Dissertacao Klegea Versao Publicacao

  • Upload
    kmcr86

  • View
    515

  • Download
    7

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU (UFPI) Ncleo de Referncia em Cincias Ambientais do Trpico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)

VARIABILIDADE GENTICA E USO DOS FRUTOS DE PEQUI (Caryocar coriaceum WITTM.) NA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL

KLGEA MARIA CNCIO RAMOS

TERESINA/PI MAIO/2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAU (UFPI) Ncleo de Referncia em Cincias Ambientais do Trpico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA)

KLGEA MARIA CNCIO RAMOS

VARIABILIDADE GENTICA E USO DOS FRUTOS DE PEQUI (Caryocar coriaceum WITTM.) NA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL

Dissertao apresentada ao Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piau (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. rea de Concentrao: Desenvolvimento do Trpico Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilizao Sustentvel dos Recursos Naturais. Orientador: Ph. D. Valdomiro Aurlio Barbosa de Souza

TERESINA 2010

KLGEA MARIA CNCIO RAMOS

VARIABILIDADE GENTICA E USO DOS FRUTOS DE PEQUI (Caryocar coriaceum WITTM.) NA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL

Dissertao apresentada ao Programa Regional de Ps-Graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piau (PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito obteno do ttulo de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. rea de Concentrao: Desenvolvimento do Trpico Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa: Biodiversidade e Utilizao Sustentvel dos Recursos Naturais.

Teresina, maio de 2010

__________________________________________________________ Prof. Ph. D. Valdomiro Aurlio Barbosa de Souza EMBRAPA MEIO-NORTE/ PRODEMA/UFPI

__________________________________________________________ Prof. Dr. Joo Batista Lopes CCA/PRODEMA/UFPI

__________________________________________________________ Dr. Eugnio Celso Emrito Arajo EMBRAPA MEIO-NORTE

DEDICATRIA

Dedico a Deus e a todos aqueles que me apoiaram nos momentos difceis desta caminhada.

AGRADECIMENTOS

Deus por me conceder a graa da realizao deste trabalho. Ao Diretrio Alemo DAAD, pela concesso da bolsa de estudo. EMBRAPA Meio-Norte pelo apoio logstico e cientfico durante esses dois anos de pesquisa e por fazer me sentir em casa. Universidade Federal do Piau e ao Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento e Meio Ambiente, por todo o apoio e proficincia. Dona Maridete Alcobaa Brito e Joo Batista Arapujo, por estarem sempre a postos para ajudar sempre. Ao meu querido orientador, Ph. D. Valdomiro Aurlio Barbosa de Souza, mentor deste trabalho, por sua inefvel perseverana, confiana em minha capacidade e por sua incomensurvel qualidade profissional. Agradeo tambm por sua pacincia, amizade e companheirismo. Ao Dr. Eugnio Celso Emrito Arajo (EMBRAPA Meio-Norte) e ao Dr. Joo Batista Lopes (CCA-UFPI) pelas dicas e sugestes de grande valia na qualificao de minha dissertao, melhorando a qualidade e escrita deste trabalho que constru com muito carinho. A todos os colegas do curso de Ps-graduao e aos amigos dos Laboratrios de Fisiologia Vegetal e de Bromatologia, pela amizade, carinho e ateno. Ao Seu Jos Maria a ao Seu Silvestre, por serem sempre os meus quebragalhos nos momentos difceis de minha pesquisa. Ao Laboratrio de Bromatologia da EMBRAPA Meio-Norte, aos tcnicos Antnio Carlos dos Santos e Luis Jos Duarte Franco, que se mostravam sempre solcitos, tornando-se companheiros e amigos. Ao Laboratrio de Bromatologia do Centro de Cincias Agrrias da Universidade Federal do Piau pelo apoio durante a etapa experimental, aos tcnicos Seu Lindomar e o Manoel, minha imensa gratido. Em especial minha famlia, que me apoiou durante o mestrado. Ao meu Pai e minha Me, pela cumplicidade. Aos meus queridos irmos, pelo incentivo. E ao meu grande amor, Joo, pelo otimismo e muita pacincia. Aos grandes amigos que fiz durante essa jornada, meus parceiros do dia-a-dia, Alane, Carlos Humberto, Diego, Edivaldo, Ellen, Francisco, Gustavo, Maria do Socorro, vulgo

Lindamara e a minha fiel escudeira Sulimary Oliveira Gomes, onde se fazia da diversidade a maior expresso de igualdade.

A todos, muito obrigada!

RESUMO O pequizeiro (Caryocar coriaceum Wittm.) uma espcie frutfera nativa do cerrado do Nordeste brasileiro, apresentando mltiplas formas de utilizao pelo homem, como na fabricao de remdios, cosmticos, licores e sabo, dentre outras. No Nordeste, a espcie ocorre nos estados do Maranho, Piau e Cear. O presente trabalho teve como objetivos: (1) realizar a caracterizao fsica e qumico-nutricional da polpa e da amndoa do pequi; (2) realizar estudo de divergncia gentica entre populaes de pequizeiro de ocorrncia natural nos estados do Maranho e Piau; e (3) caracterizar o perfil social e econmico e verificar a importncia da venda do pequi na renda das famlias rurais nas reas de ocorrncia da espcie. Estudaram-se trs populaes de ocorrncia natural no Maranho (Timon, Caxias e Afonso Cunha) e trs no Piau (Alto Long, Barras e Jos de Freitas), em um total de 36 plantas estudadas, sendo avaliada uma mdia de 15 frutos/planta. A populao de Alto Long, no Piau, foi a que apresentou as maiores mdias de massa mdia do fruto, de casca e de amndoa, enquanto que as populaes de Afonso Cunha, no Maranho, e de Barras, no Piau, apresentaram as maiores mdias de protena bruta. J a populao de Timon, no Maranho, mostrou o maior teor de fibra bruta. A populao de Alto Long apresentou a maior mdia de protena bruta na amndoa. As populaes de pequizeiros de ocorrncia no Piau mostraramse mais heterogneas que as do Maranho, com significativa divergncia entre as populaes, a qual pode ser utilizada em futuros trabalhos de melhoramento da espcie. Quanto a sciaeconomia do pequi, constatou-se que o dinheiro arrecadado com a venda do pequi significativa para as famlias que vivem nas comunidades rurais, pois a maioria das famlias rurais estudadas depende do Programa Federal Bolsa Famlia; logo o ganho com a venda dos frutos e produtos de pequi de grande importncia

Palavras-chave: Cerrado. Estrutura gentica. Fruteira nativa. Pequizeiro. Desenvolvimento sustentvel

ABSTRACT

The pequi (Caryocar coriaceum Wittm.) is a fruit species native from to the Brazilian Northeast Savannah, presenting multiple forms of use by humans, such as manufacture of medicines, cosmetics, liquor and soap, among others. In the Brazilian Northeast, the species occurs in the states of Maranho, Piau and Cear. This study aimed to: (1) performing physical and chemical-nutritional characterization of the pulp and the pequi kernel; (2) performing genetic divergence study among pequi populations of natural occurrence in the states of Maranho and Piau, and (3) to assess the importance of the pequi sale in the income of rural households in the occurrence areas of this species. Three populations of natural occurrence in the State of Maranho (Timon, Caxias and Afonso Cunha) and three of occurrence in the Piau State (Alto Long, Barras and Jos de Freitas) were studied, in a total of 36 plants, being evaluated an average of 15 fruits/plant. The population of Alto Long, in Piau State, had the highest values for average fruit mass, average peel mass and average kernels mass, while the populations of Afonso Cunha, in Maranho State, and Barras, in Piau State, had the highest crude protein contents. The population of Timon (Maranho), on the other hand, showed the highest crude fiber content. The population of Alto Long had with the highest crude protein content in the kernel. The pequi populations of occurrence in the Piau State were more heterogeneous than those of Maranho, with a significant divergence among populations, which may be used in future breeding programs for this species. The sale of pequi is significant at the harvesting time by families living in rural communities, contributing to family income in these communities. Key-words: Savannah. Genetic structure. Native fruit tree. Pequi tree. Sustainable development.

