Douglas Gordon, City, 1999

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  • 7/28/2019 Douglas Gordon, City, 1999

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    ,.'uglas Gordon pertence a uma gerao de jovensistas escoceses, de Glasgow, que tm vindoroduzir uma das obras mais interessantes e maisais. Nesta gerao incluem-se nomes comoistine Borland (que ter uma exposio na CasaSerralves em Abril do prximo ano), JackieRoss Sinclair e Craig Richardson. Tendoem Glasgow, em 1966, Gordon frequentouasgow School of Art onde, no Environmental Artpartment, os alunos eram encorajados a trabalhar dema dinmica e orgnica numa relao com os seustextos fsicos, geogrficos, polticos e pessoais.mtodo de trabalho , ainda hoje, uma partenseca da sua actividade artstica. Douglas Gordonquenta entre 1988 e 1990 a Slade School of Art dedres e comea a fazer carreira nos anos 90. Depoisganhar o prestigioso Turner Prize em 1996, seguidoo Hugo Boss Prize anda este ano, passa a figurare os artistas mais aclamados e com maior projeconossos dias. Oartista utiliza filmes e materialarquivo retirado de fontes diversas {filmes dellywood, filmes mdicos, literatura

    do sculo XIX, msica popular) o que demonstrabem a amplitude conceptual da sua obra.No entanto, ao contrrio das geraes mais antigasde artistas conceptuais (Joseph Kosuth, On Kawara)a sua obra assume uma presena fsica insistentee frequentemente obsessiva. Na utilizao de texto,som, imagens fixas ou animadas, Gordon circula nummundo de ambiguidade e paradoxo. A suapreocupao com experincias subjectivas do tempotem uma elaborao mais eloquente quando trabalhacom filmes. Um dos mais clebres 24-Hour Psycho,onde o filme de Hitchcock tem a durao de projecode um dia inteiro.Douglas Gordon exprime-se de forma suavee articulada, no apresentando, por enquanto, marcasde estrelato. Tem uma capacidade de imerso nopresente, para se regozijar nas situaes que vive,o que, sem dvida, favorece a sua obra, to emsintonia com os contextos em que exposta.A City foi tomar 'caf e conversa' com o artista duranteas preparaes para esta mostra no CCB.

    - ~ IIQIIIIia - I I I I ' ICI" hIz . . . . . 1 r 1 ~ I I I I I I I I I I C l k l l l l l l l t l1Ita .glas Gordonhaver trs ou quatro peas novas. Uma das primeiras umlho de texto intitulado What you want me to say. um espao quem uma dzia de alto-falantes... Quando a pessoa entra, ouve-sem que a minha voz a dizer 'Te Amo (clique), te amo (clique)',do o 'cl ique' o som de um disco velho e riscado. Esta pea tem a vero filme Brighton Rock (baseado no livro de Graham Greene) noPinkie (Richard Attenborough) tenta seduzir uma rapariga ecasar-se com ele, porque se se casarem, ela no pode seremunha contra ele num caso de homicdio. Ela ama-o, enquanto eletesta. Depois do casamento, passeiam um dia na praia de Brighton

    uma daquelas cabinas dos anos 50 que parecem cabinasfnicas, mas que so mquinas para gravar mensagens em discos...a diz 'va l, faz uma gravao da tua voz para mim.' Ele entra nana sozinho, e assim ela no ouve aquilo que ele est a dizer. Elesmo um filho-da-me e grava a mensagem: 'Querias que eua minha voz, queres que eu diga que te amo, mas eu detestosprezo-te.' No filme, o pblico inteiro ouve isto tudo, mas ela noe de nada. E assim, a tenso toda no fi lme gira volta desta

    final do filme Pinkie morre, mas ela continua apaixonada por eleaba num convento onde, na ltima cena, est a falar com a Madreriora sobre a beleza do amor e da retribuio e quais asibilidades de uma vida sem amor. E a Madre Superiora diz:es que ainda h esperana para ele depois da morte se eleiramente te amava.' E ela responde: 'Eu sei que me amava,re, porque tenho o disco.' E ns pensamos 'NO! No toques

