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Uma estrada de piçarra com várias ladeiras cheias de pedras e riachos levam a uma comunidade chamada Formiga, que fica a 11 quilômetros de Pedro II. Nela mora uma mulher batalhadora que preserva a tradição de confeccionar jarros, potes e outros objetos de barro usando a força do braço e a criatividade que Deus lhe dá. Maria da Luz Gomes da Silva, mais conhecida como Dona Maria dos Jarros, mora em uma pequena casa com o seu esposo Francisco Gomes da Silva, o Seu Chico dos Potes, e dois filhos. Na pequena casa de adobro se pode ver por toda a parte amostras do trabalho de Dona Maria. Esculturas de sapos, jumentos, travessas, homens e mulheres, todos feitos de barro, dão as boas-vindas a quem chega. Mas o forte dessa mulher é mesmo os jarros. Eles são feitos de argila e pintados também com argila, em uma mágica que a natureza proporciona. Ela explica que a argila preta, após queimada, fica com uma coloração branca e a amarela fica com uma coloração vermelha. Argila que ela compra dos vizinhos ou é retira da propriedade onde mora com a família. Dona Maria explica que para iniciar o processo de fabricação dos jarros a argila é colhida dos barreiros ainda dura e, quando chega em casa, ela é batida até ficar fina e depois ser peneirada. Depois de peneirada, a massa é molhada e amassada com os pés. Já amassada a massa está pronta para virar os jarros, que ela começa fazendo o fundo e o rolo até um palmo de altura, quando já está pronto para ser moldado no formato que ela quer. Além dos potes e jarros, Dona Maria usa a sua imaginação e vontade de experimentar para fazer corujas, chaleiras e outros objetos de ornamentação. Quando modeladas, as peças são postas no sol para secar e, depois de secas, vão para o forno para fazer a queima. Ela alerta que as Piauí Ano 1 | nº 12 | abril | 2009 Pedro II - PI Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Do barro ao pote Como Dona Maria dos Jarros transforma barro em obra de arte no interior de Pedro II 1 Dona Maria e a família envolvida no processo A modelagem é feita a mão apoiada em um taburete Projeto Piloto

Do barro ao pote

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Page 1: Do barro ao pote

Uma estrada de piçarra com várias ladeiras cheias de pedras e riachos levam a uma comunidade chamada Formiga, que fica a 11 quilômetros de Pedro II. Nela mora uma mulher batalhadora que preserva a tradição de confeccionar jarros, potes e outros objetos de barro usando a força do braço e a criatividade que Deus lhe dá.

Maria da Luz Gomes da Silva, mais conhecida como Dona Maria dos Jarros, mora em uma pequena casa com o seu esposo Francisco Gomes da Silva, o Seu Chico dos Potes, e dois filhos. Na pequena casa de adobro se pode ver por toda a parte amostras do trabalho de Dona Maria. Esculturas de sapos, jumentos, travessas, homens e mulheres, todos feitos de barro, dão as boas-vindas a quem chega.

Mas o forte dessa mulher é mesmo os jarros. Eles são feitos de argila e pintados também com argila, em uma mágica que a natureza proporciona. Ela explica que a argila preta, após queimada, fica com uma coloração branca e a amarela fica com uma coloração vermelha. Argila que ela compra dos vizinhos ou é retira da propriedade onde mora com a família.

Dona Maria explica que para iniciar o processo de fabricação dos jarros a argila é colhida dos barreiros ainda dura e, quando chega em casa, ela é batida até ficar fina e depois ser peneirada. Depois de peneirada, a massa é molhada e amassada com os pés.

Já amassada a massa está pronta para virar os jarros, que ela começa fazendo o fundo e o rolo até um palmo de altura, quando já está pronto para ser moldado no formato que ela quer. Além dos potes e jarros, Dona Maria usa a sua imaginação e vontade de experimentar para fazer corujas, chaleiras e outros objetos de ornamentação.

Quando modeladas, as peças são postas no sol para secar e, depois de secas, vão para o forno para fazer a queima. Ela alerta que as

Piauí

Ano 1 | nº 12 | abril | 2009Pedro II - PI

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Do barro ao poteComo Dona Maria dos Jarros transforma barro

em obra de arte no interior de Pedro II

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Dona Maria e a família envolvida no processo

A modelagem é feita a mão apoiada em um taburete

Projeto Piloto

Page 2: Do barro ao pote

peças devem estar bem secas para serem colocadas para queimar, se não estiverem bem secas elas não queimam direito e o jarro fica com defeito.

Ela explica que quem quiser fazer esse tipo de trabalho deverá ficar atento com as épocas. Por exemplo, durante o inverno o lucro é pequeno, porque o barro não consegue secar direito. Tanto depois de reitrado do barreiro quanto depois de modelada a peça, pois a falta de sol faz com que a peça seque mais devagar e atrase todo o processo e, em conseqüência, as vendas.

Dona Maria diz que até tem vontade de expor o trabalho que foi passado de geração para geração, de sua avó para sua mãe e depois para ela, mas a dificuldade é o transporte. Tem que ter embalagens e carro o que custa caro, pois a mercadoria é muito frágil. Por isso ela só comercializa seus produtos em Pedro II, e mesmo assim com muita dificuldade, já que para levar as peças para a feira ela tem que fazer no lombo de um jumento, saindo de madrugada de casa. E, às vezes por causa da estrada ruim, muitas peças chegam quebradas à cidade.

Mas na propriedade da família não tem só a fabricação dos jarros. A agricultura familiar também está presente e lá a família cultiva hortaliças como cebolinha, coentro, alface e couve. Tem um plantio de sequeiro de milho e feijão, além de animais como galinhas, porcos e bodes. A agricultura é mais para o consumo próprio, somente o coentro e a cebolinha são levados para a feira, onde são vendidos.

Os seus canteiros são postos de uma maneira diferente para ter uma economia maior de água. Os canteiros são plantados em girais suspensos para que as frutíferas não puxem a água dos canteiros. Ela conta que a propriedade tem um poço cacimbão, mas a água dele é ruim, é salobra, e só é utilizada para

o banho, lavar louças e o trabalho com a cerâmica. A água de beber é retirada de uma cisterna caseira instalada no quintal de casa.

Para Dona Maria a luta com a cerâmica é um trabalho pesado, que nem todo mundo está disposto a fazer, pois é um trabalho muito sujo e ela conta que às vezes não tinha água nem para se banhar quando terminava. Tinha que ir para o riacho à noite para se lavar.

“Faço porque gosto de fazer. Só sei fazer isso e se for lutar é com isso mesmo” conta Dona Maria que não anseia em fazer mais cursos para aperfeiçoar sua técnica, possibilidade que ela não descarta, mas que o que ela aprendeu com sua mãe e com sua avó, vai continuar vivo, pois é assim que ela prefere

trabalhar.

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Secar bem as peças ao sol é importante para a queima

Girais possibilitam economia de água nos canteiros

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