LISTA DE FIGURAS

Pginas

REVISO DE LITERATURA FIGURA 1 - PEQUIZEIRO LOCALIZADO EM TIMON MA. .............................................. 21

ARTIGO 2 FIGURA 1. REPRESENTAO GRFICA DOS PEQUIZEIROS AVALIADOS COM RELAO AOS EIXOS DEFINIDOS PELAS COMPONENTES PRINCIPAIS (CP1 E CP2), SEGUNDO AS CARACTERSTICAS FSICAS. ............................................................. 60 FIGURA 2. REPRESENTAO GRFICA DOS GENTIPOS AVALIADOS COM RELAO AOS EIXOS DEFINIDOS PELAS COMPONENTES PRINCIPAIS (CP1 E CP2), SEGUNDO AS CARACTERSTICAS QUMICO-NUTRICIONAIS .............................. 61 FIGURA 3. DENDROGRAMA RESULTADO DA ANLISE DOS 36 GENTIPOS DE PEQUIZEIROS COM BASE NAS CARACTERSTICAS FSICAS DO FRUTO E DA AMNDOA, OBTIDO PELO MTODO DE AGRUPAMENTO UPGMA, UTILIZANDO A DISTNCIA GENERALIZADA DE MAHALANOBIS COMO MEDIDA DE DISTNCIA GENTICA. .................................................................................................................................. 67 FIGURA 4. DENDROGRAMA RESULTADO DA ANLISE DOS 36 GENTIPOS DE PEQUIZEIROS COM BASE NAS CARACTERSTICAS QUMICO-NUTRICIONAIS, OBTIDO PELO MTODO DE AGRUPAMENTO UPGMA E UTILIZANDO A DISTNCIA GENERALIZADA DE MAHALANOBIS COMO MEDIDA DE DISSIMILARIDADE. ................................................................................................................... 68

ARTIGO 3 FIGURA 1 - COMPARATIVO DA REA DO CERRADO ENTRE OS ANOS DE 1993 E 2002. .............................................................................................................................................. 76 FIGURA 2. PRODUTOS FABRICADOS A PARTIR DO FRUTO DO PEQUI: A. EXTRAO DO AZEITE DE PEQUI; B. SABO DE PEQUI; C. RASPAS

RESULTANTES DOS CAROOS DE PEQUI APS A RETIRADA DO AZEITE; D. AZEITE DE PEQUI ...................................................................................................................... 80

LISTA DE TABELAS

Pginas

ARTIGO 1

TABELA 1. CARACTERSTICAS FSICAS DE FRUTOS DE SEIS POPULAES DE PEQUIZEIROS DE OCORRNCIA NOS ESTADOS DO PIAU E MARANHO .................. 39 TABELA 2. TEORES MDIOS DE UMIDADE (UMID), CINZAS (CZ), GORDURA (GORD), PROTENA BRUTA (PB), FIBRA BRUTA (FB), CARBOIDRATOS TOTAIS (CT) E ENERGIA (ENERG) DA POLPA E DA AMNDOA DE SEIS POPULAES DE C. CORIACEUM DA REGIO MEIO NORTE ........................................................................... 41 TABELA 3. TEORES MDIOS DE MINERAIS DA POLPA E DA AMNDOA DE SEIS POPULAES DE C. CORIACEUM DE OCORRNCIA NA REGIO MEIO-NORTE ........ 42

ARTIGO 2

TABELA 1. REA DE ABRANGNCIA DO ESTUDO ........................................................... 54 TABELA 2. CONTRIBUIO RELATIVA DOS CARACTERES PARA DIVERGNCIA GENTICA, BASEADA NA ESTATSTICA S.J DE SINGH (1981) ........................................ 57 TABELA 3. VARINCIA DE CADA COMPONENTE PRINCIPAL E SUA IMPORTNCIA EM RELAO VARINCIA TOTAL QUANTO S CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICO-NUTRICIONAIS ............................................... 58 TABELA 4. ESCORES DOS CARACTERES AVALIADOS EM RELAO AOS QUATROS COMPONENTES PRINCIPAIS (CP) ...................................................................... 59 TABELA 5. AGRUPAMENTO DE INDIVDUOS DE 36 PEQUIZEIROS, PELO MTODO DE OTIMIZAO DE TOCHER, UTILIZANDO A DISTNCIA GENERALIZADA DE MAHALANOBIS COMO MEDIDA DE DISSIMILARIDADE .......... 62 TABELA 6. AGRUPAMENTO DE TOCHER, SEGUNDO POPULAES, PRIMEIRO POR CARACTERSTICAS FSICAS E SEGUNDO POR CARACTERSTICAS QUMICONUTRICIONAIS. .......................................................................................................................... 64

TABELA 7. AGRUPAMENTO, POR POPULAO, DOS PEQUIZEIROS DE OCORRNCIA NO ESTADO DO MARANHO, UTILIZANDO O MTODO OTIMIZAO DE TOCHER E A DISTNCIA GENERALIZADA DE MAHALANOBIS COMO MEDIDA DE DISSIMILARIDADE. .............................................................................. 65 TABELA 8. AGRUPAMENTO, POPULAO, DOS PEQUIZEIROS DE OCORRNCIA NO ESTADO DO PIAU, UTILIZANDO O MTODO DE OTIMIZAO DE TOCHER E A DISTNCIA GENERALIZADA DE MAHALANOBIS COMO MEDIDA DE DISSIMILARIDADE. ................................................................................................................... 66

ARTIGO 3

TABELA 1. REA DE ABRANGNCIA DO ESTUDO ........................................................... 77

SUMRIO

Pginas 1 INTRODUO .......................................................................................................................... 15 2 REVISO DE LITERATURA .................................................................................................. 18 2.1 CERRADO .......................................................................................................................... 18 2.2 TRPICO ECOTONAL DO NORDESTE .......................................................................... 19 2.3 PEQUIZEIRO ...................................................................................................................... 20 2.4 CARACTERSTICAS FSICAS ......................................................................................... 22 2.5 CARACTERSTICAS QUMICO-NUTRICIONAIS ......................................................... 23 2.6 DIVERSIDADE GENTICA .............................................................................................. 24 2.7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ......................................................................... 25 3 REFERNCIAS ......................................................................................................................... 27 ARTIGO 1 .................................................................................................................................... 32 RESUMO ...................................................................................................................................... 33 ABSTRACT .................................................................................................................................. 34 1 INTRODUO .......................................................................................................................... 35 2 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................................ 36 2.1 LOCALIZAO E DESCRIO DA REA DE ESTUDO ................................................................ 36 2.2 ANLISES LABORATORIAIS ................................................................................................... 36 2.2.2 ANLISES QUMICO-NUTRICIONAIS .................................................................................... 37 2.3 ANLISES DOS DADOS ........................................................................................................... 37 3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................... 38 3.1 CARACTERSTICAS FSICAS ................................................................................................... 38 3.2 CARACTERSTICAS QUMICO-NUTRICIONAIS ......................................................................... 40 4 CONCLUSES .......................................................................................................................... 46 5 REFERNCIAS ......................................................................................................................... 47 ARTIGO 2 .................................................................................................................................... 49 RESUMO ...................................................................................................................................... 50 ABSTRACT .................................................................................................................................. 51 1 INTRODUO .......................................................................................................................... 52 2 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................................ 54 2.1 DESCRIO DA REA DE ABRANGNCIA DO ESTUDO............................................................. 54 2.2 CARACTERIZAO FSICA E QUMICO-NUTRICIONAL DOS FRUTOS E DAS AMNDOAS ............ 54 2.3 ANLISES DOS DADOS .......................................................................................................... 55 3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................... 56 3.1 ANLISES DA IMPORTNCIA DAS VARIVEIS ........................................................................ 56 3.2 ANLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS ............................................................................... 57 3.3 AGRUPAMENTO PELO MTODO DE OTIMIZAO DE TOCHER ................................................. 62

4 CONCLUSES .......................................................................................................................... 68 5 REFERNCIAS ......................................................................................................................... 69 ARTIGO 3 .................................................................................................................................... 72 RESUMO ...................................................................................................................................... 73 ABSTRACT .................................................................................................................................. 74 1 INTRODUO .......................................................................................................................... 75 2 MATERIAL E MTODOS ........................................................................................................ 77 2.1 REA DE ESTUDO .................................................................................................................. 77 2.2 ENTREVISTAS........................................................................................................................ 77 3 RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................... 78 3.1 PERFIL SOCIOECONMICO ..................................................................................................... 78 3.2 AUMENTO NA RENDA FAMILIAR DEVIDO VENDA DOS FRUTOS OU PRODUTOS DE PEQUI ...... 79 3.3 USO DO PEQUI E AS DIFICULDADES ENCONTRADAS PELA POPULAO ................................... 79 4. CONCLUSES ......................................................................................................................... 82 5 REFERNCIAS ......................................................................................................................... 83 4 CONCLUSES GERAIS .......................................................................................................... 84 APNDICES ................................................................................................................................ 85 APNDICE 1 ............................................................................................................................. 86 ANEXOS ...................................................................................................................................... 88 ANEXO 1 .................................................................................................................................. 89 ANEXO 2 .................................................................................................................................. 92 ANEXO 3 ................................................................................................................................ 101

