

    da herana cultural afro-brasileira ou tm verses se-

    melhantes nas culturas africanas, e podem ser ensina-

    das s crianas como parte do trabalho de apresenta-

    o desse legado cultural e como modos de valorizao

    da cultura da populao afro-brasileira.

    Os jogos chamados de tabuleiro existem h mil-

    nios, e foram criados por diferentes povos, entre eles,

    os africanos. Geralmente estes jogos possuem enredos

    ricos e histricos, que aproximam as crianas de dife-rentes culturas, favorecem a socializao e o desenvol-

    vimento do raciocnio.

    O Mancala, por exemplo, conforme Kodama et al

    (2006):

    H muito coisa escrita sobre o mancala. No livro Os

    melhores jogos do mundo (s.d., p.122-125), encontra-

    mos: A palavra mancala origina-se do rabe naqaala,

    que significa mover. Com o tempo, esse termo passou

    a ser usado pelos antroplogos para designar uma srie

    de jogos disputados num tabuleiro com vrias concavi-dades e com o mesmo princpio de distribuio de pe-

    as. A forma pela qual este se realiza est intimamente

    associada semeadura. Esse fato, aliado ao local de

    origem, leva a crer que os jogos da famlia mancala

    so talvez os mais antigos do mundo.

    A origem mais provvel o Egito. A partir do Vale do

    Nilo, teriam se expandido para o restante do continen-

    te africano e para o Oriente. Alguns estudiosos su-

    pem que os mancalas tm cerca de 7 mil anos de

    idade (...). Os mancalas so atualmente jogados em

    toda a frica, ao sul da sia, Amricas e na maior par-

    te da Oceania(...) (Kodama et Al 2006, p. 8 e 9).

    Direto da prtica

    Um jogo de destreza

    Nossa brincadeira comeou na roda. Mostrei pri-

    meiro o leno e perguntei s crianas se elas adivi-

    nhariam o que faramos com ele. Logo uma criana

    falou: cobra-cega! Eu falei: quase isso! Em segui-

    da, comentei que leria uma poesia e depois fara-

    mos uma brincadeira que era um pouco parecida

    com cobra-cega e com esconde-esconde. Li a poe-

    sia de Lalau, ilustrada por Laura Beatriz e uma

    criana falou: foi fcil!, referindo-se ao fato de que

    Maria-Macumb achou rapidinho o Joo Minhoca.

    Combinamos que faramos uma brincadeira seme-

    lhante no jardim e que esta brincadeira, parecida

    com cobra-cega e com esconde-esconde, havia

    vindo de um pas da frica. Eles amaram! Brinca-

    ram a valer e divertiram-se muito a cada vez queprecisavam correr de Maria-Macumb. Agora, te-

    mos o desafio de levar outras brincadeiras diferen-

    tes nas prximas vezes.

    Trecho do relatrio da Professora Ana Carolina,

    EMEI Guia Lopes, 4/5/2011.

    Captulo 3

    Imagemcapturadadovdeo

    ExperinciasdeAprendizagem

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    Como brincar de Maria-Macumb

    O grupo escolhe uma criana, que ser a Maria--

    Macumb. Esta criana tem os olhos vendados com

    um leno, enquanto as outras se escondem. Com os

    olhos vendados, Maria-Macumb procura as crian-

    as escondidas. Quando encontra uma delas, a que

    foi encontrada se torna Maria-Macumb.

    Roda Guerreiros de Nag

    Guerreiros Nag? Voc est cantando errado! A

    msica no assim... Foi o que um menino disse

    Virginia quando ela comeou a cantar a nova ver-

    so da conhecida msica Escravos de J. Virginia

    respondeu: no, est certinho do jeito que estou

    cantando! s outra verso da msica que voc

    conhece. Foi uma delcia ensin-los! Depois de j

    estarem familiarizados com a msica, fomos l fora

    fazer uma roda. Foi uma atividade muito gostosa,

    muito divertida. Como essa turma gosta e aprovei-

    ta esses momentos de brincadeiras no jardim!

    Acho que vale muito a pena investir mais nisso.

    Conversando com Cibele Racy, diretora da EMEIGuia Lopes, mais tarde, fez muito sentido para

    ela que procurssemos cantar uma msica de

    modo a no enaltecer a condio de escravos

    dos negros, mas algo positivo, como a fora do

    guerreiro nag.

    Trecho do relatrio da Professora Ana Carolina,

    EMEI Guia Lopes, 25/5/2011.

    3.1.4. Movimento expressivo

    e a msica

    Na Educao Infantil, o professor oferece criana

    no s modelos e materiais da cultura para os exerccios

    da imitao e da criao livre, como interpreta seus ges-

    tos de modo a compor com ela um repertrio de movi-

    mentos, uma cultura corporal. A atitude do professor

    importante, em todos os momentos, para que a crian-

    a construa uma relao de confiana com seu prprio

    corpo e com o do outro, alm de desenvolver o domnio

    saudvel e prazeroso em relao a seus movimentos.

    Direto da prtica

    Uma rede ou um balano?

