Douglas Gordon, Visao, 21 Janeiro 1999

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  • 7/28/2019 Douglas Gordon, Visao, 21 Janeiro 1999

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    CULTURAEXPOSIAOAobra eovisitanteOs trabalhos de um dos artistas commaior projeco no denominado circuitointernacional, Douglas Gordon, chegamao Centro Cultural de Belm, em Lisboa ..I LOVE VOU, ILOVE VOU ..ao cinema que Gordon vai buscar as suas metforas mais fortesRUTH ROSENGARTEN ..Douglas Gordon nasceu em 1966 emGlasgow, na Esccia, frequentou aGlasgow School of Art e, posteriormente, aSlade School of Art, em Londres. A sua carreira iniciou-se nos princpios da dcada de90, tendo recebido nos ltimos dois anos alguns dos mais importantes galardes, entreeles oTurre Prize, em Londres, em 1996, e oHugo Boss Prize, em Nova Iorque, em 1998.A exposio - que inaugura hoje, quinta-feira, 21, - inclui vrias obras conhecidas,tais como 24 Hour Psycho, Hysterical e Thirty Second Text, e outras concebidas de propsito para esta mostra: What you want me tosay, Oftscreen e Reading Room, entre outras,que literalmente um espao de pausa, de reflexo e de consulta dos catlogos, entre estaexposio e a de Joo Penalva (ver caixa).'I LOVE vou'

    What you want me to say uma obra desom e texto baseada numa cena do filmeBrighton Rock: a gravao constantementerepetida da voz do artista vinda de 12 colunas de som dizendo I love you, seguida doclic de um disco riscado, evoca, tal comomuitos outros dos seus trabalhos, uma espcie de saudade, sentimento que simultaneamente destri numa crueza paradoxal.A obra de Gordon alia uma base concep-

    tual slida a uma presena fsica que o distancia das geraes anteriores de artistas conceptuais. Sem esforo aparente, os trabalhosarticulam elementos rigorosamente planeados de acordo com as exigncias do local:Oftscreen, por exemplo - uma obra em queum filme sobre um cortinado projectadonuma cortina real- est mesmo no centro dopercurso, sendo o ponto central e o ponto deviragem da mostra. Este tipo de estratgia desenvolvido como forma de entrar em dilogo com o pblico. A relao entre a obra eovisitante da exposio objecto de negociao constante para Gordon: ao espectadornunca permitido permanecer como um observador distante e alheio obra.AS MElFORAS DO CINEMAO trabalho de Douglas Gordon manifestaa diversidade dos seus referentes culturais eo -vontade com que se movimenta entre osdiversos registos, conceptuais emateriais. Assuas fntes so muitas vezes a msicapop/rock, a documentaomdica do sculo XIX, a literatura. Utiliza o som, o filme ea palavra escrita paramanipular obanal e oclich (tal como o I love you) numa formaque nos desarma pela sua ingenuidade aparente e que se revela, ao mesmo tempo, propositadamente irnica., no entanto, o cinema que lhe emprestaas metforas mais fortes. Em Hysterical, em

    dois ecrs adjacentes projectada uma fitado sculo XIX de uma mulher, aparentemente num ataque de histeria, a ser segurada por um mdico. Os dois filmes correm avelocidades diferentes e a imagem em duplicado sublinha a violncia do confronto entre o saber (a medicina) e a paixo (a histeria). Em 24-Hour Psycho, que talvez seja aobra mais conhecida de Douglas Gordon, aprojeco do filme de Hitchcock dura umdia. A dilatao extraordinria de momentos aparentemente insignificantes no original, a revelao do que permaneceria deoutro modo escondido, acaba por frustrartoda a expectativa do espectador.Ao desfazer toda a noo estvel de tempo real, a obra de Gordon aponta para queas coisas no aconteam de forma suficientemente rpida. A expectativa e o desapontamento so objecto de elaborao nestasmanipulaes de experincias subjectivas dotempo. So fantasmticas e cinemticasapropriaes do tempo condensado da memria e do tempo dilatado da espera.A exposio de Douglas Gordon exige concentrao eum envolvimento por parte do visitante. Muito do que acontece, passa-se emsalas obscurecidas e a um ritmo lento. Amelancolia - ou mesmo a ansiedade - envolvente, evocada de forma teatral, reforada pelapresena da morte nestes trabalhos.Uma mostra a no perder._

    Viso, 21 Janeiro 1999

    "Turre" prize devia

    ser, obviamente, "Turner

    Prize"