15

1 INTRODUO

O Cerrado um dos maiores biomas brasileiros, com cerca de 2 milhes de quilmetros quadrados de rea, ou 22% do territrio nacional, onde 85% se localiza no Planalto Central e o restante da rea nos estados do Alagoas, Amazonas, Bahia, Cear, Maranho, Par, Paraba, Piau, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe (Oliveira, 2009). Este bioma conhecido pela sua riqueza e diversidade, sendo ainda cortado pelas trs maiores bacias hidrogrficas da Amrica do Sul (Gonalves, 2007). Apesar do reconhecimento da riqueza deste bioma, as negligncias quanto s leis de proteo ambiental, as queimadas desenfreadas, a expanso das fronteiras agrcolas e sua explorao, assim como o desconhecimento e o uso irracional dos recursos naturais tm provocado impactos irreversveis aos ecossistemas do Cerrado, pondo em risco de extino espcies vegetais e animais e a sustentabilidade do ambiente (Rodrigues, 2005). A partir de 1960, com o Plano de Metas do Governo Juscelino Kubitschek, iniciouse as transformaes da agricultura no Cerrado, com a sua insero no contexto da modernizao e desenvolvimento do pas, voltado para a produo de gros visando atender ao aumento do consumo mundial de soja (Oliveira, 2004). O Cerrado muito rico em espcies frutferas, cujos frutos se destacam por suas agradveis peculiaridades exticas como cor, sabor e aroma, embora ainda sejam pouco explorados cientificamente ou comercialmente (Damiani, 2006). O gnero Caryocar, possui 25 espcies, sendo que 13 so encontradas no territrio brasileiro (Franco et al., 2004). A espcie de maior presena no Cerrado do Planalto Central C. brasiliense Camb., dividida em duas subespcies: C. brasiliense subsp. Brasiliense, de porte arbreo e com ampla distribuio, e o C. brasiliense subsp. Intermedium, de porte arbustivo, com ocorrncia restrita a algumas partes desse ecossistema (Silva et al., 2001). Nos estados do Maranho, Piau e Cear, a espcie ocorrente a C. coriaceum Wittm, de porte arbreo. conhecido vulgarmente como piqui, pequi ou pequi, o nome pequi tem origem indgena, em que py equivale pele e qui, quer dizer espinho, ou seja, py-qui o mesmo que fruto de casca ou pele espinhosa (Miranda, 1986). O nome pequi ou piqui uma denominao comum s espcies do gnero Caryocar em todo o Pas, a exceo da Amaznia onde h a espcie Caryocar villosum, denominada de pequi (Carvalho e Mller, 2005).

16

A Regio Meio-Norte do Brasil, zona de transio entre o Cerrado e a Floresta Amaznica, sendo rica na diversidade da fauna e flora. Esta regio abrange dois estados nordestinos, Maranho e Piau, apresentando uma extensa fronteira favorvel expanso de atividades agropecurias; o que requer ateno quanto conservao dos recursos naturais, buscando o uso de maneira racional e projetado (Cardoso et al., 2003). No existem muitas informaes sobre as caractersticas agronmicas do C. coriaceum, pois pouco estudado. Neste trabalho, C. coriaceum foi comparado espcie C. brasiliense, sendo possvel tal comparao devido proximidade gentica de ambas (Oliveira, 2009). Nenhuma das espcies de Caryocar domesticada, atualmente ainda encontram-se em um estgio intermedirio de domesticao (Tombolato et al., 2004). O pequizeiro uma planta arbrea, atingindo entre 8 a 12 metros, variando de acordo com o ambiente. A primeira frutificao da espcie pode iniciar entre 5 e 6 anos (Almeida et al., 1998). A florao ocorre logo aps a emisso das folhas novas, com os frutos alcanando a maturidade entre trs e quatro meses aps a frutificao (Lorenzi, 2000). O fruto uma drupa. O endocarpo rgido e espinhoso, sendo uma caracterstica do gnero (Ferreira et al., 1987). A massa que cobre o endocarpo pode apresentar cor amarelada, alaranjada, rsea ou esbranquiada, de consistncia pastosa, farincea e oleaginosa. Na maioria dos casos, cada fruto desenvolve apenas uma semente, embora existam casos do fruto apresentar at quatro sementes (Peixoto, 1973). A casca do fruto espessa e composta por 50,94% de carboidratos totais, 39,97% de fibra alimentar, 1,54% de lipdeos e 5,76% de protenas. responsvel por cerca de 84% do peso total do fruto, enquanto a polpa, as sementes e o endocarpo, representam 16% aproximadamente (Vilela, 2009). Em funo das poucas informaes disponveis sobre a espcie Caryocar coriaceum Wittm, este trabalho teve como objetivos efetuar nos estados do Piau e Maranho, a caracterizao fsica e qumico - nutricional da polpa e da amndoa do pequi; realizar estudo de divergncia gentica entre populaes desta espcie de ocorrncia nos estados do Maranho e Piau. E, ainda verificar a importncia social e econmica desta espcie nas comunidades rurais onde ocorre. No sentido de simplificar e esclarecer o tema em questo optou-se por dividir esta dissertao na forma de trs artigos tcnico-cientficos. O primeiro artigo CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICO-NUTRICIONAIS DE FRUTOS DE POPULAES PEQUIZEIRO (Caryocar coriaceum WITTM.) DE OCORRNCIA NATURAL NA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL, buscou a caracterizao da polpa e amndoa do pequi, por meio de anlises laboratoriais. No segundo

17

artigo DIVERGNCIA GENTICA ENTRE POPULAES DE PEQUIZEIRO (Caryocar coriaceum Wittm.) COM BASE EM CARACTERSTICAS FSISICAS E QUMICONUTRICIONAIS DO FRUTO E DA AMNDOA, objetivou-se o estudo da diversidade entre e dentro de populaes de pequizeiro de ocorrncia nos estados do Maranho e Piau. Finalmente, o terceiro artigo O PEQUIZEIRO E O HOMEM: ESTUDO SOBRE OS VENDEDORES E CATADORES DE PEQUI (Caryocar coriaceum WITTM) DA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL, analisou-se o grupo scio-econmico envolvido na comercializao informal dos frutos de pequi e o impacto que esta venda gera na renda familiar.

18

2 REVISO DE LITERATURA 2.1 CERRADO Por definio, bioma um conjunto de vida vegetal e animal, especificado pelo agrupamento de tipos de vegetao e identificvel em escala regional, com condies geogrficas e de clima similares e uma histria compartilhada de mudanas cujo resultado uma diversidade biolgica prpria. A localizao geogrfica de cada bioma condicionada predominantemente pelos seguintes fatores: temperatura, precipitao pluviomtrica e pela umidade relativa, e em menor escala pelo tipo de componentes do solo (Vieira e Martins, 1998). O Cerrado constitui o segundo maior bioma do pas em rea, sendo apenas superado pela Floresta Amaznica. Originalmente, com uma rea de 204 milhes de hectares, apresenta grande variabilidade de clima e solos e, certamente, uma grande diversificao faunstica e florstica em suas diferentes fisionomias vegetais (Almeida et al., 1998; Sano e Almeida, 1998). A rea de Cerrados encontrada nos estados de Gois, Tocantins e Distrito Federal, parte do estado da Bahia, Cear, Maranho, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piau, Rondnia e So Paulo, sendo que Mato Grosso compe o ncleo central do Cerrado. Ocorre tambm em reas disjuntas ao norte dos estados do Amap, Amaznia, Par e Roraima e ao sul, em pequenas reas do Par (Ribeiro e Walter, 1998; Almeida et al., 1998). No Nordeste Brasileiro, a maior concentrao dos cerrados encontra-se nos estados do Piau e Maranho, ocupando o sudoeste e centro-norte do Piau e nordeste e centro-sul do Maranho, tendo uma rea estimada de aproximadamente 22 milhes de hectares, o que representa 14% da rea total nordestina (Castro et al, 2007). O autor Rizzini apresentou nos anos de 1963 e 1974 a idia de zona marginal, o que ajudou a definir os Cerrados Marginais Distais, que segundo Castro et al (2008), so chamados de marginais por serem distribudos nas margens do espao geogrfico ocupado pelos cerrados brasileiros e distais por referir-se ao fato de que estes cerrados so a continuao fisionmica e estrutural dos cerrados do Planalto Central de forma contnua. O clima do Cerrado estacional, apresentando duas estaes bem definidas, uma no perodo chuvoso, entre os meses de outubro a maro, seguido por um perodo seco, de abril a setembro. A precipitao varia de 600 a 2.200 mm anuais, sendo a mdia anual de 1.500 mm (Ferreira, 2008). As temperaturas so geralmente amenas ao longo do ano, entre 22 e 27C em mdia, sendo a temperatura mxima a 40C. Neste bioma encontra- se o divisor de guas das