    Tendo em vista o sucesso da atividade de balano

    (na qual um tecido segurado por dois adultos,

    como se fosse uma rede, e a criana balanada

    nele) no tecido da interveno anterior, decidimos

    repeti-la, mas acrescentamos proposta a diversifi-

    cao da padronagem dos tecidos neste caso

    com motivos africanos e pusemos para tocar al-gumas msicas lentas do CD Canes do Brasil,

    utilizado no canto de msica, ao invs de cantar-

    mos. Mal o tecido foi ajeitado no cho, Yasmin e

    Eduardo j estavam deitados sobre ele, revelando o

    desejo de participar da brincadeira e demonstran-

    do que se lembravam perfeitamente da proposta

    feita quinze dias antes. E como gostaram de ser

    balanadas! Quando terminvamos a vez de cada

    criana, ela saa do pano sempre um pouco contra-

    riada. A expresso no rosto de todas ao ser balan-

    adas era de satisfao. Talvez por ser embaladas,pelo prprio balano, que uma atividade muito

    prazerosa para os pequenos. Tambm considera-

    mos que o pano em formato de rede envolve todo

    o corpo da criana e, dessa forma, ela se sente se-

    gura e acolhida enquanto brinca, e a rede um

    jeito de dormir muito presente na cultura de alguns

    grupos brasileiros.

    Professoras Luciana e Ana Carolina,

    CEI Josefa Jlia, 14/4/2011.

    ImagemcapturadadovdeoExperincias

    deAprendizagem

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    Alm das aes cotidianas que envolvem as habi-

    lidades bsicas de engatinhar, andar, correr, pular,

    subir em obstculos etc., h que se cuidar dos movi-mentos expressivos.

    Entre eles a dana, importante herana dos povos

    africanos, fonte de prazer, autoconhecimento e sociabi-

    lidade, que enseja muitas possibilidades expressivas e o

    aperfeioamento dos gestos, que merece lugar de des-

    taque na Educao Infantil.

    O samba, o bumba meu boi, o frevo, o baio, o

    maracatu, a lambada, a capoeira, o maculel, o tambor

    de mina, a umbigada, a catira etc. so manifestaes

    que, embora originalmente estivessem restritas aos ne-

    gros, hoje fazem parte do patrimnio cultural dos bra-

    sileiros e das prticas sociais de comemoraes familia-

    res, festas e grandes eventos pblicos.

    O trabalho com a msica e a dana originrias

    dessas manifestaes deve fazer parte do cotidiano

    da educao.

    Na educao voltada para a valorizao da diversi-

    dade, importante que o repertrio de msicas apre-

    sentado s crianas seja amplo e diversificado, compos-

    to de msicas de origem europeia, africanas, indgenas,

    asiticas etc., cantadas ou instrumentais. Um repertriodiversificado qualificar a escuta das crianas, que po-

    dem aprender que h muitos tipos de msica, no ape-

    nas aquela relacionada a um universo supostamente

    infantil. Quanto mais diversificado o repertrio, mais

    as crianas tero condies de identificar, reconhecer

    elementos e desenvolver preferncias musicais.

    Direto da prtica

    A participao na festa junina afro-brasileira trouxe

    a certeza de que a integrao entre dana e msica

    usando o tema da igualdade racial o exemplo

    vivo de como as questes da identidade e a heran-

    a cultural se alinham bem. Uma festa junina que

    reuniu o acaraj, o milho verde, a feijoada e a pa-

    oca, jogos de argola com motivos africanos, crian-

    as vestidas como princesas e prncipes africanos,

    cabelos arranjados moda afro, deu um timo cal-

    do cultural.

    As danas apresentadas pelas crianas: samba,

    boi bumb, jongo, congada etc. trouxeram ale-

    gria e, ao final, as famlias eram convidadas a par-

    ticipar, construindo uma diverso coletiva. Foi bo-

    nito de ver.

    Professora Ana Carolina,

    EMEI Guia Lopes, 2/7/2011.

    Ainda nas inmeras situaes do dia a dia, o pro-

    fessor, usando sua voz nas brincadeiras sonoras e can-es, abre um canal comunicativo essencial para a

    expresso sensvel e criativa. Assim, ele poder organi-

    zar situaes em que o grupo de crianas, de acordo

    com as habilidades da faixa etria, explore os sons de

    diferentes emissores, sejam instrumentos, rudos coti-

    dianos, elementos da natureza, animais, objetos, pes-

    soas etc. O uso de instrumentos como afox, ago-

    g, atabaque, berimbau, tambor e outros de origem

    africana pode integrar o acervo disposio das crian-

    as, assim como CDs de canes diversas, brincadeiras

    cantadas, acalantos, parlendas, lenga-lengas, brincos,rimas, adivinhas etc.

    Festa afro junina

    Captulo 3

    ImagenscapturadasdovdeoGesto

    eFamlias

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    3.2. Experincias com linguagemoral e escrita

    3.2.1. Linguagem oral

    O acesso aos bens culturais direito de todas as

    crianas. A linguagem, que se expressa em dois dom-

    nios, o oral e o escrito, uma das mais importantes

    heranas culturais, responsvel por mudanas no modo

    como as sociedades se organizaram, com reflexos na

    constituio da identidade humana.

    A oralidade foi durante sculos a nica forma de

    transmisso de cultura e conhecimentos. Por isso, os

    povos africanos desenvolveram formas importantes de

    contar histrias por meio dosnarradoresde histrias e

    mitos, chamados degriots, considerados bibliotecas vi-

    vas da cultura africana