    City, Janeiro ou Fevereiro, 1999

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    arte no disco.. . ' Mas ela toca-o e ouve-se a voz dele a dizer: 'Querias queeu gravasse a minha voz, queres que eu diga que te amo (clique),te amo (cl ique), te amo (clique).. . O disco est preso.uma lalha tecnolgica, ento, que poupa amulher desta terrvel verdade que ela, emcaso algum, queria ouvir. um art if c io total, mas tambm um bocado kitsch, pelo menos paraa minha gerao que est habituada a umas formas de narrativa maissofisticadas... bem, mesmo kitsch, mas tambm muito belo.E mesmo cinema puro: nem vem no livro de Greene.Mas, ao ver eao ouvir esta pea, uma relao estabelecida entre oartistaeoespectador ecom aquilo que oespectador tambm quer ouvir.Eu queria brincar com a relao que existe entre o art ista e o visitantea uma exposio. O artista quer que as pessoas o amem e, de certamaneira, o visitante de uma exposio tambm quer amar algum, sejade uma maneira metafrica ou mais literalmente. Todos ns queremosque algum nos diga 'amo-te' e, por um lado, isso que estou a fazer.Mas por outro lado, quanto mais se ouve a gravao, tanto mais difci l concentrar-se nela e o facto de a gravao ser um disco partido tornao sentido irnico.Quais so as outras peas novas?Uma chama-se Offscreen. um dispositivo muito simples.Em vez de um ecr regular e plano, constru um cortinado do materialde projeco, que pendurmos mesmo no centro da exposio. Comoeste espao aqui em Belm um espao muito difc il , torna-se tambmdifcil de transmitir aos visitantes a ideia de um limiar. No meu trabalhoa ideia de ' limiar' importante, pois essencial que as pessoas tenhama impresso de ter entrado na obra - tanto fsica como conceptualmente.Assim, no meio da exposio o visitante confrontado com estecortinado fsico pelo qual obrigado a passar...Tal como acortina de duche em Psycho?Exactamente. E o que est projectado no cortinado a imagem de umacortina. Assim, a cortina verdadeira que nem real, nem irreal, o suporte para a imagem projectada da cortina e, como a cortina'verdadeira' tem sempre um ligeiro movimento, quanto mais a pessoaolha para ela, tanto mais desnorteada se torna. E tem tambm um outroefeito, que : aproximando-se da cortina, o visitante parece uma silhueta,