19

trs grandes bacias hidrogrficas do Brasil: a Amaznica, a do Paran e a do So Francisco (Gomes, 2008). O Cerrado tpico constitudo por rvores relativamente baixas (at vinte metros), esparsas, disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e uma vegetao baixa constituda, em geral, por gramneas. A tpica vegetao do Cerrado possui seus troncos tortuosos, de baixo porte, ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas (Gomes, 2008). Contudo, o Cerrado no um grupo fisionmico homogneo. Em funo da densidade da vegetao, segundo Ribeiro e Walter (1998), o Cerrado pode ser dividido em: campo limpo, campo sujo, campo cerrado, cerrado tpico, cerrado e veredas. Quanto aos solos, a maioria da regio dos Cerrados do tipo Latossolos vermelho, cobrindo 46% da rea. Esses tipos de solos podem apresentar uma colorao variando do vermelho para o amarelo, so profundos, bem drenados na maior parte do ano, apresentam acidez, toxidez de alumnio e so pobres em nutrientes essenciais (como clcio, magnsio, potssio e alguns micronutrientes) para a maioria das plantas. Alm desse tipo, existem os solos pedregosos e rasos (Neossolos Litlicos), geralmente de encostas, os solos arenosos (Neossolos Quartzarnicos), os solos orgnicos (Organossolos) e outros de menor expresso (Admoli et al., 1987). Os frutos das espcies nativas do Cerrado ocupam lugar de destaque, pois oferecem elevado valor nutricional, alm de atrativos sensoriais como cor, sabor e aromas peculiares e intensos, ainda pouco explorados comercialmente (Almeida e Silva, 1994; Almeida, 1998b; Almeida et al., 1998). A grande diversidade de espcies frutferas utilizada e aproveitada apenas pelas populaes dos Cerrados (Silva et al., 2001). Elas podem ser consumidas in natura, ou na forma de doces, mingaus, bolos, pes, biscoitos, gelias e licores (Almeida, 1998a). Dentre as frutferas nativas do Cerrado, o pequizeiro merece ateno especial, seja pela sua elevada incidncia nos Cerrados ou pelas caractersticas sensoriais de seu fruto.

2.2 TRPICO ECOTONAL DO NORDESTE O Trpico Ecotonal do Nordeste, ou mais conhecido como a regio Meio-Norte do Brasil, ou ainda Nordeste Ocidental, apresenta-se bastante diversificada quanto composio dos seus sistemas produtivos, em face da multiplicidade de ecossistemas trabalhados para o desenvolvimento das atividades agropecurias e florestais, abrigando, um grande elenco de atividades econmicas, destacando-se a produo de gros (Embrapa, 2000).

20

A regio apresenta uma extensa fronteira agrcola favorvel expanso da rea cultivada e ao aumento da produtividade, caso seja ampliada a adoo de inovaes tecnolgicas (Embrapa, 2000). Como exemplo, pode-se citar as extensas reas de Cerrados localizadas no Sul e Leste Maranhense e no Sudoeste Piauiense que vem sendo exploradas por produtores de outras regies do Pas, o que preocupante, visto que pouco se sabe sobre a sua flora e poucos so os lugares que so protegidos por legislao na forma de Parques Nacionais, Estaes Ecolgicas e RPPNs (Mesquita e Castro, 2007). Nessa vasta regio encontra-se a diversificao de ecossistemas, tm-se os Cerrados, o Semi-rido, os Tabuleiros Litorneos, a Baixada Maranhense e a Pr-Amaznia. Esta regio dispe de uma flora nativa rica em espcies frutferas ainda pouco conhecida no mercado consumidor urbano. A sua utilizao restrita a algumas comunidades rurais que as exploram, de forma extrativista, resultando em baixa produtividade e oscilao brusca na oferta e risco iminente de extino em virtude de desmatamentos (Aguiar, 2006). O nome trpico ecotonal do nordeste, foi proposta para trazer a idia de supercentro de biodiversidade do cerrado, ao invs da individualidade florstica, e a separao dos cerrados brasileiros estaria ligada s barreiras climticas (Castro et al, 2007). Portanto, com a carncia de estudos neste foque, foi criado o Projeto de Biodiversidade e Fragmentao de Ecossistemas nos Cerrados Marginais do Nordeste, que vinculado ao Programa de Biodiversidade do Trpico Ecotonal do Nordeste (BIOTEN) e ao Programa dos Cerrados Marginais do Nordeste e Ectonos Associados (ECOCEM), ambos do Programa de Pesquisa Ecolgicas de Longa Durao (PELD/CNPq), que objetiva levantar e prospectar a biodiversidade remanescente desse cerrado regional.

2.3 PEQUIZEIRO A famlia Caryocaraceae inclui dois gneros e cerca de 25 espcies, no Brasil ocorrem dois gneros e 13 espcies, sendo 10 espcies do gnero Caryocar e trs espcies do gnero Anthodiscus (Souza, 2005). Ocorre no campo cerrado, campo sujo, cerrado sentido restrito e cerrado distrfico, no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Cear, Gois, Maranho, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Par, Piau, Paran, So Paulo e Tocantins (Silva Jnior et al., 2005).

21

Embora a maioria das Caryocaraceae seja proveniente da Regio Amaznica, uma das espcies mais marcantes da flora brasileira o pequizeiro (Caryocar sp.), nativo dos cerrados e considerada uma das espcies mais caractersticas deste tipo de vegetao. A espcie pode apresentar desde alguns centmetros de altura at serem rvores robustas e frondosas (Souza, 2005). Caryocar: do grego caryon = ncleo ou noz + kara = cabea, em referncia ao fruto globoso. Pequi: do tupi, py: pele + qui = espinho, em referncia aos espinhos no caroo (Silva Jnior et al., 2005). Os nomes comuns so piqui, piqui, pequerim, amndoa-de-espinho, almendro, barbasco, gro-de-cavalo, suari ou pequi (Almeida e Silva, 1994; Ribeiro, 2000). O pequizeiro uma planta arbrea, com aproximadamente 10 m de altura (Figura 1), com tronco tortuoso de casca spera e rugosa, cinza escura, fendida, ramos grossos, pertencente classe Magnoliopsida (Dicotiledonae), ordem Guttiferales, famlia

Caryocaraceae e ao gnero Caryocar L. (Ferri, 1969). As folhas pilosas so formadas por trs fololos com as bordas recortadas. As flores so grandes e amarelas, com mltiplos estames, quatro estiletes, surgindo durante os meses de setembro a dezembro.

FIGURA 1 - Pequizeiro localizado em Timon MA.

22

Segundo Almeida (1998b), a florao ocorre de agosto a novembro (chuvas), com pico em setembro, mas, ocasionalmente, em outras pocas aps as chuvas ou roados. Prefere climas quentes, sendo ideal nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. A frutificao ocorre, geralmente, nos meses de janeiro a maro, embora possam ser encontrados frutos em dezembro e abril. Cada planta fornece, em mdia, at 6 mil frutos ao ano; contudo, a frutificao no regular, havendo anos de grande produo e anos de produo baixa (Barradas, 1972; Andersen e Andersen, 1989). De acordo com Santos (2004), um subproduto do pequi a castanha, da qual se extrai leo. Esse leo utilizado como remdio (Pozo, 1997). O leo retirado das sementes do pequi, denominado manteiga de pequi, possui propriedades aromticas e utilizado na fabricao de licores e produo de paoca, alm de sabo (Brando et al., 2002).

2.4 CARACTERSTICAS FSICAS Segundo Vera et al. (2005), o perodo de safra do pequi ocorre nos meses de setembro a fevereiro. Esses autores avaliaram e caracterizaram fisicamente frutos de pequizeiro (Caryocar brasiliense) no estado de Gois e observaram que a altura mdia dos frutos foi de 5,8 cm e as mdias dos dimetros menor e maior foram, respectivamente, de 5,54 cm e 6,48 cm, o que confere certa conformao esfrica dos frutos. O peso mdio do fruto foi em torno de 120 g. Em mdia, a casca representou 82% do fruto, o endocarpo 4,6%, a polpa 7% e a amndoa cerca de 1%. O peso unitrio dos frutos encontrado variou de 50 a 250 g, o da casca de 20 a 117g, o da amndoa de 2 a 4 g, ficando o da polpa em 8,14 g. Em Oliveira (2009), foram avaliadas as caractersticas fsicas da espcie Caryocar coriaceum na Chapada do Araripe, no Cear. O peso mdio do fruto foi de 90,48 g, o da casca em 66,33 g e representou 73,31% do peso total do fruto. O peso mdio de polpa ficou em 10,61% e o da amndoa em 1,72%. A altura mdia do fruto foi de 5,36 cm, e as mdias dos dimetros maior e menor foram, respectivamente, de 5,58 cm e 5,08 cm, conferindo tambm a espcie C. coriaceum, uma conformidade esfrica ao fruto.

23

2.5 CARACTERSTICAS QUMICO-NUTRICIONAIS Existem vrios estudos sobre o valor nutricional do pequi, da espcie C. brasiliense. Em Almeida et al. (1998), relatado um teor de leo na polpa do fruto de pequi de 10%, sendo ainda rica em vitamina A e protenas. Sano e Almeida (1998) obtiveram um teor de fibras na polpa de 17,10%. Na Tabela 1 mostrada a composio qumica da polpa e da amndoa (Franco, 1992; Sano e Almeida, 1998), onde observa-se que tanto a polpa quanto a amndoa apresentam quantidades significativas de vitaminas A (retinol), do complexo B (tiamina, riboflavina e niacina) e C (cido ascrbico).

TABELA 1: Composio qumica (g/100 g), valor energtico (kcal/100 g) e vitaminas (mcg/100 g) da amndoa e da polpa de pequi. Composio Calorias Glicdios Protenas Lipdeos Fibra Vitamina A Vitamina B1 Vitamina B2 Vitamina C NiacinaAdaptado de Sano e Almeida, 1998; Franco, 1992.

Pequi (amndoa) 99,30 21,60 1,20 0,90 . 650,00 10,00 360,00 6,10 0,35

Pequi (polpa) 121,12 6,76 1,02 10,00 17,10 20.000,00 30,00 463,00 12,00 0,39

Algumas caractersticas peculiares do pequi so muito importantes para o mercado in natura, como frutos maiores e de melhor aparncia visual, frutos com maiores massas de polpa e de amndoa. Estudos evidenciaram que na regio de Mamba, estado de Gois, os frutos possuem essas caractersticas, pois essa regio apresenta condies ambientais favorveis ao desenvolvimento e produo do pequizeiro. Por exemplo, a temperatura, a umidade relativa do ar durante o perodo de florao e desenvolvimento dos frutos, alm de solos mais arenosos, proporciona a maturao mais tardia dos frutos, recebendo com isso um maior aporte de gua do solo durante o seu desenvolvimento (Vera et al., 2005).

24

Dados da composio em cidos graxos do leo da polpa e da amndoa de pequi mostraram que so constitudos na sua maior parte por cido olico (53,9%) e cido palmtico (40,2%) (Facioli e Gonalves, 1998), que lhe conferem caractersticas nicas e valiosas de cristalizao e de derretimento, essenciais na fabricao de determinados produtos, com ponto de fuso prximo temperatura do corpo humano (37C) (Castanheira, 2005). Esse alto teor de leo somado s suas caractersticas qumicas e antioxidantes e algumas caractersticas especficas torna o leo da polpa de pequi uma boa fonte de matria-prima na indstria cosmtica (Silva, 1994). Quanto aos minerais, a polpa do pequi apresenta Na (20,9 mg/100 g), Fe (15,57 mg/100 g), Mn (5,69 mg/100 g), Zn (65,32 mg/100 g), Cu (4,0 mg/100 g), Mg (0,05 mg/100 g), P (0,06 mg/100 g) e K (0,18 mg/100 g). Por sua vez, a amndoa apresenta Na (2,96 mg/100 g), Fe (26,82 mg/100 g), Mn (14,37 mg/100 g), Zn (53,63 mg/100 g) e Cu (15,93 mg/100 g), Mg, P e K no foram relatados na amndoa deste estudo; mostrando, portanto, que o consumo associado de polpa e amndoa constitui enriquecimento importante da dieta regional em mangans e fsforo (Almeida et al., 1998). Couto (2007) estudou o uso da farinha da casca do pequi na elaborao de po de forma. A farinha apresentou um valor considervel de fibra alimentar (39,97%), sendo superior ao da polpa (11,60%). Em carboidratos totais (50,94%), o teor na farinha tambm foi superior ao da polpa (19,66%). O teor de protena (5,76%) foi superior ao da farinha de mandioca (1,76%) e o teor de lipdios (1,54%) equipara-se ao da farinha de trigo (1,3%).

2.6 DIVERSIDADE GENTICA Conhecer os padres de distribuio da variao gentica dentro e entre populaes naturais, segundo Frankel et al., (1995), garante o estabelecimento de prticas conservacionistas efetivas e eficientes. Kageyama e Gandara (1993) apontam que este entendimento a base para aplicao de tcnicas de manejo, bem como contribui para o estabelecimento da conservao in situ das populaes naturais. De modo geral, as espcies arbreas apresentam maior nvel de diversidade gentica dentro de populaes que entre populaes e o sistema de cruzamento misto (Berg e Hamrick, 1997), com predominncia de alogamia (Ward et al., 2005). Entretanto, as espcies arbreas possuem uma grande variedade de diferentes sistemas reprodutivos, associados s complexas interaes com agentes polinizadores e dispersores de sementes (Gross, 2005; Machado e Lopes, 2004; Oliveira e Gibbs, 2000). Sendo assim, para se conhecer como a

25

variao gentica est distribuda necessrio o conhecimento dos fatores intrnsecos espcie, como o mecanismo de disperso de plen e sementes, o modo de reproduo, o sistema de cruzamento bem como alguns fatores ambientais que possam influenciar ou direcionar de forma agregada distribuio da variao (Hamrick, 1989). A estrutura gentica refere-se distribuio dos alelos e gentipos no espao e no tempo. O desenvolvimento e a manuteno da estrutura gentica ocorrem devido s interaes de um conjunto complexo de fatores evolutivos, como variao no conjunto gnico, organizao desta variao dentro de gentipos, distribuio espacial dos gentipos, sistema de reproduo que controla a unio dos gametas para a formao das prognies, seleo, deriva, mutao, eventos casuais e processos de crescimento, mortalidade e reposio dos indivduos que daro origem s populaes futuras (Hamrick, 1982). Nesse sentido, o estudo da diversidade e da estrutura gentica em populaes arbreas importante para que se entenda como esta diversidade distribuda e quais as caractersticas do ambiente ou da espcie que influenciam essa distribuio.

2.7 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL O emprego do conceito desenvolvimento sustentvel teve origem no documento elaborado em 1980 pela Unio Internacional para a Conservao da Natureza UICN. A Conferncia de Ottawa, em 1986, patrocinada pela UICN, PNUMA e Fundo Mundial para a Natureza WWF, estabeleceu que o desenvolvimento sustentvel busca responder: integrao da conservao e do desenvolvimento; satisfao das necessidades humanas bsicas; alcance da equidade e da justia social; proviso da autodeterminao social e da diversidade cultural e manuteno da integrao ecolgica (Pires, 1996). Dessa forma, o desenvolvimento sustentvel construdo sobre trs pilares interdependentes e mutuamente sustentadores: o desenvolvimento econmico, o

desenvolvimento social e a proteo ambiental. Esse paradigma reconhece a complexidade e o inter-relacionamento entre as questes da degradao ambiental como: decadncia urbana, crescimento populacional, igualdade de gneros, sade, conflito e violncia (Leff, 2004). A explorao dos recursos naturais deve ser de forma racional e sustentvel, ou seja, responder s necessidades do presente de forma igualitria, mas sem comprometer as possibilidades de sobrevivncia e prosperidade das geraes futuras (Martins, 2005). O desenvolvimento sustentvel vem sendo divulgado por todo o planeta como uma forma mais racional de prover uma qualidade de vida socialmente justa (Mello, 2002). Este conceito

26

traduz vrias idias e preocupaes devido gravidade dos problemas atuais. Para Thomas (2004), o uso sustentvel so todas as aes que procuram garantir o futuro de um lugar, respeitando o ser humano e conservando o meio ambiente. A sustentabilidade est interligada com o comportamento e a ao de cada um de ns. Se corretamente utilizado, o conceito de desenvolvimento sustentvel aponta caminhos, resgata vivncias e experincias e convida todos para uma ao coletiva, solidria e corajosa (Neves, 2008). No caso do pequi, Pozo (1997) realizou estudos nas comunidades do norte de Minas Gerais e observou que a vegetao do Cerrado explorada de forma extrativista. Do pequizeiro aproveita-se sua madeira (para confeco de piles e estacas), folha (para confeco de veneno para peixes) e fruto (tanto a polpa como a amndoa so utilizadas para o feitio de azeite, cosmticos e consumo in natura), ainda sendo empregado em programas de recuperao de reas degradadas e em programas de renda familiar, logo uma espcie que necessita ser explorada de forma sustentvel, para que o seu extrativismo no a leve a extino.