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    arteenquanto do outro lado torna-se uma sombra. Para mim, muito distotem a ver com o desejo das crianas de passar por detrs do ecrdo cinema ou da televiso. Passar por detrs do ecr no s umconceito fsico, mas tambm um conceito analtico.Urna da peas chama-se RB8tI/ng RotIm (sala de leitura). um trabalho que jmostrou noutras ocasies, n o ?Sim, mas este ser feito especialmente para Belm. Tem muito a vercom a minha resposta s dimenses e si tuao aqui. Como estoua expor ao mesmo tempo que o Joo (Penalva), signi fica queo pblico vai ter muita informao para digerir. No sei quantotempo as pessoas vo precisar dentro das exposies, mas vai serbastante, e ento acho que, se quiserem, podem fazer uma pausaentre as duas exposies na sala de leitura. Vou pr l livrose catlogos... msica que ouo, filmes que vejo, e outras coisas quese relacionam directamente com o meu trabalho. Tambm,se o Joo quiser incluir uns catlogos dele, para mim est bem.Basicamente vai funcionar como um centro de informaese documentao. A ideia de tornar a exposio um bocado maisenciclopdica do que meramente uma sequncia de salas...Apropsito de '81IC1dopd1cO', Interessa-se multo pelos sculos XVII eXIX...Sim. Acho que o mundo no mudou muito desde o sculo XIX- as questes bsicas continuam as mesmas, e so estas que meinteressam: questes de confiana, da psicologia nas relaes entrepessoas. Talvez a ideia do Narciso a olhar para a superfcie do lagofoi to fantstica naquela poca como a ideia de ns olharmos hojepara o monitor do computador!Em 24.",.. PByt:hD, projecta o lime de IIIchcock dlrlIIte operodo de 11ft lia.. .depois existe oproieto mais amIIicioso para lIII 5 YI18I' 1Jrive-By.11II8 propostade prolongar olIIme T1Itl8lJ8l'cllelts, de John Ford, dos seus 113 minlItlIs 110 ecr dlI'ao 'r8aI' da busca de IIncIe EIhan para asua sobrinha 110 filme, que de cinco lIIOS. Pode contar-me mais sobre esta lIIao do tempo?Trata-se da maneira como um filme de menos de duas horas dedurao pode retratar a misria e o desespero do tempo de esperadeste homem. Gosto do envolvimento psicolgico provocado pelomero facto de mudar o timing de uma sequncia de imagens. Issomuda no s a nossa percepo do presente, mas tambm asnossas expectativas relativas ao futuro. E assim, o conceito do'tempo real' deixa de existir, pois ela depende de muitos factores- se estiver dentro ou fora, se sentir o vento ou no, com quemestiver ou no estiver.. . o tempo de espera diferente do tempoda memria.oque est a lIzer que usa estas lIIlIlIanas de tiI1I/ng para proVOCll' lIIII8reaces - lIIlitas vezes de desconIlII'tlI ti extJttImiB por parte do espectador. Achaque nuto daquIo que faz IIllIipllivo?Acho que todo o meu trabalho bastante manipulativo, com umpequeno toque de maldade l dentro, mas isso que torna tudoengraado. Tento imaginar que o trabalho representa uma pessoa.E no necessariamente eu prprio: representaria mais uma pessoacom quem eu gostaria de manter uma relao. Sim. Por que no?Algum em que se pode confiar na Segunda-feira, de que se podeduvidar na Tera, pela qual pode se apaixonar na Quarta e detestarna Quinta. Para mim, isso que torna a vida interessante. Tem dehaver um desafio.

    Tatto (for reflectionJ

    . II ,I IOTurner Prize , em Inglaterra, o prmio artstico mais prestigianda actualidade. Institudo em 1984, concedido a quem, na Gr-Bretanha, se te nha de sta c ado ao longo do ano. Oprimeiro a rec-lo foi Malcolm Morley. Enquanto qu e as primeiras listas decandidatos celebravam carreiras de artistas j consagrados(geralmente em meio de carreira), tais como Gilbert an d GeorgeRichard Deacon, Tony Cragg, Howard Hodgkin e Richard Long,as ltimas listas (desde 1991) incluem a pe na s qua tr o nomes,centrando-se em jovens artistas cuja obr a te nha alcanado um gde excelncia e tenha sido exposta durante o ano. Houve, at agdois anos de excepo: em 1988 n o houve um a lista finalde candidatos, tendo sido nomeado apenas Tony Cragg, qu e reco prmio; e em 1990 o prmio foi suspenso. Afinalidade deste pr prestar homenagem a um art is ta qu e se tenha destacado e chaa a ten o do pblico q ue n o tem o hbito de visitar galerias decomerciais ou q ue n o se desloca para ver exposies de artebritnica realizadas no estrangeiro, para obras de artecontemporneas.As obras dos quatro artistas nomeados so expostas na Tate Gallde Londres durante cerca de dois meses antes da entrega do pre o evento transmitido na televiso britnica atravs do ChannOs concorrentes de Douglas Gordon, em 1996, foram Gary Hume,Craigie Horsfield e Simon Patterson. Outros premiados foram A n iKapoor (1991), Rachel Whiteread, (1993), Damien Hirst (1995) e Gwearing (1997). O Premiado este an o foi Chris Ofili, o primeiro pa ganhar o prmio desde 1992. Douglas Gordon recebeu tambmo Hugo Boss Prize, este ano. Institudo em 1996, este prmio daa um dos seis artistas seleccionados e expostos pela Soho Branchdo Museu Guggenheim de Nova Iorque.