27

3 REFERNCIAS

ADMOLI, J.; MACEDO, J. AZEVEDO, L. G; MADEIRA NETO, J. Caracterizao da regio dos Cerrados. In: GOEDERT, W. J. (org.) Solos dos Cerrados: tecnologias e estratgias de manejo. So Paulo: Nobel/ Embrapa, 1987. p.33-74. AGUIAR, L.P. Qualidade e potencial de utilizao de bacuris (Platonia insignis Mart.) da regio Meio-Norte. Mestrado em Tecnologia de Alimentos UFC, 2006. ALMEIDA, S. P. de. Cerrado: aproveitamento alimentar. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 188p. 1998a ALMEIDA, S.P. de. Frutas nativas do Cerrado: caracterizao fsico-qumica e fonte potencial de nutrientes. In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. de. Cerrado ambiente e flora. Planaltina, DF: EMBRAPA, 1998b. p.244-285. ALMEIDA, S. P; SILVA, J. A. Piqui e buriti: importncia alimentar para a populao dos cerrados. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1994. 38p. ALMEIDA, S. P.; PROENA, C. E. B.; SANO, S. M.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: espcies vegetais teis. Planaltina: EMBRAPA-CPAC, 1998. 464p. ANDERSEN, O.; ANDERSEN, V.U. As frutas silvestres brasileiras. 3. ed. So Paulo, 1989. p.164-167. BARRADAS, M.M. Informao sobre fibrao, frutificao e disperso do pequi Caryocar brasiliensis Camb. Cincia Cultural, v.24, p.1003-1008, 1972. BERG, E. E.; HAMRICK, J. L. Quantification of genetic diversity at allozyme loci. Canadian Journal Forest Research, Ottawa, v. 27, n. 3, p. 415-424, 1997. BRANDO,M.; LACA-BUENDIA, J.P.; MACEDO, J.F. rvores nativas e exticas do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: EPAMIG, 2002. 528 p. BRASIL, Portaria IBAMA n 113; IBAMA, Braslia, 1995. Disponvel em: . Acesso em 29 nov. 2009. CARVALHO, J.E.U de; MLLER, C.H. Mtodos para acelerar a germinao de sementes de pequi. Belm: CPATU, 2005. 4p. (CPATU. Comunicado Tcnico, 140). CASTANHEIRA, L. S. Extrao de leo da polpa de pequi utilizando prensa mecnica. Trabalho de Concluso de Curso em Engenharia de Alimentos pela Universidade Catlica de Gois. Goinia, 2005. 72p.

CASTRO, A.A.J.F.; CASTRO, N.M.C.F.; COSTA, J.M. da; FARIAS, R.R.S. de; MENDES, M.R.A.; ALBINO, R.S.; BARROS, J.S.; OLIVEIRAS, M.E.A. Cerrados marginais do nordeste e ectonos associados. Revista Brasileira de Biocincias, Porto Alegre, v.5, supl.1, p.273-275, 2007.

28

CASTRO, A.A.J.F.; FARIAS, R.R.S. de; SOUSA, S.R. de; COSTA, J.M. da; SOUSA, G.M. de; ANDRADE, G.C.B. de; CASTRO, N.M.C.F. Flora dos cerrados marginais do nordeste e ectonos associados FLORACENE. In: IX SIMPSIO NACIONAL CERRADO. Anais... Braslia: Parla Mundo, 2008. COUTO, E. M. Utilizao da farinha de casca de pequi (Caryocar brasiliense Camb.) na elaborao de po de forma. 2007. 107f. Dissertao (Mestrado em Cincia dos Alimentos) - Universidade Federal de Lavras, Lavras. DAMIANI, C. Qualidade e perfil voltil de pequi (Caryocar brasiliense Camb.) minimamente processado, armazenado sob diferentes temperaturas. 2006. 136f. Dissertao (Mestrado em Cincia dos Alimentos) - Universidade Federal de Lavras, Lavras. EMBRAPA MEIO NORTE. II Plano Diretor da Embrapa Meio-Norte 2000-2003. Teresina, 2000. 35p. FACIOLLI, N. L.; GONALVES, L.A.G. Modificao por via enzimtica da composio triglicerdica do leo de pequi (Caryocar brasiliensi Camb.). Quimica Nova, v.21, n.1, p.1619, 1998. FERRI, M.G. Plantas do Brasil: espcies do cerrado. So Paulo: EDUSP, 1969. p.72-73. FERREIRA, I. M. Paisagens do cerrado: um estudo do subsistema de veredas. In: GOMES, H. Universo do Cerrado. V. I, Goinia: Editora da UCG, 2008. 278p. FERREIRA, F.R.; BIANCO, S.; DURIGAN, J.F.; BELINGIERI, P.A. Caracterizao fsica e qumica dos frutos maduros de pequi. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 1987. Campinas, SP. Anais... Campinas: SBG, 1988. v.2, p.643-646. FRANCO, G. Tabela de Composio de Alimentos. 9. ed. So Paulo: Atheneu, 1992. 307p. FRANCO, L.M.L.; UMMUS, M.E.; LUZ, R.A. A distribuio do pequi (Caryocar brasiliense) na estao ecolgica de Itarapina, SP. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEGRAFOS, 6., 2004. Caderno de Resumos... Goinia: AGB, 2004. p.253 FRANKEL, O. H.; BROWN, A. H. D.; BURDON, J. J. The conservation of plant biodiversity. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. p 299. GOMES, H. Cerrado: extino ou patrimnio nacional? In: GOMES, H. Universo do Cerrado. V. I, Goinia: Editora da UCG, 2008. 278p. GONALVES, G.A.S. Qualidade dos frutos do pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) submetidos aos processos de congelamento e cozimento. 2007. 160f. Dissertao (Mestrado em Cincia dos Alimentos) Universidade Federal de Lavras, Lavras. GROSS, C. L. A comparison of the sexual systems in the trees from the Australian tropics with other tropical biomes-more monoecy but why? American Journal of Botany, Columbus, v.92, n.6, p.907-919, 2005.

29

HAMRICK, J.L.; GODT, M.T. Allozyme diversity in plant species. In: BROW, A. H. D. et al. (Ed.). Plant population genetics, breeding and genetic resources. Sunderland, MA, Sinauer Associates, 1989. p. 43-63. HAMRICK, J.L. Plant population genetics and evolution. American Journal of Botany, Columbus, v.69, n.10, p.1685-1693, 1982. KAGEYAMA, P.Y.; GANDARA, F.B. Dinmica de populaes de espcies arbreas: Implicaes para o manejo e a conservao. III Simpsio de Ecossistemas da Costa Brasileira, ACIESP. v. 2. 1993. LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade poder. Trad: ORTH, Lcia Mathilde Endlich. 3. ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2004. LORENZI,H. rvores brasileiras: manual de identificao e cultivo de plantas arbreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 2000. 353p. MACHADO, I. C.; LOPES, A. V. Floral Traits and Pollination Systems in the Caatinga, a Brazilian Tropical Dry Forest. Annals of Botany, London, v.94, n.3, p.365-376, 2004. MARTINS, B. A. Avaliao fsico-qumica de frutas do cerrado in natura e processadas para o desenvolvimento de multimisturas. 2005. 80f. Dissertao (Mestrado em Ecologia e Produo Sustentvel). Universidade Catlica de Gois, Goinia. MELLO, R. F. L. Complexidade e Sustentabilidade. O Estado de So Paulo, So Paulo, 18 ago. 2002. MESQUITA, M.R.; CASTRO, A.A.J.F. Florstica e fitossociologia de uma rea de cerrado marginal (cerrado baixo), Parque Nacional de Sete Cidades, Piau. Publicaes Avulsas. Conservao Ecossistemas. v.15, p.1-22, 2007. MIRANDA, J.S. Contribuio ao estudo da cultura do piqui (Caryocar spp.): propagao e concentrao de nutrientes. 1986.103f. Dissertao (Mestrado em Cincias e Tecnologia de Alimentos). Universidade Federal da Paraba, Areia. PEIXOTO, A.R. O pequi e a lavoura no Cerrado. In: Peixoto, A.R. (Ed.). Plantas oleaginosas arbreas. So Paulo: Nobel, 1973. p.197-226. PIRES, M.O. A Trajetria do Conceito de Desenvolvimento Sustentvel na Transio de Paradigmas. In: DUARTE, L. M. G. e BRAGA, M. L. S. (Org) Tristes Cerrados: Sociedade e biodiversidade. Cap. 2, p. 63 92, 1996. POZO, O.V.C. O pequi (Caryocar brasiliense): uma alternativa para o desenvolvimento sustentvel do cerrado no norte de Minas Gerais. 1997. 100f. Dissertao (Mestrado em Administrao Rural) Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG. RIBEIRO, R.F. Pequi: o rei do cerrado. Belo Horizonte: Rede Cerrado, 2000. 62 p.

30

RIBEIRO, J.F.; WALTER, B.M.T. Fitofisionomias do bioma cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P. de. (Eds.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina, DF: EMBRAPA-CPAC, 1998. p. 89-152. RIZZINI, C.T. A flora do cerrado: anlise florsitica das savanas centrais. In: SIMPSIO SOBRE O CERRADO (M.G. Ferri, org.), 1963, So Paulo. Anais... So Paulo: Edusp, 1963, p.126-177. RIZZINI, C.T. de. Contribuio ao conhecimento das floras nordestinas. Rodriguesia, v.28, p.37-193, 1976. RODRIGUES, L.J. O pequi (Caryocar brasiliense Camb.): ciclo vital e agregao de valor pelo processamento mnimo. 2005. 164f. Dissertao (Mestrado em Cincia dos Alimentos) Universidade Federal de Lavras, Lavras. OLIVEIRA, Livio. L. S. Economia dos recursos naturais, desenvolvimento sustentvel e teoria do crescimento econmico: uma aplicao para o Brasil. 2004. 107 f. Dissertao (Mestrado em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. OLIVEIRA, M.E.B. de. Caractersticas fsicas, qumicas e compostos bioativos em pequis (Caryocar coriaceum Wittm.) nativos da chapada do Araripe - CE. 2009. 146f. Tese (Doutorado em Nutrio) Universidade Federal de Pernambuco, Recife. OLIVEIRA, P.E.; GIBBS, P.E. Reproductive biology of woody plants in a cerrado community of Central Brazil Flora. Jena, v.195, n.4, p.311-329, 2000. SANTOS, B.R. Micropropagao de pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.). 2004. 239f. Tese (Doutorado em Agronomia. Fisiologia Vegetal) Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG. SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. Cerrado: Ambiente e Flora. Planaltina: EMBRAPA- CPAC, 1998. 556p. SILVA, D. S.; SILVA, J. A. JUNQUEIRA, N. T. V.; ANDRADE, L. R. M. Frutos do cerrado. Braslia: EMBRAPA Informao Tecnolgica, 2001.178p. SILVA JNIOR, M. C;. SANTOS, G. C.; NOGUEIRA, P. E.; MUNHOZ, C. B. R.; RAMOS, A. E. rvores do Cerrado: guia de campo. Braslia: Rede de sementes do cerrado, 2005. 278p. SILVA, E. C. Desenvolvimento de emulses cosmticas utilizando o leo do pequi (Caryocar brasiliense Camb.).1994. 120f. Dissertao (Mestrado em Cincia dos Alimentos) Universidade de So Paulo, So Paulo. COUTO, E. M. Utilizao da farinha de casca de pequi (Caryocar brasiliense Camb.) na elaborao de po de forma. 2007. 107f. Dissertao (Mestrado em Cincia dos Alimentos) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.

31

SILVA, D.B.; JUNQUEIRA, N.T.V.; SILVA, J.A. Avaliao do potencial de produo do pequizeiro-ano" sob condies naturais na regio sul do estado de Minas Gerais. Revista Brasileira Fruticultura, Jaboticabal, v.23, n.3, p.726-729, 2001. SOUZA, C.V. Botnica Sistemtica: guia ilustrado para identificao das famlias de Angiospermas da flora brasileira, baseada em APG II. So Paulo: Instituto Plantarum, 2005. p.382-383. THOMAS, V. Professor adjunto I da Universidade Catlica de Gois, Pesquisador do Instituto do Trpico Submido. Mestre em Geografia (IESA-UFG). Sustentabilidade. O Estado de So Paulo, So Paulo, 18 agosto 2004. TOMBOLATO, A.F.C.; VEIGA, R.F.A.; BARBOSA, W.; COSTA, A.A.; BENATTI JNIOR, R.; PIRES, E.G. Domesticao e pr-melhoramento de plantas: 1. Ornamentais. O Agronmico, v.56, p.12-14, 2004. VERA, R.; NAVES, R. V.; NASCIMENTO, J. L.; CHAVES, L. J.; LEANDRO, W. M.; SOUZA, E. R. B. Caracterizao fsica de frutos do pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) no estado de Gois. Pesquisa Agropecuria Tropical, Goinia, v.35, n.2, p.71-79, 2005. VIEIRA, R.F.; MARTINS, M.V.M. Estudos etnobotnicos de espcies medicinai de uso popular no cerrado. In: INTERNATIONAL SAVANA SIMPOSIUM, Braslia, 1998. p.169-171. VILELA, A.L.M. Avaliao dos efeitos antigenotxicos, antioxidantes e farmacolgicos de extratos da polpa do fruto do pequi (Caryocar brasiliense CAMB). 2009. 188f. Tese (Doutorado em Biologia Animal) Universidade de Braslia, Braslia. WARD, M.; DICK, C. W.; GRIBEL, R.; LEMES, M.; CARON, H.; LOWE, A. J. To self, or not to selfy A review of outcrossing and pollen-mediated gene flow in neotropical trees. Heredity, London, v.95, n.4, p.246-254, 2005.

32

Artigo 1

CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICO-NUTRICIONAIS DE FRUTOS DE POPULAES DE PEQUIZEIRO (Caryocar coriaceum WITTM.) DE OCORRNCIA NATURAL NA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL

ENVIADO REVISTA BRASILEIRA DE FRUTICULTURA

AUTORES Klgea Maria Cncio Ramos Valdomiro Aurlio Barbosa de Souza

33

CARACTERSTICAS FSICAS E QUMICO-NUTRICIONAIS DE FRUTOS DE POPULAES DE PEQUIZEIRO (Caryocar coriaceum WITTM.) DE OCORRNCIA NATURAL NA REGIO MEIO-NORTE DO BRASIL1

KLGEA MARIA CNCIO RAMOS2, VALDOMIRO AURLIO BARBOSA DE SOUZA3

RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar a variabilidade de caractersticas fsicas e qumiconutricionais do fruto de seis populaes de pequizeiro de ocorrncia natural nos estados do Maranho e Piau, os quais formam a regio Meio-Norte do Brasil. Os frutos foram coletados no estdio de maturao (frutos cados no cho), na safra de 2008. Analisaram-se as seguintes caractersticas fsicas do fruto: massa mdia, massa mdia da casca, massa mdia do caroo, massa mdia da amndoa, percentagem de polpa, relao comprimento/dimetro mdio do fruto, relao comprimento/dimetro mdio do caroo, relao comprimento/dimetro mdio da amndoa e espessura mdia da casca. Na polpa e na amndoa foram analisadas as caractersticas qumico-nutricionais: umidade, gordura, protena bruta, fibra bruta, cinzas, carboidratos totais, energia e minerais (P, K, Ca, Mg, Mn, Cu, Zn e Fe). Submeteram-se os dados anlise de varincia e compararam-se as mdias das populaes por meio do teste de agrupamento Scott-Knott a 5%. Observou-se elevada variabilidade fenotpica entre as populaes para a maioria dos caracteres analisados. A polpa e a amndoa mostraram-se ricas em termos nutricionais, sendo a amndoa, porm, bem mais rica. Em mdia, a populao de Alto Long, no Piau, uma promissora fonte de variabilidade para a maioria dos caracteres fsicos e qumico-nutricionais estudados. Palavras-chave: Fruteira nativa. Caryocar coriaceum. Recursos genticos. Variabilidade fenotpica.

1 2

Parte da Dissertao de Mestrado do primeiro autor. Biloga, MSc. em Desenvolvimento e Meio Ambiente/TROPEN/PRODEMA/UFPI, Av. Universitria, 1310, CEP. 64.049-550, Teresina-PI E-mail: [email protected] 3 Eng. Agr., PhD., Embrapa Meio-Norte, Av. Duque de Caxias, 5650, CEP: 64006-220, Teresina-PI. E-mail: [email protected]

34

PHYSICAL AND CHEMICAL-NUTRITIONAL FRUIT CHARACTERISTICS OF PEQUIZEIRO (Caryocar coriaceum WITTM.) POPULATIONS OF NATURAL OCCURRENCE IN THE MID-NORTH REGION OF BRAZIL

ABSTRACT The objective of this work was to evaluate physical and chemical-nutritional fruit characteristics of six pequizeiro populations from natural occurrence in the states of Maranho and Piau, which form the Mid-North region of Brazil. Fruits were collected at the maturity stage (fruits lying on the ground), at the harvest of 2008. The following fruit physical characteristics were analyzed: average mass, hull average mass, stone average mass, kernel average mass, pulp percentage, fruit length/fruit mean diameter ratio, stone length/stone mean diameter ratio, kernel length/kernel mean diameter ratio and peel average thickness. In the pulp and kernel were analyzed the following chemical-nutritional characteristics: moisture, fat, crude protein, crude fiber, ash, total carbohydrates, energy and minerals (P, K, Ca, Mg, Mn, Cu, Zn and Fe). The data were submitted to the variance analysis and population means were compared by Scott-Knott grouping test at 5%. It was observed a high phenotypic variability among populations for most analyzed traits. Both pulp and kernel are rich in nutritional terms, being the kernel, however, much richer. On average, the population of Alto Long, from Piau State, is a promising source of variability for most physical and chemicalnutritional studied.

Key-words: Native fruit tree. Caryocar coriaceum. Genetic resources. Phenotypic variability.

35

1 INTRODUO O Meio-Norte um dos quatro domnios geoambientais do Nordeste Brasileiro, sendo constitudo pelos estados do Maranho e do Piau e uma zona de transio entre a Amaznia e o Serto, com pluviometria anual entre 1000 e 2500 mm (Rebouas, 1997). Caracteriza-se pela diversidade de ecossistemas, com destaque para as espcies frutferas nativas, dentre essas, merecem destaque o bacurizeiro (Platonia insignis Mart.) e o pequizeiro (Caryocar coriaceum Wittm.), cujos frutos so amplamente utilizados pelas populaes locais. Alm do Meio-Norte, a espcie C. coriaceum ocorre tambm nos estados do Cear, Bahia, Pernambuco e Gois (Lorenzi, 1992). O pequizeiro pertence famlia Caryocaraceae e ao gnero Caryocar (Franco & Barros, 2006), que engloba 16 espcies das quais 12 tem ocorrncia no Brasil (Franco, 1992). A planta apresenta porte arbreo, que atinge em mdia de 6 a 8 m de altura, e pode produzir de 500 a 2000 frutos/safra (Silva, 1998). Em termos de valor nutricional tem sido relatado na literatura que a polpa de pequi, espcie C. brasiliense Camb., apresenta em torno de 2,6 a 6,0% de protena; 26,07 a 33,4% de lipdeos (Arajo, 1995; Villela, 1998; Oliveira et al., 2006; Lima et al., 2007; Vera et al., 2007) e de 7,75 a 11,34 mg 100 g-1 de carotenides totais (Oliveira et al., 2006). J na espcie C. coriaceum Wittm., o estudo de Oliveira et al. (2010) revelou um teor de protena de 2,09% e de lipdeos de 23,19%. De acordo com Pozo (1997), a polpa de pequi tambm rica em vitamina A e em minerais, especialmente P, Ca, Cu e Fe. O pequi pode ser utilizado no preparo de pratos tpicos, em condimentos, leos e bebidas adocicadas (licores), em indstrias farmacuticas e de cosmticos, indstria de lubrificantes e, ainda, como matria-prima para produtos teraputicos (Paula-Jnior et al., 2006). Contudo, apesar do fruto ser rico em nutrientes e das variedades de usos (Oliveira et al., 2006), o pequi, especialmente da espcie C. coriaceum, no tem merecido a devida ateno da pesquisa. Poucos so os estudos encontrados na literatura envolvendo a biometria (Silva & Medeiros Filho, 2006; Oliveira, 2009) e a caracterizao qumico-nutricional de frutos dessa espcie (Oliveira et al., 2010). Mesmo diante do rpido avano da fronteira agrcola e da urbanizao sobre a vegetao nativa, pouco tem sido feito para que o germoplasma ainda existente dessa espcie e seu potencial de uso sejam conhecidos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a variabilidade de caractersticas fsicas e qumico-nutricionais de frutos de seis populaes de pequizeiro de ocorrncia natural nos estados do Maranho e Piau.

36

2 MATERIAL E MTODOS 2.1 Localizao e descrio da rea de estudo O estudo abrangeu seis municpios: trs no estado do Maranho (Timon, Caxias e Afonso Cunha) e trs no estado do Piau (Alto Long, Barras e Jos de Freitas), cada um correspondendo a uma populao. A escolha desses municpios foi em funo da facilidade de acesso e da elevada ocorrncia do pequizeiro. Foram estudadas um total de 36 plantas-matrizes de pequizeiro, distribudas nas seis populaes, com o nmero de plantas-matrizes por populao variando de trs (Caxias) a 10 (Barras). A coleta dos frutos foi realizada no perodo da safra (fevereiro/maro) de 2008, coletando-se frutos no estdio de maturao completa (frutos cados no cho). Depois de coletados, os frutos foram acondicionados em sacos plsticos e transportados para o Laboratrio de Fisiologia Vegetal da Embrapa Meio-Norte, em Teresina, PI, onde foram armazenados em freezer (-20C) at o momento das medies fsicas.

2.2 Anlises laboratoriais 2.2.1 Anlises fsicas

As medies das caractersticas fsicas dos frutos maduros foram realizadas no perodo de maro a junho de 2008, utilizando amostra mdia de 15 frutos/planta. Foram tomadas as seguintes medidas fsicas: massa mdia de fruto (MMF), massa mdia da casca (MMC), massa mdia do caroo (MMCa), massa mdia da amndoa (MMA), percentagem de polpa (%POLPA), relao comprimento de fruto/dimetro mdio fruto (relao CF/DMF), relao comprimento do caroo/dimetro mdio do caroo (relao CCa/DMCa), relao comprimento da amndoa/dimetro mdio da amndoa (relao CA/DMA) e espessura mdia da casca (EMC). As medidas de massa foram obtidas em balana digital e expressas em gramas, e as dimenses foram obtidas com o auxlio de um paqumetro digital e expressas em centmetros.

37

2.2.2 Anlises qumico-nutricionais As anlises qumico-nutricionais foram realizadas nos Laboratrios de Bromatologia da Embrapa Meio-Norte e do Centro de Cincias Agrrias da Universidade Federal do Piau (CCA/UFPI), em Teresina, PI, no perodo de agosto de 2008 a maio de 2009. Aps as medies fsicas, os frutos foram descongelados e a polpa extrada manualmente, com o auxlio de faca de cozinha. Aps o processo de extrao, a polpa e os caroos foram secos em estufa de circulao forada de ar temperatura de 65C, at peso constante. As amndoas, ento, foram extradas com o auxlio de um torno mecnico. A polpa e as amndoas foram trituradas em processador e as amostras acondicionadas separadamente em embalagens plsticas emerticamente fechadas e novamente armazenadas em freezer (20C) at o incio das anlises qumico-nutricionais. As seguintes caractersticas qumico-nutricionais foram analisadas: porcentagem de umidade (UMID), gordura (GORD), protena bruta (PB), fibra bruta (FB), cinzas (CZ), carboidratos totais (CT), teor de energia (ENERG, expressa em kcal 100 g-1) e teor de minerais (P, K, Ca, Mg, Mn, Cu, Zn e Fe, expressos em MG 100 g-1). As medidas de GORD, PB, FB CZ, UMID e minerais foram obtidas de acordo com as normas analticas do Instituto Adolfo Lutz (Instituto Adolfo Lutz, 1985), e os teores de CT e ENERG conforme metodologia de Moretto et al. (2002).

2.3 Anlises dos dados As medidas das caractersticas fsicas de fruto foram submetidas anlise de varincia considerando um delineamento estatstico inteiramente ao acaso com seis tratamentos (populaes) e frutos por planta sendo utilizados como repeties. Da mesma forma, para a anlise de varincia dos dados das anlises qumico-nutricionais tambm considerou-se um delineamento estatstico inteiramente ao acaso com seis tratamentos (populaes), porm com trs repeties. As mdias de populaes foram comparadas por meio do teste de agrupamento Scott-Knott a 5%. As anlises foram realizadas utilizando o programa GENES (Cruz, 2001).

38

3 RESULTADOS E DISCUSSO 3.1 Caractersticas fsicas A anlise de varincia indicou efeito significativo de populaes para todos os caracteres fsicos de fruto estudados (Tabela 1). A populao de Alto Long, no Piau, foi a que apresentou as maiores mdias de massa mdia do fruto (MMF), massa mdia da casca (MMC), massa mdia da amndoa (MMA), relao comprimento/dimetro mdio do caroo (relao CCa/DMCa) e espessura mdia da casca (EMC), com 231,4 g, 183,4 g, 2,09 g, 1,06 e 14,24 cm, respectivamente, diferindo significativamente (P